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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL

CURSO DE GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA

MOACYR ALVES JUNIOR

A Escatologia nas Confissões: Do Sermão Escatológico até a


Confissão de Augsburgo

Canoas

2016
Para meus amigos:

Thiago, Bruno, Alex e Nauana, Suelen e “Norelas”


“Os TEMPOS são diferentes, e mesmo pensando que os tempos são um tanto parecidos com os seres
humanos – eles mudam completamente, entretanto permanecem como tolos, apenas em uma nova fôrma
– é verdade que eles, todavia, são tempos diferentes, e diferentes tempos têm requisitos diferentes”.

- Søren Kierkegaard
Resumo

O trabalho visa explorar a escatologia como algo presente na vida do cristão, através
de seus sinais, administrados pela igreja, ou seja, o sacramento e a palavra, e através dos
credos e confissões da cristandade. Ainda é explorada a tipologia da vinda de Cristo e sua
importância para a igreja que confessa visando o Reino de Deus. Para tais fins, é feita uma
exegese do sermão escatológico de Cristo (Lc 21:5-38), uma pesquisa de como Deus é visto
através das confissões durante os séculos da igreja cristã, até a Confissão de Augsburgo e a
visão dos Reformadores sobre a escatologia na história presente e futura, mas especialmente
focando nãos Concílios Ecumênicos e nos Pais Apostólicos.

Palavras-Chave: Anátemas a Orígenes; Confissões; Concílio de Nicéia; Concílio de


Constantinopla I; Confissão de Augsburgo; Escatologia.
Abstract

This work sees to explore the eschatology as something present in the life of the
Christian thought through its signs delivered by the Church, that is, the sacrament and the
word, also through the creeds and confessions of the Christendom. The typology of the Christ
that is coming is also explored, and its importance to the church that confess the Kingdom of
God that comes. For that it is made an exegesis of the eschatological preaching of Jesus (Luke
21:5-38), a research about the vision that the confessor has of God through the confessions
during the centuries of the Christian Church, until the Augsburg Confession and the vision of
the Reformers about the eschatology in the present and future history, but especially focusing
in the Ecumenical Councils and the Apostolic Fathers.

Keywords: Origen‟s Anathema; Confessions; Council of Nice; Council of Constantinople I;


Augburg Confession; Eschatology.
Sumário

Introdução…………………………………………………..……..…………..……………. 9

1. O Sermão Escatológico de Jesus (exegese)...............................................................10


2. Confessando a Escatologia nos Pais Pré-Concílio de Niceia...................................22
2.1.O que os Pais podem nos ensinar sobre a confissão?........................................27
3. Confessando nos Concílios Ecumênicos....................................................................32
3.1.O Concílio de Niceia (325 A.D.)...........................................................................32
3.2.O Concílio de Constantinopla I (381 A.D.) [e os anathemas de Constantinopla
II (553 A.D.)]………………………........................................................……………29

4. A Confissão de Augsburgo.........................................................................................36

Conclusão.................................................................................................................................39
Abreviaturas

7EC -Nicene And Post Nicene Fathers vol. 14: The Seven Ecumenic Councils
(Second Series). Philip Schaff e Henry Wace, ed. MI: Grand Rapids. 1994.

ANF -The Ante-Nicene Fathers. vol. 1, Alexander Roberts e James Donaldson, ed.,
Grand Rapids: Eerdmans Publishing Company. 1994.

BAG -ARNDT, William F.; GINGRICH, F.W. A Greek-English Lexicon of the New
Testament and Other Early Christian Literature. Chicago: The University of
Chicago Press. 1964.

CA -Confissão de Augsburgo in Livro de Concórdia, 2006.

CC -JUST Jr.; Arthur. Concordia Commentary: A Theological Exposition of


Sacred Scripture: Luke 9:51-24:53 (vol. 2). St. Louis: CPH. 1997.

Clem. -1ª Epístola de Clemente aos Coríntios

CRC -SCHAFF, Philip; Creeds of Christendom vol. 2; NY: Harper & Brothers
Publishers. 1878.

CTQ -Concordia Theological Quarterly

I.L. -Revista Igreja Luterana

I.S. -Epístola de Inácio à Esmirna.

Lp. -LAMPE, G.W.H.A Patristic Greek Lexicon. Oxford: Oxford University Press.
1961.

L-S -LIDDEL, H.G.; SCOTT, Robert; A Greek-English Lexicon. Oxford: Oxford


University Press. 1968.

L-N -LOUW, Johannes; NIDA, Eugene; Léxico Grego-Português do Novo


Testamento: baseado em domínios semânticos. Vilson Scholz, trad. São Paulo:
SBB. 2013.

P.T. -Cambridge Patristic Texts. A.J. Mason, gen. ed. Londres: Cambridge
University Press. 1911.
R. -ROBERTSON, A.T.; A Grammar of The Greek New Testament in the Light of
Historical Research. Nashville: Broadman Press. 1934.

TAP. -The Apostolic Fathers, Volume I: I Clement. II Clement. Ignatius. Polycarp.


Didache. Edited and translated by Bart D. Ehrman. Loeb Classical Library 24.
Cambridge, MA: Harvard University Press,1965.

WALL. -WALLACE, Daniel B.; Gramática Grega: Uma Sintaxe Exegética do Novo
Testamento. Roque N. Albuquerque, trad. São Paulo: Editora Batista Regular.
2009.
9

Introdução

Desde a queda o homem anseia pela redenção. Uma das formas que podemos traduzir
essa ansiedade é a escatologia. Ao tratarmos das últimas coisas, passamos por assuntos
condizentes com a natureza divina, a formação trinitária, as obras referentes a cada pessoa da
Trindade, principalmente enquanto vivemos nessa dicotomia do já e ainda não. Algo que
pode confundir a mente das pessoas é o fato do evento-Cristo não ter sido ipso facto o colapso
“das coisas visíveis e invisíveis”, mas este é estilo de Cristo, a aplicação do conceito do
Grande Reverso. Esses termos serão desenvolvidos com mais cautela durante o decorrer do
trabalho, vendo a repercussão do confessar os adventos (o primeiro e o segundo) de Cristo
nos diversos estágios da Igreja Cristã, até chegarmos à Confissão de Augsburgo, onde os
reformadores expõem um ponto de vista escatológico como sinal da presença de Deus
conosco. Teremos um insight da visão de Lucas sobre a tipologia da igreja em Cristo e como
isso é refletido no testemunho dos primeiros Pais, e estes, por sua vez, durante a formação do
Credo Niceno-Constantinopolitano e como este e o evento-Cristo são entendidos na visão dos
Reformadores.
10

1. O Sermão Escatológico de Jesus (exegese)


O texto que será estudado é o do Evangelho conforme São Lucas. Especialmente pelo
caráter de instrução em que foi escrito, – ἵνα ἐπιγνῷσ περὶ ὧν κατηχήθησ λόγων τὴν ἀςφάλειαν.1 – a
fim de que o leitor tenha plena certeza do que está crendo2,

“certeza de fé é o objetivo do Evangelho de Lucas, a qual vem de acurada [e] sistemática


instrução nos eventos e nas narrativas que Lucas está para contar. Certeza está na história de
Jesus, ou como Kloha traz, „na sua obra há certeza, para salvação‟, e sua obra para salvação é
contada no Evangelho de Lucas: uma obra de pregação e ensino, uma obra de milagres e uma
obra de paixão, ressurreição e ascensão” 3.

a) Contexto Literário

Jesus está ensinando diariamente no templo, sua autoridade acaba de ser questionada
no capítulo anterior4. A escatologia começa a ser “pincelada” nos versículos 27-40 do capítulo
20, quando os Saduceus questionaram Jesus sobre a ressurreição 5. A autoridade de Cristo
permeia toda sua pregação, principalmente com as sanções de “juízos” - Kri,nontej ek
6
Pantokra,toroj - sobre várias pessoas e assuntos - 20.9-19, 25, 35-38, 44-47; 21.4 – até
chegarmos na oferta da viúva pobre, a máxima da providência do Todo-Poderoso. Nosso texto
chega com a observação da magnitude do templo e o choque com a iminência da sua
destruição – outro dos Kri,nontej ek Pantokra,toroj.

b) Texto.

b.1. Texto Grego7

1
Lc 1.4
2
CC vol. 1, pg. 13: “O uso da palavra „catecúmenos‟ pretende refletir todos os crentes, aqueles ainda não
batizados, um „eco‟ do ensinamento de Jesus em suas confissões e testemunhos. Os batizados são membros de
um catecumenato vitalício assim como eles diariamente morrem e ressurgem em Cristo” (Itálico/negrito original
removido).
3
Arthur A. Just Jr. Luke’s Canonical Criterion in CTQ, 79:3-4, pg. 252 (Julho/Outubro 2015).
4
Jesus, com certa ironia, faz com que os fariseus cheguem à resposta (Lc 20. 1-8 - θαὶ ὁ Ἰεζνῦο εἶπελ αὐηνῖο·
νὐδὲ ἐγὼ ιέγσ ὑκῖλ ἐλ πνίᾳ ἐμνπζίᾳ ηαῦηα πνηῶ [v. 8])
5
Note em 20.38 o Tempo Presente sendo usado por três vezes ao tratar do assunto e ainda um adversativo forte
para destacar “dos mortos” em relação a “os que estão vivos”. ζεὸο δὲ οὐκ ἔζηιν νεκρῶν ἀλλὰ δώνηων, πάληεο
γὰξ αὐηῷ δῶζηλ.
6
Talvez a melhor forma de expressar a ideia de “juízos” seja o Particípio Presente, os “juízos do Todo-
Poderoso”, a total capacidade de arguir, julgar e decidir. Kri,nontej ek Pantokra,toroj – Para a construção do
termo utilizado Cf. BAG, 452, 613; Cf. tb. WALL. pg. 523: “O presente gnômico pode ser usado na declaração
de um fato geral, sem considerar o tempo. „Não significa que algo está acontecendo, mas que algo acontece‟. É
uma ação ou estado contínuo sem limite de tempo-cronológico”.
7
Greek Bible text from: Novum Testamentum Graece, 27th revised edition, Edited by Barbara Aland and others,
© 1993 Deutsche Bibelgesellschaft, Stuttgart.
11

Frases e palavras que requerem mais atenção estão destacadas, mas serão tratadas mais
adiante, no corpus das notas textuais e do comentário.

5
Καί ηηλσλ ιεγόλησλ πεξὶ ηνῦ ἱεξνῦ ὅηη ιίζνηο θαινῖο θαὶ ἀλαζήκαζηλ θεθόζκεηαη
εἶπελ·6ηαῦηα ἃ ζεσξεῖηε ἐιεύζνληαη ἡκέξαη ἐλ αἷο νὐθ ἀθεζήζεηαη ιίζνο ἐπὶ ιίζῳ ὃο νὐ
θαηαιπζήζεηαη

7
἖πεξώηεζαλ δὲ αὐηὸλ ιέγνληεο· δηδάζθαιε, πόηε νὖλ ηαῦηα ἔζηαη θαὶ ηί ηὸ ζεκεῖνλ ὅηαλ
κέιιῃ ηαῦηα γίλεζζαη;8 ὁ δὲ εἶπελ· βιέπεηε κὴ πιαλεζῆηε· πνιινὶ γὰξ ἐιεύζνληαη ἐπὶ ηῷ
ὀλόκαηί κνπ ιέγνληεο· ἐγώ εἰκη, θαί· ὁ θαηξὸο ἤγγηθελ. μὴ πορεσθῆηε ὀπίζω αὐηῶν.9 ὅηαλ δὲ
ἀθνύζεηε πνιέκνπο θαὶ ἀθαηαζηαζίαο, κὴ πηνεζῆηε· δεῖ γὰξ ηαῦηα γελέζζαη πξῶηνλ, ἀιι᾽
νὐθ εὐζέσο ηὸ ηέινο.

