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Os 10 Mandamentos

Para a Redação de
um Bom Parágrafo
Ao escrever, você emite opiniões, registra impressões, narra fatos:
você se comunica. Para que essa comunicação seja clara, sugestiva,
agradável, o que você escreve - especialmente o parágrafo - deve
apresentar determinadas qualidades.

Com o mínimo de teoria e o máximo de prática, vamos sintetizar tudo


o que você já aprendeu sobre o parágrafo.

1. Evite a generalização, definindo bem o assunto. Leia:


O fato mais destacado que se impõe a quem estude o Brasil - é
o da esplêndida unidade do país. Unidade física afirmada na
admirável continuidade do território. Unidade moral,
demonstrada pela religião, pela língua, pelos costumes pelas
relações materiais; objetivada no conjunto de elementos
constitutivos da economia, da produção, do trabalho, indústria
e comércio; e unidade intelectual expressa na identidade da
formação e da cultura. Unidade política manifestada na
comunidade de idéias, de sentimentos e de interesses de sua
população.
(Gilberto Amado.)

O assunto está bem definido, claramente delimitado: a unidade


do Brasil. O autor não se afasta dele por um momento sequer.
2. Formule, com uma idéia-chave clara, o objetivo do
parágrafo.
No exemplo anterior: ao mesmo tempo em que delimita o
assunto, o autor apresenta o objetivo do parágrafo nesta idéia-
chave.

O fato mais destacado que se impõe a quem estuda o Brasil - é


o da esplêndida unidade do país.

Atenção! Todo o texto deve ser bem elaborado, mas a idéia-


chave merece cuidados especiais. Uma idéia-chave escrita com
vigor, criatividade, bem expressiva, desperta a atenção do
leitor e o estimula à leitura.
3. Esquematize o desenvolvimento, desdobrando em
tópicos a idéia-chave, apenas ela.
No exemplo citado, de Gilberto Amado, a esquematização está
bem clara:

Unidade física
Unidade moral
Unidade intelectual
Unidade política

4. Trate, no desenvolvimento, exclusivamente dos tópicos


do esquema.

Isso está evidente no parágrafo de Gilberto Amado. Confronte o


parágrafo todo com a esquematização que fizemos no tópico
anterior:

Unidade física
afirmada na admirável do território.
Unidade moral
demonstrada pela religião, pela língua, pelos costumes, pelas
relações materiais.
Unidade intelectual
expressa na identidade da formação e da cultura.
Unidade política
manifestada na comunidade de idéias, de sentimentos e de
interesses da sua população.

Nem sempre essa relação desenvolvimento - esquema será tão bem


definida. Mas é necessário que, de alguma forma, ela exista, para
clareza do texto.

5. Observe, no desenvolvimento, uma ordem rigorosamente


lógica.
Se o parágrafo for ordenado em função do tempo, use a
seqüência cronológica adequada. Se em função do espaço,
caminhe do geral para o particular, da direita para
a esquerda. Na exposição de idéias, observe a ordem dos
valores.

Veja esta descrição que Euclides da Cunha faz de um vaqueiro:


O seu aspecto recorda, vagamente, à primeira vista, o de um
guerreiro antigo exausto de refrega. As vestes são uma armadura.
Envolto no gibão de couro curtido, de bode ou de vaqueta; apertado
no colete também de couro; calçando as perneiras, de couro curtido
ainda, muito justas, cosidas às pernas e subindo até às virilhas,
articuladas em joelheiras de seda e resguardados os pés e as mãos
pelas luvas e guarda-pés de pelo de veado - é como a forma
grosseira de um campeador medieval desgarrado em nosso tempo.
É como se, com uma câmera de cinema, o autor, primeiro a
distância, desse uma visão geral da personagem, a idéia de um
guerreiro antigo, por causa das vestes; e depois, já bem próximo,
começasse no gibão e fosse descendo, mostrando em close os
diversos componente da vestimenta: o colete, as perneiras, as luvas
e guarda-pés. No tópico final - é uma forma grosseira... - o retorno à
idéia geral expressa no início do parágrafo.

6. Use palavras e expressões de transição, sempre que isso


contribuir para a maior clareza da composição.

Veja, no parágrafo seguinte, como as palavras e expressões grifadas


tornam o parágrafo agradável e fluente.

Todos os escritores, dignos deste nome, se esforçam por ser


originais. A luta pela originalidade é, de há muito uma corrida
vertiginosa aos assuntos novos, aos conceitos novos, às imagens
novas. Nessa corrida, porém, quando os escritores julgam ter colhido
o pomo de ouro, o que eles atingiram não foi quase nunca, a
originalidade - ah, não! - mas a extravagância. Ainda hoje poucos
profissionais das letras se convenceram de que há uma maneira
extremamente fácil de ser original: é ser sincero.
(Júlio Dantas.)

