UNIVERSIDADE DE SÃO
PAULO
Departamento de Engenharia Naval
e Oceânica
ESPECIALIZAÇÃO EM
ENGENHARIA NAVAL
Módulo 3: Hidrodinâmica
2007
Especialização em Engenharia Naval 1
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 2
ÍNDICE
1. Introdução............................................................................................... 4
3. Comportamento no Mar....................................................................... 32
4. Manobrabilidade................................................................................... 78
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 4
1. INTRODUÇÃO
“...THERE WAS FAR MORE IMAGINATION IN THE HEAD OF
ARCHIMEDES THAN IN THAT OF HOMER.”
VOLTAIRE
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 5
Esta apostila foi elaborada com o intuito de servir como um texto introdutório em
hidrodinâmica marítima e é voltada ao aluno que pretende uma especialização
nesta área. Ela deve ser entendida como um guia para a orientação dos estudos,
os quais devem ser complementados através de referências bibliográficas
específicas sugeridas ao longo do texto. O conjunto de referências que servirá de
apoio para o curso é composto tanto por obras de introdução geral à engenharia
naval como obras já clássicas em hidrodinâmica marítima, as quais possibilitam
um aprofundamento nos conceitos básicos. O aluno deve ter em mente que o
estudo destes textos complementares é essencial para a solidificação dos
conceitos que serão discutidos no curso.
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 6
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 7
Dada a intrincada natureza do fenômeno, até meados do século XIX não havia
formas de se estimar a resistência que um determinado casco sofreria ao se
deslocar com uma certa velocidade, ou, o que é equivalente, não havia meios
científicos capazes de prever a força necessária para mover um determinado
casco com uma certa velocidade de avanço.
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 8
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 9
A função f(), por sua vez, depende do tipo de escoamento sobre a placa, ou seja,
se estamos falando de um escoamento laminar (possível para baixos números de
Reynolds) ou turbulento. De fato, o tipo de escoamento exerce uma influência
grande sobre as tensões de cisalhamento (ou seja, sobre o atrito) exercido pelo
fluido sobre a placa. Esta influência é ilustrada na figura a seguir, onde se
apresenta um conjunto de resultados experimentais obtidos em ensaios com
placas planas e os valores previstos através de duas funções teóricas que
relacionam o coeficiente de fricção na placa com o Rn do escoamento:
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 10
A figura acima também mostra que existe uma região de transição, tipicamente na
faixa 10 5 < Rn < 10 6 , na qual o coeficiente de fricção é muito sensível a pequenas
1
De fato, basta observar, por exemplo, que para um casco com LWL = 100m que se desloca com
uma velocidade V = 5m/s (aprox. 10 nós), temos Rn = 5x108
Módulo 3 – Hidrodinâmica
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Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 12
2
Em mecânica dos fluidos, escoamentos de fluidos inviscidos são denominados “escoamentos
potenciais”. Trata-se, obviamente, de um estudo aproximado, visto que na realidade todo fluido é
provido de viscosidade, mas que encontra inúmeras aplicações importantes em engenharia naval
e oceânica.
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Especialização em Engenharia Naval 13
p v2 (4)
+ + gh = cte
ρ 2
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 14
região média do casco, onde sua largura é maior, a velocidade do fluxo resulta
maior do que V, e, portanto, a pressão é menor (daí o sinal (-)). A pressão em
cada ponto da superfície do corpo dá origem a uma força perpendicular à
superfície no referido ponto e, em virtude da simetria, pode-se inferir na figura (b)
que a resultante da força será de fato nula. O problema é que, na realidade, o
fluido apresenta viscosidade. Essa viscosidade faz com que a camada de fluido
em contato com a superfície do corpo permaneça aderida ao mesmo. A
velocidade das partículas fluidas em contato imediato com a superfície do corpo é
então nula e aumenta gradualmente à medida que nos afastamos desta
superfície. A camada de fluido entre a superfície do corpo e os pontos nos quais a
velocidade média do fluxo já é igual a 0.99V é denominada “camada-limite” (em
inglês boundary layer), ilustrada na parte (c). Fisicamente, a variação de
velocidade na camada-limite é a responsável pelo atrito experimentado pelo
corpo, dando origem à resistência friccional, como vimos. Se o corpo tiver
variações abruptas de geometria (comuns, especialmente na popa de navios), a
camada-limite tende a se “descolar” do corpo, formando turbilhões no fluxo à
jusante do mesmo (esteira). Para formar esses turbilhões (ilustrados na parte (d)),
se gasta energia, energia esta que é sentida como uma força de resistência ao
avanço. Essa parcela de resistência é conhecida como resistência por geração de
vórtices (em inglês, eddy-making resistance).
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CV = C F (1 + k ) (5)
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(a) (b)
A uma certa distância do navio esse trem de ondas se mostra composto por um
conjunto de ondas que se propaga com direção paralela à direção do movimento
(ondas transversais) e um trem de ondas divergente, que se afasta do navio (em
forma de “V”).
