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1 MULHER BEMDITI

deante

dos ataques protestantes


'íY ou
I
Respostas Irrefataveis
ás objecç.ões protestantes
contra o culto
da Sma.� Virgem :tia.ria

pelo

P. JULIO lJJARIA
)fissionario de N. Sra. do Smo. Sarramento

-1936-
Typ. do cO LUTADOR•

Manhumirim-Mlnas
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Ao illustre e zeloso
Bispo diocesano
Sua Exctn. Rvma.
D. José Maria Parreira Lara
dedico este trabalho
como expressão
de veneração e de amor filial.
OAU'l'OR.

lmprlmatur
Carati11ga, 20 Decembris 1935

t Josephus Maria

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Carta approbativa
deSua Excia. Rvma.
D. José Maria Parreira Lara
D. D, 8i$pO de Caratinga

Cara ting11, 10 de Janeiro de 1936


'1' u caro Padre Julio Maria.
J.i rom imrneni:;a satisfacção o seu novo livro:
•uiher Bemdlta, deante dos ataques pro-
1ata11tNr, e me edifiquei muito com estas belJaa
e fu4rurantes paginas que constiturm um verda­
deiro mo numento em honra da Sm11. Virgem Maria.
F11zi:i.·so sentir entre nós a falta de um livro
M lbeologin mal'iana, mns de uma theologia popu­
lu, ao aka nce de todos, sem entretanto perder a
profondna o a segurança da doutrina.
\'. IlAvma. produziu esta obra desejada.
Seu livro é admiravel, tanto pelo fundo como
.... forma:
O fundo é de uma doutrina solida, cla:oa, bem
ll'O'ftda e de uma argumentação irrelutavel.
A. f6rma é alerta, en thu aiasta, do uma expres.
( mmunicn.tiva e de um vigor irresistivel.
o� dois se combinam para formar uma obra
frimf'iro val or. E' a refutação compJeta, fulmi­
de tudo quanto os protestantes objectam con-
o culto de Maria Sma.
O• a ci�u mptos são tratados 1>0r mão de
e creio que no Brasil noda de comparavel
sido escripto sobre o culto e as prerogativas
... de Deus.
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V seu livro é daquelles quo nunca morrem,


porque se elevam acima das vulgaridades, dos loga­
res comrnun11, e haurem a sua vida e o seu succes­
so na Pleva -::ão da doutrina, na sublimidade de
suas id•�!1S e no modo vivo de apresentar as verda­
des
Oe todo coração lhe concedo o im}Jrimatur do
novo Jino, que vem enriquecer a col\ecção já gran­
de das obras de seu incansa.vcl apostolado, e pe­
'O a n"'n� que este bello livro penetre em todas
u familia!t, para om toda parte esclarecer e exten­
di!r o culto da :\Jãe de Jesus ...
Sou com toda a estima de V. Revma.
1l umilde Sen·o

t José Maria
BisPo de CaraLinga

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lntroducção
que é necessario ler

Defender a honra de uma mãe Q1'('rf1a (! de­


-ver e felicidade para um filho amorocm.
E' a razão de ser do presente livro. Na.o pre­
cisaria de outra apresentaçllo.
Dlariemente sAo atacados pelas bJai:;phemias,
OTa ignorantes, ora maldosas, das seitas protes­
tantes, a dignidade, a gloria, as prerogativas, o
poder da Virgem Sant!sslma.
Como póde um filho calar-se deantc dos ata­
ques contlnuos dirigidos é. sua MA.e?
Urge, pois, lhes dar uma resposta completa,
fulminante, sem replica.
Póde haver, sem duvida, entre estes protes­
tantes pessoas de boa fé, devido á l�norancia
religiosa em que vivem, seduzidas tambem, como
o são pela livre interpretação da Biblia; porém
d s t e
��i:t� : �:� r::! ���r::c 1: �h� �:ft��clJ�
u n u
·
1 n
Entre estes pastore.a ha muitos traficantes,
tristfssimos cavadores da vida, fazendo de seu
omcto, não um instrumento de fazer amar a Deus,
mas, sim, de odto, de calumnfa contra a Egreja.
Catholfca, vendendo as almas á troca do dinhei­
ro que lhes vae proporclonaado a sua vida de
calumniadores.
E' preciso desmascarar estes mercadores
almas do prox.lmo, e refutar os erros que vão
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espalhando, nn.o só na &Jma de seus adeptos, mas


no espirita dos catbolicos Incautos.
1. A. fonte dos erros protestantes

Escondida na relva rastejante da estrada, a


serpente venenosa do erro procura morder o
transeunte descuidado, seja elle t-juem fôr.
E' preciso assignalar a presença da serpen­
te, para precaver de seu contacto o viandante
e evitar-lhe a mordedura.
O odio destes intelizes scctarios, excitado pe-
r p ro
bªae:� �����n�!�se1�:e�������ti��rar �!':;;� :
Virgem Santissima, por sahcrcm que, no dizer dos
Santos, um tierdadeiro devoto de Ataria mio
pdde perder-se.
Satanás, que quer perder as almas, custe o
que custar, procura arrancar das mllos dos chris­
tãos esta. garantia de salvação e, para isso, sus­
cita bandos de exploradores que elle intitula e
faz chamarem-se pelo nome de pastore.li, mas
que na.o passam de lobos cltt•oradores, como diz
o Mestre divino.
Estes pastores querem antes de tudo ganhar
a "idn, e como não se póde ser bom protestan­
te, sem atacar a Egreja Cathollca, ell-os a repe­
tirem a duzia de objecções tolos, que apprende­
ram nos pasquins da seitn, sem querer compre­
hender a resposta cathoUca.
A' necessidade de ganhar vida succede o
a
fanatismo; ao fanatismo succede o matel'lalü�mo
grosseiro e ao materialismo succede o athelsmo­
completo.
Numa reunião gPral de pastorcf;, na Aliem�
nha, d.Jzem os jornaes que sobre 1000 pastores
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...-entes h&\'ia SOU que nem acreditavam mais


• divindade de Jesus Christo, nem na Inspiração
* Sagrada F.scriptura.
Em tac� c<1ndições comprehende-se o odio
4111t taes hOmC'ns votam A EgreJa Catllollca. ond"
...._ são unidos na fé, na moral e no culto.
&ta expl � de odio se concentra sobre a
m lmm11culf'da, sob o pretexto de que seu
..no é paga.o, é idolatria, abuso, excesso, etc.
Pobres cl-gos ! Infelizes calumniadores !

o. A ""'lt;-· o especial deste livro

E' pois de absoluta necessidade mostrar a


Jl4e dP Jesus, na auréola de sua grandeza, de
iaeu poder, de seu amor e de sua miserlcordia,
e mostrnl-a, nno somente por considerações pie­
dosas, enthusltu;tas, mas com provas authenticas,
Uradas directnmente da Sagrada Escrlptura.
E' a fetçn.o especial deste livro.
E' um livro de doutrina.
Um livro ei;angetico.
Um livro de ezegése, mostrando os funda­
mentos do culto de Maria Sma., os alicerces
evangeltcos da sua grandeza e a fragilidade das
objecções adversas.
Nenhuma these, nenhum principio, nenhuma
conctusllo, nenhum titulo será. admittido neste li­
vro que não tenha a sua base na Sagrada Escrt­
ptura.
Deve ser um livro revelador. . . indicador. . .
illumlnador... e tudo isto não póde ser feito
slnão pela pnlnvra de Deus contida na Sagrada
Escriptura e na tradição ininterrupta das doutri­
nas apo�toticas.
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m. O draUAo de sete cabeça•

A serpente, a mesma serpente do paraiso ter�


renal, procurando morder e perder as almas,
es:.ã reencarnada no odio protestante.
E' mistér, deante desta serpente, mostrar &
Jlul/ur bemdita, que já uma primeira vez lhe
etimagou b cabeça, ao pb da cruz, no alto do
Ctilvurio, e que continúa a esmagal-a por onde
rastejar a serpente.
A mulher bemdita esmagou a cabeça da
serpente, como Deus o predisse no paraisa: Esta
te esmagará a cabeça (Gen. III. 15J; porém, a
tal serpente tem innumeras outras cabeças; é um
dragao de sete cabeças, como viu o Vidente de
Patmos.
Eis o dragão... tendo sete cabeças (Apoc.
xu. 3).
:u E não somente tem sete cabeças, mas cada
uma dellas foi se proliferando, produzindo cen·
tenas db outras cabeças.
Quando Luthero lançou ao mundo o seu bra.­
do de revolta contra a Egreja, era apenas uma
cabeça, mas logo cresceram em redor do Luthe­
ranismo o Calvinismo, o Anglicanismo. o Pres.
byterianismo, o Methodismo, o baptisanlsmo, etc ...
até perfazer o numero de mais ou menos 900
seitas.
E' o mesmo dragão.. . mas de cabeça multi­
forme.s ó havendo de commum entre estas ca.
beças: o odlo á Egreja Catbolica, as blao­
pbemlas contra a Virgem Santa e as caiu•
mnlas contra os Sacerdotes.
Odlo, blasphemia e calumnla, é o triplice
alicerce do protestantismo em geral, e de cada.
ita em particular.
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IV. A mulher bemdJta

Em outros volumes já respondi ao odio se­


elarlo contra a Egreja. (1> conlrfl 06 SnoordGtoa
) contra a doutrina CathoUca (3); no presente
lll&udo quero responder As blaspbemiíl� ntirnclas
A purlsslma VJrgem, A Mulher bemdita entre
tDdas as mulheres.
Nada invento.rei ... recolherot os ataques nas
revh1tas e livros protestantes, dando scJ.1µ,., ...
preferencla a trabalhos assignados por suwu:dJa­
..,. da seita.
Não se admire o leitor ao ver-me insistir, de
modo particular, sobre o grande privilegio dJ.
lmmaculada Conceiçii.o d e Maria, pois é elle a
preparaçao á incomparavel dignidade de hl.le de
Deus e o resumo de todas as suas prerogativas.
Admittido este primeiro privilegio, dt'\'• w ·e
admittir todos os outros, pois estes brotam da­
quelle, como o fructo brota da flõr.
A maternidade divina de Morla. Sma. é o
principio de toda a sua grandeza.
A lmmaculada Concelçii.o é a prPrt"l- ..
'60 n esta grandeza.
A Assumpçii.o ao Céu é o seu coro"_nr o
iDdfspensa.vel.

V. Para quem e1te livro T

Para quem?
Parti. todos.
Leiam este livro aquelles que querem co­
üe(':er lH:m a Mãe de Jesus e amai-a muito.

�[/;���·,:,.��� �e�i!��"{ªir:C��t!�e�56c�blecçlJes
prole11tantes. vol. de 324 pag •
.At<l ,u.:.s prol.t.�lantes etc, vol de 33-1 pag.
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E!ltas paginas abrir.Jbes·Ao horizontes novos


na devoção mariana, e lhes mostrarão uma Ma-.
� 1
rta,cf�: � 1:: 1�:��:::c;,�::Cstantes ... estes, sim,
n s
é que deviam lel-o; e lendo-o, estou certo que
reconheceriam o erro em que laboram . . . mas
elles têm medo da luz, não o lerão, sinllo por
rarlsslmas excepções...
Os pastores não o deixarão ler!...
Pobres e infelizes protestantes!... oremos
por elles . . . silo tAo infelizes!
Leiam-no, sobretudo, esta legião de Filhos e
Filhas de Maria, fiôr e esperança da Mocidade
Catholica, que hoje constitue a vanguarda da re­
generação de um Brasil futuro, e esta leitura
serA para eltes um pharol e um estandarte.
Leiam-no Catholicos e protestantes sinceros,
e verão lllumtnarem-se todos os recantos e escon­
derijos do errtl e da ignorancla, para mostrar-lhes
a be1la e lncomparavel pbysionomla da Mãe de
Jesus e Mãe dos homens.

P. Jullo Maria

Nr scrlbam mnum,
Dut, pta Yírgo, manum.

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Livros do R. P. Julio Maria


°:o(.º�:\�r: �:!:e�: ��rl�1 r'i: 1��:� ��11:;ta�'!:!�
3��°"c!: ªu�m3efi�� �p���:tA� 1:'ler�!a':sC:�:
Já estão na 2a. ou na 38.. ed ição.
L Coa.tem.pla9�0• evan"ell�••· - Be\lo vol de
a
...J:ig!�ª�!n�::�� :,'!). 2cta��31;Jgn:i� l;al�ll� a�f:�
th-.�manl) . . . . . . . . . . . 10$000
. . . . •

Db: o Exmo. O. Carloto Tavora, approva.çao: •Do1


11p,,, Que 11ercorri em min.ha vida, n4o encontrei outro
011.

J or, que penetraue Ulo proftmdamcnbt o com tanta


JWT•1· acia no amogo da paiz4o de Jesiu ChrUlo, tJ que

..a· •1<t't' com lfmlo �11.i.o p.•!JChOlOf]lto


as tnulenclas e
lra'i· za-t hummwa. J'. Rmnn ., com m a .•rnurança ezegé­ u
lim rlmfrflLV'l,soubfdeiicObrlr almv'Jt dlt1 ldr<U do Evan-
'J • horlzonks 11011os e ilu:.rplorlldos na vlda e rw pai·
zd do Salvador•.

d 1;.i�����!!�P�n��t?e�:ad:_v����cfi�·A n:��1�'!!U:!
����rh�ib�����l
prêlo.
ª�rêº ��rod��)�ªlªu;��- �:ev��1:!�e
• . 10SOOO
a. A Contemplação SobrenaturaL -Doutrina
de a
�liJa�d 0 at4�C8��;:l�q��� ��c:i�:r: ::m�tt':� n��
la da doutrina do! grandes mctitl'Có. Como hegaremos
m c
:k"D

a
:����4o°ta ��� r�:�t�t e�n:o�0s8Ja��r:����� º:i:�ficlS��
• (Vozes de Petropolls)
a�ilr��o�eleíiod:Oi. 'J: roo i;:::.tl��0'. �e�n�ad�
d m
.:a��.e
....
�ci;:�t�c:i:r:. ��v��ii" Fu� 1t3� :0u��r:c� �s�
o r s
Jn�:lo��t� p�f� �s c:r !��ºcs;?i.�t:e:Um��1J80 º!
e

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--14-

que ho. ndlas de verdadeito, de falso, de fraudulento e de


natural
É uma palavra esclarecida, convincente e orientadora, co­
mo ha. muho todos o esperavam. 1.; a ultima palavra sobre
• csplrlUsmo (Vozes de PetropoHsJ

ol:Úia6po�:Ja� �aB�ii�,:i�'i1;''3/:J;:/'u�c!�llfí1�6.5000 r:Z:.


6 travada com aclntillancl.a e superior pon-
• . • • . . . • . • . • . . • . • • . • •

toC:-:SvPs°t!t.e.mlca
Podcr de synthese, oonvlcçõee profundas, eis o que ee
de u
8:1":s::! ��01:,a�e:� ci:1p��[:,r :SJ:::ig��Om uma
poderosa e Invulgar dlalcelica., envolvem na aua delicada
cstructura questões du uma tal relevancla que parti. tratal­
os convenientemente se faz mlstllr uma grande penl'traçlo
de senso psycbolog:lco e um cabedal de conhe.:lmentos que
culoúnum, sobre as convenções bypocrltas, os sophlsma.s e
paradoxos com que se busca inverter aqulllo que tem os
seus alicerces em razões de ordem moral, mas não de uma
moral ngnostlca. Independente, oriunda do arbllrio de quem
quer que seja. (Do Men.JtJgdro da Fé)

m:te�n�t�t:!ª�i�':v3��pcf �:���l�=f:!J� ;�
'
Eis um livro phantastlco, revefador. Não são simplesmen­
.

te lampejos, maa um pharol de luz orienta.dora. E tudo e&­


('ripto em cstylo facll, comprebensivel para o povo, com
amenldnde e vivacidade.
NA.o é uma these unlca; é uma série de theses de palpl­
la.Bte actuaUdade e toma.das no fiagra.nte da vld&.
E' o clarão da vida, no meio dos multlplos erros que o
Anjo das trevas vae semeando. (Vozes de Pctropolls)
7. Ataques prote11tantea áa verdades Cai.h.ol.ita.t.
B� ou�ºW�� :!i:1arcii lnas. Capa iUustrada • • . 5SOOO
E' dlmc11 reunir estes dois elementos: a profundidade de
do s e i
��ri:s�e���! �0<t;_ ;�; r,:ria.
v g
�:iiU: fu����1:i:.f �, s���r!� i:U8����?8o ªs:�ª t�
quasl voltalreano, penetram no �ondo do erro, abatem o iiú­
mlgo e o deixam envergonhatJo da sua obra e da sua pes­
soa.
E" um livro pbeoomenal 1 (Q JttssionarW)
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a. Loz nas tre'Va!I ou Re871osta1 trrefulareis d.lf (J/J-


�:r'8r����tl� l�le��!· :�P�i!f,ª�-o�:j�t���C..t���
n�t'8 ��edoal'M'tl!;
:. c��
protestantes, conlidns num rq;to ele
O� �
. �C:· Maria, com a sua penna terrível a sua po­
e
llm.lca 8<'m replica, refutou, uma por uma, todaa estas ffiO.­
ilcl'ada8 objl'cçõee, pulverizando-as é. luz da Bl!J l la e do
ltom senso.
(Lt9a Calhol!ca)
•· Deus e o homem. de alta t11colo9ia per
Noçõc&

��tg�ªvci1C:�� �í4° °Jn'::_ t::ar�i��f�di:itrcG�


h
ve
da�:S�C:Ja � �
c ti� �
�f3! u� :: �u� fr�c:On�����f�
de palpltaote actualldade p&ra quem quer penetrar os gran­
des mysterios de. religi!lo,
o e11ylo é claro e persuasivo, as verdades de summa 1m­
portancla parti reli lli o mostram·�e alpavels. orf!m, ao
u
tu �o explenal co em pa­
=c:n1:i�d!sase�efr�llf/ee}��· (Ave Maria)
to. O Chrlsto, o Papa e u E1treJa ou sPgredos
'"'ie��1�0ct:rati�o.�!�1�f�r ���re�· �:ra�J�i::�· :
�Jcit:�1:� i�=b�ªJ:
m
��Ci�� �����;�)�!;�
d
�eEg�tJ�1�!:
� '!:J:!�:;,� ;:r::�l�in�':o0s, :f::�io J�::o:. ��
é ce vl'mos o j Jullo Maria. ás voltas com as mil e �roa
q formulam contra a riqueza.
IKX'Usaçõee que ue protestantes
do Papa, o tranco religioso,
as dlabollces contra certos
PonUDcee.
mq
� é �8;��::tC�d:�:!ii: ::iJ>JÍ��en:� �'dJ���-
{Vozcs de Petropolis)
U. A mulher bemdlta gu relutaç4o a Iodai ob- cu
o
1:1:11d�ºS,:;:��l::::: c� ��nf:'il:r:o}0�l� .9 ;•�
B:itll.o ainda no prélo, ou et.0. relmpressao:
12. O mi>u dta com Maria
JS. Porque amo a Maria
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u. PrlndplOI tMologicru da vida de Intimidade com


.......
15.. Jlarla e a 8iu:llarl1ffa.
16. O &gredo da verdadeira devoçao para c om a SIDL.
Virgem.
n. E' prrcüo que Ello Tririe (Maria/.
18. Pratica da vWa tü ínlim1dade com Ma.ria Sma.
19. O Perigo do1 Collegi<n prole ta.l1 "·
a'.J. A balburdia protestante.
21 O flm do mundo eslá proxbno t
22 0$ enrinamenlos de Nazareth.

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C A P I TUl:.O 1

O cnl\o de Maria San\issima

E' Rabido que o protestantismo concentrou o


teu odio sobre a \'irgeru Sanliesima, Mãe de Deus.
Porque este odio 1
p
Para ode rem os seus adeptos protestar c01�
tra a Egn·ja Catholica.
E' a gr··mdo, o tah·ez a unica razão.
A EgrPja Cath o ica, na unidade perfeita e na
l
finneza �rauitica de sou e si o , attribue a cada
n n
pessoa o cuho que lhe compete.
Ador.:i. nnica o exclusivamente a Deus, por­
re
quP só Eli•1 ó Senhor Sup mo , só Elle é Deus, e
mi:-lll� Ello tem direito no culto supremo da
adoro1t.:ão.
Dominas Deus noster, Domilms unus est.
eut. YI.
4).
Venera a \'irgem Maria, por ser Mãe 11.1
t us Christo e, como tal, revestida de uma dign'­
.:ie acima do todas as dignidades, tondo direi:o
um culto ncimn do culto tributado nos Santo:-;.
-Super modum, Alaler tnirabilis (2 'Mad1.
' 20
Honra os Santo�, por serom am g e!,,
i os
e por goza!'<'m, 1·omo tn.cs, perto d') D,•'.:..;,
m po Uer do intercessão ac m Uns cria.tu·. .-,
i n
mundo.
lirabiliB Deus in anc i s suis (Psl. 67, 36).
s t
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- 1 8-

Tem08, deste moda. um triplice culto, essen­


dalmente di.etincto um. do outro, numa gradação
harmoniosa e logiea.
1. O culto de adoração {latria) deT"ido a
DeuL
2. O culto de super veneração (hypor­
dulia) de1'ido á Maria Sma.
S. O culto de veneração (dulia) devido aos
8antoL
Tal ê a base do culto catholioo, o bas a com­ t
prebender -estas noções, para oomprehcnder a in­
justiça e o ridículo das objecçõee protestanles. ac­
cusando os catholicos de Marlolatras, de adora­
rem a Mãe de Jesus.
Vamos examinar taes objeoçõea neste primei­
ro capitulo, dandc:rlhes a resposta que merecem.

L A Marlolatrla
Não quero inventar nenhuma objecç!i.o; os
amigos protestantes se encarregam da fabricação
e da propaganda.
Vou tirar litternlmente de seus escriptos a&
taes objeoções, para elles não me pod�rem accusar
de exaggero ou de má interpretação.
Eis a accusaçllo de Mariolatria, tal qual a trans-
crev s
ri!;
rni���e iJ,� faí�� !����ção de Alaria Sma.
Diz o articulista :
•Indiscutivelmente, e não ba quem ouse ne-­
gar, no catholicismo Maria occupa o logar de des­
taque, ê o dac totum• da cõrte cc.e&W. Todas as
invocações, todas ae adorações alo dirigidas, ape-­
nas e unicamente a ella. Representa no oatbolici&­
mo tudo, a suhstancia. e a essencia. A )faria são
feitos os sermões e Oíft>rta de>f' pN>c:enf<'i:, os fieis--

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-19-

f.ão oom·idarlo� n eonfiar quasi quo M:clusiVB.meri­


t.e llt'll.'t o uo S<'u poder ab-.oluto.
E�.i.a ntlo�çào ll"ld:t, f>f�"ª il.lotat r ia, criou o que
se Chama do M:triolatrin, que não p asBa de uma
cri:1ção hHtlia. muito tempo dPJX>ie de lançadas as
baiel!. do c.-itbolicifuno.
Maria �orn"çou ll snhir do silencio em que a
tinh:uu l"llrnh'ido Ot' ""'criptoroi,i do NO\'O Testa­
men t o, no weiudo <.to IV e1•culo. Fui ohra do uma
�ita, corupost.u 11na si que flÓ d e 111111l11·rcs, appa­
re••ida na Thraci». e na Scisia s uperior, que come-­
çou a d ivu lgar nos quntro \'Cnto:i n dh•indndo de
Maria, u tornol-n digna de atl\'>ro.çÕ\!13 o cultos.
EstC'S HtCturio� foram ch11mndOA do cUolliridi­
ano�·. por ofrPr'-<'�"r"m á Mlie de Jl•sus algumas
to<:ha s d1llmnc.las tom JJrl"s:!O Kohlníga.
Kos pr i meiros Sf"CUlos nô11 não eticoo tram os
culto algum n )larin. Todns p.J,o unieonus e de ac­
cOJ-do t>m pt�g.ar dig110 dti cnllo eomente Deus e
o st>u u11ii:t:11110 !i l ho Jesus Chdsto.
Xem Jn�tino Mart yr, nem Jrineu, ne Dl Tertlr
liano, nem Cy priano, nem Laltnnrio, pódem ser
in\-'ocadol! como sus tentn do res e propugnadores do
culto da grande cmãe de Deus>, porqu o elles, como
São Pedro, Sã o Paulo e São João, não alindem a
outra mediação sinào á de Deu1 e Jesus Christo.
Voh•am os a o p :issado, isto ê, aos p rimeiros
seculos e os pncorramos com attenção.
Seculo 1. Clemente Romano, o suppost:>
succ�ssor de Sdo Pedro, escreve nas suas Consti­
tuições Apcstolieas: 'lNilo ê permi ttid o aviEinhnr­
se u. Deus omnipotente, quo por Jesus Christo l:Jeu
filho>. (Const. Apost. liv. 2 o 33)
Seculo II. Jgnacio, discipulo do apostolo
João, escreYe de Roma nos Philndolphios:
'lNAs \'Of!e.M ornções deveis ter prrante os olho&
apenas Jesu s Christo e o pna da Jesus Christ-0>.

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- 20-

Seculo m. Origenes disso claramente: •Não


t.enhumos a desfaçatez de invocar algum outro, a
não �er aquelle que ú Dcuíi sobre todos as cou-
888, bafllando a tudo por meio da }fo5:10 Senhor
Jei;us ChriKto.
Seclllo IV. Athanasio prégava e escrevia :
cNós verdadeiramente somos adoradores de Deus,
porquo nilo invocamos nem criaturas nem homens:
invocamos o filho, quq� por nal:icimento procede
de Deus, e que é o verdadeiro Deus, que na­
sceu homem, é Yerduck, porém que niio obstan.
te é Deus e Salvador.•
Seculo V. João Capistl'ano se oppõe áquel­
les que qucri:lrn introduiir outros mediadores
além de (;hri.sto.
i\cstcs cinco primeiros scculos nlo se con­
cebia outra ndoraçúo, outra ven»rnçüo quo não
fosse Deui;; (� .Jesus Ch1·isto. Como, pois, p0de o
catholicisrno passar umu esponja no quadro ne­
gro do pni;sado. e fazer valer sob todos os pon­
tos de vhsta a opioiii.o da seita de Colliridianos '?
Como, pois '!
Dcixantlo mesmo cm segundo 1>lano Jesus
Cbristo '! Mas porque ? Acaso admittem a illl ma­
culada conceição de Maria ? •

n. O lac·totuin da côrte celeste

· Tal 6 a objecção em toda a sua brutalidade,


ignorancia o nudez.
Em svnthcso, accusnm a E""rl'ja Catholica de
lazer de ta ria Sma.:

1. U Yac·totum da côrto celci;;te
2. lTm olJjecto de adoração
3. O objecto rle um no,·o culto
4. lima novidade desconhecida no Evange•
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-21-

lho e nos pri m eiros tempos do ChriMi1u1i!'-mO.


To memoe , uma por uma, todas ns objet"ÇÕef
• c
lh"s demos uma NSJ.>OSla l ara e suoointa, qut
G!sRipo lodos os erros e faça refulgir a unica ''er­
dade Catholica.
:\faria Sami��ima não é, n em pód� ser o e fa<:>
totum >. uma heresia, que .!!. i;ignifica,;llo dos
Ê
proprios term os refuta.

O fac lotum é Dous; e por isso só a Elle é


det>ida toda a honra e gloria nos seculos dos
sec-ulos, cümo diz o Apostolo (1 '1'101 I. 17 ).
O termo-ndoraç.Ao-exprime o culto de&­
ta honrR supr!'ma; e t•i:te termo é exclusiumente
resnvedo ao culto d� 0('•8.
O termo - super-,·enernçAo - exprimo
rnllo que pre&trun06 á Mãe rle l>\)ue; a n!l.dtl
o
çõ.
tf'm do commum c·_1m a ndora o, do tnodo quA,
neste cuho, o exe<?i:�o (i imr,osst\'PI; pnr!t que hou..
TC��e exces1:10, necessn1'io R-Orto. que. ultrnptulr:!l..nel.Cl
o culto 1!0 super�veneraçllo� alguem desli�nsse na
e u
adoraçao, o que n n h m catholioo f:iz nC!m póde
!azer.
Qual 6 pois, Pxactamente, o togar de Maria
e
:lma. na h iornrch i n diYinn da r li g iil o Y
s s
� i mple , e é bello. :E: São Paulo quem nos vae
lornPcer n dt>F:<"ipção, em 1;ua liuKua.cem figurada
• thf"oloj!iCtil. Elle "llcre•e :
Assim como num s6 corpo temos muitos
mrnibros, e m•m todos os membros lee m a mes.
aa funcção, assim, ainda que muitos, somos

::: �� do� �':: ��r�s�� � �f �-�


s
s º
tr "- )de n6s me m-

Ora, vós sois corpo de Christo, e 1u.embros


tuaidos a membro ( 1 Cor. XII. 27 ).
E tlle é a eabeça do corpo da egrpja, e é Oi
,nncipio, o primogenito dentre os mortos; d4
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-22 -

maneira f/UC elle lem prima..'1-a em Iodas as cou­


sas, porque foi do agrado do l'«e, qut residis­
se nelle toda a plenitude. e que por elle fossem
reconciliadas comsigo todas as cousas. (Col os. I.
1s, rn J.
Eis um� fiJ{ura e �pl "nd ictn rla F.grtdt1.
A Egrcja é o corpo 1nyMilco Je Jesus
Chri�to.
Um corpo possuo lll"OO�snri11nwnto três patt66:
A cabeça, o poscoço, os nwmbros in!nriores.
f; u ma figura m uitas \'l'ZOS cmpt(•gllda pelo
Apostolo.
A cabeçn é o Chrii:.to.
O:J men1bros �on1os nó11.
E como si\•1 l ign dod d tahcça os membros
deet.e corpo 'l
�lo pescoço.
O poscoço ó po:M a p 11•t mediana, que 6 um
o
mPmbro do corpo, rn:1q corn PSlfl pal'licularidade,
que 6 membro que 1.ocn, uo mesmo t11mi)o1 a caboça
e os membros.
F, rutre 08 4ih·cr�os ttwmbro11 dosto c orpo qual
ê a criatura qutt loca ao mtc1smo tl!mpo Deus jj as
criaturas?
É a Virgom Maria.
Pela sua natureza, filia é umtt. simple� cria•
tura; pola sufl diguidadt", f'l1:1 � Múe de Deus.
E que união rutlis intima µód� Pxistir entre
duas criaturas do qtto ft unitio riu Mãe o filho 1
Eis porq uo Maria Smn. é chnmnda polo.!> San­
tos: o petteoço do corpo myi;tioo d1J Jofl.Uiil Chris­
to.
Esta figura ('Xprimo admirRv1•lmPnto o logar
que Maria Sma. occupa na e no culto ca­
Egreja
tholico.
El!a não ú a cabeçu; elln ó ruf'mbro.
Ella não 6 um simplus membro, mas en.lra
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-23-

todos os mtmbros aosa do privilegio unieo e im-­


oommuaiaaYe� de ser directamente unida A oa,..
beça, cmquanto todos os outros membros o aio ·
P or lnterm.edlo do peecoço.
Eis oomo cáe por terTa a primelra objecçlo
protestante, accusando a Egreja de ta.zer de Ma ..
ria Sma. o fac totum da religião,
O fac totum. e a cabeça 6 Jesua Chriato.
O lntermediarlo, o membro de liração en­
tra Jesut1 Christo e oa homens, ê Maria 8ma.
Ora, quem é capaz de confundir o pescoço coQt
a cabeça V
Quom nilo vê que de nenhum modo e nuuca
e peSCOQO póde substituir a cabeça, ou ser collo­
cado em cima da cabeça'?
A comparação de São Paulo 6 pois typica,
profunda, oxproesiva, e indica pa.ra parta da
OAda
corpo myslioo do Salvador o seu Jogar proprio.
Josu11 Cbristo.
Maria 8ma.
Os homens.

m. Um objeeto de adoração
Pa.saemoa depressa sobre tão bolorenta obj�
çllo.
� triste ser obrig"ado a responder a taes toliceJ.
No eeculo vigesimo vir a.inda á baila a lü.
latria!
E' dizer que por este mundo afóra a 1rrandema·
ioria da populaoão, estes milhares e milhares de
homene educados e instruldos ador&m imagen�
oomo vuJiiares fetichistas, attribuindo vida a um
pedaQO de paa, implorando favores de um t.õco de
madeire, pedindo saude e vida de um blóco de
<t.immt.o... proetrando a fronte no pó do caminho de-­
ante do lllD. papeUão. Nlio vA o protestante que-

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-24-

tudo isso 6 summamente ridiculo, e que si ta1 cousa


podia eer praticada antigamente por um zulú sel­
ffgem, nio póde nunca penetrar na mente de um
homem civifüado,

Si :perguntassemos a qualquer crianQa, si tal


o u tal santinbo é um Santo vivo, que come, bebe
a dorme, a criança responderia que não, mas que
6 apenas um retrato, uma representação.
Qup.l p homem, até analpha..belo, que ignora
que não é a imagem ou o retrato qt,1e elle veneraº"
iµvoca, mas sim a pessoa representada pela
imagem Y
Ninguem adora imagens ; mas sendo a ima�

�d�r:r j!�:ªd:rY!�. �!Pr�==��d�h����· i����-!�


Ninguem adora a Virgem Sma., que não ê
t>eua nem peuaa, mas uma simples crintura, ele.
.,-ada, por graça e favor de Deus, á mais alta di­
gnidade de que póde aer revestida uma criatura:
a maternidade divina ... e como ilf,l merece ser
honrada, venerada :-como M<le de Deus- e não
adorada como Deua.
Tudo isso é tão claro, que só uma cegueira
obcecada é capaz de reproduzir taes accusações.

Adorar nlo é beijar ou inclina Mie . . • Oa paes


beijam oa filhos; os inf�riores inclinam-se deante
de seus superiores. sem adoral·oa.
• A adoração não consiste só no acto exterior,
mas sim no espírito que pretende tributar honras
divinas a qualquer pessoa.

Não querendo alguem adorar, não adora.


E nenhum catholi'co já teve a idêa de •"-orar
outra peasoa a não ser !Mtus.
E eUes mesmos devem aaber melhor o lilwt
pre�ndem fazer do que oa s11U1 deiractorea.

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-25-

IV. Uin novo culto


O bom protcatanto nos accusa de termoB cri­
ado um novo culto, que elle chama Mariola.tria.
Não criamos uada. Só Deas póde crear pes­
IOSS e cousas; e os amigos protostuntos podem cri­
ar objeeções.
Luthero criou a Bibliolatria e a O diollltria,. co­
mo criou a liberlinolairia,--edorando a Biblia e
•esprezando o seu conteúdo; adorando o odio, pa­
ra melhor vilipendiar a Egreja; adorando la oame
pela vida dissoluta e sacrilega.
Diz o articulista que o culto de Maria come­
�ll a sabir do silencio em que a tinham envolvi­
do os escriptores do Novo Testamento, no meado­
do seculo IV.
� muita ignorancia do Evangelho, meu caro
amigo! ... E' preciso muita ingenuidade para aven­
&ar uma tal asserção.
O culto de Ma ria Sma. está todo indicado, de··
lineado e desenvolvido no proprio Evangelho.
Leiam o Evangelho. caros protestantes... mat
leiam-no Inteiro, e não simplesmente as passa·
aens, escolhidas por vós ... que mais ou. menos pa..
reçam favorecer as vossas opiniões erradas pel:ll
livre interpretação dot textos.
O culto de Maria Sma. é essencialmente u m
eulto e'·angelleo, todo evangelico ... e ape---.
ur de todas as homenagens que prestamos á MAe
de Jeaus, nunca chegaremos a egualar nem de lon­
ae ás bomenajitens que lhe presta o Enngelbo.
Fóra do Evangelho, o culto da Mãe de Jesus.
Mria um culto in«>mpleto, atrophiado, rachitico...
No Evangelho elle toma uma expansão divina,
e ae eleva ll alturas que ca.usam vertig-em áquelles
oue tte.bem rtfiectir.

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-26-

Dizer que o cuHo de Maria é uma no\•ida de


é afJ muar a no,·idade do Evangelho, a no\•i­
tlada das catacumbas c\os primeiros seculos,
oude se encontra a cada paijl40 a expressão da Y&­
noraçfl o e do nmor com que os primeiros fiais cer­
cavam a Vire-em Iinma<.'Ulad"... seria extinguir com
um �6 golpo os accentos am orosos dos Padres dos
primeiros seculos, que oxall.aram a Virgem Santa
t.'Om um entllusiasmo jamail'I égual:ido nos !!ecuJos
p0steriores.

Nilo, não! taes documentos não sa destróem;


taes accentos não se abafam ; taes brados não se
extingaem; e emquanto o Evangelho fõ1· Evange­
lho, poderemos e deveremos c.l..izer que o culto
da Mãe de Deus é um culto lntitituldo per
Deus, transmitttdo pelo Evangelho e praticado
por todos os seculos.
Dirão talvez que Jesus Cbristo exaltou pou­
co a sua Mãe.
Mas para qae exaltar com palavras aquella
que está exaltada acima de todns as criaturas, pela
d i
f!:!�ª�:·rS:�f
mulheres.
a �t!z�t:;.i�e!d�ti;;r;:l��! ;�����

Para que repetir continuadamente uma ver­


dade pulpavel, indiscutivel, acceita por todos, nos
primeiros seculos?
.Maria émãe ele Jesus.
Jesus é Deus.
Maria 6 pois Mãe de Deus.
Que é que se póde dizei· mais?
Um tal titulo não esgota tedos os demais U-
tulos?
Haverá ainda honras wperloree a estas?
E' bnposfrtvel !
Maria 6 Mãe de Deus; como tal, ella é necee-

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-27-

1ariamcnto a mais santa e mais gloriosa de todas


a.a cr1aturat1.
Jesus Chrlit& laloo pouc o de sua M.!e?
Perleitamente. . . e tt:ulm tlevia. ser.
Jesull velo, como elle mei1raJ atlirmou, nilo
p.lra os justos, mas pa.ra oa p!!coadores. No11.
r ··ni vocure jusl-Os. sed peccatorcs (Luo. V. 32}.
Elle veio re�Hitui1· a fitl.Ude aoi; cnrer.11os e
nlo aos quo não p recisam do me dico-Non egent,
qui sani sunl, medico. (Luc. V. 31).
Pura quem devem pol3 i rr14dlar as tcrnura3
de seu ooraç:Qo '!
Núo é paru os infelizes, para os pccoadoras "?
lJe Pedro J:::Ue fará o chefe de sua Egroja.
Uo M1uh�us. o publicani>, fará o seu E ran..
&elhtn.
De Saulo, o perse�uldor, fará o Aposto!<>
Ms nações.
l>e Mugdalena, & peccadora, fará um:i
amante cxt11tica.
De um ladrão crucificado fará a primeira
eonqulsta t.lo sua morte.
Ou pobres pesca.do1·cs ellc rará se us ape•
at�los.
Já. pensaram nliso os caros protestantei ?
PocJerm o Gortt.ção de Jesulj, terno, am oro­
eo e zeloso de. honra de sua Mãe 11.1:1�ociar a
Virgem Jmmacultt.da u todos eijtes peccadore3
0Qnvertido1:1 '?
Podiu EJlc collocar sob:-e a cabe ça de sua
Mãe a m esma coroo de louvores '!
Nilo ! . . . lno eeri� reb6lixa.r a Virgom Santa,
em ''CZ de exaltal-a.
A Ped.ro Elle ch:.ee : Tu és benuwenturado
(Math. XVI. 17).
AMaU1eUJ1 dl88e : Segue.me (Matb. IX 9).
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A Paulo disse: Eu so11 Jesus, a quem. tu per.


segues (Act. IX. 5).
A Magdalena disse : Teus peccados estão per­
doados (Luc. VII. 48).
Ao ladrão disse : lloje estards commigo no
paraizo (Luc. XXUI. 43).
A.os apostolos disse: V6s sois meus amigos
(Joan. XV. 15).
Mas A Maria Elle disse : Ta és minha
Mlle (�lath. li. 11).
· 11tc
Que poderia Elle dlzcr mais ? . . .
Jesus Christo •: ....g111ou nesta unica pala­
vra.

V. A obscuridade de Maria
Diz o amigo protestante que os Escriptores
Sagrados envolveram Maria Santiseim& num si­
lencio completo.
Que extranha asserÇiiO !
Que calumnia !
QuantH ignorancia do Evangelho!
Si Jesus Christo falou pouco de sua mãe
Santissima, os anjos falaram, os Evangelistas ra­
laram, o povo falou, o céu e a terra falaram . . .
Até Luthero faloa . . .
Será preciso recolher tudo o que disseram?
Seria escrever um livro. Resumamos, pois.
Disse acimn que o culto de Maria é essenci-
almente um cuUo evangelico, e provando isso, tu·
do está provado. :
Que culto mais evangelico do que aquelle
que começa no Evangelho com esta homenagem
vinda do céu: Ave, gratia 7,lena. .Ave Maria, eludo,
cU graça; o Senhor é comt·osco ; bemdüa sois vós
enlre as mulheres !

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Que culto mais evangellco do que aquel­


leique nos mostra Maria cooperando, pelo livre
consentimento de sua fé, de sua virgindade, de
sua bl1Dtildade, ao mysterio inicittl do christianis­
m.o, coberta pela sombra do Altissiwo, revestida
do Espirita Santo, e concebendo em seu seio vir­
ginal o proprlo Filho de Deus !
Que culto mais evangellco do que aquel­
le quo nos representa .Maria, Mil.e de Deus, res­
pirando com elle o mesmo sopro, vivendo com
ellc do mesmo sangu�. levando-o cm suas en­
tranhas, communicand1.1-o, pela sua. voz, a João
Baptista e a lzabel !
Que culto mais c-::an.gellco do que aquel­
le que lhe prestam 1 �;.tJeJ e Jo.'."lo: a primeira ac­
clamando-u a Ma.e de seu Senhor; o segundo ex­
ultando no seio materno, recebendo a santifica­
çO.o que a vo� de Maria lhe transmitte !
Izabcl, repleta do Espirilo Santo, exclama cm
altn voz, repetindo e coruplctundo as pulnnus do
anjo : Bemdila sois rós enlre as mullleres; e
bcmdilo é o fruclo de rosso renlre .'
E sob esta tmprcssn.o do Espirito Santo lza­
bcl presta á Ili.e de Deus um culto de venera­
çilo inegualavcl : Dond e 'tn{I vem esta dita que a
Mãe demeu Senhor venha ter commlgo !" . . • Bem.­
aventurada és lu, que creste, porque se hão de
cumprir as cousas que te foram dilas da parte
do Scnlw1·. ( Luc. 1. 43 )
Que culto ruais e,·nngellco do que aquelle
que, na occaslilo destas palavras de lzabcl, como
que para approval-ns e applical-a8, a p roprio Deus
Jaz exhalar da alma inspirada de Maria, dizendo: De
hoje rm deanle todas as gerac-ões me chamarão
fJemarcnturacla, porquP AquPllP qur P Todo Po­
deroso fez em mim grandes cOll.!iUS ( Luc. 1. 48 )
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-30-

Que culto mais evangellco do que aquel­


le que após Jzabcl, a inspirada, continuem a pres­
tar A Maria os pastores e os magos, adorando
o menino Deus, nos braços de Maria, sua Mde.
( Math. ll. 11 )
O Santo velho SimeAo, associa em sua.
prophecla a Virgem Míie a todas as contradie­
ções a que estava sujeito o seu Filho, e de mo­
do particular a aquelle gladio de dor que deverá
unil-os no grande supplicio. (Luc. II. 34)
Que culto mais evangelico do que e sta
homenagem filial de confiança, de ternura, de
abandono que o menino Deus prestou á sua Mãe,
htzendo de seu seio Virginal seu throno, .seu re­
fugio, seu al i m ento !
Que pôde haver de mais admiravel que esta
homenagem de submissão que Jeills lhe tributa,
vivendo atê os trinta annos na obscuridade de Na­
zareth, na intimidade de sua Mãe. . . mostrando-se­
�ubmisso a ella un tudo ? (Luc. II. 51)
Que culto mais evangelteu do que aquelle
nº m d l
��� a :o p��[j�u:i: s�1;��:,u�:;t�da0s �� ���á�
onde, para satisfazer Maria Sma., adianta a bo­
ro. de sua manifestação, pelo milagre da mudan­
ça da agua i em vinho, fazendo o seu primeiro
milag1·e e confirmando a fé de seus apostolosl
(Joan. 11 1-ll).
Que culto mais evangeHco do que aquelle
que presta a Maria Sma. aquella mulher do Evan­
gelho, exclamando no auge de seu cnthusiasmo
pela palavra divina : Bemavenluradas os entra.
nhas que te trouxeram e o seio que te amamen­
(
tou! Luc. IX. 28).
Que a
culto m is e,ra.l!;ellcc do que 3quelle
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-3 1 -

que inaugurou solennemente a o p é d a cruz. quan­


do a diviea Victima dá a Maria Sma. como l.lãe
á human.idade inteira, na pessoa do apostolo
amado, daquellc que melhor deacreverá a divin­
dade de Jesus Chrll!lto e as ternuras de seu co­
ração!
Eis o culto de Maria, .._.ti.ade no Evaaa:e­
lho, e dimamnndo do Evangelho como de sua
fonte dlvtua, atrav6s dos seculos.
Eis o culto de Maria Sma.1 não escondido
nas trevas, nem envolto no silencio, mns divina­
mente proclamado em face do universo.
Os seculos ouvirão e comprehenderão estes
exemplos e estas lições evangelicas, e é para
corresponder-lhes que os christilos de todos og
tempos vão prm1trar-se aos pés de Ma·ria, implo­
rando-lhe seu auxilio e a. sua intercessão.
Limitemo-nos a estas citações. EJ!as sn.o to­
das directas, litteraes, dirigindo-se directamente
á Aiãe de Jesus.
Para estabelecer e provar o culto evangclico
de Maria sm�.. não é necessario recorrer As ap­
plicações mysticas, metaphoricas, da Sagrada
Escriptura; é o bastante recolher as passagens
que narram a sua união com Jesus, a sua acção
i
� ��� : �� ��:J��:� ��c��!';,f!1:!:'�...
e os ou e e ll
8 a i a
aa••• assim como é uma theoloJtla eva:n.gellca..
Rellictam sobre isso os caros protestantes.
e escutem o seu bom senso, e seu coração e o
Evangelho, em vez de reproduzirem mentirosas
objecções, inventadas pelo despeito e o adio.
Remetam e serão obrigados a confessar que.
de facto, o culto de Maria Sme.. nao é uma ln-

:S���od����a e�:����l;� :1a�ªa � �!s1;::


be
pa s
�nas do Evangelho.

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-32-

VI. l'llarla na primitiva Egreja


O articulista ci1ado preleDde ainda que nos pri--
111eiro"' seculos não se encontra culto alllum a Maria.
Desculpe·me, caro protestante; tal asserção é com­
t>letament.: falsa, tão falsa como o foi a precedent�
invocando o silencio dos evangelistas sobre o mesmo
culto.
Quero mostrar·lhe aqui o contrario.
A prova mais solida são, sem duvida, os monu·
mentas archeologicos e estes monume::t')s abun­
d am e são de uma expressão irrefutavel.
Nos dois primeiros seculos as perseguições inin­
terruptas dos imperadores romanos e do pagani!l-mo
abalado pela nova doutrina cbrigaram os Christãos
a se refugia1·em no seio das catacumbas.
Es1as catacumbas eiam immensos subterraneos
em que hl:lvia egrejJ.s, salas de reuniões, cemilerios,
etc. . .
Era alli no seio da terra, na! trevas d a noite e
dos :o.uhtero.neo�, que se de$envolvia a vida e a acli·
vidaJe dos primeiros Christãos.
Era alli que levantavam os monumentos ao-, mor­
tos, aos martyre�. aos vencedores do seculo, das pai­
xões e do demonio.
Era alli que perpetuavam na pedra e na tela, cora
o marlello, formão e piflcel, a sua crença comba·
tida mas triumphante.
E eis P·Jrque as catac�mbas são monumentos im­
pereciveis e expressivos da fé dos primeiros seculos.
S:io livros, nos quaes se póde ler o que, no tem ·
po dos Apo5tolo!t e de seus primer i os successores, se
acreditava, venerava e implorava.
Abramos um instante este livro sublime e
leiamos nelle QS sentimentos dos primeiros christãos
para com a Mà:e de Jesus.

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Eis o qae escreve o Padre Marchi em seu


c.Jlonumento da arte ckrtst4 em Roma•. Trata·IC
• crypta de Maria do menino jesut, na catacumba
• s.noa l1au.
. . .

Acima do pequeno altar desta crypla, es<reve ellel


�-�e UW\a rcpre5entação d1 Virgem em meio corpoi
8\lt'H'ada, tendo sl'lbre os joelhoa o menina jesus ..
A V11i?'f'm estende os braços na attitude de ora.;19.
O i:nenino não faz este geslo, c.omo para indi·
car a disltnda infinila entre a Mie e o filho.
E.. ta pin tura pertence ao segundo seculo.
Vê�se que era costume unir a Virgem Sma. a seu
clivinn filho, represental--0s e invocai-os juntos.
Na mesma catacumba encontravam·se diversa
eutrao: oin�ura, da Virgem, tendo sempre os braços
estendidos em al titude de oraçio . E' a mesma
phy�ioRomi�. a mesma expressão virginal, faltando
81)enas o n e 1ino Jesus, o que lhes fez dar o nome de
Orantes.
Taes orantes são verdadeiras imagens de Maria
Sma-1 pois diversas entre ellas trazem escrir>to, em bai·
so, o nome: Jfara, e outras Maria.
O que c.ompleta a asserção é que, em diversas
parles, tal orante está ao lado de uma imagem de
Nosso Senhor, fazendo o par symetrico.
Em ba.ixo de uma dellas esl4 escripto : Maria
Virgo, Minester de tempulo Cerosale.
Oa comparação dos diversos quadros a sciencia
archeologica concluiu que taes orantes, que são nu­
merosas nas catacumbas, representam realmente a M�c
de jesus, ficando como tantas testemunhas da extensã9
de seu culto entre os primeiros Christãos.
Eis o que: escreve outro iUu1tre sabio (Carta'>
Lenormant) depois de ter visitado as catacumbas <!1;
-ll Domltilll:

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cVisilando o' primeiro sallo da catacumba. er.con·


ttcf ali wr.a pintura do Bom Plstor1 que datava. com
toda ttrttt1, do fim do primeiro nculo.
Partcia o mesmo lraQ1.do e o mesmo roJorido
dos quadros enconlrados no quarto .eettulaal da P)'·
runide de Caius Cealius, que ti11ha visiladf' pouco antes.
Ao lado do Bom Pastor havia outras figuras de
]tsus Christo e dos Apostolas.
Todos eram da me!.ma lpoca.
O Sr. de Rossi levou me a outro quarto, on­
de havia a Virgem Maria tendo o !'eu filho sobre
os joelhos, rettbendo os presentes dos Reis Magos.
O' doce e ptedosa comparação 1 Raphael deve ter
visto diversas pinturas das catacumbas e dellas liit:
approveitado.
Seu Adão e Eva, da abobada da sala della Sig­
natura no Vaticano, encontra. se quasi ideAlico no �
ctmiterio de Domitilla.
Por sua vez. a Virgem da mesma catacumba
possue a graça casla e a forma esbella de uma ma·
llona de Raphael.
A fé do catholico exalta-se, reconhecendo com
provas indubitaveis o culto da Mãe de Deus, estabe·
leddo nas épacas mais remo1as da primitiva Egreja.
Estas pinturas são veneraveis e garnntias certas
da antiguidade apostolica do culto da Virgem Sma.
Si tratatsemos com incredulos, podiamas citar ainda,
eomo prova deite culto nos primeiros tempos, os
Evan2elhos apocryphos, compostos nos primeiros s�
a!los, que dizem mais respeito " Maria Sma. do que
ao Salvador.
Outra prova se enconk"a nas diversas liturgias
que, por lodos os entendidos, são repntadas de origem
apostolica e que consagram parle de &aas preces e

glorlficac;õei& ao culto da Mãe de Deus. 1
As testemunhas eitadas J! as catacumbas me pare·
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-35-

ttm rnffiden�s para um coração sincero, de sejoso de


cenht'C'f'r a Vefdade.
O culto da Mãe de Deus existiu durante a vid(de
Maria S11a entre os A1nstolo•j e por elles foi trans·
rnittido aes t:cus M110ces�orts e ás rg1ejas por tlles fun·
cladas, au pon!o que em toda parle, onde penetrou
o culto d ivin o do Salvado�, penetrou com elle e ao
ladg delle o coUo terno e suave da Mãe de jesu s.

VII. Santos dos prfJneiros


seculo:i
O articulista termin a o seu ntnque com cita·
r;ões de S:1.111os cios p ri me iros tempos, qu e absolu·
t.amento nada dizem a respeito ou contradizem o
que elle pretende fazel-os dizer.
Diz, por exemplo, que nem J ustino l\Iartyr, nem
lrine u, nem Tt.irtuliano, nem Cypri ano, etc. nada
disseram a respeito do culto da Mão de Jesus.
É absohitam<'n1o folM. t•stn neeerção. Os santos
Padres citados falarnm co oio nós !alamos hoje,
rome rnn pro\·al-o; mas si t>llee não th·essem di­
lo nada a respeito, provuria isso que o tal culto
não existia ?
Escreve·se sobretudo sobre assumptos discu­
tidos e não ndmittidos por todos.
O articulista, por exem plo, nada escreve sobre
,
o sol, a lua e os pl anetas limitando·se n atacar o
.
culto de )faria Snn tissima Provaria isso quo o sol
e lua não existem?
"Nem todos o� SaRtos escreveram sobre o cul­
IO da Mão de Jcsns, pela rnzão sio1ples, de muitos
não serem e�riptores, ou não terem OCOftsião de
escrever sobro tal nssumpto, porque estando fóra
de toda discussão, não precisava do defesa, nem
de refuta(jão d� erros cont�r!oe.
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- 36-

Para provar o erro do articuliata, sem prolon­


aar muito a discussão, vou citar aqui apenas
amas pasHgens dos Santos da primitiva Egreja.
que paciente e conscienciosamente recolhi dila
obra& delles.
Escute bem o Amiio, e examine, para ver ai
entre a linguagem dos santos dos primeiros secu­
Ios e do:i t.empos moderno8 ha qualquer discre­
pancia de doutrina ou de pensamentos !
Após os primeiros Christãos, a tradição 6 oon­
atante.
Desde o primeiro seculo, São Dionysio, o
Areopagita, declara quo teria tomado }faria como
uma diYindade, si a fé não lhe tivesse ensinado
que a omnipotencia s6 podia formar uma imagem
tão perfeita de sua divindade.
São Dionysio, martyr, escreve : Maria mos­
tra-se cada yez mais amante para com aquelles
que a amam.
No segundo seculo S. Irineu proclama Maria
Sma. a nossa Medianeira, e diz : Os laços pe­
los quaes Eva se deixou acorrentar pela sua
Cl'edulidade, Maria quebrou-os pela sua fê.
Tertuliano-Eva acreditou no demonio, tran1-
formado em serpente, Maria acreditou na palavra
do anjo Gabriel; a falta que a primeira oommetteu
pela sua credulidade, a segunda apagou pela
IUA 16.
Origenes consagra-lhe as paginu maia elo­
quentes de seu talento, proclamando-a " nossa ad•
'VOJtada" e a Immaculacla Maria, Mãe imma­
cu.lada, diz elle, daquelle que 6 santo e sem man·
cba."
E ainda : p6de-se dizer a Maria de um per..
feilo cbrislio : Eil o VOllO lilllo t
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- 37-

No terceiro secu.lo, São Cypriano a exalta


eomo digna e gloriosa Mãe de Deus, merecedora
das homenagens de todas as criaturae.
-Maria, diz elle, como os outros, participava
da natureza humana, mas não do peccado original.
No quarto seculo, São Baeilio, em sua litur­
gia, ordena que o diaoono, precedendo o Bispo.
diga ao povo em alta voz : Lcmbremo-uos da San·
tissima o hnm.aculnda Virgem ?\faria, Mãe de
Deus e nossa Soberana Senhora !
Maria, após Deus, escreve olle, é nossa uni•
ca esperança.
E ainda : Maria tanto sobrf'puj11 tod11s os outras
criaturas, como o sol sobrepuja o� outros astroa.
E mais além : Deus abriu-nos em Maria uma
asa de saude publica.
E aied a : Em tudo segui e inrncao Ma�
pois Deus quer que ella nos so!!corr� em tudo.
Ao lado de São Basilio apoarece uma l02ião
de apostolas da Virgem Sma., cuja palavra e cuja
penna espalharam em torla parte o amor da Mãe de
Jesus. São os S3ntos: Oyrillo, Ephrem, Epiphanio,
Athanasio, Gregorio de Na2i anzo, ArnlJrosio,
Chrysostomo, Agostinho etc . . . etc.
D'nhi em deante nem se póde mais enumerar
06 Apostolas de Maria ... são : uma legião, e com
ama eloquencia cada ''ez mais sublime, todos ellu
exaltam a gloriosa Mãe de JeS'tlB.
Não padendo haver discussão sobre o.i secu·
lo6 seguintefl, limito-me a citar uns curtos tre-­
�os dos Santoe Padres do quarto seculo ; os ou-­
tros podem ser encontrados em meu livro: "Por...
p.e amo a Maria".
SÃO CYRILLO foi a alma do Concilio de
Z•heso, onde exaltou ad.niravelmente a Mãe de
Deus. Eis o que elle disse nesta occasião peran;: �
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-38--

te a grando assembláa dos Di11pos rounidos om


Epheso.

"Devemos oomport.nr-nos de t11l modo, que me­


reçamos a graQa de bom morror. É preciso sobre­
tudo saber o qne é nocrssario p�ra ter uma fir­
me ,osperan�a de entr.ar no cáu.
Sabeis todos que ó focil áquPlli>e que a rai­
nha fa\'Oreco com sua protecçW.o, ter entrada na côr­
te e a lcançar o que se doscja.
- E nós alcanç:iremoM t urlo o que desej-i.rmos,
tendo a Sma. Virg<>m pol' auxUladora, media·
nelru e protectora perto do rei ; pai� sabe­
mos que ella 1u1>pfü:� rfi 1mr nós ...
Q' \'ÓS QU9 rcinarS ('Olll OS bemaVí'lllUradOS n�
mornda rrsplonrtN-entc du luz e do toda espocie
de belleza, altf>ndl'i-nos !
AlcaR.çao misoricordia p:irn nquelles que vos
conj11rt1.m, e abri-lhes as portas do céu!
El nos reliquc quodcumque volumus obU­
nemus. sanclissimam Dciparam habenles auxilia­
tricem, mediatricem cl patronom apud Regem
(Or. in V. dom.)

SANTO EPI-IREM diz :- MHria ó a gloriosa


medianeira entre Deus e os homc>ns.

-O Senhor não doixart'i. por muito t-empo


aupplicu-lho por nós aq uella quA, em qnA lidade de
terna 'Mãe, enxugou-lha as h1grimal!I no berço.
-)Itria é o vaRo artmiravel Pl!lcolhido por Deus.
-Maria 6 a porta do céu, o é a el!lcada of-
ferecida a todos para subir até lã.
-- �faria é a chave do �u e do reino de
Jesus Christo.
-Maria ê o remedia das nlmH e um a luz refi.­
plandecente que illumiua o mundo.

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- 39-

SANTO EPIPHANIO diz Por sua vez : Maria


6 como uma m&S"a divina forneceudo ao mundo a,
rida divina.

-Maria ó • livro myeterioso qae deu a l•i


10 mundo, o Verbo divino.
-Maria é RO Christo e com o Chrlate,
-Bemave11tnrada Maria, quando Jesus mêni4
DO brincava em redor desta terna Mãe!
-Maria é o templo e o throno da divindad�t.
-Maria precura com toda solioitude a salva·
P,o dos homens.
SANTO ATHANASIO oxclama :-Proclame·
moe, sem cessar, bemaventurada a VirKem ll�
tob todos os aspeotos.
-Maria é esta escada que Jacob viu elevar.
MI até o cén.
-·Maria, nova Eva, ê a mãe da vida.
-llaria, no cêu, fica ao lado de seu Filhe,
oomo Rainha e como Soberana.

SÃO GREGORIO diz que Maria 'i o firma


apule dos que creem e a l'ictoria dae almas pit·
dosas.
Maria é a mais doce e a mais clemeate de�
das as mães.

SANTO AMBROSIO tem pal'inae sublimes


tobre o culto de Maria :-Maria, diz elle, ê o ea�
pelho e o modelo de toda jueti9a.
-Como a pureza e a gloria, não ha virtude
1ue não resplandeça nella.
-?t:faria foi ial, para que a aua Tida servisse da
regra para todot n61.
-Maria foi esta virgem mUWrosa. ao meamo
tempo i&enta do nó do peccado Original e da cae­
oa do peooado venial.
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-Maria ' o porta estandarte das Virgens
� a Senhora da Virgindade.
S. OHRYSOSTOHO diz :-� ama cousa digna
e iueta exaltar Maria, proclamando-a sempre San·
üssima e sem mancha.
-Maria ê uma ancora e um porto se�
J)ara aquelles que são batidos pelas tempeetad0t1.
SANTO AGOSTINHO 6 mexi:otavel em falar
.ta Virgem Santissima :-Que direi om vosso lou·
vor, 6 bemaventurada Virgem, eu dotado de um
espirita tão mediocre, pois tudo o que poderei di·
zer de vós, ficarA infinitamente abaixo de Tossa
ti:xoellencia e de vosso merito.
-Não podemos ualtar bastante a Maria !
-Imploremos todos a protecçio de Maria so-
bre a terra, para que se digne, no cáu, recommen·
dar-nos a seu Filho, por uma prece assidua.
-Maria apressa-se em socoorror os humildes.
-Maria é a escada celeste, pela qual
Deus baixou até nós.
-Maria foi tão Santa, que o Espirito Saato
se dignou descer sobro ena.
-Maria ê a reparadera do genoro humano.
-Maria ê a reparadora da Yida e perta do
paraizo.
-Ella ê a mãe dos l'ivos. . . Feridos por ETa�
temos sido curados por Maria.
-Deus deu o nome de niar ao conjuncto das
aguas e o de Maria ao oonjuncto das jfraças.
-0' Maria, vós iwis cheia da graça que encon­
trastes deante do Senhor, e merecestes_ espalhai-a
sobre o universo iateiro.
Ai de nós, pobres criaturas, que podemos nós
dizer que seja digno della, m01mo i;i todos os
membros de nosso corpo se transformassem em
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-4 1 -

linguns, pais ella é mais elevada que o cêa. e de•


ce mais baixo quo o funde dos abyem.011 V ( Ora&.
35 d2 Sanctia)
Eis apenns umas curtas citações entre milha­
res de outras
Oh ! diga-me, caro protestante. com parando
e1tes accento s de amor e do oonfiança para com
a lfãe de Jesus com as invocações que hoje a
Egreja lhe dirige ainda, qual ê a d ifferença que
• Amigo encon tra.
Nenhnma !
As aoolamaçõc11 dos fieis de hoje são apenas
a repetição elas ncclamações dos Santos doe p�
meiros se cu los.
A íé não muda.
A confhrnça não muda.
O culto não muda.
:Eis porque Maria Sma. ê hoje na Egreja Ca­
tholica o que f'lla sempre foi e o q1le sempre se.
n1: a poderos:1 e carinho�n Protectora, Med ianei­
ra, a porta do céu, a escada celeste de Jacob.

VUI. Conclusão
Parece-me ter provado clara e solidamente a
theec opposta ao articulista protestante, mostran­
do que os Cutholicos não adoram a Sma. Vir­
gem, prestando-lhe um culto que convem unica e
exclusivamente a Deus, mas honram, louvam
e ln-vocam·na,. por ser ella Mãe de Jesua
Cbri&to, ou Mãe de Deus, e como tal estando
auma·hierarchia á parte, acima de todo1 os SautOB
e abaixo de DeUB.

Mostrei depois que o culto de veneraç4o é u m


c 11lto euenclalmemte evaDl(elleo, tendo na Slil
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-42-

grada Escrlptura, não simplesmente a &ua base,


mas a sua manitestação, a sua irradiação na.a al­
mas e no mundo.
Tudo isso é claro e
insopbismavel.
Sendo um culto evangelico, sempre deve ter
8.ldo praticado na Egreja.
E de facto o foi . . .
Desde o primeiro seculo até os nossos d1as
o culto de Maria Sma. foi sempre o mesm°'
nilo em intensidade e extensão, mas em subs.
tancla e até no modo de manifestal·o.
Através dos seculos podia.·se segulr, passo por
passo, uma plelade de Santos que escreveram ou.
prégaram, easinando a mesma doutrina.
Onde Jeaus Christo reina, ali reina a Sma.
Virgem. . . e onde Jesus Chriato é renegado, ali
tambem ó regeitada a sua divina Ma.e.
O culto de Jeeus e de M11rl& são inseparavels,
como são inseparaveis o filhinho o a mãe.
Os seus cultos, e!sencialmente distinctos, de.­
s-envolvem-se um ao lado do oufro . . . e quando
as almas sobem a Deus pela adomçno, siio como
que carregadas pelo amor da M:le de Jesus.
Nas passagens dos Santos da primitiva Eireja
póde-se ver claramente que as suas expressõM
são nossas expre1Sões, e
que a su11 doutrina é ab·
solutamente a mesma que a Egreja ainda professa.
JA no 3o e 4o seculo, os santos Padres accla­
mam-na como Immaculada, Advogada, Mediauei.­
ra, Jntercessora, Porta do Ctu, etc etc . . . tituloa
que até hoje a Egreja applica á Virgem Santa e
41ue tanto exaspera os pobres e infelizes protes­
l&ntee.
E porque acham lles e titalos �
taes
des, inveneões, quando logo em seguida dos Ap�

Solos taes tl ulos �
o dados á Maria Sma. pe--

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-43 -

los primeiros Chri:stãos prégadores e pelos primef...


roa cscriptorcs.
E donde tinkam ellcs recebi.do estes titulas 'J
Naturalmente, doi proprios Apostolas.
E' o culto de Maria Sma. egmo que remontando
em linha recta e luminosa até aos Apostolas..,.
estando a sua primeira proclamação e manitas­
tação no proprio Evana:elho.
Caros pl'Otestantes, deixae falar um pouco o.
vosso coração e o vosso bom senso, e em vez
de escutar o adio que vos legt1.ram, como tetrica.
herança, os voisos reformadores, lêde o Evange-­
lho, escutue a voBSa conscicncia, e vereis que a
verdade, a Ullicu verdade, está no ensino do Ca­
tholicismo.
Sêde filhos de Maria Sma. como o quer o
Salvador; respeitae e amae nqueUa a quem Jesus
Christo tanto amou, e que Ellc nos deixou, no al­
to do Calva.rio, para ser a · noasa Mãe.
O odio nunca foi vit·tude.
O odio para com uma mile é um crime.
O odio para com a ])fü.e de Jesus é uma he­
resia, é uma blasphemla.
Ob doce e carinhosa Mile, vós que sois o
q d n
r:�r��e �� ���r�� ���te0sta��:: ��s�:a;I�ªu":'a�i1�
Mãe delles, e fazei �rilhar deante de seus olhos
a luz da bondade e do amor que ta.o barbara�
mente lhes esconde o erro protestante, e que tãj)
horrivelmente deforma o preconceito sectario.

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-44-

J
A VIRGEM IMJdACULADA
com o seu dl
. vino Filh&

� :-:
�-
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C A PITULO l i

! Immacnlada Conceição
SECUNDO A THEOLOOIA

Não querendo admit:ir o culto de Maria Sma.,


o.s protestantes rejeitam naturalmente cada uma
das r>rerogativas de quo Deue ndornou a alma da
Mãe de Jeeus.
Admittir qualquer prerogath·a, qualquer dom
especial, seria distinguil-a das demaís criaturas, e
exaltai-a acima das outras dignidades; e isso não
podem acceitar, pois toda exaltação em uma cri­
atura suppõe um direito, e todo direito exige
um dever em outra criatura.
Direito e dever são correlativas e um não
existe sem o outro.
Não querendo acceitar nenhum dever para
com a Mãe de Je�us, os protestantes não admit·
tem nenhum direito da parte d'ella.
., A conclusão é logica, embora o princípio seja
de uma falsidade tangível.

A Egreja Calholica, baseada sobre a Blblla,


sobre a razão e sobre a tradição apostolica
transmittida através dos seculos, oomo crenoa uni·
versai,declarou que a Mãe de Jesus foi ooncebi·
da isenta do peocado oria'inaJ, preaenada da man•
eh• deste peccado pelos merilos anlecipadoo do
Salvador.
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- 46-

Tal '°erdade, gloriosa para a Mãe de Jesus e


base de suas grandezas, uão J6de agradar aos
amigos protestantes, aos quae11 repugna summa·
mente o culto de Maria S111a.
Examinemos as razões contrarias citadas por
elles, assim como a& pro'i'"aS om favor, adduzidaa
pela EgNja Catholica.

I. As objecções protestantes
Quaes são as grandci:i objecções dos proteflt an­
tes con tt·a a lmmacu lada Conceição de Maria Sma.
A primeira (negativa) ê: ca Imm acu lada Con­
ceiqão não figura na BlbUan.
A segunda (positiva} é d8 S. Paulo que rlisse:
todos os homens peccaram num s6 (Rom. V. 12).
Examinemos o valor destas duas obje�õcs.
Diz o articulista que tal dogma não fi gura na
Biblia.
Mostrarei maia adeante como ê falsa e que elle
ali figura em di vare.os logarelil. não pelo •ome, mas
pela verdade. Pouco importa que ali não se eu­
oontre o nome. O nome do uma cousa ê feito para
manifestar a cxistencia. desta cousa ; e antes de
ter um n ome, a couso. jã deve existir.
O nome penca importa e pódo ser mudado.
A pnlavra S'IJphilis é de recente adopção, e
hoje os medicos vêem syphilie em toda parle, em­
bora não haja mais do que em tempos passados.
E' o que outróra M ch amava «impureza de nn­
guea. Na Diblia não figuram as molestias: ophtdl­
mia, chlorose , lumbago, mi>nin�it.e, corysa, epista­
xis, etc., etc. embora as molestias existissem nes­
" te temgo como hoje ; a dilfer.ença é que outróra
cl,lamavam-se taes molestias : dor de ofüos,fraque-
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-47-

a, dor dos rins, febre cerebral, resfriamento, san­


rna de nariz, etc.
Apoiando-se sobre tal p1·incipio os protestan­
tes pronunciam a sua propria sentença de mor•
te, pois nem o nome de sua seita figura na Bi­
bllo.
Onde encontrar, por exemplo, Lutheranos,
CalTinistas, Anglicanos, Methodistas, Anabapti&­
tas, baptistas, Huguenotes, hussltitas, quakers, ad­
ventistas ? etc. parando aqui para não repassar
as 880 seitas protestante11, com pretensa.o de
cada uma ser representante da Biblia e da ver-
dade autbentica. ;.: .
Tudo está na Biblia, dizem, e nem ellas ali
figuram.
A conclusão é que elles mesmos são obriga­
dos a confessar que ba cousas reaes �que nilo
figuram na Biblia.
Não admittindo Isso, são obrigados a admit­
Ur que elles mesmo nlio são uma cousa real,
mas simplesmenté imaginaria.
Quem sabe si não teriam razão? . . .
Em todo caso o argumento neguttvo perde
todo o seu valor e nada prova.
Quanto ao argumento positivo, vejamos de
perto.
S. Paulo diz que todos os homens pecca1'am
num s6 (Rom. V. 12).
Estamos de pleno accordo: E' o peccado ofi..
ginal. .
Note bem o amigo protestante que é um pee­
cado de transmissão. E' um só quem peccou:
Adão ; e este peccado transmittiu-se a todos.
Mas, peccar e receber a transm.ls�o
do peccado são duas cousas distinctas. J
Maria Sma. peccou em Adáo.
Mas o peccado -O.e .Adão, que devi& ser-llie
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-48-
transmitildo, setrundo a lei, não o foi, por pre­
servaçAo divina.
:Maria Sma. é do sRni\le de Adão e Eva: Co­
mo tal peccou em Adão, mas como tal peccado
em Adio, é transmlttldo pelo sangue, é perfeita­
mente possivel a Deus impedir eJ;ta transmissi\o.
Tal preaervaoAo é feita em ·virtude da un•

tecB:�=��� c n
:::i: �1: ��fm��r;������da e
o mais eubJlme trophéu de victoria do Redem­
ptor.
E' o milagre que Deus fez.
O sangue peccaminoso de Adão e Eva devia
chegar até Maria Smo., mas nntes de participar
de seu ser, neste momento qunsi imperccptivcl,
em que a alma creadn por Deu;:; devia unir-se
ao sangue lormado pelos progenito1·cs, para !or­
mar a pessoa de Mari;1 Sma., DÇ:us retirou o pec­
cado e a Virgem nasceu do Fnngu<! regenerado,
purificado de Adão e Evn, scnd•.1 ella, Maria,
preservada de todo contacto do peccndo.
Tal é o privilegio da lmmacu1ada Conceição.
Bem vê o meu caro protestante que a lei
geral, traçada por S. Paulo, não roí violada de
modo nenhum, mas basta saber interpretai-a.
Podemos, pois, repetir com o Apostolo.
Todos peccaram em Adão.
Mas : todos não receberam o sangue peccA­
IDinoso de Adao.
Jesus Christo não podia recebei-o, por ser
Deus.
Maria Sma. não podia recebei-o, por ser Mãe
ele Deus.
o Christo foi leento do peccado original por
naturew.
Maria Sma. o foi por preservação; São Joio Bo,..
ptiBtao foi por purificaçao.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
-49-

Eis como cabe o argumento positivo contra a


lllmaculada Conceição.
Destes dois argumentos1 nenhum póde SUS·
tentar-se, sem cahir na mais llagrante contradic­
flo.
Logo, t>s dois argumentos protestantes, con­
ll'a a lmmaculada Conceição, são de nenhum va­
lor, e nada provam contra a doutrina ensinada
la Egreja Catholica.

n. O que é o peccado original


Para a nitida comprehensão da lmmaculada Con·
aição, é preciso tc:r uma noção exacta do peccado
original.
Tendo uma nOQão errada do mal, errada deve ser
lambem a noção da reparação como a da preservação
deste mal.
E' a infelicidade de nossos contradictores protes·
lantes, que se apegam ao texto da Biblia, limitando·
• ás palavras, sem penetrar no amago das verdades
�e as palavras significam.
O peccado original é o peccado commetlido
por
Adão e Eva, desobedecendo a Deus.
Este peccado1 em Adão, era actual, e o afastou
de Deus <;0mo fim sobrenatural.
Em n6s, é um peccado de raça. O genero
humano forma um corpo unico, cuja cabeça natural
e moral é Adão, de modo que a cabeça peccando, to·
s os membros participam deste peccado.
Quando Deus creou nossos primeiros paes, es�
tabeleceu·os no estado de innocencia, de justiça
ori ·
1inal e de santidade, outorgando-lhes dons de três
qualidades: naturaes, sobrenaturaes e preternatu..
NUS.
Os dons naturaes são as pro:iriedades do

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
- 50-

x
corpo e da alma, e igidas por sua naturtza de homem,
para alcançar o seu fim natural.
Os dons sobrennturaes são: a graca
santificante que fez delles lilhos adop1ivos de bCus e
a pre�stinação á visão beatifica.
Os dons preternaturaea consistem na
immunidade do soffrimento, da morte, da concupis·
cencia e da ignorancia.
Assim cumulados de toda sorte de beneficias, sem
direito algum a taes bens, Adão e Eva desobedece·
ram a Deus, commelleram um peccado mortal, co­
mendo do fructo da arvore do bem e do mal (Oen.
li· 17).
O peccad.o, como diz São Paulo, entrem no
mundo por um homem só. (Rom. V. 12)
As consequencias deste peccado foram desastro­
sas.
Logo, Adão e Eva perderam todos os dons que
excediam as exigencias da natureza humana.
Como vimos acima, tinham elles recebido três
especies de dons : perderam lego os dons sobrena,..
turaes e preternaturaes, conservando apenas, e ain­
da muito enfraQuecidos. os dons naturaes, proprios
de •ua condição de criaturn racionaes.

� f � : ��\ �� � ��
' 5 8e 0 "
ravel t; � �c d;� fot ���a na s � p J�
Gratuitts spoliatus, vulneratu.s in natura­
natureza.

ltbtta.
Como disse supra, o pf'Ccado de Adão foi um
peccado pessoal nelle, mas tambem um pecca­
do de raça, ou de natureza. emquanto elle era a
cabeça da humanidade, de modo que, todos aquel­
les qtte partilham esta natureza, ou pertencem 4 raça
humanit, devii'm partilhar deste pt:ccado, caus:mdo na
humanidade inteira:

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-51 -

A" perda dos dons sobre,,aturaes e prr!t:rr.a­


turaes e o enlraquecf.mento dos dons na1u•2e�.
Os dons sobrenaluraes foram rccupc1 :Jdos pela
Encarnação e Redrmpção do Salvador, que cxigtm a
nossa cooperação; mas fican.os privados c!os duns
preternaturaes, que con stituem o eífeilo permrnC'nte
da queda de nosrns primeiros paes
O homem fica sujeito ao so ffrime olo, á mo1te, á
concupiscencia e á igr.oranci11.
Contra o soffrimenlo e a rr.orte não ha outro 1e­
medio, sinão a conformidade á von ladt! divina; contra
a concupiscen..::ia e a ignoram>ia ha a luta para do­
m inai-as e l ibertar· se de seu jugo.
Quanto aos d o us naturaes, não for11m r e t ir;;do s
em sua constituição inlrinseca, maf. em seu ex6rcicio,
em seu uso, porque as paixões desn0tleiam o juizo
e enfraquecem a vontade.
Tal é o pfccado original em gua fonte e em �uas
consequencias ; cflmprehendidas estas verd 2des, ser·
nos-� facil co mpreh ender a� excepções a esla lei geral.

m. A Conceição de Maria Sma.


O erro fundamental dos protestantes é a idéa
que nós attribuimos a Maria Sma. uma concei­
ção divina, como não tendo ella nascido como
as demais criaturas.
:IS um erro, attribuindo A doutrina catholica
o que ella não ensina. A Egreja não ensina isso.
A conceição de Maria Sma. é humana,
completamente humana, e não tem nada de di·
vino. Elia foi concebida pelas vias ordinarias da
natureza; só a conceição de Jesus Christo é dl·
vi.na, operada pela virtude do Espirita Santo,
sem a participação do homem.
M!l.r�'.l E°:Jla. t'JYC pac e m!ic : SC:o Jor.quim..e
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Sant'Anna. Nada houve de extraordinariO, nem


de milagroso no aeto de sua conceição, nem
em seu nascimento : Elia é filha da raça huma­
na . . . participando do sangue desta raça, e como
tal, apesar de não ter o peccado original, como
explicarei em seguida, ella peccou em Adão, con­
forme a lei geral já citada de S. Paulo : Todos
os homens veccaram num só (Rom. V. 12)
Até aqui tudo é natural; aqui se apresenta
o sobrenatural : o milagre.
Si a conceiçào de Maria Sma. não é divina,
ella é entretanto milagrosa no lacto.
É o proprio Evangelho que attesta o milagre.
Como prova do milagre que ia operar-se em
Maria Sma., o Archanjo cita um milagre já ope­
rado em Santa Isabel :
Eis que tambem Isabel, tua parente, conce­
beu um filho na sua velhice. { Luc. 1. 36)
E não somente concebeu em sua velhice, o
que já é um milagre, ruas concebeu, sendo es-
����Cz� <I,�?hocs�n;�;��eºJ�ai�f��oe��1�e ����
se achavam em. idade avançada (Luc. I. 7 )
Sant'Anna concebeu, apesar de sua esterili­
dade e de sua velhice, e depois de ter concebi­
do a mais santa das crianças, recahiu em sua
esterilidade.
A conceição de Maria é pois Dlllagrosa,
no facto, mas não é divina.
Si fosse divina, Maria Sma. não precisaria de
redempção; sendo humana, embora milagrosa, el·
la precisava ser resgatada, como qualquer outro
descendente de Adão.
A redemp9ão suppõe uma quéda, pelo me·
nos em Adão.
Para ser resgatado, é preciso ser, de qual.
quer modo, escravo do peccado.
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Maria Sma. não foi escrava do peccado, como


�8oa, mas o foi como pertencente á raça
"humana.
Jesus Christo é Salvador do genero humano
lateiro, conforme a doutrina tão accentuada por
8. Paulo ; e nada autoriza uma cxcepção, nem em
lavor da Mãe de Jesus.
Uma tal excepção seria inutil é. sua gloria;
pois não somente a Virgem Mãe nã.o fica dimi­
nuida nem humilhada, por ser devedora de sua.
gloria aos meritos do Salvador, mas mais exai..
Ulda, como fica mais exaltado o proprio Redem­
'tor, em contar a sua propria Mãe como primeiro
trophéu da sua morte.
Para provar esta redempção, Suarez usa do
aeguin.te argumento :
8. Paulo diz que: si um s6 morreu para lo­
dos é porque todos estavam mortos (li Cor. V. 14.)
Ora, Jesus Christo morreu tambem para Maria.
Logo, ena estava morta em Adão.
Entende-se por : morta cm Adiio, o facto de
Maria, em virtude de sua conceiçõ.01 estar sujeita
ao peccado original, por direito,
que teria contra­
ctado sem uma intervenção divina, porém não foi
aujeito ao peccado, de facto porque uma graça
singular do Redemptor a preservou, afastando
della a dura necessidade da mancha original.

IV. A preservação de Maria


A redempção é dupla : libertadora e preser·
..ativa.
A retlcmpçil.o llbe'J'fadora repara as rlliõo
aas feitas pelo peccado, restituindo ao homem o
que lhe tirou o peccado, fazendo-o passor de
estado de peccado ao estado de graça

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E' a redempção commum a todos os homens.


A redempção preservativa consiste, não
em reparar as ruinas, mas em jmpedir taes rui­
nas. Elia não levanta a natureza decahida, mas
a impede de cahlr. Elia nAo purificou a Mãe d e
'
Jesus, m a s a impediu que contrahisse a mancha
original.
Em synthese, devemos dizer que: Jesus Chris-

�� � ��f�:� �� ��� :1�V1�� � ���'f!s� ��


n
0
p s.
0
e
como fazendo parte da humanidade.
t e i
-
.

