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ISSN 2357-9854

Cinema e educação: repertório, temáticas e articulações

Gabriel de Andrade Junqueira Filho (Universidade Federal do Rio Grande do Sul —


UFRGS, Porto Alegre/RS, Brasil)

RESUMO — Cinema e educação: repertório, temáticas e articulações — O artigo tem como origem
o curso Cinema e Educação: repertório, temáticas e articulações, oferecido dentro da programação do
projeto Vagalume, Laboratório de Estudos em Audiovisual e Educação, do Programa de Alfabetização
Audiovisual, na cinemateca Capitólio, em Porto Alegre(RS), entre setembro e outubro de 2015.Parte
da premissa de que o cinema pode educar e ser um grande aliado do professor e dos alunos para
conhecerem mais sobre os conteúdos curriculares e os projetos que pretendem realizar ao longo do
ano, com diferentes propósitos (Xavier; Bergala; Duarte e Alegria; Fresquet; Fantin; Mello; Migliorin;
Junqueira Filho e Barbosa). Para isso, é preciso conhecer o que o cinema já produziu sobre diferentes
temáticas, dentre elas, as que interessam a professores e alunos a cada momento do ano letivo. Como
saber que filmes selecionar para discutir uma temática? Como acessar esses filmes? Como elaborar
um roteiro de exploração para cada filme e para cada temática? Essas foram as perguntas que deram
origem ao curso e que procuramos responder coletivamente ao longo dos quatro encontros. Outras
perguntas surgiram durante o curso, indicando especificidades de demanda dos alunos: Como
organizar situações prazerosas nas quais professores e alunos de dois a três anos possam assistir a
filmes e conversar sobre eles? Como o cinema pode ajudar os professores a reencantarem alunos do
ensino médio, que vivem cotidianamente em meio à violência, para os estudos e para a vida? Essas
trocas entre alunos e professores produziram uma ampliação significativa das possibilidades de
articulação entre cinema e escola e reforçaram a necessidade de planejamento e de elaboração de
projetos de trabalho para o uso de filmes nos diferentes níveis de escolaridade.
PALAVRAS-CHAVE
Cinema. Filmes. Educação. Escola. Projetos de Trabalho.

ABSTRACT — Cinema and education: repertory, themes & articulations — The present article has
its origins in the course Cinema and Education: repertoire, thematics & articulations, offered within the
project Vagalume, Laboratory of Studies in Audiovisual and Education, from the Audiovisual Literacy
Program, in the city of Porto Alegre, between September and October 2015.It starts from the premise
that the cinema educates and can be a great ally of the teacher and students to know more about
curricular contents and about projects which they intend to perform throughout the year, with different
proposals (Xavier; Bergala; Duarte e Alegre; Fresquet; Fantin; Migliorin; Junqueira Filho e Barbosa).
However, to do so, it is necessary to know what has the cinema already produced about different
thematics, among them, the ones which are in the teachers and students interest in each moment of the
school year. How can we know which films we have to select in order to discuss a thematic? How can
we access such films? How to elaborate an explore guide to each film and each thematic? These were
the questions that have led to the course and to which we have tried to answer collectively along the
four meetings. Other questions appeared during the course, showing specificities on the students
demands: How to organize pleasant situations in which teachers and two or three-year-old students
could watch films and talk about them? How can cinema help teachers to re-bewitch to life and studies
high school students who live amidst violence? These exchanges between students and teacher have
produced a significant enlargement of the possibilities of articulation between cinema and school and
reinforced the need for planning and elaborating of work projects in order to use films in the different
levels of education.
KEYWORDS
Cinema. Films. Education. School. Work Project.

JUNQUEIRA FILHO, Gabriel de Andrade. Cinema e educação: repertório, temáticas e articulações. 221
Revista GEARTE, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 221-244, maio/ago. 2016.
Disponível em: http://seer.ufrgs.br/gearte
1 Introdução

Cinema e escola podem, aparentemente, parecer universos inconciliáveis,


associados à diversão e ao lazer e aos estudos e ao conhecimento, respectivamente.
Muitos professores, no entanto, não veem dessa maneira e promovem o encontro
entre esses dois universos, abrindo as portas da sala de aula para a exibição de filmes
– ou, ao contrário, levando os alunos às salas de cinema (MELLO, 2014) –, com os
mais distintos propósitos (XAVIER, 2008; BERGALA, 2008; DUARTE e ALEGRIA,
2008; FRESQUET, 2013; FANTIN, 2014, 2015; MIGLIORIN, 2014; JUNQUEIRA
FILHO e BARBOSA, 2014). Tais práticas de cinema em espaços educativos – as salas
de cinema também são espaços educativos, impossível negar –, entre outras coisas,
elevam o cinema ao status de conhecimento escolar, tanto quanto de conhecimento
científico, relativo às áreas de conhecimento (Língua Portuguesa, Matemática,
Ciências Sociais, Ciências Naturais), como o conhecimento cotidiano, num diálogo
com os fundamentos de princípios distintos de organização curricular como os temas
geradores (FREIRE, 1968), os temas transversais (BUSQUETS et al., 1997), os
projetos de trabalho (HERNÁNDEZ, 1998), as múltiplas linguagens (JUNQUEIRA
FILHO, 2005), por exemplo, desde a Educação Infantil até a universidade. As crianças
pequenas, alheias às discussões teóricas a esse respeito, levam, por iniciativa própria,
DVDs de filmes para a escola, seja porque estão apegadas a uma história, seja porque
querem compartilhar um presente ou uma aquisição recente, seja porque gostam de
assistir a filmes na companhia dos colegas. Tanto as crianças quanto os adultos
sabem que o cinema faz pensar, emociona, transforma, emancipa, aproxima e cria
mundos – educa.

Em 2014, o que era iniciativa de alguns professores se torna lei:

A exibição de filmes de produção nacional constituirá componente curricular


complementar integrado à proposta pedagógica da escola, sendo a sua
exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais. (BRASIL - Lei
13.006-14)

O cinema do resto do mundo continua fora da lei, mas não menos presente nas
práticas escolares de cinema de professores que, mesmo correndo todos os riscos de

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incompreensão e preconceito por outros tantos professores e equipe de gestores,
buscam cotidianamente alternativas para utilizar filmes, seja como recursos didáticos
para trabalhar conteúdos de áreas específicas do conhecimento, seja para o estudo
da linguagem cinematográfica, visando à produção de curtas-metragens com os
alunos, entre outros tantos propósitos.

Na reflexão a seguir, analiso a experiência de um curso sobre a utilização de


cinema na escola, sob minha coordenação, tendo como foco a elaboração de projetos.
Metodologicamente, trata-se de uma livre criação, na medida em que me inspirei,
selecionei, signifiquei e articulei aspectos específicos da perspectiva de trabalho com
projetos, de Hernández (1998), como o convite ao protagonismo dos alunos para
selecionarem, objetivarem e argumentarem sobre o que e por que querem estudar
determinado tema, bem como, elaborar perguntas e hipóteses sobre seus objetos de
estudo; os temas geradores, de Freire (1968), no que diz respeito a conhecer e
valorizar o que os alunos já sabem sobre o que querem aprender mais, tomando esse
conhecimento original como ponto de partida para irem ao encontro do que já foi
produzido a esse respeito pela humanidade e; a concepção de planejamento em dois
tempos e por dois sujeitos distintos, das linguagens geradoras, de Junqueira Filho
(2005): a parte cheia do planejamento, elaborada exclusivamente pelo professor,
antes mesmo de conhecer os alunos, apresentando suas significações e seus
objetivos em relação ao objeto de estudo em questão e; a parte vazia do
planejamento, elaborada junto com os alunos, pela interação entre o professor e os
alunos, intermediados pelo objeto de estudo que os aproxima, no caso deste curso, a
elaboração de projetos para trabalhar com cinema na escola.

