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Unidade II

Unidade II
5 uma MANHÃ DECISIVA PARA Jussara

Eram 6h10 da manhã, ainda escuro, quando os faróis do carro iluminaram os portões da sede da
“Confecções das Gêmeas”, quebrando o silêncio da rua com um som de motor estridente.

O segurança/porteiro do turno da noite, ainda meio sonolento, foi verificar quem era e, pela primeira
vez depois de vários meses, teve a satisfação de cumprimentar a Dona Jussara, sua chefe. Ela raramente
costumava chegar no trabalho a esse horário, geralmente iniciava suas atividades por volta das 9h.

Naquele dia, no entanto, Jussara estava ansiosa. Tinha muitos assuntos por resolver e, como não
queria trabalhar em casa para isso não se transformar em hábito, preferiu chegar mais cedo ao trabalho.
Bem mais cedo.

Ao entrar em sua (um tanto quanto bagunçada) sala, após remexer vários papéis, contratos e
correspondências sobre a sua mesa, ligou o computador e foi imediatamente ao programa de leitura de
e-mails.

Havia, como de costume, uma mensagem da contadora Marina, que costumava enviar um e-mail
diário com assuntos de rotina. Mas havia também, e ficou muito contente por conta disso, uma
mensagem do vendedor Rodrigo Onner, representante comercial no Brasil da Leerts S.A.

Abriu o e-mail com o seguinte texto:

São Paulo, 25 de XXXX de XXXX.

De: rodrigo_onner@leerts.com.br

Para: jussara_adm@cfgemeas.com.br

Assunto: proposta de venda de máquinas industriais Leerts.

Prezada Sra. Jussara,

Conforme conversamos no saguão do Hotel PanAmérica há duas semanas, envio


proposta detalhada do sistema Leerts de máquinas industriais para confecções de lotes
pequenos, com catálogo e preços. Como comentei, tenho certeza de que a Leerts é perfeita
para atender às suas necessidades. Estou à disposição para qualquer dúvida.

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E tenho uma boa notícia. Recebi aprovação do meu diretor de vendas e a senhora e
mais uma acompanhante estão convidadas a visitar o nosso stand na feira da confecção
de Hannover, na Alemanha, com todas as novidades que a Leerts lançará no mercado
nos próximos quatro anos. Nossa secretária entrará em contato para comentar sobre os
detalhes.

Fique tranquila que temos máquinas em nosso estoque aqui no Brasil para entregar em
pouco tempo.

Gostaria de saber se está disposta que eu faça uma visita pessoal em seu escritório.

Sem mais, até logo e desejo sucesso em seus negócios.

Leerts, sempre a seu lado!

Engenheiro Rodrigo Onner.

Vendedor técnico.

Depto Vendas Leerts América Latina.

Jussara gostou do e-mail e mais ainda do convite para ir a Hannover. Depois irá conversar com a
Juliana para ver se ela quer ir. Ela mesma irá recusar, porque não teria energias nesse momento e nem
tempo para uma viagem à Alemanha. Sabia que os pavilhões da feira de Hannover são gigantescos e é
necessário muita energia para andar e ficar em pé, além de disposição pra entender as explicações em
inglês. Era tudo o que acreditava não ter nesse momento.

O e-mail do Sr. Rodrigo tinha muito material em anexo. Ler tudo levaria um certo tempo. Bem... Valia
a pena! Após ela e Marina terem descoberto que os custos das máquinas tradicionais estavam proibidos
para uma atuação mais competitiva no mercado, enxergava a compra dessas novas máquinas como algo
necessário, mas que precisava ser bem estudado. A conversa com o Sr. Rodrigo Onner, que conheceu
quase por acaso no hotel PanAmérica, lhe deu inspiração para imaginar novos tipos de contrato para
oferecer aos clientes. Passou a imaginar um tipo de produção com pequenos lotes personalizados, feitos
sob medida para cada funcionário.

A tradição no mercado de confecções para uniformes é a produção de grandes lotes de uniformes


padronizados, em quatro tamanhos (P, M, G e GG), que eram vendidos também em grandes lotes aos
clientes que os estocavam e entregavam aos funcionários conforme a necessidade.

Esse sistema é considerado prático, porém, algumas empresas passaram a sentir grandes desvantagens.
Os clientes mantinham estoques de uniformes ocupando espaço, e muitas vezes sofriam problemas com
reclamações dos funcionários quanto aos tamanhos oferecidos, principalmente aos funcionários cujo
corpo exigiria algum tipo de personalização.

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Algumas empresas passaram a recorrer a serviços de lojistas que compravam grandes lotes de
uniformes padronizados e vendiam em pequenas quantidades para as empresas, em alguns casos
realizando ajustes personalizados.

Jussara sabia disso, e quando ouviu as explicações do Sr. Rodrigo no saguão do hotel ficou muito
interessada. A empresa que o Sr. Rodrigo representava produzia máquinas com custo baixo (ou pelo
menos é o que ele dizia) que permitiam produzir roupas personalizadas para cada funcionário sempre
que fosse solicitado, com qualquer tipo de personalização, como tamanho, cores, distintivos, estampas,
bolsos especiais, botões, porta-artefatos, uma ampla gama de opções. Também permitiam a utilização
de tecidos especiais de acordo com a necessidade funcional ou proposta de marketing da empresa. E
juntos trariam um efeito visível aos funcionários com uma dupla função: os funcionários sentiriam
uma maior força de equipe e ao mesmo tempo poderiam estar mais dispostos a promoções e tarefas
temporárias.

O que mais impressionou Jussara, no entanto, foi uma citação do casal Toffler e Toffler (1993, p. 76)
que havia no material promocional que o Rodrigo enviou:

Especificados os dados, as informações e/ou o conhecimento adequado,


é possível reduzir todos os outros insumos usados para criar riqueza. Os
insumos do conhecimento correto podem reduzir as necessidades de mão
de obra, reduzir estoques, poupar energia, poupar matérias-primas e reduzir
o tempo, o espaço e o dinheiro necessários à produção.

Uma máquina de cortar computadorizada, funcionando com precisão


fora do comum, desperdiça menos pano ou aço do que a cortadora pré-
inteligente que ela substitui. Impressoras “inteligentes”, automatizadas, que
imprimem e encadernam livros, usam menos papel do que as máquinas
de força bruta que substituem. Controles inteligentes poupam energia
ao regular o aquecimentos nos edifícios comerciais. Sistemas de dados
eletrônicos ligando fabricantes aos clientes reduzem o volume de produtos
– de capacitadores a roupas de algodão – que devem ser mantidos em
estoque.

Assim, o conhecimento, usado de forma adequada, torna-se o substituto


máximo de outros insumos. Economistas e contabilistas convencionais
ainda têm problemas com essa ideia, porque ela é difícil de quantificar, mas
o conhecimento é, agora, o mais versátil e mais importante de todos os
fatores de produção, possa ele ser medido ou não.

Era isso !

Agora ela entendia perfeitamente porque Marina havia apurado custos altos para as máquinas que
a confecção dispunha atualmente!

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A explicação era muito simples: apesar de as máquinas serem novas, foram produzidas para um
modelo de produção padronizado e com altas quantidades. Não era o caso. No negócio das gêmeas, a
personalização e a produção em pequenas quantidades era a pressão do mercado. Utilizar inteligência,
produzir em pequenas quantidades, de forma constante e personalizada, seria um fator competitivo dos
mais importantes. Ninguém fazia isso no Brasil, ainda.

Basicamente, Jussara montou rapidamente em sua mente um diagrama SWOT. E colocou isso no
papel:

Ajuda Atrapalha

S W
Criatividade da Josefa Poucos funcionários
(organização)

e visão de mercado com conhecimento


Interna

da Jussara de informática

Forças Fraquezas

O P
Necessidade de
Preços muito baixos
(ambiente)

personalização
Externa

Oportunidades Ameaças

Figura 2 - Diagrama SWOT da Confecção das Gêmeas

E entendeu que o produto que estava produzindo atualmente era “vaquinha leiteira”, em termos de
análise de rentabilidade. Apesar de ela e Jandira acharem que seria a “estrela“, por causa do desenho
personalizado.

Após a conversa com o Sr. Rodrigo no hotel, Jussara ligou para a Dona Corina, a gerente de RH da
gigantesca rede de supermercados Mel e Açúcar, que nunca havia comprado nada da Confecção das
Gêmeas, mas que já havia esboçado interesse em alguma coisa do gênero, e perguntou se uniformes
personalizados seriam um bom produto para vender e em que exatamente a Confecção das Gêmeas
poderia ajudá-los. Isso foi alguns dias atrás, quando a Dona Corina disse que iria dar um retorno em
breve.

Para a surpresa de Jussara, Dona Corina acabara de enviar um e-mail que estava aparecendo de
forma agradabilíssima na tela do computador!

Não resistiu e abriu imediatamente. No corpo do e-mail, Dona Corina dizia que tinha interesse
em uma linha personalizada de uniformes e enviava um briefing, parte escrito por ela própria
e parte escrito pela Sra. Daniela Geizel, gerente de marketing da a agência de publicidade que
atendia à Mel e Açúcar. E havia também um retorno do Sr. Nizan Tatanais, publicitário. O briefing
é o seguinte:

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Rede Mel e Açúcar

Briefing para campanha Mel e Açúcar – consolidação da expansão.

Há três anos a Rede Mel e Açúcar decidiu expandir suas atividades para diversas cidades
do interior e bairros periféricos de grandes cidades que já dispunham de supermercados de
médio porte, mas sem uma marca conhecida.

Essa expansão ocorreu por meio de aquisições.

Já há várias décadas, a Rede Mel e Açúcar construiu uma forte imagem de comerciante
de altíssima qualidade e bom gosto. Nesse período, nossas filiais encontravam-se em
bairros exigentes de alta e média concentração de renda, o que exigia a construção de
ambientes sofisticados e decorados com requinte. Ficamos conhecidos por sermos os
únicos supermercados com mármore no chão. Nem por isso nossos produtos eram (ou são)
comercializados com valores acima do preço encontrado em outros concorrentes que não
investiam em ambientes decorados. Esse era um dos compromissos e fatores de sucesso
do seu fundador, que oferecia um ambiente agradável, sofisticado, mas com preços justos.
Nunca foi política da rede a realização de promoções com apelo popular, como dias de baixo
preço, tão comuns nos dias atuais.

Sob a administração da nova proprietária, filha do fundador, decidiu-se expandir a rede


como forma de concorrência a grandes redes internacionais de supermercados que entraram
no país. Essa expansão foi realizada por meio de emissão de ações na bolsa de valores, o
que trouxe um volume de capitais muito grande. Decidiu-se então comprar supermercados
de médio porte já em atuação e implantar novas políticas de comercialização altamente
rentáveis.

No primeiro ano, os clientes absorveram essa mudança no perfil da rede com


naturalidade e alegria, porque sabiam da alta qualidade dos serviços. Porém, detectamos
algum tempo depois que os clientes das lojas tradicionais sentiram tristeza porque
pensaram que a rede iria baixar a qualidade dos seus serviços. E os clientes das novas
lojas adquiridas pensaram que a vinda da rede seria muito prejudicial. De forma geral,
começou a circular uma imagem de “rede careira” por causa da falta de promoções de
apelo popular.

Observamos então uma diminuição no faturamento, em parte por conta do impacto das
mudanças e também porque observamos que as equipes dos supermercados adquiridos não
estariam seguindo as políticas e a cultura da rede Mel e Açúcar, continuavam a trabalhar
com a mesma cultura e procedimentos de seus antigos empregadores, inclusive com os dias
de baixo preço e outras promoções locais.

É chegada a hora, então, de evoluir no processo de expansão, criar uma imagem


publicitária que, mais do que interfira no processo de comercialização, ajude a integrar
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os novos e antigos funcionários e fazer com que os clientes participem ativamente desse
processo.

Mais do que uma campanha publicitária, precisamos criar uma linguagem com o
consumidor, que deverá perdurar pelos próximos cinco anos.

Envio referências e publicidades de outros países que talvez ajudem a inspirar o trabalho.

Obrigada,

Daniela Geizel.

Gerente de Marketing.
Adaptado de: Bertomeu (2002, p .41)

E junto com o briefing, havia um retorno do publicitário:

ArtmapRRCCOT

PEDIDO DE SERVIÇO

Criação

Emitido em: XX/XX/XX 18:36 PS: 19733

Cliente: Rede Mel e Açúcar S.A.

Produto: consolidação da expansão da rede – linguagem com o consumidor.

Campanha: “Mel e Açúcar S.A. – fazemos parte da sua vida”.

Trabalho: 001 – Mel e Açúcar S.A. – retorno às origens.

Prezada Sra. Daniela Geizel

Após discutirmos o seu pedido, nossa equipe de criação chegou à conclusão de que a
rede Mel e Açúcar deve voltar às suas origens, ou seja, o nome Mel e Açúcar deve significar,
ficar bem claro a todos, que é um comércio de qualidade e preços bons, justos, com ambiente
sofisticado.

Em algumas localidades, não há nenhum problema em se anunciar promoções pontuais,


mas o binômio qualidade de serviço e preço baixo devem enfatizados. Para isso, utilizaremos
uma campanha “Fazemos parte da sua vida”, em que a experiência de visitar uma das lojas

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será o mais satisfatório, e o preço baixo será natural, sem maiores apelações. O importante
nessa campanha será o treinamento interno dos funcionários, aliado à publicidade impressa
e spots, comerciais de televisão.

Aguardo o seu contato para aprovação.

Atenciosamente,

Nitan Tatanais.
Adaptado de: Bertomeu (2002, p. 35-38)

Observação

Segundo Bertomeu (2002, p. 43) “o briefing é um documento criado por


profissionais diferentes e destinado a esses mesmos profissionais; é organizado,
embora seja feito pelas pessoas que vão recebê-lo; é claro e objetivo; usa
texto coloquial.” É o documento básico em agências de publicidade.

Ainda no e-mail da Dona Corina, o seguinte pedido entusiasmou completamente Jussara: “Você
pode desenvolver um uniforme diferente para nossos funcionários e funcionárias, levando em conta
essas mudanças e observações do publicitário? Nos dê ideias!”

Pouco depois, Josefa chegou, abriu a porta do escritório de Jussara e, olhando apenas com a cabeça
e com a voz medrosa, perguntou:

— O que aconteceu?

E foi retrucada pela Jussara, seguindo-se a seguinte conversa:

Jussara:

— Oh, bom dia! Por que essa pergunta com essa voz toda preocupada? Apenas resolvi vir trabalhar
mais cedo hoje!

Josefa:

— Não, você me desculpe, é de se preocupar! Você não veio trabalhar mais cedo, para os seus
padrões você veio de madrugada! Está tudo bem com você, está com o rosto ruborizado, o que
aconteceu?

(Entrando na sala e se sentando, mostrando real preocupação).

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Jussara:

— Jô, você nem imagina o que está acontecendo! Olha só este e-mail!

(Virando o monitor para Josefa poder ler).

Alguns minutos com silêncio sepulcral e depois Josefa começa a ler em voz alta, e Jussara acompanha
atentamente a leitura.

E depois Jussara levanta as sobrancelhas e fecha os dentes, gesto típico de quem está perguntando:
“e então, o que você acha!?”