A qualidade de Redemptor convém pois per­


felt1mente a Jesus Christo, a respeito de sua
propria M!le.
E' deste modo que Maria participou dos me­
ritos de seu diviao Filho, nilo como nós, mas de
um modo que lhe é todo peculiar, preservan·
do.. a de uma mancha que devia contractar e
não contractou.
São Francisco de Sales exprime esta ver�
dadc de um modo tão singelo, quão gracioso ! A
torrente da iniquidade original (1) veiu lançar
as suas ondas impuras sobre a concelção da Vir­
eem Sagrada, com a mesma impetuosidade qu&
sobre a conceição dos outros filhos de Adão; ma&
chegando ali, ellas não passaram além, mas para­
ram, como outróra o Jordão no tempo de Josué.
A torrente parou as suas aguas, por respei­
to á arca da alliança, e o peccado original re­
tirou as suas ondas, por respeito ao Tabernaculo
da verdadeira alliança, que é a Virgem Maria».
Não posso deixar de citar uma passagem
do illustre Bossuet que tão admiravelmente fala
dos grandes mysterios, e sobretudo da lm.macu-
·
lada Conceição.

(1) Tratado do amor de Deus.

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Esta conceiçilo, diz elle, tem isso de com..


111um com todos os fieis, que Jesus lhe dá o
eeu santue; mas ella tem isso de particular.
que primeiramente recebeu de Maria este san­
gue.
Elia tem isso de commum comnosco, que es­
te sangue cabe sobre ella, para aantUical-a ; mas
tem Isso de particular, que Maria é a sua fonte.
De tal modo que podemos dizer que a con­
ceiçllo de Maria é como a :primeira origem do
i8Dguc de Jesus.
E' dabi que esta bella torrente começa a
espalhar estas ondas de graças que circulam
em nossas veias pelos Sacramentos, e que levam
o espirita de vida a todo o corpo da Egreja.
Não procurae pois o nome de Maria na sen­
tença de morte, que foi pronunciada contra to­
dos os homens.
Não está mais ali ! Foi apagada !
E como ?
Por . este sangue que tendo sido haurido em
seu casto selo, deve empregar em seu favor tu­
do o que contém de força, cQntra esta lei !unes.
ta que nos mata desde a origem. (1)

V. A transm.lssão do peccado
Deante desta doutrina catholica, certa e clua,
as objecções protestantes se dissipam, como as tre-­
ns doante do &ol matinal.
O sou grande argumento ê querer oppOr ao
dogma da Immaculada Coneeiçllo o texto de São
Paulo : todos os homens peccaram
num s6.
Tal lei ê oerta, e como acabo de provai-o, não

(1) Boa.auet: ! Serm.on pour la Conce:pUon-1 polnt.


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acha a minima contradieção no facto da lmmncu·


lada ConceiQão.
Os amigos protestantes devem comprehender
a differença essencial entre peccar em A.dao e
peccar pessoalmente, como entre pertencer a uma
raça peccadora e ser peccador.
E bHta estl distincção para comprehender-­
mos a possibilidade da Conceição lmmaculada.
Resta-nos a elucidar ainda um ponto que vae
mostrar o como a Virgem Sma. foi preservada
deste peocado.
Como á que nós oontractamos o peccado ori·
1inal?
Tal transmissão não se póde fazer pela Ore�
çtfo da alma, sinllo Deus seria o autor do pecca..
do, o que é impossivel.
Não se transmitte tão pouco pelos paes, pois
a alma dos filhos não tira a origem da alma dos
paes, mas á creada por Deus.
Elia se faz pela jferaçao.
A alma ê creada por J)eus na innocenoia pef'>'
feita, mas contrae a macula, uniudo-se a um cor­
po formado de um germen corrompido, do meemo
modo que a alma eoffreria, ei fasee unida a um
corpo ferido.
E' a opinião de Santo Thomaz.
Santo Agostinho diz a proposito : •Os tilh<>!,
nascidos de paes baptizados, nascem entretanto
com o peccado original, como do trigo immuniza�
do nasce uma espiga, na qual o grão ê mistura�
do com a palha.>
Para comprehender bem esta doutrina, 6 pre.
ciso distinguir, como o fazem São Bosvcntura e 0-
Papa Beato XV, uma dupla conceição :

A actl'va, que não ê outra cousa sinlo a


prooreaçlo do co:-po.
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A passiva, que se realiza quando Deus un&


uma alma ao corpo que acaba de ser gerado.
A conceição acltva de Maria em nada diffe ..
re da conceição das outras crianças, pois ella foi
cerada por S. Joaquim e Sant'Anna. segWldo as
leis da natureza;"
A conceição passiva. ao contrario, é comple­
tamente differente.
A nossa alma, no momento de unir-se ao cor-.
po que ella de''ª vivificar, desde que entra em
f'Ontacto com este corpo, para formar umll pes­
•oa humana, é contaminada pelo peccado ori·
gioal.
O peccado n!io reside na alma, nem no corpo,
mas sim na união substancial da alma e do cor-­
po, para constituir o homem.
E' o homem quo 6 contaminado pelo pec­
cado-o homem como tal, de modo que, na morte,
a alma separando-se do corpo, readquiriria por
assim dizer os privilegies de innocencia e justi·
9fl original. si apesar de separada, não conservas-.
se a aptidão e a disposição de um dia ser reu·
nida de novo a este corpo, do modo que, mesmo
aeparada do corpo, a alma fica sempre alma hu·
mana
Foi neste momento quasi imperceptivel que
Deus preserrou a pessoa de :Maria Sma. do pe�
cado origina].
Creou a sua alma, como <'!ria as nossas almas.
Os paes de Maria Sma. formaram·lhe o cor-.
po, como os nossos paes formaram o nosso. Atê
aqui tudo é natural ; o milagre da preservaç&o
limita·se ao instante em quo Elle uniu a alma
ao corpo.
Desta união devia resultar a trammi.!sdO de
,eccculo. Deus fez parar o curso dosta traosmi,..
do i de modo que a união se tez1 como &e tinha

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fe'to na peeson do Adão, quando Dous, depois de
c.tr !t-ito o seu corpo soprou nelle o espirita, for­
mando um homem na por!eição da innocencia e
da justiça original.
:·:.... )[aria é uma twgunda Eva . . . mas Eva antes
de sua quêda.
Tal ê a sublime doutrina da Egreja,

VI. A excepção á esta lei


Sorli possh•el objectar quo Dous ni'io p(ide de­
rogar ás leis gcr11cs, constitu.idas por alie mesmo?
Seria negar a omnipotencia divina, fixar limi­
tes A'quello que não tem limites.
t. uma lei geral que todos peccaram num s6.
Tal lei, de facto, 6 universal, o não comporta ne­
nhuma excc1>01io gntre as criaturas.
t. outra lei geral, que o peccado transmitto.
se a todos os filhos de Adão.
Esto. segunda lei, entretanto, 6 menos rigoro­
sa que a primeira, pela simples razilo que o prí­
meiro facto ê antecedente, emqunnto o segundo é
consequente.
O peccado original foi commeltido no princi·
pio do mundo, na origem da raoa humana; em­
quanto a transmissão não foi feita, mas apenas
decretada, no principio; e eHectua-so na occasião
da união da alma com o corpo.
Nada impede pois que, antes de effectuar-ae
esta união. Deus intervenha o suspenda um dos
elleltos desta união, que 6 precisamente o pec.
oodo original. 1
A Biblia está repleta destas derogaçõea.
O movimento do sol e da lua estA mathem&·
ticamente fixado pela lei da natureza ; entretan.
to Josué não hesitou em fa.zel·o parar: Sol de·

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tem-te em Gibeon, e tu, lua, no valle de Hadja...


ton. E o sol deteve-se e a lua parou (Jos. 10.
12-13).
· -E' uma lei que as aguas seguem a corren­
teza do seu curso ; entretanto Moysés extendeu a
rn c
::O�;ª,°cJr'am 6p�rt::;�;. �� ��� �r�ê � :Ua-a.;
sua esquerda (Exod. 14, 21 e 22).
E' uma lei que um morto fica morto até á
resurrelção geral; entretanto o proprio Christo­
Deus, deante do cactaver de Lazaro putre-.
id. em
racção, exclamou: Lazaro, sahe. immedia­
.. E
t.amente aquelle que estava morto sahiu vivo
(Jo. 11, 4,3 e 41).
Que prova isso, meu caro protestante? Isso
prova que:Nada é impossivel a Deus (Luc. 18, 27).
Todos os homens peccaram em Adão e Eva,
e nascem com o peccado original: E' a lei gerai.
Deus póde derogar esta lei, como póde de­
rogar muitas outras, quando Elle o julgar necee­
aario ou conveniente.
.
. .

Ora, era absolutamente necessarlo que Elle

�� t �:U: �� �� :�;: � j� ;6�1:�°ift��� :;_


.
º ª s i
d e
v

contacto com o peccado. Estes dois termos se


excluem mutuamente. Si Jesus se contaminas-­
se pelo peccado, nllo seria mais a pureza infi­
nita . . . e não o sendo mais, deixaria de ser Deu&i
porque em Deus tudo é infinito.
Escute bem, caro protestante. . .
Ora, o Chrlsto, infinitamente puro, não o se­
ria mais, 211 Elle tomasse um c<'rpo formado por
uma carne e um sangue maculados pelo peccado.
O nlho recebe o seu corpo do corpo e do
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ngue de sua mãe-O filho é uma co�tinuação
tl•1sseus paea.
O corpo de Jesus Christo é um corpo lorma-
8
�'.� rfe�1�ªé: �lg�1de 8�0�a�À8;!1::::1�:ev;;�
! nascer de ti s rd chamado o fi.llw de Deus,
tl.
,,Jz
e
S. LuC&& (!, Só)
Sendo o corpo de Jesus formado do sangue
<lc Marja, e devendo este corpo ser de uma pu-
1·eza infinita-pois é o corpo de Deus-é absolu..
tamente ezlg(do que a carne e o sangue de
?l.1aria sejam de uma pureza absoluta, isto:é, sem
pcccado origiD&f. •

Havia duas maneiras de alcançar esta pure­


z'\ :a purlUc.a-...o ou a Isenção de pecca­
do original.
Qual destes dois modos ha de EJer o mai.8
conveniente9
A dfscUBsão é inutii.
Si Maria Sma. tivesse sido apenas purlfic�
da do peccado, ella teda sido escrava, pelos me.
nos durante uns instantes. do demonio, e mais
Llrde o clemonlo teria podido lançar no rosto do
salvir.dor este insulto: Tua mãe 1 ella foi mi-
nha b'!es �e

ta 8�;�8��:� �uh�rit���ji maculada I •

'lá, Satant\s, lon8• daqui l


Nu.u.ca . . . nunca . . . nem 9urante u.m instan..
}�� e!: m��W�:s1ªb ª s:�eresti:f'�m �Í!
,lcsde o principio, e onde es.tá o Senhor, lá nllo
pódeE;���8
�h� de graça. . . E si eUa fosse
dominada pelo mal, si ella o fosse apeou um ins·
tante, ella nllo estaria mais cheia de gr,aça i
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-61-
faltaria qualquer cousa a esta plenitude. . . falta­
ria a graça inicial.
Eis porque a Mãe de Jesus não podia sei·
l
simp esmente purificada do peccado . . . devia
&er preservada.

vn. Conclusão
� por não terem comprehendido esta doutri­
na que os amigos protestantes fazem mil objecçõcs
contra este dogma, proclamando-o em contradicção
com a lei geral, impossivel em sua realizacão,
Caros protestantes, estaes enganados!
Estudae melhor a doutrina Catholica, e vereis
como em tudo ella se harmoniza com a Biblia. a
acha nesta Biblia o seu fundamento e sua procla­
mação.
Vejamos agora exaDtamente em que consh�te
o tal privilegio : será a conclusão deste capitu!o.
O peccado original é essencialmente uma p•·i·
vação.
E' a privação da graça primordial concedida
á natureza humana na pessoa de Adão.
Uma comparação, embora imperfeita, nos fará
comprehender esta privação.

Na ordem intellectual e moral


a dHfer(lnça
entre o homem decahido e o homem creatlu no es­
tado de pura natureza é analoga â differença que
existe na ordem pllysi.ca
entre um civilizado dt•s­
pido dos vestidos que costuma trajar, o selva­ o
gem que nunca usou roupagem.

A nossa alma é privada, na sua. origem,


da graça santificante que, nos decretos da Pro­
videncia, ella devia ter na occasião de sua creação.
Nos designios de Deus esta graça dovia ador4
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nar todo homem entrando na vida e tomar a sua


alma bella e agradavel a Deus.
Assim não acoutece maie.
Deus cria a alma pura e santa, A sua propria
lmagem, porém IÍa occasião de esta alma unir-se
ao oorpo, que acaba de ser formado pelos proge­
nitores, a pessoa hu:m.ana, que resulta desta
união substaneial, fica privada desta graça santi­
ficante que fazia em Adão a sua belleza e a sua
gloria.
Em vez dos thosouros magnificas que esta al­
ma bumnna devia possuir, ella é pobre, núa, mia�
ravel, ao chegar á existencia.
Esta nudez é para ella uma mancha, como ê
uma mancha para um edificio sumptuoso a des­
truição do marmore, da prata, do ouro, de que
era revestido, deixando apparecerem somente a s
pedras brutas e a s muralhas.
Applicnndo estas analogias 11 Virgem Santissi­
ma, teremos a noção exacta de sua lmmaculada
Conceição.
Dizendo que Maria 6 immaculada, a Egreja
Quer dizer que ella não conheceu esta prlva­
ç.Ao, mas que a sua alma conservou integra a
innooenci11t a justiça de qae Deus adornãra Adão
e Eva, no momento da Creação.
Maria t'i a Eva restaurada na sua antiga
formosura, é a criatura idt'ial, perfeita, tal qual
aahiu das Mãos do Creador, sem que o peccado
projectaase sobre ella a sua sombra.
E a preservação desta privaçdo foi feita
por uma applicação antecipada doa meritos do
Salvador.
Libertada da mysteriosa solidariedade pela
qual todos nós nascemos peccadores e filhos da
perdição, Maria aahiu das mãos do Creador, tão
perfciti:1. ') til.o r..ea, tiio pura o :ão bell:t, quo des-

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de enlllo estan\m roalizadas as p0Jnr3s do Ar­


ehanjo no dia da Encarnação : Ave, gratia plena :
A,·e, 6 Maria, cheia de graça !
Caros protestantes, reflecti um instante sobro
esta doutrina da Egreja !
Elia é divinamente bella e harmoniosa !
Elia 6 soberanamente digna de Deus !
Ella é gloriosamente honrosa para Maria !
Ella é humanamente suave para nós !
E' uma doutrina racional, logica, e si não hou­
.esse na Sagrada Escriptura prova nenhuma, tex­
to algum que apoiasse a Conceição Immaeulada
de Maria, seria preciso ainda admittil-a, por ser a
unica doutrina que coaduna com a dignidade ele
Deus e de Maria Sma., como coaduna com o bom
senso e a aspiração universal do mundo christão.
Digo : si não hou\"esse provas na Biblia ; po­
rém taes provas existem, claras e positivas, como
quero mostrai-o no capitulo seguinte.

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C l'I P I T V L O I l i

A Immacnlada Gooceiç�o
SECUNDO A SAGRADA ESCRIPTUR:A.

Ás provas theologicas, conformes ao bom senso,


ao raciocinio e á tradição do mundo chrislão, é preci­
so juntar as provaa biblicas.
Os protestantes só acreditam na Bíblia.
Sem refutar o que ha de irracional nesta asser­
ção, póde-se dizer que, segundo o testemunho da pro· �
pria Biblia, to:fas as verdades não estão contidas na
B1b\ia.
É para refutar de antemão ,os futuros protestan­
tes que São joiio termina o. seu Evangelho com estas
Muitas outras cousas ha que fez Jesus,
palavrai. :
as quaes, si se escrevessem uma por uma, creio
que nem :o mundo todo poderia caber os li­
t'TOS que smia preciso escrever ( s. João XXI. 23)
É apenas uma hyperbole empregada pelo� Evan·
gelista para mostrar que, além do que está escripto.
Jesus fez e ensinou ainda muitas cousas.
Estas cousas não escriptas foram recolhidas e
transmittidas pelos Apostolas aos seus successores, e
mais tarde foram escriptas pelos primeiros Doutores
da Egreja, em caracter não·inspirado, por iniciativa
particular.
É o que São Paulo chama a tradição.
Conservae as tradições que aprendestes ou
por nossas palavras ou nossa carta (2 Thes.11. 14).
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-65-

Tal tradição é unanime cm affümar 3 lmmacu·


Conceição, como mo;trnrci adeante-, lim i!ando-
1qui crn procurar a sua base na Sagrada Es·
ptura. que os amigos pro1e:1t311tes acceilarão mais
.nente que 2s provas theologicJ�.

1. As provas Blblieas
Urna vPrriarle •nóde ser rE''lf>lada na Biblia de do i s
mcodos : explicilamente e implicilamcnte
Uma verdade e,;tá expllcJtnmentc na Sa·
rada E"cri!llurn, quando, �cm rr,dodnio, tal verdade
,.. Aorecenta claritmente �o e�oiri10, por cxem olo :
Jla;ia de quem nasceu Je:rns :-é a revelação ex•
pllcltu da ma1ernijade divina da Vi. gem Santa.
A' primciTa vi�ta qualQutr pt' 'n l comprehende
1e tal cxpres�ão s:gnific1 que ,Jlaria é mãe de
.Jesus.
Uma verdade póde ser revt\ada lambem lmpU·
eltnmente, quando cita est:i contida em oulra ver­
e claramente revelada, p:ldc11do !iC, pelo raciocinio,
uzil·a de ;,ta verd:ide.
p,.., exem plo : Maria é Mlle de Jesus.
Ora. um3 J\'Ue � u'l1a M�dilneira nala perto do
ho.
Logo, 1\\Jria. é Medianeira entre je:;u s Christo e
CM homen�.
A 1nediaçJ;io universal d:t Vi•c""m l mm acuh1da é
�j,_. uma verdarl e contida impllcitumcnte no
trxto citado do Evangelho.
A lmrnaculada Cnnci>içl!n não é rrvelada explici­
mente, ma' o é hnpllcltaruente, como con·
eequrncia de verdades explicitamente reveladas.
São estas verdades que deve:nos estudar aqu i,
Jll'3 depois completai as pelo testemunho expUclto
tradição dos primeiros seculos.
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-66-

Procuremos uma prova solida da lmmaculada Con­


ctiçle na propria obra da Encarnação.
A obra da Encarnação,no plano divino, inclue Maria
e incluo a sua alma, a sua pessoa e por conseguinte
a sua Conceição.
Maria S1na. E Mãe de Jesus Christo; e é Mãe
VlrJlem.
O anjo Gabriel foi enviado. . a uma Vir­
gemiJ�� ��o conhe o vara.o (lbid. 34).
O Espirita Santo descerá sobre ti (lb. 35) .
À virtude do AUissinw te cobrird com a sua
sombra.
A malernidade virginal de Maria é uma verdade
explicitamente revelada.
Ora. a mesma razão que fez nascer jesus de uma
Ma.e Vlratem� deve fazel·o nascer de uma Mãe
lamacufada. A conceição immaculada é pois
uzna verdade implicitamente revelada na revelação ex­
plicita de sua Maternidade Virginal.
Examinemos de perto este argumento
Porque quiz Deus nascer de uma Ma.e Viigem ?
Para que a santidade que devia adornar a sua
pessoa viesse de uma fonte egualmenle pura, da par­
te do corpo como da parle da alma.
A alma de Jesus Christo foi creada por Deus e
inseparavelment� unida á divindade.
Era uma alma santissima, obra prima de Deus
iRfinito.
O corpo de Jesus Chrislo foi·lhe fornecido do

�foeá� r e e
v����e, 00 �� 'f�r�
o a
��
º i�f�u
a
� avelmente
Este corpo devia pois ser santissimo, na altura
da alma santissima, á qual devia ser unido substan·
çJal.mente., para constituir a pessoa divina de
C�risto.
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-67-

O corpo devia ser digno da alma; e ambos


deviam ser dignos da divindade.
Este corpo devia, pois, ser formado de um tan·
gue purissimo, de um sangue immaculado em sua ori·
gem, como em seu estado actual.
Por isso, a Virgindade de Maria foi como
a condição de sua maternidade.
Vemos, pelo Evangelho, que Deus reservou· se
esta virgindade, que Maria lhe tinha consagrado, até
nos laços do matrimonio, como devendo ser a habi·
lação do Santo dos Santos.
O anjo Gabriel foi enviado . . . a uma Vir..
nem . . . desposada, nao conhecendo varão . . . E
por isso mesmo o Santo, que deve na.scer deUa,
será chamado Filho de Deus (Luc. 1. 35).
Desde esta hora, Maria estava! cheia de grtiÇa,
era benutita entre as mulheres . . . e o Senhor
estava <::om ella (Luc. (, 28).
Esta virgindade, e�1a plenitude de graças, esta
bencam eram a condição anterior e preparato­
ria da Maternidade dt'! Maria.
Ora, tal anterioridade devia necessariamen·
te remontar até a sua conceição, para que. de uma
Virgem sem peccado, nascesse sem peccado Aquelle
que vinha apagar o peccado, como diz admiravelmen�
te São Bernardo. (1)
De facto,"que motivo Deus teria tido em exiair em
Maria .esta santidade virginal antes da Conc.eição
de Jesus Christo, que não fosse bastante forte,
para fazer remontai-a 11 propria oonceição de Maria'?
A santidade do Filho, sendo o motivo da
n
santidade a terior de Maria, não podia contentar­
se completamente, sinão possuindo Maria inteira,
desde a sua origem.

(1) Volttlt !ta.que CISO Virginem de qua immaeulatus pro­


•ederet, omnfum maculas purgaturus (S. Mlssus est, Hom. 2!).
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O que ora Maria quand o concebeu Jesus
Cbristo, ella o devia ser, desde o tempo em que el·
la mesma foi concebida.
A personalidade da Sma. Virgem fica
identificada com a sua virgindade, com a sua pu­
reza immaculada.
Ella é revestidn desta pureza como d e um sol;
e o procl igio, quo lho foz conservar ei:;ta virgindn·
de na conc1Jição e iw párto de seu Fil h0, nos ga­
rante a purez a de sua propria ro1rneicã?. 1
Como se \'ê, a reve !aç.ão explicita da ma­
ternidade divina da Virgem Santa inclua a reve­
laç§o lmpllclta de sua Irnmaculada Conceiçõo.
E' uma primeira peova Biblica e que já seria
sufliciente para convencer a um ho mem sem precon­
eeilos e desejoso de conhecer :.t ''ordado, em yez
de quorer defender as suas idéas erroneas.
Vamos adeante; encontro1 remos muitas outrns
passagens elo mesmo valOl' comprobn.tivo.

Ili. O Tabernnculo divmo


Um texto do São Paulo projecl.a uma luz sua­
ve e forte sobro o a1·gunwnto procadente.
O Apos tolo escreve : Christo, vindo como Pon­
Ufice dos bens futuros, (passou. ) JJelo meio de
um Tabeniaculo mais excellente e perfeito, nâo
leito por mão dos honun-S, islo é, não destacre­
ação ( llobr. IX. l1 )
An alysemos esta passagem o ue!la encontra­
remos, bella e re!;plnndecente, a revelação impiici­
ta da lmmacnlada Conceição.
O Apostolo compara aq ui o Pon ti!ice da lei
antiga com o da lei nova, mostrando que o pri­
meiro entra\'a no Tabernacuto, no santo dos san­
tos, .umn:vez pot• anno, para offerecer o sangue
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- 6Q -

o s holocausto�, C'mquanto Jesus Chri!'to. o Ponti­


ce ,ia "º''ª l(·i. p:ic:<:in por um 71rimefro Tatwr­
ROculo, ntlo feito pelri mão tios llonu11s, para.
:t.'1resentnr-se no i;.egum.lo, pt:1ln. t'Htl�olo do J;eu pro­
frio snngue ( PCT proprium sanguinem, intrm:'it
nnel in saneio).
'l'al 6 a opposie3o que o Apostolo esto.b�lC'co
ttntro os doir:1 Pon1 ificcs.
O Ponfüice da lei rintiga C'rn homem como
q ua lq ue r um; p do romo ern, e trn
eccn r n t'a.
no pri­
ueiro Tabernnculo, oncle todos en ra m o Ra:nto)
t \'3 (
IP 1-6 e t 1l\'
n r nm umn vez por nnno no segnncto T:t­
•rm1.mlo ( sn ncta nn c o m
s l ru ).
t zi
Póde·@e desle modo rad u r a J>rissage.m de
:
o Paulo Christo passou pelo melo de 11111 7'a,..
naculo mais e:rccllente e perfeito, nao feilo
p la mao dos homens e não sendo desta crea..
"'º·
E csto 'l.'ohernaculo, adornado do t.'lmt quali-
dades, só póde ser o o selo lmmaculado do
Marta.
Eete argumento refere-se d i reetamento !í santn
bumnnidado do Snh-nclor e inclirct1nmente á snn­
tidade ori gi nal de Mnria.
Si houn·�i.e qu:ilquer mancha na formação de
arin, ht\vrriR (Igualmente na lormaçi\o de Jesus,
p is o filho é formado pelo sangue da müe.
tri
:\I:\11. R. Pnu:o fn7. n o r que este Tahernaculo.
pelo qual pnr:;�ou o Chr i1'1Cl, n7o era feito pela mao
<>S /10men.'1; JC!:ms Chriflto formou-o com bUn
l ropria mno. llc>us fo1-mou n sun ro pr n mile.
p i
Porcf;IO ti10lo, :\!::irin G duplamente hnmn­
ul:!da, como ohrn foiln immediPtamentc por Deu!',
e como sendo n sua milC', dn qunl clle m<-11.mo de­
ia rc eb
c rr n F.un hum nnidnde.
Aos prolfslnntc>s qu" considernm rxo�ierado e
ucessivo esto p ri -rilegio da Jmmnculadn Conce �ão t
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-70-
J4.d.t-se responder que Aquelle que faz o maior
den fazer o menor,
pois o todo inclua as partes.
Deue elevou-a, pela maternidade divina, a uma
konra infinita, (1) muito acima dos anjos, emquan­
to que pela Immaculada Conceição elevou-a apenas
acima doa homens peccadores.
Qnal 6, de facto, o anjo que põde dizer a
Deu• : Tu és o meu Filho ?
E elevando, deste modo, Maria acima de to­
dos os anjos, como Deus não a elevaria aci­
ma da natureza humana decahida Y
Si o não fizesse, seria uma contradioção nas
obras de Deus. Elle faria o maior e recusaria o
menor . • . Elle elevaria uma criatura acima dos an­
jos • a lançaria ao mesmo tempo no meio da ra­
p peccadora dos homens Y
Seria como si um Monarcha poderoso elevas-
1e .ao throno e escolhesse como rainha uma po­
'bre filha do povo, e a tomasse ao mesmo tempo
somo escrava, para servir á sua mesa.
Seria ridiculo . . . indigno de um Rei; quanto
mai1 indigno seria de Deus !
Não, não . . . � impossivel !
Si Deus pôde preservar Maria do peccado
orieinal, e quiz preservai-a . . . Elle o fez !
Ora, negar que o póde fazer, aeria tão ab-
1urd.o quão blaspbematorio contra o seu poder.
Dizer que não o qulz fazer, seria ferir a
ma bondade e o seu amor filial.
Emfim, dizer que nem o poude, nem o quiz fa­
aer, quando poude e quiz fazer infinitamente mais,
fazendo-a sua mae, seria excluir da noção de Deus
toda sabedoria, toda razão, como toda bondade e
todo poder.
(ll Beata Virgo ex boc, quod eat Mater Dei, babet uam­
dam lnrin1tate� ex bono lnfinito quod est Deus (. qTbom.
i p. _•• a
. . t).
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-71-

A palavra de São Paulo ê pois uma rnela·


o lmpllctta do l'rande doama da. Immacula­
Conceição !
O proprio Jesus Christo fez o ;eu. Taberu.­
calo, e o fez, mais excellente e p6'rfeil.01 ntJo sen­
desta creaçao, mas de uma creav».o li pari:., 11.D.i­
que é a de um l'abernacnlo destinado ao pro­
.o Filho de Deus.
Ora, um tal Tabernaculo, feito immtdiat:amtn·
te pela mão de Deus e para D1u1, devia ter i...
a belleza, toda a pureza que o proprio Dtua
tó<fe outoraar a uma criatura.
E esta pureza perfeita, id4a� chama-M • Im­
culada Conceição !

IV. O mais anttio do�a


Os amigos protestante• taxam de aoYl.dade
ff: � ���i����
do ª a Cogcelçlo.
• 1t d
E' o maia antigo do11 doamas revelad.01 ao mtmdo.
Elle é mais antiao que a Eireja; maiJ anti·
que o Evan&'elbo. EUe era com Jeaui Chriato
antes que Abrahão existisse tllt que oo­
: J:: por
am El.8 Saaradas Escripturaa.
A Immaculada Oonceiçilo de Maria 6 de llOl'O
pltcttamentB revelada neste oraculo de �
e traz o capitulo III do Oeaeara. • que 1U. di­
naiu. ao demonio, depoi1 da quêda de llOISOI pri-
..iros paes :
Inimidtias ponam inter te et muliermi, d se­
n tuum et .semen 'lllíus : ipsa ronter6t eaput
lkum (Cen. III. ló).
A traducçilo literal é: Porft 'l1Umizad.I nitra
e a mulhw, entre a tua:umente e a 1emente
lla: eUa '' esmagara a ca�1ça..
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-72-

Eu pergunto aos protestant.Eis intelligentes :


1l é possivel limitar este texto a Eu ?
E' impossh·el ! Si o tal texto so limitnsse a
Eva, Deu� deverin ter dito : Porei inimizades en­
tre ti e Eva ; ella te esm:ignrá a cabeça.
Dizendo que ó a mulher que devo esmagar a
a cabeça de Satanás, e nmplianrlo esta pah1vrn di­
zendo que ó n sua semente, ,·õ- se immediatamen­
te que Eva ó a qui apenas n representaçllo de uma
mulher.
F. qual ú esta mulher ?
E' n mesma e qu(>m o Salvador chama sem­
pre no Evangelho c11lulher,> em voz de : minha
Milo.
-Mulher, eis ahi o teu filho (,Joan. XIX.26)
-Mulher, que nos importa a n6s f (Joan.II. ·O
'fel é a mulher predictn no Paraizo e roali­
z:mdo a prophecia pela sua conceic;i'l.o immaculada,
esma�:indo a cab(lça da serpente.
Esmagar a cabeça da serpente ó escapnr á
sua domihação, é ncar ii:Jonta de sun mordedura
e dominnl-n pela santic'hu!c.
Ora, tudo is!"o 1� clrtrrtmento o qno constituo
o privilegio da Immaculuda ConC<Jiçllo.
Não se limitando tnl prophccill a E\·a, os pro­
testnnteA do,·om f'ncontr:ir qunlquer ou�r:l mulher
que tenhn este privilf'gio, poi!\ clM·o <'Ú"tir rm
qualquer cririturn. sii;:l.o �o i:l. uma provhecia st·m
objocto, o que nrio 1-;o póclo ndmitlir.
E qual so r(t <'�L"l mnlhrr f'RmogaTHIO :i <'3ht'Ç:'\
dn serpente? Remi 1�:1c\wl, RPlJ('•Wrl, Rnrn, Doboru,
Judith, Abiga il, a Sulnmitn, E�tho�, Koemi, Rcs·
pha, n mão dos )fachuL<'UR, umriH tantas figur:ts
dn )Hío do Deus?
Ou ainda, no no,·o Te:.tomrnto, sr>r� Mari� �fa­
gdalona, ou qualquer outr3 dnFI Rintns mulbci::es ?
Caros protestantes, reUictnm um in1tante e
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-73-

tomprehenderüo que a
unlea mulher, cheia
"'- graça, bemdita entre todas as mulheres, é
Maria, a Virgem Santa, aMao do Deus.
o d a
Sendo ella a esc lhi a, mulher prophetizada,
pois cl\a que, sendo dnsemen te da primeira
mulher E\•n, escapou ti dom naçil do domonio, fi.
i o
e:mdô isenta de sua mordedura, e smaga do a ca­ n
b.>ça dn serpente, numa palavra : é Immacula•
da em sua Conceição.
Querendo ou não querendo, polo texto da Di­
blia como pelo bom sonso, tí.'m que chegar a Ma­
ria Sma. e reconhecer que 6 elln que foi prophe­
t11ada no texto citado.
Deste modo é de novo uma revelação lm·
•Uclta da I mmaculada Conceição.

V. A raça da mulher
Nilo paremos aqui, mas estudemos cada phra-
1e desta passagem prophetlca da gloria de Maria.
Provndo que tal texto se npplica á Mll.c de
Jt'stn, analysemos os seus diversos aspectos p:i.m
melhor destacar o seu objecto central : a vtr..
&em Jttarlu.
Porei inimizade entre ti e a mulher.
Notemos bem que nüo 6 s mple!!\ mentc entre
l
En1. e n serpente, mas sim entre a· mulher brm­
dila r n semente da serpente.
:-.inda póclc haver de mois formal !
Prlo pcccado original, Eva, Adüo e toda
a sun posteridade estãosujt!itos ao
demonio.
N11o ha simplesmente guerra, mas sim do­
mblio de Satanás sobre a raça humana.
F. eis que Deus, annunclando a mulher,-a
\"irgem Maria, cuja semente é o Chrlsto, diz: po�
rd inimizade entre ti e a mulher.
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-74-

Que quer dizer Isso ?


E' um modo energico de dizer quo Satanás
não estenderá o seu doml.D.lo sobre esta mu..
lber. . . qoe entre ambos haverá uma opposiçllo
radical, uma inimizade de raça.
E' a razão porque Deus completa a ldéa,
dizendo: entre a tu.a posteridade e a posterl.da.
de della (Oen. UI. ló).
Reault& necessariamente desta addiçllo que
as inimizades que devem existir entre a serpen­
te e a mulher, Maria, são as mesmas, que exis­
tirão entre a serpente e a posteridade da mulher.
Esta semente é Jesus Christo.
Deve existir, pois, entre a serpente e:Maria, a
mesma inimizade que existe entre a mesma ser­
pente e Jesus Christo.
Ora tal inimizade fundamental entre a ser­
p ente e Jesue Christo é a ausencla completa em
JeBus de todo e qualquer peccado, sendo o pec­
cado a figura e representação de SatanAe.
Logo esta mesma ausencia total de todo o
qual
k�! 1 :� s!i."ec:�:rb::.
pecc 0
dev r
Marl
no s �:��
estacfo em que ella o conceberA : na inimiza·
de do mal. ou na lmnlaculada ConcelçS.o.
Podemos e devemos appllcar a ambos : á
mulher e á sua posteridade, á Maria o a Jesus, o

�ma:t:di�r����:6;:��s:! :=:%h;�cÔe����5).
Maria esmagou a cabeça da serpente pela
sua lmmaculada Concetçao, como jâ ncou dito,
embora o demonio armasse traições a seu Qal·
canhar.
Taes traições são oa aoffrimentos phyalcoa
e moraes, as perseguições, as barbaridades, os
crimes, o annlqullamento de Jesus durante a aua
Paixão e morte, que seriam para qualquer outra
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- 75-
oa que Maria, tentações de deaespero, de
confiança, ou pelo menos de temor, de duvi­
como o foram para oa Apostolo&.
O demonJo procurou deste modo abater a
ragem, diminuir a confiança, resfriar o amor
Virgem Sma., sem nada alcançar, pois a fé
Maria, a sua esperança e o seu amor esta­
multo acima das vacillações humanas.
O demonlo Ignorava o segredo da lmmaculada
Conceição; por isso tentava-a, torturava·&, sob o
so de suas perseguições, mas em vão: só pou­
alcançar o calcanhar, isso é, o corpo da Vir­
aem Santa, continuando a sua alma elevada na
região da fé pura e do amor divino.
Armou traições, mas foi esmagado sob o pe�
., deste calcanhar virginal, que tinha o peso da
antidada de seu divino Filho.
Ets o sentido claro desta bella propbecia.
Na.o é preciso vergar ou adaptar o texto sa.
srsdo á these aqui delendlda ; é o seu sentido
obvlo, sempre acceito na EgreJa e delend.ido por
todos os seculos.
Bella e sublime revelação lmpllclta da Im­
aaculada Conceição.
VI. A grande discussão
A bella prophecla, que acabamos de analysar,
u tn m d
re��B� :e:i� �eS::sa������t: S��D��:i�s��; :
tllscutida pelos protestantes, attrlbuJndo·lhe uma
ligulftcaçn.o dlfterente da lnterpretaçao cathollca.
E' o que aconteceu.
Nas dlversai versões da Blblla encontraram
..a variante.
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-76-

O texto da Vulgata e três versões gregas


d.lzem:

A mulher te esmagard a cabeça (lpsa) auté


As versões hebraicas dizem :
A seniente da mulher te e�magará a cabeça
(lp511D1).
Outras versões gregas dizem :
O Filho (o Chrlsto ) te esmagard a cabeça
(lpse) autos.
Uma versllo egypcia diz :
EUes(Jesus e Maria) te eunagarao a cabeça
(lpsl).
Eis um precioso achado para os protestan­
tes poderem protestar . . . .
Haja dlscusaAo J haja objecções l para excluir
a Virgem SantlssJma desta primeira pagina Bi­
blica.
E no meio da balburdia os aID.tgos protestan­
tes na.o notaram que tal mudança de pronome
ipsa, ipse, ipsum, ip$'l, tem apenas um valor se­
cundaria, qu_e nua muda em na'da o valor pro­
batlvo do texto nem a extensao de sua signifi­
cação.
Qualquer que seja a versão adaptada, o tex­
to prova sempre o ttlumpho da mulher, que é
a Virgem Immac uladn.
O essencial é que haja uma eterna inimizade
011.tre a mulher e o demonto. Porei inimi2ade
en­
t e ti e a mulher.
r
O texto contestado é o seguinte :
Deve-se ler :
et caput tumn.
ou : 1J;S:• c�h::�1:nt 1a;ut c:;:�;e,;_
Ipsa, é claramente a Virgem Santis$.lma.
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- 77-

Jpse, é Jesus Christo.


Jpsum, ó a semente, ou Jesue Christo.
!psi, ó Jcsus e Maria.
A Egreja lHlJ.ca pretendeu outorgar directn.­
mente á Virgem o privilegio de esmagar a caba­
çci da serpente, exclusivamoutc po1· si, mas uni­
lia a seu Filho, pela acção de seu Filho, como
.Jtae de Deus.
Pódo-se pois adaptar qualquer uma destas
vm·sões : ipsa, ipse, ipsum, ipsi, rlizenclo que é
�latüt Sma. ou .Jesus Clu·isto, ou ambos, ou a se­
mente da mulhel' que esmaga n cabeça da sor­
l'l'.mle.
Quem a esmaga é Deus·Homem, pois Je­
sus Christo é Deus e homem.
Como tal, Ellc é necessariamente unido â sua
Mfic ; e esltt ultima, junta. com Ellc, esrcaga a
�ttLeca. da setpentc.
Jesus Ciu·isto o faz direclamenta cm qual­
C\Ul'r bypothese.
Mal'ia. Smu. o Iaz indirectamenla, ficando in­
sepanwehnente associada a esta olJra de csrnn·
g:umento.
Adoptendo com a Vulgata. a vc rsílo de i11sa,
<lizcudo que é Ma.ria Sma.. que esmagou a cube.
ça. da serpente, mi.o é elln. só, mas unida ao Fi·
lho, pelo Filho, como sendo !útle de Deus, que
o fnz.
E' Jesus, pela sua Encarnaç11o e Redempçüo
que destrnlu o reino de Sat<.tUá'.j, csmagando-l!J.e
a. cabeça pelo pé virginal de sua M<1 .. e.
Isto é tão logico � tsto simple". q LlO, nas ver­
Ri>ci> Egypcias a mulher e o filho são unidn8
num unico pl'onome : ipsi : elle::J l8 esniagarão
a catJeca.
E tal expressão é ainda a mais clara e a
mais logico, expressiva., inc"Jcando deste modo,

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-71!-

nom termo unico, o principio e o Instrumen­


to, o filho e a mil.e. (1)
Eis a tremenda discussão levantada pelospr o­
testantee, com o intuito de excluirem deste tex­
to a acção cooperadora da Virgem Sma. e de
diminuirem uma citação que exprime e revela
implicitamente a sua immaculada conceição.
Tal discussão, como se vê, em nada prejudi­
ca a gloria de Maria Sma., de modo que, através
das discussões humanas, a palavra divina conti­
nüa resplandescente, fulminante, mostrando-nos,
desde os albores da humanidade, a figura lumi­
nosa, symbolica, de esperança e de misericordia
da Virgem ImmacuJada.
Tal é, aliás, a opiniAo do proprio São Jero­
nymo que escolheu entre as quatro versões a
dos Setenta, reproduzida nas outras hebraicas que
trazem ipsa, o que é a mais clara sinão pela exa­
ctidão grammatical, mas pelo sentldo espiritual.
Elle mesmo dá a rnzilo desta preferencia :

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--79-

•Nlio póde ser outra a semente da mulher,


escreve clle, sina.o Aquclle ue o Apostolo diz
q
ter sido feito da mulher, isto é, Jesus Cbristo
(factum ex muliere) Gal. IV. 4). O Chrlsto é ver­
dadeiramente e. semente da mulher, havendo El­
lc nascido sem a cooperaçllo do homcm)f,

VII. Conclusão
Como acabnmoR cio t er, o nublimo dogma da
Immnculcda ConCPição não está explicitamente re­
velado no Antigo Tostamento, n�o hn\'endo razão
para que Deus mani festasse aborta o publicamente
uma verdade, muito nci m n da comprehcnsãe dos
Judeus.
Deus agiu do mesmo modo com a revelação
do myeterio da SS. Trindada. novelou-o im.plici­
tamente, em termos e compn.rnçõos veladas, que
nito doixnm apµnrecor logo o mystcrio, m:is por­
mittom aos seculos vindouros, nn hora propicia,
deduzirem estas verdades, como conclusão, de
outra'i \'Brdades, explicitamente reveladas.
.e deste modo que ngiu com a lmmaculada
Conceição. Ha i11clicios, ha indicações, porêm de
tal modo confusas, q ue só depois de bem compre­
hendidas outras \'erdndos, ó possivel deduzir del­
las a Immaculada Concoição.
O que dominn no Antigo 'l'estamento é a Vir­
gindade de Maria. Isto é claro é positivo :
O Senhor t'OS dard um si.gnal, d isse !saias a
Achaz. Eis que a. Virgem conceberá e dará á luz
um. filho, e cha11w1·ao o seu nome : Emmanuel,
isso ê : Deus comnosco ( !sai. VII. 14 }.
O Salvado!' cle\·erá n asce r cio uma Vi rge m : .e
uma verdade b:-isic.1, que deve servir do principio
ás. outras verdades.
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-80-

)hs Dous rl"servou a hora e o modo da pro·


c�:'li_;i -11,·.lo de outras verdades, incluidas nesw pri­
m...1r:1.
t'm pensamento sublime, embora ainda O('cul­
to. domina a quáJn do primoiro homem : ó a re­
paração-E' o S:ih-:idor promettido e a -.eçi\o
repa1·ridora deste Salvador.
E' um pa.rallello que Deus Mtabclece como que
timidamente f'ntro A<lão e o Christo, e no mesmo
t::.mpo entro Eva e :\faria
S.io Paulo fornl'ce a base desto parallclo, di­
zl'1n\·J :
O primeiro homem, iiindo da terra, era ter­
rrslrc. o segundo, ttinclo do céu, é celeste (1 C•>r.
XI'. 47).
Ao lado do primeiro Adilo está a mulher, a
r111�·m Arl;io deu o nonie de Evu, porque dct:ia srr
a Afãc dos viventes (Gcn. lII. 20).
Ao lado do segundo Adüo, de ,Tosus Chi illlo,
r�l.á o•itra mulh er, �JJ1ria, ele quem Eva ern a fi­
r,m·J., q ue dovia SCl' a l\lão cios vivontes, em Chris­
to, 1wln graça.
Júia Evw contraria, diz S. João Chrysos:tomo.
T·•rminemos c.:;te capitulo poln compnr::i.r.do
Al'L'i.l Ev.:i e :)hria, pois dPSto p11rall<'lismo �obr"·
1;;·111' ndmiravolrr.onte a Conceição lmmac:uladci
ú·� :\hda.
E''ª ó figura cio �faria, o esta de\'e ter relo
m•rnos todos os dous e pri\•ilPgio:; da primeira
mJo dos viventes.
Eva foi dircctnmonto Cl't::adn por Deus, no PS·
t:Hl'> li� innocencia perfeita, pura, e ndorusd,t dos
doas da n9.tureza o da graca, om outros termos,
111.hindo rlirectamente das mãos de Deus, ella foi
hnmaculada.
E' preciso que Maria, a restauradora da ordem
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-81-

pc1 turbada por EYa, eeja, pois, tam l>f'm hum.a·


cuJada.
E' o unico Ponto de egua!dade ; f> m todos os
outros pontos ?.Jat ia é contraria a Et'll.
Eva nos frouxe a morte : Maria nos tr.. z a vida.
O fruto de Eva foi mo1tal : o hucto de Maria
é vlvlUcante.
Eva foi causa do logrimas : Maria é causa de
aleg:rla.
Eva separou Deus do homf'm : :Maria os une.
E\·a nos attrabiu a maldição : Maria nos ob·
tém a benç.am divina.
Eva nos impoz o jugo do mal: Alaria nos leva
ao bem.
Eva suscitou o odio : Maria laz reinar a paz.
Eva nos lançou nos laços da morte : Maria no
aeio da vida.
Eva foi a causa da quMa: Maria 6 a causa
do levantamento.
E assim por deante.
Os Santos Padres fizeram innumeras appro­
:timações de E''ª e de Maria, para ealientar seu pa­
pel regenerador, e mostrar que, por ella, somos ele­
vados mais alto do que nos rebaixou a falta de Eva.
E\' innocenle foi o symbolo de �faria.
}�"ª decahida é a opposição de Maria.
Formada pelas mãos de Deus, Eva era lm·
maculada antes da quéda.
Maria, devendo reparar esta qulid3, devia es·
tar no meFmo estado quo Eva antes desta quéda
de,•ia ser immaculada. (1)

(1) Eva conlraria Evie: Eva enim feclt filios suos tnJ�
mkos Dei ; Maria oos pactficavit Deo. lllamatercuuctorum
Ylventium, spirltualls lnterfectrfx; hree cunctorum Mater,
911lrltualis vlvlficalrix. Ilia maledJcta multlplJcatur a Deo:
kc buedicta ln Mutrls utero (S. Antoninus ln sum. parte.
' t 61 e. 13).
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-82-

Como ''illlO'< :.1 p'll:tn·a Uh·�n'l. nn t"'x'o 1'....,,.


p'.1e!ico, 6 claro Jnl)Strando·n')� � Mitlhr.r hsm tih.
QSmaga1u?o 1 cnbA(,>.1 eh serp<>11•n, c•)n'O :ts�o +hbt
ao Rod�rPIJf•l�. ruj:i \"i..!Lnrits !OOIJ"tl o � :1!. thwit <:&•r
p·1r.i'h11rla P"I • .;11·• pro11rin M i�
f.fo.rh1. é Imm::iculad.111 p')r(lll" o.:.ta p..e!-."'l­
j'.!a!i\'a. sati.sFR.! .i� t> xg-encll\�
i d1l P3!'í'1 Qt!C l!ur' .1
deve c:...l"rcer, nim•1 �!:1� d€' ncu->.
TudJ o extg.-•. tuJo o i n111 . ., 0 o pi·,1�,·l 1
Deus, p<tra prcp'lr.J.r o espfrit" tl h f!omcn<;, rt�i
'" entren.'t', »trn\·(!.; d'ls pagina� . ; a•rarl:ici, tt f'1d�-
1.·1:ci�1 deste prhile-�in. qu!! ,. •1··�1!�o i N)Jfll .n1 •·
,.,.. r cl1rl\ f' JV).::;!1h·t1'.
n.t:nt''. ('.O'.J 1;·1 11hd•t ':.tf•i 1
' t:ld'Jo. n-1 :\° )\"O Te"�'.l!:tt"�to

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C l'I P I TU l'.; 0 I V

A Immacalada Conceição
SEGUNDO . As PALAVRAS DO ARCHANJO

Já eomprehendemoa a conveniencia e a ne­


cessidade da fmmaculada Conceição de Marie,
provada pela razão e pelo bom senso, e vi.mos es­
te mysterio delineado, annunciado no Antigo Tes­
tamento, tal uma aurora que precede a appa­
rição do sol resplandecente.
Deus manifesta as grandes verdade.a, á me­
dida das necessidades das almS8.
Taes verdades existem; mas, ha uma hora
providencial em que devem ser manifestadas ao
mundo.
O Cbristianismo d.il!ere das religiões ou con­
cepções humanas, no tocante á sua promulgação,
Os systemas humanos manif�tam logo tudo
o que são e o que possuem, em formulas inva­
riaYeis, incapazes de deeenvolvimento e de ex­
pe.W1Ao.
A doutrina cbristã, desde l a sua revelação,
forma um conjuncto perfeitamente ligado em to­
das as suas partes, porém de tal modo coorde-
q e t or
;:�:a � �;:E:� �o�:�d� o!11ª;�n1�s Efu:'�
aecessario destacar, par.a responder aoe ataques
dos inimlgo·s e oonservar a integridade do depo-
to divino.
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-84-

E' o que vamos estudar aqui, e o que cons­


tataremos admiravelmente :>.a õase, no desenvol­
Vimento e na manifestação da Imm.aculada Con­
ceição.
Procuremos primeiro, no Evangelho, a reve­
lação deste dogma, desta vez expllclto, em seu
conjuncto, embora ainda veladct, como que para
deixar á Egreja a iniciativa de descobrir nestes
textos, á luz da tradição, a verdade luminosa e
certa.
Destaquemos as seguintes revelações quasl
explicitas a este respeito :
1 . A plenitude da graça em Maria.
2. A predestinação de Maria.
3. A união de Maria a Deus.
4. A integridade corporal e espiritual.
5. A precedencia sobre todas as mulheres.
6. A graça perdida e achada.

L A Virgem Maria
A prova mais explicita, mais luminosa e mais
decisiva da Immaculada Conceição, são as pala­
vras, com que, em nome de Deus, o Archanjo
veio communicar á }!aria Sma. o mysterio inef­
favel da Enearnaçao, pedindo-lhe que consentis­
se em ser a Mãe de Jesus.
Tudo ali é divinamente bello e divinamente
profundo, mostrando o que já era nesta hora a
virgem Santa, e revelando o que havia de ser
no futuro.
Retracemos, em breve commentario, esta
seena sublime, destacando apenas o que se refe­
re é. sua Conceição Immaeulada e o que prova
a existencia deste privilegio na humilde Virgem
de Nazareth.
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- 85-

Foi enviado por Deus o anjo Gabriel a uma


eidade da Galiléa chamada Nazareth, a uma
J"irgem desposada com um varão, que se uma
mava José, da Casa de David, e o nome da Vir­
gem era Maria.
A' entrando o an.io onde ella estava, disse­
llle : Ave, eluda de graça; o Senhor é comvosco,
bem.dita sois vós entre as mulheres.
Nao temas, Maria, fois achaste graça deante
de Deus. (Luc. 1. 26-31
O Archanjo Gaflriel foi enviado por Deus;
temos pois uma verdadeira missão divina, de tal
modo que as palavras do Arcbanjo, como men­
tiagei.ro, especialmente enviado por Deus, são
palavras divinas. Nilo é elle quem fala, é Deus
quem rata pelos seus labios.
E' enviado a uma Virgem. Vê-se logo pelo
contexto que não se trata aqui de uma simples
Virgindade, mais de uma pureza mais elevada,
como mostrarão as palavras do Anjo.
Deus faz notar que esta' Virgem era desposa­
da, como que para melllor salientar a sua virgin­
dade, pois a virgindade sob o véu do matrimo­
nio, denota mais virtude e mais heroismo que
de uma simples joven, virgem ainda pela sua
condição de solteira.
E esta Virgem chamava-se llfaria. O pro­
prio nome da Virgem deve ter uma significaçã.o
divina, pois é uma tradição Iundada que tal nome
foi por Deus revelado aos progenitores de Maria.
Maria, em aramaico: Mariam; em hebraico:
Miriam, significa :
Estrella do mar (meirjam)
Amada de Deus (mritjam)
Senhora-princeza (marjam)
Três significações que são como três Utulos,
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-86-
exprim.Jndo, de modo metaphorico,
- as grandes pre-
rogatlvas da Virgem Santa.

Elia é uma estrolla luminosa pela sua


santidade consummada, pelas suas virtudes su­
t o os q
blimes, que illumina od s ue navegam nns
.ondas do mar tumultuoso, que é o mundo.

Elia é a nmada de Dea.s, pela sua Imma·


cnlada Conce1ção, que ooll a oca
acima e o as d td
as c
riaturas, e a faz entrar na Intimidade 4e
Deus, como os nossos primeiros paes antes da
quéda original.

Elia é o. Senhora, ou princeza, soa pela


oc
Maternidade divina, que n ass ia para sempre
ao seu Filho, unida
á sua realeza, reinando por
graça e privilegio, em todo logar, onde reina
o seu Filho,
por justiça.
O mundo chama Jesus NO$SO Senhor.:
Devemos chamar Maria: Nossa Senhara.
Jesus é o Rei do céu e da terra.
:Maria é a Rainha do céu e da terra.
Tudo isso está expresso em o nome que o
Altíssimo deu A Virgem
Na.zaretb,
de ltlnrla.
O Evangelho faz notar que Virgem
a era
desposada.
fncto, porque ficando
Assim devia ser, de e
nascimento milagroso d e J. Christoum mysterio
desconhecido, que nem o mundo, nem o demonio
deviam conhecer, antes do tempo marcado, em
necessnrio dar a estenascimento as
todas appa­
rencias de um nascimento natural, e noscastos
e ca
esposos, as appar n i s de uma vida matrimonial.
Pode-se reduzira cinco os motivosdeste
matrimonio :
1. Para que nem Jesus, nem Maria fossem
expostos á desbonra.

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- 87 -

2. Para que Maria tivesse um testemunho in­


�pcito de sua ''irgiodadc.
3. Pera que Jesus fo3se Eustentado e nutrido
f'm sua lnYancia, como as demtús crianças.
4. Para que Mari!l, honrasse o matrimonio, que
� o estado da .uaior parte dos h omens, e pudcs­
e servir de modelo ás virgens, ás esposas e
as viuvus.
Estes preliminares solemn es e slgnlttcnti\.·os
jâ deixam entrever u scen:i gloriosa que "amos
r escncia:·.

n. A saudação do anjo
E entrando o anjo onde ella estava, disse-lhl':
-AH, eheia d« [i1'nfU 1 Ll.C. 1, :!b).
Cnmo tudo ó nim�; lci> nt:�la phrase . . . ) c­
"'�Hlr..l prelimim1r, nenhu1a;i en:pha'ic. . . nen!nm a
1lavru supcrt1u:1.
A lradl•;!\o i:os mQstra o l.iminoso Arcltan­
' so':> a f61·ma hum'.lm!. penc!rondo, fo ; l'·:·pcntc,
ll humllda crmL!a de :faz.i!·cth, onde esteva. ah-
1rtu. em coatemp:laçt:o a lt'Jtn!ldc Virgem e, in­
::::mndo-sc re'ipeitosamt:ntc-. r.i i ri�e-lhe a SBuda­
:o uca•lJ. na P:ile8fü t'1 : .trP (J(lu..irê-alcgra-t",
:zl•·r, a 11az srjri eomtiyo-Dru.'i tr ��alrf' / Avc
:er dizer tudo if!so.
Um1 tal saudação c:n ns:l cnü·c ns pt1ssoa5
atti1ign�, revestidas de digr.ülatle, nunca tinha ca­
,(do cios ln.Lios de um anj'J pun:. so.uda.r uma cl'i­
a.tura.
Quamlo, no antigo Tc�tamento, um anjo ap­
p ceia a a.lgucr:1 , elle ficuvJ. cm pt'.:, graYe e ma.­
ce�toso, cm1pa.nto o privih•c:i<�do dn appari<;íio so
ir...t;trava -
: om u t.oa:� <:>m te:r:i.

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De facto, como faz notar S. Thoma:?:, o ho-


i n r te e
��e�i���':n ���� ��::J� :� d�;!��ºàJe�r�� tI�fd!
"''m Deus e em graça.
Mas aqui os papeis sa.o intervertidos. A Vir­
gem Marta é superior ao anjo nestes três pontos.
Os anjos são mensageiros de Deus; Maria toi
escolhida para ser a sua mãe.
Os anjos cercam o throno de Deus; Maria
carregaria em breve o seu proprio Deus.
Os anjos recebem as graças conforme a sua
hh!rarchia e missa.o ; Maria está. cheia de gr&Çti
pela dignidade que o Altissimo vem lhe re­
velar.
E', pois, necessario que a Virgem permaneça
de joelhos, e que o archanjo se incline deante
delia.
Ave, cheia de graça (Kekharltõmenê) que
tem a dupla significação de repleta de graça e
pu lclterrima em graça.
Notemos logo o modo de saudar. Á primeira
vista parece que o anjo devia ter dito : Ave Ma·
ria, cheia de graça.
Nilo devia ser ; a significação teria sido diffe.
rente e multo diminuida.
O que o anjo saúda nAo é slmp1esmente a
pessoa de Maria Sma., como o teria feito, dizen·
do: Ave Maria; não, elle substltue a pessoa pela
prerogatlva que occasiona esta saudação.
O que elle saúda é: a cheia de graça I
E' neste sentido que a Escriptura chama Sa·
lomão : Sapiens, como chama Jesus Christo: o
Justo, como chama S. Paulo: o Apostolo.
Maria é : a cheia de graça-a plenitude da
graça numa criatura.
- ' 0� seu
�· �:� ���ca�!vc.> proprio.
):; nome unlco.
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Elia ê a l"irgMn Maria perante 01 home lS
Perante Deus, elia é: a clief.a de gr.iça!
Ave, cheia de graça I
Tal é o seu nome divino.
E este nome é ldentico ao q 1e e11a mesmo
roclamou na apparlção de LourJes : Eu sou a
mmaculada Conceiçd.o !
Cheia de graça e lmmaculada CJnceição,
o- dois nomes parallelo1, identicos, e '<pri�indo
mesma verdade.
Examinemos esta exp1·essão.
Dizer que um recipiente está cheio, é decla­
nr que nada mais póJe conter além do que jli
dentro.
Peço aos amigos protestantes dizerem si a
lftmacu.lada Conceiçtfo é, ou nB.o é uma preroga­
a, um dom, uma pcrfclçn.o.
Si o é, e admittindo que Maria Sma. na.o o te­
a, é preciso dizer que ha uma qualidade que el­
podia ter e qnc nilo tem ; logo, ella na.o é mais
cheia de graça, e o Espirita Santo mentiu, dan­
lhe este titulo.
Uma cousa ou outra:
Ou São Gabriel disse a verdade <'U mentiu !
Si disse a verdade, sendo Maria cheia de gra.
é preciso admittlr a lmmaculada Conceição.
Si S. Gabriel mentiu, ah! então os protestan·
têm razão contra os proprlos anjos.
E não é sõ isso! . . . ha mais do que isso.

ID. A toda formosa


Os protestantes não apreciam a traduoção Ca·
lica de , Cheia de graça-Gralia plena.
Preferem traduzir o texto grego: Kekharttôme-
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né por toda formosa em graça, ou equivalentl'.


Tal traducção não é errada, pois embora a \'er­
são latina : gl'alia plena, não so presto a esta tra­
n
ducção siniio do lo ge, o texto hebraico o permit­
te sem difficuldado. ·
p
Aliás, o sentido é o me1tmo. E' a ena outro s
n s
moclo de co siderar a me ma \'erdadc'.
Que á a graoa santificante 'f
E' um dom d ,·ino que nos Caz santos e just-os,
i
filhos de Deus o herdeiros do céu.
Pódc-se dizer simplesme11t'3 que a graça é o
que nos torna egrndncis a Deus.
Ser agrudavel 6 uma qualirlnde.
'fodn qua lidade pertence a uma substancia.
O ser agrada\'el é uma qualidade da alma.
Dizer quo Jilaria foi a tocla formosa, ó pois
exprimir que ella agro dou o Deus. tnn10 quumo
uma criatura p6clo ugradar,em outros termos, quo
estava •cheia de agrado> ou «cheia de gtaça- ,
pois ogrado ou gra<t-•. podem sc1· wmallos como
synonimos.
Cheia de agrado, ou formosura1 quPr dizer
que esgotou a medida do ag!'udar a Deue.
Ora, si houyesse uma q11nlidade, que !iz.esso
Maria Sma. agradar mais n Dous, ella não eis1aria
cheia deste egrai.lo ; faltaria qualquer cousa, e doJ
novo a palavra do Archanjo
Sl:ll'ia mentirosa.
A alma do .?ilaria ficou pois acloruada ele to-
d
i
�ª!n�\�e ����� ul'�lfl iJ;��s ":�8t� a11Y��m����Jc!'5ê�;��
ceiçao.
Logo, Maria S,., foi Immaculatla ! . . de\'ii:i sei-o,
para o seu est ado correE:pocder á sa1..al:H,;ão di­
vin de
a S. Gabriel.
Não quer diier isso que Maria Sma. N:gotou
a graça; não, ella cresceu sempre, de dia em din,
até õ. ulEma ho:·a Ce ma ,·id1,
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EUa estava cheia na oceasião de sua Con·


ceição Jmmaculnda-cheia na occasii'io da An nun­
cia()lo, Cheia na oe·�si.ao do nàsciniento cio Rulv!l­
dor, cheia nu ot'casião de s1rn ruort('; mns CRl:t» di­
versns pl enitu dei;:, embont differentc:1., formam uma
plenitudo unica ; no sen tido que a medida que a
alma da VirgG:n se rlil::itna pola graça, oHa. so tor­
ºª"ª c;tpJz. do aogmentnr a sua plenitude.
Um rPgato cheio ê dirfer<>nte rle um rio cheio,
oomo f'Sto ul tim o é d ifforonte elo mar e:heio.
S!o pl&nitudca, mas pl eni tudes ditfrrcntcs, con­
forme o ta.mRnho do recipiente.
A Vir,(lem Santa foi sempre cheta ele graça,
cheia, dc!!do a sua Conceição, at6 a sua morte, em­
bora n sua alma fosso sempre se di lata ndo mais
peh virlude>, o con�neto de Jesus os Sacramentos
,
o o amor du Deus.
Esto sen tido ó obYiO natural e Joi:ioo.
,
N:t oocasião <'ln qt1<' o Archanjo pronuncia•A es­
tas pa\ n-r1!fl, i\h ria Smn. P.rn simplesmPn!O a l'ir·
gem de .Vazareth, não er:i. ainda a mae ele Deus.
Eite u!Umo do\'i-t cnc:i.mnr-so fm seu sei o im­
mac;ilndo, n1>ó.i clla ter dado o seu consentimento,
dizendo : Faça.se em mim segundo a tua paLa­
vra. ( Luc. 1. 38 )
O Archanjo chama-n : clleia de graç t. nio por
causn dasua m a ternidade divina, que ainda não
SIJ renlizára; ma� por causa de sua lmmacttlada
Conceiçao, que fazia. della, desde o inicie\ a mu­
lher bemditn e,11tre todas as mulheres . . . a mulher
unica, eseolhUa, tendo conser\·ado, por preserva­
Çio, a innoconcia o a ju:.tiça origino!.
Quo manifestação mo.is clara, mais pos:iti\'a o
mnis explicita da Im macu!all a Concuii;i'i.o, 1>6de-sa
uesc.jnr.
'f.: uma revelação ex:pllclta, embora ainda
't'el r.d", q11:.ii recel.,erl'i a s�1a ultima expA.n::ião1 � ::ul

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ultima irradiação do dogma luminoso, nas affirma­


i;ões da Egreja universal, como sendo uma verda·
de transmittida doa tempos apastolicos nt6 hoje,
pela tradição unanimo dos seculos christãos.

IV. Nova objecção protestante


Como se vê, o passo em questão ú um dos mais
decisivos o explicitos do Evangelho, o que mais
claramente revela a Immaculacta Conceil:ão da Mãe
do Jesus.
f: a razão porque os amigos protestantC's pro­
curaram deturpal·O, desvial·o do seu verdadeiro
sentido, e até oppõr lhe textos semelhantes, para
r i
provar que o te mo-che o de-não tom uma
significa�1ão tão extensa.

Isab�rfig��"�11�i�1�1i�����t;i��;;tgº{1�ux:l�1{)
( T. 67)
Zacha·ri.as . . . foi cheio do Espirilo Sa11to
E será cheio do E�pirito Santo lá)
(Luc. 1.
Destes textos, os protcstant<.'s concluem : Si
Maria é Immaculada por estar ch<'ia rle graças,
então, I�abel, Zachnrias o João Baptista, são tam·
bom irr.rnaculados, por estarem cheios
do Esririto
Santo?
Bolla argumentação . . . de criança.
Si os caros crentes lessem o texto inteiro ,.&­
riam immediatamente a differeoçJ. radical destas
duas expressões.
Estar citei.o do Espirita Santo, na linguagem
biblica, quer dizer ter o dom de propbecla, de
modo que não é a tal pessoa que faia, mas é bem
Dous que fala, pelos seus labios - Sicut loculus
est per os sanctorum, et prophelarum ejus (Luc.
1. 70).
Por isso, em seguida de cada uma destas ex·

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pressões, cncontrn-so que esta plenitude do Espi­


rito Sant-0 consistia em prophetizar.
Do Sta. Isabel o E\'angelho diz ('m segui da :
Isabel fi.cou cheia do Espirito Santo, e excla­
mou em aUa voz : Bemdila sois vós e11tre as mu­
lheres ! ( Luc. I. 42)
De Zacharias, diz : Foi cheio do Espirito San­
to, e propheUzou, dizendo : Bemdito seja o Deus
de Israel (Luc. I. 67)
De São João Baptista d i z : E será cheio do
EspirUo Santo . . . para preparar ao Senhor um
povo perfeito ( Luc. I. 17 ).
De Maria Sm•, o Archanjo diz : Ave, {}Talia ple­
na - Ave, cheia de graça, ou: toda formosa em
graça.
Este termo não significa simplesmente nm dom
transitorio, como o é a propbecia, mas, sim, um
dom permanente, adherento á alma, o que só
pôde ser retirado pelo peccado.
Como ficou demonstrado acima, o grego Ke­
kharít6mené, par1icipio rassado de Kharitõo, e
thari.s ê empregado na Biblia para exprimir uma
plenitude completa e permanente, no sentido 1heo­
logico de sel' um dom divino adhercn te á alma.
A S('gunda intorprets ção :-loda formosa em
,,.aça ou ai nda: toda gracim1a pela grAçn -- omnino
1Taliosa reddila, tem o mesmo smll.i clo P!cnnm l' n ­
&e g-mciosn, ou formosa peln gri:çn é, do facto, a
mesm a cousa quo cheia de
graça.
Omnino plena ocelesti gratia, como dizem oe
terprotes. ·
1'011\ objt.>rt,:ào não somento r.ão onfraqu('ce,
a�, ao contrario, robustece a interpret.nç:io ca1ho­
. limitando tal expressão á lmmaculada Con­
çáo que ó 11 plenitude da formosura do uma
a v i rgi n a l, que só foi outorgada, por privilPgio
lfão de Jesus, e que Jesus po�suia, por direito o

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como sendo n plenltu•e perfoita e suprema, a


fontil da graça dh•ina.

Oe thoologos oitam ai nda outro :irgumento


em prova da Immaculadn Conceii;:io. (1)
.A graça eSJtAva n a S rua. Virgem, do masmo
modo quo ella ú em Deus.
Ora. o proprio da graç11 em Dous ó de nun-
ca lhe ter faltsdo.
Logo, nunca pódtJ ter faltado ua Virgem Santa.
Notemos a torça deste argumento theologioo.
Para comprehendel-o bem, ê preciso lembrar
que as obras de Deus i!lo eternas, e Elle rea·
!ir.a aponuc, no tempo, o que decretou desde a e­
ternidade.
DtJsdo a e tornida do D>Jus resol�erd fazer de
M:iria Sma. a mãe de seu Filho encarnado. Prop:i·
1·ou-:i para 0se0 fim.
Ficou a V irgom usociada a Dous. desde a sua
Conceição, para a realização do sublime mysterio
d::i Enca rnuçiio.
Devia, pois, em vi rtu de desta escolha, prese:-·
nl-n rio pecccJ.do original e fazei-a .naecor imma­
cu1ada desde o p rimeiro instante de sua e:xistoncia.
Si nssim não fosse, a Virgem Santa, inf06t&·
dn pelo peccado, �mq11anto peocattora, estau<io vir·
tualmenle u nid a a Deu&, ontraria uos decretos do
Etemo, 001110 peccadora, seria asaooiada, senda
p.:occadora, no myt1terio divino da Encarnaqão, que
existia já, dosde a eterni dade, cm Deus, ant.9s de
r\!OOber a sua execu�ão, no tempo.

(1) Le(l:eoirr: Tract. de B. V. M., C. 1. n. 11.


ltJ. gratJ.a fu1t in B. V. ut iliam slrupllclter inveDerit apud
Deum. Atqui grauaru a1mpllc t :r apuJ DeUlll tnveoia.s<i, e-1:
!Ua nunqua:u carulaae.
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Qr,\, iitO � impossh·el ! f: indigno de Do.Is ! 1'�


rontrario ao l om sonso, con trario á to<ln logielJ,
como é oon1r:n·io aos U:xloi do E\•.ang •lho.
Mari-t ú 1>0it1 lrumaculadlli., porq ue é rl!ein de
,.,.aça, n ó oh1•ia de. graça, parque devo s111· 11 MAe
•o Filho de Deus.
t · , A ploH.itullO da graqa e a mat�rnlda1tu divina
.;,ão du�s JJl"t'rOSi!'H livms quo s-.t < omplotam e so t.'xi­
.
C61ll mitta:tmunte !

V. Deus com Maria


M1tis uma p roya da I mmacul:1 d a Conco!(;•1o.
O Archnnjo romplt•ta n saudação, oom uma cx­
fME�ilo Qtlf> tl e-orno o oorollario, a explic1.ção da
'riml'lr:l pli rRJ:t>, quo lf':-Ume tullo : Avt, cheia de
ora. o Sr11ho1' é toml'OSC'O.
Estn �xpn·:;:o::1o !fim. por sua ,·oz, um,\ extflln-
5o quA n:lo so comprohent.le lus•ante, o c1uo dovo­
moi;i pn•:;crut111· 11rp1i.
O 11>11110 : cO 81·nhor '' <'ll'TIVOS<�• ú u m p,n}.-
1•do na SagnuJ.t Escripturs. om duplo sentido:
· modo impreralil'O e offirmalfro.
E1l!'Ontrt1mo� c�tc lNmo imprcL'tlli'ro em di·
""n:os Jogares.
Deus seja. romtigo. (Jud ith. VI. 18)
O Smliol' é comlígo. ( J u iz \'I. 12)
O Senhor srja ronn.io6co (Ruth. H 4)
Era o modo do Jõaudar onlro os ,fudeus, de
mon;;; 1 rr.r bondadb o be11crnlenci1t, <'Omo uó& di-
umos hoj u : Louvado seja Jesus Christo !
O ruodo affirmatil•o ltim outro s�ntido: E Aqui,
ro os lllbio;i do Archanjo, ó a afllrma.çAo
nrua re:ilidado.
Dl•Us ostá C'Om hfaria. 8ma.. o ali está do um
o unioo, toJo uiij>ecilll

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Deus está em toda parte, enchendo tudo com


sua immensidade, sem ficar circumscripto por lo·
gar nenhum.
Está no cé� onde Elia manifesta a sua gloria.
Está na terra, onde manifesta a sua Provi­
dencia.
Está no Inferno, onde manifesta a sua Jus­
tiça.
Estf\ em nossos Tabernaculos,. onde ma­
nifesta o seu amor.
Está em nossas nhnas, pela graça, onde ma•
nisfesta a sua misericordia.
Mas ha uma alma, ve rdadeiro templo pr&pa­
rado por Deus para recebei-o, hospedai-o, uma
alma tlU& supera tudo o que ha de mais bello ne&o
te mundo.
Esta alma é o céu de Deus na terra.
ERte céu é o coração da Virgem Santa.
«Sanctificavit tabernaculum. suum Altlssimus.
(Psal. 45. 5)
Notemos o modo de de dizer do Anjo. Kã.o
diz: Dominus sit tecum-Que o Senhor esteja
comvosco ! nem: Dominu.s est tecum-0 Senhor
está comvosco !, mas diz de um modo absoluto:
Dominus tecum-0 Senhor com.,.·oseo, como
si quizesse reunir num termo un1co : Deus e lila­
ria, unil-os inseparavelmente, desde a eternidade,
até ao fim.
E tal é bem o sentido de suas palavras !
Não ajunta o termo: comvosco, como se ajun­
ta um simples qualificativo a um substantivo, mas
liga os dois termos, como fazendo um parte in·
tegral do outro. O Senhor não está sem .Varia, e
nunca Ma.ria está sem o Senhor : e O Senhor
comvosco•.
Deste modo, de novo apparcce luminosa e
resplandecente n Immaculada Conceição.

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- 97-

De facto, onde está o peccado, lá nüo está


o Senhor.
Si a Virgem Santa tivesse tido, apenas um
instante, o peccado original, durante este instan­
te o Senhor não teria estado com ella.
Tendo estado sempre com ella, desde o ini­
cio, é uma prova que nunca o peccado esteve
com Maria, em outros termos, é uma prova que
é Immaculada.
Tal é, aliás, a interpretação dos Santos Pa­
dres. Sto. Agostinho diz muito bem: uDominus
tecum /» O Senhor é comvosc o ; comvosco no co­
ração, comvosco no seio, comvosco para susten­
iar-vos. (1)
Em outro lagar elle completa este pensamen­
to : «O Senhor é comvosco>, mais do que com­
migo ; Elle está em vosso Coração, estA em vos­
s entranhas, enche a vossa alma, encho o vos­
so seio. (2)
---: sao Cypriano tem uma expressão quasi ou-
da a e�se respeito : '·Entro todas distinguida,
diz elle, pela integridade perfeita de sua ca1·ne e
de sua alma, ella mereceu possuir inteiramente
o Chl'isto, em sua carne e em sua alma, e de
gozar de 8Ua presença e·xterior". (3)
S�o Cypriano tira esta. conclusão admiravel
ue mostra a crença na Jmmacnlada Conceição,
DOS primPiros SP,Culos : Elle amrma que Deus
- o hcinr::i simplesmente a carne de Maria, pe-

li) A..-e gratia plena, Dominas tccum: tecum Dominus


oord,.., tt.-cum in ulere, tccum ln auxlllo. (S. Aug. Serm. 1
ann.)
(2) Jnsc enim in tuo cst corde, in tuo est utero ; atlim­
t m�mem, adlwplet ventrem. (S. Aug. do Z\ll.t.)
(3) ')uie carnis et menti3 integritatc inllignis spirituali,
orpc.'."!.l.!i intu11, el extra Chrlstl.
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-98-

la sua divina presença, mas tambem a sua ai·


� donde conclue que a integridade de csua
alma devia igualar em::perfeição a integridade
de sua carne virginah.
«A carne da Virgem era toda pura; não ha­
via nella nada que lembrasse a corrupção que
nella semeia o peecado original ; do mesmo mo­
do não podia haver nada nesta alma que lem­
brasse o peccado•.
«Era necessario que Maria fosse cheia de gra­
ça, isenta de toda ralta e de t\)d8 imperfeição•.
Este argumento sublime e profundo não tem
sido bastante salientado pelos tbeologos. que pro­
curam no Ev6Jlgelho a revelação explicita da
Immaculada Conceição ; entretanto, elle parece
irretorquiveJ.
Deus rez um milagre unico em seu gencro�
para preservar a pureza virginal do corpo de Ma­
ria.
Convinha que fizesse igual milagre pnra pre-
1ervar a pureza de sua alma.
O primeiro é o milagre da Conceição e
do parto Virginal : A virtude do Attissimo te
com
co­
brirá a sua sombra (Luc. 1. 35).
O segundo é o milagre da preservação
do peccado original.
Eis como de um modo logico chegamos á
Conceição Immaculada, revelada nesta segunda
pbrase da saudação angellca : «O Senhor com­
Tosco-Dominus tecum.
Sim, exc1ama São Boaventura, o Senhor C
comvosco, ó Maria ; Elle já
estava comvosco; El­
le fica comvosco ; Elle estará sempre comvosco !
A Immacnlada Conceição foi a base desta
união, a maternidade é sua consagraQAo� a.
Aseumpção será. a sua coroação.

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São Gregorio de Nysse confirma esta dou­


trina pelo seguinte raci ocínio : «Nas demais cria­
turas a alma perfeitamente pura é apenas di­
gna da presença do Espirita Santo, emquanto
aqW a propria carne torna-se o receptacuJo do
Espirita Santo.•
Si, pois, no dizer de São Gregorio, a propria
carne de Maria sobrepuja, neste ponto, até as
nossas almas, que é que devemos pensar de sua
alma, cuja santidade deve ser necessu..rlamente
proporcionada á santidade de seu corpo '!
Si tal foi a pureza de seu corpo, qual serã
a pureza de sua alma ?
Si o olhar de Deus não encontrou nenhuma
mancha nesta carne virginal, como seria possi­
vel que a alma fosse maculada e deshonrada pe­
la mancha do peccado.
Não esqueçamos que é da alma que o corpo
recebe a sua pureza; a santidade do espirita re­
dunda sebre o corpo.
Era Pois preciso que a pureza da alma de
�faria fosse muito grande. para dar no seu cor­
po uma santidade Hlo perfeita, que attrahlsse o
proprio Deus, para fazer a sua morada neste Ta­
bernaculo abençoado.

VI. A mulher bemdita


A terceira phrase da Saudru;-ilo é mais uma
manifestação do grand� privilegio da ImmacuJada
Conceicã.o.
E' como a conclusão das duas saudações pre­
cedentes.
)faria estã cheia de graça : E' o seu gran­
de privilegio.
A graça, sendo uma cornmunicação da natureza

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divina:divinaJ consortes naturre (2 Pet. I 4}, quem


posaue a gra9a, possue Deus comsigo.
l:"ma pessoa está tanto mais intimamente uni­
da a Deus. quanto mais agumenta a sua graça.
Maria Sma. tendo a plenitude da graça,
&em pelo facto a plenitude da presença de Deus.
Deus estã com ella plenamente, tanto quanto
póde estar com uma criatura;; porque Maria con­
tém toda a graça que póde conter uma criatura.
ella
Em consequencia destes dois privilegias,
é a)nulher bemdita entre todas as mulheres.
E' a consequencia bgica.
E' maid que uma consequencia i é um novo
principio de grandeza, uma nova prova de sua
Conceição J mmaoulada.
!\atemos bem que no momento que S. Gabriel
dirige a Maria estas palavras, ella ufio é ainda
Mãe de Deus, está ainda n:>s preludias <la nego­
ciai;õ.o.
Elia niio é pois bemdita por ser Mãe de
Deus.
Porque será então ?
Só póde ser por ter sido preserv&.da do
peccado original.
E' o unico titulo que a cle\'3 acima de todas
as mulheres.
ocima de da
Dig-o: to s, e neste conjuncto está
incluida a propriaEva, n primeira mulher, a mu­
lher que sahiu das mãos do Creador, n3 inno­
cenC'ia e na justii;a original, immaculada, adorna­
da, dos dons da gL·aça e da intimidade com Deus.
Eva era beUa nesta horn . . . a mais bella, a
mah poderosa das mullicres.
Entretanto, mesmo em 1:;ua innocencia, me�­
mo nos dias fugitivos de sua realeza, clla era a­
penas uma figura de Maria.
Eva nilo ê a mulher bemdita . . .

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A unica a quem Deus dirige esta exaltação


é a Virgem Santa. Só ella é a mulher be'tndita
entre todas as m.ulheres, porque na.o somente el­
la é immaculada em sua conceição, como Eva o
foi em sua creação, mas ella conservou e conser­
vará para sempre esta pureza immaculada.
lnliel á bençam original, Eva ficou sujeita á
maldição.
Maria Sma., não tendo participado da falta
de nossos primeiros paes, nllo estava sujeita ao
peso das mlserias com que é castigada esta [alta.
«O gencro humano, diz S. Thomaz, ficou agra­
vado por uma triplice maldição : Maria, innocen­
te e pura, recebera como contra-peso uma tri­
plice bençam•.
Elia, a Immaculada, dará a luz, sem dor e co­
mo que envolta no encanto de sua virgindade.
Ella viverá só para Deus, e não conhecerá. a
putrefação do tumulo.
A unica lembrança, e não castigo, que '-faria
conservará do peccado original, é a de poder
soHrer.
Eva nlio estava sujeita á dor; Maria quer con­
servar, e deve conservar a faculdade de sottrer,
para melhor unir-se a seu Filho e associar-se
á redempção, como co-redemptora do genero hu­
mano.
Deste modo, Maria substitue a Eva, para ser
a Rainha e a Mãe da humanidade. Por isso, con­
vinha que a proclamação, por assim dizer, de
Maria, fosse o contra-partido da .e_roclamaçâo de
Eva.
Um anjo dn luz devia annunciar o Verbo
á Maria, como um anjo das trevas annunciára
á Eva a sciencia falsa e a desobediencia.
De ambos os lados ba :
1) A proposição de um anjo â mulher.
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-102-

2) Um colloquio.
�iJ Um consentiinento.
4) Um rructo recebido e trns:nittido ao ge­
nero humano.
Afaria é a mulher bemdltn, como é bem·
dlto o fructo de seu seio.
Benedicla-tu in mlllierilms, et benec!ictus fru­
clus�vtmtr-is tui: Jesus
(Luc. l. 24.)

