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PARECER DA PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA

Número do Parecer:
50/1994, de 22.06.1995
Data do Parecer:
22-06-1995

Senhor Procurador-Geral da República,

Excelência:

Em Informação de Serviço dirigida ao Senhor Director-Geral da Polícia Judiciária, o Senhor


Director da DCITE/PJ equacionou, com o propósito de que fossem colocadas à Procuradoria-Geral
da República, as seguintes questões:

(…)

- Finalmente será possível a utilização de agentes encobertos ou sob cobertura, na terminologia


mais utilizada por quase todos os países, ou de homens de confiança da polícia (nomeadamente
empregados bancários, agentes ou angariadores de seguros, operadores cambistas, etc.) em
operações que tenham por base a investigação de redes ou organizações que se dediquem ao
branqueamento de capitais;

- E caso seja possível a utilização desses agentes encobertos podem ser de nacionalidade que não
portuguesa ou seja de nacionalidade estrangeira".

(…)

6.1. As origens históricas do agente provocador remontam às práticas absolutistas dos séculos
XVII e XVIII, privilegiando, então, os crimes políticos (30).

"On dit que l'origine du type provocateur se trouve dans la royauté absolue et dans les pratiques
du

XVII et XVIII siécle en France. Ces agents provocateurs dénonçaient à la Police afin d'obtenir une
récompense du Roi ou des autorités officielles, les personnes qui avaient des idées considerées
subversives, en les incitant tout d'abord à affirmer leurs opinions.

La Police secrète du Roi Louis XIV, plus particulièrement, avait recours à des complots en
provoquant les criminels potenciels à commettre des crimes pour les arrêter plus tard en flagrant
délit...

Au commencement, on utilisait les provocateurs surtout pour l'arrestation des criminels


politiques. Aujourd'hui, dans les pays démocratiques, les provocateurs sont utilisés pour la
découverte des crimes et des crimes ordinaires.

C'est à cause de ce changement que la définition de l'agent provocateur est modifiée.

L'agent provocateur n'a pas d'intérêt direct à obtenir la commission du crime...


Mais dans les Etats démocratiques, l'agent provocateur agit en général pour la sauvegarde de la
défense sociale ... L'agent provocateur utilise dans cette hypothèse des méthodes qui ne sont pas
objectivement recommandables d'après les critères juridiques mais la part qu'il essaie
d'accomplir par ce moyen est juste et légitime.

Il est parvenu à des fins légitimes par des moyens peu recommandables, discutés et considérés
quelquefois dommageables aux droits de l'homme.

Bien que le recours à des agents provocateurs soit un mode d'action assez largement utilisé par
la Police dans presque tous les pays du monde, cette méthode est ouverte à des critiques et
notamment à celles de nombreux juristes"(31).

6.2. A doutrina, em geral, trata a figura em apreço no âmbito do direito penal a propósito da
comparticipação criminosa (32).

Mais especificamente, o provocador é considerado um instigador ("indutor") - aquele que instiga


uma pessoa à comissão de um acto criminoso, com o fim de que o seu autor seja descoberto e
punido (33).

Recentemente, LORIS D'AMBROSIO (34) definiu agente provocador como

"colui che, al fine di pervenire alla scoperta di una organizzazione criminosa o di individuare
l'autore di un reato, finge di essere d'accordo con altre persone e le spinge () alla realizzazione di
un reato o, comunque, participa com esse alla realizzazione di un reato già organizzato".

Por agente provocador, ensina ANTONIO PAGLIARO (35),

"si intende il soggetto che spinge altre persone alla commissione di reati al fine di farli scoprire e
punire".

Próxima destas é a definição que se encontra no Novissimo Digesto Italiano (I, pág. 397):

"é chi induce altri a delinquere allo scopo di farlo condannare. Appunto la particolare finalitá
perseguita, e che differisce da quelle proprie dell'autore de reato, caratterizza l'agente
provocatore".

Em termos semelhantes, escreve SULHI DÖNMEZER (36):

"L'agent provocateur est quelqu'un qui, pour obtenir une récompense matérielle ou bien une
satisfaction morale, pousse d'abord un autre à commetre un crime et le dénonce ensuite aux
autorités officielles, contribuant de cette façon à l'arrestation du criminel en flagrant délit".

Porventura mais amplamente, CARLOS GARCIA VALDÉS (37)diz-nos que o agente provocador é o
agente de polícia ou funcionário que incita, facilita ou cria a ocasião para que se execute um crime
de tráfico de droga, com a única finalidade de provar a participação da pessoa provocada num
facto criminoso.

6.3. Na definição da figura do agente provocador, a generalidade dos autores tem sempre
presente uma (outra) figura próxima - a do agente encoberto ou infiltrado -, avançando alguns
elementos distintivos, numa tarefa reconhecidamente difícil, já que a linha divisória é, por vezes,
muito ténue.

Diz-se, fundamentalmente, que é necessário distinguir entre a criação de uma


intenção/resolução criminosa até então inexistente, e aqueles casos em que o sujeito já está
decidido a delinquir e a incitação apenas pôs em marcha uma decisão previamente tomada.
Por outras palavras: importa distinguir entre a criação de uma oportunidade com vista à
realização de uma intenção criminosa e a criação desta mesma intenção (38), sendo então
legítimo questionar se a intenção de cometer a infracção tem a sua origem no espírito do suspeito
ou no espírito do agente (provocador).

Enquanto o agente provocador fez nascer ou reforçar a resolução criminosa, a acção do agente
encoberto não suscitou infracção, limitando-se a "infiltrar" na organização, com objectivo de
descobrir e fazer punir o criminoso (39), não actuando, pois, para dar vida ao crime, mas com
uma pretensão de descoberta.

Segundo CRISTINA DE MAGLIE (40):

"Invero, rispetto alla figura classica di agente provocatore, il tipo dell'inflitrato rappresenta,
strutturalmente, non solo qualcosa di diverso, ma addirittura di antitetico: si tratta infatti di un
soggetto appartennente o comunque controllato dalla polizia che si insinua in un'organizzazione
criminale e vi rimane a lungo per studiarne le mosse. L'inflitrato non tanto provoca reati - che
l'organizzazione nella sua strutura verticistica programma o ha già programmato da sé - quanto,
piuttosto, è spesso costretto a lasciarsi provocare alla commissione di delitti, che esegue poi lui
stesso, sia per non rivelare la sua vera identità e funzione, sia per penetrare più a fondo
nell'organizzazione.

