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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS


MESTRADO / DOUTRORADO EM ECONOMIA

Seminário 5 – Economia do Conhecimento e do aprendizado

É mais fácil mimeografar o passado,


Que imprimir o futuro.
Zeca Baleiro, Minha Casa, 2000

1. Economia da Informação, do Conhecimento e do Aprendizado (LASTRES e ALBAGLI, 1999, cap. 1).


→ estrutura das evoluções e revoluções científicas de Thomas Khun.
→ comportamento estratégico (resistência) de atores estabelecidos de modo à utilização de organizações com o escopo
de frear as mudanças decorrentes das inovações tecnológicas. Insegurança social decorrente das inovações e, ao final, a
necessidade de que se criem heurísticas diferentes para solução dos problemas.
P.S.: breve incursão acerca das definições de instituições para os fins iniciais desta exposição (North, 1990, p. 4-5). Pacto
semântico (instituições-hábitos, instituições-regras e organizações).
→ em um ambiente de constante modificação, as teorias tradicionais, que normalmente se apresentam como fotografias
do passado, falecem de explicações atuais, para um cenário já alterado pelas inovações tecnológicas e das instituições-
hábitos e das instituições-regras que se formam em torno delas.
→ por isso, uma teoria capaz de agir como um filme, com um potencial explicativo que vá além da mera reprodução do
antigo mas procure explicar como se dá a formação do novo, seria imprescindível.
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→ essa teoria, segundo LASTRES e ALBAGLI, basear-se-ia nos seguintes pressupostos:


a) Inteligência e competência humana sempre estiveram no cerne do desenvolvimento econômico em qualquer
sociedade. São elas os motores de todos os modos de produção; e
b) Produção e distribuição de conhecimento possuem especificidades não-compatíveis com os enfoques e mode-
los que predominam na teoria econômica tradicional (mainstream), de base neoclássica.
P.S.: uma primeira crítica plausível aos dois primeiros pressupostos é de que os autores não definem – apesar de tan-
genciarem – o que entendem por inteligência, competência humana ou conhecimento, nos limites da teoria que desejam
ver formada. Ademais, quanto ao primeiro postulado, parece evidente tratar-se não de um pressuposto de per se, mas
de um enunciado axiomático.
→ à luz destes pressupostos, LASTRES e ALBAGLI tecem dois argumentos principais:
a) As bases tradicionais da teoria econômica (mainstream) são incapazes, diante de sua pequena contribuição so-
bre a economia da informação e da inovação, de fazer aportes de alto potencial explicativo das transformações
vividas nas duas últimas décadas do século XX; e
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b) Como consequência do primeiro argumento, que foram os não ortodoxos economistas da informação e do co-
nhecimento (Dosi, Lundvall, Simon, Richardson, et al), que trazem as teorias com maior capacidade de espelha-
mento da realidade atual1.
1.1. Primeiro argumento. A teoria não ortodoxa sobre a informação e o conhecimento na economia.
→ segundo LASTRES e ALBAGLI, como visto, são os economistas não ortodoxos da “economia da inovação”, cotidianamente
associados à escola neo-schumpeteriana quem possuem os aportes mais interessantes da respeito dessa relação (infor-
mação e conhecimento nos modos de produção).
→ vejamos alguns dos conceitos elementares que esses autores levantaram:
a) A economia tradicional sempre considerou a tecnologia como produto do ambiente econômico, podendo, tal
qual todos os demais, ser transferida, adquirida, etc. Ademais, seriam sinônimas as expressões informação e
conhecimento.
b) A teoria neo-schumpeteriana toma estas expressões como diferentes. E ainda, diferencia conhecimentos codi-
ficáveis (esses sim, produtos) e os conhecimentos tácitos (processos de aprendizado dependentes de contextos