10
Τόηε ἔιεγελ αὐηνῖο· ἐγεξζήζεηαη ἔζλνο ἐπ᾽ ἔζλνο θαὶ βαζηιεία ἐπὶ βαζηιείαλ,11 ζεηζκνί ηε
κεγάινη θαὶ θαηὰ ηόπνπο ιηκνὶ θαὶ ινηκνὶ ἔζνληαη, θόβεηξά ηε θαὶ ἀπ᾽ νὐξαλνῦ ζεκεῖα
κεγάια ἔζηαη.

12
Πξὸ δὲ ηνύησλ πάλησλ ἐπηβαινῦζηλ ἐθ᾽ ὑκᾶο ηὰο ρεῖξαο αὐηῶλ θαὶ δηώμνπζηλ, παξαδηδόληεο
εἰο ηὰο ζπλαγσγὰο θαὶ θπιαθάο, ἀπαγνκέλνπο ἐπὶ βαζηιεῖο θαὶ ἡγεκόλαο ἕλεθελ ηνῦ ὀλόκαηόο
κνπ·13 ἀποβήζεηαι ὑμῖν εἰς μαρηύριον. 14
ζέηε νὖλ ἐλ ηαῖο θαξδίαηο ὑκῶλ κὴ πξνκειεηᾶλ
ἀπνινγεζῆλαη·15 ἐγὼ γὰξ δώζσ ὑκῖλ ζηόκα θαὶ ζνθίαλ ᾗ νὐ δπλήζνληαη ἀληηζηῆλαη ἢ
ἀληεηπεῖλ ἅπαληεο νἱ ἀληηθείκελνη ὑκῖλ. 16παξαδνζήζεζζε δὲ θαὶ ὑπὸ γνλέσλ θαὶ ἀδειθῶλ θαὶ
ζπγγελῶλ θαὶ θίισλ, θαὶ ζαλαηώζνπζηλ ἐμ ὑκῶλ, 17 θαὶ ἔζεζζε κηζνύκελνη ὑπὸ πάλησλ δηὰ ηὸ
ὄλνκά κνπ.18 θαὶ ζξὶμ ἐθ ηῆο θεθαιῆο ὑκῶλ νὐ κὴ ἀπόιεηαη. 19 ἐλ ηῇ ὑπνκνλῇ ὑκῶλ θηήζαζζε
ηὰο ςπρὰο ὑκῶλ.

20
Ὅηαλ δὲ ἴδεηε θπθινπκέλελ ὑπὸ ζηξαηνπέδσλ Ἰεξνπζαιήκ, ηόηε γλῶηε ὅηη ἤγγηθελ ἡ
ἐξήκσζηο αὐηῆο. 21
ηόηε νἱ ἐλ ηῇ Ἰνπδαίᾳ θεπγέησζαλ εἰο ηὰ ὄξε θαὶ νἱ ἐλ κέζῳ αὐηῆο
ἐθρσξείησζαλ θαὶ νἱ ἐλ ηαῖο ρώξαηο κὴ εἰζεξρέζζσζαλ εἰο αὐηήλ, 22
ὅηη ἡκέξαη ἐθδηθήζεσο
αὗηαί εἰζηλ ηνῦ πιεζζῆλαη πάληα ηὰ γεγξακκέλα. νὐαὶ ηαῖο ἐλ γαζηξὶ ἐρνύζαηο θαὶ ηαῖο
23

ζειαδνύζαηο ἐλ ἐθείλαηο ηαῖο ἡκέξαηο· ἔζηαη γὰξ ἀλάγθε κεγάιε ἐπὶ ηῆο γῆο θαὶ ὀξγὴ ηῷ ιαῷ
ηνύηῳ, 24
θαὶ πεζνῦληαη ζηόκαηη καραίξεο θαὶ αἰρκαισηηζζήζνληαη εἰο ηὰ ἔζλε πάληα, θαὶ
Ἰεξνπζαιὴκ ἔζηαη παηνπκέλε ὑπὸ ἐζλῶλ, ἄρξη νὗ πιεξσζῶζηλ θαηξνὶ ἐζλῶλ.

25
Καὶ ἔζνληαη ζεκεῖα ἐλ ἡιίῳ θαὶ ζειήλῃ θαὶ ἄζηξνηο, θαὶ ἐπὶ ηῆο γῆο ζπλνρὴ ἐζλῶλ ἐλ
ἀπνξίᾳ ἤρνπο ζαιάζζεο θαὶ ζάινπ, ἀπνςπρόλησλ ἀλζξώπσλ ἀπὸ θόβνπ θαὶ πξνζδνθίαο
26

ηῶλ ἐπεξρνκέλσλ ηῇ νἰθνπκέλῃ, αἱ γὰξ δπλάκεηο ηῶλ νὐξαλῶλ ζαιεπζήζνληαη. 27


θαὶ ηόηε
ὄςνληαη ηὸλ πἱὸλ ηνῦ ἀλζξώπνπ ἐξρόκελνλ ἐλ λεθέιῃ κεηὰ δπλάκεσο θαὶ δόμεο πνιιῆο. 28
12

ἀξρνκέλσλ δὲ ηνύησλ γίλεζζαη ἀλαθύςαηε θαὶ ἐπάξαηε ηὰο θεθαιὰο ὑκῶλ, δηόηη ἐγγίδεη ἡ
ἀπνιύηξσζηο ὑκῶλ.

29
Καὶ εἶπελ παξαβνιὴλ αὐηνῖο· ἴδεηε ηὴλ ζπθῆλ θαὶ πάληα ηὰ δέλδξα· 30ὅηαλ πξνβάισζηλ ἤδε,
βιέπνληεο ἀθ᾽ ἑαπηῶλ γηλώζθεηε ὅηη ἤδε ἐγγὺο ηὸ ζέξνο ἐζηίλ· 31 νὕησο θαὶ ὑκεῖο, ὅηαλ ἴδεηε
ηαῦηα γηλόκελα, γηλώζθεηε ὅηη ἐγγύο ἐζηηλ ἡ βαζηιεία ηνῦ ζενῦ. 32 ἀκὴλ ιέγσ ὑκῖλ ὅηη νὐ κὴ
παξέιζῃ ἡ γελεὰ αὕηε ἕσο ἂλ πάληα γέλεηαη. 33 ὁ νὐξαλὸο θαὶ ἡ γῆ παξειεύζνληαη, νἱ δὲ ιόγνη
κνπ νὐ κὴ παξειεύζνληαη.

34
Πξνζέρεηε δὲ ἑαπηνῖο κήπνηε βαξεζῶζηλ ὑκῶλ αἱ θαξδίαη ἐλ θξαηπάιῃ θαὶ κέζῃ θαὶ
κεξίκλαηο βησηηθαῖο θαὶ ἐπηζηῇ ἐθ᾽ ὑκᾶο αἰθλίδηνο ἡ ἡκέξα ἐθείλε 35 ὡο παγίο· ἐπεηζειεύζεηαη
γὰξ ἐπὶ πάληαο ηνὺο θαζεκέλνπο ἐπὶ πξόζσπνλ πάζεο ηῆο γῆο. 36ἀγξππλεῖηε δὲ ἐλ παληὶ θαηξῷ
δεόκελνη ἵλα θαηηζρύζεηε ἐθθπγεῖλ ηαῦηα πάληα ηὰ κέιινληα γίλεζζαη θαὶ ζηαζῆλαη
ἔκπξνζζελ ηνῦ πἱνῦ ηνῦ ἀλζξώπνπ.

37
Ἦλ δὲ ηὰο ἡκέξαο ἐλ ηῷ ἱεξῷ δηδάζθσλ, ηὰο δὲ λύθηαο ἐμεξρόκελνο εὐιίδεην εἰο ηὸ ὄξνο ηὸ
θαινύκελνλ ἖ιαηῶλ· 38 θαὶ πᾶο ὁ ιαὸο ὤξζξηδελ πξὸο αὐηὸλ ἐλ ηῷ ἱεξῷ ἀθνύεηλ αὐηνῦ.

b.2. Tradução.

5
“E alguns falavam a respeito do templo, [com] que boas pedras e ofertas ele
está adornado. [Jesus] disse: 6[A respeito d]estas coisas que vós observais, virão dias
nos quais não sobrará pedra sobre pedra sem que seja destruída.

7
Perguntaram para ele: Mestre! Quando serão essas coisas? E que sinal
[haverá] de que estas coisas estão para acontecer? 8Então ele [,Jesus,] disse: Vigiai [e]
não sejais enganados! Pois muitos virão em meu nome, dizendo: „EU SOU‟ e „O
tempo está muitíssimo próximo‟. Não os sigais! 9Quando ouvirem de guerras e
desordem, não deveis temer! Pois é necessário isso acontecer primeiro, mas o fim não
é imediato.

10
E falava a eles: Há de se levantar nação contra nação e reino contra reino.
11
Haverá grandes terremotos e, em lugares, fome e peste existirão. Visões horrendas e,
do céu, existirão grandes sinais.
13

12
Antes disso, todos vos prenderão8 e perseguirão, vos entregando para as
sinagogas e prisões, [e vos] levando perante reis e líderes por causa do meu nome.
13 14
Isso acontecerá convosco com o fim de que testemunheis. Decidi, vós, portanto,
15
que não preparareis a vossa defesa, Pois eu vos darei palavras e sabedoria que eles
não serão hábeis de [vos] fazer resistência ou [vos] contradizer todos quantos vos
16
serem hostis. Vós sereis traídos por parentes, irmãos, conterrâneos e amigos, e
alguns de vós serão mortos, 17e vocês serão continuamente odiados por causa do meu
18
nome. Contudo, nem mesmo um único fio de cabelo das vossas cabeças cessará de
existir 19, na vossa perseverança ganhareis a vossa alma (vida).
20
Quando vós virdes Jerusalém sitiada por legiões9, então sabereis que está
21
muitíssimo próxima a sua desolação. Então, aqueles que [estão] na Judeia, fujam
para os montes; os que estiverem dentro da cidade10, saiam; os que estiverem nos
22
campos, não entrem nela. Pois estes dias estão sendo de vingança para que se
cumpra tudo que está escrito.23Ai das que estiverem grávidas e das que amamentam
nestes dias! Pois haverá grande aflição esta terra e ira contra este povo. 24Cairão a fio
de espada e serão levados cativos para todas as nações gentílicas; e Jerusalém será
continuamente pisada por gentios até que o tempo deles se completem.

25
E haverão sinais no sol, na lua e nas estrelas; sobre a terra, ansiedade de
26
nações gentílicas e grande angústia por causa do som do mar e das ondas, homens
desmaiando de medo e de expectativa das coisas que estão vindo à humanidade, pois
27
os poderes dos céus serão abalados. Então verão o Filho do Homem vindo em uma
nuvem com poder e muita glória. 28Estando tais coisas para acontecer, „recomponde‟
e erguei vossa cabeça, pois está próxima a vossa redenção.

