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Mário ~ eº ~

Organiza ;0 r ·. Ritual do couro de onça


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UCDB
Sumário
Agradecimentos

Apresentação ........................................................................................ 9

Alfabeto Bororo ................................................................................ 12


Fases do Ritual do couro de Onça .............................................. 13
Aos anciãos Bororo pelo desprendimento em permitir o ADUGO BIRI (texto pri ncipal em Língua Bororo) .................. 15
registro de sua cultura oral: Antônio Kanajó (in memoriam),José 1 - Introdução ......................................................................... .... 18
Carlos Meriri Ekureu e Manoelzinho Venceslau Maru Bororo(in 2 - Adugo bitodu adugo biri inogidodu ................................. 20
memoriam); 3 - Moridodu ................................................................................ 28
Aos alunos da escola Bororo de Meruri, do ano letivo de
1998, pela participação na pesquisa e pela realização de ilustra- COURO DE ONÇA (texto principal em Língua
Portuguesa) ................................................................................................ 37
ções e textos;
Ao Pe. Gonçalo Ochoa cuja grandeza de espírito e de 1 - Introdução .............................................................................. 3 7
saber somadas à disponibilidade para o trabalho realizou as 2 -A matança da onça e furação do cou ro para esticar
traduções e/ou revisou os textos em língua Bororo; e secar ...................................................................................... 39
À Profa. Ora. Dulcília Silva pela disponibilidade em revisar 3 - Ornamentação do couro e entrega da recompensa
para o matador .......................................................................46
o texto em língua portuguesa;
À Profa. Dra.Aivone de Carvalho pela dedicação com que BOE EMORIAE (texto complementar em Língua Bororo) ..... 57
acompanhou a edição do livro, sugerindo, selecionando imagens, 2 - Adugo bitodu adugo biri inogidodu ................................. 5 8
adequando-as ao texto, além do apoio junto ao Museu Comuni- 2.1 - Outros cantos mais extensos que aparecem citados
tário Bororo e Centro de Cultura de Meruri "Pe. Rodolfo neste ritual .......................................................................... 6 9
Lunkenbein" para que este fosse publicado.
CANTOS DA FESTA DO COURO DE ONÇA (texto
Ao Ministério da Cultura/Prêmio Cultura Viva pelo apoio
complementar em Língua Portuguesa) ........................................ 7 1
financeiro que viabilizou a impressão da obra.
2 - Matança da onça e furação do couro para esticar e
secar ......................................................................................... 72
BOE MORI BAROGO -Variação 1 (Língua Bororo) ................ 83
A RECOMPENSA - Variação 1 (Língua Portuguesa) .............. 104
BOE MORI - Variação li (Língua Bororo) ................................. 12 1
A RECOMPENSA - Variação li (Língua Portuguesa) ............. 133 Aprese ntação
ANIMAIS UTILIZADOS COMO MOR.I .................................. 146
1 - Adugo coreu ........................................................................ 14 7
1 - Onça preta........................................................................... 49
2 -Aigo ......................................................................................... 50 "Adugo Biri, Boe M ori, Boe Mori Barogo, Boe Emoriae"
3 - Aipobure (Aikido ou Awogodori) .................................. 5 1 !-.fio expressões bororo que se refe rem ao mesmo ritual: aquele
Nn que um couro de onça, ou de outra fera, ou de uma ave de
4 -Aimeareu ............................................................................... 52
5 - lpocereu ............................................................................... 53 r;ipina é ofertado aos parentes de uma pessoa falecida
6 - lerarai ..................................................................................... 55 ,·cccntemente.A palavra "mori" é um significante que remete a
7 - Okwa ..................................................................................... 57 muitos siguinificados, por exemplo, pagamento, recompensa,
8 - Moribo ................................................................................... 58 vingança, repa ração de danos, indenização, ret ribuição e
9 -Aroe eceba ........................................................................... 60 res tabelecimento do equilíbrio entre a comun idade bororo e a
1O - Aroe eceba ......................................................................... 62
natu reza, as almas dos finados e os espíritos. Este último nos
11 - Kuruguga ............................................................................ 64
parece o significado mais interessante. Este ritual, muito alegre e
12 - Makao .................................................................................. 66 fes tivo, é rico de sentidos simbólicos, sociais e educativos.
1 3 - Tagogo .. .............. .... ............................... ........ ................. .... .. 6 7
• Simbolicamente, como em quase todos os rituais bororo, as
14 - Kugu .................................................................................... 69 almas dos finados e os espíritos estão representados pelos par-
9
ticipantes do ritual. Não é o matador da onça que é enfeitado,
mas a alma do finado e o couro da onça servirá a esta como
abrigo.A onça, as feras e as aves de rapina representam os espí-
ritos ruins. Kanajó chama de "Tugomagaia" o espírito que está
na onça macho. Matando o espírito ruim que tirou a vida de um
Bo roro efetiva-se a vingança. Diz o canto que os bons espíritos
agora são os donos do couro da onça. Os bonitos adornos e
presentes que o caçador recebe como recompensa agra~:lam o
Pai dos espíritos, "Maereboe doge Etuo", que enviará outros
animais quando os Bororo precisarem (Conf. Enciclopédia
Bororo v. 1, p. 235).
• Quanto ao aspecto social, neste ritual, a reciprocidade entra
e m cena constantemente. Quem mata a onça é um Bororo da
metade oposta à do finado que, em troca será recebido pela
outra metade com um banquete e muitos presentes. Esta metade,
por sua vez, rece be rá comida da metade à qual pertence o caça-
dor. Coisas típicas da cultura indígena e de modo especial dos
Bororo.
• Do ponto de vista educativo, este texto é fruto de um proces-
so de aprendizagem muito bonito que se deu na Escola Indígena Plílnta da Aldeia
de Meruri envolvendo toda a comunidade. Teve início com a
celebração do ritual, que acontece com uma certa frequência,
seguido pela narração dos anciãos bororo, pelo estudo e
ilustrações dos alunos orientados por seus professores e,
culminando com a sistematização de todo o processo feita por
mim com a competente colaboração do Pe. Gonçalo Ochoa e
da Prof' Drª Aivone Carvalho Brandão. Inclusive foram anexados ~~00~ f(f~fí( &,1
os cantos do r itual, cujos ritmos executados pelo mesmo Kanajó,
informante principal deste texto, vêm gravados em CD, no intuito
de subsidiar quem estiver interessado.
Enfim, aqui está mais um texto, dentro da vastíssima bibliografia
Moit,-E

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sobre a cultura bororo, destinado de modo especial à juventu- tá
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de bororo. É para os jovens saberem "como é que os Bororo
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dançam, como é que os Bororo fazem". Assim diz neste texto o
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meu saudoso padrinhoAntônio Kanajó, que não escondia o medo
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10 de um dia os jovens Bororo não se interessarem mais pela prática
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de sua riquíssima cultura.
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Tomara que este texto, mesmo na sua pequenez, colabore para ~o
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Mário Bordignon Ilustração: A ilton Meri Ekureu


Fases do ritual do couro de onça
Alfabeto Bororo

abcdegij kmnoprtuw
O1. Barogo bitodu A matança do bicho
A - como em amar. Ex.: ari (ári) = lua;
B - como em bom. Ex.: bure (búre) = pé;
C - como em tchau. Ex.: coreu (tchoréu) = preto; 02. Bureaguru A dança ao redor da onça
D - como em dado. Ex.: apodo (apódo) = tucano; morta
E - como em eco. Ex.: meri (méri) = sol;
G - tem sempre um som gutural como em gato 03. Biri tawujedu O esfolamento
Assim: ga, ge, gi, go, gu, pronunciam-se como ga, gue, gui,
go, gu, pronunciam-se como ga, gue, gui, go, gu;
Ex.: muga (múga) =mãe; cegi (tchégui) =nós; 04. Biri jaidodu Esticamente do couro
1 - como em ira. Ex.: ime (íme) = homens;
J - pronuncía-se como dj. Ex.: joru (djóru) -= fogo;
K - como em capa. Ex.: karo (cáro) = peixe; ruck (rúque) 05. Cibae etawado Canto
= moscas; 13
12 M. N - como em mina Ex.: !mana (imána) = meu irmão
mais; 06. Braedu kukuri A representação do branco
O - tem o som fechado, aberto ou normal, dependendo barrigudo
da palavra;
P - como em porta. Ex.: Pobo (póbo) = água; 07. Barogo biri kujagudodu A pintura do couro do bicho
R - como em ira. (É sempre igual, no começo ou no meio
da palavra);
T - como em tatu. Ex.:Tubore (tubóre) = lambari;
08. Barogo epakujagudodu A pintura do matador do
U - tem som normal (u), ou central (-), dependendo da pa-
bicho
lavra. Ex.: Kudu (cúdu) =farinha; imedu (iméd-) =ho-
mem;
09. Mori/Moriae O pagamento/O que é
W - tem dois sons:
oferecido
a) tende a ser u, quando seguido de uma das vogais a,
o,u. Ex.:Woe (uóe) = aqui.
b) tende a ser v, quando seguida de uma das vogais e, i. 1O. Adugo ó/Aigo ó Os dentes da onça pintada/
Os dentes da onça parda
Ex.: lwe (ive) = ouriço.

Observações: A língua bororo não possui vogais nasalizadas. Na atual ortografia 11. Adugo lnegi/Aigo inegi As unhas da onça pintada/
bororo, não se usam acentos ortográficos, pois todas as palavras de mais de uma As unhas da onça parda
sílaba são paroxítonas, não são usadas consoantes duplas, nem grupos consonantais,
nem sinais diacrítcos, nem traços de união entre elementos da mesma palavra.
TEX TO PRINCIPAL
12. Boe ereru A dança ADUGO BIRI Antônio Kanajó
Adugo Ki rimido

13. Reko baiado Levar no meio da aldeia

14. Barogo uke/Barege eke Comida do bicho/Comida dos


bichos

15. Toe maku Entrega do direito sobre os Pesquisa: Mário Bordignon


objetos do clã do finado
Transcrição da Língua Bororo
para a Lingua Portuguesa: Gonçalo Ochoa
16. le bio Apelido, nome de morte

14 15
r;'d,,,:,,n /'?$ i(~J<f'*
e,.,...=-"' e J\''J',°

17

Boe eidugodo odugoji


(flec han do a onça pintada)
Ilustração: Edmar Rodrigues O roar ibo Kajejeu
1 - Introdução Narração 09. Ure iwobe etagedudo, ure iedagamage, imanamage, ure
em Língua Bororo c tagedudo.

Kodire bokwamodukare adugo maku,aigo maku,aipobureu


Kanajó:
maku, ikudawuce, imorice."
O1. Boere adugo bito.
Boere adugo bito Aroia Kurireu marice. 10. Oinore boe ego re:
Ca! Urugadu jao.
02. Boe egore:
Cewu ceraedure roino ji. Cewu Baadojebare roino ji.
Aroia Kurireu moricere roino ji.
Tadugio moricere roino ji.
Jakomea Kurireu moricere roinoji.

03. U! Kodire boe eragodumode.


Boe eragodumode apo.
18 - "Tado tarugadu! Taragodumo de!"
19
04. Ukadawu remawure uwadodure, akore:"Tado tarugadu!
Tagogududo itabo, taiagududo itabo!
Taragod uwo ikudawu apo, ikuie ad ugo apo, imori
ad ugo apo.

OS. Marenaru nure imi, kiogo barogo nuri imi, kodire inagoino
tagabo.

06. ltamagadure tagabo. Kodire taragodumode ikudawu adugo


joki inai.

07. lcare ikudawu bitodure. Care imori bitodure. Bitodu bokwa


modukare ikudawuce, okwadodu bokwamodukare
ikudawuce.

08. Maereboe, bope tuiordu tabore roino, akoino, batarurino.


2 -Adugo bitodu adugo biri inogidodu
011. Ure o keagi taci. Ca! lcare akore:
" lca! Tabu redo mato, pawo biri ta!"
Kanajó: lcare, boe icare are akedudo tu je.

O1. Boere adugo bito toro boe tada, itura tada; toro tori tada 09. lcare boe ere, kodu maku, kodu maku, kodu maku.
toooro, icare boere tudo pui ae. Cibae tawadu epare ukere adugo morora.
Ca! Ere morora jodo Cibae Tawad u epa keje tuku!
02. lcare ure bitowu ure bureagurudo ukudawu remawuji,
toro boe tada. 10. Care, boere akedudo du keje, icare boe eture, adugo
apo.
03. U! Ure batarudo toro taci. Ure batarudodu akedudo du
keje icare ure ipo maku. Ure ipo maku tu umode ipo to 11. lcare boe ekudugodure, boe egore:
jiwu ai. "Kaaao! Wo! W o! Wo! W o! Wo! W o! Wo! ... "
Ca! lcare boe eture toro baato. Boe ekodure ji to ro baato.
04. Cibae tawadu epa koiare umode ipo to ji, adugoji, adugo
imeduji. 12. lcare areme emearudure boe ekuduji.Areme egore: " Baaa!
20 A! Muga keje: Paobe ekudu aregodo! Paobe ekudu aregodo!" 21
(Canto) A! A reme eregodure toooro!!
"Bal<ororoooooo... Tugomagaia ... aia... dugo... doge ere Etaregodo etogi tu.
tawaio owo tagudare ... are ... godure ... nowu. Mere
mere ... ta ...regodure ...ta ... regodure ... " (Bis) 13. Ca! lcare nowu ure bit owu, ure adugo bitow u uce, utuie,
uwie, koiare ure tud ugu nowu adugo biriji.
05. Ca! Woere icare akore: Ca! Boe ekodure, boe etaregodure baato tu.
"M! Adugo imedu bukejewu reo:'
Adugo imedu, Bakororo tugomagaia. 14. Ca! Du keje icare ure bureagurudo pugeje; cew u epa ure
bureagurudo pugeje nono, baa t ada pugeje.
06. Ca! Akore: Ure bureagurudo ukudawu remawuji pugeje tu, ca!
"Wooo! ... Wooo!. .. Wooo! ...
Ure ipo to ji po po po po po! 15. Ca! Ure batarudo ji. Ca!
Ure ipo to ji tu." Ure bat arudodu akedudo, du keje icare otowure tugeragu
nowu adugo biriji: No ... no ... huuu ... hu ... Huuu! ...
07. Ca, du keje icare ure toriga jodo okwa keje.
Boeegore: 16. Ca! Care ure cedo t oro bato, to ro tum uga kae.
"Ure oku bowuje:' Oinore boe egore." Ure oku bowuje:' Ca! O reduje ure kodo baado.
"Cewu okwa, okwa, okwa jire egoino: oku." Ca! Ure adugo biri mugudo tu ...
-

17. Care nowu ukudawu remawu aregodure mato tuwabo 1li, Uragodu akedure tu.
tabo. C c1 ! N ono ere bapo maku maku pugeje.
lcare uragodure joki. Nonore icare boere bapo maku nowu Bakororo ika epa
c1 i t u. Ca!
Ou keje icare are Bakororo ika ko.

19. Ou keje icare bae eregodure nawu ure aduga bitawu ae


tooro:
Waaa! ... Waaa! .. .
Toro, mugu re toro tuabe ebo du kae.

20. Bae era bi r i reo, bae ero pemegareu. Boe eedui kimo taba,
bae enagwa padui kimo du taba.

2 1. Ere boe era pemegado. Boe era matu re, boe ero
kororogodure, bae ero motudure.

22 22. Oino rema, oinare care boe era akedure, boe era bakware 23
pugeje.

23. Ca! Ou keje icare eregadu re ae, marenaruie keje pugeje:

"Mare... naaa ...ru ... ie ... mare ... naaa ... ru ... ie ...
ei ... go... iaa..."
Eregodure toro ae.
Egare:
"Waaa! ... Waaa!... Waaa! ... "

24. Ca! Ere reka mato pugeje.


Ca! Ere muguda woe, nowu adugo biri keje tu.
/core uragodure joki
(o dono do couro canta para o matador da onça) 25. Ca! Ou keje icare ure biri porodo. Ure biri parado pugeje
Ilustração de Edujebado - 7' série
to to to to.
la metuiare tugera braredo ji, nowu biri parado duji, nowu
Bako roro ika kuda, kidagu r u paru kuda, marenaruie kuda.
26. Oinore boe erore. 1, (Canto)

27. Mare awu inodu jire Kogure akoino. Imago nure tu oino. Mcr c ... Mere... porodo ... dure ...
Paga tu je. Mcre ... Mere ... prodo ... dure ...
Mare awu iwagedu Enawureu makore. Emare okeare, emare O ece ... raie ... e! O ece ...raie ...e!
aidure. O ece ...raie ...e! O ece... raie ... e!

28. Aidure paga nure tu je, okea rogu paga nure tu je. :L• Aku ...rara ... reu ...porodo ... du re ...
Awu boe etore eerduwo, boe etore emearuduwo, mare Ari. .. reu ... porodo ... dure...
egowo oino karega. O ece ... raie ... e! O ece... raie... e!
O ece ...raie ...e! O ece ... raie ... e!
29. Awuge eerduwa modukare boe ero bogai, eerduwa
modukare l6. Barogo porododu kejewu reo.
boe ewadaru bogai, eerduwa modukare roía bogai. Awu makaguragare, raicigo.
Braedu tuwadaru jire eerduware, braedu tumago jire Mare awu inagocere kaewu, taerduwamodukare ji,
eerduware, kode eragodu moduka, ego modukare. tamodukare kagado, tamodukare pemegado.

- 24 30. "A!. .. Oinore ure, oinore akore, oinore gravador akore,


37. Mare tamearudu rumode tu oino. 25
oinore meriri akore". lnodu moduka.

3- Áaa ... ria ... torowareu ... porodo ... dure


31. Awu iwagedure aidure tu je, kodire inagore tu oino, awu
boro...iori ...porodo...dure...
inodu rogu tu je.
O ece ... raie ... e! O ece ... raie ... e!
Tamearudu rumode tu oino awu inodu roguji tu je.
O ece... raie ... e! O ece ...raie ...e!
32. Awu ia ipare ekare turokagado tu oino nowu uragodure
tu jiwuge eegai! Ca! lwagedu Félix makore Cibae Tawadu 4- Aigo ... doge ...enogwa... porodo... dure...
bogai Ire Cibae Tawadu kagado biegai, mare akedukare. Aigo... doge...ekera ... porodo ... dure...
O ece ... raie ... e! O ece ... raie... e!
33. Du kodire, imago nure tu oino: boe ereruji, boe eroji, O ece ... raie ... e! O ece ... raie ...e!
tu rugadu .
5- Aigo doge ...ewure ...porodo ...dure...
34. Ca! Nono boe egore. Aigo doge...etowo... porodo ... du re...
Care ere biri porodo. Ere biri porododu akedudo tu. Ca! O ece ... raie... e! O ece ...raie ...e!
Ca! Nowu biri porododu akedure du keje, care nowu O ece ... raie... e! O ece... raie... e!
uragodureu akore:
6- Aigo doge ... ewiri. .. porodo... dure... Y, loor o l<ujagudodu kejere icare,Aaa! Boe erare pugeje.
Aigo doge... ewiri ... porodo ... dure.. . N ow u kurire, pemegare toro pugeje.
O ece ... raie .. . e! O ece ... raie... e! Cn! Urugadu jao.
O ece ...raie ... e! O ece...raie ... e!
10, /\wu boe etaregodui apodu, bitoduredu, biri
porododuredu oto pa reo.
7- lpio... porodo ... dure... O inore boe egore, oinore boe erore.
lpio ... enogwa ...porodo ... dure.. .
O ece ... raie ... e! O ece ... raie... e!
O ece ...raie ...e! O ece... raie ... e!

8- lpio ... ekera ... porodo ... dure.. .


lpio... ewure ... porodo... dure ...
O ece ... raie ... e! O ece... raie ...e!
O ece ... raie ...e! O ece ... raie... e!
27
26
9- lpio... etowo ... porodo ...dure .. .
lpio... ewiri ... porodu ... dure...
O ece ... raie ... e! O ece ... raie... e!
O ece ...raie ...e! O ece... raie ... e!

1O- Bokodori porododure


Bokodori ... ekera ... porodo ...dure...
O ece ... raie ... e! O ece ...raie ... e!
O ece...raie ...e! O ece ... raie ... e!

38. Ca! Awu oto pa reo.Awu akedu. Barogo biri po rododure


oto pa reo.
Bitoduredu, etaregoduredu oto pa reo.
1O. lcnre ere pu enoedo turugadu. lcar e meri r ekodure, du
3 - Moridodu
kcjc icar·e Bako ro ro ika epa uragodure pugeje.

11. Ca! Adugo biri padu re woe, care ere Bako roro ika ko jii
1

tor o marenar uie kae pugeje.


1. lcare jeture. Adugo biri jeture pugeje jii too ro.

12. Du keje icar e eregodure to r o nowu epa ae.


2. N owu ukudawu remawu maragodu nure tugoji, baigaji, baiga
Mugo to ro tuobe ebo du kae, t uobe eegorai
otojiw uji, kiogoaroji, toroe boeji.Tumode to, ture to nowu
du kae.
tugudawu adugo moriceboe boeji . Etar egodo mato apo.
(Canto)
3. Otowuge emagareu. Otowugereure uwadodure
''Maré ...na ...ru ... ie...
todowuge etae. Mare ...na... r u.. .ie...
Ei...goia ..:'
4. U! Otowuge ere tugera bararedo ji tugoji, boigaji, ure to boe
jamedu boeji. 13 . Boe egore: "Waaa!...Wa wa wa wa wa!"
Ca! Car·e akedure. Ure tugo iado, re boiga iado, ure jamedu Boere boe pemegado, boe mot udo.
-- 28
boe akedudo tu je. Ca! Ere mugudo woe tu ...
29

5.

6.
Du keje icar e uwadodure pugeje. Uwadodure tumedage
etae ceee .. . Tuku.

Ure etagedudo tu . Ca! Du keje icare ceraedu uwado du re


pugeje, cerae etae pugeje. Boe jamedu bo e ae.
14.

15.
Ca! Care kidoguru para kod ure.
Unur e adugo o porodo.

Cace ure pocododu akedudo t u...