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A força de resistência por formação de ondas (RW) varia com a amplitude de onda
ao quadrado e esta, por sua vez, varia tipicamente com a velocidade de avanço
ao quadrado. Em média, portanto, se fizermos um gráfico de RW x Fn,
identificaremos uma tendência dada por RW ∝ ( Fn ) 4 . O crescimento, no entanto,
Rw (6)
CW =
1 / 2 ρSW V 2
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 19
Ainda hoje a resistência de ondas não pode ser estimada por intermédio de
formulações teóricas, embora estudos nesse sentido tenham sido desenvolvidos
ao longo de mais de cem anos. Soluções numéricas baseadas em escoamento
potencial conseguem fornecer hoje em dia boas aproximações, mas ainda
enfrentam problemas. Uma das complicações decorre do fato de que, acima de
3
Velocidades mais altas são facilmente alcançadas pelos chamados cascos “de planeio” ou por
embarcações dotadas de hidrofólios, por exemplo.
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 20
uma certa velocidade (tipicamente para Fn acima de 0.25), a razão entre a altura e
o comprimento da onda gerada4 se torna muito elevada e a onda “quebra”.
Quando a onda do sistema primário quebra, ela afeta o padrão de onda do
sistema secundário. Além disso, como a elevação da superfície varia ao longo do
comprimento do navio, induz-se um trim de popa e a situação de flutuação do
casco muda, o que também acaba por afetar o campo de ondas gerado.
4
A essa razão dá-se o nome de declividade da onda.
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Especialização em Engenharia Naval 23
(a)
(b)
5
Por semelhança dinâmica entenda-se semelhança entre as diferentes componentes de força na
escala real e na escala do modelo.
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Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 25
novamente a Figura 2. Essa figura demonstra que, enquanto para o navio sua
camada-limite será efetivamente turbulenta sobre o casco, o modelo se situará na
chamada faixa de transição. O problema é que, nesta faixa, é muito difícil prever
efetivamente qual será o valor da resistência friccional sobre o casco e, com isso,
o método perderia precisão. Na prática, tenta-se contornar esse problema com o
uso dos chamados excitadores de turbulência. Esses excitadores são
normalmente faixas de areia ou pinos posicionados próximos à proa do modelo de
forma a induzir artificialmente a turbulência da camada-limite para que esta se
aproxime da situação prevista para o navio real.
A Figura 11, abaixo, ilustra um dos aparatos empregados para a medição da força
de resistência em um modelo. Esse método se baseia no uso de cabos e polias e
dois contra-pesos. A figura também ilustra, esquematicamente, a presença do
excitador de turbulência (no caso, uma faixa de areia).
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 26
Por essa razão, nos métodos de cálculo de resistência mais recentes, é feita uma
correção que busca representar a influência dessa componente. Em geral, essa
correção se baseia no emprego do coeficiente de forma k, já discutido na seção
2.1.2.
Módulo 3 – Hidrodinâmica
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CW m = CT m − (1 + k )C F m (8)
CT r = (1 + k )C F r + CW r + C A + C AA (9)
r
onde o valor de C F será novamente calculado pela eq. (3), mas agora a fórmula
é usada com Rnr.
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 28
AT (10)
C AA = 0.001.
SW r
RT = 1 / 2 ρSW (V r ) 2 CT (11)
r r r
Resta apenas discutir a obtenção do fator de forma k. Este é obtido a partir dos
resultados experimentais levantados para as diferentes velocidades de reboque
(e, portanto, para os diferentes valores de Fn ensaiados). De posse dos valores
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 29
CT m ( Fn m ) b (12)
= (1 + k ) + a
CF m CF m
Ajustando-se a função acima à curva experimental são obtidos os valores dos
parâmetros de ajuste a e b e do fator de forma k, suposto o mesmo para o modelo
e o navio.
• Comparação com navio semelhante: Uma boa estimativa inicial pode ser
obtida por comparação com navio semelhante (parent ship). Normalmente
se emprega um fator de conversão para relacionar a potência necessária
no navio projetado com aquela instalada no semelhante. Um dos fatores
mais aceitos atualmente é o coeficiente de almirantado (dado por
V 3 ∆2 / 3 Potência ). Obviamente, a aproximação será tanto melhor quanto
mais próximos forem os parâmetros geométricos e a velocidade dos dois
navios.
Deve-se sempre ter em mente, todavia, que qualquer um dos métodos acima é
bastante aproximado e se destina apenas a inferências iniciais. No decorrer do
projeto do navio, métodos mais sofisticados vão sendo empregados para avaliar a
resistência de forma mais confiável. Hoje em dia, métodos numéricos (como
programas de CFD) são cada vez mais empregados, embora esta ainda não seja
a regra. As avaliações finais continuam a depender de ensaios em tanque de
provas, discutidos na seção precedente.
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 31
P = RT ⋅ V .
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3. COMPORTAMENTO NO MAR
Quando falamos do problema de “comportamento no mar” de uma embarcação,
nos referimos ao estudo para previsão dos movimentos que essa embarcação
apresentará quando submetida à ação das ondas do mar. Na literatura de língua
inglesa, esse tópico é conhecido por seakeeping. Há vários motivos pelos quais o
projetista deseja limitar os movimentos e acelerações de um navio em ondas,
dentre os quais, podemos destacar:
Módulo 3 – Hidrodinâmica
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Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 34
O que caracteriza uma onda regular é o fato de ela ter um período de oscilação
(T) bem definido. Esse período pode ser medido, por exemplo, como o intervalo
de tempo entre duas cristas (ou cavas) sucessivas. O período das ondas do mar é
expresso normalmente em segundos. Muitas vezes, ao invés do período,
preferimos trabalhar com a freqüência de ondas (f=1/T, em Hertz) ou,
alternativamente, com a chamada freqüência angular ( ω = 2π T = 2πf , em rad/s).