2 Um curso em quatro tempos - trabalhando in process

Vovô viu a uva, mas o seu neto, provavelmente, viu o vídeo da uva, online,
ao vivo ou on demand, bem antes de ter visto uma verdadeira uva. Ler e
escrever ainda são fundamentais - o cinema cria imagens, a leitura cria
imaginação - mas quem, no século XXI, não souber ver e entender a
linguagem audiovisual é um analfabeto funcional. O cinema contém uma
ilusão, a de ser um retrato fiel da realidade, dizem que é ver para crer. É
preciso aprender a ver e descrer, ensinar a ver, a descrever, reaprender a
ver. A linguagem constrói a sua própria realidade e dominá-la é decisivo para
entender o mundo que nos cerca, e a nós mesmos. Somos, desde a infância,
bombardeados por milhões de imagens, corremos o risco de ficar cegos de
tanta luz, surdos de tantos sons, entorpecidos de tanta informação. A
educação audiovisual é uma tarefa fundamental do estado, da escola, dos
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pais, de todos aqueles que se preocupam com o futuro dos nossos filhos,
como destino do planeta. (Jorge Furtado, 2015)

A reflexão a seguir tem como origem o curso Cinema e Educação: repertório,


temáticas e articulações, oferecido na programação do projeto Vagalume, Laboratório
de Estudos em Audiovisual e Educação, do Programa de Alfabetização Audiovisual1.
O curso transcorreu em quatro encontros de três horas, das 19h às 22h, sempre às
quintas-feiras, entre setembro e outubro de 2015, na Sala de Audiovisual da
Cinemateca Capitólio, em Porto Alegre (RS), com uma turma de 35 professores, cinco
homens e 30 mulheres, na faixa etária entre 20 e 50 anos, aproximadamente, atuando
na educação infantil, no ensino fundamental, no ensino médio e no ensino superior.

No folder de divulgação do curso, o texto para a chamada dizia:

O cinema pode ser um grande aliado do professor e dos alunos para


conhecerem mais sobre os conteúdos curriculares e sobre projetos que
pretendem realizar. Para isso, é preciso conhecer o que o cinema já produziu
sobre diferentes temáticas, dentre elas, a que lhes interessa a cada momento
do ano letivo. Como saber que filmes selecionar para discutir uma temática?
Como acessar esses filmes? Como elaborar um roteiro de exploração para
cada filme e para cada temática? É sobre isso que iremos conversar.2

O objetivo do curso era, por um lado, conhecer as demandas dos professores


em relação ao uso de filmes na escola, desde a educação infantil até o ensino superior
e, por outro, na condição de ministrante do curso, enquanto não tinha acesso a essas
demandas, conversar e realizar coletivamente alguns exercícios de modo a explorar
determinados aspectos da perspectiva de trabalho com filmes em sala de aula.

Após as boas vindas e uma breve apresentação pessoal, projetamos no telão


a epígrafe desse texto, de autoria do cineasta Jorge Furtado, escrita e veiculada com
o objetivo de chamar a atenção para a imprescindibilidade do trabalho com o
audiovisual em diferentes instâncias da vida contemporânea, num momento de crise

1 O Programa de Alfabetização Audiovisual é uma ação conjunta realizada pelas secretarias da


Cultura e Educação de Porto Alegre, através da Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia e
Assessoria de Inclusão Digital; com a Faculdade de Educação da UFRGS, através do Departamento
de Estudos Especializados, com financiamento do Programa Mais Educação do MEC.
2 Folder elaborado para o curso Cinema e Educação: repertório, temáticas e articulações – Programa
do projeto Vagalume, Laboratório de Estudos em Audiovisual e Educação, parte do programa de
Alfabetização Audiovisual.

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no país e de iminentes cortes de orçamento, pondo em risco a continuidade de
projetos dessa natureza. A partir da leitura da epígrafe, começamos a conversar.

Desde o primeiro encontro, começávamos a partir da apresentação de algumas


pessoas, contando sobre o seu cargo, a escola em que trabalhava e quais suas
expectativas e demandas em relação ao curso. Isso possibilitou que fôssemos
identificando as diferentes demandas a cada encontro: as possibilidades de
aproximação das histórias em quadrinhos com o cinema; a questão do trabalho
apenas com cenas específicas dos filmes ou com filmes inteiros; a ideia de cativar
para o cinema alunos jovens com histórico de fracasso escolar e indisciplina; a
utilização de filmes na formação de professores nos cursos de Magistério e de
Pedagogia; o conhecimento, a apreciação e o acesso a filmes fora do circuito
comercial de cinemas e dos canais abertos de televisão; a abordagem do tema da
violência através de filmes na escola; as contribuições dos filmes para o trabalho com
os conteúdos das Artes Visuais; dentre outras demandas. Algumas dessas foram
desenvolvidas imediatamente, tanto por quem as apresentava, quanto por mim e
pelos demais colegas participantes do curso. Parti do princípio de que era fundamental
que todos conhecessem as demandas uns dos outros e participassem, com seus
repertórios de formação e de vida, das conversas, que foram dando origem a novos
questionamentos e indicando prioridades e encaminhamentos, diante dos pedidos de
ajuda de como lidar com determinadas situações envolvendo o uso de filmes na
escola.

No primeiro encontro, não nos detivemos em nenhuma demanda específica,


pois havia planejado a exibição de três filmes que, em seu conjunto, levariam
aproximadamente uma hora e trinta minutos para serem assistidos. O desafio
relacionado ao tempo de exibição mais o tempo planejado para atividades
complementares à exibição é enfrentado por todo o professor que quer trabalhar com
cinema na escola devido tanto à sua carga horária quanto à carga horária dos alunos.
Os filmes exibidos foram, nessa ordem: O balão vermelho3 - Paris dos anos 50, um

3 O Balão Vermelho (França, 1956, Direção: Albert Lamorisse, 36 min.). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=_SaRIP44CQQ>. Acesso em: set-2015.

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menino francês encontra um grande balão vermelho atado a um poste de luz e decide
desamarrá-lo. Inicia-se uma forte ligação entre o garoto e o balão, que passeiam e
brincam juntos pelas ruas da cidade; O menino da calça branca4 -Um menino favelado
realiza seu sonho ganhando uma calça branca no Natal. Com cuidado para não sujá-
la, evita as brincadeiras com os companheiros e busca o asfalto para mover-se
mantendo a calça limpa. Ao assistir a uma pelada de rua, a bola, caindo numa poça,
espalha lama sobre seu presente. Volta correndo aos braços de seu habitat,
reintegrado à sua gente; O rolo compressor e o violinista5 – Primeiro filme do cineasta
russo Andrei Tarkovski, conta a história de amizade entre um menino perseguido por
outros meninos do prédio em que ele morava, os quais queriam destruir o seu violino,
e um operador de rolo compressor.

Ao final de cada filme, perguntava se estava tudo bem e se poderíamos assistir


ao próximo, ou se queriam fazer algum comentário, ou se estavam cansados. Esse é
um cuidado importante para a saúde da relação entre o público, os filmes e quem os
escolheu, ou, no caso da escola, entre os alunos, o conhecimento e o professor,
elementos sem os quais não se produz a relação pedagógica. Caso os alunos
tivessem se manifestado cansados ao final do segundo filme, teria partido para a
conversa e para as análises dos dois primeiros filmes, sem ter assistido ao terceiro
filme que havia selecionado, privilegiando a relação e não o meu planejamento, o qual
incluía o terceiro filme. O grupo quis assistir aos três filmes, porém, ao final, alguns
participantes avaliaram que foi cansativo, mas que valeu a pena. No término da
exibição, fiz-lhes as seguintes perguntas: por que vocês acham que eu escolhi esses
três filmes? Por que a sequência foi essa e não outra? Mal começamos a conversar
sobre os filmes e eis que nosso tempo se esgotou, tornando-se necessária a
continuidade do exercício no segundo encontro, dali a uma semana.