1
Porém, fazendo jus também à contribuição da economia tradicional, STIGLITZ, já nos idos de 1995, trabalhava com modelos com pressu-
postos bastante similares àqueles empregados pelos ditos economistas da informação, trazendo, por exemplo, circunstâncias em que os
indivíduos possuem capacidades limitadas de obtenção e de processamento de informação, enquanto a comunicação da informação entre
os indivíduos é custosa e imperfeita, em um ambiente de perene transformação em que é vantajosa a tomada de decisões rápidas (cf.
Information and Economic Analysis: a perspective. The Economic Journal. Vol. 95, 1995).
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sociais e de formas de interações sociais bastante singulares. Não intercambiáveis. Aproxima-se das instituições-
hábitos).
c) A realização de esforços ingentes para a difusão e produção de novos conhecimentos é relevante para o desen-
volvimento das nações. Isso ocorre através de uma relação de diferentes “fontes de inovação”, que seriam de
cunho tanto tecnológico (novas formas de produzir e comercializar bens e serviços) e organizacionais (novos
meios de organizar as firmas a produção e a comercialização de bens e serviços, aproximando-se das organiza-
ções no sentido acima exposto).
d) Dessa relação surgiu o conceito de Paradigma Tecno-Econômico – PTE, significando o resultado da dinâmica
entre diferentes inovações (tecnológicas e organizacionais) possíveis que, ao entrarem em contato com o mer-
cado, exercem importante influência, de modo pervasivo, na totalidade dos modos de produção e ainda nas
organizações, o que, ao longo do tempo, também formatarão impactos profundos nas instituições-hábitos e nas
instituições-regras.
P.S.: do momento inicial (t0), em que existia um set dado de instituições-hábito, instituições-regras e de organizações a
um dado modo de produção (P0), sobrevém, das restrições existentes daquele set, um novo paradigma tecnológico, uma
tecnológica disruptora capaz não só de afetar o funcionamento de um ambiente de negócios mas de todo o mercado. As
organizações postas iniciam seu processo de resistência-adaptação. Pressupondo-se que o set existente em t0 não con-
siga resistir, o modo de produção se adapta, transformando-se em P1 com a consequente adaptação das organizações
presentes. Ao longo do tempo (P1+n), não só as organizações se alteram, mas as próprias instituições-regras daquele
mercado, dispensando-se, para seu enforcement, o emprego da coação organizacional (as novas “regras do jogo” se
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impregnam no ambiente mercadológico). Com a alteração da própria cultura daquela sociedade também suas institui-
ções-hábito, i.e., suas heurísticas necessárias à solução instantânea de problemas, também se adapta, formando nesse
momento (t1+n) um novo set, onde t0 ≠ t1+n (não necessariamente maior ou menor, segundo os pressupostos, de melhor
fundamento explanatório, do neoinstitucionalismo), que por sua vez permitirá, em maior ou menor medida uma dinâ-
mica entre as inovações tecnológicas e organizacionais futuras, bem como uma relação diferente de resistência-adapta-
ção ao que sobrevier.
1.2. O atual PTE: as tecnologias de informação.
→ o PTE deste momento, segundo LASTRES e ALBAGLI, é aquele em que determinadas tecnologias (computação eletrônica,
telecomunicações, etc.) reduziram os custos de armazenamento, processamento e difusão de informações, de acordo
com o que já afirmaram FREEMAN e SOETE2.
→ este PTE endereça a alguns problemas até então persistentes da sociedade industrial: diminuição de tempos mortos,
controle e gerenciamento de informações e aumento da variedade de insumos e produtos.