Por fim, dizemos que a onda é progressiva porque um observador fixo veria as
cristas (e as cavas) se deslocando numa certa direção com o passar do tempo. A
velocidade com a qual o observador vê esse movimento é a chamada velocidade
de fase ou velocidade de propagação e é dada por c = λ T .
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 35
2π ω2 (13)
k= =
λ g
onde g é a aceleração da gravidade. O parâmetro k é conhecido como número de
onda. A relação (13) é conhecida como Relação de Dispersão e desempenha um
papel fundamental para a compreensão do ambiente marítimo. Com base na
equação (13), podemos reescrever a velocidade de propagação de uma onda de
várias formas alternativas:
λ k ω gλ (14)
c= = = =
T ω g 2π
Fisicamente, então, a relação de dispersão implica que as ondas mais “longas”
têm velocidade de propagação maior.
ζ ( x, t ) = A cos( kx − ωt + ε ) (15)
onde ε representa uma certa fase da onda (determina um valor inicial da função
para o instante de tempo t=0).
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 36
Para nós, um dos fatos mais importantes indicados na figura diz respeito à rápida
atenuação da velocidade do escoamento à medida que nos deslocamos para
pontos de maior profundidade. De fato, sendo z=0 a posição da superfície-livre
média, com z orientado conforme a Figura 14, a teoria mostra que a velocidade do
fluxo cai exponencialmente com a profundidade, ou seja, cai com e kz . Isso
significa que os efeitos da onda decrescem muito rapidamente com a
profundidade6.
6
Este é um fato conhecido, por exemplo, por quem mergulha.
Módulo 3 – Hidrodinâmica
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mostra que esse campo de pressão será composto pela soma de duas parcelas
na forma:
Nos navios de superfície, por outro lado, o projeto do casco não é orientado tendo
como objetivo principal reduzir os movimentos em ondas, mas sim almejando uma
boa relação entre a capacidade de carga e a resistência ao avanço. Dessa forma,
Módulo 3 – Hidrodinâmica
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Tudo o que discutimos até o momento diz respeito a uma onda elementar. As
ondas do mar, em geral, não apresentam uma freqüência bem definida, mas sim
uma combinação de ondas que se propagam com amplitudes, freqüências e até
mesmo direções distintas. Para prevermos o movimento excitado por estas ondas
precisaremos saber como a energia se distribui entre essas diferentes
componentes.
Módulo 3 – Hidrodinâmica
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Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 40
O período médio de ondas T (average wave period) pode ser obtido facilmente a
partir de um registro como a média dos períodos entre zeros ascendentes
(average zero up-crossing period) ou dos períodos entre cristas ou cavas
sucessivas.
De um modo bem simplificado, a altura média de ondas pode ser obtida com base
em um histograma contendo as informações do número de ocorrências dentro de
determinadas faixas de alturas de ondas. A razão entre o número de ocorrências
em cada faixa e o número total de ciclos contido no registro fornece quocientes de
Módulo 3 – Hidrodinâmica
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Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 42
7
A razão para o emprego da altura significativa como parâmetro estatístico tem origem histórica.
Estudos mostraram que um observador bem treinado tende a fornecer como a altura característica
de ondas irregulares um valor que se aproxima muito de H1/3. Assim, dada a importância já
ressaltada das inferências visuais como fonte original para as estatísticas de ondas do mar, a
altura significativa passou a ser um parâmetro usual na modelagem.
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Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 44
muito bem reproduzida por uma distribuição Gaussiana (ou normal). Como ζ n
−ζ (20)
2
1
f (ζ ) = e 2σ 2
2πσ
sendo o desvio-padrão dado por:
1 N 2 (21)
σ= ∑ζ n
N − 1 n =1
Uma distribuição Gaussiana é plenamente caracterizada por dois parâmetros: sua
média (no caso nula) e seu desvio-padrão. A figura abaixo apresenta a
representação gráfica de uma distribuição Gaussiana com média nula e desvio-
padrão σ = 1.
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A −A
2
(23)
f ( A) = e 2σ 2
σ 2
a σ a
O valor médio das amplitudes que excedem o valor a pode ser visualizado,
graficamente, como a coordenada x do baricentro da área hachurada na figura
abaixo:
Por definição, a amplitude significativa é dada pela média das amplitudes 1/3
maiores, assim:
Módulo 3 – Hidrodinâmica
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∞ (25)
A1 / 3 = ∫ A. f ( A)dA
a0
a0 2
−
sendo: P{ A > a 0 } = e 2σ 2
= 1 / 3 e, portanto, a0 = 1.4823σ.