Josefa:

— Ah... Bom, já sei o que você vai me pedir Ju. Sim, tudo bem, mando ainda hoje uma ideia
maravilhosa que eles certamente vão gostar. Sempre pensei em fazer algo assim. Não me é
surpresa nenhuma! Roupas personalizadas, para cada funcionário. Assim como se usa em
uma família, em uma casa. As pessoas não estarão lá trabalhando, estarão lá servindo, sendo
úteis para a vida das pessoas. Fazendo parte da vida das pessoas, como diz o Nizan Tatanais.
Mas... me diz uma coisa Ju...

(Olhando brava para a Jussara).

— Você não disse que nossas máquinas tem custo muito alto? Como vamos atender a esse pedido?

Jussara:

— Olha só isto aqui, Jô.

(Virando mais uma vez o monitor para a Josefa, que vê o material por longos minutos).

Josefa:

— Máquinas computadorizadas e de produção individual. São alemãs? Você vai comprar isso? Vale a
pena?

(Disparando cética um monte de perguntas e saindo da sala sem ouvir as respostas).

Jussara:

— Não, são austríacas. Vou... Vêm cá, Jô, onde você vai?

Meia hora depois, Josefa retorna com alguns croquis na mão em cartolinas e mostra para Jussara.

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Josefa:

— Dener! Dener Pamplona de Abreu! Se vamos voltar às raízes de uma rede de supermercados e
fazer com que as pessoas vejam essa rede como parte de suas vidas, uma boa ideia é revisitar, se
inspirar nas raízes da moda brasileira. Estão aqui, uniformes inspirados em elementos da moda do
Dener.

Jussara:

— Hummm. Não entendi?

Josefa:

— Todo mundo gosta de elegância. E esse é um padrão sofisticado, mas ao mesmo tempo conhecido,
simples. As pessoas irão ver algo de diferente, mas não impressionista, algo que faz parte. Da
mesma forma como um filho gosta de ver sua mãe bonita, o cliente irá entrar e ver a atendente
da padaria bem vestida, o açougueiro, a moça do caixa. Os funcionários se sentirão bem, parte de
uma equipe. E da vida das pessoas!

Jussara:

— Bem... Já que é a estilista que está falando... Você consegue responder ao e-mail da Dona Corina
ainda hoje?

(Olhando desconfiada).

Josefa:

— Não me olhe assim, Ju! Vai ver como a Dona Corina vai adorar esses croquis que eu criei. Eles vão
aprovar na hora nossa proposta! Eu quero agora é ver se essas máquinas aí são boas mesmo, e
você custeando e apresentando um preço para esse novo produto.

(Olhando com cara de desdém e saindo da sala com ar esnobe).

Jussara:

— Até parece que só eu que vou custear isso... É a senhora que vai fazer esse trabalho, viu, Dona
Jô!

(Gritando para a Josefa ouvir no corredor e resmungando: “Estilista está sempre querendo tirar o
corpo fora do trabalho administrativo!”).

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Josefa:

— Ah, eu vou calcular isso? Como?! O meu trabalho eu fiz, querida!

(Falando do fundo do corredor e rindo, em tom de deboche e desaforo).

Era interessante ver uma conversa entre as duas gêmeas. Parece que existe algo de sobrenatural
entre as duas de tão fácil que elas se entendem. E, de fato, Jussara verificou que o problema agora já
não é mais sobre o produto que irão apresentar, esse aspecto estava mais do que resolvido. A Confecção
das Gêmeas tinha um produto/serviço valioso para apresentar de um ponto de vista mercadológico, de
marketing. Naquela manhã, formaram-se as bases de um nova solução, de um produto de design.

O que aconteceu na conversa entre a administradora (Jussara) e a estilista (Josefa) é que a partir
da leitura da necessidade dos clientes as duas percorreram o processo típico de design, como dizem De
Castro e Menezes (apud MENEZES e PASCHOARELLI, 2009, p. 35):

No começo de um projeto, o designer procura identificar os problemas,


depois identifica as demandas, o público-alvo de um determinado produto.
Assim, o designer deve ter seu olhar no passado e os pés no futuro, ou
seja, juntar novas tendências ao conhecimento adquirido pelo tempo e pela
história sociocultural para a obtenção de um produto com identidade. Outra
característica do designer é sua capacidade de buscar respostas inovadoras
a problemas de natureza técnica a partir da decodificação de repertórios
culturais. Seria necessária a busca de suas raízes, a procura de significados
de seus signos e símbolos para um bom desenvolvimento de produto, ou
seja, um trabalho consciente e que seja funcional.

Mas agora faltavam calcular os custos e dar um preço a esse produto. Certamente a cliente das
gêmeas, Dona Corina, irá querer um preço justo. Mesmo que a ideia seja muito boa, se o preço cobrado
for muito alto ou acima das expectativas, não haverá compra, de acordo com a lei de oferta e procura
na economia. E, para calcular os custos, é imprescindível definir que tipo de máquinas irá utilizar.

Jussara, já perto da hora do almoço, começou a pensar seriamente nessa questão, enquanto analisava
os catálogos que o Sr. Rodrigo enviou. E lembrou-se de que a Marina havia enviado um e-mail. Clicou
no seu e-mail e leu:

São Paulo, 25 de XXXX de XXXX.

De: marina@contabilolimpo.com.br

Para: jussara_adm@cfgemeas.com.br

Assunto: compra de máquinas e depreciação.

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Prezada Jussara,

Sabendo que tem a intenção de comprar máquinas de menor custo para a confecção,
oriento-a a verificar com bastante clareza o tempo de vida que os fabricantes indicam, além
da maior quantidade possível de detalhes.

Precisamos definir critérios de depreciação mais condizentes para auxiliar no cálculo de


custos e preparar notas explicativas.

Qualquer dúvida, me ligue.

Marina.

Contadora.

Jussara achava meio sarcástico o “qualquer dúvida, me ligue” que a Marina costumava adicionar nos
seus e-mails. Tudo o que a Marina diz, leva a dúvidas. E que dúvidas! Mas Jussara, na realidade, adorava
conversar com Marina, parece que ela tinha o poder de ser uma das últimas peças de um complicado
quebra-cabeças, ajudando a finalizar as decisões. Não era à toa que Marina também é professora
universitária, ela tem um poder magnético de atrair as atenções e tudo o que fala dá resultado. Era esse
o caso, Jussara ligou para Marina e pediu para que ela a visitasse no dia seguinte.

Ao final do dia, já sabia que máquinas iria comprar e recebeu um e-mail maravilhoso, mas muito
preocupante ao mesmo tempo, da Dona Corina.

São Paulo, 25 de XXXX de XXXX.

De: corina@redemeleacucar.com.br

Para: jussara_adm@cfgemeas.com.br

Assunto: proposta uniformes.

Prezada Jussara,

Adorei!

Enviei também ao Nitan Tatanais e ele gostou mais ainda. Quer usar os uniformes nos
comerciais de TV, daqui a uns dois ou três meses.

Mande-me um orçamento para fornecimento constante durante dois anos.

Vou pedir para o Alexandre do setor de compras te passar os números, frequências e


quantidades que iremos precisar.
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Espero em breve ter vocês como fornecedoras, o trabalho que vocês fazem é muito
bacana!

Dona Corina,

Gerente de RH.

Rede Mel e Açúcar.

Saiba mais

O estilista Dener foi um dos grandes nomes do estilismo brasileiro.


Conheça um pouco sobre o trabalho dele no seguinte site: <http://www2.
uol.com.br/modabrasil/biblioteca/grandesnomes/dener/desori3.htm>.

5.1 Uma conversa com Marina

Marina não teve como visitar Jussara no dia seguinte, mas na manhãzinha do outro dia, (quer dizer,
“manhãzinha’” apenas para a Jussara, porque eram já eram 10h30!), estava no bagunçado escritório da
Jussara.

Marina costumava ter uma preocupação muito grande quanto a imobilizado, ou seja, aqueles
Ativos à disposição da empresa para que essa preste serviços ou venda seus produtos aos clientes.
São as máquinas industriais, veículos, tratores, caminhões, imóveis etc. De acordo com a definição dos
professores da USP, conforme Iudícibus (et al., 1986, p. 188):

O Ativo Imobilizado é a parcela do Ativo que se compõe de direitos que


tenham por objeto bens destinados à manutenção da atividade da empresa
ou exercida com essa finalidade, inclusive os de propriedade industrial ou
comercial, são elementos que servem a vários ciclos operacionais e não se
destinam à venda. Estão incluídos entre tais elementos também aqueles
que, pertencentes à empresa, se destinem a servir no futuro ao processo
operacional.

No Pronunciamento Conceitual Básico, conforme CPC (2013), um “Ativo” de forma geral é definido
como:

4.8. O benefício econômico futuro incorporado a um Ativo é o seu potencial


em contribuir, direta ou indiretamente, para o fluxo de caixa ou equivalentes
de caixa para a entidade. Tal potencial pode ser produtivo, quando o recurso
for parte integrante das atividades operacionais da entidade. Pode também
ter a forma de conversibilidade em caixa ou equivalentes de caixa ou pode

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ainda ser capaz de reduzir as saídas de caixa, como no caso de processo


industrial alternativo que reduza os custos de produção.

4.9. A entidade geralmente emprega os seus Ativos na produção de bens ou


na prestação de serviços capazes de satisfazer os desejos e as necessidades
dos consumidores. Tendo em vista que esses bens ou serviços podem
satisfazer esses desejos ou necessidades, os consumidores se predispõem a
pagar por eles e a contribuir assim para o fluxo de caixa da entidade. O caixa
por si só rende serviços para a entidade, visto que exerce um comando sobre
os demais recursos.

Vemos, então, que há uma forte preocupação de definir imobilizado, como bens que estão à
disposição da empresa, ou seja, que têm uma possibilidade de gerar recursos financeiros para a empresa,
fluxo de caixa. E também contribuir para a economia, para a sociedade. Podem ser tanto tangíveis, ter
forma física, como intangíveis, sem forma física.

Dentro da definição da ciência da economia, os bens que são classificados na contabilidade como
“imobilizados”, são também definidos como “bens de capital”. Ocorre que esses bens, até por uma
condição natural, se desgastam com o passar do tempo ou de acordo com o seu uso. Os contadores
costumam ter uma preocupação muito grande com a questão do desgaste natural, da perda funcional,
e os economistas consideram que uma máquina industrial sempre tem condições de uso ou um valor
de mercado. Os professores da USP (apud IUDÍCIBUS et al., 1986, p. 190) conceituam depreciação da
seguinte forma:

A palavra “depreciação” é de uso muito frequente, tanto na linguagem


popular como na linguagem tecnológica, econômica e contábil. Em sentido
vulgar, está quase sempre ligada à ideia de valor, porém, este valor, em
geral, nunca é bem definido. Na acepção tecnológica, a palavra é aplicada
no sentido de perda de eficiência funcional dos bens, tais como máquinas,
instalações, veículos etc. Para a economia, a depreciação está intimamente
relacionada com a ideia de diferença entre valores. Tais valores podem
ser objetivos (valores de mercado) ou subjetivos (valores atribuídos pelos
proprietários aos seus próprios bens).

Para a contabilidade, a depreciação é um custo amortizado. A depreciação de


um período é o custo amortizado nesse período, assim como a depreciação
global de um bem é a parte do custo amortizado durante a vida útil do
bem. Embora o preço de custo seja um valor, trata-se na verdade de um
valor muito especial, daí a grande diferença entre o conceito contábil de
depreciação e os demais.

Observe por essas definições dos professores da USP que existe uma diferença muito grande entre o
que as pessoas normalmente pensam por depreciação e a forma como os contadores definem o mesmo
conceito. Para os contadores, depreciação é algo muito importante e jamais deve ser desconsiderado.
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Ciências Contábeis Integrada

Um exemplo bem claro disso:

Se perguntarmos a um viajante que se desloque da cidade de São Paulo até Belo Horizonte por
meio de avião, certamente ele irá dizer que o custo da viagem foi de x,xx reais. Para dizer isso, estará
considerando o valor da passagem aérea que comprou no guichê da companhia aérea no aeroporto.

Mas, e se perguntarmos a outro viajante que se desloque da mesma cidade de São Paulo até Belo
Horizonte por meio de um carro particular? Certamente ele irá dizer que o custo da viagem foi de y,yy
reais. Para dizer isso, estará considerando o valor do combustível que comprou para abastecer o tanque
do carro nos postos de gasolina ao longo da viagem. Irá desconsiderar por completo o desgaste do carro,
mesmo porque não teve que pagar por ele, assim, é difícil de dizer qual foi esse gasto.

Mas e o desgaste do carro?

É evidente que o carro sofreu algum desgaste durante a viagem, sua utilização não foi com custo
zero. É imprescindível reconhecer esse gasto. O problema é calcular o quanto exatamente foi esse
desgaste. Os contadores se impõem então uma necessidade de realizar esse cálculo.

Por essa razão, a contadora Marina, assim como qualquer contador, se mostra tão preocupada com
o problema da depreciação. Mas ela também está preocupada com os critérios a utilizar. Aqui, temos
uma das grandes novidades que as normas internacionais de contabilidade trazem aos contadores
brasileiros.

O cálculo da depreciação até alguns anos atrás era um cálculo relativamente simples e estava
estipulado nos arts. 305 a 339 do RIR/99 (Regulamento de Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas de
1999). Eis o artigo:

Art. 305. Poderá ser computada, como custo ou encargo, em cada


período de apuração, a importância correspondente à diminuição do valor
dos bens do Ativo resultante do desgaste pelo uso, ação da natureza e
obsolescência normal (Lei nº 4.506, de 1964, art. 57).

§ 1º. A depreciação será deduzida pelo contribuinte que suportar o encargo


econômico do desgaste ou obsolescência, de acordo com as condições de
propriedade, posse ou uso do bem (Lei nº 4.506, de 1964, art. 57, § 7º).

§ 2º. A quota de depreciação é dedutível a partir da época em que o bem é


instalado, posto em serviço ou em condições de produzir (Lei nº 4.506, de
1964, art. 57, § 8º).

§ 3º. Em qualquer hipótese, o montante acumulado das quotas de depreciação


não poderá ultrapassar o custo de aquisição do bem (Lei nº 4.506, de 1964,
art. 57, § 6º).

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§ 4º. O valor não depreciado dos bens sujeitos à depreciação, que se tornarem
imprestáveis ou caírem em desuso, importará redução do Ativo imobilizado
(Lei nº 4.506, de 1964, art. 57, § 11).

§ 5º. Somente será permitida depreciação de bens móveis e imóveis


intrinsecamente relacionados com a produção ou comercialização dos bens
e serviços (Lei nº 9.249, de 1995, art. 13, inciso III).

O mesmo regulamento estipulou, como um tempo razoável para a depreciação dos Ativos
imobilizados, o seguinte:

• 10 anos para depreciar as máquinas;


• 5 anos para depreciar veículos;
• 10 anos para móveis;
• 25 anos para os imóveis.

O próprio regulamento orientava os contribuintes a verificar condições específicas de uso dos Ativos
imobilizados, como, por exemplo, se esse bem seria utilizado em mais do que um período de trabalho
(depreciação acelerada).

Um exemplo básico de cálculo, pelo método linear:

Esse procedimento, durante vários anos, foi utilizado no Brasil e, de certa forma, acomodou os
contadores a sempre utilizarem essa tabela prática, sem verificar situações específicas de uso no cliente.

Exemplo de aplicação

Figura 3 – Máquina de costura industrial

Imaginemos que uma máquina dessas seja adquirida e contabilizada nos livros contábeis da empresa por
R$ 12.000,00. Na ocasião, o contador certamente fará um lançamento contábil da seguinte forma:
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Ciências Contábeis Integrada

Compra de uma máquina industrial Galoneira 542D ES DD de alta velocidade, da marca Singer, de
acordo com a NF. XXXX da Comércio de Máquinas Industriais Exemplar Ltda.