2
Neste trabalho, inclusive, FREEMAN e SOETE sustentam que “[...] technologies associated with ICT have a vast range of current and potential
applications, they do not yet match the skill profile, management organization, industrial structure or institution al framework we have
inherited from an earlier age of Fordist mass production. In what they see as a crisis of structural unemployment resulting from this mis-
match [...]” (Work for all or mass unemployment?: computerized technical change into the 21st century. London: Pinter, 1994. p. 125),
demonstrando que a adaptação do set social no momento da chegada da inovação não ocorre sem um hiato temporal, gerando talvez,
durante esse período, não um aumento no bem-estar social, mas quiçá sua redução, objeto de estudos não ainda amplamente explorado
sequer pelos economistas da inovação.
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→ ele visa encontrar uma resposta ao esgotamento do paradigma anterior de acumulação baseado na produção em
larga escala, utilização intensiva de matéria e energia e capacidade finita de gerar variedade.
→ diante disso, as fontes de inovação tecnológica e organizacionais, em meados de 1980, procuraram diferentes formas
de interação capazes de, em sua dinâmica, oferecerem: um ambiente de acirramento da competitividade (desconcen-
tração), uma estrutura sistemática de inovação, pesquisa e desenvolvimento (“economia de inovação perpétua” de Mor-
ris-Suziki) e um ambiente organizacional capaz de unir agentes econômicos, técnico-científicos, políticos e reguladores.
→ o PTE das tecnologias de informação, dentre as mais variadas dinâmicas possíveis, foi a vencedora.
→ como vantagens competitivas desse modelo, LASTRES e ALBAGLI destacam dois: i) a informação e o conhecimento são
os recursos básicos do modelo econômico; e ii) tais recursos são inesgotáveis.
P.S.: se verifica, apesar dos autores não adentrarem a fundo nessa questão, que o PTE das tecnologias de informação
possui por fundamento básico um recurso que se comporta bastante como bem público, possuindo características de
não exclusividade e de não rivalidade. Isso gera problemas sérios a serem resolvidos – inicialmente na seara organizaci-
onal, talvez no futuro, pelas instituições-regras, ainda mais futuramente, talvez sequer suscitado em razão das novas
instituições-hábito formadas (i.e., a forma de solucionar problemas já se alterou, não gerando a questão hoje premente)
– uma vez que não pode não haver, por si só, incentivos necessários à produção do conhecimento sem que se assegure
e a seu produtor o monopólio de sua exploração (trademark), gerando os problemas de condutas oportunistas e os
“caronas”. Por outro lado, a adoção de tais instrumentos pode ser de difícil configuração e mais, acaso efetivamente
realizadas, o que ocorreria seria exatamente a retirada de um dos pontos de apoio do PTE, que é a infinitude de seu
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recurso (a informação) e seu amplo acesso. Ou seja, o PTE se põe em flagrante choque com as instituições-hábito, insti-
tuições-regras e organizações vigentes do PTE anterior, o fordista. Buscando enfrentar especificamente este problema,
vide o working paper intitulado “Institutions as the Fundamental Cause of Long-Run Growth” de DARON ACEMOGLU, SIMON
JOHNSON e JAMES ROBINSON (disponível em:< https://www.nber.org/papers/w10481>).
1.3. A Economia da Informação e da Inovação.
→ a chamada economia informacional toma como essencial o papel crescente do conhecimento e da informação e é
apontado como fator impulsionador do desenvolvimento ainda mais relevante de que em momentos anteriores.
→ ROBERT SOLOW, em pesquisa respaldada por estudos econométricos sobre a função de produção agregada e sobre as
fontes da produtividade econômica demonstrou que as economias avançadas cresciam em produtividade não tanto em
função do aumento quantitativo de capital e trabalho, como ocorria nas primeiras fases da industrialização, podendo o
desenvolvimento da produtividade dos fatores ser resultado de uma combinação mais eficiente dos fatores no processo
de produção3.
→ de fato, como afirmam LASTRES e ALBAGLI, a grande diferenciação da nova economia informacional é o fato de que não
só substituímos a força física por máquinas, mas em especial a capacidade de processar símbolos.

