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Extrato de partes do capítulo 8 do livro abaixo
SOLOMON, Délcio. Como fazer uma monografia. São Paulo, Martins Fontes, 1996, págs. 151‐
159.
Tema e problema
O autor de um projeto não só realiza a distinção tema – tópico – problema, dentro da tradição
metodológica dos cientistas e pesquisadores, como a pratica no momento em que monta seu
projeto de pesquisa. Seu objetivo é, no mínimo, de duas ordens epistemológico – operacionais:
a) a especialização e especificidade exigidas por sua área de interesse teórico e científico;
b) a alocação de seu trabalho na documentação, enquanto esta, como “ciência” e “técnica”,
constitui, concretamente, um processo de sistematizar, organizar e classificar os trabalhos
científicos, em vista do progresso da ciência.
Didaticamente, e tendo em vista o iniciante em trabalho científico, procede a distinção: tema é
mais genérico que tópico, e este se converte em problema, quando atinge o máximo da
delimitação teórica e operacional, possível ao pesquisador. O problema implica: ser delimitação,
ser expressão de pensamento interrogativo (dúvida, curiosidade, necessidade, admiração...).
Assim o tema ou assunto “A adoção de criança”, abordável em diversos campos das ciências
humanas e sociais, mesmo o interdisciplinar, pode ser convertido no seguinte tópico (já
especificado numa área teórica de concentração interdisciplinar típica da psicologia e da
sociologia, talvez a psicologia social): “o perfil da mãe cedente no processo de adoção”, e
transformado em problema, ao se focalizarem as condições mais preponderantes no processo
de decisão que levam a mãe a ceder o filho à adoção. Ou como fez BARDAVIV (1980), citado por
LAKATOS e MARCONI:
‐ tema: o perfil da mãe que deixa o filho recém‐nascido para adoção;
‐ problema: quais condições exercem mais influência na decisão das mães em dar os filhos
recém‐nascidos para a adoção
Marco teórico de referência
Desde a formulação do problema venho falando insistentemente da apresentação do marco
teórico de referência. Quase sempre ele já existe em embrião na mente do pesquisador, quando
sua atenção se volta para determinado problema: suas raízes estão no corpo de conhecimento
(o formado pelo pesquisador e o disponível em face da possibilidade da consulta bibliográfica e
da documentação) que leva o pesquisador a encontra o problema e a hipótese, no momento em
que o contrasta com a realidade concreta.
Um ciclo de pesquisa. A importância da pesquisa científica s emede pelas mudanças que acarreta
em nosso corpo de conhecimentos e/ou pelos novos problemas que suscita.
Na prática, e tecnicamente, o marco teórico de referência reflete:
a) a opção do pesquisador dentro do universo ideológico e teórico em que se situam as diversas
escolas, teorias e abordagens de seu campo de especialização;
b) a síntese a que chegou, após as análises e críticas a que submeteu os textos lidos e
consultados;
c) o conjunto de conceito, categorias e constructos abstratos que constituem o arcabouço
teórico, onde se situam suas preocupações científicas, particularmente os problemas cognitivos
que o preocupam (tanto os já explicitados como os em gestação);
d) a relevância contemporânea ou o caráter de atualização científica exigidos de toda pesquisa;
e) o balizamento teórico em que se dará a delimitação do problema – sua formulação e a
operacionalização de conceitos e definições;
f) a base e o referencial da metodologia da pesquisa (não esquecer que teoria e método estão
intimamente relacionados).
Diante do significação e importância da apresentação do marco teórico de referência, cabe ao
pesquisador em seu projeto reservar‐lhe um lugar de destaque, embora nessa etapa apenas se
exija um esboço ou as linhas gerais de sua montagem. Isso não impede que os elementos desse
quadro teórico sejam suficientes e necessários para se poder avaliar o projeto quanto a sua
relevância na produção de conhecimento científico.
Importa, através do marco teórico de referência, indicar a orientação e as diretrizes da pesquisa
a ser empreendida. E a explicitação de tal orientação e tais diretrizes há de ser feita não só em
função do trabalho de pesquisa – enquanto atividade planejada – como também em função do
patrocinador da pesquisa, do leitor, dos futuros interessados nos resultados da pesquisa. Não
se pode descuidar de que geralmente um projeto de pesquisa implica a existência de uma
equipe de pesquisadores: a orientação e as diretrizes explicitadas passam a ser “a primeira
condição para o entendimento objetivo entre os pesquisadores que colaboram na investigação”,
conforme objetivo entre os pesquisadores que colaboram na investigação”, conforme apontou
HIRANO, citando FLORESTAN FERNANDES e ROGER BASTIDE.