No segundo encontro, durante outra rodada de apresentações, uma professora


de maternal (crianças de dois a três anos), da rede municipal de Porto Alegre, fez um

4
O menino da calça branca (Brasil, 1961, Direção: Sergio Ricardo, 22 min.). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=QnldIxs5NYI>. Acesso em: set-2015.
5
O rolo compressor e o violinista (Rússia, 1961, Direção: Andrei Tarkovsky, 46 min.). Disponível em:
<https://vimeo.com/23398738>. Acesso em: set-2015.
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depoimento o qual sensibilizou a grande maioria dos participantes. Ela relatou que em
sua escola:

(...) a sala de vídeo está sempre cheia de crianças de diferentes idades


assistindo, sempre aos pedaços, a filmes de longa-metragem, geralmente
desenhos animados veiculados maciçamente pelas mídias, pertencentes ao
acervo da escola ou trazidos de casa por outros alunos, cujas exibições
sempre são convocadas e interrompidas sem maiores explicações, em
momentos não planejados pelas professoras, com o objetivo de ganhar
tempo para providenciar situações inusitadas da rotina, como atraso ou falta
de professores, espera para ocupação de espaços utilizados em sistema de
rodízio pelos diferentes grupos da escola (refeitório, quadra, sala de música),
entre outros (...). 6

Essa professora indaga quais as alternativas possíveis para assistir a filmes


com seus alunos de outra maneira do que essa apresentada pela escola.
Conversamos, então, sobre o contexto de seleção e apresentação dos filmes, ou seja,
a importância de se refletir sobre a relação entre os filmes selecionados e a história
de cada grupo de crianças, ou seja, o que é que um grupo de crianças vinha ou vem
explorando, pesquisando, vivenciando no dia a dia que indicou a escolha e a exibição
de um filme, ou um grupo de filmes, para aquela turma, naquele momento da história
daquele grupo. O que está em questão é uma turma específica e não várias turmas
juntas na sala de vídeo para ver um mesmo filme, sem saber por que foram
convocadas para tanto. Um princípio fundamental, portanto, é que os filmes estejam
sempre em relação com o contexto de vida do grupo para o qual ele foi selecionado e
será exibido. Os filmes trazidos espontaneamente pelas crianças para a escola são
muito bem-vindos, no entanto, faz-se necessário que a professora ou o professor
converse com a criança que trouxe o vídeo de casa, juntamente com todas as outras
crianças da turma, sobre, entre outras coisas, os motivos de ela trazer o vídeo para a
escola, se gosta daquele filme e, se sim, por que, e se quer assistir a ele com os
amigos ou se o trouxe por outros motivos e quais seriam; e se quer assistir a ele, se
sugere ver o filme todo ou apenas uma parte e por que, consultando as demais
crianças se elas querem vê-lo e como poderiam se organizar para fazê-lo. É
importante que a criança argumente sobre sua iniciativa, entendendo que suas
contribuições ao grupo são muito bem-vindas, mas, também, é preciso consultar os

6 Relato oral da professora realizado durante o curso.


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colegas e a professora sobre as possibilidades e o contexto de exibição do filme, de
acordo com a rotina da turma.

Quanto à duração dos filmes, consideramos que se for um filme de 90min,


aproximadamente, que seja dividido em duas partes, pelo menos. Por exemplo: a
primeira parte antes do lanche e do pátio e a outra parte na volta do pátio, com tempo
assegurado para conversarem sobre o filme ao final da exibição. Quanto ao ambiente,
que seja confortável, com tapetes, almofadas, possibilitando às crianças assistirem ao
filme sentadas, deitadas, abraçadas em almofadas, em duplas, do jeito que melhor
lhes aprouver, garantindo que todas estejam devidamente acomodadas,
proporcionando um momento muito gostoso para elas e também para a professora.
Envolver as crianças na organização desse momento é meio caminho andado para
que tudo corra bem ao longo da exibição e fazer combinados com elas é uma das
providências nesse sentido, da mesma maneira que fazer as perguntas clássicas
antes do início da exibição: - Quem quer beber água? Quem quer ir ao banheiro? O
que foi que a gente combinou para quando a gente estiver vendo o filme?

Ainda quanto à duração, comentamos que há uma infinidade de desenhos de


curta-metragem (de quatro minutos e meio, oito minutos) disponíveis em DVD, Blu-
ray, no YouTube e em sites especializados. Sugeri, a partir dessa demanda,
começarmos o terceiro encontro apresentando alguns desses desenhos para a
avaliação de toda a turma.

Feito isso, passamos para o segundo momento da noite, a retomada das


análises e articulações entre os três filmes que havíamos visto no primeiro encontro.
Para tanto, comuniquei o grupo sobre duas situações que havia planejado para que
isso acontecesse, consultando-os sobre por qual delas gostariam de começar. Uma
delas era a conversa propriamente dita; a outra, um jogo de dominó adaptado para
quem quisesse jogar; quem não quisesse, ficaria acompanhando o andamento do
jogo, sem, no entanto, opinar ou sugerir. A turma escolheu começar pelo jogo e,
rapidamente, algumas pessoas se apresentaram para jogar. Arredamos as cadeiras
e nos sentamos no chão, junto à parede da frente da sala, onde fica o telão. Aqueles
que acompanhariam o jogo se organizaram de pé ou sentados em volta de quem
estava no chão.
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Seguimos para a apresentação das regras: cada jogador deve escolher entre
seus pertences três objetos-peças (cerca de doze pessoas se apresentaram para
jogar. O número de objetos-peças depende do número de jogadores; quanto menos
jogadores, maior o número de objetos-peças por jogador, visando à complexidade de
cada jogada, e vice-versa), os quais seriam usados na mesma lógica do jogo de
dominó, ou seja, para que o jogador possa seguir o jogo usando uma de suas peças-
objetos, precisa indicar ou estabelecer uma relação de similaridade entre a sua peça-
objeto e as peças-objetos que estão em cada uma das extremidades do conjunto de
peças-objetos que já foi colocado no chão pelos demais jogadores. Essa relação
precisa ser reconhecida e aprovada pelos demais jogadores, do contrário, o jogador
pensa um pouco mais e apresenta uma nova relação, ou, não conseguindo ou não
sendo reconhecida e aprovada novamente pelos demais jogadores, passa a vez. Um
dos desafios maiores do jogo é que cada relação apresentada não pode ser mais
utilizada nas próximas jogadas, forçando os jogadores a produzirem relações originais
e inusitadas entre as peças-objetos já usadas e as que eles ainda têm em mãos.
Chaveiros, canetas, agendas de papel, medicamentos, artigos de maquiagem,
carteira, niqueleira, celulares, garrafa d’água, chiclete, eram alguns dos objetos-peças
que desafiaram os jogadores a produzirem relações, sendo que alguns desses objetos
foram escolhidos por mais de uma pessoa no momento de selecioná-los dentre seus
pertences, quando ainda não conheciam as regras do jogo.