D – Máquinas industriais (Ativo Imobilizado) R$ 12.000,00

C – Conta corrente no Banco Exempel (Ativo Circulante) R$ 12.000,00

Após um mês de utilização nas atividades da empresa, essa máquina estará em plenas condições
de uso. No entanto, é inegável que já tem um mês de utilização e teve algum desgaste, mesmo que
imperceptível. Então, utilizando a tabela do RIR/99 que prevê dez anos de utilização para máquinas
industriais, realizaremos o seguinte cálculo, para obter as chamadas “quotas” de depreciação:

Quota de depreciação = custo – valor residual (eventual)


Periódica (anual ou mensal) nº períodos de vida útil estimada

(em anos ou meses)

Então:

Quota de depreciação = 12.000,00 = 100,00


120

No livro diário, será realizado o seguinte lançamento contábil:

Depreciação sobre máquina industrial Galoneira 542D ES DD de alta velocidade, da marca Singer, de
acordo com quota mensal conforme cálculos em nossos sistemas de controle interno.

D – Depreciação (despesa) R$ 100,00

C – Depreciação acumulada (redutora Ativo Imobilizado) R$ 100,00

Assim, no Balanço Patrimonial, ao final desse mês, surgirão as seguintes contas:

Máquinas industriais (Ativo Imobilizado) R$ 12.000,00

Depreciação acumulada (redutora Ativo Imobilizado) (R$ 100,00)

No mês seguinte, ocorrerá o mesmo lançamento, até que a máquina seja completamente amortizada.

Caso a mesma máquina seja utilizada em turnos diferentes, será aplicada “depreciação acelerada”.

115
Unidade II

Lembrete

Em um lançamento contábil no Diário é imprescindível:

• Data e local.
• Um histórico esclarecedor.
• Contas a débito e a crédito, sendo o débito sempre na primeira linha.
• Valores.

Nos casos de itens do imobilizado terem utilização em mais de um turno de trabalho, o contador
deveria aplicar a chamada “depreciação acelerada”, de acordo com o art. do RIR/99:

Art. 312. Em relação aos bens móveis, poderão ser adotados, em função
do número de horas diárias de operação, os seguintes coeficientes de
depreciação acelerada (Lei nº 3.470, de 1958, art. 69):

I - um turno de oito horas...........................1,0;

II - dois turnos de oito horas.......................1,5;

III - três turnos de oito horas.......................2,0.

Parágrafo único. O encargo de que trata este artigo será registrado na


escrituração comercial.

A técnica linear é amplamente utilizada no Brasil. Mas os autores da contabilidade costumam expor
outras técnicas, como, por exemplo:

• Método da soma dos algarismos dos anos:

Os algarismos que formam o tempo de vida útil do bem são somados, formando o denominador da
fração que determinará a quota de depreciação.

• Método das horas de trabalho:

Utiliza-se o apontamento das horas de trabalho empregadas para bem como critério para formar as
quotas de depreciação, de acordo com o volume de horas previstas para o bem.

• Métodos das unidades produzidas:

116
Ciências Contábeis Integrada

Utiliza-se a quantidade de unidades produzidas empregadas para bem como critério para formar as
quotas de depreciação, de acordo com o volume de unidades que espera-se que o bem possa produzir.

O que se questiona, no entanto, é se uma máquina industrial realmente dura dez anos conforme a
legislação previu de forma genérica. Há situações em que uma máquina de costura desse tipo que foi
usada como exemplo terá uma duração de poucos meses, ou supere em muito esse período de dez anos,
podendo-se atribuir quotas diferenciadas.

Observação

Após passar o período de depreciação aceito pela legislação, ocorriam no


Brasil diversos casos em que os bens estavam completamente depreciados,
mas em pleno uso e sem perspectiva de abandono ou substituição. Não é
o ideal!

Há um pronunciamento internacional IAS 16 sobre o imobilizado e a depreciação, publicado no Brasil


pelo CPC, com o número 27. Segundo o CPC (2011), é importante que cada item do Ativo Imobilizado
seja depreciado de forma separada e em especial:

Conforme a entidade deprecia separadamente alguns componentes de um


item do Ativo Imobilizado, também deprecia separadamente o remanescente
do item. Esse remanescente consiste em componentes de um item que
não são individualmente significativos. Se a entidade possui expectativas
diferentes para essas partes, técnicas de aproximação podem ser necessárias
para depreciar o remanescente de forma que represente fidedignamente o
padrão de consumo e/ou a vida útil desses componentes.

Como era previsto na legislação brasileira, o cálculo da depreciação deve ser linear, sistemática ao
longo da sua vida útil estimada, conforme diz o pronunciamento 27 do CPC (2013):

50. O valor depreciável de um Ativo deve ser apropriado de forma sistemática


ao longo da sua vida útil estimada.

E na parte 27, desse mesmo pronunciamento, define-se o tempo de vida útil:

57. A vida útil de um Ativo é definida em termos da utilidade esperada


do Ativo para a entidade. A política de gestão de Ativos da entidade pode
considerar a alienação de Ativos após um período determinado ou após o
consumo de uma proporção específica de benefícios econômicos futuros
incorporados no Ativo. Por isso, a vida útil de um Ativo pode ser menor do
que a sua vida econômica. A estimativa da vida útil do Ativo é uma questão
de julgamento baseado na experiência da entidade com Ativos semelhantes.

117
Unidade II

Portanto, com essas definições, estimar a vida útil de um bem do imobilizado e sua depreciação
deve ser um exercício realizado pelo contador que demonstre com exatidão o desgaste, a sua perda de
eficiência operacional. Se essa perda de eficiência é muito pequena, a depreciação a ser contabilizada é
muito pequena. Se for grande, a despesa de depreciação que o contador irá lançar também deverá ser
grande.

Assim, essa necessidade impele ao contador conhecer os aspectos técnicos das operações e solicitar
a participação expressiva nesse processo de outros profissionais a serviço da empresa.

Observe a seguinte conversa entre Jussara e Marina:

Jussara:

— Ás vezes eu acho que nunca vou conseguir atender a todas as necessidades para ter uma
contabilidade 100%. Nem comprei as máquinas ainda e você já me pergunta como irei utilizá-las,
quanto tempo, como, com que custo....

(Olhando desconsolada para a Marina).

Marina:

— É só impressão sua, mas por outro lado, olha quantas informações a gente consegue formar para
bem administrar a confecção!

(Falando com voz firme e orgulhosa).

Jussara:

— Isso é verdade! Mas, olha só, agora tenho que fazer um orçamento para a Dona Corina da Rede
Mel e Açúcar e nem sei por onde eu começo!

Marina:

— Sabe sim. Use os dados que você já tem. E tente adaptar com o que terá de custo com as novas
máquinas. Nos catálogos que você recebeu existe alguma informação sobre o tempo de vida
esperado?

Jussara:

— Não, eu vou pedir.

Marina:

— E como pretende utilizar essas máquinas, quanto tempo etc.?


118
Ciências Contábeis Integrada

Jussara:

— Eu não faço a menor ideia! Mas é importante, né? Vou pedir uma explicação mais detalhada do
fabricante. E aí eu planejo melhor.

Marina:

— Sim! Eu sugiro, até onde eu entendi dessas suas máquinas “inteligentes”, que é melhor adotarmos
uma depreciação por utilização da máquina, não exatamente pelo tempo, pela “passada” na
máquina. Penso que a hora/máquina é melhor para casos de produção em massa. Não é o seu
caso. Mas, quando você tiver mais informações, me chame imediatamente. No CPC 27 orienta-se
a revisar os critérios uma vez por ano. Por enquanto, vou adotar um cálculo simples. Com mais
informações, faremos a revisão, mais acurada. Isso, faremos isso!

(Nesse momento, passa Josefa no corredor e Jussara a chama).

Jussara:

— Traz os croquis para a Marina ver os uniformes da Mel e Açúcar!

(Após alguns minutos).

Josefa:

— Estão aqui! São uniformes personalizáveis, inspirados na moda brasileira, no Dener. O que achou?

Marina:

— Josefa, sinceramente, eu não sei nada de moda, não é bem o meu forte. Se você me perguntasse de
maquiagem, mas... Você não fica triste se eu disser que achei muito feias essas roupas? Esquisitas.
Bem, não é que são feias, são muito... Sei lá, parece que eu já vi isso em algum lugar.

Josefa:

— Sério, mesmo? Você achou feias mas familiares?!

Marina:

— É! É isso mesmo! Já vi isso em algum lugar. Mas não usaria essas roupas, são feias!

Josefa:

— Iupi! Hahá! Era isso mesmo o que eu queria! Essas roupas vão funcionar! Tá vendo, Ju? Obrigada,
Marina!
119
Unidade II

(Apertou o ombro de Marina e saiu da sala toda contente).

Marina:

— Jussara, me explica isso! Por que a Josefa ficou tão contente? Esses desenhos dela são muito feios,
estou falando mal do trabalho dela! E ela… Gostou! Agora eu que eu não entendi nada!

Jussara:

— Eu também não entendo algumas coisas que a Josefa faz. Mas o importante é que o cliente
adorou! E vai comprar! Vamos tentar definir os critérios e quotas de depreciação, é bem mais fácil.

Marina:

— Tem razão. É o mais fácil.

Saiba mais

Leia na íntegra o Pronunciamento CPC 27 Ativo Imobilizado, que


está disponível gratuitamente no seguinte site: <http://www.cpc.org.br/
mostraOrientacao.php?id=37>.

6 uma ROQUEIRA CONTADORA COM EXCELENTES RELACIONAMENTOS

Josefa e Jussara foram visitar pessoalmente a Dona Corina, na sede da Rede Mel e Açúcar, que ficava
em um prédio altíssimo e com “pano de vidro” verde que refletia toda a paisagem na Av. Faria Lima,
em São Paulo. Na recepção, o que chamava a atenção era um gigantesco portal de mármore branco.
Dava para notar que era uma pedra inteiriça, sem nenhuma emenda e que foi esculpida por um artista
milimetricamente, formando detalhes impressionantes. Deve ter dado um trabalhão para fazer essa obra
de arte e mais ainda para transportá-la até lá, deve ter ficado uma fortuna!

Saiba mais

A Avenida Faria Lima fica nos bairros de Pinheiros e Itaim Bibi em São
Paulo, e abriga prédios de escritório luxuosíssimos, como o Edifício San
Paolo e o Pátio Victor Malzoni, megaprédio que conta até mesmo com
estacionamento para helicópteros.

Vale a pena conhecê-los.

120
Ciências Contábeis Integrada

O prédio todo era luxuosíssimo e moderno, com instalações ambientais, reaproveitamento de água,
geração de energia elétrica por painéis solares e tudo mais. Dependendo da hora do dia, as janelas
se abriam ou fechavam automaticamente, controlando luz e calor. Evidentemente que as duas irmãs
estavam impecavelmente vestidas e, por serem muito bonitas e idênticas, por onde passavam faziam
as pessoas pararem para olhar com curiosidade. Estavam acostumadas com isso, porém procuravam
não sair muito e visitar clientes porque se sentiam incomodadas com essa reação que provocavam nas
pessoas.

A recepcionista indicou o elevador, que era outra inovação. Não haviam botões, elas não precisavam
aguardar pelo elevador que já estava com as portas abertas e designado para ir exatamente no oitavo
andar, onde ficava a sala da Dona Corina. A mocinha da recepção explicou que os elevadores também
eram ambientalmente saudáveis e que produziam energia elétrica quando desciam. Em especial, as duas
notaram uma preocupação quase doentia de todos para mostrar detalhes ambientalmente corretos que
passam despercebidos.

Chegaram à sala da Cona Corina e imaginaram que encontrariam uma mulher elegantemente vestida.
Que nada! A Dona Corina era a simplicidade em pessoa. De cabelos curtos, não usava maquiagem e
vestia apenas uma calça jeans surrada com rasgos propositais e uma camiseta branca de uma campanha
contra o câncer, bem “simplesinha”. Passaram então a conversar animadamente e assinaram o contrato
ali mesmo na mesa, mal deu para sentar nas cadeiras, tiveram que deslocar pilhas de relatórios e revistas
que estavam repousadas nelas. Se Josefa reclamava que o escritório da Jussara era muito bagunçado,
em vista do da Dona Corina, era o mais organizado do planeta!

As mulheres assinaram os contratos e falaram sobre detalhes. Dona Corina citou o caso de uma
funcionária da padaria de uma das lojas que quase foi na justiça porque deram a ela um uniforme com
um tecido tão fino e transparente, que ela se sentiu constrangida. Ela pediu para o gerente outra roupa
e ele não aceitou, disse que ela teria que usar o uniforme disponibilizado pela empresa. O problema é
que, por inibição ou vergonha, por conta de o gerente ser um homem, a funcionária não falou o real
motivo de suas preocupações. Ela então passou a frequentar a loja com roupas brancas particulares, que
não eram o uniforme, e foi advertida.

Levou certo tempo para o departamento de recursos humanos tomar conhecimento do caso e
descobrir o real motivo da insatisfação da funcionária. Em uma situação dessas, por algo aparentemente
tão sem importância, a empresa poderia perder uma causa na Justiça do Trabalho e ter que pagar uma
indenização. Sem contar o escândalo, caso o assunto parasse nas mãos de jornalistas.

Então, Dona Corina via o trabalho das gêmeas com muita responsabilidade. Ficou claro ali que elas
não estavam apenas fornecendo roupas, isso era apenas um detalhe de toda a operação. As gêmeas
prestavam um serviço importantíssimo que possibilitava à empresa alcançar seus objetivos.

Dona Corina pediu ainda que elas visitassem o Sr. Nizan Tatanais na Artmap RRCCOT, na av. Brigadeiro
Luís Antônio, e procurassem ajudar de alguma forma as gravações dos comerciais que, como havia sido
solicitado, já teriam os uniformes.

121
Unidade II

A visita à Dona Corina foi muito importante para as gêmeas. Elas reforçaram a visão de que não
estavam apenas “assentando pedras, mas construindo catedrais” que formaram ao longo dos anos de
trabalho. No mundo da moda, normalmente vende-se um conceito que sai do trabalho e da visão do
estilista, como artista. Para vender uniformes profissionais, no entanto, esse artista precisa também ter
a sensibilidade de entender qual é a proposta da empresa e agir sobre ela.

Antes de irem embora, cansada, Jussara pediu à Josefa para sentar em um dos deliciosos sofás da
pequena recepção do escritório da Mel e Açúcar para descansarem um pouco. Nem precisa dizer que as
gêmeas causaram furor em todo o andar, todos achavam que eram artistas. Mas na recepção estavam
a salvo! Jussara retirou da bolsa um smartphone e começou a ver suas mensagens e e-mails. E estava
lá um e-mail da Solange, uma moça muito maluquinha que trabalhava para Marina. Amanhã eu vejo
isso, Jussara disse.

No dia seguinte, Jussara abriu o seu computador e releu o e-mail da Solange:

São Paulo, 31 de XXXX de XXXX.

De: solangelee@contabilolimpo.com.br

Para: jussara_adm@cfgemeas.com.br

C.C: marina@contabilolimpo.com.br

Assunto: PeCLD.

Olá, Jussara.

Gostaria de saber se a senhora quer manter os mesmos critérios para a PeCLD. Posso
fazer o mesmo que fiz no ano passado?

Brigada,

Solange Lee.