29
E contou para eles uma parábola: Vede a figueira e todas as árvores.
30 31
Quando brotam, vendo-as, sabeis que, agora, o verão está próximo. Desta forma,
vós, quando verem estas coisas acontecendo, sabeis que o reino de Deus está
próximo.32Em verdade vos digo que de modo nenhum passará essa geração enquanto
todas as coisas aconteçam. 33Os céus e a terra passarão, mas minhas PALAVRAS de
modo nenhum passarão.
8
Expressão idiomática: ἐπιβαλοῦςιν τὰσ χεῖρασ. Cf. L-N 37.110.
9
ςτρατοπέδων: “um grupo organizado de tropas militares – exército” (L-N 55.7); “o solo no qual soldados estão
acampados... geralmente, um exército [...] 2. A legião Romana” (L-S pg. 1653).
10
μέςῳ αὐτῆσ: literal: “no meio dela”.
14

34
Tende cuidado para convosco, para que não sejam sobrecarregados os vossos
corações em devassidões11, embriaguez e preocupações diárias. Vindo aquele dia
sobre vós subitamente 35como uma armadilha. Pois virá sobre tudo que reside sobre a
36
face de toda a terra. Vigiai em todo tempo, orando, a fim de que prevaleceis, para
que fujam de todas estas coisas que estão para acontecer e para que fiquem em pé
perante o Filho do Homem.

37
[Jesus] estava ensinando no templo durante o dia, à noite ia passar algum
tempo no Monte das Oliveiras. 38E todo o povo madrugava a fim de ouvi-lo no templo.

c) Notas Textuais

6: ἐλεύςονται ἡμέραι: “Esta expressão refere-se a um evento futuro dentro da história (Lc
5.35; 17.22; 23.29; cf. tb. 19.43), e não é usado por Lucas para descrever o fim do mundo,
ou seja, a vinda do Filho do Homem (cf. „aquele dia‟ 10.12;17.31; 21.34)” 12.

7: ταῦτα ἔςται ... ταῦτα γίνεςθαι: “Estas coisas”. Ambas as construções estão com verbos
no singular, algo de certa forma comum13, podendo gerar alguma discussão, mas não
podemos desconectar o fato do pronome demonstrativo neutro plural (ταῦτα) estar
sempre (ou quase sempre) relacionado – direta ou indiretamente –, no Evangelho
conforme Lucas, com a manifestação de Deus no mundo, até mesmo por meio de
Kri,nontej ek Pantokra,toroj14. “„Estas coisas‟ (neutro) não são os „dias‟ (feminino) em 21:6, mas
os eventos catastróficos implicados que cumprirão a predição de Jesus” 15.

8: “ὁ καιρὸσ ἤγγικεν” : “O tempo está muitíssimo próximo”. “Um ponto no tempo ou um


período no tempo... o [tempo] certo... um termo escatológico principal ὁ καιρὸσ o tempo de

11
“Comportamento de um bêbado, totalmente sem controle ou censura moral” (L-N 88.286).
12
R. Stein, Luke, pg. 511 apud CC Luke vol. 2, pg. 784.
13
WALL. pg. 333; R. pg. 704.
14
47 referências são encontradas (não contando aparato crítico): 1:19, 20, 65; 2:19; 4:28; 5:27; 7:9; 8:8; 9:34;
10:1, 21; 11: 27, 42, 45; 12:4, 30, 31; 13:2, 17; 14:6, 15, 21; 15:26 (o filho ouviu a realização do escatoj?);
16:14; 17:8; 18:11, 21 (a observância da Lei e a herança da vida), 23; 19:11, 28 (“mas ao que não tem, o que tem
lhe será tirado” [19:28b]); 20:2, 8; 21: 6, 7(2x), 9, 31, 36; 23:31, 49; 24:9, 10, 11, 21, 26, 36. Quanto às
referências aos fariseus, é importante lembrar que eles, normalmente, são pintados como uma espécie de
“inimigos da vontade de Deus”. Há uma grande quantidade de referências nas parábolas, normalmente ligadas a
vontade de Deus em prol do ser humano.
15
CC Luke vol. 2. Pg. 784.
15

16
crise, os últimos tempos” . “Pontos de tempo consistindo em ocasiões para
17
acontecimentos específicos” . Kαιρὸσ é diversas vezes referenciado no Evangelho
conforme Lucas como o tempo em que as “coisas de Deus” acontecem, inclusive
provações, principalmente referenciadas ao “evento Cristo”18 (1:20; 4:13; 8:13*2; 12:42;
12:56; 13:1; 18:30; 19:44; 20:10; 21:8, 24, 36). Em adição a „extraordinariedade‟ de tal
termo, há um tempo perfeito, “o tempo perfeito não é usado para indicar uma ação
passada, mas o estado presente e resultante da ação passada” 19, ou seja, do ponto de vista
do aviso dado por Jesus, Ele alerta contra uma profecia falsa. O tempo é usado
basicamente em três conotações nesse discurso, (1) alerta contra falsos cumprimentos
escatológicos, (2) início do reino dos gentios com a destruição de Jerusalém e expande (3)
para a consumação dos séculos20.

“μὴ πορευθῆτε ὀπίςω αὐτῶν”: Literal: “Não sigais atrás deles”. A palavra ὀπίςω, nos
escritos de Lucas, está ligada na maioria dos casos (se não em todos) a ideia de
“discipulado” (Cf. tb. Lc: 7.38, 9.23, 9.62, 14.27, 17.31, 19.14, e ainda At. 5.37, 20.30).

9: ἀκούςητε: O subjuntivo sugerindo algo como incerto, mas provável. Uma


probabilidade, não incerteza21.

δεῖ γὰρ ταῦτα γενέςθαι: Temos a repetição do neutro plural como referencial (cf. v.
7), mas com a partícula “é necessário”, aquilo que deve ocorrer, que é inevitável22, “o
modo de Lucas falar da necessidade divina” 23.

οὐκ εὐθέωσ τὸ τέλοσ: Os fins dos tempos, começados na queda de Jerusalém, não
ocorrerão imediatamente24.

11: ἔςονται: a fome e a peste fazem parte do lugar, elas aparentemente não têm causa,
apenas existem, assim como as visões. Ela está no futuro preditivo, indicando algo que
está por vir, resumindo: “acontecerá” 25.

16
BAG pg. 395-96.
17
L-N 67.1
18
“Fundamental para uma religião da encarnação é que houve um „alguma coisa‟ que aconteceu, um Geschehen,
e o „alguma coisa‟ foi Jesus de Nazaré”. David Scaer. Matthew as the Fundation of the New Testament
Canon in CTQ, 79:3-4, pg. 237 (Julho/Outubro, 2015).
19
Zerwik, Biblical Greek, pg. 96 apud WALL. pg. 573.
20
CC Luke vol. 2, pg. 784.
21
WALL. pg. 461.
22
L-N 71.34
23
CC Luke v. 2, pg. 784.
24
Ibidem.
16

13: ἀποβήςεται…εἰσ :expressa “algo que resulta num estado” , algo que acontece para que
26
outra coisa aconteça. Cf. Lw-Nd 89.41. O sentido é de “levar para que testemunhe” .E
isso vai leva-los ao martírio, ou seja, a forma mais forte de testemunho27.

18: νὐ κὴ ἀπόιεηαη: esta expressão é muito enfática e “forte” (na falta de um termo para
descrevê-la). Há a negação do subjuntivo, ou seja, nega-se a possibilidade de algo
acontecer e o verbo ἀπόιιπκη na voz média, usado para descrever a condenação (em
perspectiva da salvação) ou o deixar de existir (Cf. LXX. Is. 38:17 e NA27 Mt. 5:29-30,
18:14; Jo 3:16, 11:50) (Cf. tb. Liddell-Scott pg. 207; Lw-Nd 23.106, 13.96, 21.32; BAG
94.2 a e b; WALL. 468: “Porém, enquanto ou + indicativo nega uma certeza, ou mh +
subjuntivo nega uma potencialidade. O negativo não é mais fraco; a afirmação negada,
pelo contrário, é menos firme com o subjuntivo... Esse tipo de negação enfática encontra-
se: (1) nos enunciados de Jesus (nos Evangelhos e em Apocalipse); (2) em citações da
LXX... Vê-se a doutrina da soteriologia frequentemente em tais declarações...”.

20: ὅηη ἤγγηθελ ἡ ἐξήκσζηο αὐηῆο: Este, provavelmente, é a interpretação do abominável


da desolação (βδέιπγκα ηῆο ἐξεκώζεσο) presente nos relatos de Mateus e Marcos (Mt
28
24:15; Mc 13:14). As legiões romanas invadindo a “cidade santa” . Nota-se também o
uso do perfeito, aqui, novamente.

32: ἀκὴλ ιέγσ ὑκῖλ ὅηη νὐ κὴ παξέιζῃ ἡ γελεὰ αὕηε ἕσο ἂλ πάληα γέλεηαη. Além de um
afirmativo amén há uma negação enfática com o subjuntivo aoristo (já visto) e o adjetivo
πάληα sem o artigo retrata diversas coisas, isso abre uma gama de possibilidades dentro da
tipologia do discurso29.

33: νἱ δὲ ιόγνη κνπ νὐ κὴ παξειεύζνληαη: Aqui temos uma negação enfática com o futuro
do indicativo, normalmente as negações enfáticas estão no aoristo do subjuntivo. Nesse
caso há, além de uma negação enfática, uma predição30.

d) Comentário

25
WALL. pg. 568.
26
BAG. pg. 88.
27
CC Luke vol. 785.
28
CARSON, D. A. O Comentário de Mateus. Lena Aranha e Regina Aranha, trad. São Paulo: Shedd
Publicações. 2010. Pg. 580-581.
29
Cf. BAG. pg. 636
30
WALL. pg. 568.
17

As palavras de Jesus começam com um comentário, que segundo o relato de Mateus,


parte dos discípulos (Mt 24:1). Como o templo está bem ornado e firme. E Jesus responde
com um sermão. O sermão é dividido em dois grandes blocos que se intercalam (na relação de
tipo e antítipo), o primeiro é sobre a destruição de Jerusalém (21:5-24) e o segundo é sobre o
fim dos séculos (21:25-36) 31.

d.1) A destruição de Jerusalém (21:5-24)

Todos estão vislumbrados com as “dádivas” que preenchem o templo (que


literalmente são ofertas dadas para a construção e que já se encontram ornando o templo) 32.
Há uma possibilidade de que Jesus esteja fazendo uma tipologia entre a destruição do templo
e a passionis et mortis que ocorrerá mais adiante (22:39 – 23:56), mas Ele está demonstrando
a “mudança da presença de Deus”, enquanto as pessoas vinham ao lugar de pedras para ter a
presença de Deus, agora Ele viria em Jesus, pelo Evangelho, para sempre – inclusive pela
Palavra e pelos Sacramentos33.

d.1.1) O Testemunho e os Sinais (21:7-19)

Lucas é bem enfático quanto ao ensino catequético a respeito dos sinais. Eles não são
para predição de quando vai acontecer o fim, mas uma exortação quanto a perigos futuros34.
A igreja precisa estar preparada para o fim dos tempos e o fim pode vir a qualquer momento.
Aqui, a exortação é sinalizada pelo Imperativo35 Presente36, possui um caráter catequético
contra aquilo que parece legítimo, mas não é, pois existirão falsos profetas e o ensino deles
será tão sutil e semelhante que parecerão reais, mas não os sigais37.