Vil. Perdido e achado l


Continuemos a meditar as palavr:is expres­
sivas da saudaçllo angelical.
Como palavras divinas, cada uma dellas
tem umn signit'icaçll•) que uma t: imples leitura
não descobre á primeira vista.
A palavra de Decs é um abysmo insonda­
vel. . . e mais é meditada, mais luminosas appa­
recem as verdades que eUa transmitte.
Toda a saudação rerere-se ás duas verdades
fundamentaes da grandeza de Maria : á sua lm•
maculada Concelçilo. e á sua Maternidade
divina.
E' o assumpto de todo este di\'ino coltoquio.
A pl'imeira parte, como já ficou acima de­
monstrado, é a Immaculada Conceição. Cada ex­
pressào é uma revelação implicita, tomada
separadamente ; mas explicita. em seu con
juncto.
São seis revelações, cada uma mais lumino­
sa.,que a outra.
e-. Falta-nos meditar a sexta, não menos pro­
tunda que as precedentes.
E o Evangelho continúa, após ter citado as
p1:1lavras da saudação propriamente dita :
«E ella, tendo ouvido estas cousas, turbou-se

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com as suas palavras, e disporria pensativa que


saudação seria esta. E o anjo lhe disse: Não te­
ru!lS, Maria, pois achaste graça deante d9
Deus•.
Aqui termina a revelaçl1o da Immaculada.
Conceição, para começar a da maternidade di­
vina.
cEis que conceberás no teu ventre e daráa
á luz um filho, e pôr·lhe-ás o nome de Jesus.•
(Luc. 1. 28).
Pela simples leitura, sente-se a cunnexão es­
treita destas duas verdades: t:Maria será a Mãe
de Jesus, porque achou graça deante de Deus•.
E' uma condição irsine qua non>, indispensavel.
Sem esta condição o facto não se realizaria.
Uma tal condição é pois de uma importancia
capital, nos desígnios de Deus.
Maria Sma. só póde receber a Jesus em seu.
seio, porque achou graça deante do Senhor.
Até aqul estamos todos de accordo: catholi­
cos e protestantes.
Mas que quer dizer: achar graça ?
Eis o que os caros protestantes não com­
prehenderam. Só se póde acbar o que está per­
dido. Para que alguem possa achar um objecto,
é preciso que tal objecto esteja perdido.
Maria achou pois uma cousa que estaya
perdida. E que cousa foi esta?
A graça; mas, que graça ?
Ntio póde ser a graça santificante, nem A
graça actual, pois existia em muitas almas justas.
Uma só graça perdida que nunca mais exis­
tlra desde a quéda de Adão e
Eva, no paraiaQ,
é a graça orfllnal ; esta estava completa e
irremediavelmente perdldb..
Dizendo pois que: Maria achou graça, é di­
.zer que achou a graça oi"iginal.

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Ora a graça original é a lmmacola•


da Conçelção. E' uma só e mesma cousa.
O anjo dizendo á Maria que ella achára graça,
diz: Maria, sois Jmmaculada, e por isso, sereis
a Mãe de Jesus Cbristo.
De facto, si Deus devia nascer neste mundo ;
devia nascer de uma Virgem Immaculada.
E si uma Virgem Immaculada devia dar á
luz um filho, este filho devia ser o proprio Deus!
Esta palavra é, pois, uma nova revelação de
Immaculada Conceição. e uma revelação mais
expressiva ainda que as precedentes.
E' assim que o comprehenderam os Santos Pa­
dres e o que nos transmittiu a tradição Apostolica.
Eis o que diz um escriptor dos primeiros se­
culos, que se esconde sob o pseudonyimo de «O
Idiota».
•Vós achastes a graça celeste, ó Maria, por­
que a preservação da mancha original, a sauda­
ção do Anjo, a vinda do Espírito Santo e a Con­
cepção do Filho de Deus, foram vossa partilha.
Mas, ó Virgem felicissima, como recebestes
vós ta.es gra��as ?
Oh! Virgem mil vezes abençoada ! Eva tinha
perdido a graça pelo seu orgulho . . . vós a achas­
tes, e nunca a perdestes, porque devieis ser a
mais humilde>.
Vê-se que o piedoso autor fala aqui da gra­
ça original que estava perdida por Eva, a qual
Maria achou e nunca perdeu, o que quer dizer
que foi lmmaculada em sua conceição e ficou
lmmaoulada até ao fim. (1)

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Santo André, Bispo�de Jerusalém, se expri­


me quasi em termos identicos: "Não temas Ma­
ria, pois achaste, deante do Senhor, a graça que
Eva tinha perdido, uma graça que nunca algucm
antes tinha podido achar" {1)
Eis textos ciaros e positivos dos Santos Pa­
dres, que seria passivei multiplicar quasi sem fim,
provando que a graça que Maria Sma. achou foi
a graça original, perdida por Eva.

C�a�ul��S: ��:�: : :.n


Elia a achou . . . e n o a perdeu . . . Ella a tem,

i ã
Innocencia original, ou

Sois, pois, toda pura, ó Maria, e não ba em


Tós nenhuma macula original :Tola pulchra es,
ri macula originalis non est fn te, canta com
razão a Egreja Catholica.

VII. Conclusão
Além das seis provas acima citadas, podiam-se ad·
duzir muitas outras, de valor menes explicito lalvez,
mas exprimindo, pelo menos em sentido metaphorico,
o grande mysterio da lmmaculada Conceição.
Cada pRrase do divino colloquio do Archanjo
com a Virgem Santa, as palavras de Sta. Isabel, o Ma­
,m.tícat, a exclamação da mulher proclamando bem­
aventuradas as entranhas que contiveram o Salvador,
a mulher revestida do sol e a cabeça coroada de es­
ftllas, do Apocalypse, todas aquellas passag�ns se re­
lerem mais ou menos diredamenle á lmmaculada
Conceição.
Limiterno· nos ás mais expressivas acima explicadas.

J) Ne timeae, :Maria: n.a.eta es enlm gratiam apud


Dnm, qu&m Ev& perdklerat. . . gratiam. qualem non nactus.
• qulsquam ab &terno, sfcut te.
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São revelaçõe.:; ainda implicilit!I, lomadM separa·


damente, mas que se tornam expllcltas em seu con..
juncto, interpretadas e il lumi nadas pela vez da lradi·
ç:Ao unanime da Egreja.
Rtpassemos um instante os seis argumentos estu·
dados separadamente, para melhor salientar de sua
.união a força comprobativa que delles eman1t.
Cada termo empregado pelo Anjo é uma revela·
ção implicita, mas em synlhese e inter pretados pe·
Ja tradição dos seculoc:, estes termos formam a gran·
de revelação expllclta, sobre a qual a Egreja se
apoio u para prodafT'lar dogma de fé a Con ceição lm­
maculada de M"ria.

Primeiro argumento
Ave, cheia de gra.ça, disse $. Gabriel .
Maria está cheia, está repleta de graça.
O que está cheio não cabe mais nada além.
Ora, �i Maria não fosse lmrnaculada, podendo sel·o,
ella não e�taria cheia de '?"raça, faltando·lhe a graça da
lmm::iculada Conccic;.to.
Lego : Maria Santissima é immaculada !
Este argumento é irrefutavel, pois devemos ne­
cessariamente admitlir q:.xe o Espirita Santo, que di·
dou estas palavras, conheçe a significação e a exten·
são dos termos empregados e fala. o mais claramente
passivei, para poder ser entendido.
Este texto seria o bastante, mas, para que não
h aja nenhuma duvida a respeito do sentido obvio, o
Espiri ta Santo continúa a repetir a mesma verdade,
em outras palavras, corroborando um texto pelo outro.
A segunda traducção deste termo dá o mesmo
resultado : 'Ave, toda formosa pela graça.
A graça é Q que torna a({radavel • Deus.
Maria é, pois., toda agradavtl a Deus.
Ora, &i ella não fosse immaculada, ella se: toma·

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ri.a mais agradavel a Deus, :endo·o; e já não �eria
mais toda formosa.
Lego : Meria Santissirr a é ln macu'ada !

Segundo argumento

Desde a eternidade Maria Sma. foi escolhida pa·


n ! era Mãe de jesus. e como tal associada á obra
eh Enc.vn:tç�o, de modo que a graça da Encarnac;ã.•
via estar do mesmo modo em Deus e na Sma. Vir·
1ecr.
Ora, o proorio da graça original em Deus é de
aunca lhe ter faltado.
Logo, nunca póde ter fa11ado á Sma. Virgem, o
que constitue a sua lmmaculada Conceição.

Terceiro argumento

O Archanjo continúa : O Senhor é comvosco.


E' uma affirmação positiva indicando a perpetui­
dade desta união, e por iuo diz: O Senltor é con­
rnsco E' ab�olulo.
Oac; outras creaturas póde se dizer: Deus está
tomvosco.
De Maria Sma. é : Deus comvosco.
Deus esteve sempre com Maria, desde a sua es·
colha na eternidade, para ser Mãe de jesus Christo.
Ora, onde está Deus, não póde estar o peccado .
logo, Maria Sma. nunca esteve sujeita a o domi·
· de qualquer peccado ; ellaé, pois, lmmaculada.

O/arfo argumento

Outro argumento de uma força irreductivel.


E' a peswa de Maria Sma que é Mãe de Deu$.
Esta pessoa resulta da união da alma e do corpo.
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Deus fez um milagre inaudito para preservar a
pureza illibada do corpo de Maria.
Não devia Elle fazer igual milagre para conser­
var a sua alma na pureza illibada da innocencia pri·
mordia! ?
O primeiro milagre é a concepção de jesus e o
parlo virginal de Maria.
O segundo deve ser a preservação do peccado
original para a sua ;ilma.
Em synthese, póde-�e dizer :
A integridade da alma de Maria devia igualar ã
integridade de sua carne virginal.
Ora, tal integridade de sua alma é a ausenla do
peccado original.
Logo, Maria não teve este peccado: - é lmmaculada.

Quinto argumento

O A.rchanjo $. Gabriel completa e resume as suas


revelações, dizendo: Bemdita soi! v6s entre as mu­
lheres.-E' uma nova prova da lmmaculada Conceição.
De facto, ne-;te termo-as mulheres-são inclut­
das todas as mulheres do mundo, do passado, do
presente e do futuro, em conjuncto, e por conse·
guinte a propria Eva, a primeira, mulher.
Eva sahiu immaculada das mãos do Creador.
Si Maria Sma. não fosse immaculada, ella seria
inferior ã propria Eva e não seria mais bemdita tnZ·
're todas as mulheres.
Podemos dizer:
Maria Sma. é bemdila acima de todas as mulheres.
Ora, Eva foi immaculada em sua creação.
Logo, Maria Sma. devia sel·o, pelo menos igual
sinão superior a Eva: ella é, pois. lmmaculada.
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Sexto argumento
Para tranquillizar a Virgem Santa, perturbada pela
•blime saudação, o Archanjo lhe diz: Nao temas,
llaria, pois achaste graça deante de Deus (Luc.
l 30).
Mas, como Maria Sma. podia achar a graça ?
Acha·se o que está perdido . . .
A g raça não estava perdida, pais S . João Baplis·
ta, S. José, Sta. lzabel, e tantas outra:i almas santas
Yiviam na graça de Deus.
Não se trata, pois, da,graça santificante, que exis­
. em muitas almas.
Qual é a graça que Maria Sma. achou . . . que
estava perdida, e que ninguem tinha achado?
Esta graça é a graça original, perdida desde o
cado de Eva, e nunca mais achada par ninguem.
Podemos resumir este argumento, dizendo:
A unica graça oerdida desde Eva e nunca acha·
pelas cfr1.turas, é a graca origin.al.
Ora, Mada Sma. achou esta graça perdida, sen­
reveslida della.
Lego , elh é lmmacu\3da.

Eio; seis argumentos implicilos, quando tomados


Daradam�nte, mas Que se tornam explicito&, pe­
conriexão e pela explicação que um argumento dá ao
•ro J:..tntandO·OS, e projectando sobre elles o refle­
lu'llinos.o da tradii;ão christã, taes argumentos for­
a base solida, irrefutavel, infallivel, do dogma
tholico da l111maculada Conceicão.
Peço aos protestantes sinceros. desejosos de co ­
�cer a vcrd:je integ ral, a verdade biblica, meditar
s argum!:"ntos, e dizerem, si é passivei Deus falar
·s cla·a11en!e, e propor uma verdade com mais pre-

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cisão do que quando o faz, :talando da lmmacu lada


Conceição de sua Mãe?
E' impossivel ; e deante do peso desles argumen­
tos ellcs devem:m:onhecer que a Egreja Calholia
não inventou o dogma da lmmaculada Conceição,
mas encontrou-o, inteiro, perfeifo e ltiminoso nas p•
qinas da palavra de Deus inspirada.
Digamos, pois, convencidos e sinceros, com a
Egre}a Catholica, exaltando a Mãe de Deus, pelas
palavras do Cantico dos Cantice s :
-Sois toda formosa, 6 Maria, e a mancha ori·
ginaJ não se encontra em vós l
- Tola pulchra és, jfaria ! . . .

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C 1' P I T U C. 0 \1

A Jmmacnlada Goncei1ão
SEOUSDO A TRADI�O

Parece estar bast.ante pro,·ado a dogma da J.n­


maculada Conceição. A theologia com seus raoio­
�ios irroductiveiP, o Anligo Testamento com suas
figuras expressivas, o Evnni;elho oom seu ensino
claro e J>09itivo, mostraram, de modo irrefutavel. a
necessidade, a existoncia e a gloria do inerfaval
privilegio que é a Conceição lmmacnlada da
Mãe de Deus.
Podia-se parar aqui.
Parece, entretanto, opportnuo ir atõ ao fim, e
mostrar que tal verdade sempre foi acceita no
mundo Catbolioo, professada por todo-. desde os
Apostolas até os nossos dius.
Percorrer um instante os rn s('Culos quo nos
eeparam do mrsterio da Encarnação f{'Blizado,
eerá mais uma prow1, ou melhor, serõ. como que
a sylllht'BO de toda"I as provas da Im maculada
·m�ição e, 110 mesmo tempo, a rcfuta�ão dt>stn
tra outra obj&C('iio protost:rnto que affüma quo
culto do Maria 8ma. foi introduzido na Egreja
660.
TerminaremOf'I p<'hls cit11ções dos S.rntos Parlres o
utorci; dn Eg!·•·j 1 n c'outrinn �ri:n'l �xpo!!:tu, C'
refutarem"s a ohj1'<.:1;;4o do no,·!1.l3dc do i.:ulto do
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Maria Sma., embora isto já tenha sido feito n o


capitulo primeiro.
" :;- Para completa clareza vejamos primeiro o
que é a tradição, como ella formou-se, conservou­
be e foi tansmittida aos seculos vindouros.

I. A tradição divina
Os protestantes admittem a palavra divina,
t�l qual foi escripta na Biblia, por inspiração di­
vma.
A Egreja Catholica está de accôrdo sobre este
ponto, e admitte egualmente a Biblia como sendo
a palavra divi.na escripta.
Onde a Egreja discorda do erro protestante
é que alia além da Biblia, admitte cel'tas verdades,
não escriptas na Biblia, ou escriptns não de mo­
do literal mas sim espiritual ou figurado.
Os protestantes admittem s6 a Biblia, dizen­
do que todas as verdades reveladas por Deus es­
tão na Biblia.
Ora, isto está em contradiccão com a propria
Biblia.
S. João, ao terminar o seu E\·angelho. diz
expressamente : 11/uitas outras cousas fez Jesus,
as quaes si se escrevessem, uma por uma1 creio
que nem, no niundo todo poderiam caber os li·
vros que seria preciso escrever (Joan. XXI. 25).
E' pois certo que Jesus disse cousas. que não
estão escriptas ; e o que disse e não io-i escripto
tem o mesn10 valor e a mesma autoridade que
aquillo que foi escripto na Biblia.
Nenhum protestante sincero pódo negar isso.
E <'1•u10 se chama esta palavra di•wina, não es­
cript:i?
E' J::i. Paulo quem nos revela o nome destas

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�rdades, etcrevendo aos Theasaloniccnscs :Perma­


Retei constantes, irmdos, e conservae as tradt­
�Des que apprendestes, ou por nossas palavras,
ou nossa carta. (2 Thes. II. 14.)
Eis deante do nós a tradição, tão atacada
pelos pobres protestantes . . . e tão incomprehen­
dida.
Que ê pois a tradição '?
E' a palavra divina, tendo a mesma nutorida­
de que a Biblia, não escripta, mas transmittida
oralmente pelos Apostolas e mais tarde escripta,
par iniciativa patlicular, pelos primeiros Pupas,
Bispos, Sar.erdotes e até simples fieis instruiclos
em sua religião.
A differença entre a Sagrada �Escriptu·
ra e a tradição, ê que a primeira palavra di­
vina foi escripta por inspira�ão do Espirita Santo
que a preservou de todo erro ; cmquanto que a
segunda palavra divina foi escripta por particula­
res, sem a inspiração do Espirita Santo, e sem a
preservação do erro pessoal da parte do escriptor.
A tradição é pois a palavra ele Deus, desde
que fica constatado ser de origem apostolica, mas
como o erro póde mais facilmente infiltrar·so na
palavra falada do que na palavra escripta, três
condicções são nppostas para que uma doutrina,
dizendo respeito á fé ou ã moral, possa reivindi­
car para si a autoridade de tradição divina.
1-Deve remontar até os primeiros seculos e
ser conhecida universalmente como tal.
2-De\'"e concordar com a palavra de Deus
escriptn, ou pelo menos não cont!"fldizel-a.
3-Deve ser declarada authentica por uma
autoridade competente.
Revestida desta segurança, uma doutrina 6
considerada .tradição divina ; faltando um destes
requisitos, é destituida de toda autoridade.
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- 1 1 4-

A lntejtrldade das tradições 6 tão cerla


QD.e a propria Escriptura ; pois uma e outra são
confiadas ã guarda da Egreja infallivel, contra a
qual as portas do inferno nao podem prevale-
cer. -
Ora, as portas do inferno prevaleceriam oon..
tra a Egreja, si ella não conservasse integra a
verdade que lhe foi oonliada.
E como se faz a transmissão da tradiçdo di.
vtna?
De nove modos :
1. Pelas decisões da Santa Sê e os decretos
-dos Concilias geraes.
2. Pelos symbolos, que são os dos Apostolas,
<le Nicéa e de Santo Athanasio.
3 Polos Santos Padres, que são como o porta.
voz da tradição.
4. Pelo consentimento unanime dos theologos.
5. Pela liturgia Sagrada.
6. Pelos actos dos martyres.
7. Pelos escriptos de certos herejes comba·
tendo a doutrina da Egreja.
8. Pelos escriptores ecclesiasticos.
9. Pelos monumentos, altares, templos, tumu·
los dos martyres e inscripções que exprimem a fê
dos primeiros seculos.
Conhecendo exactamente o que ê a tradição,
o seu valor, a sua autoridade, podemos agora re..
correr a ella, para provar a Im.maculadaCon·
oeição da Virgem Santíssima.
Para isso, basta consultar os Santos Padres
e Doutores da Egreja, seguindo desde os Apasto·
los até hoje a sua doutrina, para averiguarmos
que a Immaculada Oonceição, proclamado dogma
pela Egreja, em 1854, remonta até os Apostoloe,
por uma tradição universal e ininterrupta.
Tal tradição, confirmando o que estã lmpU·

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-115-

mente revelado no Evangelho, torna-se uma


ela:ção explicita e oorta de uma verdade di·
· ,
E esta tradição constante que quero demons·
r aqui, por textos authentiooa, recolhidos das
rae doa Santos Padres de todos os seculoe, dos
po!!tolos ate á proclamação do dogma em 1854.

II. No seeulo prhnelro


Que á que encontramos no seculo primeiro
bre o culto da Sma. Virgem '?
Tudo : o fundamento, a irradiação, a voz pro-
9betica da propria Mãe de Deus que deverá
atravessar todos os soculos.
Ha 1920 annos, mais ou menos, em uma pe·
cena villa de Judá, chamada Hebron, encontra·
nm-se, após uma ausencia prolongada, duas pri..
mas, uma, senhora já idosa, esposa de Zacharias ;
outra uma joven donzella de seus dezasete
aILDOS.
Saudam-se affectuosamente.
A mais idosa, num transporte de admiração,
IOb a inspiração do Espirita Santo, exclama: Don.
de me vem a dita, que a Mãe de meu Senlwr
enlla ter commigo P (Luc. I. 43).
A joven de dezasete annos, levantando aa
mãos e os olhos para o céu, num gesto estatioo,
responde:
Eis que de hoje em deante, todas as gera·
p'Jes me chamar{l,o bemaventurada I (Luc. 1. 48),
Eis a prophecia do culto, da gloria, do
poder da Virgem Immaculada !
E esta prophecia deve realizar-se.
E reali2a·se diariamente. . .
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- 1 1 6-

Catholicos e protestantes exaltam a Virge


Santa.
Os catholicos, pelo seu amor, seu enthusia
mo, sua coniiança.
Os protestantes, pelos seus protestos, torna
do-se indirectamente os panegyristas da Mãe d
Deus.
Não ha acçao, sem que haja reacção.
A acção protestante é de rebaixar a Virge
Santa.
A reacção catholica é de exaltai-a, cada ve
mais.
Eis o facto.
Eis o berço da gloria de Maria.
Sigamos agora o seu desen\'olvimento atravé
dos seculos.
Para não prolongar excessh•amente as cita
ções, quero escolhei-as, curtas, de varias autore
conhecidos, de autoridade e de responsabilidad
No primeiro seculo além de muitos outros, te
mos um documento, fóra de toda suspeita, e aci·
ma de todas as contradicções, é a Liturgia d
São Thiago.
Os Apostolos iam, aos poucos, estabelecendo re­
gras disciplinares, para regularizarem e uniformi·
zarem a celebração dos Sts. Mysterios, escrevendo
e fazendo escrever ou approvando o modo de cela.
brar a Santa Missa, as orações a recitar, assim co-­
mo as cerimonias a observar na administração dos
Sacramentos.
Jesus Christo tinha instituido directamente
os Sete Sacramentos, deixando nos Apostolas o
cuidado de determinar certos pontos accidentaes.
que melhor exprimissem o effeito sacramental nas
almas.
Depois da Ascensão, os Apostolas celebraram
o Santo Sacri!icio, .mas como o So.lvador dera ape-
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- 1 17-

s a parte essencial do Sacrificio, que ê a mu­


ça da substancia do pão 1) vinho, na substan·
do Corp� e do Sangue de Jesus Christo, ca­
a elles cercar as palavras Sacramentaes, de
ções, de cerimonias, que exprimissem e ma­
festassem, o melhor possível, os effeitos deste
crificio.
E' o que elles fizeram ; e o livro em uso,
ntendo taes prescripções, chama-se : Liturgia
ostollca.
Entre outras liturgias, temos uma de São
iago, o menor, que õ como o schema, a ossatu­
da Santa Missa, tal qual õ celebrada até hoje.
Este Missal destaca de modo expressi"o
mystorio da ImmacuJada Conceição, o o faz em
rmos tiio luminosos, que parecem ser dictados
!entemente, após a proclamação deste dogma,
zoito seculos após.
Recolhamos uns trechos admiraveis B este res­
"to.
ApóS a leitura de uns passos do antigo e no­
Testamento e umas orações, São Thiago ajun­
: Fazemos memoria de nossa Santissima, im­
culada, e
gloriosissima Senhora Maria, Mãe
Deus, e sempre Virgem Maria (1)
E um pouco mais além : Façamos memoria

t s
r�}a�s ;e�g: :_�e�i':r��-if�!1S(��f�� p�:J�:Sul:J.Z�11Ji�Í1�:f­
�ái:f��·u1U:,:��tf�����u�:_��;:r�1�ed:roJ:'irr���fi,:
a fidelidade e a authrnricl.dad<:: das clt-açúes.
Deixarei tr:rlos lalfnos dos Seeulos seguintes para
os
• �-obrecarregar lirro, que deve ser antes de ll/.do,
mn
lfar, conSf'rvando e11lrelanlo a segurança da doutrina
fnteíru fidelidade na cilaçllo dos docmnentos.
Commemorantes sanctlssimrun, immaculatam, glorio­
;.aam Dominam nostrem, Matrem Dei et scmper \'lrgi­
}larium. (S. Jac. ln Liturgia sua)
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-118-

de Nossa Senhora, a santissima, immacula


gloriosíssima e bem.dieta Mae de Deus, e s
pre Virgem Maria (2)
Taes termos em favor da pureza immacuJa
de Maria são de uma lucidez que não admitte d
vida; entretanto, o Santo Apostolo não se limi
a jsso, e torna a sua fé mais expressh·a ainda.
Após a consagração eu
m as prcct"s, ello
dizer ao Celebrante : Prestemos homenage-m,p
cipalmente a Nossa Senhora, a santissima, i
maculada, abençoada acima de todas as
turas, a gloriosissfma Mlle de Deu..s, sempre v·
gem Maria (3)
E os cantores respondem: E' verdadeiram
te digno que nós vos proclamemos bemavenl
rada, 6 MO.e de Deus, sempre bem.aventurada
de todo modo irreprehensivel, Mãe de nosso D
mais dig'Ylll de honra que os Cherubins, ma
digna de gloria que os Seraphins, vós que tend
dado d luz o Verbo divino, sem percler a vos�
irúegridade perfeita, nós vos glorirl.camos com
Mãe de Deus. (4)
Hymno glorioso de louvor em honra da M
de Jesus.
O dogma da Immaculada Conceição não tin
ainda sido proclamado, mas eis que São T
ago o exalta nomeadamente, e laz lembrar dive

2) CommemoraUonem agamus Sancttsstmae, fm


lalae, gloriosl88imae, benedlctae Oominae nostrae Ma
Dei, e�) i�
�u����ii::1�:.· f!!�lculatae, super ome
::�q�:º V�:�jg ���i:!ê'ft��)mlnae nostrae Deiparae, s m
4) Dignum est, ut te vere beatam dlcamus Delpara
eemper beatam, et omnlbue modle irreprebeasam, et
trem Dei noslrl honorabiliorem quam Cherubim, et glorl
t1�ª;ez���t1,8f:afe�·a�=�� c::�'�:u�CThid.i
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- 1 1 9-
-.s vezes esta prerogativa singular de Maria, no
acto mais sublime da religião, no santo sacrificio
.. Missa.

O Evangelista S. Marcos, na Liturgia, que dei­


xou nas egrejas do Egypto, serve-se de expres­
sões quasi identicas: Lembremo-nos sobretudo,
tia Santissima, intemerata e bem.dila Senhora
.Vossa, " Mae tle Deus e sempre Virgem Maria. (5)

Na Liturgia dos Ethyopes, cujo autor é des­


conhecido, mas cuja composição data do primei­
ro seculo, encontramos .diversas menções expli­
citas da Jmmaculada Conceição.
Uma das orações começa nestes termos :
Alegrae-vos, Rainha verdadeiramente imma­
culada, alegrae-vos, gloria de nossos paes. (6)
Mais além, é pela intercessão da Immacula­
da Virgem Maria que o Sacerdote invoca a Deus:
em favor dos fieis : Pelas preces e a intercessão
que faz em nosso favor Nossa Senhora1 a Ban­
ia e immaculada Virgem Maria. (7)
O titulo de im.m.aculada dado a Maria, en­
contra·se, de novo, na oraçãe que segue imme·
diatamente a elevação das Santas Especies : Es·
U é o corpo e este é o sangue de Nosso Senhor
e Salvador, Je$US Christo, que elle tomou de Nos.

5) Imprimis Sanctisslmae, tntemeratae et bencdlctae


Dcmlnae nostrae Dei Genltricls, ct semper Virginis Mariae
{S.Marcus, Evang, ln Llturgta sua)
6) Laetare Immaculala vcrc Regina ; laetare gloria
oostrorum Parentum. (Llturgtu Ethyopum)
7) Per preces ac tntercesslonem, quam pro nobis Ia·
dt Domi.Dn noetra, Sancta ettmmaculata Vírgo Marla. (lbld.)
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- 1.20'-

sa Senhora, a santa e immaculada Virgem Ma­


ria (8)
Na mesma Liturgia Ethyopica encontramos
nas orações que accompanham o Baptismo ase­
guinte terminação de uma dellas : Pela interces­
sao da Virgem, cheia de graça, Maria. lttae de
Deus, que é santa em tudo (9)

Terminemos o primeiro seculo com uma pas­


sagem de Santo André, Apostolo, expondo a dou­
trina· christã ao proconsul Egéo, passagem que
figura nos actoi; do Martyrio do Santo Apostolo,
e data do primeit·o seculo.
O 71rimei1'0 homem tendo si,do formado de
uma terra im:maculada, era nccessnrio que ó
homem perfeito nascesse de uma Virgem egunl­
mente immacu.lada, para qne o Filho de Deus,
que antes lormára o homem, reparasse a tida
eterna que os homens tinham perdido ( 10)

Ha, sem duvida, mais outras testemunhas do


primeiro scctulo; entretanto, parece que os mais
positivos e comprobativos sao os que precedem.
Que é que se póde c1Jze1\ mais do que estas

SJ Hoc est cor us et hlc est Sangulir Domtnl et Ser-


\·atoris noslrl, · assumpsil ex
Domina bld.)
ij �
Harlm, .)
r d

erlt p;l iu�t h�':J'�� �:c��� �r':i!�'r��u1fn�i:�!ai�e\�fr�1�u�
nnsceretur pcrrcctus homo, quo 1-"Jlius Dei, qui antca condi­
dcrat J1omincm, vltam ooterna.m quam perdldcrant homlncs,
per Adamum rep:irarl't. (Cartas d.os Padres de Achaia)
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-121-

Liturgias apostollcas de Silo Thlago, de S. Mar­


cos e de Santo André ?
É lmpossivel dizer mais e dizer melhor.
Taes Liturgias não são obras directameote
inspiradas pelo Espirito Santo, porém têm o va­
lor da autoridade apostolica, tendo sido appro­
vadas e usadas pelos proprios Apostolas.
lia diversos outros documentos de primeiro
valor, quunto á doutrina, mas cuja authenticida­
de é contestada, de modo que, pela duvida1 per­
dem o seu valor comprobativo.
O mnrtyr Santo lgnacio, Bispo de Antiochla,
que foi, diz a tradição, a criança que o Salvador
collocou deantc dos Apostolas, dizendo que aquel­
le que se humilhar como esta criança será o ma­
io1· tW rl'ino do céu, Sanh.> Ignnclo deixou umas
cartM, nas quaes figuram duas passagens amr­
mundo u Conceição lnunaculndn de Maria,
mas tendo sido discutida a authenticidadc des.
tas cartas, níío quero cital-as aquJ.
É certo que todos os Santos Padres nno fal­
iam expressamente da immaculada Conceição,
porém todos elles explicam o Capitulo do Ul.
Genesis e a Ave Maria, de modo a excluir a Sma.
Virgem do peccado original.
A doutrina da lmmaculada Concelçllo era co­
nhecida no primeiro scculo, e era admittida por
todos ; de modo que nenhuma contcstaçilo levan­
tou-se a este respeito, na primitiva Egreja.

Ili. No segundo seculo


A doutrina dos Apostolas, firmada em suas
Liturgias, foi adaptada em todas as egrejas, de
modo que em toda parte, era conhecida a Con­
celçilo Jmmaculada de Maria.
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-122-

Não havendo nenhuma discussão a este retJ•


peii>, nAo havia necessidade de tratar expres­
AIDente desta verdade.
Os escriptos dos Santos Padres, do segundo
&eeulo, falam deste privilegio, como de um facto
indiscutivel, sem procurar provai-o ou explicai-o.
Usam locuções, comparações, antltheses que
attestam na Sma. Virgem uma plenitude supe­
rabundante de graça, que suppõe necessariamen­
te a preservação inteira de todo peccado.
Entre os escriptores e oradores deste secu­
lo contamos sobretudo : São Justtno, apolo­
gista e martyr, Tertulllano e Santo Irlneu.
Citemos apenas umas breves passagens des­
tes três illustres representantes do seculo se­
gundo.

São J11&tino, explicando o texto de S. Ma­


tbeus (XII. 48): Quem ti mtnlta mae e quem s/J.o
os meus irmtJos, escreve : « Jesus Christo falan­
do, deste modo, dos outros, não pretendia privar
a sua mãe da honra que lhe é devida; mas quiz
mostrar qual é a maternidade pela qual a Bem­
aventurada Virgem Maria deve ser proclamada
Bemaventurada.
cDe facto, si aquelle que ouvir e guardar a
palavra divina torna-se o irmão, a Irmã, a mãe
de Jesus Christo, é evidente que em virtude des­
te duplo titulo, Maria deve ser chamada Bem­
aventurada».
cOuvir e guardar a palavra de Deus é um
acto de virtude ; é a obra propria de uma alma
pura, que não procura sinAo a Deus».
•Ora, Deus não escolheu uma mulher qual­
quer entre as mulheres, mas sim aquella que so­
brepujava incomparavelmente todas as outras, pe­
la excellencia de suas virtudes.

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-123-

•Jesus Cbristo quiz, pois, que )l[aria fosse


chamada sua Mãe, por causa desta excellencia.,
que a fez escolher para dai-o é. luz e tornar-se
a sua Mie, sem cessar de ser vlrKCm•. (11)
TertulJlano em diversas partes faz o pa­
rallelo entre Eva e Maria, e conclue : Eva acre­
ditou no demonio, transformado em serpente, Ma­
ria acreditou na palavra do anjo Gabrlel ; a fal­
ta que a primeiro. commetteu pela sua creduli­
dade, a segunda apagou-a pela sua fé•.
Santo Irlneu repete o mesmo parallelo
entre Maria e Eva, que era um argumento po­
pular neste tempo, fazendo sobrcsnhir a Concei­
ção lmmaculada de Maria.
Sem este privilegio, de facto, longe de ser
superior a Eva, Maria lhe seria profundamente
inferior, exactamente num ponto cm que o seu
destino reciuma uma superioridade, ou pelo me­
nos, uma egualdade indiscutiveJ. (12)
Tal é a doutrina de Santo lrineu, que tinha
apprendido na escola dos primeiros diBcipulos
dos Apostolos, e tal era a crença geral dos chris�
tãos do segundo seculo, a respeito da pureza
Im.maculada de Maria.
A i;alavra Immaculada é menos vezes ex•
pllcitamente pronunciada pelos Santos Padres do
segundo seculo, porém a doutrina é a mesma, e

U) Non quamllbet f<Emlnam elegit Deus, sed omnium


f<Emlnarwn virtuUbus excellentissimaro, propterea -volebat
ob bane vfrtutem praedlcar:I Matrem auam, per quam vir­
tutem ilia. ld as11ecuta fulssel, ut Virgo Mater.neret (S. Just.
Q. 138 ad Orthod.)
12) Slcut Eva. lnobediens facta e.t, et slbl et universo
generl humano causa lacta est mortls : slc et Maria habens
pr<Edestinatum vlrum, tamen Virgo obaudlcns, ct liibi, et
universo generl humano, causa fac.ta est Ealutis.
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ei::prime sempre a pureza virginal e immaculada


de Maria.

IV. No Terceiro seculo


O terceiro seculo, mais rico em vultos emi­
nentes, é entretanto menos abtrndante em teste­
munhos expressivos sobre a Immaculada Con­
ceição.
Encontramos neste seculo os Santos lUppo­
Jyto, Gregorio de Neo-Cesarea, Cypl'iano. e: 0
grande Origenes, todos estrellas luminosas no
firmamento da Egreja. ainda perseguida, mas tri­
umphante em todos os paizes.
Santo' Hlppolyto, Bispo de Porto e mar­
tyr, escreveu em 220 : «O Cbt·isto foi concebido
e tomou o seu crescimento de Maria, a Mãe de
Deus, toda pura . . .
Quando o Senhor Jesus Christo terá. vindo
entre nós, segundo a carne, pelo nascimeuto da
Santa e Imrnaculada Virgem>. (13)
Mais além el\e diz ainda : Como o Salvador
do mundo tinha decreta.do salvar o genero hu­
mano, clle nasceu da Jmmaculada Virgem Ma­
ria>. (14)
São Gregorio não é menos explicito, em­
bora não empregue o termo immaculada, mas
sim um termo equivalente.
Temos cleste Santo cinco Sermões sobre o.

J3) Christua, qui ex lmpolluts , ac Dclpnrn l\lnrla orhuu


sumpslt, atquc lncrementum.... Cum Dorninus Jc�us Chrls­
tus sccundurn cnrncm advcncrlt ex Saneia ct lmmaculflllt
\"lrgioc. (S. Hippol .; Orat. l n Cons. mundl)
l') Cum Snlvator mundi gcnus bumanum sah"are dc­
crevboct, ex immaculala Mal'IB \'lrgine natu::i cst. (lb!J.)

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Annunclação de i\Iaria. Recolhemos umas curtas


citações deste escrinio precioso :
«Convinha que a graça escolhesse só a ?i-fa·
ria, entre todas as gerações, diz elle, pois ella
era prudente e instruida em tudo, e entre os des­
cendentes de Adão era impossivel encontrar ou­
tra que lhe fosse semelhante». (15)
Um pouco além o Santo Omdor continúa:
•Antes de tudo, o Anjo dirige ollicialmente
estas palavras á Virgem Santa: Ave, cheia de
graça, porque o tbesouro inteiro da graça estava
depositado nella; porque só esta Virgem era per­
feitamente Santa de corpo e de espirita ; ella só
carregava aquellc que sustenta todas as cousas
pelo seu Verbo. (16)
Ha aqui três indicações expressas da Imma­
culada Conceição.
Como é que o thesouro inteiro da graça es­
taria depositado em Maria, si lhe faltasse .a pri­
meira e a. mais importante das graças : a justiça
original?
Como seria ella só perfeitamente Santa, si
ella não o fosse mais que outros Santos, e o fos­
se só de mesmo modo que elles ?
A virgindade ela alma de Maria, isto é, a sua
l a i
��;�:����e�:'��� ���P�.ã� G�� �r::�ri�r:��0�e�
para uma da outra.
15) Con enlenter lgltur Sanclam Mariam, ex omnlbus
generationlbus,v solam gratiam elegit: nam prudl'nS revera,
ac sapicn.s in cunctis erat, ncc simJLis el ex omnlbus gene·
r ationibus ulla unquam cst reperta. (S. Greg. ln Annun.)
16) Angelus Sanctae primo omnium illud: Ave gratia
c
f��:úrJ!l������flf:sv�ra1�0:xln:mnlb�s ��� g����:h�:��:
n t
�:rfe��a q r��er� ��:�r� {$����: �i x���u:t�Jaque
�� �Ía�.
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-126-

Precisaria citar estes Sermões inteiramente :


são chammas do mais ardente amor á Virgem
Sant.a e uma profissão publica e doutrinal de sua
lmmaculada Conceição.
Citemos a.penas umas curtas pbrases toma­
das aqui e acolá nestes discursos.
•Ave, cheia. de graça, Dõr immaculada de
vida !
•Jesus Christo nasceu da pura, casta e Im­
maculada Virgem Maria...
•Ave, cheia de graça, pois estás revestida
de uma veste immaculada.
cO mensageiro incorporeo loi enviado a uma
Virgem sem mancha e immaculada ; é enviado,
elle, livre de todo peccado, á Virgem isenta de
mancha e de corrupçilo•. (17)
Silo CyprJano, Bispo de Carthago, em 250,
não é menos explicito. Num sermlio sobre a fes­
ta de Natul, eUe diz: cAjustiça divina nada pó­
de repr ehender em Maria. Ella era um vaso de
eleição ·, ella dilferia de todos os outros filhos de
Adão ; a sua natura, de certo, era a mesma, mas
ella nllo partilhava a sua culpabilidade. Elia pos­
suia um privilegio que nenhuma outra mulher,
nem antes nem depois delis, merecia oLter : as
honras da maternidade, unidas As da virgindade.
cPor isso, era devida a plenitude da graça â
Virgem Santa, e uma gloria mais abundante, pois
ena era dotada da integridade espiritual da car-

17J-A ve, gratla plena, llos vitae immaculatua.


- Jesus Cllriatus ex pura, et caata, el tmpolluta,
Saocta_��r�� .
ao
r
gvr!1!º;1���. ���iJã·m f1nmaculalam induta
ea vt> tem.
..
-Mlsaua eat Servus lncorporeus ad Vlrglnem Iovlo.
latam, atque (mm�ulatam: mlsaus cal a peccato Uber, ad
corruvUonls, seu labls expertem.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
-1 27-

e do espirito, e gozava, por dentro e por fó1"


IS, da presença corporal de Cbristo:.. (18)
Orlgenes. Rematemos estas citações tio
ltellas, expressivas e amorosas, com uma ultima
tias obras de Origenes, que Tivia em 226, e pare·
te resumir a doutrina e as tradições de BU&
�poca.
Elle escreve : cMaria, a Virgem Mãe do Filho
anico de Deus, é proclamada a digna Mãe deste
digno Filho, a Mãe Immaculada do Santo e im­
maculado, sendo ella unica, como unico é o seu
proprio Filho•. (19)
Este texto reconhece em Maria uma santida­
de e uma pureza correspondentes, emquanto pos-
1lvel, á santidade e a pureza de seu Filbo u ni..
E ª 1 º º i
� �
fa�o �e ).���.0 :� �::i� � p r �::i�:: !
z:a, ella o é por uma graça particular.
Origenes põe as seguintes palavras sobre os
labios do anjo, dirigindo·se a São José : •Rece�
bei, Maria, como o thesouro do céu, confiado ai.
vosso cuidado, como as riquezas da divindade,
como a plenitude da Santidade, como a justiç&
per!eita.
•Recebei·& como a morada do Filho unlco
18) Nihll in hoo repetilt ultro... Plurtmum. a cceteriS.
l! �t � ��� �::1��;��u:ii� q��SS-n·uua mullerum
di ere t c n
nec ante, nec deft:.ce:e!I merult obUnere, quod erat sil:l.üf
Mate: et Virgo Sh1guna titulls inslgnlta. Unde et Matri pie-<
.n.ltudo gratla.e delebatur, et V=abundantlor loria, quae.
e� r
:li!� :1 ::1x��tsJ�ft1��s�ua rr�:eir�;�. c,;� ���
ln Nativ.)
t
19) Hujus ltaque unlgenJti Dei dlcltur h&&c Mater VJl'o.
eo Maria, digna dlinJ, 'mmaculata Sanctl et immaculatlt_
una unlus, uitlca unJct. (Orif. Hom. 1 iD Math.)

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- 1 28-

de Deus. como um templo digno de toda honra,


como a casa de Deus, como a propriedade do
Creador, o palacio immaculado do Rei e do Es·
poso Celeste•. (20)
Em outro Sermão, Origenes, faz ainda o men·
sageiro Celeste dizer a São José : «Este menino
não precisa de pae na terra, porque tem um pae
incorruptlvel no céu; não precisa de Mãe no céu,
porque tem uma Mãe Imm.aculada e casta na
terra,.:,,esta Virgem bemaventurada, Maria». (21)
Citemos mais uma passagem de Origenes, de
uma belleza e de uma logica, dignas deste genio
extraordinario ; extrahimos a passagem de um
antigo Breviar!o romano : «A bemaventurada Vir·
gero Maria não foi illudida pelas palavras per­
suasivas da serpente, nem envenenada pelo seu
sopro mortifero.• O que significa claramente
que foi isenta da culpa original, lructo das pa­
lavras da serpente que excitaram os nossos pri­
meiros paes á. desobediencia contra Deus.
'
Vê-se claramente que a doutrina1 tão clara­
mente exposta pelos Apostolos em sua Liturgia,
continúa a ser professada como uma verdade in­
dubitaveJ, certa, divina; são até expressões e
comparações identicas, e muitas vezes é a repe­
tição dos mesmos termos.

20) Acclpe er o Meriâm, slcut commcndatum celcstem


thesaurum, Dcitallsg dtvltlas, slcut ple.nisslmam sanctitatcm
�ut perfecta.m juslllJam.
n u
rabile t��0�fu0m�ªsic�ÍcuJo1:�e ��l�s���tº�ic�io�� �m���:
�f;.l� t R ' estis Sponsl domum fmmaculatam.
fÕ H��. 1 1: 'M�t':;.�
e
blle�1)e� b��tn��t���gii: ���:ls��� �o� ��e�n:g{t��P��
coclls: lmmaculatam ct castam habct matrem in t rra, bane
muJtam Beatam Vlrglnem MarJam. ( Orlg. : S. 8 lneMath.)
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- 1 29-

V. No quarto seeulo
Do terceiro, penetremos no quarto sec�o.
mais fecundo e mais luminoso ainda que o t�­
ceiro, e.tlirmando o grande privilegio do. Mãe Cie
Jesus.
Temos dcantc de nós as figuras incompara­
\'eis de Santo Athaaasio, de Sunt' Ephrem, de
São Basilio Magno, de Santo Epiphanio, de Wo
Gregorio de Nyssc, d!'! São Jeronymo, de Timo­
theo, de Síi.o Sophronío e de São Jollo Cbry­
ostomo.
E' a pleiade gloriosa de grandes ApostoLbs
to ir d r
�di�� d:ªs! f::a��a�:1C��c0ei��o�0 0 pa -
Devo limitar-me a curtas citaçõ�. sinilo ha­
Yeria assumpto paru um livro inteiro.
Santo Athanasto� o invencivel pionefro·
ela gloria da Mãe de Deus contra os herejes d'o·
'Oriente, exclama com entliuslasmo communicra­
tivo : E' justo que te acclamemos a nossa Mãe,
nossa Regeneradora, nossa Soberana, nossa Mes,_
tra, porque o Rei gupremo, o Senhor, nosso Deus.
aahiu de ti, Tu estás sentada a seu lado. Para
nós Elle é temlvel, mas para comvosco Elle •6
twn doçura e vos concede toda graça.
Por isso, o anjo vos proclamou : cheia U.
graça, a vós que possuis toda a graça em atuln�
clancia•. (22)

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- 1 30, -

Mari�� �!":�m�a����. �1:e�-:an�


cba e sem defeito, sois a proprla pudicidade, ne­
nhuma mancha, nenhuma sombra de pecoado pó.
de approximar-se de vós, ó Virgem esposa de
Deus e nossa Soberana•. (23)
S. Basmo Mal(no, poucos annos depois,
Introduziu na Liturgia, que conserva o seu nome,
u o ev
:r:8���!�o�8���::er2�:S.�1�1�� :�ss� :a��i�=
1ima, intemerata Senhora, Maria, Mãe de Deus e
de todos os Santos".
E o Diacono responde : �"Guardae nos, ó
Deus, pela vossa graça, nós que fazemos- com­
memoração de nossa Santissime e immaculada
Senhora, a Mãe de Deus com todos os Santos.• (24)
Santo Eplphanlo não é menos entbusias­
ta em annunciar as glorias da Mãe de Deus :
..Sois cheia de graça, diz elle num sermão, ó
Virgem Bemaventurada. Fóra de Deus, sois su­
perior a tudo o que existe. Sois mata bella pela
vossa natureza, que os proprios Cberubins e Se.
raphins e todo o exercito dos AnJos .. . Sois um
lirio immaculado . . . sois a ovelha immaculadci
que deu á. luz o Cordeiro de Deus, que é o Cbria­
to>. (25)
e
23!tq��.
���
udj :�· s :�: :'Tà�00=:f' a'tteiS:f!:
'!
)a, Dominaao IlOStra
cito. Ephrem: Serm.
24) Sa nctf.sslmae, intemeratae, Doml.ll.atrtcls nostrae,
Deique Genitrlcls Matiae, cu.t0 omnibus S8DctiB Commemo­
r••tes. Castodi nos, Deus, gratia tua, Sanctiulm.18, etc. BA-
all. 14. l.Jturgia. .
25) Gratia plena es Beata Virgo, solo Deo excepto,
c.unctl.s superior es ; natura fo'1l!-Osior es lpsis Cherul.ilm,
Serapbim, et omni exercttu Angellco.
Lilium fmm.acltlatwn., .ovea lmm&Cul&tam, qwe pep�
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-131 -

Banto A.mbrosto. 1füpo d e Milão, é U\o


expressivo e pot-itivo que os (... Utros Doutoi·es des.
te seculo, diz: e.Alaria foi e�ta Virgem mila­
,:ros:i,, ao me smo tecnpo isenta do nó do oecea­
do original e da casca do peccado veniah•.
E ainda : •Deste rebanho sahiu Maria, a ove­
lha santa, immaculada e sem mancba.u. (26)
sa.o Gregorlo de Nlsse iegu.c Santo Am.­
brosio (380) e faz uma graciosa comparação en­
tre a Encarnação do Verbo e as nupcias dos li­
lhos dos bomcns.
A divindade quer unir-se á humanidade :
Foi cecnlhido o seio da Virgem Maria, por
causa de sua incomparavel purnw, como a sala
nupcial, em que deve effectua1·-se o grande mys­
terio. Foi neceF1�ario que não houvesi;c n enhu ma
mancha neste Tabernaculo, il luminado pelos es­
plendores do fü;pirito Santo ; foi necessario que
a pure za de Maria fosse i1zcor1;1plível». (27)
Silo .Jeronymo, o grande luzeiro exegóti­
co do 4. se cu lo, professa egnalmente a verdade,
universalmente u.lmittida. m\ lmmnculada Con­
ceiçi1o.
Numa de suus cartas, elle escreve que •a

rtl Agnum Christum (S. Eplpll. : Serm. de Iam!. B. V.


2G) Vtrgam ln q·1a nec nodus origiiwliJ, oec cru·tv::
V<'riialls culp:e fult-D� hoc grcge •Suncta et immGculcllu
tt lníl:lCta llh1. nvls procc-.:-;lt, Sauctu Maria. (S. Ambr.: Horu..
11i:p. Cain et Abel)
2i) Solus PX t1nivenil.t1 homlo!!m myriadlbus, de pu­
!'1!11.te Vtrginea elcclus est, cujus Conceptlo sloe duoru.m
ojuocllone perfccta, p'.l.rtus mlnlme lnquioatus, parltlrigo
���Í�m c:�ti::·vl��l�i�al�1!hJ�n;!�n t��:���!nf.º�;t��p����
, Spirltu!ii S!lnc;i spleodor, cullilc v1Uorum expers, contli­
nuptlto p:ll'itas incorrupta. (Greg. Naz. : Hom. 19 in Canl.)

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- 132-

Santíssima Virgem fol sem mane/ta


todo contagio do peccudo.
Explicando as palavras do Cantico: Veni Co­
lumbct mea, immaculata mea, elle escreve: Ma.­
ria apresenta em tudo a simplicidade da pomba
porque não ha nella nada que nil.o fosse toda pu.
reza, toda simplicidade, toda verdade e toda
graça. Elia é pois hnmacuJada, porque não
tem nenhum Yestigio de corrupção. (28)
Tlmotheo, sacerdote de Constantinopla e
um dos grandes oradores desta época, é mais
positivo e mais claro ainda que os seus contem·
poraneos: Citemos apenas o seguinte trecho, de
um.e.belleza sem par : cA Virgem Maria, maia
fmmaculada que todas as criaturas, e mais san­
ta que todos os santos, pela graça daquelle que
se di/1 ta a d·
a��d:�� ,Jir��1::' l':::i : J::�:i�� ��
ª óde exprimir, e santa de todos os mo-
l:. c�)
sao Sophronto, Patriarcha de Constan·
Unopla, repete e espalha a meema doutrina: cO'
Gabriel, exclama eUe, dirigindo.se ao Archanjo.
que, pela vossa palavra, annunciando a salvação,
tendes inundado de alegria, a alma bemaventu­
rada e innocentissima da Santisslma e purissima
Mãe de Deus, nossa Soberana. . . •

18/.Impollutam et alienam a ut&gtone peccati. .


fNmp Ucl tem colu.mbae ln omnibWI repraesentan1,
oo
quonlaa
quJdquld lo ea gestum est, totum pWitu
et almpliclt&s, to.
tum verltaset gratia fult : et ldeo immGCulata, quia lo nul-
\t d
e
lo 00';9f'Un :r:J�'i!;� o�:'f J.,i ata, et omnlbu1
modJ1 Sancta Virgo, pai'
mum, qul domlcl�am babuH
ln ea
usqu adhuc immortalls eat
e
m
albasq-;::i� �lt:._ 1�o:eLpo� !ic°�f:���m·
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-133-

E mais além, elle diz : «O' vós que almejaes


lazer-nos o bem, collocae-me no numero dos vos­
sos justos, e fazei-nos partilhar a vossa alegria;
eu vol-o peço, pela intercessno da vossa Mãe
1empre innocente. . . .»
Diz ainda : c:\fnria f..,i santa e admiravel'.; ella
ae deliciava nas cousas de Deus; seu corp'l, a
ama alma e sua intelligencia foram isentas de
toda mancha».
A Virgem Santa foi escolhida, deste modo, e
o seu corpo e sua alma foram santificados,
de tnl modo que a Encarnaçilo se realizou fican­
do ella pura, cn.sta e immaculada. �
O Verbo encarnou-se verdadeiramente do
Sangue inviolavel e virginal da Santa e Jnzma­
cultuia Virgem .\laria (30)
Sito Joílo Cbrysostemo. O quarto seculo
termina com a figura luminosa de Silo João,Cbry­
sostomo, que os seculos appellidaram 1 bocca.
de ouro.
Suas admira"Teis homiHas estão repletas de
citações a respeito da Immaculada Conceição.
Na Liturgia por elle redigida encontra.se dl...
Yersos vezes esta prerogativa da Mil.e de Jesus.
•Fazendo memoria da Santiiisima� inconta...

SO) O Gabriel, qul beatisslmam, lnculpailsslmam, Sa·


e
tr:::;: '':�f����:!ª:o'.t����:!i��f1ir:;�º� g:��tt8 g���
Uio lmbulstl. ..
lnculpatae Matrls tuae Intercedente. • •
Marille. Saneia.e, preclaracquc, c t quae Do! sunt sapf.
•ntl�, ab omnl contaglooe llbl•rac, ct oorporls, et anjma, et
lnt,.llt•ctus. , . Icleo \;,Irgo Sancta acc!pltur <•t corpus anima·
u� liA.neUUcntur, quae lta mlnlstravlt lncarnatlonl, ut mun...
et t.'.U<ta. f't lneontlt.mlnata. . .
Ex lnvlf?labUI e t ürginali sanguine S>inctae ntque ftn·
i:ulu \'lrgml1 Mnrlac, \'1·;b1m \·o:rc ll:t.ctuw e.st incar.
t''1Ill (S. Sophron. : Eplst, ad Serglum),
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- 1 34-

alnada, sobre todos bemd.ita, de nossa gloriosa


fiilenhora, Mãe de Deus e sempre Virgem Maria. . • .
Eum pouco além :
«Sobretudo em honra de Nossa Senhora. San�
ttselma, Jmmaculada, sobre lodos bemdita e Mãe
de Deus.•
aE' verdadeiramente digno e justo que vos
glorifiquemos, Mãe de Deus, sempr� bemaventu­
rada, iateiramente sem mancha, Mie de nosso
Deus, incomparavelmente mais digna de honra
que o Cherubim, e mais digna de gloria que o
seraphim .. (31)
Num Sermào sobre a Annunclação, o Santo
diz que «Maria é lmmaculada, que a Virgem en­
tregue a São José como esposa, é um lirlo fe­
chado, uma Virgem sem mancha.• (32)
Eis textos que deslumbram e exaltam a fé
do Catholico, vendo brotar da alma dos prJmei­
metros Doutores da Egreja os mesmos accentos
de fé, de confiança e de amor, com que, hoje
ainda, a Egreja Catbolica acclama a Virgem
si ª n r e dª
�M�� J1! ��r:� t'!;: � X� � � !�����;:
oe s
nossa Mile querida.
º an é . é

Bastaria destas provas para mostrar a tnvio­


lavel fidelidade do culto catbolico ao ensino da

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�135-

Biblia e âs tradh;ões apostolicas, espalhadas n(>


aundo inteiro e através de todas as gerações.
Si os pobres protestantes lessem e quizes­
aem comprebender estes accentos dos primeiros
ebristãos, esta tradi9ão tão fielmente conserva-
4a1 pela palavra e pelos escrlptos das primeir&1
autoridades da Egraja, ficariam plena.mente con­
•encidos de que a Egreja nada inventou, nad&
mudou, nada ajuntou, mas apenas conservou.
aa integridade a palavra. divina e as instituiçõe�
apostolicas.
•1 Podia continuar e multiplicar as citações,
cada vez mais numerosas dos outros seculos; po­
rém, para nilo prolongar exaggeradamente esta

���� �� � �� :� : :�: i��[ ; :: �J ���


iç 8 i 0 t 0 e
t to e r en e a
eulo, até chegar á proclamação definitiva e offi­
cial pela Egreja, de um dogma implicitamen·
te contido na Sagrada Escriptura e expllcl•
tamente transmittido pela tradição dos Aposto.
los e primeiros christãos.
• 1 ·• Estas duas fontes da verdade : a Biblia e a
tradição, recebendo da autoridade infallivel da
Egreja a sua plena confirmação e expansão, fa.
zem refulgir hoje no mundo com todo o seu res.
plendor, este bello, &uave e luminoso privilegio,
da Immaculada Conceição de. Maria.

VI. No quinto seeulo


Neste seculo encontramps as figuras radiau...
tes dos Santos Agostinho e Cyrillo, Proclus, S.
Ba.silio, Theodoreto, s. LeAo Magno e S. Pedro
Chrysologo, além de muitos outros de menor iJD..
port.ancia.
Santo Agostinho, o nobre filho eapi-

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ritual de Santo Ambrosio e Doutor dos Dou­


tores, abre o quJnto seculo 1 CHemos delle ape..
nas a seguinte passagem:
«Quem poderá dizer: eu nasci sem peccsdo '!
Quem poderá afanar-se de ser puro de toda
iniqui da de , sinllo esta Virgem pru denti ssima, este
templo vivo de Deus, quo o proprio Deus esco­
lheu e predestinou, antes da cresça.o do mundop
para que ella seja a Santa e immaculada MAe
de Deus, para que ella seja a filha preservada
de toda c orrupção e de toda mancha do peccado?
São Cyrlllo de Alexandria, o genero­
so defensor da gloria de Maria contra os ntaque&
de Nestorio, escreve : «E' tcmerario dJzer que Ma­
ria tenha sido c ulpada de qualquer falta, ou de
qualquer peccado».
Proelus, Bispo de Cyzico, disE:e no f'rm­
cilio de Epheso o explicou que não hnYia n,.1 hu·
mn inconveniencia \>ara a santidade dh ·, (�m
fazn a sua morada no seio de Maria, 1 ·01 111 F.lle
m esmo a tinha <Jreado pura e sem m ·nd1.
•A carne de Maria é perfeitamenl•· p· pe·
la razão de ella não ter sido attingida 1 1 m·
cha original•.
São BasUJo, Bispo e Se e cia, excl. 1•·0•
d lu
no fim de um discurso: «O' Virgem llêfl "' 1.es
sants ; aquello que disser (le vós as maiOP'S mn·
ravilbas e exaltar omais alto a Yossa gloria, 11ão
deve receiar do ultrapassar os limites df< \"t1 da·
de, pois nmwa as s�s palavras po Mào • �l': a
d r
ã sublimidade de vossa grandeza. Mn1 ,., é ôs
vezr>s santa, porque foi pura do peccado ori!Ji·
d d
nttl, o peccado mortal e o o peccad o
1 .
Theodoreto, outra gloria deste s1,··11lo, AS·
creve : «Entre tantas almas humanas que Psti'i.n "RI·
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-1 37-

n.s, apparece só e unioa, tal uma pomba esoolhi­


tla, ,.a Virgem da quem nasceu o Christo, Maria,
Virgem e Mãe, Maria, cuja pureza sobrepuja a dos
Cherubins e dos Seraphins>.
São Leão ltlagno, que viveu em 440, es­
creve : eUma Virgem real foi escolhida rla raça de
David; ella concebo um filho em sua alma, antes
de concebei-o em sua carne.
A alma de ;\laria não devia ser menos virgi­
nal, menos ao nbrigJ de toda mancha, que a sua
carne, pois devia clla conceber o :Senhor com a
sua carne.•
São Pedro Chrysologo termina a serie
dos Doutores do quinto seculo, o escrevo: cEra
justo que tudo fosso conservado intacto e m Maria,
que deu a vida ao Sakador de todos.

vn. No Sexto e setiJno seeulo


Á medida que nos vamos afastando dos Apo­
•tolos o numero dos Doutore! vae crescendo, e
as citações podem ser mais numerosas ; porém,
para maior bre,•irlnclo escolho ãpenas os vultos
de maior destaquP, e que mais expressamente tra-
ram da Immaculada Conceição.
Encontramos nf'ste Sf'culo os Santos Fulgen­
io, Annstaeio, André ele Jerusalém, Uesychio, Il­
defonso, Eloi, e o grande �nimigo dos Chris­
Lãos : Mahomet.
Silo Fulgene:lo disse em u m sermão : a:A
malicia do demonio corrompeu a alma irduzida
do primeiro homC'm ; mas a graça de Deus con-
1ervou, em tof'la a �ua integridade, a carne e a
alma da Mãe do sggundo Adão»,

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Anastacto, o Sinnita, escrevia em 544, em
suas contemplações: «Dizei-me, quem entre oe
homens ou demonios ousaria pretender que Aquel­
la, cuja carne é da mesma essencia que a carna
do Filho de Deus, não toi feita á imagem e seme­
lhança d'Aquelle que della nasceu ?
Como seria ella a Mãe de um tal Filho, si ell•
não trouxesse em si mesma, em toda a sua inte­
gridade, a imagem de seu Filho'?
André de Jerusalém, numa Homilia
aobre a morte de Maria Sme., disse : Maria era
immaculada, sem mancha ; a pl<"nitude da casti­
dade sobrepujava n'ella tuc'lo o que existia : QuCB
cum essel immaculala,... impolluta.. .•
Hesyehlo de Jerusalém vi\'ia no começo
do 7.0 s�culo. Deixou diversos discursos sobre a
Virgom Maria nos quaes chama Maria : Pomba Im­
maculada, toda pura, Virgem escolhida entre as
Virgens, gloria da terra, adorno da natureza, e
termina, dirigindo-se A Marin. «Maria, porque sois
pura do toda mancha, porque sois conservada, tal
um templo incorruptinl, tal um Tnbernaculo sem
mancha, o Padre Eterno vem habitar em YÓS, o
Espirito Santo YOB cobre com sua sombra, e o Fi­
lho unico de Deus se reveste da vossa carne e
nasce de vós !•
Santo Elo"1 Bispo de Noyon, falando da
Purificação, di1 : Deve-se considerar como não
Wndo oontractado nenhuma mancha Aquella que
o Espirito Smt.e cobriu com sua sombra e que deu
4 luz o autor de toda pureza e de toda santidade•
Santo Ildefonso diz por sua vez : E'
constRnte que foi isenta de toda falta original
esta Virgem, pela qual a maldição de Eva não
foi somente retractada, mas pela qual a bençam
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-- 1 39 -

tDi dada a todos•. Constat illam ab omni pec-.


originali fu'isse immunem.
Este seculo fecha-se por um testemunho in·
-.apeito, do grande inimigo dos Christãos deste
tlmpo Mahomet, o fundador do Islamismo.
Este inimigo do nome Christão escreve estas
inhas curiosas em seu Alcorilo : •Ninguem, entre
• filhos de Adão, nasce sem ser tocado por Sa­
tanás. e este toque de Satan causa choros e gri­
I08. Somente Maria e seu !-"'ilho foram isentos.­
O' Maria, vós sois mais illustre que todos os ho­
mens e todas as mulheres. O' Maria, Deus vos
eacolheu, Deus vos purificou, Deus vos fez mais
aloriosa que as mulheres de todos os seculos».

VIII. No oitavo e nono Seculos


S. Germano abre o oitavo seculo com as
.nas beUas homilias sobre a Immaculada Con­
�eiçS.o, ta.o bellas que a Egreja as escolheu i.ara
figurarem no 3o. Nocturno da festa.
Em outro livro elle diz: «O Pontifice, pelo
paramento de que é revestido, representa a car·
ae de Jesus Cbristo, esta vestidura vermelha e
sangrenta, que reveste o Deus immaterial, tal

:; ��!f: i: ��t!8a � f
e º e urpura, pelo sangue
c d e (1
Nas actas do sexto Concilio geral sob o
Pontificado de Santo Agatbão, lemos uma affir.
mação categorica da Immaculada Conceição.
Lemos no capitulo Vlli das Actas: «Contes·
amos que N. S. J. Cbristo encarnou-se por ope�
ração do Espírito Santo, da Santa e lmmaculada

1) l)t purpuram ttnetam ex lmmaculato sanguine Dei­


..,e (ln Theorla re.rum ecel)
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Maritt, Nossa Senhora, Mãe de Deus e semp


Virgem.> (2)
E no capitulo XVlll. lemos ainda: 0 Christo
habitou no seio da Virgem, Mllc de Dous, toman­
do carne de sua carne santa o immaculada, par&
fazer dclla a sua propria substancia. (3)
Vem depois o admiravel S. João Dama•
sceno, o grande defensor da lmmaculada Con­
ceição : cO' Santissimn filha de Joaquim e Anna,
exclama elle, fostes conservada immaculada para
serdes a Esposa de Deus.• (4)
Em outro lagar o Santo diz que o sangue de
Marta sendo a materia prima do sangue e da
carne do Salvador, devia ser um sangue absolu­
ta.mente puro e immaculado. (5)
Este termo-immaculada-encontra-se a ca­
da pagina dns obras do Santo.
Falando de Maria, elle a chama a cada pas­
so : Sagrada e toda immaculada - Sacra, pror­
sus immaculata.
Um Concilio de 760, diz cxpres11umC'nta q ie
Jesus Chrlsto se fez homem de uma terra ani•
mada e immaculada. (6)

t
esse �ec�;mf:S��Jo��1�U:n�i!. �':n�;;u��q�;ai)!���
oostra, Oel Genltrlcc, tiemperque Virgine llaritl (YI S;,·n. lf('n.
a.ct. 8J.
:l) Ex &llncta et lmmaculnttl carne ejut tn proprla. sub­
stnntia carnem ai<sumpslsse (Idem.: Act. 18).

ln N1:1l) :.ul,�)lmmo.cutnt.a conscrvtlta. ln Dei Sponsam (Serm.


5) Cuju.s nnturre prlmlfüu:r, ex purl�i:lmh ct llllbutb, ac
pronrna lmmaculatl!I Sanctac \"lrgfnts sangulnlbus susciplcns
etc. (Ornt. 8 de Nnt. M.)
6--Melaore quldem tC'rra n.r.lmnta, el lmmaculata (COn·
clllo de Francfort: Epist. ad Eplsc.)

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.
. .

No nono seculo são menos numerosas as


ras que sobreviveram, sobre o culto da Sma.
ir1Zem, porém a mesma tradição oontinúa e
nHesta-se nos escriptos doa Santos desta época.
S. Nlceplloro, Patrlarcha de Contanti­
apla, em 811 dirigiu ao Pa.pa Lell.o III uma
•rta em que se lê o seguinte � «O Filho de Deus
bbitou o seio da Sa.ntlssima e purissima Virgem
li.a.ria, Mãe de Deus, em sua alma e em sua car­
ae que o Espirita Santo purificára de antemão•.
Termina a mesma carta: «Pela intercessie
de sua Mile immaculada e purlssima• (7)
O grego Theophano deixou um hyniD.O
bre a Annunciação, em que lemos esta estrQ�
pbe espressiva: •Achaste graça deante do Se­
nhor, uma graça que nenhum outro achou, sináo
tu, 6 Jmmaculada•. (8)
m 8 1 11ª 6 00
� 8J... �:::i, ��� ��
caç : c g r aada, Jhgi���\fA���
Deus. Toda a criatura clama por vós, ó ayo,1-
pha de Deus, pois somente vós sois a Mãe pre­
destinada e 'immaculada do Filho. Salve ! Virgem,
aosea Soberana. Salve! oh! immaculatissima !
'
Salve, receptaculo de Deus•. (9)
Encontram-se passagens ldenticas nos esçl'l­
pios de StrabAo e nas Homilias de Aleul11.­
dllas figuras de alto relevo deste seculo.

Matrl.8, et om.aiu.m Sa.nctorum Er>lsl ad Leo. P.fu.


7-lnterceuloaJbus lmm&eulatae et lnoontamJ.nataa
ftU8
J
DD�ln .J:nil�e� � 1::�=·cJ;:':1 �
9--Tu � sola 'Matcr FilU praeelecta ce lmnw:: II'�
Miai..
ariu.tvc lmmaculaUsslma, Ave receptaculu.m Dei (14-.:
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- 1 42-

IX. Deeimo e Undeeimo seeulos


O decimo seculo brilha pela instituição� de
uma festa publica em honra da Virgem Imma­
culada, a pedido do Imperador Leão-o Philoso­
pho.
Este seculo viu o admiravel Raynnando
Jordão, Conego regular de Santo AgostinlJo,
que se escondeu sob o appellido de cldiota».
O Idiota tem passagens admiraveis sobre
a Sma. Virgem.
«Oh Maria, sois toda formosa em vossa Con­
ceição, diz elle, pois fostes formada unicamente
para ser o Templ0 do Altissimo !
Jamais a minima mancha, o mini.mo sopro
do vicio ou do peccado, tocou a vossa alma glo­
riosa! Jamais faltou qualquer cousa á belleza, á
graça, .á virtude de vossa alma!. . .
Sois toda bella, ó Virgem gloriosissima, não
sob um ou outro aspecto, mas inteiramente !
Não ha em vós nenhuma macula de pecca­
do, seja mortal, seja venial, seja original : Nun­
ca houve e nunca haverá:.. (10)
S. Fulberto de Chartres, Bispo de Char·
tres, não é menos explicito. Num Sermão Robre
a Natividade cUe diz:
«A alma e a carne d'Aquclln que a sabedo­
ria de Deus escolhera para habitar nella, foram
absoluta.mente puras de toda. malicia e de toda
mancha».

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E ainda : «Vós fostes immaculada desde o


primeiro instante de vossa Creação, porque de­
�eis dar á luz o Creador de toda a Santid&­
tle•. (11)
.
. .

A festa da Immaculada Conceição, instltuida.


ao seeulo decimo, estende-se cada vez mais, e
torna-se quasi universal.
Do Oriente, penetra no Occidente e espalha­
.e pela Normandia, Inglaterra, ltalia e França.
Santos admiraveis, apostolo& ardentes levan­
tam-se de todos os lados, para estender o culto
da Virgem Immaculada.
S. Pedro Damião é conhecido pelos seus
sermões sobre a Mile de Deus.
Falando da Annunciação elle diz: cDepois
que Deus creou todas as suas obras e as fez
boas, Elll'.! fez qualquer cousa melhor ainda :
consagrou-se um leito de repouso, formado do
ouro purissimo, na pessoa de Maria. Após a.
rebellião dos Anjos e dos homens, Elle quiz en·
contrar nella só o repouso e a tranquillidade•.
«Só Maria, diz elle ainda, Mãe e Filha do
Creador não desceu nunca, não cahiu nunca . . .
A carne da Virgem, que provém d e Adão, não
foi maculada pela falta de Adão•. (12)

Santo Anselmo dE: Cantorbery é outro


Apostolo de Maria Sma. Elte- escreveu um livro
aobre a lmmaculada Conceição, donde des,taca�
mos este pequeno trecho :

11-Electa inslgnill inter filias, quae im.m&culata sem·


per extttlstl. ab exordlo tuae creatlonls, qula parltura eras
Cre �·
atorem totlus Sa.nctltatls Fulbert.J
Adae ��-;C:J:iJ�. l.�m.) ex Ad.am Sumpta, macula&

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- 1 44-

«Porque Jesus Cbristo nasceu, segundo a sua


divindade, do Padre Eterno, que é justo ; era pre­
ciso, si nos podemos exprimir deste modo, que
nascesse de uma mãe justa, segundo a natureza
bumaoa.
«Póde-se pois dizer, com toda verdade, que
ella possui& a justiça original, em vez da injus­
tiça que recebem de sua origem todos os des:..
cendentes de Adão•.
E ainda : cSi na Conceição da mãe de Deus
.se encontrasse qualquer cousa do pecca.do ori­
ginal, não é nella que loi concebida, mas na
pessoa de seus paes que é preciso procurar.
«Deus que faz que as castanhas se alimen.
tem e amadureçam no meio dos espinhos, fican­
dp entretanto separadas delles, não poderia enip.o
zer a mesma cousa com a sua Mãe ?
Certamente, elle o poude e elle o quiz; e st o
quiz, elle o fez ! Plane potuit et Voluit, quod .li
wtuit, et fer:U (lib de Concep.)

Jlle8::�::p:r1i�� :o�:: ;��: �:


c u n
É ,e da
maculada Conceição, cujos escriptos chegar�
&li\ nós.
«Apprendamos, diz elle, como o Filho de Déus
sa.ntilicou a carne de sua mãe, para que o QB.­
tholico se alegre, e que o bereje impuro Ji­
.que cob.Iundid<'.
«Deus apagou nelip. toda a mancha do pec­
cado original e do peccado actual, e tomou Ua
carne da Maria, para lormar a sua propria car­
ne, á qual com.munlcou e. pureza do proRtfo
Deus•. (13)
-is::.Qmnem q ufppe naevnm, tam orisz'lnalle. quam u­
tualli culpa ka ea, delevtt,. aicque carnem ae carne ei•u­
�ens, eamdem 1n dlvlnh mundJUam tra.n.eformavlt OVD
Gllfr : S.rm.J<}c;:Nat).
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-145-

X. Conclusão
Paremos um instante no limiar do decimo
gundo seculo para constatar como nestes se­
culos mais remotos brilha, tal uma estrella, a ver­
dade inconcussa da lmmnculada Conceição.
Nenhuma opposiçlio se levanta nem sequer
da parte dos berejes e outros inimigos da reli­
gião.
Todos os escriptores cathollcos que tratam do
as1mmpto, manifestam a sua convicção plena e
integral a uma vercJ,ade considerada de tradição
apostolica.
f\enhuma voz discorde, nenhuma luta entre
os theologos, nenhuma reserva a este respeito.
Com o termo proprio-Immaculada-ou por
termos equivalentes, encontramos sempre Maria:
toda bella, isenta de todo peccado, livre da man­
cha original, preservada de toda macula.
E' a Immaculada, tal qual, seculos após a E­
greja a proclamará em defiuiçAo dogmatica, que
usará. para sempre como uma verdade implicita­
mentfl revelada no Evangelho, e explicitamente
.,;Onfirmada pela fé universal da catholicidade.
Notemos bem esta rtrmeza e esta unidade de
t'nsino, tanto para preparar o nosso espirito para
a eclosão final do dogma que deve desabrochar
!'Obre esta haste, como para comprchender e apre­
ciar em seu justo valor, as hesitações que Pncon­
traremos nos dois geculos seguintes, hesite.ções
permittidas por Deus, e até necessarias, para o­
brigar os theologos a estudarem até no fundo
esta glúriosa prerogativa de Maria, e definir to­
das as suae consequencias.
Como conclusão doutrinal, que resume tudo
o quo acabamos de ver e synthetlza em faixo lu-
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- ' 1ó -

minoso osdlvcrso� aspectos da. Immaculada Co


ceição, reproduzo aqui um soneto feito pelo p
prio demonio, em 1823, por lntermecllo de u
menino Jlletrado de 12 annos de Idade, possess
e exorcizado por dois Pallres Dominicanos,
cidade de Ariano, da Apulia. (Italla)
Os dois Sacerdotes lmpuzeram ao possess
a obrigação de provar theologicamente �om
soneto de rimas Indicadas ; Filho e Mlle, a 1
maculado. Conceição da Múe de Jeus.
O pequeno possesso illetrado, num instan
compoz o seguinte Soneto, que é pelo modo
dizer e pela prolundeza da doutrina, uma ob
inimitavcl, acima da capacidade intellectual d
qualquer pessoa, por mais illustrada que seja.
E' o resumo de toda a doutrina da lmmacu
lado. Conceição, e o echo perfeito e fiel da t
dição dos doze primelros seculos do Christi
nismo :
Filh
1'fãe verdadeira eu sou, de um Deus que é
E d'Elle filha sou, bem que sua Mae ;
Ab retenta, nasceu, mas é meu Filho,
Bem que nasci no tempo, eu. sou sua Md

Elle é meu Creador, mas é tneu Filho,


Sou criatura sua, e sua Mde;
Prodigio foi divino, ser meu Filho,
Um Deus eterno e ser eu sua Mlie.

Commum é quasi o ser, a .Utie e ao Fil


Porque do Filho, tece o ser a illde,
E da Mãe teve o ser iam.bem o Filho.

Ora, si o ser do Filho teve a Mãe ;


OU se dird que foi manchado o Filho,
OU sem. labrht se lia de dizer a Mãe.
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-147-

O mais subtil theologo seria incapaz de ul­


trapassar, em firmeza e profundeza doutrinal, a
exposição succinta da Maternidade divina, da pu­
reza virginal e da Conceição Jmmaculada de
Maria.
O Papa Pio IX, tendo conhecimento deste so­
neto, leu-o, chorando de commoção, e procla­
mando-o uma exposição perfeita da Immacula­
da Conceição.
O demonio fez-se o panegyrista obrigado do
mais profundo dogma, gue diz respeito á Mãe de
Jesus.
É uma contissào forçada, permittida por Deus,
para revelar ao mundo a grande prerogativa de
sua Santissima Mãe, mostrando ao mesmo tempo
a união intima, sagrada, inseparavel que existe
entre o Filho e a Mãe.

�111� 1

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C 1' P n u r. o v1

A Jmmacolada Gonceição
SEOl'�DO O DOOMA CATHOLICO

Antes de �xpõr R irradlaçno completa da


ImmacuJada Conceição, uma observação é ne­
cessaria a respeito do desenvolvimento dos do­
gmas.
Os dogmas cathollcos, embora lmmutaveis
objeetlvnmente, mudam subjectlvnmen..
te, conforme odegrau do intelllgencla
e de pe­
netração da pessoa quo os estuda.
Ha nos dogmas lmmutaveis «simplfr:iler» um
verdadeiro crcRclmcnto «SCcwulum quid.•
E como se faz o tal crescimento ?
Todas as verdades sobrenaturaes, por dis­
r
posição divina, passam, como que po três es..
tados.
1o. A VPTdade simples, contida muitas vezes
implicitamente em qualquer principio universal.
20. A impugnaçbo, objecções, ataques dos
inimigos da religião, ou duvidas dos prop1·ios
theologos.
ao. O estudo apurado ou a polemica na refu­
tação dos erros, ou no esclarecimento das duvi­
das, que põe cm relevo os diversos aspectos
da verdade impugnada.
E' deslc modo que procedia Jesus Christo,
ensinando os •"Jus Apo11tolos.
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- 1 49-

Tenho muitas cousas a dizer-t'Os, diz elle,


mas ti6s nao as podeis compre/tender agora
(Joan. XVI. JS.).
A Immaculada Concciçiio devia passar pol'
1•sta triplice phase de desenvolvimento.
No Capitulo precedente assistimos á prime:�
ra phasc : a verdnde simples.
Vamos agora assistir é. segunda pbase : a
Impugnação, e termina.remos com a terceira :

:a � ��J!, ªfu����� t�11� �:�ft::i : ���


8 º · ver
-
d o i e .

I. Prbneirns hesitações
N_gs onze primeiro!! scculos a l:iFtoriu. nilo
uns transmitte nenhuma impugnação da venlu­
e catholica, acerca da Jmmaculada Conceição.
Cada um dos Doutores seguia E.lrnplesmentc
luzes tla fé e o nttraclivo de �ua piedade
para com a Sma. Vlrgcru (' nilo procurava pe-
11. trar mais avante numa questão, que uii.o to­
va ás bases es�enci11es d:l. religiilo, e que ne­
ntmm �ter.•je atacava.
1'' o começo deste seculo a que!'t.lo muda tle
pe1.;to... l!a um desenvolvimento intl'nso dos e s
-
.doi:; phl'osophicos que abre novo.- horizontes.
Os th<'ologos 1.erscrutam o. doutrina, e pc­
tram ncl' mystcrios, querendo cont:uer a fun­
. a religião.
Era UM progresso nota\'Cl, ttCCC"'-"'ªrio, mas

tJJ.
e n.lo JPixava de apresentar certos perigos.
O es o da rPLigHlo ó o mais �ublime dos
�Ul1os, qas deve ser dirigido por uma auto·
dnct" Mmpetentc.
Nai: q 1estões incertas e não definidas, Roma
xa r1 po aberto aos estudiosos. e som�nte,
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- 1 50-

quando ha perigo de desvio ou erro, ella inter­


,·em com seu magisterio inroUivel.
Era pois permittido discutir as bases da lm­
maculada Conceição . . . cxnminar o pro e o con­
tra, para fundu.ment&r melhor o ensino catholico.
E' o que aconteceu, e o que abriu a parta
á.s primeiras duvidas, ás hesitações, e até a cer­
tas, mas rarissimas negações.
Uns se declararam aberta.mente a favor, ou­
tros hesitaram, ou acharam tal privilegio inutil
para a gloria da Mãe de Jesus.
Coisa admirn '7el, entretanto, onde se vê o
dedo de Deus:-todos aquelles que se pronuncia­
ram contra a verdade tradicional, ou retractaram
mais tarde a sua opinião, ou deixaram em seus
proprios escriptos argumentos e armas para des­
truir o que tinham amrmado.
O celebre Abbade Ruperl é o primeiro escri­
ptor ecclesiastico que encontramos no limiar do
ooculo XII como sendo do numero dos que nega�
ram, no começo, a crença na ImmacuJada Con­
ceição, e adoptaram-na depois, tornando-se os
seus ardorosos defensores.
Elle escreveu em seu Commentario do Can­
tico dos Canticos, que Maria podia, como qual.
quer outra criatura appti.car-se estas palavras do
Psalmista : Eis que tenho sido concebida na ini­
qu:idade, e que fazendo pnrt<: dos descendentes
de Adão, ella tinha herdado, como os demais ho­
mens, o pcccado original.
Pouco depois, e no ruer;:;mo livro elle se re·
trncta completamente e defende a tradição antiga.
cA serpente, diz elle no livro VI, mordeu o
calcanhnr dP. sorva; rnns vUsi, ó filha do Princi­
pe, esmagastes a cabeça da F=crpente... Somente
vós sois livre entre todas as filhas dos homens...