Kidoguru paru akedure tu...
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Nowu boe ero pemegare, kodir e boe ewadodure, boe lcare nowu ucere tugera kogudo iera paru gajeje, jice ia
emagore, tugo makuduwo; tugo makudu nure puibagi. t ugudae baa kae, ko do baa kae. Beto baa kae, jice t uwai
lme enure tudugo maku puibagi. mugurewo, ur e mugudo tu ...

7. U! lme eparadure, oinore iaboere tugo taba pui puae, Ca! lcar e ur e pobo r eda aoji beaaa! Ure pobo redo joki
16.
taidure jiwu tuie kudure jiwu pu tugoji. beaaa!
Ca! lcare ure tugeragu cewu t o adugo bir iji utu tabo,
8. Du jire boe ewadodure, boere pu jorduwado, boer e pu t o ro uo be etae tor o pugeje...
roiwado.
17. Bu toro tu ... Ca! Padu nure toro rugadu.
9. Boe ewadodure areme etae, aremewo toe pemegado, ewo
toe to, ewo toe kurido. Ewo toe makado, pu ukej e. Nowu metage, uwiemage, umanamage eigoiare icare er e
18.
I U, l: rc akedudo tu toro, ca! Eregodure nowu adugo epa ae
nabure ikodo, kuido ikodo, keiagu ikodo, kuruguga ikodo,
toro pugeje, ere arego mato pugeje.
ere bararedo nowu adugo biri okwaji.
Ca ! Ere mugudo woe pugeje tu.
Care nonogo tugudumode to. Care nonogo tugudod ure
to ... tu .. .

'1 1. Ca! Nonogo tugudui todu akedure, du keje icare ure now u
ukadawu remawure tugeragu to tugoji, to boigaji.

22. Ure tugeragu to tugoji, to baigaji. Ure nowu toe


bureagurudo ji, akore:
" Gae gae gae gae gae gae gae! Atugo reo, awoiga reo,
akuie powari rena, ako ae rena!

23. U! A kuie powari reno!: Oinore arore ji, oinore akagore ji,
oinore awadarure ji.
Nowu pega inodu, mono inodu, arodu inodu, okwarigudu
inodu jire aroino, akagoino, awadarure ino. 31
30
24. Are acebado cee boeruce, are acebado cee bubutuce, are
acebado cee boiar uruce, boigabece, nowu pega inoduji,
mono, arodu, okwarigudu inoduji.

25. Akagodo,awadarudo ino.Ema reno,atugo reno,awoiga rena,


awuge rena, awuge rogu rena, awuge apueceba rena, akuie
powari rena! Nowu bu tu awugeje, metudo tu akao cada.

26. Du tabore are ake karo kodu kowuje, are ake barogo kodu
kowuje: are ake kuiada kuru, ake aroe kuru, ake no kodu,
Ere nabure, kuido, kuruguga ikodo bu keje
(colocando penas de asa de arara vermelha, azul, gavião e outras) apeo kodu, apea, noa, are ake motore... are ake apidoia... are
Pedro Paulo Aturuwa Ekureu ake noidoia... are kowuje.

27. Mugure tu awugeje, meturetu akaotada, paduretu awugeje!


19. Ca! Kodire biri motu nure. Oinore arore ji, akagore ji. Apogu r u kaba ji, arodugodu
Nowu inodu bogaire boe ewadodure, boe emagore. Nowu kabaji;
inodu bogaire boe ewadodure, boe emagore.
28. U! Makore aiboe bokwa, batarure aiboe bokwa, okire aiboe tudugu tudaria
ku da, ere tudaria mugudo.
bokwa.
Marenaru nure imi, kiogo barogo nure imi, du tabore ire Tugarege erore ino jamedu, ere tudaria mugudo tu.

maku akai.
11,i, Aremere icare enogwarere tuge boeji, tuiegare tabo, taidu
29. Ca! Atugo reno! Awoiga reno! Akoroe reno!" tabo!
Ca uture ceee ... care otowure tugeragu nowu O inore care, nowu ture adugo bitowu ure tugeragu,
utugoji, uwoigaji, nowu ukuie powariji, o aeji, r ekodu nowu to adugo bitowu ae.

oroe boeji tu ...


16. Ca! Aregodo mato tabo, ture tabo, nowu Bakororo ika epa
30. Ca! Du tabore icare boe eture toro baiado. r akojere tu ku je du kae.

Ca! Egore:
J7. lcare ure bureagurudo ji pugeje:
(Canto)
Kae kae kae kae! Kae kae!
Wacino ko... o wacino ko.. .
Akore:Emareo,emareo,emareo!
Uke... ki. .. reu, ai...kuri. .. reu ... uwai ga...
U ... ke ... buke ... reu ai. .. kuri. .. reu ...uwai...ga ... Akudawu adugo biri reo,
Ai. .. ewa...ai ... ewa... wacino ko... o, wacino ... ko ... akuie adugo biri reo.
Uke.. juko... jugoreu ... ai ... kuri ... reu. Uwai ga ... uwai ga ... Ca! lcare ure batar udo pugeje. 33
32
Uke jurireu ai. .. kuri...reu ... uwai ga...
38. Boe enogwagere toro, du kejere nowu badojebare tubo
Ai...ewa...
to adugo bi riji, aigo biriji.
3 1. Tugodui toro tabo, tuobe enoe tabo toro baiado.
Ca! Torowuge eregodure mato enoe kae, ere tugeragu toro 39. Ca!Akore:Hoi! Hoi hoi hoi! Akare Bakororo!Akare Bakoro
ji. Ere jetu baiedada, ere tuwirido ta . . . bororo oia kajeje, Kudu! Akare BakoroAkaru! A kare ... lpareceba! Akare
Biriga! Akare Uwaeceba! Akare Kaiaceba! A kare Buredudu!
baia oia kajeje. ·
Akare Uwaboreu!
32. Ca! Ceraedu etaregodu mato toe tabo pugeje. Akarekare imi. Hoi! Hoi! Hoi hoi! O o o! ...
Care Tugarege eregodo toro enoe kae pugeje.
Ere jetu woje, tuobe etai. Etuobe egore:
Aaa! tu. Akedure tu je.

33. Ca! Du kejere icare ere maku tuobe etai pugeje, jice.
Kuiada kuru, aroe kuru, noidoia bere, noidoia kujagu.Awu
tuge boe, boe ekee boe, ere maku.

34. Ca! Cerae eke mugure woje tudaria tabo, ere


Akudawu adugo biri reo.
1- Bakororo ...
Bakororo ... Orowaribo aiduia atugarege enowo akuie Awu baado tu akuda, awu bu tu akuda. Awu kejere are
amugudo.Awu kejere are ake karo kodu, are ake barogo
akudawu ai hoo! ...
kodu, ake ... l , ake aroe kuru, awu kejere are ko! Awu
kejere awudugugodure, akamogodure. Amugudo tu keje,
2- Orowaribo ...
Orowaribo... Kugarubo aiduia atugarege enowo akuie awu tu keje, anududo tu keje. Akudawu adugo reo,
akudawu adugo reo.
akudawu ai hooo...

3- Taboguru ...
42. Ca! Care ure tugeragu ji pugeje, ure maku cewu ure
Taboguru, Keoguru aiduia atugarege enowo akuie akudawu ai batarudowu ai pugeje tu.
C a! C are ure tugeragu ooji, nowu epa ure tugeragu ooji
hoooo...
pugeje.Adugo ooji, to Adugo ooji, kodu tabo tuje ae.
Ca! Ure barigu tuje aoto kuri tuku.
4- Mariguru .. .
Mariguru ... marigurubo aiduia atugarege enowo akuie
akudawu ai hoooo...
43. Akore: lmuga... akuie adugo o reo! Akuie adugo o reo!
Akuie adugo o reo!
Bu tu awugeje! Padui tu awugeje du tabore are akeragu
5- Omuguio ...
.. _..._ Omuguio atugoio aiduia atugarege enowo akuie akudawu ai poboji. Padui tu awugeje du tabore are akeragu jerigiji. Padui 35
34 tu awugeje du tabore ... are akeragu ake roguji, akoe roguji.
hoooo ...

6- Okogebo ...
Okogebo... Ararebo aiduia atugarege enowo akuie akudawu ai
hoooo.. .

7- Meri rutu ...


\
Meri rutu ... meri butu aiduia atugarege enowo akuie
akudawu ai hoooo...
W aaa! ...

40. Ca! Akedu nure.


Oinore boe egore, oinore boe erore.

41. Ca! Care nowu ure adugo bitowu ure tugeragu now u to Aredu mugure tuguie adugo ó odugo biri keje
adugo biriji pugeje. (mulher com colar de dentes de onça sentada no couro de onça)
Ca! Care ure maku ukudawu remawu ai. Ilustração: Mar ia Auxiliadora Joare-Reia

Akore: Gae gae gae gae! Emareo! Emareo! Emareo,


Emareo!
Narração
44. Padui tu awugeje du tabore ae kodure tu akariaji, akeji, 1 - Introdução
em Língua Portuguesa
akoeji joruto.

45. Akaba ipo, kamu, kamureu, akaba ukuiedo ema.


Akaba kodorabo ... akaba kodobo ... akaba micigu ... akaba OI. Os Bororo matam a onça pintada.
oroedo ema! Os Bororo matam a onça pintada para pagamento de
. 'B u
Akaba jetu pagado, akaba padu pagado! Bu tu awugeJe. Aroia Kurireu (Pano Grande).
tu awugeje!
02. Os Bororo dizem:
46. Marenaru nure imi, kiogo barogo nure imi, iordukare cewu - Foi aquele Ceraedo (da metade do Norte) que fez isso
iedagaji, imanaji du tabo karega ... iwudure tori~o, itu'.~to ... com ela. Foi o Baadojeba que a matou. Para pagamento de
Ou tabo karega ... boto jeture ii, iwara jeture 11, ton Jeture Aroia Kurireu, para pagamento de Tadugo, para pagamento
ii, jerigi jeture ii! de Jakomea Kurireu.

47. Ou tabo karega .. . bubutu, boiaruru, boigabe, padure tu 03. Sim! Por isso os Bororo vão cantar. Os Bororo vão cantar
iwugeje. . com ela.
Ou tabo karega ... makao ... kugu ... bi...tugodaga ... co1 ... ako - Preparem-se! Vocês vão cantar.
. -------
36 makodu buture tu iwugeje, tori tada, itura tada. 37

48. Ou tabo karega ire bito, ire bokwado ... akuiece, akuiece!
Akuie reno! Akuie reno!"

49. Ca! lcare akedure.

AtDCi~
130ROT<O

Planta Baixa -Aldeia bororo


Ilustração: Ailton Meri Ekureu

Meruri, Agosto de 1998


04. O dono do Couro (o que recebe o couro da onça) • A matança da onça e furação do couro
anuncia e diz: para esticar e secar
- "Fiquem preparados! Tenham dó de mim, ten ham
pena de mim! Para vocês cantarem com o meu tapete,
O1, Q uando os Bororo matam a onça pintada lá no mato na
com o meu colar de dente de onça pintada, com o meu
flo resta, lá na serra, então eles se reúnem no rumo dela.
pagamento, a onça pintada:·
()}., Então aquele que a matou corre ao redor do dono do
05. Eu sou pobre, eu sou um coitado. Por isso que estou
couro, lá no mato.
avisando vocês.
03. Sim! Ele faz a proclamação e, quando termina, entrega o
06. Eu me preocupo com vocês. Por isso que vocês vão
pau para aquele que vai bater na onça morta.
cantar para mim sobre o meu couro de onça pintada.
04. É o cantor de Cibae Etawado quem vai bater com o pau
07. Então o animal do couro bonito para mim foi morto, a
nela, na onça pintada, na onça pintada macho.
minha recompensa foi feita. Não podia deixar de ser
Depois canta:
morto para mim, não podia deixar de morrer para mim.
"O Espírito Tugomagaia, tu devias correr com as onças
. --:-·- ---
38 08. O espírito ruim com sua esperteza fez isso, dizendo e
pintadas na chegada dos Mere Mere". 39
falando . 05. Eis aqui, então, ele diz: "M! Este é o canto sobre a onça··

09. El e acabou com o meu povo, ele acabou com os meus


pintada macho". t
A Onça pintada macho, Espírito Tugomagaia. . ;~
padrinhos e com os meus irmãos mais velhos.
Por isso ele não vai deixar de entregar a onça pintada, a
onça parda, a jaguatirica, para ser o -meu couro, como
06. Aí ele diz: ~J -~-·
- Wo! ... Wo! ... Wo!... /~ \
recompensa." Ele bate com o pau nela pó pó pó pó pó! Ele bate-~om 0
pau nela.
1O. É assim que os Bororo falam. Eis, basta por agora.
07. Aí então ele passa a faca no focinho dela. Os Bororo falam
oku no lugar de okwa (boca). Eles dizem: "Ele abriu o
focinho dela".

08. Ele risca a barriga dela e diz:"Pronto, venham, vamos tirar 0

terminam. ,.:n
couro dela." Então os Bororo tiram o couro dela.Aí ,. ,

~f)
I
AI olc 6 levado lá para a casa, para o lugar dele.
09. Depois eles vão repartindo a carne.
O cantor de Cibae Etawado é quem recebe o lombo da A mulhe r este nde a esteira e coloca em cima o couro
onça. Então eles entregam o lombo para o cantor de rl,1 onça pintada.
Cibae Etawado.
li t\f o dono do couro chega com o seu chocalho e a í canta
10. Quando os Bororo terminam, vão embora com ela, com a •,obre ele.
onça pintada.
111. Q ua ndo termina o canto eles entregam de novo o
1 1. Então os Bororo gritam dizendo: Kaaao! Wo! Wo! Wo! chocalho.Aí eles entregam o chocalho para o cantor de
Wo! W o! Wo! Wo! ... Então os Bororo vão embora para Bakororo lka. Aí eles cantam o canto Bakororo lka (canto
a aldeia. Eles se encaminham para a aldeia. da flauta de Bakororo).

12. Quando as mulheres escutam o grito dos Bororo, dizem: IY, Depois os Bororo vão lá correndo buscar o que matou a
Ba! Está chegando o grito dos nossos parentes! Está o nça.
chegando o grito dos nossos parentes! "W a! ... Wa! ..."
Ah! As mulheres correm para lá ao encontro deles. Lá, onde ele fica com os seus parentes.

Então a mãe, ou a irmã mais velha ou a irmã mais nova 41


. .,._··. 40
13 .
daquele que matou a onça pintada, carrega o couro.
JO. Este é o ritual bem feito com o cou ro da onça. Quando os
Bororo ainda existiam, na época que tinha muita gente.
Aí vão e chegam na aldeia. ',

l i. Ele s faziam as coisas bem feitas . O costume dos Bororo


14. Aí então ele dança novamente.Aquele que matou a onça
era bonito, era perfeito, era bem solene.
dança de novo aí na aldeia. Ele dança ao redor do dono
do couro de novo.*
l'J. Mas agora, agora o costume dos Bororo já acabou. O
costume Bororo já não existe mais.
15. Aí ele fala por ela: "Pronto!"
Depois que acaba de falar por ela, o cunhado dele pega
o couro da onça pintada, agradecendo 23. Aí então eles correm no rumo dele, na hora do canto de
(No ... no hu ... hu... Hu! ...) Marenaruie (os pobres, os órfãos).
Mare... na... ru ... ie... mare... na... ru ... ie... ei ... go...
ia... (por causa dos órfãos)
Eles correm lá buscá-lo, gritando: "Wa!... Wa!... Wa! ..."
* É obrigação do Aroe Maiwu, "Alma Nova", aquele que rep rese nta o
finado durante o funeral, logicamente da metade oposta do fi nado , mat ar 24. Aí eles o trazem para cá de novo. Depois eles o fazem
a onça ou outro animal nobre, carnívoro e oferecer o couro a um parente
do finado, homem. O colar com os dentes da onça vai para a mãe ou out ra sentar no couro da o nça pintada.
parenta próxima do finado. Os parentes tem, pois, a obrigação de ofe recer
um banquete e alguns arcos e adornos ao matador da onça.
25. Depois ele fura o couro, ele fura o couro de novo, I li l.lc interessa só por interessar, ele gosta só por gostar.
Pnra as crianças verem, para as crianças escutare m, mas
to to to.
Um dos companheiros dele o ajuda a furar o couro. pr1 rr1 elas falarem não é assim.
Durante os cantos de Bakororo /ka (flauta de Bakororo),
Kidoguru Para (unção da resina) e Morenaruie (os órfãos). IY, Estes não vão aprender os rituais, não vão aprender a
língua bororo, não vão aprender a cantar em bororo.
Eles só ap rendem a língua dos brancos, só sabem a fa la
26. Assim que os Bororo fazem.
dos brancos, então eles não vão cantar, não vão falar (em
27. Mas é isto que Kogure (Formigão) está falando (Formigão bororo).
tem sua versão deste ritual). (Apelido de José Carlos
1O. Ah! Assim que é, assim que ele falou, assim que o gravador
Meriri Ekureu)
falo u, assim que o aparelho falou. Isso não vai ter.
Eu estou falando só por falar.
Mas este meu afilhado Enowureu pediu. Ele que interessa,
11. Só este meu afilhado que quis, por isso eu falei só esta
ele que gosta.*
co isinha. E vocês vão escutar só essa coisinha.

l2. Nenhum destes rapazes experimentou na frente dos que


. . . . .-..---- cantam.Vejam! O meu afilhado Félix pedia (para aprende r) 43
42 o canto Ciboe Etowodo. Eu ensinei para ele o Ciboe Etowado
mas ele não terminou. Ele não quis bem, ele não acabou.
Assim não vai dar certo. Eles não vão aprender.

,l3. Por isso que estou falando assim: como é que os Bororo
dançam, como é que os Bororo fazem, só isso.

34. Eis! Assim que os Bo roro falam .


Então eles furam o couro. Eles terminam de furar o cou-
ro.
Aí depois que acabaram de fu rar o couro, o cantor canta
assim:

Secagem do couro de onça 35. (Canto)


Ilustração: Salvador Rodrigues Tugo Jeba
1- O couro foi furado
O couro foi furado
Ó gente! Ó gente!
* Enawureu é o nome bororo do organizador deste texto.
<) Hl 111tc! Ó gente!
Ó gente! Ó gente!
li A 111,io da ariranha foi furada
2- O parecido com peixe pacu foi furado
<) p' da ariranha foi furado
O parecido com a lua foi furado
Ó 11cnte! Ó gente!
Ó gente! Ó gente!
() gente ! Ó gente!
Ó gente! Ó gente!

36. Este é o canto para a furação do couro do bicho. Este é 'I O rabo da ari ra nha foi furado
muito comprido. Mas isto que eu falo vocês não vão A pe le da ari ranha foi furada
aprender, vocês não vão poder executar, vocês não vão Ó gente! Ó gente!
poder fazer. Mas vocês só vão escutar agora. Ô gente! Ó gente!

37. Eis! (Canto)


1ONO tatu-canastra foi furado
A unha de tatu-canastra foi fu rada
3- Ária torowareu" (Panela parecida com o morro do Ó gente! Ó gente!
gavião torowa) foi furado Boroiori (cinto) foi furado Ó gente! Ó gente!
Ó gente! Ó gente!
tU.
....-.:--..·- Ó gente! Ó gente! Eis! Este é o final. Aqui acaba. Esse é o fi nal do canto da
fu ração do couro do bicho. Quando (o bicho) é morto. 45
44 Quando eles chegam, este é o final.
4- A boca das onças pardas foi furada
A mão das onças pardas foi furada
Ó gente! Ó gente! 19. Lá (mais tarde) quand o (o couro) é pintado, aí os Bororo
Ó gente! Ó gente! cantam de novo. Esse é grande, lá é bom de novo.
Eis! Chega por agora.
5- O pé das onças pardas foi furado
O rabo das onças pardas foi furado 40. Quando chegam com ele, quando matam (o bicho),
Ó gente! Ó gente! quando furam o couro dele, este é o final.
Ó gente! Ó gente!

6- O couro das onças pardas foi furado


O couro das onças pardas foi furado
Ó gente! Ó gente!
Ó gente! Ó Gente!

7- (O couro) da ariranha foi furado


A boca da ariranha foi furada
Ó gente! Ó gente!
9, Os Bororo comunicam para as mul he res, para que
3 - Ornamentação do couro e entrega preparem sua comida, para que façam suas coisas, para
da recompensa para o matador que façam bastante. Para que façam muita comida para
uns e outros.
1. Depois ele fica. O couro da onça fica muito tempo secan-
do no pátio da aldeia. 1O. Aí e las preparam a comida uns dos outros. E quando está
de tardinha o encarregado do canto Bakororo lka canta
2. O dono do couro trabalha fazendo flecha, arco, enfeite de novo.
da ponta do arco, "kiogoaro" (enfeite de penas para .
pendurar na cabeça), todas as suas coisas. O que ele vai 11. Eis! O cou ro da onça está aqui, e eles cantam Bakororo
fazer ele faz para pagamento do seu couro de onça pintada. /ka, até o Marenaruie.

3. Aquele que tem muitos cunhados. O que tem cunhados 12. Depois eles correm à procura dele que está lá com os
deve avisá-los. seus parentes, na frente da casa de seus parentes. (O
matador da onça).
4. Sim! Os cunhados dele o ajudam a fazer flecha, arco e Eles chegam com ele (na hora do canto de Marenaruie)
..-_,_______ tudo o que ele faz.
"Os órfãos 47
46 Aí acaba.Acaba de fazer flecha, acaba de fazer arco, acaba Os órfãos
de fazer tudo. Por causa deles .. :•

s. Depois disso ele dá aviso.Avisa para todos os seus 13. Os Bororo gritam: "Wa!... Wa wa wa wa wa!"
companheiros. Os Bororo fazem bem, fazem bonito.
Aí eles o fazem sentar aqui.
6. Quando termina de avisar todos, aí u~ Ceraedo avisa de
novo para os Ecerae. Para todos os Boror~. . 14. Eis! Agora eles cantam o Kidoguru Paru (unção com a
Os Bororo fizeram bonito, por isso eles dao aviso, eles resina)
falam para oferecer flechas; faz-se troca de flechas. Os Ele está furando o dente da onça pintada.
homens fazem oferta de flechas entre si.
15. Quando termina de furar e termina o canto de Kidoguru
7. Sim! Os homens vão para cá e para lá com as flechas, Poru.
procurando as flechas de que eles mais gostam ... A mãe dele pega-o pela "munheca" da mão e o leva lá numa
esteira estendida na frente de sua casa e o faz sentar aí.
8. Isso que eles comunicam, os Bororo ensinam uns aos
outros.
16. Aí ela derrama água na cabeça dele, derrama água sobre
ele (lhe dá banho).
Aí ele pega o couro da onça; a mãe, ou a irmã mais velha
pega dele o couro e vão com ele, com o couro da onça
pintada, lá para a casa dos parentes dele.