Peraltro, è bene sottolineare come, nella realità criminologica , risulti difficile distinguere in modo
netto l'attività di un agente provocatore da quella di un infiltrato, potendo la condotta di
quest'ultimo arrivare a ricomprendere ed a porre in essere comportamenti tipici dell'attività
provocatoria .

Mentre l'attività di un agente provocatore è qualificata e circoscritta dal messagio istigaotorio


rivolto al provocato, la gamma delle attività conosciute e peculiarizzanti la figura dell'infiltrato è
cosi ampia e variegata da poter assorbire - tra gli altri - anche lo schema dell'attività provocatoria.

Se questo ha un fondamento sul piano prasseologico, non sembra però condivisibile


l'impostazione di un'autorevole dottrina che tende ad uniformare le due ipotesi, fondendole in
un'unica figura (26). Il diritto ha infatti il compito di distinguere i due fenomini e di differenziarli
sul piano della strutura".

SULHI DÖNMEZER (41), distingue duas hipóteses: "dans une première hypothèse, l'auteur
principal n'avait ancune intention de commettre le crime avant que l'agent provocateur ne l'ait
incité, donc l'idée du crime est uniquement le fait de l'acte de provocation; dans une seconde
hypothèse, l'auteur principal avait déjà l'intention de commettre le crime proposé et même,
probablement, il avait auparavant commis plusieurs crimes de la sorte que l'acte du provocateur
n'a fait que renforcer l'idée du crime déjà conçue et existante".

6.4. O tema com que nos estamos confrontando apresenta soluções diversas em sede de direito
comparado.

Autores há, aliás, que se questionam sobre se a matéria - nomeadamente sob o aspecto da
responsabilidade penal do agente - carece de ser expressamente regulada, concluindo alguns
pela desnecessidade desta regulamentação, tanto na parte geral, como em relação a alguns
crimes específicos (42).

6.4.1. Em França, segundo os referidos artigos L.627-7, al.2, do Código da Saúde Pública, e 67 bis,
do Código Aduaneiro (Lei nº 91-1264, de 19/12/1991), os agentes de autoridade não são
penalmente responsáveis quando "acquièrent, détiennent, transportent ou livrent" substâncias
ou plantas proibidas.

Observa JEAN PRADEL (43) que "les quatres verbes utilisés par le législateur correspondent à deux
pratiques, la livrasion contrôlée ou provocation à l'action et l'infiltration d'un réseau. Avec la
technique de la livraison contrôlée, l'agent de l'autorité se fait passer pour un vendeur ou un
acquéreur de stupéfiants pour identifier et arrêter un trafiquant: il joue donc un rôle actif [...].

Quant à l'infiltration, elle conduit à donner au gendarme, douanier ou policier un rôle plus actif
encore en transportant des marchandises prohibées, en assurant leur conditionnement ou leur
stockage, en jouant les intermédiaires entre offre et demande ...".

E mais adiante (pág. 232):

"... il faut noter à quel point l'expression légale est large. Et il faut ici signaler une différence
importante entre le projet de loi et la loi elle- même. Le projet ne visait pas la livraison de drogue
par les agents de l'autorité. Ce sont les députés qui ont rajouté au texte cette notion de livraison,
à laquelle d'ailleurs la proposition J.

TOUBON n'était pas hostile. Plusieurs raisons avaient été invoquées devant le Parlement,
notamment par M.Sapin, ministre délégué à la Justice, à l'encontre d'une extension du texte
présenté par le Gouvernement: autoriser les fonctionnaires enquêteurs à vendre de la drogue
leur aurait permis d'infiltrer plus les milieux d'usagers de drogue que les milieux de trafiquants
aurait peut-être fait naitre chez certains de ces fonctionnaires des tentations toujours
humainement possibles, et enfin aurait obligé les pouvouirs à prévoir une ligne budgétaire pour
financer des infractions. Très clairement, M. Sapin a déclaré:

"pour resumer, les services de police, de gendarmerie et de douanes ne pourront intervenir à


l'extrémité de la chaine constitutive du trafic, mais ils pourront s'introduire dans celle-ci" Mais les
députés, et après eux les sénateurs, furent d'un avis opposé et à l'unanimité. II semble bien qu'ils
aient eu raison: il est impossible de s'arrêter en cours de route et les actes de transport ou
d'acquisition ne peuvent apporter des résultats tangibles pour l'enquête que s'ils sont complétés
par la possibilité d'opérer des livraisons également. Les practiciens sont bien d'accord là-dessus".

6.4.2. Também em Itália, a Lei de 26 Junho de 1990, u.162, introduziu, pela primeira vez, "la
discussa e ambigua figura dell'agente provocatore" (cfr. artigo 25º, sobre aquisição simulada de
droga) (44).

Posteriormente, o decreto-lei de 8 de Junho de 1992, nº 306, convertido em lei a 6 de Agosto de


1992, pronunciou-se de novo a favor da utilização «di questa problematica tecnica di scoperta e
di ricerca delle prove dei reati".

O diploma modificou alguns pontos fundamentais do Código de Processo Penal, aumentando os


poderes da polícia judiciária e estabelecendo novas regras em matéria de aquisição de provas.

Mais especificamente, o artigo 12-quarter introduziu duas novas causas de não punibilidade - «in
questo contesto di eccezionalità ed urgenza non solo ha trovato spazio la figura dell'agente
provocatore, ma ha iniziato ad essere valorizzata dal legislatore la diversa e più complessa figura
dell'infiltrato: (45).

6.4.3. Na Alemanha, a recente lei de luta contra o tráfico ilegal de estupefacientes e outras formas
de manifestação da criminalidade organizada (Orgkg de 15 de Julho de 1992), formalizou uma
figura legal de V-Mann, chamada de "investigador encoberto ou em segredo" (Verdeckter
Ermittler), destinado a operar nas áreas do tráfico de estupefacientes e de armas, da falsificação
de moedas ou de títulos e nos crimes contra a personalidade do Estado (46).

"Escreve, a propósito, CARLOS GARCIA VALDÉS (47):

"En Alemania por su parte , há existido sólo previsión normativa expresa de una figura semejante
al agente provocador en la legislación sobre el terrorismo y sobre drogas, a través de las figuras
del informador, el confidente (V-Person) y el "investigador secreto" (verdeckter Ermittler),
funcionarios de policía particularmente adiestrados que entran en contacto con el ambiente
criminal a los efectos de investigar los delitos, y cuya entidad se mantiene secreta en el proceso
penal.