O objetivo desse jogo, no contexto de análise conjunta dos três filmes vistos na
semana anterior, era o de descartar, de uma vez por todas, a crença de que os filmes
têm uma “caixa preta”, uma única verdade que precisa ser desvendada, um “gabarito”
de respostas certas que mede forças com quem lhes assiste e, também, com quem
fala, escreve e ou conversa sobre eles. O propósito era deixar que os alunos e alunas
do curso ficassem à vontade para produzir relações pessoais e inusitadas sobre os
filmes, tanto sobre aqueles que havíamos visto na semana anterior quanto a todos os
outros que eles ainda veriam vida afora, seja na fruição do entretenimento ou
buscando exemplares para o trabalho na escola. Pois, a ideia era que no momento
em que produzissem relações consistentes sobre um filme, ou entre alguns filmes, e
que, de alguma maneira, seus interlocutores conseguissem enxergar o que eles
indicaram como relação, se sentissem seguros para seguir em frente e trabalhar com
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aquele ou aqueles filmes com seus alunos. Minha intenção era que eles percebessem
que os filmes estão aguardando pela produção de sentidos de quem assiste a eles,
podendo esses sentidos serem gerados sem o uso de uma cartilha com um passo a
passo. Entendida dessa maneira, a sala de aula, pela multiplicidade e diversidade que
lhe são inerentes, é uma fonte de possibilidades, contextos e significações para
acolher e revirar o cinema, seja, por exemplo, para descobrir filmes que vão ao
encontro de assuntos que estejam na pauta dos alunos e de seu professor, seja para
produzir olhares inusitados e singulares sobre velhos e novos filmes. Avaliamos o
nosso jogo de dominó como estratégia para refletirmos sobre as leituras possíveis que
poderíamos fazer sobre filmes e retomamos a análise dos três filmes vistos no
encontro anterior.

Antes de terminar o segundo encontro, apresentei o roteiro que seria


responsável por mais uma dentre as possibilidades de interlocução entre nós até o
final do curso – a elaboração dos projetos. Esclarecemos sobre os diferentes aspectos
do roteiro proposto e pedi que, durante a semana, fossem desenvolvendo item a item
desse roteiro, o que, na troca de correspondência eletrônica entre nós, o transformaria
em um projeto. Uma vez enviado por e-mail, conversaríamos por escrito até o próximo
encontro e entre um encontro e outro. Meu objetivo, ao elaborar o roteiro para a
produção de projetos com cinema na escola, entre outras coisas, era o de formalizar
o status do cinema como pedagógico, na sua condição de conteúdo e estratégia,
visando à produção de conhecimento sobre e a partir de filmes, tanto quanto a aula
expositiva, a roda de conversa ou o uso do livro didático, sem, no entanto, esvaziá-la
do seu caráter lúdico, fundamental à produção da relação professor-aluno-
conhecimento. O primeiro bloco, do roteiro, referente à identificação do/o professor/a
era importante para que eu conhecesse um pouco mais sobre meus interlocutores e
sobre os contextos nos quais estavam inseridos. Esses dados me possibilitariam
refletir sobre suas escolhas para assim ajudá-los a fazer opções para o
desenvolvimento do seu projeto.

Roteiro para elaboração de projeto sobre uso do cinema na escola

Identificação do/a professor/a


Nome e idade do/a professor/a:
Formação (magistério/curso superior/outros):
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Tempo de trabalho em educação escolar (professor/a, coordenação pedagógica, estão/outros):
Escola (municipal, estadual, particular):
Região da cidade em que a escola se localiza:
Realidade sócio-econômico-cultural da comunidade em que a escola está inserida:
Em relação ao projeto a ser realizado, o/a professor/a é responsável por que turma/ano/disciplina/turno:
Número de alunos:
Quanto tempo/dia/semana/mês tem para desenvolver o projeto dentro da programação total sob sua
responsabilidade:
Temática, contexto e abordagem
Tema a ser abordado pelo projeto:
Contexto que deu origem ao interesse pelo tema:
Objetivos com o projeto:
Filmes selecionados:
Situações a partir das quais o projeto será desenvolvido em sala de aula/na escola/na comunidade/na
cidade:
Instrumentos de avaliação sobre o envolvimento, participação e produção de conhecimentos, por parte
dos alunos (e da escola/comunidade) ao longo do projeto:
Considerações significativas sobre o desenvolvimento do projeto:

O terceiro encontro teve início com uma nova rodada de apresentações e


continuou a partir da projeção de curtas-metragens para crianças, com o objetivo de
apresentar possibilidades de assistir a filmes com as crianças na faixa etária dos dois
aos três anos, na educação infantil, demanda surgida no encontro anterior. Assistimos
a um curta inteiro, O Pequeno Hiawatha, escolhido pela turma, dentre os filmes os
quais pesquisei para atender à solicitação sobre filmes de curta duração para crianças
pequenas, e, depois, assistimos, somente ao começo, de Os três porquinhos e o lobo,
O patinho feio e Fantasia, todos produzidos pelos Estúdios Disney. Chamamos,
novamente, a atenção para a infinidade de filmes de curta duração disponíveis no
YouTube, alguns deles lançados comercialmente em DVD. Nesse sentido, vimos
alguns trechos do seriado Pippi das Meias Altas (no Brasil, Píppi Meialonga). Vimos
via YouTube, mas também levei os DVDs de alguns episódios da série, adquiridos por
mim em diferentes bancas de revista, numa viagem a Portugal. Uma das alunas se
lembrou dos curtas do Festival de Cinema Infantil de Florianópolis, comentando sobre
filmes que já havia assistido com seus alunos, os quais faziam muito sucesso entre
as crianças. Ela acessou a um deles – João, o galo desregulado –, numa rápida
pesquisa no Google, e assistimos a ele em seguida. Os filmes desse festival abordam
temáticas diversas e divulgam estéticas alternativas àquelas que as crianças estão
acostumadas ao consumirem a programação de desenhos animados dos canais
abertos de televisão, ou até mesmo dos canais pagos, como Discovery Kids,
Nickelodeon, Disney Júnior, Tooncast, Baby TV, Cartoon Network, Gloob Gloob,
Boomerang, entre outros. Alguém também se lembrou do Festival Anima Mundi.
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Lembramos ainda que, para esta faixa etária, o importante é identificar junto às
crianças os filmes que mais as mobilizam e assistir a eles repetidas vezes. Nessa faixa
etária, a repetição tem um papel fundamental, que possibilita a apropriação da
narrativa e a consequente possibilidade de verbalizar, comentar, conversar sobre os
filmes de que tanto gostam, elaborando, simultânea e gradativamente, os conteúdos
dos mesmos, na relação com suas vivências e histórias de vida, tal qual acontece com
os livros de literatura infantil. A grande diferença é que os filmes dispensam os adultos
para que as crianças tenham acesso à narrativa, uma vez que são dublados,
privilegiando a cultura oral. As crianças de dois a seis anos, as quais estão se
deparando e procurando interagir com as linguagens que lhe narram o mundo e lhes
propiciam possibilidades de expressão e comunicação, precisam do adulto para
conhecer o enredo de uma história; ao ligar a TV para acessar a um canal de desenho
animado, ou colocar um DVD ou entrar no YouTube, as mídias se encarregam
sozinhas de contar a história, atendendo, prontamente, inclusive, à necessidade de
repetição das crianças, quando querem ouvir-ver a história outra vez e outra e outra
vez.

O papel do adulto, seja na literatura, seja no cinema, é o de selecionar e


apresentar um repertório de histórias às crianças, bem como, de conhecer o repertório
de histórias consumido por elas, que vai além daquele selecionado pelo adulto para
as crianças, e conversar com elas sobre essas histórias, buscando conhecer quais
leituras, significações, apropriações são feitas por elas. Identificar as histórias
preferidas das crianças e investigar o motivo pelo qual essas histórias as mobilizam
tanto, é uma maneira de conhecer um pouco mais sobre as crianças e sobre como as
crianças estão conhecendo e se apropriando do mundo. Dessa maneira, as histórias,
sejam as dos filmes, sejam as dos livros, funcionam como uma estratégia de produção
de conhecimento em vários sentidos: as crianças começam a conhecer a literatura e
o cinema e, por consequência, conhecem um pouco mais sobre sua professora ou
professor, que lhes apresentou e fez questão de significá-los como fundamentais à
educação delas na escola; o professor conhece as crianças pela relação que elas
estabelecem com as situações em que ouvem-veem histórias de livros e filmes; as
crianças se conhecem um pouco mais na relação com as histórias de livros e filmes,

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identificando-se com personagens, apropriando-se das narrativas dessas linguagens,
emocionando-se, conversando sobre eles.

