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POVOS INDÍGENAS DE RONDÔNIA

CINTA LARGA
Nome e língua: O nome Cinta Larga é um designativo genérico criado pelos regionais e adotado
pela Fundação Nacional do Índio (Funai), pelo fato do grupo vestir uma larga cinta de entrecasca
de árvore em volta da cintura. Segundo as informações disponíveis, não é possível encontrar entre
os Cinta Larga algo como uma auto-denominação, um termo geral para o conjunto do grupo - a
não ser a alcunha "Cinta Larga", adotada por eles em sua convivência com a sociedade brasileira. A
Língua Cinta Larga pertence à família Tupi Mondé, tronco Tupi, assim como as de seus vizinhos
Gavião, Suruí Paiter e Zoró.

Localização: localizado no sudoeste da Amazônia brasileira, compreendendo parte dos estados de


Rondônia e Mato Grosso, o território tradicional desse grupo se estende a partir das imediações da
margem esquerda do rio Juruena, junto ao rio Vermelho, até a altura das cabeceiras do rio Juina
Mirim; das cabeceiras do Rio Aripuanã até o salto de Dardanelos; nas cabeceiras do rio Tenente
Marques e Capitão Cardoso e as cercanias dos rios Eugênia, Amarelo, Amarelinho, Guariba, Branco
do Aripuanã e Roosevelt. Habitam as terras indígenas Roosevelt, Serra Morena, Parque Aripuanã e
Aripuanã, todas homologadas, somando um total de 2,7 milhões de hectares.

Histórico do contato: A ocorrência mais remota que, com alguma certeza, faria referência aos
Cinta Larga foi o encontro com a turma de exploração do rio Ananaz, da comissão Rondon, em
maio de 1915 - atravessando, portanto, as terras do atual parque do Aripuanã. No começo da
viagem a expedição avistou vários grupos Nambikwara, com os quais a comissão já estava em
relações amistosas, mas depois, rio abaixo, próximo ao ribeirão dos Perdidos, seu acampamento
foi atacado por índios de “nação desconhecida”, que mataram o chefe da turma, tenente Marques
de Souza, e o canoeiro Tertuliano, enquanto os demais conseguiam fugir (A. B. de Magalhães 1941:
455). A comissão de Linhas Telegráficas, com a chegada dos sobreviventes a Manaus, procedeu a
um inquérito, concluindo serem “Araras” os índios atacantes - denominação equívoca que,
certamente, deve-se ao uso de várias penas de arara nos cocares e braçadeiras, como é costume
dos Cinta Larga e outros Tupi-Mondé.

Organização social: A família é a unidade significante da organização social Cinta Larga:


praticamente auto-suficiente e com grande liberdade para movimentar-se de uma aldeia para
outra. Um homem, suas mulheres e os filhos desenvolvem as atividades complementares
necessárias para a vida cotidiana. As aldeias maiores - cada aldeia possuía uma ou duas casas
grandes -comportavam na área de Aripuanã de três a cinco famílias: o dono da casa, suas esposas,
seus filhos casados ou solteiros, filhas solteiras e noras, talvez seus irmãos e famílias, às vezes suas
filhas casadas e genros.

Aspectos cosmológicos: Sonhar que se está atravessando o rio, submerso, significa que o caçador
encontrará anta. Sonhar com mulher é sinal de anta fêmea, enquanto relações homossexuais
indicam anta macho. Se sonha que está tirando tapurus (bernes) do pé, vai-se matar gavião –
explica-se: para comer, o gavião segura com suas garras a carne, às vezes já infestada com bernes.
Morar numa casa velha, é tatu, mas se sonha que “anda com luz à noite, igual vagalume, é onça!”.
O imaginário onírico encerra em uma mesma imagem predador e presa.
KARIPUNAS
Nome e língua: A autodenominação dos assim chamados Karipuna é ahé (“gente verdadeira”).
Falam uma língua da família Tupi-Guarani e compreendem com facilidade a língua de grupos com
os quais convivem, como os Uru-Eu-Wau-Wau, Amondawa, Tenharim, Parintintin.

