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Lima Barreto: autor de Clara dos Anjos

Lima Barreto em seu romance Clara dos Anjos retrata assuntos


delicados como o preconceito racial, a obrigação social do casamento
e o papel das mulheres na sociedade fluminense durante o princípio
do século XX.

Clara dos Anjos foi o último livro escrito por Lima Barreto. O trabalho
foi concluído em 1922, ano da morte do autor. O romance que carrega
como título o nome da protagonista foi
lançado apenas postumamente, em 1948.

Em termos literários, a obra pertence ao pré-romantismo

Característica do Pré-modernismo
O pré-romantismo é considerado uma fase de transição literária por
não ter sido uma escola literária propriamente organizada com
doutrinas e regras. O sentimento passou a ganhar protagonismo, o
amor pôs-se a frente de preconceitos sociais e convenções vigentes
na época.

Nenhum conceito literário foi bem consolidado uma vez que a estética,
transitória, ainda vinha sendo desenvolvida e alcançaria, por fim,
aquilo que viríamos a conhecer como Romantismo.

A poesia pré-romântica guardava características entre a ternura


melancólica e os sentimentos mais sombrios.

Resumo da obra:
Clara é uma adolescente de 17 anos que vive no subúrbio do Rio de
Janeiro. Pobre, mulata e filha de um carteiro e de uma dona de casa ela foi
criada por uma ótima educação e acolhimento.
Viviam todos numa casa de subúrbio fluminense. O ambiente ao redor era
descrito contendo “casas, casinhas, casebres, barracões e choças”, como
percebemos a descrição do autor, era um casa bem humilde.
Clara foi uma das únicas sobreviventes do casal, os irmãos da menina
todos morreram e pouco sabe do destino deles.

A vida de Clara muda quando um amigo de seu pai chamado Lafões sugere
uma maneira diferente de comemorar o aniversário de Clara.
Pergunta à Clara quando ela iria se casar e ela responde que nem nem
pensava nisso fazendo uma expressão de faceira, então ele começa a
indagar e o pai de Clara logo pergunta o que ele quer, Lafões diz que quer
a autorização para apresentar um mestre de violão e modinha.
Clara pergunta quem é e ele diz que é Cassi o nome dele.

Lafões havia conhecido Cassi na prisão: enquanto o primeiro


havia causado distúrbios em um botequim, o segundo havia se metido
com uma mulher casada e, quando descoberto pelo marido, foi
perseguido com arma em punho. Cassi, com os conhecimentos que
tinha, consegue libertar Lafões.

Clara era o oposto de Cassi: muito recatada, raramente saía de casa e


estava sempre na companhia dos pais.

Por fim chegou o dia da festa de aniversário da jovem: amigos


reunidos, casa cheia, grande expectativa para o baile. A menina ainda
chegou a ser alertada por uma de suas colegas:

—Clara, toma cuidado. Este homem não presta.

Assim que adentrou no ressinto, Cassi fez a alegria das damas que lá
estavam. O rapaz foi apresentado por Lafões aos donos da casa e à
aniversariante e logo se interessou pela jovem.

A mãe, percebendo a intenção do rapaz, pediu ao marido que nunca


mais levasse Cassi à casa. Joaquim imediatamente concordou com a
esposa e garantiu que "não porá mais os pés na minha casa".

Clara não reparava, por exemplo, no preconceito social despertado


por ela ser mulata. Naquela altura, no subúrbio do Rio de Janeiro, uma
mulata não se casava e constituía família com um homem branco.

Cassi, aos poucos, foi se aproximando da moça. Um dia passou na


casa da família e chamou por Joaquim, com o argumento de ter ido
visitar um amigo e ter passado ali a porta. Outras vezes mandou
cartas destinadas à jovem. Por fim, a moça finalmente caiu na lábia do
interesseiro rapaz.
O padrinho de Clara, ao se aperceber da situação, resolve interceder
para defender a afilhada, mas acaba, contudo, sendo assassinado
por Cassi e um colega.