Bibliografia básica
Expressão concreta do marco teórico de referência são as fontes e bibliografia de que nasceu e
em que se alimenta. Segundo HIRANO, “a orientação seguida pelo investigador na formulação
do tema, as noções, os conceitos‐chave e os problemas envolvidos quanto à adequação destes
em relação ao objeto de conhecimento [...], isto conduz o sujeito de conhecimento ao
tombamento da literatura pertinente ao tema proposto, requerendo do observador uma análise
crítica e teórica quanto à limitação e ao alcance das questões, das noções e dos conceitos
formulados, ressaltando, assim, a especificidade e generalidade em que deverá processar sua
investigação”
Obviamente que a referência bibliográfica de um projeto há de ser apenas a essencial. A própria
pesquisa encarregar‐se‐á do levantamento mais completo e atualizado. Este mínimo de
indicação de autores e textos em que se fundamenta o trabalho do pesquisador é necessário,
ao menos, para explicitar a orientação teórica do projeto.
Justificação
Um elemento que não pode deixar de aparecer na redação de um projeto de pesquisa.
Frequentemente justificação e objetivos formam uma só fase do projeto, tal a afinidades de sua
relação. Mas e possível quase sempre distingui‐los, reservando, para objetivos, os fins teóricos
e práticos que se propõe alcançar com a pesquisa, e, para justificação, as razões, sobretudo
teóricas, que legitimam o projeto como trabalho científico. Em justificação, entra a defesa do
projeto, cujo referencial há de ser a relevância do problema: a teórica; a humana; a operacional;
a contemporânea.
Completa a justificação a exposição de interesses envolvidos (os teóricos, os pessoais, os da
equipe de pesquisadores), como os relacionados com “iniciação científicas”,
“aperfeiçoamento”, “especialização”, “titulação acadêmica”, “descoberta científica” etc.
Metodologia
Não basta mostra a cientificidade e a aplicabilidade do projeto (o que se consegue na formulação
do problema, na apresentação do marco teórico de referência e na justificação). Se o projeto é
de pesquisa, importa explicitar detalhadamente a metodologia que funciona como suporte e
diretriz da pesquisa.
Primeiro, a indicação do método que caracteriza a pesquisa (por exemplo: [...] observação,
observação participante, pesquisa‐ação, estudo de caso, survey, estudo historiográfico etc).
Em seguida, dentro do método de pesquisa adotado, explicitar‐se‐ão as fases e táticas,
estratégias, técnicas operacionais etc., referentes à:
Amostragem
Coleta de dados
Análise de dados
Teste de hipótese
[...]
É comum desdobrar a metodologia em itens específicos como:
a) método de amostragem adotado (sua descrição e a justificação de sua escolha)
b) população e amostra a serem pesquisadas (não esquecer da necessidade de caracterizar o
universo, donde se extrairá a amostra, pois dessa caracterização decidir‐se‐à pelo volume da
amostra e definir‐se‐à sua representatividade, significância e índice de confiabilidade);
c) coleta de dados, ou seja, exposição dos instrumentos de coleta de dados como: questionários,
entrevistas, escalas de mensuração, testes, técnicas estatísticas de coleta e agrupamento de
dados, elaboração de tabelas, descrição gráfica e codificação (sobretudo quando se almeja
analisar os dados pelo computador);
d) análise de dados que, em geral, na pesquisa em ciências humanas e sociais, se apresenta sob
duas modalidades:
d.1 – análise estatística (apresentar‐se‐ão as estatísticas descritivas, analíticas‐paraméticas e
não‐paramétricas – a serem usadas, tanto na mensuração das variáveis e suas relações como no
teste de hipótese);
d.2‐ análise qualitativa (que tipo de análise usará: análise de texto, análise do discurso, análise
de conteúdo, método fenomenológico de leitura de entrevista e estudo de casos etc).
Cronograma
Um projeto que não se reduz a mero “projeto de intenções”, uma vez que tem de ser
tecnicamente redigido, não pode deixar de conter cronograma e orçamento.
A forma mais racional de se fazer um cronograma é assumir o modelo cartesiano de
cruzamento e de coordenadas ou o da tabela cruzada, em que as colunas mostram os período
e momento do tempo reservado a cada fase da pesquisa, e as fileiras delineiam as fases e
tarefas a cumprir.
Não se esquecer de incluir, ao final, as referências em algum formato de padronização como
ABNT ou APA.