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-- 1 51 -

ós sois singularmente livre elo jugo de todo pec­


do !• (1)
Tal é o inicio das hesitações e retractações
ue vamos encontrar nos dois seculos que seguem
e que vae ser a preparaçilo da plc>no. luz que
presencia.remos em breve.
São Bernardo ó, sem duvida, o pharo1 lu-
inoso deste seculo.
Ao mesmo tempo ó um amoroso da Virgem
ntisslma.
E apesar disso o grande Doutor não escapa­
A hesitação de seus contemporaneos.
Elle cscr�ve11 pag:inus inflammHdas, cheias de
9uh'ina e ele amor para com nquella que intitula :
Ra71trix cordimn», n seductora dos corações, mas
1bro a lmm:tculn.da Conceição elle escreveu
uco, e neste pouco mostra-se quasi hostil ao
·ande privilPgio de Maria, como o demonstram
iver.sos trechos de seus cscriptos.
Mais tll rde S. Bernardo se retracta e e dcfen­
o que part:icia quasi querer combater no co­
meço.
N'ls seus sermões sobre a •Salve Rainhfl.1>
contramos a sua prori.ssão de fé clara e expres­
sobre este ponto. Elle escreve:
«A arca foi construida ele madeira de Sethmn,
rquc Afaria foi escolhida de antemão, pelo
pirilo Santo, e inteiramente presero&da de toda
cula, embora a natureza de seus paes fosse
iada pelo peccado•. (2)

1) ldclrco anclllro calcaneum Serpens m'}mord:t. 'J'u


em, ó Hlla 'f>rincipls, s'ngularls libera es a• omni jugo
caU. (Rup. Ub. 6 ln cant).
2) Maria, de pnt-um natura per pcccatum vitla'a, du-
t c l u sa,ct;m ,
:t;:����1\�r�,�i'��ªc���1�� � if. V��-Í t m
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- 1 52 -

Eis uma passagem mais explicita ainda : V6s


sois i11nocente da mancha original e das faltas
actuar:s. Ninguem partilha conwosco tal privi­
legio! (3)
E em outro sermão o santo diz: «EtUre os
filhos dos homens não ha uenllum, nem grande
nem pequeno, que não lenha sido concebido no
peccado, af6ra a Mãe do /mmaculado, que não
o
�e: J'uc����ºs:ng�1�P�f�e�:a���c���sq��:�.u;;
nenhum modo que se faça menção d'ella !•
� . .A carne de Alaria rem de Adao, porérn a
falta de Ada.o nella nüo se apegou.• l4)
Dois outros vultos importantes desta epoca
silo : Hugo e Ricardo de S. Victor. Cite­
mos apenas um trecho do segundo.
«l\lari a é toda formosa, porque a graça a pos­
suía toda inteira, e ni\o havia nella Jogar para o
peccado.
As cstrcllas cstíl.o cobertas de trevas, os san­
tos estilo entrevados pela culpa commum a todos
os homens.
A bemaventurada Virgem, porém, foi toda
belJ a ; o t!Ol da justiça illuminou-a inteira. e &
penetrou de seus raios. Não ha nella nenhuma
mancha, nenhuma" i:.ombro. de pcccadoJI !. (�)

-
- :J) lnnocens fl MI ab orlginallbv11 H actuaHbus pccra·
ti-<. Xemo lta pra t •r te. (Scrru. � ln �ahc Rcg.)
c
non·1n1 t=u :�c�1\ '!��c�g�����a'���1�t�ir�� c�::�:iil
(�ermo 3 de Cacna Dom.)
Caro 'larire ex Adam assumpta, maculas Adre non
admlsit. (Serm. de Nt.t J
5) Bt'ata Virgo tota p�lchra fuit.(Rlc. S. Yic}.
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- 1 53-

U. Decimo terceiro seculo


E' o seculo dos grandes Doutores: Santo
Alberto Magno, Santo Thomaz de Aquino, Sã.o
Boaventura, Alexandre de Ualõs, São Domingos,
São Francisco de As3is, Santo Antonio de Padua,
e outros, cada um rivalizando com os outros em
sabedoria, cm santidade e em amor para com
a Mãe de Jesus.
E, facto providencial, quasi todos elles par­
tilharam mais ou menos, no começo de sua car­
reira theologica, as duvidas, as hesitações trans­
mittidas pelos Doutores e escriptores do seculo
anterior.
Não querem negar a Immaculada Conceição,
mas hesitam em defendei-a; ou negando-a timida­
mente, affirma1n-na, 'no fim, como o tinham feito
anterior·mcnte o Abbade Ruperto e São Bernardo.
Niio pensemos entretanto que a hesitação foi
universal : longe disto. Muitos conservam inte­
gro c sem hesitação o precioso deposito da tra­
dição.
Os Bispos da Inglaterra jnstituiram até uma
festa em honra da Immaculada Conceiçao.
São Domingos nunca hesitou em sua fé
8L'dente, e, em um tratado que escreveu sobre
a Eacharlstin, contra os Albigenses, elle cita e
explica as palavras de Sto. André, já citadas
supra (p::i.ç-. 120) : ''Do mesmo modo que o pri­
meiro Aduo foi formada da terra Yirgem, que
nunca foi amaldiçoada, deste modo era conve­
niente que assim fosse com o segundo Adão, cu­
ja terra, isso é a Miie, fosse Virgem, que não a
alcançái·a a maldiç&o».
O Seraphlm de Assis nilo escreveu so­
ltre a Jmmaculnda Conceição, mnis prégou-a por
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- 1 54-

toda a parte e consagrou sua Ordem â Virgem


Immaculada.
Sto. Antonto prégava a mesma verdade,
sem nada escrever a respeito.
Alexandre de Halês ensinou, no começo,
que a Augusta Virgem não rora isenta do pec­
cado original, mas prostrado por uma moJestia
mortal, na qual julgou ver um castigo de Deus,
retractou-se e escreveu um livro em defeza da
Immaculada Conceiçilo.
O seu historiador diz que no fim de sua Yida
repetia sempre estas palavras: O Maria, 6 minha
Soberana, sois toda bella, toda encantlldora, e
nunca houve em vós nem mancha original, nem
actual. (6)
O Cnrdlal Hugo, Dominicano, defende a
mesma doutrina, e explicando as palavras do
Anjo : Achastes graça dea11tc do Senhor, elle diz:
Achastes o que Eva tinha perdido. Eva tinha per­
dido a graça original, e Maria a recuperou-E
mais adeante, diz ainda: O primeiro privilegio
de Maria é a immunidade do peccndo. (7)
Ao lado destes grandes tbeologos que nunca
se afastaram da tradição antiga e que nunca v2-
eillamm em sua fé, enco:itramos, infelizmente,
grandes e sublimes genios, 4}UC se deixaram le­
var pelas idéas correntes, e emittiram opiniões
que, felizmente, retractarum mais tarde, pBl'a adhc­
rirern plenamente á u.nica verdade sempre firme
e sempre luminosa n1:1 Egreja e co meio do povo
chrish1o.

6) !faria, Domina mca. tot.'\ puJrhrn c11, ct formosa et


macula orlglnalt� aut nctunli� in te ncr'.q1:nm h•it.
7) Iovenlsti quldquid fafl n:: ihcr-.it. P:-in:rm �IJJIro
privilegium immunltus u. pcccato. (ln C!llJ, !. f.l!t·-l

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- 1 55-

A mesma hesitação penetrou no espirito de


S. Alberto lUugno e Santo Thomaz, dois
genios, duas aguias de saber e dois devotos da
Mil.e de Jesus, mas digamol-o : só hesitaram um
instante, retractaram-se e adheriram plenamente
ao grande e sublime privilegio.
Nas suas •Sentenças,• Sto. Alberto Magno he­
sita, mas cm seu livro Louvores a .Maria a he­
sitação desapparecc e elle declara positivamente
& pureza sem mancha da Virgem Santa.
•A -Virgem s6, escreve elle, foi isenta desta
lei geral : Todos veccaram em Adão.» (8)
Sto. Thomaz de Aquino, o sublime cli­
scipulo de Alberto ?\fagno, talvez pelo. influencia
de seu. Mestre, caWu na mesma hesitação em sua
Summa lheolo(Jita, (S. Thom. III. p. q. 27. art. 2)
porém elle se r.-tracta completamente depois, na.
cxpoi:;lção <1!1 Sau<laçáo an!Jelica, dizendo que a
\'irgem Augusta foi perfeitt1mentc Sunta aos olhos
de Deus, e que o peccado nella nunca habitou:
"Maria foi verfeitamente pura de ioda manclta;
ella 'io
m contractou, nem o pcccado 01•i9i11al,
11em qualquer 1>ecwdo mortal ou venia l.,, (9)
E ainda: "Excepta a Bem aventurada J'írgcm,
que foi intei1·amente isenta do peccado, seja 01·i·
ginal, seja venial-.. (10)
Em outro Jogar e num texto que ninguem
contefoita, Santo Thomaz é egualmente positivo :
EUc explica. em que consiste a pureza, e diz que
póde existil· um ser Cl'Cndo, tlo puro, que ne-

pltur /ib;f�cii :��a�!���l j�l��n�.mmnoi


ilia regula cxcl­
qn�a 1�� ���fn���� .��� i,��\l!1����mv:�1ai�inpec'ic t���/;'li��
i a
�urrit. fOru�I".. 6}
lC) E.xt·.cp:J E. Yiq�·�n", cp.t-::O omri.irio n p".'"{'!l.'.O i:a­
m:.mis !uit o; lgincl;. .1l! w.�l:ili (Cit. por Henri1:iuez)
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- 1 56 -

nbum outro possa ser mais puro do que elle, de


modo que entre os seres creados, o tal ser seja
absolutamente extranho ao contagio do peccadoa
e o Santo Doutor ajunta: •Tal foi a pureza da
Bemaventurada Virgem, que foi isenta do pec­
cado original e do peccado actual. Entretanto, a
sua pureza ficou abaixo da de Deus, porque ta­
lando rigorosamente, o peccado lhe é impossl­
vel. (11)•
O proprio São Boaventura ni!.o escapou
á mesma hesitação ; mas retractou-se como os
seus dignos emulas.
Citemos apenas este trecho, tirado de seu
segundo Sermllo sobre a Sma. Virgem:
«Digo cm primeiro lagar que Nossa Senhora
foi repleta de graça preventiva, brraça destinada
a preserval-a conlra a macula da falta original,
que teria contractado, em virtude da corrupção
da natureza, si não tivesse sido preservada e
prevenida por um auxilio especial. Pois o Filho
da Virgem foi, clle só, isento da falta original, e
com el1e a Virgem sua Mãe.
«Devemos acreditar, de facto, que, no pri­
meiro instante de sua Conceição, o Espirito San­
to, por melo de um novo modo de santificação,
(preserrou-a do peccado original, não des­
truindo o que teria existido, mas preservando-a,
por uma graça especial, para que o peccado
nella não existisse.» (12)
11 Et tulis fui purit.o.s B. Vi:glnl!'!, quw n. pc::c11to orl·
�inall,1 2i b���ª�r::::;:i���df��n��a��(;S�tL1t�u1�1c'k! �r�l1a
prreveniente in sua sancliilcatione ; i:;:r<1.Ua �clltc•'t prJ:.'ser­
v111iva contra fredltatcm culpae , qu11m
origlnulis coutraxis­
set ex f. �
corruptlone naturae, nlsl s ecld.U ratia prnei;ervata,

�r::�º���� 1����is���ur;:iMat�1;i�iu;' ����.


fult ah orl-

Cred"ndum cst enlm, quod n0vo sanc11f!cationis ge-

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-1 57-

III. O estudo apurado


Tal foi a segunda phase da lmmaculeda Con­
ceição :
A impugnação. Phase aguda, em que os ma­
iores genlos naufragaram, um instante, mas para
e lcvantnrem, depois, com mais força e mais zelo,
na defeza do grande prhilcglo de lfarin.
Foi Deus que o permittiu, parn que o assum­
pto fosse mais estudado, mais explanado. para
que, pelo estudo, os theologos pudessem lnnçU1·
obre este privilegio a luz refulgente da Biblia.
da tradiçllo e do raciocinio, triplice tóco de !uz
que devia illuminar a Immaculada ConC'eiçüo. e
preparar os elementos de uma futura procl&ma­
(ão dogmatice.
t:: o que aconteceu. E' esta irradiação lumi­
nosa que vac apresentar-se a nossos ollws, desde
o começo do seculo decimo quarto, começando
pelo Doutor Subtil, Duns Seot (1), e terminan­
do pe1a proclamação da verdade, como dogma
de fé cutholica.
Será a terceira e ultima pha""e do granJe
dogma.
Sen\ a gloria do seculo XIV.
E este triumpho será. devido sobretudo ao
esplrito penetrante do grande Franci!'cano Duns
cot, que refutará, de uma vez, todns e s objc­
cções contra, e fará brilhnr em todo o seu es-

re lo !'Jus c(lnccptlotls prlmordlo Spirllus S'anch1s cum a


S:inc1�1�t�1��g�i�iu1��ngri�i�dp1r��1��'rv�;�t.q(�.dri�����.'·g�;�:
1. de B. M. V.)
l) João Duns, chamado Seol, do nome de seu f'J.lz
Qrlgcm F..sco11�lâ-morrcu em l:lõli
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-1 58-

plendor a antiga tradição apostolica, preparando-a


para a definitiva proclamação dogmatica.
A theologia adaptada por Duns Scot segue
uma direcção dlllerente e nova, no modo de ex­
plicar a Conceição Immaculada de Maria.
Não somente Duns Scot fez acceitar na Es­
cola franciscana ou Scolista, uma fé geral neste
dogma, não somente elle determinou a sua
ordem, a ulanar-se desta crença, mas suscitou
uma \•erdadelra revolução nas outras escolas, rea­
lizando o aeeordo entre a theologia e o cos­
tume da Egreja que conservava a tradição anti­
ga, e o sensus fldelium ou. crença geral do povo.
Este accordo completo é a grande obra ge­
nial que immortalizou o theologo franciscano
Duns scot.
São Boaventura, na discussão da opinião
opposta á Immaculada Conceição, admittlra a
possibilidade (potuit) desta Conceiç&o, porém
declarara-se contra a sua convenlenela (de­
cuit), emquanto Duns Scot defendia a possibili­
dade e a conveniencia.
Elle resume a possibilidade em três razões
principaes :
1. Maria podia ser isenta do peccado origi­
nal.
2. Elia podia ter contractado o peccado orl·
ginnl, um simples instante, e ter sido logo puri­
ficada.
3. Ella podia ter tido a mancha original, um
certo tempo, sendo purificada depois.
A primeira asserção é a unica conveniente
e é esta conveniencia que Duns Scot quer de­
monstrar, collocando-se sob diversos pontos de
vista differentes.
Sigamos um instante os bellos e profundos ra­
ciocinios do defensor da Im.maculada Concciçiio.
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-1 59-

IV. Argumentos de Duns Scot


Póde-se reJuzit-os a quatro.
1. A universalidade da redempção.
Longe de negar a necessidade da redempçAo
para todos os homens ou de subtrabir ao Salva­
dor o privilegio exclusivo da elevação acima de
todas as criaturas, a lmmaculada Conceição de
Maria taz resplandecer mais a misericc,rdia do
Salvador, preservando de toda lnlta um membro
do genero humano.
Maria é este membro privilegiado, podendo
tanto mais facilmente ficru· isenta da mancM.a ori­
ginal, que este pcccado não provém de uma fal­
ta pessoal, que serla a causa necessaria dessa
macula, mas somente de uma falta estranha: a
de Adão.
2. O poder do Redemptor.
O poder e a efficacia da redempção mani­
festam-se tanto melhor, quanto abrem as portas
do céu a todos os homens e preservam, pelo me­
nos, um membro da especie humana da colera
ou inimizade de Deus.
A inimizado de Deus é um mal maior que
a perda dC' céu, pois é a causa desta perda.
Pela Jmmaculada Conceição de Maria, o po­
der da redempçilo mostra-se em toda a eviden­
cia, pois, além da redempção geral, preservou
uma criatura de toda falta.
3. Reelprocldade de amor.
Convinha que tal graça particulnr fosse con­
cedida á Mãe de Deus, e que esta excepção fos­
se feita em seu favor, para que o amor formas­
se os laços mais intimas do sua união com
seu Filho.
A reciprocidade da alleição cresce em ra-
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-1 60-

zão directa dos Ucneficios recebidos, de modo


que, a beneficias maiores deve corresponder um
amor mais ardente..
Ora, a Redempçfio nno podia outorgar á Ma­
ria uma graça maior do que lsental-a do pecca­
do original, pois tal isenção eleva-a acima de
todos os homens.
Logo, Deus devia isental-n.
4. Os thronos no céu.
O grande numero dos resgatados deve pre­
encher os thrnnos, deixados vazioa pela preva­
ricação dos Anjos rebeldes.
t!m lagar teria ficado vazio. si nenhum mem­
bro da cspecie humana, preservado do peccado,
não representasse no céu a pureza angelicu.
Este togar, que deviam occupar os anjos
decnhidos mas que perderam, foi reservado aos
homens.
O demonio impediu que Adão e Eva o al­
cançassem.
Este lagar foi occupado pela segunda Eva,
por Maria, representando, numa pureza angeli­
cal, a isenção de toda maculn.
O demonio, seduzindo Adüo e Eva, contrari­
ou os planos de Deus.
Os filhos dos homens, de facto, segundo a
ordem divina. deviam preencher os vacuos feitos
na côrte celeste pelti. l'ebelião dos anjos.
O segundo Adão e a segunda Eva restabe­
leceram o plano divino, sobrepujando os proprios
anjos em pureza e em graça.
Logo, no Indo do Cbristo Immnculado devia
e tar a sua 'P.hie lmmaculada, como no paraizo
terrcal, ao ludo de Adão immoculado, estava Eva
jmmaculada.
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Em frente destas considerações, os argumen­
tos de Santo Thomaz, contra a couvcniencia da
Immaculada Conceição de Ma.rin, ficam sem força.
De facto, Jesus Christo é e fica o Redem­
ptor de todos os homens e elle coRcedc â sua
Mãe a graça mais sublime e mais perfeita de
sua redempção.
A Virgem Santa, embora concebida. segundo
o modo natural e sob a inlluencia da concupi­
scencia carnal, não se segue disso que mirn­ n
cha e da carne tenha trazido comsigo o peccado.
A concupiscencia desordenada persiste nos
baptizados, sem que h3.jl peccado. (13)
Dizem que Maria tinha ficado sujeita ás pe­
nas temporaes do peccado original, particular­
mente á morte, e que, por este motivo, ella deve
ter ficado devedora, pelo menos para um tempo,
do castigo do peccadc.
Isto nada prova, pois é certo que tt. .l penas
temporaes podem permanecer após a remissão
do peccado, sin�o como penas vimlicatilms, pe­
lo menos medicinaes.
Eis porque Duns Scot conclue : «Si ;irlo re­
pugna nem. d autoridade da Egrcja, nem á au­
toridade da Sagr. Escrlplura, JJareee prova­
el ser mais excellcnte aUribuir cL lllaria que
ella não foi concebida no peccado original. (14
A intervenção de Duns Scot, em favor da 1

t3) Tamen infectio carnls manens post baptiemum,


aon est neeessarla causa quare maneat peccatum orlginale
ln anima: sed ipsa manente peecatum Orlglilale delcctum
per gratiam collatam. (D, Scol: ln Senten. 3 d. 3 q 1.)
li) �I auctoritali eccleslae vel auctoritatl Scrlpturae
i e
��u�;�?I:;�e� �fjcl16:1º���� D���tªlnº���;�i:J1 c°o6�C:;
... (lbd.)
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Iro.ma culada Con c eiçilo de Maria, foi o golpe de
morte ao erro contrario, e restabeleceu a anti­
ga tradição apostolica, um instante combatida,
por permissão divinu, para que a questn.o fosse
mais ncuradamente estudada, e mcttido em ple­
na luz o grande privilegio da Mtie de Deus.
A Universid.:ide de Parit, estando diyidida em
sua opinião, chama Dune Scot parn ouvir as suas
provas om favor.
Scot resolveu publicamente d uzentos argumen·
tos e com tanta dou tri na, memoria e uma nssis·
toncia tão visivol de Deus que co:wence u a tortos,
fixou definitivamente o ensino da Unh·ersidado e
recebeu nesta occasiüo o titulo ele Viclorioso.
A conclusi'ío de seus du zentos argumentos
foi sempre :
Não ! Maria não paud.e conlraetar o vecca­
do original, como 11ão poude conunettet o pec­
cado actual ; pois si ella tivesse sido manchada
JJelo peccado, teria havido um instante em que
a .Mãe de Deus foi inimiga de Deus.
Nesta oocasião a Universidade proh ibi u aos
11:cus membrosatacnrom n immaculada Conooiçào, e
quarenta annos mais t a rde obrigou toctos os Dou.
torn.-:dos a fazerem o juramento do sem pre de­
fonder,eat.-0 pri\·ilegio.
.As Universidades de Co!onhn, de llayen\n, de
Valença e outras imitaram a de Pariz.
A Ordem dos Franciscanos tomou a fronte na
deCcza da gloria de Maria Sma., e decretou em
1823 a celebraçã o solemno em todas as suns egre·
jas, da festa da Immaculnda Conceição. E sta festa
foi introduzida em Roma, sob o Papa :Nicolau III.
As discuss ões continuaram ainda e prornca­
ram longos e profun dos estudos sobro o assum­
pto i a opposiçlio !oi cedendo, vencida pelo poso
da.e provas poeítivas.

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- 1 (,] -

V. O trlmnpho da verdade
Agora podemos resumir.
Após a tradição apostollca, ou -verdade
simples, certa e indiscutida, veio a opoca da
Impugnação, e esta suscitou os mais bellos e
os mais pr:>fundos estudos sobre o assumpto.
Estes estudos puzeram em plena luz, e com o
brilho de uma verdade innegavel, o privilegio da
Immaculada Conceição.
E' a epoca do triumpho que começa e que
deve ser sellada pela proclamação oUicial, infalli­
vel, do dogma catholico da Jmmaculada Conceição
de Maria.
De vez em quando, um ou outro pôde ainda
combatel-o, porêm, em toda parte, os grandes the­
ologos e os grandes santos o abraçam e defen­
dem com enthusiasmo.
Os concilias não o proclamam ainda dogma
de fé, mas dizem claramente quo ê ama verdade
que um filho da Egreja não póde negar.
No começo do seculo XV o Papa Alexan·
dre V, sem definil-a como verdade de fê, appro­
vou a doutrina da Immaculada Conceição.
Sta. Brigida e Sta. Izabel de Hungria fizeram­
se propagandistas ardentes do grande privilegio
de Maria.

Em u.10 S.. Vicente Ferrer� o grande pre­


gador da penitencia, fez-se o prégador fervoroso
desta verdade, dizendo que Maria n&o !Ora seme­
lhante a nós em sua Conceição, mas que foi cre­
ado, pura e santa. desde o primeiro instante, e lo­
ao os anjos oelebraram a festa da Conceição. (15)

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- 164-

S. Ber11nrdlno de Senna, S. João Ca­


pistra no, o poeta Pedro Apoll inario, Sto. Antonino,
Dominicano, S. Lourenço Ju.,;tiniano, o grande Car­
mclit1. Pedro Thomaz o mu il os outros theologos
de p1·imeira ordem ,[izoram-so os propagandistas
da mesma doutrina.

S. Leonardo compoz um officio da Imma­


cularla Conceiçilo, approvado pelo Papa Sixto IV.
1:11s :urnas depois uma ll•gião do prõgactores
fize ra m-se os propagadores do mosmo privilegio
C i te mo�, apenas. por serem 111ai!3; conhoridos :
Nieolnu d'' Cmm, Dionysio, o cartucho, Ambroaio,
o ca mal du lo, Thiago do Valonça, o C ardinl Caje­
tano, f'lc.
Quanto aos oscriptores cathol icos, defon�ores
d<lsta verdade, 6 impossivol cibr a l ista. Basta (.li­
zer q ue o proprlo Luthero, qu� devia tornar-se
o grando inimigo da E greja, foi um dos mais ar­
dorosos defensoros da Immacuhda Conceição.
Citomos apenas a
seguinte passagem, que é
de Luthero, antes quo a su,l inlolligencia fosse
pervertida pelo vicio :
cCrõ-so piodosamento que a Conceição de Ma­
ria foi sen1 o pecc1do original.
_\ virgo.1m Maria está como no meio entre o
Christo e os outros homens. O Christo, quando
foi concPbido o começou a vi11er, foi repl eto de
graça, desde o primeiro instanto.
Os outr.)S homens são pi•ivados da gr·ai:a na
primoira e s�gunda Conceição.
Ora, a Virgem Maria, emhor:t. não fosse re ple­
ta de J:!raç!\ na primeira Conceição, o foi na se­
guncl.t Gonceição, isto ê, na infusão da alma no

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- 1 65-

corpusculo já preparado, e isto não S(Jm mereci­


mento.
Elia ficou no meio entre todas as natividades.
De facto, ella noscôra de um pae e de uma mãe ;
e alia concebeu sem a intervenção de um pae1 de
modo que licára Mão do seu filho, em parte ca1·­
nal, e em parte espiritual; pois o Christo foi con­
cebido em parte de sua carne e em parte do Es­
pirito Santo.
O Christo, ao contrario, é pae do muitos fi­
lhos, mas sem pae e sem miio carnaes.
Deste modo a Virgem Afaria eslií entre
a na­
tividade carnal e espiritual ; onde termina a car­
nal ahi começa a espiritual; do modo que alia
esttí no justo m'io destas duas concoil,'ões.
Os outros homens são concebidos uo peccado,
tanto o corpo como a alma.
O Christo foi concebido sem
peccado no corpo
e na alma. A Virgem Maria é concl'bida sem a
graça, segundo o corpo ; mas segundo a alma el·
la é cheia de graça.
E' o que significam estas palavras que o Ar­
chanjo Gabriel lhe dirigiu : Bemdila sois entre
as mulheres>. (16)
Que distancia entre a doutrina de Luthe1 o,
o pao dos protestantes, e seus filhos e netos de
hoje, que quasi todos nutrem um verdadeiro odio
á Virgem Immnculada !
J6) Mariae conccptio pie credllur slne orlginali pecca-
e u
��f!ÍJ�s :�iu��c �!d'f�n�f%J:e� o�:��� 1ç��8��ie���
conclperclur et vlvcrct, eo Jpso articulo tcmporis gratlre
e r
���8p�u�:er?�� é�n���l�!�. ªi��u� tiJ:g�º�\a!-fa� : i u���t!
g er
I�� �r:�;:: ;cinºc�e:J�n°:: ci�luli�C:e� r�Hf c�i :�1::��
r gruum crat,latque._11oc non
f���:1��'.ºcl:.(ctf:fu� �tc?a��;?oª)
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Escrevendo a s linhas acima, Luthero não era


ninda dominado pela baixa paixão carnal que o
arrastou á perdição, mas julgava das cousas com
o senso recto de um espírito Hvre e desapaixonado.
Ora, todos nós sabemos quo só um tal juizo en­
canta e manifesta a verdade, emquanto as paixões
desnorteiam e lam;am o espirita nos erros mais
extremos.

No Concilio de Trento, de 1545 a 1563,


os Bispos não acharam ainda a hora opportuna
para a definição dogmatica, o para evitar o des­
contentamento da parto opposicionista, limitaram­
sc, na quinta sessão, a deCinirem a univorsali­
dado do peccacto original, n dizer quo não en­
tendiam incluir a Sma. Virgem neste decreto geral.
Eis as suas palavras : «Este Santo Concilio
declara quo não ó sua intenção incluir neste
decroto, em que se trata do peccado original, a
bemaventurada o Immaculatla Virgem Maria, Mãe
de Deus, mas quo 6 preciso observar as Consti­
tuições do Papa Sixto IV, de Santa memoria,
solras penas conlldns nestas Constituições, que o
Concilio re11ova•. (17)
Vê se claramente por este decreto que o San­
to Condlio admitto em sua quasi totalidade a ver­
dado da Imrnaculada Conceição, havendo apenas
de.;uuião no tocante á «opportunidade•da pro­
clnmaç5.o dogmi\tica.
.As constituições do Papa Sixto IV, que o Con­
cilio de Trento renova, diziam que o Papa exhor-

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va todos os fiois a celebrarem digname11le ci


testa da Conceição de Alaria, e que abriu. os
thesouros das Indulgencias em. favor daquelles
que o raziam.
Em 1483 o mosmo Papa impoz silencio áf!I
discu�sõos de uus theologos pretendendo que tal
Coni;tiluiçiio não so re!eria diroctamonto á. Con­
ceição <lo Maria, mas á sua santific1.1ção1 após a
concoição. O Papa rectiricou a idéa o declarou
que se tratava directamcmto da propria Conceição
de Maria.
·
Os Bispos do Concilio de Trento, nüo que­
rendo definir ainda a Conceição do Maria, para
deixarem amadurecer mais as idóas o ns opiniões
a ro!'lp•-üto, chamam entretanto a hlãe do Jesus
"ª Jlomaventurada o Immaculada Virgem Ma­
ria o que demonstra quo todos acreditavam neste
privil.·gio glorioso do .Maria.
Como se \·ê, a f6 da Cathollcidade está Cirme
·
sobro osto ponto.
A tradição dos Apostolas dos primeiros secu­
los, coml>atida um instinto, continúa iualteravel,
firme, luminosa.
A f6 n:i Immacnlada Conceição ó a crença uni­
versal da. Egreja.
O magnifico florão que deveria um dia adornar
o diadema de Maria, pela proclamação solemne
desta verdade, não desabrochou aindn. Serão pre­
ciso mais três seculos para levai-o á sua ultima
perfeição: porém, o l>otão está formado . . . e na
hora marcada por Deus, elle desabrochará, mani­
fesbndo ao mundo a riqueza de suas cõres e o
perfume de suas petalas imma(uladas.

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VI. A crença universal


Eis em qne ponto estava a pia convirçi'io da
Jmmaculada Conceição, quando o Pap11 P10 IX re­
solveu proclamar esta verdade como dogma de
fé.
Os nossos Irmãos separados, os pobres e in­
felizes protestantes accusam a Egreja de ter in·
ventado este dogma.
E diga-me o leitor, após ter percorrido a l radi·
ção aqui fielmente transcripta, desdo o a·mpo dos
Apostolas até a nossa epoca, si so trata aqui de
uma novidade, de uma invenção, ou simplesmeuti' da
proclnmaçíi.o do uma yei·dade sempre exislen­
te, sempre acreditada e apenas discutida durante
uns dois secuJos !
e
O bom senso a sinceridade são obrigados a
confessar que a lmmaculada Conceição está lm·
pllcltamente expressa no Antigo Testamento,
quasi explicitamente revelada no nOYO Testamen­
to, e formalmente transmittida pela tradição
apostolica, através dos seculos e das nações.
Qual é o protestante sincero o leal que, si
fosse o chefe da Egrcja, hesit�ria em acceitnr uma
verdade tão luminosa e tão bem provada, e llesi­
taria em pi•oelamal-a verdade certa, irrelutavel, di­
vina '?
Nenhum ; pois contra a evidencia não ha re­
sistencia.
E' o que fez o Papa Pio IX.
O protestantismo invadiu a Egreja, arrancan­
do de seu seio milhares de seus filhos, illudidos
e reduzidos pelo fanatismo dos sectarios de Lu­
thero.
A Egreja1 no Concilio de Trento, tomou as
medidas necessarias para conservar a unidade e a

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tegridadc da fé, pela composição de seu ndmi­


vel ..cateeii:mo>.
A Egreja triumphou1 como ella sempre trium­
pho.
Mas, · apeear de triumplrnnte, ella chorava a
pe1da do milhares de seus filhos.
Ern preciso reconduzil-os ao Feio da ''erdade.
E como operar esta reconducçâo ?
Pela Virgem Sma., pela Mãe do Jesus e dos
homens.
Não ê elJa a Mão de todos ?
E como l\liie podcrd ella desinteressar-se dos
pobres prot(>stantes ?
Ah ! elh.s blasphemam o seu nome, e re�itam
o seu reino, é certo; mas pouco importai uma mãe
ollrn mais alto e mais longe que a offensa do fi­
Jho rebelde.
Ella \'Ô a salvação deste filho.
Eia porque um dia o Santo Pontifico Romano,
Pio IX, por inspiração diYina, compreheudeu que
era chegada n hora de exaltar a figura radian­
te, doco, attrahonte da Virgem Santissirna, pondo­
lhe sobro a fronte virginal um novo diaderna que
chamasse a attenção do mundo, e obrigasse os
homens, por assim dizer, a \•okerem os olhos para
elia.
E esto cliadema, quo a Sagrada Escriptura
tinha manifestado aos homens, e que os seculos
tinham burilado, polfdo pela f�, pPlo estudo 0 pela
devoção 6 a Jmmneulada Conceição.
Oh ! falae, Pedro, falae ! O mundo espera. O
OOu escuta, os anjos se rejubilam, os homens accla­
mam.
Dizei uma palavra, a palavra da vossa infa l­
livel autoridade, e o dogma glorioso da Immacu­
Jada Conceição será acceito por todos, e a Virgem
Santa se manifestará aos olhos do universo intei-

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ro, como l\fiie dos jus tos, a Mão tios peccndo·


res, como e\la é a Mãe do Justo d iviuo, da Victi·
mo dos pf'ccados, de ,Jesus.
Pio IX, por cartas particulares, co nsul t ou ot·
ficial e solemnemente ã Egrcja 1111i\·orsal, na pcs·
soa de sous Bi�pos, sobro a crern:a dos po>os na
Immaculud a Conceição.
O E pi8copa do respondeu, o chegarr.m ás mãos
cio Papa úl3 cartas de Cardiaes, Arcebispos e Dia·
pos de todas as parles do mundo.
O Santo l'adro tomou nota do tudo, e, em 2
do fevoroiro do J849, do seu exilio do Gaeta, alio
dirigiu a todos os Bispos uma NlC}'Clica, pe la qual
allesta as solicitac:ões quo lhe \1 iuham do todas as
partes o lhes communica o resultado elas consul­
tas.
Dos 543:Prclados que rf'Sponclcrnm uo seu con­
vite, 484 altestam a sua !é firme e a de seus di·
ocesanos na lmmaculada Conceição, e pedem com
instancia a definiçl'ío pura e simples.
Dez pedem uma delinição indircctn.
Vinte e dois manifestam duvidas sobre a op­
vortunidade da definiçllo, ou receios sobre as
consequencias.
Quatro não falam da definição.
Dezoito declaram-se contra a oppo,.tunidade
da definição, o entre ellcs apenas seis contra­
rias á definição da piedosa tradição.
Nenhum Bispo, porém, mesmo entre os sei,
oppostos, allirma que tal c!'onça não existe cm
sua diocese, e até que não seja commumentc
acce ita.
Dezeseis entre elles asseguram que tal cren·
.;-a está. tão profundamente al'raigada, que não
teriam a coragem de ordenar prcce,s ou consul·
tar ao po,·o, receiando escandalizai-o em acre
ditar quo possa haver duvida a esse respeito.

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-- 1 7 1_
_ ______

A hora era pois chegada. O Succeesor de


Pedro poude falar... e a sua voz, echo da
divina, será tambem o echo da crença uni-
1 do mundo.

• A proclamação do dogma
Para concluir a exposição doutrinal e histo­
do grande dogma, basta recolher umas das
vras da bella e luminosa Bulla do Santo Pa-
r!ºc��Ce%��1��i�e�L��ia�0M�e �e1D:i��
No dia 8 de Dezembro de 1854, Pio IX, cer­
o de 53 Cb.rdiaes, de 43 Arcebispos, de 100
pos e mais de 50.000 romeiros, vindos de toda.a
partes do mundo, levantou-se de seu tbrono,
Basilica de S:lo Pedro, de Roma, na plenitu­
de suu. autoridade intallivel, pronunciou e de­
lu que : a doutrina que professa que a Bem­
enturada Virgem Maria, desde o primeiro ins­
te de sua Conceiçllo, fôra, por uma graça e
privilegio especial de Deus Todo Poderoso,
V'isla dos merecimentos de Jesus Christo,
tvador do genero humano, preservada e isen­
de toda mancha do peccado original, é re­
lada por Deus e, por conseguinte, deue ser
reditada formalmente por todos os fieis.» (18)
Um silencio religioso permittia até ouvir ca­
palavra do Santo Padre que cstaYa tão com-

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movido que foi obrigado, diversa1; vezes, a in·


terrompcr-se para dar livre curso ás suas Ie­
grimas.
E de notar que Pio IX, nestu. clrcumstancia.
tomou apenas o aviso consullatit'O dos Bispos,
dispcn�ando as suas yozes delib1.·rafitic1s, deci·
dindo só, por si mesmo, por sua autoridade pes­
soal, ttmto da opportunidade,
·
quunto dos termo
da dcOuiçílo.
Ellc preparou deste modo a definição da in­
fallibilidadc pontifical que o Concilio do Vaticé­
no dC'vla proclumar em Julho de H;;o.
Ellc preludiou deste modo, por i;m acto de
uma solcmnidadc unica, o exerch lo de uma
autorid1:1.dc, que devia, cm breve, ser proclama­
da como dogma de fé.
E' pois uma verdade de fé que Mariu. é lm­
maculnda em sua:conceiçt\o, e que nunca o de­
monio teveºsobre a mui/ter , (Jcmdila u minima
inDuencia.
As discussões cessaram, o mundo acccitou
com immcnsa alegria a voz de Je&ui; Cl11 h;to, fa.
lando pelos Jubios de Pedro ; e desde este dia,
&fóra os pobres e infelizes protest..1 ntcs, o mundo
cbge a fronte pura da Mãe do Salvador com o
diadema Sagrado da Imu111culada Conceição.

Mas nü.o basta !


O céu quiz confirmar a voz da terra .
A propria Mnc de Deus quiz pl'Oclamar a
existencia do privilegio ;que a Eg:rcja acabava
de definir.
Apenas três annos após esta solemne pro·
clamação, em 11 de fevereiro de 1858, Maria
dignou.se appareccr milagrosamente, quinze dias
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seguida, perto da pequena cidade de Lour-


• em Frtt...1çu, n uma pobre menina de 13 an­
de idade, chamada Bernadette.
Tendo ido recolher lenha á margem do rio
ve, perto de Lourdes, chegada em [rente de
a gruta nuturttl, cavada no rochedo doR Py­
eus, a menina ouYe de repente um como rui­
de vcuto violento, e levantando a cabeça,
iu de joelhos, como offuscada, csmugada
o que tem doante dos olhos.
No rumJu e em cima da gruta, numa cs)'iecie
escuvação no rochedo, está em pé, em meio
um clariio sobrcbumano, uma mulher do uma
ompa1·avel belleza.
Este clarão era til.o suave quão resplande­
te; e niio se parecja em nada. á luz deste
do.
A vi:são nadn tinha de indeciso ; era:um ver­
dciro corpo humano, uma pessoa viva, que
dHfcrenciava cm uadu de uma pessoa ordi­
ia, sinilo peta auréola de luz e pela sua bel-
za divina. a
Era de cstntura media; parecia muito joven,
unindo a candura da criança, a pureza da Vir­
m, a gravidade terna dti mãe e a majestade
idade e da soberania.
O seu semblante admiravel exbalava uma
ça infinita.
Seus olhos azues tinham uma suavidade que
ceia del'rcter o coração.
Seus labios tinham uma expressão de ban­
e e de doçura.
Os vestidos da appai·içãc, de um panno des­
ecido nFt terra, eram mais alvos e mais res­
decentes que a neve das montanhas.
Este vestido longo e nuctuaute, deixava vér
nas os pés, que pousnvam sobre o rochedo.
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Sobre cada um dos seus pés, de uma pureza


virginal, brilbava uma rosa côr de ouro.
Uma cinta, azul como o céu, pendia em duu
ttras acompanhando o vestido até em baixo.
Um véu branco pendia do. cabeça, envolven·
do os hombros.
Um rosarlo, cujas conta':! eram alvas como
gottas de leite, cuja corrente dourada parecia lu·
minosa, pendia das mãos postas da apparição
rnysterlosa.
Ella se conservava silenciosa.
No dia 25 de Março Bernadette supplicou
que lhe dissesse o seu nome.
A appariçAo sorriu levemente, mas não res•
pondeu.
Bernadette insistiu.
A apparição parecia mais resplandecente,
mas não respondeu ainda.
Bernadette insiste pela• terceira vez.
A apparição resplandecia mais. Ella tinha,
como semprt), as mlios postas com fervor: o seu
semblante parecia irradiar a beatitude do céu.
Separou as mãos, deixando deslisar o roserio
&obre o braço direito ; abriu depois os braços,
inclinando-os docemente para a terra, como par
mostrar ao mundo suas mãos virginaes, cheia
de bençams divinas. Levantando-os depois para
o céu, ella pronunciou, com voz clara
encantadora, estas palavras: Eu sou a lmmacu.
Ioda Conceiçllo /
Tendo dito estas palavras, a Virgem Santil!I·
alma desapporeceu, e Bernadette se achava dt
novo deante de um rochedo deserto.
A Virgem Immaculada, a gloriosa Mãe de
Jesus, que o Papa acabava de mostrar RO mun.
do nur.:olnda da grondezn e do fulgor do novo
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-- 1 7 5 -

dogma, vinha ractificar as pala.nas do Successor


de S. Pedro.
O Papa tinha clito: Ella {: imtnaculada ern
sua Conceição.
A Virgem Santíssima me respond e : Eu sou
a Immaculada Conceição.
E' a chave de ouro, que feclrn para scmpl'C
a trndiçâo ininterrupta <!os Apostolas, que fecha
todas as opposlcões e abre as portas do céu,
para ali podermos ndmirar a gloria unica da
Jmmncu13do. Mãe de Deus e nossa Mãe.

VIII. Conclusão
Eis o dogma da Immaculada Conceição, ao·
ligo como o mundo, no privHegio divino ; antigo
de 19.50 annos, na pessoa ela Virgem bemdita.
Não é uma novidade: é uma verdade bash�a
da eligião de Jesus.
r
A verdade existiu. . . brilha no antigo no e
novo Testamento.
Os Apostolas procJamaram·na com toda a OU·
toridndc de Hill missão divina, e transmittiram-na
a t r n
r
�aPM�! �� ��s���<lci����: �ªfªr�Ja�ªo� �e���
eo Espirit<' Santo que dirige á �grcja, o cuida­
do de escolher a hora opportuaa de manifestar
RO mundo o dogma implicitamente revelado na
Sagrada Escriptura e ervlilame1l/e expresso nas
tradições apostolicas.
Uma cousa é: revelar novidades, e 01tra
cousa é : proclamar verdades existentes.
Não ha quem não veja a dirrerença en­
tre proclamar uma verdade e a existencia
desta verdade.
Proclama-se o que já existi.!.
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- 1 76-

Quando Dinis Papin proclamou, em J710, a


lei da pressão do vapor, tal pressão existia des­
de que houve vapor.
Quando os Padres Lona e Bccnria proclama­
ram, em 1100, as leis da electricidade, tal electri­
cidade existia desde o começo dos tempos.
Quando o Padre Procopio Divisch, (e nilo
Franklin) proclamou, em 1759, a attracção d o pa­
ra-raio, já. existia tal attracção, porém passando
despercebida.
Quando o PadL·e Beda proclamou as leis das
marés. . . us marós, como as leis que as regem,
existiam desde o começo.
Quando o Padre Alberto proclamou as leis
da navegação aerca, taes leis cxistium e foram
apenas applicadas pelos seus successorcs.
Quando o Padre Nollet proclamou a electri­
cldade elas nuvens, tal elcctricidade ali existia
desde.. que houve nuvens no firmamento.
Quando o Padre Coperoico proclamou o duplo
movimento -dos plunetns sobre si mesmos e cm
volta do sol. . tal movimento já. se estava efte­
ctuando desde a creaçú.o do mundo.
Vê-se, pois, que proclamar uma verdade não
6 inventai-a, fabricai-a, mas simplesmente ma·
nlfestal-a publicamente.
Assim foi com a proclam.açiio da Imma­
culada Conceição.
O Papa não fez que a Virgem fosse Immacu­
lada, nem inventou uma novidade, mas manifet;tou
apenas ao mundo e impoz á crença dos Catho­
licos uma verdadP., implicitamente contida na
Biblia e explicitamente transmittida pela tradi­
ção apostolica.
As provas que tenho dado deste facto silo
in·efutaveís.
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-177-

O facto da lmmaculada Conceição é pois orna


verdade revelada, certa, incontestnvcl.
O protestantismo pretendeu negar esta. -vcr­
dade1 rebiüxando a Mãe úc Jesus, uo nivcl das
outrns mulheres.
Era pois necesiõario e opportuno que a voz
do Chefe da Egreja se levantasse, pnru refutar
o e1·1·0 e proclamar a verdade.
Uma verdade torna-se um dogma call.J.olico,
desde que é proclamada como tal pela autorida­
de suprema do Chefe da Egreja.
O d<igma da Immaculada Conceição passou
deste modo pela triplice phase, que desenvolve
e forma todos os dogmas.
1. A simples crença univcrca.l.
2. A opposição de uns contraclictores.
3. A proclamaçíí.o solemne.
Desc1wolvi longamente a verdade dn lmma­
culada Conceição, porque proYBdt• a ltnse fun­
damental deste dogma, os prote�!antes devem
admitti r .... s consequeucias desta verdade, que
são como as consequencias deste prlrneiro prin­
cipio. Sendo ella Immaculuda, ó 1rrcciso admit­
tir a �un Santidade perfeita, n sur. gl'1•ndez11 i;;c m
par, o seu poder incomparavel, " !3"'� assum­
pção glol'iosa ao cóu,.a suu. mcdü ;ro universal,
etc.
T-udo se liga, tudo se prend cm� l o; an­
neis de uma corrente.
Admittida a existencia de umR corrente, e
endo nas mãos o primeiro annel desta correu­
' deve-se admittir a existenc!a de todos os ou­
tros anneis.
NUo ba objecção que nilo se dissipe deante
as provas citadas, e os mais rebeldes, �cndo
incero.s:, devem admittir um do,ma. lcrill.n.oso
resplandecente como o sol cm p!..:no �ia.

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- 1 78 -

Oh ! pobre e querido protestante ! Não é su­


blime tudo isto ?
Não é sentir o dedo de Deus, o amor de Deus,
os designios de Deus cm tudo Jsto ?
Oh ! por favor, nllo feches o teu coraçllo ao
amor de uma mãe tão querida.
Desprezar a tua mãe é um crime.
Desprezar a Mae de Jesus ô uma blasphomts'..
Abre o teu coraça.o e deixa irradiarem-se
nelle a luz, a força, e o amor cJa Vtrgen1 San·
tisetma.
Elln. é o sorriso da religlfio.
E11a é o sorriso do céu.
Elia é o sorriso da nossa vida !

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C A P I V ULO \I l i

A perpeina Virgindada da Maria


Um professor de hebraico e exegése do N.
T. no Seminario Baptiste, do Rio, procurou re�
a r
i
��t �a�i�0§�1!i�i:���� ��e�:ng; �ef�1:0
var que a Mne de Jesus teve mais outros fil
��fl��;��hos.
O 1Jlustre professor orlo honrou o seu tituloJ
fazendo uma defesa desastrada e uma refutação
sem argumentos. Não provou nada e nada refu­
tou. Apenas teceu teias de aranha em redor de
uma verdade luminosa, que a Egreja sustenta e
que, para poderem protestar, os protestantes
negam.
Há na defesa do digno professor um eeforço
titanico parn ºprovar
e ne
o que ó impossiveJ provar
��:ioº 1{aºver J���dv:Je na td1udida argumen­
é

tação, mas nlio ha J?CDetração, nem logica.


O' professor baptista faz uma mLxordia nos
text t
�r:. �:� Jl �f&:'n��ç�eC:ios 9ue a gente refu-
ta ou prova uma these. E' preeíso que haja um
c i i c
�g� ge::ia�!�e�S �=xÍo�c 3; �u ���g�o �!{u���'
mas lhes dando a interpretaçffo hermeneutteil
que o contexto exige e os Jogares pltrallelos
impõem.
Após http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
a leitura de tal artigo, o leitor não sa-
- 1 80-

be mais em quem deve acreditar, duvida de tu­


do, e em vez de fortalecer a sua fé, sente tudo
vacillar e perder-se nos sophismus ac�umulados.
Vou procurar lançar um raio de luz sobre
a labyrinthica exposição do professor protestan­
te, por meio de uma cxegése clara e inEophis­
muvel
Vamos por partes.

I. Virgindade e Casan1ento
Eis a priruei!'a parte do argumento do pro­
fessor baptista :
•As Sagradas Escripturas de modo nenhum
podem rebaixar a bem.dila entre as mulheres,
nem negar-lhe quulquer honra. que lhe pertença.
Ao contrario o verdadeiro ensino elo Novo Tes-
d
�ªç��ºJ� ����� �e��,1��:�1� s0a���L·��iafi�
e sobre o seu matrimonio depois, e a conccpção
��i);
de outros 1ilhos pelo �-eu legitimo marido, José,
ao emvez de deshonral-a, honra-a, na glorifica­
ção da maternidade como tal, no sagrado plano
de Deus. A falsa theoria clerical romanista, de
que o celibato (com todos os seus males) é um
estado mais puro que o casamento, ó rcsponsa­
vel pelo dogma, pela Egreja Catholica inventa­
do, da perpetua virgindade de Maria.."
E' um pedacinl10 indigesto. Procm•cmos ana­
lysal-o clara e sinceramente.
O professor quer dizer:
1-Que a Sagrada Escriptura. nllo póde re­
baixar a Virgem Sma.
Muito bem ! Estamos de accordo; mas por­
que então procura o sr. rebaLxal-a, negando-lhe
um titulo que a propria Escriptura lhe confer e ?

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-181 -

2-0 nascimento de outros filhos glorificaria


a maternidade de Maria Sma.
Esta é triste e phenomenal e suppõe nenhu­
ma comprehensão da dignidade de Mae de Deus.
Maria Smu. é Múe de Jesus.
Ora, que maternidade mais gloriosa póde
existir do que esta?
Que seria mais digno : ser Mãe de Deus, ou
ser Mãe da humanidade inteira?
Todos os homens juntos não valem um Je­
sus Christo.
Que honra poderia trazer á :Maria Sma. o
nascimento de outros filhos, si della já nasceu
o Filho de Deus ?
Maria Sma. possue toda a gloria em sua ma­
ternidade divina. . . Que é que Jhc póde trazer
ainda uma muteraid:id<J humana?
Não Yê, caro professor, que até o bom senso
se revolta contra tal asserçiio ? . . .
E ' como s i o senhor dissess e : Santa Manica
foi mãe de Santo AgostinJ10, mas para realçar
mais n sua maternidade, foi tambem a mãe de
varios pobres roceiros.
Que realce receberia disso Santa Monica?
Basta-lhe a honra de ser ruãc de Santo Agosti­
nho, que supera pelo genio, pela virtude e po­
plllaridade, estes ouh'os que seriam roceiros.
A maternidade legitima é sempre honrosa, e
é tanto mais honroso. quanto mais digno é o filho.
Ora, o filho de Maria é Deus.
Que brilho trar-lhe-iam o nascimento de um
Tbiago, José, Judas e Simão ? . . .
Logo, caro professor, seu argumento não vale
nada !

E.stc ra.lso principio denota no meu conten-


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- 1 82-

dor uma ignorar.eh invulgar da religião cathoH­


ca ou então uma il!éa obcecada e preconcebida.
Para comparar qualquer cousa, caro profes­
sor, é preciso conhecer os dois termos da com­
paração. E' uma regra comcsinba de toda a lo­
gica.
Pau com1mrar o protestantismo com o Ca­
tholicismo, é preciso conhecer a ambos.
Ora, o senhor demonstra ignorar por com­
pleto o casino cntholico . . . pois lhe attdbue o
que elle rejeita, e nega o que cllc não professa.
Ou ignorancin ou maldade ! . . . Escolha, caro
professor de hebraico !
Fala da dulM thcoria romana de que o ce­
libato é um eslRdo mais puro que o casamento».
[sto é ignorancia que não se perdôa num
profcasor de cxegése.
Sim, o celibato f u m estado mais sanlo que o
casamento : este é o ensino da Egreja, e o é
da Egreja, porque é da Sagrada Escriptura.
Será 1rnssivcl que o senhor ni' lO tenha lido
ainda o capitulo Vll da Epistola de Siio Paulo
aos Corynthios?
Um professor de excgé:rn do Novo Testamen­
to ignorar isto . . . é colossal ! . . .
Leia, caro professor, e tire a conclusão que
comporta.
As premissas são certas, pois são divinas; a
conclusão deve ser certa tambem.
São Paulo l'Scrcve :
r.Digo aos sofleiros e ás iiuvas que lhes é
bom para cllas si permanecerem. assim como
lambem eu. (S. Cor. VII. 8)
Quanto porém aos tiraens, não lenho manda­
mento do Senhor; mas dou conselho, como quem.
alcançou mise1·ic01·dla do Senha... para ser firl .

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-183-
Ent6ndo, 1>()is, que isto � bom para o /lome1n
..star a.�sim (solleiro).
Estds ligado a uma mulher � nll.o busques
desliuar-tr. Estás livre de mulher ? nao bJlsques
mullter.
Mas, si Lom.qres mulher, nào veccaste. E si
uma 11il'nrm se casou, não peccou; todavia estes
tertlo lribularôes da carnf'. E eu quizera pou­
par-vos " ellas . . . (lbid. 25). O guc estd sem mu­
lher, est<L cuidadoso das cousas que sao do Se­
nho1·, como Jw. de agradar a Deus ! . . . Mas o que
estd. casado, esttf w.idarloso das cousas que são
do mundo, como o ha de dar gosto á sua mu­
llter; e está dil'irlfrlo.
E a mulher soltrira o a virgem cuida das
cousas que são do Senhor ; para ser sauta no
corpo e no es11frifo. . .
Aquelle vai�· que casa a sua (filha) virgem,
faz brm, e o que não a rasa, faz melhor•. (ibid. 38).
Que ó que se deve concluir da passagem ci-
tada '? . . .
Duas cousas cssenciaes:
to. Casar-se é permiltido, é bom.
2". Não casar não é só permíttido, mas
melhor.
Poça o que quizer, torça ou desvie os ver·
siculos citados, e o meu professor de hebraico,
sí fôr sincero, deverá ou conceder ou negar
a citnçl.'i o ; o meio-termo ó impossivel.

SI negar, diz que s.10 Pauto é mentiroso,


pois clle disso: Quem. casa a .�a virgem, faz bem,
e o qur. 1uío a casa, faz melhor.
SI conceder, oh ! então. meu caro profes­
sor cahe por terra todo o seu castello archHecta­
do com sophismRs.

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- 1 84-

O celibato não é mnis uma Invenção roma­


nista, uma thcoria clerical; é uma instituição
divina, um conselho posJtlvo da Biblia.
Na.o é uma lei, como diz S. Paulo: 11.Não t�­
nho mandamento do Senhor; mas ó um conselho,·
•mas dou conselho•, continóa o A1-ostolo.
Ora, têm ou nno têm valor os conselhos ins­
pirados por Deus ? . . .
Si têm, o celibato é pois uma cousa snn•
ta e m.als ogradavel a Deus que o casamento.
Si não têm, então nilo vale a pena ter pro­
fessores de oxtgése . . . é melhor interpretar neste
caso Virgilio, lloracio ou Cícero.
Em que cipoal foi mcttcr-se, meu caro p1•0-
fessor 1 Jsso fuz até duvidar de sua sciencia exe­
gética ! . . .
Fazer excgége não é só citar passagens bibli­
cas ; é sobretudo comprchendel-as, confrontal-p.s,
para descobrir o seu sentido obvio.

II. Prova do Evangelho


Das premissas falsas, dos textos adulterados
de São Paulo, o professor vae tirar agora uma.
conclusão mais falsa ainda.
Aliás é logico.
Pejorem scquitur semper conclusio partem,
reza a oitava lei do syllogismo.
A conclusão segue sempre a parte
peior.
À falsa theoria clerical> contJntia o profe!­
sor, é responsavel pelo dogma> pela Egreja Ga­
tholitu inventado, da perpetua virgindade d1
.Maria.
Alto Já, meu professor, V. S. está de novo fa­
lando do que não entende.
1-Já mostrei acima que tal tbcorta clerical

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-- 1 85-

é o ensino positivo, claro, ind.iscutivcl de S. Pau­


lo. Verdade é que S. Paulo era clerical.
2-A Egrcja Catholica não inventa dogma
nenhurr Todos os dogmas catholicos figuram cla­
ramente na Biblia, todos sem excepçüo.
O dogma é uma verdade divina, ensinada
por Deus, e não inventada pelos homens.
Eu quereria que o meu professor me citns-
1e um unico dogma catholico que não esteja men­
ciono.do na Sagrada Escriptura.
Nilo sei si ó maldade, mas penso que o meu
professor nem siquet• sabe o que é um dogma,
o que é preciso para que uma verdade seja do­
fi�:.e quantos dogmas existem na Egrcja Catho-

3-0 dogma da perpetua virgindade de Maria.


não foi inventado pela Egreja, pois elle figura
em plenas letras, e até em letras luminosas, no
Evangelho.
Leia melhor o Evangelho !
A verdade da perpetua virgindade de Maria
Sma. comporta uma triplice prova :
1.• Maria foi virgem antes do parto.
2.o Maria foi virgem durante o parto.
8.o Ficou Virgem após o parto.
Três asserções que lhe vou provar aqui, com
a Biblia na ma.o, e um pouco de logica na ca­
beça.
A primeira sem a segunda não é seguro..
A segunda sem a primeira é Impotente.
A triplice asserção aclma é de fé, ensino
unlversal do magisterio supremo da Egreja.
Vamos por partes.
A primeira asserção é admittida pelos pro­
prios protestantes, pois está positivamente no
Evangelho.
O anjo Gabriel foi enviado por Deus . . a
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-1 86-

uma virgem desposacla . . . e o nome da virgiJn


era Maria (T,uc. T. 26).
Mais positivo ainda é o teetemunho da pro­
pria Virgem; objectando no anj o : Como se fará
isso, pois eu não conheço varao ?
Nenhuma duvida existe : Maria Sma. era Vir­
gem.
A segunda asserçlio, mostrando que a Mãe
de Jesus ficou virgem no parto, póde-se dedu­
zir dos mesmos textos.
O que é concebido po1· milagre, deve nascer
por milagre ; o nascimento ó a conscq_ucncia da
conceição ; som esta consequencla o milagre se­
ria incompleto.
O Evnngelho nos mostra que Maria, tendo
chegado ao termo ordinnrio da natureza, deu a
luz o seu !Uho. E estando ali, aconteceu comple­
tarem-se os dias em que dn'ia dar d lU2. (Luc.
!. 6).
Maria concebeu pois o Verbo divieo sem pre­
judicar a sua virgindade. E' o Evangelho que
nol-o diz. Logo, ellc diz que ella daria á luz seJD
perder a virgindade, pois conceber e dar á
luz são dois termos do uma mesma acção.
A mãe concebe, para dar á luz-é uma unlca
acção: gerar fühos.
O parto e a concelçlio são inseparavelmen­
te ligados, sendo o primeiro o preço dolorO,!fO
da segunda ; sendo Maria Santissima libertada da
segunda parte, deve sei-o necessariamente da
primeira.
Para Deus não é mais custoso fazer na�cer
virginalmente do que fazer conceber virginal­
mente.
Podendo fazel-o, Deus devia fazei-o, para
completar, pela acção do Espirita Santo, o que
por clle tinha comei;-ndo.
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-187-
O anjo resolvendo a d v ida que u �Iaria Sma.
o
he manifesta, res p nde: O que Santo,
/ta de
SC(!'I' deserá chamado Filho de Deus, vor­
ti,
que a Deus nada é imvossivel (Luc. I. 35).
Eis os dois termos que se completam e ex-
i c r c
f,� ��1v��i,,.�n� ga;:};ªcy 7� �:! r1L�i�. �n;Z��[h��
(is o nom.e de JeSi.lS. tLuc. r. 35).
Conceber Jesus e dal-o á luz, são aqui tex­
tual e literalmente um unlco ntllagre, o mila­
gre da Encarnação.
Separar estes dois termos, que o Evangelis­
ta reu n iu propositalmente n uma unica phrase, é
adultertu· vif'livelmentc o texto e a signifi c ação
da p11luvra de Deus.
E' pl'eciso tonuu· o texto iotegrnlmCnte, ou
entiio 1·egei tal-o integralmente.
Não se póde rcgcital- o,· é pois
que claro a
conceiçã.o da Vil'gem Srnn.
é obra do Espirita
Snr1to.
O Es]Jlrito Santo descerá sobre ti e a vi1·tude
do Allissimo te colJri1'á de sua somlYra. (Luc. I. 35)
E por is.i;o mesmo, continú o vangel ta, a E is
o santo que ha de nascer de ti, será cha?nado
Filho de Deus. (Luc. 1. 35).
Eis novamente .unidos numa unica proposi­
ção os termos: coneelção e nascimento.
Não rejeitando o primeiro termo da propo­
sição, não se pôde rejeitar o segundo, pois os
dois termos formam uma unica phrasc, indivisi­
vel na construcção, e Dú sentido .
Logo: ou Maria Sma. não era virgem antes
do parto, e então não o será no parto, o que
é hcrclico.
Si c1·a Virgem antes, deve sêl-o tambem du­
r:rntc o parto, por s ere m áois
termos que expri-
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mem as duas operaçQes da Encarnação: conceber


e nascer.
E isso é conrorme é. prophecia : Uma virgem
conceberà e darà d luz.
E' o proprio Evangelho que faz o. applicaçllo
desta prophecia: Ora, ludo aconli'ceu para qut
cumprisse o que foi dito
do propltela. (Matb. 1. 22
r.elo Senhor, por meio

Digamos pois com a Egreja, exprimindo a fé


universal dos scculos : Virgo prius et posteri:us.
Logo, meu caro protc-ssor, a Virgem :Maria
foi VirgPm nnte8 do parto e durnnte o parto.
E' uma verdade quo nllo póde ser negadll,
1tinão pisando com o pé, todas as regras da Lo­
gica e da Hermcoeutica.

m. Jesus, filho unlco de Maria


Provados estes dois pontos: a Virgindade de
Maria Smu. untes do parto e du1·nnte o par­
to, torna-se facil provar a Virgindade perpe­
tua dn Mãe de Jesus, em outros termos: a sua
virgindade depois do nascimento de Jesus Cbris­
to.
Seria uma heresia negar 'esta verdade.
Na Egreja Mariu. Sma. sempre foi chamada
em todos os scculos, tanto pelos latinos como
pelos gregos: sen1pre Virgem : Àieparlcnon.
O que vimos da genealogia de Jesus, já mos­
tra claramente que Maria Sma. nUJlca teve outros
filhos ulém de Jesus, e que a palavra irmãos,
usada no Evangelho, significa simp!esmcnte pri­
mos.
Para comprebender esta verdade-mesmo si
não eslivesse no Evangelbo,-bastaria o simples
bom senso.
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O bom senso nos inclica, de facto, a summa
nveniencia do a Mãe de Deus n&o ter mais
tros filhos, e isso pelas seguintes razões :
1.o Por causa da perfeição de Jesus Christo,
e devia sm· o unigenito da mãe, como é o
n genito do Pae.
2.0 Em razão da dignidade e santidade da
ãe de Deus, que pareceria ser ingrata, não se
ntentando com a honra de ser a lJfãe de Deus,
que perderia a sua virgindade, milugrosameute
onservada p or Deus, como acabamos de ver.

:!!Ias examinemos o Evangelho, para ver si


ncontramos qualquer indicio de taes irmãos de
esus, filllos de Maria Santissima.
A palavra de Mada Suntissima : Gomo se fa�
li i.'iSO, pois eu mio conheço varão, tem em seu
entido natu1·al uma extensão geral, abrangendo
passado e o futuro.
Elia não cliz : não conheci varão, mas sim :
ao conheço t•arão, mostrando deste modo ter
ornado a rcsotuçüo de nunca conhecer varão.
A tradição nos diz que Maria Sma. tinha fei­
to o Yoto de perpetua castidade, no templo, e a
expressão : não conheço varúo, é como a ex­
pre.:;são nitida deste voto.
Perguntando a qualquer abstemio, si acceita
um copo de vinho, ello responderá : Não bebo
vinho, isto é: não posso beber.
Assim tambem, Maria sempre virgem disse :
Não conheço vardo, isto é : Nãc posso, não me
é permittido conhecer vnrão.
Perguntando a alguem se conhece o latim, e
11 não o conhece nem pretende estudal�o, elle
responderâ: Não conheço latim.
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-190-

Si pretender estudai-o, dirá: Por ora:nüo co­


nheço latim.
A virgem Senta nno :diz simplesmente que,
por ora, nno conhecia vorll.o, mas sim, effirma
positivamente : Nt1o conheco varão, dando a seu
pensamento uma extensão geral. (Luc. J. 84).
Si assim nQo fosse, p orque entlio Maria per­
gunta assim ao Anjo: Como se farei isso, si eu
ntlo conheço varao ? . . .
Não seria tal pergunta completamente des­
cabida, inepta ? . . .
Bem podia retorquir-lhe o Archonjo : Si nctu­
almente não conheces varão, conhcccl- o-ás mais
logo ; nn.o ó José teu esposo ? . . .
Entretanto, no da disso cHe • diz. O Archanjo
respeita e apoia a resoluÇllo de Maria, mostran­
do-lhe claramente que o que ha de nascer della,
nãô é fructo do homem, mos, sim, de Deus: O
E�ptrito Sànlb dtscerd soàre ti e a virtudé do
AlUsstmo te cobrird com a sua sombra.. (Luc. I. 25).

SAo Marcos cAamlÍ Jesus cO filho ele Jfarl.â•


-<1 uiós Marias (Moro. VI. 3), e nao um dos n­
lhos de Maria, como que pa1·a destacar que clle
era o filho UD..lco deJIB.
Si Maria Sma. tivesse lido outros filhos , como
é que tJ\es ftlhos nunca apparooem'!
A Sagrada Fam1lla era composta de três
membros, e nunca pai::sou de três, como se póde
verif'icar no Rvangelho.
A S•grada Fam!Ua fiJglu para o Egypto e
dati 7Cllou, tJxou-se cm Na.zareth e frequenta o
ten·pl0 de JeruBaJém: ; Maria e José procuram b
m.1� 1b.10 Jesus, e em toda perto nunca vemos op-

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-d91-
recer alguem em eompanhja de Mt rJa Sma. e
e São JoRé.
Durante a V1da publica de Jesus:, a sua mie
apparece de vez em quando; nunca veo:os a se u
lãclo taes outro& filhos.
Durante a paixão enconttamos a Virgem Sma.
em companhia de Maria Magdalcna, das santas
mulheres, co m S. Jollo, e de novo nun ca vemos
aJlj de tàes filhos ao seu lado, para coneo1al·a,
reconfo:rtal-a.
Jesus é crucificado e ao seu lado está. a.
Vtr1em Dolorosa, em pé, esmaguda sob o peso
de 11ua dor, e novamente nenhum de taes filhos
ali apparece.
Jesus morre, e de seus Iabios moribundos,

�x� ���� ,;��j;�ª�r��s�:


Récoinmendàá sua
proprla
�r,��·cruid:0so;:;-;
nosmãeui O c d ad s
de S. João, (Bis ta idia)� seu prftho, sem nàdt\.
dizer de ttles lrmS:o&, de taes filhos de Ma:rll!p
que deviam, n aturalmente, tomar conta da propria
m.lle e não abandonai·& nas mãos de elittaahos.
Tudo ísso é etâro para quem quer ver; e
com um pouco dij bom senso deYe-se conelulr­
que Maria era só, só com seu Jesua . . . e morto
Jesus, ella ficava neste mundo na solidllo de sua
tristeza, tle sua resignação, de seu amor, sen1 ou.
tra 1�ssoa que Jollo para coni:;olal-a e trnUt.rdelta.
E' u que fRz 'fer o Evungellio, e é o que
dlcu�. o bon" Renso e a Idg'cn
IV. rz.o.testante11 'H"rsus·protes­
tante"
Fu:-a f1H 1llinar eiite ponto 'mportante, cfter..1os
11ma Pf.��...iZem de um prn ...' �ante instrufdn e
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- 1 92-

sincero1 o er. John Pearson, bispo protestante de


Chester, que deve ser conhecido pelo professor de
exeg6tJc, pois o nome revela ser um americano.
• A questão, diz este vulto eminente do pro­

testunt•smo, não ó de saber si .Jesus teve outros


irmãot-:, maq, sim, si a m1'1.c de Jc·SU1'1 Christo, Ma­
ria, teve outros filhos, além de Jesus.
cN11 Ungua hebraica a palavra innnos com­
prchcnde uno somente a relação da vcrdadcl1'a
fraternidade, mas tumbem i.. de ron.can1111inidade
mais remota. Por conseguinte, tendo u \'irgem
n rcmotoa c�te-; ram e
��:�!â��º[�,�i�� ��º.§�����
N6s soutas i1111ãos, disso Al>rahíio a Lotb.
Entrcurnto, Abrahão era filho d� Tbaré, e
Lolh filho do Arüo, irmão de .-\brab!io.
Moysét> chamou a Misacl e Elisap:hm, filhos
de Ozlcl, tlo de Arlio, e lhes dis�e: /dr e lirae
os , oS"'<JS irmifo q de dcanle do Sn11t1wrlo. Estes
chamiidos irmnf)s, sendo Nallab e Ablu, n1110s de
Arilo não erum �inll.o coneanguincos l'cmotoft de
MIR 1c?1
e Elisaphan.
J,tcob ,l!ssc a Rachel que cllc era irmr1o do
vae dclla e filho fie Rebeca ; cntrctrmto Rebeca
era irmli. de Labão, pae de Rachel.
Portanto, os Evangeli,.tas.
confoimnndo-Re
com o costume judaico, a cuja nação perten­
ciam, hamitm Irmãos do Senhor aos parentes

ne1':i1!f���: : ���:e
co c
s R e nto servira. para eluci­
dar cala vez mais a solução t.la quePtlto, por­
que hll de sever, que Maria milc de Thiago e
José. ;:ião era Maria Virgem ; e por con.::1�guinte-,
resulta claro que os chamados 1rmaos de Nosso
senhor eram filhos de outra m�e.
Lemos cru S•o João que estavam juntas à cruz
deJes isasua mãC', irma dc sua mae, fJ,7, ·a, mu.

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-193-

� de Cleoplia.s e Maria itl.agdalena (Joan. XIX).


Lemos ainda nos outros Evangelistas: Maria
agda./ena e Maria mae de 7 hiago e José.
lfarc. XVI.)
Tambem no sepulcro encontrnmos Maria Ma..
gdalena e outra 1Varia. (Matb. 28).
Do complexo destas passagens nós inferimos
que a outra MJ1,ria era mulher de Cleophas, e
mãe de 'l'hiago e José.
São Marcos e São Lucas dizem-no expressa­
mente (Marc. XVI.-Luc. }{XIV.)
Deduzimos, pois, que Thiago, José e outros
chamados . irmãos do Senhor não eram filhos
da nr�e delle, e sim de oufl'a Maria, scad� cha�
mados irmãos unic!lrnente pelo costume referido
dos Judeus, porque a outra Maria era prima da
Mãe de Jesus.
Eis uma passag('m , caro professai', qtH' não
é de um ro:nanistn. mas sim de um protet;tante,
sincero. fervol'nso. ele sangue puro, de um ho­
mem eminente pel(1 r;;dJel' e pela. posiç ã o ; e c on ­
tanto defende com o pi·opl'lo Evangctllo, com des­
treza do mestre, a Yitgindade p erp etua de r.Iaria,
depois do parto, c:omo o quer a Eg1'eJa Roma­
na. (John. Pcnrson : Exposition ot thc Creet1 Lon­
don, art. 3).

V. Conciusão
E' inulil multiplicar ns c'.tnc;ões, pois r�-. pro·
vas da vi rgi ndade perpatua da Virgem 81.n ta não
são simplc::m1ento extrinsccas, isto é, apoiadas so­
bre a:> autorJdadcs, ma!'I intrinsecas, provfmientes
do proprio facto, ria palana diYin!l1 inl"rpretada
per ru:"a exegése le::il o cc;1sc:< ncios::i.
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- 1 94 -

Só não comprebende quem nilo quizPr rnmpro­


bender.
Eis a refutaçllo aos erros grosseiros do pro­
fessor de E:r:egóse baptist:i.
No íntimo elle ficará convencido que errou. . .
porém, diiel-o, confessal-o, seria deix2r d e ser pro­
testante e até perder a sua cadeira do profe�sor
de exegóse, ainda tendo d ad o provas de na da eu­
tender em exeg6se.
De facto, fazer exegóse nlio ê só oliuhar to.­
toa ; é oomprehendor-llles a si�nificução, o fazl:'l·os
oonoordar com outros textos parallelos.
E o ami20 professor nada disso faz; mostrou­
ee de espirito prevenido, de id6n fixa, não procu­
rando a \•erdade, mas querendo apenas, com 1:0-
phismas, provar o seu erro.
O erro não se pro''ª• cnro professor. .. pois é
a negaoilo da verdade.
E' impossível pro\•ar que a verdnde da Sr.gra­
da Eseriptura sej a falFa�. e a ve rdu do <ln perp<' t u a
Tirgindado do Maria 6 v. m a verdade evnnJle-·
llca.
Fica pois provado :
l• que casar ê bom.
2° que não casar ê melhor.
3° que o celibato ê um estado mais santo
que o matrimonio, conforme o ensino de S. Pa ulo.
40 que Maria s-. foi virgem antes do parto.
fiº que o foi durante o parto.
6° que o ficou depols do parto.
Eis verdades que provam a perpetua virgin­
dade da Mãe Immaculnda de JeRus.
Não se trata, pois, de uma lheoria clerical, do
um dogma inventado pela Ei:'reja, mas sim der
uma verdad" corta, posith•a, irrorut:i,·c•I, ensinada
no proprio Evangelho.
Provada a virgindade perpetua de Maria, ee4

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- 1 95-

t4 provado que elln não teve outros íilh9s, al6m


de Jesus, o quo taes pretensos irmãos silo si mplcs­
mento parentes, primos m ais ou menos remotos,
como se pôde verificar pela arvore �onealogica
que citarei mais nlóm.
Esta vel·dado, que é de íé, foi sempre profes­
sada pela Ee-reja Catho!ica, como o foi por varios
sabias prote:.umtes sinceros.
Ciloi acima uma passaiem do Pcarson; termi­
nemos com mait:i uma de outro bispo protestante
dr. Dull, nüo menos explicita :
Abraçando a doutrina dH l'C'azson, dr. Dull con­
feesa cl arnmeote a virgindade perpetua de Maria
na seguinte passagem :
•Da dignídade da Beatissima Virgem proce­
de com o couscqu")ocia, ter-se olla conservado sem­
pre Vil'gem., conformo ncreditou o sempni ensinou
a Egreja Catholica ; não sendo passi ve i de modo
algu m. nem siquer imaginar que aqueUe vaso
santtsslmo, o qual foi uma niz consagrado pa­
ra ser o rcceptaculo da Divindade, fosso depois
profanado•. (Dr. Bul l : of invocation of te B. V.
Cath. Sat. V. II).
Assim faium outros protestantes sinceros cu­
jas obras lanho aqui deante de mim, como o dr.
Jeremias Taylor, bispo protestante de Dowo, dr.
John Dramhall, Roberto Owen, dr. Kickes, etc.,
etc., todos elles superiores a qualquer suspeita,
quer pelo saber, quer pela posição.
Não valem nada para o meu professor de
exegése essas respeitabilissimas autoridades'? ...
Não quero citar autoridades catholicas; estas
são por milhares ; cito apenas estes protestantes,
para mostrar ao meu amigo que a sua exegése 6
desastrosa, ignorante, e destoa de todas as regras
da scie ccia e do bom senso.
Em ei;tudo subsequente analysarei o resto dos

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erros crassos de seu artigo, por receio de prolon·


gar domais a discussão.
Poderia parar aqui. mas quero ir até ao fim,
e mostrar ao illustre rabiscador o q•e elle tão so­
lemnemenle nega, que os Padres catholicos têm e
estudam a Biblia e nada têm de aprender dos mo-­
dernos professores baptistas de hebraico e de exe­
gese.
Niio se esqueça o amigo da these aqui pro­
vada : - «A JJCT[Jelu.a t'ir{lindade
de Maria San­
tisoUna».

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· C 1' P I V U L O \1 1 1 1

Os pretensos irmãos de Jesns


Continuemos na refutação dos erros do Pro­
fessor de exegése, de que tratámos no capitlllo
precedente.
Provada a Virgindade perpetua da Sma. Vir­
gem, rlca provado que ena não teve outros�� fi­
lhos, além de Jesus; e não os tendo, deve.se
concluir que ta.es innãos, de que fala o Eva.nge-
. lho, sllo simplesmente parentes.
Quero proseguir, entretanto, para destruir até
nos alicerces os argumentos que os protestantes
apresentam, e que o Proressor baptista de exe­
gese recolheu em seu artigo.
Póde haver umas repetições, porém estas
mesmas servirão para gravar melhor a verdade e
mostrar a nullidade dos argumentos contrarias.

I. O matrimonio
Citemos mais um trecho baptista.
Todas u &1crlpturas ensloam clara e positivamente
que o casamento é uma inst!tulçAo divina, estabeleelda por
Deus, e, consequentemente, é um estado de sanUdade (Heb.
18: .f.; Prov. St: J().28; Psal. 128) E' uma ldéa Inteiramente
estranha 68 Escrtpturu, e falsa, que o matrimonio consUtue
mna espeefe de lmpure7.&. O homem e a mulber no Jardim
do &:!en, antes de pecearem, receberam ordem de Deus;
d'rutttlcae. muJtlpllcae--vos, enchei a te!"l'V'.
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Três pontos a distinguir neste trecho.


l. O matrimonio é um estado Santo.
2. O matrimonio constitue uma impureza.
3. Todos devem ca.sar-se.
Ninguem mais do que a Egreja ensina e de-
1ende a santidade do matrimonio . . . us pl'Otes­
�antes pervertem-no, contentando-se exclusiva­
uente com o contracto civil.
Ora, contracto civil nilo é casamento reli­
�ioso, e N. S. no Evangelho não fala de direito
chil, mas sim de direito dJvlno. São pois duas
cousas distinctas.
Os cathoUcos adaptam-se ao Contracto civil,
como cidadõcs; mas nunca dispensam o matri­
monio religioso, como christi.os.
Quanto ao segundo ponto, é um absurdo.
Quem é, caro Professor, quem ensina que o
matrimonio constituo uma especie de impureza?

asse
�� �
Só sendo no Seminario Baptista.
ue livro catholico o Sr. encontrou tal
0
Naturalmente em um livro Communista. Abra
qualquer pequenino Catecismo e o.li o Sr. encon­
trará o seguinte :
Que é o matrimonio?
Ê um Sacramento que N. S. J. Chr. instituiu
para estabelecer uma santa e indissoluvel união
entre o homem e a mulher, dar-lhes graça de
se amarem, e educarem christilmcnte seus filhos.
Eis a doutrina Catholica em toda a sua sim­
plicidade e encanto.
A Egreja considera e venera o matrimonio,
como um Sacramento instituido por Jesus Chris­
to . . . Ora, cerno � que um Sacramento, que é
productor da graça, póde &el' uma impureza ?
Attribuir tues absurdos A Egreja ali.o pôde ser
ignorancia, é calurunia, é despeito, é baixeza!...

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E isto ó iudigno de u m homem ed ucado que


se diz pastor e professor de Exegése.
Si o amigo ignorar estes pontos fundamcntaes
da Rcligin.o Ctttholica, é melllor calar-se , pois
parn discutir é preciso i;onhecer o assumpto
em discussão, e para refutar é preciso conhe·
ccr o erro que se quer refutar.
Aqui o Sl'. quer refutar o que não e xiPte, e
discutir doutTinas que ignora ou finge ignorar
por completo.
O que o Professor ntio póde i�norar é que
entre as cousas santas uma póde ser mais san­
ta que outra.
Dar um rato novo a um pobre é melhor do
que lhe <lar simplesmente um. copo d'agua.
Casar é bom, diz São Paulo, mas, continúa
ell e : Não casa•·, vara gu.a.rda1· a castidade, i
melhor (Cor. VII. 38.)
Mo ris Sma. casou-se com S. José : Fez bem.
No casamento guardou a vingindade : Fez
melhor!
Jesufi Ch1·isto não se casou : Fez elle bem
ou mal?
Si !C'!Z bem, o amigo deve calar-se e imi..
tal-o.
Si el!c fez 1ua1, então o amigo faça o fa­
vor de reprehendel·O e de fazer m elho r do que
elle.
Facto curioso: os pastores protestantes que-
1·c:m casar todos os Padres.
Então nftn lm m�ris libcrda.de ?
O Pad1·c nii.o se ca..a, porque quer imi(.ar Je­
sus Christo e ns Apostoles.
Os pastores se casam , porque não têm a co­
ragem de dominar a nutureza para agradar a
Jesus Christo.
Os past?rcs se casam : f::zcm b�t;m.
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-200 -

Os Padres nüo se casa.m : fazem melhor!


Eis a doutrina de São Paulo, da Egrcja Ca­
tholica e de todos os homens de bom senso.

II. ReJa111 pago e raio


O illustrc professor, após uma balburdia im­
penetravel, 1-ara provar que tacs primos de Je­
sus são filhos de Mnrin, conclue.
Em Actos 1: 13, U, os irmãos de Jesus silo cJaru.mente,
lnefiulvocamcntc, dlstlogu!dos do� npostoltll:I de Jesus. EJs
tl que lá se dlz : •E tendo entrado em cer!t1. casa, s hiram
u ec n
;� : ��d�� P�i1'iPP�nu: frh��é. ã�1ro���c� �ºnM�tfi:!::
1'hiago, ffllio d, Alplicu, e Shnao o Zeloso, e Judu,,;, irmao
de ThW.,qo. Todos 1 sles perseveru,·am unanimemtoto cm
u m e de JesutJ <' com
��?��id�:1d!ite� :����ªJg}.º Mal'ia, ml\
T:sta passagem fulmtnn o &.t"!umrnto do rcv. e n. the­
oila dti sua l'greju. Mas outro meto ainda reduz a dt•11tro­
çoa quat�uer cousa que delle a!nda llcusse de p(•. E' o i&&-
c
frl�ã�s:d� J���:����. ���. JJo���s��:�º�?:ti�ºe�d�I��
credulos ! Na occasllo da frsta <1011 'J abernaculos, apl'oas
aets mczcs untes �a cruc11icaçlio, .!oão (7: 5) diz dos [p..
mlos de Jesus : «Pois nem seus itmâoíl criam nellt.•», Que
mais faltará 1mra a total destruição d.1 tbeoria cathollca?
Absolutamente nndll.
Que embrulho desastrado, caro Professor !
Este texto nada fulminu1 mns illumina com
novo fulgor a doutrina catholicn.
E' um relampago e um 1·aio.
O relumpago illurnina a vcrdude ela vureza
perpetua da Virgem J.Jaria, e o raio lulmina o
erro nrotestante que bluspliemn esta pureza.
Examinemos bem n pitstmgcm cituda:
Encontramos ali : Thiago, filho de Alpheu,
com Thiago, li.lho àe Zebeden
Mnitq bem !

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-20 1 -

E que prova isso '!


O Sr. diz que isso pl'ova que Tbiago, irmão
do Senhor, é distincto dos Apostolas. . E onde
Tiu isso?
Saber ler entre as lillhas póde ser bom, As
Tezes; porém Jêr fóra do texto é falsificação.
Nós conhecemos dois Tblaa:os, Thiago, o
menor filho de Alpheu, e Thiago o maior, filho
de Zebedeu.
Ambos sAo primos em 2.• grau de Jesus Chri!!l­
to, porém Thiago, o menor, é duas vezes primo
de Jesus: uma primeira vez como filho de Cleo­
phas, que era primo em 1.o grau de Maria Sma.t.;
uma segunda vez, elle é primo por affinidade, pelo
&eu tio São José, casado com a Virgem Maria.
E' este duplo parentesco que lhe faz dar o
nome de «irmão do Senhor,• emquanto São Thi­
ago o maior, SiLo João e São João Baptista são
chamados simplesmente irmãos-parentes.
Queira o Professor consultar a arvore gene·
aJogica que aqul reproduzo, para dissipar todas
as duvidas.
Tal genealogia foi composta por exegótas
Judeus e catholicos, após pormenorizadas pel!I·
quizas e estudos dos documentos antigos.