Localização: A Terra Indígena (TI) Karipuna está localizada nos municípios de Porto Velho e Nova
Mamoré. Ali os Karipuna estão reunidos na aldeia Panorama. A TI tem como limites naturais os
rios Jacy-Paraná e seu afluente pela margem esquerda, o rio Formoso (a leste); os igarapés
Fortaleza (ao norte), do Juiz e Água Azul (a oeste) e uma linha seca ao sul, ligando este último
igarapé às cabeceiras do Formoso.

Histórico do contato: Os primeiros contatos dos Karipuna com segmentos da sociedade não-
indígena ocorreram quando seringueiros começaram a penetrar os afluentes do alto rio Madeira,
no primeiro boom da borracha, nas primeiras décadas do século XX. Não se tem registros de
ataques ou “correrias” efetuadas por seringalistas a estes índios, tampouco os remanescentes
mais velhos do grupo os mencionam. Mas os karipuna há relatos de que invadiam “colocações”
isoladas na região compreendida entre os rios Mutum-Paraná, Contra, Capivari e Jacy-Paraná para
levar panelas, roupas e espingardas.

Aspectos culturais: Não há xamãs na aldeia, mas tanto Aripã como Katsiká conhecem “remédios
do mato”. Já’huj (avô materno de Aripã) foi o último pajé dos Karipuna. Por outro lado, as
concepções nativas sobre o destino pósmortem da alma (-éñiñi) ainda permanecem atuantes –
apesar de incorporarem o personagem “jesús” (purejapi’nã) como o espírito (anhãgá) predador
que, ao devorar o coração do humano, consuma a sua passagem para o “céu” (ywagá). Este lugar é
onde vivem as almas e é quase igual à vida na terra: tem caça e peixe, mas ali só conhecem o arco
e a flecha (não tem espingarda). Ali também casam-se, mas não obedecem as regras de
casamento: “lá no céu é igual aqui; mas estar por aqui é melhor” (Aripã).

Atividades produtivas: Desde o contato, a “roça do Posto” é a principal atividade dos funcionários
da Funai ali estabelecidos. Planta-se arroz, feijão, mandioca, milho e, nas capoeiras, permanecem a
banana, a cana e o mamão. Como a maioria dos povos Tupi-Guarani, os Karipuna tinham no milho
a sua principal fonte de alimentação – hoje já superada pela mandioca.

Produzem farinha, cujo pequeno excedente é vendido fora (a produção anual vendida é de
seis a oito sacos por ano, a um preço médio de R$ 55,00 o saco). Parte da produção do milho
também é vendida. Coletam castanha-do-pará para venda (na média anual, algo em torno de
15/18 sacos, ou cerca de 66 latas a R$ 7,00 a lata). Ou seja, a renda auferida pela comunidade não
chega a R$ 1.000,00 por ano.
KARITIANAS
Nome e língua: Não se conhece a origem ou a etimologia da palavra Karitiana, que os próprios
índios afirmam ter-lhes sido atribuída por seringueiros que penetraram seu território no final do
século XIX e início do século XX. Os Karitiana denominam-se simplesmente Yjxa, pronome da
primeira pessoa do plural inclusivo – “nós”, também traduzido como “gente” –, em oposição aos
Opok, os “não-índios” em geral, e aos opok pita, os “outros índios”. A única remanescente da
família lingüística Arikém

Localização: Terra Indígena Karitiana apresenta-se como um quadrilátero localizado inteiramente


no município de Porto Velho, estado de Rondônia. Uma porção considerável do leste do território
homologado incide sobre a Floresta Nacional do Bom Futuro.

Histórico do contato: Muito pouco se sabe da história dos Karitiana antes do despontar do século
XX. A primeira referência a esse grupo na literatura data de 1909, pelo capitão Manoel Teophilo da
Costa Pinheiro, um dos membros da Comissão Rondon; em 1910 o próprio Marechal Rondon
menciona os Karitiana, então nas imediações do médio rio Jaci-Paraná: estes são os dados
anotados por Curt Nimuendajú no seu Mapa Etno-histórico. Entretanto, ao que parece, os
primeiros contatos com os brancos teriam ocorrido ainda no final do século XVIII, e intensificados
com a chegada maciça de seringueiros e caucheiros em fins do século XIX. Todavia, os Karitiana
permaneceram arredios ao contato sistemático até os anos 50, e a presença dos brancos tornou-
se permanente apenas a partir de meados desta década, com a intervenção do SPI e de
missionários salesianos.