O sinal pedido pelos discípulos não é assunto novo38, mas para entender a teologia de
Lucas, é preciso entender os tipos e antítipos. As profecias foram cumpridas no evento-Cristo,
ou seja, “a pessoa de Cristo, sua chegada e os eventos cercando sua chegada (= o total do
evento-Cristo) trazem o cumprimento do reino ativo e governo de Deus, começados nos

31
CC Luke vol.2 pg. 788.
32
LENSKI, R. C. H.; The Interpretation of St. Luke’s Gospel. Ohio: The Wartburg Press. 1946. Pg. 1009-10.
Cf. tb. o tempo perfeito que encontramos referente aos ornamentos.
33
CC Luke vol. 2 pg. 789-90.
34
L-N 27.58, BAG pg. 143, L-S pg. 318.
35
WALL. pg. 485: “O imperativo move-se na dimensão de volição (envolvendo a imposição da vontade sobre
outro) e possibilidade... ele pode ser usa para outras ações que não seja uma ordem. Essa força volitiva, no
entanto, ainda permanece subentendida, mesmo quando o emissor não está dando ordens.”
36
Ibidem: “o comando de uma ação como um processo contínuo”. Cf. tb. L-N 27.58.
37
CC Luke vol. 2 pg. 792; Cf. tb. Notas textuais sobre o versículo 8.
38
Cf. Lc 11:19-20.
18

tempos do A.T.” 39. Os sinais são, normalmente, entendidos de três maneiras, eles atingem (1)
as ordens sociais – as pessoas, autoridades, nações –, (2) a terra – peste, fome, terremotos – e
(3) o céu40. Lucas, no seu relato da passionis et mortis, traz o tumulto e a injusta acusação de
Jesus (23:13-25), a perturbação na criação e no céu (Lc 23:4441). Para Lucas, o evento-Cristo
é o arquétipo da Igreja42. Isso fica mais claro na continuação do discurso: “[...] todos vos
prenderão e perseguirão, vos entregando para as sinagogas e prisões, [e vos] levando
perante reis e líderes por causa do meu nome.” (v12). Cristo foi levado perante o sinédrio43 e
perante Pilatos e Herodes44, foi tentado diversas vezes45, morreu46, mas tudo é parte do plano
de Deus47, pois Ele ressuscitou no primeiro dia da semana48. Isso sela o destino do inimigo49,
“mas o inimigo não desaparece imediatamente; ainda existem batalhas a serem travadas.
Ainda que seja só uma questão de tempo até o último coup de grace (= a parousia/segunda
vinda” 50.

Um detalhe que ressalta no texto é o versículo 13: “Isso acontecerá convosco com o
fim de que testemunheis”. Jesus aponta o real motivo de todo esse sofrimento que pode levar à
morte, o testemunho. Este é feito pela família de Jesus, unida na Palavra, onde encontram
consolo e esperança na perseguição que vem, o Reino de Deus se manifesta em seu meio, pela
Palavra e pelos Sacramentos deixados por Cristo para nós, que nos mantém „com um pé aqui
e outro na eternidade‟, a comunhão dos santos nos fortalece essa esperança. Cristo dá a
certeza da Palavra perante a ocasião de testemunho, Ele mesmo51 dá as palavras, pois Ele está
presente através do Espírito Santo, esse é o testemunho52. “Jesus chama seus fiéis a lembrar a
parábola do Semeador (8:15), aqueles que ouviram a Palavra, mantiveram-se firmes e deram
frutos na perseverança”. Ele usa o princípio do Grande Reverso, através da perseverança no
fiel testemunho eles ganharão a vida, ou seja, “manter-se fiel no meio da perseguição é uma
39
VOELZ, James; What Does This Mean? Principles of Biblical Interpretation in the Post-Modern World.
Saint Louis: CPH. 1995. Pg. 260 [italico adicionado, negrito removido].
40
CC Luke vol. 2 pg. 792-93.
41
Cf. tb. Mt 27:51: Καὶ ἰδοὺ ηὸ θαηαπέηαζκα ηνῦ λανῦ ἐζρίζζε ἀπ᾽ ἄλσζελ ἕσο θάησ εἰο δύν θαὶ ἡ γῆ ἐζείζζε
θαὶ αἱ πέηξαη ἐζρίζζεζαλ.
42
CC Luke vol. 2 pg. 794-95.
43
Lc 22:70-71: εἶπαλ δὲ πάληεο· ζὺ νὖλ εἶ ὁ πἱὸο ηνῦ ζενῦ; ὁ δὲ πξὸο αὐηνὺο ἔθε· ὑμεῖς λέγεηε ὅηι ἐγώ εἰμι. νἱ
δὲ εἶπαλ· ηί ἔηη ἔρνκελ μαρησρίας ρξείαλ; αὐηνὶ γὰξ ἠθνύζακελ ἀπὸ ηοῦ ζηόμαηος αὐηοῦ.
44
Lc 23:1-12.
45
Lc 23:26-38: “ἄιινπο ἔζσζελ, ζσζάησ ἑαπηόλ, εἰ νὗηόο ἐζηηλ ὁ ρξηζηὸο ηνῦ ζενῦ ὁ ἐθιεθηόο” (v35b); cf. tb.
Lc 4:13: “Καὶ ζπληειέζαο πάληα πεηξαζκὸλ ὁ δηάβνινο ἀπέζηε ἀπ᾽ αὐηνῦ ἄρξη θαηξνῦ.”.
46
Lc 23:44-49.
47
Cf. Nota Textual v9.
48
Lc 24:1-12.
49
At 2: 34-36; Jo 16:11.
50
VOELZ op. cit. pg. 252.
51
Cf. a presença do pronome pessoal enfático no versículo 15: ἐγὼ γὰξ δώζσ.
52
CC Luke vol. 2 pg. 794-95.
19

53
proclamação ao mundo de sua fé no testemunho/martírio de Jesus” . Dentre as palavras de
consolo, esperança e incentivo que Jesus usa, está a expressão: “Contudo, nem mesmo um
único fio de cabelo das vossas cabeças cessará de existir!” (v18) que constitui uma negação a
condenação de um modo muito veemente54.

d.1.2) O Tempo dos Gentios (21:20-24)

Jesus falou há pouco tempo sobre os que avisam que o tempo está muitíssimo próximo
(ἤγγηθελ), mas, agora, o verdadeiro Cristo avisa que a destruição da cidade é iminente.

“Se alguém observar as ocasiões em que o imperativo de γηλώζθσ, „saber‟, é usado em


conexão com o escatológico ἐγγίδσ, „aproximar, chegar', [verá] que são três estágios da
escatologia. Quando a pregação dos setenta(e dois) são rejeitadas em certas vilas, os setenta(e
dois) eram para anunciar, „Saiba – o Reino de Deus está próximo‟ (10:11). Este anúncio é o
julgamento que vem agora quando o Evangelho é rejeitado. Pecados são retidos, não
absolvidos. Aqui em 21:20, Jesus alerta as pessoas do iminente julgamento de Jerusalém
(completo em 70 A.D.) pela rejeição do Evangelho. E na próxima sessão, quando eles verem
sinais no céu e o Filho do Homem descendo em uma nuvem, então (assim como a figueira
brota) eles devem „saber que o Reino de Deus está próximo” (21:31). Jesus está falando a eles
do julgamento no fim do mundo. O movimento é de 30 A.D. a 70 A.D. para a parousia. Mas
em cada caso, em cada estágio, o Reino de Deus está próximo, pois a ressurreição é o evento
escatológico que abre as portas do Reino mesmo que ele ainda não tenha vindo em
completude” 55.

O juízo sobre Jerusalém já havia sido predito56, mas o ponto focal deve ser a perda do
ponto seguro. Jerusalém será desolada57 novamente, e Roma será instrumento nas mãos de
Deus, assim como a Assíria e a Babilônia foram, e desse jeito começa o tempo dos gentios58.

d.2) O Fim do Mundo (21:25-36).

Jesus agora foca no dia em que o Filho do Homem retornará, Ele explica os sinais que
ocorrerão nO Dia. Jesus não fala mais em sinal, mas em sinais. Os sinais descritos
anteriormente referem-se ao juízo sobre Jerusalém e agora Ele fala do prelúdio à consumação

53
Idem pg. 795; cf. tb. os únicos dois lugares que aparece o substantivo ὑπνκνλῇ no evangelho conforme Lucas
(8:15 e 21:19).
54
Cf. Nota Textual v.18.
55
CC vol.2 pg. 797.
56
Jr 6:1-8; 7:14-26; 30-34; 16:1-9; Ez 4-24; Mq 3:12; entre outras profecias.
57
Cf. Nota Textual v20; quanto a tipologia inicial de Daniel (Dn 8:13; 9:27; 11:31; 12:11 - se referindo a 168
a.C) a primeira vez que algo abominável que causa desolação foi feito no tempo, onde Antíoco Epifanes erigiu
um altar para Zeus sobre o altar de oferta queimada, sacrificou um porco sobre ele e transformou a prática do
judaísmo passível de pena – CARSON op. cit. 580.
58
Cf. Nota Textual v8 e v24; Cf. tb. LENSKI op. cit. 1021-22; cf. tb. CC Luke vol.2 pg. 799.
20

dos séculos. Quando o Criador irá remover a sua benevolência que estava sobre o mundo
corrupto. A boa vontade de Deus torna-se ira contra a humanidade perversa59. Jesus veio
“afrente do tempo”, demonstrando a “natureza de Deus que sempre „desvia‟ para o lado da
graça”, o juízo virá na segunda vinda60. Os eventos que circundam o evento-Cristo foram
apenas tipos para o grand finale. A criação será afetada em níveis cósmicos, haverá medo e
terror, mas para aqueles que ouviram a Palavra, há esperança, conforto e redenção, “pois os
cataclismos apontam para o Filho do Homem” 61.

d.2.1) A Vinda do Filho do Homem (21:27-36).

Jesus se utiliza da mesma relação entre saber e aproximar, mas agora se refere aos
fiéis da Palavra. Em uma comparação simples, quando as pessoas veem que a figueira brota,
eles sabem que o verão está próximo, assim, quando os fiéis veem os sinais, eles sabem que o
Reino de Deus está próximo. Enquanto o terror no mundo aumenta em relação aos sinais, os
fiéis levantam a cabeça, pois está próxima a redenção:

“A tensão escatológica entre o já e o ainda não percorre todo o ensinamento de Jesus. O


advento do Reino no ensinamento de Jesus e os milagres antecipando a chegada do reino na
sua morte e ressurreição. Aqui Jesus está falando a respeito da consumação final. Como na
primeira admoestação, isso é um lembrete aos crentes para recordarem-se das suas catequeses
(O ensinamento de Jesus, milagres, morte e ressurreição), então eles estarão preparados para a
consumação quando o Filho do Homem vier” 62.

Uma crux de interpretação é esta geração. Mas tendo a seguir a ideia de Arthur Just Jr.
e ver esta geração como os perversos63. Jesus traz uma palavra de consolo aos fieis, as
palavras dele não passarão, tudo que Ele disse é verdadeiro, tudo passará, os sinais passarão,
mas nada se tornará inválido. Jesus também admoesta contra as tentações desse mundo, como
dito antes, o inimigo fora derrotado, mas o decreto final vem com o Filho do Homem numa
nuvem. Vigiando todo o tempo, orando, pedindo a Deus para que resistam as coisas do
mundo, e quando o antítipo acontecer, os fieis poderão ficar em pé, pela graça, perante o
Filho do Homem64.

d.2.2) Conclusão: Jesus Ensina no Templo (21:37-38)

59
CC vol.2 pg. 800-801.
60
VOELZ op. cit. 251-52.
61
CC vol. 2 pg. 801.
62
Idem pg. 801-804 (citação: 803-804); cf. tb. VOELZ op. cit. pg. 252-253.
63
Idem pg. 804.
64
Idem pg. 806.
21

O Monte das Oliveiras é um lugar essencial na narrativa de Lucas para o evento-


Cristo, é aqui que Jesus ora em agonia para não ser tentado e é preso. Mas o monte é
importante também porque as pessoas vêm cedo para escutar o ensinamento de Jesus, são seus
catecúmenos65.