Como puede apreciarse, ninguno de estos ejemplos se corresponde estrictamente con el


problema que ahora nos ocupa. Sin embargo, la jurisprupencia ha configurado también la noción
del «V-Mann:, con la que se designa un complejo elenco de actividades de provocación,
evolucionando los fallos jurisprudenciales de conformidad con los cambios de orientación
doctrinales".

6.4.4. Acerca do direito americano, LOUIS SCHOLL

(48) escreve que as infracções sem vítima imediata (em que se inclui o tráfico de droga)
conduziram os serviços de polícia a recorrer à astúcia e à provocação ("entrapment"),
desenvolvendo práticas de vária ordem, em que é possível distinguir as "decoy operations"
("opérations leurre") e as "sting operations" - técnica esta que consiste, nomeadamente, em os
agentes policiais usarem falsas identidades ("undercover agent").

Perante estas prática policiais, a jurisprudência norte-americana desenvolveu um sistema de


defesa, chamado "entrapment defense", visando a proteção de dois valores distintos: 1º, evitar
que pessoas inocentes sejam levadas a cometer crimes; 2º, os tribunais americanos não podem,
em princípio, tolerar práticas policiais excessivas, ainda que o suspeito seja verdadeiramente
culpado ("really guilty").

Para a doutrina actual - observa ainda LOUIS SCHOLL

-, a base da rejeição da provocação policial está contida num dos princípios fundamentais do
direito americano: o direito do cidadão a que se aplique o "due process of law", previsto pelo "Bill
of rights".

Segundo COSTA ANDRADE (49), o direito americano dispõe, para fundamentar e enquadrar a não
punibilidade do "provocado", da chamada "defense of entrapment" - concretização do princípio
"stopped by conduct" -, a qual se encontra hoje inscrita nas codificações penais de quase todos
os Estados da Federação.

Autor que logo de seguida refere os esforços entretanto empreendidos pela doutrina e tribunais
americanos no sentido de melhor precisar e moderar o âmbito de eficácia da "plea of
entrapment", que tenderá, por via disso, a circunscrever-se às hipóteses em que o agente
provocador desencadeia efectivamente o crime, não se limitando a revelar uma já subsistente
propensão para o seu cometimento - a "defense of entrapment" não aproveitará, assim, ao
arguido "Who was predisposed to commit the crime".

6.4.5. O direito processual penal suiço não disciplina a intervenção de agentes infiltrados, mas
segundo a opinião dominante ela é admissível, em princípio, quando a natureza das infracções
pode justificar a intervenção de um agente infiltrado e quando este adopta uma conduta
essencialmente passiva, "sans exercer sur autrui une influence incitative à commettre un acte
criminel - l'agent infiltré s'assure simplement d'une conduite criminelle qui se serait produite
d'une manière analogue ou semblable même sans son intervention".

Porém, no domínio do tráfico de estupefacientes a lei federal suiça prevê expressamente a


possibilidade de recurso a agentes infiltrados, dispondo o artigo 23º, nº

2, nos seguintes termos:

"Le fonctionnaire n'est pas punissable lorsque, à des fins d'enquête, il aura accepté lui - même ou
par l'intermédiaire d'un tiers, une offre de stupéfiants, ou qu'il en aura pris possession
personnellement ou par l'intermédiaire d'un tiers, même s'il n'a pas revélé sa qualité et son
identité".

7.1. Em Portugal, a matéria em geral é estudada por COSTA ANDRADE (50) a propósito dos
métodos proibidos de prova (artigo 126º do Código de Processo Penal), com referência específica
a uma "constelação típica", situada na zona de fronteira - os chamados homens de confiança
(Gewährs-ou Vertraens- Männer).

7.1.1. O autor adopta aqui um "conceito extensivo, abrangendo todas as testemunhas que
colaboram com as instâncias formais da perseguição penal, tendo como contrapartida a
promessa da confidencialidade da sua identidade e actividade. Cabem aqui tanto os particulares
(pertencentes ou não ao submundo da criminalidade) como os agentes das instâncias formais,
nomeadamente da polícia (Untergrundfahnder, under cover agent, agentes encobertos ou
infiltrados), que disfarçadamente se introduzem naquele submundo ou com ele entram em
contacto; e quer se limitem à recolha de informações (Polizeispitzel, detection), quer vão ao
ponto de provocar eles próprios a prática do crime (polizeiliche Lockspitzel, agent provocateur,
entrapment).

Tenham-se em vista hipóteses como: o polícia que disfarçadamente se faz passar por traficante
de droga ou armas; interessado nos serviços duma prostituta ou, mesmo, como mero taxista em
zonas conhecidas pela densidade de suspeitos. Ou noutra perspectiva: na cela de A, recluso em
prisão preventiva,

é colocado B, como se de outro normal recluso se tratasse, sendo certo que é ali colocado para
ganhar a confiança de A e, por esta via, obter informações sobre a sua conduta, a transmitir à
polícia criminal."

7.1.2. Reconhecendo que esta súbita e frequente presença do homem de confiança na praxis
jurídico- processual veio despertar uma série de problemas e de aporias do foro ético e jurídico-
normativo, quer em sede doutrinal, quer no plano jurisprudencial, acrescenta o referido
Professor:

"As dificuldades começam logo a ganhar relevo quando se questiona a legitimidade ético-jurídica
do procedimento, maxime nas formas mais expostas de Lockspitzel. Isto é, em que o homem de
confiança se converte em agent provocateur, precipitando de algum modo o crime: instigando-
o, induzindo-o, nomeadamente, aparecendo como comprador ou fornecedor de bens ou serviços
ilícitos. É, na verdade, cada vez mais forte o coro de vozes que, tanto no direito alemão como
americano, contestam abertamente a solvabilidade ético-jurídica desta prática. Aponta-se para
tanto a imoralidade do Estado que com uma mão favorece o crime que quer punir com a outra.
Acabando, não raro, por atrair pessoas que de outro modo ficariam imunes à delinquência e
potenciando os factores da extorsão, da violência e do crime em geral".

7.1.3. Incidindo a sua especial atenção sobre o ordenamento processual penal português, no
propósito de pôr a descoberto alguns tópicos de equacionação e superação do problema, Costa
Andrade considera que "o recurso ao homem de confiança configurará normalmente um meio
enganoso, sendo, como tal, recondutível à categoria dos métodos proibidos pelo artigo 126º, nº
2, al. a), do C.P.P.".