Organização social e cosmologia: É impossível falar da organização social dos Karitiana hoje sem
abordar a cisão religiosa que caracteriza o grupo. Entre 1972 e 1978 o casal de missionários David
e Rachel Landin, ligados ao Summer Institute of Linguistics, residiu entre os Karitiana, com o
objetivo de estudar sua língua para, em seguida, efetuar a tradução do Novo Testamento. O
trabalho de conversão, entretanto, teve resultados apenas parciais, o que pode ser aferido
atualmente: com efeito, a comunidade é dividida em dois grupos distintos – correspondendo, cada
um, a aproximadamente metade da população da aldeia –, que identificaremos como “povo do
pajé (xamã)” e “povo do pastor” ou “crentes”. Note-se que há, atualmente, um único xamã (que
eles denominam “pajé”) entre os Karitiana; os pastores são três – embora possam ser substituídos
por outros indivíduos treinados –, e cada um deles “possui” uma das três “igrejas” existentes na
aldeia.

Os Karitiana enfatizam o pouco rendimento sociológico desta oposição, dizendo que “são os
‘espíritos’ – Jesus, entre os “crentes” e Itamama, para os “do pajé” – que não se gostam”, e que na
vida cotidiana as pessoas relacionam-se normalmente: casam-se, trabalham, divertem-se.
Entretanto, esta oposição, expressa no nível do sobrenatural, se indica uma diferenciação notável
no universo simbólico, também não deixa de apontar implicações sociológicas e políticas
importantes.
AKUNTSU
Nome e língua: Akuntsu ou Akunsu, não corresponde à autodenominação do grupo.
Apenas atendem por este nome por serem desta maneira chamados pelos seus vizinhos
Kanoê. Na língua Kanoê, Akuntsu, ao que parece, significa "outro índio".

Localização: Os últimos cinco sobreviventes dos chamados Akuntsu vivem em pequenas


malocas próximas uma da outra, nas matas do igarapé Omerê, afluente da margem
esquerda do rio Corumbiara, no sudeste de Rondônia. A área constitui uma pequena
reserva de mata outrora pertencente a uma fazenda particular interditada pela Funai no
final dos anos 1980

Histórico do contato: Em setembro de 1995 contataram os índios Kanoê, remanescentes


dos antigos grupos Kanoê já mencionados pela comissão Rondon que habitaram regiões
próximas. Em conversa com os membros da expedição de contato, os Kanoê informaram
que próximo dali havia um outro grupo indígena ao qual eles chamavam de Akuntsu. Em
outubro desse mesmo ano uma outra expedição, que agora incluía alguns Kanoê, alcançou
não muito distante dali as pequenas malocas dos desconhecidos Akuntsu, que muito
assustados receberam o grupo. Eram então sete pessoas, dois homens adultos, três
mulheres (uma mais velha e duas em idade reprodutiva), uma adolescente e uma menina
de aproximadamente sete anos.

Rituais: As sessões de xamanismo estão sempre presentes na vida ritual dos Akuntsu.
Kunibu, chefe e pajé do grupo, interage com uma mulher pajé Kanoê em longos encontros
que envolvem os característicos sopros e aspiração de pó de angico (rapé). Entram em
transe e evocam espíritos de animais e entes fantásticos, os quais parecem incorporar.

Cultura material: Como os grupos do Complexo Cultural do Marico, os Akuntsu fabricam


esse saco cargueiro feito de fibras de tucum com grande esmero e aplicação. Fabricam
peças de cerâmica e adornos corporais, como braçadeiras, jarreteiras e tornozeleiras de
algodão, algumas com pequenos apliques de pedaços de pele com plumas de aves (tucano)
e algumas vezes dentes de mamíferos.