Subcontadora.

Definitivamente, Jussara se irritava com a Solange que até que era uma moça bacana, mas muito
cheia de manias. Solange era funcionária da Marina no escritório de contabilidade e tida por todos como
uma contadora de muito talento. Recém-formada, Solange também é vocalista em uma banda cover de
rock que se apresenta de vez em quando em um pub inglês em Moema, e onde mais forem convidados.
Jussara a achava insuportável, sua voz era muito grossa e não conseguia olhar para o seu rosto sempre
rebocado com fortes camadas de maquiagem escura e brilhos. Um horror! A única coisa que salvava
era... Que Jussara também gosta do Led Zeppelin. Até foi a uma das apresentações da Solange, embora
goste mesmo é de uma boa música clássica e de pop music.
122
Ciências Contábeis Integrada

Marina gostava muito de Solange porque certa vez lhe apresentou uma cantora desconhecida que
estava procurando uma contadora para abrir uma empresa e resolver alguns problemas. Pois bem, essa
cantora é a mundialmente conhecida Clara Clar, que continua cliente de Marina e deu um bom lucro
para o escritório de contabilidade, além de uma boa imagem.

Jussara recostou-se na cadeira e pensou no que responder para essa “maluquinha”. A pergunta era
muito relevante. A provisão para créditos de liquidação duvidosa (PeCLD), conforme a Marina havia lhe
explicado, era de suma importância dentro da contabilidade e uma forma de mostrar para o usuário
das demonstrações contábeis que o princípio da competência está sendo observado em sua totalidade.

Lembrete

Até a pouco tempo, antes da entrada das normas internacionais de


contabilidade no Brasil, a PeCLD era conhecida pela sigla PDD que significa
Provisão para Devedores Duvidosos. Imagina-se que esse é um termo que
será usado informalmente por algum tempo.

Caso um ou mais clientes cessem de pagar uma compra à vista, de forma definitiva e incobrável, a
empresa terá uma perda. Sendo assim, é de obrigação do contador demonstrar que a empresa tem créditos
a receber e quanto desses créditos talvez não venham a ser recebidos. Então, o contador demonstra o
chamado “valor líquido de realização”, ou seja, o valor em dinheiro que se espera obter. Normalmente,
conforme dizem Nagatsuka e Teles, (2002, p. 125) “a sistemática mais utilizada é o estabelecimento de
uma média estatística de inadimplência dos últimos três ou cinco anos”.

O fato é que a Confecção das Gêmeas não tinha essa situação. Normalmente, em alguns casos, os
pedidos eram feitos sob encomenda e com pagamento antecipado. E todas as vendas à prazo eram
pagas, às vezes com alguns dias ou semanas de atraso, mas eram sempre pagas. Somente houve um
caso de uma loja de Santa Catarina que acabou não pagando uma pequena compra de uniformes, mas
foi por conta do falecimento de seu proprietário.

Jussara sabe que há segmentos do mercado em que existe muita inadimplência, sendo assim, a taxa
de PeCLD costuma ser elevada, mas estabeleceu-se uma taxa de 0,1 % sobre o saldo da conta “clientes
a receber”.

Para este ano, um novo cliente iria voltar para a carteira da Confecção das Gêmeas, uma tradicional
loja especializada em “moda branca” (roupas para profissionais da área da saúde), na Avenida Borges
Lagoa, em São Paulo.

Observação

Na cidade de São Paulo, há algumas ruas de comércio especializadas,


como a 25 de março e/ou a Av. da Consolação. A Av. Borges Lagoa fica
123
Unidade II

próximo ao Hospital São Paulo e a outros grandes hospitais, por isso, abriga
uma boa quantidade de lojas de produtos médicos e hospitalares.

Produzir moda branca é interessante, porém ocupa muito trabalho da equipe da confecção para
um retorno muito baixo. Mas, como disse Marina certa vez, ajuda a pagar os custos fixos da empresa.
Melhor ter esse cliente a não ter, que é sempre um dinheiro entrando. Dificilmente eles irão deixar de
pagar.

Pensou e respondeu o seguinte para a Solange, via e-mail:

São Paulo, 31 de XXXX de XXXX.

De: jussara_adm@cfgemeas.com.br

Para: solangelee@contabilolimpo.com.br

C.C. marina@contabilolimpo.com.br

Assunto: Re: PeCLD.

Oi, Solange.

Como vai, cantando muito e encantando seus fãs?

Vou manter os mesmos critérios para a PeCLD. Para este próximo ano, não vejo
necessidade de rediscutir os critérios.

Jussara,

Administradora.

Solange, ao receber o e-mail da Jussara, apressou-se em realizar uma lançamento contábil nos livros
da Confecção das Gêmeas da seguinte forma:

Antes de realizar o cálculo da PeCLD, apura-se um valor médio para a conta “contas a receber”,
“clientes” ou “duplicatas a receber” (a denominação pode variar). No caso da Confecção das Gêmeas
(valores para exemplo):

ECLD = saldo de clientes x percentual de estimativa de perda.

R$ 100.000,00 x 0,1% = R$ 100,00

E após o cálculo, virá o lançamento contábil para registro da estimativa:

124
Ciências Contábeis Integrada

• Constituição de estimativa para créditos de liquidação duvidosa, conforme controle interno.

D – Despesas para créditos de liquidação duvidosa (DRE) 100,00

C – Estimativa para créditos de liquidação duvidosa (AC) 100,00

Com esse lançamento da Solange, o Balanço Patrimonial mostra ao usuário externo da contabilidade
a situação esperada quanto ao “contas a receber”:

Representação no balanço patrimonial

Ativo Passivo
Circulante Circulante
...
....
Clientes a receber 100.000
( - ) ECLD......... ( 100 ) Não Circulante

Não Circulante
Patrimônio líquido

Total Total

O usuário da informação contábil logo irá verificar que a Confecção das Gêmeas recebe praticamente
todo o valor das suas vendas à prazo, sendo que essa não é uma dificuldade no negócio que exija
atenção.

Uma situação um tanto privilegiada, porque no Brasil grande parte das vendas são realizadas a prazo
e sabe-se que alguns setores sofrem com muita inadimplência.

Solange, antes de realizar esse lançamento, realizou outro de reversão da estimativa para créditos de
liquidação duvidosa do ano anterior, que havia sido calculada em R$ 130,00:

São Paulo, 30 de XXXX de XXXX.

Reversão da estimativa para créditos de liquidação duvidosa do ano anterior, conforme


controle interno, por não utilização.

D – Estimativa para crédito de liquidação duvidosa (AC) 130,00

C – Reversão de estimativa para crédito de liquidação duvidosa (DRE) 130,00

125
Unidade II

Observe que, no lançamento da nova provisão, contabilizou-se uma despesa de R$ 100,00 e que,
neste ano, contabiliza-se uma receita de R$ 130,00. Juntos, esses lançamentos irão equilibrar o resultado.

Se o valor fosse exatamente o mesmo, ou seja, R$ 100,00, não haveria nenhuma alteração no
resultado.

Então, a intenção das provisões são a de equilibrar o resultado caso não ocorram créditos de liquidação
duvidosa. Mas se houver casos de créditos em que declare-se que não haverá condições de recebimento,
o contador deverá ajustar o lançamento reconhecendo o gasto para o resultado da empresa.

Logo após realizar o lançamento no sistema da empresa, Solange ligou para Jussara para agradecer
e dar o trabalho por encerrado. No entanto, isso seria completamente dispensável uma vez que o
cálculo da PeCLD, assim como outras atividades, é uma operação de rotina que não demanda maiores
planejamentos e gasto de tempo. No entanto, Solange tinha outro interesse, acompanhe o diálogo entre
as duas, ao telefone.

Jussara atende ao telefone:

Solange:

— Senhora Jussara?

Jussara:

(Irritada por ter sido chamada de senhora).

— Fala, Solange. Já te pedi para nunca mais me chamar de Senhora! Sou uma mulher jovem e
solteira, ok?

Solange:

(Resignada e zombando de Jussara).

— Tá bom! Senhorita Jussara!

Jussara:

(Com os olhos fechados, toda esnobe).

— Isso, Senhorita! Aprende a me tratar direito, menina! O que você quer, fez o lançamento?

Solange:

(Provocativa).
126
Ciências Contábeis Integrada

— Fiz. Mas não mereço esse tratamento, Senhorita Jussara, afinal de contas, tenho bons negócios
para a Senhora... ops, Senhorita.

Jussara:

(Cética, brincando com Solange para irritá-la).

— Negócio para mim?

(Dá uma risada sarcástica).

— Como negócio pra mim? O que uma roqueira esquisita como você pode me oferecer?

Solange:

(Irritadíssima).

— Bom, eu mesma não, concordo com você, tá? Mas tenho uma amiga que conheci na X Club, uma
casa noturna, que é gerente na T´Oriul, uma tradicional marca cosmética francesa, que vai fazer
uma exposição no Parque de Exposições do Anhembi e precisa de umas roupas especiais. Posso te
passar o telefone dela?

Jussara:

(Cética e provocativa, brincando).

— Passa aí! E vê se para de atrapalhar o meu trabalho, acho que você tem um monte de coisa
atrasada aí no escritório, não?

Solange:

(Irritadíssima, mas com a sensação de dever cumprido).

— Tchau, se cuida Senhora Jussara! Humpft.

Passado algum tempo, Jussara ligou realmente para a tal gerente da T´Oriul. A Sra. Lígia. E conversa
vai, conversa vem, mais uma grande cliente para o projeto de uniformes personalizados. Mais que isso,
a possibilidade de um contrato gigantesco. Ela ligou para Solange e agradeceu.

Essa roqueira contadora deveria estar trabalhando na DECEX ou na FIESP, aproximando negociantes.
Como ela é bem relacionada!

127
Unidade II

Observação
A DECEX é um departamento para a promoção de exportações do
Ministério do Desenvolvimento, e a FIESP é a Federação das Indústrias de
São Paulo, entidades da mais alta importância.

6.1 Conversando com o gerente do banco

No dia seguinte, o Sr. Samuel, gerente da conta da Confecção das Gêmeas no Banco Exempel, liga
repentinamente para a Jussara:

Samuel:

(Nervoso, falando em tom de quem tem poucos amigos).

— Você viu o saldo da conta, Dona Jussara?

Jussara:

(Preocupada, se preparando para más notícias).

— Não, faz alguns dias que eu não vejo. Algum problema?

Samuel:

(Com ar fraternal, brincando).

— Não, ainda não. Você é uma excelente cliente. E sabe que eu não deixo as coisas saírem dos trilhos,
você sabe. Só que estou um pouco preocupado, o saldo está ficando baixo. Você não quer fazer
um desconto de duplicatas e deixar as coisas mais tranquilas?

Jussara:

— Pode até ser Samuel, mas vocês cobram muito caro.

Samuel:

— Deixa de ser “pão-dura”, Jussara. Você está com um bom estoque de recebíveis, pega esse dinheiro
e começa a fazer giro com ele!

Jussara:

(Interessada em outras coisas).

128
Ciências Contábeis Integrada

— Faz o seguinte: pode sim descontar algumas duplicatas. Mas, me diz o seguinte: E quanto ao
leasing, que quero fazer para comprar minhas novas máquinas... Alguma resposta?

Samuel:

(Prestativo).

— Ainda não, mas estou vendo aqui o seu desconto de duplicatas então.

Uma parte das vendas da Confecção das Gêmeas era sempre realizado a prazo, como é de costume
na maioria das empresas brasileiras, embora a confecção, em alguns casos, tenha o privilégio de receber
antecipadamente, porque tratavam-se de serviços personalizados.

Jussara detestava realizar esse tipo de operação porque os juros cobrados pelos bancos costumam
ser muito altos. Praticamente o que ela ganharia de margem, transferiria ao Banco. Mas, de vez em
quando, é necessário.

O nome “duplicatas descontadas” na verdade é uma tradição, porque desde que a Confecção das
Gêmeas foi criada as vendas são sempre realizadas por meio de boletos bancários, mais práticos, e não
mais duplicatas.

A seguir, mostra-se uma duplicata:


Vencimento
Duplicata Data de emissão

Credor Valor Número do título

Valor por extenso Espaço para o aceite


Devedor (assinatura) do devedor
Praça de pagamento

Figura 4 – Modelo de duplicata

129
Unidade II

E um boleto bancário:

Figura 5 – Modelo genérico de boleto bancário

As duplicatas são cópias das notas fiscais (daí o nome), em um período em que normalmente as
notas fiscais eram datilografadas. Com uma folha de papel carbono, um funcionário emitia um segundo
documento que era um título de crédito com possibilidade de ser pago no caixa de um banco.

Assim, as duplicatas foram usadas durante décadas no Brasil. Quando um empresário precisava
de dinheiro, ao invés de realizar um empréstimo tradicional, recorria a um desconto antecipado de
duplicatas, cedendo para o banco o direito de receber o valor quando da data do vencimento. Para essa
operação, o banco cobra uma taxa de juros.

Observação

A operação de “duplicatas a receber” foi durante muito tempo conhecida


e ainda é como “papagaio”.

Atualmente, o mesmo processo continua a ocorrer, mas de forma eletrônica. Normalmente, as


empresas terceirizam os serviços de cobrança. E, no momento de uma necessidade, podem receber
antecipadamente os valores em operações conhecidas como “vendor”.

Esse é o procedimento descrito por Ribeiro (1999, p. 197-199):

A cobrança simples consiste na remessa de títulos aos cobradores que prestam


serviços à empresa, incluídas aí as instituições financeiras, que, por sua vez,
cobrarão os respectivos devedores. Para efetuarem as cobranças de suas
duplicatas, as empresas poderão utilizar os serviços de empresas especializadas
130
Ciências Contábeis Integrada

ou até mesmo de cobradores particulares. Nesse tipo de operação, a empresa


transfere a posse dos títulos ao banco, mas a propriedade continua sendo da
empresa. Para remeter os títulos ao banco, a empresa os relaciona, de forma
minuciosa, em um borderô, anexando os respectivos títulos.

Uma “cobrança simples” foi o que o Sr. Samuel propôs a Jussara. Acompanhe aqui os cálculos que
são normalmente realizados em operações desse tipo:

Na conversa com o Sr. Samuel, Jussara aceitou um desconto de duplicatas (ou melhor, um “vendor”)
no valor de 5.000,00.

Solange, no escritório contábil da Marina, fará os seguintes lançamentos:

São Paulo, 01 de XXXX de XXXX.

Registro de operação de vendor (descontos de duplicatas), lançamento de compensação:

D – Títulos em cobrança..............................5.000,00
C – Endossos para cobrança.......................5.000,00

São Paulo, 01 de XXXX de XXXX.

Sobre o registro de operação de vendor (descontos de duplicatas), reconhecimento das


despesas de cobrança:

D – Despesas de cobrança...........................80,00
C – Bancos conta movimento...................80,00

São Paulo, 01 de XXXX de XXXX.

Baixa das contas de compensação:

D – Endossos para cobrança......................5.000,00


C – Títulos em cobrança...............................5.000,00

São Paulo, 01 de XXXX de XXXX.

Pelo recebimento das duplicatas:

D – Bancos conta movimento...................5.000,00


C – Duplicatas a receber..............................5.000,00

131
Unidade II

Existe sempre a possibilidade de os clientes não virem a pagar as duplicatas ou cobranças, sendo que
nesse caso o contador precisará contabilizar a exclusão da duplicata.