Sem esgotar o assunto e de olho no relógio – lembremos que o fator tempo,


naquele contexto, era inegociável –, passei a comentar os projetos enviados ao longo
da semana. Consultei um dos professores, aluno do curso, sobre a possibilidade de
falar sobre o projeto dele e, com o seu consentimento, começamos a conversar sobre
o uso que ele estava planejando fazer de alguns filmes. Neste artigo, reproduzo a
troca de correspondência eletrônica que tivemos durante a semana, pois ilustra de
forma clara um dos propósitos do curso: a conversa por escrito entre um encontro e
outro para o desenvolvimento dos projetos sobre o uso do cinema na escola. Eduardo
é professor de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental e Médio e tem cerca de 30
anos.

No dia 18 de setembro ele escreve:

Bom dia, professor Gabriel,


em meu projeto gostaria de trabalhar com filmes que apresentam o Efeito
Rashomon (o ponto de vista alterando a percepção sobre eventos). Como
trabalho com noções sobre narrativa, penso que esse poderia ser um modo
interessante de introduzir em sala de aula a relação entre ponto de vista e
percepção. Fiz um levantamento de alguns filmes que trabalham com essa
ideia, mas receio que vários possam não estar de acordo com a faixa etária
dos alunos (14 a 16 anos). Segue lista abaixo:
Rashomon (Título original: Rashomon, Ano: 1950, País: Japão, Duração:
1h28min, Direção: Akira Kurosawa)
O Grande Truque (Título original: The Prestige, Ano: 2006, País: E.U.A.,
Duração: 2h15min, Direção: Christopher Nolan)
Bem-me-quer, mal-me-quer (Título original: À la Folie… Pas du Tout, Ano:
2002, País: França, Duração: 1h40min, Direção: Laetitia Colombani)
Vertigo – Um corpo que cai (Título original: Vertigo, Ano: 1958, País: E.U.A.,
Duração: 2h09min, Direção: Alfred Hitchcock)
Amnésia (Título original: Memento, Ano: 2000, País: E.U.A., Duração: 2h,
Direção: Christopher Nolan)
Os suspeitos (Título original: The Usual Suspects, Ano: 1995, País: E.U.A.,
Duração: 1h46min, Direção: Bryan Singer)
O predestinado (Título original: Predestination, Ano: 2014, País: E.U.A.,
Duração: 1h37min, Direção: Spierig Brothers)
Quatro confissões (Título original: The Outrage, Ano: 1964, País: E.U.A.,
Duração: 1h37min, Direção: Martin Ritt)
Clube da Luta (Título original: Fight Club, Ano: 1999, País: E.U.A., Duração:
2h31min, Direção: David Fincher)
Pulp Fiction – Tempos de violência (Título original: Pulp Fiction, Ano: 1994,
País: E.U.A., Duração: 2h34min, Direção: Quentin Tarantino)
Abraço,
Eduardo

233
Em 23 de setembro lhe respondo:

Bom dia, Eduardo!


Tudo bem!?!
Sabia que eu não conhecia essa expressão "efeito Rashomon"!?! Obrigado
por mais essa contribuição. Depois que li sua msg fui fazer pesquisa para
saber melhor do que se tratava e te envio um pouco do que encontrei. Entre
os sites, um vídeo do YouTube, com uma guria indicando outros cinco filmes
que não estão na lista que você me enviou:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_Rashomon(Wikipedia)
https://www.youtube.com/watch?v=n-Zt-5rrBSU (Canal do YouTube: Lully de
Verdade – vídeo: 5 filmes para entender o efeito Rashomon)
http://epocanegocios.globo.com/Inteligencia/noticia/2014/05/o-efeito-
rashomon.html(Revista Época)
http://www.culturaeclima.com/2012/11/rashomon-rashomon-e-um-filme-
japones-de.html(Site Cultura e Clima)
https://psychocine.wordpress.com/tag/efeito-rashomon/(Psychocine)
http://nuno-poiares.blogspot.com.br/2011/11/proposito-da-polemica-o-efeito-
rashomon.html(Blog Nuno Poiares)
Em relação ao seu projeto, mais especificamente, penso o seguinte:
- uma vez entendido o conceito pelos alunos, não sei se você deveria passar
muitos filmes; talvez mais um ou dois, no máximo, consultando os alunos
sobre se eles gostariam ou não de ver mais um (ou dois) filme(s) que
explorasse(m) a mesma perspectiva de diferenças de pontos de vista sobre
um mesmo acontecimento/situação/história;
- sempre é preciso verificar a indicação do filme de acordo com a faixa etária,
para não correr o risco de passar um filme indicado para maiores de 18 anos
para alunos com idade inferior, gerando problemas com as famílias, direção
da escola, etc;
- penso que pode conversar com os alunos sobre o filme que deu origem a
essa expressão e se eles gostariam de assistir a esse filme (pode passar o
trailer, mostrar imagens e matérias sobre o filme via Google, mostrar o vídeo
do YouTube que te envio com a guria falando sobre esse filme e os outros na
mesma linha, etc), mesmo ele sendo em preto e branco, de muito tempo
atrás, etc, ou se poderiam assistir a um filme com a mesma lógica mas com
temática e tratamento mais contemporâneos;
- penso que a gente que é professor sempre pode fazer uma pré-seleção dos
filmes, levando em consideração a qualidade dos mesmos, ou seja, aquilo
que a gente considera cinema de boa qualidade, longe do padrão
pasteurizado do cinema comercial, e apresentar as possibilidades para os
alunos escolherem, dentre os filmes que pré-selecionamos, o que eles
preferem assistir. É um jeito de ajudá-los a constituir repertório e, ao mesmo
tempo, fazer e avaliar suas escolhas e as deles, com a sua ajuda, contando
a eles, por exemplo, um pouco sobre cada filme (época em que foram
produzidos, país de origem, conteúdo da trama – época em que se passa a
história, conflito e personagens centrais –, se ganhou prêmios, se é diretor ou
diretora, etc). Se, do seu ponto de vista, todos os filmes que você pré-
selecionou são importantes, por que não deixar que eles escolham ao(s) que
querem assistir?
- nesta quinta, vou levar para o nosso encontro um livro para crianças (mas
que é para adulto também) que explora essa mesma temática de um jeito
muito lindo – Vozes no Parque, de Anthony Browne. Conhece? Quem sabe,
pode ser um jeito de começar a explorar esse assunto com seus alunos
adolescentes, chamando a atenção deles sobre a importância dessa
abordagem para qualquer faixa etária.
Bueno, por ora, é isso.

234
Espero ter te ajudado a organizar melhor as ideias sobre o projeto e trabalho
com os alunos.
Seguimos conversando, por aqui ou na Capitólio.
Abração e até amanhã!
Gabriel.