65
Idem pg. 807-808.
22

2. Confessando a Escatologia nos Pais Pré-Concílio de Nicéia

Os Pais da Igreja são o marco na história, o “recém-fundado” cristianismo, tratado


inicialmente como seita judaica pelos Romanos66, começou a sofrer perseguição pesada ao
longo de 300 anos, até Constantino governar67. Vamos ver com mais intensidade as
confissões de Clemente (Romano), Inácio de Antioquia, Justino Mártir e de Irineu de Lyon,
mas passaremos por outros credos de outros Pais, na medida em que estes professam uma
escatologia.

O único Pai da Igreja que será necessária uma abordagem mais ampla será Clemente, pois
há apenas uma epístola cuja autoria não há grandes dúvidas. Os demais Pais serão tratados
diretamente em fôrmas de credo.

a) Clemente (Romano; 30-100 A.D.), epístola aos Coríntios

Clemente é considerado o primeiro Pai da Igreja, é (possivelmente) o mesmo referido por


Paulo na carta aos Filipenses (Fp 4:3) e é o primeiro a elaborar um escrito cristão depois do
Novo Testamento68. Na sua epístola aos coríntios ele trata basicamente da ordem da igreja
com exortações e incentivos. Mas, quase como um parêntese dentro da sua carta, ele nos traz
o ponto de vista da igreja do primeiro século quanto à obra do Criador e a ressurreição no
último dia. Por mais que ele não use as famosas composições Creio ou Cremos (com uma
fôrma), a epístola é um material riquíssimo para compreendermos a formação de um Credo.

Clemente abre sua epístola com a constatação de que os coríntios “foram chamados e
69
santificados pela vontade de Deus através de Jesus Cristo” , isso é de suma importância
devido ao caráter de exortação às boas obras que a epístola possui, visto que ele chega a falar
que a situação da igreja de corinto está pior do que nos tempos de Paulo70:

“E este rumor alcançou não apenas nós, mas aqueles que estão desconectados de nós
(e`teroklinei/j u`parcontaj af‟ h`mw/n i.e. os gentios); que fostes descobertos71 blasfemando no
nome do senhor por causa da [vossa] tolice72, vós estais criando perigo para vós mesmos”73.

66
Cf. CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos. Israel Belo de Azevedo e Valdemar Kroker, trad.
São Paulo: Vida Nova. 2013. Pg. 73.
67
CAIRNS op. cit. pg. 104-106.
68
CAIRNS op. cit. pg. 62.
69
ANF 1, Clem. I (Saudação); Cf. tb. TAP. 1. Pg.8, Clem. I (Saudação): ca,rij u`mi/n kai. eirh,nh apo.
Pantokra,toroj qeou/ dia. Ihsou/ Cristou/ plhqunqei,n.
70
ANF 1, Clem. XLVII:
71
Lampe. Pg. 540. “ ’Epifwra,w: descobrir, flagrar em ação culposa”.
72
BAG. pg. 127: “afrosu,nh: tolice, falta de sentido, moral e intelectual”.
23

Mas um destaque que deve ser feito é o fato da confirmação da Justificação pela fé, sem
obras, e juntamente reafirmando a humanidade de Cristo, parte essencial nas confissões de fé,
que veremos mais adiante:

“Deles74 [dos abençoados do AT] o senhor Jesus Cristo [descende] conforme a carne 75. Deles
[foram erigidos] reis, príncipes e governantes de Judá. Nem são as outras tribos de menor
glória, pois Deus prometeu: “Tua semente será como as estrelas do céu”. Todos, no entanto,
que foram grandemente honrados e engrandecidos, não [o] foram através deles mesmos, ou de
obras ou justiça própria, mas através da vontade Dele. E nós, de igual modo, através da vontade
Dele em Cristo Jesus, fomos chamados, não somos justificados através de nós mesmos, nem
por meio de sabedoria própria, ou compreensão, ou piedade ou por obras que fizemos em
devoção no coração, mas por meio da fé, [e], através da qual, todos foram justificados pelo
Deus Todo-Poderoso desde o início. A Ele seja a glória para os séculos dos séculos. Amém” 76.

Como dito antes, a carta possui um „parêntese‟ sobre a ressurreição. Clemente usa até
o exemplo pagão da fênix para exemplificar77. Ele diz que Deus revela na criação o seu plano
da ressurreição:

“Vamos considerar, amados, como o Senhor (despo,thj) nos prova diariamente que a
ressurreição futura existirá, da qual [Ele] fez o Senhor Jesus Cristo as primícias, tendo sido
ressuscitado dos mortos. Vamos contemplar, amados, a ressurreição que todo tempo acontece.
Dia e noite declaram nos declaram ressurreição. A noite é sono (koima/tai), o dia é levantar
(ani,statai)78, o dia departe, a noite vem” 79.

O testemunho das Escrituras é amplamente utilizado por Clemente, especialmente o


Antigo Testamento. Continuando após o exemplo da fênix, ele escreve?

“Nós consideraríamos uma grande e maravilhosa coisa que o criador do universo (o`
dhmiourgo,j) traria a ressurreição daqueles que serviram Ele em piedade, em confiança de uma
boa fé, quando ele nos mostra a grandeza de sua promessa até mesmo através de um pássaro?
Pois Ele diz em um lugar: „e Tu me levantará (exanasth,seij), e eu Te louvarei
80
(exomologh,somai)‟ . E novamente: „eu deito e durmo (ekoimh,qhen kai. u;pnwsa), levantei

73
TAP 1, Clem. XLVII.
74
Há certa obscuridade, pois não se sabe qual é o referencial antes, mas o cap. XVII refere-se a bênçãos dadas
aos “pais da fé” do AT e sobre as doze tribos.
75
TAP 1, Clem. XXXII: “ex autou/ o` ku,rioj Ihsou/j to. kata. sa,rka.”
76
TAP 1, Clem. XXXII; cf. tb. ANF 1, Clem. XXXII.
77
TAP 1, Clem. XXV; cf. tb. ANF 1, Clem. XXV.
78
Um pequeno jogo de palavras, onde o sono é para a morte e o dia para a ressurreição. Cf. BAG pg. 69 e 438.
79
TAP 1, Clem. XXIV; Cf. tb. ANF 1. Clem. XXIV.
80
Possivelmente uma citação ex cordis do Sl. 27:7 (28:7); Outra tradução [do grego] possível é confessar!
Lampe pg. 499; BAG pg. 276.
24

(ἐμεγέξζελ) porque Tu estás comigo‟81, e, novamente, Jó diz: „Tu levantarás (anasth,seij) esta
minha carne a qual tem resistido todas essas coisas‟” 82.

Clemente exorta a todos que tenham esperança,

“pois Ele é fiel em suas promessas e justo em Seus julgamentos. Ele que comandou que não
mentíssemos, Ele muito certamente não mente... Na Palavra da sua Majestade (en lo,gw| th/j
megalwsu,nhj), Ele estabeleceu todas as coisas, E na Palavra Ele destrói elas (en lo,gw| du,natai
auta. katastre,yai)... Quando Ele quer e como Ele quer, Ele fará todas as coisas, e nenhum de
seus decretos passará” 83

Esta última constatação nos lembra do texto de Lucas, quando Cristo diz que suas
palavras não passarão. Ele ainda atesta o juízo eminente esperado pela Igreja, “visto que todas
as coisas são vistas e ouvidas por Ele, devemos temê-lo, e abandonar os desejos da má ação,
84
para que possamos ser protegidos do julgamento que virá” . Outra ligação que podemos
fazer com o texto de Lucas é o fato da Igreja ser perseguida, Clemente diz que “os justos
sofrem perseguição”, basta observar as expressões do Espírito Santo nas Escrituras, ele cita
diversas histórias de perseguição, mostrando que “tudo pode dar errado” para a igreja de
Cristo na terra, “mas aqueles que resistiram com confiança essas coisas são, agora, herdeiros
da glória e honra e foram exaltados e feitos ilustres por Deus no seu memorial para sempre e
85
sempre. Amém” . A esperança é o grande pano de fundo para a escatologia de Clemente,
nessa esperança são trabalhadas as exortações às boas obras: “vamos nos aproximar Dele em
piedade da alma, levantando mãos puras e imaculadas a Ele, amando o nosso gracioso e
86
misericordioso (e;usplancnon) Pai, o qual nos fez parte da Sua própria escolha” . Ele
continua mais adiante: “Vendo que somos parte dO que é Santo, façamos todos os atos de
santificação, fugindo de falar mal e hábitos abomináveis e impuros...” 87.

O grande aspecto confessional (no caráter de confissão) aparece próximo ao final da


epístola, nos capítulos LI e LII. Clemente trata da confissão de pecados. “Vamos implorar
pelo perdão de todas as transgressões que tenhamos cometido pela sugestão do adversário”,
pois todos devem reconhecer suas transgressões para que o coração não seja endurecido,
assim como aqueles “que se opuseram à Moisés, o servo de Deus e cujos a condenação foi

81
Outra provável citação ex cordis. Sl. 3:6.
82
TAP 1, Clem. XXVI (cf. tb. XXXIII); Cf. tb. ANF 1, XXXIII, XXVI.
83
ANF 1, Clem. XXVII; Cf. tb. TAP 1, Clem. XXVII.
84
Cf. TAP. 1. Clem. XXVIII; cf. tb. ANF. 1. Clem. XXVIII.
85
Cf. TAP. 1. Clem. XLV; cf. tb. ANF 1. Clem. XLV.
86
Cf. TAP. 1. Clem. XIX; cf. tb. ANF 1, Clem. XIX.
87
Cf. ANF 1. Clem. XXX; cf. tb. TAP. 1. Clem. XXX.
25

88
manifestada. Pois eles foram vivos para dentro do Ades, e a morte os engoliu” . Ele
continua: “O Senhor (o` despo,thj), irmãos, não precisa de nada (a`pa,ntwn); não deseja nada de
ninguém, a não ser a confissão para Ele (exomologei/sqai autw|)/ . Pois diz o escolhido Daví: Eu
confesso ao Senhor, e isso o agrada mais do que um boi com chifres e cascos 89... Pois o
sacrifício para Deus é espírito quebrantado90” 91.

