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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2018.0000737611

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2105034-03.2018.8.26.0000, da Comarca de Cajuru, em que é agravante JOSE WAHEB
CURY NASSER, é agravado JAHYR SANT´ANNA DO PRADO.

ACORDAM, em 20ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São


Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ROBERTO


MAIA (Presidente) e REBELLO PINHO.

São Paulo, 17 de setembro de 2018.

CORREIA LIMA
RELATOR
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº 37222
AGRV. Nº 2105034-03.2018.8.26.0000
COMARCA: Cajuru
AGVTE.: José Waheb Cury Nasser (A)
AGVDO.: Jahyr Sant'Anna do Prado (R)

TUTELA DE URGÊNCIA Indeferimento Procedimento de


tutela antecipada em caráter antecedente Requisitos do art.
300 do CPC não preenchidos Oitiva, de apenas, uma
testemunha - Necessidade de alargamento da instrução
processual Indeferimento mantido Circunstâncias relativas
à posse do demandante bem como a que título o réu se posta no
local e se está, ou não, ocorrendo o esbulho, e quem o pratica
dependentes de dilação probatória Agravo improvido.

1. Trata-se de agravo de instrumento oferecido por


José Waheb Cury Nasser, em procedimento de tutela antecipada em
caráter antecedente (com posterior aditamento da inicial para constar
que se trata de ação de manutenção de posse c.c. interdito proibitório
relativa a uma gleba de terra, de 9,13 alqueires paulistas, a ser
destacada do imóvel objeto da matrícula nº 8.947 do CRI de Cajuru-SP,
fls. 17/31) movido em face de Jahyr Sant'Anna do Prado, contra r.
decisão reproduzida a fls. 66 (fls. 239 dos autos originários) que, dentre
outras providências, indeferiu o pedido liminar de manutenção da posse
no imóvel litigioso.

Alega o agravante, em resumo, que (1) adquiriu do


agravado terras cuja posse não está sendo respeitada, (2) realizado o
corte de cana-de-açúcar plantada na área, foi impedido de recolhê-la,
sob o argumento de que o local não lhe pertencia, (3) os requisitos do
artigo 561 do CPC estão presentes, (4) a turbação foi demonstrada por
declaração de engenheiro agrônomo e por escritura pública, (5) a posse
da área continua sendo exercida, (6) as fotografias juntadas comprovam
o corte da cana, sem o respectivo recolhimento, (7) o contrato, os
recibos, a notificação e a contranotificação comprovam a aquisição da
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área, (8) a posse em relação à área, ao menos em relação a parte dela, é


incontroversa, (9) a cana não foi retirada imediatamente após o corte
devido às chuvas que castigaram o local e, depois, em razão do
obstáculo criado pelo agravado e (10) a concessão da medida é a única
forma de assegurar o direito alegado e garantir o resultado útil do
processo (fls. 1/14).

Pede-se a antecipação da tutela recursal (efeito


suspensivo ativo) e o provimento do recurso a fim de que seja deferida a
medida liminar, inaudita altera pars, para a manutenção da posse do
agravante em relação à área turbada, reintegração de posse em relação à
área esbulhada bem como mandado proibitório que impeça nova
turbação ou esbulho, sob pena pecuniária de R$1.000,00 (mil reais)
para cada dia de descumprimento.

Processada a insurgência, denegou-se a antecipação


da tutela recursal postulada (fls. 70/71), dispensaram-se informações e
o agravado ofertou contraminuta (fls. 76/88).

É o relatório.

2. A insurgência não comporta provimento.

3. Dispõe o artigo 300, caput, do atual Código de


Processo Civil:

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida


quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.”

Acerca do tema prelecionam NELSON NERY JUNIOR


e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY:

“Duas situações, distintas e não cumulativas entre


si, ensejam a tutela de urgência. A primeira hipótese autorizadora dessa
antecipação é o periculum in mora, segundo expressa disposição do CPC
300. Esse perigo, como requisito para a concessão da tutela de urgência,
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é o mesmo elemento de risco que era exigido, no sistema do CPC/1973,


para a concessão de qualquer medida cautelar ou em alguns casos de
antecipação de tutela.”

“Também é preciso que a parte comprove a


plausibilidade do direito por ela afirmado (fumus boni iuris). Assim, a
tutela de urgência visa assegurar a eficácia do processo de
conhecimento ou do processo de execução (Nery. Recursos, n. 3.5.2.9, p.
452).” (Comentários ao Código de Processo Civil . Novo CPC - Lei
13.105/2015. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, nota 3 e
4 ao art. 300 do CPC, p. 857 e 858).

Sobre o mencionado sistema do Código de Processo


Civil anterior, de 1973, previsto no artigo 273 respectivo, já enfatizavam
os ilustres juristas:

“Tendo em vista que a medida foi criada em


benefício apenas do autor, com a finalidade de agilizar a entrega da
prestação jurisdicional, deve ser concedida com parcimônia, de sorte a
garantir a obediência ao princípio constitucional da igualdade de
tratamento das partes. Como a norma prevê apenas a cognição sumária,
como condição para que o juiz conceda a antecipação, o juízo de
probabilidade da afirmação feita pelo autor deve ser exigido em grau
compatível com os direitos colocados em jogo.” (Código de Processo Civil
Comentado e Legislação Extravagante. 10ª ed. rev. ampl. e atual. até
01.10.2007. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, nota 13 ao
art. 273 do CPC, p. 525).

No caso dos autos, inobstante a oitiva da testemunha


do agravante, Sr. Luiz Antonio Moraes (fls. 233), não há como
vislumbrar, sem o alargamento da instrução processual, a probabilidade
do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
Efetivamente, embora haja prova da existência da cana-de-açúcar e de
que há áreas em que foi cortada, não há ainda, prova inequívoca de que
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seja realmente o réu que esteja obstando a colheita, até porque a própria
testemunha afirmou que os atos de turbação teriam sido praticados pelo
filho do réu, Rodrigo.

Também não há prova de que, passados mais de 30


dias da data do alegado corte, não haja mais o interesse dos possíveis
adquirentes do plantio, ou de que a permanência prejudique safras
futuras.

A despeito do prosseguimento da fase instrutória,


não há ainda prova plena e inequívoca a respeito das alegadas
abusividades, remanescendo o aduzido na inicial, desse modo,
controverso e duvidoso.

Nesse contexto, revela-se necessário o aclaramento


das circunstâncias relativas à alegada posse do agravante bem como a
que título o agravado se impõe no local e se o alegado esbulho
possessório está, efetivamente, ocorrendo, ou não, e quem o estaria
praticando, de modo a ensejar, se o caso, novo exame e eventual
concessão da liminar requerida, desde que estejam demonstrados,
ainda, os demais requisitos previstos no art. 561 do CPC.

Saudável jurisprudência, em casos análogos, apregoa


que “'para a concessão de liminar nas possessórias não bastam
documentos relativos ao domínio, assim como não são suficientes
declarações de terceiros, desprovidas do crivo do contraditório' (IV
ENTA concl. 44, aprovada por unanimidade)” (Negrão, Theotonio e
Gouvêa, José Roberto Ferreira. CPCLPV. 39ª ed. São Paulo: Ed. Saraiva,
atual. até 16.01.2007, p. 1.000, nota 2 ao art. 928 do CPC).

4. Isto posto nega-se provimento ao recurso.

CORREIA LIMA
RELATOR
Assinatura Eletrônica

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