17. Co locam-no lá. E lá mesmo ele fica.

18. Os companheiros, os irmãos mais novos e os irmãos


mais velhos, são eles que penduram na beira do couro
da onça pintada as penas de asa de arara vermelha, as
penas de asa de arara amarela, as penas de asa de gavião
fumaça, as penas de asa de gavião-caracaraí.

19. Eis! Por isso o couro fica bonito. Épara isso que os Bo roro

____
.,._,......
convidam, falam .
Nowu kidogurare ere kujagudo
(Passar a resina e o urucum no matador da o nça)
48 20. Quando te rminam, eles buscam o matador de novo e o Ilustração: César Rondon Aroe Etugo
trazem para cá, no pátio. 49
(Canto)
Maré... na ... ru ... ie. Wo! ... 22. Ele pega suas flechas e seu arco e dá uma volta com seus
Aí eles o fazem sentar aqui de novo. Aí é passado o o bjetos ao redor dele dizendo:
urucum nele. O urucum é passado nele. "gae gae gae, gae gae gae ga!"
Aqui estão suas flechas, aqui está seu arco, aqui está seu
21. Quando terminam de pintá-lo com urucum, então o dono colar de cabacinha, aqui está seu co rdão de cabelos.
do couro pega seu arco e sua flecha.

.
23 . Sim! Aqui está sua cabacinha.Assim que você faz com
ela, assim que você fala com ela, assim que você fala dela.
Foi você que matou esse (bicho) mau, rui m, malfeitor,
ban dido.

f .~
. .
.. ,.>~". ' l • 'l '~

. 24 . Você o perseguiu no meio do calor, da chuva, do s trovões,

' dos raios, esse bicho ruim, mau, malfeitor, bandido.

25 . Fale, diga assim ...


Está aí, aí estão suas flechas, aí seu arco, aí sua rede, aí
11 Aí os Cerae por sua vez chegam para cá com as suas
sua rede pequena, aí sua rede de pegar paca, aí sua cabacinha.
Ponha-a sobre você, coloque-a na sua cabeça. comidas e os Tugarege correm ao encontro das com idas
26. Se ntado com e la você vai comer seu peixe, vai comer sua deles. Eles as colocam aí para seus parentes. E os parentes
deles dizem:
carne de bicho, você vai comer sua canjica de milho, sua
canjica de arroz, sua polpa de coco de babaçu, sua polpa "A! a a!" Quando terminam.
de coco de palmito de acuri e de babaçu.*
1J. Aí e les dão para seus parentes de novo ali: Chicha de
27. Fica em você, está na sua cabeça, fica sobre você! Trabal he milho, chicha de arroz, palmito cozido de babaçu, palmito
com e le , fale com ela. Não tenha vergonha dela, não a vermelho de babaçu; eles oferecem todas essas comidas
profane. esses alimentos deles.

28. Sim! Ningué m vai falar com você, ninguém vai criticar
você. Eu sou um pobre, sou um coitado, mesmo assim eu
entrego para você.

29. Eis! Sua flecha está aí, seu arco está aí, suas coisas estão aí.
. . . . .....·~ ---- Aí eles vão embora; então o cunhado dele pega as flechas,
50 o arco, a cabacinha-colar, o cordão de cabelo, as coisas 51
dele.

30. Aí os Boro ro vão lá para o centro do pátio.


Eles cantam:
W acino ko ... oh waci no ko...
O arco do jaguar comedor de anta,
O a rco do jaguar comedor de tamanduá.
O arco do jaguar co medo r de macaco e de porco.
O arco do jaguar comedor de catete.

3 1. Cantando com as coisas dos parentes lá para o meio do pátio.


Aí os de lá correm para cá para receber as coisas deles;
Areme ere barogo uke towuje
e les correm; eles as recebem e as colocam no meio da
(as mulheres preparam o banquete da
aldeia, eles fazem fileira no meio da alde ia. festa do couro da onça)
Ilust ração: Maria Trindade Tuboreguiri

* Esta era a comida tradicional dos bororo.


34. Eis! As comidas dos Cerae estão aí na panela deles, eles ~ dos dourados:
ll1 0
carregam suas panelas, e as colocam aí. , ll10dos dourados, o desejo do rio das praias é que seu
Os Tugarege fazem assim também, eles colocam a1 suas w upo te nha couro de onça.
panelas.
Huri tizal:
Agora são as mulheres que comem suas comidas, Huritizal, o desejo do Caetezal é que seu grupo tenha
35.
alegremente, gostando. c:o urn de onça.
Agora aquele que matou a onça pintada corre para pegar
o couro da onça que ele matou. ~ • Buritizal:
13uritizal, o desejo do rio dos buritis é que seu grupo tenha
Aí ele chega com (o couro) para cá correndo para o lugar couro de onça.
36.
onde está de pé o encarregado do canto Bakororo lka.
, • O muguio:
Aí dá volta ao redor dele de novo dizendo: " Kae kae O muguio, o desejo do que está pintado é que seu grupo
37.
kae kae! Kae kae! Eis aqui! Eis aqui! Eis aqui! Aqui está tenha couro de onça.
0
seu tapete de couro de onça pintada, aqui está o seu
enfeite de couro de onça pintada." li • Rio dos dourados:
. -~
....-·-.... .
52 Aí ele o faz falar de novo. Rio dos dourados, o desejo do rio das piraputangas é que 53
seu grupo tenha couro de onça
38. Enquanto aos Bororo estão lá comendo, o Badojeba bate
0
joelho no couro da onça pintada, no couro da onça I - Sol nascente:
parda. Sol nascente, o desejo do sol poente é que seu grupo
te nha couro de onça.
39. Ele diz: "Oi! Oi! Oi! Oi! Seu pai Bakororo! Seu dono o
Espírito! Seu dono o Grito do Chefe! Seu dono 40. Eis! Está acabando.Assim que os Bororo falam, assim que
Proclamação do Grande Chefe! Seu dono o Mestre dos os Bororo fazem.
Iniciados! Seu dono o Benfeitor dos Bororo! Seu dono o
Matador de Jacaré! Seu dono o Fabricante de Tambor _
ritual! Seu dono O Que tem Coração Bom! Seu dono nao
sou eu. Oi! Oi! Oi! Oi! O o o!. .."

1- Espírito , ,
Espírito, o desejo da aldeia Agua dos Dourados e que seu .. jf. HU I .. T
grupo tenha enfeite do couro de onça.
41. Eis! Então o matador da onça pega de novo seu couro de '16, Eu sou ó rfão, eu sou desamparado. Eu não vi meu padri-
onça e o entrega para o dono do couro dizendo: nho , nem meu irmão mais velho. Mesmo assim eu fui nos
"Gae gae gae gae! Está aqui! Está aqui! Está aqui! n-10 1Tos, entrei nas matas; mesmo assim os espinhos me
Aqui está seu tapete de couro de onça pintada. feriram, as varas, as ped ras os paus secos me feriram.
Estenda este debaixo de você, ponha-o debaixo de você.
Neste você senta. Sobre ele você come seu peixe, sobre 47. Mesmo assim, a chuva, o trovão, o raio, caíram sobre mim.
ele você come sua carne de caça, sobre ele você come Mesmo assim o macauã e as várias corujas cantaram tristes
seu arroz! Sobre ele você sossega e descansa. por cima de mim.
Eis aí seu colar! Eis aí seu colar!"
Senta nele, deita nele, dorme nele. Este é seu tapete de
onça pintada, este seu tapete de onça pintada." 49. Eis! Agora acabou.

42. Aí então ele o pega de novo e o entrega para aquele


que o faz falar.
Depois ele pega o dente dela, o matador pega o dente dela
--_·..--, ---- de novo. O dente da onça pintada, o dente de sua onça
54 pintada, vai com ele até sua mãe. Aí ele coloca na cabeça 55
de sua mãe.

43. Ele diz: "Minha mãe, aqui está o seu colar de dente de
onça pintada! Aqui o seu colar de dente de onça pintada!
Aqui o seu colar de dente de onça pintada! Use-o. Usan-
do-o a senhora pega água, usando-o,a senhora pega lenha.
Com ele no pescoço a senhora pega suas comidinhas,
suas coisas.

44. Usando-o a senhora mexe na panela aquecendo seu ros-


to, na sua comida, nas suas coisas dentro do fogo.

45. Não faça dele enfeite de algum pau, da assadeira, ou da


cama. Não faça dele enfeite de cestos ou sâ:cola.
Não o deixe à toa, não o coloque por aí à toa, use-o,
ponha-o em você.

Meruri, agosto de 1998


TEXTO
COMPLEMENTAR EM
BOE EMORIAE LÍNGUA BORORO

l 11 , quisa: Gonçalo Ochoa


h1h11 mantes:Antonio Kanajó Kirimidu
José Carlos Meriri Ekureu
Manoelzinho Wenceslau Maro Bororo
Frederico Kogeri

...._··-~·, -_ 57
J, 3. Awu Bokodori Eceraedu ukudawu jiboe egore:
2 -Adugo bitodu adugo biri inogidodu lwororo ...
lwororo Meriribo Bororo aiduia itugarege enowo ikudawu
1. Ai rece ai. O! ... (2x )
Cantado no lugar da caçada, sobre o bicho abatido.
Letra de Kanajó, Cf.Variação li de Manoelzinho Wenceslau lwororo...
CD: BOE EMORIAE (FAIXA O1). lwororo Kuruguga Bororo aiduia
itugarege enowo ikudawu ai.
Ai rece ... O!. ..
akaru butuiare .... O!. ..
Bakororo iaio buko lwororo ...
Ecera ai akarudo ... lwororo Kaiwo Bororo aiduia itugarege
Ecera ai akarudo Ho! Ho! enowo ikudawu ai
Ecera ai akarudo O!.. ..
Ecera aiguio akarudo ... (2x) . . . Ai o!...Ai o ...Wa! O!. ..
Ai rece ... Ai rece akaru butuiare Bakororo 0IaI0 1eko...
Bakororo oiaio ieko. M! M! 2. 4. Bakoro Eceraedu ukudawu jiboe Boe egore:
(Falando)
........,,-. ___....
58
2a. Batarudo 1
Executado por quem recebe o couro quando este _lhe é
Oi! Oi! Oi! Oi! Oi! Oi!
lwororo ... lwororo ... 59
entregue pela primeira vez, no lugar onde a onça foi lwororo Urugudu Bororo!
mortc1. lwororo Urugudu Bororo!
Texto de Wenceslau, Cf. Variação li, 5-13 ·
(Cantando):
Du icare ure batarudo: lworor o...
Oi!Oi!Oi! lw ororo Urugudu Bororo aiduia itugarege
Ho o!... Ho o!. .. enowo ikudawu ai. O! ...
Ai o!...Ai o!...Ai o!...
2.1. Bakorokudu ukudawu jiboe Boe egore:
Ho o ... Bakororo .... 2. 5. Paiwoe egore:
Bakororo... o .... Oi!Oi!Oi!Oi!
O!. .. O! ...
2.2. Cewu Kie ukudawu jiboe Boe egore: lwororo...
Oi! Oi! Bakororo ... Bakororo... lwororo aiduia itugarege enowo ikudawu ai.
Bakororo aiduia ikudawu ai. 0. .. O! ... O! ...
lworo ro ....
lwororo Arigao Bororo aiduia itugarege
* Manoelzinho Wenceslau. na variação 11. Nº 3, apresenta este canto com sua ve rsão enowo ikudawu ai.
própria. O!...
* Cf. Texto de Kanajó li, 3. Ai o!. .. Ai o! ...
2. 6. Apiborege egore: i h. Batarudo 1
0!. .. 0!... Letra de José Carlos Meriri Ekureu, Variação 1, 22.
lwororo ...
lwororo Apibo Bororo aiduia itugarege
1. ... du keje icare ure batarudo:
Akore: (Cantando):
enowo ikudawu ai.
0!. .. 0!. ..
Hoi! Ho hooooo, Ho hooooo
lwororo...
Aroe Bakororooooo, A roe Bakororooo!
lwororo Apibo Bororo aiduia itugarege Ho hooooo Ho hoooooooo!
enowo ikudawu ai. Aroe Aroia Bakororo ... Aroe Aroia Bakororoooo!
Ai o!. .. Wo!. .. Aroe Buture Bakororo ... Aroe Buture Bakororoooo!
Ho Hooooo! Ho hooooo!
2.7. lwagududoge egore: Aroe Jakomea Bakororooo, Aroe Jakomea Bakororooo!
O!...O! ... Ho hooooo, Ho hoooo!
lwororo ... Aroe Marido Bakororooo, Aroe Marido Bakororoooo!
lwororo Arigao Bororo aiduia itugarege Aroia Ku rireu ae tawuje matoooo!*
enowo ikudawu ai. O!. ..
60 3. Marenaruie 1 61
lwororo...
lwororo Arigao Bororo aiduia itugarege Dlirante a pintura do couro da onça
enowo ikudawu ai. O! ... Cf. Texto de 'Nenceslau: alusão a este canto.
Ai o! ... Wo!. ..
\Nacinoko (Cantado no centro da aldeia, antes
da comida da onça: Cf. Texto Kanajó 98)

2.8. Aroroe egore:


"Wacino ko ...o wacino ko.. .
O!. .. O!. ..
Uke... ki... reu, ai ... kuri. .. reu ... uwai ga...
lwororo...
U...ke ... buke...reu ai. .. kuri. .. reu ... uwai...ga.. .
lwororo Arua Bororo aiduia itugarege A i...ewa ... ai ... ewa ... waci no ko... o, wacino ... ko ...
enowo ikudawu ai. O!. .. Uke...juko ...jugoreu ...ai. ..kuri. .. reu. Uwai ga... uwai ga ...
lwororo... Uke jurereu ai. .. kur i. .. reu ... uwai ga ...
lwororo Batugubo Bororo aiduia itugarege Ai ... ewa..."
enowo ikudawu ai. O!. ..
Ai o! ... Ai o!. .. Wo! ...
Oino Boe egore.
Aqui o canto alude a um finado do clã das Gralhas, pois todos os nomes que aqui
Nowu barege ewadaru reo.
aparecem: Aroia(pano) , Butere(chocalho de unhas), Jakomea(enfeite peitoral),
Marido(roda de pecíolos de folha de buriti), Aroia Kurireu(Pano Grande), são nomes
de membros do clã das Gralhas.
4. Bakororo Ika 1 -Atugododu jaeiarega arege eigerere cimamomo Bakororo
Cantado I ª vez na hora da perfuração do couro·. atugododu bureradore bukuoduia tugudawu boia bu korire.
- Enawudodu jaeiarege arege eigerere cimamomo
Letra: Antônio Kanajó Adugo Kirímídu.
Bakororo enawudodu bureradore bukuoduia tugudawu
Cf. Canto no CD BOE EMOR!AE (FAIXA 03)
boia bukoríre.
- Urugudodu jaeiarega arege eígerere cimamomo
4.a Bakororo ika... butore (2x) (2x) Bakororo urugudodu bureradore bukuoduia tugudawu
Bakororo atugo ... butore bo ia bu korire.
Bakororo enawu butore - Akiridodu jaeiarega arege eigerere cimamomo Bakororo
Bakororo urugu butore akiridodu bureradore bukuoduia tugudawu boia bukorire.
Bakororo akiri butore - Oiagadodu jaeiarega arege eigerere cimamomo Bakororo
Bakororo oiaga butore Oiagadodu bureradore bukuoduia tugudawu boia bukorire.
Bakororo ukiga butore - Ukigadodu jaeiarega arege eigerere cimamomo Bakororo
Wo!. .. Wo!. .. Ukigadodu bureradore bukuoduia tugudawu boia bu korire.

4b Butore Bakororo ia aregodure (2x) 6. Kidoguru Paru


Butore Orowaribo ia aregodure (2x) (Canta Badoíeba com chocalho. Enquanto o matador da
Butore Cibaiari ia aregodure (2x) onça está sendo pintado. E?te l~idoguru Pani é igual
para todos os dãs l<anajó. E cantado enquanto o matador
Butore Aturua ia aregodure (2x) 63
da onça está perfurando os dentes da mesma.
Butore Kurugugarí ia aregodure (2x)
Letra de Frederico l<ogeri
Wo!. .. Wo! ... Cf. Canto no CD BOE EMORlAE (FAIXA 15) ,

4d. Bakororo paraduia uwororo (2x)


Bakororo atugo paraduía uwororo (2x) - Arigao kododu owu cega mato (2x) (2x)
Bakororo enawu paraduia uwororo A rigao tuwoie tugudawuge enogwa jaidobu bu ... bukorire
Bakororo urugu paraduia uwororo (2x)
Bakororo akiri paraduia uwororo -Arigao kododu owu cega mato (2x) (2x)
Bakororo oiaga paraduia uwororo Arigao tuwoie tugudawuge ekeno jaidobu bu ... bukorire
Bakororo ukiga paraduia uwororo -Arigao kododu owu cega mato (2x) (2x)
Arigao tuwoie tugudawuge ekera jaidobu bu ...bu kori re(2x)
-Arigao kododu owu cega mato (2x) (2x)
5. A tugododu
Arigao tuwoie tugudawuge ewure jaidobu bu ... bukor ire (2x)
(Canta Badojeba. Enquanto distribw:,rn o urucum para
- Arigao kododu owu cega mato (2x) (2x)
pintura do matador da onça e do clã. do matador da Arigao tuwoie tugudawuge etowo jaidobu bu ... bukorire (2x)
onça, que vai dançar com o:; parentes do finado, -Arigao kododu owu cega mato (2x) (2x)
Letra de Fn:derico Coqueiro Arigao tuwoie tugudawuge ewiri jaidobu bu ... bu kori re (2x)
Cf. Canto no CD BOE EMORIAE (FAIXA 16) Bukorire ... Wo!. .. Wo!. ..

* Cf. Texto de Kanajó 11, 18


7. Marenaruie 2. Marenaruie de Boro Ecerae
(Canta Baadojeba acompanhado de chocalhos, durante a Marenaruie eigoia maidodo jetuiarega ako utugodu umugu
dança das parentas do finado segurando as mãos do birigodure mamuiawuge ... iroiareu bukejewu uredudu
matador da onça: cada finado tem o seu Marenaruic) onagodu paru bukejewu ako umuguio cegimejera
bopaguduia Boro Bakoro ro atugo uruweri kadodu jetugaie
l. Marenaruie de badojeba ukudawu aiewere baia bukorire
Marenaruie eigoia maidodo jetuiarega akogodu birigodure Marenaruie eigoia maidodo jetuiarega
okwa bukejeu kuje eiegiri uredudu oia bukejewu ako
umuguio cegimejera bopaguduia Arowe Bakororo atugo b Marenaruie de Boro Ecerae
uruberi kadodu jetugaie ukudawu aiewere baia bukorire. Marenaruie eigoia maidodo jetuiarega ako utugoio umugu
Marenaruie eigoia maidodo jetuiarega. birigodure mamuiawuge emarido arireu ukiga oiaga urugu
umugudodu ... ako umuguio cegimejera bopaguduia
2. Marenaruie de Kie. Owoio Coió Bakororo atugo uruberi kadodu jetugaie
Marenaruie eigoia maidodo jetuiarega jorudu meriri ukudawu aiewere baia bukorire
aregodu birigodure Marenaruie eigoia maidodo jetuiarega
mamuiawu Cibaie Etaro Bakororororodo jorudu meriri
-·.·· · ·:-.- - - - kadodu jetugaie 6 Marenaruie de Paiwe
64 ukudawu aiewere baia bukorire Marenaruie eigoia maidodo jetuiarega ako muguio 65
Marenaruie eigoia maidodo jetuairega birigodure mamuiawuge eiabiji iroiareu bukejebiji. uredudu
oia bukjewu ako umuguio cegimejera bopaguduia Meriri'·
3. Marenaruie de Bokodori Bakororo.atugo uruberi ... ukudawu aiewerebaia
Marenaruie eigoia maidodo jetuiarega Kudoro ika bukorire.
akiridodo Bokodoriwarerodo umuguia kori ukudawu Marenaruie eigoia maidodo jetuiarega.
aiewere baia bukorire.
Marenaruie eigoia maidodo jetuairega. I. Marenaruie de Apiborege
Marenar uie eigoia maidodo jetuiarega akaruio kuruguga
4. Marenaruie de Bakoro Ecerae. jorigiare tuwoduwureroga ukerere tugiga kabaguru
Marenaruie eigoia maidodo jetuiarega ako utugodu padudo tuieduia Bakororo otogajeje.
umugududodure mamuiawuge etariguio aturuwareu okwa Marenaruie eigoia maidodu jetuiarega.
akirireu ... ako umuguio cegimejera bopaguduia Umuguio
Bakororo atugo uruberi kadodu jetugaie ukudawu aiewere
baia bukorire. H. Marenaruie de lwagudu
Marenaruie eigoia maidodo jetuiarega. Marenaruie eigoia maidodo jetuiarega akogodu birigodure
okwagujoreu iroiareu Kuje eiegiri uredudu oia bukejewu
ako umuguio cegimejera bopaguduia Aturuwa Bakororo
atugo uruberi kadodu jetugaie ukudawu aiewere baia
bukorire
Marenaruie eigoia maidodo jetuiarega. Aigodoge ewir i porododure
O ceraie (2x) O ceraie (2x)
9. Marenaruie de aroroedu
Bokodori porododure (2x)
Marenaruie eigoia maidodu jetuiarega aroweceba Birimodo
O ceraie (2x) O ceraie (2x)
umuguia kori ukudawu aiewere baia bukorire
Marenaruie eigoia maidodu jetuiarega. Bokodori ewure porododu re (2x)
O ceraie (2x) O ceraie (2x)
8. Meremere
(Canta Badojeba, com chocalho, enquanto o matador da Bokodori ekera porododure (2x)
onça está furando os dentes da rnesma) O ceraie (2x) O ceraie (2x)

Meremere porododure (2x) O ... O ceraie .... Wo!.. ..Wo!....