Atualmente não possuem arte plumária, a não ser pela confecção de narigueiras,
onde comumente são usadas penas de arara, e os apliques de plumas em adornos dos
membros. Os arcos são feitos de uma espécie de palmácea, e as flexas são em sua maioria
de ponta hemorrágica ou com três pontas, decoradas com fios tingidos de vermelho,
possuindo uma bela estética .
GAVIÕES
Nome e língua: É como Ikolen que esse povo se autodenomina, termo que em sua língua significa
literalmente “gavião”. Por isso mesmo, os Ikolen costumam ser chamados de Gavião ou Gavião de
Rondônia. Os Ikolen falam uma língua do tronco Tupi e da família lingüística Mondé (Tupi-Mondé),
geneticamente aparentada das línguas faladas por seus aliados Zoró e antigos inimigos Paiter e
Cinta-Larga.

Localização: Os Ikolen habitam a região da bacia do igarapé Lourdes e outros afluentes do rio
Machado (também conhecido como Ji-Paraná), na região leste do estado de Rondônia, divisa com
o Mato Grosso.

Histórico do contato: Os primeiros contatos dos Ikolen com não-índios ocorreram na década de
1940 e foram intermediados pelos Karo, que mantinham relações com seringalistas e seringueiros,
nas margens do rio Machado (Ji-Paraná).

Na década de 1950, em seqüência ao crescimento da exploração da borracha e início da


mineração na região, houve grande mortandade entre os Ikolen. A partir de 1953, os Ikolen se
aproximaram definitivamente dos não-índios, passando a trabalhar periodicamente como
seringueiros em troca de roupas e ferramentas. A presença dos não-índios alterou
significativamente as relações entre os Ikolen e os Karo, que passaram a competir pelos novos
recursos introduzidos, sobretudo, artigos industrializados.

Organização social e política: Os intercasamentos dos Ikolen com os Zoró e Karo eram bastante
freqüentes. Nesses casos, os Ikolen tendem a dizer que uma criança pertencerá ao grupo do pai.
Mas, na prática, há tantas exceções a essa ‘regra’, que é óbvio que entram em jogo muitos outros
fatores.

Primeiro, é preciso lembrar que esses grupos não são patrilineares, mas bilaterais. Isto é,
eles consideram parentes tanto os parentes da mãe como os do pai. Segundo, devem ser
examinadas as regras de residência. É costume entre todos esses grupos que um casal novo passe
os primeiros anos do casamento morando com a família da mulher. A regra inicial é, então,
matrilocal. Mas, passado esse período, o casal tem liberdade para fixar residência onde quiser.
Então, a escolha dependerá de muitos fatores: o número de parentes próximos do marido e da
esposa; se gostam ou não do grupo onde estão; se podem ter influência no grupo local etc. Muitas
vezes, no entanto, o casal acaba mudando-se para o local de residência do grupo do homem.

Cosmologia: Para os Ikolen, a natureza, com sua miríade de formas de vida animal e vegetal, é o
resultado concreto de uma série de atos criativos realizados por um personagem - semi-homem,
semi-deus - que viveu aqui na terra, no começo dos tempos. A esse personagem, os Ikolen
chamam de Gora’. Os Ikolen têm uma rica tradição mitológica que relata os detalhes dos eventos e
acontecimentos que resultaram na criação do mundo como nós conhecemos.
ORO WIN

Nome e língua: Os Oro Win autodenominam-se Oro Win ou Oro Towati’. A origem da palavra Oro
Win não é clara. Algumas pessoas falam que oro win significa “povo que se pinta”, pois era comum
em dias festivos pintarem todo o corpo com jenipapo e urucum. Várias pessoas da aldeia São Luís
também dizem que o nome Oro Win foi inventado por uma jovem mulher quando foi capturada
por seringueiros em 1963. A língua do povo Oro Win pertence à família linguística Txapakura,
juntamente com a língua falada pelos Wari’, seus vizinhos mais próximos, contudo ambos os povos
falam línguas diferentes

Localização: Os Oro Win vivem nas cabeceiras do rio Pacaás Novos, perto do igarapé Água Branca
e da serra dos Pacaás Novos. O seu território tradicional inclui o rio Pacaás Novos e seus afluentes,
na confluência com o igarapé São João até as cabeceiras, e termina na serra dos Pacaás Novos.