No mesmo dia, ele me responde:

Muito obrigado, professor Gabriel,


Agradeço todas as sugestões e as referências; vão ser bastante úteis para
elaborar o projeto.
Realmente, penso que preciso reduzir bastante a lista de filmes; minha ideia
inicial seria a de selecionar os filmes mais improváveis dos alunos
encontrarem na TV, como, por exemplo, o filme do Kurosawa. Gosto da ideia
do cinema na escola contribuir para ampliar o repertório cultural dos alunos.
Porém, quanto mais antigo o filme, mais difícil parece ser engajar os alunos.
Acho que seria necessário introduzir aos poucos a linguagem do cinema em
preto e branco (talvez inicialmente com curtas). No ano passado tive uma boa
experiência com a exibição de um seriado antigo dos anos de 1950 – Além
da Imaginação. Mesmo em preto e branco houve interesse por parte dos
alunos, mas eram episódios de 20 minutos.
Existe um filme recente bastante ruim chamado Vantage Point, que usa essa
estrutura de múltiplos pontos de vista; o único ponto positivo seria a
proximidade com a linguagem visual que os alunos já estão habituados.
Mais uma vez agradeço bastante toda a sua ajuda.
Abraço e até quinta,
Eduardo

Para finalizar esse bloco sobre os critérios para a seleção dos filmes – mas
longe de esgotar o assunto – apresentei a lógica peculiar de Nelson Goodman, em
seu livro Linguagens da arte, em que o filósofo norte-americano nos convida a pensar
não sobre o que é ou não é a arte, mas quando é arte? Inspirado livremente nas
proposições deste filósofo, retomei os objetivos do jogo de dominó do encontro
anterior para reafirmar a importância do contexto em e para o qual os filmes são
selecionados, reforçando o ponto de vista que a produção de sentidos do espectador
– neste caso, dos alunos – sobre os filmes selecionados – geralmente, pelo professor
–para a problematização de um tema-assunto-conteúdo curricular é algo que
extrapola as intenções e finalidades de quem os selecionou e, por isso, a importância
de levantar inúmeras hipóteses, avaliando prós e contras, ao longo da seleção, como
também de envolver os alunos nas conversas que pontuam o processo de escolha
dos filmes. Enquanto argumentava a esse respeito, lembrei-me de uma história
pessoal, sobre um amigo, vindo das classes populares e encantado com as artes, a
quem presenteei, por ocasião de seu aniversário, alguns filmes de gêneros diversos,

235
dentre eles, dois clássicos do neorrealismo italiano7 – Rocco e seus irmãos, de
Luchino Visconti, e Ladrões de bicicleta, de Vittorio De Sica. Meu objetivo na escolha
desses dois filmes era que meu amigo, então com vinte e três anos, pudesse produzir
alguma identificação entre as histórias dos personagens desses filmes e passagens e
situações da sua vida e de pessoas de suas relações familiares e de vizinhança, que
ele vinha me contando desde que nos conhecemos. Para minha surpresa, quando,
tempos depois, pela ocasião do lançamento de Linha de passe, filme de Walter Salles
e Daniela Thomas, convidei-o para ir ao cinema, na saída da sessão, cabisbaixo,
triste, convicto e indignado, me fez um pedido – que nunca mais o convidasse para
assistir a filmes em que pessoas como ele, da classe social dele, ao final de tantos
esforços e dribles na dureza da vida, não conseguissem realizar seus sonhos. Não
chegava a ser uma situação em que se aplicava o “efeito Rashomon”, mas tínhamos
pontos de vista muito distintos sobre a escolha dos filmes. Eu partia do princípio de
que vendo filmes como aqueles ele poderia elaborar mais sua condição social,
gerando perspectivas diferenciadas de passagem daquela para a condição social que
almejava. Ele, por sua vez, queria assistir a filmes que apresentassem experiências
de sucesso, de final feliz para pessoas como ele e da sua classe social. Como eu não
havia pensado nisso? Será que nunca tínhamos visto juntos nenhum filme com essa
perspectiva? Nunca me esqueci dessa história e avaliei que estávamos diante de um
contexto em que era pertinente compartilhá-la.

Seguimos para o quarto momento da programação da noite, quando assistimos


a três curtas-metragens selecionados da Caixa 50 filmes, da Programadora Brasil8:
Carnaval dos Deuses (Brasil. Direção: Tata Amaral. 2010, 9min.), Cores e Botas
(Brasil. Direção: Juliana Vicente. 2010, 16min.) e O filho do Vizinho (Brasil. Direção:
Alex Vidigal. 2010, 7min.). O objetivo era recomendá-los tanto às crianças dos anos
finais da educação infantil, quanto às crianças e adolescentes do ensino fundamental
e médio e, até mesmo, aos estudantes universitários, na medida em que compunham

7
O neorrealismo italiano foi um movimento cultural surgido na Itália ao final da Segunda Guerra
Mundial, sendo os seus maiores expoentes Roberto Rosselini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti.
8
Programa da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura que disponibiliza filmes e vídeos
para pontos de exibição, como escolas, universidades, cineclubes e centros culturais, a fim de
aproximar o cinema brasileiro do cidadão.
236
um repertório instigante de filmes de curta-metragem, fosse pelos temas, fosse pela
abordagem desses temas, fosse pela estética diferenciada daquela comumente
veiculada na televisão aberta e no cinema comercial. Ou seja, dar a conhecer aos
alunos, fossem os professores-alunos daquele curso, fossem os alunos deles nas
escolas em que trabalhavam, um universo paralelo de cinema, em relação ao universo
oficial do cinema veiculado pela tevê aberta e pela pirataria barata dos camelôs. Eu,
por exemplo, tive acesso a esse material em uma das etapas de formação de um dos
projetos do Programa de Alfabetização Audiovisual. Acesso que, na maioria das
vezes, fica restrito a quem procura cursos como esses.

Penso que é importante falar sobre a circulação, socialização e acessibilidade


desses filmes porque dizem respeito, entre outras coisas, a uma questão polêmica
sobre os direitos autorais. Ou seja, gostaria de chamar a atenção para o fato de que
há uma produção significativa de filmes importantes a serem assistidos nas escolas
que fica inviabilizada pelas políticas de distribuição, fazendo com que se pense que a
produção comercial é a única existente, reduzindo e empobrecendo, infelizmente,
dessa maneira, o olhar sobre filmes e a produção audiovisual, principalmente a
nacional. Um dos projetos do Programa de Alfabetização Audiovisual, por exemplo,
tem como objetivo a produção de filmes de curta-metragem pelos professores e alunos
nas escolas públicas do Rio Grande do Sul. Para tanto, procura selecionar, apresentar
e analisar com os professores – e, consequentemente, estes com seus alunos –,
filmes que abordem temáticas as quais dialogam com a realidade dos alunos, com o
propósito de que sirvam de inspiração à criação das produções de audiovisuais por
alunos e seus professores. Os três curtas que foram exibidos integram um rol de filmes
veiculados com esse objetivo. No entanto, nem todos estão disponíveis no YouTube,
por exemplo, ou nos sites Porta Curtas e Filmes que Voam, que contêm um acervo
significativo de filmes disponíveis gratuitamente, alguns deles, inclusive, com
acessibilidade para surdos. Ou seja, ainda é preciso investir muito em políticas não só
de produção, mas também de circulação e acessibilidade da produção audiovisual,
seja nacional ou estrangeira, para que o grande público conheça outros usos e outras
formas de fazer cinema. Um dos aspectos mais importantes de conversar a esse
respeito num grupo de um curso como esse é que sempre há quem conhece um site
ou outro que compartilha filmes, para baixar ou não, pago ou gratuito e, dessa
237
maneira, vai se formando uma rede de alternativas de acessibilidade. As dicas dos
sites Filmes que Voam e Vimeo, por exemplo, foram dos alunos e alunas desse curso.