Nesta. arvore o Professor verá claramente
que S4o Thiago, or ser irmao do Senlwr ( isso
é: primo segundo na.o é filho de Maria Smn.,
mas sim filho de leophas ou Alpheu e de Maria
Salomé.
Em ve41 de ser filho de Maria Sma.. elle é
1fmplesmente sobrinho della e prlm.o•lrmão­
de Jesus.

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-202-

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--203 -

m. Um terceiro Thiago
Para atrapalhar tudo, o Professor baptista
erla. um terceiro Thiago, que não é Apostolo.
Escutem o que elle escreve:
r
o' no'.fa�.°e 0tã��i:�a��� N���· 1��st:�:n�8q�=
a razão ncmhuma pa.ru um leitor attento o sincero dà BibUa
:�:����s�ºEi1 i:l�:!;l�1g����ºM�:���� ���ªr: �8�2�9.
1!; 1 Cor. 15: 7; Actoe 15: 13, 21 : 18 e em diversos outroe
lagares. Deprehende-se de 1 Cor. 15: 7 que ell6 i::e conver­
teu occaslão quando Jesus llio nppareceu depois da. re-
na
1urrelção.
É a conclusão do texto citado em que os
Actos nos mostram uns Apostolas perseverando
em oração com as Santas mulheres, com Maria
e com os Irmãos dellc.
Disto o Professor conclue: ha ahi os Aposto­
las, as Santas mulheres, a Mãe de Jesus e os ir­
mãos dclle.
Os dois Santos Tbiagos eram Apostolas.
Logo, tacs irmãos delle são outros persona�
gens e devem ser filhos de Maria Sma.
Que horrivcl syllogismo, ou melhor que s.u•
ph.is.mn nmphibologico !
Vcjamo.s hem os componentes da reu.nião ci­
tada :
O texto diz : Subiram ao quarto de cima, oov
de permnnPciam Peclro, Jo(Jo, Thiago, André, Phi­
lippe, Thnmé, Bartholomeu. Mathcus, Thiago fi­
lho de Alphrm, Simao o zelador, Judas irmão de
Tlliago, a.� Snnlas mulheres, Marta, Mb.e de J�
.1;us, com os frmtlos dtlltt. (Act. I. 12-16.

Temos poJs aqui o� 11 Apostolas, não tendo


ainda sido 0::::cnlhhlo Math.ins
para substituir Ju­
chs. [c\ct. T. �3)
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-204-

Entre estes Apostoles estüo cinco p:lrcntes


de Jesus.
Thiago, o maior, e S. Jono, filhos de Zebedeu
Thiago, o menor, Judas e Sim.Ao, filhos de
A!pbeu.
Faltam apenas : São Jollo Baptista, filho de
Santa Isabel, e José, outro Dlbo de Cleopbae, como
faltam aa duas irmlls de José: Salomé e Maria,
filhas de Cleophaa.
Eis três personagens que parecem nilo esta­
rem incluidas na cnumeraçll:o.
Na linha ascendente Jesus tinha como aflim
o tio Zebedeu, e um tio directo Cleopbas.
Deve-se suppõr que estes tios seguiram os
filhos e as esposas e acompanharam tambem
Jesus.
Elles tambem sendo parentes de Jesus me·
recem o nome de Irmãos.
Deste modo terismos sob o titulo de irmllos
delle, uão mencionados entre os Apostoles, nem
entre as Santas mulheres : 5 personagens, sendo:
Zebedeu, Cleophas, José e suas irmãs Salomé e
Maria.
Tudo isso é tAo nataral . . . tão logico, que se
fica admirado o Professor de Exegése não ter
notado a ex.istencla destes outros irmãos de Je&us.
Desde que o nome de irmãos é um termo ge­
nerico que se appUca aos parentes, como ficou
provado, elle deve ser appllcado a estes ultimos,
como o é aos Apostolos, parentes de Jesa.s.
E eis que toda a d.iftlculdade se dissipa, sem
que haja necessidade de criar um terceiro S.
Tbiago, que não Dgura em parte nenhuma da
F.scriptura, e cuja genealogia é desconhecida.
Não temos o direito de ajuntar uma virgula
ás Escripturas, como não temos o direito de sup­
prim.ir·lhes um ponto.

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-205-

IV. A' força de textos


Todos os tcxtes citados pelo Professor nada
ovam em contrario do que aqui fica dito ; pro­
am até positivamente a doutrina catholica.
Percorramos um instante, eRtes textos, para
er luz na balburdia protestante.
$. Marcos VI. 'J-NOo é este o carpinteiro,
Ilho de Maria, irmão de Thiago e de Jos� e de
JuLlas e de Simão ? Nao estao aqui entre n6s
lambem. suas irmas.
Texto comprobativo da doutrina catholica.
Examine bem a arvore gent:alogica . . . Todos os
5 são primos-irmüos de Jesus, por consanguini­
dade e por affinidadc.

Gal. 1. 19-E dos outros Apostolas, nao ul


nenhum, sinão 7'/tiago, irmao do Senhor.
Mesmo texto comprobatlvo. Tbiago é primo­
Jrmíl.o do Senhor, e nada mais se pódc concluir
deste texto.
Gal. II. 9-E tendo reconhecido a f)Tara que
me foi dada, Thiago e Cepltas e Jo(lo, que eram
considerados as columna.IJ da Egreja, deram. as
mdos a mim e a Barnabé.
Que prova isso? Nada, sinilo a existencia de
S. Thiago e o seu zelo apostolico. Ora, jé. sabe­
mos disso.

Gal. li. 12-Anles que chegassem alguns de


Thiago, elle comia com os gentios.
De no"º· t·l; texto prova apcnM a existcn­
cia d� S. Thia:;o, dJ. l�.:u.l nin�u ;u duYida.

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206 -

1 Cor. XV. 7-/JPpoú; foi visto por Thiago


em seguida, por todos os apostolas.
Outro texto que prova apenas a existencia
de 89.o Thiego, e nada mais.

Actos XV. 13-E depois que se calaram.


Thiago tomou a palavra.
Para que estes textos'? . . . Para provar que
São Tblngo não era mudo, mas sabia talar. Ora,
ninguem o contesta.

Actos XXI 18-E no dia seguinte foi Paulo


comnosco á casa de Thiago, onde se tinham reu­
nido todos os anciaos.
De novo, porque este texto?. . . SerA para
provar que Süo Thiago tinha uma casa ? Não va­
lia a pena!

Eis os textos com os quaes o Professor ba­


ptista pretende provar que ba 3 Thiagos. . .
Dá vontade de dr e de chorar!
Seria mais simples dizer que cada texto é
um ThiagO dUfcrente; deste modo teremos logo
8 Thiagos. Isso serA sulliciente para satisfazer
as 886 seitas protestantes, e os pro_prios cafüo.
licos deverão ficar satisfeitos.
Imaginem: 8 Sllo Thtagos ! ! ! :··�-­
A citação pormenorizada de cada texto:mos-
tra a. puerilidade do systema protestante. 1"
Apresentam-se logo com uns vinte textos,
que nada dizem a respeito da discussão e pre­
tendem provar pelo nuniero de textos, o que
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
- 207--

a logicn, o bom senso e a BibUu desapprovam.


Nilo é o numero dos textos que prova uma
'Verdade, mas sim o valor comprobativo do texto.
c
�:iaº
ta :��::cli��dcr a arvore genealogica,
que mostra todos estes pretensos irmaos serem
1implesmcnte prlmos·lrmãos, por consanguJ­
nidade ou amnldade, e tudo está resolvido. Os
textos da Sagrada Escrlptura tlcam claros, lumi­
nosos, comprehenslvets para todos.
Mas os bons protestantes nAo querem luz,
querem protestos, e protestam. . . baralham,
deturpam até chegar a uma apparencia de ver­
dade para combater a Egreja Cstholica.
Pobres protestantes: Apparcncla nn.o 6 reali-
dade. ,
Só a Egreja Cathollca possue a realidade.

V. Outra balburdia
Citemos mais uma p89sagem do artigo desas­
trado do Professor exegetioo baptieta.
A \'Ordado jã está claramente provada, mas
não será inutil provar mais uma vez a perYersi­
dade da interpretação individual protestante.
Dizem elles e repetem que a Sagrdda Escri­
ptura 6 um livro claro, ao alcance de todos.
P.: um erro. Nenhum livro precisa mais de
explica.ção e de estudo do que a Biblia.
Mas, mosmo si fosse ,·erdade, porque então
tecem ollee tantos cornmentarios, inventam tantas
hypotilese, até novos Thiagos, e escurecem com seus
commentarios o que é claro e luminoso.
Si assim fazem dos textos claros . . . que serã
então oom os obscuros 1
Eis mais um pedacinho, claro, que lhes serve
d'l protesto escuro.

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-208-

No DiA de Pentecostes, os prímoJ de Jesus e os ir­


nuto.� de Jesm estavam pres<!nles (Actos 1 : 13, 14). Os ir­
mãos são positivamente distinguidos dos apostolo& que ti­
nbam o mesmo nome.
João 7 : 2 declara que no. occasHl.o da festa dos Ta­
bernaculos, seis mczos antes da cruclUcaçAo, •nem seus ir­
m&os criam nellc�..
Eis premissas das quaes o Professor vae
tirar umaconclusiio phenomanal.
Iníelizmente parece ignorar as lei<J do syllo­
gismo, de modo que atõ agora não encontramos
ainda nenhuma deducçüo ou inducção viavel ; são
todas provas que nada provam.
Não basta lançar pó nos olhos da gente e gri­
tar que é assim, mas que não vemos nada por
causa elo pó.
Queremos vôr de perto.
Vnmos por a passagem ali indicada em São
João VII. 5.
Estava proxima a festa dos Judeus . . . Dis­
seram-lhe pois seus irmãos : Sae daqui e vae pa­
ra a Judéa, afim de que lambem os teus dist:i-
pulos vejam as obras que fazes . . . porque nem
mesmo os seus inndos criam nelle . . . Vós ides a
essa festa, eu ndo vou a essa festa {João VII. 5-8)
Eis uma passagem simples que mostt·a de no­
vo os taes primos-irmãos e a sua falta de fó
na missão de Jesus.
E' cousa simples. E ó desta cousa simples que
o Professor vae tirar a seguinte conclusão :
Estes irmãos eram incredulos.
Ora, os Apostolas já tinham a M.
Logo, taes irmãos são distinctos dos
Apostolas.
O raciocinio pecca pela base, formando um
Sophisma ampll'ibologico.
Onde é Que o Professor encontrou a pala,•ra
ineredulo ?
Xão cror 1.m alg:icm n:io é ser iucrcduJo.
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- 209 -

Eu não creio na cxcgáse do Professor baptis­


ta ; entretanto não sou um incrodulo.
Os Apo..,1o!os não eram incredulos, ma-i a sua
fé, como vemos om toda parte, era ainda materi­
al, acL·editavam em .Tosus Ohristo, como thaumatur­
go, uomo Prophetn, como Mes:;iias, mas não como
fillw de Deus.
São Pt!dro tinha rlad o esto brado de í6 : Tu
és o Ch; isto, o filho de Deus vivo ! fi\Iath. XVl. 16)
mas no fundo do o:::pirito os Apostolas, o entro el­
les º" partjntrs de JesuH, ncroditavam ainda no
rest3brlrcir.1t'nto do reino de I�miel.
'1\·mos a pr0\':1 dest1 disposição dos Aposto­
las na interrogação quo fizeram a Jesus já. resus­
citado antos de su'1 a sce1wão : Senhor, 11m·vcntu�
ra e/legou o tampo efn que 1·e,�tafJelecercis o reino
de Israel ? (.lct. I. G).
Tal era a <lispo�ição de espidto c;\os discipu­
los, mesmo dopols da ·r(!aur1·-0tção ; dev'in sei-o aind'a
mais, antes da rC>surreição.
Niio eram pois inc�·ollulos, mas n�o a.i·edHa­
'Vam ainda cornpletauHmto na missão dl'vina de
Jesus Chd.sto.

Conhecendo a disposição do� pa1·trn1 do Je-


sus, vejamos agora o facto da ida fl .r 1 fl\llem.
Estava proxima n festa dos T11born r>�11ns.
Ora, era uma lei para os Judeus- qm us ve-
zes no anno (na Paechoa, Pentecost!O's r> -..a dos
Tabernaculos}. todos os homens fossem a J ·rusa­
lom adorar a Deus (Exód. XXIII, l 5 ' LGl!V 23). ·
EHt'.a Y iagom se fazia ROlemnemf'nte. co�o as
nossi:i,.. rom:il'im; roligios:i-s do boje : oL Lí.'''K1lS num
g1·upu, as m ullll'res Nn outro como, ' 11•1.-: �l:l oc­
casião da ili.a da Sagr�1d:i F:imili:<:: ;;i .!1'l"li--,1lem,
cr.i q::o p .rclcr�t:.':. o :.�t·1:::i:; {.Su.,·• .IT . ._:. 1 �'.:'
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- 210-

Jesus estava em Galilén, tendo deixado a Ju.


d6a, onde os Judeu,a, procu. avam prendei-o.
Jesus estavn, com certeza, hospedado na casa
de um de seus parenteR, Zobedeu ou Cle?phas.
Organizaram os grupos e pediram naruralmen·
te que Jesus nelles tomasse porte, protextando que
era bom que Ee manifestasse publicamente em Je-­
rusalem, num momento quo t1mta gente de fóra
ia reunir-se ali.
Os parentes (taes irmãos) julgavam que Jesus
seria sensivel á estima dos homens nosta occasião,
porque n4o criam nelle como Filho de Deus.
Jesus recusa, dizendo que não tinha ainda che-­
gado a hora de alie manifestar-se, que não iria ago­
ra publicamente, mas que seguiria depois da ca­
ravana, oocultamente.
Quando seus irmtfos jd tinham partido, er�
Ulo foi elle tambem d festa, nao descobertamen­
te, mas como em segredo, diz S. João {Joan. VIl.10)
Eis o que é simples, claro, logico.
Como ê que o Professor baptisLa {> ódo con­
cluir disso que os taes irmãos (pa rentes} de Jesus
eram incredulos, emquanto Thiago e Juda� eram
Apostolos? Quer provu com isso que o Thlago
desta passagem ê um outro que o Thiago do Evan­
gelho.
Pobre fanatismo.
São bem os mesmos parentes-Apostolo.,, iom
aA suas mesmas idéaa, ainda materiaes ; o que
não lhes impedia de ser Apastolos.
Judas era um tncredulo, um impio, wu lr11h1-
dor; entretanto era um Apostolo : Judas, unus e.z
duodecim (ldath. X. 4),
E Thiago não podia !Wr Apostolo, porqut •:nha
ainda uma idéa materialiiita do reino de J11 ·u· �
e porque não acreditava plenamente que t•r F 1ho
Deus ?

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-21 1 -

u
Q e absur !do
A verdade é-e os factos o provaram por
demais-que todos s o Apostoles eram vacillanteif1
no dia de Pentecostes rece­
hesitantes . . . e que só
beram do Espirita Santo o dom do força e de
firmeza, que deveriam caracterizai-os em seguida.
VI. Provas Internas exegéticas
Depois de termos refutado o erro do illustre
Professor baptista, erro que elle reconhecerá, si
fôr sincero, é mister estabelecer claramente a
verdade unica, certa, evangelica.
Quero fazel-o aqui succinctamente, citando
as diversas provas internas da Sagrada Escri­
ptura, interpretadas por uma exegllse obvia, lo­
gica. irrespondiveJ.
Como tenho repetido a cada passo, o termo
irmaos de Jesus-nada prova contra a Virginda­
de perpetua de Maria Sma.
Todos os historiadores concordam em dizer
que a palavra-Irmão-não tinha entre os he­
breus e entre os judeus bellenistas, e em conse­
queocla na linguagem dos escriptores sacros, o
sentido restricto que possue entre nós.
Servia para designar todos os membros de
uma mesma fam.ilia, ou todos os descendentes de
um mesmo pae, quasi indillerentemen.te.

que/�f!� �1r��o�eg�t:��tfs1:���z �J=�:.


C!. Gen. XII. 5 - Num. XVII. 10 - Jos. XV.
17 - IV. Reg. X. 13 - II. Parai XXVIII. 8 -
Apoc. XII. 10 - Matb. XII. 46 - Marc. Ili. 31-
Luc. VIII. 19 - Joan. li. 12 - Act. 1. 14 - 1
Cor. IX. 5 - Gal. 1. 19, etc., etc.
A razão desta generalização do termo Ir-
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- 2 12-

mito, conforme já ficou dito, é que na lingua hc­


bralcafolta o termo proprio para indicar as diver­
sas 1·elaçõcs do parentesco.
A palavra Ahh om hebraico é o equivalen­
te da palavra germanu.s cm latim, e da palavra
pare1zle em portugucz.
Deve-se dizer n mesma. cou!;a da palavra:
Adellos nos Scptenta, como da palavra fratel'
na \·ulgata.
O nosso Prorcssor quiz encontrar um esca­
pator:o, dizendo que os Evangelhos nilo toram
escriptos em hebraico, nem cm ii rumaico.
Distingo : O Evangelho de Matheus foi cs­
cripto em bcbrt\ico, ou em dlalccto hebralsante,
chamo.do por alguns Syro-chaldulco por outros
aramaico.
Os três outros Evangelhos foram cscriptos
t ci
��s�·1!;â :1ª�v��:th� �: S� ���ci�)'ª�a;: �;
judeus e, como tacs, embora escriptos em gre­
go, respeitavam o modo de dizei· dos judeus.
Havia em grego o termo nnepslos para
expl'imir a palavra primo, é corto, porém si o
termo existia em grego, não era usado pelos he­
breus hellenlstas que, através da Ungua grega _
que falavam, conservavam os costumes e as ex­
pressões de sua raça.
Isso acontece diariamente. Um francez es­
crevendo em portuguez, póde saber que a pala­
vra saudade existe, mas facilmente dirá nostal­
gia, por ser um termo ao mesmo tempo francez
e portuguez; dirá ainda : bouquet em vez de ra­
mRlhete, soirée cm vez de sarau, detalhe em vez
de pormenor, etc.
v�:::im fizeram <'m muitas pnc:;::agcns os evnn­
gc'i�i �J : conlieciJm o termo anepsios, mas fahm­
do ct rir:mo�. l'.:'!n n,-ol'::il, incluindo :�,_·imos t11• vn-
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rios graus, tios, etc., conservam o termo generl­
co nhh, irmão.
De outro lado, porque os Evangelistas não
teriam dado o nome de irmOos aos parentes de
Jesus, que nilo eram os filhos de Maria, quando
chamam Silo José pae de Jesus na mesma
pagina cm que acabam de dizer que elJe nado.
tinha na Conceição de Maria.
O proprio Evangelho fornece n prova desta
r do t
�!f;f J!ªJ:s��s��,'�N�ª:�;uga;:�º�uc d!1�1:ºiazir�
parentes proximos e remotos de Jesus.
Doze vezes o Novo Testamento fala de taes
lrmilos e Jrmãs de Jesus, mas nunca os cha­
ma de ti.lhos de Maria, nem filhos de Josê. em­
bora sejnm nomeados diversos vezes ao lado de
,José e de Maria. (Math. Xlf. 4G, 47-Marc. III.
31, 32-Luc. Vlll. 19, ru-Joan. II. 12-Act. 1. 14).
Porque uma taJ reticencia ?
Porque não dizer Jogo que clles si!.o filhos
de Maria e de José?
Porque tanto mysterio ?
Si o Evangelho diz clara e expressamente
que Maria d mae de Jesus (Luc. J. 43-Joan. IJ.
1, 3-Act. I. 14) etc., porque não diz tambem que
ena é mn.c de Thiago, de S. João, José, Judas,
Simão etc. ?

A16m disso, Jesus é designo.do em Nazareth,


como o ó commumente, o filho unlco de uma mu­
lher viuva, sob o titulo de o filho de .i\!aria-o
Fios �«arias, (Marc. VI. 3) emquanto os outros
nunca passam de irmãos (parentes) de Jesus.
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-214-

Si estes primos [assem verdadeiramente ir­


mãos de Jesus, filhos de Maria Sma. e de S. José,
deviam necessariamente ser mais novos que
Jesus, pois teriam nascido depois, e Jesus é cha­
mado o primogenito; entretanto taes irmãos pa­
recem ser mais idosos que Jesus (cf. Matb. XII.
46-XIII. 54, 56-Marc. lll. 21, 31-VI. 2, 3-Luc.
VIII. 19, 21).

Outra prova encontramos nas ultimas pala­


vras de Jesus, dirigidas a S. João e a Ma.ria
Sma:-Ecce Mate1· tua. . . Eis ahi a tua Mãe, eis
ahi o teu fi.lho : Uios sou/-palavras que sup­
põem evidentemente que ella na.o é a mãe de
Thiago, de José, de Judas e de Simão, e que
Jesus é seu lllho untco.
Si ella tivesse outros filhos, porque Jesus di­
ria que doravante João será o seu filho ?
Porque devia S. Joiio considerai-a como
a sua mãe, e recebei-a como tal em sua casa? ·
Eis ta idia.
'l'al procedimento seria evidentemente um
insulto lançado no rosto dos outros filhos de
Maria !
O Professor objectou que Jesus assim fez,
porque seus il'milos não acreditavam nelle.
E' outro insulto !
Então, por ser incredulo, um filho deixa de
ser filho de sua mil.e?
Aliás, é uma calumnia atirada á face dos Apo.
stolos, a qual já pulverizei acima.
Os Apostolas nunca foram incredulos, mas
simples mente tiacillanles em Sl!.a ré sobrenatural,
devido ás idéas mateifolistas que UnJ1am rio Mes·
Si!l.-i.
Nem o propr!o termo de Jc.itu dirigido a
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-215-

Silo Tllomé tem este sentido: Não seias incredu�


lo, mas fiel ! (Joan. XX, 27).
1'bomé não era htcredulo ; era ape­
unt
nas iucrcdulo na resurreiçlio, de Jesus.

O grau de parentesco de Thiago, José, Si­


mão e Judas, com Jesus, sobresae claramente
das rli\·crsas passagens já citadas.
De facto, via-se ao pé da Cruz do Salvador:
-Maria, mãe de Thiago, e de José (Math. XXVII.
56-:.Jm·c. XV. 40, 47-Luc. XXIV. 10).
ÜI"a, qual será. u tal Maria?
I\il.o póde ser a Mãe de Jesus; ella na.o se­
ria tksignudu clet>tc modo.
E' pois unm <1utra Morin nquelln�que S. João
culloca ao pé dtt Cruz, no lado da l\.lãc de Jesus.
e que diz se1· sun irmã, Isso é, a sua parente,
e 'que se chama l\lnria Cleophas, ouomulber de
Clt.>ophns (Alphcu) C' m5.c do Tbingo e de Simão.
Er.trclauto estm.1am de pé, junto á Cruz de
Jesus, sua �fc1e e a irm(i de sua !Jlae, Maria,
"'ulher de Cleophas e Maria Alagdalena (Joan.
XIX. 25).
Eis, poh:i, dois dos taes pretensos irmãos de
Jcsui:;, que não podem ser sinão os seus primos,
e que não o são num grau muito proxlmo.
S. 'l'biago, nomeado diversas vezes filho de
.Alpheu (Math. X. S-Luc. VI. 15--Act. 1. 13) sy-
11onimo de Cleophas (Klopas) de que não differe
il �f,r ia)� acccnto, tem por irmão: Judas
(t1!ic�
gn r b
Sim:�. � �l�:�,:��Pgu�{r�) ;���� �� J�:�; :��
dicados por Sii.o Marcos, (Marc. VI.) foi o Succes·
sor de S. Thiago. o menor, na sé6e de Jerusalem,
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- 2 1 6-

porque como o seu antecessor ei'n filho de Cleo­


phas, que era irmão de José. (e!. .Math. XIU. 55
-Marc. VI. 3-XV. 41>).
Vê-se, deste modo, que os quatro preten­
sos irmãos de Jesus silo simple:smcnle seus
primos.
Eis a.s provas interna� biblict:.s dirt: ctas, além
lias provas iudirectas, pela returnçUo das inter­
pretações eITadas.

vn. Conclusão
Paremos aqui.
O professor já. está abusando de nossa pa­
ciencia, com as suas objccções sem fundamento,
que só têm por fim escm·ecer o que ó claro, e
baralhar o que é logico.
E agora o que resta cm pé de sua. ,fa!Ea e
sophistica argumenta9lio?
:Nada ! nada f sinão destroços de uma derro­
ta. ,·ergonhosa.
Que mais faltará, digo com o proressor, para
a total destruição da thcotia protestante ?
Absolutamente nada . . .
)las o que fica de pé, firme, inabnlavel e lu­
minoso é o dogma Catholico da Virgindade
per:petua da Virgem [mmaculada.
Resumamos aqui cm poucas palavras o que
temos amplamente desenvolvido e provado nes­
tes dois artigos.
E' um dogma de fé na Egreja Catholica que
u �.lüe cio Jesus permaneceu Scm,p;:e Vir­
gem.
E' a tradição unanime dos seculos, co:no é
o ensino do Evangelho.
E' o sentido do titulo que sempre a Egreja
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------·-'
·2
'"'-
l"'-
7-
_ __

ap1ili<:a. á �Iàe de Jesus : e Parlenos : A Virgem


conceberá e dard á luz um. fi.lho: De1.l:i comnos­
co. (Matb. 1. 23)
E' como o cantico de amor da litur�ia ca­
lhotica, sobretudo na resta da •Pureza da Bcmav.
Virgem•.
«Gerastes, lê-se neste officio, aquelle por
q�em fostes creacla, e·permaneccis eternamente
Virgem.
Santa e lmmaculada Virgindade de Maria,
não sei como louvar-vos dignamente!
O' Bcmar..'enturada Mãe de Deus, Maria,
sempre Virgem, ap6s o vosso parto, permane­
cestes perfeitamente t'irgem.
Celebremos com alegria a T1irgindade da
Bemaventurada Maria, sempre Virgem !
Genuisti qui te recit et in CPternum perma­
nes Virgo !
Bella e consoladora verdade, que eleva a
Mãe de Jesus acima de todas as mães, e faz del­
la : a Mulher bemdita entre todas as mulheres,
a Virgem purissima entre todas as virgens,
a Mae admiravel entre todas as mães.
Como uma tal doutrina é bella, harmoniosa,
divina e se eleva aeima das objecções mesqui­
nhas e das idéas lrias quão ciumentas do rana­
tismo protestante !
Querer rebaixar a propria Mãe de Deus !
Que tarefa lnfamante.
Querer arrancar de sua fronte virginal o mais
radiante diadema de grandeza e de amor . . .
Que papel horrivel !
Querer provar pelo Evangelho o contrario
do que elle ensina, sustenta e affirma.
Que trabalho beretico !
Pobres protestantes, como sois infelizes!
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- 21 8 -

Quereis agradar a Jesus e insultaes A sua


mãe.
Quereis exaltar o n!ho e rebaixaea a mlle,
julgando agradar a Deus e illumlnar as almas.

§�:;10 ;��:Jra's
c lra
sar por um espirito humano a
idéa de que a rgem Immaculada, que não quiz
acceitar a dignidade de Milc de Deus sinão com
a condição de conservar a sua virgindade, que a
conservou antes e durante o parto, a tenha per­
dido depois, para ter outros filhos, além de seu
fiJho divino ?
A simples supposição inspira horror.
Santo Thomaz diz muito bem: Uma tal idéa
deroga a dignidade e a Santidade da Mãe de
Deus. Seria de sua parte uma ingratidão sem
nome, si, não reconhecendo os milagres que o
céu multiplicou para a conservação de sua vir­
gindade, ella tivesse voluntariamente renunciado
a uma integridade que Deus tanto estimava.
g
O abandono de uma tal rerogativa seria
sem
�:g �� i�� �:: :����� � �� ii� ifô! �.
1 ª
e
e
s o o
« ·
u /
que este seio virginal, onde o Espirita Santo ti­
nha operado, do qual Jesus Christo tinha feito
o seu tabernaculo, pudesse ser profanado, nem
que José, nem que Maria tenham podHlo deixar
de respeitai-o.
Antes de sua Concelçllo e de seu parto,
Maria Sma. tinha dito em geral: Ndo conheço
varão. s. José entrou neste designio; e elle te­
ria deixado de respeitai-o depois do parto mila­
groso ?
Não, não; não póde ser ; teria sido um sacrl­
legio indigno delles e Indigno de Jesus Christo.
Digamos, pois, bem alto, e com toda a certe­
za d� nm dogma revelado por Deus:

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-219-

Virgem Santa, Mãe de meu Deus, em vós a hon­


ra da muternidade não destróe a integridade virgl·
nnl, e a integridade virginul realça a honra ma­
ternal com um tulg<'r que lhe recusa a natureza.
Vós sois Mãe, tanto mais admlravel, quanto
sois Virgem ; e sois Virgem, tanto mais admira­
vel, quanto sois Mãe !
As objecções protestantes, em vez de tirarem
o brilho de vossa .coroa virginal, Lhe dilo mais
esplendor, pois dão occasi!'lo d6 peDetrar, mais a
fundo, no santuarlo de vossa inviolavel e per­
petua Virgindade.

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C l'I P I T U L O U'l:

Novos erros prolestantes


As expressões at6 que e prlmoientto

A grande discussão sobre a perpetua virgin­


dade de Maria, ePtá terminada, e creio que es­
tão claramente provadas as duas grandes theses:
1.o O erro protestante attribuindo á Maria
outros filhos, alóm de Jesus.
2.o A Virgindade de Maria provada:positiva
e claramente pela Biblia.
Parece que devia dar por finda a discus­
são, mas é impossivel.
Os protestantes são menos exegétas, �philoso­
phos, racionadores, do que plagiadot•es.�Não racio­
cinam por si, mas reproduzem tudo o que no pas­
sado foi escripto contra o culto de Maria Sma.
pelas pessoas mais imphts ou ignorantes.
Accumulam textos que:nada provam no as­
sumpto, procurando provar pela quanlidade :o
que lhes faltam em qualidade.
Vão copiando objecções mil vezes� pulveri­
zadas, e parece que cada objeccAo continúa a ser
para elles um pedra formidavel contra a verda­
de catholica.
Obedecendo a esta mania, o nosso Profes­
sor de exegése-baptista não quer contentar-se
em defender simplesmente uma these, mas quer
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-221-

reproduzir outras objecções contra o culto da


Vigem Santa . . .
Já refutei tnes erros, e m diversos livros, mas
quero dar-lhes mais uma resposta completa. e
decisiva.
Eis como o Professor de exegése termina o
seu nrtigo . , . Cito apenas duns conclusões desta
syntbese, tendo sido o resto refutado nos capi­
tulos precedentes:
Eis flnal:ne-.nto synthetlzadas as pro\'as irrefuta\"efs do
Novo Testamento, que Maria, mnc de Jesus, teve outros
filhos.
l. .:Jos<: l':ndo despertado do somno, rez como o anjo
do Senhor lhe or enli.ra, c r�cebt•u sua mulher, e nao a co­
nheceu emquantod rlla nl]o deu d luz um filho, a qU('ffi
e e e
�zd� �j�?n��d� d�\f!�j!\1� : ��tfgJ· �aC: �i:1��r8a�: �,��:
��ªY:��,:'to ag:m�tdu.ª �:.�� ('�� �1:,
: �n:ir:ti
� wd� fi��i� ��;�
ensinado na.ta Uogu�em. Ao contrario, implica que cllo.
�eJt�:�����i;ge;:t�0�G�e;:.iS�jg�g.nito consurumou o seu
mog;;ir,,umni �7r�f�k���) �r�1:.�1�:�1:r��/�s:�\�::('lf�ti�
Lucas nllo disse (como d\1. o P. Jullo) qu· .Jesus era o uni­
gentto fWw de Maria? Porque sabia que. Marta tivel'll. ou­
tros filhos (Luc. 6: 19, 20).
Eis duas passagens que vou refutar aqui bre­
vemente, desenvolvendo a "Verdade contra·
.ria a estas falsidades.

I. Antes e depois
A primeira objecção denota muita ignornn­
cia, tanto do sentido grnmmaticnl da palann,
quanto do E1entido exegétic·o da Biblia.
Parece-me impossivel que um professor de
cxogése seja c:ipaz de apresentar ta1 argumen­
to ridículo, que n�m sequer possuo uma apparcn­
-c'.:i d (> �:.1<.:"J.
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Examinemos de perto a tal phrasc do Evan­
gelho:
E despertando José do somno, fez como lhe
linha mandado o ando do Senhor, e recebeu
(Maria como) sua esposa; e nao a conhecia, até
que deu á luz seu IUho prim.ogenilo (Math. L
24, 2ú).
Que prova tal texto?
Prova direclamenle que Ma.ria Sma. foi vir­
gem até ao nascimento de Jesus Cltristo : nada
mais. . . nada menos.
O sentido grammatical e exegético é claro:
Donec peperit-Donec,-até,-eôsou, indica
a pcrsistencia de um estado até certo tempo,
porém não Implica a cessação deste estado após
este tempo.
Não ha ali nenhuma prova que Ma.ria não
ficou virgem depois.
Tal é a interpretação obvla, seguida pela E­
greja Catholica e pelos protestantes inStruidos e
sinceros, sendo apenas combatida tal verdade
pelos ignorantes e pelos plagiadores, que se
contentam em copiar o que os outros escre­
veram, sem nenhuma reflexão sobre a interpre­
tação adaptada.
Cito aqui apenas umas interpretações f6'ra de
contestação, as de uns chefes protestantes: Grocio,
Calvino e Pearson, Owen, Dr. Hickes e Dr. Bra­
mbal, todos elles protestantes e de posição.
Eis o que escreve Grocio (Annot. in \1.•th.
op. tbeol. l JJ p. 15).
•A negação de que José nllo conheceu Maria
antes de ella dar á luz, não inclue de Ill'nhum
modo a amrmaçiío para o tempo que seguiu.
Uma multida.o de exemplos demonstram que
isso era entre oei judeus um modo notoriu e
usual de exprim1r-11e . • •
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-223-

A propria intcnçll.o do Evangelista no!õ obri­


ga n limitar-nos ao tempo de dar á. luz, de que
elle rala, não se tratando de outra cousa, sinilo
de fazer conhecer que José nenhuma parte ti­
nha nesta operação.
Nada da passagem citada refere-se uo tem­
po posterfor, mas exclusivamente ao tempo an­
terior.:t
Eis uma outra de Calvino, um dos fundado­
res da seita. Elle escreve : (Com. sobre a harm.
evang. p. 41)
«Apoiando-se sobre o texto : Não a conhecia
até qu.e deu d luz, Helvidio (o inventor da gros-
1eira objccçíl.o-IV seculo), em seu tempo su­
ecltou grandes perturbações na Egreja, queren­
do sustentar que Maria tinha sido apenas virgem
no parto, e que depois tinha tido outros filhos
de seu marido.
S. Jeronymo sustentou a virgindade perpetua
de Maria e a defendeu forte e largamente. Basta­
nos dizer que tal não é o sentido do Evangelho,
e que é uma loucura o querer recolher desta
passagem o que aconteceu depois do nascimen­
to de Christo.•
Eia tambem o que é claro, e o que não é
dito por um tbeologo catholico, mas por um dos
primeiros chefes do protestantismo.
b p t e
Cree�. �� 1�afr: �ui:: ni�ª:!º;&J�/e';ãrº�d!�
petencia, diz por sua vez:
•A expressão, diz elle, desta linguagem bí­
blica não traz com.sigo semelhante deducçAo. Com
effeito, dizendo Deus a Jacob que não o deixa­
ria até que não fizesse aquillo de que Jhe tinha
!alado, segue-se porventura, que Deus tenha aban­
donado a Jacob depois de o ter feito?
Sendo logico, é preciso concluir, como todos
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-224-

os excgótas serios concluem, que o não ter José


conhc ci lo
c a sua Esposa, até clla dttr á luz o seu
primogenito, nll.o traz como consequencla neces­
saria que a conhecesse depois, e que por con­
segulnt<' o Evangelista E.a passagem allegada
quiz apenas dizer-nos o que não se tinha (eito.
Citemos mais um testemunho de outro pro­
testante instruldo, o bispo dr. Roberto Owen.
(Tbe dogmc theol. p. 44. Ox!ord).
.'.'>ló'i abraçamos com gosto o sentimonto, que
prevalece entre os christâos, de ser Maria Vir­
gem, pura de qualquer commcrcio humano com
seu cspo:,O, nilo só quando nclla se completou
o rnyst 'rio da geração de Christo, mas tan:;.bem
por todo o tempo de sua vidn.-o
·\inda outro luzeiro do protestnntismo, o dr.
Hickes, escreve (On the due pratse and h. o!
lhe �'.. V. p. 269).
c'!\laria loi Virgem na. alma como no corpo,
de üll mnneira que nunca olhou com fim volu­
ptuoso para a criatura ; foi Vir�em cm tudo, e
ora todo. pureza, tanto interior como exterior­
mente, conservando o seu corpo como Santuario
e lagar santo, e a sua alma como o Sancla
Sanctorum, por ser o receptaculo do Espirita
Santo, o Tabernaculo do Filho de Deus.•
Tc;rminemos por este brado admiravcl de um
arcebispo protestante dr·. Bramhall (Works vai.
1. p. 53) confirmando a referida doutrina catho­
licn, e condemnando o erro de rn ·sos mo
tlcrn' ,. •;wg-étJ\.;; baptistns :
"\':•�• admittimos as genuina.s1 univcrs�c. P
apostolicas trndições, como sejam o Symbolo cln!t
Apostolo�. e n perpetua virgindade da Mã.e cl"
Deu': ...
'!'�e..; .:!:.:t�-�l::!�z:, c:in p:-;!c�:;::-, �.;:.�:;;-�
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si.antes da gemma, m 'recern o 1 nlo, f6 para
senho r '!
Nós, cathoticos, est un os d e ac�ordo com ei­
s sobre este ponto. . , como é que vós nü.o o
estaes ?
Sois dividiJos . . . e, como disse o Salvador,
toda casa di11i<lida n1o p6de subsistfr. . .
Eis porque o protestantismo rue, cahe1 eslar­
ra.pado s 1b os •lentes de seus pro(H'ios udeptGs.
tt.1je nl\o existe miüs 11rotcstantümo, !:ló exis­
tem protc,.;t rntt!S. . . tendo cada urn a sm1 idéa,
a sut1 i·eliJ!Li.o, seu cre • ln. l'a\Jricado por cllc mes­
mo. E' u. tl l\'iJ:.i f!C'l'ltl, u duvida de tudo, afóru
a s ua interpretação individual.
K•1 Egrcja Cntholica, o que um ensina, todos
o en-.inam, pol'quc ha uma autoridade central,
ha. unrn. un i dade pcrtcita ; a verdade :-;cndo uma,
é indlvisi\•cl.

II. Prova� Bibllens


Parfl corroborar o sentimento das auto;icla­
dn� prot·'St�ntos contra a int1rprnt�.::�10 hnptista
do nos•o P1·ofesfJor e.l o oxogt'õ�f', cite m,1:; un� tex­
to-1 JYLM1f"los da propria E..scriptura, um quo n
nvism-. locuçilo á cmpreg11cta, o com o �,,ntido que
lhe attribu� a doutrin"' cntholica.
Deu falando a Jacob do alto da escada que
\'iu Am so11h�s, disso-lhe :
Nll.o te abandonarei, emquanto nao cum.
prir tndo n que disse (Oen. 28. 15).
Qu..... ,·á isso dizer que depois de Deus ter
cu m prictQ o que promettera a Jaoob, o abandona�
ria '?
E' · .qn.>ssivel, Deus fala do presente, sem se
o�:cup'lr rli; qu� far:1 no rutura.
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-226-

Moy ��: n;ul;���;:,��·oEJ�r!g�Ít:;,g��g��� :Zi


na terra de Moab. . . e e.<1te o sepultou no t·alle
de J!oab . . . e nenhum homem soube até hoje o
logar de seu sepulcro. (Df'ut. 34 6)
Pódc-se inff'rir des1f- pRsso que o dito
tenha sido conhecido d�pois ?
Jogar
Impossh•el, pois o tumulo do Moysés nunca
foi descoberto.
O Espirito Santo indica os precedrntes nté
ali, sem folar do
futuro.

O Santo homem Job. proclamando a sua in­


nocencia, diz :
Emquanto eu viver, não me apartarei da
minha innocencia (Job. 2G. 5.)
Quererá dizer isRo que dopais de vi\'"er, isso
ê, depois de morto, Job t't' apartarã dn sua jnno­
cencia?
Uma tal ,interpretação seria o cumulo do
absurdo.

Noé para conhecer o estado da


r te ra,
diluvio, soltou um corvo, o qual sahiu, e não tor­
após o

nou maia, até que as aguas fossem seccas sobre


a terra (Gon. VIII. 7).
depois do desapparecimento das aguas Y
Quererá dizer isso que o corvo tenha volt"ldO

Naturalmente, uão. O corvo não voltou ninie,


a Biblia diz apenas que não appareceu até o des­
apparecimento das aguaQ, sem dizer o que �H.on­
teceu depois.
E' mais que provavel que o corvo
não tendo

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- 227-

contrado logar onde pousar, nem alimento, te­


a morrido nesta excursão.

No livro dos Reis (ou de Samuel) temos :


E Samuel não viu mais Saul até ao dia da
a morte (Sam. XV. 35).
QuoJ'erá dizer isso que Snmuel viu Saul de·
is da sua morte '?
Novo nbqurdo !
A S·1gr:HIJ. E;Jcripturn fala da opoca que pre­
de o din da morto de Saul, e nnda diz do que
teguiu n esta morte.

Outra pos!Õlngem do Samuel (li Reis)


Por esta razão Michol, filha de Saul, não
t·ve fi.lhos al6 O <lia desua morle (IC. Snm. Vl.23).
EnL<i o 11iohol não tendo tido filhos até ao
dia da sun morte, tel-os-á tido após n morte ?
Que logica impagavel !
O texto diz o que houve até a· morte, sem
tratar do que haveria depois.

!saias, na visão qontra Jerusalém, ouve a voz do


Senhor clamando contra a cidade prevariMdora :
Não, nao 11os seriá perdoada esta in{quida­
dt até que mon·aes (Isai. XXII. 14)
Quer dizer isso que a tal iniquidade serã per­
doada depois da mo ·te Y
Xiio pódo ser. pois após n morto nlo h1 mais
p 1 d lo; é t
. 1.'•"� niJí!cle.
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-228-

Jesus Christo dlsse aos Apostolos :


Eis que eu estou comvosco, todos os dia�.
até a consummação dos seculos (�lath. 28 20).
Deve-se concluir disso que depois da consum­
mação Jesus Christo abandonará para sompre os
seus Apostolas '?
E' o contrario: estarã com elles, no céu, maia
estreitamento unido, do que aqui na terra.

Antes da Ascenção, o Salvador disse a seus


Apostolas :
Eu vou mandar sobre v6s o Espirita Santo
promettido por meu Pae : entretanto pennane­
cei na cidade, até que sejaes revestidos da virtu·
de do alto. (Luc. XXIV. 49).
Significarã isto que, depois de receber o Es·
pirito Santo, os Apostolas tinham que fugir do
Jerusalem, e não podiam mais pormanocor ali'?
Seria outro absurdo, pois vemos os Apostolo&
voltarem ·a cada instante a Jerusalem, reuni·
rem-se .ali, e um delles ser o primeiro Bispo d
antiga Cidade Santa.

Podiam-se recolher centenas de outros pass


que provam que o sentido biblioo, como alíãs o
sentido grammatical, logioo, popular, de taes pa
sagens até, emquanto, indica sempre o qu
precede e nunca o que segue.
Collocando ao lado destes textos parallelos o
texto em discussão, vemos logo que o sentido
identico, e exprime unica e exclusivamente o qun
prec:?dcu, D nada d'.z do que segue :
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22c:..
---------':: 9:: _______

E nflo a conlircru, at� que dPu d luz um

s
o.
te t
O Professor, examinanJo t:!h!R x o , será obri­
do a confP@sa r 8 n •rdr-de li'blirn, ahi danmente
dicada, e a e i 11 z1 cln i 1 ' 1prf1laçlo ce1holica,

dos.
:
o a dos pr,l· o:; l Ít'� 1 ut, stú1, �es,
ac:ma <ri-

m. Provas o bolll senso


E' inutil prCJlongar a� cit.... tões, pois a Sagra­
Escriptura, ti ndo a pul.1n>t do Dt!uS, um unieo
xto 6 tão comproba1ilO como ciucoent�.
O E,·augPlho. dizrindo que Jos6 não conheceu

que
aria até que deu á luz seu filho primogenito.
ath. 1. 25) diz o não se tinlrn r. ilf- 1Hé ao
Pcimento do Snl\'ador; nada mais ; tõ� m querer
lar do que se-guiria.
O não foi-a conhecido ató dar ti luz o seu fi·
o, não traz, de nenhum modo, como consequen­
que a conhecesse depois.
O protestante Grocio, já citado, diz com mui­
bom senso: &A propria intenção do Escriptor
grado nos faz uma lei de limitar-nos ao tempo
o parlo, de que fala, não se tratando de outra
usa em sua intenção, sinão de fazer bem conhe­
r que Jo�é ficou nelle estranho. De modo que

:' !� (Ô ���l':i�. ��
q
d
g
r � � � ����
n u a e
8 p
o com o que

O simples bom senso nos indica o sentido de


s phrnses, ni;o sendo preciso recorrer ás in­
retações grammaticaes ou &XPgéticas.
Em linguagem clara nós dizemos:
Este homem foi honrado até a morte.
Serti que deixou de sei-o depois da morte 'l

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- 230 -

Não; diz apenas que foi honrado, emquanto


vivo.
F11lano de tal trabalhou até fazer fortuna. . . o
que nilo quer dizer que, depois de rico, deixou de
trabalhar.
Sicrano perdeu no j:>go ató á noite; quere·
rá dizer que deixou de perder no dia segllinte f
Dizendo alguem: estudl)i ató conMguir o meu
diploma, não diz que não continuou a estudar
depois.
A verdade catholica brilha, pois, com todo o
fulgor da revelação divina, e nos mostra a Virgem
Jmmaculada, toda pura, na nur6oln do sua virgin­
dade perpetua.
O autor desta heresia não é um protestante.
Estai:; nem o merito 1êm da invenção !
Doixarum as outras intorprelações clara e po-
sitivamei:te favoraveis á virgindade da Mãe do
Jesus, o acolheram com palmas esta, porque
parece contradizer esta gloria. . . e depois bra­
dam, e escrevem que honram e veneram a Mãe
de Jesus. . . dizem-se até irmãos de Maria, porém
recusam-lhe tudo o que póde exaltar a sua gloria.
Pobres protestantes, reílicti bem . . . e Deus
vos dê a graça de reconhecerdes o erro lamentn­
vel c:1a vossa doutrina anti-Biblica e rmti-racional,
A fé da Egreja nunca mudou a osso respeito.
A Egreja acclama Maria Sma., não como uma
deusa, mas como Virgem das virgens:
Virgem antes do parto,
Virgem no parto,
Virgem depois do parto.
Assim falam os Concilias. . . assim fala o Cro·
do. . . assim íala o Evangelho: Como se fard isto,
porque não conheço varão ? Assim falam os pro
prios protestantes instruidos e sinceros.
Os contradictores desta verdade mostram apo

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- 231 -

nas que uão rt!flecLi1·am, mas toram plagiando


objecções bolorentas, mil nozes pulvorizadas.

IV. O prhnogentto
Eis-nos chega.dos á ultima objecçüo de nosso
Pr@fessor.
Digamol-o logo: Êlle começou mal, e ter­
minou o.inda peior.
A conclusão, que é o ultimo argumento de
opposição, é de uma miserla sem nome.
A mesma passagem, que acabo de refutar,
rornece um duplo argumento á teimosia do Pro­
fessor.
O Evangelho diz que José nao conheceu Ma.
c:ratg�ér.«��).deu d luz o seu filho priuwgenito

São Lucas repete a mesma pbrase : E deu á


luz o seu filho primogenüo. (Luc. H. 7).
Ora, dizem os protestantes: Maria teve um
Ilho pri.mooenito.
ura, não hu primogenito sem segundo genito.
Logo, Mariu teve oull'os filhos.
E' de se bater palmas pela invenção e pela
fórma syllogistica ..
E' um raciocinio de criança.
Então nil.o póde haver primeiro, sem que
haja seguudo?
Esta C estupenda !
Neste caso, e com tal logica protestante,
11ma mãe só tc1·â um primeiro filbo, depois d e
um ..�.;ui d o nascer.
Que não haja um segundo sem primeiro,
!Mo sim� ma.s o primeiro, desde que nasce, é
cm o p : i ·neiro e fica o primeiro, independente
o nascimento do segundo.

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-232-

O adjectivo ordin:?l prin1t>lru 6 completa­


mente independente de segundo, i ncllelindo a
ordem do passado até o prcse11tl', sem se occu­
par do que segue.
Dizendo, por exemplo, que um ti lumno é o
primf'iro de seu curso, sabe-se que ninguem o
precede, mas ignora- se qmrntos o s<>gn•m.
Si tal ulumno ficar só, clle é o pt·imctro, tão
bem, como se fôr seguido de viutc outros.
Um homem que consttoc uma C<H-:.1 pócle dizer
com toda verdade : Esta é a 1nimrh-a cttt;a que
consh'uo, mesmo si elle pretende nflo construir
mais outl'as casas.
Quando alguem motTe, 6 bem a irrjn1elra
vez que morre, e só morre uma vez.
Está vendo, caro fJrofcssor. como é ridicula
a tal asserção, de na.o haver primfiro, sem que
haja segundo, ou de diicr QtzJ por J,uve;· pri­
meiro ou primogenito, deYc ha.\Cr outro" gcnitos.
Os proprios protestantes, um pouc•> instrui­
ô.os, rejeitam tal absurdo.
Eis uma palavra de vosso p11c ou tin Calvino:
«O Christo, diz elle. é chnma.do pri.mouenito,
para mostrar-nos que nasceu de uma mão vir­
gem, e que nunca teve outros filhos.•
Pobre Calvino, porque n:1o consuJtastes os
professores de exegésc de dois seculos muis tar·
de?
Grocio, um luzeiro da seita., escreve :
«A expressilo prlmriro quer dizer que ne­
nhum outro o precedera, mes nüo que um outro
o seguiu•.
Pobre. Grocio. . . os teus notinhos �:
1 o de ou­
tr� pensar.
O grande Pearson, outro luzeiro, escrevo
ainda:
«A noção bibllca de prio:-idade excluo um ao-

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- 233-

cedente, porém não exprime uru consequente !


Santificae-me, disse Deus, lodos o s primoge­
Ailos !
cEra esta uma i. i fixa e obrigatoria, á qual
1e devia satit:;tuzcr a. -im que n;,.uscin o menino;
porém, si a palan.... µ1 i11w11,nilo tivcsi;c i·elação
n�cesaaria com um segundo genito, essa obri­
gação não teria sido immediata, e o pt·imogenito
nB.o seria santificado por s.: mesmo, mas santifi­
cai-o-ia o nascimento do segundo genito . . .
«Por conseguinte ci:;�a palavra primogenilo
não póde designnr noi;icimcnto� po�terlorcs ; não
prova, portanto, que A1arla tlvf'sse outros filhos.»
Tal é o raciocinio e a interpretação dP um
bispo protestante, conhecido por seu talento e
por sua sinceridade.
Como võ o meu Professor, tal interprctaçilO
é completamente cattiolica, porque é sincera e
acientiUca, e discorda por completo da inter­
pretação mesquinha e perversa que os modernos
netinhos de Luthero querem dar a estas passa­
gens.
Ubi est verilas ? Onde estará a verdade?
Com a Egreja Catholica e com os theologos
protestantes, ou com uma duzia de homens sem
doutrina e sem Ié?

V. Provas biblleas
Recorramos á Biblia que os amigos protestan­
tes dizem ser a regra de sua fé, e mostremos que
a Biblia approva completamente a interpretação
catholica, rejeitando integralmente o erro proles­
lante.
A citação de Jogares pRralle1os vae dar-nos o
sentido exacto da palavra primogenilo.

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-234-

No Exodo Deus disse: Todo o primogenito


na terra do Egypto morrerd (Exod. XI. 5).
E assim aconteceu. Nao havia casa em qu1
nOo houvesse um morto (Exod. XI. 30).
Havia necessariamente, como om todos os
paizt!s, casaes do um só filho; por exemplo, 1odos
os que tinham casado nos rlois ultimas snnos. . .
llaYendo s 6 u m filho, tal filho era o primo­
genito .e por isso morreu.

Deus disse ainda : Todo primogcnilo é meu


(Num. III. 13).
Depois Dous manda contar todos os pritno­
genitos machos dos li.lhos de Israel, da idade
de um mez para cima (Num. Ili. 4.0).
Ora, si ha primogenitos de um mez de idade,
como ê que se póde exigir que, para haver pri·
moiro, haja um segundo '?
Podia uma rr.ãe tendo um prlmogenito do um
mez, tor já outro segundo ?
Logo, o primeiro nnscido, haja outros ou não,
é verdadeiramente o primogenito.

No Exodo ainda Deus dá ordem de santifi­


car-lhe todo o primogenito, que nascer entre
os Fllhos de Israel (Exod. XIII. 2).
Ora, si a mãe, parn saber si o primeiro na­
acido é bem o primogenito, tivesse que esperar
o nascimento do segundo, como poderia ella ofte­
recer a Deus, desde o nascimento, o tal primogo­
uito ?
Seria impossivcl.
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-235-

Tal texto prova, pois, quo o primogenito não


auppõo do nenhum modo algum segundo.

No Exccli:- ninda lemos, no r,apitulo 22: O pri­


mogcnilo de teus filhos me darás; sele dias es­
tará eom sua mae, e ao oitavo dia m'o daras
(Exod. XXI!. 29, 30).
O primogordto, conforme n ordf'm d1\'i11a, lhe
devo ser offeri-cido no oit:.\VO di11 do nn:i.c•im ..nto.
Ora, cm oito dins, tnl filho é bí'm o unieo ;
entretanto Deus chama-o: prJmogenlto.
Logo, ha pt'imogenito, sem que hnja um se­
gunrlo . .

A primogenitul'a f!ra um titulo do dignidade


e de honra entre os Judeus, o geralmnnt� o pri­
meiro nascido c·onMrnl\'11 nsto titulo do prlmoue­
nilo, t�111JJ diroito a ce1·to� 1wivilagios, como os
de hei cleiro, etc. e ficflndo sujnito u co1 tH.s obriga­
ções, como vemos na Biblia (Luc. II. 23).
' E' pois a proposito a com 1·117.ão quo o Ev1m­
gelista chama Jesus : vrlmogen'tto-Ton prol6to­
lum.
Elle o design:i deste modo como hordoit'o de
David, como tendo um direito privil<'giado sobre
esta herança. (cf. Gen. X. 15-XXI. 12).
Longe do ser um titulo equivoco, que upreson­
ta qualqu.i..' di!nculdade, tal' expressão torn!t·Se um
sigua.I do authonUcidade.
Emborn natural sob apenn de um Judeu,
a
tal expressiio nilo se teria apresentado ao espirito
do um estr:i.ngoiro.
Tal ó o son�ido grammatical e logico da pa­
lavra primoucnito no antigo Testamento e este
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- 236 -

sentido sendo o unlco admissivel ficou conserva­


do no Novo Testamento como se póde ver na a­
presentação de Jesus no templo: Depois que
foram concluidos os dias da puriflcação de Ma­
ria, segundo a lei de Moysés, levaram-no a Je­
rusalem para o apresentarem ao Senhor : Todo
o varão prbnogcntto será consagrado ao
Senhor (Luc. II. 22)
Eis que S. José e M<lria Sma., em obediencia
á lei de Moysés, levam Jpsus para o(ferecel·o ao
Senhor como sendo o primogenilo.
Ora, si um filho unico não póde ser chamado
primogenilo, porque então sujeitaram se elles a
esta lei, e porque os Sacerdotes, conhecedo­
res da lei, permittem e acceitam a tal o(forta, de
um filho unico ?
S. José e Afaria Sma., tão instruid:n: na Sa­
grada Escriptura, como os Sacerdotes do templo,
ignoravam o sentido da loi de Moyslis. . . ou então,
o menino primeiro nascido é bem o prlmoge•
nlto.
Jesus era o filho unico. neste tempo, até
para os baptistas que lhe querem dar varios ir­
mãos, pois Jesus 41.inha apenas 40 dias de idade,
não podendo ter ainda irmãos.
A passagem supra é typica e resoh·e toda a
discussão.
Só o meu Professor tapa-se os dois olhos com.
os pnnhOSi para não nr !
E '"endo, deve confessar que estã redonda­
·
mente enganado ; ou então que nunca estudou os
passos referentes ao primogenito.
E' ignorancia ou maldade.
Não póde haver outra solução.

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VI. Prova archeologica


Além das provas exegéticas, temos uma i.ro­
va arcbeologica decisiva, e talvez desconheci­
da pelo Professor baptista.
Em 1922, C. Edgard publicou nos «Annaes- das
Antiguidades do Egypto» 14 novas inscripções>
descobertas em Tell e Yeharidich (antiga
Leontopolis) onde foi encontrada importante ne­
cropole judaica do tempo do imperador Augusto.
Numa dellas lê-se um epitaphlo grego que,
vertido á nossa liogua, diz o seguinte :
cEis o tumulo de Arsinoe, ó transeunte,
«Chora, ao considerar quanto ella foi infeliz.
•Ainda de tenra idade, fiquei orphú de mi­
cnha mãe.
cE quando a flôr da mocidade me adornou
cpara o bymeneu,
cMeu pae Phabeili deu-me um marido.
•Porém entre as dores que acompanharam
«O parto de meu filho prlm.ogenito (pro-
tótokon teknou)
cA sorte me levou ao termo da vida . . .
«Epitaphio d e Arsinoe.
cNo anno 25, segundo do mcz Mechfr,,.
Tal anno 25 deve referir-se á epoca do rei­
no.. de Augusto, em Roma, e de Ptolomeu VII.
rei do Egypto neste tempo.
A tal data corresponde a 28 de Janeiro, do
anno 5 antes de Jesus Christo.
Foi talvez naquelle mesmo anno que, em Be­
lém, Maria deu á luz o seu filho primogenito.
O estudo intrínseco da inscripção prova a
sua.. origem judaica.
Aquelle filho primogenito foi o prhnelro
e o unlco (prótos kai monos), para responder
ao dilemm11 de nosso Pro:�:;sor bnptfsta.
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O termo (prot6tokos) significa bem: o pri­


mPiro, !:iimplesmente, (ante quem nullus) em sen­
tido abi:;1Jluto, pois as circumstnncias silo taes que
nescimento ulterior de irmãos ou irmãs é posi­
tivamente cxcluido.
Podemos pois affirmar catogoricnmente con­
tra os protestantes, e entre elles contra o Prof�s­
sor de exegése baptista, como contra todos nquel­
les que pretendem combater a Virgindade per­
petua da Sma. Virgem, podemos pois formular
ali seguintes conclu,sões :
1. E' falso que o termo vrot6lokos (primo­
genito) se empregue sempre em sentido relativo,
e só se possa empregar com relação aos irmãos
nascidos depois do primeiro.
2. E' falso que uma mãe que teve um pri­
mogenito, se deva noturalmcnte suppor ter tido
outros filllos depois daquelle.
3. E' falso que o termo primogenito expri·
me n reserva ou possibilidade do nascimento de
antros filhos.
Arainoe, que morreu na occasiilo do nasci·
menta de seu filho primogen.ito, e-.tn.vn. dellnitl­
vamente impossibilituda de ter outros filhos.
4. E' falso que o termo primogenito compro­
mctta o futuro ou implique a vinda de uma pro­
genic subsequente.
A famJlia de Arsinoe comprebendeu que �l
primogenito era o primeiro e o Ultimo (primoge­
nito e unlgenito).
E' falso que o termo unigenilo (monogenes)
seja mais appropriado que o term<' primoge11i­
to, por tratar-se de um filho, cujo nascimento
não devia ser seguido de outros.
Fica portanto 1>rovado, com inteira certeza,
que o Evangelista São Lucas póde, <'Om todrt.
razão, chamar Jesus Christo o filllo prlmogenifo
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-239

Maria, em vez de o chamar filho unico, aa­


ndo mesmo com certeza estar excluido não
mente o facto, mas ainda a possibilidade de
teriores filhos de Maria.

VII. Conclusão
Eis onde terminam as suas tristes objecções,
ro Professor.
O texto evnngelico, interpretado pelo bom
nso, pela scicncia e pela exegése sincera, fica.
pé, tul qual foi sempre entendido na Egreja
atholica.
José nao conhecia Maria; até que deu d luz
sru filho primogenito (Luc. !. 25).
Ficou provado que tal expressa.o refere-se
o que precede e nada dlz do que segue.
Tan1n a Biblia como a grammntica e o mo-
o d e exprimir-nos, dá. e confirma este sentido.
J\1arla Sma. ficou pois virgem depois do na­
imrnto de Jesus, como o foi antes e durante
11l<' nascimento, conservando intacta a sua pure­
virginal.
Quanto ao termo prlmogenlto, é quasl
1•ril discutll-o.
E' uma luz meridiana que só não enxerga o
natismo cégo, ou então a impiedade empeder·
du, e contra tal estado de esplrfto ,não ha re·
•\·dio.
Primogenito é o prjmeíro nascido, seja elle
ou nno seguido de outros.
l)csdo que o primeiro nasce, é bem o pri·
S11·lro desde a hora de seu nascimento ; e qual·
qu•·r mile, tendo apenas um só filho, sendo in·
k!rrogada acerca deste filho, responderá. : Esto é
o mru prtmogenito, ou o meu primeiro filho,

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- 240-

embora ella Ignore si terá ou n!lo outros mhos.


Só os pobres protestantes n11.o permittem di­
zer a taes mães que este mho é o primogenito. . .
o que faz acreditar que na.o existe, apesar de
nascido; só existirá e será o primeiro, depois de
o segundo nascer.
E' preciso muita coragem para suste:itar taes
absurdos.
E', pois, fóra de toda a discussão sincera
que a palavra primogenilo não Sibrnifica unica­
mente o filho mais velho entre diversos irmãos,
mas, sim, o filho de toda mulher que ainda não
foi mãe anteriormente.
E' a expressão de São Jeronymo : Non quem
lralres sequuntur, sed qui prius omnium natus
est. (S. Jer. in Math. 1. adv. Helv. X.)
Tal ê claramente o seutido indicado pela pro­
pria Biblia.
Tudo o que sae primeiro do seio de qual­
quer carne . . . pertericrr-te-á 11or direito : mas
com esta condição de que pelo 7)rimonenito do
homem recebas o preço. (Num. XVIH, 15).
O termo primogenilo tinha ainda entre os
Judeus uma Significação de honra e de dignida­
des que o razia gozar de certos privileg'ios, como
se póde ver na Biblia, que fala diversas vezes
dos direitos de progenitura.
Este é o primeiro de seus fi.lhos, e a elle
pertence o direUo de primogenitura (Deut.
XXI. 17).
Ao terminar seu artigo o Professor pergunta
porque o Evangelista não usou do termo UnJge·
nlto cm vez de prlm.ogenito.
A razão é simples.
O Espirita Santo oito é protestante, e conhe­
cendo a fundo a significação dos termos, achou
que o termo de priJ::>gcnito (ton prot6l<'kon) era
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-241-

palavra propria, para exprlmir o que Elle que·


a dlzer.
O termo unigenito servia para exprimir o
facto physico do nascimento de Jesus Cbristo,
mas limitava-se a este facto, emquanto o termo
prlmogcnito refere-se ao facto physico e ao Ta·
cto espiritual.
Jesus Christo como Deus é o UnJgenlto
do Padre Eterno. Filium suum unigenitum mtaU
Deus in mundum (1 Joan. IV. 9).
Como homem-Deus elle é o prlmoge•
Dito de todas as creaturas-Primogenitus omnis
creaturw (Col. !. 15).
Como homem. elle é o UuJgenlto da Vir·
gem Sma.-Et parles filium (Luc. !. 31).
Mas Jesus ChrJsto não veio só como Deus,
nem só como homem; velo como homem-Deus
e como tal devia ser o prlm.ogenlto entre
muitos irmilos.
E' S. Paulo quem nol-o explica:
Elle escreve aos Romanos: Os que Deus co­
nheceu na sua presciencia, lambem os predestf...
tlOU para que elle seja o prlmogenJto entre
muitos irm/los (Rom.VIII. 29).
Jesus Chrlsto deve ser o primogenito entre
muitos lrmAos.
Estes irmãos são os homens justos, são os
1antos.
Eis porque Jesus Christo participou da nos.
1& carne e do nosso sangue, devendo ser seme·
lbante a seu& irmãos, para ser o seu Pontlfice
perante Deus.
Neste sentido espiritual Maria Sma. deu A luz
um primogenito. . . o primogenito de todos 08
obristAos, dos quaes ella ó a Mãe espiritual
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--242 -

Deste modo, diz ainda S. Paulo, Jesus é o


primogenilo de todas as creaturas : primogeni­
tus omnis crealurre (Colloss. 1. 15).
Expressão sublime, como é sublime a l'erda­
de que manifesta, envolvendo a Virgem Sma. no
resplendor mali:; vivo e mais universal.
, Todas as creaturas, animadas e inanimadas,
celestes e terrestres, regcncrtt.das, pacificadas,
consagradas pelo filho prlmogenJto de Maria,
saudam nclla a Mãe e a Senhora do universo.
E tudo isso, por estas simples palaVl'as : Ella
deu á luz o seu filho primogenito. (Luc. 7) U.
Não nos admiremos que palavras tão simples
revelem um sentido tão profundo, quando a cri­
ancinha, que nos mostram, revela-nos um Deus 1
&tas palavras não silo, pois, uma diminuição
da gloria da Mãe de Jesus, mas sim uma auréo­
Ja resplandecente que o Espirito Santo colloca
sobre u. sua fronte lmmaculadu.
E os pobres protestantes, adulterando o sen­
tido destas palavras, quer�riam que exprimissem
a perda da virgindade da Ml\c de Jesus.
Nilo, não, pobres protestantes ! Elias expri­
mem ao contrario a maternidade espiritual da Mãe
de Deus, que se torna, deste modo, tambem a
Mãe dos homens.

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C J'I P I T U C.0 :it

Maria, Mãe de Densl

Maria é Mãe de Deus!


E' uma verdade til.o logica, que parece qun­
�l i m nossivcl haver discussão a este respeito.
E entretanto a discussão existe.
Basta a Egreja Catholica acclaruar Maria,
como Mãe de Deus, para que o odio protestunte,
sempre cm opposição á doutrina catholica,
exclame : Não é Mãe de Deus ! Maria é simples­
mente a Mãe de Christo . . . como qualquer outra
mie é mãe de seu filho ! !
E, pararebaixar esta maternidade divina, para
tirar da sua fronte Immnculada de Mãe a subli­
me nuróola desta mutcrnldade unics, chegam
aquelles infelizes a querer dur a Maria. Sma.
varios outros filhos, come vimos nos capitulas
J>recedentes.
Renovundo o erro do bereje Nestorio, e con-
1rario ao ensino de seus proprios fundadores e
theologos antigos, os protestantes antigos e os pro­
testH.ntes mod�rnos não admittem que Maria Sma.
aeja Mãe de Dous; querem apenas que seja mãe
de um homem, unido n Deus.
E' o malor dns absutdos, mas quando se tra·
ta de contradizer ú. Egreja Cathollca, os absurdos
chamam-se sciencia, exeg6so, progresso, etc., nas
escolas dos pastores protestantes que, aliAs,
nem acreditam mais na divindade de Jesus
4:hrlsto.
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- 24 4-

Estudemos aqui este sublime assu.mpto, mos­


trando, clara e irretutavelmente, o erro protes­
tante e a verdade ca.thoUca, verdade ensinada
pelo bom senso, pelo Evangelho e pela tradição
unanime, desde os apostolas até hoje.
E' um estudo interessante, instructivo, e de
summo proveito para as almas sinceras e de boa
vontade.

I. COJllO Maria é Mãe de Deus


Si eu perguntasse a um protestante, si clle é
verdadeiramente o filho de sua mãe. . . e si a pro­
genitora delle é verdudeiramente a mii.e delle,
de certo, elle olharia para mim com grande
espanto, admirado de quA um homem em posse
de seu bom senso, possa duvidar um !ilho não
ser o filho de sua mãe.
E teria razão ! Muita razão !
Mas, como é que clle pretende que Jesus
sendo filho de Maria. . . Maria não é a Mile de
Jesus ?
A sua mãe, caro protestante, é apenas a mãe
de seu corpo.
Ora, o homem é composto de um corpo e
de uma almn, sendo a ulma a parte principal
do homem, pois é ella que communica ao corpo
a vida e o movimento.
A sua mãe da terra nílo é a autora de sua
alma. A alma ó creada por Deus, para cada cor­
po em particular.
A sua mãe é pois apenas a rufie da parte
material de seu ser. Como é que o sr. diz que ella
sua mãe ?
Si o amigo protestante tivesse um pouco de
instrucçll.01 responderia : E' certo, a minha
mãe é apenas a mãe de meu corpo e não o 6
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- 245 -

da minha alma, porém a união desta alma e deste


corpo forma a mJnha pessoa; e a minha mãe
é a mãe tle minha pessoa.
Sendo ella a mãe de minha pessoa, que é
composta de corpo e alma, é bem e realmente
minha mãe.
Deus arcou.me uma alma, porém elle não
creou a minha pessoa, que provém da uni·
ilo sub<it.ancial do corpo e da alma.
A minlla ma.e é a mile desta pessoa, pois é
em seu seio que se op'erou esta união do corpo
e da alma.
O· meu caro protestante, raciocinando .e fa­
lando deste modo, falaria como um homem sen­
sato, mostrando que é filho de sua mãe, e que
esta mãe ó realmente a mãe delle.
Pois bem, appliquemos estas noções de bom
senso no caso da maternidade divina de Maria
Santissima..
Ha em Jesus Cbristo duas naturezas : a
natureza divina e a natw·eza humana.
Estas duas naturezas, reunidos, constituem
uma unlcu. pessun: a Pessoa de Jesus Cbristo.
Ora, Maria éa M.Ae desta unlca peissoa
que· possue ao mesmo tempo a natureza divina
e a natureza humana, como a nossa mãe é a
mãe da nossa pessoa.
.Maria Sma. deu a Jesus Cbristo a natureza
humana; não Lhe deu, porém, a natureza divina,
que vem unicamente do Padre Eterno.
Maria deu á Pessoa de Jesus Cllristo a par­
te inferior: a natureza humana, como a nossa
mãe nos deu a parte inferior da nossa pessoa:
o corpo.
Apezar disso a nossa mil e é a mll.e da nossa
pessoa, e Maria é a Mãe da vcssoa de Jesus
C hristP.

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-246-

E notemos que em Jesus Christo h11. só uma


pessoa, e esta pesson é divina, infinita, eterna�
é a per.soa do Verbo, do Filho de Deus, igual
em todas as cousas 110 Padre Eterno e tLO F,s.
pirlto Santo. :
E Maria Smu. é a Mãe desta pessoa divina.
Logo, ella é a Mü.c de Jesus. a Mi1c do Ver·
bo Eterno, a Ma.e do Filho cte Deus, a M:lo da
segunda Pessoa da Sma. Trindade, a Mil.o de
Deus, pois tudo isso é a mesma e unica 7J6.":.;oa�
nascida do seu selo ''irginal.
Jesus Christo, Filho de Deus e da Virgem
Jmmaculada, é Deus feito homem; em outros
termos: é Deus revc.stido do am corpo e do uma..
alma.
A alma de Jesus Christo, cre.ada [>or Dous,.
é realmente a alma do Filho de Deus.
A humanidade de Jesus Christo, compo"'ta;
de corpo e de alma, é realmente a humauldade1
cio Filho de Deus.
E a Vil-gem Maria é verdadeiramente a Mile'
deste Deus, revestido desta humanidade : ella é
a Mãe de Deas feito homem.
Ella é a Mãe de Deus.
Maria, de qua natus est Jesus
Maria, de quem nasceu Jesus (Math. I. 16) ·
Eis como, por uma logica irretorquivol, <>
bom senso nos prova que Maria é verdadeira·
mente a Mãe de Deus.
Ella não ó a Mlle da divindade, como a nos.­
sa mlie não é mãe da nossa alma ; mas ella é
a MAe da pessoa de Jesus, como a nossa mãe
é mlle da nossa pessoa.
A pessoa de Jesus é uma Pessoa divina. é
a Pessoa do Filho de Deus.
Logo, ella é a Ma.e de Deus.
A nossa mãe j a Mãe da nossa pessoa; OI'·
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-247 --

&A pJeson é humana, e é dctcrminuda, chamen­


du·Ne : PE:dro, Paulo, José Murla ou Regina; pou­
co importa o nome.
Por isso a nossa mãe ,sendo a mãe da nossa
pessoa, é vcrdndciromcnte a nossa mãe; ou mãe
de Pedro, ou de Paulo, ou de Jotiié, ou de Ma­
rie, ou de Regina.
Bm;ta d ef'tc raciocinio para mostrar o absur­
do dos infelizes protestantes, cm quererem negar
um lit11lo a Maria Sma. que lhe ó proprio, que
lhe foi dodo por Deus, e que lhe 6 absolutamen­
te devido, pelo facto de ser clla a A/de de Jesu.&..

II. Os erros dos prlrneiros be•


resiarehas
Nl\o foram os protestnntee, os primeiros, a
negurcm este titulo d� Mo.ria l:imn.
O Inventor da absurda negação foi Nestorio,
lmligno successor de SAo Jon.o Chrysostomo, na
Béde de Constantinopla.
A subtllidad� grega tinha suscitado varlos
erros a reRpclto da pessoa de Jesus Cbristo.
Sabelllo qulz annlqulllar a personallclade
do Verbo.
A.rio procurou tirar desta personalidade a
auréola da divindade.
Os docetas negaram a realidade do corpo
•e Jesus ChrJsto.
. Os Apollnarlstas rejeitaram a alma buma-
·
aa de Christo.
Tudo tinha sido atacado, pela heresia, na
.Pessoa de Jesus Christo ; mas a cada heresia que
ae levantava, a Egreja lnfallivel, sob a direcção
inspfradn do Papa de Roma, defendia e procla­
ma"ª a unica e impere ciYel verdade :
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-248-

da pessoa do Verbo divino contra Sabellio,


da d.lvfndade desta pessoa, contra Ario,
da realidade do corpo humano de Jesus,
contra os docetas,
da rea!idade da alma humana de Jesus,
contra os Apolinnrlstas.
Restava apenns um ponto isento de ataque
da parte doP berejes: era a nn.:Uio das duas na­
turezas : a divina e humana, em Jesus Christo.
Cabia a Nestorio levantar esta heresia. e ao.s
filhos de Luthero continuarem a defender este er­
ro grotesco.
Foi em 428 que o indigno Patriarcha Nesto­
rio começou a prégar que havia em Jesus Chris­
to duas pessoas, uma divina como Filho de De­
us; outra humana, como Filho de Maria.
Por isso, concluc o heresiarclta, Maria não
pôde ser chamada Mãe de Deus, mas sim­
plesmente Alãe de Christo, ou do homem.
Concebe-se a importancia de uma tal nega­
ção.
Si as duas naturezas, u divina e a humana,
:� j!�u�lYÓ�;��:e�����J��oi·f:i��8�a���
ca pessoa, desapparece a Encarnação e a Re­
dempç/lo.
!'! . O Filho de Deus, não se tendo revestido do.
_nossa natureza, não póde sor o nosso Redemptor.
Somente o homem soHreu nelle.
Ora, o homem, como ser finito, só póde fa­
zer obras finitas.
Logo, a redempção não é mais de um valor
infinito.
Jesus Chrlsto nno pó de mais ser adorado;
é apenas um homem.
A Eucharistla não é mais a carne e o san
gue de um Deus ; é apenas a carne de um homem
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- 249 -

O Salvador não é mais o Homem-Deus.


Tal é o erro grotesco que Nestorio, como
edecessor de Luthero, veio lançar ao mundo.
E os protestantes, sem terem a coragem de
ostentar todos estes erros, continuam a defen­
er a maior parte delles.
E' !alta de logica!
Ou devem acceitar tudo ou devem negar tudo.
Nestorio era pelo menos logico, em suas de­
ucções, que eram falsas, porque dimanavam de
um principio falso.
Os protestantes admittem e professam o prin­
cipio falso de Nestorio, sem terem a ousadia de
tirar logicamente todas as conclusões deste prin­
cipio.
AdmHtcm uma conclusões e rejeitam outras.
Porque este selectismo ?
Admittem em Jesus Cbristo duas naturezas
e uma pessoa, mas regeitam a união pessoal
(hypostatica) das duas naturezas na unica pes­
soaode Christo.
Adoram Jesus Christo, e negam á sua Mãe
lmmaculada o titulo da maternidade desta pessoa
divina. .
Admittem o Salvador, como Homem-Deus, e
negam a presença de sua pessoa divina, na Eu-
charistia. -
Mas renecti, caros protestantes. . . é um
absurdo !
Admittis que Jesus Christo é Filho de Maria,
e negaes que Maria é Mãe de Deus.
; . Admittis que Jesus Christo é Deus, nascido
de Maria, e negaes que Maria é a Mãe deste Je­
aus. .Christo.
Mas, por favor, apprcndci a raciocinar.
Ou negae tudo, ou acceitae tudo ; deste mode
sereis pelo menos logicos.
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- 250 -

Negtt.ndo tudo, sereis hcrr cjil, ou pagâoà si


quizerdes ; mas sereis logic o�.j
Admittiodo tudo, 6ereis logicos tamJem; e
neste caso sereis Ct1tholicoR, Apostolicos Roma·
nos, pois a Egreja Cntholica ad mi tte tudo : o prin­
cipio e todas as c on -::Iusões que dclle rlimanam.
Admittiodo que Jesus nasceu de J.ilaria :-e
ã e
I. rs)�d��·e�:���i·tfl�1��=� �ºe��º����· ·����
é divina.
Que M3ri.a � a M11c desta pessoa divina.
Que ella é pois Mãe Deus!
E" um dilemma sem sahida.

III. O concilio de Epheso


Quando o horf'siarcha Ario lanço no mundo u
o seu erro, nP<gand o n
a divi dnrlo dn
pE:sssoe dg Je­
sus Chr1�to, a Providfmcia dh•mq suscitou o in­
trepido Sto. AthnnB!liO para confundil-o, ass m co­ i
mo suscitou Sto. Agostinho para confundir o he­
?eje Pelegio.
Esta mesma Providencia su11citoo São Cyrillo
de Alexandria para refutar os erros de Nestorio.
As bla.sphemias do heresiarcha semearam a
perturbação e a indignação no Oriente.
São CyriUo foi o interprete inspirado e su­
blime da indignação do mundo catholioo, que eho-­
ra\'a, sob o peso dablasphemla, com que o erro
pretendia humilhar a
mãe de Jeans.
Em 430, o Papa São Celestino 11 num conci­
lio de Roma, examinou a doutrina de Nes ori<> t
que lhe fôra apresentada por Siio Cyrlllo, e con­
demnou-a \ntegralmente como erronea, antt-catho­
i
lica, heret ca.
São Cyrillo formulou o. condomn:u;ão em doz&

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1WJsições chame dai:; o� doze anathemas �m que
1n1min tod aa doutrina r.a l hol icn a e11te reHp�ito.
I�6dP·80 resu mi l·os em três pontos.
l. Em Jesus Christo, o Filho do homem não
po,;�oalmon1e dü1tinc10 do FJlho de Deus.
2 A V irgem SmR. é ,.erdadf'iramAnte n Mãe
Deus, por it'lr a Mãe de Jesi:is Christo, que
D•:u!.
3 Em virtude dR. uu iiin hypostalica, lrn com•
unlcnçilo de Idiomas, isi:.o é: tlenomina­
os, proprit>dadl'S 1:1 1wçõPs das d1111s n:iturozas
•m Josu� C�u·isto, que pódem ser n llril.mid:l.M á
1ua pessol\, ite mod o <IUA Re p6de dixer : Deus
rnorrt"lt por n6s, Deus sal\>ou o mundo, Dous
resusdtou.
Nf'storio não acceitou as doclaraçóoN do Papa
e continuou em sna11 Jwrt•11ias.
Para l<Xtermin:'lr completam,..nte o erro, e res­
titui r n u nida de, rb cio ntrinR so mundo, o Paps.
re1rnlv1•u rt>unir o conf'ilio de Ephe100, (na A�in mo­
nor) fim 431, <..'()nvidRndo io das º" bi11pos do mundo.
Pt•rto de 200 bispo11, 't'indos do todas as partes
do mundo, reuuiram-se em Epheso.
Slio Cyrillo presidiu a assembléa em nome do
Papa.
Nestorio recusou comparecer perante os bia­
pos reunidos
Dflsde a primeira sessão a heresia toi oondem·
n1-' 1.
Sobre um tbrono. no centro da a1aembléa, 01
bispos collocaram o Santo Evangelho, para ropre..
eentar a assistencia <le JeRus Christo, que promette­
ra estar com a sua EgrPja att1 a consummação dos
1eculos, espoctaculo santo e imponente, que desde"
entl.io toi adaptado C'm todos os concilios.
Os bispos, cercando o Evangelho e o repre-
1entante do Papa, pronunciaram todos unanimes e
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- 252·-

ao mesmo tempo, a definição proclamando que


Maria é verdadeirnmente Mãe de Deus, que
Nestorio tinha blasphemndo, e dóruvonte deixava
de ser bispo de Constantinopla.
Quando a multid1io de povo q110 rodí.>arn a
Egreja do Sta. Maria Maior, na qual se tinha reu·
nido o concilb, soubo da deCinição quo p•·vciama­
va Maria, Mãe de Deus, num immenHl br:iOo Pcho­
ou a exclamação : l"iva Alaria, .Mlii> de Deus !
Foi vencido o inimigo da J'irycrn ! Viva a gran­
de, a augusta a gloriosa Mde de Deus.'
Quando, á noite. os preladO"l Mhiram rlo tem­
plo, foram acom1muhados e levados em lriumpbo
pela multidão, entl'O 1ailhares de arc.:hot"'s l' de
lanternas no m"'io do uma illumin:�çilo frlidea, ao
som das musicaR, dos canticoi:i é e.las ucolamai;-ões
enthusiastas da 1ddnde i n teira, e dos mi'.hares de
forasteiros, accorridos parn glorificarem com elles
á Mãe de Deus.
Em lembrança desta solemne definição, o con­
cilio juntou 11 1rnudnc;ão A.ngelira e,;tas pala·
vras s�mples e exprc8sivas: Santa lllariu, Mãe de
Deus, rogae por nós peccadores, agora e na hora
de nossa morte.
Nestorio procurou primeiro resistir ao
Papa e ao concilio, mas o imperador qu3 o tinha
protegido ató ahi, informado da verdade, abando­
nou-o, e, deante da revolta do hereje, condemnou-o
ao exilio.
Viveu ainda 8 annos, com o odio no coração
e a blasphemia sobre os labios.
Morreu miseravelmente, como morrem todos
os herejes, tendo o corpo apodrecido e a lingua
que blasphemdra a Virgem Santa devorada pelos
vermes, antes me�mo de exhalar o ultimo suspiro.
Foi o justo castigo de uma lingua que teve o

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-253-

atrevimento de blasphemar o nome e a dignida­


de da Mãe de Deus.
Eis o erro protestante, refutado e oondemna·
do muito antes que o adaptassem os filhos de
Luthero, querendo, por uru contra bom senso in­
e:x:plicavel. negar li Maria Sma. a dignidade de
Jlae de Deus, reconhe cendo, entretanto, que Je­
sus, o FiU10 do Deus, 6 o seu verdadeiro filho.
IV. Provas da S. Escriptura
Para illuminar com um raio divino esta bella
e fundamental verdade, recorramos á Sagrada
Escriptura, mostrando como ali tudo proclama
este titulo da Virgem lmmacuJada.
Maria é verdadeil·amente Mtie de Deus.
Elia gerou realmente um homem, hypostati­
camente unido a Deus; e Deus nasceu verdadei­
ramente d'ella, revestido de um corpo mortal,
formado do purissimo sangue da Virgem Santa.
Embora, ella não seja chamada, expressa..
mente no Evangelho, :Mãe de Christo, Mãe de
Deus, esta dignidade deduz-se rigorosamente do
texto Sagrado. .
. .
O Archanjo Gabriel, dizendo a Maria: - cO
Santo que ha de nascer de ti> será chamado Fi.
lho de Deus• ( Luc. 1. 35) exprim e claramente
que el1a será Mãe de Deus.
E' como si elle dissesse: O fructo de tuas
entranhas será o Filho de Deus, Deus e homem,
cujo nascimento é, ao mesmo tempo, eterno e
temporal. .
. .
U Archanjo diz que O Santo que nascerá
de Maria será chamado o F1lho de Deus.
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-254-

Si o P'Uho de Ma.ria é o Filho de Deus, 6


absolutamente certo que :Maria é a Mãe de
Deus.