Histórico do contato: Acredita-se que até o final do século 19 muitos grupos indígenas que viviam
próximos ou às margens do Guaporé e do Mamoré se deslocaram para as cabeceiras dos grandes
afluentes, protegidos pelas encostas das serras escarpadas como as de Pacaás Novos e Uopianes.
Até este momento eles estavam protegidos temporariamente do primeiro ciclo da borracha, que
iria realmente iniciar o processo de ocupação do vale do Guaporé.

O povo Oro Win sofreu inúmeros massacres, restando poucos sobreviventes. O genocídio
contra os Oro Win foi realizado com verdadeiros requintes de crueldade, como por exemplo, o
massacre no igarapé Teteripe, quando crianças indígenas foram atiradas para o alto e espetadas
na ponta dos facões; e mulheres grávidas, amarradas em troncos, foram mortas lentamente com a
barriga rasgada por terçados. Esse massacre foi promovido a mando do seringalista Miranda da
Cunha.

Cosmologia e mitologia: Duas narrativas são fundamentais na cosmologia oro win. A primeira diz
respeito à origem da vida e à relação dos Oro Win com os Wari’. Relatos contam que no início
havia apenas uma grande e frondosa árvore. Essa gigantesca árvore possuía um orifício no centro.
Então, certa vez, um homem introduziu seu pênis no orifício da árvore, e, a partir daí, a árvore
ficou grávida e começou a engordar. Um dia, o homem escutou vozes saindo de dentro da árvore.
Com o seu machado de pedra, o homem rachou o tronco da árvore, deixando seus “filhos” saírem.
Destes descendentes havia aqueles que comiam carne humana, enquanto outros se recusavam. Os
que comiam foram expulsos, dando origem aos Wari’. Os que ficaram, e não tinham o costume da
antropofagia, formaram os subgrupos dos Oro Win.

Outro mito diz respeito ao menino maravilha, Oko’ Jimi, e a origem do fogo. Para os Oro
Win, quem detinha o fogo era o sapo. O bicho mostrava o fogo, mas sempre o engolia. Certa vez,
um menino oro win, muito esperto, aproveitou que o sapo dormia e roubou o fogo. Isso é contado
como um grande feito, motivo de risadas e orgulho. Este menino herói também foi responsável
pela origem dos peixes, o primeiro arco de flecha, a formação das serras, e a coleta do primeiro
ouriço de castanha.
PURUBORÁ

Nome e língua: O termo Puruborá é uma autodesignação, que o grupo traduz como
“aquele que se transforma em onça para curar” (fazendo referência aos antigos xamãs). De
acordo com alguns dos mais idosos, o nome “Puruborá” deriva de puru, “onça” na língua
Puruborá, e quer dizer “povo das onças” ou “povo que vira [se transforma em] onça”; a
análise linguística da língua Puruborá apresenta o etnônimo como uma composição de puru
“onça” + borá “coletivo”. Grafias alternativas (não mais em uso) incluem Borobura
(Snethlage), Puru-Borá, Puru-Bora, Borá e Buruborá.

Localização: A única aldeia Puruborá atual, a aldeia Aperoi, está localizada às margens da
rodovia BR-429, entre esta e o rio Manuel Correia. A aldeia dista cerca de 32 Km de
Seringueiras, sentido Costa Marques e seu território se espalha entre os municípios de
Seringueiras e de São Francisco do Guaporé, leste do estado de Rondônia.

Histórico do contato: As primeiras referências aos Puruborá datam do início do século XX.
Darcy Ribeiro os considerou ainda “isolados’ (isto é, sem contato) em 1900. Segundo os
anciãos Puruborá, o Marechal Cândido Rondon teria contatado o grupo em 1912, nas
proximidades do rio São Miguel. Outros idosos afirmam que Rondon já os teria encontrado
em 1909, nas imediações dos rios São Miguel e do seu afluente rio Manuel Correia.