7. Dê relevo à idéia principal.

a. Colocando-a no final do texto:


Por ela o meu sangue, toda a minha alma para
resguardá-la: é o meu amor, é o meu ídolo, é o meu ideal
- a Forma.
(Coelho Neto.)
b. Trazendo-a para o início:
Verdadeiramente, é do século XIX que podemos datar a
existência de uma literatura brasileira, tanto quanto pode
existir literatura sem língua própria.
(José Veríssimo.)
c. Reforçando a idéia principal:
Mas a coroa de espinhos, D. Raposo, essa não tornou a
servir para mais nada.

8. Equilibre a extensão dos períodos, evitando trechos


excessivamente longos ou exageradamente curtos.

Veja como um parágrafo só com períodos curtos é truncado, de difícil


leitura:

Era ainda um trabalhador incansável. Produzia nos jornais. Escrevia


livros. Estudava continuamente. Tinha ânsia inacabada de aprender.
Tinha ainda deveres de funcionário público. E zelosamente os
cumpria. Assim foi diretor da Repartição de Estatística do Diário
Oficial. Foi também diretor da Biblioteca Nacional. Este último lugar
perdeu-o num rasgo de independência. Floriano Peixoto tinha
morrido. Prudente de Morais fora levar, pessoalmente, até a última
morada, o Marechal de Ferro. Raul Pompéia foi o orador no cemitério.
Proferiu um discurso sensacional. Fez, às faces do chefe da Nação,
acusações tremendas à sua política e ao seu patriotismo. Foi
demitido. Não se incomodou. Nunca teve o gênero acomodatício. E
não tinha também esse jeito tão especial dos incensadores do poder.

Veja agora como o mesmo parágrafo, tratado de forma diferente, só


com períodos longos, fica bastante confuso.

Era, ainda, um trabalhador incansável que produzia nos jornais,


escrevia livros, estudava continuamente, numa ânsia incontida de
aprender, e tinha ainda deveres de funcionário público, que ele
zelosamente cumpria, pois foi diretor da Repartição de Estatística do
Diário Oficial e diretor da Biblioteca Nacional, lugar este que perdeu
num rasgo de independência. Floriano Peixoto tinha morrido e
Prudente de Morais fora levar pessoalmente até a última morada o
Marechal de Ferro, ocasião em que Raul Pompéia, como orador no
cemitério, proferiu um discurso sensacional, fazendo às faces do
chefe da Nação acusações tremendas à sua política e ao seu
patriotismo, sendo por isso demitido, sem que se incomodasse, pois
nunca teve o gênito acomodatício, nem esse jeito especial dos
incensadores do poder.

Reescrevemos o parágrafo original, apresentando essas duas


versões, onde foram acentuados os defeitos que se devem evitar.

Veja agora como foi realmente escrito por Heitor Muniz. Alternando
frases curtas com trechos mais extensos, o parágrafo é fluente,
agradável de ler:

Era, ainda, um trabalhador incansável. Produzindo nos jornais,


escrevendo livros, estudando continuamente, numa ânsia incontida
de aprender, tinha ainda deveres de funcionário público, que ele
zelosamente cumpria. Assim foi diretor da Repartição de Estatística
do Diário Oficial e da Biblioteca Nacional. Este último lugar perdeu-o
num rasgo de independência. Floriano Peixoto tinha morrido, e
Prudente de Morais fora levar, pessoalmente, até a última morada, o
Marechal de Ferro. Raul Pompéia, orador no cemitério, proferiu um
discurso sensacional, fazendo, às faces do chefe da Nação, acusações
tremendas à sua política e ao seu patriotismo. Foi demitido. Não se
incomodou. Não teve nunca gênero acomodatício, nem esse jeito tão
especial dos incensadores do poder.
9. Escreva com naturalidade, simplicidade e objetividade.

Evite palavras e expressões rebuscadas, bem como o palavreado


inútil, como neste caso:

O aviso dado pelo famoso escritor Mário de Andrade tem tudo para
parecer excessivamente irônico. É fácil concluir que Macunaíma não
poderia mesmo ter caráter, pois, como era ilimitado, não estava
sujeito às contingências, fossem quais fossem. E é justamente essa
ausência da qualidade moral conhecida como caráter que lhe dá, por
paradoxal que pareça, um grande caráter realmente sobre-humano,
onde podemos notar que se reflete, no tumulto da aparente
indisciplina, um rol imenso de energias elementares.

Compare com o texto original de Ronald de Carvalho -este simples,


enxuto, bem mais vigoroso:
O aviso de Mário de Andrade pode parecer irônico. Macunaíma não
poderia ter caráter, pois, sendo ilimitado, não está sujeito às
contingências. E é justamente essa ausência de caráter que lhe dá
um caráter sobre-humano, onde se refletem, no tumulto da aparente
indisciplina, as energias elementares.

10. Procure sempre dar uma conclusão ao parágrafo.


Lembre-se, também, de que a conclusão é o fecho do
parágrafo. Deve ser bem cuidado. Uma conclusão redigida com
vigor e elegância valoriza bastante o texto.

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