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João e Roberto foram condenados a dezesseis anos de prisão, em regime

fechado, pela morte de Flávio. Em razão disso, foram recolhidos a uma


penitenciária conhecida por suas instalações precárias. As celas estão
superlotadas: atualmente, o estabelecimento possui quatro vezes mais detentos
que a capacidade recomendada. As condições de vida são insalubres. A
alimentação, além de ter baixo valor nutricional, é servida em vasilhas sujas.
Recentemente, houve uma rebelião que, em razão da demora na intervenção
por parte do poder público, resultou na morte de João.

Na qualidade de advogado(a) consultado(a), responda aos itens a seguir:

A) O Estado pode ser responsabilizado objetivamente pela morte de João?


B) Roberto faz jus a uma indenização por danos morais em razão das
péssimas condições em que é mantido?

A) Sim. Cabe a responsabilização objetiva porque caracterizada a


inobservância do dever de proteção ou custódia pelo Estado e o nexo de
causalidade com a morte de João, em conformidade com o disposto no Art.
37, § 6º, da CRFB/88 OU com a tese de repercussão geral reconhecida pelo
STF.
B) Sim. A situação descrita (falta de condições mínimas de
habitação nos estabelecimentos penais) revela grave violação à
integridade física e moral de Roberto, do que resulta o dever de
indenização por danos, inclusive morais, conforme o Art. 5º, XLIX, da
CRFB/88 OU tese de repercussão geral reconhecida pelo STF OU Art. 186
do Código Civil.

Na estrutura administrativa do Estado do Maranhão, a autarquia Ômega é


responsável pelo desempenho das funções estatais na proteção e defesa dos
consumidores. Em operação de fiscalização realizada pela autarquia, constatou-
se que uma fornecedora de bebidas realizou “maquiagem” em seus produtos, ou
seja, alterou o tamanho e a forma das garrafas das bebidas que comercializava,
para que os consumidores não percebessem que passaria a haver 5% menos
bebida em cada garrafa. Após processo administrativo em que foi conferida
ampla defesa à empresa, a autarquia lhe aplicou multa, por violação ao dever de
informar os consumidores acerca da alteração de quantidade dos produtos.
Na semana seguinte, a infração praticada pela empresa foi noticiada pelos meios
de comunicação tradicionais, o que acarretou considerável diminuição nas suas
vendas, levando-a a ajuizar ação indenizatória em face da autarquia. A empresa
alega que a repercussão social dos fatos acabou gerando danos excessivos à
sua imagem.
Diante das circunstâncias narradas, responda aos itens a seguir.
A) A autarquia Ômega, no exercício de suas atividades de proteção e defesa dos
consumidores, possui o poder de aplicar multa à empresa de bebidas?
B) A autarquia deve reparar os danos sofridos pela redução de vendas dos
produtos da empresa fiscalizada?

A) A resposta deve ser positiva. A autarquia possui natureza jurídica de


direito público, de modo que, no exercício de seu poder de polícia, pode
exercer fiscalização e, caso encontre irregularidades, pode aplicar sanções
(Art. 78 do CTN e artigos 55 e 56, inciso I, do CDC).

B) A resposta deve ser negativa. A responsabilidade civil pressupõe uma


conduta do agente, um resultado danoso, e um nexo de causalidade entre
a conduta e o resultado. Ainda que, em casos excepcionais, seja possível
a responsabilização do Estado por condutas lícitas, a autarquia agiu, no
caso narrado, em estrito cumprimento de seu dever legal, rompendo o nexo
de causalidade que é pressuposto da responsabilidade civil. Além disso, a
notícia acerca da infração ganhou notoriedade em virtude de haver sido
publicada pelos meios de comunicação tradicionais, sem nenhum fato que
pudesse indicar uma atuação específica, deliberada e desproporcional da
autarquia em prejudicar a imagem da empresa. Por fim, deve-se ressaltar
que seria um contrassenso não divulgar a notícia acerca da infração, a qual
consistia exatamente no não cumprimento do dever de informar a alteração
irregular dos produtos aos consumidores.
O Estado X está realizando obras de duplicação de uma estrada. Para tanto, foi
necessária a interdição de uma das faixas da pista, deixando apenas uma faixa
livre para o trânsito de veículos. Apesar das placas sinalizando a interdição e dos
letreiros luminosos instalados, Fulano de Tal, dirigindo em velocidade superior à
permitida, distraiu-se em uma curva e colidiu com algumas máquinas instaladas
na faixa interditada, causando danos ao seu veículo.
A partir do caso proposto, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir.
A) Em nosso ordenamento, é admissível a responsabilidade civil do Estado por
ato lícito?
B) Considerando o caso acima descrito, está configurada a responsabilidade
objetiva do Estado X?