Mas logo de seguida adverte:

"Não significa isto que o recurso ao homem de confiança esteja, sempre e sem mais, a coberto
de proibição de prova. Isto sabendo-se, além do mais, que a sua admissibilidade está
directamente prevista na lei para o domínio específico dos crimes de tráfico ilícito de
estupefacientes sob a forma de agente encoberto".

Refira-se, por último, que o Professor que estamos acompanhando propende para a
inadmissibilidade da intervenção de homens de confiança com propósitos e para fins unicamente
repressivos - isto é, exclusivamente preordenada à repressão de crimes já consumados -,
admitindo, porém, que o tratamento já poderá ser diverso sempre que o homem de confiança
prossiga finalidades exclusiva ou prevalentemente preventivas (51).

7.2. Para JOÃO RAMOS DE SOUSA (52), agente infiltrado é o agente policial que se insinua junto
dos autores e cúmplices do crime, ocultando a sua qualidade e identidade e ganhando a confiança
destes, a fim de obter informações e provas contra eles, mas sem os determinar à prática de
novas infracções - também é chamado homem de confiança ou agente encoberto (V. Mann, ou
Vertrauens-

Mann em alemão, undercover agent em inglês).

Por seu turno, agente provocador é o agente policial (ou colaborador) utilizado para induzir o
suspeito à prática de actos ilícitos, pelos quais possa ser incriminado, sendo "também instigador
ou co-autor do crime, mas só o é para com isso conseguir provas contra o suspeito".

Reflectindo, também, sobre a admissibilidade ética e jurídica da prova obtida pelo agente
infiltrado (53), este magistrado considera que essa admissibilidade tem sido posta cada vez mais
em causa, argumentando-se ser muito ténue a linha que separa o agente infiltrado do agente
provocador, e que no fundo quando no processo surge um agente infiltrado, "é certo e sabido
que o que na realidade houve foi um agente provocador. Como observava um magistrado e
professor de direito penal alemão, Kreuzer, na actuação do agente infiltrado torna- se patente a
semelhança entre o proceder dos polícias e o dos delinquentes. Munido de todo o tipo de
privilégios (dinheiro abundante, documentação falsa, etc.), o polícia infiltrado funciona como
conspirador, incitando directamente outras pessoas à prática de actos delituosos.

Noutras ocasiões, ele tem de participar directamente nesses actos delituosos e fechar os olhos a
muitas situações graves para não prejudicar os seus colaboradores> (cit. por Escohotado 1, 1989:
3:286)" (54).

7.3. Aproveite-se este contexto para uma breve referência a uma decisão do Tribunal Europeu
dos Direitos do Homem no caso Lÿdi c. Suiça - sentença de 1992.06.15,

Série A, nº 238 -, assim sumariada (55):


"3. A infiltração de um agente policial ajuramentado numa suposta rede de tráfico de cocaína não
viola a esfera da vida privada do suspeito ...

4. Todavia, para que os relatórios do agente infiltrado e a transcrição das comunicações


telefónicas possam valer como prova, o arguido deverá ter depois a possibilidade de obter a
comparência desse agente infiltrado em juízo, a fim de poder inquiri-lo como testemunha e
eventualmente pôr em causa a credibilidade dos elementos probatórios por ele produzidos e
obtidos. Sem isso, será violado o direito do arguido a um processo equitativo.

5. Tal comparência, aliás, pode processar-se de maneira a não prejudicar o interesse legítimo das
autoridades policiais em preservar o anonimato desse agente, por forma a protegê-lo e a permitir
utilizá-lo novamente no futuro".

7.4. No plano interno, podem referenciar-se alguns acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça, a
saber:

- acórdão de 12 de Junho de 1990 (56):

"O agente investigador que se introduz no circuito do tráfico de drogas - em via de regra, um tipo
de criminalidade organizada -, apenas com o propósito de captar a confiança do arguido, o que
conseguiu, desvendando, sob a aparência de comprador, que o mesmo detinha e traficava
cocaína, heroína e haxixe, não viola regras legais, nomeadamente o disposto no artigo 36º, nº 6,
da Constituição da República e artigo 173º do CPP de 1929, e ajusta-se ao preceituado no artigo
52º do Decreto-Lei nº 430/83, de 13 de Dezembro";

- acórdão de 14 de Novembro de 1991, Proc. 42103 (57):

"A intervenção do particular que, agindo de forma concertada, se dirige, acompanhado de um


soldado da

GNR, à casa onde residem as arguidas, já depois de estas terem praticado o crime do artigo 23º,
nº 1, através da mera detenção de estupefacientes, e lhes manifesta o propósito de adquirir meia
dose de heroína (que uma das arguidas lhe vendeu então recebendo o respectivo pagamento, e
só não vendendo a outra arguida ao mesmo soldado outra meia dose de heroína por apenas
vender doses de uma grama) é permitida pela lei, assim como é a do referido soldado - art. 52º
do DL 430/83".

A nível da 1ª instância, pode apontar-se a sentença do 3º juízo do Tribunal Judicial de Oeiras, de


5 de Março de 1993 (58):

"1- É nula a prova obtida através da actuação de agente da Guarda Fiscal que, ocultando a sua
identidade, se insinua junto de alguém e, após conquistar a sua confiança, o induz à prática de
um crime.

2- É igualmente insusceptível de valoração contra o arguido toda a restante prova que radique
na actividade do agente provocador, designadamente a busca domiciliária destinada a comprovar
a prática do crime induzido e as declarações em que o arguido descreve a actividade do agente
provocador".

É chegado o momento de fazer incidir a nossa atenção sobre o regime jurídico português.

8.1. Dispunha o artigo 52º do Decreto-Lei nº 430/83, sob a epígrafe "Conduta não punível":
"1. Não é punível a conduta do funcionário de investigação criminal que, para fins de inquérito
preliminar, e sem revelação da sua qualidade e identidade, aceitar directamente ou por
intermédio de um terceiro a entrega de estupefacientes ou substâncias psicotrópicas.

2. O relato de tais factos será junto ao processo no prazo máximo de 24 horas".

Do confronto deste texto com o atrás transcrito nº

2 do artigo 23º da lei federal suiça (cfr. ponto 6.4.6.), resulta bem claro que esta foi a fonte em
que o nosso legislador se inspirou quando decidiu consagrar, naqueles termos, a figura do agente
infiltrado.