O ceraie (2x) O ceraie (2x)
9. Batarudo 2
Akurarareu porododure (2x) (Prodamado !ogo depois do banquete ritual.
O ceraie (2x) O ceraie (2x) Letra de Antônio Kanajó Adugo Kirimidu
67
Arireu porododure (2x) Boe enogwagere toro, du kejere nowu badojeba ure tubu
O ceraie (2x) O ceraie (2x)
to adugo bi rijii, aigo birijii.
Ca! Akore:
Aturuareu porododure (2x)
O cearie (2x) O ceraie (2x)
- Hoi! Hoi Hoi! Hoi! Akare Bakororo! Akare Bakoro Kudu!
Aigodoge porododure (2x) Akare Bakoro Akaru! Akare ... lpareceba! Akare Biriga!
O ceraie (2x) O ceraie (2x) Akare Uwaeceba!Akare Kaiaceba!Akare Buredudu!Akare
Uwaboreu! Akarekare imi! Hoi! Hoi! Hoi hoi! O o o!. ..
Aigodoge ekera porododure (2x)
O ceraie (2x) O ceraie (2x) 9. 1. Bakororo ...
Bakororo ... Orowaribo aidu ia atugarege enowo akuie
Aigodoge ewure prododure (2x) akudawu ai ho!...
O ceraie (2x) O ceraie (2x)
Aigodoge etowo porododure (2x)
9.2. Orowaribo...
O ceraie (2x) O ceraie (2x)
Orowaribo... Kugarubo aiduia atugarege enowo akuie
Aigodoge ekeno porododure (2x) akudawu ai ho...
O ceraie (2x) O ceraie (2x)
2.1 - Outros cantos mais extensos que
9.3. Taboguru ... aparecem citados neste ritual
Taboguru, Keoguru aiduia atugarege enowo akuie akudawu
ai ho ...
1. Cibae Etawadu
9A. Mariguru... . 1:xecutado com dança no começo da noite, depois que o couro
Mariguru ... marigurubo aiduia atugarege enowo aku1e ela onça é esticado.* Cf. Alusão a este canto no texto de José
akudawu ai ho... Carlos.Variação 1, 37 e no texto de Wenceslau,Variação 11, 18. O
texto completo de Coqueiro e Kanajó encontra-se no Centro
9.5. Umuguio ... de Cultura Padre Rodolfo Lunkenbein - Merur i-MT.
Umuguio atugoio aiduia atugarege enowo akuie akudawu
ai ho... 2. Boe El<eroia de todos os clãs
Executados du rante todo o resto da noite até o amanhecer
9.6. Okogebo .. . (Texto próprio).* Uma coleção extensa destes cantos clânicos
Okogebo... Ararebo aiduia atugarege enowo akuie akudawu encontra-se no Centro de Cultura Padre Rodolfo Lunkenbein
ai ho... - Merur i-MT
-·.'·"'1.·..•.- - - - 69
68 9.7. Meri rutu .. . 3. Boe El<eroia próprio do clã do finado
Meri rutu ... meri butu aiduia atugarege enowo akuie Ca ntados pe lo dono do couro, antes de tomar posse do
akudawu ai ho...Wa!. .. rnesmo.(Texto próprio)*

+ Cibae Etawadu (Muitos Cíbae, muitos Bororo, muita gente) é um canto execu-
1ado
sempre por muitas pessoas: homens cantando e batendo chocalho, e mulheres
acompanhando o canto ou dançando ao redor da roda dos cantores. É executado
várias vezes durante o fune ral. Com pequenas variantes é usado também em rituais
festivos, como neste ritual do couro da onça.
Cantos Boe Ekeroía (Cantos dos Bororo), chamados também Roía Ba
Okwajiwu (cantos ao redor da a ldeia ou cantos clânicos) é um conjunto de
coleções de cantos, sendo que cada clã possui sua coleção específica. Cada uma
destas coleções consta de duas seções principais: Os Raia Gigudu (cantos miúdos)
e os Roía Umanareu (cantos maiores).
+ Vide nota anterior.
CANTOS DA TEXTO

FESTA DO COMPLEMENTAR
EM LÍNGUA
COURO DE ONÇA PORTUGUESA

llrsquisa: Gonçalo Ochoa


l11fo rmantes: Antonio Kanajó Kirimidu
José Carlos Meriri Ekureu
Manoelzinho Wenceslau Maro Bororo
Frederico Kogeri

., .
.. ~. ' , ,<#."
'
71
l. 3. Q uando o dono do couro é um membro do clã do
2 - Matança da onça e furação do couro
Tatu-canastra, diz:
para secar e esticar Min ha Aldeia...
Do que a minha Aldeia do Rio do Metal gosta é do meu
1. Ai rece couro da onça, enfeite do meu povo.
Cantado no lugar da caçada. sobre o bicho abatido. O h!... Oh! ...
Letra de Kanajó: cf. CD: BOE EMOR!AE (FAIXA O1) Minha Aldeia ...
Do que a minha Aldeia do Gavião Caracaraí gosta é do
Eis aí a onça; que a sua notícia chegue ao lugar de Bakororo meu couro da onça, enfeite do meu povo.
(onde o finado se encontra) _ Minha A ldeia...
O canto faz referência aos principais bichos que sao Do que a min ha Aldeia da Palmeira Acumã gosta é do meu
usados como mori (vingança pela morte de um Bororo), couro de onça, gosta é do meu couro de onça, enfeite do
ou seja, os felídeos:Ai (onça pintada),Awogodori __ meu povo.
(jaguatirica), Aiguio (onça parda) e os grande gav1oes: O rabo da onça!. .. O rabo da onça ... Wo! Oh!. ..
Kuruguga ou Jorigiare (gavião-caracaraQ e Aroeceba ou
Enogujeba (gavião-real). 2. 4. Q uando o dono do couro é um membro do clã do
._,,,,.,..._. ____
72 2a. Batarudo 1
Espírito Bakoro, diz:
Minha Aldeia ... Minha Aldeia! 73
Prndamado pe!o que recebG o couro quando este lhe Minha A ldeia da Queimada!
é entregue pela primeira vez, no lugar onde foi morta a Minha A ldeia da Queimada!
onça
Letra de Manoelzinho Wenceslau , Cf. Variação li, 5-13 Minha Aldeia ...
Do que a minha Aldeia da Queimada gosta é do meu cou-
Oi!Oi!Oi! ro a onça, enfeite do meu povo.
Ho o! ... Ho o! ... O rabo da onça! ... O rabo da onça! ... O rabo da onça! ...

2. 1. Q uando o dono do couro é um membro do clã 2. 5. Os do clã dos Bugios dizem:


dos Chefes, diz: Oi!Oi!Oi!Oi!
Ho o ... Bakororo ... Bakororo ... Oh! ... Oh!...
Bakororo ... O ... Minha Aldeia ...
Do que a minha Aldeia gosta é do meu couro da onça,
2.2. Quando o dono do couro é um membro do clã enfeite do meu povo.
das Antas, diz: O h!... Oh!. ..
Oi! Oi! Bakororo ... Bakororo ... Minha Aldeia ...
O que Bakororo gosta é do meu couro de onça. Do que a min ha Aldeia do Cachorro gosta é do meu
2b. Batarudo 1
couro de onça, enfeite do meu povo. Letra de José Carlos Merírí Ekureu,Variação 1, 22.
Oh!. ..
O rabo da onça!. .. O rabo da onça!. .. Oi! Oi! O h! O h!... Oh Oh!. ..
Alma do finado!. .. A lma do finado! ...
Oi! Oi! O h! Oh!. .. Oh O h!. ..
2. 6. Os do clã da Palme ira Acuri dizem:
Oh! ... Oh! ... Alma do finado Aroia!... Alma do finado Aroia!...
Minha Aldeia ... A lma do fi nado Butore!. .. A lma do finad o Butore!. ..
Do que a minha Aldeia da Palmeira Acuri gosta é do meu Oh! Oh!... Oh Oh! ...
couro de onça, enfeite do meu povo. Alma do finado Jakomea!. .. Alma do finado Jakomea!...
Oh! ... Oh! ... Oh! Oh! ... Oh Oh!. ..
Minha Aldeia... Alma do finado Marido!... Alma do fi nado Marido!. ..
Do que a minha Aldeia da Palmeira Acuri gosta é do meu Aroia Kurireu, mostra teu rosto aqui.
couro da onça enfeite do meu povo.
O rabo da onça! ... Wo!. .. 1 Marenaruie 1
Cantado no centro do pátio da aldeia, antes do banquete final
,. 2.7. Os do clã das Gralhas dizem: Cf Canto no CD BOE EMORIAE (FAIXA 17)
'· ..... 75
74 Oh!. .. Oh!...
Minha Aldeia ... "Wacinoko, wacinoko !
D o que a minha Aldeia do Cachorro gosta é do meu O arco da onça grande que come anta.
couro de onça, enfeite do meu povo. O arco da onça grande que come t amanduá-bandeira.
Minha Aldeia ... O arco das onças.
Do que a minha Aldeia do Cachorro gosta é do meu O arco da onça grande que come macaco e porco.
couro de onça, enfeite do meu povo, Oh ...! O arco da onça grande que come sucuri!
O rabo da onça!. .. Oh!. .. O arco das onças ...

2.8. Os do clã das Larvas dizem: 4. Bakororo lka


Oh! ... Oh!. .. Cantado pela 1ª vez na hora da perfuração do couro.
Minha Aldeia... Letra:Antônio Kanajó Adugo Kirimidu.
Do que a minha Aldeia do Espírito Arua gosta é do meu Cf. Canto no CD BOE EMORIAE (FAIXA 03)
couro de onça, enfeite do meu povo.
Minha Aldeia... 4a.
Do que a minha Aldeia do Espírito Batugubo gosta é do A flauta de Bakororo é bonita.
meu cou ro de onça, enfeite do meu povo. Oh!. .. A pintura de Bakororo é bonita.
O rabo da onça!... O rabo da onça ... Wo!. .. O enfeit e de Bakororo é bonito.
O urucum de Bakororo é bonito. pintar o matador da onça, que vai dançar com os
A penugem branca de Bakororo é bonita. parentes do finado
O enfeite de penas de cauda de arara de Bakororo é bonito. Letra de Frederico Coqueiro
O e nfeite de pregos de cabelo de Bakororo é bonito. Cf. Canto no CD BOE EMORIAE (FAIXA 16)

4b. - O Bororo Pintado está aí. Os pare ntes faze m dançar o


A pintura da flauta de Bakororo chegou. seu finado parente pintado, sobre o seu tapete que
O enfeite da flauta de Bakororo chegou. desperta saudade.
A pintura vermelha da flauta de Bakororo chegou. - O Enfeitado está aí. Os parentes fazem dançar o seu
A penugem branca da flauta de Bakororo chegou. finado parente enfeitado, sobre o seu tapete que
O enfeite de penas de cauda de arara da flauta de Bakororo desperta saudade.
chegou. - O Bororo Pintado de urucum esta aí. O s parentes fazem
O enfeite de pregos de penas da flauta de Bakororo chegou. dançar o seu finado parente, sobre o seu couro que
desperta saudade.
4c. - O Enfeitado de penugem branca esta aí. Os parentes
Gente, Bakororo chegou! fazem dançar o seu finado parente e nfeitado de penuge m
branca, sobre o seu tapete que desperta saudade.
•' ........ . Gente, Orowari bo chegou!
- O Enfeitado de penas de cauda de arara está aí. Os
76 Ge nte, Cibaiari chegou! 77
pare ntes fazem dançar o seu finado parente enfeitado
Gente, Aturuari chegou!
de penas de cauda de arara, sobre o seu tapete que
Ge nte, Kurugugari chegou!
desperta saudade.
- O Enfeitado de pregos de cabelo está aí. Os pare ntes
4d. fazem dançar o seu finado parente enfeitado com pregos
O lugar onde Bakoro ro dança é o seu pátio de cabe lo, sobre o seu couro que desperta saudade.
O lugar onde a pintura de Bakororo dança é o seu pátio.
O lugar onde o enfeite de Bakororo dança é o seu pátio. 6. Kidoguru Paru
O lugar onde a pintura vermelha de Bakororo dança é o Kanajó afirma que este Kidoguru Paru é igual para todos
seu pátio. os clãs. É cantado enquanto o matador da onça está
O lugar o nde a penugem branca de Bakororo dança é perfurando os dentes da mesma.
o seu pátio. Letra de Frederico Kogeri
O lugar onde o enfeite de penas de cauda de arara de Cf. Canto no CD BOE EMORlAE (FAIXA 15)
Bakororo dança é o seu pátio.
O lugar o nde o enfeite dos pregos de cabelo de Bakororo -Arigao (homem do clã das gralhas) chegou aqui para
dança é o seu pátio. esticar a pele da boca do seu couro de onça.
- Arigao chegou aqui para esticar a pele do nariz do seu
s. At ugododu cou ro de onça.
Canta Badojeba, enquanto distríbl1cm o uruclim p::ira - Arigao chegou aqui para esticar a pele das mãos do seu
couro de onça. f. 4. Marenaruie de Bal<oro Ecerae.
- Arigao chegou aqui para esticar a pele dos pés do seu Cf. Canto no CD BOE EMOR!AE (FAIXA 07)
couro de onça.
- Arigao chegou aqui para esticar a pele do rabo de seu Por causa dos órfãos há tristeza; o lamento fo i colocado
couro de onça. frente ao grande javali dos Bororo, de boca penugenta, no
-Arigao chegou aqui para esticar o seu tapete, o couro da lugar onde mo rreu, na sua cama de couro de onça, o dono
onça. da palavra, nosso respeitado chefe, o finado Umuguio, de
pintura brilhante.
7. Marenaruie 2. Por causa dos ó rfãos tem tristeza.
Cantado depois de Bakororo !ka.
Letras de Antônio Kanajó Adugo Kirimidu 7.Sa. Marenaruie de Boro Ecerae a
Cada dã tem seu Marenaruie próprio. Cf. Canto no CD BOE EMOR.IAE (FAIXA 08)

7.1. Marenaruie de Badojebage Por causa dos órfãos há tristeza: o lamento sai da boca
Cf. Canto no CD BOE EMORIAE (FAIXA 04) dos Bororo no lugar onde morreu, na sua cama de couro
de onça, o dono da pintura preta, o dono da palavra, nos
Por causa dos órfãos há tristeza, no lugar onde morreu na so respeitado chefe, o finado Boro Eceraedu, de pintura
'...'-•',..,,..,·~--- sua cama de couro de onça, o grande cantor; enfeitado de 79
78 brilhante.
muita penugem de mutum, o dono da palavra, nosso
respeitado chefe, o finado Bakororo, de pintura bril hante. 7.Sb. Marenaruie de Boro Ecerae b
Por causa dos órfãos há tristeza. Cf. Canto no CD BOE EMOR!AE (FAIXA 09)
Por causa dos órfãos há tristeza; o lamento foi feito no
7.2. Marenaruie de Kie lugar onde morreu, na sua cama de couro de onça, o que
Cf. Canto no CD BOE EMOR!AE (FAIXA OS) morava no rumo onde é colocada a roda de buriti dos
Por causa dos órfãos há tristeza, no lugar onde morreu na Bororo enfeitada de pregos de cauda de arara vermelha, o
sua cama de couro de onça, a que costumava chegar com dono da palavra, nosso respeitado chefe, o finado Owoio
olhar bonito, a linda finada Cibae Etaro, de olhar bonito. Coio, de pintura brilhante.
Por causa dos órfãos há tristeza. Por causa dos órfãos tem tristeza.

7.3. Marenaruie de Bol<odori Ecerae 7.6. Marenaruie de Paiwoe


Cf. Canto no CD BOE EMORIAE (FAIXA 06) Cf. Canto no CD BOE EMOR!AE (FAIXA i O)
Por causa dos órfãos há tristeza, sai muita lamentação da
Por causa dos órfãos há tristeza, longe do lugar onde a boca dos Bororo no lugar onde morreu, na sua cama de
mulher Bokodorirodo enfeitava de penugem branca o couro de onça, no meio da fumaça preta, o dono da pala-
Arco dos Kudoro, na sua cama de couro de onça.
Por causa dos órfãos há tristeza.
vra, o nosso respeitado chefe Meriri Bakororo, de pintura O belo foi perfurado, ó gente, ó gente.
brilhante. O belo como peixe pacu foi perfurado, ó gente, ó gente.
Por causa dos órfãos há tristeza. O belo como enfeite de metal foi perfurado, ó gente, ó
gente.
7.5. Marenaruie de Apiborege O grande como o espírito Aturua foi perfurado, ó gente
Cf. Canto no CD BOE EMORIAE (FAIXA l 1) ó gente.
A onça foi perfurada, ó gente, ó gente.
Por causa dos órfãos há tristeza, o iIustre Ku ruguga Jorigiare As mãos da onça foram perfuradas, ó gente, ó gente.
apareceu e colocou seus chifres de penas no seu lugar Os pés da onça foram perfurados, ó gente, ó gente.
entre os finados. O rabo da onça foi perfurado, ó gente ó gente.
Por causa dos órfãos há tristeza. O nariz da onça foi perfurado ó gente, ó gente.
A pele da onça foi perfurada, ó gente, ó gente.
7.8. Marenaruie de lwagududoge O tatu-canastra foi perfurado, ó gente ó gente.
Cf. Canto no CD BOE EMORIAE (FAIXA 12) As unhas dos pés do tatu-canastra foram perfuradas, ó
gente, ó gente.
Por causa dos órfãos há tristeza; há muita lamentação no As unhas das mãos do tatu-canastra foram perfuradas, ó
.......,.-........_ gente, ó gente.
lugar onde morreu na sua esteira de couro de onça.
80 enfeitado de muita penugem escura de mutum, o dono da 81
palavra, nosso respeitado chefe, o finado Aturua, de pintu- 9. Batarudo 2
ra brilhante. Proclamado logo depois do banquete ritual.
Por causa dos órfãos há tristeza. Letra de Antônio Kanajó Adugo Kirimidu

Oi! Oi! Oi! Oi! Seu dono é Bakororo! Seu dono é Bakoro
7.9. Marenaruie de Aroroe Kudu! Seu dono é Bakoro Akaru! Seu dono é lpareceba!
Cf. Canto no CD BOE EMORIAE (FAIXA 13) Seu dono é Biriga! Seu dono é Uwaeceba! Seu dono é
Kaiaceba! Seu dono é Buredudu! Seu dono é Uwaboreu!
Seu dono não sou eu! Oi! Oi! Oi! Oi! Oh! Oh! Oh! ...
Por causa dos órfãos há tristeza, longe do lugar onde fica-
va Birimado matador de gente, na sua cama de couro
9. 1. Bakororo.
de onça.
Bakororo, o desejo da aldeia do Rio dos Pintados, é que o
Por causa dos órfãos há tristeza.
teu grupo tenha couro de onça.

8. Meremere Porododure 9.2 Aldeia do Rio dos Pintados.


Cantado logo que cerminc1 a pcí'furação do coJro para Aldeia do Rio dos Pintados, o desejo da aldeia do Rio das
ser· esticado. Praias é que teu grupo tenha couro de onça.
Letra de Antônio Kanajó Adugo Kírimidu
Cf. Canto no CD BOE EMORI/..._E tFAIXA 14)
9.3. Aldeia do Buritizal. BOE MORI VARIAÇÃO 1
Aldeia do Buritizal, o desejo da aldeia do Caitezal é que EM LÍNGUA BORORO
teu grupo tenha couro de onça. BAROGO José Car los Mer·iri
Ekureu
9.4. Aldeia do Buritizal.
Aldeia do Buritizal, o desejo da aldeia da Cabeceira do
Buritizal é que teu grupo tenha couro de onça.

9.5. Umuguio.
Umuguio, o desejo de Umuguio Pintado é que o teu
grupo tenha couro de onça. Pesquisa: Mario Bordignon

9.6. Aldeia do Rio dos Dourados. Transcrição da Língua Bororo


Aldeia do Rio dos Dourados, o desejo da aldeia do Rio das para a Língua Portuguesa: Agostinho Eibajiwu
Piraputangas e que teu grupo tenha couro de onça.

••1/ , ........_ _ _ __
9.7. Aldeia do Sol Nascente.
82 83
Aldeia do Sol Nascente, o desejo da aldeia do Sol Poente
é que teu grupo tenha couro de onça.
1

1
Boe Mori Barogo

José Carlos:

1. lmode awie pagado tu je boeji.

2. Ukare turugadu boe imode awie tu ji, paga tu je.

3. Ema remawu karega, ema remawu akedu, okware toro


mototo, poboto, baruto, ia toro.

4. Kocare, boe etagedure, bakaru akedure, bakaru, roia


akedure, boe eimejerage etagedure .

..,,:
······.· s. Kocare awu boe etore kugure, ce rumode boedo paga
85
paga paga toro boe egomodedu boe bogai.

6. lmerudae awu akoinowuge kugure ere mito tu tu to ai-


deia adu rodu, baa mugu rodu tu tu je.

7. Umodukare pobe, ure mito tu je, ia rugadu ia baa kedore


tu rugadu. la baa kedore rugadu. Boe eimejerage bokware
ia baa keje rugadu, ia boe eeda keje rugadu. Awu meriji.
Du imode, ireadodumode bakaruji.