Os Puruborá afirmam que são originários da região do rio Branco, onde viviam em
contato com os Makurap, Aruá e Tupari, mas, em função de desavenças, migraram, ainda
em tempos recuados, para o vale do rio São Miguel; Emil-Heirich Snethlage, viajando pelo
vale do rio Guaporé em 1934, confirma esta afirmação de que os Puruborá moravam
antigamente no rio Branco, mas se deslocaram posteriormente para o rio São Miguel.

Cosmologia e mitologia: Tudo o que resta de práticas rituais e conhecimentos xamânicos


dos Puruborá está na memória dos mais idosos, e os registros etnográficos e históricos
feitos nos últimos cem anos – depois do contato – são totalmente silenciosos a respeito.

Sabe-se que, no xamanismo Puruborá, os “pajés” – que é como denominam hoje o


especialista na arte de curar – empregavam pó de sementes de angico misturado com
fumo, e inalado com a ajuda de um parceiro que sopra uma taboca curta. O uso do pó de
angico coloca o xamanismo Puruborá ao lado das tradições xamânicas de outras sociedades
vizinhas no vale do Guaporé.
KAXARARI

Nome e língua: PURUBORÁ

Nome e língua: Kaxarari parece não ser a autodenominação do grupo. No entanto, não é fácil
indicar a sua origem. As primeiras referências a este nome datam do início do século XX. Em 1910,
João Alberto Masô, engenheiro da Comissão de Limites entre o Brasil/Bolívia/Peru que percorreu o
rio Ituxy e o seu afluente Curequeté, utilizou o nome Cacharary.

Kaxarari, como tantos outros nomes utilizados para designar os povos indígenas da
Amazônia Ocidental, é uma atribuição oriunda do contato interétnico. Os Kaxarari falam uma
língua da família Pano, semelhante ao idioma falado pelos Yaminawa, Kaxinawa, Yawanawa,
Nukini, Katukina e Poyanawa que vivem no Acre.Localização:

Localização: Os Kaxarari vivem hoje em quatro aldeias, Marmelinho, Barrinha, Paxiúba e Pedreira,
todas elas localizadas na Terra Indígena Kaxarari, na fronteira dos estados do Amazonas e
Rondônia. A área ocupada pelos Kaxarari é próxima aos municípios de Lábrea, Porto Velho e
Extrema, e o acesso por terra se dá pela BR-364 entre Rio Branco e Porto Velho.

Histórico do contato: Em fins da década de 1960, época que coincide com a construção da BR-364,
no trecho Porto Velho-Rio Branco que passa nas proximidades das aldeias kaxarari, e também com
a decadência dos antigos seringais da região onde vivem os índios. Nesta época, deslocaram-se das
cabeceiras do Curequeté e Ituxy para a margem esquerda do rio Azul. Esse rio era considerado, até
a construção da rodovia, como o fundo de suas terras, depois disso passou a ser a entrada da área
indígena. A partir daí passaram a receber a influência e a dominação dos pequenos “marreteiros
da estrada”.

Organização social: Os Kaxarari dividiam-se em clãs (classificação segundo uma regra de


descendência baseada em uma só linha). No caso dos Kaxarari esta linha de descendência era
patrilinear, ou seja, cada homem ou mulher pertencia sempre ao clã de seu próprio pai. Como em
toda sociedade assim dividida, os clãs kaxarari eram exogâmicos (não se podia casar com pessoas
do mesmo clã).

Cosmologia e mitologia: Não existem mais pajés entre os Kaxarari. Também faziam muitas
comemorações e cantorias de roda. Era comum em suas festas fazerem vestimentas de palha do
olho do buriti, enfeites de penas, couros de onça, máscaras e pinturas. Tinha a festa do buiarri,
que era a festa das frutas, quando todos iam para a mata apanhar ingá, naja, frutas de
maçaranduba. Uma de suas brincadeiras era o bili, um jogo de bola de caucho, jogado com o
joelho, parecido com o futebol dos cariú [não-índio].

O kupá era uma prática xamânica que provocava estados alterados de consciência, que
“dava porre, suava muito, fazia sonhar e curava”. Era uma espécie de lavagem feita por um tipo de
planta.

A bebida kupá, no princípio era restrita aos homens e ingerida somente pelos mais velhos.
Mulheres e crianças não participavam do ritual de abertura dos trabalhos.

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