3
Technical Change and the Aggregate Production Function. The Review of Economics and Statistics. Vol. 39, No. 3 (Aug., 1957), pp. 312-
320.
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→ essa economia informacional elabora modelos fundamentais em que não só os fatores de produção clássico (capital,
trabalho e recursos naturais) esteja no centro da análise, mas em especial forma seu raciocínio sob os seguintes moldes:
a) Pode negligenciar os custos de armazenamento do recurso principal (conhecimento e informação);
b) Diminui a relevância das demandas por insumos materiais e energéticos; e
c) Reduz a relevância do passivo ambiental pelo descarte de resíduos do processo de produção.
d) A desvalorização dos bens é muito mais informacional do que física em si.
→ todavia, segundo LASTRES e ALBAGLI, o processo de difusão informacional, produto inerente à economia da informação,
não teve por resultado a globalização de informações conhecimentos e atividades consideradas estratégicas para países
e empresas, mas sim à concentração dos polos de tomadas de decisão em alguns países e locais centralizados (EUA,
países da Europa ocidental e Japão).
→ nesse sentido, ainda em que em sentido oligopolístico, as empresas e países se preparam para a competição à luz de
uma crescente mobilidade de fatores, fazendo com que, v.g., no caso das empresas, elas se organizem em contornos
flutuantes, chamadas por LASTRES e ALBAGLI de “redes de inovação”, ao teor de FREEMAN.
→ Por isso, tais redes seriam a mais importante inovação organizacional associada à difusão do atual PTE, uma vez que
a competitividade das empresas seria diretamente proporcional à abrangência das redes em que estão inseridas, bem
como na intensidade do uso que fazem delas (é a “sociedade de rede” de CASTELLS).
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→ Por outro lado, os Estados “competitivos“ são aqueles capazes de moldar a forma (organizações) como as empresas
interagem com a sociedade nacional, promovendo e aprimorando o padrão de vida de seus cidadãos. Isso se daria atra-
vés da criação de formas de definir, regular, tributar e orientar a produção, quando necessário, do conhecimento e da
informação.
1.4. Tópicos de conclusão.
→ alguns pontos de relevo de tudo quanto o dito podem ser agregados nos seguintes elementos:
a) as transformações econômicas da economia de informação operam-se tanto no plano tecnológico quanto no
plano das organizações e instituições (em ambos os sentidos), que ora as elevam, ora as restringem;
b) são grandes as dificuldades, em alguns momentos, de adaptação do sistema econômico e, em especial, das
organizações que dependiam sensivelmente do PTE anterior e possuíam nele muitos custos afundados (sunk
costs); e
c) por isso, os principais temas referentes à economia de informação não podem ser analisados apenas pela eco-
nomia tradicional.
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2. Why the New Economy is a Learning Economy (LUNDVALL, 2001).


→ esse artigo mostra que o foco intenso na nova economia refletia mudanças reais, bem como "hype".
→ a razão básica pela qual o novo crescimento da economia não pode ser visto como sustentável é que a introdução
de tecnologias avançadas só pode ocorrer com sucesso quando acompanhada de mudança organizacional e criação de
competências entre os funcionários.
→ a chave para o desempenho econômico é promover a aprendizagem em diferentes níveis da economia.
→ a "nova economia" se estabeleceu no centro do discurso da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Eco-
nômico (OCDE)4 a partir de 1994 após uma reunião em Washington com Alan Greenspan.
→ é útil repensar o conceito "a nova economia" nos esquemas analíticos de Chris Freeman e Carlota Perez como uma
mudança no paradigma tecno-econômico (PEREZ, 1983; FREEMAN e PEREZ, 1984).
 Visto sob essa ótica, o desafio real é muito mais amplo e mais difícil do que o sinalizado pela nova economia.
→ a mensagem importante é que hoje há um enorme potencial de crescimento inexplorado que poderia ser mobili-
zado para resolver problemas sociais e econômicos se nossas sociedades em reformas institucionais e mudanças orga-
nizacionais que promovem processos de aprendizagem.