Entende-se que os contadores devem registrar o valor das duplicatas descontadas em conta redutora
do Ativo Circulante, abaixo da conta contábil “duplicatas a receber” (ou “clientes a receber”). Essa conta
redutora recebe o nome de “duplicatas descontadas”, tendo natureza credora.

Na operação:

• credita-se o valor dos títulos, sendo que esse crédito deve ocorrer no momento em que se efetua
a operação de desconto, e a instituição financeira deposita o valor na conta corrente da empresa;

• debita-se no momento da liquidação do título pelo devedor ou na hipótese da instituição


financeira efetuar um débito na conta corrente por falta de pagamento por parte do devedor.

São Paulo, 01 de XXXX de XXXX.

Vendas de mercadorias a prazo:

D – Duplicatas a receber...................................28.700,00

C – Vendas a prazo..............................................28.700,00

D – CMV...................................................................10.320,00

C – Estoque de mercadorias............................10.320,00

São Paulo, 01 de XXXX de XXXX.

Pela remessa dos títulos e respectiva operação de desconto de duplicatas:

D – Bancos conta movimento (AC) 13.410,00

D – Despesas de juros a vencer (AC) 1.500,00

D – Despesas bancárias (DRE) 90,00

C – Duplicatas descontadas (AC) 15.000,0

Jussara ficou muito preocupada com o fato de o Sr. Samuel ter dito que ainda estavam analisando
o seu pedido de realização de um leasing para a compra das máquinas da Leeds. Pensou em voz alta:

— Ué?! Já era tempo de eles terem dado uma resposta para o leasing. Será que vão me criar
problemas? Só faltava essa!
132
Ciências Contábeis Integrada

6.2 Estão nos embromando?

Catarina Hong, funcionária do depto. financeiro da Rede Mel e Açúcar, ligou e disse que um valor
estava sendo depositado na conta da Confecção das Gêmeas a título de adiantamento. Esse valor deveria
ser usado não exatamente para a produção dos uniformes, mas para despesas gerais para auxiliar a
equipe de criação do comercial de televisão. O valor era bem significativo.

Surpreendida e assustada, Jussara pensou em ligar para Dona Corina. Só não fez isso porque a voz
da Catarina era tão doce e tranquilizadora, transmitindo uma pureza e um equilíbrio tão grandes, que
se convenceu de que seria desnecessário. De fato, Catarina Hong tinha uma voz especial. Vai ver, foi por
isso que a colocaram em um departamento de finanças, lugar onde as coisas são muito rápidas, ágeis e
onde em alguns momentos as coisas parecem caóticas.

Mas Jussara teve um frio na espinha. Ainda não tinham ido visitar a agência de publicidade, nem
conversado com o Sr. Nitan Tatanais e, pelo visto, se não fizessem isso, iriam perder o cliente. O valor
era muito alto! Preocupadíssima, Jussara foi correndo para o escritório de Josefa, mas ela não estava lá.
Estava conversando com as costureiras do outro lado do galpão onde funcionava a confecção. Foi até lá
e viu todo mundo trabalhando intensamente.

Conseguiu encontrar Josefa, e tiveram o seguinte diálogo:

Josefa:

(Tranquilíssima).

— Nem vem, Ju, já sei tudo o que quer saber. É sobre o adiantamento da Mel e Açúcar, não?

Jussara:

(Nervosíssima).

— É, e o que...

Josefa:

(Interrompendo com ar soberbo).

— Calma, para que essa respiração ofegante, Jô? Vi que você estava ocupada cuidando das finanças
e tomei a iniciativa e liguei para o Nitan Tatanais. Já sei tudo o que faremos, já ia te falar.

Jussara:

(Indignada).

133
Unidade II

— Como assim, Jô?! Já te disse que não era para negociar valores com os clientes e...

Josefa:

(Interrompendo novamente, com ar soberbo).

— Oh, até parece que você não tem noção dos valores que envolvem esse contrato com a Mel e
Açúcar. O que eu pedi de adiantamento é “café pequeno”, dinheirinho para por no bolso e pagar
algumas despesinhas à toa!

Jussara:

(Ainda mais indignada).

— Jô, você pediu nada mais nada menos que R$ 70.000,00! Está doida?

Josefa:

(Em tom de confronto e desafio).

— Não, mas vou ficar daqui a alguns dias. Eu vou preparar vinte e três looks esta semana. E depois
acompanhar as filmagens do comercial de TV. Vem aqui, deixa eu te apresentar uma pessoa de
que irá gostar muito.

— Josefa apresenta Kátia Lemos, uma modelo top model internacional que já estava provando alguns
modelos dos uniformes.

Jussara:

— Eu não acredito, Jô, você já está trabalhando firme nisso! Que bacana!

Josefa:

— Pois é! Ah, desses setenta mil, trinta é para montar um camarim aqui na fábrica. Mal temos um
lugar digno para receber pessoas como a Kátia Lemos.

Jussara:

(Irritadíssima).

— Jô. Não confunda as coisas, menina! Não dá para misturar as coisas. É por isso que peço para
não se envolver no meu trabalho! Só vamos reformar alguma coisa aqui no momento em que
tivermos lucro, não com dinheiro dos outros!

134
Ciências Contábeis Integrada

Josefa:

(Desabafando, em tom contente e motivador).

— Tá bom, tá bom! Mas, por favor, não atrapalhe o meu trabalho também! E aí, quando essas
máquinas inteligentes vão chegar? Já separei até um espaço para a instalação. Não se importe
com míseros R$ 70.000,00. Vamos ganhar muito mais!

Jussara:

(Em tom completamente reprovativo).

— Ah! Depois a gente conversa, Dona Josefa da Silva! Depois...

Jussara voltou ao seu (bagunçado) escritório mais tranquila, uma vez que, cometendo erros graves
ou não, Josefa já estava cuidando do contrato da Mel e Açúcar. E de fato ela tinha razão. Tinha que
comprar essas máquinas o quanto antes possível.

Ao chegar à porta do escritório, quase por coincidência, Samuel do banco ligou e perguntou o que
fazer com a pequena fortuna que brotou na conta. Josefa então perguntou:

— Eu é que te pergunto, onde podemos investir esse dinheiro? Preciso dele já no mês que vem.

A solução que o Samuel deu foi a de oferecer uma aplicação em CDB (Certificado de Depósito
Bancário) de curto prazo, com juros pequenos, mas interessantes. Como recebeu o aceite da Jussara,
efetuou a aplicação.

No escritório de contabilidade, assim que Solange souber da aplicação bancária, irá realizar os
seguintes cálculos/lançamentos:

A Confecção das Gêmeas fez uma aplicação no Banco Exempel S.A. no valor de R$ 70.000,00, em
Certificado de Depósito Bancário (CDB), por 30 dias, a uma taxa de juros de 1,5% ao mês. O Banco cobra
de serviços a importância de R$ 100,00 sobre a operação.

O IRRF está na ordem de 4% sobre o rendimento total e será apurado somente na data do vencimento,
conforme determina a legislação vigente. Por coincidência, era o primeiro dia do mês, o resgate e os
juros também ocorreriam dentro do mês. Mas se fosse durante o mês, como a grande maioria dos casos,
seria necessário calcular juros pro rata die (por dia) para atender ao princípio da competência.

Sendo assim, realizou-se o seguinte cálculo:

Montante = R$ 70.000,00

Taxa = 1,5% ao mês


135
Unidade II

IRRF = 4% ao mês

Serviços (descontados no início do período) R$ 100,00

Juros = R$ 1.050,00

IRRF = R$ 42,00

Solange deverá fazer os seguintes lançamentos contábeis:

São Paulo, 01 de XXXX de XXXX.

Contabilização da aplicação financeira ocorrida:

D – Aplicações financeiras (AC)............................................ 71.050,00


C – Bancos conta movimento (AC)...................................... 70.000,00
C – Rendimento a apropriar (AC).............................................1.050,00

São Paulo, 01 de XXXX de XXXX.

Contabilização das despesas bancárias:

D – Despesas bancárias....................................................................100,00
C – Bancos conta movimento (AC).............................................100,00

E ao final do mês:

São Paulo, 30 de XXXX de XXXX.

Contabilização do rendimento do mês:

D – Rendimento a apropriar (AC).............................................1.050,00


C – Rendimentos sobre aplicação financeira (DRE)..........1.050,00

São Paulo, 30 de XXXX de XXXX.

Resgate da aplicação financeira, juros e cálculo do IRRF:

D – Bancos conta movimento (AC).......................................71.008,00


D – IRRF a recuperar (AC)..................................................................42,00
C – Aplicações financeiras (AC)...............................................71.050,00
136
Ciências Contábeis Integrada

Ao final da ligação, a Jussara não teve como não perguntar:

Jussara:

(Em dúvida).

— Então, Samuel, vai me enrolar? E o leasing?

Samuel:

(Compreensivo, mas informal).

— Amanhã eu te dou uma resposta, Srta. Jussara. Ok?

Jussara:

— Ok, Samuel. Boa tarde!

Jussara ficou um pouco zonza com todas essas decisões. Fechou o escritório e foi para casa dormir
um pouco.

6.3 Poucas escolhas

Depois de embromar Jussara por mais dois longos dias, o Sr. Samuel ligou e disse que não teria como
fazer o leasing que ela tanto queria por tratar-se de um equipamento importado, que não tem empresas
similares no Brasil que produzem o mesmo tipo de equipamento. Tratava-se de uma política do banco.

Jussara questionou ao Sr. Samuel se essa política estaria correta, uma vez que tanto se fala de
inovação tecnológica, mas, quando um empresário efetivamente toma uma iniciativa, é “punido” de
todas as formas, desabafou.

Samuel:

(Compreensivo).

— De fato, Jussara, não tiro a sua razão. Mas temos que seguir alguns parâmetros.

Jussara:

(Levemente irritada, mas resignada).

— Parâmetros ou teimosias? Mas deixa pra lá. E então, fico aqui de braços cruzados ou temos alguma
opção?

137
Unidade II

Samuel:

(Todo contente e sorridente).

— Sempre temos opções para gente empreendedora como você, Srta. Jussara!

Jussara:

— Ah, é? Mas para de me bajular e diz quais são!

Samuel:

— Bem, você consegue esperar mais seis meses para comprar essas máquinas? Tenho informações de
que o banco terá uma linha exclusiva do Banco Mundial com juros bem menores. Você apenas terá
que se comprometer a contratar mulheres pobres, treiná-las e dar salários dignos. Sei também que
nosso próprio banco terá uma linha privada internacional, com excelentes juros. Mas vai demorar
alguns meses ainda.

Jussara:

— Seis meses? Negativo!

— Tenho no mínimo dois clientes excelentes na minha carteira. Não posso perder essa oportunidade
de jeito nenhum!

Samuel:

— Então, não vejo outra saída.

Jussara:

— Qual?

Samuel:

— Realizar um Finame pelo BNDES. A sua empresa, como está com ótima saúde financeira e
tem uma proposta fundamentada, com bons clientes, vai conseguir rapidamente um bom
financiamento. Vou te passar um e-mail com um endereço. Peço para ver e me ligue ainda
hoje. Ok?

Jussara:

— Ok! Até mais então!

138
Ciências Contábeis Integrada

Assim que desligou o telefone, Jussara recebeu dois e-mails:

São Paulo, 04 de XXXX de XXXX.

De: rodrigo_onner@leerts.com.br

Para: jussara_adm@cfgemeas.com.br

Assunto: informações e manuais para instalação.

Prezada Sra. Jussara,

Conforme conversamos, enviamos a proposta da Engenharia Campos Ltda. para a


instalação dos equipamentos.

O serviço irá ficar em R$ 12.000,00 e poderá ser realizado em uma semana sem maiores
transtornos. O transporte de todo o equipamento fica por nossa conta, já está no pacote de
vendas.

Peço para que ligue para o Sr. Paulo, no telefone 55 11 XXXXX-XXXX, e agende uma visita
com ele para tratar de detalhes.

Mais algum assunto, estarei à sua disposição.

Engenheiro Rodrigo Onner,

Vendedor Técnico.

Depto Vendas Leerts América Latina.

Esse e-mail, Jussara repassou para Josefa de imediato, porque ela é que cuidará dessa parte técnico-
industrial.

O segundo e-mail era da Sra. Lígia, da T´Oriul:

São Paulo, 04 de XXXX de XXXX.

De: ligia-marketinglatam@Toriul.com.br

Para: jussara_adm@cfgemeas.com.br

Assunto: agendamento de visita.

Prezada Sra. Jussara,


139
Unidade II

Adorei o seu portfólio e, conforme conversamos, preciso da sua ajuda para elaborar
uniformes ultrassofisticados.

Seria possível você me visitar ou enviar alguém aqui no meu escritório esta semana, o
quanto antes possível?

Agradecimentos animados,

Ligia,

Gerente de Marketing e Vendas Especiais Latam.

T´Oriul Brasil Ltda.

T´Oriul Paris France.

Jussara respondeu que sim, ela e a Josefa iriam visitá-la na sede da T´Oriul em outro prédio sofisticado
de São Paulo.

Ela não acreditava! Justamente agora que clientes estavam surgindo e as pessoas se interessavam
por seu trabalho, não conseguia um leasing! E agora?

Nesse momento, chegou o e-mail do Samuel, com o tal link do BNDES.

São Paulo, 04 de XXXX de XXXX.

De: samuel@bancoexempel.com.br

Para: jussara_adm@cfgemeas.com.br

Assunto: BNDES.

Prezada Srta. Jussara da Silva,

Conforme conversamos...

<http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Apoio_
Financeiro/>.

Samuel,

Gerente Pessoa Jurídica.

Banco Exempel S.A. – Pequenas e Médias Empresas.

Divisão especial de clientes promissores.

140
Ciências Contábeis Integrada

Saiba mais

Recomenda-se que acesse o endereço da internet do e-mail do Samuel,


pois é real:

<http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/
Apoio_Financeiro/>.

Desde pequena, aprendeu com sua tia e com o tio Beto a se virar sozinha.

Jussara é completamente cética em torno de qualquer coisa ligada ao governo. Como ela sempre diz,
não espera nada, absolutamente nada do governo brasileiro, tenta agir, na medida do possível, sozinha.
Se o governo oferecer alguma ajuda, até aceita, mas jamais espera que o governo a ajude.

O que ela acredita é na força das relações interpessoais. Essa sim é capaz de mover montanhas.
Como ela queria ter dinheiro em caixa para poder comprar essas máquinas à vista e evitar um monte
de burocracias!

O fato é que apesar de a economia brasileira ser pujante, inacreditavelmente há poucas ou


praticamente nenhuma opção de financiamento privado para a compra de bens de capital no Brasil.
O governo está agindo há alguns anos para que os bancos brasileiros atuem nesse segmento de forma
mais ampla, mas, na prática, há somente o BNDES como agente de financiamento, que é um banco
estatal.

Após analisar a página do BNDES, ligou para o Samuel novamente:

Jussara:

— Samuel.

Samuel:

— Sim? Viu as informações sobre o Finame?

Jussara:

— Vi sim! Vamos fazer um Finame BK. Qual é a taxa que você cobra?

Samuel:

— 0,01 % ao ano. E 12% ao ano para a parte que o Finame não cobre.

141
Unidade II

Jussara:

— Não quero financiar a parte que o BNDES não cobre. Vou tirar um dinheiro das aplicações que
temos aí.

Samuel:

— Ah! Assim você me prejudica aqui!

Jussara:

— Ué, vocês não dizem que sou uma “cliente promissora”? Rapidinho eu recupero esse dinheiro!

Samuel:

— Bom, vai lá que seja. Fechado, então?