8. Bakarure, boe eiamedu boe egore bakaruie ema. Bakarure


boe egore: bakaru aregodu, oino. lnoba boe egore: U! Mano
jire boe erere. Bakaru pemegareu aregodu. lnoba ure? U!
Reruia jire pamedage eroino.

9. Kode, bakaru karega, bakaru rugadu. Mare awu boe


emoreae remawu, boe emoreare barogo rema, dure
ireadodumode oino ji paga tu awu boe etore tawiagai,
tamearuduwo paga tu boeji, toro boeji.
1O. Taro modukare ino, tagago modukare ino.Tamodukare
tageragu tugoji, baigaji, bukeji, nowuge eroreore.
Mare metu pagawu tagabo tu je.

1 1. Boe emerure, boe egore: pameruwo. Boere toro marigudu,


boe emeardaere tuia adugo bito, tuia aigo bito, tuia
aipobureu bito, tuiaaa aroeceba, kuruguga, tuia bito, mare
boe eiwo aidugirikare ji, boe eerdukare ji.

12. Rakare, durure boe eerduwo pa pudui. Apure, kuore


makare, mare boe ekare tuwu tai kajeje. Du karega adugo,
aigo, aipobureu rema.

13. U! Du, boe emerure.A! Boe eerdure adugoji, boe


erugodure ji, kaciworodoge erugodure ji boebo.
Boe ekodure toro. Ure rutudo, kaciworodogere rutu do.
, ......·..
86 14. Aregodure paru kae ca jewu, ia tugaregedu rabodu, ia Adugo 87
ceraedu rabodu; ia du keje tugaregedu, tugaregedu aregodu (Onça pintada)
ca awu paru kae. Ilust ração : Jairo Carlos Bureagurumaga

15. U! loguduba aregodure ae? U! Awure aregodure paru kae. 16. Awu boe ekera kaire, boe eidogodu re ji t uiamedu taba,
A! Emaradu omode ema!Akidogo ji! O! ltogodure ji rugadu. tugo taba; baiga akoreu taba karega, boere barigu mato
tuwi tabo pooo tu, butu, padu nono.

17. A! Boe egore:-Akeragu oji. Now u itogodo ji jaowuji.Akore


O ! Rore gara je. Unure tuioku tugu kaiba umode nowu
tumode to barogo okwacedo, barigu.

18. Boe egore: O! Amara taba nowu mer i rekodu, akeragu


adugo oji guru guru je.

19. A! Care biabuture ia pemegareu keje. Ure tugeragu oji ta.


20. Nowu umode bureagurudo jiwu rakoreje woe, kodure 22. A! Oragudure keje tu ... du keje icare ure batarudo:
woe. Ou eceraedu rabodu, tugaregedu rabodu. Ceraedure Akore: (Cantando):
tugeragu taci tugaregeduji. Ure bure tugu tu.
Hui! Hui! Ho hooooo, Ho hooooo
21. Akore: kae kae kae! Emareo, mareo mareo mareo! Aroe Bakororooooo, Aroe Bakororooo!
Cewu aedaga, amana Aroia Kurireu mori akudawu adugo Ho hooooo Ho hoooooooo!
reo. Aroe A roia Bakororo . .. Aroe Aro ia Bakororoooo!
Aroe Buture Bakororo ... Aroe Butu re Bakororoooo!
Ho Hooooo! Ho hooooo!
Aroe Jakomea Bakororooo,
Aroe Jakomea Bakororooo!
Ho hooooo, Ho hoooo!
Aroe Marido Bakororooooo,
Aroe Marido Bakororoooo!
Aroe Kurireu ae tawuje matoooo!

23. Oinore boe enoiogwar ire, boe egore:"Woooo!"


88 89
Ae tawuje matooo!
. _,) lcare acareie, icare aerubodaregeee, icare atugaregeeee~
lcare aewadumageee ere ake okwaaa, ere ake rieee, ere ake
.·~
Kurubeguruuuu, ere ake kuguuu, ere ake tagogooo, ere
kirer u butudo awugeje toroooo, ere ki rer u butudo awugeje

,,
.. " )
tor oooo!
-~
Reodogere are etarego matoooo
j,
Awu iare are maku mato etai mato... Boe egore.
J .,.;

~-

·~ 24. la rugadure ukudawu mode emawu rakoje toro. Nowu
o re adugo cewu, ukudawumode emawu rakojere toro baa
tada; kodukare, mugure woe baa tada, mare nowu kudawu
umode emawu adugo bitodure toro itura tada.
Ure batarudo adugo biri tabo : kae, kae, kae!
(ele anuncia e oferece o couro de onça: kae, kae, kae!)
Ilustração: Gilberto Joware Eceba
25. Oino boe egore, boe ekudugodure kudawumode emawu 33. Caaa, taburedo ji, biri tawuje! lcare boere biri tawuje.
bogai: kaaaao! Jakomea Kurireu ... ire adugo bito... amana Ere biri tawuje ta, akedudo taci.
Aroia Kurireu morice woe, akudawuce woe,
akaogajejewuce woe, akuiece woe.

26. Boe eegarei Wooo! Toro bogaire boe egoino toro baato.
Duwure.

27. Mare kodure boebo du kejewu jire inagore oino. Care


boe etaregodure baato, boere bureagurudo ji pemega
pugeje woe baa tada pugeje.

28. Ca! Ure adugo bitowure tugeragu tu ipoji, ure ipo kado,
ipo maku tu Badojeba cebegiwu ai,Akaruio Bokodori ai,
Mamuiawuge eceba ai, uwo ipo to ji, nowu adugoji.

29. Boe era otogodu nure boe ero otogodu nure.


90 91
30. Ca! ledure nowu ipoji nowu adugo keje woe.
(CANTO)
Bakororooo tugomagaiaaaaa!
Aia adugodoge etowaio otugodarere, aregodurema /medu ure adugo bito
meremere etaregodure, etaregodure ... (o homem matou a onça)
Arowecebaaa, kawoduiega ... ai tuwaia kawuduiega okwa Ilustração: Rondo n Aroe Etugo

bukorire ... cawuduiega okwa bukorire há bukorire!. ..


Aiewere taio... aiewere taio butudo pu puwugeje mato awu 34. Batarukeadudoge egore, adugo imedu kejeie Bakoro tumoio
bokodoriware jorduwo buregajeje. Aiewere taio butudo padure ca je, adugo aredu keje du keje awu aiewere taio
pu ... wugeje! kodure.
Kudoro ika... kudoro ika tugudo ce meriworege ereruia
hooo!. .. tugudo ce meriworege ereruia hooo! ... awugeje! ... 35. Adugo aredu keje aiewere taio kodure ca je, awu Bakoro
tugumagaia akurure kuri okwa kae, du keje boe ere ipo to
31. Ure ipo to ji, ure ipo to nowu adugoji: pó ... pó ... pó... tu jé. adugoj i. Oino boe egore. Batarukeadudoge, nege kugure
ego re. lmeduia boe tore kugure egore.
32. Ca! Akedu keje ure tariga to awu cno o iagi pa okura oiagi
paaa! Koja okeagi paaaa! Ure icr·a ra paru bure ra paru 36. lmeduia boe etore kugu re ewadu r u jire ikedure tu tu je.
taba.
37. lcare boere biri tadu akedudo. loguduba umode turagojedo 45. Boe ere barogo jaido, adugo, aigo jaido. Boere jai akedudo
Cibae Tawadu tabo? Aaa! Jewu ure ipo to jiwu mitodu. tu, boere tugeragu cew u ukudaw u remawuji pugeje: emareo,
emareo, emareo! Akudawu ad ugo reo, akudawu aigo reo.
38. Ure adugo bitowu, ure maku tubiji,jice, ukudawure emawu
ai toro tubiji. 46. Akore: Uuuuu! No no huuuuuu... hu . Boe akedure du
keje.
39. O jore tuwure boe egore uporora, aino. Uuu! Nowure Ca, maragodure tugoji, baigaji, awu kiegewoji, koeji , akigu,
care ure turagojedo Cibae Tawadu tabo boebo. meriri, koe, boe aro pemegado, kiogoaro pemegado, pariko
Brae Kukuridoge ebo. pemegado.

40. Boere jaido barogwato, jai rakojere boe awadu keje. Du


boe egore adugo, aigo akaru kudugodu iure baato ukudawu
remawu bogai, du kodi boe egore:
(Cantando)
Eee cera ai akarudo ...
Eee cera awogodori akarudo.
' '\•\•"
. ---- Eee cera awogodori akarudo...
92 93
41. Ca! Akaru buture keje woe.
Ai ... rece ... akaru butuiare Bakororo iaio ieko ... iaio
ieko ...
Boe egore. Du raire gu toro.

42. Du akedu keje ure turagojedo taci:


(Canta) Cibaio Tawadu Ho hooo
Awu ....upe... dore ... Cibaaaio ... Tawa ... do... upe ... dore... uma...
na ... iku... dawu ... aie ... were ... kaia ... bubokorire ... Cibaaaio...
Tawa ... do... awo... Upe... dore ... wooo... Wooo ...

43. Awu baregebo boe egore wooo wooo! lno.


Awu boe pegareu keje boe egokare woo woo! lno. Soe
ere kadodu kadodu taci je
Boe egore boe pegareu keje.

44. Barege ebo rugadu boe egore; W oo! Woo! lno.


.•
.
Adugo biri, baiga, tugodoge.
' ·----
.. "I "',· '- (couro de onça pintada, arco e flechas)
94 Ilustração: Mar ia do Rasaria Cibaibo Ekureudo 95
Ere nowu adugo biri atugodo.
(então eles pintaram o couro de onça)
Ilustração: Ana Lúcia Rondon Ed ujebado

47. Ca, akedu keje care uwadodure. Uwadodure boe etae jii-
je. Care pamode pagera beri-berido tu ikudawu barogoji.

48. Care boe eegarere tu ... baa okwaji.

49. Aaa! Paragoduwo pugeje,paragoduwo pugeje.Tuiegare taba.


lcare boe eragodure pugeje. Ca! Nowu barogwato. U!
Nowu boecoji boe uwadodure todowuge etae ewo nowu 51. Akore: (Cantando)
adugo biri atugodu aroia atugo taba. I! Mature. "Bakooo rorooo ikaaa butooo reee butooo reee
Bako raro ika buto re buto re, buto re Wooo ... , wooo! ..."
50. Togududoge eigoiare icare ere nowu adugo biri atugodo, Jii toro. Raire, egore raie.
ere aigo biri atugodo, ere iado tu.
Ca! Boere bapo reko bado jeba ae, uwo bakororo ika ko, 52. Aaa! Nowu Bakororo ika akedu keje boe erore baiado
nowu barogo keje, adugo keje, aigo keje. tu ... mato barogo uke taba, adugo uke taba mato.
57. Boe pamodu karegure ji. Nowu pamodu ji re brae egore:
A leluia, ino. Nowu inodu karega, nowu inodu karega.

58. Boe ero biri nure, boe ego biri nure.


Awurema imeardure boe pamoduie aigo uke jituji, toro, ia
woe duji ia toro. Ema karega, boe erore.

59. Dukeje icare cewu ukudawu re adugo cewu akore nono


nowu epa akomagadure: Kae kae kae kae kae!

60. Uuu! Eto ji toro ae ure tugu aoto, tuku! lku, je kej~wu, koe,
meriri, buke, tugo, maku ai.

61. - Ca! Nowu adugo aigo epa rekodu toro baato. Ca! Meru
karegure jii nowu biri tabo jamedu. Rekodu nure. Ba piji,
Barege ekedodu tuwai piji, pu pu pu pu pu kae kae kae kae! Toro badojeba
~.-... .~-..·---- (O banquete da festa do couro de onça) ae. Okwa akore ikaj i: kaga ci, kaga ci, kaga ci, kaga ci!
96 Ilustração: Maria Piedade Marques Pó Ekureudo 97
62. Tuwureagurudo ji: Kae kae kae kae! Biri barigu aoto, riwudu ,
barigu aoto.
53. Boere nowu barogo adugo uke, aigo uke birido ta, boe A! Mare care boe egore ure tuwure to ji. Boere tuwure
ekera amagadukare ji, jetu nono rugadu. to: po po po ji. Boere iedo, ure tuwu re to j i ino. lporeu,
iporeu du jire egoino: Hui hui hui!Akare Bakorokudu,akare
54. Du keje icare o remawu aremere tugeragu tore ekera ra Bakoro Akaru, akare lpareceba.Akare kare imi! Hui!
parugajeje kae, tugidogurarege ekera ra parugajeje kae. Ere
ko du biagado tu tu tu tu. 63. (Cantando) "Ho ... hoooo! ... Hoooooo...
Bakororo... Bakororo... aiduia ... itugarege... inowu ikudawu
55. Cá eceraere tugedo mitotu jice, tugaregere tugedo mitotu ai hoooo!...
woe. Orowaribo... Orowaribo... aiduia itugarege inowu ikudawu
ai hoooo! ..."
56. Eceraere nowu barogo uke maku jice tumeduia areme etai Ecerae egore: Tugudawuji.
jice. Tugaregere awu tuiaogwaiwu maku jetu tumeduia Tugarege: Ekudawuji:
tugarere etai jetu. Kodire tugarere oino ere tuge keje jice, (Canta de novo) Ho 0000!...
cerae areme edure tuge keje jice. lme eedu tuge pai ia Bakororo ... Bakororo ... aidu ia ira kudawu ukuie ai hooo!...
rogu keje jetu. lmere eke rogure mitotu jice, tugarege ekere Orowaribo ... Orowaribo ... aiduia ira kudawu ukuie ai
mito, ceraere ekere mito. Mare aremere eke makare. hooo! ...
64. Ecerae egore:Tugarege ekudawu bataruji. Boe egore:Awu ., ..
reo. Oto padure tu je.
Du keje icare akedure.
Boe egore:Waaaa!
Mare raire.
Akedure boe egore:Waaaa!

65. Ca! Meri rekodure.


Cewu adugo, aigo biri epa ure tugeragu ji ta, turegodu tabo
jice, kudawu remawu ae pugeje kodi.

66. Ure maku, jodo keje, akore: emareo, emareo emareo!


Akudawu adugo reo, akuie akaogajejewu ad ugo reo! Bu tu
akuda. Kejere awudugugodure, kejere akamogodure, kejere
are karo kodu ko, barogo kodu ko, are oce ko, nowa ko,
motore ko, karo kodu, barogo kodu ko. Kejere anudure tu
._ . . . ·.·,- ---- je. M!... No no huuuu! Awure oto pa rema .
98 "emareo akudawu adugo reo" 99
(aqui está seu forro de couro de onça)
Ilustração: Edmar Rodrigues

67. Ca! Kodu kuri tabo, cewu ukudawu nowu adugo cewu
aigo cewu, kodu tabo kuri cewu ure biri batarudowu ae
pugeje.

68. Ca! Nowure icare unudure keje boetoji. Badojeba unudure


keje jao kodi. Awu badojeba emare ure batarudo du kodi
padure keje jao.

69. Barogwato ure maku nowu ukudawure emawu ai. lcá Nowu
ukudawure ema remawure ure pedo ure maku nowu
towobe tumeduia tugarege etai. Tuwiemage etai,
tumanamage etai.

70. Cerae etai karega, tugarege etai. Ecerae emode nowu adugo
aigo bito, ainore ure, tugaregere erore nowu tugudawuji.
71 . Tugarege emode, adugo, aigo bito, ecerae emode nowu biri lwororo Cibaibo Bororo
pedo ecerae pu tuiameduji jamedu. Oinore boe erore lwororo O o o!
marigudu. lwororo... iwororo...
lwororo Meriribo Bororo, Jure Bororo, aiduia itugarege
72. Oinore icare boe bokware. Braere boe pegado, braere boe
nowu iworo aruguje. Oooo!
akedudo, itura pegado itura akedudo, barogo akedudo, karo
akedudo, kiogo akedudo. Macare etaidukare ewidoduwo lwororo ... lwororo Okogebo Jure Bororo aiduia itugarege
pugeje! nowu iworo aruduje ooo!"
Bokodori Ecerae egore tuworo kuruguga bataruji, egore
73. Oinore boe erore boe emoreare oto pa reno.Awu bajura tuworo, tugudawu, tumori, adugo, aigo, aipobureu bataruji.
reore boere barogo biri batarudo tu. Awu iwagududoge
emoraebatarure,Aroroe,Apiborege, Paiwoe, awu Bakoro 79. Ure pobe: awu barogo biri bataru kodure pai woje tuginoi.
Ecerae, Bokodore Ecerae, awu Kie, awu Baadogebage Awu kuruguga bataru kodure pai woje tuginoi, mare nowu
emoreare batarure tu tu.
bororo mitodu tabo rugadu. Aino.
74. Bajura reore. Bajura rodu boe emoreae batarure jii je. Awu
iogamage bokodori 80. Nowu adugo, aigo, boere barigu nowu tuje aredu aoto

____
,'..,,.·:. Ecerae e emoreaere batarure icare ure tuginoi. jamedu kuri tuku. Boe egore: Muga akuie adugo ó reo, akuie
adugo ó reo.Akaba ipo, iwara, akaba kamoreu, akaba kodobo,
100 75. Kuruguga eworo, kuruguga batarure ema jamedu. Egaru micigu, kodorabo akaba ukuiedo ema. Akuie cere ire awu 101
rore garaci puiogi. adugo bito rugadu, akuie adugo ó reo, akuie aigo ó reo.
Aiadu aipobureu, akuie aipobureu reo. Boe egore.
76. Awu barogo rugadure egore:
Ui ui ui! lwororo, iwororo!
81. Ca! Nowu adugo bitodumode jice, aigo bitodumode ia
lwororo Meribo Bororo
toro, ia toro, itura tada toro, tori oia tada, jice Kogeiao tada,
lwororo Okogebo Bororo
lwororo Cibaibo Bororo jice Orareiao tada jice, ure ki bito, jugo ko, buke ko, icare
lwororo Arerebo Kuruguga Bororo O Ooooo! nowu bitodure mori cewu aroe iemode toro: Uke
lwororo... lwororo Meriribo Bororo... Kikurirepa.
lwororo... iwororo Okogebo Bororo .. .
82. larema nowu adugore buke ko: aroe Uke Bukerepa.
77. Toro, raire jamedu. U rakoje awadureu ure bitowu iemode Uke Bukerepa, uwo
iemode Uke Bukerewo, uce iemode Uke Bukece.
78. Ca! Kuruguga apore icare ure tuginoi.
lnono rugadu:
83. Akaregodumode jae ma, pamode jamedu akedudo kodi
Oi!Oi!
karega, mare awu rema oto pa rugadure, awure turugadu.
lwororo, lwororo
Meriribo Bororo
84. Aino jire ire tawie tu je, taeto tu ji, tawia pagado tu ji, paga
lwororo Okogebo Bororo
tu je, tagaba okwado, tagaba okwado.
88. Cewu pagi paedu pagamode tu gravado nowu kae tu je.
Du pemegare, du kaere kudare padure aino.

89. U rugadu reno. Rogu rugadu reno. ltaidu rogu rugadu


reno.

90. Oinore boe egore, boe enore. Urugadu reo .

...,..,.. ____
102 103

Edu imo adugo inogi


(mulher com diadema de unha de onça)
Ilustração: Silvanildes Kugarubo Ekureudo

85. Awu boe akedu nure. Boe ero boe ewadaru akedu nure,
icare iogugudugodure.

86. la pamode adugo aigo aipobureu, aroeceba, kuruguga bito


oino mai,oino awu meriji, awu barogwato,gravadore pamode
makodo pagai, urado pagai. Pagi remawu pae pagamode
woe tu (ogwari).

87. la... ia pawimode, O! gravado ko ia umode Roia Kurireu ko


pagabo bireu aogeje. M! M! M! O ! Bako ... roro.. kaire.. Kaire.
A recompensa VARIAÇÃO 1 1O. Vocês não vão fazer assim.Vocês não vão pegar as flechas,
os arcos, um t ipo de t arrafa como antes, mas é só para
Língua Portuguesa
guardar com vocês.

11. O s Bororo caçam. O s Bororo dizem: "Vamos caçar". As-


1. Eu vou avisar, só por avisar.
sim e ra antigamente.
O s Bo roro pensava m em matar onça pintada, matar onç~
2. O que não está certo vou avisá-lo, mas é só por avisar. parda, matar jaguatirica, matar gavião real,gavião-caracara1,
mas ele s não tiveram so rte, não viram nada.
3. Não é o verdadeiro. O verdadeiro já se acabou, sumiu nas
profundezas da terra, da água ou do céu, por lá. 12. É duro e difícil para os Bororo encontrar os bichos. Pacas
e jaós tem bastante, mas o s Bororo não matam de mo nte,
4. Por isso os Bororo se acabaram. Os mitos se acabaram, os pois não são iguais à o nça pintada, à onça parda, à jaguatirica.
cantos já se acabaram, as flechas, os chefes dos Bororo
morreram. 13. Sim, os Bororo foram caçar.Ah! Os Bororo viram a onça
pintada. Os Boro ro luta ram co m e la e o s cãe s lu~ ram com
•.,11,','•• _ _ __ 5. Por isso, para essas criancinhas, nós vamos fazer as coisas ela junto com os Bororo. O s Bororo foram para la e fizeram-
104 mais ou menos, imitando os antepassados. na s ubi r numa árvore , os cães fi zeram-na subir. 105

6. Eu acho que esses que cantam são ape nas um de cada


aldeia.

7. Não são dois, é apenas um. Em algumas aldeias, mesmo,


não tem nenhum; algumas aldeias estão vazias, não têm
chefe de tradição neste tempo.

8. Tem histórias que os Bororo falam que é notícia. Os Bororo


dizem: "Chegou a notícia", assim, se os Bororo correm
com o mano (talos de caeté amarrados e m forma de roda
grande para o ritual) chegou uma boa notícia. Qual é?
"Nossos companheiros estão dançando " Reruia.
Sim! Toda história Bororo é no tícia.

9. Então, a morte do finado não é histó r·ia, é notícia, a


compensação é notícia. O a nimal da compensação pela
morte dos fin ado s, q ue vo u contar para vocês, é só para
ouvir o que é ce rto e o que não é.
17. Os Bororo dizem para aquele que flechou nela: "Pegue o
rabo dela". Ele diz:"sim!" E fica pensando onde ele vai
colocar o bicho.