Repleta do Espirita Santo, Isabel exclama:


Donde me vem a dila que a Mtle de meu
.Senhor venha visitar-me?(Luc. 1. 43)
I .Que quer dizer isso, sinilo que Maria é a
Mãe de Deus? Mãe do Senhor ou Mãe de
Deus é uma mesma expressão.

São Paulo diz que Deus enviou seu Filho,


leito da mulher, leito sob a lei(Gala!. IV. 4).
Si, pois o Filho de Deus feito da mulher
é
não como o foi Eva, de uma costella de""" A.dão,
mas sim por via de geração, pois é positiva­
mente dito no Evangelho que Maria deu 4 luz
o seu filho primogenito, esta mulher é verdadei­
r'8mente a Mãe de Deus.

O propheta !saias predisse que a Virgem


conceberia e daria a luz um Filho que seria cha­
mado Emmanuel ou Deus comnosco (Is. VII. 14)
Qual é este Deus ?
E' necessariamente Aquelle que, no dizer do
Anjo: é o Filho de Deus.
E' Aquelle que, segundo o testemunho de
Pedro, não é, nem Jeremias, nem Elias, nem
ualquer outro Propheta, mas sim o Christo, P
..q
Filho de Deus vivo.
E' Aquelle que, conforme a confissão dos de·
monios 6: o Santo de Deus.
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--255-

Tal é o Cbristo que Maria deu A Juz.


Ella gerou peis um Deus-Homem.
Logo, ella é Mãe de Deus•
• + .
A mulher do Evangelho exclama: Bemaven­
rodo o ventre que le trouxe e os peilos a
pe foste amamentado (Luc. XI. 27).
Estas entranhas e estes peitos não seriam
bem11venturados, si tivessem apenas trnzido um
homem ; só podem ssl-o por terem sido as en­
tranhas que geraram um Deus e os peitos que o
aumentaram.
O filho de Maria sendo Deus, Maria 6 pois
Mãe de Deus.

V. Doutrina dos Santos Padres


Tal é a doutrina claramente expressa no E\•an­
gelho. o �Pmpre seguida na Egreja Catholica.
Os Santos Padres, desde os tempos A1>ostoli­
cos até hoje, ficaram sempre unanimes a este res­
J)('lito, e seria uma pagina sublime, si pudr>ssemos
reproduzir as numerosas sentenças que ellos nos
legaram.
Citemos pelo menos, uns textos dos principaos
Apostolo&, tirados de suas e Liturgias> e trsnsmit·
tidos por escriptorPs dos primeiros seculos.
Santo André diz : Maria é Mãe de Deus,
resp\andec6Ilte de tanta pureza, e radiante de tan·
g belleza, quo abaixo de Deus, é impossh·el ima·
ginar maior, na terra ou no céu. (1)

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-256-

S. João diz : Maria é verdadeira Mãe de


Deus, pois ella concebeu Deus, gerou um verda·
doiro Deus, deu á luz, não um simples homem oo�
mo as outras mães, mas Deus unido l1 carne hu­
mana. (2)
São Thlago diz: Maria é a Santíssima, a
Immaculada, a gloriosíssima Mãe de Deus. (3)
São Dlonyslo Areopaglta diz: Maria 6
feita Mae de Deus, para a salvação dos infelizes (4)
Origines (2. Seculo) escreve : Maria é Ma.e
de Deus, unigenito do Rei e Creador de tudo o
que existe (5)
Santo Athanaslo diz: Maria 6 Mãe de
Deus, completamente intacta e impolluta (6)
Santo Ephrem: Maria é a Mae de Deus
sem culpa (7)
São Jeronym_o: Maria é verdadeira Mae
de Deus (8)
Santo Agostinho : Maria é a MÃE DE
DEUS, feita pela mão de Deus. (9)

2) Matcr Dei vera ; verum enim Deum eonceplt, verum


l
�e�'õe��Ílle��:n�0�m��: ��1:Jt{S:°1Jo'â� ���sf.��)'.
3) Ma.ter Dei Sa.nctlsslma, Lmmacula.ta, glorloslsslma.
(S. Jacob. Minor. in sua liturgia.
e rorum salutem. (S.
Dlon. 2::��1inº:!v��:�.' /rí:f't� é. TJ:i
e m
matorl� ::ª�!a.��������1u�ºrc:rl1g�k��1� fu d1f�:S�ta.s-
6) Mater Dei lnta.ctlssima, impolutisslmaque (S. Ath­
Or. in pur. B. V).
7) Ma.ter Dei inculpata (S. Ephr. iD Thren. B. V.)
8) Mater Dei vera (S. Jeron: ln Serm. Ase. B. V).
Ma.ter Dei, Dei manu labrlcata (S. Agost. ln orat. ad
heresa�l
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-257-

E ni::sim por dcaut'l


To.tos og s.mtO<.; r.1dr(IS rh·aliz::tram cm amor
e ve1wrac::io. proc'.l'l111:tndo '.\faria: a Santa ó lm­
m acuhd a Ulo eh" D�us.
'l'1•1·mi1wmo,; C"ST;1.; cilai;õcs, quo podiamas pro­
longar C.1 1Ji111los 11í6r11, 1>ela <'ilação do argumen­
to com qu" s·.o C�·d:lo 1·C\futou Ne�torio.
c f.L1ria Sm1 .. diz o ,g'l'U!lde polemista, 6 i\Ii'io
tle Christo o Mfic d'-' Deus, porq uo clla con­
cebeu o de u á luz A'quello que, numa unica
pe ssoa dirin::i, foi homum o Deus no mesmo
tempo.
No mome:1:0 de sua concopção não hou,·o si­
não umll um.;.t o uw�rna 1>cssoa, com a rnllureza
d i\"ina fl hum 11:1. O \"c1 lJJ carne na carne e o
hom1•111·Dou1:1 orn Deus.
cA ca!'ll') do Ohristo não foi primeiro eoncc­
J1ida, (!,•pois anlm ldJ, o omfim ass u mid a pelo Ver­
lJJ i m�s no 1111 mr;i momento Coi concebida e uni­
tlo á J1 lma d o \',q·lJr1.
cN:io li11u nt 1ioi.., nfl11hum intenallo de tempo
en tre O ill·· l lllO �t.-1. Clllll'"i\àO da Cítl'll6, QUO per·
mittiria çham :u· �.larit1 : )I:lo de um homem, e a
,·inda rtJ. mnj st:.1Jo 1H,·in:i.
•No m �mo in�t.rnto a carne de CbrL:;to foi
<eoncebitla o unida ú alma o ao Ycrbo>.
E' o quo fazia dizer n São João Dnm3sceno:
•DiJsde que apparecou, a carne do \'crbo di·
Tino npparec�u nnim:ida do razão e dolada de
intelligencin•. (10)
Santo Thomuz corrobora esta verdade Catho·
Jica com autoridad l�s o razões poromptoriaii. cCo·
mo, diz ell�. a Bt:m,n·onturnda Virgem p od ia ser
Bimplesmento mãe do um homem, Yisto quo o
'hristo nunca foi um simples homem, m:.is foi,
t.

to) Ltb m. Ortbod. fid. e. u.


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- 25'�

desde o instante ela Conc11i<;iio do homem, o Deus


verdadeiro unido á carnu uni ma da f•
Vê-se, por cs tus citaçõl's, que nPnhumn duvida,
nenhuma hesi tacií o exislu no ci;; p iri10 dos Santos
Padres, a este respeito.
E' uma Yerdndo e�·anuelica, tr:iclic•ion:d, uni­
versal, que todos admitt1;:m e profc1:1sam.

VI. Grandeza de l'llaria


De SPU titulo de �Ião do Df'm� dimana toda
a e:randeza da VirgP m Santissima.
Tudo o que precedeu a 1ma 111 1.ic•·nicl:H.le di­
vina foi a prep aração para esta rtignirfad<.•; e tu­
do o que a segua dimn11a desta dignidade, como
de sua fonte incxgotavel.
A diRnidade d o Mãe rlA Deus, de facto, pro­
vém da dignidade de seu l.<'ilho.
Ora, a dignidade fie Jt>sus
C hri s to ultrapassa
infinitamente toda dignidnde humana ou angelica.
Logo, a dignidade de Maria ultrnpassa a di­
gnidade de todas as dem'1iR criafttr:u:1.
A<:i cri atura s nada podum da1· u Deus, pois
Elle possuo tudo e não precisa de nada. '
Só a Bemaventurada Virgem U1e deu nm cor­
po que Elle não tinha e de que precisava para
realizar a redempção do mundo.
A grandeza de Maria Sma. á tão alta e tão
excelsa, que somos incapazes de comprehendel-a
a fundo.
'
Numa phrase synthetíca o sabio Cornelio a
L:i.pirte dá uma idéa deste titulo.
«Ser M�G de Deus, diz elle, é ter concebido
e dado á luz um Deus.
«t. ter-lhe dado com a natureza h\lmana, a

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-259-

sua propl"ia substancia, seu corpo, sua carne, seu


sangue.
«E' ter sobre Ello os direitos que uma mãe
tem RObre o filho e sobre a sua raça.
E' vol·O submisso como um filho, ao ponto
quo a chama pelo nome de mãe, que a resueita,
houra como mãe e lhe obedeça em tudo».
E ha tudo isso entre ,Tesus e sua Mãe.
Til·omos do�ta verdade fundamental da mater­
nidade divina quatro conclusões que são como os
prlnclplos do todas as grandezas da Mãe de
Deus.
I rimeiro principio.
O sangue purissi mo de ?!faria que foi a ma­
toria prima do Corpo de Jesus Christo, assim co­
mo o leite que o alimentava, depois de mudados
na substancia do Salvador, foram unidos hyposta­
ticamente no Verbo E terno. (11)
Segundo principio :
Em consequencia desta relação intima entre
Deus e a Virgem Santo, existe nesta Ultima uma
relação real de maternidade, que lhe dá direito
sobre todos os bens de seu Filho, uma ligação
tão estreita com Deus, Pae Eterno deste mesmo
Filho, e uma alliança tão estreita com a augusta

e
B. Vlr�J �e�� ���;o: �:1�nc�8á1 a'J17!���1mqoife�
corpus, et allqua V1rgincl corporls subsluntia, ex qun Chri&­
tl corpus ln prlocl�o constitutum, postea auctum ac delnde
e e e
1ªuc� c�Jr��ircst1'1sti� �� ��rs����i�º�����fu� :�
�irgine aasumpslt, nunquam fulssc, omnlno demlua.rn, au­
contlnua color1s naturalls actlone rcsolutnm, sed eadem sem­
per Julsse com1ertn.m Verbo unltam. (Suarez: de Inca.ri)..
p. 2 d. 1),
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- ''(O

Trindade, que só Deus pódc comprehender a.


grandeza irnmcnsa da Miie de Dl'US.
E' a opio.ião de Santo Agostinho : "Digo-o
sem hesitar, escreve C'lle, , faria não póde ex­
plicar completamente o que cIJa nüo póde com
prchender.•
cSó Deus, póde louvar di(:nnmcntc uma tal dj­
gnidade• diz Santo André d� Creta.

Terceiro vritwipio :

Após a união hypostatica do Yerbo, níl.o ha


união mais transcendente tJo QU'' IL da materni­
dade divina, pois esta graça !! de umn. especie
toda difTc1·cnte· das outra<t 1,,:raç-n�. ma is elevada..
incomp�ravcl, que nunca foi co1!lm!mica.da a ou­
tra criatura.
Esta dignidade de Müc de Deus pertence..
de qualquer modo, a unido llyJJUfllalico> ligada
com clla jntrhBccttmcntc e tendo IJOm ella urua
uniilo ncccssaria.
De facto. a carne c.lc Chdstfl, unl dn hj·posh­
ticamente ao Verbo, é, pela i:;ua. origem, a car­
ne de Maria.
São Pedro Damião diz muito bem : cDeus se
acha em todas as cousas de três modos, mas
quiz estar em Maria de um quarto modo, todo es­
pecial : pela identidade, pois cllc é o mesmo
que ena. Faça silencio toda criatura e trema,
ousando apenas contemplar a lmmensidade de
uma tAo grande dignidade• (12)

1%) Cu.m Deus ln allk r•. bu �u lribui, modI.:i, ln \'ir­


,ine fuit quarto l!pcclali modo, sdllct>l per ldentllatcm, quia
idem est quod ip.ill.. Hinc tacêat ct confrt!mh1cat omnts crea­
lura, et vix audl'al tu!plccre t.ant� d!goll:!.tl� Lmmen..,itatem:
(S. Pct. Dam. S<'rm. de Ann.).
·

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-26 1 -
-------1
Quarto prinetpio :

Qualquer outro estado de criatura é limitado


e finito ; e<;;tc da maternidade divina, porém, é
como infinito, por causa da ligação cstreitissima
com uma pessoa puramente inDnita.
•Esta união nilo é unF!o pessoal, diz São
Bernardo, poróm clla aproxima-se della tão
perto, que parece a Virgem Sma., estar como
perdida na divinôade, ficando unida pessoalmente
á carne de seu divino Filho, que é formado de
sua proprla carne.•
Sào Tho:nuz e os demali Escolasticos, com
uma rigorosa cxactidilo, qualificam a maternida­
de de M.Lria, como di.f1nidadP simplesmente in­
fi.nilfl, ou ainda : quasi infi.nila. Suarez a chama:
infinita. em sua cspccie : fa suo genere infinila.

Quinto principio :

A .Maternidllde divina de Maria é o funda­


mento de toda a sua gloria, por ser a raiz de to­
das a.'J outras prorogativns suos.
Desde toda n et�rnidadc., do [aclo, Maria foi
predestinada para esta maternidade ; e em conse­
quencia dc.,ta predestinação, Deus adornou-a de
tantas graçus, que patenteou nesta obra prima
o seu poder sem limites, a sua sabedoria sem
medida, a sua bondade sem par, a sua liberalida·
de sem fundo, a sua cartdade, a sua justiça uni­
das é. sua mlscricordia infinita.
Taes são os cinco principias que dimanam
de sua Maternidade divina e formam o pedestal
de toda a sua grandeza, grandeza tão excelsa
que nem os homens, nem os Anjos, nem a pro­
pria Virgem Santa, podem comprehendel-a com­
pletamente.

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VII. Conclusão
Que abysmo profundo !
Que altura vertiginosa !
Entretanto, não ba e:n tudo isso nenhum es­
\orço de imaginação : é a consequencia certa,
theologica de sua ineffavel prerogativa de Mãe
de Deus.
Maria é Mãe de Deus . . . E' absolutamente
certo.
Esta dignidade supera todas as demais cli­
gni dartes : é o ultimo grau de elevação de uma
criatura.
Ora, toda dignidade suppõe um direito ;
e nilo ha direito, sem que huja um dever em
-Outra pessoa.
Si Deus elevou tão alto a sua Mãe, é porque
elle quel' que seja por nós honrada, axaltada.
Nüo estamos bastante convencidos desta
verdnde.
A causa desta dcficiencia de convicção é
que comparamos n Virgem Santa com as outras
Mães, e nesta comparação reprcsentmno-ncs a
qualidade de l\lãc de DeuR como exterior e ac.
cldental, emquanto na realidade, ella tem a sua
base em seu proprlo ser moral, donde ellu .
inOue em seu ser physlco.
Maria concabcu o Verbo di\'ino cm seu seio,
porém esta Conceição foi o efiei�o de uma. ple·
nitude de graças e de uwa operaçilo do Espirito
Santo em sua alma.
Pódc-se dizer que uma m!íc não se torna
mais recommenclavel, cm si, por ter dado á luz
um grande homem, pois isto nilo lhe fraz nenhum
augmento de virtude ou de perieição ; mos a di·
gnidade de Mãe de Deus> em Maria, é a obra de

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-263 -

sua santificação, da graça que a eleva acima


dos proprios Anjos, da graça a que ella foi pre­
destinada, na qual foi concebida: para alcançar
este fim sublime de ser Mãe de Deus : E' a sua
proprla pessoa.
:Deaatc do umu. tal maravilha, unica no mun­
do e no cGu, cu pergunto aos pobres protestan­
tes ·
Nã9 é logico, não é necessario, não é im­
perioso que os homens louvem e exaltem áquel­
la que Deus louvou e exaltou acima de todas as
criaturas ?
O culto de Maria não é um adorno da reli­
gião ; é uma peça constitutiva, é uma parte in­
tegral, tão indissoluvelmente ligado á todas as
verdades e mysterios evangelicos, que, queren­
do separai-o da conjuncto da doutrina de Jesus
Christo, é, de um só golJ>e, matar a religião in­
teira, ftt.zcl-a cahir, o não comprehender mais
nada do suave amplexo em que Deus vem unir­
se As criaturas.
Maria é Mãe de ·Deus.
Jlaria de qua natus est Jesus.
Tudo está nesta pbrase :
E' Maria : simples criatura.
E' Jesus : Deus eterno.
E' a Encarnação cde qua natus est-.
E' a união indissoluvel que produz o nasci­
mento, entl'e o Filho e a Mãe.
Oh! em vez de blasphemar, pobres e que­
ridos protestantes, prostrae-vos de joelhos, e a
fronte em terra adorae este Deus infinito que se
fez homem no selo desta mulher bemdita, que é
Maria ; e louvne, exaltae esta criatura unica que
Deus escolheu para fazer della a sua propria
Mile.
E' a grande, a incomparavel Obra prima de

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-2ó4 -

Deus. Ellc pódc fazer munJo� mais vastos, um


céu mnf$ cxplcndido. mu.s niio pódc fa:rnr uma
mãe mulC'r que l1 Mãe de Deu� ! l13).
Ali (Jl(C esgotou o seu pod(."t'.
E' a ultima palavra de seu poder e ee seu
amor.
Acclamcmol-a, pois, e redigamos com conn�
ança u. belln invocação que tormhm n Saudaçllo
Angelica:
Santa Marie, Mãe de Deus, rogue por nós,
peccadores, agora e na llora da nos�a morte.
Ament

13) Ip11a est qun 1ra·o1 c:n ruccrl! Dt:us non •potest
Matorem mundum potl!ft Deu4 r11c1·rP, n1nj1.111 ea.:h1m, majo­
n
rem malr1 m -;uam matrem O.·I m pott· t tnccrt>. (S.f_Bern.
Spe<:. B. V. c. lO).

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C R P H U l:. 0 :!ti

Maria, Mãa dos homens!


Fis outi'o tltulo, que exci!n o odfo protestan­
te. F.llcs se intit11!am clrmãos de Maria•, mas não
querem, de nenhum modo, s<>r Filhos de Maria.
Nt-�lC' ponto l:lki'i sO.o logicos.
Si Mnrin �mu. nilo é �H1'· de Deus, niio é tilo
pouco mil.e do::; homens.
E mc�mo t"endo Mãe de Deus, niio devia ser
Mãe de pobres hcrejes, que rejeitam o ensino­
posit!Yo de .Jei:;m; ri t , pnra adhcrir ás dou­
Ch s o
trlDOs conuariBs á SBgrnd:i fü1criptura. Digo: não
de,•ia ser, e cntl'ctanto ella o é.
Elia não é mãe do pcccado, nem da heresia
que detesta sollC'renamcnte; ruos é ma.e dos po­
bres pcccadores e dos infcli7l'S hcrejes, que pro­
cura reconduzir ao seio da ,·erdade e do amor.
Maria é l\Hle de Deus ! o temos prova­
do no capitulo precedente.
Elln é tamliem 1'!!:e dos homens : é o
que vamos prover nqui.
Como Mile de Deus, n Virgem Senta tem a
fronte ciagida pelo pcder de seu lilho.
Como l\filc dos homens, clla tem o coração
aureolado pelo :imor e pela misericordia de
Jesus.
·i:;uma dns mais Sl aves verdades do Catho­
licismo.
Nós precisemos tanto de uma Mãe!
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São tão infelizes as crianças que perdem a
sua mãe: São pobres orphamzinhos.
E é tão triste ser orpham.
Os protestantes são orphams : ExpuJsaram a
mãe de seus templos, insultam a mãe. . . e pre­
tendem agradar ao Pae.
É o que razia dizer ao Bemav. de Montfort :
Si alguem disser que tem Deus por Pae, não ten­
do Maria por mãe; e1;;te é um mentiroso, que não
tem outro pac sinâo Satanás.
Percorramos, com omor e carinho, as phases
deste glorioso titulo : Maria, Mãe dos homens.

I. Conto Maria é nossa Mãe


Muitas pessoas, mesmo piedosas, não com­
prehendem bem couio Maria é nossa mãe, julgan­
do ser apenas um titulo de confiança o de amor,
mas sem base na realidade.
Ê um erro fundamental.
O mesmo raciocinio que nos mostrou a rea­
lidade da maternidade dJvtna da Sma. Vir­
gem, mostrar-nos-á a realidade de sua mater­
nidade espiritual.
Uma destas maternidades é correlativa á
outra.
Ha em nós a nln1n e o corpo, completa­
mente distinctos um do outro, e até de uma na­
tureza radicalmente opposta.
O corpo é material, visivel, mortal.
A alma é espiritual, iovislvel, immortal.
Estas duas substancias : o corpo e a alma,
possuem cada uma, uma \!ida particular, distin­
<'tas, oppostas.
A vida do corpo é uma vida mnterl%
natural.

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-267-

A v ida da alma é uma vida espi:-ltual,


brenatural.
A vida do corpo clinma.s e : vJda bum.nua.
A vi da da alma chama-se : vida divina.
Convem distinguir bem estas duas "Vldas,
ara comprchender as consequencias quo dima­
m destes principias.
Cada uma destas duas vidns tem uma origem
iffcrente.
A Yirla do corpo provém da união do
<-orpo e da alma, de modo que cessando rs­
ta uniüo, cessa tambem a vida do corpo, e o cor­
po deixu. de ser um corpo hwnuno, para tornar­
se um cad:ner.
A morte 6 a consequencia da separação
lfo corpo e da alma.
A vida da alma provém tambem de uma
unHi.o; da união dn alnta com Deus, ele mo­
do que, cessando esta união, cessa lambem a vi­
da da nlma, e a alma deixa de ser uma alma di­
,.inizada, para tornar-se urn cada.ver, uma alma
em estado do peccado mortal.
É a morte sobrenatural !
E ePtu. morte é a consequencia da separa·
-:Ao da alma e de Deus.
O que une a nossa alma a Deus chama-se
n gra\"a e o que a separa de Deus, chama-se :
pecca.do mor·tal.
A nossa alma, pela graça, possue a vida so­
bre natural . .. Sem esta vida sobrenatural, ella es­
tá na morte e spirit ual , ella é um gcrmen do in­
rerno.
QuC'm é que nos dá a vida do corpo ?
E' o nosso pac e u nossa mãe, ambos, tanto
um como o outro. Da união delles dois resulta a
transmissãC' da vida natural.
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-268-

O mesmo acontece com a vida sobronatural


a vida da nossa alma.
Esta vida vem de Deus, que é nosso Pae,
mas vem tambem de Maria, que é nossa Mãe.
Vem delles doid, vem da união espidtual de
Deus e de Morin Sma. Deus ó a fonte det;ta ''i·
da sobrenatural.
Maria é o seu cana;l de transmissüo.
Somos pois devedores da vida de nossa al­
ma a Jesus e a Maria.
Jesus sendo o nosso Pac, i\11u·ia ó pois a nos-
sa Mãe.
O proprio dos paes é dar a vida.
Jesus nos dá esta vida, como principio.
Maria nos dá esta vida como canal.
Mas ambos, Jesus e l\ltu·ia cooperam na vi­
da da nossa alma.
Lê-se na vida de Santa Gertrudes, que um
dia a Virgem Santissima lho appareceu, com o
semblante a irradiar uma doce majestade.
Era no dia de Natu .
Cantaram o Evu.ugclho, no qual é dito que
Maria deu á luz o seu primogenito ( Luc. n. 7 )
A Santa começou a meditar sobre esta ex·
pressão : primogenilo, SQm comprehendet· porque
razão o Evangelista escreveu : primogenilo, e
não uni[Jenito, pois é certo que Maria t:ima. nun­
ca teve outros filllos.
A Virgem Santa lbe respondeu logo : Não, Je­
sus núo é meu lilbo unigenito, mas primogenito,
i l n d r
feº �ã� � i� !a0o���� �!�i�i�u�f; �� ���� ��p�t
tualmente todos 9s homens, dando n vida a sua
alma, de modo que todos são meus !ilhas, os ir­
mãos de Jesus, os membros vivos de meu filho
Jesus.
A vida da nossa. alma, é uma vida tão rea!
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- 269 -

e a vida de nosso corpo, sendo-lhe até muito


perior; o é por Maria Sma. que Deus nos dá
ln vMa da alma, de modo que cllo. se torna a
assa rufie, mais do que aquella que nus deu a
Ida do corpo.

II. Necessidade de uma Mãe


na religião
Um d1a uma ct•inncinha, educada sobre os
oclllos de uma mile piodosu, apprendia pala prl­
JDeiru vez a fazer o signal da Cruz.
Terminando a invocaçilo das três Pessoas
ivio11s : Bm nome do Pae, do Pilho e do Esp'i­
ito San.to, que vinha repetindo, a cl'iança pára
de repente e fixando o seu olhar limpicto no olhar
da sua mãe, pergunta : Mamile, niio ba tambcm
uma mamilo no cóu?
O ln!itincto da piedade cbristil ratúra pelos
labios da crlanciuha.
o�us lhe devo ter preparado uma resposta.
Esta rospostii é : Mnria, Mãe dos homens.
Maria é l\llle de Deus: e porque é Mãe de
Deus, dJve ser a Mãe dos homens.
Sim, lá nas alturas, com fl fronte cingida de:: todas
,as grandezas. . . o coraçúo ti·ansbordante do amor
mal� puro e mais desintcrçssado. . . a alma radi­
ante de todas as virtudes. . . o olhar fixo sobre ns
nossas lutas. . . a miio sempre estendida para a­
bençoar . . . o sorriso sempre sobre os labios. . .
sempre disposta a consolar.nos. . . l\fnria, nossa.
MAe. reina, como reinam as mães, unicamente
prcoccupada com u felicidade de seus filhos. . .
Elia reina. na gloria, perto de seu Jesus, e como
abrandando o luminoso dia.dema que cinge a
fronte do Salvador para nos mostrar o seu Filho

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primogenito, fazendo como Deus olhar para a


terra, e fazendo irradiar a miserlcordiu, onde de­
viam reboar os trovões de sua justiça.
Oh! só um coração de mãe é capaz de fa­
zer isso !
Como Maria, vista nesta luz, toda de amor,
nos parece grande. . . e nos apparecc terna e ca­
rinhosa!
Aqui na terra, a primeira cousa que os olhos
do recem-nascido encontram, nas brumas de seu
primeiro olhar, ó o sorriso de sua mile.
O poeta o disse muito bem:
Jncipe, parve puer, risum cognoscere matrem.
Si a criancinba tivesse o pleno uso de sua
razão, conheceria logo a sua mãe, pelo sorriso.
A religião, que tno divinamente corresponde
a todas as necessidades e ás nobrP.s aspirações
do homem, não podia excluir esta relação tão
suave e tão profunda.
O homem precisa de uma mile no céu, como
elle a tem na terra.
Uma religião, na qual na.o ha umo. mãe, não
póde ser a religião verdadeira. . . ella é fria de-
mais. . . o coração não vibra. . . ella na.o se ada-
pta a nossos sentimentos nem satisfaz á.s nossas
aspirações.
E' a condem.nação do protestantismo triste,
carrancudo, odiento. . . Falta-lhes uma mãe. • . são
pobres orpham.s ! . . .
Deus conhece tio bem as nossas necessida­
des, que no Antigo Testamento elle se compara.
ora. a um aio, ora a uma mãe.
Eu, como aio de Ephraim, trazia-os em
meus braços (Oséas XI 3).
Do mesmo modo que uma mae acaricia o
seu ti.lhinho, assim eu vos consolarei (Isai. 66, 13).
A maternidade, ao mesmo tempo, divina e

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umana de Maria, nos apparece tal uma ponte


misericordiu, que nos permitte ir a Deus pelt>
esmo caminho pelo qual elle veio até nós.
Póde-se dizer que, de certo modo, a Virgem
nta envolve a Sma. Tl'indade inteira, no véu
lmmaculado de sua Maternidade ; e Deus assim
feVestido da bondade e da ternura desta Mãe
unica, apresenta-se nosso olhar, como pae,
a
como mile, como irmão, como amigo.
Po1'venlura., póde uma mulher esquecer-se­
de seu filhinho, diz ellc a cada um de nós, e nao­
ter compaixão do flllto de suas entranhas ? Po-·
rém, ainda que ella se esquecesse d'elle, eu não
me esqueceria de li (Isai. 15).
49
Deus é pae, é irmão, é amigo, é bemfeitor;
mas pela sua Santissima Mãe, elle se Jaz mãe.
Deus é mil.e, pela Virgem Santa.
Já vimos uma das razões desta maternidade
espiritual.
Resumamol-as todas cm synthese, para mos­
trar bem claramente que não é simplesmente
um titulo, mas uma realidade, e que em todo o
rigor dos termos : Maria é nossa Mãe.
m. Razões da maternidade
espiritual
Ha sobretudo cinco razões'que provam a ma­
tem.Idade espiritual da Virgem Immaculada.
Jli desenvolvi a primeira razão, no começo
deste capitulo ; resumamol-a aqui, para termos
uma exposição completa..
Primeira razdo :
Primeiramente ninguem ê Mãe, si não dá a
Tida, pois a maternidade suppõe uma communiea·
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-272-

ção de vida : Maria é Mãe, e ella t Mae de Deus,


pois della nasceu Jesus Qttr
' se chama o Christo.

deu � ���n��l��IJ�0qu� �I�l��i�� � �� �� i �gg


sum . . . vita l
d
o
n ..

E la é po
l s i dn modo <>mincnte a :Mãe do mi·
nha \'ida,pois que'. <·01110 rliz o Ap<'lFltolo. minha
vida é o Cbristo : " Milti cnim vit'ere Christus
est ''.
Ora, si o Christo 6 minha
vida, a Mãe desta
vida é tambom minha müe.
s
Como e Yê, a E!'irrlptut'a forn�M d}ldos
des­
ta prova, que aliás o �dl!l.pl<.:1:-1 raciodnio nos revela.

Segunda razão :

:etirada das pal:n-rasde Ko�so Srnhor.


OChristo \'11io a oste mundo : 1 fim chi ser a
cabEIÇ'l do <'Orpo,do que to o
d s os 1·1•sg'!ta<los tor·
naram-se memhro�.
E como olle mNm10 o diz : " Elle ó tronco; o
nós fiomosos rnmofl.
Logo, Maria. )liie do tronco é tambem Mãe
dos ramos.
Finalmente, diz a este ro�pt>ito o
Benv. Gri·
gnon de l\fonfort,
uma Miio nüo
dá á luz
a cabe­
ça sem os membros, nem os membros sem a ca·
beça; tambem na ordem da graça, a cabeça os e
membros nascem de uma mesma ]ifiie.
}faria, mãe de nossa cabeça, é portanto nos­
sa Mãe. (1)

1} Maria, non solum spirltu, verum ctlam corpore, et


Mater cst et Vlrgo. Et Miller quidcm spirllu ml'mbrorum
Gaplti
s nostrI. quod nos sllmllil, qula cClopera!a e"t caritate,
ut fideles ln Ecclesiana:<cl!tenlur, q•u e illlus Capilb membra
sunt: corporc vero ipdiUil Capilis l\fater. {$. :\gust.: De Sanct.
Virg. C. 5).
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--273 -
erceira razão :

Póde-i:c dLt.C'r que Jesus Christo, reintegran­


do a nossa humanidade em sua primitiva digni­
dade de que- o pet'r:odo n fizera decahir, mereceu­
nos mt?is gr11:ç-ai:; do qun hn,·iamos perdido pela
-quéda origin:i l. de morto que. RPgundo a palavra
do prOf)}lCl:t r.�ai�R : " Elle se fez o pae de nossa,'l
almas na lf'i da yrara ".
Portan!n "'i .1•·-=u-• (. p:H" rio nossas almas, !tia­
ria li �ua )f.� 1· : t·(lm "'l•·ito, dando-no� Jesm�, <.·lla
nos d"u a ,. ; dc.<i .. írn ' uln
-Quarln l'OZ·-, :

Nc�� ,_ ., ir :1",rr.c r " P. Luca�, quando, fa-


lando do 11a�c·111wnto cio Sakador, elle diz : " Ma­
ria dru ci tu: o seu Filho 1Jrimogenito ", Pepe­
rit filium suum primogenilum: ·.
A palavrn primoor11ifo não suppõo !ilho� sub­
sequentP!-1 H"l!lllldO n carnP, mas havendo filhos
espiritu:1fl4, :"tol.. •ion --1� nPc�s�ariamente com el!Ps.
8011101,1, poi,., �ecut1do a pahivra do Salvadora S.
João 110 Cnlv:u io o como cllo diRtie a Santa Ger­
trudes, os outros filhos cio Mada segundo o Es­
pirita.
E' DPSl1 iueffnvPI irrndfação, nesta mistura di·
vina de po ln o cio humildado, de i?'randl'za, do
ternura, de t'mHlcRcrnrir>nC'in o dA 17loria, que no�
apparece n Virl?('lll 'rul'ifl, Mão cio Deus e no�sa
Miie. a nova E\·a, a hrrnnça sagrada que nos.dei­
xa JesuQ.

Qui11lcL razão :

?\fas á sobretudo no Calvaria que apprende­


mos um modo tão formal quão claro de que �fa­
ria á no��a Mãe.
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-274-

O proprio Salvador confirma solemnemente


esta maternidade.
Elle a inclue em seu Testamento1 ou antes 6-
ri
�e�:ºnfi�gt H J�if��ee��� ?if�u: t��,��E��:
ter tua "-Et ex ilia hora accepit eatn distfpu­
M��
lus in sua.
E desde esta hora, ajunta o Evange!ista, o
discipulo tomou-a por todo o seu bem.
Tomar Maria como todo o seu bem, ê desa­
pegar-se de ludo, para não se apegar sinão a El·
la, e por Elia, encCJntrar Jesus, o fructo de seu._·
seio virginal.

IV. A triplice filiação


Ha outro raciocinio que nos permitte estabe­
lecer a maternidade espiritual da Virgem Maria, .
tomando por base as differentes cspecies de pa­
ternidades e de filiação que existem entre os.
homens:
O Apostolo São João diz: Considerae que­
amor nos mostrou o Padre Eterno, em querer ·
que sejamos chamados fi.lhos de Deus, e que o se·
jamos, na realidade . . . Carissimos, agora somos ·,
filhos de Deus ; mas não se manifestou ainda
o que seremos um dia. (João UI. 1, 2).
Ut filii Dei nominemur et simus.
O Apestolo exprime claramente que ba uma
filia.çào de nome e outra de realldade, de
modo que ha necessariamente diversas especies
de filiação e reciprocamente, varios graus na.
paternidade e na maternidade.
Isto existe na ordem natural ; e este facto
nos ajudará a melhor comprehender a ordem so­
brenatural.
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-275-

Ha 3 especies de paternidades e maternidades.


Ha a paternidade de adopç11.o, de alliança e
de nascimento.
Em outros termos alguem póde ser pae ou
mãe, por adopção, por alliança, ou por geração.
No rigor do termo, chamam-se pae e mãe
aquellcs de quem se recebe a vida ; entretanto
estas duas outras paternidades não deixam de
ter um verdadeiro caracter de paternidade ou
de maternidade ; pois, si não dão a vida propria­
mente dita, dão entretanto o que é como uma
parte desta vida: o nome, os bens, a condição.
Deus nos gerou verdadeiramente á vida so­
brenatural, tornando-nos participantes de sua na­
tureza, de sua propria substancia, dando-nos o
seu Espirita, que habita substancialmente em nós,
sendo Elle cm nós um principio de vida.
V6s vos tornaes participantes da natureza
divina, diz S. Pedro (I. 4).
Sois o templo de Deus e o Espirito Sarú.o
habita em v6s, ajunta São Paulo (1 Cor. Jll. 16).
E este Espirito é um Espirito vivifteador,
completa o symbolo de Nicêa_..:.Spiritum viuifi.­
cantem.
Aquelles que são conduzidos pelo Espirita
de Deus, são filhos de
Deus. . . v6s recebestes o
ç
espírito de adop ao de li.lhos, dlz ainda o Aposto­
lo (Rom. Vlll. 14).
A Sagrada Escriptura repete a miudo esta
sublime verdade :
Vós nascestes de Deus. . . Tudo o que nasce
de Deus. . .
Elle nos gerou pelo Verbo da Verdade . . . Para
Q'Ue sejamos chamados e sejamos filhos de Deus.
Sem duvida esta geração está infinitamente
abaixo daquella pela qual Deus produz o seu
Verbo Eterno, pois Elle lhe dá, não uma partici-
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- 276-

pação á natureza dh·ina, mas sim a propria na­


tureza divina.
A. nossa geração de Deus é uma participação
da. geração do Verbo Eterno, mas é uma ver­
dadeira. geraçi'ío, uma prcdução de vida que torna
literalmente \·erdadeira a palavra que somos
nascidos de Deu5-Er Deo nali sunl.
Deus, pois, é nosso Pa�. e isso não somente
por adopção, nem por alliança, mas por gera•
ção.
Deus, tem 11penns um filho, por natureza, mas
tem uma multidio de filhos pot· adopção, e mais
do que por ndopçüo.
De facto, por uma maravilha de seu amor e
de seu poder. Deus achou o segredo de juntar,
de identiOcar estas três fili:tçõcs numa lillaçii.o
untca.
Na ordem natural estas trf!s filiações não po­
dem existir numa mesma pessoa, pois ninguem
póde ser ao mesmo tempo, filho de adopção, de
alliança e de nascimento.
Mas, na ordem sobrenatural, temos as vanta­
gens destas três filiações.
A vantagem da filiação de nascimento consis­
te em fazer-nos participar da natureza divina,
pe1a habitação substancial de Deus em nós, pela
graça.
A vantagem da filiação de alliança consiste
na communicação dos meritos, direitos e prero­
gatlvas do primogenito da ramilla humana.
A vantagem da filiação de adopção consiste
em sermos da parte de Deus o objecto de um
amor gratuito, que nos eleva até Elle, apesar da
baixeza de nossa condição natural, fazendo-nos
seus herdeiros e coherdeiros de Jesus Christo.

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-277-

V. Triplice maternidade de
Maria
Convinha lembrar, de pa s.;a gem, a nossa tri­
plice filiação dh•ina, para mf'lllor comprehender a
maternidade espiritual do Maria Sma. a noss:J
respeito.
Podemos, de facto, applicar á Virgem Jmma­
culada tudo o que acabo do dizer de Deus.
O que Deus 6 por natureza, Maria o 6 por
participação. l\faria 6 nossa :Mãe, na ordem da
graça, e para a vida sobre nntural. nos três graus
que acabámos do vôr, Calando ele Deus, como Pae.
Nós somos p oi s seus filhos, por adopçllo,
por nlllnnça e emíim, yerdadeiramente por nas­
cimento.

A adopção, dizem os jurisconsultos e os


Theologoe, é a assumpção gratuita (assumpção 6
o acto pelo qual se toma e eleva a si) de uma
pessoa estranha, para que se torne filha ou her­
deira.
Maria é Mãe de Deus ; nós somos pobres pec­
cadores : como taes somos como estranhos para
Maria Sma. Elia nos toma e nos eleva, fazendo­
noe filhos e herdeiro ; filhos de Deus e de Maria,
herdeiros do reino de seu Filho.
E como Maria nos adaptou 1
Pelo seu consentimento á paixão e á morte
do Salvador; consentimento completamente gratui­
to de sua parte, pois ella entregou o seu Filho ã
morte para nossa Salvação.
Somos pois verdadeiramente fllhos adoptl•
vos de Maria.
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- 2 78 -

Somos tambem seus filhos por alllança,


no sentido que as nossas almas são espo1 :1as_:de
seu Filho.
'l'al a!Hanc:a entre a alma e Jesus Christo, em·
bora toda espiritual, ó, entretanto mais intima e
mais perfeita do quo a alliança que existe na or·
dem nn.tural, i:1ntre o esposo e a espoii.a.
Entre o Verbo Encarnado e a alma ha uma
rommunicação de benEI, de titulas e do direitos,
incomparaYelmente maior do que entre os espO·
sos, nas allianças humanas.
Donóo se segue que a �Ião do .Jesus, pela al·
liança do nossas almas com o seu Filho, torna-se
mais a nossa mão do que na ordem natural.
E como so realiza esta maternidad'3 do alliança?
Pelo cons�ntimento a esta maternidade.
� uma lei, na ordem natural, que o filho não
contracta nlliança com uma esposa, sem o consen­
timemo da mfie.
Tal lei é logica, por causa das oonsequencias
do matrimonio, em relação com a propl'ia mãe,
devendo-se, ella, tornar-se a mão dequella que faz
um só com o seu filho.
Tal lei, fund:ula na natureza das com�as natu­
raes, deve existir igualmente para a alliança so­
brenatural.
Jesus não de\·ia contrnctar com as almas uma
aUiança, aliás tão desproporcionada o que devia
causar.Jhe a morte, sem o consentimento da sua
mãe.
� por este consentimento que ella nos ada­
ptou como filhos, unindo :io mesmo tempo as nos­
sas almas a seu divino Filho.
t deste modo que nós somos os filhos do
Maria, por adopção e por alllança.

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-279-

Seria já bastante, sem duvida, p1ra podermos


aclamar Maria Sma. a nossa Mãe.

Mas não bastaria, num sentido períoito, "i não


fossemos seus !ilhas, por nasciJDento. f; tista
&areeiro e supremo grau que forma a filiação per­
feita e propriamente dita.
A filiação perfeita, de Cncto, exige que haja
rece-pção de vida, o que não acol.!teco l'igorosa­
mente na adopção e na alliança.
Ora, já provei no primeiro para�rnpho deste
capitulo que nós nascemos espiritualmente de lia­
ria Sma.
Não somente a Virgem Tmmaculada uniu as
nossas almas :1 B lma de seu Filho, como '1sposas,
mas olla nos gQrOu realnumte á vida o;olJrenatural.
Deste modo somos seus filhos no grnu mais
elevado, naquelle que constitua a !ili�çã.'.> perfeita
� propriamente dita.
São Bemardino de Senna exclama com todo
rigor theologico : "O' povo usgalado, applaudi
a vida que vos é clada pela Virgem Sma. . - . Por
meio de uma mulher (Eva) a morte entrou nes­
le mundo, e por meio de outra mulher, (:\faria)
nos chegou a vida. . . Mae da divina graça. . . el­
la nos carregou lodos em suas entranhas, como
uma verdadeira mãe carrega os seus filhos.
� um pensamento que se encontra em mui­
tos santos Padres dos primeiros seculos, qne hou­
•e em Maria uma dupla geraç..fo : uma q11n fl;0 fez
.na alegria, dando á luz o seu Filho divino ;
outra que se fez em dores indizivei�, g"rnndo nos
ao pé da Cruz, a nós seus Ulbos esplrttuaes.
Ella nos deu á luz da graçn, á luz ela vida di­
lfina. Tendo recebido della n vida, nós so�os os
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- 280-

seuE filhos, niio somi nte de nd< pç io e de allian­


ça, mas de nascimento.

VI. Encarna.; ão e Redempção


O assum pto que tratamos é bello demais,
rara deixai-o incompleto, tanto mttiR que ha cer­
tos p 1otos de vista que ra1·amenir· são tratados,
com certa extensão, nos livros eh� piedade.
O facto da maternidade d� Mnria Sm a. , so­
bretu lo, é muitas vezes tmtudo nr.i:o !'iuperficial­
mente, limitando-se ás pnlavrns de Jesus Christo
na Cruz •Eis a vossa MdeJ-.
Taes palavras nllo são a in&tituiçào da ma­
ternidade espiritual da Virgem Santa, m ns sim a
eonJLnnaç!io de um facto já existe::ite.
Para provar esta instituição, é preciso con­
siderar não só a morte do Salvador, mas a En­
carnaçn.o e a Redempção, em suas duas phases
distinctas.
O Filho de Deus se fez hom�m : ó a pri­
meira phase ou a Encarnação.
Elle se fez homem para resgatar e salvar
os homens: é a segunde phasc, ou a Redem­
pção.
Ha deste modo duas cousas distinctas na En­
carna�n.o: a Encarnaçil.o como tal, e 1t Encarna­
ção em vista da salvaçüo dos homc>nR.
Digo que sllo duas cousas dist!nctas e até
separavels, uum sentido absoluto.
Falando' de modo absoluto, de facto, o Filho
de Deus podia-se ter feito homem, sem intenção
de resgatar a humnnidade, mas unicamente
para que houvesse um Homem-Deus.
Tal é aliás a bella doutrina de Duns Scot,
que pensa que, mesmo si Adão e E1.ru n:1o ti-
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-281-

vessem peccado, o Verbo divino ter-se-ia encar­


nado, para, deste modo, ele"rar a creação e apro­
ximal-a de Deus, unindo a natureza humana á
natureza divina, na unira pessoa divina de Je­
sus Christo.
No que rllz respeito á. Virgem Santissima, a
Encarnação lhe foi proposte., para que nella con­
sentisse ; porém ella lhe é proposta, tal qual
deve errectuar-se, isso é, eru vista da., re­
dempçf.io dos homens.
Maria consente na Encarnação, em toda a
extensão em que ella lhe é proposta.
Ha, pois, na realidade, no consentimento que
ena dá, nm duplo consentimento : o consentimen­
to á Encarnação limitan3o-se á sua pessoa,
e o consentimento â Encarnnçllo, effectuado em
vista da redempç.ão, incluindo já, em princi­
pio, o saerlflclo, pelo qual a redempçlio seria
realizada. •
São dois consentimentos distinctos, embora.
unidos, mas, falando de modo absoluto, até se­
paraveis.
Si o FiJbo de Deus se tivesse simplesmente
Jeito homem, sem a intenção de salvar a huma­
nidade, ou ainda si, fazendo-se homem, com 1).
Intenção de salvar o mundo, elle tivesse escon­
dido este tim á sua i\ti\e, Maria não teria tido
necessidade de consentir â redempçào, mas sim-
ples��t�
�r�!�f;gªd!�t.es dois consentimentos,
nada produziria, pelo menos dlrectamente, em
relação comnosco.
Maria consentiria simplesmente em ser Mãe
de Deus, permittindo ao Filho de Deus, o encar­
nar-se em seu seio virginal.
Este primeiro consentimento nada lhe teria
custado, pois não incluia a acceitação de nenhum
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-282-
sacrificio, de nenhuma immolação, mas simples­
.mente a acceitação de uma dignidade e de uma
gloria.
O consentimento á segunda proposta é todo
diIJercnte.
Por elle, a Virgem Santa recebe cm suas an­
tranhas o Filho de Deus, como devendo ser o
redcmptor dos homens, pela sua paixno e morte.
E recebendo-o, por este titulo, em suas puras
entranhas corporaes, clla recebe em suas entra­
nhas de coração a paixão e a morte do Salva­
dor, como principio e germen da vida sobrena­
tural nas almas.
E não é só isto : vejamos bem as consequen­
cias deste principio: Recebendo o Salvador,
como agent.:? da salvação, ella recebe conjuncta­
mente todas as almas que devem ser vivifica­
das pela rcdempção.
A morte do Redemptor é pois depositada em
seu coraç!o como um principio de vid 1 so­
brenatural, para dar seu fructo de salvação, na
hora marcada para cada alma.
Ora, que é isto, sinão uma verdadeira Con•
eepção de todas as almas á vida sobrenatural?
Concepção espiritual, é certo, mas que por
isso não é menos que a conccpça.o natural, uma
concepção verdadeira e perfeita ; e tanto mais
perfeita, quanto a vida sobrenatural sobrepuja
a!.vida natural.
Devemos pois concluir que Maria Sma. nos
carregou em suas entranhas e 1nos deu á luz..
da vida sobrenatural.
Nós nascemos della espiritualmente.
Ella é pois a nossa Mãe . . . a nossa mãe ver­
dadeira, pois aquella que dá a vida é mãe.
E nós somos os seus filhos, seus verdadeiros
filhos.

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- 283 -

VII. O ensino dos Santos


Elucidemos esta consoladora doutrina, que
va que Maria Sma. é verdadeiramente a Mãe
homens, por umas citações dos Santos Dou­
s da Egreja, ciosos de dar á Mlle de Jesus,
Jofói que adornam a sua corõa immortal, sem
nhum cxu.ggcro e sem nenhuma cxaltaçn.o.
Ha. apenas a difficuldade da escolha, pois to­
os ellPS ano unnnimes cm proclamar a Mãe de
"1Us. como Mil.e dos homens.
Eis aqui uma passagem de Sto. Antonino, es­
rlpta t rn 15 seculos, que se diria pronunciada
or qualqurr um de nossos santos mais devotos
11. \"ir:{t�m lmmaculada, em nossos tempos.
•A MA.e de misericordia, diz o Santo, foi es­
belccida cooperadora de nosRo Redemptor e
ãe de nosso nascimento espiritual.
•E' desta dupla conccpçllo da Virgem que ó
tto pelo propheta : Antes que tivesse dôr do
'rlo deu a luz; antes que chegasse o tempo
o pnrto, deu á luz um fl.lho tiarao.
Quem jamais ouviu tal ?
Quem viu cotua semelllanle a esta?
Produzird, por ventura, a terra o fructoseu
um só dia ?
Ou nasce ao mesmo tempo uma naçao in­
lrira? (!sal. LXVI. 7).
A Virgem Santissima deu é. luz, sem dôr,
primeiro, o seu Filho prlm.ogentto, que ella
nitaüou em panninhos e reclinou numa man­
qedoura ; (Luc. II. 7) depois clla deu á luz, ao
pó da Cruz, no meio das dôrcs angustiosas que

ft.u::�11��d�sd�q8:e�t:Silh�e ra1r���s�:t:do:�e��
&11hor (Psal. 106. 2)
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-284-

«Maria os deu todos á luz, todos ao mesmo


tempo, neste sentido, que é num unice acto e num
unico instante, que ella deu o que é para todos a
causa da 'Vida.
«Ella não os deu á luz todos de uma vez,
no sentido da applicaçilo, que ó feita ás aJmas,
dos fructos da paixão, applicação que produz,
em realidade, a vida cm cada alma, o que se
faz no decurso do tempo.
•Quem jamais ouviu [alar de uma alegria
tão grande, como a do primeiro parto ?
«.Mas, quem já viu uma dor tão profunda,
como a do segundo parto?» (Bibl. Virg. Tom.
ll. p. 517)
Como se vt!, o santo Doutor applica ao duplo
parto da Virgem Santa as palavras do propheta
!saias, dando como uma maravilha inaudita o
haver um parto antes da dor do parto.
Notemos bem que a maravilha não consiste
nos dois partos successivos, pois isto se faz di­
ariamente na Ol'dcm nnturnl, mas no facto de o
primeiro parto ser túo dlficrcntc do segundo, pela
qualidade das pessoas e pela natureza das
vidas que são o seu termo, sendo o primeiro
parto uma causa de alegria, e o segundo uma
causa de dor.
Mas ha outra maravilha ainda, que nll.o devo
deixar passar sem asslgnalar, pelo menos de
passagem.
O objecto dos dois partos, que se effec­
tuam em tempo difterente, compõe-se de duas
partes de um unlco todo: a cabeça e os mem­
bros, o Christo em sua plenitude e em seu de­
senvolvimento, o Verbo encarnado e o seu cor­
po que é a Egreja.
Deste modo a maternidade da Virgem Santa,
embora tenha por objecto o Filho di:: Deus e os
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-285-

omcns, não tem em realidade sinão um tmlco


objecto, que é o Christo, mas Christo inteiro,
o Ch.risto propriamente dilo e o seu corpo mys-
11co.
Após esta passagem expressiva e luminosa,
de Santo Antonino, eitemos em �ynthcse umas
outras sentenças dos Santos Padres, que resumi­
mos o mais passivei.
Sto. Agostinho diz : Mari:l ó a Milc dos roem·
brO$ de Chrlsto, que somos nós, porque clla co­
operou, pelei seu amor, a fazer nascer os fieis na
Egreja, cuja cabeça é o Cbtislo. (l)
S. Pedro Chl'ysologo : :h1nria ó verdadeira­
mente a .ri.me dos vivos, pelo. graça. (2)
Slo. Ambrosio : '.\faria é a. Mãe dos fieis, por­
que dPu (l luz o Cbristo, que é o irmão dos
fiei'- (J)
Sto. Jn\ielmo : Maria é a Mne de todos que
cré!m cm Dou•. (4)
S. Rirardo de S. Lou1·(!11ro: MR.rh\ é a Mãe
dos justos, porque elln os alimenta e os adopta
como filhos. (5)
Slo. Alberto Mauno : Maria é a Mile de todos
cs bons, pela bondade da graçe. e da gloria. (6)

t ue
devtai!�"p��P��d���� h���l���� o�:fu�12��.' q
:'.:.) Maria, Mater vcre orientlum pt � i:nt!am (Serm. 140).
3) 'Maria, Mater credentlum, qula Cbristum gcnult cre­
dentiuR1 tratrura (ln fest. PurU.)
4) Maria, Materomnium ln Oeum credcntium (ln orat.
R.V.)
5) Maria, �fntcr justorum, qula nutrlt eos et adoptnt
ut Hllos (De Jaud. Ylrg. 1. 18).
6) Mater omnlum bonorum, bonitate graUae et glo­
rtae (Sup. Mü!iu.s est. C. 182).
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-286-

Sta. Erigida : Maria é a Mãe de todos os


peccadores que desejem emendar.se e tenham a.
vontade de não peccar mais. (7)
Ven. Gerson: Maria é nossa Mãe, pela nos­
sa geração após a de seu Filho. (8)
S. Lourenço Justiniano : Maria é a Mãe com­
mum de todos os que devem salvar-se. (9)
Maria é a Mãe de todos os homens. (10)
S. Bernardino de Senna : Maria é a Mãe dos
eleitos, pelo seu amor. (11)
Sto. Antonino: Maria é nossa Mãe querida.
Maria, Nossa Mãe, pela dignidade e pela honra.
º Nossa Mãe, pelo seu immenso amor.
Nosso. Mãe, desde o começo.
Nossa Mãe, para nos curar.
Nossa Mãe espiritual, que vivifica áquel­
les que a nossa primeira mãe tinha matado.
Maria,1tiãe de todos, porque é Mãe do Deusr
que é pae e Crcador de todos.
Maria, Mãe de todos, porque ella gerou a.
todos pelo afl'ecto de sua dilecção e os deu á
luz� pelo soO'rimento e pelas dores, na paixão de
seu Filho. (12) 1

7) Mater oronlum peccatorum se volentium cmendare,


et babcntium voluntatcm in Dcum ampllua non pccca.re (R �
e
veL ja:latcr nostra, ex nostra post Filium generatione
º·s

IOl Mater cunctorJm homlnum (Serro. de verbis B. V.)


(Tr. 59)8àf:it�ª�g���!?is salvandorum {Serm.de puril B. V).
11 Mater elcctorum per dilectioncm (Serm. 55)
12 Mater nostra cara,
Mater nostra dlgnltate et honore,
Mater nostra ex maxima atfecllone,
Ma'cr nostra ab antiquilate,
Matcr nostra ob curam,
Mater nostra spirltualis quo.e vivillcat no�, c,uos

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-287-

Terminemos estas citações, que se podiam


ultiplicar por milhares, com uma passagem de
. Boaventura:
cPensaes vós que a Virgem, que é de um
modo singular a Mãe do Salvador, não seja tam­
bem a Mãe commum de todos os fieis?
A verdade nos ensina que Maria teve dois
filhos : o primeiro Deus e homem ao mesmo
tempo; o segundo, um slntples homem.
Do primeiro ella é Mil.e por natureza; do se­
gundo clla é Mãe espiritual.» (13)
Quando Deus deu o ser ao primeiro bomemt'"
elle o deu ao mesmo tempo á multidão sem nu­
mero de seus descendentes.
Assim aconteceu com Maria. Dando á luz o
Filho de Deus, ella deu á luz á multidão de fieis>­
chamados a viverem da vida de Jesus.

VID. Conclusão
Bc11as e consolad oras verdades passaram de­
ante de nosso espirita, neste capitulo.
Afaria é nossa Mãe querid a !
E dando·lhe este titulo, não enunciamos sim�
plesmente um termo de ternura, de piedade, de

prima matcr oeciderat,


Matcr omo.lum, quJa mater Dei, quJ est pater et ori·
go omnJum.
Mater omnium qua omnes conceplt per attectum•
ls t ). ln passione
���t�. �tE��j� lu���b��. �. �gt�e;
13) Sed Dum9,uld solius Christl mater est Maria? Imo
certe, quod jucundissimum est, Maria non solum est Mater
d
�!�1h��º1il1��r�:ii :�n��h:;;�en:��rho��e���:��e:a-
enim corporallter, alterius splritualiter mater est Maria
(S. Bonav: ln spec. C. Vlli).
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-288-

glorificação, mas si m a expressão de uma reall·


dade, de uma ''erdade certa, innegavel, que to­
da pessoa de bom senso dove admittir, no mes­
mo grau que admitto que a sua progenitora
-é realmente a sua nulfl.
Como 6 que os infefü:os p rotostantes chega­
ram a opprimir o sr>u proprio coração, não que­
rendo que a Mãe di:i Deus seja tambem a sua
Mãe '?
E' u m rnyst�rio . . . mas um mystcrio das tre­
vas ... talvez irrefl�ctido da parto de muitos, mas
de um odio tradicional á s�mt� ggreja do Deus.
O protestanti<imo ó essenc:ahnente a nega.
ção do ensino ela Egreja Catholica, o como a
Egreja, desde DR Apostolas até hoje, honra e ve­
nera a Immaculada JW.o du Jesu-:. proclamando-a:
a Mãe caririhoiJa dos homem, o protestantismo
protesta e não acc�i ta um titulo e uma dignidade,
embora sejam intoirnmonto evangelicos1 profes­
sados pelo Catholicismo.
E ais o infefü protestante a negar que �faria
Sma. é Mãe de Deus, embora esteja em plenas
letras no Evangelho E não satisfeito em tirar da
fronte da Mãe do Jesus o diadema com que a
cingiu o Eterno, o infeliz protestante arranca de
sen proprio coração o amor filial que deve á sua
Mãe, não lhe querendo dar o seu amor, porque
a Egreja Catholica a ama e a invoca.
Pobres infelizes, si reflectis.iem um instante, com
calma o sem preconceitos. sobre o que aqui t-emos
9>..l)Osto, elles deveriam reconhecer, pelo simples
bom senso, que nós precisamos de uma Mãe, que
precisamos não somente da luz do Evangelho,
para o nosso espirita, mas do um pouco deste
amor que o Evangelho nos annuncin, do qual
Jesus Christo ó a fonte inoxgotavol, mas cujo ca·
nal é a Virgem Immaculada.
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-289-

Pobres infelizes, deix:ae de blaspbemar. . dei­


sae os preconceitos.� deixae o odio e
lembrae-vos
f1116 á impossível que esta Egreja Catholica, tão
odiada 1wr vós esteja no erro, na idolatria.
E'impaasivel, digo, pois eHa ê a uni­Egreja
Yersal, a Egreja de Christo, construida sobre Pe­
dro, com a promessa de nunca destallecer em
aeu ensino.
Escutae estes milhares de homens extraordi·
narios em virtudes o em obras, que nós chama­
mos os Santos, e todos elles, unanimes, sem uma
•oz discordante, proclamam Maria, nossa M4e,
ftossa esperança, nossa vida.
Oh sim, no meio dos miserias desta vida, olhe­
mos para Maria, e Jembremo-nos do nosso titulo
de íilhos desta Mão gloriosa.
ln\'oquemol-a, como nossa Mãe querida; te­
nhamos nella a mesma confiança que um filho
tem em sua miie, e bt•evo, experimentaremos como
é born, como t'J doce ser guiado pelo:1. mão cari­
nhosa du uma Mãe.
A \'irl1t é tão triste. . . o exilio 6 tão prolonga­
do, o softrimento 6 tão intenso noste mundo, que
teria barbaro, cruel da parte de Deus, si não
nos désse uma Alãe, para consolar-nos, enxugar
as nossas lagrimas, tomar-nos em seus braços, e
apontar-nos a patria celeste.
Precisamos de uma Mãe...
Deus nos deu esta Mãe na pessoa de Maria
Sma.
Amcmol-a com todas as forQas de nosaa alma...
DID pouco como Jesus a amava, durante a sua
Tida .mortal, e como continúa a amai-a na eterni­
dade. E m sua \'i da terrena Elia ÍC'Z dolla a sua
Mão; no céu Ellea fez Rainha do glorin, e na
\erra Elle a nomeou : Hninha de misoricorrli n.

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C l'I P I T U [; O X I I

As bôdás de Ganá

Como corollario das duas sublimes dignJda­


des de Maria Sma., que acabámos de analys8J' :
a de Mt1-e de Deus e a de Mae dos homens, de­
vemos contemplar uns instantes uma 1:.1cena en­
cantadora do Evang6lho, na qual estas duas pre­
rogativas destacam-se com admiravel scintiJJa.­
ção : E' a scena das Bodas de Caná.
Os nossos amigos pri1lci::tante�, com1irc�:í•n­
dendo o alcance destu. pnrr in:1 cvangclicn. c m lwn­
ra e gloria da Mãe <.l<• .fct-:u11. <'0nc0ntrurum Hl­
bre ella os seus golpeit lwr<'ticos, p1·ccurnnd{l di­
minuir o seq brilho e �Hê-n �e11 <11!io <· lir!"!ri'.1 a
este ponto-fazer revcitcr ruulr� a Mão eh• -1q­
sus o que é uma das perola.9 maLs brilhantes de
sua coroa.
E, cousa triste a confessar, Yarios trnfluctq­
res do Evangelho, em Iingnn vernncula, deixa­
ram arrastar-se pela corrente protestante e ndo­
ptaram uma versão, que nil.o é absolutamente
erronea, é certo, mas que nii<) tre.duz nem ns
palavras, nem o gestn, uPm o pt�osam<.'nt1> do
divino :'i1estre.
_
E' preciso dizer logo par� os IH·'tesü:,.t<·s o
saberem, que ceda um pód<' tr11;:i:2fr it RiJ,l!.1, e
póde publicar esta traducç-:1o, desdo que e re­
'l'C!'tMR. ÔI\. a11torizaçD.o da autoridade eccicr!nc:;ti-
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-291-

c a . O unico texto sag:;:ndo, reconhecido authen­


tico, é o texto latino da Vulgata.
'fel autodzação ecclesiastica, entretanto, não
declara a autbenticidade da traducção, mas sim­
plesmente que niio contem .. erros de doutrina.
Bem comprehendido isso, desculpar-me-á o
lcilor de perscrutar outros textos parallelos, pa­
ra clucidnção da liifficuldade que suscita a pas­
sagem dn scena de Caná, e pulverizar o.s objec­
ções dos protestantes contra e poder de inter­
cessão tln Sma. Virgem que uhi tão scintillante
se ap1·cscnta.

1. O texto d9 Evangelho
Comecemos pela citação do texto Evange­
lico, Ue umo. bcllcza. sem par e de uma. simpli-
·
cidade encantadora .
Dcpoi."I de nal'rar o encontro de Jesus com
seus cinco primeirns discipulos: André, Simão
Pedro, Philipp'! e Nathnnael e mais um outro, o
Evangclbta continúa :
Cap. lf.-l Três dia.,13 depni,;, CC'lebraram-se umas bo­
das em Canã do. (iaillêa : encontrava-sc lá a Mãe de Jesus.
2 E foi tambcm convidado Jesus com seus discipulos
para 11s boda".

3 E faltando o vinho, a ?irn.e do Jesus lhe disse : Não


leem vinho.
4 E ,Jesus disse-lhe : Deixe estar, Senhora, euJ­
dn.rci disso, emltora não tenha chegado a mJ..
nba horu.
:> Disse sua Mãe (\_OS que serviam : Fnzei tudo o que
elle vos disser.
6 Ora, estavam ali seis talhas de pedra, preparadas
para a purltlcaçilo judaica, que levavam ca<!a uma duas ou
três medidas.

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-292-

7 DiHe-lhcs Jesus: Enc�cl as talhas de agua. E en­


cheram-nas até cm cima.
8 Entllo disse-lhes Jesus : Tfmc agora, e levae ao ar­
cbitrlcllno. E clles levaram.
i cl g
da e� �lrih���� ���· �{;� ��cnS!Jh�11\'i�r: �c�t�0:i���}:
aJ.nda que o sabiam os serventes, porque Unham tirado a
agua, o architricllno, chamou o cJJposo.
10 E di8se-lhe: Todo o homem apresenta primeiro o
bom vlnho: e quando JA (os convidados) tccm bebido bem,
cnt.!l.o lhes apresenta o inferior : tu ao contrario tl\'cste o
b<Jm vinho guardado ató agora.
e d
lagre:1c�ºé!�� d:i:iil��� g���i���1�ºs:�8gf:1��Je 0��
11eus dlsclpuJos creram nelle.
i
e seu1s2 t>����� � s!�u�º�fs�r;uf:S1'.b�1!:ºn�Ó e��c �e���;!�;
ali muJto11 diatt. (Joan. lL 1-12}
Tal é n narração em sua encantadora sim­
plicidade.
E' uma palavra escripta . . . Tal palavra tem
uma grande vantagem : é a firmeza i tem tambem
um grande inconveniente: a sua frieza congelada.
As palavras no papel têm o valor que pos­
suem nas columnas de um diccionario.
Na conversa falada, entre pessoas, que se
comprehendem sobretudo, as palavras sào ma­
tizadas, graduadas pelo accento, o olhar, o gesto
o sorriso.
Por falta de accento, que não podemos res­
tituir, devemos servir-nos do contesto e das cir­
cumstancias de pormenores, para interpretar a
palavra evangelica.
O texto citado é o da traducção corrente,
afóra o versiculo 4°. que traduzi, a meu modo,
mas apoiado sobre autoridades e factos h.istori­
cos que aqui quero explicar.
O texto latino deste versículo é :
Quid mihi et libi, mulier?
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--293 -

O texto grego diz : Ti emoi kai soi, juvai.


A traducção de P. Mattos Soares diz : Mu­
Uter, que nos importa a nn'm e a ti isso ? E esta.
traducçllo é a melhor entre as acceitaveis.
Outros traduzem : Que lla entre mime li, mu­
lher ?
Donde provêm estar. variantes? esta Pspccie
de desuccordo sobre um texto que é, entretanto,
de primeira importancia?
Vale a pena oxominar n. questuo, para me­
lhor rcpelllr a objecçüo protestante, que teve
tanto melllor acceitação, quanto mais dlsscnçlio
houve entre os Catholicos sobre a signlficaçüo
certa desta passagem.

II. A origem de um mal


entendido
Núo é um erro, é um simples mal-entendido,
mas cujas conscqucncias prejudicam ao cu;·,o da
Mãe de Jesus.
A maior parte dgs traductores que adoptam
a versão: •Que ha entre mim e li•, apoiam-se
sobre Santo Agostinho.
Este Sunto Unha de combater a heresia mons­
truosa dos Manicheus, cujo erro ruiu.lamcntal
consistia em ensinar que a rnuterin era obra do
dcruonio. como o e�pirito era obra de Deus.
Querentlo provar que Jesus Christo tinha
tomado, não um corpo verdadeiro, mas um cor­
po acrco e celeste, estes hcrejcs se aproYei1arllm
deste texto de Jesus á. sua Miie, nas Bodas
de Canú.: Que //a entre mim e li, que traduziam:
Q1te /ta de commum entre mim e ti; como se
,Je�ms quizesse dizer que o seu corpo não era
du mesma natureza que o nosso, e que, por isso,
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-294-

nao tinha tido l\hl(', segundo a sua humanhlade.


Santo Agosllnho, para premunir os fieis con­
tra esta heresia, estende-se longamente em pro­
\'ar que Jesus Cbristo era \'Crdadelro Deus e ver­
dadeiro homem, e> que Maria �mu.. deu somente
á. luz a huruanidudc do Salrndo r ; e quC', cm con·
scquenciu, Ialando como Dcu.s, cllc
devia. dizer
que, como tal, nJ.o tinha M:lc, nem nada de com ­
mwn com Maria.
H.aciocinnnrlo deste modo, Sta. Agostiu!Jo nllo
pretendi a excluir as outraa interpretações desta
palu..v:rt, mns a sua inten\ilo ei·a de rcõponder
aos lwrejcd, que abusavam do t�xtn em
quest.ão--.Q11a11tum atbilror, concluc o S.llntn, ns­
po11s10n rst lterclieis.
Quem c:-;tá um tanto uc ostumado á leitura
dos t:iant'ls Padres, l)abe que, no intuito de pre­
venir os fiels contra a hC'rcsin, ellcs d avt1. m fro­
qucuteme:ntc ú. Sagr. E::;criptura um sentido nco­
modaticiu, sem pretender dar a slgnificução pro­
prJa i.lu cita�·üo.
Dossuct, grand e ndmirndor dé Sto. Agostinho,
nilo quiz adopta1' este sentido, e traduz : Que 1ws
importa, a i·6s e a mim 1"
E' o que fazem divcr:sos outros interpretes,
entre cites Dlooysio o Curtucho, que accusa
de ser bastante obscura trnduc�·ão de Santo
n
Agostiubo. (1)
O YCnora\'cl c
Olier ap1c s ntu uma outra in-

1) Qul<I mlhi et tibl cst, mnlle r ? Exponitur autcm lo­


rus bto duplicilel'.Secundum Augu�tJnu1n hoo modo : Nildl
commu11e c11t mllll cl liai, cujus \'Jrtutc con\·eniut mihl la­
cere mlruculo., nondum venlt l1ora Wl'll, ld Clót tcmpus per·
secutlonls et pa.:i�lonl'l, tn quo ngam paliar qure mlhf oon­
'·enluut ratlonn naturre exte sumptn ; ct lime ero srlicltu!I
de te commlttrndo te 018clpulo pr�"..'·ll\f'cto. . Srd h&e ex­
poslllo, videtur Mii" ot:i.,cura (Olon. rnn lri P.v<tn'?. f'. II " 71.

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rpretação que me parece aproximar-se mais


verdade.
Vós e eu, que podemos nós fazer? Que po­
er temos nós sobre isso ?
Ou ainda : Que poder ha em mim que não
esteja tambem em vós P-Que ha em mim que
eu possa lazer para vós, que não faç o ? porém,
não chegou alada a minha hora.
E' como si dissesse á Sma. Virgem: nem vós,
nem eu como homem, nilo podemos dar, nem
opel·nr, por nós mesmos, o bem que quereis
que eu faça. Tudo vem de Deus Pae, que quer
fazer tudo por nosso intcrmedio, como pelos or­
rams e as ralzes, que devem haurir nelle a sua
seiva e a vida. Vós nada podeis, siono por mim,
e eu tenho as milos ligadas, até que chegue o
momento marcado por meu Pae. (Olier Mem, t. 5)
São João Chrysostomo traduz a mesma pas­
sagem : Que nos ímpo1·ta. a vós e a mim, si aos
convivas falta o vinho ?
Oionyslo o Cartucho, prefere ainda outra tra­
ducção: Não cabe nem a v6s, nem a mim
zelm· por estas cousas.
Vê-se, por estas citações, que sempre houve
um certo desaccordo sobre o sentido obvio e exa­
cto desta passagem. E é a razão que levou os
protestantes a adaptarem-na a seu sentido, mu­
dando-a numa expressão insultuosa, dizendo : Mu­
lher, que lenho eu comtigo ?-expressão que é
sensivelmente injurlosa e indigna de Jesus, como
Deus e como Filho de .Maria.
III. Textos parallelos
Chamam-se textos parallelos as expressões
usadas na Bíblia, e cuja significaç'lo é mais ou me­
nos identica em diversos loga1·es.
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A expressão latina: Quid mihi et tibi> ou a


grega : 7i emoi kai soi é urna expresão usada
na Sagrada Escriptura.
Procuremos umas destas pasi:ageos, para
examinar qual é o sentido geral que os Escripto­
res sacros llies attribucm.

1-Em Josué, Cap. XXII. 24, lemos : O 71en­


samento e designio que tivemos foi JJorquc 1JO­
derá acontecer que um dia digam os vossos ff.­
lhos aos nossos : Que fondes vós com o Sc11/tor,
Deus de ffn·ael? Quid l1obis et Domino J.�1·ael_?
Este texto exprime uma relaça.o de amizade
e de participação entre os filhos de Ruben e
de Israel.
O sentido é claro : queremos SCl' unidos, ugir
de accordo, mas recciamos uma dcsunjâo da
parte de vossos filhos.

2-No livro dos Juizcs cncontrnmos a mesma


expressão (Juiz. XT. 12)-.Tephtê, enviou embai­
xadores ao rei dos filhos de Ammon, para que lhe
dissessem dn sua parte : Quid mihi et libi rsl­
que tens tu commigo, que vieste co11lra mim va­
ra devastar o meu ]Jaiz.
Ha uma variante ncst11 passagem, que expri­
me entretauto amizade o união, mus ujuuta uma
queixa de o outro querer romper a uni:to exis­
tente.

3-0 Rei David, fugind o tlcanto de Abealão,,

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contra no caminho Semei que o insulta e amal­


çôa.
Então Abisai quer vingar o seu Rti, matando.
insultador, mas David se oppõe, respondendo­
e : cQuid mi/ti cl libi est ? Que imporla a mim
a vós, líllto de Sarvia. Dei:rae que me amaldi­
-e, conforme a permissão do Senhor. (Il. Reis
VI. JO).
O sentido desta passagem tem apenas uma
en v rm d
t'çi� :e ::i\���� �x�� ��g�o �o��r;a�:ªE��
passagem tem muita semelhança com o texto.
das Bodas de Cauá.

4-0 Prophetd Elias na casa da viuva de Se.­


repta está deante do cadaver do filho desta ul­
tima: A mãe desolada, dirigindo-se ao Propheta
lhe diz : Quid libi et mihi est : que te fiz eu, 6
homem. de Deus ?
De novo tal expressão indica a confiança
completa da viuva no Propheta contém já im­
0
plicitamente um pedido, uma suppllca, que é lo­
go attenctida.
Que te fiz eu, ó homem, de Deus ? Por ven­
tura vieste á minha casa para ext:itares em mim.
a memoria de meus peccados, e matares meu·
li.lho ?
E to­
E Elias disse-lhe : Dá-me o teu filho.
mou-o em seu regaço e resuscitou-o. (UI. Reis
XVII. 18).
Esta passagem é uma destas que mais se pa­
recem com a scena de Caná. A mesma expressa.o
da parte da supplicante, e o mesmo gesto da
parte do supplicado.
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Ha um parallelismo perfeito entre os dois


passos.

5-No 4o.
livro dos Reis ha outra expressa.o
semelhante, porém desta vez mais discordante
MO sentido (IV. Reis lll. 13).
O Rei de Israel foi consultar o propheta Eli­
zeu. Este respondeu-lhe : Quid tnihi et libi est­
Que lenho
eu comtigo ? Vae ter com
os prophe­
tas de teu pae e de tua mãe.
E o ret de Israel disse-lhe : Porque juntou
o Senhor estes três reis para os entregar nas
mãos de Moab?
E Elizeu, 1·espondeu-lhe : Viva o Senhor dos
c:rercilos, em cuja presença estou, que, si ntlo
fosse por respeito á pessoa de Jusaphat, rei
de Judá, eu sem duvida não te allendena.
Esta passagem, conservando sempre o sen­
tido de uuiilo, exprime aqui uma repulsa, porque
o pedido é feito por um rei perverso que não
merece resposta. Entretanto, em consideraçno do
piedoso Josaphat, o proplteta attende ao pedido,
e o milagre se realiza.

6-Mai.s outra passagem do livro doe Para­


lipomenos, palavra grega que significa, cCOU888
omittidas>. E' uma especie de supplemento aos
livros dos Reis (Para!. XXXV. 21).
O piedoso Rei Joslas, indo ao encontro de
Ncchao, rei do Egypto, para impedir que este
tomasse as terras de Ctrnrcames, este mandou-lhe
seus mensageiros dizc1·em-lhe : Quid m.Jhl et
tl!>l c.st, rcx �laclá? - P01·que te embaraças
tit 'Jm·· -;f}'I, ..i> ndo
fi -.if"i de Jm• 1:enho contra

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, lwjc, mas contra outra casa, cofztra a qual


e mandou Deus que marchasse a toda p ressa
O sentido é de novo a expressão de amiza­
e e de união, pedindo que não rompesse esta
ião, fazendo guerra sem razão.

7-No Novü Testnmento, encontramos a mes­


expressão, e sempre com a mesma siguilica­
ção (Matb. Vlll. 29).
Dois endemoniatlos, ou possessos do demo­
nio, foram uo encontr0 de Jesus, e gritaram-Lhe:
nid no bis et tibl, Jesu, Fifi Dei? - Que
lens tu comnosco, Jesus, Filho de Deus? Vieste
aqui atorme:ntm·-nos antes do tempo ? (Em gre­
o : Ti emin k11i soi, viê toro theos ?)
A mesma expressão reveste-se aqui de uma
completa separnçllo, entre Jes u s e º. d€'monio.
8' um brado de terror... é um p�chdo da. pa:c­
te dos cn dcmonindos, pcclido a que ,Jesus uttende
permittindo que, ao sahirem do corpo destes pos­
sessos, e.ntrem no corpo de uma manada de por­
cos.

8-0µtro exemplo ainda encontramos em 8.


J.lathcus {Math. XXVII. 19). E':o recado que a
mulher do Pilatos lhe mand3, pedindo que não
condomoassc Jesus: Nlhil tlbl et justo W1
-Nada hnja entre li e esse justo : porque fu.i
ho}P. muito atnrmP1tfada, rm t<On/:os por causa
delle. (grego : Mcdên sai kai ton dikaio ckeinô).
D:.! novo, c:<.la expressão trn1h17. aqui um pe­
di !o l· t:m!! 1'-applicu : u dr} íJ;fo C'nnrir·mn:u· a .'{'-

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9-:Mais um exemplo do Evangelho de Mar­


cos (1. 24). Jesus, entrando na Synagoga para
ensinar o povo, encontrou ali um homem posses­
so do demonio que lhe disse : Quid nobis el tiM
Jesu. Nazarene ? -Que tens tu que t1êr comnos­
co, 6 Jesus Nauire110? Mas Jesus o ameaçou,.
dizendo : Cala-te e sde desse homem. E o demo­
nio sahiu delle. (grego : Ti cmin kái soi, Jeson­
Nttzarené).
A phrasc exprime aqui uma separação, um
medo, sem deixar de ser umíl. supplica, de não.
atormcnt:.ir o possesso, expulsando o demonio.