A escolha dos três filmes não poderia ter sido mais acertada, pois provocou um
debate acalorado entre o grupo, deixando claro que os filmes podem ser um
disparador, como também o são os textos escritos com palavras, para subsequentes
conversas e reflexões sobre temas-assuntos-conteúdos diversos e fundamentais do
currículo escolar e da vida cotidiana, como racismo, preconceito, autoritarismo,
exclusão e inclusão. Acabamos acessando mais um vídeo curto no YouTube– MC
Soffia, da Série Empoderadas –, devido à repercussão, principalmente entre as
mulheres da turma, do filme Cores e Botas, que conta a história de uma menina negra
de classe alta, no Brasil da década de 80, que quer ser Paquita do Programa da Xuxa.
Para a maioria das mulheres dessa turma, dentre elas, algumas negras e pardas, o
sonho da protagonista do filme foi o delas também, quando tinham a mesma idade. A
lembrança do vídeo com MC Soffia se deu pela intensidade do debate que se seguiu
a esses filmes, oportunizando o contraponto entre as ilusões de Joana, a menina
negra aspirante à Paquita, e o discurso articulado e a performance como rapper de
MC Soffia, uma menina negra de 11 anos que nas letras das músicas que canta exalta
a periferia onde vive, sua classe social, a beleza da cor da sua pele e dos seus cabelos
crespos - “exótica não é linda”. Faço aqui um paralelo com a história do meu amigo
que não queria ver retratada sua realidade pelo cinema, a não ser que tivesse a
garantia do final feliz. Desta vez, ao contrário, essas alunas se identificaram com a
personagem da menina negra que queria ser Paquita, mesmo que ela não tenha sido
aceita pelo júri branco do teste. Uma das possibilidades seria o fato de a família de
Joana, a aspirante à Paquita, ter rompido o círculo da pobreza, sendo representada
como uma família de classe média alta, mas não conseguindo romper o círculo do
preconceito racial? Seria esse o motivo da identificação? Remete-me, novamente, a
Goodman e a sua pergunta central: quando é arte? Ou seja, neste caso, quando um
filme pode ou não produzir identificação no espectador com o conflito que ele está
expondo? Como saber de antemão?

O último encontro começou com mais uma rodada de apresentações e


continuou com o objetivo de explorar estratégias e instrumentos de busca para

238
conhecer a produção cinematográfica de todos os tempos, com vistas à constituição
de repertório dos professores-alunos do curso e à consequente seleção de filmes para
os projetos que eles poderiam futuramente elaborar. Exploramos, inicialmente, o
Google e o YouTube, a partir de palavras-chave como “os 100 melhores filmes de
todos os tempos”, que nos remeteu, entre outras coisas, a outras listas e gêneros,
como “os 100 melhores filmes de terror”, “os 100 melhores filmes infantis”, por
exemplo, nos possibilitando um passeio surpreendente, excitante e divertido pelas
diferentes idades do cinema e dos gêneros cinematográficos. Principalmente porque
os alunos foram indicando sites que utilizavam para suas buscas, ampliando o leque
de possibilidades de pesquisa para esse fim. Pedi que me enviassem, durante a
semana, suas dicas por e-mail, para que fossem compartilhadas por escrito para toda
a turma. A seguir, uma das mensagens recebidas:

Bom dia, professor Gabriel,


Envio abaixo os links de dois sites sobre cinema que eu costumo acessar
com bastante frequência. O primeiro é do já falecido crítico norte-americano
Roger Ebert: é uma seleção de críticas dos "grandes filmes" da história do
cinema (existe também o livro em português com essas
críticas: http://www.amazon.com.br/Grandes-Filmes-Roger-
Ebert/dp/8500017651). O segundo é um site de consulta, repleto de listas dos
mais variados gêneros do cinema; o legal desse site é que ele faz um cálculo
das críticas positivas e negativas que um filme recebeu e dá "tomates frescos"
ou "podres" para os filmes que estão sendo lançados no cinema.
http://www.rogerebert.com/great-movies
http://www.rottentomatoes.com/
Também lembrei de 2 livros muito bons que podem ser usados para seleção
de filmes:
Afinal, quem faz os filmes?, de Peter Bogdanovich
(http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=10935)
Easyriders, raggingbulls, de Peter Biskind
O do Bogdanovich eu tenho o pdf em inglês.
Também existe uma série recente, do canal inglês Channel 4, que conta a
história do cinema:
História do Cinema, uma
odisseia (http://clubedodownload.info/baixar/historia-cinema-uma-odisseia-
serie-completa) (também disponível em DVD, à venda em livrarias)
Abraço, Eduardo

Seguimos com a exibição de filmes disponíveis no YouTube, na perspectiva de


explorar o acervo desse canal gratuito de compartilhamento. Durante a semana, havia
feito uma pesquisa para conhecer um pouco mais sobre o universo desse canal e fiz
uma seleção pensando nas possibilidades de encantamento do público
contemporâneo de diferentes faixas etárias pelas produções de distintas épocas da
história do cinema.
239
No encontro anterior, uma das professoras comentara, rapidamente, com o
grupo, que havia produzido curtas-metragens com seus alunos de cinco a seis anos,
na educação infantil, todos eles de terror, gênero preferido daquelas crianças quando
o assunto era cinema. Ela havia mencionado essa experiência quando conversamos
sobre o projeto do Programa de Alfabetização Audiovisual que objetiva propiciar
formação aos professores para a subsequente produção de material audiovisual junto
aos alunos nas escolas. Consultei-a sobre a possibilidade de nos apresentar esses
filmes e nos contar sobre as diferentes etapas dessa experiência, no quarto e último
encontro do curso. Pensando nisso, garimpei filmes de curta-metragem e partes de
filmes de longa-metragem que explorassem o universo dos contos de fadas, do terror
e da comédia e abri a sessão daquela última noite do curso com uma versão de
Georges Méliès para Cinderela. Na sequência, vimos um clipe para a música A noite
no castelo, de Helio Ziskind, um clássico entre as crianças que conheci quando era
coordenador pedagógico de educação infantil. Esse clipe, dentre outros tantos
disponíveis no YouTube para esta música, traz imagens superpostas, em preto e
branco, como num teatro de sombras, do castelo e dos personagens que o habitam,
protagonistas da letra da música – um fantasma, uma bruxa e um vampiro. Seguimos
assistindo a outro curta de Georges Méliès, A casa assombrada. Minha intenção era
criar um clima para, em seguida, assistirmos aos filmes produzidos pela professora
de educação infantil Aida e seus alunos. Já havia assistido a esses filmes durante a
semana, enviados por ela pelo Facebook, e, de alguma maneira, queria fazer um
diálogo temporal entre as produções da origem do cinema, como os filmes de Méliès,
e as produções contemporâneas, como as dessas crianças e sua professora. Passei
a palavra à professora, que nos contou que a ideia de fazer os filmes:

(...) surgiu depois que nossa escola participou do Festival Escolar de Cinema,
do Programa de Alfabetização Audiovisual, em que um dos filmes que
assistimos era de terror. As histórias foram roteirizadas pelas crianças, sob a
minha supervisão; vez ou outra, fazia algumas problematizações, e eu
mesma gravei, no meu celular, e foram editadas entre todos no computador
da escola e finalizadas, com a inserção de narração – voz em off – e trilha
sonora, na minha casa, à noite, quando minha filha pequena dormia e meu
marido, solidário, fazia silêncio (...)9

9 Relato oral da professora realizado durante o curso.


240
Por fim, assistimos aos vídeos que as crianças protagonizaram com muita
desenvoltura, encarnando personagens como Chuck, o brinquedo assassino, legiões
de vampiros, o Homem do Saco e Maria Degolada, todos eles assombrando crianças
que, bravamente, os combatiam e, quase sempre, os venciam no final. Assistir a esses
vídeos e conversar com essa professora sobre o processo de criação e produção
deles tomou a maior parte da nossa última noite, pois todos ficaram muito cativados
pelo que viram e queriam saber mais sobre o contexto que deu origem àquela
produção. Finalizamos o encontro nos divertindo com outros tantos trechos de filmes
de Jacques Tati, Harold Lloyd, Buster Keaton e Charlie Chaplin.