18. Os Bororo dizem: "Rápido! Já está entardecendo. Pegue


logo o rabo da onça".

19. Então se lembra que deve oferecer o melho r para o fina


do e pega o rabo da onça.

20. O que ia receber já estava lá. Foi lá, seja Ceraedu ou


Tugaregedu.
O Ceraedu pega logo o Tugaregedu e o coloca em pé.

21. Ele grita: "Kae kae kae kae kae: Está aqui, está aqui, está
----
~~':...
106
aqui. •
Aqui está o seu tapete de deitar pela compensação
daquele finado, seu padrinho ou seu irmão mais velho 107
Boere adugodu pudumi
Aroia Kurireu.
(os bororo viram a onça)
Ilustração: Maria do Rosario Cibaibo Ekureudo
22. Ele chora sobre ela e começa a cantar: (Nomeia os anti-
gos nomes do clã dos lwagududoge, Gralhas)
Hoi! Hoi! Ho hoooooo!
14. Aquele que chega logo em seguida,Tugaregedu ou Ceraedu.
Espírito do finado (2x) Bakororo (grande chefe antigo)
Então é Tugaregedu mesmo que chega, logo em seguida, Ho hoooooo Ho hoooooo!
no pé dela.
A lma do finado Areia (2x) (idem)
Alma do finado Butore (2x) (idem)
15. "Sim, quem é que chegou nela?" "Sim! É ele que chega nela.
Ho hooooo, Ho hooooooo!
Então é dele que ela vai ser. Fleche nela! Hooo! Ele flechou Alma do finado Jakomea (2x) (idem)
nela mesmo". (Os bororo sabem quem tem a obrigação Ho hooooo, Ho hooooo!
de compensar a morte do finado, um da metade oposta Alma do finado Marido (2x) (idem)
da aldeia.)
Aroia Kurireu mostra teu rosto aqui! (é o finado que
recebe o couro da onça)
16. Os Bororo já estavam com vontade de flechar nela. Todos
os Bororo flecharam nela com suas flechas, não com arma
23. É assim que os Bororo gritam dizendo:
de fogo e a derrubaram morta, caiu, está aí deitada.
"Woooo! Mostra cá o teu rosto!
"Agora seus dançarinos, 29. As tradições dos Bororo estão diminu indo ... as tradições
agora seus parentes de tradição, dos Bororo estão d iminuindo.
agora seus companheiros,
agora seus genros, 30. Então ele estava segurando o pau sobre a onça.
preparem a raposa que é a comida da onça, o lobo guará (Canto Privativo dos Bakoro Ecerae. É uma parte do
que é a sua sopa e a coruja que é seu mingau. canto do Cibae Etawado que será cantado depois).
Eles estão mandando o sabor deles para você, onça.
Mande cardume de peixes para cá, mande alguns deles 3 1. Ele bateu com o pau na onça: pó ... pó... pó... muitas ve-
para cá, para eles". zes.
É assim que os Bororo falam.
32. Quando terminou, abriu a ponta do nariz dela com a faca
24. O outro que vai usar o couro está lá. O que vai ser o passando pelo queixo e na região externa até as mãos e
dono do couro está lá na aldeia, ele não foi, ele está lá na os pés.
aldeia, mas a onça cujo couro ele vai usar foi morta na
mata. 33. "Pronto!" Diz ele, "aprox imem-se e tirem o couro dela".
Aí, os Bororo tiraram o couro dela e terminaram o
- ----
. .•'-. 25. Agora os Bororo falam gritando para ele: "Kaaaa!Jakomea serviço.
108 Kurireu ... Eu matei aqui a onça pintada... para compensa- 109
ção do finado, seu irmão mais velho. Aroia Kurireu aqu i 34. Os brincalhões dizem que quando a onça é macho, é
para seu forro, aqui para seu diadema, para seu colar". cantado logo "Bakororo Tugumagaia", e quando a onça é
(Coisas que serão feitas depois com o couro da onça.) fêmea; é cantado o canto "Aiewere taio".

26. Os Bororo ficaram alegres gritando: "Wooo!" Falando lá JS. Quando a onça é fêmea, é cantado o "Aiwere taio", e o
para eles na aldeia. É isso. "Bakororo Tugumagaia" vem depois. E depois eles batem
com o pau na onça. Assim que os Bororo falam. Os
27. Estou falando com aqueles que foram com os Bororo... Aí brincalhões falam, as meninas falam, as criancinhas, meus
os Bororo chegaram na aldeia e correm em círculo amiguinhos falam.
arrastando os pés no centro da aldeia. E correm
novamente. 36. Eu falo somente o que as crianças meus amiguinhos falam.

28. Então aquele que matou a onça pegou um pau e o 3 7. Agora os Bororo terminaram de tirar o couro. Quem é
entregou ao Badojeba de baixo, ao ilustre "tatu-canastra", que vai cantar Cibae Etawadu (bando de araracanga)?
"Para o construtor de casas bonitas", para bater com o Ah! É o mesmo que bateu com o pau nela.
pau na onça.
38. Aquele que matou a onça pintada entregou-a ali, ao
presenteado, para e le usar como esteira.
39. Onde o rabo se junta com o osso, os Bororo chamam
:50.~v()cÜ1 ~dn/14ª
uporora, osso ilíaco. Aí então ele se levanta para cantar o
Cibae Etawadu com os Bororo, com os "Brancos ~ v.J ô Jebo.
barrigudos" (representação jocosa do branco feita den-
tro do canto Cibae Etawadu).*

40. No outro dia esticam o couro e o deixam esticado lá


fora durante muito tempo. Os Bororo avisam na aldeia
para quem vai usar o couro da onça pintada ou da onça
parda, por isso eles cantam:
" e e e ... para os Ecerae a quem foi oferecida a onça;
e e e ... para os Ecerae a quem foi oferecida a jaguatir ica".

----
' ::...._
110 111

* Faz parte do ritual do couro da o nça, especialmente na dança Cibae


Etawadu, uma pantom ima representativa da prese nça dos brancos entre os Aigo biri jaído
bororo. Alguns se disfarçam de ho me m branco usando grandes barrigas, (couro de onça parda esticado)
máscaras com barbas e carecas. A encenação provoca risos nos adultos e Il ust ração: Salvador Rodrigues Tugo Jeba
medo nas crianças.
4 1. "Eis! Aqui chegou para ele a notícia". 50. Os de boa vontade pintam o cou ro da onça pintada ou
Assim que dizem (cantam) os Bororo. Este canto é o couro da onça parda. Depois os Bororo levam o choca-
comprido. lho para o chefe Badojeba para ele cantar o canto Bako-
roro lka sobre esse animal, sobre a onça pintada ou
42. Quando esse termina, ele se levanta para cantar Cibae sobre a onça parda.
Etawadu.
51. Ele diz, cantando:
43 . Com os bichos que se diz: "Wooo Wooo!" "Bakororo de flauta enfeitada de unha de queixada..."
No funeral não se diz "Wooo! Wooo!" Os Bororo É comprido. Eles falam que é comprido.
cortam esse pedaço no funeral.
52. Ah! Quando termina o Bakororo lka, os Bororo vão se
44. Com os bichos mesmo se diz: "Wooo! WoooF' enfileirar no meio do pátio para o banquete, chamado
banquete do bicho, o banquete da onça.*
~35. Os Bororo esticam o couro do animal, couro de onça
pintada, de onça parda. Quando o couro termina de ser 53. Os Bororo colocam em fila a comida da onça pintada, ou
esticado, eles pegam aquele que vai usá-lo dizendo: "Aqui da onça parda, e ninguém mexe nela. Fica ali mesmo.
··..·.. _- - - - está, aqui está, aqui está! Aqui está o seu forro de cou ro
1l 2 de onça pintada, aqui está seu forro de couro de onça 54. Depois, as mulheres, donas dessa comida, pegam pela mão 113
parda". os seus filhos e os matadores e os levam no rumo da
comida. Eles vão comendo um pouquinho de cada vasilha.
46. Quando termina, ele agradece, depois ele trabalha fazen-
do flechas, arco, enfeites de penas, colar, fio de metal, faz 55. Aí os Ecerae pegam só um ali e os tugarege pegam só um
anéis, faz kiogoaro e pariko. (Adornos de cabeça) aqui.

47. Quando termina tudo, ele avisa para os Bororo: "Ago ra 56. Os Ecerae dão comida do bicho para suas companheiras
vamos pintar o meu couro de onça! ..." lá, e os Tugarege dão a comida para suas companheiras
aqui. Por isso que as mu lheres tugarege ficam com a sua
48. Aí todos os Bororo da aldeia ficam alegres. comida lá, e as mulheres ecerae ficam também com a sua
comida ali. E os homens ficam com um pouco de comida
49. "Ah! Vamos cantar de novo, vamos cantar de novo!"
Todos ficam alegres porque vão cantar de novo.
No outro dia, à noite, os Bororo avisam para seus cunha- * No "banquete do bicho", Barogo Ke, o primei ro a comer é o caçador
dos para eles pintarem o couro da onça com a pintura da onça. Depois comem os caçadores que no passado realizaram a
chamada Aroia atugo(Pintura do pano). Ela é bonita. mesma façanha. Logo após comem todos.A comida é preparada pelas
mulheres, porém ninguém se serve do alimento oferecido pelo próprio
clã e sim do seu recíproco.
aqui. Os homens tugorege ficam com só um pouco de 63. Bakororo (espírito do herói) gostou da minha turma e do
comida e os homens ecerae ficam também só com um meu forro (couro) para você!
pouco de comida, mas as mulheres ficam com muita comida. Oroaribo (espírito do herói) gostou da turma dos Tugarege
e do meu forro (couro) para você! Oh!!!
57. Bororo não é fominha não! Não é como os brancos Assim cantam os Ecerae.
quando joga as coisas e grita: aleluia. Os Tugarege cantam.
"Bakororo, bakororo, gostou irmãozinho do forro (cou-
58. Os Bororo agem direito e falam direito. ro) e do colar de dentes de onça! Oh!!!
Ouvi dizer que uns Bororo foram fominhas no banquete Oroaribo ... (repete) Oh!!!
da onça parda aqui e acolá, mas não é assim que os Bororo
fazem! 64. Assim que os Ecerae cantam a palavra do forro para os
Tugarege. É isso que os Bororo falam: Acabou.
59. Depois, aquele que vai usar o couro da onça pintada faz Depois que acabou, os Bororo dizem: Waaa!
do mesmo jeito, como aquele que a matou, kae kae kae Mas é comprido. Quando dizem: Waaa!
kae ...
65. Ao entardecer, aquele que está tomando conta do couro
···- - - - 60. Dirige-se a ele e coloca-lhe um feixe de cordão de cabe pintado ou da onça parda pega o couro e vai correndo
114 los na cabeça. Dá para ele o cordão de seda de buriti, a 115
no rumo de quem vai usá-lo.
viseira, o colar, o enfeite de metal, a rede, a flecha.
66. Ele o entrega, empurrando-o para ele, dizendo: "Está aqui,
61. O matador da onça pintada ou da onça parda corre lá está aqui, está aqui! Aqui está o seu forro de onça pintada,
pela aldeia. Ele não vai andando com o couro, ele vai aqui está o seu diadema e o seu colar de onça pintada.
correndo, de sua casa lá para a casa do Bodojebo.Vai Forre embaixo de você.
tocando a lka: cogochi, cogochi, cogochi, cogochi! Sentado nele você vai ficar sossegado, você vai comer
bastante, vai comer peixe, vai comer carne de bicho, você
62. Durante a roda da dança dele (Kae kae kae kae!), Eles vai comer fruta de gravatá, vai comer coco de babaçu,
jogam o couro em sua cabeça, jogam a alça de embira na palmito de bocaiúva, carne de peixe, carne de bicho. Nele
cabeça dele. que você vai dormir. Obrigado.
Ah! Mas, então os Bororo falam que e le bate com o pé Aí que é o fim.
nele. Os Bororo batem com o pé no couro: po po po!
O s Bororo deram o nome para ele assim: o que bate com 67. Então aquele que vai usar o couro, corre com ele no rumo
os pés nele. Eles estão falando de lporeu: hui hui hui! Seu daquele que cantou primeiro em cima do couro.
dono Bakorokudu, seu dono Bakoro Akaru, seu dono
lparecebo. Eu não sou seu dono. Hui! 68. E é este que dorme nele em primeiro lugar. O Badojeba
dorme nele primeiro. Este Badojeba que cantou no couro,
por isso ele dorme nele primeiro.
69. No dia seguinte, entrega-o para seu dono. Aí o dono 75. Um tipo de diadema com penas de asa de gavião-caracaraí
reparte: primeiro o entrega para os seus parentes Tugarege e o gavião-caracaraí, tem também seu canto próprio.
depois para seus irmãos mais velhos e por último, para
seus irmãos mais novos (todos dormem em cima dele). 76. Os bichos mesmo dizem assim:
"Ui ui ui ui! Minha aldeia, minha aldeia!
70. Não é para os Ecerae: é para os Tugarege. Quando os Meu pátio na margem do rio do sol (pátio da antiga aldeia
Ecerae matam a onça pintada ou a onça parda, é assim que do Rio Garças, atual cidade de Barra dos Garças)
os Tugarege fazem usando o couro como forro. Meu pátio, minha aldeia, a aldeia na margem do rio dos
dourados.
71. Quando os Tugarege matam onça pintada ou onça parda, Meu pátio, minha aldeia, a aldeia na margem do rio das
os Ecerae vão distribuir o couro e ntre seus colegas Ecerae araras.
também. Assim é que os Bororo faziam antigamente. Meu pátio, minha aldeia, a aldeia na margem do rio das
piraputangas.
72. Mas agora não tem mais ... Os brancos estragaram as coi- Meu pátio, minha aldeia, a aldeia na margem do rio do ouro.
sas, acabaram com as coisas, estragaram e acabaram com Meu pátio, minha aldeia, a aldeia na margem do rio dos
as matas, acabaram com os bichos, com os peixes e com dourados ..."
'.; . . , . ~
as aves. Proíbem agora, não deixam entrar nas fazendas
11 6 para caçar. 77. E continua ... Comprido... 117

73. É assim que os Bororo fazem. Este é o final da função da 78. Com o gavião-caracaraí é diferente.
compensação do finado. É a·ssim:
" Minha aldeia, minha aldeia!
Os Bororo distribuem as palavras do couro da onça para
Meu pátio da aldeia!
cada clã. Cada clã tem suas palavras próprias: o ritual do
A aldeia no rio do sol.
couro de onça dos clã das Gralhas tem suas palavras, a
Minha aldeia, a aldeia do rio dos dourados.
compensação dos do clã das Larvas, do clã da Pal meira
Minha aldeia, a aldeia do rio das araras.
Acuri, do clã dos Bugios, os Ecerae do clã do Bakoro, os
Minha aldeia, o o o!
Ecerae do clã do Tatu-Canastra, os do clã das Antas, os
Minha aldeia ... Minha aldeia ...
encarregados da construção da aldeia, todos têm suas
Se a minha turma da minha aldéia do r io do sol, da aldeia
palavras próprias.
do sucuri, quisessem ver o meu enfeite de cabeça de pena
de gavião!. .."
74. Cada clã, conforme o clã, cada um tem sua palavra de Se a minha turma da aldeia do rio dos dourados, da minha
compensação própria.
aldeia do sucuri quisessem ver o meu enfeite de cabeça
Estes meus pais, os Ecerae do clã do Tatu-Canastra, eles de pena de gavião!... É assim que os Ecerae do clã do Tatu-
têm palavras de vingança difere ntes. Canastra cantam com seu e nfeite de cabeça de penas de
gavião-caracaraí, com seu e nfeite de cabeça de penas de
gavião, e com seu forro de pele de onça pintada ou de 85. Estas coisas estão acabando. Os costumes e as palavras
onça parda. dos Bororo estão acabando, por isso estou ficando
preocupado.
79. São dois diferentes: As palavras do couro de bicho vão
para um lado, e as palavras do gavião-caracaraí vão ara ou- 86. Se um de nós matarmos uma onça pintada, ou uma onça
tro lado. Mas as aldeias são as mesmas. parda, ou uma jaguatirica, ou um gavião-real, ou um gavião
-caracaraí agora, hoje ou amanhã, vamos fazer o gravador
80. Sobre o dente de onça pintada ou de onça parda, os falar por nós, cantar por nós, e nós vamos ficar aqui à toa
Bororo os colocam na cabeça de suas mães dizendo: só escutando (risos).
"Minha mãe, aqui o dente da onça pintada, aqui seu colar
de dentes de onça pintada. Não vá transformá-lo em co- 87. Se um dia nós morrermos, o gravador que vai cantar por
lar de algum pau, ou de um jirau, ou de algum cesto ou nós o Canto Grande sobre o finado.
embornal. Eu matei essa onça para fazer colar para você. M! m! m! O! No lugar dos finados ...
Aqui está seu colar de dente de onça pintada, aqui está
seu colar de dentes de onça parda". 88. Nós vamos ficar parados escutando o gravador que canta
Se for jaguatirica: para ele. Isso vai ser bom. Nós agora já estamos conviven-
"Aqui está o seu colar de dente de jaguatirica". do com isto.
, ,,,- - - -
Assim falam os Bororo. 119
118
89. Sim! Basta. Basta. Só esse pouco. Para o que eu queria, já é ·
81. Se a onça pintada for morta lá na mata, se a onça parda, for bastante.
morto por lá na mata ou nos morros, lá no Boqueirão, ou
no lugar das araras, se a onça matou a anta, se ela comeu 90. É assim que os bororo falam, os bororo fazem. É só isso.
queixada ou bandeira, então a alma para a qual foi feita a
compensação recebe um nome, vai se chamar: Uke
kikurirepa (dono da que comeu anta).

82 Se a onça comeu tamanduá-bandeira, a alma se chamará


Uke Bukerepa (dono da que comeu Tamanduá-bandeira).
O matador também vai receber o mesmo nome: Uke
Bukerepa, o pai dele vai se chamar Uke Bukerewo, a mãe
vai se chamar Uke Bukece.

83. Se você chegasse mais cedo nós íamos terminar com tudo
isso, mas agora basta, isto é suficie nte.

84. É só isto que eu falo para vocês. Cuidem dele. Escutem-no


só por escutar. Não deixem perde r, não deixem perder.
BOE MORI VARIAÇÃO li
Manoelzinho Wenceslau
Maru Bororo

Pesquisa: Mário Bordignon

Transcrição da Língua Bororo


para a Língua Portuguesa: Paulinho Ecerae Kadojeba
121
Boe Mori

123
/m edu unure tuwaiga toji, tchuk!
(o homem está enfiando seu arco na garganta da onça)
Ilust ração: Getúlio Aroe Kudu

1. Boe ere aigo bito t oro boe tada. Oino Boe remaw uge
erore.

2. lcá! Ere ipo to nowu aigo poruji, Pó! Pó!

3. Du tabo re egore:
"Ai rece ...
Ai rece akaru butuiare ...
Bakororo... oiaio ieko ...
Ecera ai akarudo ...
Ecera ai akarudo Ho ! Ho!
Ecera ai akarudo
Ecera Awogodori akarudo...
Ecera Aiquio akarudo... 5. Du care ure batarudo:
Ecera Aiquio akarudo... "Oi! Oi! Oi! 1
Ai rece ... Hooo!... Hooo! ..."
Ai rece akaru butuiare Bakororo oiaio ieko...
Bakororo oiaio ieko. M! M!" 6. Bakorokudu ukudawu jiboe, boe egore: 1
Hooo ... Bakororooo ...
Bakororooo ...
j
7. Cewu Kie, boe egore:
"Oi! Oi! Bakororooo ... Bakororooo ...
Bakororooo aiduia ikudawu ai, 000.. .."