A1 / 3 ≅ 2σ (26)
H 1 / 3 ≅ 4σ
A expressão (24) pode ser reescrita em termos das alturas de onda na forma:
− 2 ⎛⎜ h ⎞
⎟
2 (27)
P{H > h} = e ⎝ H1 / 3 ⎠
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2π
∆ω =
TR
ω j = j∆ω
A hidrodinâmica marítima mostra que a energia transportada por uma onda varia
com o quadrado da amplitude dessa onda. Assim, uma medida da energia das
ondas do mar em torno de uma dada freqüência ω n é dada por:
1 ωn + ∆ω 1 2 (30)
S ζ (ω n ) = ∑ An
∆ω ω n 2
8
Maiores detalhes podem ser encontrados, por exemplo, em Ochi (1998).
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1 2 (31)
S ζ (ω n ).dω = An
2
Por definição, a variância do sinal ζ (t ) também pode ser dada a partir de seu
espectro de energia, na forma:
∞ (32)
σ 2 = ∫ S ζ (ω n ).dω
0
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Sζ ( f ) (33)
S ζ (ω ) =
2π
A relação (33) permite converter a representação do espectro da freqüência para
a freqüência angular e vice-versa.
Módulo 3 – Hidrodinâmica
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É fácil verificar, a partir das expressões (32) e (34), que a variância da elevação
ζ (t ) corresponde ao momento espectral de ordem zero (m0). O desvio-padrão do
sinal de elevação da superfície é então dado por:
⎡∞ ⎤
1/ 2 (35)
σ = RMS = m0 = ⎢ ∫ S ζ (ω ).dω ⎥
⎣0 ⎦
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A1 / 3 = 2 m0 (36)
H 1 / 3 = 4 m0
m0 (37)
T1 = 2π
m1
é conhecido como período central do espectro (mean centroid wave period).
m0 (38)
T2 = 2π
m2
é chamado período médio entre zeros (mean zero-crossing wave period). Muitas
vezes esse período aparece na literatura denotado por Tz.
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A estatística das ondas do mar vem sendo estudada há várias décadas, a partir
de registros em diferentes regiões do globo. Com isso, foram desenvolvidas
algumas formas-padrão de espectro, com fórmulas matemáticas que permitem
representar um espectro de energia com base em poucos parâmetros. Os dois
principais espectros-padrão serão apresentados a seguir.
O Espectro de Pierson-Moskowitz
O espectro original proposto por Pierson & Moskowitz (1963) foi obtido de forma
semi-empírica com base na análise de um grande número de registros de ondas
do Atlântico Norte. Por terem sido realizados em uma região “aberta”,
supostamente estes registros se referem, em sua maioria, a mares plenamente
desenvolvidos9. O espectro original era dado por:
0.0081g 2 ⎡ ⎛ gV ⎞ ⎤
4 (39)
S ζ (ω ) = exp ⎢− 0.74⎜ ⎟ ⎥
ω5 ⎣⎢ ⎝ ω ⎠ ⎦⎥
onde V aqui representa a velocidade média do vento medido a uma altura de 19.5
metros.
9
Um mar plenamente desenvolvido é aquele oriundo da geração por vento em uma região onde
houve uma área de superfície suficiente para que as ondas tenham atingido um equilíbrio.
Normalmente representam ondas em “mar aberto”, ou seja, longe da costa.
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A ⎛ B ⎞ (40)
S ζ (ω ) = exp⎜ − 4 ⎟
ω 5
⎝ ω ⎠
O Espectro de JONSWAP
320.H 1 / 3
2 ⎧⎪ − 1950 − 4 ⎫⎪ A (41)
S ζ (ω ) = 4
ω −5 exp⎨ 4
ω ⎬γ
Tp ⎪⎩ T p ⎪⎭
com:
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γ = 3.3
⎧ ⎛ω − 1 ⎞ ⎫
2
⎪⎪ ⎜ ω p ⎟ ⎪⎪
A = exp⎨− ⎜ ⎟ ⎬
⎪ ⎜ σ 2 ⎟ ⎪
⎪⎩ ⎝ ⎠ ⎪⎭
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Uma função de transferência nada mais é que relação entre a excitação de onda
e a resposta do sistema, mediante o conhecimento de parâmetros relacionados
com a inércia, restauração e amortecimento do mesmo.
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Graus de Liberdade
Índice Nomenclatura
j Português Inglês
1 Avanço Surge
2 Deriva Sway
3 Afundamento Heave
4 Balanço ou Jogo Roll
5 Caturro ou Arfagem Pitch
6 Guinada Yaw
Figura 27 – Os 6 graus de liberdade de sistemas navais e oceânicos.
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O Movimento de Roll
d 2ϕ
, cuja relação direta com o momento restaurador se faz através da II Lei de
dt 2
Newton, ou seja:
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O Movimento de Pitch
d 2θ gGM L (45)
+ θ = 0.
dt 2 k 22
2πk 2 (46)
Tθ = .
gGM L
O Movimento de Heave
d 2 z gAw (47)
+ z = 0.
dt 2 ∇
∇ (48)
Tz = 2π .
gAw
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Observações
∆k12 d 2ϕ dϕ (49)
+ B + ∆GM T ϕ = 0 ,
g dt 2 dt
onde: B é a constante de amortecimento linear.
d 2ϕ dϕ (50)
+ 2bωϕ + ωϕ2ϕ = 0 ,
dt 2 dt
onde, por definição:
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gGM T Bg
ωϕ2 = e b= .
k12 2ωϕ ∆k12
2π (1 − b 2 ) −0,5 (51)
Tϕ = (1 − b 2 ) −0,5 = 2πk1 ,
ωϕ ( gGM T ) 0,5
Obviamente, o mesmo tipo de análise pode ser aplicado aos demais graus-
de-liberdade do navio, em especial o heave e o pitch.