3 Considerações finais

Todas as noites, a equipe do Programa de Alfabetização Audiovisual preparava


uma mesa na entrada da sala, com água, café, biscoitos, bolos, considerando que a
maioria dos alunos vinha direto do trabalho para o curso. E eu levava balas,
azedinhas, caramelos, jujubas, pirulitos, para compormos os encontros nos
remetendo a uma das minhas lembranças mais gostosas das sessões de cinema.
Foram noites muito felizes, em muitos sentidos, em que o conhecimento e a alegria
se fizeram presentes, pautando nossas conversas sobre o uso do cinema na escola.
Particularmente, fiquei intrigado com a pouca adesão à elaboração dos projetos, pois
apenas três pessoas enviaram propostas via e-mail. Quando pensei o formato do
curso, avaliei que três das quatro semanas seriam suficientes para cada participante
dedicar-se à elaboração do projeto, desenvolvendo-o a partir da troca de e-mails entre
um encontro e outro. Talvez precisássemos de mais tempo? Talvez a carga horária
de trabalho dos alunos e alunas inviabilizasse mais essa tarefa? Talvez a procura pelo
curso tivesse mais a ver com a perspectiva de vislumbrar algo mais a respeito da
possibilidade de trabalhar com cinema na escola do que elaborar objetiva e
concretamente um projeto de trabalho para formalizar, reivindicar, produzir, realizar e
avaliar o trabalho com cinema e seu impacto na comunidade das escolas em que
atuam? Fiquei sem resposta para essas e outras tantas perguntas. De qualquer
maneira, por tudo o que já vivi e conheço sobre os percalços de se trabalhar com
cinema na escola, considero que aprender a elaborar um projeto para apresentá-lo
formalmente à comunidade escolar, deixando claro os objetivos e as necessidades

241
para o seu desenvolvimento, é dar um passo além no sentido de sensibilizar a
comunidade sobre outras possibilidades de organizar o trabalho docente, de abordar
os conteúdos curriculares – mas também daqueles que, mesmo sendo dos interesses
dos alunos, não estão contemplados nos programas oficiais de currículo –, da
produção da relação professor-aluno-conhecimento, do planejamento detalhado
visando às providências para sua realização, da necessidade – mais do que da
importância – do trabalho em equipe, tão imprescindíveis à realização
cinematográfica. Que bom poder compartilhar um pouco sobre aquelas noites com
pessoas que amam o cinema e a escola, como nós. Essa reflexão é uma maneira de
estarmos juntos e fazer essa conversa seguir adiante.

Filmes assistidos durante as aulas e sites visitados

100 melhores filmes de todos os tempos - Adoro Cinema – Disponível em:


<http://www.adorocinema.com/slideshows/filmes/slideshow-114749/>. Acesso em: set-out-2015.
Site “O Globo” – Disponível em: <http://oglobo.globo.com/cultura/filmes/uma-lista-de-melhores-filmes-
de-todos-os-tempos-feita-por-gente-de-hollywood-13024290>. Acesso em: set-out-2015.
100 melhores filmes de terror – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=6gz5Ob2Cftk>.
Acesso em: set-out-2015.
Melhores filmes infantis – Disponível em: <http://on.ig.com.br/imagem/2014-11-18/os-30-melhores-
filmes-de-animacao-de-todos-os-tempos.html>. Acesso em: set-out 2015 – Disponível em:
<http://www.1mais1.com/post/os-50-melhores-filmes-infantis-89>. Acesso em: set-out 2015.
Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis – Disponível em:
<http://www.mostradecinemainfantil.com.br/>. Acesso em: set-out 2015.
Festival Anima Mundi – Disponível em:
<https://www.animamundi2015.com.br/hotsite/page/index.php>. Acesso em: set-out 2015.
Filmes que Voam – Disponível em: <http://www.filmesquevoam.com.br/>. Acesso em: set-out 2015.
Porta Curtas – Disponível em: <http://portacurtas.org.br/>. Acesso em: set-out 2015.
Vimeo – Disponível em: <https://vimeo.com/>. Acesso em: set-out 2015.

Filmes e séries comentados e/ou assistidos

O Pequeno Hiawatha – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=klD-hddAHBQ>.


O Patinho Feio – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=nzy84pfhcUE>.
Fantasia – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=LfZ6pJ5Kaqs>.
Os três porquinhos – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=sPzIrQx4FrE>.
Pippi Meias Altas (Versão em desenho animado) – Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=ziDp--yGjCI>.
Pippi Meias Altas (Versão seriada, dublado em português de Portugal) – Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=7iLkuUF2FoQ>.
João, o galo desregulado – Disponível em:
<http://www.filmesquevoam.com.br/?s=Jo%C3%A3o%2C+o+galo+desregulado>.
242
Carnaval dos Deuses (Brasil. Direção: Tata Amaral. 2010, 9 min) – Disponível em:
<http://censuralivre.blogfolha.uol.com.br/2013/02/18/criancas-papas-e-deuses/> e
<http://cineedu.com.br/filmes/carnaval-dos-deuses-2/>.
Cores e Botas (Brasil. Direção: Juliana Vicente. 2010, 16 min.) – Disponível em:
<http://portacurtas.org.br/filme/?name=cores_e_botas> e
<https://www.youtube.com/watch?v=Ll8EYEygU0o>. Acesso em: set-out 2015.
O filho do vizinho (Brasil. Direção: Alex Vidigal. 2010, 7 min.) – Disponível em:
<http://ofilhodovizinho.blogspot.com.br/>.
Série Empoderadas – MC Soffia – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=yEk2-lolkaA>.
Série Empoderadas – Disponível em: <http://www.revistaforum.com.br/semanal/empoderadas-e-vez-
das-mulheres-negras/>.
A invenção da infância – Disponível em:
<http://portacurtas.org.br/filme/?name=a_invencao_da_infancia>.
O balão vermelho – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_SaRIP44CQQ>.
O menino da calça branca– Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=QnldIxs5NYI>.
O rolo compressor e o violinista (legendas em espanhol) – Disponível em:
<https://vimeo.com/23398738>.
Cinderela – Méliès – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NFARE1Z9qZg>.
A noite no castelo – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=h11-DDDaDOg>.
A casa assombrada (Méliès) – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Zo2EKNRIQlE>.
Old cartoons – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=E6SS2_oV45A>.
Harold Lloyd - O homem mosca (cena do relógio) - Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=VFBYJNAapyk>.
Tarzan & Boy– Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=N3CSoz-vO0Q>.
Charlie Chaplin - Thelion'scage – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=79i84xYelZI>.
Charlie Chaplin - O garoto – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=-975mtgPzxQ>.
Buster Keaton Best of – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_J8XM1_rOTg>.
Jacques Tati - Jour de fête (bicicletas) – Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=y2-7ztrFBfg>.
Jacques Tati - Jour de fête(sino) – Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=06u0NQ9Vk_o>.

Vídeos produzidos pela professora Aida Batista e seus alunos de 5 e 6 anos –


disponíveis em:
<https://www.youtube.com/watch?v=TB-LziefXVk&feature=share>;
<https://www.youtube.com/watch?v=jdCE3qLIp4s&feature=share>;
<https://www.youtube.com/watch?v=ANPneRGfp_Q&feature=share>;
<https://www.youtube.com/watch?v=-g__XFBqY9U>. Acessos em: set./out. 2015.

Referências

BERGALA, Alain. A hipótese cinema: pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da
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Gabriel de Andrade Junqueira Filho


Atualmente é Professor Associado do Departamento de Estudos Especializados da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Possui graduação em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (1987), mestrado em Educação (Supervisão e Currículo) pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (1993) e doutorado em Educação (Psicologia da Educação) pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (2000). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em
Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. Atuando nos temas: currículo, planejamento
e avaliação, seleção e articulação de conteúdos, práticas pedagógicas, currículo e produção das
crianças e das infâncias a partir de múltiplas linguagens, interdisciplinaridade, pesquisa com crianças,
formação de professores.
E-mail: gabrieljunqueirafilho@gmail.com
Currículo: http://lattes.cnpq.br/5853686933942250

Recebido em 10 de novembro de 2015


Aceito em 13 de agosto de 2016

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