O ato confessional é, para Clemente, esperar na vontade de Deus. Mesmo que existam
adversidades para a Igreja, a promessa de Deus é de que Ele a abençoa. O martírio é só parte
da vida da Igreja e é como dito anteriormente, a forma mais forte de testemunho. Deus é o
Criador (o` dhmiourgo,j), Ele fez tudo com Sua Palavra e pode desfazer tudo com a Mesma. Ele
enviou o Senhor (ku,rioj) em carne, que realmente sofreu, mas é um tipo da ressurreição para
a Igreja. No Dia Final, Deus ressuscitará a todos, mas haverá aqueles que serão condenados.
O inimigo faz com que ocorram más obras, e a confissão é nossa arma de misericórdia. O
Espírito Santo faz a manutenção da nossa confiança em Deus, ele nos leva ao testemunho, nos
leva a confirmar nossa esperança escatológica, até o dia em que Cristo voltar: “logo e
subitamente Sua vontade será completa” 92.

b) Inácio de Antioquia (Séc. I-II A.D.), Epístola à Esmirna e Epístola aos Trálios

Inácio foi preso devido ao testemunho cristão, foi sentenciado a morrer em Roma,
devorado por bestas. Suas epístolas datam por volta de 110 A.D. e lidam com o docetismo e o
gnosticismo. Por isso incisiva afirmação na humanidade, morte e ressurreição de Cristo93.
Pequenas partes de duas diferentes epístolas serão analisados, visto que sua obra é vasta. A
epístola à Esmirna e o capítulo IX da epístola aos Trálios.

b.1) Epístola à Esmirna

Inácio faz abre a carta à Esmirna com uma breve saudação e um agradecimento a Deus
pela fé da Igreja na cidade. Então ele constata:

“Pois eu tenho observado que vós estais estabelecidos em uma fé estável, como se pregada na
cruz do Senhor Jesus Cristo, em carne e espírito, e confirmada em amor pelo sangue de Cristo,
sendo completamente convencidos, como se estivessem tocando nosso Senhor, que Ele é

88
ANF 1, Clem. LI; Cf. tb. TAP. 1. Clem. LI.
89
Provável citação ex cordis com modificação (deliberada?): Sl 68:31-32.
90
Provável citação ex cordis: Sl 50:19.
91
Cf. TAP 1. Clem. LII.
92
Cf. TAP 1. Clem. XXIII; Cf. tb. ANF Clem. XXIII.
93
Cf. CAIRNS op. cit. pg. 63.
26

verdadeiramente da família de Davi de acordo com a carne, Filho de Deus pela vontade e
poder de Deus, verdadeiramente nascido da Virgem, batizado por João, pois “toda justiça
deve ser completa nele”, verdadeiramente pregado num madeiro, em carne, pelo nosso bem,
sob Pôncio Pilatos e Herodes, o Tetrarca, (e somos nós frutos da sua divina e abençoada
paixão), a fim de deixar sinais para os séculos por meio da sua ressurreição, para que os seus
santos e fiéis, seja entre os Judeus ou entre os gentios, em um só corpo da sua Igreja. Pois ele
sofreu todas essas coisas por nossa causa, a fim de que nos salvássemos... Pois, pelo que eu
creio e sei, depois da ressurreição, ele [está] em carne94.

A encarnação de Cristo é afirmada com veemência, o evento-Cristo realmente


aconteceu. Os sinais do fim em Cristo são atestados por Inácio. A passionis et mortis de
Cristo é a nossa garantia de salvação. Sua ressurreição é a garantia da nossa ressurreição. Ele
continua:

“Jesus têm poder sobre isso [seu martírio]. Pois se foi meramente em aparência que estas coisas
foram feitas por nosso Senhor, eu sou, também, um prisioneiro em aparência. E por que eu
tenho dado a mim mesmo para a morte, para o fogo, para a espada, para as feras selvagens?
Pois quanto mais perto (evggu.j) a espada, mais perto (evggu.j) [está] Deus; junto com as bestas é
junto de Deus; unicamente, em nome de Jesus Cristo, eu estou resistindo todas as coisas, eu
sofrerei com ele, o próprio Homem Perfeito me dá força” 95.

A garantia da ressurreição e da presença de Cristo na aflição é motivo para aguentar a


morte, por mais terrível que seja, “a Paixão (pa,qoj) é nossa ressurreição” 96.

Outro aspecto destacado por Inácio é o julgamento:

“Não deixe ninguém ser enganado; até mesmo as coisas no céu e a glória dos anjos, e os
governantes do visível (o`ratoi,) e do invisível (avo,ratoi), se não creem no sangue de Cristo, é
destes o julgamento. “Aquele que recebe, deixe recebê-lo” 97

A nossa segurança reside no sacramento, que perdoa pecados por ser real corpo e
sangue de Cristo:

“Eles se abstêm da Santa-Ceia e oração porque não confessam (o``mologei/n) que a Eucaristia é a
carne de nosso Salvador Jesus Cristo, que sofreu por nossos pecados, o qual o Pai ressuscitou

94
TAP 1, I.S. I-III [italico adicionado].
95
Idem. IV.
96
Idem. V.
97
Idem. VI.
27

por sua bondade. Eles, que negam o dom de Deus, estão perecendo em suas disputas; mas era
melhor para eles unirem-se em amor, a fim de que Ressuscitem” 98.

A Santa-Ceia é sinal e lembrança, ela é o verdadeiro corpo de Cristo, isso nos dá a


lembrança do sofrimento em nosso lugar e é sinal para que, assim como foi no evento-Cristo,
nós ressuscitemos e desfrutemos do Paraíso.

“A Santa Ceia... comprovadamente é um acontecimento escatológico no sentido de nos


proporcionar o recebimento das bênçãos divinas antecipadamente e de nos remeter para o
cumprimento definitivo do Reino de Deus, que se dará no Dia do Senhor, quando, então,
cearemos face a face com Cristo” 99.

b.2) Epístola aos Trálios

A profissão de fé dessa epístola segue:

“Sejais surdos, quando alguém falar em discordância de Jesus Cristo, o Filho de Deus, o qual
descende da família de Davi, nascido de Maria, que foi realmente nascido de Deus e da
Virgem, verdadeiramente tomou corpo. Pois a Palavra (o`` Lo,goj) se fez carne e habitou entre
nós, sem pecado. Verdadeiramente comeu e bebeu, verdadeiramente sofreu perseguição sob
Pôncio Pilatos, foi verdadeiramente – e não em aparência – crucificado e morreu, o qual foi
também verdadeiramente ressuscitado dos mortos – ressuscitado depois de três dias – Seu Pai
ressuscitando-o. E, depois de ter passado quarenta dias com os apóstolos, foi levantado e
recebido pelo Pai, e senta na Sua mão direita, esperando até os inimigos serem postos debaixo
de seu pé” 100.

Uma característica de Inácio é a recorrente demonstração do evento-Cristo conosco.


Seja no fato de Ele comer e beber, ter uma mãe, amigos e sofrer perseguição. Coisas que os
congregados se identificam. Mas há um diferencial, Ele morreu, porém, ressuscitou, foi
perseguido, mas venceu, ou seja, Ele é o tipo do princípio do Grande Reverso para a Igreja, e
n‟Ele, ela encontra esperança para o futuro.

c) Justino Mártir (100 – 165 A.D.), Apologias e Diálogo com Trifo.

Justino é chamado como o mais importante apologista do segundo século. Passou por
diversas escolas de filosofia, mas nunca ficou satisfeito, até que alguém lhe indicou a Bíblia.

98
Idem VII.
99
BENATI, Rosemir M.; A Santa Ceia como um Evento Escatológico in I.L. vol. 72, nº1, pg. 38 (06/2013).
100
CRC pg. 11-12. O texto é composto por diversas partes da epístola e posto sob a fôrma de Credo, sendo a
maior parte de seu Corpus o capítulo IX; Cf. tb. TAP. Ignatius to the Trallianis I-XIII (IX).
28

Ele argumenta sobre o erro de se perseguir os cristãos, pois eles não são uma ameaça por
causa da moralidade atribuída a Cristo. Esse é o grande assunto por detrás de suas apologias,
pois ele tenta convencer os líderes e governantes que a perseguição está errada 101.

Na sua primeira apologia, Justino Mártir nos “dá” uma fôrma de credo. Não se sabe se
isso foi devido a apologia a favor do não-ateísmo ou se foi decorrente da polêmica contra as
heresias, ou ainda se foi utilizada de forma evangelística102. Justino traz uma fôrma de Credo
Trinitária, diferente dos outros dois Pais que analisamos, ambos creem na Trindade, como
pudemos ver, mas não a trazem junta, na forma de credo.

“Portanto, não somos ateus, adoramos o Criador (to.n dhmiourgo,n) de tudo (tou/de tou/ panto.j)...
[Ele], O Mestre (to.n dida,skalon) que nos ensinou isso e para isso foi gerado (gennhqe,nta),
Jesus Cristo, que foi crucificado sob Pôncio Pilatos, o governador na Judéia no tempo de
Tibério César, tendo aprendido que Ele é o Filho do Deus verdadeiro, em segundo lugar (evn
deute.ra| cw.ra e;contej); em terceiro lugar (evn tri.th| ta,xei), aceitamos reverenciar o Espírito
Profético...” 103.

Sua escatologia não é muito aprofundada, mas existem referências ao que ocorrerá no
fim. Para Justino, as almas estão em um estado de percepção (aivsqh,sei) após a morte104. A
ressurreição é uma espera para reavermos nosso corpo pelo poder de Deus, pois “para Deus
105
nada é impossível” . “O inferno é um lugar de punição para aqueles que tiveram vida
106
perversa e que não creem nas coisas que Deus ensinou por meio de Jesus Cristo” , a
Eucaristia é sinal do perdão dos pecados, o verdadeiro corpo e sangue de Jesus Cristo107. Deus
ressuscitará a todos os homens e então os recompensará de acordo108, pois aqueles que
confessam não fazem pecado para si, mas andam nas Obras Dele109, os perversos e descrentes
perecerão através fogo eterno da punição (aivwni,an dia. puro.j katadi,khn)110.

Para Justino, a definição de confissão é:

101
CAIRNS op. cit. pg. 90-91.
102
PELIKAN, Jaroslav; Credo: Historical and Theological Guide to Creeds and Confessions of Faith in the
Christian Tradition. New Haven: Yale University Press. 2005. Pg.388.
103
Justino Mártir, Primeira Apologia cap. 13; cf. P.T. Justin Martyr Apologies – First Apology 13 (Cf. tb. ANF
1, Justin Martyr First Apology cap. 13.
104
Idem. Cap. 18.
105
Idem. Cap. 19.
106
Tradução livre. Cf. P.T. Justin Martyr Apologies – First Apology 19.
107
Justino Mártir, Primeira Apologia cap. 66.
108
Idem. cap. 44.
109
Idem. Cap. 8.
110
Idem. Cap. 12.
29

“E vós ouvis que nós procuramos um reino, e sem pensar (avkri,twj), falais que nós [buscamos
um reino] de homens; entretanto, nós falamos do que está com Deus, como na confissão
(o`mologei/n) daqueles que são julgados por vós por serem Cristãos, pois eles conhecem que a
morte é a punição esperada para aquele que confessa (tw|/ o`mologou/nti). Se procurássemos por
um reino de homens, para, pelo menos, não perdemos pela morte o que esperamos, negaríamos
a fé. Mas nossa esperança não é no presente, portanto não nos importamos com a execução,
pois a morte é o pagamento que deve ser feito” 111.

Justino coloca a confissão em um caráter escatológico, pois os Cristãos não estão


preocupados com coisas do presente. Sua segurança está no Reino de Deus. Novamente o
evento-Cristo toma parte na sua confissão.

Do diálogo com Trifo, podemos identificar as tentações do inimigo e a atividade do


Reino ainda na igreja primitiva. Partes da Apologia e do Diálogo com Trifo soam familiares,
pois foram incorporadas no Credo Niceno-Constantinopolitano112. Justino escreve:

“Em nome deste mesmo Filho de Deus e primogênito de toda criação. Que nasceu por meio da
Virgem e se tornou um homem passivo, foi crucificado sob Pôncio Pilatos por seu povo,
morreu, ressuscitou dos mortos, ascendeu aos céus, todo demônio é exorcizado, conquistado e
subjugado” 113.