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Módulo 3 – Hidrodinâmica
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1,10
1,00
0,90
0,80
0,70
|Sway| (m/m)
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2 2,2 2,4 2,6 2,8 3
w (rad/s)
(a)
1,70
1,60
1,50
1,40
1,30
1,20
1,10
1,00
|Heave| (m/m)
0,90
0,80
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20 1,40 1,60 1,80 2,00 2,20 2,40 2,60 2,80 3,00
w (rad/s)
(b)
5,50
5,00
4,50
4,00
3,50
|Roll| (grau/m)
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20 1,40 1,60 1,80 2,00 2,20 2,40 2,60 2,80 3,00
w (rad/s)
(c)
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Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 66
movimento. Esse mecanismo será discutido mais adiante na seção 3.4, quando
falarmos dos mecanismos de estabilização de movimento.
1 2
S ζ (ω n ).dω = An
2
1 2 (52)
S j (ω ).dω = ξ j (ω )
2
e, portanto:
ξ j (ω ) 1 (53)
2
S j (ω ).dω = A(ω ) 2
A(ω ) 2
ou seja:
2
S j (ω ) = Z j (ω ) S ζ (ω ) (54)
O procedimento para obtenção dos espectros de resposta descrito pela eq. (54) é
conhecido como cruzamento espectral. Uma interpretação gráfica deste
procedimento é apresentada na figura a seguir.
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 67
discutidas na seção anterior com respeito às ondas do mar podem ser obtidas
agora para os movimentos do corpo. Obtêm-se, então, as estatísticas de resposta
do corpo para um determinado estado de mar. Tomemos mais uma vez como
exemplo o movimento de heave para exemplificar o processo. O espectro de
resposta em heave é S 3 (ω ) . O momento espectral de k-ésima ordem do
A 3 1 / 3 = 2 m 3, 0 (56)
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 68
m3 , 0 (57)
T1 = 2π
3
m3,1
m 3, 0 (58)
T2 = 2π
3
m 3, 2
−a
2
(59)
P{ A > a} = e
3 2 m3 , 0
Podemos ainda estimar o número médio de vezes que isso ocorrerá ao longo de
uma hora:
3600 (60)
N hora = P{ A 3 > a}
T23
3.3.1 Exemplo
Heave de um Navio Hipotético Excitado por uma Onda Regular
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 69
π eπ.
10
z
ζa
0,3
π π ω [rad / s]
10
Figura 30 – Função de transferência do movimento de heave de um navio
hipotético.
81
ζa = m.
17
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 70
ζ (t) [m]
81
17
t [ s]
Solução A:
9
Essa excitação regular apresentará um período de: T = = 3s , e portanto, uma
3
2π
freqüência angular de ω = rad/s.
3
z
Observando, agora, a Figura 30 vemos que é função da freqüência angular
ζa
ω e que, portanto:
z z 1 ⎛ π ⎞
= (ω ) = ⎜ω − ⎟
ζa ζa 3π ⎝ 10 ⎠
2π z 17
Desta forma, sabemos que ω = ⇒ = m .
3 ζ a 90 m
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 71
81
Como o próprio enunciado alerta para uma amplitude de ζ a = m , então a
17
resposta em heave do navio hipotético será:
z 17 81
zR = ⋅ζ a = ⋅ = 0,9m
ζa 90 17
Solução B:
z z 1 ⎛ π ⎞
Z 3 (ω ) = = (ω ) = ⎜ω − ⎟ .
ζa ζa 3π ⎝ 10 ⎠
2
2π
2
2π z ⎛ 17 ⎞ 2
Portanto, em ω = , Z 3 (ω ) = (ω =
2
) =⎜ ⎟ m 2 .
3 ζa 3 ⎝ 90 ⎠ m
Então:
2 2 2 2
z ⎛ 17 ⎞ 1 ⎛ 81 ⎞ 2 1 ⎛ 81 ⎞ 2
S 3 (ω ) = S R (ω ) = (ω ) ⋅ Sζ (ω ) = ⎜ ⎟ ⎜ ⎟ m ⋅s = ⎜ ⎟ m ⋅s.
ζa ⎝ 90 ⎠ 2dω ⎝ 17 ⎠ 2dω ⎝ 90 ⎠
1 2
S R (ω ).dω = zR ⇒
2
2
⎛ 81 ⎞
⇒ z R = 2 ⋅ S R (ω ).dω = ⎜ ⎟ = 0,9m.
⎝ 90 ⎠
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 72
navio navega a favor das ondas (no mesmo sentido), teremos TE > T . A Figura 32
ilustra a situação para uma situação genérica.