4
“A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) dedica-se à promoção de padrões internacionais em questões econômicas, financeiras, comerciais, sociais
e ambientais. Suas reuniões e grupos de trabalhos promovem debates nos quais se produz grande troca de experiências e possibilidades para a coordenação de políticas em áreas
diversas da atuação governamental”. Fonte: https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/ocde.
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2.1 Definindo a nova economia.


→ enquanto Freeman e Perez enfatizam as dificuldades de passar de um paradigma tecno-econômico para outro, o
novo discurso da economia, como pressionado por Alan Greenspan e outros, enfatiza os efeitos de aumento de produ-
tividade das TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação).
→ acredita-se que a aceleração do crescimento da produtividade esteja por trás de um novo tipo de desenvolvimento
macroeconômico, em que o crescimento de longo prazo não é perturbado pela inflação e não é interrompido por re-
cessões.
→ há também o outro lado do discurso da nova economia referindo-se a uma nova família de empresas, cujas caracte-
rísticas são supostas para sinalizar o futuro.
→ elementos sinalizadores do futuro:
1. Ausência de sindicatos;
2. Foco em opções de ações em vez de aumentos salariais;
3. e-commerce combinado com a juventude dos empresários.
2.2 TIC e crescimento da produtividade.
→ uma fraqueza do discurso macro é que nunca ficou claro como é possível saltar do pressuposto de maior cresci-
mento de produtividade no nível micro para a hipótese de crescimento estável eterno.
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→ além disso, tem havido pouca discussão sobre as consequências do fato de o aumento da produtividade ter sido dis-
tribuído de maneira muito desigual na economia.
→ no seminário da OCDE de 1990, reuniu os principais especialistas em tecnologia e crescimento para debater as cau-
sas da desaceleração da produtividade e traçou um paralelo com o impacto lento e desigual da produtividade da difu-
são de eletricidade no sistema industrial (David, 1991).
→ próximo ao período do seminário da OCDE de 1990, houve a síntese dos resultados do chamado projeto PIKE. Com
ele, descobrimos que as empresas que introduziram as TICs sem combiná-las com investimentos na formação de funci-
onários, com mudanças na gestão e com mudanças na organização do trabalho tiveram um efeito negativo no cresci-
mento da produtividade que durou vários anos (GJERDING et al, 1992).
→ a perspectiva alternativa indicada pela análise de Paul David e pelos estudos dinamarqueses aponta para uma dire-
ção muito diferente da hipótese da nova economia. Paradoxalmente, pode-se argumentar que, enquanto a economia
permanecer nova, será muito mais difícil obter um crescimento da produtividade do que em uma economia antiga.
→ nos últimos anos, as altas taxas de produtividade foram registradas predominantemente nos setores produtores de
TIC. Para esses setores, a TIC não representa um paradigma novo, mas um paradigma antigo e bem estabelecido.
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→ essa é uma razão pela qual é adequado chamar a era atual de "uma economia de aprendizagem"5. O que está em
jogo é a capacidade de pessoas, organizações, redes e regiões aprenderem a lidar e a usar todo o potencial das novas
tecnologias, transformando-as de novas em antigas.
2.3 A economia de aprendizagem.
→ do ponto de vista da concorrência e gestão empresarial, BESSANT et al (1999) propõem que o aprendizado seja en-
tendido como um processo que envolve uma combinação de experiência, reflexão, formação de conceitos e experi-
mentação. Três componentes principais estão envolvidos em tal processo:
 A acumulação e desenvolvimento de “competências centrais”, que diferencia as firmas entre si, oferecendo ou
não o potencial de vantagem competitiva para cada uma.
 A dimensão temporal: o aprendizado — como processo contínuo e cumulativo — envolve um processo de longo
prazo ao longo de toda uma organização.
 A idiossincrasia: os processos de aprendizado são próprios das organizações e seus ambientes e dificilmente
replicáveis por outras.
→ a maior parte da literatura focaliza o aprendizado individual mas tem havido uma forte ênfase:

5
(Lundvall e Johnson, 1994; Archibugi e Lundvall, 2001)
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(a) No conceito de “organizações aprendizado” (learning organizations);


(b) À ideia de que se os indivíduos são atores, as organizações provêm o contexto onde esse aprendizado ocorre.
→ BESSANT et al (1999) apontam como características principais do aprendizado:
 O aprendizado não é automático (é necessário investimento explícito para aprender);
 O aprendizado pode envolver o domínio e a mudança desde tarefas corriqueiras como processos mais intensivos
em conhecimento e transformações radicais (quanto mais radical a mudança, maior a necessidade do investimento
em aprendizado).
 Aprender a aprender é fundamental e envolve tanto componentes formais como aqueles tácitos (e portanto seu
caráter interativo e dependente do contexto). Esse tipo de competência é fundamental quando se consideram os
riscos associados à hiperinformação, ou alto volume de informação em circulação.
2.4 Além do hype?
→ o título do relatório da OCDE de 2001 é "A nova economia: além do hype".
→ o “hype" desempenhou um papel importante na formação da dinâmica real da nova economia, especialmente nos
EUA e vai desempenhar um papel na determinação de quão difícil será estabelecer uma nova recuperação depois que
a bolha estourar.
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→ toda uma indústria de mídia foi construída em torno da promoção da participação popular e aqueles que trabalham
nesta indústria têm um forte interesse em promover o “hype” ao extremo.
 Revistas de negócios produziram enormes quantidades de histórias de sucesso, criando uma onda sensaciona-
lista, fazendo com que pessoas comuns se interessam em comprar ações.
 O aumento espetacular de ações de alta tecnologia nos EUA e na Europa.
 O aumento contribuiu para a ilusão de riqueza crescente entre as famílias e criou a base para o crescimento do
consumo privado e uma redução da poupança nos EUA.
 O “hype” é um dos fatores que explicam o relativo sucesso do crescimento de longo prazo nos EUA pois, sem
as taxas provenientes do “hype”, o crescimento teria sido mais modesto.
2.5 Keynesianismo para pessoas ricas?
→ quando as bolhas especulativas estouram na Ásia ou na América Latina, há um acordo rápido nas instituições finan-
ceiras internacionais, como o FMI, de que a raiz do problema são fragilidades estruturais e institucionais fundamentais
que precisam ser corrigidas antes que qualquer política de estímulo macroeconômico possa ser efetivada.
→ porém, a explosão da bolha nos EUA gerou fortes demandas por políticas monetárias expansionistas e até mesmo
por políticas financeiras expansionistas.
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→ o interesse na política monetária expansionista, ao contrário de Keynes que estava preocupado com os trabalhado-
res perdendo seus empregos e acabando com a miséria, consistia com a preocupação com os capitalistas especulati-
vos perdendo parte de seu capital.
 Quando a bolha começou a estourar, havia uma fila de especialistas em finanças, normalmente bastante crítica
para a intervenção ativa do governo, que pedia reduções nas taxas de juros.
 Nas páginas financeiras, os aumentos nas taxas de desemprego foram realmente bem-vindos, uma vez que sinali-
zaram que era possível avançar com políticas monetárias e financeiras expansionistas que poderiam, no final, au-
mentar os lucros sem causar inflação.
2.6 O paradoxo de Solow e o próximo passo da Europa.
→ PAUL DAVID fez uma das contribuições mais importantes para explicar o Paradoxo de Solow
 "Vemos computadores em toda parte, menos nas estatísticas de produtividade".
→ o fato de o discurso da "nova economia" ter sido tão fortemente infiltrado por uma postura ideológica pró-mercado
e antigovernamental pode ser uma razão pela qual o paradoxo de Solow será válido também para as novas tecnologias
de comunicação e mídia, para a internet e serviços.
→ uma abordagem mais pragmática teria reconhecido que as iniciativas e regulamentações coletivas são necessárias
para garantir que haja uma certa qualidade no conteúdo do que é distribuído pelas novas mídias. O sucesso histórico
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da rádio e da televisão poderia ter sido menos impressionante se o conteúdo do serviço tivesse sido deixado completa-
mente à concorrência no mercado privado.
→ o grau de concorrência nas telecomunicações, o amplo acesso a capital de risco e a cultura empreendedora têm sido
vistos como inveja dos países europeus, mas um esforço analítico mais sóbrio deve ser feito para ver qual é o impacto
real a longo prazo do crescimento econômico. A maioria das prescrições de políticas tem efeitos colaterais negativos.
→ mais importante do que estimular um grande número de novas empresas que tendem a desaparecer e trazer con-
sigo uma má distribuição temporária de recursos é a transformação das organizações existentes.
2.7 Desenvolvimento de emprego em empresas estáticas e dinâmicas
→ o emprego agregado em dois tipos de firmas6:
 Empresas dinâmicas são caracterizadas pelo fato de combinar características organizacionais mais avançadas com
inovações relacionadas ao mercado. Implementaram extensas mudanças técnicas e organizacionais;
 Empresas estáticas são caracterizadas pela forma tradicional de organização e baixa atividade em termos de ino-
vação relacionada ao mercado.