A) A resposta é positiva. A responsabilidade do Estado pela prática de ato


lícito assenta no princípio da isonomia, ou seja, na igualdade entre os
cidadãos na repartição de encargos impostos em razão do interesse
público. Assim, quando for necessário o sacrifício de um direito em prol do
interesse da coletividade, tal sacrifício não pode ser suportado por um
único sujeito, devendo ser repartido entre toda a coletividade.
B) A resposta é negativa. A configuração da responsabilidade objetiva
requer a presença de um ato (lícito ou ilícito), do dano e do nexo de
causalidade entre o ato e o dano. A culpa exclusiva da vítima é causa de
exclusão da responsabilidade objetiva, uma vez que rompe o nexo de
causalidade: o dano é ocasionado por conduta da própria vítima. No caso
proposto, Fulano de Tal conduzia seu veículo em velocidade superior à
permitida, distraiu-se em uma curva e deixou de observar as placas e o
letreiro luminoso que indicavam a interdição da pista.

Maria construiu, de forma clandestina, um imóvel residencial em local de risco e,


em razão disso, a vida de sua família e outros imóveis situados na região estão
ameaçados. A autoridade municipal competente, por meio do devido processo
administrativo, tomou as providências cabíveis para determinar e promover a
demolição de tal construção, nos exatos termos da legislação local. Diante dessa
situação hipotética, responda aos itens a seguir.
A) Pode o Município determinar unilateralmente a obrigação demolitória?
Caso Maria não cumpra a obrigação imposta, o Município está obrigado
a postular a demolição em Juízo?

A) Sim. O ato administrativo em questão decorre do exercício do poder de


polícia que goza do atributo da imperatividade ou coercibilidade, por meio
do qual a Administração pode impor unilateralmente obrigações válidas. B)
A resposta é negativa. O ato administrativo em questão goza do atributo da
autoexecutoriedade, que autoriza a Administração a executar diretamente
seus atos e a fazer cumprir suas determinações, sem recorrer ao Judiciário.

O Ministério X efetua a doação de um imóvel em área urbana extremamente


valorizada, para que determinada agência de turismo da Europa construa a sua
sede no Brasil. Meses depois, o Ministro revoga o ato de doação, ao fundamento
de que ela era nula por não se enquadrar nas hipóteses legais de doação de
bens públicos. A empresa pede a reconsideração da decisão, argumentando que
não existe qualquer ilegalidade no ato.
É juridicamente correta a revogação da doação fundamentada na ilegalidade
vislumbrada pelo Ministro?
Não é correta a revogação da doação com fundamento na sua ilegalidade, uma
vez que a revogação é fundamentada em motivos de conveniência e
oportunidade. Diante de vícios de legalidade, a Administração pode anular os
seus atos, conforme entendimento doutrinário tradicional, expressado
jurisprudencialmente na Súmula nº 473 do STF
O município de Balinhas, com o objetivo de melhorar a circulação urbana para a
Copa do Mundo a ser realizada no país, elabora novo plano viário para a cidade,
prevendo a construção de elevados e vias expressas. Para alcançar este
objetivo, em especial a construção do viaduto “Taça do Mundo”, interdita uma
rua ao tráfego de veículos, já que ela seria usada como canteiro para as obras.
Diante dessa situação, os moradores de um edifício localizado na rua interditada,
que também possuía saída para outro logradouro, ajuízam ação contra a
Prefeitura, argumentando que agora gastam mais 10 minutos diariamente para
entrar e sair do prédio, e postulando uma indenização pelos transtornos
causados. Também ajuíza ação contra o município o proprietário de uma oficina
mecânica localizada na rua interditada, sob o fundamento de que a clientela não
consegue mais chegar ao seu estabelecimento. O município contesta, afirmando
não ser devida indenização por atos lícitos da Administração.
Acerca da viabilidade jurídica dos referidos pleitos, responda aos itens a seguir,
empregando os argumentos
jurídicos apropriados.
A) Atos lícitos da Administração podem gerar o dever de indenizar?
B) É cabível indenização aos moradores do edifício?
C) É cabível indenização ao empresário?

A. A questão proposta versa a responsabilidade civil da Administração por


atos lícitos. A Constituição, ao prever a responsabilidade civil do Estado
pelos danos que os seus agentes houverem causado, não exige a ilicitude
da conduta, tampouco a culpa estatal. Não é, contudo, qualquer dano
causado pelo exercício regular das funções públicas que deve ser
indenizado: apenas os danos anormais e específicos, isto é, aqueles que
excedam o limite do razoável, ensejam reparação correspondente.
B. No caso dos moradores, não cabe indenização, pois os danos são
mínimos e dentro dos limites de razoabilidade, já que eles contam com
saída para outra rua, não interditada.
C. Já na situação do proprietário da oficina, o dano é anormal, específico e
extraordinário, uma vez que a atuação do município impede, na prática, o
exercício de atividade econômica pelo particular, retirando-lhe a fonte de
sustento.

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