8.1.1. Na respectiva anotação, LOURENÇO MARTINS (59) expressou o seguinte entendimento:

"A figura do agent provocateur deve ser distinguida da figura do agente infiltrado. Existe um
"agente provocador" no seu verdadeiro sentido, quando um funcionário (que tem por missão
prevenir a prática do crime e descobrir os autores dos crimes já praticados), determina outrem,
pela sua conduta, a praticar factos delituosos que, de outro modo, não seriam cometidos por
aquele. O "agente infiltrado" (undercover agent) apenas procura descobrir crimes já praticados,
coligindo informações ou recolhendo provas, para o que não pode igualmente denunciar a sua
qualidade de funcionário.

O artigo 23º qualifica como tráfico cada uma das acções aí descritas, nomeadamente preparar,
oferecer, pôr à venda, vender, distribuir, comprar, ceder, receber a qualquer título, deter
ilicitamente substâncias e preparados compreendidos nas tabelas.

Se um funcionário de polícia prepara, oferece, põe

à venda, vende, distribui ou cede susbtâncias estupefacientes ou psicotrópicas ainda que no


propósito de identificar consumidores e, através destes, os seus fornecedores ou traficantes, não
é possível excluí-lo da punição. Poderia sempre invocar que embora leve outrem à prática de
factos criminosos não age com dolo (cfr. artigos 20º e 21º do Código Penal) uma vez que não
actua com o sentido de realizar o facto criminoso (v. artigo

14º do Código Penal) mas na intenção de identificar os delinquentes. Simplesmente, a aparência


criada é de molde a provocar o delito, o que é contrário à missão da autoridade e lança o terceiro
na prática de factos que concretamente não realizaria. Por tal caminho, se permitido, estaria
confirmada e seguida a asserção maquiavélica de que os fins justificam os meios.

Situação diferente será a de o agente de polícia se encontrar em algumas das seguintes atitudes
mencionadas no artigo 23º: "comprar", receber a qualquer título e depois deter. O que este artigo
parece prever é a hipótese de a um agente ou funcionário infiltrado no "milieu" da droga ser
oferecida qualquer das substâncias previstas nas tabelas, sendo tomado por um consumidor ou,
pelo menos, por comprador. A aceitação e pagamento sem o entendimento de que se tratava de
uma apreensão (o que levaria à sua imediata identificação e medidas processuais) se fosse
punível, e em princípio sê-lo- ia, implicava a impossibilidade de prosseguir na descoberta da rede
do tráfico e, por outro lado, a "denúncia" da qualidade de polícia com a consequente ineficácia
em acções futuras na mesma zona, pelo menos.

A lei vem salvaguardar este meio de investigação declarando a impunibilidade do funcionário.


Deve, porém, ser interpretada nos seus precisos termos.
2- O melindre deste tipo de infiltração exige, para além de uma formação moral elevada, cuidados
objectivos muito acentuados de modo a prevenir consequências desastrosas e salvaguardar o
prestígio do próprio funcionário. Tais operações devem ser acompanhadas de perto pelos
superiores hierárquicos do funcionário e o seu relato deve ser atempadamente efectuado.

A droga aceite nas circunstâncias a que o artigo se refere, considerar-se-á imediatamente na


situação de apreendida, para todos os efeitos legais, sendo vedada a sua utilização, a qualquer
título, nomeadamente para "repartir" com outros consumidores ou compradores".

8.1.2. Acolhe-se, assim - e a nosso ver, bem -, a distinção entre agente infiltrado (ou encoberto)
e agente provocador e, do mesmo passo, aponta-se o melindre e delicadeza de semelhante
técnica investigatória, salientando-se ainda a necessidade de a fazer rodear de cautelas,
considerando os "perigos" que ela naturalmente envolve.

Por isso que o legislador apenas tenha querido consagrar aquela primeira figura, e nos precisos
termos que a norma define - fora deste quadro normativo não será, pois, permitida a "infiltração".

8.2. Como se disse, o Decreto-Lei nº 430/83 foi revogado expressamente, e em bloco, pelo
Decreto-Lei nº 15/93.

8.2.1. Este legislador não desconhecia, obviamente, a grande discussão doutrinal e


jurisprudencial travada em numerosos países a propósito das figuras (distintas) do agente
provocador e infiltrado, e dos complexos problemas, de ordem vária, que elas suscitam; assim
como também não ignorava que alguns países deram um passo em frente (?), indo mais além, e
consagrando legislativamente a figura do agente provocador (cfr. pontos 6.4.1. e 6.4.2.).

Não obstante tudo isto, o legislador português entendeu não alterar a disciplina anterior sobre a
matéria, antes reproduzindo textualmente (60), no artigo

59º, e também sob a mesma epígrafe, o disposto no revogado artigo 52º, assim mantendo o
enquadramento legal da figura do agente infiltrado (61).

8.2.2. A propósito deste artigo 59º - disposição que reconhece ser controversa, mas que pode
assumir-se como um "mal necessário" - valerá ainda a pena conhecer algumas recentes reflexões
de LOURENÇO MARTINS (62):

"A outra disposição controversa é a do "agente infiltrado", epigrafada no artigo 59º de "conduta
não punível".

A disparidade de pontos de vista entre a doutrina e a jurisprudência é aqui bem visível,


nomeadamente em Espanha e França.

A nosso ver, há que distinguir, desde logo, entre agente provocador e agente infiltrado.

O primeiro é "aquele que induz outrém a delinquir com a finalidade de o fazer condenar", por
recompensa ou "satisfação moral". O seu uso é antigo e renasce em épocas de poderes
totalitários, quanto a crimes políticos.

O segundo, designado na terminologia anglo-saxónica de "undercover agent", surge nas áreas


dos designados crimes sem vítima, da corrupção, das organizações fechadas, ou em crimes de
"trato sucessivo", como dizem os espanhóis.

Tradicionalmente, a doutrina, a pretexto das figuras do crime putativo, ou da tentativa impossível


ou inidónea, opinava pela impunidade não só do provocador como do autor do delito provocado.
Ou, com base na comparticipação criminosa, advogava a punição de ambos, provocador e
provocado, argumentando que a intenção da descoberta do crime se apresentava como exterior
ao processo de determinação juridicamente relevante, não se justificando a conduta da polícia,
que tem o dever de investigar crimes já cometidos e não de os "fabricar".

E à argumentação de que a tentativa era inidónea respondia que essa inidoneidade deve ser vista
ex ante - circunstâncias verosímeis para um homem médio - e não ex post, ou seja perante o que
realmente sucedeu.

Daí a punição de ambos.