Cassi chega a confessar o crime para Clara e argumenta que se tratou


de um ato de amor. Frágil e iludida com a promessa de uma paixão
verdadeira, Clara cede as insistências de Cassi.

O tempo passa e Clara descobre que está grávida. Quando recebe a


notícia Cassi imediatamente desaparece, deixando a moça sozinha e
desamparada. Sem saber o que fazer, Clara, antes de abortar, decide
seguir o conselho da mãe, Engrácia, e vai procurar a mãe do rapaz.

Mas a mãe do rapaz a trata muito mal, especialmente por sua cor de
pele e o defende até o fim fazendo um discurso de ódio contra Clara

Após ouvir o discurso cru e duro de Salustiana, finalmente Clara se


torna consciente da sua condição social de mulher, oprimida, mestiça,
pobre e faz um desabafo final à mãe que ocupa a última página do
livro:

Num dado momento, Clara ergueu-se da cadeira em que se sentara e abraçou


muito fortemente sua mãe, dizendo, com um grande acento de desespero:

—Mamãe! Mamãe!
—Que é minha filha?
—Nós não somos nada nesta vida

Personagens principais
Clara

Uma ingênua jovem de dezessete anos, frágil, pobre, mulata e


superprotegida pelos pais. Era a filha única do casal Joaquim dos
Anjos e Eugrácia. Tem o destino desgraçado após conhecer Cassi.

Joaquim dos Anjos

Carteiro, de origem humilde, pai de Clara e marido de


Engrácia. Flautista, entusiasta de violão e de modinhas, Joaquim dos
Anjos compunha valsas, tangos e acompanhamentos de modinhas.

Engrácia
Dona de casa, esposa de Joaquim há mais de vinte anos, católica,
descrita como uma mulher sedentária e caseira, mãe muito dedicada à
Clara e à rotina familiar.

Antônio da Silva Marramaque

Padrinho de Clara, companheiro de solo e grande amigo de Joaquim,


semi-aleijado e semiparalítico do lado esquerdo do corpo. Tinha muito
interesse em discutir política e literatura. Defendia com unhas e dentes
a afilhada e, por ela, acabou perdendo a vida.

Cassi Jones de Azevedo

Filho ilegítimo de Manuel Borges de Azevedo e Salustiana Baeta de


Azevedo. Um violeiro, com pouco menos de 30 anos, homem
branco, que toca no aniversário de Clara. Malandro e conhecido por
colecionar mulheres, Cassi seduz Clara até que ela finalmente se
apaixona por ele.

Salustiana Baeta de Azevedo

Vaidosa, fã número um do filho, Cassi Jones, ajudou a construir a sua


inabalável auto-estima e sempre acobertou os casos amorosos e as
confusões pessoais armadas pelo filho. Racista, preconceituosa,
jamais concebeu que o herdeiro se casasse com alguém que
considerasse ser um mau partido.

CONTEXTO HISTÓRICO:
O Rio de Janeiro durante o princípio do século XX vivia graves
problemas sociais e de saúde pública.

A sociedade brasileira, e especialmente carioca, era caracterizada


também por um arraigado racismo e por fortes traços de misoginia.
Vemos na obra de Lima Barreto - especialmente através da
personagem Clara dos Anjos - como havia um palpável preconceito
racial e como a mulher era discriminada.

O período foi também marcado pela chegada da febre amarela,


que se proliferou nos cortiços, e das doenças transmitidas pela
falta de saneamento básico. É possível observar na descrição do
romance como o bairro onde a família vivia, no interior do Rio de
Janeiro, era marcado pela carência com ruas não asfaltadas e
sucessivas inundações.

Lima Barreto testemunhou um período de profundas mudanças


sociais e arquitetônicas ocorridas no Rio de Janeiro e Clara dos
Anjos faz questão de representar a cidade como pano de fundo.

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