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AMERICANOS?
O olhar perspicaz de Bolívar captou num pestanejar a complexidade desse novo episódio humano
constituído por nós, os habitantes das terras deixadas pela colonização peninsular, extraindo dele
certeiras reflexões sociais e políticas. Porém, a advertência feita ao Congresso de Angostura (hoje
Cidade Bolívar, Venezuela), no dia 2 de fevereiro de 1819, era e ainda é valida não só para América
Meridional - como gostava de chamá-la – senão também para tudo o que hoje é América Latina e o
Caribe:
É impossível definir com propriedade qual é a família humana a que pertencemos. A maioria
indígena foi aniquilada, a parte europeia tem se misturado com a americana e africana e esta
[última] se tem misturado ao índio e ao europeu. Nascidos do mesmo seio materno, nossos pais,
diferentes na origem e no sangue, são estrangeiros, todos eles diferenciados pela epiderme.
Pouco tempo antes, o Libertador [título outorgado a Bolívar] tinha assinalado no mesmo discurso:
“Assim, nosso caso é o mais extraordinário e complexo.”
Nos séculos XIX e XX, “nosso caso” complicou-se ainda mais com a chegada dos que poderíamos chamar
de europeus “novos”, além da incorporação, sobretudo, dos asiáticos tanto do oriente próximo como do
distante: árabes, judeus, indianos, chineses, japoneses, cujos descendentes são tão latino-americanos
quanto os filhos dos indígenas, dos negros, e dos europeus “velhos”. Estadísticas indicam que a
imigração europeia ocupou grandes extensões de terra a partir de meados do século XIX na Argentina,
Uruguai, no sul do Brasil e do Chile, embora nenhuma das colônias e ex-colônias americanas tivesse
deixado de receber contingentes de espanhóis, portugueses, italianos, alemães, ingleses, franceses,
judeus europeus e outros, em dimensões diversas.