Jussara:

— Fechado!

Samuel:

— Só há um assunto que vai te tirar o sono. A Leerts importa as máquinas da Áustria. Pergunte se
eles de fato não têm similar nacional, que acho que o BNDES aceita o pedido. Mas o contrato vai
ser em moeda estrangeira, você terá que amargar um cálculo constante de variação cambial, ok?
Mas, se quiser, nós podemos fazer aqui um hedge com excelentes taxas e blá, blá, blá, blá...

Jussara:

(Interrompendo bruscamente o Samuel).

— Oh, Samuel! Larga de ser tão prestativo, rapaz! O pessoal lá da Leerts já me disse que eles conseguem
declaração de produto não similar, é fácil. Dá para fazer. E me manda um informativo sobre o tal
do hedge aí que você disse, mas por ora, “tô” fora. Vamos ao que interessa, o financiamento do
BNDES, ok? Fechado? Mesmo?

Samuel:

— Fechadíssimo! Boa tarde para você!

Após essa negociação, toda a documentação será finalizada e Solange deverá realizar os cálculos e
as contabilizações nos livros da seguinte forma:

Utilizaram-se informações disponibilizadas no site do BNDES.


142
Ciências Contábeis Integrada

Finame BK

<http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Apoio_Financeiro/
Produtos/FINAME_Maquinas_e_Equipamentos/mpme_bk.html>.

a) Custo Financeiro: TJLP.

Observação: deverá necessariamente ser adotado cesta como custo financeiro nas
operações a seguir:

• Operações de qualquer valor realizadas com empresas brasileiras sob controle


de capital estrangeiro destinadas a investimentos em atividade econômica não
enumerada pelo Decreto nº 2.233, de 23.05.1997, e suas alterações.
• Operações para aquisição de máquinas e equipamentos que apresentem índices de
nacionalização, em valor e peso, inferiores a 60% no caso do valor do financiamento
tomar por base o valor total do bem.

b) Remuneração básica do BNDES: 0,9% a.a.

c) Remuneração da instituição financeira credenciada: a ser negociada entre a instituição


financeira credenciada e o cliente.

Participação máxima do BNDES: 90% dos itens financiáveis.

Taxa de Juros

Custo financeiro + remuneração do BNDES + remuneração da instituição financeira


credenciada.

Dados particulares da operação:

• Valor dos equipamentos de R$ 300.000,00 (já inclusos instalação, transporte, seguro


e demais despesas para deixar os equipamentos em condições de uso).
• Remuneração básica do Banco Exempel: 0,01 % a.a.
• Prazo = 5 anos.
• Despesas bancárias = R$ 1.000,00.

Cálculo

Então:

300.000,00 x 90% = 270.000


143
Unidade II

Valor a ser financiado............................................ = 270.000,00

Valor a ser coberto à vista pela empresa........ = 30.000,00

TJLP = 5% ao ano.

A taxa varia constantemente, verifique no site do BNDES.

Taxa de Juros

Custo financeiro + remuneração do BNDES + remuneração da instituição financeira


credenciada.

5% + 0,09% + 0,01% = 5,10% a.a.

VF = VP(1 + i)n

onde

• VF : Valor Futuro

• VP : Valor Presente

• i : Taxa de juros

• n : número de períodos

VF = 270.000 * (1 + 0,051)5

VF = 270.000 * ( 1,051)5

VF = 270.000 * 1,282370681

VF = 346.240,08

Juros = 76.240,08

Atenção: o cálculo foi simplificado, para não levar em conta eventuais fatores como variação cambial,
para não gerar dificuldades para reflexão e aprendizado. Operação prefixada.

Com base nesses cálculos, Solange irá realizar os seguintes lançamentos contábeis nos livros da
Confecção das Gêmeas:

144
Ciências Contábeis Integrada

São Paulo, 01 de XXXX de XXXX.

Aquisição de empréstimo para compra de conjunto de equipamentos Leerts conforme


contrato 123456789 com o Banco Exempel, intermediário do BNDES.

O valor dos equipamentos soma R$ 300.000,00, sendo 90% do equipamento financiado


e 10% pago a vista.

Registro do montante principal:

D – Bancos conta movimento................................. 270.000,00

C – Empréstimos e Financiamentos...................... 270.000,00

Aquisição de empréstimo para compra de conjunto de equipamentos Leerts conforme


contrato 123456789 com o Banco Exempel, intermediário do BNDES.

O valor dos equipamentos soma R$ 300.000,00, sendo 90% do equipamento financiado


e 10% pago a vista.

Registro das despesas bancárias:

D – Despesas bancárias................................................... 1.000,00

C – Bancos conta movimento...................................... 1.000,00

Aquisição de empréstimo para compra de conjunto de equipamentos Leerts conforme


contrato 123456789 com o Banco Exempel, intermediário do BNDES.

O valor dos equipamentos soma R$ 300.000,00, sendo 90% do equipamento financiado


e 10% pago a vista.

Baixa de valor de aplicações financeiras para parte à vista:

D – Bancos conta movimento....................................30.000,00

C – Aplicações financeiras...........................................30.000,00

E o lançamento da compra dos equipamentos:

São Paulo, 01 de XXXX de XXXX.

Compra de conjunto de equipamentos Leerts conforme NF. 1234:

145
Unidade II

D – Máquinas e equipamentos (AI).......................300.000,00

C – Banco conta movimento...................................300.000,00

Registram-se também os juros sobre o empréstimo, porque são uma obrigação da


empresa.

São Paulo, 01 de XXXX de XXXX.

Aquisição de empréstimo para compra de conjunto de equipamentos Leerts conforme


contrato 123456789 com o Banco Exempel, intermediário do BNDES.

O valor dos equipamentos soma R$ 300.000,00, sendo 90% do equipamento financiado


e 10% pago a vista.

Registro dos juros a pagar.

D – Juros a vencer (AC)................................................ 76.240,08

C – Juros a pagar sobre empréstimos.................... 76.240,08

E a partir daí, a cada mês, de acordo com o princípio da competência, será necessário realizar os
seguintes lançamentos contábeis:

São Paulo, meses posteriores.

Registro dos juros sobre o empréstimo no resultado:

D – Despesas de juros...................................................... 1.270,67

C – Juros a vencer (AC).................................................... 1.270,67

Pagamento de juros (R$ 76.240,08 divididos por 60 meses):

D – Juros a pagar sobre empréstimos....................... 1.270,67

C – Banco conta movimento........................................ 1.270,67

Pagamento do principal (R$ 270.000,00 divididos por 60 meses):

D – Empréstimos e financiamentos...........................4.500,00

C – Banco conta movimento........................................4.500,00

146
Ciências Contábeis Integrada

Muito importante comentar ainda que, no exemplo anterior, as contadoras consideraram o valor
justo do equipamento, o mesmo valor da nota fiscal.

Lembrando que valor justo, de acordo com o CPC:

2. O valor justo é uma mensuração baseada em mercado e não uma


mensuração específica da entidade. Para alguns Ativos e Passivos, pode haver
informações de mercado ou transações de mercado observáveis disponíveis
e para outros pode não haver. Contudo, o objetivo da mensuração do valor
justo em ambos os casos é o mesmo – estimar o preço pelo qual uma transação
não forçada para vender o Ativo ou para transferir o Passivo ocorreria entre
participantes do mercado na data de mensuração sob condições correntes
de mercado (ou seja, um preço de saída na data de mensuração do ponto de
vista de participante do mercado que detenha o Ativo ou o Passivo).

3. Quando o preço para um Ativo ou Passivo idêntico não é observável,


a entidade mensura o valor justo utilizando outra técnica de avaliação
que maximiza o uso de dados observáveis relevantes e minimiza o uso de
dados não observáveis. Por ser uma mensuração baseada em mercado, o
valor justo é mensurado utilizando-se as premissas que os participantes do
mercado utilizariam ao precificar o Ativo ou o Passivo, incluindo premissas
sobre risco. Como resultado, a intenção da entidade de manter um Ativo
ou de liquidar ou, de outro modo, satisfazer um Passivo não é relevante ao
mensurar o valor justo.

4. A definição de valor justo se concentra em Ativos e Passivos porque eles são


o objeto primário da mensuração contábil. Além disso, este Pronunciamento
deve ser aplicado aos instrumentos patrimoniais próprios da entidade
mensurados ao valor justo.

Nem sempre o valor justo de um bem é o mesmo que estará estampando na nota fiscal e, após
a sua incorporação no Ativo Imobilizado será importante acompanhar o valor de mercado e as
consequências que esse bem trará para a empresa, de forma a se manter um valor correto dos
bens na entidade.

Saiba mais

Nesse propósito, é fundamental ler os princípios CPC Conceitual Básico,


CPC 46 (Mensuração do Valor Justo), CPC 1 (Redução ao Valor Recuperável
de Ativos), CPC 27 (Ativo Imobilizado) e CPC 12 (Ajuste a Valor Presente).

147
Unidade II

6.4 O Presidente da Leerts virá nos visitar?

Após alguns dias, alguma bagunça e muito barulho, as máquinas foram instaladas com sucesso. Não
ocupavam muito espaço, mas necessitavam de certo vão livre para circulação em torno delas. Felizmente,
o galpão que as gêmeas compraram é grande e deu para construir tudo com enorme facilidade.

No entanto, o que era para ser uma festa, para Jussara estava sendo um verdadeiro martírio. Ela
ficou irritadíssima após ter falado com a coordenadora de ensino de uma tradicional escola técnica, a
Sra. Ana Cláudia:

Jussara:

— Não, eu não posso acreditar! Isso é um absurdo!

Ana Cláudia:

— Sim, Sra. Jussara. Eu também não estou acreditando, mas todos os alunos da nossa turma anterior
já estão empregados, ganhando muito bem. E os da turma atual também. Todos já têm empregos
ou já estão com ocupação garantida.

Jussara:

(Visivelmente irritada).

— Não pode ser! Investimos muito dinheiro nesse projeto e agora não tenho quem faça as máquinas
funcionarem, francamente!

Ana Cláudia:

— É, entendo o seu desapontamento, Sra. Jussara, mas por outro lado, é motivo de alegria aqui para
a gente ver que estão todos empregados. A senhora vai ter que ter paciência e esperar a próxima
turma.

— E quando vai ser a próxima turma?

Ana Cláudia:

(Titubeando, com medo de falar e complicar ainda mais as coisas).

— Daqui a oito meses. Mais 60 alunos!

Jussara:

(Quase chorando de tanto desapontamento).


148
Ciências Contábeis Integrada

— Ok, Ana Cláudia, obrigada por ter me atendido.

Ana Cláudia:

(Tentando motivar Jussara, apesar das circunstâncias).

— De nada! Disponha. Pode ter certeza de que a senhora é uma mulher de visão, esse sistema têxtil
é espetacular, parabéns!

Desconsolada e sem saber o que fazer, Jussara pensou em fazer um cafezinho numa máquina portátil
que mantinha no seu escritório, nada arrumado. Aliás, onde estava mesmo a máquina? Enquanto ligava
e colocava cápsulas de café compactado, ficava pensando: “E agora? Como vou justificar para a Sra.
Corina e para a Lígia que eu vou ser obrigada a atrasar os pedidos? Sem essas máquinas operando não
vai dar para entregar!”

Ela se lembrou da época da universidade e de que os professores diziam que para cada problema há
uma oportunidade. Mas, naquele momento, ela apenas conseguia pensar em como justificar que iria
atrasar os pedidos, não conseguia ver nada que fosse uma oportunidade.

Voltando para a sua mesa, enquanto ainda degustava de uma xícara de café quentinho, viu que
Rodrigo da Leerts lhe enviou um e-mail. Abriu:

São Paulo, 23 de XXXX de XXXX.

De: rodrigo_onner@leerts.com.br

Para: jussara_adm@cfgemeas.com.br

Assunto: informações e manuais para instalação.

Prezada Sra. Jussara,

Tenho o prazer de comunicar que o Presidente da Leerts Áustria, ao lado do Ministro


da Ciência e Tecnologia austríaco e a Consulesa da Áustria no Brasil, irão visitar a sua
confecção na quarta-feira ou assim que puder recebê-los.

Atenciosamente,

Engenheiro Rodrigo Onner,

Vendedor Técnico.

Depto Vendas Leerts América Latina.

149
Unidade II

Naquele momento, Jussara não se conteve e ligou para o celular do Rodrigo, nunca tinha feito isso,
mesmo nos dias da instalação dos equipamentos.

Josefa também estava na sala e acompanhou a conversa.

Jussara:

— Oh, Rodrigo, me explica essa agora! Você me vende um equipamento com um tal sistema que
somente 180 pessoas no Brasil conseguem mexer. Nenhuma delas está disposta a trabalhar pra
mim. E agora quer fazer festinha na minha confecção? Que história é essa?

Josefa:

(Falando baixinho).

— Ju, não fica nervosa! Não é nada difícil operar esses equipamentos e com esse sistema “Hellebardieri”,
eu própria vou operar. Já entendi tudo como se faz!

Rodrigo:

— Entendo o seu desapontamento, Jussara, mas tenho boas notícias! Não queria te dizer pelo
telefone, mas...

Jussara:

— Boa notícias? Quero só ver.

Rodrigo:

— Um dos nossos funcionários, que é professor do sistema “Hellebardieri”, irá realizar toda a
programação das máquinas e os primeiros jobs da Austria. E sem nenhum custo para você! E tem
mais... Mas se o Sr. Hans souber que já te contei, perco o meu emprego. Vou pedir para você ter
um pouquinho de paciência.

Jussara:

(Emocionada, quase chorando).

— Oh, Rodrigo! Que maravilha querido! Puxa, vocês não são apenas fornecedores, são amigos mesmo,
obrigada!

Rodrigo:

— Eu é que agradeço. Precisamos que fale bem das máquinas e principalmente do sistema
“Hellebardieri”. Você é uma de nossas primeiras clientes na América Latina e tem todo o nosso
150
Ciências Contábeis Integrada

carinho. Mas se esforce para conseguir bons funcionários que conheçam o “Hellebardieri”. Temos
outros clientes e prevemos que a oferta vai ser muito pouca.

Jussara:

— Pode deixar. Obrigada. Ah, e pode mandar o seu chefe aqui na quarta-feira. Terei o maior prazer
em recebê-los. Só peço para que não reparem na bagunça. Até mais!

Jussara convidou a sua irmã Josefa, que também estava muito contente ouvindo a conversa no
viva voz, para um café. E comentou como uma confecção precisa de gente honesta e inteligente para
trabalhar. Podemos ter as melhores máquinas, mas sem gente... Josefa confirmou, dizendo que às vezes
pensava em como aquela confecção era importante para tanta gente!

Até mesmo o Ministro da Ciência e Tecnologia da Áustria tinha interesse na confecção!

À noite, a contadora Marina ligou para Jussara e disse que estava trabalhando na DVA, a Demonstração
do Valor Adicionado, e queria conhecer um pouco melhor como a confecção irá trabalhar com os novos
equipamentos.

Jussara a convidou então para acompanhar a ilustre visita que receberia. Marina então disse:

— Será uma honra!

A DVA (Demonstração do Valor Adicionado) é uma boa novidade trazida pelas normas contábeis
internacionais. Mostra de forma clara e sintética a riqueza construída pela entidade e distribuída para
a sociedade.

Segundo a Resolução 1.162 de 27/03/2009, que altera a Resolução 1.138 de 21/11/08, da NBC T 3.7
do Conselho Federal de Contabilidade, a definição de DVA é a seguinte:

A demonstração do valor adicionado é um demonstrativo contábil que


auxilia na medição e demonstração da capacidade da empresa de gerar e
distribuir a riqueza de uma entidade.

