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Michel de Certeau ABS ss INVENCAO. 0 IN) CONDIAN) aa amet 3 Ealigho Petropolis 1908 ‘no estudo uma posigéo que nio se define mais somente por um poder adquirido ou por um saber observador, com o acréscimo de um pouco de saudade, A melancolia ngo basta. Sem duvida, com relajdo @ escritura que separa em nome de uma divisdo do trabalho e que revlaaliancas de classe seria “maravilhoso” Se, como acontece nos relatos de milagres, os grupos que nos deram ontem tantos mestres e que hoje estio deitados nos rossos corpus, se levantassem para marcar, eles mesmos, as suas idase vindas nos textos que os veneram, enterrandoos. Essas esperangas se perderam, com as crengas que, hi tanto tempo, nio habitam mais nossascidades. Nao aparecem mais fantastas para lembrar 20s vivos a reciprocidade. Mas na ordem organizada pelo poder do saber (o nosso), como também rg ordem das zonas agricolas ou das industria, sempre & possivel uma pritica dsviacionista, ‘Com relagio ao sistema econdmico, cujas regrase hierar 4quias se repetem, como sempre, nas instituigbes centifias, pode-se tentar usara sueata, No terreno da pesquisa cientifica (que define a otdem atual do saber), com suas maquinas e fracas a seus residuos, podese desviar 0 tempo devido & instituigdo fabricar os objtos textuais que signiicam uma arte e solidariedades; jogar esse jogo do intercimbio gratuito, mesmo que castigado pelos patrdes e pelos colegas, quando rio se limitam a “fechar os olhos”;inventar os tragados de conivéncias e de gestos; responder com um presente a outro dom; subverter assim a lei que, ne fsbrica cities, coloca 0 trabalho a servigo da maquina e, na mesma légica, aniquila progeessivamente a exigéncia de criare a “obrigagio de di Conhego pesquisadores hablidosos nesta arte do desvio, que € um retorno da ética, do prazer e da invengio 8 insttuigdo cientifica. Sem lucro (olucto fica do lado do trabalho executado para a inkistra), muitas veres levando prejuio, tram alguma ‘coisa & ordem do saber para ali gravar "sucessos”artstcos e all inserr 0s graffiti de suas dvidas de bonra. Trtar assim as Uitias cotidianas seria praticar uma arte “ordindria".achar-se na stuagio comum e fazer da escritura uma maneira de fazer 0 ccapiruto mt FAZER COM: USOS E TATICAS Apesar das medidas tomadas para reprimilo ou para cescondélo,o “trabalho com sucata” (ou seus equivalents) se infiltra e ganha terreno, Mas ele mesmo € somente um caso particular entre todas as praticas que introduzem jeitos de ‘antstase competigoes de cumplices no sistema da reprodugao fe da divisio em compartimentos pelo trabalho ou pelo lazer. Corre, correo furio: mil maneiras de “fazer com". Deste ponto de vista, 0 corte ndo passa agora entre 0 trabalho e os lazeres. Essas duas regides de atividades se Ihomogeneizam, Elas se repetem e se reforgam uma & outra Nos locais de trabalho se vio difundindo as ténicas culturais que camuflam a reprodusdo econdmica sob fiegdes de surpresa (0 “bappening”) de verdade('ainformagdo") ou de comunica 40 (4 anlmagio"). Reeiprocamente, a produgao cultural ofe rece um campo de expansio para as operagdes racionais que permite gerir © trabalho mediante a dvisio (uma andlise, 91 rmapeandoo (um sintsse) ¢ massfandoo (genealizacio. ‘atta dstingo se imp, slém daquela ave dsl os com portamentos segundo ose ugar (de trabalho ou de fze)€ ‘c aualifcnenao pel foto de se eolocarem nesta 0 naguela ‘isa dotabuliro soil - no escrito, naoicin ou no cinema. Exist diferengas de out tio. Bas serelerom as modal ‘tes dn acho. Be