Mas a jurisprudência tem feito contravapor, impressionada pela realidade dura deste tipo de
crimes e suas consequências, com especial relevo para os anglo-saxónicos, onde a literatura é
abundante.

Diz-se então: há que distinguir entre provocar uma ocasião para descobrir um crime que já existe,
daquela em que se suscita uma intenção criminosa que ainda não existia.

Há quem invoque mesmo o dever de protecção da sociedade contra o crime, que incumbe à
Polícia.

Separa-se agora a conduta do agente infiltrado - que pode ser um polícia ou um não polícia - da
conduta do arguido, afastando a codelinquência.

Passando ao tráfico de droga.

Está fora de causa a actuação do polícia que vende droga para identificar os compradores, em
geral considerada ilícita. Seria verdadeiramente um "agente provocador".

A discussão roda sim à volta do polícia que, por si, com recurso a outrem, se infiltra no "milieu",
simulando-se comprador de droga.

Então o que sucede é que geralmente a detenção de droga com intenção de a traficar já existe;
o agente não actua para "dar vida" ao delito, mas apenas para colocar a descoberto os canais do
tráfico.

Dizem os anglo-saxónicos: o polícia não encoraja, por isso não deve "armadilhar" inocentes, não
deve incitar através de oferta de ganhos excepcionais, sendo importante conhecer os
antecedentes.

Insiste particularmente no "due process", isto é, na legalidade dos meios e fins da actividade
policial, apelando à lealdade na administração da Justiça. Sublinha a necessidade da intervenção
de um magistrado independente no controlo do processo".

9.1. Face a uma criminalidade altamente organizada, dotada de meios técnicos cada vez mais
avançados e sofisticados, é compreensível que as autoridades policiais tenham a tentação de
"reclamar" medidas especiais ou excepcionais (63), nomeadamente no âmbito do tráfico de
droga, que lhes permita uma maior eficácia e operacionalidade na luta (sempre desigual) contra
o crime organizado.

LOURENÇO MARTINS (64) mostra-se, porém, reticente em fazer rechear o direito da droga de
"excepcionalidades", no convencimento de que, por essa via, se estaria a criar uma pequena ilha
dentro do direito, designadamente do direito processual - a equiparação à alta criminalidade e
ao terrorismo foi feita (artigo 51º, nº 1), mostrando grandes reservas em ir mais além, apontando
antes o caminho de explorar as virtualidades da legislação existente.

9.2. Assim sendo, afigura-se que no quadro legal vigente não pode ser dada uma resposta
afirmativa às perguntas formuladas na consulta, quais sejam:

-"abertura de contas em instituições bancárias em nome de um agente de polícia ou terceiro de


confiança, para receber depósitos da organização sob investigação"; e

- criação ou constituição de empresas, firmas ou sociedades - fantasmas, fictícias, de fachada -


que interviriam como interlocutor comercial ou em operações comerciais com outras que se sabe
estarem a operar fraudulentamente com o fim de branquear bens ou produtos provenientes de
uma actividade criminosa.

Na verdade, se bem se pensa, os referidos meios ou técnicas de investigação acabarão por


configurar uma "actuação" em termos que a nossa lei não consente.

Assim sendo, e na medida em que essas técnicas consubstanciam a figura do agente provocador,
elas não são legalmente permitidas.

No tocante, por último, à utilização de agentes encobertos ou infiltrados, a conclusão resulta de


tudo quanto já se disse: ela (só) é possível nos precisos termos do artigo 59º do Decreto-lei nº
15/93 (que não consentem o recurso à analogia).

10

Em face do exposto, formulam-se as seguintes conclusões:

1ª - As entregas controladas de substâncias estupefacientes ou psicotrópicas apenas podem ser


autorizadas nos termos definidos no artigo 61º do Decreto-Lei nº 15/93, de 22 de Janeiro;

2ª - Consequentemente, no regime jurídico vigente não são admissíveis entregas controladas de


bens ou produtos provenientes dos crimes de tráfico de droga (artigos

21º, 22º e 25º do Decreto-Lei nº 15/93);

3ª - O ordenamento jurídico português não prevê a figura do agente provocador, mas reconhece
e aceita a figura do agente infiltrado, nos precisos termos que o artigo

59º do Decreto-Lei nº 15/93 especifica;

4ª - Face à conclusão anterior, e na medida em que consubstanciam a figura do agente


provocador, não são legalmente permitidos meios ou técnicas de investigação que se traduzam:
a) na abertura de contas em instituições bancárias em nome de um agente de polícia ou terceiro
de confiança, para receber depósitos de uma organização sob investigação; b) na criação ou
constituição de empresas, firmas ou sociedades - fantasmas, fictícias, de fachada

- que interviriam como interlocutor comercial ou em operações comerciais com outras que se
sabe estarem implicadas no branqueamento de bens ou produtos provenientes do crime de
tráfico de droga.