E quanto ao próprio conceito de “valor adicionado”, essa mesma resolução 1.162 de 27/03/2009 diz que:

A riqueza gerada pela empresa, de forma geral, medida pela diferença entre
o valor das vendas e os insumos adquiridos de terceiros, incluindo também o
valor adicionado recebido em transferência, ou seja, produzido por terceiros
e transferido à entidade.

Esse conceito é um tanto difícil de entender e de medir de uma forma mais ampla. Assim, os
contadores adotaram um procedimento geralmente aceito e objetivo, conforme nos descreve Santos
(2003, p. 23-35):
151
Unidade II

[...] do ponto de vista contábil, poder-se-ia afirmar que a medição ou


apuração da riqueza criada pode ser calculada por meio da diferença
aritmética entre o valor das vendas e os insumos pagos a terceiros mais as
depreciações.

Depois de estudar e analisar esse complexo conceito de “valor adicionado”, utilizando tanto
trabalhos brasileiros como de outros autores internacionais, Santos (2007), após analisar o conceito
de vários autores nacionais e internacionais, verifica que todas as definições levam ao seguinte
conceito:

O valor adicionado representa o incremento de valor que se atribuiu a


um bem durante o processo produtivo. Assim, poder-se-ia concluir que as
empresas, utilizando-se de bens e serviços que são adquiridos de terceiros,
aplicando seus capitais, através da utilização de seus equipamentos, e o
trabalho de seus empregados, estarão adicionando valor aos novos produtos
que serão colocados no mercado.

Conclui-se, então, que o valor adicionado demonstra a efetiva contribuição individual da


empresa, para a geração de riqueza na economia. Não é um trabalho isolado, mas uma empresa
(e cada vez mais isso se torna uma realidade mais presente) somente consegue bons resultados se
realizar um esforço conjugado envolvendo os seus fatores de produção e os clientes que utilizarão
seus produtos ou serviços.

Talvez um dos exemplos mais evidentes da necessidade do uso do valor adicionado está no
caso da Itaipu Binacional. A gigantesca hidrelétrica, uma das maiores do planeta, está localizada
em uma região relativamente isolada do País. Dentro do critério econômico, se um economista
for medir o PIB (Produto Interno Bruto) do estado ou região onde está Itaipu, irá obter um PIB
muito alto, porque o volume de produção e faturamento da usina binacional é gigantesco. No
entanto, a riqueza gerada por Itaipu não é distribuída apenas localmente, é distribuída em todo
o País.

Caso os administradores públicos venham a utilizar os dados do PIB para planejar políticas públicas,
estarão incorrendo em grave erro. É necessário descontar os efeitos da Itaipu Binacional no cálculo e
considerar apenas o que a economia local gerou de riquezas. Mas, como fazer isso?

Com a DVA é possível descobrir a riqueza ou o “PIB” gerado por apenas uma entidade, uma empresa.
O que facilita e muito as análises e tomadas de decisão.

A mesma situação ocorre em locais onde os governos decidem formar zonas francas, pensando no
poder de desenvolvimento que as empresas poderão trazer para às áreas. Porém, sem uma análise da
efetiva riqueza que cada empresa, cada entidade em si, gera, é impossível saber se o benefício esperado
realmente está se transformando em realidade.

152
Ciências Contábeis Integrada

Figura 6 - Usina de Itaipu

Há uma norma internacional específica para a Demonstração do Valor Adicionado, a CPC 09


(Demonstração do Valor Adicionado), que faz alusão à Norma Conceitual Básica. O “valor adicionado”:

Representa a riqueza criada pela empresa, de forma geral medida pela


diferença entre o valor das vendas e os insumos adquiridos de terceiros.
Inclui também o valor adicionado recebido em transferência, ou seja,
produzido por terceiros e transferido à entidade.

Veja que o conceito adotado por essa norma é bastante prático.

10. A DVA está fundamentada em conceitos macroeconômicos, buscando


apresentar, eliminados os valores que representam dupla contagem, a
parcela de contribuição que a entidade tem na formação do Produto Interno
Bruto (PIB). Essa demonstração apresenta o quanto a entidade agrega de
valor aos insumos adquiridos de terceiros e que são vendidos ou consumidos
durante determinado período.

11. Existem, todavia, diferenças temporais entre os modelos contábil e


econômico no cálculo do valor adicionado. A ciência econômica, para cálculo
do PIB, baseia-se na produção, enquanto a contabilidade utiliza o conceito
contábil da realização da receita, isto é, baseia-se no regime contábil de
competência. Como os momentos de realização da produção e das vendas
são normalmente diferentes, os valores calculados para o PIB por meio dos
conceitos oriundos da Economia e os da Contabilidade são naturalmente
diferentes em cada período. Essas diferenças serão tanto menores quanto
menores forem as diferenças entre os estoques inicial e final para o período
considerado. Em outras palavras, admitindo-se a inexistência de estoques
inicial e final, os valores encontrados com a utilização de conceitos
econômicos e contábeis convergirão.

153
Unidade II

12. Para os investidores e outros usuários, essa demonstração proporciona


o conhecimento de informações de natureza econômica e social e oferece
a possibilidade de melhor avaliação das atividades da entidade dentro
da sociedade na qual está inserida. A decisão de recebimento por uma
comunidade (município, estado e a própria Federação) de investimento
pode ter nessa demonstração um instrumento de extrema utilidade e com
informações que, por exemplo, a demonstração de resultados por si só não
é capaz de oferecer.

A Norma também é muito feliz ao contextualizar a diferença entre o conceito econômico de riqueza e
o seu uso por aqueles que precisam tomar decisões. Por exemplo, uma prefeitura, na hipótese de receber
dois pedidos de instalação de uma fábrica em uma determinada área que somente terá condições de
abrigar uma fábrica, pode utilizar a DVA para tomar uma decisão racional.

Saiba mais

Conheça os critérios econômicos para o cálculo do PIB, na página do


IBGE na internet: <www.ibge.gov.br>.

Quanto à estrutura, entende-se, conforme diz a norma:

5. A DVA deve proporcionar aos usuários das demonstrações contábeis


informações relativas à riqueza criada pela entidade em determinado
período e a forma como tais riquezas foram distribuídas.

6. A distribuição da riqueza criada deve ser detalhada, minimamente, da


seguinte forma:

(a) pessoal e encargos;


(b) impostos, taxas e contribuições;
(c) juros e aluguéis;
(d) juros sobre o capital próprio (JCP) e dividendos;
(e) lucros retidos/prejuízos do exercício.

A seguir, demonstra-se um dos modelos para a elaboração da DVA para empresas em geral, sendo
que se enfatiza que o contador deve detalhar mais os tópicos, caso julgue pertinente para melhor
entendimento do leitor.

154
Ciências Contábeis Integrada

Modelo I para formação de DVA:

Modelo I – Demonstração do Valor Adicionado – empresas em geral:

Descrição:

Em milhares de reais 20X1. Em milhares de reais 20X0.

1 – Receitas.

1.1) Vendas de mercadorias, produtos e serviços.

1.2) Outras receitas.

1.3) Receitas relativas à construção de Ativos próprios.

1.4) Provisão para créditos de liquidação duvidosa – reversão / (constituição).

2 – Insumos adquiridos de terceiros (inclui os valores dos impostos – ICMS, IPI, PIS
e COFINS).

2.1) Custos dos produtos, das mercadorias e dos serviços vendidos.

2.2) Materiais, energia, serviços de terceiros e outros.

2.3) Perda / recuperação de valores Ativos.

2.4) Outras (especificar).

3 – Valor adicionado bruto (1-2).

4 – Depreciação, amortização e exaustão.

5 – Valor adicionado líquido produzido pela entidade (3-4).

6 – Valor adicionado recebido em transferência.

6.1) Resultado de equivalência patrimonial.

6.2) Receitas financeiras.

6.3) Outras.

7 - Valor adicionado total a distribuir (5+6).


155
Unidade II

8 - Distribuição do valor adicionado (*).

8.1) Pessoal.

8.1.1) Remuneração direta.

8.1.2) Benefícios.

8.1.3) F.G.T.S.

8.2) Impostos, taxas e contribuições.

8.2.1) Federais.

8.2.2) Estaduais.

8.2.3) Municipais.

8.3) Remuneração de capitais de terceiros.

8.3.1) Juros.

8.3.2) Aluguéis.

8.3.3) Outras.

8.4) Remuneração de capitais próprios.

8.4.1) Juros sobre o capital próprio.

8.4.2) Dividendos.

8.4.3) Lucros retidos / prejuízo do exercício.

8.4.4) Participação dos não controladores nos lucros retidos (só para consolidação).

(*) O total do item 8 deve ser exatamente igual ao item 7.

Fonte: COMITÊ de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento técnico CPC 09: demonstração do valor adicionado.
Disponível em: <http://www.cpc.org.br/pdf/CPC_09.pdf>. Acesso em: 8 mai. 2013.

156
Ciências Contábeis Integrada

Há também um modelo para instituições financeiras bancárias.

Na Confecção das Gêmeas, como em toda confecção, basicamente compram-se tecido e linhas
prontas, contratam-se costureiras e outros funcionários e transforma-se o tecido em roupas, a partir
de métodos tecnológicos que variam conforme o tipo de roupa que se produz. Basicamente, é possível
dizer que uma indústria de confecções é muito importante para a indústria tecelão, para os agricultores
(sobretudo os de algodão) e aos lojistas diversos, que compram as roupas para revenda. O trabalho ou a
riqueza criados dentro da confecção basicamente é o de transformação das roupas.

No entanto, como vimos ao longo do livro-texto, a empresa possui uma sócia que é estilista e cria
riqueza a partir de sua arte, o que é muito difícil de ser avaliado. Como saber qual é a riqueza dentro de
um vestido de alta moda, por exemplo?

Como vimos, um dos fatores de sucesso das gêmeas não é exatamente as roupas que fabricam, mas
seu sistema de trabalho e sua capacidade produtiva e intelectual. Os contadores reduzem toda essa
complexidade a uma simples medida. O que foi comprado de terceiros é riqueza que já veio pronta. O
que foi produzido e vendido é riqueza criada internamente.

É possível analisar a DVA da Confecção das Gêmeas, a partir das figuras a seguir:

DVA da Confecção das Gêmeas:

Tabela 47

R$ %
1. Receitas brutas
1.1 Venda de produto 300.100,34

2. Insumos adquiridos de terceiros


2.1 Materiais consumidos 129.971,94
2.2 Energia elétrica, serviços de
terceiros e outras despesas
36.829,78

3. Retificações
3.1 Depreciação
8.900,28

4. Valor adcionado líquido produzido


pela empresa 1 - (2 + 3) 124.398,34

5. Valor adcionado recibo em


transferência
5.1 Receitas financeiras 7.445,38
5.2 Outras receitas 2.075,86
(sucatas)

157
Unidade II

6. Valor adcionado a distribuir (4 + 5) 133.919,58 100,00%


7. Distribuição do valor adcionado
7.1 Empregados
Salários e encargos sociais (FGTS) 38.543,17 28,78%
Comissões sobre vendas 14.810,99 11,05%
Honorários da diretoria 3.136,00 2,34%

7.2 Tributos
Federais 42.115,10 31,45%
Estaduais 28.732,44 21,45%
Municipais 1.667,56 1,24%

7.3 Financiadores
Juros 7.211,42 5,38%
Aluguéis 4.500,00 3,36%

7.4 Juros sobre capital próprio e 0,00


dividendos
7.5 Lucros retidos ou prejuízo do
exercício -6.797,10 -5,05%

Na quarta-feira, durante a histórica visita do Presidente da Leerts Áustria, do Ministro da Ciência e


Tecnologia austríaco e da Consulesa da Áustria no Brasil, Jussara e Marina explicaram grande parte do
trabalho efetuado pela confecção e a riqueza criada, em parte com os dados que descobriram formando
a DVA.

Na ocasião, o Presidente da Leerts, além de oferecer de forma gratuita um especialista no sistema


“Hellebardieri”, um inovador programa de computador que gera todo o sistema de produção gráfica que
irá ajudar a empresa diretamente na Áustria, ofereceu também mais um cliente para Jussara e Josefa.
Uma empresa especializada em uniformes inovadores para centros cirúrgicos irá produzir uniformes
para seus clientes no Brasil na fábrica das gêmeas. As máquinas farão o trabalho de madrugada.

Lembrete

E olhe só aqui que coisa interessante, alguém da Áustria que nem sabe
falar português é capaz de operar as máquinas no Brasil. É a materialização
do conceito exposto pelo casal Toffler, que você encontra no início da
Unidade II deste livro-texto.

Jussara, segurando uma taça de champanhe, disse toda contente:

— Se continuar assim, Sr. Hans, serei obrigada a comprar mais máquinas do senhor. E muito em
breve!
158
Ciências Contábeis Integrada

7 Um fantasma do passado voltará a assombrar?

Semana de muito trabalho. Josefa estava praticando o seu inglês conversando o tempo todo com o
professor austríaco do sistema “Hellebardieri”, e as coisas estavam indo bem... Jussara então, ainda de
manhãzinha (11h) percebeu um e-mail diferente em seu computador. Sônia Esmeralda? Quem é Sônia
Esmeralda, se perguntou?

Ao abrir o e-mail, a surpresa:

São Paulo, 28 de XXXX de XXXX.

De: soniaesmeralda@provedorcomum.com.br

Para: jussara_adm@cfgemeas.com.br

Assunto: interesse.

Sra. Jussara,

A professora Ana Cláudia me disse que a senhora está precisando com urgência de uma
especialista têxtil que conheça o sistema “Hellebardieri”.

Sou de Franca, mas meu pai está precisando fazer um tratamento médico em São Paulo
e decidimos mudar de vez para a cidade grande.

Tem como marcarmos uma entrevista?

Preciso muito de um emprego e não é fácil encontrar uma empresa que tenha máquinas
com o sistema “Hellebardieri”, se puder me ajudar.

Soninha.

Em anexo, curriculum vitae.

Jussara detestou a forma como essa moça se apresentou para um emprego, mas vai lá que seja!
Precisa entrevistá-la. Ligou imediatamente para seu número de telefone e começou a entrevistar ali
mesmo. Apesar de a moça parecer meio desligada e ter dificuldades de expressão, parecia bem esperta.
Marcou uma entrevista para o dia seguinte, e finalmente conseguiu contratar uma especialista têxtil
“Hellebardieri”.

Toda contente, continuou a trabalhar e checou todos os pagamentos que deveria fazer naquele dia.
Estava cansada, o movimento aumentou demais, teria que muito em breve contratar também alguém
só para cuidar do contas a receber e do contas a pagar.

159
Unidade II

Nesse meio tempo, chegou um e-mail da Marina:

São Paulo, 25 de XXXX de XXXX.

De: marina@contabilolimpo.com.br

Para: jussara_adm@cfgemeas.com.br

Assunto: passivos contingentes.

Prezada Jussara,

Até onde eu sei, o “caso Verônica” continua indefinido na justiça. Conversei ontem com
a Dra. Bruna. Vou manter o Passivo Contingente, ok?

Qualquer dúvida, me ligue.

Marina.

Jussara não gostava de se lembrar desse caso. Verônica era uma mulher interesseira que estudou na mesma
turma que Josefa na universidade. Eram muito amigas, mas, além de roubar o então namorado da Josefa,
processou a empresa por plágio dizendo que Josefa havia copiado vários de seus looks. Mas o processo é tão mau
feito que nem mesmo dizia que looks exatamente foram copiados e não tem provas de que isso de fato ocorreu.