8. Awu Bokodori Eceraedu rema.Awu bokodori Ecerae


egore:
"lwororooo...
lwororo Meriribo Bororoooo aiduia itugarege enawu
-- ---- ikudawu ai, ooo! ... (2x) '•
124
lwororooo ... 125
lwororo Kuruguga Bororo aiduia itugarege enawu ikudawu
ai, ooo!...
lwororooo ... lwororo Kaiwo Bororo aiduia itugarege
enawu ikuidawu ai. Ooo! ...
lmedu adugo bito metugudure kodire ure jurugo Ai, ooo!...Ai 000... Waaa! Ooo!...
(O homem que matou a onça, cansado acendeu o fogo) Oino.
Ilustração: Getúlio Aroe Kudu

9. Bakoro Ecerae egore:


(falando):
4. Oino. lcare boe ere bureagurudo ture moridowu umana, "Oi! Oi! Oi! Oi! Oi! Oi!
uwie.
lwororooo ... lwororooo ...
Ca! Nowu jire boere bureagurudo. lwororo Urugudu Bororo!
Boere tugeragu ji. Boe ekodo kuri apo baiado, boe egore: lwororo Urugudu Bororo!"
"Kae gae! Kae gae! Kae gae! Kae gae!
Ca! Emareo, emareo, emareo, emareo! (Cantando):
Aedaga, amana, awie, mori akudawu aigo biri reo, akudawu "lwororooo...
adugo reo!"
lwororo Urugudu Bororo aiduia itugarege enawu ikudawu
Oino Boe egore. ai. Ooo! ...
Ili

'
Ai ooo! ... Ai ooo!... Ai ooo! ..." 13. Aroroe egore:
Oino. "Ooo... Ooo ...
lworrooo ...
1O. Ca! Woere, Paiwe eiore woe. lwororo A r ua Bororo aiduia itugarege enawu ikudawu ai.
Paiwe egore: Ooo! ...
" Oi! Oi! Oi! Oi! lwororooo ...
Ooo ... lwororo Batugubo Bororo aiduia itugarege enawu ikudawu
ººº···
lwororooo...
ai.Ooo! .. .
Ai ooo! ... Ai ooo! ... Wooo! ..."
lwororo aiduia itugarege enawu ikudawu ai. Ooo! ... O ino Boe egore
ººº···
lwororo...
Nowu barege ewadaru reo.

lwororoArigao Bororo aiduia itugarege enawu ikudawu ai. 14. Nowu barege ewu reagurudodu, boere barogo
Ooo! ... bureagu r udo, boere aigo bureagurudo, imedu mori rabodu,
Ai ooo!... Ai ooo! ..." aredu mori rabodu, du boe egore:
"Ca! Emareo, emareo, emareo, emareo"
11. Apiborege egore: Oino boe egore. Boe egore:
126 127
"Ooo... " Ace, atuie mori akudawu aigo reo!"
lwororooo... Oino boe egore.
lwororo Apibo Bororo aiduia itugarege enawu ikudawu ai. Boe egore:
Ooo! ... "Ace, at uie mori akudawu, akuie adugo reo! "
lwororooo ... lno boe egore.
lwororo Apibo Bororo aiduia itugarege enawu ikudawu ai.
Ooo! ... 1S. Boe egore aipobureuji jamedu. Boere aipoboreu bureagudo.
Ai ooo! ... Wooo! ..." Egore:
"Kae gae gae gae!
12. lwagududoge egore: Emareo, emareo, emareo!
"Ooo... Ace, atuie mori akudawu aipobureu reo! Akuie aipobureu
lwororooo... reo!"
lwororoooArigao Bororo aiduia itugarege enawu ikudawu
ai.Ooo! ... 16. Mare marigudu awu adugo, aigo, adugo o, padure tu aroe
lwororooo... etujemage ewugeje, urororeu aredu keje, nogwaredu keje.
lwororoArigao Bororo aiduia itugarege enawu ikudawu ai. Du kodire boe egore:
Ooo! ... "Kae gae gae gae! Emareo, emareo, emareo!
Ai ooo! ... Wooo!..." Atuie, awie mori akudawu, akuie, aigo reo! Kaawadu aigo
reo!"
li

1 '

Aigo biri kogure Boe etao gajeje kodi. 22. Ca! Nonore icare boe ewoadodure areme eiamedu ae
Mare ca! Nowu aigo ó padure tu aredu, nogwaredu keje areme eiameduwo toedo, ewo toedo noidoiace, apidoiace,
kodi jamedu . Du kodire boe egoino. apeo kodu, no kodu, ako kodu, nowu inodu boeji.
Now u boe eroiwareuge enoroere tu ... aroe amireu, aroe
17. Awu oino rema, oinore icare. Awu oino maigoduboe kuru, d u pegakare.
pemegare. Pemegare rugadu. Marigudu awu inodure r ugadu. Du pegakare.
Awu boere nowu rogu bureagududo tu je. Ca! Nonore icare, tugarege eno remagudure ceraei.
Du boe egore: Du kodire ceraere toe ku ri do, tugaregere t oe kur ido. Du
" Kae gae gae! " kodi re icare ... now u bai tadare icare awu cerae enoe
Oino nowu ture buregurudo jiwuji. makudure tugarege etai, tugarege enoe makudure cerae
"Akudawu adugo reo!" etai pu ibagi.
Oino. O ino.
"Akudawu reo! Akudawu reo! Jewu aedaga, amaná mori
akudawu adugo reo!" 23. Awu ime, awu inodu ji re boe egore areme ewororoi
Oino tu je. puaedu ieo. Awu inodu reo, awu barege ekedodu.

18. U! Nowu boere adugo biri tawuje. 24. Kode ime rema, eke ar iare mito tu je, noidoia kuru rogu
1ia tabo tu je. Mito tu je. Ure ino tugarege etai jamedu, eke 129
Ca! lcare nowu boere biri tawuje, icare boere jaido pugeje,
boe ere jaido jii je. metu re tadawu ariare mito tu je.

19. Ca! Nono boe eragodure. 25. Areme rugadu re, U! Enogwagere boeji r ugadu. Oino boe
Nowu barege ewugejeboe makaguragare. remawuge erore.
Oino. Mare nono icare boe eragodure Cibae Tawaduji. Kodire awu inodu jire boe egore, awu barege ekedodu
kejere boe egore areme ewororoi pudaedu ieo. O ino.
20. Braedu Kukuri boe etaidure, boe eegarere. Du kodire Kodi re tugaregere toedo, ere toe kur ido, ere toe makado.
boere Braedu Kukuri do pudumi. Cerae erore oino jamedu. Oino.
la boere Braedu Kukuri arego mato, ia toe tabo, ia tuge Kodi re Boe remawuge egore: A reme ewororoi pudaedu
meá tabo. Ure maku boe etai, tu oino. ieo. Oino.
Ca! Nonore boe eegarere, boe etaidure nono, nowu Boe eiamedu boe to pudogi, pudogi, pudogi, toe taba.
inoduji. Cerae eregodure tu Tugarege enoe togi, Tugarege
eregodure Cerae enoe togi jamedu . Pu ibagi.
21. Oino Ca! Nowu inodu akedure. Oino.
Ca! Boe epagare toro jiii toro. Ca! Pugeje ka! Nonore icare
boe emaragodugodure ji. Boere nowu adugo kujagudo, aigo 26. Ca! Nowu barogo, boe maragodogodure jitudu, boere
kujagudo. kujagudo. Boere adugo kujagudo. Ere kujagudo tu je, icare
boe ere nowu Marenaruie ko. Oino
Sakororo... aiduia itugarege enawu ikudawu, ikuie ai,
27. Ca! Du keje icare nowu adugo epa iera tabore icare nowu Ooo!
uwobe ererure iera taba. Oino tuguieji.
Mare makareuge nogware emage du oino emagare, du Nonore, nonore, jii... Awu raire rugadu:
ema rugadu Reno. Bakoroo ...
Mare nowu pajere mito tu tureru tabo, mare ere Orowaribo...
tugerabraredo ji jamedu. Kugarubo...
Ererure iera taba woe, adugo marice, aigo morice. Ure Padarobo ...
adugo bitowu iera taba, aigo bitowu iera tabo. To ro Meri rutu kae, Meri butu kae.

28. Ca! Mare ca! Boe ekera bu butugukare tugobaigareji 33. Nonore icare ere kado nono rugadu.
nonogo tabo.A! Boere tugera reko oino aoji! Ao rore pai, Ca! Akedu rugadu. Nowu oto padu rugadu Reno.
ao rore pai je! lnodure barogo ukedodu rema. Barege ekedodu rema.
Oinore Boe erore, Boe egore, Boe ewadarure. Oino.
29. Mare boe ewoadae karega nowu adugo kujagudodu rema,
aigo kujagudodu rema. 34. Mare akado! Awure icare ure oino.
,·.· Nonore icare boere adugo, aigo epa, boe eroi ao jitu rugadu. Awu Boe icare jorduwa bokwagodure oino pugeje jamedu.
130 131
Oino. Awu boe etore egokowodu nure tu tu tu turagoduwo
Oino ca! Du tabore icare boe ererugodure nono. Areme bapo kurireu tabo.
ererugodure nowu iera tabo nono, marenaruieji. U! Ere Mare oino cewu uragodure oino boe bokware.
kana awogado, puibagi, puibagi, piuibagi. Oino Ca! Awu Kaimore, awu Colbachinire, awu Kuiarure, Ca!
lmire.
· 30. Du ca! Nowu akedu kejere icare aremere tugeragu boe
eke boeji nono baiado, tumedage enoe boeji nono baiado, 35. A! Nowu adugo ukere emaboe, ukere pobogo, adugo ukere
puai, pu ukeje. ia ki, ia jui, jugo, du boe egore: "Uke Jugo". Oino. le bio.

31. Ca! Du tonajire nowu adugo biri epa ure tugeragu ji pugeje. 36. Ca! Bitodure toro pobo kurireu tada, ia toro. Ou boe egore
Bureagurure nowu Badojebaji. U! Ere udo nowu Bakoro nowu epa ieji pugeje.
lka kowuje. Ca! Ere tugeragu ji rugadu. Kado, kodire akiere "Piebaga". Are aigo bito awu bireu
Emagore: morice toro Piebaga tada kodi. Oino.
"Kae gae gae! Ca! Akudawu reo!"
Ere nowu adugo biri barigu aoto rugadu. 37. Awu adugo o rema, aigo o, boe emagokare ji.
Nowu aigo o, adugo o jeture jitu dure. Ure adugo bitowu
32. Ca! Nowu ure tuwure to ji woe, woe, ure tuwure to ji, kodo kuri nowu to adugo o tabo tuje ae, boe etuje ae,
akore: uworororeudo ae, akore:
Bakororooo ... Emareo! Emareo! Emareo! Emareo!
1 1

!muga, imuga, akuie adugo o reo. Akaba ipo oroedo ema, A recompensa VARIAÇÃO li
akaba jetu pagado tu ipo juraji, iwara juraji. Akuie cere Língua Portuguesa
iroino ji.Akuie adugo ó reo, akuie adugo ó reo, akuie aigo
ó reo, akuia iago ó reo.
Matar a onça (Adugo bito)
Oino Boe egore.
1. Quando os Bororo matam uma onça no mato, é assim que
os Bororo autênticos fazem:
38. Awu mariguduwu Boe eimore nowu adugo inogice.
Nowu aroe uwo, adugo biri makudure aiwu imedure, boe 2. Eles batem com um pau nas costas da onça.
etao kajejwudo nowu adugo inegice.
Care Boere nowu ure adugo bitowu kujagudo, du kejere 3. Aí eles cantam:
ure nowu boe eimo adugo inegi maku ai, "Eis a onça ...
Nonore akore: Chegou a notícia da onça no lugar de Bakororo...
Kae gae gae gae gae! Ca! Ca! Emareo! Emareo! Emareo! Levem a notícia dela
Emreu! Eis a onça."
Cal Akimo adugo inogi reo, akuie akimo adugo buregi reo! A notícia da onça chegou ao lugar de Bakororo,

; ,. __ ___ Emareo! Tugu tu akaoto, tugu tu akaoto! Ou tabore


amerure, akamagadure, awadure, ature baito, amugure bai
Ao lugar de Bakororo.
.
,,
132 Dançar ao redor (Bureagurudo) 133
tada.
Oinore Boe egore. 4. Depois os Bororo dançam ao redor do irmão daquele
Ema rugadu. finado que eles compensaram com a matança da onça.
Eles dançam em roda.
Pegam-no e levam-no para o centro da aldeia, dizendo:
Kae gae! Kae gae! Kae gae! Kae gae!
Eis aqui, eis aqu i, eis aqui !
Eis o teu tapete de couro de onça, pagamento pela morte
de teu tio (ou irmão). Eis aqui o teu tapete de couro de
onça.

Aclamar (Batarudo)
5. Então ele faz aclamação:
"Oi! Oi! O i!
Ho o ... Ho o ...

6. Quando Bakorokudu (Badojeba) é o dono do couro,


dizem:
"Ho o ... Bakororo ...
Aldeia Garças, 1998 Bakororo ... Oh!...
7. Quando o dono do couro é Kiedu, dizem: 1 1. Os Apiborege dizem:
"Oi! Oi! Bakororo ... Bakororo ... "Oh!. ..
Do que Bakororo gosta? É do meu tapete de couro de A minha aldeia ...
onça.Oh!. .." De que a minha aldeia Apibo gosta? É do meu tapete de
'I
onça, enfeite do meu povo. 1,
8. Quando o dono do couro é Bokodori Eceraedu, dizem: O h!... Oh!...
111
"A minha aldeia ... A min ha aldeia ...
De que a minha aldeia Meriribo gosta? É do meu tapete De que a minha aldeia Apibo gosta? É do meu tapete de 1

de onça, enfeite do meu povo. onça, enfeite do meu povo.


Oh! ... Oh! ... Ai o!. .. Ai o!..:'
De que a minha aldeia Kuruguga gosta? É do meu tapete 11

de onça, enfeite do meu povo. 12. Os lwagududoge dizem:


Oh!. .. "Oh!. ..
De que a minha aldeia Kaiwo gosta? É do meu tapete de A min ha aldeia ...
onça, enfeite do meu povo. De que a minha aldeia Arigao gosta? É do meu tapete de
Oh!. .. Ai o!. .. Ai o!. .. Wa! Oh!. .." onça, enfeite do meu povo.
____
.,,. O h!. ..
135
134 9. Quando o dono do couro é Bakoro Eceraedu, dizem: A minha aldeia...
"A minha aldeia ... De que a minha aldeia Arigao gosta? É do meu tapete de
De que a minha aldeia Urugudu gosta? É do meu tapete onça, enfeite do meu povo.
de onça, enfeite do meu povo. Oh! ... Ai o!. .. Ai o!..:'
Oh!. .."
13. Os Aroroe dizem:
1O. Agora vêm os Paiwe. "Oh! ...
Os Paiwe dizem: A minha aldeia...
"Oi! Oi! Oi! Oi! De que a minha aldeia A rigao gosta? É do meu tapete de
Oh!... Oh! ... onça, enfeite do meu povo. 1 1
'
A minha aldeia ... Oh!. ..
De que a minha aldeia gosta? É do meu tapete de onça, A minha aldeia ...
enfeite do meu povo. Oh!... De que a minha aldeia Batugubo gosta? É do meu tapete
Oh! de onça, enfeite do meu povo.
A minha aldeia ... Oh ... Ai o!. .. Ai o! ...Wo!..:'
De que a minha aldeia Arigao gosta? É do meu tapete de É assim que os Bor oro falam. Esta é a proclamação dos
onça, enfeite do meu povo. bichos.
Oh! ... Ai o!. .. Ai o!. .."
'

A dança ao redor (Bureaguru) O esfolamento da onça (Adugo biri tawujedu)


14. Quanto à dança ao redor dos bichos, os Bororo dançam
Esticar pele (biri jaido)
ao redor do bicho, dançam ao redor da onça, como Sobre o esfolamento da onça.
18.
compensação por um finado ou uma finada. Então eles Os Bororo tiram o couro (da o nça), de pois o esticam. O
falam:"Eis aqui, eis aqui, eis aqui! de ixam esticado por um bom tempo. !
Eis o teu tapete de couro de onça como vingança pela
morte de tua mãe, de tua irmã. 1

O canto Cibae Tawado


Eis aqui teu tapete, teu colar, de onça pintada." (Muitas araras= Muitas pessoas)
19. Durante esse tempo eles cantam.
15. Os Bororo falam também sobre a jaguatirica. Eles dançam Os cantos sobre os bichos são muitos.
também ao redor da jaguatirica, dizendo:
Mas agora eles cantam
"Kae gae gae gae! Cibae Tawado.
Eis aqui, eis aqui, eis aqui!
Eis o teu tapete de jaguatirica. Eis o teu colar de jaguatirica."

____
,',•·,. 16.
Os dentes da onça (Adugo o )
Mas antigamente o dente de onça era colocado na mãe
136 do finado, na mulher ou moça que preparava a comida 137
ritual
Por isso eles diziam:
"Kae gae gae gae! Eis aqui, eis aqui, eis aqui!
Eis aqui o teu tapete, o teu colar de onça, vingança da
. morte de tua irmã. É uma onça gorda."
Porque o couro da onça era amarrado na cabeça da pes-
soa.
E também porque o dente da onça ficava só com a mulhe r
ou a moça. Por isso eles diziam assim.

17. Mas agora, nestes tempos novos é bom. É bom mesmo.


A pessoa dança ao redor, dizendo:
"Kae gae gae!
Assim, para a pessoa ao redor da qual ele dança.
Eis o teu tapete de onça.
Eis o teu tapete! Eis o teu tapete. Eis o teu tapete de onça,
vingança pela morte do teu tio, de teu irmão mais velho.
Só assim.
Braedu kukuri aregodu boe coji
Areme ererui cibae tawadu keje aduga biri taba, baiga taba (o branco barrigudo chega de noite durante
138 o Cibae Etawadu) 139
(as mulheres dançam o cibae etawadu com o couro da onça
e o arco do caçador) Ilustração: César Rondon Aroe Etugo
Ilust ração: Ailton Meri Ekureu
A pintura do couro da onça
(Adugo biri kujagudodu)
21. É assim. Esta parte acabou.
O branco barrigudo (Braedu kukuri) Então o povo espera du rante um bom tempo.
20. Os Bororo gostam (da representação) do branco Depois trabalham de novo.
barrigudo. É uma alegria para eles. Eles pintam o couro da onça.
Por isso eles representam o Branco Barrigudo.
Nessa ocasião os Bororos ficam alegres, gostam disso. A comida ritual na festa da onça (Barege ekedodu)
22. Aí então fazem discurso avisando todas as mulheres para
prepararem a comida, palmito de babaçu, palmito de acuri,
polpa de coco de acuri, de babaçu, de bocaiúva, tudo
isso.
As que podem preparam também bolo de arroz e canjica
de arroz, isso não é ruim. Antigamente era assim. Isso era
bom.
Então os Tugarege apostam com os Cerae.
Isto é o que os Bororo chamam de oferecimento mútuo
Por isso os Cerae fazem bastante comida e os Tugarege de comida feita pelas mulheres (areme ewororo i pudaedu)
também. Depois, no baito, a comida dos Cerae é oferecida
para os Tugarege, e a comida dos Tugarege é oferecida Pintura do couro da onça
para os Cerae, reciprocamente. ( Barogo biri kujagudodu)

fü ~-~'C::::::, e:: 26. Sobre o couro do bicho, os Bororo tra balham e depois o
pintam. Pintam o couro da onça.
Enquanto o pintam, cantam Marenaruie.

Dança com o matador da onça


'~ -~ 27.
(Uwobe e rerui iera tabo)
Depois disso os parentes do matador da onça dançam
com as mãos dele.
Mas agora tem muitas meninas e isso é bom. Mesmo que
só ten ha uma velhinha para dançar, e las a ajudam.
Dançam com a mão daquele que matou a onça em
pagamento do couro.
....., 141
140 Aredu ure toe pemegado
(a mulher prepara a comida para a festa)
Ilustração: Hermínia Ekureudo

A comida ritual (bororae, barege ekedodu)


23. Isto é o que os Bororo chamam oferecimento mútuo de
comida feita pelas mulheres. Isto que é a comida dos
bicho (barege ekedodu).

24. Quanto aos homens, a comida dos Cerae é só uma pane-


la contendo caldo de palmito de babaçu . A mesma coisa
os Tugarege. A panela contendo a comida deles é só uma.

25 . Quanto às mulheres, aí comem mesmo. Assim que faziam


os bororos autênticos.
Por isso a esta comida dos bichos os Bororo chamam
oferecimento mútuo de comida feita pelas mulheres. Por
isso os Tugarege fazem muita comida e os Cerae também.
o Boe . K[

Areme ererugodure nowu iera tabo marenaruieji


(a mulher dança o marenaruie com as mãos do caçador)
Ilustração: Taiomara Bakoro Kudureudo

Pintura do matador da onça


--------,,,
142 143 ,. .
(Adugo epa kujagudodu)
28. Não é pouco o urucum que eles passam no herói. Passam 1
na cabeça dele. A cabeça dele se dobra pelo peso do O canto da flauta do chefe (Bakororo lka)
urucum. 3 1. Aí o encarregado do couro da onça dança com o caçador
ao redor do chefe Badojeba.
Dançando com as mãos do herói
Depois faz com que ele execute o canto Bakoro lka
(Areme ererui iera Tabo)
pegam-no e dizem:
29. Não é, porém, uma brincadeira a pintura da onça.
"Kae gae gae! Eis aqui o seu tapete!"
Quando acabam de passar o urucum na cabeça do mata-
Então penduram o couro nele.
dor da onça, aí dançam. As mulheres dançam marenaruie
com as mãos dele.
Nova aclamação (Batarudo pugeje)
Elas levantam o braço dele, um após o outro, um após o
outro, um após o outro. 32. Aí, e le com o couro pendurado no pescoço, bate com o
pé na ponta do mesmo dizendo:
Levando a comida para o centro da aldeia (Reko Baiado) "Bakororo...
30. Quando esta dança acaba, as mulheres pegam a comida e Do que Bakororo gosta é do meu tapete, do meu colar
a levam para o centro da aldeia, levam a comida de suas de onça, enfeite do meu povo.
companheiras para o centro da aldeia, umas para as ou- Oh!...
tras, mutuamente.
'
Fala assim com o seu couro. Assim, assim. Esta aclamação
é comprida: Os dentes da onça ( Adugo o)
Bakororo... 37. A respeito dos dentes da onça pintada e da onça parda,
Orowar ibo... ninguém comenta sobre eles. Os dentes da onça parda
Kugarubo .. . e da onça pintada estão aí.
Padarobo.. . O que matou a onça pintada corre com o colar de den-
E continua até: tes da sua onça no rumo de sua mãe, no rumo da mãe
Meri ru t u... dos bororo, daquela que ofereceu a comida ritual,
Meri butu ... dizendo:"Eis aqui! Eis aqui! Eis aqui! Eis aqui !
Minha mãe, minha mãe, aqui está o seu colar de dentes de
33. Aqui eles terminam.Acabou mesmo. Este é o fim. onça pintada. Não o entregue a algum pau, não o ponha à
Assim que é a comida do bicho. É a comida dos bichos. toa em cima de alguma árvore ou de alguma vara. Eu o
Assim que o povo faz, fala e conta. fabriquei para ser o seu colar. Eis o seu colar de dentes
de onça pintada, eis o seu colar de dentes de onça parda."
34. Veja, porém, como é agora. É assim que os bororo falam.
O povo de agora também já não sabe.
144 Estas crianças estão experiment ando cantar com o A s unhas da onça (adugo inogi)
chocalho grande. Mas não tem mais os que sabem cantar. 38. As unhas da onça eram enfeite dos antigos Bororo. 145
Tem Ka.iamo (Antônio Caio, hoje falecido), tem O pai da alma, aquele ao qual foi entregue o couro da
Colbachini (Antônio Colbach in i, também hoje onça, faz um colar com os dentes da onça. Quando os
falecido), tem Kuiaru Uosé C arlos Kui aru, único Bororos pintam o matador da onça, ele lhe oferece esse
ancião ainda hoje em atividade) , e tem eu (Wenceslau, enfeite de unhas de onça, dizendo:
hoje muito velhinho, que não pode cantar mais) . "Kae gae gae gae gae! Eis aqui! Eis!
A qui seu enfeite de unhas de onça! Aqui seu colar de
O Apelido (ie bio = Nome de morte) unhas das patas da minha onça.
35. Pelo que a onça comeu, se comeu veado, se comeu anta, Eis aqui. Ponha-o na sua cabeça, ponha-o na sua cabeça!
catete ou queixada os Bororo dão o apelido. Ex. Uke Use-o quando você, anda, quando se mexe, quando brin-
Jugorepa (matador do bicho que comeu queixada). ca, quando vai ao baito, quando fica em casa."
Assim dizem os Bororo. 1
36. Quando o bicho é morto longe, lá no rio ou em o utro É isso.
1
lugar, então os Bororo dão ao matador o nome desse
lugar.
Veja, por isso que você tem apelido de "Piebaga", porque
matou uma onça parda por est e finado lá em Piebaga.