λ T (61)
TE = =
c − V cos α 1 − V cos α
c
A freqüência de encontro, com auxílio da eq. (14), pode ser escrita então como:
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Especialização em Engenharia Naval 73
2π 2π ⎛ V ⎞ ⎛ V ⎞ ⎛ Vg ⎞ (62)
ωE = = ⎜1 − cos α ⎟ = ω ⎜1 − cos α ⎟ = ω ⎜1 − cos α ⎟
TE T ⎝ c ⎠ ⎝ c ⎠ ⎝ ω ⎠
ou:
dω (64)
S (ω E ) = S (ω )
dω E
E, finalmente, usando a eq. (62):
−1 (65)
⎛ 2ωV ⎞
S (ω E ) = S (ω )⎜⎜1 − cos α ⎟⎟
⎝ g ⎠
Para o cálculo dos movimentos de um navio em curso, basta então lembrar que o
cruzamento espectral dado pela eq. (54) deve ser efetuado utilizando-se o
espectro de ondas modificado da eq. (65). Assim:
2
S j (ω E ) = Z j (ω ) S ζ (ω E ) (66)
3.4 Estabilização
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Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 75
Tanques Passivos
Como o tanque é passivo, esse ajuste só pode ser feito para um determinado
período de movimento (sintonia do tanque). Escolhe-se normalmente o período
natural de roll do navio, por se tratar do período para o qual ocorrem as maiores
amplitudes de movimento.
O custo destes sistemas e o espaço interno exigido pelos mesmos fazem com
que essa alternativa não seja tão comum quanto, por exemplo, o uso de bolinas.
Aletas Móveis
Funcionam como asas montadas junto ao bojo do navio (ver Figura 34). Um
atuador mecânico controla o ângulo de ataque dessas asas de forma a gerar
forças de sustentação (lifts) que se oponham ao movimento de jogo do navio.
Esse mecanismo é ativo e controlado por um sensor que mede a intensidade do
movimento de forma a ajustar o melhor ângulo das aletas ao longo do tempo.
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Tanques ativos
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4. MANOBRABILIDADE
O estudo de manobrabilidade de um navio envolve a avaliação de diferentes
características, dentre as quais podemos listar:
• Quais as condições limite de vento e correnteza nas quais o navio pode ser
atracado sem assistência de rebocadores?
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Especialização em Engenharia Naval 80
Para um estudo mais profundo do tema, o PNA (Vol. III) e Bertram (2000) são
boas referências.
y (j)
r u
x(i)
CG o
X Y N (67)
X′= ; Y′ = ; N′ =
1 2 ρu L pp
2 2
1 2 ρu L pp
2 2
1 2 ρu L pp
2 3
10
No estudo de embarcações de alta velocidade ou no caso de veleiros, por exemplo, considera-
se também o movimento de inclinação do navio (roll).
dx
11
Aqui usamos a notação x& = , por simplicidade.
dt
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Y ′ = Yv&′v& ′ + Yr&′r& ′ + Yv′v ′ + Yv′3 (v ′) 3 + Yvr′ 2 v ′(r ′) 2 + Yv′δ 2 v ′(δ ) 2 + Yr′r ′ + Yr′3 (r ′) 3 + ... (69)
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Especialização em Engenharia Naval 84
m ′(u& ′ − v ′r ′) = X ′
m ′(v& ′ + r ′) = Y ′ (70)
I zz′ r&′ = N ′
m I zz
m′ = e I zz′ = .
1 2 ρL pp 1 2 ρL pp
3 5
12
As componentes de aceleração de corpo rígido estão aqui expressas em relação ao sistema de
referência solidário ao corpo. A dedução destas equações pode ser acompanhada no PNA (1988),
Vol III.
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 85
não seja capaz de retornar por si só (sem ação de medidas corretivas, como a
ação do leme) ao rumo original, dizemos que ele é instável direcionalmente.
Nesta situação, é importante observar que os termos que são não-lineares (ou
seja, quadráticos, cúbicos, etc...) nas expressões das forças hidrodinâmicas (ver
eq. (69)) terão magnitudes muito menores do que aquelas referentes aos termos
lineares (de primeira ordem) nas velocidades e acelerações. Assim, no caso de
trabalharmos com pequenos desvios em torno da situação média, podemos
desprezar esses termos de maior ordem e trabalhar com equações de movimento
aproximadas, retendo apenas os termos lineares de força. Assim, as equações de
movimento “linearizadas” podem ser escritas como:
N r′ N′ (73)
> v
Yr′ − m′ Yv′
N r′ N′ (74)
C′ = − v >0
Yr′ − m′ Yv′
Quanto maior for o valor de C ′ , mais estável será o navio. Assim, maior será
também a força de leme requerida para manobrar o navio.
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13
Provision and display of manoeuvring information on board ships.
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 91
o qual é mantido fixo até que o navio realize uma trajetória circular perfazendo, no
mínimo, 1 ½ volta (540o) . Os testes são realizados tanto para bombordo como
para boreste. As informações essenciais extraídas deste teste (normalmente
através de GPS) são (ver Figura 39):
• Diâmetro tático;
• Avanço máximo;
• Transfer;
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Especialização em Engenharia Naval 92
Devemos destacar ainda que o raio de giro (R) para navios bastante estáveis
(aqueles com baixos valores de m′ e diâmetros táticos próximos de 4,0Lpp ou
maiores) ou para navios em geral mas sob pequenos ângulos de leme pode ser
estimado de forma simplificada a partir do modelo de derivadas hidrodinâmicas.