_______________________________
1) Assim se interroga RAYMOND SCREVENS, "Le Crime Organisé à Caractère International: Problèmes de Preuves", Revue de Droit
Penal et de Criminologie, Ano
1988, nº 1, Janeiro 1988, págs. 5 a 15.
2) "Aspectos policiales del tráfico ilícito y consumo abusivo de droga", La Problematica de la Droga en España (análisis y propuestas
político-criminales),
Edersa, págs. 180-181.
Nesta mesma obra, de págs. 295 a 316, cfr., também,
JOSÉ MARIA MATO REBOREDO, "Actividad policial y drogas".
3) Ratificada pelo Decreto do Presidente da República nº 45/91, e aprovada, para ratificação, pela Resolução nº 29/91 da Assembleia
da República (D.R., I-A série, nº 205, de 6/9/91).
4) No parecer nº 101/86, de 27 de Janeiro de 1987, ponderou-se que os países que, bilateral ou regionalmente, viessem a firmar
tratados ou acordos de cooperação, poderiam encarar a possibilidade de constituição de unidades ou grupos de investigação ,
integrados por investigadores dos países situados em determinada região que seja objecto de criminalidade organizada de tráfico de
estupefacientes e outra afim, e entendam cooperar numa resposta também organizada e concertada.
5) O artigo 10º refere-se à "Cooperação internacional e assistência aos Estados de trânsito".
6) Assinada por Portugal em 8 de Novembro de 1990, mas ainda não ratificada.
Cfr., também, "L'Accord relatif au trafic illicite par mer, mettant en oeuvre l'article 17" da Convenção de
Viena de 1988, feito em Estrasburgo a 31 de Janeiro de
1995.
7) O Acordo de Adesão à Convenção foi aprovado pela Resolução nº 35/93 da Assembleia da República, e ratificado pelo Decreto-Lei
nº 55/93 do Presidente da República (D.R., I Série, nº 276, de 25/11/93).
8) Cfr. YVES GAUTIER, "La coopération policière: Les perspectives ouvertes par le Traité sur l'Union Européenne du 7 février 1992",
Europe, 3ª Année, nº 4,
Avril 1993, maxime págs. 2 e 3 (cooperação policial no quadro dos Acordos de Schengen); "Les systèmes de Police et la Coopéra tion
Policière en Europe: comparaisons, tendances, defis", in Revue de Droit
Pénal et de Criminologie, 73º Année, Février 1993, págs. 185 e ss.
9) Aprovada, para ratificação, pela Resolução da Assembleia da República nº 39/94, e ratificada pelo Decreto do Presidente da
República nº 56/94 (D.R. I-A Série, nº 161/94, de 14/7/94).
10) Cfr. artigo 57º do Decreto-Lei nº 15/93, de 22 de Janeiro, na redacção dada pelo artigo 1º do Decreto-Lei nº 81/95, de 22 de Abril;
artigo 2º desde último diploma, e artigo 4º, nº 1, alínea a), (alterado pelo artigo 10º da Lei nº 36/94, de 29 de Setembro), da Lei
Orgânica da Polícia Judiciária, aprovada pelo Decreto-
Lei nº 295-A/90, de 21 de Setembro.
11) Com a disposição do nº 3 enquadra-se legalmente uma actividade cuja necessidade se faz sentir sobretudo em vista do
desenvolvimento de formas de criminalidade que apresentam um carácter altamente organizado, com ligações transnacionais ou
internacionais - MANUEL ANTÓNIO LOPES ROCHA e TERESA ALVES MARTINS, "Cooperação Judiciária Internacional em Matéria Penal",
Aequitas,
1992, pág.204.
12) Rectificado no D.R. I-A Série, nº 43, de 20/2/93.
13) Cfr., também, o artigo 10º do Decreto-Lei nº 313/93, de 15 de Setembro (rectificado no D.R., I-A Série, nº 280, de 30/11/93, 3º
Suplemento), diploma qe transpôs para a ordem jurídica interna a Directiva nº 91/308/CEE, do Conselho, de 10 de Junho, relativa à
prevenção da utilizaçãodo sistema financeiro para efeitos de branqueamento de capitais.
14) "Droga e Direito - Legislação, Jurisprudência,
Direito Comparado, Comentários", Aequitas, 1994, págs.
271-272.
15) Aprovado pelo Decreto do Governo nº 22/87, de 25 de Junho.
Cfr., especialmente, os artigos 2º, 4º e 5º.
16) Aprovado pelo Decreto nº 48/92, de 12 de Dezembro.
Uma referência específica suscita o seu nº 3 - que prevê a actuação conjunta de grupos de trabalho mistos de funcionários policiais
dos dois países na investigação de casos pontuais e de interesse comum de tráfico de estupefacientes -, e bem assim o nº 6,
respeitante ao modo de actuação e metodologias nos seguimentos transfronteiriços, num e noutro país, de pessoas ligadas ao tráfico
de estupefacientes.
17) Aprovado pelo Decreto nº 10/95, de 28 de Abril.
Cfr., nomeadamente, os artigos 8º e 9º.
18) Na versão francesa "livraisons surveillées".
19) "Livraison surveillée", na versão francesa.
Na referida Convenção do Conselho da Europa relativa ao Branqueamento, não se contém qualquer disposição específica sobre
entregas controladas.
20) "Livraisons surveillées", na versão francesa.
21) "Trafic de drogue, provocation délictueuse des agents de l'autorité et permission de la loi" (Commentaire de la loi nº 91-1264 du
19 déc.1991),
Recueil Dalloz Sirey, nº 29, 3 setembre 1992, pág. 231.
22) Loc.cit., pág. 233.
23) "Gli Infiltrati Nelle Organizzazioni Criminali:
Due Ipotesi di Impunità", Revista Italiana de Diritto e Procedura Penale, Nueva serie - Anno XXXVI, Fasc. 3 - Luglio/Settembre 1993,
Giuffrè Editore, pág. 1052.
24) Diploma expressamente revogado pelo Decreto-Lei nº
15/93 (cfr. artigo 75º, alínea a)).
25) "Droga - Prevenção e Tratamento, Combate ao Tráfico", Livraria Almedina, 1984, págs. 152-153.
26) Porventura a mais significativa residirá no (novo) nº 4, ao dispor que as substâncias em trânsito podem se r substituídas
parcialmente por outras inócuas.
27) "Droga e Direito", cit., págs. 286-287. x1) V.MOURAZ LOPES, Sub Judice, nº 3, 1992, pág. 108.
28) Conclusão extraída face ao quadro legal vigente, e que não pode ser entendida como uma tomada de posição sobre se, de jure
constituendo, uma medida semelhante não deverá ser estendida ao domínio do branqueamento de capitais.
29) O Decreto-Lei nº 15/93 não abrange o branqueamento de capitais provenientes de outras actividades criminosas.
30) Sobre estas origens podem ver-se: Sulhi Dönmezer,