10---Uma ultima passagem é de São Lucas


(Luc. IV. 34). Jesus prégava em Capharnaum,.
quando encontrou na Synagoga um possesso de
um demonio immundo, que exclamou em alta
voz, dizendo: Quld nobls et tlbl Jesu Na•
za.rene? Deixa-nos, que tens tu que vêr com-
1wsco, 6 Jesus Nazareno ? - Vieste para 1J.OS
perder ? Sei quem ds: O Santo de Deus! (grego:
Eati emin kái soi, Jeson Nazurené)
Outro brado de separaçUo, de horror, da par­
te do demonio, que receia a autoridade de Je­
sus, não querendo sahir do corpo deste possesso.
Taes são as dez principaes passagens da
Biblia, nas quaes encontramos textualmente a
mesma expressão, de que usou Jesus nas Bô­
das de Caná : Quid mihi ct tibi est !
Do confronto destas diversas passagens de­
vemos agora encontrar o seu sentido certo e
incontestavcl.
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IV. O sentido unico


Ao ler com attenção estas dez passagens,
vemos logo que o texto authentico da Vulgata
latina conserva sempre a mesma expressao quid
mihi et tibi est, como luz lambem o texto grego:
Ti em.ln ktil sot . cmquonto n traducção em
..
Yeroaculo muda n expressão, para adaptai-a á
ldéa quo a passagem quer exprimir-.
Vê-se o embaraço do traductor, nilo encon­
trand<' expressão equivalente em nossa lingua
para traduzir o latinismo, ou o hcllenlsmo, que,
sem mudança de palavras se adapte a cada uma
das circumstancias, nas quaes é empregado.
E' um destes termos genericos que, contor­
me a eotonaçilo, ou o gesto, significam at6 duas
cousas contrarias, oppostas, como quando nós
dizemos : esvere lá, já vou, que póde ser, con­
forme a occnsiiio, expressão de unlii.o ou de
"Vingança.
A traducção de enda passagem é cxacta cm
conformidade com a idéa que domina em a narra·
ç!lo, porém ba possibilidade de unilicar o texto,
exprimindo, segundo o caso, a variante de sen·
Udo, com uma palavra supplementar que indica
a intenção e o gesto.
As dez citações podem, conforme o sentido,
Incluir-se em duas categorias :
J. Sentido de bondade
1.Que tendes vós com o Senhor Deus de
Israel?
3. Que importa a mim e a vós, filho de Sarvia?
4. Que te [lz eu, ó homem de Deus ?
6. Porque te embaraças tu commigo, ó Ilei
de Judá ?
8. Nada haja entre ti e esse justo !
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- 302 -

2. Sentido de rigo1·

2. Que tens tu commigo, q·.ie vieste contra


5. Que tenho eu comtigo ?
mim?

7. Que tens tu comnosco. Jesus, Filho de


Deus ?
9. Que tens tu que vc1· c o mn osc o ó .Jesus .
Nazareno?
10. Deixa-nos, que tens tn qnc n�r comnos­
co, ó Jesus Nazareno ?
Examimrndo de perto esta' d<'z l<H'\lçõei;i,
notamos que CXlH'imcm um unico pcmwmento,
porém differentcs, s egund o os lntcrlo(_·�.ttore-s.
O texto latino da Vulgnta, como o t1�xt1> grn­
go, conservou u unidade de formula, emquanto
-
a traducção vernacula adaptou-se ás tlisposiçõcs
dos interpellaotes.
No fundo vê-so que tal expressão corrJs­
ponde bastante exnctamente á. nos:;a locução :­
Deixe estar, cu m e encarrego disso, que pó
de udap1::t.l'·SO a ca da uma dl':-;tu exprel"Sõei:i,
dando -lhe a tonnlldudc de bondade ou de l"i·
gor q ue o cuso comporta.
De facto, a mes:r..a locuçúo muda completa�
mente segundo a C'ntonnçíl.o.
Dizendo. por ex., mg
n um a i o : Deixe e;,lar,
amigo :é tomar um compromiss o de fazerqual·
quer cousa.
Como dizendo a um ini mi go perverso: Deix1
estar: é uma umeaça de vingança.
A mesma loc ução parece correspon rlcr ao
quid mihi et tibi, e m lntim e ao TI EMIN" KÁI
SOI em grego.
1-0s filhos d e Ruben1 dizendo aos filhos dr
Israel: P6dc aconlccei· que um dia digam O!I
vossos filhos aos nossoe : -De•:r.i:c es"ar, nó
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-303-
lambem somos filhos do DetlS de Jsracl1 expri­
mem a sua união e amizade com elles, e temem
uma separação.
S-As palavras de David são mais expressi­
vas ainda.
David fala a seu amigo e defensor Abisai :
Deixe estar, amigo Aln"sai, é Deus que o per­
mitte que este llomem me amaldiçoe'
4-A viuva de Sarepta venerava multo o pro­
pheta Elias, e queixa-se amorosamente : Deixe
estar, homem de Deus, nli.o havci1:1 de pcrmit­
Ur que o meu filho morra.
6-0 rei Ncchno não era inimigo de Josias,
e previne-o que é por ordem de Deus que faz
a guerra: Deixe estar, ó rPi de Judá, não ve­
nho contra ti, hoje, mas contra outra casa.
8-A mulher de PUatos manda-lhe um reca­
do amigavel: Deixe estar, não faça mal a es­
te justo.
Estas cinco locuções são as que combinam
em sentido com a de Caná, cmquanto outras� as
pronunciadas entre inimigos, entre .JeFu� o de­ e•
monio, exprimem uma 'idta de rcpulEa.
Parece que, para maior uoilormidnde e ma­
jor fidelidade ao texto da Vulgata. se poderia.
pois, traduzir esta locuçllo «quid mlhletlHJi est?»
pela expressão: Deixe estar, exprecoão que
elucida perfeitamente n palavra de Je�us á �1a­
ria, sem ser obrigado a recorrer a longas e com­
plicadas explicações.
Entre estes diversos passos, vê·SC claramente
t i de
3�0e� =��J�o°au��s���i :���élt�do ;e)�r��rv��
Entre amigos á uma expressão umistosn, en­
tre inimigos é uma expressão pejorativa.
David, dirigindo-se a seu amigo Abisni, ou a
mulher de Pilatos dirigindo-se ao seu marido, em..
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-304-

pregam a expressão amistosa ; emquento o de­


monlo dirigiudo-se a Jesus, emprega a expressão
pejorativa.
Havendo de escolher entre estas expressões,
porque os protestantes foram escolher e. mes­
ma SiJIDificação que a do demonio, dirigindo-se
a Jesus ?
Que tens tu comnosco ?
Que tens tu que ver comnosco ?
Não comprehendem os pobres protestantea
que uma tal expressilo sobre os labios de um fi­
lha, falando á sua mãe, é summo.mente revai·
16.ntc.
Porque não tomaram clles uma das expres­
sões que tem a mesma significação, cm sentido
amistoso?
Ha 5 variantes de cada lado.
Não provará Isso que elles procuram antes
de tudo rebaixar a Mãe de Deus, insullal-a?
Não sendo esta a sua intençn.o, deve então
ser n consequencia da ignorancia.
Possam elles comprehender esta verdade tão
simples, tão clara e ta.o Iogica, e para esta pas·
sagem, como para outras mal interpretadas, elle11
verão mais uma vez os inconvenientes, e at6
o absurdo da interpretação individual e a ne·
cesstdade da interpretação authentica por uma
autoridade legitima.

V. Outras tradueções
As diversas traduçcões correntes deste passo,
têm, cada uma, a sua significação espiritual, ox
pressiva, apenas fJÓde-se lamentar a falta de uni
dad� no texto.
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--305-

Uma traducção multo espalhada é a de S$o.


<1stfnho :- Que ha entre mim e ti, mulher?
Notemos que é uma pergunta.
F como si Jesus perguntaue : Que ltc entre
tt IUho e a Ma.e ?
Que ha ?
O respeite, o amor, a união mais completa.
Pois bem, minha Mãe, isto existe entre nóa,
de modo que a vossa vontade é minha vontade.
Qu.eha entre m.iHr e ti?
Jesus conhecia a !alta de vinho, e talvez
projecltlva fazer o milagre, sem querer adeantar
a hora marcada pelo seu. Pae, sem uma razão
plausivel.
O pedido da Mãe apresenta-lhe esta razão.
E Jesus, satislcito, parece dizer : ha Que
mtre tnim e ti ? para que os mesmos pensamen­
tos e os mesmos desejos nos occupam ao mes-
mo tempo ? .
Que ha ? E o amor reciproco, é a com­
municaçüo da mesma bondade e da mesma so­
licitude.
Que ha entre mim e ti9
Maria Sma. tinha o poder de fazer milagres,
embora não consta que delle tenha feito uso em
f•blico.
Nesta occasião ella poderia realizar o mila­
gre sem recorrer a seu divino Filho.
Jesus lembra-lhe este poder.
E' como si dissesse: Entre nós dois, não ha
aeparação; somos unidos como mãe e filho; por­
•ue, pois, pedir-me um milagre, quando podeis
lazel-o, porque a minha hora não chegou ainda:
fUe ha entre mim e ti, que nAo usaes do poder
que tendes?
Que ba?
E' a humildade profunda da Virgem �f!nta,

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-300-

que prefere Ucar escondida, para melhor mani­


festar a gloria de Jesu8.
Como se vê, Santo Agostinho não adoptou
tal traducçllo sem fortes razões, sem ter em vis­
ta uma profunda homenagem A glorioso. Mlle de
Jesus.
• + .

O veneravel Olier nssignala mais um outro


sentido, perfeitamente ele nccordo com o texto
literal e mystico, e diz ter recebido de Nosso
Senhor tal tnterpretaçU•·: quid mihi et tilit. - O
que é meu, é lambem fl>u, isto é: o meu poder
está a tua disposição, ó Senhora, embora não te­
nha chegado ainda a minha hora de fazer mila­
gres.
Este sentido é belio, majestoso e cbejo de
reverencia para Maritt Sma. Além disso combi­
na admiravelmente com a continunção do text<J_
E' certo que esta intC'rpretaçfio não concorda
no sentido 11tteral com os Jogares parollc1os, mas
exprime� de certo, o pensumento de Jesus nesta
occasiiio.
Todas estas traducçõcs concordam mais ou
menos com a traducçâo que i ndi quei corno pre·
ferfrel: Deixe estu.r . . • ou deixe tssiJ n merr
cuidado, embora sejam menos claras e menos
simples.
Os protestantes não quizernm adaptar mJ·
nhuma dc"tas traducções, prercrindo in\'t'ntar
uma nova versão, que melbo.r exprimisse o seu
tradicional odlo A Mãe de Jesus.
Todas as expressões acima citadas são res.
peitosas, calmas, e umas até cheias de ternura;
por isso mesmo não servem, e eis que os nml·
gos protestantes inventaram a seguinte: Alu.lltcr,
que ten.M eu ccmtigo P

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-307-

Esta, sim, deve ser boa, a.uthentica, pois ee


clietiogue de todas as traducções romanas, e põe
aobre os labios de Jesus uma phrase insultuosa
6 sua santa Mlle, a mesma que o demonto diri­
giu n Jesus, quando este o ameaçava de. expul­
sai-o do oorpo dos possessos. Isto pelo menos ê
do
�����1!°J:;;a���0in�ft�01:!�! ����ê · fe:0��;
autor o proprto Calvino.
VI. A scena encantadora
Reconstituamos ngora a scena total das Do­
s o n s
da 1 para recolher u p r fu da Jições que doJla
emanam.
E' uma soena donupcias com todo o oncnnto
d
da simplici ade antiga.
E' 1>ro•avel que osnubcnt!ls fossem parentes
de Maria Sma. ou de S. José ; o por ost:i razão
foram ooavidados Jesus o�fRl'ia.
Era no começo de sua vida publica e Jesus
tinha escolhido apenas uns cinco ou seis i cipu­ ds
los, e assistiu, com elles ao pequeno festi m, junto
com flua Mãe.
De repente,nm o
a faltar vinho, o que pro­
va que os nubentes portencio.m á classe pobre.
o brç
Maria Sma. percebe em a a o dos nubentes
e quer Jogo r l s,
poupa - h e como aos o vid d
c n a osi um
desgosto ou uma contrariedade.
s
Vô·se ne ta solicitude de Maria Sma. toda a
bondade do seu coração. é mtie,
Ella é mulher,
o o
c nhece, por experiencia, estes imprevist s da vida
domestica.
Repleta de féna divindade d J se esu , eJla
não ignoraque, para fa.zar um milagre, é o bas­
tante esteo qucror.
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-308-

Elia não duvida que o faça a seu pedido.


Acostumada aos seus obsequios de criança,
i sua suave submissão, ás suas divinas attenções,
ella sabe que 6 bastante d izer uma palavra para
ser attendida.
Até hoje Jesus não fizera nenhum milagre
exterior que o manifestasse ao mundo ; havia
pois razão de hesitar da parte de Maria Sma., sa­
bendo que tal hora estava marcada pela vonLade
do Pae Celeste.
Mas, havia ali uma boa obra a fazer, hllvia
um auxilio a prestar a estes recem-casados, que
mereciam, p1>Ja sua piedade, este acto de carido­
lll Intervenção.
A \'irgt'm Santu, com este olhar de dona de
casa, que penetra nos acontecimentos, e e!:>le outro
olhar de esposa carinhosa, que adyinha a neces·
sidade, comprehendcu o embaraço dos casados, e
ella não hesitou.
Lenmtou-se de seu Jogar e a proximaudo-se
do JePus, clla inclina· Se a sou Ou\•ido, e lhe diz :
J'inum non lwbeu.t-clles ndo tbn mais itinlw
(Joan. l!. 3)
Nada mais !
E para que dizer mais ?
Esta prece respeitosa, como velada na som­
bra de uma narração ó o bastante. Alaria Sma.,
não mostra nem precipitação, nem inquietação.
Ella expõe o facto com a plena certeza de
ser attend ida.
Jesus escutou e, virando l evemente a cabeça
do lado de sua Mãe ; com um sua,·e sorriso elle
Deixe estar, Senhora. cuidarei disso,
t'esponde :
embora não tenha ainda chegado a minha hora
-Q1itid mihi et tibi, mulier /
Alaria Sma. retnbue a resposta graciosa e o
sorriso do Filho, e dirigindo-se dircctamente p:J.ra

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- 309 -

os servítVees da fl'tsa. C!lla l he s d i z : Sei auo nno


)111 m a is vinho, mas o meu Filho vae provid1·neinr1
fazei h1do o qvc elle vos dissm', e Mari� :";ma. re­
toma o seu Jogar, junto 11.s outras Senhon.� "On­
vidadas.
Ninguem not:1ra o JK'CJU�no incidf'nte.
Em seguida, Jesus le\'Anta-se e tlirig•• se para
o lognr das nblu�·Õt>S, onrl(' lul\·ia umns urnas de
agua., ordema aos scr\'iÇal'S quo ni! crwhlim, e muda
a ogun. �m vinho.
O rnilagro csti1 fuito ! . . É o prlmc-Iro dos
mUagres de Jcsu!'l, fei10 a pt' dido de gua Santa
MãP.
Este mil:i gro ma11llestou a sua glrwia e a do
FifhQ de Deus, e os disripulos aeram nelle.
Tal ó a bollu, a toco11t.(', a �ignil'.ic�'l th·a SC(lna
das BodaR do Cnm\.
Tudo ali é suave. ó tlh•i no, a moslrn-nos em
sua 1·adianto união : o Filho e a ).Ue, Jesm1 o .Maria.
A bondade do Coni�üo de .Mnrfa, sun compa·
dPcida "igilnncia e Policitudr, o seu credito perto
do -TP!IUS, e do outro lfulo o :imor do ,Jesus para
sna lfão, e n. promptn rleferenda que lho manifeE­
ta, fazendo n seu p:>ctido o primeiro milagre, em­
bore Jlilo ti\·eisse chPgsdo ninlla a l1ora c1e mani­
festar-se publicamente.

O quadro elo Canó. de,·e alargar PP.


As gernc;Õ<'s dos filhoi:i rle Deu�. vilão reco­
nhr cer e apprender J1os por1nenores minuciosa­
mente C'Oneerrnrlos deF:le ft'Slim, o paprl do ln·
troductora, de iniciadora, d e medlanelr�
da Virgem Sma. perto do seu divino Filho.
Jesus sabia que havia falta de 1'inho nas Bo-

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-310-

das d o Cnnii. O s e u olhar penetra o futuro e oo­


uhece tudo. porém , (!l!o quer ser implorado.
F.' o direito do sua Omnipotoncia.
E' tambem o dever da nossa inforioridade.
Elle espera que brote uma prece de nosEo
�oração e quo esta prece l he seja apresentada por
sua Uãn San!issima.
B·1sta a Virgem Santa dizer,Jho : YinU?n non
habenl.
Ei'.lta elma não tem força, não tem alC>gria, não
tem piodadt'l u:io tem persey(>rançn. o logo Jesu s
responde : Quid mihi et tibl, mulier.
Deixe estnr, minha ?irão, eu providencia­
rei a isso !
E o m ilagre da misericordia d ivi na será ef·
fectuado em no;;so fa \·or.
Deus não muda. . . e tendo feito este primoi­
ro milagre pela intArooasíio de sua Sa.ntissirna
Mãe, é uma l'specio de leJ, que todos os outros
milagres sej1rn1 obtidos pola mesma intércossora.
Est'l scena Ião bella que fanto renico dá á in­
tercesst lo d� Virgem Saniv, não podia dl'.'ixar de
susci tar os ·protestos dos, protcst1mtes, e eil-os
a explorar e sto faélo, procurnndo destruir a sua
significaçào o dea..-iar as palavras. no pouto de ap·
proveitar-se dJquillo que exvlta a Mão do .Deus,
para comb1ter o seu culto o lazer acrcclitur que
Jesus lho dt'.ira uma respo�tn dura, çksdenhosa
e qll'.tSi insu!tante.
1'.taduzinrio este texto como elles fazP:m, por
falta de consultai' os textos pnral!olos, pela locu­
ção, JJ.Julher, que tenho ell comtigo, temos \•etda·
deiran11'tnto uurn palavra de repulsa, uma ropro­
hens.lo, como vimos nas respostas dadas pelo de­
mouio a Josus.
Ora, Jesus faz immediatamonte o milagre pe­
dido ; e a Sma. Virgem, ao ouvir a re8posta de

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-31 1 -

seu Filho, comprehonde iwi foi tamento que elle vae


operai• o mifagre. Como conciliar a negação e
.a nlflrmaçAo, a reprehPnsAo e a obedieucia, a
dureza p1 imeira e 11 bundnde subsequente l
Sorirt uma fl»granle e inconciliavel opposiç!lo
no modo de dizer e do fazer de Jesus Christo.
E' o basta nte para ver que tal interpretaoão
repugna tanto ao bom senro, oomo á d ignidndo
de Jesus.

VJI. Outra discordancia


nesta rt"solver umn uhim'.l objecção prolel·
tuuto, a respeito do texto csrndado.
No Evangelho citado_ ;\1 1 rin Sma. é chama­
dn diversas vt:z"s •Mãe de Jesus• A q uan do
o Sah •ador llrn d1rige a pnlaHa l'ham.1-a ltluJher,
em vt-i tio chamai-a •minha Jlaea.
1t uma objecçílo protestante quo provém de
Jlô'rO, da ignoraocia dos oo5tumes oriontaes o an­
tigos.
É claro q ue um lino escrip to ha 1900 annoa,
discord<1, rm certos pontos, dos costumes o usos
tln 110ssa 6pocn.
Entre os OriElntaes, como aliás, em certos pai·
zos occi<fent.:i.es, a palavra oMulhcr- ú um titu·
Jo d� nobrc>za, de dignidade, como a palu na Ho.
mem exprime valor. Di.ter : Fulano de tal é uru
llmnem, ê dizer que ó digno o bonrl\do.
Dizúr de uma senhor�. que é uma mulher
digna deste nome, é sigui!icur que é digna, affe·
.ctuosa, ca.riubosa.
A 110:.�m palana c mi nhs mãe• era só em pre·
gatla na intim idade, e nunca em publico.
Einre os Arabes, Syrios, Judeus e outros po--

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-317-

vos orientaes o filho chama a mlie -8en.hora»


ou clifulher.•
Em grego, o substantivo gyne, mulher, é mn.
termo completamente honroso.
Xenophonte na eoa : C'}/roped:la, collooa no&
labios do um dos ortitieea de Cyro, esta e:xpre11-
sAo : c'foma coragem, ó mulher (o vocativo f111f 110 ,
que é o mesmo do Evangelho).
·rodos sabem que o valor do certas exprmr
sões muda atravez dos tempos.
Camões chama de donzella, a uma Senhora,
mãe de filhos, qual foi Jgnrz de Castro e Tal U·
ta morta e pallida do11zella - Donzella era nee-­
te tempo uma senhora ainda joven.
Do mesmo modo chamavam-se outrora os
principes de Mercê, que boje humiUrn a qualquer
t0peiro.
Em certos Jogares, aa lingua pertugucza, cha­
ma-se de rapariga, uma moça honrada . . . B am
outros Jogares 6 um termo do despreso.
No 'tempo do Jesus Christo, a palavra Mu­

�fs ºiJs��,��a�r�u�;:,1.
lher era um termo de nob1·e2a. O Anjo empro-
Maria : e Bemdicla

Maria
O Evangelho não cita um f!Ó exemplo de Je­
sus ter chamado Sma. cllinha mãe • ; aem­
pre chamava-a e.Mulher.>
Tal vocabu1o não se adapta mais aos nossos
costumes modernos ; entretanto em certas familiu
nobres, os filhos dizE'm ainda : Senhor, meu pseL.
Senhora, minha mãe t . .. e em certos pai1es, na
Allemanha, �ntre outros, a palavra Mulher (Prau)
oontinúa a ser um titulo de nobreza.
Os protestantes podem Teri!icar na Biblia, que
tal expressão, eJn vez de ser injui·iosa ou fria, ê
ao contrario, um titulo de respeito e de veneração.
Na hora da morte, como ultimo brado de ao-

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--3 1 3 -

li<'itude e de amor para com sua santa Mãe. Je­


sus redirã a mesma palavra •Mullier> eis ahi o
teu filho.. (Joan. XIX. 26)
Acceitando que a primeira expressão envo)­
n am desrespeito ã Sma. Ylrgem, é preciso ad­
mlttir que Jesus, morrendo tenha ainda menos-­
presado soa Mlie.
E quem ousaria dizei-o 9
Longe disso ! A palana: Mulher, á uma expres­
aã.o respeitosa e humilde sobre os labios dos fi­
lhos, e nunca tal palavra póde ser tomada como
insultuosa.
Eis J>Ois resolvida a grande ditticuldade que
1uscitam os protestantes contra a venera<;ão de
Maria Sma. e n resposta clara á objecção que le­
vantam contra a intercessão da pura e santo. Mãe
de Jesoa.
Devem estar convencidos que tal objecoão
nasce da ignorancia do sentido da Bib1io, como
tambem da traducção perlida do texto do Evan­
gelho, mal traduzido, deturpado, para fazer-lho
dizer o que nllo diz, nem pôde dizer.
O texto protestanto •Mulher, que tenho eu
comtigo,� ê falso o pen·erso, e como o prC'vei,
não traduz nem o texto hebraico, nem o grego
e nem o latino : Qutd m:lhi et ttbi esl, mulier I
O sentido mais exato ê cDeize estar . . . eu
�uidarel disso.
Este texto ê claro, logico e expressivo.
:€: como ei Jeeue dissesse.
O teu pedido á uma ordem para mim, o que
pediree será sempre nttendido.
E para provai-o, Jesus fez o milagre, embo­
ra nllo tivesse chegado ainda a hora de operar
milagres,
Isso ê claro, insophi�maveJ, consolador e hon·
roso para Jesus e para Maria.

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-314-

VIII. Fazei tudo o que elle vos


disser !
Não rlevomos terminar esta expodiQão <lo mys­
terio de Cuná, sem meditar a� ultimas palavras
que formam como que a cha-ve de ouro desta
deliciosa scúna Hupcial.
Dirigi ndo·fiO aos servlçaes, Maria Smn. lhes diz:
Fazei tudo o que elle vos disser!
Como 6 curtn o como � sublima osta phrase!
:UarL1 a rcpr-te a todOi� nós, falando de seu
Jeau � : Fazei ludo o que elle vos disser. . .
E ' a palnrra que conduz a Jesus, que faz es­
cutar n Jt!sus.
Tal ó re>nhnente o papel de lntroductora
d a Virgem Sma.
Ob:1Nn1ram qu<.l l\Ia1·ia Sma. falou apenas
q_u atro vrtZHS, durante a sua vida, clla que dóra á
lur. o Vol'bO dh•ino.
E' pOl' isso mesmo QUfl e11a não tinlu\ que falar.
Elia fu\a\'a iuterio:-mtnte com esto Verbo,· cu
Filho que ha\·is1 gerado, .o quo f:láhiu d o sou tieio,
m<tS purmant->Ct'u em sua alma.
Estas duns palavras : Não têm mais t,'inho e
Fa.zei tuclo v que elle vos disser exprimem ad­
miravelmente o caracter da intercessão de Maria
e o culto que 1hc tributamos: caracter de me­
dianeira perto do Mediador-Ad ifledialo-
1'em mcdiatrix.
Pela p rimeira palavra : Elles ncio têm mais
vinho, cl!a expõe as nossas necessidades com
um iatercsse e uma autoridade matoruaes, sendo
ao mesmo tempo, a nossa Mãe e a M!le de Jesus.
Pela segunda palavra. : Fazei tudo o que ells
vos disser, ella. nos ensina e submissãCJ a Jesus,
�m retribuição da grnça que nos aloança. Elia

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- 315 -

ndo intercede s irulo para nos entregar a Jesus ;


e clla mesma nos dá o exemplo destu submissão.
Tal é o Sf'ntldo d esta scena evungelicn , em
tspirilo e rerdadc.
E o que divinamente completa ci;ota norraçlio,
é o moflo como se fez este
m ilagre. Por esl•
modo, deu Je.ms principio aos seus milaqres
t'flt Ca11â de Galiléa. (Joan. II. 11.
Notemos bem a expressno emp regad pelo a
Evangelista.
Ellc não dlz queé o primeiro milagre
do Jesus, com;id<!rado em si, mas sim o prl•
melro dos n1llagres, ou mais littcralmcnte
Aindà : O comP('O, a abertura dos milagres : lrti­
tium signorum.
Tal exprC'ssão indica que o Ev::mgelho, como
juntando todos mihtgres de jesus, os compara
e oe rrfot·o liO rnilagr<' de Cnná, corno a sul\ ori­
gem ou u. sua prlntelrn fonte, do mesmo mo­
do que o curso tts h gruçns es11irituaes que Jesus
Clu·bto df'\ia dcn1:imar sobre o. humunida do tive­
Hllll a sua fonte, o sc.u co1neço no milai:cro da
purificaç.;io tlc S. ,Joll.o Baptist·1, no seio de sua
mllc, no dia du Vlsltução.
º"ª· no my.:itcrio da Visitação, é pelo in­
termedi o, como pela voz de Maria que esta
pri me ira graça dC' snntl ri caçilo foi communlcada
por Jcsu�, u seu Precursor.
Do mesmo modo, n o mysterio de Canã, é
p elo intcrmedio da voz de Maria que Jesus co­
meça o curso lio seus milagres.
Ri�salta dcJ<tu aproximação, e do termo em­
preqado pelo Evangelho que Mari11 Smn. nos é
intC'ncifürnlmente recommendu.da como o lnstrn·
ment", u c anal , tnnto
dns graças tcmp oraee
como das graças e sp iritua es de Jesus, em sua
dispensaçO.o geral.

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-316-

E' esta toda a doutrina cathollco. respeitoa


da intercessão da Mlle de Jesus.
Esta doutrina jA se desprendia do my6terio da
Eooarnaçllo, no qualDeua dá ao mundo todna as
s
graça por Maria, na pessoa de Jesus.
E' deste facto que Saato Agostinho tira eHta
admiravel e profunda conclui;:ão, e C)ue : Deus,
nos
-tendo dado Jesus Cbristo por Maria, esta ordem
•niio muda mais, e Marta tendo collaborado a
cnossa salvação, na Encarnação, que é o prln·
..ctplo unlversul da graça, clla devo contri­
•buir em todas as outras operações, que silo de­
pendentes deste primeira operação.
Este argumento é uma deducçao thcologioa,
emquantJ a Scena de Ganâ é um facto evan-.
l{eUco.
O Evangelho confirma pois a doutrina.
De facto vemos nesteis dois factos evangeli­
cos : a Visitação e Caná, JeFus communicandG
as suas graças, tnato cspfrituacs, quanto tcmpo­
raes, pela Sma. Virgem.
Estes dois factos são sem replica. ; e si ois
pobres protestantes renectissem, deverJam reco­
nhecer que a acena das Bodas de Caná, longe
de deprimir o poder de Maria Sma., o exalta e.
o estende.

IX. Conclusão
Recolhamos ainda a ultima phrase, com que
o l':vangelista encerra a scena d-:- Caná Jeeus
,
manifestou a sua gloria, e seus discfpulos cr1-
ram nelle (Joan. 11. 11)
Trata-se aqul de sua manifestação co;no Deus,
pelo poder dos milagres.
Esta hora não Unha chegado ainda, como

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-3 1 7-

dl.sse Je sus, mas Elle antecipou-a em considera­


ção ao pedido de sua Santt1. �fãe.
ReUictamos bem soltre este ft1.cto. Que idéa
mais sublime, que testemunho muis t:Jaro, podia
dar-nos Jesus Christo do poder de Jntercett­
.ao de sua Mãe, do que este de antecipar,
em consideração dclla, a hora. da sua maniles­
taçi1o gloriosa ?
Deus nlí.o mudou, nem modificou os seUB
planos, porém fez entrar neste plano a suppli­
cação de Maria, como meio determinado d.e seus
designios, os quaes. sem este melo nilo st.:riam
o que são.
Segundo estes desigoios a hora da manifes­
tação de Jesus Christo não teria chegado, sem
o jntcrmedl11l'iO de Maria, ,como a graça de Je­
sus Cill'isto nüo teria descido sobre Joiio Baptis­
ta, sem a Visitação ; como uind11, Jesus Christo
não teria baixado do céu sem o seu consenti­
mento virginal.
Eis uma triplice e unicn verdade que con­
vém destacar bem nitidamente e em pleno rele­
vo, pois ellu. é fundada sobre factos eYange·
Ucos claros e positi vos. E admittindo estes fa­
tos, é preciso, necessarla.mente, admittir as suas
consequencias: e estas consequencias constituem
a doutrina da In•ercessálo da Mãe de Deus.
Reunindo em synthese estes grandes factos
e vangelicos e as suas consequencias, estamos
diante do grande e unJco plano divino, que
b1 este nde ao mesmo tempo á ordem da nntu·
..rezn, á ordem da graçn e á ordem da glorift.
Na ordem da nature2a, ella dá á luz o Filho
de Deus, e dá ao mundo a causa final da sua
creaçi'io.
Nu ordem da graça, clla nos dá Jesus-Eu-

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cbaristia, communicando-nos Aquellc que é a vi­


da das almas.
Na ordem da gloria, ella nos manifesta Je­
sus Christo e determina a sua gtoriticação. Os
Santos lhe devem a sua gloria.
Eis o que nos ensinam os três mystcrios
evangellcos: a Annnociaçilo, a Visitação e o mi­
logre de Caná.
O que começaram estes tr(!s mysterlos. e o
que nos ensinam, deve perpetunr-i-c através dos
ieculos. Não sn.o slmplcRmcnte trt!s factoJõ evsngcli­
cos, s!io trl!s mystcrlos que se pnpetur.rn, ou
continuam sempre a sua o.cçno my�teriosa.
Constantemente ,Jesus Christo vem no mun­
do por Maria. Conslnntemcntc Maria o truz a
nossas almas, pela 'Visilafllo.
Constantemente Maria. manifesta a gloria de
Jesus pelos prodlgtos que ella nlcunça de sua
mlsericordla.
Eis o que é Maria Sma. na obra snlvnd01·a e
santificadora do mundo.
Meditem cst�s mystcrlos, os pobres protes­
tantes trnosvladoe, pela livre lotcrprctaçllo da.
Diblla, e peçam a Deus que lhes dê a graça de
comprehcnderem uma doutrina tuo simples, tllo
logica, tilo consoladora e Ulo cvangelica.
A sccoa sublime de Caná, toma, deste modo,
proporções Infinitas. NAe é mais um simples fes­
tim de nupcias, é a imagem do grande festim,
ul
:i�e� � �eg�:ec���8�t�;!o�0��:ézi!º: i�: Kfi�
Santíssima para apresentar-nos a elle, e, si pre-
ciso J::��· �e� e e
�Í�� d�m1���� m��Jeºs�!�ãtgv��
Jesus por Maria, para que nós, seus discipulos,
creiamos nelle, como ncllc creram então os seus
cllsclpulos.
httn· /Jalexandriacatolica.
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C l\\ P I T U l:. O XIII

Morla e Assompção de Mal'ia

Os protestantes, impugnando, pelos suas mes,.


(lulnhas objcc�es a vida, a santidade, as prero­
gaUvas da Virgem Maria, durante a sua vida terre­
na, ntlo podiam deixar de perseguil-a, com o seu
odlo, ató na gloria do cóu.
De racto, rulo admlttem nem a morte glori­
osa de amor, nem a resurretçAo, nem a As·
•umpçAo da Mãe de Deus.
Para ellca, pobres e infelizes revoltosos contra
a doutrina Cotho!Jca, a Mile de JesuR, apezar de
ter sldc o Tabernaculo vit'O <la divindade, de­
via conhecer a podridão do tumulo, a voracida­
de dos vermes, o esquecimento da morte, o anni­
quilumento material de sua pessoa.

BCrv!º��e �:� �
r
d t : �i� � c�1:;0 � � �
e v
�!::
de: � � �Ss �:
tos, em recompensa das virtudes que praticaram,
q

teria. pcrmittido que o corpo purisslmo, do qual


ellc tomâra o seu proprlo corpo, tosse a p1·esa
doe
mulo ?
vermes, da corrupção, do. podridão do tu­

Oh! nao, n!o 1 A !é do Chrlstllo revolta-se


dcante de uma tal blasphemla, como o bom seo-
10 protesta oontra uma tal tdéa 1
Os corpos de uma Santa Margarida Afaria.
de uma Santa Catharina de Senna, do um Santo
Vigarto de Are. de Ozanam, de Bernadette, e de
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centenas de outras almas privilegiadas eetio mi..


lagrosamente conservados até em nossos dias, e

�:: !:: � :: ���r : � ::���;ci'o1r.f?.�


1 : � q e
s1 c e to 1e
Não póde ser!
Examinemos esta questão de perto, e refute­
mos 'a infame objecção protestante, negando a
reaureição e a AssumpçAo gloriosa da Mãe de
Deus, proclamando bem alto o canto da Liturgfs
Catbolica: Maria fat elevada actma dos Choros
tloa Anjos no Reixo Eterno.

L O facto historlco
Antes de discutir os motivos da Assumpção
gloriosa de Maria., e de refutar as objecções pro­
testantes a este respeito, narremos aqui o facto
bistorico, tal qual nos foi conservado pelos chris­
t4os dos tempos apostoHcos, pelos Santos Padres
e..Doutores da Egreja, formando a.través doa se­
culos, uma tradição firme, consttt.nte, ininterrupta.
Não é dogma de fé, porém o mundo Catho­
lico espera ancioso que, apoiado sobre a revela­
ção implicita da Assumpção na Sagrada Escri­
ptura, e na revelação explicita da tradir;üo, a
autoridade suprema, proclame esta verdade, e
adorne com eUa o immortal diadema de gloria
da Immaculada,
Eis, em resumo o que nos dizem os Santos
e os Doutores da primitiva Egreja a este respeito
Na occasião de Pentecostes, Maria Sma. ti­
nha mais ou menos 47 annos de edade.
Permaneceu ainda 25 annos na terra, após
este facto, para educar e torruar, por assim di·
zer,a Egreja nascente, como outróra ella educára.
protegera, e dirigira a intancia do Filho de Deus.
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Suas preces e a sua affectuesa caridade fo­


ram a consolação dos primeiros fieis.
Ella terminou a sua carreira mortul, na eda­
de de 72 annos; tal é a opinHio mais co mum. m
A morte da Sme. Virgem foi suave, como o
Unha sido a sua vida: Elia vivérn de amor, ella
morreu de amor.
Chegada ao cume da mais incomprehensivel
santidade, a sua alma desapegou-se calmamente
m
de seu santíssi o corpo. O
seu ultimo suspi.ro
foi uma aspiração de amor,
que a levou como
qu<:: naturalmente até ás alturas do céu.
Os nove Choros dos Anjos levorum esta al­
ma incomparavel até no Seio de D eus; onde o
Padre Eterno a recebeu como a sua Filha
amada, o Filho corno a sua querlda,
ltlüc
e o Es p irito Santo como a sua Esposa lm.Jna·
t."u)ndn.
Parece certo que foi em Jnusalcm que Ma­
ria Sma. deixou ei;te mundo, para. tom:ll' o seu
\"ÕO oora o céu.
Os Apostolos que ainda nfio tinlrnm sollrido
o martyrio, estavam presentes u esta bcma\'en­
turada morte, excepto o Apostolo Silo Thomé,
occupado neste tempo, a prégar o E\'angelho
nas Indias.
Jesus quiz dar esta suprema consola o t\ çã
tiUB Snntissima Mãe e a seus Apostolas.
Ahi estavam São Pedro, Silo João com os ou­
tros Apostolos, e dh"crsos discipulos, entre os
qunes se destaca SAo Dyonisio Areopagita, dls­
cipulo de São Paulo e primeiro Bispo de Paris,
que nos conservou a na.rraçilo drstcs fact1.1s.
Diversos Santos Padres da Egreja narram
que os .Apostolas foram milagrosamente levados
r
r:�: �: ss:���e��u��(�� ������
cedera o desen-

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Maria Sma. os abençoou uma ultimf. vez,.


c onsolou-o& ; provavelmente, recebeu das mfios
de São Pedro, o: ndoravel Sacramento da Eu­
charistta, que, ató este din, tinha recebido diaria­
mente das mnos d e São João.
Depois, sem mr-tcstia alguma, sem soITrimen­
to, sem ngonJa, ella entregou a sua alma, toda
abrazada pelo amor, nas mil.os "de seu Creador e
seu Filho.
São Joilo Damascen o, .um dos mais illuEltres
Doutores da Egreja oriental, conta que os ficiB
d e Jerusalém, ao terem noticin do ritllcclmento
de sua Mãe querida, como a chamavam, viC'ram
em multidão prestar-lhe us suus homenagens, e
que logo os milagres multlplim1rnm-se em redor
desta reliquia sagrada de seu corpo.
Diversos mortos ressuscitaram ; cégos, pnra­
lytlcos, enfermos de toda cspccie, roram repcnti4
namente curados, ao contacto do corpo du Mnc
de Jesus.
Quanto aos Apostolas, estavn m como dividi
dos entt·e a dor e a aleg1·in, ficando em oraç11o.
perto do santiss imo corpo, exaltando com cnnticos
e louvores as glorias desta Vir'gem bemavcntu
rada, que déra A luz a vida do mundo, Jesu!ll
Chrlsto, e que concebera e trouxera em suas en
tranhas o Filho do Altíssimo.
Sepultn1·am o Santlssimo Corpo com uma vo
neraçllo de filhos amorosos, envolvendo-o em
alvas mortallrns ; seguidos pela mullidlio dos fieJH
acompanhados pelos Anjos, foram depositar ª"
preciosas reliquias num tumulo novo, no jardim
de Oethscmani, onde era a sepultura da sua ftt.
milia, e onde já repousavam os corpGs de snc
Joaquim o de Santa Anna.
Fecharam o sepulcro com uma grande Jlll
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-323-

dro, cm fórma de porta como era costume neste


tempo.
Três dias depois, chegou o Apostolo São
Thomé, que e. Providencia divina parecia ter
afastado, para melhor manifestar u gloria de Ma­
ria, como outrora linha-se servido de Tbomé, pa­
ra manlrcstar o racto da resurrctçno de Jesus.
Thomé pedia com instancia, de poder contem­
plar, uma ultima vez, os traços augustos da MAe
de Deus.
sno Pcdl'O, sa.o João e outros Apostolas. que
ficaram cm oração perto do sepulcro sentil'am­
se felizes em accederem a este desejo, que era
tambcm o seu desejo pessoal.
Quebraram os scllos da pedra. . .
Abriram o sepulcro mas, o b ! prodígio.
No lagar, onde tinha sido depositado por el­
les mesmos, os despojos mortucs de Maria Smo.. ,
não encontraram sinilo as mortalhas, cuidadosa­
mente dobradas ; como outrora no tumulo de>
Salvador resuscitado, as Santas Mulheres, São Pe­
dro � São Jollo tinbam encontrudo as mortalhas
dobradas que envolveram o Corpo de Jesus.
Um perfume de uma suavidade celestinl exha­
Java do tumulo.
Como o seu Filho e pela virtude de seu Filho,
a Virgem Santa resuscltára no terceiro dia.
Os Anjos retiraram o seu corpo Immacula­
do e o transportaram para o céu, onde elle goza
de uma gloria lner?avel.
Nada é mais autbentico do que estas antigas
tradições da Egreja sobre o mysterlo da Assu.rn­
pçao da �me de Deus.
Encontram-se estas narrações nos escriptos
dos Santos Padres e Doutores da Egrcja, dos pri­
meiros scculos, e são relatadas no Concilio ge­
nl de Chalcedonla, em '51.

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-324-

II. A niorte de ll'.ilaria


Os protestantes que não acreditam sinilo em
si :nesmos, nilo darão fé á estas narrações au­
thentlcas, dos primeiros Seculos, que formam o
deposito sagrado da Tradição.
Elles querem provas.
Vamos dar-lhes estas provas agora, mostran­
do que estes factos e verdades dimam1m dire­
cta, embora implicitamente do Evangelho.
O facto da morte de M1ria ó indubitavel, em­
bora as clrcumstancias fiquem cm p�rte desco­
nhecidas.
Mas como e porque morreu t.farh Sm:.i. ?
Tendo sido concebida sem pcccad'\ c·lla es
tava isenta da s�ntença de morte, proferida con
t:a a humanidade.
A morte ó o castigo do pcc .,ado. Sfipendiri
peecati, mors. diz o Apostolo (Rom. VI. 2:))-Sli·
mulus autem mortis, peccalmn est. (1 Cor. XV. 56)
Esta morto, dizem unanimemente os Snnto�
Padres, não loi causada, nem p<'lu mnll'stia, nem
pela idade, mas unicamente pela violenda do
amor divino.
O amor tem uma triplice inOuenci:i cm nos
sa vida e morte.
Todo� os homens devem morrer no nmo
de Deus, sem isso não ha snlvaçilo; este amor
é a graça de D eu s na alma.
Outros morrem por nmor de Deus. E'
a morte da ph:ilango gloriosa dos no,;sos mar
tyres, que, dando a sua vida por amor dC' Deufl
dão�llte u. suprema prova de amor que o homcn1
é capaz de du.r.
Afaria Santl.ssima, morreu no amor, morre 1
por amor, mas morreu sobretudo de amor.

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O amor foi a. causa da suo. morte.


Morrendo no amor, Maria morreu como Mlle
dos homens.
Morrendo por amor clla morreu como RaI...
D.ha dos martyres.
Mor1·endo de amor, ella morreu como Miie
de Deus.
E' a unica morte que J.he convinha, e que
podia separar a. alma de sou corpo vlrginul.
O sublime Bossuct diz muito bem, e as suus
palavras sno o resumo do toda a tradição cn.·
thollca.
•Credes.me, almas santos, diz ellc, nn.o pro�
cure-Is outra causa da morte da Virgem Santa :
o seu umor era lllo ardente e t..'lo lnOamndo, que
não podia mais cxbalar um suspiro, que não rom.

f �� ri: �� � �: �� º<;{f� d:�;���� �� ���


08 8 0 8 o p
or 1 c r o s a r

�� :
mania do seu corpo ; nlio podia lançar um sus�

ir .
ura o céu, que nüo nttro.hlssc u suu alma

•Disse que a sua morte foi um milagre ; de·


vo mudar a expressão: nAo foi um milagre, an­
tes foi a cesuação do milagre.
O milagre continuo, 6 que Maria vivia se­
parada de seu querido Jesus.
1Ell11 vJvla entretanto, porque tal foi a von­
tade de Deus, que fosse conforme a Jesus Cru­
dftcado, pelo martyrio iosupportavel de uma lon­
ga vida, tanto mais penosa, quanto mais neces..
oarla lol li Egreja.
•Mas como o divino amor reinava em seu
coração, sem nenhum obstacul", elle ia nugmen�
tando dia por dia, por si o pelo cxcrcicio, ao

C :� �;:Z �: g� � �!�
º c g intensidade, que a terra.
c nt t

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Tal é a unica causa da morte de Maria: a


vivacidade de seu amor. (1)
Do que temos dito da Immacu.lada Conceição,
pode-se e deve-se concluir que, a morte sendo
um caPtigo do peccado original, aquelle que fos­
se isento deste peccado, ficaria, pelo facto, isen­
to da morte.
E Maria Sma. está neste caso. A lei fulmi­
nada contra todos não se applica a clla, como a
lei de Assuero nno attingiu a Rainha Esther. (Es­
tber XV. 13)
Recoibamos, sobre o assumpto, uma passa­
gem admiravel de São Cyrillo, confirmada, em
1672, pelo Concilio de Jerusalem.
•Nilo é ao contagio do peccado, diz elle, que
se deve attribuir a morte da Virgem Santissima,
mas sim As disposições naturaes que estavam
no homem antes do peccado.
•Ü homem, de sua natureza, estava sujeito
A morte, mas a uma morte benigna.
«Deus, por uma graça especial, suspendeu
em seu favor, a.s leis da natur eza, e o fez lm·
mortal.
cOra, a Santissima Virgem rol lambem en­
riquecida desta prerogativa. Embora ella fosse
cumulada de bençams e Isenta da menor man.
cha, entretanto, ella carregava em si, pela bu­
manidnde, o germen da morte, e devia ficar SU·
jeit& a esta morte. Deus, em sua bondade pre·
servou-a, submettendo este privilegio consen­ ao
timento da sua criatura.
•Deste modo, ella teria podido ser levada
viva, ao céu, si o tivesse querido, e si tal hou
vesse sido o seu bel prazer.
1) Bossuet D. Sennon aur l'Assomptlon.
2 polnl-S. Francisco de Salles: 1 e 2 Serm. A.88.
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Mas sabemos que ella nilo quiz fruir deste


privilegio•.
Tal é a melhor cxpllcaçllo deste mysterio
que hoje todos os theologos adoptom e defendem.
DE" facto, póde-se considerar a morte do ho­
mem sob um duplo especto : ou como conse­
qucncia natural da constttulçAo de seu cor­
po, composto de elementos que se vno desagre­
gando naturalmente; ou como consequencin do
peccudo orJglnnt.
Si Adão não tivesse commcttido o pcccado
original, o homem, por um
prlvilcgil> singular
entre os demais sôrcs vivos, teria tido uma vida
perpetua, pois o fructo da nrvorc da vida teria
sido o sufficientc para sustentar as suas forças,
que causas internas ou externas poderiam enfra­
quecer.
Adão peccnndo, tal privilegio lhe foi retira­
do ; a arvore da vida não lhe deu mais o seu
fructo, ea natureza retomou os seus direitos : Era
preciso morrer.
O pcccado original fica destruldo em nós,
pelo baptismo, mas os consequencias deste pec­
cado permanecem; e uma destas �onse&uencias é
a fnlk'\ do fructo da orvore da vida; donde o ho­
mem deve morrer-.illorle tnoricris !
A Mãe de Jesus, não obstante a
sua lmma­
culada Conceiçüo, não tinha mais o fructo da
arvore da vida, e como tal ficou sujeita á morte (2)

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Acredita-se, entretanto, que, por um privile­


gio particular, Deus lhe deu o poder de não
morrer, si assim o prereris1'e.
Era apenas um privilegio, não era um direi­
to: e Maria não quiz fazer uso deste privilegio.
Quacs foram as razões da cscelha da morte
pela Immaculada ?
Podemos assignalnr quatro :
1. Para refutar de antemão, a heresia dos
que mais tarde pretenderiam que Maria não foi
uma simples crloture como nós, mas pertencia
à natureza angelical.
2. Para em. tudo, ella assemelhar-se a seu

imo volunt ptum esse sentire, ncc mortem, ncc aliquam ori­
glnalls peccall pro-mlltatem a peccato proveoJsse Vlrgloi,
t1cd a voluotate Dei, qui slcut a pec<:ato prrescrvavlt mun-
�a�I f.tr1�cc;J�i18��o���b�::;:. custodisset nlsi cnm conror-
mortu�:
redem ª
��loc��t�:p�:t.1ci1u�biií!�r:'ã: r:11�n�tsf�it �
r
��� aicut docrt. s. Auguslinus e unanlmis conscn­
swi theo1ogorum, etlamsl Adam non peceas11ct, nlai allo­
qutn speciali Dei dono conservaretur, scd proprloo naturm
rcllnqucretur ex pugna conttnu.a caloris nativl et bumld.1 ta·
dicu.lls:, tandcm perirct. . .
Ita Dentam VJrgtnem attirmamus mortcm suetlnulsse,
non tanquam p<l!nam peceati quod lptia contr&xerit ; scd
vel tanquam con11Uoncm adnexam, corrupttblli naturm ho·
manre, vel certe ex debito modi naturallB conceptlonl
ortus sul, s et
Obnoxla fult mortl corporle, non obstante gratia prm­
scrvatlonJe a peccato orlglnaU, qula Jlcet Deus grathe
suro prrevenerit inrectloncm anlmre, non tamen proocavlt
éarnls Ioodltatem, 1.iuam secum olfert uaturalis modus pro·
pagatlonls b.ll!lancc per st>minalem ratJonem ex Adam.
Et ldeo, ratione llllua mansit B. V. mortls discrlmlnl
t u,
��u°.:1�r1�J�a:;n:I'aªf:�oi!1�ft001���h�� s te��� s�
famea, s!Us, et alli corporales labores. (B. Angelus de Pu;
� expos. Symboll. llb. ó, C. 622),
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divino Filho, tanto quanto o permittisse a difte­


rença de sexo.
Ora, Jesus submetteu- se á lei geral da morte..
Maria Sma. quiz Jmital-0.
3. Para não perder os merecimentos da ac.
Celtaçflo resignada da morte, nem o encanto que
a alma experimenta ao ver-se livre da vida mor­
tal, para entrar na vida eterna.
4. l'u ra servir-nos de modelo o ensinar a
bem morrer, com as disposições de resignação
e de total abandono que a vista da morte inspira.
Podemos polti resumir esta doutrina, dizendo
que Dcu3 crcou o homem mortal.
Elevou-o, por privilegio, á immortalidade pe­
lo lructo du arvorc da vida,
O pcccado original reUrou-lbe este prhi­
leglo,
Maria Sma., apesor de immaculada, não ten­
do este 1ructo du nrvore da vida, ficou sujeita
é. morto.
Deus conccdcu-llle o privilegio (não o direi·
to) de ser lmmortul, conforme a sua vontade.
Ella prcrcrlu ser semelhante a seu divino
Filho, cscolli.endo voluntariamente a morte, e nBo
a sorrrcndo como castigo do peccado original
que nunca tivéra.
Quiz morrer... e morrer de nmor.

Ili. A sepultura de Jtlaria


Não devo deixar passar cim silencio a palRvra
de um dos testemunhos oculares da morte e re·
surreição da Virg('m Immt1culnda.
Junlos com os Apostolos assistiram d morte
de Maria Sma., São Thimothco, primeiro Dispo de
Epheso, Dionyeio Arcopagita, e o lkma". Hiero­
lhéu.

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--330-

São Dlonysio deixou por escripto esta scena


sublimo, narrando-a em seu livro cOs nomes di­
vin"8• (3) o dirigido a São Timothco. A nuLhentici­
dade deste livro nunca foi ctiscutida, sendo obra
do proprio São Dionysio.
O Santo escreve pois : •Uioroth6u, o nosso
Mestre sublimo, brilhava entre os Ponti!ioos in&­
pirados, como vis�s. quando juntos, nós fomos
contomplar1 vós o eu, com muitos outros irmãos, o
Corpo vonoravol que produzira a vi<la o contivera
Deus.
Ali, oncontravam·SO Thiago, irmiio do Senhor,
e Pedro, Corypheu e Chefe supremo dos thoolcr
gos.
Todos os Pontifices quizoram, cada um a seu
modo, celebrar a bondade e a 01nnipotoncia de
Deus que se revestira da nossa onformidado.
Ora, dep('lis dos Apostolas, o nosso Mostro i1-
lustre sobrepujou os outros piedosos doutores,
todo oncantado o oxtasiado, fóra do si, todo com­
movido pelas maravilhas quo publicava, o estima­
do por todos aquellos quo o conheciam ou ou­
viam, considerando·o como um homem inspirado
do c6u, e como o digno pancgyrista d:i dil"indade.
Mas, para que relembrar·\'OS, o quo foi ditç>
nesta assembiéa'?
Si a minha memoria ntlo falhar, parece-me
ter ouvido muitas vezes de vos�a bocca, fragmen­
tos dostes dh·inos louvores. Tão grande ora o
vosso ardor no que diz rospoito ás cousas santas.
Deixemos estes mysticos anhelos, que se não
deve divulgar entro os profanos, e quo vós conhe­
ceis perfeitamente•.
E�tas palavras, oriundas de um testemunho

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ocular, além de relembrar nos a morte da Virgem


Santissima, constituem uma prova ineffavel de que
o culto do l\Iaria Sma. fc..i inaugurado polos pro­
.Prios Apostolas.
E com quanto esplendor e onthusiasmo !
Os primeiros chrisli'ios não podiam lembrar
estes factos sem profunda f'moção.
Os Apostolas, milagros�mento lr:msportados
das diversas partos do mundo, os mais iUustros
Jlontitices da Egr('jo, um immonso concurso do
lieis, todos ali rPunidoa, pa!'a venerar o corpo quo
tinha gçrndo a Vldu. o contido o proprio Deus..
lIJ.via ali canticos. Jiscursos o panogyrioos
1ão eloquentes e commovi<los quo São Timotheo
--0 São Dionysio os reci1avtim mais tarde, pura a
sua propria consolação.
Que mais podia fuzor a Egreja nascente, a­
pastolica, em louvor da Mile de Deus '?

Por consoladora qt10 fosso para Maria, a pre­


sença dos Apostolos, ella f'Sperfwrt com ardor uma
outra visita: a de seu divino Filho.
E esta visita não podia faltar-lhe.
Siio Grcgorio de 'l'ours (4.) resumindo as anti­
gas tradições, escrevo:
•Quando a Bcmavonturada Virgflm chegou ao
•termo de sua vida, e que foi chegado o momen­
•to de deix111· esta terro, todos os Apostolas vin­
cdos dos diversos Jogares que estavam evangeli-

4} Dculquo lmpleto a B. V. Maria hujus vltoo eursus


congrcgati suol omnes Apostou. . . cumque audisscnt quis
eeset assumenda de mundo, vlgilabant cum M slmul. Et
.ecce Domions Jesus arlveolt cum angclls suis, et acclplen.s
..animam ejus, tradldit Micbaell Arehaugelo. (Oreg. Turon. De
.ator. mart. e. IV)
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-332-

•znndo, juntaram-se cm sua ermida ; e tondo ou•


•vicio do seus labios quo ia morn•r, vel:t\'l\.Dl com
cella•.
cE eis que \'Cio o Senhor N'.lm seus 11njns e.,
•r('CObcndo o. alma ele sua Sautissimn 2'.Iàe, con­
•fiou-a a São Miguel.-
São João Damasceno amplifica ainclJ ost.a
tradição antiga.
•Enti'io realizou-se. diz o Snnto, um ontro­
•prodigio. O proprio Hei dil"ino veio 110 euro11lro
c 1o sua m!ie, para recolher com ns Eusis mãos di­

• 1·inas, a alma sant:i o immaculada cio )l:lrh.


•Esta bemavcmturoda Màc lh" clif'st• rn!l1o :
•E' cm ,·assas milo�. ó mflu Filho, que r<mct­
«lo a minha almu. Dig11ee·"os acolhd·t1, µnill "!la.
•l'08 é querid:.1, e cllu \'OS d�rn o tl•r t"ido imma..­
cculada.
•E' cm yossas mão!' o não ti. tínn l}U<' 'ntr�
ªS::O o meu corpo. Pn•sct ,·uo dn 1·0 1 1 up1:1i o t sta
•morada quo Yós dignnFtN!· t·Frol hPr, e á (]uaJ.,.
c1>elo \'OSEO nascimento, communit:UE-l< i:; um 111 in­
cdpio tle eterna incorru ptil1ilid::alc.
c Sêde \'ÓS mesmo o consol::ióor do:\ mf'us filhóa
c:-imados, que dignastes d1amnr \"OSEOS irmãos. A..
«bt>rn;nrn que cu lhes dou, iiela imposiçiio da.S­
•mãos, juntae no\•as o nbuudant()S b<.>11çm1s.•
Elevando então as mãos, como nos é ('ermit...
ctido suppôr, clla supplicou as benç:;ms d idna&
csobro os .Apostolo@, o lendo torrniuado ella ouvtu
«a YO.i do seu Filho.
«O' Mãe bcmdita, loYantae-vos, vinclo, \"Óti qu&
'Sois n amiga de meu coração . . . n maia bolln 01\­
'U'O as mulheres.•
São João Damasceno nos mostra, cI.-pois, o cétt
hlteiro, vindo ao encontro da alrua da Hemav(>n­
t.urada liaria . . . cercando, como uma guarda d
Jionra este Tabernaculo vivo de um Deus vivo.

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-333-

.
No dia seguinte, desdo a a u roro , os ApostQ,o.
lofl e os fiei�. coudu?.iriim o corpo Yeneravel para
•leigar.que linha Bido de�ignndo pelo proprio Jeaup,
O cortt>jo ia segu indo, numa. solemne lenti-­
dü.o pam o Gt!thsemani.
Em frentu marchava S. João, levando a pal­
m:'.l sngratla tio Arrhanjo S. Gabril.'l.
Pt•t.h'O, o Pontif:ce Su pre mo, reser\•át·a para
si o dir�ito Uo carre>gur o eEquire, o linha ndmit­
tido Pu ulo á lio1m1 do Rcrd r-�he elo segundo.
S,·J?ui::uu os ou1ro� Aµostolos o os <liscipulot,
ter:rlo lod1:u:J act·sns tm m:1o. (5)
Clwgando om Gollh;uurnni, dellOSitaram o es­
quife dcante do tumuloabe1 10,c preparado porellcs.
Pro:;trnndo·sc do joclh03 tributaram-lho a ho­
menagem do dcspeditla, cm meio de suas lagl'Í­
mas o solutos
Depositaram-no depois no tumulo, que foi
cuidadosanrnnto feC'hado, sella do e guardado, dia
tt noit e pl11os d irnipul os e os fieis, ató ao dia, em
.que São Thomá, chegando atrazado, pediu p ara
vêr uma ultima vez a $U8 Mãe querida.
Foi n"""'ª o ccasião que constataram a resurrei�
ção gloriM•·\ da Mãe de Jesus.

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-- '.134-

IV. A resurreição de Maria

Como já disse, nüo existe nenhuma prova


explicita, sensível, da resurl'eiçfio da Virgem
Sma., porém, notcm<-'S que por fnlta de provas
explicitas,
ha outros muitas, implicilas, de auto.
ridade, que não deixam subsistir nenhuma duvi­
da a este respeito.
Os Apostolas, ao abrirem o tumulo da MAe­
de Jesus, para sallsr1 zer a piedade de São Tho·
mé o sua propria picc'tl'lc, ntto encontrando mais.
o corpo sagrado, tiraiam uma inducçlio do fae·
to, ooncluindo e. sua resurrciçilo.
Nno er apreciso vêr 1\Iaria rcsusc itada &
glorllJcada, para crê!· cm sua resurrei çiio.
A desapparlçilo do corpo, as circumstanclas
cel estes da sua morte, a f'UU santidade, a sua
dignidadQ de MO.e de. Dnus, a sua Immaculada.
ii
Conceição, a sua un 1o com o Rcdemptor, tudo­
isso constitue uma prorn irrctutavel de sua As­
eumpçS.o.
A assumpçüo consiste, como o exprime a­
propria palavra : assmncre, que n alma da Sms�
Virgem, depois de tCL'�sc trnido do novo uo cor.­
po� por um pl'ivilegio particular, foi transpo1 t&­
da para o céu, pelos Anjos.
A Assumpção de Maria Sma. ditferc es­
senclelmenie dn Asceução de Jesus C'brlsto.­
(ascendere) que sobe ao céu, pela sua propria.
virtude, emquo.nto Maria é tr:rnsportn.da pela von­
tade de Deus.
Como se póde raciocinat· para estabelecer,
��I!!.d�e,urança, a
Assumpç:1o dn Yirgem lmma-

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- 335-

Primefro argumento
Todas as obras de Deus sli.o de uma perfei­
ta harmonia.
O seu fim corresponde ao começo, e o con­
juncto corresponde ás diversas partes.
Si, após uma vida tão santo, a morte de Ma­
ria Sma. fosse semelhante á morte dos outros,
seria isto um milagre mais admi.ruvel que aquel­
le d.e u ma morte analoga a sua vida.
Entmndo de modo sobrenatural nesta vida,
é necessarlo sahir della de modo sobrenatural.
Tal sobrenu.tural, torna-se como natural pa­
ri tal alma.
Ora, como vimos longamente, Maria Sma. pe­
la sua Immacularla Conceiçllo entrou, de modo
sobrenatural, nesta vida; era preciso pois que
sahisse desta vida de modo sobrenatural ; e es­
te modo era a resurrclção e assumpção ao céu,
em corpo e alma.

Segundo argumento
A morte deve ser o ec.ho da vida. Ê a lei
fLxada por Deus : Talis vila, mors ila.
Ora, t!lll Maria Sma. tudo foi, nilo simples­
mente de uma santidade eminente, mas ella foi
em tudo a mulher bemdila, sem igual, superan­
do todas ns mulheres, como lhe annunciou o
Archanjo.
Era preciso, pois , que ella fosse tambem su­
perior a todas as mu lh eres, cm sua morte.
Morrer, e estar sujeito á destruição do tu­
mulo, é a sorte de todos os homens.
E entre os homens, ha um certo numero,
cujo corpo Deus preserva da corrupçD.o, em re­
compensa de suas virtudes, de sua angelica pu­
reza, sobretudo.

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- 336-

Deus devia elevar Maria nt6 ncima. s de tes


pril'ilcgiados. E como fazei-o, sinü.o permittindo
m t a sua alma se reunisse
que, apó8 a or e, dé
s
!i°a:ºg:z=�������i:aJ� ::.��t�º?
cm corpo e al-

Tei·ceiro argumento
A dignidade de Míle do Deus exigia que
Deus nno dei xasse no esquecimento do tumulo,
aquella de quem tomou a nossa humanidade-.
Maria Sma. foi feita pelo Verbo di\'ino, em
vlata de produzil-o em sua. Immanidnde.
Deus fez a sua Mãe com suas proprins míloi::;
e EHe a fez como qulz ser feito por C'llu.
Deus coll oc ou nesta Miio p1·ivilcglada e uni­
ca como que a previsão do todas r.s prop1 iil,lades,
que della devia tomar cm sua cunc:cpçào e em
seu nascimento.
Elie prop!lrou a sua hunrnnicludc pl1ysica e
moral nu propria humanidade de Maria.
E' o que fez dizer aos Santos qu.J Maria é
um c11mo Jefus Chrislo começado.
E' o 7'abernaculo que não é feilo pela.y mãos
dos homens, isto é, ntlo é desta crcação IIcbr. (
IX. 11).
E' esta Arca da santificação (Parn.l. 1.'11. 8).
Donde devia s urgil' a gloria do l'niyenito
tlo Pae, cheio de graça e de verdade (.Jonn . !. H).
Eis porque Deus, devendo sahir Jc:-.ta arca
bemdita, cheio degraça, ena Mal'la, dcv1a ser cheia
de graça; e como Elle devia ser o fructo bem·
dito deste selo (Luc. 1. 42) clla foi boudila pa.
ra dal·o á luz (Luc. I. 42) ; como Jesus devia ser
a flor, ella foi a haste (lsaJ. II. 1) de tal modo
que se póde dizer que a humanidade inteira do
Verbo estava como em germen na Virgem Sma.,
donde brotou, como a Dor da sua virgindade.
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- 337 -

E depois como é que se poderia conceber que


�ste mesmo seio virginal, radiante de tanta pu­
reza, ado rnado de tantas graças, cumulado de
1antas bençams, enriquecido de tanta santidade,
sendo como que a substancia e a fórma do proprio
Jesus Christo, tenha sido entregue A corrupção
.ao tumulo ?
Como se póde ndmittlr que este mesmo po­
der e este mesmo amor, que conservaram a sua
"Virginal integridade antes do parto, durante
e após o pa110,a tenham, esquecido ou antes, te­
a.ham se esquecido, deixando-a licar o opprobrio
da natureza humana e a inramia da nossa con­
djçao no tumulo?
Longe de ter a ousadia de df'Lel-o, diz Santo
Agostinho, tenho hOL'ror ao pensar nisto. Senlire
non valeo, dicere perlimesco.
Si o Filho de Deu�, continúa o Santo, tivera
<> poder de conservar -virgem o corpo de
Morfa em sua Conceiçiio, Elle tinha ainda o me s­
mo poder para conser'l•al·o tncorrnptlvel
.no turnulo.
Si tivera este poder, Elle tivera esta vonta­
de, e si tivera �sta vontade, deve tel-o feitti.
Logo, Maria Sma. devia resuscitar dos mor­
tos logo após a sua morte.
Quarto argumento
Adignidade do Filhode Deus feito Homem
-exigia que não deixasse tumulo Aquella de
no
quem agra o
recebera o seu Corpo s d .
Sma antes da
Si Maria . al
viJida do S vador
"foi, s Santos, um como
no dizer do Cltristo come­
çado, podemos e devemos concluir qu após a
e,
.ascencão, Maria Sma. m
foi um co o resto de Je­
:t;US Christo. Tal expressão ó to:n:i.da num �rP'Yo
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- 338-

metaphorico, sem duvida, para melhor salientar


a união intima entre Jesus e Maria.
A carne de Jesus tinha sido tomada da car­
ne de Maria. A carne de Jesus uno é a carne
de Maria, mas a substancia da carne do filho é
ttrada da substancia da carne da mãe. Caro Je­
su, caro Marias, ou melhor, Çaro Jesu ex carne
Jlariae.
A carne de Jesus é tanto mais da carne de
Màrla, que esta lb'a transmittiu virgem, e que
Jesus a conservou incorruptivel.
Donde se póde concluir que Jesus Cbristo
é devedor a seu proprio Corpo, o conservar in­
corruptivel o corpo de sua Mãe.
Si assim não fosse, Jesus Chrlsto traria na
gloria o seu Corpo Sllgrado, e emquanto este
Corpo seria adorado U;t gloria, a substancia, de
que fôra formado este Corpo, estaria sujeita á pu-
trefacção do tumulo. .
São Bernardo vae nlém e diz que não so­
mente convinha que Jesus Christo preservasse
da corrupção o corpo rle sua Mãe, mas que de­
via fazel-o; e o santo dá como razilo : que a in­
corruptibilidade do Corpo de Jesus Christo pro­
cedia de u m principio de incorruptibilidade que
recebera de sua Mil.e.
Non poterat Sanctum videre conuptionem,
quia de incorrupti uteri virore ortum est ( Serm.
35 in Cant.)
Privilegio este que, como os demais privi­
Jegios, provinha, sem duvida, de Jesus Christo
como Deus, emquanto Elle o recebia de Maria,
como homem, mas que suppunhn que eUa possuia
tal privilegio, como a haste i
J ossue as proprieda­
des que deve communicar á flor.
Jesus Cbrísto devia pois preservar a sua
M&c da corrupç!io do tumulo e glorificar, pela
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resurreição, esta carne que foi a substancia don­


de Ellc tirou a sua propria carne.

Quinto argumento
A arteiçllo filial de Jesus, para com a sua Mãe,
exigia que nílo a deixasse no esquecimento do
tumulo.
Póde-se dizer que não ba marca de respei­
to, de obsequio, de dedicação e de amor, q.ue
Jesus nn.o tenha prodigalizado á sua Mil.e queri­
da, cada vez que se apresentava a occasião.
Ora, tal dedicaçllo e tal amor não podem
conciliar-se com uma demora prolongada de Ma­
ria, no tumulo.
Uma tal demora pareceria, da parte do filho,
uma especie de esquecimento, e até de abandono.
Seria até absurdo pensar que Jesus não te­
nha feito para sua Mãe o que qualquer um de
nós faria para a nossa propria. mãe, si o pudes­
semas fazer.
Supponhamos que a sorte de nossa mãe es­
tivesse em nossas mãos, e que tivessemos o po­
der de realizar para ella tudo o que nos ditasse
o nosso coração de filho ; que tarjamos nós?
Antes de tudo preservarlamos a nossa ma.e
da corrupção do tumulo; e nilo podendo preser­
vai.a da morte, o nosso primeiro cuidado seria
resuscita1.a logo depois.
E' Iogico que Jesus assim tenha feito.
O amor quer a união.
Jesus permittiu que Maria Sma. passasse pe­
la porta da morte; mas logo ao passar o limiar
desta porta, lá estava Elle para receber a sua
Mãe, na gloria, para unil-a a seu Coração ; não
somente a sua alma, mas o seu corpo; pois que­
ria a sua Mãe... a sua Mãe inteira ... e a alma é
apenas uma parte de nós, incompleta em seu ue-

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-340-

r
nero, BBpi and após ao reconstituição
da sue.
personalidade, pela resurreiçllo do corpo.
Sexto argumento
A gloria da ascenoão
de Jesus Chrislo, como
sendo o íructo
de seus
so[frimontos, deve ha,•er
entre a ascensao e a assumpçao a mesma rela•
u
ção q e ha entre n paíxilo de Jesus e a compai­
xão de Maria.
A relação directa da osconsilo e da paixão do
Salvador resulta da Sagrada Escriptura ; mas foi,
de modo especial, promulgada pela palavra que
Jesus d isso aos discipulos de Emmaús: O' eslul­
tos e tardos de coraçao para crer tudo o que
annunciaram os propltelas / Porventura, não
era necessario que o Christo soffresse taes cou­
sas, e que assim entrasse na sua gloria ? (Luc.
XXIV 25)
De outro lado, a relação immediata da paixão
do Filho e da compaixão da mfie foí promulgada,
de um modo energico, no Evangelho, pela prophe­
cia de S. Simeão, falando do Filho á propria
mãe: Eis que este menino está posto para a
ruina e para a resurreiçào de muitos em Israel,
e para ser alvo de contradicçao. E uma espa­
da lranspassará a lua alma. (Luc.
II 34 45)
a
Esta tr d ucção é larga ; o texto latino tem
q
uma variante ue parece ir al6m do text.o vulgar.
Et tua Jpslos animam pertransibit gladius
-o que quer dizer litteralmen te : O mesmo gla­
dio lranspassará a alma delle e a vossa.
E' como si a alma do Filho e a da Mãe
fossem tão intimamente unidas, que o gladio que
transpassa uma, transpassasse necessariamente a
outra.
E' uma união maravilhosa que esgota toda
a energia de expressão e s
cuja ju tificação nos

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epparece nesta outra pala,1ra do Evangelho : ...,...


Stabat autem juxta crucem Jesu, Mater eius.
Esta. união admiravel, que descobrim os entr&
a paixão de Jesus e ns dores de Maria, deve
existir e gualm eote entre a gloria de Jesus e a
glo ria de sua Mile.
u ,
Como seria possivel q e tendo sido unidos
tão intim am ento no eof!rimr nto, o fossem me­
nos na alegria 1
E esta alegrin nüo 6 ome nte n gloria do cêu,
s
é tambem o modo de en trar nelle.
Jesus rcsuscitou no terceiro dia; sahiu do
tumulo, triumphador da morte, e de pois subiu ao
céu, para ir OCCUJ)8t o seu lagar ao lado de seu
Pae.
liiarfa. tambcm dP.via rcsuscitar no t rceiro dia,
e
triumphadora da mol'tn com o seu .Tesus,
e subir
ao céu para OC'l.!Up3r o Jogar de honra que Jhe
compete como Müo de Deus,co-redemptora dos
homens, Rainha do céu e Mãe dos homens.
A resu rre ição dll Virg('m Santa e a sua As·
sumpção no céu, "'êm, d�ste modo, completar a
união pe1 feita, incfü:solu"'el, do Filho o da Mãe,
para perpetuar na gloria ma união come· u
çada no soffrimonto e na morte .
A gloria corresponde á graça.
A gr:iça 6 uma gloria comf>çad:i.
A glo ria 6 uma graça consummada.
E Maria, cheia do grs�a,c:evia ficar cheia de gJo.
ria no céu. . . e para isso, entrar nelle com uma
ma.jestado que não cabe :1s simples (•reaturas, mas
só a Jesus e a sua :Uãe!
l..imilf•mo nos n rstPs
seis argum�nfofl.
Podiam-se focmulnr mui1os outros ainda, pois
póde-se dizt·r quo todn a v ida, todas as prerogati·
va . todas 3S Yirtudes da Vil gem Sma . .-xigem a
s
reeurreição do seu corpo e a eua Assumpção ao céu!

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-342-

R"'p\Lo-o. :\;lo ei;itá rxplicit"mento indfrado no


Evangelho, mas sim implitilameule, poróm <I& mo­
do tão convencente, tão certo, ti'lio logico, que a du­
vida a esse respeito é absolutamonlo impossivel.

V. A assumpção gloriosa
O corpo da Virgem Santissima após a s11a
resuri•oic.;iio niio ficou aqui na terra.
A terra niio era digna do possuil·o; era-lhe
mistt'.ir o cliu, com a sua gloria e a sua felicidade
suprema.
Acom panhada pelos anjos, lc\·ada sob as rnas
azas luminosas, '.\laria Sma. brilha com um esplen­
dor incompara\'ol, seu corpo ó lr::rnsfigurado,
glorioso, e penetra no cliu, 110 meio das acclama­
ções da côrto celeste.
As hierarchias a[astam-so deanto della, os se­
raphins abrem as suas phalanges amorosas, para
deixal-a passa r ; e em presença de toda a côrte
celeste, Jesus corôa, ao mesmo tempo, os seus
privilegios, as suas "irtudcs o os seus soífrimentos.
Elia 6 Rainha, como Jesus Christo seu
·
Filho, é Rei.
Rainha pelo esplendor de sua perfeição,
pois tudo o que não 6 Deus, ó meuo:s perfeilo do
que ella.
Rainha pE>la imm6nsidado de sua fcllcldade,
pois toda a íclicidade, que ha 1108 suntos e em
cada um delles, accumula·se o concentra·se em sua
alma extasiada.
nainha pela extensão de seu poder, pois o
céu inteiro está p1·estee: a 0Ledecc1··lhe, e desde en­
tão as abobadas celestes começam a rt'percutir os
écos d66te hymno que não terá fim: A' mãe do­
lorosa do Cordeiro Immaculado, gloria, honra.
poder, no seculo dos seculos.

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E ' pois um ponlo rio d outrina que o corpo


de Maria tendo sido elovado ao céu, alli goza
de uma gloria i ncompa ra\·PI, n p ossúo, no mais alto
grau, todas as porfeiçües que po11suirão os corpos
doe outros bemaventul'ados, após o jui zo fina l.
E' um ponto de doutrina, que não é ainda
dogma de fá, mas q ui:J nâ.o se póde contestar.
A assumpção da Sma. \·irgem foi sempre en­
s inada Pm todas as escolaR de theologin, o não
se encontra nenlrnma voz discordante entre os
doutores.
A A!'sumpção 6 com J uma conscquencia da
encarnação do Verbo.
Ue facto, lm uma lig"H;ão admiravel entre os
diversos m l'S lerios do christianismo e a Assuru­
v�ão, como mostrei acima.
Si a Vi rgem lmmacul.idl'I r('cebeu ou tr6 ra o
Salvador Jesu s, 6 justo que o Salvador, por sua
vez, receba a Virgem Santa.
Josus, não tendo desdenh�do o descer em
seu flP.iO purissi mo, elle dove elevai-a agora, para
partilhar a sua gloria.
Não nos admirPmos que Maria resuscite com
tanta gloria, pois Jesus, a q uem ella deu a vida
terrestre, lhe restituo boje o que deila recebera.
E cerno é propri o de DAus o m ostrar se sem­
pre o r:·: ais magnifico, embora tenka recebido
della npenas uma vida mortal. convém que, em
troca, lh e dê uma vida immortal.

VI. Conclusão
A. conclusão destas considerações pódee deve
ser curta.
Para uma alma sincera a discussão 6 impos­
sh•el, e perante o bom senso as objeoções protea-

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-344-

tantes se dissipam, porque são sem base e sem


resistencia.
A Mãe de Jesus, e como tal Mde de Deus�
tem um direito a todas as honras u lou\'Ores de
que somos capazes.
Deus escolheu-a, entre e
acima de todas as:­
mulheres, encheu-a de graça o dignou-se nascer
em seu seio virginal. Depois quiz ser por ella
educado, dirigido, obedecendo-lhe cm tudo, como.
Yemos no Evangelho.
Depois desta elevução du Maria á mais sublim&
dignidade que póde Pxistir, será posflivel quo Deu&
a tenha repudiado, deHt hronado, rf'jeitado �
Sabemos que Mari:i Sma. foi sempre fütl a
todas as graças, corrPflpondeu fielmrnto a todos
os convites de Deus. de modo que não houve da
parte della a minima in[idelidnde. Elia soube
manter-se á altura de sua dignidade da .AJae d�
Deus.
Ora, é uma lei baRicn, quo nunca Dous se
afasta do uma alma, sem que primeiro esta al·
mn se aínste delle : Aproximae-vos de Deus e
elle se aproXimard de vós, diz S. Thl:!,go ( Jnc.
-IV. 8 )
Como podia elJe, pois, rejeitar n su a propria
mãe'? Depois de ter se servido della, para a rcali·
zação dos mais sublimes mystorios, depois do a.
ter elevado acima de todas as croaturas, elle não.
pôde desprez;1l.a, e reduzil-a ao niYcl do qual­
quer ontrn mulher.
]!; impossivel !
Seria a maior das ingratidões.
Deus devia, para conserv11r a harmonia em
sua propria obra, continuar a fa.-orel er a Virgem
Immaculada, e continuar a exaltai-a, como Ell&
começou a fazei-o desde a predostina�ão afé a ho­
ra de sua morte.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
-345-

Ora, podendo preservar a sua Santa Mãe, da


c9rrupção do tumulo, podendo !azel-a resuscitar e
levar ao OOu, corpo o alma, Elle devia fazel-o.
Deus devia coroar na gloria aquella que
�lle já coroára na terra . . . e conservai-a perto d&
Si no céu, como a consen·ára perto de Si aqui na
terra.
Alaria, não faltando aos deveres de sua alta
e sublime vocação de Mãe de Jesus Christo, Deus
tambem não podia faltar a seus compromissos
para com ella.
E não faltou !
.
Ello se consor\'OU fiel, enriquecendo, cada vez
mais, aquella que já estava repleta de graça$�
mas cuja plenitudo ia se dilatando, na medida de
1ua cooperação ás graças rlivinas.
E eis porque Deus devia, no fim de uma vi­
da tão repleta de santidade, como a de sua mãe,
como consequencla do sua lrnmaculAda Con�
ceição e de swa maternidade divina, proserval-a
da corrupção do tumulo, fazei-a resuscitar, leyal­
a para o Cõu, para que ali etla cont.inuaalto a ser­
na gloria o que era na terra : a mãe de Deus e
a mãe dos homens.
Assim Deus devia fazer.
E Elle o fez.
Maria Sma. foi levada ao c6u em corpo e al·
ma, participando este corpo virginal das preroga­
tivas dos corpos glorificados, e lá na gloria go­
zando da posse de Deus, pela visão intuitin.

visã:cf����'ta�� � d��� d ªDi:t1��ª�de�º;�:�: :�


ª d
f a s
ta visão está em relação com a santidade de
cada eleito.
Em Maria Sma. tal visão devia ser incompre­
hensivel, immensa, infinita, pois d!:ve correspon...
der a trôe cousas :

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-346-

A' dignidade do Mãe de Deus.


A's graças recebidas durante a sua vida
mortal.
A' excellencin de seus merltos.
Ora, a dignidade de Maria sendo incom­
prehensivel, a sua gloria o de''ª ser sob o mesmo
titulo.
As graças de Maria são tão immensas que
ultrapassam as graças dadas a todos os Santos
juntos.

Os seus ID.erltos estilo fóra e acima de toda
comprehensüo, pois tendo correspondido a todas
as graças, a esta plenitude do graças, corresponde
necessariamente uma plenitude de meritos.
De\•emos, pois, concluir que a gloria concedida
por Deus :1 Maria Sma. 6 a gloria suprema, que
póde convenientemente ser concedida a uma pura
criatura.
Pela beatitude da Mão de Deus. conhecemos
melhor a grandeza de Deus, a sua santidade, o
seu poder, a sua magnificencia, do quo pela glo­
rificação de todos os santos.
Esta beatitude essencial da Müe de Jesus
não differo, quanto á especie,
da beatitude dos
outros santos; entretanto, esta gloria é tão intensa,
que constitua uma como ordem especial que, de­
pois da visão de Deus e de Jesus Cbristo. occa­
siona aos bemaventurados maior felicidade que
todos os outros bens de que á repleto o céu.
Tal se nos apresenta Maria na gloria do céu.
Senlada direila de seu Filho querido, (ID
d Reg.
li.19) revestida do sol, como nol-a descreve o
Apocalypso (Apoc. XII. 1) como
cercada dagloria,
a gloria do Filho unico de Deus, ( Joan.
I. 14 )
pois é a mesma gloria que envolve o Filho e a
Mãe !
Como elle é bello, nesta gloria !

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-347-

CCJmo 6 suave o seu sorriso de Mão !


Como el!a nos estendtt os braços, para nos
convidar a irmos a olla, o partilhar um dia a sua
gloria !

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+**°�>k*-4-"***-H•::iT�#**•l:1:tt*l�l=**Jl'tt*tt>l-.!:

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C F\I P llf U C. 0 l U\I

Maria, Medianeira das gra1as

Eis um nssumpto que Yai fuzer ranger os den­


tes nos infelizes Baptistas.
Maria, Medianeira entro Deus e os homens..
brndarüo elles, eis o que ê o cumulo, é idolntria,
é absurdo, 6 invenção pap1tl, é pngão . . . é tudo . . .
o que h a d e horrivel e exeernl'el, porque não é­
protestante.
Pobres protestantes! que nem enxergaes a
explosão do odio que se apodora do YÓ!<, o que j5
é umn rcrutnção aos ''ºs�·os erros, pois o odio
nunca foi e nunca serli virtude.
Nós l'efu�mos os Yossos erros, porque são er­
ros, mas refutando-os, demonstramos com provas
biblicas, scientiI.cas e de !:lom senso, a verdade
opposta a estes erros, emquanto ,·ós blasphemaes,
proeuraeo refutar ti Yerdade Catholica, mas nun­
ca chegaes a provar nem um de vossos erros, &
dar-lhes pelo menos uma apparcncia do verdade.
E' o caso da \1er(lade de Maria, Medianeira
das'graças. Gritaes contra, citacs textos, mas to­
dos estes textos nada pçovam em contrario.
E' como si alguem, para provar que S. João
é santo, citnsse textos quo provam que Judas é
traidor o vice·l'ersa.
l\!as que relação têm estes textos: proyam o
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-349-

que .não deve ser provado, e nada dizem do que


deve ser provado.
Examinemos bem, de frente e no amago, esta
grande verdade Catholica, que Maria é medianei­
ra das graças e vejamos o. ridicuJo das objecçõea
protestantes.