Mas como trazido por Voelz114, o Reino é cada vez menos ativo com o passar do
tempo.

d) Irineu (Sec. II-III A.D.), Adversus Hereses

Irineu lutou veementemente contra a heresia gnóstica, por meio dele ouvimos pela
115
primeira vez da existência do “evangelho de Judas” , e também sabemos da heresia
marcionita e da esperança da Ressurreição116.

No livro I da sua obra Adversus Hereses ele escreve:

“A Igreja, espalhada pelo mundo (th/j oivkoume,nes), recebou dos Apóstolos e dos discípulos a fé
(th.n [pi,stin]) em um Deus Pai Todo-Poderoso117, que fez o céu118 e a terra, o mar e todas as

111
Tradução livre. Cf. P.T. Justin Martyr Apologies – First Apology cap. 11.
112
Cf. PELIKAN op. cit. pg. 391-392.
113
ANF 1, pg. 241.
114
VOELZ op. cit. 252.
115
ANF 1, Against Heresies I, XXXI. Pg. 358.
116
Irineu, Adversus Hereses IV.
117
“ vEij e[na Qeo.n Pate,ra pantokra,tora” – CRC, pg. 13; Cf. CRC pg. 57.
118
Tempo Perfeito; pepoihko,ta
30

coisas nele; [fé] em um Cristo Jesus, o Filho de Deus, que se fez carne119 para nossa salvação;
e em um único Espírito Santo, por meio de que os profetas pregaram a dispensação do
advento, e o nascimento da Virgem, a paixão (pa,qoj), a ressurreição dos mortos, a ascensão
aos céus, em corpo120, do amado Cristo Jesus, nosso Senhor, e na sua aparição dos céus na
glória do Pai, para compreender todas as coisas em uma cabeça, e para a ressureição de toda
carne de toda a humanidade, e de acordo com a boa vontade do Pai invisível, todo joelho
daqueles que estão no céu, na terra e debaixo da terra deve se curvar perante Cristo Jesus,
nosso Senhor, Deus, Salvador e Rei, e toda língua deve confessá-lo (evxomologh,shtai), e ele
executará juízo justo sobre todos: mandando no eterno fogo os poderes espirituais malignos e
os anjos que transgrediram e apostataram, e os ímpios e injustos (avdi,kouj) e os sem lei e
blasfemos dentre os homens; e dando vida, imortalidade e eterna glória para os justos e santos
que guardaram seus e continuaram em seu amor, alguns desde o inicio, outras a partir das suas
conversões” 121.

A partir dele nós temos a ideia de fé passada de um para outro. Sua ideia escatológica
é semelhante à de Justino Mártir, o que podemos destacar é o uso do termo “a fé” (th/n
pi,stin), o uso do artigo demonstra a fé que alguém crê, não a fé pela qual o homem é
justificado (Rm 3:28) 122.

2.1. O que os Pais podem nos ensinar sobre a confissão?

A fé trinitária é professada desde a origem da Igreja e a função de cada pessoa é


reconhecida desde o princípio. Os pais nos ensinam que confessar é um ato escatológico, pois
não esperamos algo deste mundo, mas sim do Reino de Deus. A confissão de pecados é de
igual modo, escatológica, pois ela é feita sob aspectos de Lei e Evangelho, a contrição do
julgamento vindouro nos traz arrependimento e a certeza do perdão nos faz lembrar das
palavras de Cristo em Lc 21:33, “os céus e a terra passarão, mas minhas PALAVRAS de
modo nenhum passarão”, para isso ele instituiu a Ceia, um sinal do banquete eterno que nos
espera junto a Ele. A Igreja passou e ainda passa por perseguições, seja em forma brutal ou
em heresia, mas o fato de Cristo, no evento-Cristo, todas às vezes confessado pelos pais, ter
passado pelo mesmo que a Igreja passa. Isso nos dá a segurança da sua presença real e da
justiça vindoura. O ato da confissão pode ser feita externamente até por um demônio, mas
apenas o confessar assimilado pela fé no objeto certo é obra Divina em nós123. O confessar

119
Sarkwqe,nta; cf. tb. CRC pg. 57.
120
e;nsarkoj
121
Tradução Livre. CRC pg. 13-14.
122
Para uma discussão completa sobre “fé” e “a fé”, cf. PELIKAN op. cit. pg. 47-50.
123
Ibidem.
31

faz parte do “Vigiai” 124, e as perseguições, falsas profecias são outros sinais de que os tempos
do fim, inaugurados no evento-Cristo, estão próximos.

124
Lc 21:36.
32

3. Confessando nos Concílios Ecumênicos

Começando pelo Concílio de Niceia (325 A.D.), passaremos pelos credos dos dois
primeiros e pelos anátemas do quinto, ou seja, o Primeiro Concílio de Niceia, depois para
o Primeiro Concílio de Constantinopla e terminaremos com o Segundo Concílio de
Constantinopla (1º, 2º e 5º Concílios, respectivamente) e com destaques às mudanças na
concepção do evento-Cristo e da escatologia. Os anátemas do quinto concílio serão
tratados com o credo do segundo.

3.1. O Concílio de Niceia (325 A.D.)

O Concílio de Niceia foi convocado pelo imperador Constantino para controlar a


controvérsia ariana. Quanto às controvérsias a respeito do motivo do favorecimento do
cristianismo, não vamos adentrar aqui125. Partiremos do Credo assinado pelo concílio:

“O Sínodo em Niceia traz este Credo: Nós cremos em um Deus, Pai Todo-Poderoso
(pantokra,tora), criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um Senhor Jesus Cristo,
Filho de Deus, filho unigênito126 do [seu] Pai, da substância do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz,
verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não criado (gennhqe,nta ouv poihqe,nta),
consubstancial (o`moou,sion) com o Pai, por meio de quem todas as coisas foram feitas 127, tanto
as no céu como na terra. Que, por causa de nós homens e por causa da nossa salvação, desceu
[dos céus], se fez carne (sarkwqe,nta) e se tornou homem. Sofreu (paqo,nta), ressuscitou no
terceiro dia e ascendeu aos céus. E voltará (evrco,menon) para julgar os vivos e os mortos. E no
Espírito Santo. – Se alguém falar que houve um tempo em que o Filho de Deus não era (h;n
pote o]te ouvk h=n), ou que, antes de ser gerado, Ele não era, ou que Ele é de uma diferente
substância ou essência, ou que Ele é uma criatura, ou sujeito a mudanças ou conversão, a estes
anatematiza a Igreja Católica e Apostólica” 128.

“Uma confissão de fé é da maior necessidade para estabelecer nossa fé e opor


129
heresias... um grupo Cristão não poder ser chamado de Igreja se não tem uma confissão” .
A confissão que fazemos, quanto à gramática,

“identifica o objeto do crer: (1) [...] „genitivo objetivo‟; (2) Uma frase preposicional,
normalmente com “em” (eis com o caso acusativo do grego, in com o caso acusativo do

125
Para maiores informações cf. CAIRNS op. cit. 104-106 e SCHAFF, Philip; Nicene and Post-Nicene
Christianity: History of The Christian Church A.D. 311-600 (vol. III). 1882. Epub Edition. – Cap. The
Council of Nicaea, 325.
126
Monoghnh/ - Cf. BAG pg. 529; Cf. tb. Lp. 880-881.
127
Di ov u- ta. panta. evge,neto
128
Cf. MANSI, Giovanni Domenico; Sacrorum Conciliorum Nova et Aplissima Collectio, 53 vol. Florência.
1758 - 1798. (vol. 3, 665-668); Cf. tb. 7EC pg. 3.
129
PELIKAN op. cit. pg. 63.
33

Latim), mas também com outras preposições como epi e en; (3) uma clausula dependente,
acreditando que aquilo realmente aconteceu, declarando uma proposição doutrinal que é tida
como acurada, ou um evento na história da salvação que é dito que realmente aconteceu. [...] A
construção gramatical do Credo Niceno-Constantinopolitano em grego é uma combinação e
uma adaptação do segundo e do terceiro destes [pontos]. [...] Os títulos distintivos e atributos
de cada [pessoa] são postos em aposição com o pronome pessoal acusativo, também como
objeto da crença... Especialmente na linguagem do credo sobre a história temporal e terrena da
segunda pessoa da Trindade como o unigênito Filho de Deus, que se fez carne, acreditar que
„essas‟ proposições ou eventos históricos são verdadeiros toma a forma de particípios, [que
são] usados como substantivos no Grego... que foram transformados em relativos no Latim”
130
.

A confissão feita é um atestar o evento-Cristo em toda sua potencialidade. A fé


atestada pelo Credo Niceno é trançada especialmente para atestar a divindade de Cristo,
trazendo o fato de que Ele é quem voltará para julgar vivos e mortos. Essa cláusula está em
aposição às clausulas da “humanidade” de Cristo, pois Seu segundo advento será um Grande
Reverso, onde o sofrimento se tornará em alegria131. Qualquer um que negar Sua divindade
deverá ser anatematizado.

3.2. O Concílio de Constantinopla I (A.D. 381) [e os anátemas de Constantinopla II


(A.D. 553)]

A fé de Niceia é reafirmada, mas com a adição de novas cláusulas no segundo e


terceiro artigos. Esta é a forma “final” do Credo.

“Cremos em um Deus, Pai Todo-Poderoso (pantokra,tora), Criador de céus e terra, das coisas
visíveis e invisíveis; E em um Senhor Jesus Cristo, Filho unigênito (to.n monoghnh/) de Deus,
gerado do Pai antes de todos os mundos (pro. pa,ntwn tw/n aivw,nwn), Luz de Luz, verdadeiro
Deus de verdadeiro Deus, gerado, não criado (gennhqe,nta ouv poihqe,nta), da mesma substância
com o Pai (o`moou,sion tw/| patri,); por meio de quem todas as coisas foram feitas; que, por causa
de nós, homens132, e por causa da nossa salvação, desceu dos céus e se encarnou (sarkwqe,nta)
pelo Espírito Santo na Virgem Maria e habitou na humanidade (evnanqrwph,santa), foi
crucificado por nós133 sob Pôncio Pilatos. Ele sofreu (paqo,nta) e foi sepultado, e ressuscitou no
terceiro dia segundo as Escrituras, ascendeu aos céus, e está sentado na Destra do Pai, e virá
novamente, em Glória, julgar os vivos e os mortos; o qual o Reino não terá fim.; E no Espírito

130
PELIKAN op. cit. pg. 51-52.
131
Lc 21:29-36.
132
No sentido de humanidade.
133
Outra tradução: “em nosso favor”. BAG. pg. 846 (u`pe,r).
34

Santo, o Senhor [e] Vivificador, que procede do Pai [e do Filho 134], e que, juntamente com o
Pai e o Filho, é adorado e glorificado, que falou por meio dos profetas.; Em uma santa Igreja
Católica e Apostólica135.; Confessamos (o`mologou/men) um Batismo para perdão de pecados.
Esperamos a ressurreição dos mortos e a vida do mundo vindouro (zwh.n tou/ me,llontoj
aivw,noj)”136 .