"L'utilisation des agents provocateurs par la police",
Extrait de Annales de la Faculté de Droit d'Instambul, nº 42, 1979, págs. 465-466; CRISTINA DE MAGLIE,
"Premesse allo studio dell'agente provocatore", Rivista Italiana di Diritto e Procedura Penale, Fasc. 1,
Janeiro/1982, Giuffrè Editore, págs. 218-220; LUÍS FELIPE RUIZ ANTÓN, "La provocación policial como forma de reprimir el tráfico
ilícito de drogas", in La Problemática de la Droga en España (análisis y propuestas político-criminales), Edersa, págs. 317-318;
Enciclopedia del Diritto, I, Giuffrè Editore, pág 864;
Novissimo Digesto Italiano, I, pág. 397.
31) Sulhi Dönmezer, loc. cit., págs. 465-466.
32) Entre outros, vejam-se: HANS-HEINRICH JESCHECK,
Tratado de Derecho Penal, Parte General, tradução de
Mir Puig e Muñoz Conde, vol. II, Bosch, pág. 956;
CUELLO CALÓN Derecho Penal, tomo I, Parte General,
Bosch, págs. 666-672; LUÍS JIMENEZ DE ASUA, Tratado de Derecho Penal, tomo VI, Editorial Losada, S.A., Buenos Aires, págs. 672 e
segs.; FRANCESCO ANTOLISEI, Manual di Diritto Penale, Parte Generale, 9ª ed. Giuffrè Editore, 1982, págs. 488-492; GIUSEPPE BETTIOL
e LUCIANO PETTOELLO MANTOVANI, Diritto Penale, Parte Generale, 12ª ed. Padova, Cedam, 1986, págs. 652-655;
SULHI DÖNMEZER, loc. cit., págs. 464-465; Novissimo Digesto Italiano, I, pág. 397.
33) CUELLO CALÓN, ob.e loc cits; JESCHECK, ob. e loc. cits; ARTEAGA SÁNCHEZ, Revista de la Facultad de Ciencias Juridicas y Politicas,
Caracas, 1987, nº 66, pág. 213.
34) Diritto Penale per l'Attività di Polizia Giudiziària, 3ª ed., 1993, Cedam, págs. 71-72.
35) Principi di Diritto Penale, Parte Generale, 4ª ed., 1993, Giuffrè Editore, pág. 555.
36) Loc. cit., pág. 464.
37) "Dos aspectos de la Represion Penal del Trafico de Drogas: La Teoria del Agente Provocador y el delito provocado y el Blanqueo
del dinero procedente del delito", Politica Criminal y Reforma Penal, Editorial Revista de Derecho Privado, Editoriales de Derecho
Reunidas, págs. 555.
38) LOUIS SCHOLL, "La Provocation Policère en Droit Americain", Revue de Droit Penal et de Criminologie,
Agosto/Setembro/Outubro, 1989, pág. 809; ARTEAGA SÁNCHEZ, loc.cit.; RAYMON SCREVENS, loc. cit., pág. 11;
LUIS FELIPE RUIZ ANTÓN, ob. e loc.,cits. pág 319.
39) Distinção estabelecida pela jurisprudência belga, segundo refere JEAN PRADEL, ob. e loc.cits., págs. 213-
214.
Reportando-se ao direito belga, LOUIS SCHOLL (loc.cit., pág. 814) aponta a distinção entre provocação comissão (ilegal) e provocação
revelação (autorizada).
40) "Gli Infiltrati nele Organizzazioni criminali
...", Rivista cit., págs. 1060-1061.
Cfr., também ANDRÉ DECOURRIÈRE, "Questions relatives à l'usage, à la detention et au trafic de stupéfiants et problèmes liés au
traitement des toxicomanes", na Revue de Droit Pénal et de Criminologie (7), Julho de 1985 (pontos 8 a 10); LORIS d'AMBROSIO, ob.
e loc.cits., pág. 72.
41) Loc, cit., pág. 472.
42) Cfr. CARLOS GARCÍA VALDÉS, loc. cit., págs. 566-
568.
43) Loc. cit., págs. 231-232.
Cfr., também, CRISTINA DE MAGLIE, "Gli Infiltrati ...",
Revista cit., págs. 1052-1053.
44) CRISTINA DE MAGLIE, "Gli Infiltrati ...", Revista citada, págs. 1049-1050.
Cfr, também, CARLOS GARCÍA VALDÉS, loc.cit.., pág. 567, onde igualmente se apontam os artigos 46.2 do Código
Penal Grego de 17/8/1950, e 8º do Código Penal do Uruguai, de 4/12/1933.
45) CRISTINA DE MAGLIE, cit., págs. 1051-1052.
46) CRISTINA DE MAGLIE, "Gli Infiltrati ...", págs.1053 e 1054.
47) Loc.cit., págs. 566 e 567.
Cfr., também, MANUEL DA COSTA ANDRADE, "Sobre as Proibições de Prova em Processo Penal", Coimbra Editora, 1992, págs. 220 e
segs..
48) Loc. cit., págs. 809 e segs.
49) Ob. e loc. cits., pág. 228.
Cfr., também, LUIS FILIPE RUIZ ANTÓN, loc. cit., pág.
319.
50) Ob. e loc. cits., págs. 209-237, maxime, 219 e segs.
51) LOURENÇO MARTINS tem, a propósito, diferente entendimento (cfr. "Droga e Direito", cit., pág. 277.
52) Sub Judice, nº 3, 1992, Maio/Agosto, Léxico, pág. 79.
53) Sobre o tema, cfr., para além de Costa Andrade e Sulhi Dönmezer, obs. e locs. cits., LUIS FILIPE RUIZ ANTÓN, loc. cit, o qual, após
se questionar sobre a conveniência e oportunidade de se utilizar o agente provocador ("personaje de doble cara") no comb ate à
criminalidade, escreve a final: "sólo los tribunales de justicia están en condiciones de evitar que ciertos ilegalismos se conviertam en
costumbre de la vida de un pueblo. La eficacia policial nunca puede superar el principio general del sometimiento de los poderes
publicos a la ley".
54) JOÃO RAMOS DE SOUSA alerta para o facto de a actividade do agente provocador resvalar frequentemente
"para situações de corrupção e tráfico, organizados por agentes policiais".
55) Sub judice, cit., pág. 163.
Cfr., também, IRENEU CABRAL BARRETO, "A Convenção Europeia dos Direitos do Homem", Editoral Notícias,
Aequitas, pág. 122.
56) Boletim do Ministério da Justiça. nº 398, pág. 282.
57) Apud LOURENÇO MARTINS, "Droga e Direito...", cit., pág. 274.
Cfr., também, os acórdãos do Supremo de 28/2/92,
(Processo nº 42340) e de 6/4/95 (Processo nº 47333), não publicados.
58) Sub judice, nº 4, 1992, pág. 71.
59) "Droga-Prevenção e Tratamento....", 1984, págs. 154-
155.
60) Apenas no nº 2 se subsituiu a fórmula verbal "será" por "é".
61) Aquando da lei de autorização legislativa, COSTA ANDRADE deu expressa adesão à figura do "undercover agent" (DAR, I S, nº 88,
de 15/7/92, pág. 2886.
62) "Nova Lei Anti-Droga - Um Equilíbrio Instável, em "Droga e Sociedade - o Novo Enquadramento Legal",
GPCCD, Lisboa 1994, págs. 58-59.
63) Cfr. JACINTO REMÍGIO MECA e PEDRO AMARAL, "O Tráfico e o Branqueamento numa Perspectiva Policial", em "Droga e Sociedade
- O Novo Enquadramento Legal, GPCCD, Lisboa,
1994, págs. 154 e 155.
64) "Droga e Sociedade...", cit., pág. 160.

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