6
As empresas foram caracterizadas com base em dados de 1993-95.
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→ a mudança radical na tecnologia e na organização tem um impacto positivo no desempenho somente após um perí-
odo de aprendizado organizacional. Os dados mostram que as empresas dinâmicas tiveram muito mais sucesso na cria-
ção de empregos do que as empresas estáticas na Dinamarca nos anos 90.
→ uma questão importante é até que ponto o movimento em direção às organizações de aprendizagem tende a contri-
buir para a polarização no mercado de trabalho entre trabalhadores qualificados e não qualificados.
 Formas organizacionais mais desenvolvidas não tornam, por si só, os trabalhadores não qualificados mais vulne-
ráveis. São, no entanto, vulneráveis a uma concorrência fortemente aumentada nos seus mercados de produtos.
 Trabalhadores não qualificados que trabalham em empresas e indústrias fortemente expostos à concorrência,
onde as oportunidades ou a capacidade de se envolver em mudanças são limitadas, são os que mais correm risco
de perder seus empregos.
→ políticas destinadas a promover a concorrência precisam, portanto, ser combinadas com políticas que aumentem a
capacidade de inovar e introduzir mudanças organizacionais.
2.8 Os dados Disko e a distinção entre empresas estáticas e dinâmicas.
→ os dados a serem apresentados aqui emana de um grande projeto sobre o sistema de inovação dinamarquês -
DISKO.
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 As empresas que introduzem novos produtos e novas formas de organização caracterizadas pela flexibilidade fun-
cional (organizações dinâmicas) criam mais empregos do que as empresas médias.
 As organizações dinâmicas criam empregos mais estáveis.
 Ambos os resultados se aplicam também aos trabalhadores não qualificados.
 Existem perdas de emprego para trabalhadores não qualificados, tanto em organizações estáticas como em orga-
nizações dinâmicas. Contudo, as perdas de emprego são maiores para esta categoria de trabalhadores quando as
organizações são expostas à competição intensificada de produtos que não se envolvem em inovação técnica e
mudança organizacional.
2.9 Conclusões.
→ a situação atual de extrema incerteza pode facilmente se transformar em estagnação econômica global e as políticas
tradicionais de estímulo podem ser bloqueadas por barreiras ideológicas e institucionais (a postura anti-inflacionária do
Banco Central Europeu) ou limitadas por impacto devido à baixa inflação taxas.
→ nessa situação, pode ser útil começar a pensar em um novo tipo de keynesianismo, onde os gastos públicos visam a
atualização dos recursos humanos e a promoção da mudança organizacional.

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