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Contudo, no devido a qualidade de seu estilo que a critica, a partir de Barthes, pretende ser, concomitantemente, leitura e escrita: deve-se isso ao fato de a obra de arte ter-se modificado, No momento em que ela se manifesta, perde seu caréter sagrado, a unidade de sua signi- ficago, e passa a ter necessidade de exegetas que nos transmitam sentido e forma: a interpretagdo faz parte do texto. © pensamento moderno esforgou-se para rejeitar, durante algum tempo, a idéia de Deus, a idéia de homem: para Barthes e alguns de seus amigos, nao existe mais o autor, mas textos — que pertencem muito mais critica do que ao escritor: Essa prodigiosa evolucao, que se inicia com a rica que Gustave Lanson iio livro a livro, em entediante cronologia ou int fagem, porém destacando as teorias e 0 método que foram e permanecem os mais importantes. £ o que ainda esta presente desse pasado critico que conservamos, de forma que os métodos resumidos, as obras analis mais adequada das obras. Fez-se necessério uma escolha dificil, Sofrida, subjetiva — no entanto, nem as ciéncias exatas elimtinam ¢ Coeficiente pessoal do observador. Auséncia desse tipo explica-se For uma presenca que a equilibra: a amostragem sugere a total dade, que fala por intermédio de alguns autores, Trata-se, porém, de qual critica? Albert Thibaudet, em sua notavel Physiologie de la critique (La Nouvelle Revue Critique, 1930; consultar, também, Réflexions sur a critique, Gallimard, 1939), ressal- tou lies delas: a critica falada, a critica profissional ¢ a critica des artistas. Com relagéio primeira, referia-se ele conversacio, & ferrespondéncia, aos didtios; juntava, dessa forma, Montaigne e Madame de Sévigné; ea tudo acrescentava o jornal: "Niog man nos gales que comentamos o livro do dia, mas, sim, nojornal, que é,em Sa mesmo exatamente, livro do dia, o livro de 24 ou de1) horas" A caitica profissional era, para ele, a critica dos profssores, “que nio alcangam éxito no jomalismo”, porque essa 6 ua profissio “que nem todos os eriticos sabem desempenhar” . Finalmente, a critica dos artistas, que abrange toda a histéria da literatura, Especialmente no século XX, em que aarteeo idioma Se tuloconsideram objetos e vivem tanto de sua consciéncia come de set inconsciente, talvez. nao havendo autor, de Proust » Butor, de Valéry a Bonnefoy, ce Malraux a D. H. Lawrence on Faulkner, que nao tenha, também, feito alguma critica. Contudo, esta tereein, sareboria exprime, antes de mais nada, as teorias préprias do GUOH Sua estética, sua arte postica, projetadas, a seguir, sobre os demais, Por outro lado, o artista que publica— no a cade semana, Aras esporadicamente —um artigo de critica, um ensaio revela fato muitissimo stil — algum de seus iguais desconheciles ou, entio, algum de seus discfpulos, como fez Malraux com relagio a Faulkner e D. H. Lawrence, na Franca. O proprio antec sn A condig nan afirma isto no prefacio escrito para Sangue negro, de Louis Guilloux: “Nao acredito na critica dos escriteres, King Tye om A oportunidade de falas, ano ser sobre alguns poucos livros; seo fazem, 6, portanto, conseqiiéncia de amor ou rancor, As Jace peata defender seus valores [... O eritico profissional enga. ja-se porque fala sobre varias obras e porque, por isto, esta restnng Fauna hierarquia.” Resumindo, o escritor fala a respeito de sus familia e como falaria sobre si mesmo: Baudelaire, Genet, Flaubert 10 sao os irmios de Sartre, e nao do cientista nem do jomalista que hes consagra uma tese ou um folhetim Enfim, a critica dos artistas € uma obra de arte, a reconstituigdo de um estilo por outro, a metamorfose de uma linguagem em outra, Assim, em seus me- Ihores momentos, os escritores fazem com que nos aproximemas de seus confrades de maneira sensivel e nao mais intelectual eo au acre com Julien Gracy no sx Ar Bro, em Preferences, em En lisant en éerivant; 6 o que se constata em Maurice Blanchot, também autor de narrativas posticas e que, apesar das aparéncias, no 6 um critico como os outros: conseguiu fazer jorrar de seus autores preferidos, Kafka e Mallarmé, uma luz negra que akc sobre o restante da literatura, superficie polida e refletora, cle também negro marmore, imagem insuficiente do negativismo pu- repisada 2 ee dlefinida por Blanchot em Lautrénmont et Sade (1963), tem sentido kantiano; ests “ligada a busca da poutine da experiéncia literaria; contudo, essa busca nao é tio-somente te6riea; € 0 sentido pelo qual a experiencia literdra se constitu, e nentando, contestando, por meio da criagio, a sua le”. A critica pertence a obra que ela prolonga: essa no “afirmacio atormentada”, wa “inguietie infinda”, um “confi {0", Acritica manifesta externamente aquilo que se passa no interior da obra, ou sea, segundo Blanchot, um espago vazio, mas vivo. Gera, em tomo da literatura, “um vazio de boa qualidade”, win “espaco de ressonancia” e permite, por um instante, & colada 2 indefinida realidade da obra” que fale: “E, portanto, pelo fato de el pretender, modesta eobstinadamente, nada se eisquese entrega— sem dela distinguir-se — a palavra criadora de que ela seria a atualizagao necesséria ou, falando de uma forma metaférica, a epi- fania.” Essa concepgfo da critica esté ligada a uma teoria da litera- tura como negativismo, como impossibilidade. O pensamento fasci- nante de Maurice Blanchot, “escrita do desastre”, bem mais préximo da filosfia ou da prepa literatura do que da este, situando-se entre Heidegger e Mallarmé, chega a0 ponto de esvaziar a literatura, eacritica também, de todo o seu contetido, Por isso, encontra-se na origem do pensamento contemporineo — embora, estranhamente, os defensores americanos da “desconstrugao" refiram-se a Derrida n

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