A eternidade é citada duas vezes no credo, a primeira quando a Segunda Pessoa é


gerada antes da eternidade, a segunda quando professa-se a espera por ela. O evento-Cristo é
reproduzido de forma muito parecida com os Pais que vimos acima, e a Lei e o Evangelho
perpassam por toda a construção, algo que será visto com mais detalhe ao tratarmos da CA.
Mas talvez o aspecto mais importante, se tomarmos a interpretação de Pelikan 137, é a luta
contra heresias que limitam o poder de Deus, indo contra a máxima de que “para Deus nada é
impossível” 138. Essa é a luta dos Anátemas do Quinto Concílio Ecumênico (Contantinopla II
– A.D. 553) e do Imperador Justiniano. Seja aos que tentam dividir o evento-Cristo em duas
partes, como se Deus fosse uma coisa e quem sofreu na cruz fosse outra 139, limitando Deus a
não poder sofrer. Ou pior, que Cristo era apenas um homem, não o Deus encarnado, mas que
Deus escolheu alguém para realizar o evento-Cristo, isso é por uma algema no Criador, se Ele
nos Criou, por que Ele não pode gerar um corpo para Si?140.

Grande parte dos anátemas contra Orígenes se dá na esfera da escatologia. Quando se


nega uma paz eterna, mas que existe a possibilidade de “encarnar” ou transformar-se em
outras “coisas” 141, se fosse isso, de que valeria o testemunho trazido por Cristo em Lc 21:13,
se a Eternidade nunca alcançaria a testemunha? Cristo mesmo nos dá a segurança de uma paz
eterna ao falar: “nem mesmo um único fio de cabelo das vossas cabeças cessará de existir, na
142
vossa perseverança ganhareis a vossa alma” e “Estando tais coisas para acontecer,
143
„recomponde‟ e erguei vossa cabeça, pois está próxima a vossa redenção” . A frase final
do credo é essencial, pois é nessa fé confessada que esperamos, ou seja, ao mesmo tempo em

134
Edição latina da Igreja Ocidental: Filioque. Cf. CRC. Pg. 59.
135
Eivj mi,nan a`gi,an kaqolikh.n kai. avpostolikh.n evkklhsi,an
136
Tradução livre. Cf. CRC pg. 57-58; Cf. tb. 7EC pg. 163.
137
PELIKAN op. cit. pg. 63.
138
Lc 1:37.
139
7EC pg. 312. Capítula III.
140
Idem. Pg. 313. Capitula VI.; cf; tb; capitula X e XII (pg. 314-315).
141
Idem. Pg. 318-319. Anátemas V–VII.
142
Lc 21:18-19.
143
Lc 21:28.
35

que é algo objetivo, é subjetivo, algo da identidade de cada pessoa, você é justo pela fé, mas
professa a salvação144, seja em obras ou com a língua, assim como os Pais que vimos acima.

144
PELIKAN op. cit. pg. 35-37; cf. tb. Rm 10:9: “ὅηη ἐὰλ ὁκνινγήζῃο ἐλ ηῷ ζηόκαηί ζνπ θύξηνλ Ἰεζνῦλ θαὶ
πηζηεύζῃο ἐλ ηῇ θαξδίᾳ ζνπ ὅηη ὁ ζεὸο αὐηὸλ ἤγεηξελ ἐθ λεθξῶλ, ζσζήζῃ· θαξδίᾳ γὰξ πηζηεύεηαη εἰο
δηθαηνζύλελ, ζηόκαηη δὲ ὁκνινγεῖηαη εἰο ζσηεξίαλ.”
36

4. A Confissão de Augsburgo (1530)

A CA abre com a reafirmação de “que decreto do Concílio de Niceia sobre a unidade


da essência divina e sobre as três pessoas da é verdadeiro e deve ser crido sem qualquer
dúvida” 145. Ela reafirma o evento-Cristo, ou seja, seu caráter, como as confissões dos Pais, é
escatológico, “pode-se notar que os confessores entenderam sua época como sedo parte dos
últimos tempos, de modo que a perspectiva das Confissões Luterana como um todo é
escatológica” 146.

O artigo II da CA nos dá o primeiro passo para a necessidade do evento-Cristo,

“depois da queda de Adão, todos os homens... nascem em pecado, isto é, sem temor de Deus,
sem confiança em Deus e com concupiscência, e que essa enfermidade ou vício original,
verdadeiramente, é pecado, que condena e traz a morte eterna, ainda agora, aos que não
nascem pelo batismo e pelo Espírito Santo” 147.

Ou seja, todo ser humano está fadado a ser julgado por Deus e, sem o sacramento, não há a
possibilidade de salvação. Esta que foi conquistada por Cristo,

“verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, que, nascido da Virgem Maria, veramente


sofreu, foi crucificado, morreu e foi sepultado, a fim de reconciliar-nos com o Pai e ser um
sacrifício, não só pela culpa original, mas, ainda, por todos os pecados atuais dos homens.
Também desceu ao inferno e verdadeiramente ressuscitou no terceiro dia. Depois, subiu ao céu,
para assentar-se à destra do Pai, perpetuamente reinar e dominar todas as criaturas, e santificar
os que nele creem, pelo envio, aos seus corações, do Espírito Santo, que os reja, console,
vivifique e os defenda contra o diabo e o poder do pecado. O mesmo Cristo voltará
visivelmente, a fim de julgar os vivos e os mortos...” 148.

O evento-Cristo precisou ocorrer para que tivéssemos acesso à salvação. Mas o evento-Cristo
ainda terá um grand finale, quando Ele descer e vir julgar a humanidade. É nesta tensão entre
a vida terrena e a promessa ou, em um jargão mais conhecido, o já e o ainda não é que a
escatologia toma seu papel. Ela tem o trabalho de mostrar que houve um evento-Cristo que
inaugurou um tempo da graça, onde a justificação pela fé é a porta para a salvação em Cristo
Jesus, mas o pecado e o inimigo ainda atacam, fazendo um contraponto às obras provenientes

145
CA I, 1 (itálico adicionado).
146
LINDEN, G.L.; Milenarismo ao Longo da História da Igreja à Luz do Artigo XVII da Confissão de
Augsburgo in Theophilos , Canoas, RS, v. 2, n.2, p. 53-77, 2002. Epub edition. – cap. 4.1: A Perspectiva
Escatológica das Confissões Luteranas.
147
CA II, 1-2.
148
CA III, 2-6.
37

da fé149. Por causa disso, Jesus deixou instituídos os sacramentos, que são ministrados por um
alguém que ensina o evangelho da promessa, “pois, mediante a palavra e pelos sacramentos,
como por instrumentos, é dado o Espírito Santo, que opera a fé, onde e quando agrada a Deus,
naqueles que ouvem o evangelho” 150. Schlink escreve:

“O Evangelho não é apenas a promessa do perdão, mas a real aplicação do perdão, não apenas
um prospecto de uma absolvição futura, mas a absolvição futura em si. O Evangelho não é
meramente a promessa da vida eterna, mas nos traduz na vida eterna. Pela fé no Evangelho, nós
temos a vida eterna para a qual nós devemos, um dia, ressuscitar... eles [os sacramentos] são a
certeza de que a escatologia é presente” 151.

E em torno de trazer essa escatologia para o presente que os artigos referentes a


Igreja152 e sacramentos estão escritos, onde as crianças são recebidas na graça de Deus na
necessidade do batismo para a salvação153 e onde os crentes comungam, sob as duas espécies,
o verdadeiro corpo e sangue de Cristo154,

“os sacramentos foram instituídos não apenas para serem notas de profissão entre os homens,
porém, mais, a fim de serem sinais e testemunhos da vontade de Deus para conosco, propostos
para despertar e confirmar a fé nos que deles fazem uso” 155.

Assim a Igreja se torna um agente do Consolo do Evangelho, não em um tempo futuro, mas
no agora voltado para o futuro,

“naqueles que fazem uso do sacramento, recordar quais os benefícios recebidos mediante
Cristo e erguer e consolar a consciência apavorada. Pois recordar a Cristo é recordar os
benefícios e sentir que, verdadeiramente, são oferecidos a nós. E não basta recordar a história,
porque isso também o podem recordar os judeus e os ímpios. A missa, portanto, deve realizar-
se, a fim de, nela, ser administrado o sacramento àqueles que necessitam de consolo, como diz
Ambrósio: „Visto que sempre peco, sempre devo tomar remédio‟” 156.

A confissão e o arrependimento estão relacionados com o perdão dos pecados e, este,


com a escatologia, pois “a fé, que nasce do evangelho, ou absolvição, e crê que os pecados

149
CA IV; VI, 1-2; XIX.
150
CA V, 2.
151
SCHLINK, Edmund. Theology of the Lutheran Confessions. Traduzido por Paul F. Koehneke e Herbert J.
A. Bouman. Philadelphia: Fortress, 1967. Pg. 276.
152
CA V; VII; VIII.
153
CA IX.
154
CA X; XXII.
155
CA XIII, 1.
156
CA XXIV, 30-33.
38

são perdoados por causa de Cristo, consola as consciências e liberta dos terrores. Depois,
devem seguir as boas obras, que são fruto do arrependimento” 157.

“Louva-se o poder das chaves e lembra-se quão grande conforto leva às consciências
aterrorizadas, e que Deus requer a fé para que creiamos nessa absolvição como sua voz que soa
do céu, e que essa fé verdadeiramente alcança e recebe a remissão dos pecados” 158

Essas boas obras se dão na ordem social, não como mérito perante Deus, como dito
antes, mas como uma espécie de testemunho, os cristãos “devem obedecer aos seus
magistrados e às leis, a menos que exijam que se peque, pois, neste caso, devem obedecer
159
mais a Deus do que a homens” . Deve haver cuidado, “pois a glória do mérito de Cristo é
160
lesada quando julgamos ser justificados mediante tais observâncias” . Vigiemos para não
confundirmos o reino dos homens e o reino de Deus, a Igreja trata “da justiça eterna”,
161
enquanto os magistrados fazem a manutenção “das coisas corpóreas” , isso, também,
lembrando-se do testemunho dos Pais estudados acima. Estas ordens são mantidas até a
consumação do mundo, “Cristo aparecerá para juízo e ressuscitará todos os mortos. Aos
piedosos e eleitos dará a vida eterna e perpetuas alegrias; mas aos homens ímpios e ais diabos
162
condenará, para serem atormentados sem fim” . Mas, enquanto não isso não acontece,
passamos por todas as intempéries do mundo, principalmente as que Cristo nos alertou163,
mas orando e no suporte da igreja, ela haverá de ficar de cabeça erguida, quando o evento-
Cristo se consumar, lembrando que tal se manifesta não apenas no fim da história, mas
também na história, através da proclamação do Evangelho164 e da confissão165.

157
CAXII, 5-6.
158
CA XXV, 4.
159
CA XVI, 6-7.
160
CA XXXVIII, 36.
161
CA XXVIII, 8-11.
162
CA XVII, 1-3.
163
Lc 21:12-19.
164
LINDEN op. cit. ibidem.
165
Cf. PELIKAN, op. cit. pg. 60.
39

Conclusão

A confissão de Agsburgo reflete com excelência o testemunho dos Pais que foram
estudados, assim como o caráter do Credo Niceno-Constantinopolitano. Ela também reflete
com maestria o caráter consolador da Palavra de Jesus no sermão escatológico. O aguardo da
consumação do evento-Cristo é algo que se realiza na história, não é algo intangível, visto que
o próprio Cristo nos deixou sinais. A confissão tem sempre um caráter duplo, pois ela se dá
objetivamente, ou seja, com palavras de testemunho, e subjetivamente, com a apropriação do
que foi testemunhado. A fé objetiva todos podem proferir, mas apenas a fé subjetiva é capaz
de ser o meio para a justificação e para o consolo. O testemunho da confissão sempre aponta
para o Reino de Deus em Cristo Jesus, mas através do Evangelho, esse Reino é manifesto para
nós e por nós, enquanto a consumação do evento-Cristo está próxima.
40

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