Foi uma ardilosa e maldosa armação feita apenas para irritar e atrapalhar a vida de Josefa. Um mau
uso da justiça. O processo corria há anos e, quem sabe, em mais alguns meses, um juiz dá uma sentença
final e acaba com esse “fantasma”.

No caso, essa questão de provisões e Passivos Contingentes possui uma norma contábil específica, a
Norma Brasileira de Contabilidade, a NBC TSP 19 – Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes,
e a Norma Internacional CPC 25, que define Passivo Contingente como:

(a) uma obrigação possível que resulta de eventos passados e cuja existência
será confirmada apenas pela ocorrência ou não de um ou mais eventos
futuros incertos não totalmente sob controle da entidade; ou

(b) uma obrigação presente que resulta de eventos passados, mas que não é
reconhecida porque:

(i) não é provável que uma saída de recursos que incorporam benefícios
econômicos seja exigida para liquidar a obrigação; ou

(ii) o valor da obrigação não pode ser mensurado com suficiente


confiabilidade.
160
Ciências Contábeis Integrada

As provisões, por sua vez, são definidas como: provisão é um Passivo de prazo ou de valor incertos.

Jussara concordou com Marina. Isso irá ficar no Passivo Contingente da empresa até que se dê um
julgamento. Provavelmente a Confecção das Gêmeas nada irá pagar, é 1% de chance de esse processo
mal feito e raivoso terminar com a necessidade de pagamento de uma indenização.

Mas vai que o 1% leve a melhor! Por prudência, é melhor manter a provisão para Passivo Contingente.

8 A primeira trabalhadora de terceira onda

Jussara verificou, entre as costureiras que já faziam parte da equipe, as que tinham interesse em
aprender a operar as novas máquinas e, para sua surpresa, quase todas aceitaram. Decidiu então
contratar um professor para ensinar dentro da fábrica, a um custo altíssimo, mas que valia a pena.

Teve a oportunidade de entrevistar a Sônia Esmeralda, uma moça bonita e mirradinha, mas
visivelmente muito esperta. Pediu para Josefa que também a entrevistasse, porque na verdade é com
Josefa que irá passar a maior parte do tempo.

Sônia é a imagem da geração Y que, segundo Oliveira (2010, p. 41) “são extremamente informados,
mas também possuem um comportamento importante de alienação, pois ainda não conseguem ou não
sabem lidar com toda essa informação de forma produtiva.” Um comportamento bem diferente das
outras costureiras que são mais leais.

Pediu para o Escritório Contábil Olimpo registrar a funcionária com o cargo de especialista têxtil
“Hellebardieri”. Um cargo do qual o salário não é muito pequeno. Curiosa, Jussara pediu um rascunho do
cálculo da folha de pagamento de Sônia Esmeralda:

Cálculo básico para a funcionária Sonia Esmeralda – rascunho.

“Especialista têxtil Hellebardieri”.

Proventos:

Salário............................................................................................2.500,00

Salário-família → não tem direito.

Hora extra............................................ 50% acima da hora normal.

2.500,00/220 horas = 11,3636 x 1,50 =

17,04 x 10 horas =...................................................................... 170,40

Proventos (salário + SF + HE)..............................................2.670,40


161
Unidade II

Descontos:

Faltas não justificadas.......................................................não houve.

Desconto do INSS:

Salário............................................................................................2.500,00

(+) Hora extra................................................................................ 170,40

(=) Salário de contribuição...................................................2.670,40

(x) Percentual...x 0,11(=) INSS................................................. 293,74

Desconto do IRRF:

Salário............................................................................................2.500,00

(+) Hora-extra............................................................................... 170,40

(=) Total dos proventos..........................................................2.670,40

(–) INSS............................................................................................ 293,74

(–) Dependentes (2 x 157,47).................................................. 314,94

(=) Base cálculo para o IRRF................................................2.061,72

(x) Alíquota...........................x 0,075

(=) IRRF antes da dedução....................................................... 154,63

(–) Parcela a deduzir....................................................................117,49

(=) IRRF a descontar......................................................................37,14

Desconto do vale-transporte → equivale a 22 dias úteis:

Uso: 02 conduções ao dia, cada 3,00.

3,00 x 2 = 6,00 x 22 dias = 132,00

Salário: 2.500,00 x 0,06 = 150,00

Prevalece o menor valor para desconto = 132,00

162
Ciências Contábeis Integrada

Descontos (faltas + INSS + IRRF +VT).. 462,88

Valor líquido a pagar para Lígia Souza:

Proventos (salário + SF + HE)..............................................2.670,40

(–)Total do descontos (faltas + INSS + IRRF + VT)......... 462,88

(=) Valor líquido........................................................................2.207,52

Mas o que estava preocupando mesmo Jussara, é o fato de que agora a Confecção das Gêmeas
entrava em uma nova fase, em uma fase tecnológica, na era da informação. Como lutou para isso! Mas
agora tinha medo de não conseguir atrair talentos. Sentiu nos olhos de Sônia que ela só estava disposta
a trabalhar na sua confecção porque não tinha no momento outra alternativa. Precisava ficar em São
Paulo para tratar do pai.

Como fazer para reter talentos e remunerá-los bem? Não estava lidando com mão de obra, mas com
trabalho remunerado. Sendo que, por remuneração, entendia também um ambiente bom, desafiador, e
cursos, muitos cursos. Sabia que esse pessoal da geração Y pode ganhar até bem, mas se não sentir que
está evoluindo, saem, vão embora.

A CLT, uma lei boa, mas arraigada, não prevê remuneração em cursos, por exemplo. Não permite uma
série de situações, como o pagamento de salário com base na produtividade. Mesmo que o funcionário
não faça nada o dia inteiro, tem direito ao mesmo salário de quem trabalhou em exagero e colocou em
risco sua vida.

Jussara nunca antes havia se sentido tão desconfortável com essa questão dos trabalhadores. Antes
eles estavam lá, fiéis. Agora...

Enquanto refletia e pensava em saídas, tinha apenas a certeza de que treinamento e a educação
agora eram tão necessários como tecidos e linhas.

Recebeu um e-mail da Marina, dizendo:

São Paulo, 25 de XXXX de XXXX.

De: marina@contabilolimpo.com.br

Para: jussara_adm@cfgemeas.com.br

Assunto: Passivos Contingentes.

Prezada Jussara,

163
Unidade II

Acabo de apurar o resultado do mês, após a entrada das novas máquinas.

Parabéns, que lucro invejável!

Torço por você!

Qualquer dúvida, me ligue.

Marina.

E pouco tempo depois, recebeu a seguinte ligação:

Jussara:

— Sim?

Secretária:

(Falando em português, mas com forte sotaque francês).

— Sou a Amelie, secretária pessoal do Sr. Carl Larbetreld.

Jussara:

— Quem?

Amelie:

— Sou a Amelie, secretária pessoal do Sr. Carl Larbetreld. Ele estará em São Paulo amanhã e deseja
conversar com a senhora e com a sua irmã Josefa no restaurante Fapano a respeito de negócios.
Diz que ficará muito chateado se as senhoras não puderem conversar com ele. Posso confirmar a
sua presença? Providenciaremos um carro com chofer para o transporte e tradutora.

Jussara:

— Po, po, pod, pode sim, Sra., como é mesmo o seu nome?

Amelie:

— Amelie. Amelie Taucau. Desculpe pelo meu português sofrível. Nosso chofer estará aí por volta das
11h. Até mais e boa sorte.

Jussara fica paralisada por uns dois ou três minutos e não larga o telefone.

164
Ciências Contábeis Integrada

Chama Josefa e diz, toda sorridente:

— Você não sabe quem ligou, Jô!

Ficaram muito contentes. Já eram mulheres grandes, mas quando se entusiasmavam faziam praticamente
os mesmos sons e trejeitos de quando eram pequenas, brincando e olhando a tia Luiza trabalhar.

Importante:

Ao longo desta unidade, mostrou-se o regulamento do RIR/99 com seus critérios de


depreciação como algo do passado, sendo que o contador deve formar os critérios de
depreciação a partir do julgamento profissional.

O fato é que até o momento em que o texto deste livro foi fechado, não havia ainda
uma definição clara sobre os procedimentos tributários a serem realizados. Sabe-se que a
Secretaria da Receita Federal publicou o RTT – Regime Tributário de Transição para legislar
sobre os procedimentos de transição para a contabilidade internacional e suas consequências
tributárias, mas, dependendo do contexto e do caso particular das empresas, o contador
deve utilizar os critérios do RIR/99.

Esteja atento(a) à legislação e, se for o caso, consulte a autoridade tributária sobre o


procedimento que deve adotar, especialmente se, em sua análise e julgamento, o tempo de
depreciação diferem muito dos estabelecidos na RIR/99.

Resumo

Relembrando os objetivos da disciplina Ciências Contábeis Integrada,


no curso de Ciências Contábeis, que são:

• Utilizar (aplicar) o conhecimento adquirido no curso até o momento.

• Discutir e resolver casos práticos.

• Identificar conhecimentos e reconhecer aqueles que devem ser


retomados ou atualizados.

• Distribuir resultados para as partes interessadas.

• Identificar lacunas de gestão.

• Propor ações de melhoria.

Ao longo da Unidade I e II, você teve a oportunidade de estudar


Contabilidade por meio de um estudo de caso que facilita e possibilita uma
165
Unidade II

reflexão de uma Contabilidade Integrada, ou seja, que te permite refletir


sobre os objetivos listados anteriormente.

Fizemos isso utilizando um simpático estudo de caso, de duas gêmeas


que gostam do mundo da moda e da arte da costura e tornaram esse gosto
sua profissão, seu negócio.

Na Unidade I, você percorreu assuntos importantes ligados à


contabilidade de custos, análise de custos, o relevante e preocupante
aspecto da contabilidade tributária e a necessidade de bem calcular os
impostos e proteger a empresa dos abusos.

Aqui na Unidade II, você percorreu a contabilidade societária, o


imobilizado e os tipos de depreciação. Esse aspecto é de fundamental
importância para o novo contador, porque o cálculo da depreciação era
uma tarefa relativamente simples e padronizada até alguns anos atrás e,
com as normas internacionais de contabilidade, como costuma dizer o Prof.
Dr. Ariovaldo dos Santos, o contador brasileiro está precisando aprender a
calcular depreciação, de fato!

Também percorreu a contabilidade empresarial, com os assuntos


de rotina para o contador e, finalmente, em contabilidade financeira, a
importantíssima “DVA” – Demonstração dos Valores Adicionados, que
é um avanço magnífico para a sociedade, além de provisão de Passivo
Contingente e uma oportuna reflexão sobre folha de pagamento x
mão de obra.

Como tema transversal (tema complementar que surge e atravessa


o estudo), podemos citar a “inovação”. Jussara e a Josefa enfrentaram
enormes dificuldades para adquirir e implantar uma nova tecnologia, mas
de certa forma foram beneficiadas pela sociedade por terem enfrentado
essas dificuldades. Como contador(a), você também deve se importar com
esse aspecto tecnológico/de inovação nas empresas onde atua, porque é
fator de sobrevivência do negócio.

Outro aspecto que você deve ter notado é o relacionamento


das sócias com vários profissionais de outras empresas, vendedores,
compradores, representantes comerciais, fornecedores, profissionais
de instituições financeiras, empregados. Essa é uma característica
muito comum em empreendedores de sucesso: saber se relacionar e
aproveitar as oportunidades, as cadeias e arranjos produtivos. Muitas
vezes, as informações contábeis, se disponíveis nos momentos corretos,
auxiliam o empresário a ter maior sucesso nesses contatos.

166
Ciências Contábeis Integrada

Costumo dizer que “uma aula nunca acaba”. Sempre que iniciamos um
estudo, há um início, nunca um fim. E o bom estudo é aquele que ao final
não dá a sensação de satisfação por ter exaurido todas as possibilidades,
mas aquele que substitui dúvidas simples por mais complexas ou faz surgir
dúvidas onde antes não havia curiosidade alguma.

Esperamos que esse estudo tenha te auxiliado a refletir sobre a sua


atuação como contador(a) e a estar confiante para enormes desafios que o
aguardam na sociedade. Como o Prof. Dr. Antônio Lopes de Sá costumava
dizer, não existem diversos tipos de contabilidades como muitas vezes
somos levados a entender. Contabilidade é sempre contabilidade. O que
existe são aplicações da contabilidade a assuntos especializados.

Exercícios

Questão 1. (Cesgranrio 2010) Uma empresa comprou uma impressora, que tem uma vida útil de
5 anos, por R$ 12.000,00. Depois de vários eventos de falha, ao longo de 6 meses, a empresa decidiu
comprar um novo equipamento. Usando o método de depreciação linear e considerando que a empresa
esperava um valor residual de R$ 2.000,00 após o fim da vida útil, qual é a depreciação acumulada, em
reais, após esses 6 meses?

A) 500,00.

B) 1.000,00.

C) 2.000,00.

D) 6.000,00.

E) 10.000,00.

Resposta correta: alternativa B.

Análise das alternativas

Justificativa geral: Valor a ser depreciado = Valor da compra – Valor residual

Valor a ser depreciado = 12.000,00 – 2.000 = 10.000

Depreciação anual = Valor a ser depreciado/tempo de vida útil

Depreciação anual = 10.000/5 = 2.000

167
Unidade II

Como o exercício pede o cálculo da depreciação em 6 meses, a depreciação acumulada será de 1.000
reais.

Questão 2. Determinada empresa efetuou uma aplicação de R$ 120.000,00 em um fundo de


investimentos. O prazo da aplicação será de trinta dias, a taxa de juros simples mensal é de 2,5% e a
administradora cobrará taxa de 1,5% ao mês sobre o rendimento. Qual o valor do IRRF que será pago,
sabendo-se que a alíquota do imposto neste tipo de aplicação é de 4% sobre o rendimento líquido?

A) R$ 75,00.

B) R$ 118,20.

C) R$ 119,83.

D) R$ 121,80.

E) R$ 720,00.

Resolução desta questão na plataforma.

168
figuras e ilustrações

Figura 3

DSCF1643.JPG. Disponível em: <http://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/r/ronnieb/preview/


fldr_2005_05_22/file0001073937374.jpg>. Acesso em: 8 mai. 2013.

Figura 4

DUPLICATA.JPG. Disponível em:<http://tabelionatoroquedomingues.com.br/images/servicos/duplicata.


jpg>. Acesso em: 8 mai. 2013.

Figura 5

BOLETOEMBRANCO.JPG. Disponível em: <http://www.andif.com.br/ver.php?codigo=238#.


UYq3n6JJOql>. Acesso em: 8 mai. 2013.

Figura 6

IMAGEM132376. Disponível em: <http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2008/12/12/tv-


senado-discute-recursos-energeticos-e-naturais-do-mercosul>. Acesso em: 8 mai. 2013.

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Exercícios

Unidade I – Questão 1: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


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Unidade II – Questão 1: FUNDAÇÃO CESGRANRIO. Concurso Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística 2010: Analista de Planejamento - Engenharia de Produção. Questão 66. Disponível em:
<http://qcon-assets-production.s3.amazonaws.com/prova/arquivo_prova/3266/cesgranrio-2010-ibge-
analista-de-planejamento-engenharia-de-producao-prova.pdf>. Acesso em: 19 jan. 2015.

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176
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

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