I. A objecção protestante
Recolho a obje cça.o do jornal Baptista, mo­
delo de odio antl-chr1stão e de cegueira lanatica..
Leiam bem o pedacinho, e examinem o que
provam os argumentos citados :
•Em que razões se apoia o Catholicismo pa­
ra provar o ollicio medi aneiro da Virgem Maria?
Em puros raciocinios humanos. Entre todas as
suas razões, falta justamente a mais necessarla
e fundamental-a razão biblicn, a razão da car­
ta constitucional do Christianismo, o N. Testa­
mento.
Esse ensinamento contradJz a Sagrada Escri­
ptura•que ensina clara e percmptorinmente não
s ó que Christo é o Mediador, mas que é o uni­
co Mediador entre Deus e os homens. Eis ape­
nas algumas passagens:
•Ü Filho do homem veiu buscar e salvar o
que se havia perdi do. (Lucas, 19: 10)
«E os escribas delles e os phariseus mur­
muravam contra os seus discipuJos� (de Jesus)
•dize ndo : Porque comeis e bebeis com publica­
nos e peccadores ? E Jesus respondendo, disse­
lhes : Não necessitam de medico os que estão
sãos, mas, sim, os que estão enfermos ; eu não
vim e hamar os justos, mas, sim, os peccadores
ao arr ependimcnto. (Luc. ii: 30-32).
cQ u anto mais o sangue de Christo, que pelo
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-350-

Espirita eterno se offereceu a si mesmo imma·


culado a Deus, purilicará as vossas consciencias
das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?
E por isso é Mediador de um novo Testamento,
para que, intervindo a morte para remiss11o das
transgressões, que havia debaixo do primeiro
testamento, os chamados recebessem a promessa
da herança eterna•. (Heb. 9.: 14, 1-õ)
•E a Jesus, o Mediador d'umn Nova Alliança,
e ao sangue da aspersào, que ruta melhor que
o de Abcb. (Hcb. 12: 24)
Parte do discurso do apostolo Pedro, no dia
de Pentecostes :
•Seja conhecido de vós todos, e de todo o
povo de lsrael que 0m nome de ,Jesus Christo,
o nazareno, aquelle a quem vós crucificnstcs, e
a quem Deus resuscitou dos mortos, cm nome
desse> (ex.paralytico) o:cstá silo cleantc de vós:
Elle é a pedn que foi rejeitada por vós, os edi­
ficadores, a qual foi posta por cabeça da esqui­
na. E em nenhum outro ha salvação, porque
tambem debaixo do céu nenhum 011tro nome ha�
dado entre os homeos, pelo qual devamos ser
salvos". (Act. 4: 10-12)
«Porque ba um só Deus, e um s6 Alediador
entre Deus e os homens, Jesus Chrlsto homem.
(Tim. 2: 5)
«Eu sou o bom Pastor : o bom pastor dá a
sua vida pelas ovelhas». (João, .io: 9, 11)
«Eu sou o caminho, e o verdade e a vida.
Ninguem vem ao Pae, sinão por mim11. (João,
14: 6)
«E no ultimo dia, o grande dia da festa, Je­
sus poz-se em pé, e clamou, dizendo: Sl alguem
tem sêde venha a mim e beba. Quem crê em
mim, como diz a Escriptura, rios d'agua viva cor­
rera.o do seu ventre. E isto disse cllc do Espiri-
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-351-

to que haviam de receber os que nelle cressem>.


(João, 7: 37, 39)
.iNaquelle dJa pedireis» (os discipulos ) •em
meu nome, e não vos digo que eu rogarei por
vós ao Pae ; pois o mesmo Pae vos ama; visto
que vós me a:nastes, e crestes que sahi de Deus•.
(João, 16: 26 27)
Não havendo pois na rovelação divina pas­
sagem alguma que attribua á #Virgem Maria a
runcçno de Medianeira entre ella e seu Filho,
mas muitas militando cm contrario, eis a razão
dos mestres do catholicismo, que cnsiunm tal
doutrina, se valerem tão somente de rnciocinios
humanos, tradições humanas, decisões de conci­
lias, etc., etc.
Causa horror o pensar nos resultados fll'lPS­
tos de uma doutrina que desvia as almas do uni­
co Mediador e Salvador para outra pessoa que
embora bemaventurado., não foi leito. por Deus
Mediadora, e que tnmbem ella mesma nunca se
intitulou como tal, e que sentir-se-ia horrüriznda,
si soubesse que se dt!va a ella a htmra que só
ao seu bcmdito Filho-Homem e Deus-pertence•.
Quanta balburdia nesta accumulnçlio de tex...
tos que nada provam do que se deve provar�
e nada relutam do que deve ser refutado.
Em tudo isso, qual é passagem que prova
que Maria Sroa. nào é Medianeira das graças'?
Nenhuma...
Vê-se até claramente que o nosso amiget
Baptista nem sabe exactamente o que é u m
Mediador ; o que é um Mediador principal, e o
que 6 um Mediador secundario.
Procuremos lançar um raio de luz neste la­
byrintho protestante.
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-352-

II. O unieo Medianeiro


Para bem comprchender a doutrina Catho­
lica, é preciso não considerar cada po::ito em
particular e separado das outras verdades, mas
tomar o conjuncto das verdades evangelicas.
Uma verdade illumina outra e, muitas vezes,
o que é dilficil de comprehender separadamen­
te, torna-se luminoso, quando se llle npproximam
outras verdades, que se completam e indicam o
seu sentido exu.cto.
E o mal do protestantismo.
Elle toma um texto, separa-o do que precede
e do que segLie, e eil-o a nttribuir a tal texto
um sentido completamente contrario do que a­
queile que tinha em vista o autor Sagrado.
Os textos assim citados pelo jornal Baptista
provam namiravelmeute essa asserção.
Por exemph\ elle cita:
Eu sou o bom Pastor.
Eu sou o caminho, a verdade e vida. etc. n
Que provam tacs textos contra a mediação
da Mãe de Deus?
Absolutamente nada.
O bom Pastor é a imagem da bondade do
Salvador.
Elle é o caminho, a verdade e a vida. É certo.
e claro.
Ninguem duvida disso... porque então provar
o que não deve se1· provado?
Porque nilo cita o Baptista um texto que diga:
Maria não é Medianeira das graças?
Não cita tal texto, porque não existe.
E existirá um texto contrario?
Perfeitamente ! mas para quem sabe ler e in.

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-353-

terprctur, não só a letra que mata, mas o es­


pirita do texto, que iivifica.
O texto mais comprobativo, com que os pro­
testüotes julgum abater a asserção cathollca, é
o de S:.io P11ulo.
S6 lur. um Deus, e s6 ha um mediador en­
tre Deus e os homens.
Esta. verdade é repetida diversas vezes pelo
Aposlo!o. (0111. JIL 20-Hobr. Vlll. 6-IX. 15-Xll.
(Tim. li. 5).
24) e csle ."iJ;>fllador é Jesus Cltrislo
Ura, este texto de nenhum modo é applica­
vel u M�rin Sma., como vou proval-o aqui.
Nós, C'st wlicos, acccitamos este texto inte­
gr:llm e ntc e cm seu sentido claro e positivo.
A E�rt•ja Cnthollcn proclama em toda parte
que só hi.i um �lciliador entre Deus e os homens,
e este �fctlhf!or ó Jesus Cllristo, e isto pela rl\­
zão admir•lV<-lmentc exposta pelo Apostolo.
O Chri-;f;, nos deu um novo Tcstnmento.
Mos owf.' ha um trstamrnto, é 1lCCessarlo
que interl' :1l1rz a r.wrtr do tnllador ; pois o tes.
tmnenla mit> sr confirllla, sindo quanto aos
(
mortos. ll�bi·, IX 16, 17)
Ora, o Christo oflercceu-se, morreu, derra­
mando o seu S'ID.Q'.UC divino.
Logo, ellf' 6 Mediador do novo Te��lamento
(Jbid IX. Hi)
Até aqui não ha discuss:lo : Cathoiicos e pro­
testantes e.:;tJ.o de accordo.
Mas Oli Cntholicos vllo adeante e invocam a
lmmacutnd:1 �tue de Deus, como Medlnnelra
das graças.
Sel'á posstvcl isso ?
Porque não? E os protestantes, renecti::ido
um pouco, s(·rào obrigados a conccr.ler o que il­
Jogicnmcnte c ombatem.
Maria é \fcdi�tn('lra das grnç�i:i.
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-354-
III. Jesus e Maria na mediação
Procuren:.os con prth ender bf'm a difrerença
infinita enh·e a meCla :i1o de Jesus Ch1·isto e a
a
de Mari Sma.
É a
confusão dei-to dHrerença que exlllta
nossos amigos proteswntcs e lhes <licta na ridi·
culas objecçõcs que nos apresentnm.
Primeiramente, f!l!r> é um MediRneiT'o ?
É uma pcssôa que está no mt:io, entre duas
outras pessõas, pera mdl-as.
Para isso, duus cou• nt:1 sâonecC'ssnrias: estnr
no 1nelo, e ter por dTicio unir os dois extre­
mos.
Sempre os extremo<J se unem uo meio. ( J)
Alguem póde exe1·cer este oficio de dois
modos:
1. Como ngente prin<>ipal e perfeito (Vl'inci­
valiler et perfecte).
2. Como encarr(>p1rlo de prerarnr os cami­
nhos (mi11islcriali/et· 1 t dhposilii7l}.
Vê-se logo a differeuç.:i entre e3tes dois of­
ficios.
O primeiro é de ser o melo, o med innciro-
11or direito, pela sua prnpria po�ição.
O segundo é de ser nomeado para re·1lizar7'.
ou preparar uma unrno.
O primeiro medianeiro é principal. ·
O segundo medianeiro é secundarlo.
u primeiro é necessnrí.o.
O segundo é util.
Ellucidcruos isso c om um exemplo popuJHr.

l) Ad ml'diatorii ofUclum proptlc prrl!net çonjungett>


et unire eos inter quos cst medla'or, nam t:xtrema uolunlur
ln mcdlo. {�. Tbom. q. 26. a l)

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Entramos numa ca�a de commerci.o, e aW
encontramos o dono da casa e o caxelro.
O dono é o medianeiro principaJ, nec essario,
perfeito, cntl'C o comprador e a mercadoria a
comprar.
O caxeiro está. egualmente vendendo merca­
dorias, mM como medianeiro secundaria, como
en.cal'reg1ldo, util.
Negociando com um dellP.s, estamos satisfei­
tos, e nem sequer nos lembramos de que o dono é
o unico mediador de compra, e que o seu caxei­
ro é um mediador nomeado, encarregado de ven­
der fazendas.
Sentimos S('r natural que no lado do do110
haja um ujudante, e compramos das mãos deste
njudaate com a mesma confiança que das ma.os
do dono.
Pois bem, tal é, com to<1a a imperfeição da
comparaçíl.o, o orncio do medianeiro principal
e do s ecundaria.
Jesu� Chri:sto é o unicn Medianeiro entre
Deus e os homens. E" certo : Ellc é m ais que !\ie­
êianciro. Ellc é o Senhor, é o i\1C'itre, é Deus.
Fazendo-se homem, lhe npprouve nomear a
Virgem Santi'�sima, a sua uüxiliar: auxiliar se­
cundaria, não neccssarin, ma� surnruamente util.
Porque os protestantes ncceitam tal medla­
nefro pcl'to dos homens e núo a acc citam perto
de D:2us?
A media.cão do auxiliar de commercio em
nada prejudica, altera ou dimiuue os direitos e
o offlcio do dono da casa. . . porque tal auxiliar,
não age por conta propria, mas sim por conta
de seu scnh.Ot\ e segundo as suas ordens.
Assim a Med iacâ:o secundaria de Maria Sma.
cm nu.da prejudica, altera ou diminue a autori­
dade de Jesus Christo, pois ella nilo age por

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conta propria, mas de accordo com Jesus, e sob


a direcção de Jesus.
Jesus Chrlsto fica bem o unico Medianeiro
entre Deus e os homens, como o dono da casa
commcrclnl fica o unico dono dos bens de sua
casa.
MaT'la Sma.
é auxiliar, ó encarregada por
Jesus Chrlsto daste officio, ficando em segundo
plano, e agindo em tudo de nccordo com o seu
divino Filho.
Como poderia pois
a sua mediaçao ser pre­
judicial á de Jesus Christo ?
E' impossível. .. E' até ridiculo suppol-o.
Eis o que fazem
os protestantes. com­ Não
p.rehendendo nem os termos, nem o orricio, n m e
a uniãfl, começam logo a atacar o que nílo com­
prehendem.
A mediação de Maria Sma.,
ministerialiler et
di.çposUive, é o complemenlo natural da mediação
soberana, principal e perfeita de Jesus Cbrlsto.
Estas duas mediações
unem-se para operar
a grande rcc0nciliaçüo entre Deus e os homens.
O que acabamos Yet', da união
de do Maria
Sma. com seu divino Filho, como Medianeira, se­
cundaria, do officio, nos dá a razão poque a
gr
E eja chama-a Medianeira perto do Cb1·isto Me­
diador. São as palavras de São Bernardo e de
sua S.
Sautidade o Papa Pio IX, na flulln. Inef­
fabilis.
A Virgem Santissima,
diz este Pontificc, é
quem tem mais poder, no mundo inteiro, porto do
Unigenito Filho, como medinneira e Consola­
dora (2)

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-357 -

Diz-se que ella é: Medianeira, perto do Chris­


to Mediado1·-Mediatrix ad Christutn ldediatorem1
para melhor destacar a sua mediação secundaria
(mi:listerialitcr et dispositive).
Póde-so dizer que ella é a Medianeira entre
Jesus Christo e os homens, como Jesus Cbristo
é o mediador entre Deus e os homens.
EBtns expressões têm necessariamente a mes­
ma slguiflcaçno, pois Jesus Ch.risto sendo Deus,
desde que Maria é "1edianelra entre o Christo e
os homens, ella ó necessariamente Medianeira
entre Deus e os homens.
O termo : centre J. Chr. e os homens•, ex­
prime melhor a sua mediação ministerial, secun­
daria e afasta a idéa de querermos egualar a
mediação dll Virgem Santa á mediação de Je­
sus Cllrlsto.
Jf'sus Chri�to é o ruediunciro, o unico me­
dfaneiro, porque só clle pela sua natureza divi­
na e humanu está no melo (;Otre Deus e os
homens. Só Ellc junta em sua unlca pessoa
divina os dois extremos : Deus e o homem.
1faria Sma. é simples creatura, mas uma cre­
tura elevada por Deus á mais sublime honra: á
honra de Mil.e de Deus, e pela sua maternidade
divina, clla fica unida a seu Filho, para a reali­
zaçio da redempção do mundo ...
A t:onslderação desta nova obra vae revelar
novas verdades, e pôr em nossas mãos novos
nrgmcntos, upparentemente desconhecidos pe­
los protestantes.

JV. Maria na obra redemptora


Os erros dos protestantes a este respeito pro­
vêm de uma lamentavel confusão na obra da re­
dempçllo.
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Elles representam a Redempção como sen.


do obra exclusivamente de "Jesus CbrJsto, como
Deus, reduzindo a participação de Maria Sma. á
parte que as outras mães têm no nascimento de
seus filhos.
Para ellcs, Jesus nasceu de Maria Sma. -
Maria, dequa natus est Jesus, qui vocalur Cl11'is·
tus (Math. !. 16).
Não negam este ponto fundamental, porque
está. em plenas letras no Evangelho, talsificn.ndo,
entretanto, a significação do nome: Cbristo-para
lazer de Maria Sma. a mãe de um homem e não
Mãe de Deus. Ora, Jesus Christo é homem,
mas nunca foi um homem, faltando-lhe, para isso,
a pessoa humana.
Os protestantes pretendem que Maria deu á
luz o Christo, como a milc de Ruy Barbosa deu
á luz este filho, o u como Santa Manica deu á luz
Santo Agostinho, ou como Margarida Zigler deu
á luz Martinho Luthero.
lndirectamcnte, a mãe de Ruy Barbosa teve
qualquer inUuencia sobre as letras Brasileiras,
como Santa Monica a tem sobre o tratado da gra­
ça, escripto pelo filho, ou como a mil.e de Lutbe­
ro tem indircctameute uma influencia sobro a
fundação do protestantismo; e prompto: nada mais.
Para elles, Maria Sma. teria esta mesma in­
lluencia indirecta, remota, sobre a Redempçilo
e nada mais.
Jesus nasceu de Ma1'ia. O Evangelho nol-a
mostra na casa de Santa Isabel, perto do prese­
pio; cm Caná, ao pé da cruz; com os Apostolos
no dia de Pentecostes ; mas, concluem elles : que
relação tem isto com a redempção e com a sal­
vação ?
Pobres cégos, não enxergam clles que a.Redem�
pção é uma obra toda d.ilferente das obras hu-

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-359 -

manas ; é uma obra divina e, como tal, forma.


uma unidade perfeita cm todas as suas partee.
A obra redemptol'a-e este ponto é o ei­
xo sobre o qual giram todas as outras obras di-
e le m
;�� � � � � !
�;ªe � ��f� ia�v 0do , � �� : :�:a: ;
os protestantes, mas é o conjuncto de tudo o
que se refere a e11a, na preparação, nn
execução Ei na appUcação.
A obra redcmptora, nos llcsignios divinos, é
uma só : é n nossa sal\'Bçílo por Jesus Chrlsto.
A Encarnação e os diversos mysterios de J.
Ch.r.; são unicamente orientados para a Redem­
pção.
A RedempçO:o é orientada para a nossa sal-
vação. .
E uma obra unica, constando de duas partes.
I:Ja a Encarnaçüo, a ''ida e a morte de Je­
sus, para resgatar-nos, reconciliar-nos com Deus,
.e nos merecer as graças necessarias, que cada
um receberA na hora opportuna, durante a vida.
Ha depois as graças particulares que nos são
preparadas, cm vista dos mcritos de Jesus Chrls­
-to, e que formam como o trama da nossa vida
.i:Obrenatural.
Sendo certo que Maria teve a sua parte, ao
lado de Jesus, na obra redemptora, pelo facto
mesmo, ella deve ter parte ne obra da nossa sal­
vação e em todas as graças que nos são dadas,
em vista do Redemptor, pois tudo isso é uma
unica e mesma obra redemptora.
Nenhum protestante de bôa fé póde negar
esta unidade completa da obra divina !
Tudo isso é ligado á maternidade divina.
Na occasião da Encarnaç9.o, que é que o
Anjo S. Gabriel, em nome de Deus, negocia com.
a Virgem de Nazareth ?

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-360-

Que é que elle propõe a Maria ?


Será uma cousa particular, pessoal ?
Pede o Anjo que Maria con s inta etu dar á
luz o Filho de Deus, ficando estl'.', dC"pois, livre
de salvar o mundo romo elle entender, tendo
sido :wtario. um mero i nsttumen!o cégo, uma es­
pecie de machina nutoruaticu, que se rejeita de­
pois, como se corta e rejeita umu bimaneira que
deu cacho?
Tudo Isso seria Bllmmamente rid.iculo e in­
digno de Deus... E é o cuntrnrio que rNalt:\ da­
simples leitura do Evangelho. .
O anjo não se limltu o. talar da gran:.!eza pes­
soal de Jesus, mas o t1presentu C<•mo Sa lvu dor,
Messias esperado, Rei da humanidade, Redemptor...
Este (filho : Jesus) s1.:rti vrr11irte, diz o Ar­
chanjo.. . O Senhor Dnts lhe clard o tllrono de
seu pae David... reinará etemamrTlle. Sft'á cha­
m ado Filho de Deus (Luc. 1. :-!2)
Eis a grandeza ppi:;soal de Jesus.
Na occasião do n:1 scimcnto, oi:; Anjos lliziam
aos Pastores : Nasceu�ros um Sakador, que � &
Christo Senhor (Luc. li. 11)
E São Simeão di:;Fc dcllc : Jhus olhos viram
a tua Salvação (Luc. II. 30).
Eli que este menillo estti 1H,,sto para ruina
e para a resurreição de muitos em l:;roél e pa­
ra ser alvo da contradicção (Lur. II. :34).
Sabemos que este é 'l:crdadfiramtute o Sal­
vador do mundo (Joan. IV. 42).
Encontramos o .Messias, que quer dizer o
Chr·isto (Joan. L 41)
Eis a missão de JC$US.
E Maria, devendo ser a mfie de Jcsu.'-', o é ne­
cessariamente de Jesus Inteiro, c'.e Jesus,.
como pessôa e como enriado <lc Dc>us.
O Archanjo lhe propõe, deste modo, co-

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-361-

operar á Salvação da humanidade, á obra mes­


sianica, ao estabelecimento do reino annuncia...
do, u b
E �� E!�:�;�, �o� ��:��e;ffj��i<;fa de gra.
ça, ebemdicta entre todas as mulheres {Luc.1. 28)
Não se pódc distinguir em Jesus a pessôa
privada, da qual Maria seria a míle, e a pes•
sôa publica, na obra da qual a sua mile te·
ria apenas uma ligação indirecta e remota, como
pretendem os protestantes.
Pelo facto de sua cooperação á Encarnação,
Maria Sma. cooperou á obra redemptora, e isso
de um modo proximo e directo.
A Encarnação é a Rcdempção principiada.
Cooperar á Encarnação é pois cooperar di­
rectamente A Redempção.
E cooperar A Redempça.o é cooperar A nos­
sa Salvação.
Deste modo nós somos devedores á Maria
de Jesus inteiro : E Jesus como resgate e
como fonte de todas as graças.
Não é a Encarnação que nos salva, sem du­
vida; mas, sim, morte do Verli>o Encarnado.
o.
Porém notemos que o Verbo se encarnou pa­
ra morrer.
E este Jesus Encarnado para morrer nos é
dado pur Maria.
Logo, Deus dando-nos Jesus por Maria, nos
dá tudo por Maria e esta é verdadeiramente a
medianeira entre Deus e os homens, ao lado,
embora em baixo, de seu Filho Jesus.
V. Maria na obra Santificadora
Maria, presente na obra redomptora,
deve
egualmeuteestar presente na obra
santificadora
dos homens; pois a segunda obra é a continua-
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ção -da primeira, e deve como tal obedecer aos


mesmos prlnclplos e i'is mesmas directivas.
Como acabamos de ver : Maria 6 indissoluvel­
mente unida a Jesus, na obra da nossa Redem­
pção.
Ora, a influencia de Jesus não pára na hora
de sua morto. Sabemos que, no céu, Elle não ces­
sa do offerecer os sous meritos, para obter-nos as
graças de santificação e de salvação.
Logo, (i preciso admittir a acção de Maria,
perto de Jesus, no c(iu, como ella agia perto delle,
na terra.
Si assim não fosso, o termo nao correspon.
deria ao começo, haveria uma especie de discor­
dancia entre as diversas partes do plano divino,
haveria uma scissão em sua unidade.
A obra redemptora não é uma obra feita, uma
vez para sempre, pelo Sakador, ficando ao en­
<largo de Deus o distribuir as graças merecidas
pelo sangue t.livino, emquanto Jesus Christo fica­
ria na gloria do céu, como indifferente a esta dis­
tribuição, e indifferente para as almas que resga­
tou uma primeira vez.
E' outro erro protestante, acerca da Salvação.
A verdade é que Jesus Christo continúa a in­
tervir perto de Deus por nós ; é Elle quem faz
jorrar e quem esparge as ondaa da graça sobre
as almas resgatadas pelo seu sangue.
.Meu Pae opéra, disse Jesus aos judeus qlle
o perseguiam, e eu opero tambem (Joan. V. 17).
O Pae a ninguem julga1 mas deu ao Filho
todo o poder de julgar (Joan. V, 22).
Tudo o que li2er o Pae, o faz egualmente o
Filho (lbd. 19).
Ora, Jesus não estava só nesta primeira parte
da obra: Maria estava com Elle. Erat Mater Jesu.
ibi (Joan. II. !).
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-363-

Si Elle estivesse só na segunda parte, a unida­


de do plano divino estaria rompida, o que: não
pôde ser.
Logo, 6 necessario que a intervenção actual
de Maria se una á intervenção actual de Jesus.
Elias estavam juntos no trabalho ; juntos de­
Tem estar na glot•in.. .
Si o Rei do céu age ainda para nós, a Rai­
nha <levo agir junto com Elia.
Uma cousa extranha seria, si o papel do Ma­
ria terminasse á porta do cóu, o que si ali olla
fosso de menor importancia do que aqui na terra. . .
Elia seria uma mãe, que deixa d o ser mãe !
Elia seri a uma Rainh�. sem e.ceptroe sem reino !
Elia, que estnva cheia de graça, na terra, não
estaria cheta de gloria, no céu!
Mas cahem por torra tod::>s os raciocinios do
bom senso, da sciencin e as revelações da f6 !
A thcologia nos ensina que a gloria do céu
ê a <:oroaçlo da graça, de ts1 modo que uma. ple­
nitudo d.J ,(!'l'aç:i, na terra, exige uma plenitude de
glorin 110 cóu.
E �hrin., �Utle de Deus na terra, deixaria de
o ser no céu?
Nosto caso olla toria sido mais na terra do
que no céu, o om vez de o cáu coroar a sua gra­
ça na gloria, alio lhe arrancaria da fronte o sea
diadema mais glorioso !
Oh! por favor, cale-se pobre protestante ! dei­
xe de blasphomar. . . Uma tal supposiç!Io ó sim­
plesmente horrivel, indigna de Deus e indigna de
sua Justiça.
Nio, não! nunca uma tal blasphemia póde ser
acceit'l por um homem de bom senso, por um
christfio.

Aliás, o proprio Evangelho nos insinúa clara-

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- 364 -

mente o contrario, mostrando-nos que Maria Sma.


continúa no cõu o que ella já tez na terra.
Deus não a utilizou somente na Encarnação
e no Calvaria. É carregado nos braços de sua
mãe, e como pela sua voz, que Jesus faz sentir
as suas primeiras influencias, santiíicando São João
Daptista.
Elia está no lado do presepio, para receber e
introduzir os primeiros adoradores.
Ella estõ. em Caná, para obtor do Jesus o pri·
meiro milagre, que confirmou os seus primeiros
discipulos
Elia está no Cenaculo, o berço dn Egreja nas­
cente, como Ri:linha e Mestra dos Apostolas.
Vemol·a em todas as phases importantes da
vida de Jesus Christo ; nas quaes Elle communica
as suas graças e attrae as almas a Deus.
Não 6 isso um signal bastante claro dos de­
signios de Deus 1
A tradição catholica, apoiada sobre os factos
evangelicos, nunca hesitou, o nestes factos ella re·
conhece os indicios da verdade, para aITirmar pu­
bticamento a intervenção de Maria Sma. na dis­
tribuição das graças. em outros termos, clla ao-.
clama a Virgem Santa como lUedJanelra de to­
das as graças.

VI. Dupla mediação de Maria


Maria é pois verdadeiramente a nossa Medi­
aneira, e isto em dois sentidos
Num primeiro sentido, para salientar. de um
modo gorai, que ella está ao lado do Media·
dor, que é Jesus Christo, na obra da nossa re­
conciliação com Deus, de nossa santificação e da
nossa salvaQão,

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Num segundo sentido, como Medianeira en­


tre Jesus e nós, para dar-nos Jesus, e com
Jesus dru·-nos todas as graças da redempção ; pa­
ra conduzir-nos a Jesus, intercocler por nós e at·
trahir sobre nós a sua misoricordia e os seus fa.
\'Ores.
Tal 6 o duplo sentido da ModiaQão da Vir·
gem Santa :
Uma mediação geral, com Jesus, entre
1. Deus e os homens.
2. Uma mediação particular, ontre Jesus
e os homens.
Para refutai• os erros protestantes a este res­
peito, repitamos que isso não significa, do modo
algum, que nós accoitamos um Mediador, ao lado
do lfodiador unico, ou que a mediação do Jesus
nos p;ireco iusurficiente, ou quo attribuimos qual­
quer cousa a lfaria, fóra de Jesus.
Nada d e tudo isso. Afaria está ao lado do Je­
sus-Mediador, para constituil·o ltlediador perfei·
lo nesto sentido quo elln
occupa na olJra da me·
dieçü.o dn vida a parto qua Drus lho outorgou ;
como Eva estarn ao lado do Adão, na medtação
da ntorte.
Em ambos os sentidos aaui indicados o nome
de MedJaneira inçlue para Maria Sma, a du·
pia cooperaçilo l1 obra rcdemptora, acima expos·
ta : cooperoção, pela sua acçil.o, na terra ; co·
operação pela sua Intercessão, no céu.
Estas duas mediações são universaes, como
:
é universal a mediação de Jesus, e se estendem a
todas as graças que nos são concedidas em vista
de Jesus.
Compreheude·se Jogo esta universalidade,
lembrando·se da unidade da obra redemptora,
e da união indise:oluvel entre Maria e Jesus no
plano da redompção e salvação pelo Filho de Deus.

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Quem nos deu Jesus, como au t or de todas as


graças, nos deu, polo facto, todas as gnJças que
Jesus veio merecer-nos. .
Quem to,-o um tal papf'I no granc!A dom d e
Deus, n ã o póde ficar sem influem-ia aclual n a
distribuiç'.io da gra ç:i , pois a graça ê como a ex·
tensão o o prolongamento de JeRus ató n6:1.
Quem, em toda parto, foi mcdianf'ira Cfll!J Je­
sus, não póde cessar da unir n sua Rcção s.n pro­
prio acto pelo qual Jesus l•xerce a sua mPtlii.ção.
De qualquer lado que se contemplo n nrndia­
çJo C:e Jesus Christo, na terra c:omo r.o Ct�•t, ti.o
resgato ou no merecimcmto, na 1·cdPmµr;Uo ou :1a
santificação, cm toda parte, C'nrontrtHio a ll).edi·
açüe do Maria, unida á medinc;iio do Jl.'sus Cliri.5to.

Tal ó a bclla o consoladora doutf'inn quo nos


transmittem os Santos Pad re s e Dou1orcs d a Egre·
ja, e o fazem com uma finnezn, umu <'OH\'icç1io
que mostram que tal foi scmµro A. tradit,:.'!o catho­
lica, e uma tralliçlo tl'i.o unin- r1;a l, qn 1 mui rara­
mente foi contesLada, sinüo por horeje-s.
Numa das orações da festa dn. mei.lJ!hn mila­
grosa, a Egreja aclopta int�gr11 lmrnte ec,;tn opi1ii5o,
d izendo : Senhor, Deus omnipotente, que quizcs­
les que recebamos lodos os bens pelri 11/de Jm.
maculada de i·osso Filho, (a) concrd€i-nos, velo
auxilio de uma mele too poderosa, etc.
São conhecidos ns bailas palarr11;s do São Ber­
m1rdo, que resumem toda cstn doutrina : Deus
poz em Maria a plenitude de lodo bem; em con­
sequencia nü.o esqueçamos que toda 1t nossa es­
perança, de graça, e de sall:aç·âo, nos rêm dtl-

3) Festa da medalha milagroaa-27 �ov.- Postcom.

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-367-

la; e que é como á da super-plenitude deste ca­


nal de bençam que se derrama sobre nós. (./)
Citemos ainda este bello trecho de São Ber·
nardino de Senna, que resume todo o mechanism<>
da transmissão da graça :
eTodas as graças h·ansmittidas aos J10mcns nes­
•te mundo, lhes chegam por uma triplice processão �
cEllas ,·ão do Pae ao Christo, do Chrislo á Virgem
•Santa, da Virgem Sacta a nós.
•De facto, desde o momento Pm quo Maria
•concebeu em seu seio o Filho de Deus, eJla go­
za de uma especie de jurisdicção ou de autorida­
cde sobre todas as processões temporaes do Es­
•pirito Santo, de modo que nenhuma criatura re­
cebe de Deus graças, sinão pela medioção de
ci\laria•
f: o que a piedade christã exp rimo neste axi­
oma classico : •Tudo para Jesus, nada sem Ma­
ria•.

VII. Conclusão
Grandes e sublimes verdades passnram de­
ante de nosso espirita.
Verdades certas, irretutaveis, mas que en­
tretanto não constitueIJ1. dogma de Ié, porque a
Egreja não as deliniu ainda.
Convém notar que uma verdade mlo é me­
nos certa e menos provada, por não ser ainda
declarada dogma de Ié, pela a.utoridado infallivcl
da Egreja.

4) Altlus erll:o lntuenmlni, quanto devolionis aITectu


a.
nobls eam voluer1t bonorarl, qul tolius bClnl pl<'Jlitudfnem
posuit in Maria: ut prolnde si quld spei in nobis csl, si
quid grattre, si quld salutis, ab ea noverimus rodundare
Serm. Aqureducta n. G).

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A Egreja não a definiu ainda, porque não ha


discussão a dirimir sobre este ponto. Poucos são
os Inimigos, afóra os protestantes, que contestam.
este titulo de Maria, como Medianeira de todas
as graças.
Os dogmas desenvolvem-se subjectivamente,
isto é, pelo conhecimento mais amplo e mais
profundo que vamos adquirindo delles, pelo es­
tudo, os ataques e as discussões, embora fiquem
immutaveis objecllvamente, isto é, taes quaes são
em si mesmos.
Entre as verdades mais proximamente de­
finiveis1 figuram, de certo, o. Medlaç.ão uni­
''ersal de Maria e a sua gloriosa Assumpção.
Estas verdades explicitam.ente transmitlidas
pela tradição estilo implicitamente contidas no
<logma d'l Immaculada Conceiçllo e da mater­
nidade divina e espiritual de Maria, donde se vão
separando, á medida que sllo estudados, como
mais profundidade pelos tbeologos.
Terminemos este Capitulo, resumindo em
poucas palavras, o modo pelo qual se raz a me­
diação da Virge:n Santa.
A intervenção actual de Maria, em nosso fa­
vor, nilo tem por effeito produzir a graça, o
que só pertence a Deus, mas sim de obtel·a e
clc contribuir para isto.
Tal intervenção não se exerce sinão na or­
dem da salvação.
Quando se lhe pede e dclla alcança favores
temporaes, a innucncia de Maria é sempre de
conduzir os homens ao seu firn sobrenatural.
E como exercer esta influencia salutar de
.Maria?
Principalmente, por modo de tntercessilo,
pelas suas preces.
E' pelas suas supplicas, sobretudo, que a Vir-

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gem Immaculada inclfna continuadamente o co­


ração do Filho a applicar os fructos de seu san­
gue, e a misericordia do Pae, em infundir nas
almas os dons do Espirita Santo.
E estas supplica9 da Mãe de Deus se apoiam
sobre um duplo motivo : primeiramente, sobre os
merecimentos de seu Fllho e, secunda­
riamente, sobre seus proprlos mereclmen...
tos.
Podemos nos aproximar de Deus com con.
fian;m. tendo o Filho por Mediador perto do Pae,
e h... 11ria por Medianeira perto do Filho.
O Filho moótra ao Pae as suas chagas e o
seu lado aberto.
A Mãe apresenta ao Filho as entranhas que
o geraram, o seio que o:alimentou-supplica. es­
ta que supora as supplicas dos Anjos e dos ho­
mens.
A supplica de Maria apoia-se secundaria­
mente sobre seus proprios merecimentos. Nilo
sobre novos merecimentos que elln. adquire no
céu, pois os santos no céu são incapazes de me­
ritos, ma�. sim, sobre os merecimentos adquiri­
dos por ella, durante a sua vida terrestre, e que
ao deixar este mundo, ella apresentou a Deus.
Taes meritos Já receberam uma recompen­
sa, pela sua entrada no céu, porém, das três par­
tes de que é composto o merlto : parte merlto­
ria, satisratoria e lmpetratoria, só a parte meri­
toria recebeu esta recompensa, de modo que el­
la continua a interceder para os homens, pela
parte satisfatoria e impetratoria de seus mere­
cimentos.
Os caracteres distinctivos desta intercessão
é de ser irresistivel ou omnipotente, de tal
modo que os Santos chamam Maria Omnipoten­
cia supplez, a omnipotencia suppllcante.

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Em segundo Jogar a mcdiai.-úo do Araria é


universal, não conhecendo limitef', nem para
o tempo, nem para o espaço, nem pnrn o nume­
ro, nem para a especie de graças.
Os seus benericios se estendem n todos, diz
a Egreja cm uma de suas Autiphouas :
Sentia11lomnes tuum juuamen !

Eis, em synthese, a be1la e harmoniosa dou­


trina de. Mediação universal de Maria Sma .
Si os amigos protestantes, escutando menos
o odio de sua seita, que o bom senso de sua ra­
zão e a narração evangelica, meditassem bem
esta doutrina, elles comprehenderium qurr nto el­
Ja se afasta da mesquinha e odienta concepção
que elles têem de tal Mediação.
Cc-mpreheoderiam que o� Catholicos, Jong1
de contruriar o texto de sn.o Paulo, que procla­
ma. que só ba um. mediador entre Dcuse os ho­
mens, destacam este texto e põem-no em ple­
na luz, admittindo o unico medjador entre
Deus e os homens, Jesus Christo1 o unico Re­
demptor da humanidade.
Mas, do mesmo modo que Deus collocou ao
lado deste unico Redemptor a Virgem Immacula­
da, como a auxlliar ministerial desta Redempçâo,
fazendo della, não uma Redemptora, mas uma
auxiliar ou co-Redemptora ; assim na obra da
santilicaça.o das almas Deus conocou a mesma
Virgem como auxiliar, ou co-media.neira, entre
Deus e os homens, e como medianeira especial
entre jesus Christo e os homens.
Tal é a doutrina logica, suave, racional e bl­
blica, que a Egreja professa, e que é como a ba·

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s e d o culto d e amor e d e confiança, que o s seus


filhos dedicam á Virgem Santissima.
Oh ! em vez de blaspbemardes a bondade de
Deus, que nos deu uma intercessors. tão pode­
rosa e tao carinhosa� invocae-a, implorae-a, po­
bres protestantes, para que ella dissipe as trevas
de vosso espirita, e raça brilhar deante de vos­
so coração) este amor divino que Jesus vem
trazer ao mundo, mas que Elle communica pelo
lntermedJo de sua mAe querida.

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C A P I T U t. O KV

Uma syn\hm final

Embora cada Capitulo, como sendo a refuta­


ta.çiio de um erro determinado e a exposição da
verdade opposta, tenha a sua conclusão propria,
o conjuncto destas refutações exige uma con­
clusão, uma breve synthese final das polemicas,
para que o leitor possa abranger, num relance,
toda a doutrina aqui exposta.
Não pretendo repetir as tbeses neste capitu­
lo, mas apenas assJgnalal-as, para que o leitor
possa immediatamente encontrai-as no capituJo
indicado.
Uma these não se resume, sem perder a for­
ça e a cohesão de sua argumentação.
Este capitulo terá, entretanto, a vantagem
de relembrar em substancia a these já lida, e
reavivar as primeiras impressões desta leitura,
nas horas que não seria possivel relel-as e m
inteiro.

I. O odio protestante
É triste escrever um tal livro, para refutar
erros, não somente grotescos e absurdos, mas
sobretudo erros volu_ntarios, inventados pelo odfo,
-pela inveja e pela mais estupenda contradicção
com o bom senso.
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Que os protestantes, levados pe!a sua illusão


ignorante, ataquem a Egreja Catholica, columni­
em o Papa e os Padres, ridicularizem o culto,
os Sacramentos e as cerimonias... é tristemente
ridiculo, poróm ha uma explleuçlio plauslveJ.
Elles atacam o que ignoram !
Elles blttsphemam o que níio�compreben­
dem !
Elles ridicularizam o que é exterior, sem
_penetrar no espirita que vivifica.
Ha uma explicação para tudo isso; pois os
pastores protestantes, desde Lutbero até boje,
accumularam tantas calumnias, escreveram tantas
mentiras e falsificaram tantos factos, que um po­
bre protestante sincero, para desvcucilhar·se de
tantos preconceitos, precisa ser portador de uma
intelligencia pouco commum, de uma perspicacia
mui penetrante e de um amor á verdade, que su­
pere todos os interesses, sinilo elle será a "Vlctl­
ma, talvez involuntaria, de seus paes e irmiios
na fé.
){as o que ê triste ... tristissimo, é que tacs
protestantes atacam a propria lUãe de Deu.s t
Atacar, bla.sphemar, rebaixar a Mãe deste
Jesus Christo que pretendem adorar !
Isto é o cumulo da insensatez r
Querer agradar a Jesus Christo e conspirar
contra a sua mlJe purissima 1
Que contra bom senso !
Acclamar o filho e lançar no Iodo a mãe !
É um mysterio de perversidade !
Oh 1 pobres e infelizes protestantes... reOecti,
reOecti. . . léde o Evangelho ; mas lêde-o inteiro,
tal qual elle é, deixando-lhe o seu sentido claro,
positivo, e não lhe dando uma interpretação que
o deturpe e o faça dizer o que pensaes vós, e
não o que pensa nem d.iss"' o Espirito Santo.

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Que mal vos fez a Mãe de Jesus?


Porque este adio contra uma Creatura ele
vada por Deus, exaltada por EUe, acclamada por
Elle, e posta por Elle deante da humanidade sof.
lredora, para consolai-a, sustentai-a e leTal-a &
Deus?
Porque este od.lo contra a Virgem puris­
'iima?
Porque não atacaes S. Paulo, os Apostolas,
:Magdalena, Martba, Lazaro, Zacbeu, Nicodemos,
as santas mulheres?
Porque escolhestes Aqnella que é tão intima­
mente unida a Jesus Christo, aquella de quem
Elle tomou o corpo e o sangue que devia im­
molar para a salvação do mundo?
Porque concentrar o vosso adio sobre a ca­
beça aUI·eolada de pureza, de amor e de gloria
desta m.ulher bem.dita ?
Que mysterio tenebrosO é este !
Recitaes o Padre Nosso, porque está. no ET&R­
gelho e rejeitaes, como blasphematoria, Ave a
Ataria que tambem está no Evangelho.
Porque isso ?
Porque razão um seria menos digno do que
o outro, desde que ambas estas preces cahiram
dos Iabios do Espirita Santo?
Porque. após a recitação do Padre Nosso,
• a
não juntaes, como nós o fazemos, esta bella sau­
dação transmittida por São Lucas?
Ave, chei.a de graças, o Senhor ê comvosco,
bemdita sois vós entre as mulherei, e bemdito
é (Luc.
o fruclo do vosso ventre, Jesus I. 28,e 42).
Recitae esta prece e sereis catholicos.
j i es de pobres herejes "
pois��j�i���º�ª·::�nf:Ji��
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II. Realização de uma


prophecla
Deus � justo, e esta justiça estende-se a
todas as creaturns e através de todos os tempos.
Ha mais de 19 seculos, que se encontraram
um dia, perto de Hebron, duas primas, senclo uma
dellas senhora idosa, já no declivo da vida ; e
a outra. uma joveo, pura, rorm&sa, revestida de
todos os encantos da terra e do céu, da natureza
e da graça.
Saudaram-se allectuosamente, quando de re­
pente, a mais idosa fica repleta do E!!pirito San­
to e cxcloma: Bemdila sois vós entre as mu­
lheres e bemdito é o fructo do v<isso ventre.
Donde . me vem a dita que a M<1e do meu Se­
nlwr venha ter commigo 'I (Luc. l. 22)
Era Isabel, a Esposa de Zacharill.'i, a mãe do
precursor· João Baptista.
Dr:1nt? de�ta saudação tão extraordinaria,
lãa extrnnhu, a jovcn de 17 annos não se per­
turba, nüo se admira. . . ao contrario ella se sente
digna destes louvores e, com a mesma firmeza,
�om u mesma convicção que a sua prima idosa,
esta meniua de 17 annos, �ue ignora ainda o que
é a vithi e o que é o futuro, esta menina caudi­
da, inspirada pelo mesmo Esplrito Santo, lança
pura o céu, e através dos scculos, esta cstupen.
da proph ecia:
Eis que, de hoje em deanle. todas as gera­
.çües ml' chamarão bemaventurada. (Luc. 1. 48).
Ou\•istc�. pobres e inrelizcs protestantes ?
Toda� as gerações deverão acclamar a Vir­
gem Snntissirna, pois é ena que proferiu esta
iue!ravel prophecia . . . ou melhor: roí o Espirito
Santo que a pôz sobre os seus labios.

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Maria Sma. tem que ser chamada Bem.a•


Teaturada por todas ss gerações.
Como tenho provado neste livro, desde esta
hora, desde a voz de Isabel, que echoou atra­
vés do valle de Hebron, e acima das montanha!
da Judéa, até aos nossos dias, um brado unisono.
immenso, penetrante, ecboa ror cima deste mun­
do, proclamando a gloria da Mãe de Deus.
Os primeiros seculos, dcrde os npoi,tolofi até
Luthero, estão repletos dos hymnos em honra
de Maria Imma.culada.
Lêde os primeiros capil�los deste livro. . .
Escutae os brados d e amor dos Santos Pa­
dres exaltando a l\lulher Bemditat
Recolhei as jnnumeras pnssageni; em que�os
Santos de todos os seculos declamam a Virgem
Santissima!
E' a realização da prophe ia citada !
Mas, para que a plena lu� illumine as ver­
dades, é preciso que haja sombras que a laçam
destacar, lbe dêm relêvo, saliencia, vida.
E isto se faz pelos erros, pelas heresias.
Nos primeiros seculos, os corações pareciam
illuminar a fronte da lmmaoulada.
Os erros nascem, como sombras, num qua­
dro cheio de luz. A retutaçD.o a estes erros fez
descobrir n@vas verdades, fez comprehender me­
lhor as verdades já conhecidas, e paz em pleno
relêvo verdades um tanto esquecidas.
E' o que aconteceu com a Virgem Srntlssima.
O protestantismo levantou a sua mão sacri­
lega contra a Virgem Immaculada, negando a
sua pureza virginal, a sua dignidade de Mãe de
D&us e dos homens, a sua Mediaçilo universal,
a sua Assumpçllo gloriosa, o seu poder perto do
seu Filho.
Quizeram os pobres infelizes arrancar o dia-

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dema glorioso que Deus puzcra FObre a fronte


da E:ua Müc, o ei s que a Cll tholir: fdade, l'il:i que
a Egreja, amorosa e ciosa da grandeza du Mlie
de Deus e Mãe sua, levanta.se, em peso, para
repellir os ataques, refutar as heresias e fazer
resplandecer mais radiantes as prerogati,·as da
Virgem S:mtisslma.
Deste m odo os infelizes protestantes se tor­
naram os panegyristu:s lnvo?untnrlos e
·
indirectos do Culto da Mãe do Deus.
Qulzeram rebaixar a excel,sa Rainha do Céu,
m.'.lS os subditos desta ultima explicaram a dou­
irinR verdadeira, abrindo aos olhos de todos no­
vos thesouros, fazendo rei;;plandeccr no,·ostitulas.
Os protestu:1tes tnmbem sAo. dc8te modo,
ohrigados a proclamar bemu veuturnda aquel­
la que De us proclamou bewdita rntre todas as
mulheres I
Que tcrrivel castigo para sua barbara impie­
úade I
Foi neste ambiente e sob este impulso que
nasceu o presente liv ro.
EUc li uma resposta á impiedade e á igno­
rencia p rotestant�.
Em meus outros livros recolhi as objecções
feitaq, por elles, cootrã o culto da Mãe de Deus.
e dei-llrns, á medida que se apresentaram, a
resp osta necessaria.
Ta.e� respostas receberam contra-respostas,
mostrando cada vez mais o odio nccum u1ado,
c oncentrado1 contra a Virgem Santlssima.
Deus o pcrmittiu, para decidir-me a dar-lhes
uma resposta comp eltn, doutrinal, tomando o as­
sumpto pela base e de [rente, e refutando, uma
por uma, todns as heresias que a i gnorancia e
o odio lançam contra o tbrono da. lmmacu1ada.
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m. A base da Verdade
O Leitor tera notado quo doi Jogar saliente
ao grande dogma da Imma.culada Conceição, pro­
T&ndo complotamente esta grande e sublime ver­
dade, sob os diversos aspectos que se apresenta.
Depois de ter mostrado, no primeiro Capitu­
lo, quo o Culto de Maria Smn 6 um Culto com­
pletamente evangelico, praticado pelos Apostolas,
pela primitiva Egreja e pelos ChrisUos dos pri­
meiros Seculos, concentro a attenção sobre a rm­
maculada ConcPição cte Maria, por iwr eata ver­
dade como o fundamento do todos os seus
privilegias.
Poderá ainda haver duvida no espirita do lei­
tor sincero?
Parece-me impossh·el.
E�ta \·erdade provada pela thoologia (cap. II.
pag. 45) pela Sagrada Et1criptura (Cap. HL pg. 64),
pelas palavras do Archanjo (Cap. IV. pngina. 83),
pela tradição (Cap. V. pag. 148) forma o pAdestal
granitico, inabalavel do grande dogma C<1.tholico,
exposto e discutido no Capitulo vr. (pag. 148).
E' impossivel percorrer estns provas, ler es·
tas citações tão bellas e luminosas dos Santos
Padres, sem sentir, e como que apalpar a verda­
de sempre ensinada. defendida e prochunada SO·
lemnemente pela Egreja Catholica.
T<1.l é a base de toda a polemica a respeito
da Mãe de Jesus.
Provado que Maria foi preservada do pecca·
do original, em previsão da suo. maternidade di·
vina, provadas estão a sua pureza perpetua e to·
das as outras prerogativas que adornam a sua
fronte ,·irglnal.
Aliás, como se póde vôr no Cap. VU, os pro·
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·prios protestantes intelligentes e sinceros fazem-se


os defensores desta verdade, condemnando seus
proprios irmãos de heresia, e tratando-os de he­
reges e obcecados.
CHo aqui mais uma nz este bello soneto dou­
trinal, escripto pelo proprio demonio, por ordem
de dois Santos religiosos.
E' um monumento unico, sublime, do dogma
ida Immaculada Conceição :

(Filho,
.Mãe verdadeira eu sou, de um Deus que li
E d'Elle filha sou, bem que sua Mãe ;
Ab reterno nasceu, mas e meu Filho,
Bem que nasci no tempo, eu sou sua Mãe.

Elle é meu Creador, mas é meu Filho,


Sou criatuTa sua, e sua Mãe;
Prodigio foi divino, ser meu Filho,
Um Deus eterno e ser eu sua Mãe.

Comminn é quasi o ser, a Mãe e ao Filho.­


Porque do Filho� teve o ser a Mãe,
E da .Mãe teve o ser tambem o Filho.

Ora, si o ser do Filho teve a Mãe ;


Ou se dirá que foi manchado o Filho,
CU sem labéu se ha de dizer a Mãe.

IV. Erros e contradicções

A impiedade protestante, no intuito misera­


-vel de rebaixar a Virgem Santissima e de con­
i:radizer a Egreja Catholica, foi inventando os ir­
mãos de Jesus, baseando-se sobre a palavra ir­
mão empregada no Evangelho, e esquecendo-se·

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------ ----

que tal palavra é um tormo generko q�e r.. ln·an·


ge todos e quaesquer parentes.
O Cf\pitulo VIII r�tuta do!initivameuro ttSta
heresia, mostrando, clara e irrcfatavolm;,.nte, qi;ie­
Maria Sma. era Virgem antes, durnnte e depoi<.J
do parto de seu Filho nnico ; Jeau.
Admittida a lmmaculada Conco11ão, t:il ver­
dade é, aliãs, um corollario det1ta 1 · :rogniiv:i.
Deus teria feito um milai::- re ini1Udi!v eD.i fa­
vor aa sua futura Mãe, pres0rva1H.10-"I d(> �oda
mancha do peccado, para qu&, \'irgt::n c!J> corpo e
de alma, ella fosse uma digna lJãe do �eu Fiiho;
e depois Elle permittir·n que MHe .'WJ"11wrio vi.­
t'O de pureza, fosse yioil'ldo pot' u1n l1onu?m, tiran­
do·lhe a Yirgindado titu cuitlado�uuwutu j)l'C&erva­
da '?
Ser.ia isso uma contradicção intol�ravcl na
obra divina !
lias os pobres pl'Otestant('r, jogandC> com os
textos da Escriptura, como H(1 joga com urna bo­
)a, tecem-lhe os sentidos e commeuta1·iot-1 mais alr­
surdos, q ue até aos seus pro prio" olho3 nJ.o têm
outro merito, sioão de coull·tHJizor o ensino Ca­
tholioo.
O que ellos querem 6 fazer acreditar quo tu­
do o que a Eg reja Catholion ensina es\á orrado._
Nas outras seitas 11rotostautes que são perto
de 900, afóra uns errai:;, elles occeitam uma pnrte
verdadeira; só na Egr!'ju Catholica nada ha que se
aproveite; tudo, absolutameute tudo abi está er­
rado.
Tal é a idéa protestante. Desde que a Egr&­
ja Catholica diz : sim, €:1les bradam : 11ão. Si a
Egreja disse r : branco, elles tlirão: preto; e sir
por impossivel, a Egrl'ja mudai:;so o seu l!nsino, o
que não faz, pois a verd:i.do 6 immut:.i.n-1, o.s pro­
te&tantes mudariam imlucdialameulo o bllu u &d<r-
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-381 -

.»tariam a 01linii'io co nlr r


a ia á opinião Catholira.
Vê-sr lt'go que tm todas estas objecções n:Jo
ha nenhum'.\ $h1Cfl1'iJade: i::ó ha odio . . . e o odío
sempro foi ú sem o p r será vicio, e nunca será
virtnde.
O qtw trnho df'c:Pnvolvido nos Capitulas TX
-e XIII, (p:.ig. 220-!!!JO) deste liYro, prova adm ira­
'Yelmente esta asserção.
Os prote8tantes destacam palavras da Sagra­
da Escriptura, como as de •Até-que, primogenl­
lO• e ontraR, dando- lhes uma significnção que
aberra do !Odas as leis da grammatica, da logica
& da berrr:en�uttca, mss que tem para elles o
meri.to df'c11 ina
s r o contrario da Egreja Catholica.
Lendo a re.fot11ção a estas interpretações, fica­
so pasmado ao vêr tanta ignorancia de um lado.
e tanta obcecz.ção de outro.

V. A Mãe de Deus
Estamos aqui deante do cumulo da ignoran­
·-eis e do nbsurdo.
O protestantismo admitte que Alaria é Mãe
'fh Jesus- JJ.aria de quem nasceu Jesus Math. (
1. 16) e não admitte que Maria 6 Mde de Deus.
Como explicar taes contradicções f
E' a renovação do erro de Nestorio, condem­
nado no quinto Seculo pelo Concilio de Epheso,
no anno 431.
Pretendia esse heresiarcha que em Jesus Chris­
to havia duns pessoas : uma divina e outra hu­
mana A primeira, Rendo Filho do Padre Eterno,
.a segunda, sendo Filho de Maria.
Neste c·u;o, �faria S a seria )fiie de i1:na
m.
pessoa hum•mn, e nada teria com a Pe::>soa Uh·ina
..em ,Jesus Chri!:to.
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Ora, isto é um absurdo que amplamente re­


futo no Capitulo X, png. 243.
Não póde haver duns pessoas em Jesus Chri­
sto. Ha uma Pessoa unica, embora haja duas na­
turezas unidas nesta Pess.oa unica, divina.
Entre as creaturns, chama·SO pessoa: uma
substancia singular, completa, livre e inlelligenle.
Em Deus a personalidade entende-se no mes­
mo sentido, porém de um modo,tmais excellenle,
como aliás tudo o que nós attribuimos a Deus é
mais excellente do que quando é aUribuido As
creaturas.
Ora, admittindo em Jesus Cbristo duas pes­
soas, ou duas substancias singulares, completas,
livres e intelligentes, vê-se logo que elle seria um
ser dividido, e Portanto um ser incompleto, pois
todo ser dividido ê ne cessariamente incompleto
em sua especie.
A pessoa divina faria uma cousa o a pessoa
humana a cousa contraria, pois sendo indepen­
dente uma de outra, não haveria nenhuma liga ­
oão entre as duas personal idad ee.
lato é impossivel. :m uma contradicção... � a
destruiçAo da divindade.
Ra, pois uma unlea pessoa em Jesus Cbris-­
to, uBindo as duas naturezas, divina e humana, e
conservando cada natureza as suas operações
proprias.
Deste modo ha em Jesus Christo uma intel­
llgencia divina e humana, um amor divino e hu­
mano ; porque taes faculdades pertencem á na­
tureza. e não á pessoa; mas tudo isso fica unido..
numa unica pessoa, e esta pessoa em Jesua Chris­
to é divina.
Ora, a progenitora de um homem não é a.
mãe da natureza mas a mãe da pessoa de seu
filho.

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O homem ó composto de um corpo e de


uma alma.
A nossa prog�nitora não é mãe da nossa al­
ma; mas sim da nossa pessoa, composta de
corpo e alma.
Mal'ia Sma, do mesmo modo, é mãe, não
somente do corpo de Jesus Christo, mru; da sua
pessoa.
Oro., esta pessoa é uma pessoa divina.
Logo, Maria é Mãe da pessoa divina de Jesus
Christo ; em outros termos, ella é Jtlãe de Deus..
E' simples, é logico, é certo.
Mas o pobre protestantlsmo prefere renovar
erros antigos, rehabilitar heresias condemnadas
ha 16 seculos, antes que adaptar a doutrina ca­
tholica.

VI. A Mãe dos homens


Como oorollario logico da Maternidade� di­
vina de Maria Sma. o Catholiclsmo deduz que
Maria Sma. é lambem Mãe dos homens.
O protestantismo, regeitando a primeira ver­
dade, deve rejeitar tambem a segunda.
Negando n. maternidade divina, os pobres he­
rcjes negam a maternidade espiritual da Virgem
Santa.
Deste modo elles nlio conservam nada mais
da Mãe de Deus, nem em sua crença, nem em
seu culto. E' uma ruina completa. . . E' um chris­
tianismo trancado, falsificado, incompleto.
Maria é para elles uma criatura estranha,
desconhecida, até inimiga.
Pobre cegueira, pobre odio 1
O Capitulo XI é a exposição completa deste.

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bella e consoladora verdade, da maternidade es­


piritual de Maria.
Nas horas de desalento, releiam os catholi­
cos esh ex.posição, cheia de luz, de encanto e
de doçura, e encontrar"do nesta verdade, um es­
timulo e um reconforto na pratica da santa re­
ligião.
O proprio dos paes é dar a virhl.
Dar a vida é ser mãe.
Maria nos deu a vida da alma.
Logo, ella é a nossa Mile.
Ha, de facto, duas vidas em n6s : uma vi­
da material e uma vida espiritual, porque o ho­
mem é um composto de corpo e alma, e ambos
e:;te componentes teem uma vida propria.
A vida do corpo é uma vida natural que
recebe da alma.
A vida da alma é uma vida sobrenatural
que recebe de Deus.
Chama-se a vida do corpo vida humana.
Chama-se a vida da alma vida divina.
Cada uma destas vidas têm uma origem dil-
lerente.
A vida humana provém da união do Cor..
po e da alma.
A vida divina provém da união da alma
com Deus.
Sabemos donde nos vem a vida da corpo :
de n<;>ssos paes.
A vida de nossa alma vem de Deus; por isso,
elle é nosso Pae, porém elle nos vem pela
Sma. Virgem Maria ; por isso, ella é nossa .Mãe.
Deus é a fonte.
Maria é o canal.
Ambos, Jesus e Maria, cooperam na vida da
nossa alma.
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Logo, si Deus é nosso Pae, Maria SSma. é


-nossa Mãe !
Cinco razões princlpaes conlirmnm a doutri­
na da Maternidarle esph·Uunl de 1Huriu., razilcs
expostas e commentadns no mesmo capitulo Xl
que se póde synthclizar neste raciocinio:
O Cltristo é a nossa tiida, como diz S. Paulo
(Philip. !. 21)
Oru, Maria é a �Iãe desta vida.
Logo, ella é turubem a nossa Mnc.
Eis porque o Evangelho diz que Maria deu
.á lu:t o seu t'ilho prinwaeuilo (Malh. I. 2j),
Este primogenito é unico na. ordem natural ;
1lA Ol'dcm espiritual clle é o p1·im<'iro entre mui­
tos irmã.os. Ut sit ipse 7Jilmogeuilus in multis
Fratribus, como diz o Apostolo (Rom. Vll1. 29).

Vil. As bodas de Caná

E' uma dns secnas muis encantadoras do


Evangelho, e que põe ei m pleno r1•levo a me-

dlat�: 1·����e���.��� o� ����s�:�i!�t:�:incaram


o texto r-tue exprime claramente a missão da
Mãe de Jesus.
E' o que está. exposto no Capitulo XIV., mos­
tran do, pelos textos p..irallelo�' o s�il'itl·J verda.­
deil"o deste passo.
E' uma simples lesta de nupcia� de um pa­
rente de Maria Sma. ou de Síio José.
Maria estava ali presente.
Haviam sido convidados tambem Jesus e
seus discipulos.
No meio da lesta, falta o vinho.
Maria, com este olhar de mãe e de dona de
cas a., percebo o embaraço dos servente� rJn. 1'11 a

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e sem que rates lhe exponhnm o seu embaraço,


ella se dirige a Jesus, e lhe murmura aos ouvidos:
Elles não l êm. mais vi11/to.
Nnda mais.
Je�us ouviu e co1rprehendcu ; é o bnstnote.
Virando levemente a cabeça para o lado de
sua Mãe estremosa, clh.· responde sorrindo suave­
mente :
Dri.xe e.r:tar, Senhm·u, cuidarei disso, embora
ndo lr7lha cltPgado a/ilia. a minha flora.
Maria rPtribue o sorriso de seu Filho, e di­
rigindo-�e directamenh· para os serviçaes lhes
diz, tranc;mfttindo visivelmente uma recommen­
daciio de seu Filho: F11 ?ti tudo o que elle vos
diM�r.
Em seguida, Jesu<t levanta-se, manda encher
as urnas de ablação, com agua. . . e, a pedido
da sua Mãe, muda a flgua em vinho, fazendo
deste mmto o primei1'o fio seus milllgres.
Ma11ifPslou a .<n.wt1l01·in e os seus discipulos
creram nelle (Joan. li. l l)
Ei-;tR scena. não é �implismcnte um facto; é
uma lei�
A lei, pl'omulgada por Jesus, que todas as
suas grHCHs hão de plls'1nr pelas mãos da sua.
Mãe Sontissima.
Elle, o Chrlsto, é o principio e a fonte de
todas as graças; Maria é o seu cunal transmis­
sor.
E' a conclusão que Santo Agostinho tira des­
te facto.
Deus, tendo-nos dado Jesus CbrJsto por àfo.­
ria, diz ell<', esta ordem não muda mais, e Maria
tendo colht.boredo para a nossa salvaçilo na En­
carnação, que é o principio unlve:rsnl da.
graça, dPve contribuir em todas as outras opera­
ções, qlle são dependentes desta. primeira.
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Para provar esta deducção theologtca�


temos três factos evangelicos, sem replica.
Tudn.s ª" gra�·as dttdas aos homens se refe­
rem á esta triplice manifestação cte Deus : á En­
canzação, á Visilaçao e ao milagre de Cana.
Constantemf'nte Jesus Christo vem ao mun­
do, por lUorJa;
Constaatemente Maria nos traz seu Jesu�.
pela Vlsltu�ão;
Constantemente Deus dâ suns g1·aças, pela
Intercessão de Maria.
E' uma lí'i geral, contlrmada por estes três
Jactos evangelicos ; ou melhor, é a conclusão
desteH trt'.!s factos.
A scena de Caná no.o ó pois uma simples
festa de nupcias, ó a imagem do grande festim,
ao quR.l .IMus Christo nos convida, a que elle mes·
mo preside, mas onde encontramos h1mbem a sua
Mãe Santlssima., para o presentar-nos a elle, e, 6i
preciso fosse, pedir-lhe um milagre em nosso
favor.
A scena de Caná é pois a manifestação de
Jesus por Atnrla para que o mundo creia
nelle, �omo por este facto os discipulos creram
em Jesus.

VIII. lllorte e Assompção


de MarJa
E' o assumpto do xm. capitulo.
E' outro ataque do pl'Otestantismo.
Não negam, de certo, a morte da Mãe de
Jesus, mus attribuem-lb.e uma morte natural, como
a qualquer outra criatura vivente.
Quanto á Assumpçao ao Céu, em corpo e
alma, elles a negam redondamente.
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Ficou provado neste capitulo, porque e como


Maria Sma. morreu.
Tendo sido preservada do pecca.do original,
eUa não estava. sujeita á lei geral da morte, como
seRdo esta lei o cutigo do peccado, mas estava
sujeita á morte pela sua natureza humana
que era mortal.
Por u m privilegio especial, Deus isentou da
morte a Virgem Santa, como no paraisa terre­
nal, por privilegio especial, isentára da morte os
nossos p1·imeiros paes.
A rebellitlo de Adi.lo e Eva lhe s fez perder
este privilegio e ficaram ellcs, em castigo da
sua desobecllencia, c onde m11ados á morte.
Deus restituiu este privilegio á sua Mile
Santissima: eJla, porém, para assemelhar-se mais
ao seu divino Filho, não quiz fruir deste privile­
gio e prerm·iu passat• pela porta da mol'te, para
entrar na gloria.
Maria morreu, como todos nós devemos
mor rer : no nmor de Deus.
Ella moL·reu, como morrem os ruartyres, por
amor.
E ella morreu como convinha que morresse
a Mãe de Deus: de amor.
Uma tal morte exigia a Assumpção.
O amor é eterno, 6 indestructlvel, como diz
o apostolo.
E Maria Sma.. era to da amor.
Ella não podia ficar sujeita á putretacção do
tumulo.
Seis bellos argumentos provam esta grande
verdade .
São bellos demais para resumil-os; é preciso
retel-os todos no capitulo XITI deste livro (p. 319).
Maria devia, o mais passivei, tornar-se seme­
lhante a seu Filho.

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Jesus resuscitou no terceJro dia pal'a subir


ao céu e occupar o seu tbrono ao lado d<' Padre
Eterno.
�Iaria Sma. lambem del'ia resuscitar uo ter·
ceiro cliu, e subir ao céu, para occupar o Jogar
de honra que lho <'ompetiu, como Mão de Deus,
co redcmptora dos homens, Rainha do cóu e Mão
dos homens.
JL·�us de via coroar nn gloria nq uella que
já coroára na terra, o do via conservai-a perto de
si no cúu, como a conservára perto do si aqui n a
terra.
\ cloria da \'irgt:m Müo, 110 c6u, de,· ia corres­

panrti•r R est.1s três cousas inf'ommensur:tYoís :
A' dignidade de Mã.'3 do Deu s ;
A'i gruças recebidas durante a sua \"ida
mortal ;
A' <'Xcdloncla do seus 1uerltos.
TrC3 abysmos insondnn•is para nós. . . envol­
vendo a impPllt'travcl granch:za da \'i1 ll"lll lmma·
culada o exigindo a sua rcsu rrciçi\o o a sua as·
sump1;ão ao céu.

IX. A 1'1edianeira das graças


E' o ultimo capitulo !!X pos i tivo clrsto trabalho,
destruindo a grande ol>jecçüo protulanlo contra
a mediação u1frversal de !Iuria, n 1 dlstrlbnl·
ção d1:1s graças, e senlnndo esta venlade sobre
a base indodtructivol do Evangelho, da Jogica e
do bom senso.
Só ha u m Mediador cnl1'e Deus e os homens,.
diz S. P.iulo, e este Medi ador é Jesus Chrislo
(Tim. H �).
A Egreja Catholica ensina e defende esta ver·

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dada, E'l nunon procurou coHocJr outro lJfrdiador


entri' neus o 03 homenc:.
Com·ém, pois, notnr qnP, do mosmo modo
q ue hn um só Rederuptor, C'mborí1 b 1ja ao
f ado do!'-lte R-dem µtor R su:l MJ.a S 111ti1<sin111, U·
nida a elle, f;Ofrr,'ndo r.1m <·li•>, "' rf'�g 1t.rn io o
mundo corn Pllfl, do mesmo morlo h'l um Só Me·
dlador, e mhorA li 1j1 no hcto d"ll"'. a "'-U't \llle
8antissima, ajud rndo o ll"�tn ornc;o d.\ di..;ll'ibui­
ção das graQ ti;, c,mo o a j ·Jdou fHT\ 'Hl1 sti•q·ti:;!çlo.
Ila um d uplo modo dA l'.<+>r Afrúiador :
1 . Como ngeute prin�ipal, neoessnrio.
2. Como encurregado de prt•parar os ca-
minhos.
O pl'imt>iro M1•diador é prlnclpnl.
O segunrlo é secundnrlo.
O prí nwiro é 'lf'CPSSarif'I.
O Sí'gundo ó util.
ltfaría Snrn. ó a auxili.ir �nrorregad11; deste orfi­
oio por Jesus Chris to, Cicanrto Pm B(>gundo plRno,
e agindo em tudo do accordo com o seu dh•ino
'Filho.
A sua modfaçiio õ instrumental, ministerial,
e não prajudioa em nRda a mediac:io essencial
de
Jesus Christo. de quem ella depPUdP, como o en·
carregado de um negocio depende cm tudo do
dono doate nPgOCi<•
Ei:1ta medinQfo secundaria
do M uia. ó dupla :
1 . geral, com Jesus, entre Do us o os hom �ns.
2. partlcular, e ntre Jnsus e os hom1>ns.
J.1su:> Chl"i;;ito 0 o M -Hiiadon u ni co, porqu� só
Elle, pela sua naturon divina e hum<tllll, está no
melo, outro D.H1s e 03 hommi!, pJd.J ndo doste
modo servir do laQo de reconciliaçlo o da união
entre ambos.
Maria ó simples criatura, por�m elevada.

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á. d lgnidade d e Mãe d e Deus ; e, pflh1 flua m a ter·


nidade divina, ella efltá unida a seu Filho,
para a realização da R1•d1 mpção do mundo.
,. 8Pndo certo que l\hu ia eve p11rtA acth·a, ao
t
lado do Jflsus, na obra redemptora, pPlo facto
m•utmo, olla deve ter pr.rltt ua obra da uns�a sal·
vaçllo, o em todas as grnças que nos são dadas
om vista do Red�mptor, pois tudo is o (j uma uni· s
oa e mesma obra redPmplora.
JPeus e Maria es1.an1m j nt
u os no trabalho;
junto� dfl\'f'm esta nn glori:i.
r
PodPmO!I, poi!I, " dt>V('IDOR tirar c>st11 lwlfo ron·
olu<i.i\o do São Dernardin:> de Sens, QU<' r .. su
me
u
t do".
Todas .Qraças transmltlidns
as homPfls
rm.ft
nestP. mundo, lhes chegam por uma tri11lirr· proª
ce.r:sào: Ellas vão do Pae ao Christo, tlu rltristo
á Virgem Santa, da Virgem Santa a uó�.

Conclusão
Terminando estR,. 1Jaginas de rlt>Í•·w1 1loR pri·
vilPgios rlR Vi rgem SHnl i�sima, sin10 ;1 111·c.-�i.ida­
de d+i rN�olher-me, cte df'pôr um i"i;t:111h• li f'flpa·
d'l. dA doifl gume� ctft poll.lmio·1, p11ra dirigir á ca·
rinhosn Mãe de Jt>1ms e nossa Mãa u1w1 11r1·c� fer­
vorosa p1•los pobri>s e infelizes prot..t>l:i nlPA, que
fecha m o coração ao amor de eu" qu .. dila Mãe
oel.,.ste, para deixar pentJtrar n olle o odio da ser·
pentA n ntigA.
Deste modo, mau grado seu, Pllvs i·t>:iliu1m
mois umn prophecia que diz rupt•ito á Virgem
Immaculnda o aos St"UR dí'lractor.,s.
Dirigindo·se á se rpPnto malditn qu� :icibava
de pMrler os nossos primeiros paes, DPUPõ lhe disse:
Porei inimizades enlrs U e a mulher� entre
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-392-

a tua posteridade e a posteridade dflla (Gen.


III. ló).
A mulhl"r rle que se trata ali é \'isivelmente
a mulher bemdttn.
A po�tnidade detita mulher são aquelles qu&
a honram e im•ocam, que a proclomam bema­
venturnda, conformo n rna propria proi,.hecia
o ao exemplo de Sta. babel
A Bflrpf'nto ó o dc mon i o, o anjo das trevas,
o pae do erro e dn mt·ntirn.
A poslf'Hdarle df'sta fH"rpenle siio 11quellrs que
se r'woltam contra esta mui/ler bemdita, co oti nu�
ando, df'ste modo, através dos sAcutos. a eterna
separnção ('Dtro Dous o o dcmonio, entro Ma ria &
a serpenle.
Triste prophecia, que ,·omos realizada no rlea­
prezo que os infelizes J.irotestanted rntu m á hlãe
de J1>sus.
O' :Màf' querida ! Müe do misericordia, illomi­
nae os pobr"s e in[elizo:os transviarlo3, o quo sobre
olles tamb"m so estenda a vossa mão malerna,
para alcançar-lhes a graça ela convorsi:io.
Nestas paginas combali os SC"US erroc:, unica­
mente com o intuito de mOf.trar-lhes a luz e o
amor que ignoram, como taml'f'm fozer fil mar e
estender o amor que os cntholicos vos consagram.
PosSdm estas paginas serom portadoras do luz:
para os prirntoiros e de amor para todos.
E' a unica aspiração do autor.

P. lul/o Maria

http://alexand riacatol ica. blogspot. com


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INDICE
INTRODUCCÃO
APPROVAQÃO
CAPITULO I
O Oullo de Maria Sanliasima 17
I. A Mariotatria - 2. fac-totum - 3 . Um objec­
O
to de adoroçã.o - 4. Um
novo Culto - 5. A obscu­
ridade do Maria -6. Maria, na primitiva Egreja
- 7. Santos dos primeiros scrulos - 8. Conolusão.

rAPITULO II
A lmrnaculada Conceiçao segundo a Theo-
logla . . . . . . . . . . . . . . . 4;;
1. As objecções protestantes - 2. O que é o
peooado original - 3. A Conceição do Maria Sma.
-4. A preservação de .Mnrin - 5. A transmissão
do peccado - 6. A exoepção a esta toi - T. Con­
clusão.
CAPITULO lil
À lmmaculada Conceiç4o segundo a Sa­
grada Escrlptura . . . . . . . . . . . 64
1. As provas biblicas -2. O
Tabernaculo di­
vino -3. O mais antigo d.:>gma - 4. raça da A
mulher -5. A
grande discussão - 6. Conclusão.

CAPITULO IV
A Jmmaculada Concetç{lo segundo as
palavras do Àrchanjo . . . . . . . . . 83
1. A Virgem Maria - 2. A Saudação do Anjo
- 3. A Toda Formosa-4. Nova objecção-5.
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Deus
-394-

oom Maria - 6. A m ulher bemdita -7. Perdido e


achado -8. Conclusão.

CAPITULO V

A Immaculada Conceiçao segundo a


Tradição . . . . . . . . . . . . . 111
1. A Tradição divina - 2. No Seoulo prlmelro
-3. No segundo s�clllo -4. No terceiro Seculo
- ó No quarto Sttculo - 6. No quinto Seoulo -
7, No sexto e aeptime> Sdculo - 8. No oi&avo e
nono Seculo -9, No decimo e uudecimo Sooulo -
10. Conclusllo.

CAPITULO VI

A lmmaculada Conceiçdo segundo o


dogma Catholico . . , . • . . . . . . 148
1. PrimAirns hesitnções - 2. Decimo terceiro
Seculo - 3. O estudo apurad o - 4. Argumentos de
Duns Scot - 5 O t"..'iumpbo da ,·erdade - 6. A
crençll universal - 7. A proclamação do dogma
- 8. Conclusão.

CAPITULO VII

A perpetua Virgindade de Maria 119


1. Virgindade e CMamento -2. Prova1t do­
Evoogelho - 3. Jesus, !'ilho unico de Maria - 4..
Protestantes versus�protestantoa -5. Conolusão.

CAPITULO VJIJ

Os pretensos lrmll.os de Jeaus 197


1 . O Matrimonio - 2. Relampago e ralo -- 8.
Um terceiro Thiago - (. Á
força de textos - 5.
Outra balburdia-6. Provas internaa-7. Conoluaão�

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CAPll'ULO IX
Novos erros proteslrintes . • . . , . 220
L Anl'lR e depois - 2 . Provas biblic.1 s-3.
Provas do Bom sonso - 4. O PrimOgt>nit:> - 5.
Provas bibhc.:is -6. Prov11. archoologiM-7. Con­
clusilo.
CAPITULO X

Alaria, Mae de Deus . . . . . . . 243


1. C Hno M-tria á M il• de D \US - 2. 0-( erros
do!I prirnotiro:1 heresiarch ts - 3. O Co nci lio de
EplwHo -4. Provas d:l Sagrad:l EHmíp111 1·a - 5.
D o utri na dos Santos Padres - G. Orundt•Z"t de
'Maria - 7. Conclusão.

CAPITULO XI

Maria, MO.e dos homens • • . . . . 266


1 e uno MariB á no·na Mlll - 2. N 'CE\Hiict ·i de
de urntt �f\·i na religiüo - 3. lhzões ela m 11 .. rni­
daLltt o-ip rilual -4. Tr'iplic"' filiAQilo - 5. T"i plice
m ttArni·l t•I ' da Mtrh -6. Enctrrtitçlo � R •dem­
pçlo - 7. O oniino do3 S tnto.:1-8. Conclut1;1o.

CAPITULO XI[
As bodae de Cand . . . . 290
1. O t<'xto do EvangAlho - 2. Orig..m de um
mal en t,..n .ticto - 3. Texto<t p aralleloe -4. O senti­
do unico -5. OutrP..s trt1ducçõos - 6. A Scl"llla eo­
cantadorf\ - 7. Outra discord�rnoia - 8. l!"'azui t udo
<> q uo e>lloJ voe disser! - 9. Conoluello.
CAPITULO Xlll
Morte e Assumpç4o d• Maria . 319

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1. O facto historico - 2. A morto do Maria-


3. A sepu!tura - 4. A rosurreição - 5. A Assum­
pção gloriosa -· 6. Conclusão.

CAPITULO XIV

Maria, .ltcdianeira das oraras 348


1. A objecção protestante - 2. O unico Media­
neiro - 3. Jcsu<J o Maria n11 Mediuç!io - 4. Maria,
na obra redPmptorn - 5. Marin, na obra santifica­
dora- 6. Dupla Mediação de Maria-7. Conclusão.

CAPITULO XV

Uma syntltese final . . . 372


1. O adio protf'Slflnle - 2. HPalizaçl'io de uma
prophecia -3. A baPe da verdtide -4. Erros e
contradicçê>r>s - 5. A :Mão dfl Drus- 6. A Mãe dos
homem� - 7. AA hodoa d e Caná - 8 . Morto e As­
sumpçdfl llo Maria - 9. A Modii1çi'io das graças -
10. Conclusão.

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Livros do R. P. Julio Maria


(Diversas apreclaçiies)
Os livros apologéticos-polemicos do P. Julio
Maria constituem boje um Arsenal de primeiro e
incomparavel valor, que devem figu · a r em todas
as bi bliotbecas, escreveu ultimamente um illus­
trado membro do nosso Episcopado.
Quunto ao valor destetJ livros, a imprensa e
os leitot•es sâo unanimes em exaltar as suas qua­
lidades excepcionaes.

O •Mensageiro da Fé• diz 1

•Trabalhador fnfatlgaveJ ó esso distincto sacerdote


que, a golpes du ponua vao pulverizando os sopbismall, os
argumento� tendenciosos dos laimigos da crença, do1'1 que
systhcmaticamcn te buscam encobrir e torcer as verdades e
os ensinamentos.
O c�criplor, sem perder a olegancia do pbrasl'ado, é
incisivo na maneira. de formular as sua'i- conclusões, de
ferir os assumptos, sem perdcr-s.: cm dlvag<1.çõc11 cstcrcis
de um pi:rlsslologlsmo 011tafanto l.'ID que o arcabouço dos
períodos se conjuga multa vez com ll vacuidade das ldõas.
Tal de\·e ser un:a obra de objectlvos nlio communs,
de'"0P���;6 la
!roª�e ��·mprebcnde um escriptor catbo­
Uco sem essa vlbraçilo e esso cnthuslaemo quo outra con­
tia não exprimem slnllo os surtos da fé,-o roa.ravUhoso
lrultrumento .que opcr11 as grandes resurrefçõe11 moracs•.

O ·Dlarlo• de Mlna!I csc:reve :

cUm dos-fecundos e brilhantes t''>Crlptores calholicos


actuaes do Brasil é o Padre Julio Marlu.. cujas numerosas
obras estão destinadas a lazer um bem enorme. Divide mui­
to bem os seus assumptos, trata·os nnma linguagem fulgu­
rante e comprebenslva, tem, antes de tudo, 11 lntençllo de
instruir, esclarecer, firmar as id�as catholicas em bases so­
Udas.
Alma._de apostolo, lutador por temperamento e por

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vlrturle, arr m t contra


: e cl e os
todos co
erros n tt·arlm1 á. do u­
trina cn.thol!ra, pulvertzancfo-os 1nnto com os argumentos
como, l\"l Vl'Zl!!!I, como l uo
rld c l que merecem.
Em todos os de combulc,
SC'US cí<criptos de polemlcn,
é o meFmo homem: t'ruclllo, v.rdorof'O, claro. U!-fln semJlre
com prazer e com proveito o que ei;.::rel"O e11te sacerdote�.

A •A"Ve Mart.., de S. Paulo, nasfm se ex­


pre••a s
..o Pr. Jullo Alaria é ma c
nifl':,.,ta.m nte um \'rrrlarfelro
Apo!ttolo da palavra dae pPnn!l. lncan!lu.vel no b!'Jm com­
te,e11grlm1• com m1Le!tlrla.1mbt>rarrn. o glarllo 1lr-fcn>1lvo, ma­
neja a m1L""ª que e!lnJOl',vibra golpes pro;;­
certeiros q1u•
tram o atlVt<l"t-l:lrfo da n•r•lode ti do bem. Os l!vro>1 \·lio t<:l­
bindo dJ.aun penna magie:i com fuC'llidude n<i"lOmhrofia.t-õo
pr da b!!lfOtla
Uvro quf'I e11tA o se CilCl"<'V<>r, da A�ça.oCn­
tholka, ha de um logar de
occupar a af'UUL�ilo
destaque,
do Pc. u
J lio Maria.
A •Eeiec(ftO•, l!o Rio, et.crevcu tnmhenu
cAqul temos d e nClVO o grande c.�criptor que para o
Bra1dl lntt>lro C6lá n o ma verdadt>lru. rovclaç!lo nei;tf>s
at> d
ultlmoÂ���ºti;o(�lln1!{� ªa°uJ!:n�nu� �u��1tJ : gf�1:i°nil t�aude�
a i r e
Rvmo. P. .lulio Maria l"m cnrlquecld'> a.<1 Ietra11 catholk!l.s
de 0011sa terra e. fôrça é convlr, 6 um do<1 nos,,os muls
s
���c1:��rl?r':��!ª�l�g���:1:��z��:;8���:.e����1�:r:::.�
:iveJ.a: �l! �ºfr"g� :. nllo por uma aggresslvldado inadnus-
u a t
Ne1<tfls livros vigorosos, sente-1:10 o polcmista de ra--
e
:eüfO:::�� J��J��o:.!1���g�[d��:C voc;'1b"af.1�:S �8ueº°aDJ:
cn n m u t
�S:1� � :g�det: J0°�6s:n: �����f�e�t�!ºtb�!J-O/t��: �u '!;
slflcerlitade de sua lê.
El.o<iuente, mas sem rcbnscamentos lilera�Ios, o padre
Jullo Maria convence o lr·ltor das snllS obras, e orienta-o
pela 1Jln gular aeces lb!Ud:adc f/UC sabe dar ao seu estylo,
s
escorreito, Dias sem to1 t.io11ldade-A.. 1. R.

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