formalidades das rics. Alravessam as froneras que permitem as cassifcagoes de trbalho ot de lagers Por exemplo a arte da “scala” se insreveno sisters da cade industria (se contraponto,no mesmo iar, como warante da atvdade que, fora da fabrics (outro lug) tem 8 forma da brcolagem. Bribora stam rlavas a posibidads oferecias peas circunstacls, esa ttcasdenvaconstas no obedece do lugar No se define por est. Sob ese ponto de vista, 30, tio loaves como as estas tenoeratcas(e eset thas que vam char lgares segundo modeos abstato.O “ue distngue estas daqulas soos tpos de operacdes nesses snags que as estatgis so capazes de produ, mapear € impor ao paso que 38 ates 33 podem tito, manipula eater E preciso portant especificarexquemas de operaées Como na iteratira se podem diferencia “stilos” ov maneras de escever, também se podem dstngir ‘manera de tzer™ "ge caminhar, ler, produsi flr, ee. Esser estos de ago interven num campo que os redula num prince vel (por fxemplo, 0 sistema. da Inds), mas introduzem ai uma manera de tar partido dele, qe obedece a otras regras Const como que um segundo nivel imbricado no primeiro (€-0 que acontese com a =sucata). Asimiveis a modos de tmpreg, esas “maneiras de fazer” ciam um jogo mediante a tstatineagio de foncionsmentos diferentes inerfeents. Assim, as "maneias™ de habia (uma ease ow uma lingua) propre desta Kabila natal o magrebino que mora em Paris ti Roubain a> fs satena que Ihe € imposto om onstruga dem enn residenal popular ou no frances. Ble os superimpose. pores combina, ra paras um 2 espago de jogo para maneiras de utilizar a ordem imposta do ugar ox da lingua, Sem sair do lugar onde tem que vivere que The impde uma lei, ele af instaura pluraidadee criatividade. Por uma arte de intermediacio ele tira dai efeitos imprevstos. seas operagées de emprego - ou melhor, de reemprego ~ semultiplicam com a extensio dos fendmenos de aculturagao, fu sea, com os deslocamentos que substituem maneiras ou “métodos" de transitar pela identiicagdo com o lugar. ss0 n40 impede que correspondam a uma arte muito antiga de “fazer com", Gosto de darihes © nome de usos, embora a palavra designe geralmente procedimentos estereotipados recebidos e teprodusidos por um grupo, seus “usose costumes". 0 proble- ‘ma esté na ambigtidade da palavra pois, nesses “usos”tratase precisamente de reconhecer ‘agdes” (no sentido militar da palavra) que séoa sua formalidade e sua inventividade prOprias que organiza em surdinao trabalho de formigas do consumo. Depois dos trabalhos, muitos delesnotiveis, que analisaram 10s "bens cultuais,o sistema de sua produgio,' 0 mapa de sua distrbuigéo e a distribuigdo dos consumidores nese rapa," parece possivel considera esses bens no apenas como ddados a partir dos quais se pode estabelecer 0s quadros estatisticos de sua circulagdo ou constatar os funcionamentos tcondmicos de sua difusio, mas também como 0 reertério ‘com o qual os usudros provedem a operagbes proprias. Sendo assim, esse fatos ndo sio mais os dados de nossos céleulos mas o léxico de suas priticas. Assim, uma vez analsadas as Jmagens dstribuidas pela TV e os tempos que se passa assis. tindo aes programas televsivos, resta ainda perguntar o que & {que 0 consumidor fabrica com essa imagens e durante essas hhoras. 0s 500 mil franceses que compram Jnformation-santé, 08 fregueses do supermercado, os praticantes do espago urba no, os consumidores das hstéras e legendas jornalisticas, ‘que é que eles “absorvem", recebem e pagam? O que fazem 0 uso ou 0 consumo 93

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