Ald eia Garças, 1998


li 1

ANIMA IS UTIUZADOS COMO MORI 1- Adugo coreu

Levando em conta a importância do rito fúnebre para os Rai: 60 cm. Rai to bokwa tabodu. Ricore: 85 cm.
Bororo, do princípio da reciprocidade originária do Mori, Boe emeardae mode co magoduiure. Boro atugo aigodu
ato de presentear a família do morto enlutada, para que nure, boe erdumode ji tu boe tuioku bu tu keje dukeje.
volte a sentir alegria e participar das atividades Nono boe erdumode nure atugo aiagodu boeji.
comunitárias, tomamos este tema como gerador de Adugo coreu mugure itu ra tada tori tada mare, kaiamo,
atividades pedagógicas desenvolvidas na Escola Indígena brae ere etagedudo. Du kodi boe erdukare ei pugeje.
Sagrado Coração de Jesus de Meruri, buscando atingir Marigudurema emagaguragare woe pagao.Adugo doge
conteúdos específicos dentro de um relacionamento enogwagere tu barogo koduji. Rugodu re tumedage duru
horizontal. Os textos e desenhos que se seguem são bokwareugei. Pagudure tapira imeduji.Adugo turugoduwo.
resultantes da experiência. la dukeje tuwo tuge r agu ia barogoji du k eje podu
pem egagu ragare tubodaej i.
Além da ajuda indispensável dos mais velhos, usamos como
apoio bibliográfico: . - ...

1 - Enciclopédia Barsa, vários volumes


..
. ~

·.....~ . :.,..:..· . '

146 147
2 - Enciclopédia Bororo, V. 1

Duru bari kaguragare, kuru rakaguragare. Boe erugodu i


jitudu, tugo baigare rakudu rugodure ji dukeje. Rugodu re
ji jice woje jii ... tui kugudodu kae. Kugudugo dukeje
tugobaigarere tudugo to ji tuku tui bitodu kae. Tui bitodu
akedu keje kodo tabo ji ... bato. Rekodure ia tumode
moridou ia t ugidogurare ae ure reko ba aiadoda ure
nowu r e ba r ogo burea gurudo ji. Oinore boe erore
marigudu Adugo Boe emoriae nure ema, boe nu re ema
koiare ure boe eda akedodo kodi, bope, kaiamo, braedu
nure ema, boe etae kodi, boenure tumorido ji, braeduji 1 - Onça preta
kaiamoji, boe egarere, boe ererure boere, br-aedu ku kuri
to cuiegare tabo. Oinore mariguduwuge erore urugadu.
Nome popular: Onça preta, pantera, jaguaretê (tigre,
nome impróprio)
Nome científico: Panthera onca
Família: Felídae

A gent e pensa que ele é preto duma vez, mas não; para
ver é somente de pertinho. Onça preta fica no mato,
nas pedras.
Mas os Xavante e os brancos já terminaram com as onças.
Por isso que a gente não as vê mais. Antigamente tinha
bastante onça preta. Ela só vive de carne e briga somente
com os animais mais fracos e também é bem cautelosa.
Tem muita força e nada muito bem. O caçador quando vai
brigar com a onça, ele luta com ela até ela ficar mole, aí é
149
que ele a mata. Depois que a mata, leva-a para a aldeia
148
onde escolhe alguém para quem ele queira fazer o Mori.
Aí ele a leva até o pátio, pega a mão daquele a quem vai
fazer o Mori e entrega para ele, que depois faz as
cerimônias. Os antigos falavam que a onça representava o
bope, é este que acabou com os Bororo, assim dizem os
antigos.

Agostinho Eibajiwu
O autor optou por fazer os dois textos: em Língua Bororo e em
Agostinho Eibajiwu
Língua Portuguesa.
2 -Aigo 3 - Aipobureu (Aikido ou Awogodori)

Nome popular: Onça-parda, suçuarana ou onça-vermelha Nome popular: Jaguatirica


Nome científico: Puma concolor Nome científico: Fe/is parda/is
Família: Felídae Família: Felídae

Mede até 1,20 cm de comprimento e se alime nta de veado, É também conhecida como Chibiguassu no Paraguai e
tatu-peba, ema, seriema, perdiz, etc. É durante a noite que como Acelote na Inglaterra. A espécie brasileira, Felis
faz sua caçada. Se durante o dia estiver de barriga vazia, sai pardalis, é conhecida como gato-do-mato e, como maracajá
à procura de comida para se ali mentar. Se estiver de barriga na Amazônia.
cheia, fica em cima da árvore. Quando mata algum bicho, Existe no Brasil inteiro e em quase toda a América
enterra no chão para depois comer. meridional. Atinge 85 cm de comprimento,45 cm de cauda
Tem no máximo dois filhotes. Caça alguns bichinhos para e cerca de 40 cm de altura. A cor da jaguatirica é ruivo-
alimentar seus filhotes. Quando começa a entardecer sai amarelada com numerosas manchas arredondadas, pinta-
à procura de alimento para comer. Quando seus filhotes das de preto. É um animal mamífero e, também, ágil para
começam a ter dentes, aprendem a caçar seu próprio nadar e para trepar em árvores.
150 15 1
alimento. Alimenta-se de carnes de aves como a pe rdiz e de
Seu tempo de vida é indeterminado. Os Bororo fazem uma mamíferos como a cutia. Vive nas matas e banhados e se
festa bonita quando matam uma onça parda. adapta com facilidade a jardins zoológicos.
Sua pele ou couro é de grande importância na cultura
Bororo. A matança de uma jaguatirica serve de Mori, uma
espécie de compensação para os parentes dos falecidos.
Seus dentes servem para fazer colar para aquela pessoa
que ficou de luto du rante o funeral e o couro serve de
esteira para deitar, sentar, dormir.

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Ana Lúcia Rondon Edojebado (7ª série)


Benedito Mailton Toro Ekureu (7ª série)
4 -Aimeareu S - lpocereu

Nome popular: Gato morisco Nome popular: Papa-mel, irara


Nome científico: Fe/is yagouaroundi Nome científico: Eira bárbara
Família: Felídae Família: Mustelidae

O gato marisco come lagarto de pau podre, pere reca, O papa-mel pertence à família dos carnívoros, o nome
calango, tatu, frutas, etc. e o que está ao seu alcance. dele em Bo roro é "lpocereu" e o nome popular é Irara ou
Geralmente dormem dentro de buracos de árvores. Papa-mel. Seu nome científico é Eira Bárbara.Tem o corpo
Normalmente saem mais à noite. De dia eles não saem baixo e longo, atingindo 66 cm e a cauda pouco mais curta.
muito; de vez em quando saem para caçar perereca e Seu comprimento total chega a 1, 1Ocm. A cor em geral é
outros insetos. pardacenta, um pouco mais cinzenta na cabeça. No
Os filhotes de les nascem como um gato, com pelo; quem pescoço uma grande mancha amarelada caracteriza bem
caça mais para eles geralmente é a mãe, que está o tempo esta espécie.
todo ao lado dos filhotes. Defende seus filhos e morre É única do gênero e m todo o Brasil e, ocorre também no
por e les se for preciso.Algumas vezes o pai traz comida México. Vive nas matas e à noite sai à caça de pássaros e 153 i'•
152 para os filhos. Depois que crescem, e les ficam um tempo ovos e até mamíferos do tamanho da cutia não lhe escapam.
com a mãe que os ensina a caçar e a se defenderem. Depois Alimenta-se também de mel; se possível procura entrar
que eles terminam a fase de crescimento, cada um pega no ninho de abelhas pelas raízes ocas. Se não atingir o seu
seu r umo e seguem suas vidas por conta própria. El es objetivo que é o ninho, mete os dentes na made ira e assim,
geralmente gostam de cerrado fechado. arrancando as lascas do tronco muitas vezes consegue
O s Bororo costumam matar o gato morisco e oferecê-lo chegar ao ninho.
para a alma de um finado. Seu couro é muito bonito e
macio.

Maria Pi edade Marques Po Ekureud o


Informante: Egídio Raul Recobojeba
No galinheiro é um sanguinário, mata só para sugar o sangue 6- lerarai
das vítimas, às vezes bem numerosas.
Sua classificação em Bororo é: Barege Boe Moriae. Nome popular: Mão-pelada, guaxinim, jaguaxinim, iguanara
Isso significa que pode ser morto para ser oferecido para
Nome científico: Procyon cancrivorus
um finado como "Mori", pagamento, compensação ou
Família: Procyonidae
vingança.
O corpo mede até 65 cm e a cauda 40 cm; o pelo é curto
e denso, arrepiado na nuca; a cor é cinzenta, salpicado de
preto, porque são desta cor a ponta dos pelos maiores.
As pernas, principalmente as extremidades, são pretas, bem
como a face e as órbitas, onde esta cor se destaca bem,
.devido às faixas brancas no supercílio e focinho. A cauda
é amarelada, alternando o preto com o amarelado.
É um bicho de ar matreiro. A impressão que se tem ao
olhá-lo de frente é a de que está usando máscara. Habita
todo o Brasil, mas só junto aos brejos, inclusive as regiões
de mangue; graças a seu modo de andar plantígrado, aquele
154
que anda sobre as plantas dos pés como os ursos -
consegue caminhar sobre os lodaçais, onde ninguém o
pode perseguir.

César Rondon Aroe Etugo


Sabe também trepar em árvores. Alimenta-se de peque-
nas caças e vegetais, apreciando muito a cana de açúcar e 7- Okwa
tem especial predileção pelos caranguejos.
Este animal serve também para oferenda ou compensação
de um finado. Sua carne pode ser fétida, como também o Nome popular: Raposa, lobinho
(embora não existam raposas no Brasil)
couro, ninguém aproveita. É temível inimigo dos criadores
de galinha ou, mais positivamente, apaixonado amigo das Nome científico: Cerdocyon vetulus
aves domésticas, causando assim sérios e contínuos Família: Canidae
estragos.
Compreende genericamente uma espécie de carnívoro
da família dos canídeos, que efetivamente vive nas beiras
da galeria. A cor predominante é parda e cinza amarelada.
Alimenta-se de pequenos mamíferos, aves e, às vezes,
também de quaisquer outros bichos menores. Tem o
mesmo nome vulgar de outra espécie do gênero: Speothos.
Esta espécie é bastante rara e por isso pouco conhecida.
156

Maria do Rosário Cibaibo Ekureudo


Entrevistado: Metia Tugurepa
Maria das Neves Marques Bogiago
É isso que e u consegui saber sobre e ste ani mal, que está
8 - Moribo sendo ameaçado de extinção.
O lobinho serve para faze r "Boe Mori ", isso quer dize r
Nome popular: Lobinho q ue se rve para fazer compe nsação de um fin ado, ou
Nome científico: Cerdocyon thous pagame nto, ou re sgate.
Família: Canídae

Este animal vive na mata, sua cor é cinzenta meio amarelada.


Costuma andar sozinho. Ele começa a andar só no começo
da noite para caçar comida para si ou para seus filhotes.
Sua cria é variável como a dos cachorros: três a cinco
filhotes. Este animal quando e stá no cio costuma ui var
alto para o outro animal da mesma espécie ouvir. Isso
acontece nos meses de agosto e setembro. Alimenta-se
de animais pequenos e aves como, por exemplo, a galinha.
Os Bororo idosos dizem que quando uma pessoa bo rora
os vê em manada, é um mau sinal, uma visão; pode acontecer
qualquer coisa consigo ou com sua família. E quando uiva 159
158
de manhã ou à tarde, dizem os Bororo que algo está para
acontecer.

., , r. , ·J A ilton José Mer i Ekureu (7' série)


~ :, . ( ..
,: "'- Merur i, 05/ 1l / 1998
9 - Aroe eceba com o banquete. .
Os Bororo usam as penas da ave para por nas perigosas
flechas e para adorna r seus enfeites como o pariko,
Nome popular: Gavião-real, gavião de penacho, arpia, pega macaco kiogwaro, etc.
Nome científico: Morphnus guianensis
Familia:Accipitridae

Aroe eceba na língua Bororo quer dizer "matador dos


Bororo". Diz o mito que este grande gavião-real matou
muitos Bororo. O valor do Aroe eceba no ritual Bororo é
tão importante quanto o de uma onça; aliás, é ainda mais
bonito.
O homem mata o
gavião o leva para a
aldeia e coloca no
Bororo(pátio peque-
no perto da casa
160 grande). Depois vai na
casa da pessoa a
quem quer oferecer
como "mori" de um
parente próximo fa-
lecido. Leva-o junto
.. ., da ave e oferece
w para ele. Depois vem
a participação das
', pessoas e a prepara-
ção dos grandes en-
feites de cabeça. A
festa para
o matador do gavião
é a grande dança dentro do "baia", pátio redondo. Fecha-
do com folhas de palmeiras para as mulheres não verem.
Depois que desmancham a cerca de folhas, os Bororo
Getúlio Aroe Kudo
dançam um pouco mais para as mulheres e terminam
Meruri, 05/ I l / 1998
São monogâmicos e em geral de costume solitário. Põem
11- Kuruguga de um a cinco ovos, que podem ser esbranquiçados,
pintados ou vermelhos. Os fi lhotes são pequenos com
plumagem. Elas se aninham em árvo res e costumam usar
Nomes populares: Gavião-caracaraí, caramancho, o mesmo ninho durante anos.
chimango São úteis ao ser humano, porque consomem
Nome científico: Caracara plancus diariamente grande número de insetos, répteis e
Família: Falconidae roedores.
Na cultura Bororo pertence ao clã dos Apiborege.
Ave de rapina da família As penas das asas e da cauda, servem para fazer pariko,
dos falconídeos. Belo tipo nome dado a um dos enfeites de cabeça dos Bororo.As
de gavião do corpo características do pariko que usa as penas do kuruguga
branco e a parte superior são:
do dorso e o peito • KURUGUGOE EKUREU Coroa de penas de
mostrando linhas gavião-caracaraí com plumas ama reladas.
transversais • KURUGUGOE KUJAGUREU Coroa de penas

____
·..:
interrompidas; a cabeça é
branca com largo chapéu
de gavião-caracaraí com plumas vermelhas.
PARIKO KIGAREU Coroa com penas de gavião 165
164 preto; a cauda é branca -caracaraí e cauda de arara.
com linhas tremidas As penas das asas servem para faze r flechas e outros
pretas e de ponta larga enfeites. Portanto esse gavião tem uma grande importân-
também preta. cia para os Bororo. As penas das asas servem como
Seu bico poderoso e a narigueira, na língua Bororo chama-se "boe enododao".
mandíbula superior Os pregos de cabelo também são feitos com asas de
terminada em Ku rugugoe, servem para enfeitar e usar nos ritos da cul-
gancho muito forte, que sobrepassa a inferior. As patas tura Bororo. Por isso preservamos a natureza.
são providas de fortes garras com unhas curvas,
especialmente apropriadas para a captura da presa.
São exímios voadores, têm asas poderosas e bem desen-
volvidas, apresentando, em algumas espécies, considerável
envergadura. Diferenciam-se bem os sexos, especialmen-
te devido ao fato de que a fêmea é de tamanho muito
maior. A plumagem varia muito com a idade; as patas, o
bico e a maneira de voar são extraordinários, e isso lhes
dá grande habilidade para a caça de outros animais. Aluno: O svaldo Hélio lwodo A kiri, 7ª série
12 - Makao
13 -Tagogo

Nomes populares: Macauã, acuã, cauã, uacanã, macaguá


Nomes populares: Coruja-do-campo, coruja caburé do
Nome científico: Herpetotheres cachinnans
Família: Falconidae campo, coruja buraqueira
Nome cienr:fk o: Speotyto cunicularia
Esta ave vive na floresta e canta dia e noite, também avisando Família: Strigidae
que é para tomar muito cuidado, que está vindo gripe,
A coruja é muito importante na cultura bororo porque,
febre e mais outras coisas que são ruins para nós, como
em geral, se faz com ela a "oferenda aos mortos". Raras
morte ou briga, po rque o Makao não canta à toa, ele canta
vezes se faz isto com outros animais ou aves. Mesmo
toda a verdade que vai acontecer. Mas, ninguém acredita;
sendo a coruja do campo, menos importante que outros
falam que não é nada, que a femea canta porque está choca.
animais ou aves, ela serve como oferenda.
Os Bororo antigos sentiam muita tristeza, pois já sabiam o
Quando matam a coruja levam a um velho entendido da
que ia acontecer e também diziam que quando ela começa
aldeia para fazer a cerimônia. A coruja é uma espécie
a cantar está comendo cobra venenosa, entre outras coisas.
comum dos nossos campos, onde faz seu ninho no chão,
Os velhos dizem que ela serve para fazer os enfeites
166 num buraco, que ela forra com excremento de vaca.
originais da flecha. També m quando vão dar nome às 167
Esses ninhos, que às vezes são buracos de tatu
crianças, usam as s uas penas. A ave pertence aos Paiwoe.
abandonados ou cavados pelas próprias corujas, formam
Paiwe Etuiedagareno nowu makao, clã do Bugio.
verdadeiros túneis de alguns metros de extensão e as aves
nele habitam o ano todo, mesmo depois de criados os filho-
tes.

1.' ,·, '/,,

Pedro Paulo Aturuwa Ekureu, 7" série


12 - Makao
13 -Tagogo

Nomes populares: Macauã, acuã, cauã, uacanã, macaguá


Nomes populares: Coruja-do-campo, coruja caburé do
Nome científico: Herpetotheres cachinnans
campo, coruja buraqueira
Família: Falconidae
Nome científico: Speotyto cunicularia
Família: Strigidae
Esta ave vive na floresta e canta dia e noite, também avisando
que é para tomar muito cuidado, que está vindo gripe,
A coruja é muito importante na cultura bororo porque,
febre e mais outras coisas que são ruins para nós, como
em geral, se faz com ela a "oferenda aos mortos". Raras
morte ou briga, porque o Makao não canta à toa, ele canta
vezes se faz isto com outros animais ou aves. Mesmo
toda a verdade que vai acontecer. Mas, ninguém acredita;
sendo a coruja do campo, menos im portante que outros
falam que não é nada, que a femea canta porque está choca.
animais ou aves, ela serve como oferenda.
Os Bororo antigos sentiam muita tristeza, pois já sabiam o
Quando matam a coruja levam a um velho entendido da
que ia acontecer e também diziam que quando ela começa
aldeia para fazer a cerimônia. A coruja é uma espécie
a cantar está comendo cobra venenosa, entre outras coisas.
comum dos nossos campos, onde faz seu ninho no chão,
Os velhos dizem que ela serve para fazer os enfeites
166 num buraco, que ela fo rra com excremento de vaca.
originais da flecha. Também quando vão dar nome às 167
Esses ninhos, que às vezes são buracos de tatu
crianças, usam as suas penas. A ave pertence aos Paiwoe.
abandonados ou cavados pelas próprias corujas, formam
Paiwe Etuiedagareno nowu makao, clã do Bugio.
verdadeiros túneis de alguns metros de extensão e as aves
nele habitam o ano todo, mesmo depois de criados os filho-
tes.
'.)

11,,.
..
Pedro Paulo Aturuwa Ekureu, 7ª série
14 - Kugu
Esta espécie evita a mata e mesmo as capoeiras. Só nos
campos abertos sente-se à vontade, sentada diante da
Nome popular: Corujão-do-mato
entrada do ninho ou pousada sobre um cupim. Não foge
Nome científico: Pu/satrix perspicillata
à aproximação inoportuna e, se for preciso, gira a cabeça
Família: Strigiformes
até descrever meia-volta completa, para assim,
comodamente, ver o que se passa ao redor. Só em último
Kugu é um corujão que canta à noite; canta simplesmente,
caso levanta voo, gritando um qui-qui-qui-qui.
ou canta agourando para
Alimenta-se principalmente de insetos, tais como lagartas,
que alguém morra.
gafanhotos e escaravelhos, que pega no voo com agilidade.
Isso para nós Bororo é
Também no escuro enxerga bem, e assim, no tempo de
verdade, porque faz
pr-ocriação, o casal trabalha dia e noite para dar de comer
parte da nossa tradição.
aos inúmeros filhotes, que atingem até 7 filhotes em uma
O corujão é um pássaro
só postura.
reconhecido como Boe
Mori, que serve como
compensação ou
168 pagamento à família de
169
alguém que faleceu . En-
tão, quando se mata um,
este é oferecido para o
parente do finado.
O corujão tem bico forte
e adunco, pés geralmen-
te cobertos de plumas e providos de poderosas garras.
Sua atividade é noturna. Alimenta-se exclusivamente de
animais vivos que esquarteja ou devora inteiros quando
são novos. Os restos indigeríveis, tais como pele, pelos,
etc ... são vomitados depois de certo tempo, em forma de
pelotas. Fica geralmente no oco das árvores, tetos das
habitações ou fendas nas rochas. O ninho é muito tosco ,
feito com gravetos. Põe de dois a oito ovos brancos, os
filhotes são nidícolas, cobertos de penugem branca.

Maria Trindade Tuboreguiri (7' série)


Meruri, 5/ I l / 1998 Salvador Rodr igues Tugo Jeba

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