Nestas situações, as velocidades ( v ′; r ′ ) durante a manobra de giro serão de fato
pequenas comparadas com a velocidade de avanço. Assim, podemos usar as
equações de movimento linearizadas para estimarmos, de forma fácil, o raio de
giro. Recuperando então as equações de movimento simplificadas (72) e
percebendo que durante a trajetória temos v& = r& = 0 , podemos escrever:
r.L pp
Lembrando ainda que r ′ = e notando que u = Rr durante a trajetória
u
L pp
circular, tem-se que r ′ = durante o giro. Substituindo na equação acima,
R
podemos resolver o sistema para as duas variáveis ( v ′; R ), obtendo assim a
seguinte expressão para o raio de giro em função das derivadas hidrodinâmicas:
Ressalta-se, mais uma vez, que a expressão acima só é razoável para estimar o
raio de giro de navios afilados. Para cascos rombudos, o emprego da
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Especialização em Engenharia Naval 93
Por outro lado, a equação (77) é útil para estimar o raio de giro para pequenos
ângulos de leme, por exemplo, até 10o, quando os erros serão certamente
menores. Retomando o exemplo do navio petroleiro, para δ=5o o raio de giro
previsto é de 600 metros.
2. Manobra em Zig-Zag
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3. Manobras em Espiral
Esta manobra tem por objetivo avaliar a estabilidade dinâmica do navio. Partindo-
se de um rumo e velocidade constante, aplica-se um ângulo de leme para um dos
bordos, por exemplo 15o para estibordo (starboard S). Aguarda-se o navio atingir
uma taxa constante de variação de aproamento, quando então o ângulo de leme
é reduzido, por exemplo para 10oS. Repete-se o procedimento para 5oS, 5oP
(bombordo – port P), 10oP e 15oP. Durante a manobra o navio terá então descrito
uma trajetória em espiral. As taxas de variação do aproamento (ou taxa de giro,
rate of turn) medidas são então plotadas em função dos ângulos de leme, como
ilustra a Figura 41.
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Especialização em Engenharia Naval 95
Se o navio for estável, cada ângulo de leme estará associado a uma taxa de
variação bem definida (parte (a) da figura). Caso contrário, para um mesmo
ângulo de leme mais de uma taxa de variação será medida, dependo se este
ângulo foi atingido no sentido crescente ou decrescente (parte (b) da figura).
4. Manobra de Pull-Out
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F ∝ ARV 2δ (78)
14
Refere-se à área projetada do leme em vista lateral.
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Além disso, a equação (78) também indica que, em baixas velocidades, o leme do
navio será pouco efetivo. Esse é um problema enfrentado principalmente durante
manobras de atracação. Nessa situação, as velocidades são muito baixas e há a
necessidade de se aplicar grandes giros ao casco. Por essa razão, as manobras
em atracação são muitas vezes assistidas por dispositivos de manobras
auxiliares, como por exemplo os bow thrusters, ou por rebocadores. Os bow
thrusters nada mais são do que propulsores montados transversalmente junto à
proa do navio e que produzem um momento de giro no casco pela geração de
empuxo lateral.
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Especialização em Engenharia Naval 99
15
O que define o balanceamento de um leme é a distância entre o centro de pressão (ponto de
aplicação da força de sustentação) e o seu eixo de rotação.
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Solução
Utilizamos a equação (79) para calcular a força no leme para um ângulo δ = 35o .
Por se tratar de um leme central, adotamos como valor da constante de
velocidade cV = 1,3 . Assim:
Torque ⎛ D ⎞
σ= ⎜ ⎟
J ⎝2⎠
Dessa forma, o diâmetro mínimo necessário para o eixo será aquele para o qual a
tensão admissível será atingida, portanto:
1/ 3
⎛ 16 1 ⎞
D=⎜ × × 799189 ⎟ = 0,344m
⎝ π 100 E 6 ⎠
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 103
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Benford, H. “Naval Architecture for Non-Naval Architects”, Jersey City, NJ,
1991, 239p.
[3] Clarke, D., Gedling, P. and Hine, G., “The application of manoeuvring
criteria in hull design using linear theory”. The Naval Architect, pp.45-68,
1983.
[6] Lewis, E.V., “PNA – Principles of Naval Architecture, The Society of Naval
Architects and Marine Engineers – SNAME, Second Revision, 1988.
[8] Ochi, M.K. “Ocean Waves. The Stochastic Approach”. Cambridge Ocean
Tech. Series (6), Cambridge University Press, 1998.
[9] Pierson, W.J. & Moskowitz, L. “A Proposed Spectral Form for Fully
Developed Wind Seas Based on the Similarity Theory of
S.A.Kitaigorodsku”, Tech. Report U.S. Naval Oceanographic Office
Contract No 62306 – 1042, 1963
[12] Wigley, C., “Ship Wave Resistance”, Trans. NECI, Vol.47, 1931.
