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Consciência Transgeracional

Marcos Traple

Ao escrever o livro vermelho Jung achou sua forma de trabalhar com seus
conteúdos mais profundos, dando voz aos seus ancestrais e fazendo o reconhecimento
dos seus demônios internos. Afirmava que se não conseguirmos chegar a um
entendimento com os mortos que fazem parte de nós, não conseguiremos viver sem esse
reconhecimento interno. Utilizou-se da imaginação ativa, maneira pela qual encontrou
para trabalhar com seus conteúdos mais profundos, fugindo das teorias e conceitos
impostos pela psicologia. As teorias acabam servindo como couraça uma vez que
procuram não dar conta dos mortos e demônios que fazem parte de nossa estrutura
psíquica e que nos aprisionam. Para Jung temos que considerar os mortos da historia
humana que fazemos parte, que nos faz reflexionar que também pai e mãe são
resultados dessa ancestralidade, portanto podemos questionar se são causadores de todo
nossos mal estar. Portanto temos que nos aprofundar em nossa ancestralidade com a
intenção de se libertar de todo peso que nos é passado de geração em geração que
vamos carregando sem nos darmos conta, desse mal resolvido que não é nosso,
dificultando nossa caminhada. O importante é que cada um encontre sua linguagem
buscando a dimensão adequada para chegar a respostas podendo assim dar um
direcionamento a sua vida sem pagar um preço que não e seu, podendo assim devolver
aos seus antepassados o que não é seu.
Quando produzimos imagens com a imaginação ativa e nos sonhos, as figuras
que surgem não as criamos na verdade, somos resultados das mesmas. Ao dar-se conta
disso Jung ao escrever o livro vermelho procurou ser simplesmente uma pessoa a
analisar seus conteúdos mais profundos, referindo-se ao amplo mundo de imagens e
sons que são produzidos em seu interior pela imaginação ativa e como também em seus
sonhos, dormindo e acordado. Entrando em contato com o mundo dos mortos dando voz
a eles através de sons e imagens. Vivemos sempre em contato com essa dimensão, mas
sempre negamos por desconhecer a influencia e importância que exerce sobre nos, onde
somos resultado dessas influencia ancestral. Isso acontece porque vamos durante nossa
educação transformando nossa capacidade de imaginação e criação que temos quando
criança, passando a mudar nosso foco para o mundo exterior e partir de desse momento
esperamos e achamos que somos resultados das influencias exteriores e assim nos
sentindo moldados. Negando, portanto que o movimento verdadeiro está ocorrendo
dentro de nos mesmos.
Vivemos com os mortos dentro de nos, precisamos reconhecer e dar espaço para
que se manifestem através do imaginário e reconhece-los nos sonhos. O imaginário que
da forma ao nosso mundo interior, nossa verdadeira realidade é única, onde negamos e
projetamos afirmando a existência de um mundo totalmente externo. O imaginário é a
porta de entrada para o mundo interior que se descortina gradativamente revelando o
quanto somos grandes interiormente.
Nesse campo imaginário através da dramatização interna vamos desvendando as
partes e personagens que nos estruturam. Cabe lembrar ainda que idéias são vozes e as
vozes transformam-se em imagens. E ao vivenciar e experimentar cada uma dessas
imagens e papeis, entramos em contato e identificando desejos, frustrações que
perduram gerações dentro da historia de nossos antepassados, que continuam vivendo
dentro de nos, com toda qualidade e defeitos transferidos de geração em geração.
Ao fazer esse o reconhecimento desse mundo interno, podemos começar a se
relacionar nesse palco interno criando a possibilidade de manifestação dos personagens
que mantivemos isolados, mas que agiam livremente dentro de nos, cansando danos na
maioria das vezes. Ao tomar consciência e através desse relacionamento e ao fazer essa
identificação de cada personagem com suas características, vamos libertando de
características e desejos que não são nossos. Sendo assim vamos construindo ou
resgatando o que somos e o que desejamos, liberando não só nossos antepassados como
também nossos descendentes.
Importante para o individuo é tomar consciência de que é resultado de uma
historia e faz parte dela, sendo um ator dentro dessa dramatização que ocorre dentro de
si, tendo ainda que desempenhar vários papeis conscientemente. Uma vez que viveu
tudo isso sem ter o mínimo de consciência.
Ao desempenhar conscientemente nessa relação interior, vai se reconhecendo
dentro de todas as partes que é composto, podendo modificar aquilo antes desconhecido
em conhecido e assumir o papel principal do seu próprio desejo e de sua historia.
Jung retira sua psicologia do caminho com o objetivo de buscar através da
pratica terapêutica dar condições ao individuo de atingir a profundidade necessária, e
com isso ir ao encontro de seus mortos e demônios dando vozes a eles, buscando
reconhecer seus ancestrais.
Para o Terapeuta é fundamental ater-se ao material que é produzido pelo
paciente sem expressar enquadre teórico qualquer, para que o paciente possa buscar sua
linguagem especifica e trabalhar com ela.

Bibliografía

Jung, C. G.: O Livro Vermelho – Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

Hillman, James: Lamento dos mortos: a psicologia depois de o livro vermelho de Jung -
Petrópolis, RJ : Vozes, 2015.

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