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R ∝ ρ aV b Lc µ d g e p f (A.1)
Escrevemos então, cada uma das quantidades em função das básicas (M,L,T)16,
e reescrevemos a relação (1.1) na forma:
a b
ML ⎛ M ⎞ ⎛ L ⎞ c ⎛ M ⎞ ⎛ L ⎞ ⎛ M ⎞
d e f (A.2)
∝⎜ 3 ⎟ ⎜ ⎟ L ⎜ ⎟ ⎜ 2⎟ ⎜ 2 ⎟
T2 ⎝ L ⎠ ⎝ T ⎠ ⎝ LT ⎠ ⎝ T ⎠ ⎝ LT ⎠
Igualamos os expoentes nos dois lados da equação. Com isso, obtemos, após
algum trabalho algébrico:
a = 1− d − f (A.3)
b = 2 − d − 2e − 2 f
c = 2−d +e
Substituindo a, b e c na equação (1.1), vem:
⎛ µ ⎞ ⎛ gL ⎞
d e
⎛ p ⎞
f (A.4)
R ∝ ρV L ⎜⎜2 2
⎟⎟ ⎜ 2 ⎟ ⎜⎜ ⎟⎟
⎝ ρVL ⎠ ⎝ V ⎠ ⎝ ρV
2
⎠
A relação (1.4), por sua vez, também poderia ser escrita como:
−d −2 e (A.5)
R ⎛ ρVL ⎞ ⎛ V ⎞ ⎛ p ⎞
f
∝ ⎜⎜ ⎟⎟ ⎜ ⎟ ⎜⎜ ⎟
⎜ gL ⎟ 2 ⎟
ρV L ⎝ µ ⎠ ⎝ ρV ⎠
2 2
⎝ ⎠
A partir da relação (1.5) não conhecemos a relação exata entre a resistência e os
demais parâmetros, pois não conhecemos o valor das incógnitas (d,e,f). Todavia,
essa expressão nos indica que o coeficiente adimensional de resistência17
( R ρV 2 L2 ) é função de três parâmetros, ou seja:
R ⎡⎛ ρVL ⎞ ⎛ V ⎞ ⎛ p ⎞⎤ (A.6)
= f ⎢⎜⎜ ⎟⎟, ⎜ ⎟, ⎜
⎜ ⎟⎥
2 ⎟
ρV 2 L2 ⎢⎣⎝ µ ⎠ ⎝ gL ⎟⎠ ⎝ ρV ⎠⎥⎦
⎜
16
A viscosidade do fluido (µ) tem dimensão M/(LT)
17
Na engenharia, normalmente o coeficiente de resistência usa como medida de área L2 a área de
superfície molhada do casco (SW).
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Especialização em Engenharia Naval 107
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 108
F (t ) = F0 cos(ω t ) , (B.1)
variação.
x
k
m F(t)
Sem atrito
Esta equação pode ser reescrita dividindo-se todos os termos pela massa m e,
então:
F0
onde: ω n = k é a freqüência natural não amortecida do sistema e f 0 = a
m m
razão entre a magnitude da força de excitação e o termo inercial do sistema.
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 109
m&x& + kx = 0 ;
f0
− ω 2 X 0 cos(ω t ) + ω n2 X 0 cos(ω t ) = f 0 cos(ω t ) ⇒ X 0 = .
ω n2 −ω2
f0 (B.4)
x P (t ) = cos(ω t ) .
ω n2 −ω 2
f0 (B.5)
x(t ) = X 1 sen(ω n t ) + X 2 cos(ω n t ) + cos(ω t ) .
ω n2 −ω 2
v0 ⎛ f ⎞ f0 (B.6)
x(t ) = sen(ω n t ) + ⎜⎜ x0 − 2 0 2 ⎟ cos(ω n t ) +
⎟ cos(ω t ) .
ω ⎝ ωn − ω ⎠ ω 2
n − ω 2
Neste ponto, com base em (B.6), dois casos particulares merecem uma análise
mais aprofundada: o batimento e a ressonância.
Módulo 3 – Hidrodinâmica
Especialização em Engenharia Naval 110
O Batimento
Se as condições iniciais do problema são nulas [ x (0), x& (0)] = [0,0] , a solução geral
se torna bastante simples:
f0
x(t ) = [cos(ω t ) − cos(ω n t )] , ou seja:
ω n2 −ω2
2 f0 ⎛ ω − ω ⎞ ⎛ ωn + ω ⎞ (B.7)
x(t ) = sen⎜ n t ⎟ sen⎜ t⎟.
ω n2 −ω 2
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠
⎛ω +ω ⎞
batimento. Percebemos um movimento ditado pela alta freqüência ⎜ n ⎟ e
⎝ 2 ⎠
⎛ω −ω ⎞
uma modulação da amplitude, dada pelo termo ⎜ n ⎟.
⎝ 2 ⎠
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Especialização em Engenharia Naval 111
A Ressonância
Por outro lado, suponha agora que a freqüência da excitação harmônica seja
exatamente igual à freqüências natural do sistema, ω = ω n .
ω = ωn :
v0 f0 (B.8)
x(t ) = sen(ω t ) + x0 cos(ω t ) + tsen(ω t ) .
ω 2ω
Como exemplo a Figura B.3 mostra o comportamento dinâmico do sistema,
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