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Excelentíssimo (a) Senhor (a) Doutor (a) Juiz (a) do Trabalho Titular da 12ª

Vara do Trabalho de Belo Horizonte/MG.

Processo n. 0002030-10.2018.503.0012.

JULIANA PEREIRA, já qualificada nos autos do processo em


epígrafe, movida em face da Metcom Metalurgia Ltda., vem, respeitosamente,
à presença de Vossa Excelência, por sua advogada que esta subscreve,
inconformada com a respeitável sentença proferida, interpor o presente
RECURSO ORDINÁRIO com fulcro no art. 895, I, da Consolidação das Leis do
Trabalho – CLT.

Assim, requer o recebimento das razões recursais anexas e


posterior remessa dos autos ao Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 3ª
Região para a reapreciação da demanda.

Outrossim, requer seja a Reclamada notificada para que,


querendo, apresente as contrarrazões que julgar necessárias.

Termos em que,
Pede Deferimento.

Belo Horizonte, 29 de março de 2019

Advogada – OAB No____


EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO

RAZÕES DE RECURSO ORDINÁRIO


Recorrente: Juliana Pereira
Recorrido: Metcom Metalurgia Ltda
Origem: 12ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte/MG
Processo n. 0002030-10.2018.503.0012.

Egrégio Tribunal,
Colenda Turma,
Eméritos Julgadores

Em que pese o brilhantismo do Meritíssimo Juiz “a quo”, não agiu


com o costumeiro acerto, impondo-se a reforma da respeitável decisão pelas
razões que passa a expor.

I- DOS PRESSUPOSTOS RECURSAIS

A – DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE

1.1 DO CABIMENTO DO RECURSO

A decisão proferida na 12ª Vara do Trabalho de Belo


Horizonte/MG trata-se de uma sentença, dessa forma encerrando a atividade
jurisdicional do Douto Juízo de primeira instância.

Neste contexto, o reexame da decisão só poderá ser feita através


de Recurso Ordinário, conforme preceitua o artigo 895, inciso Ida CLT.

1.2 DA ADEQUAÇÃO

O presente recurso é o meio pertinente estabelecido pela lei para


impugnar as decisões definitivas emanada das Varas e Juízos, conforme
estabelece o art. 895 da CLT. Portanto, resta adequado o meio eleito pelo
recorrente para obter o reexame da matéria objeto da lide.

1.3 DA TEMPESTIVIDADE

A sentença foi publicada em 25/03/2019, iniciando o prazo para


interpor Recurso Ordinário no dia 26/03/2019, tendo como marco final o dia
04/04/2019.

Desta forma, tempestivo o presente Recurso.

1.4 GRATUIDADE DE JUSTIÇA – CUSTAS E DEPÓSITO RECURSAL

A Reforma Trabalhista tratou de sanear a controvérsia que existia


sobre o depósito recursal aos beneficiários da Gratuidade de Justiça, nos
seguintes termos:

Art. 899 - Os recursos serão interpostos por simples


petição e terão efeito meramente devolutivo, salvo as
exceções previstas neste Título, permitida a execução
provisória até a penhora.
(...)
§ 10. São isentos do depósito recursal os
beneficiários da justiça gratuita, as entidades
filantrópicas e as empresas em recuperação judicial.

Portanto, tratando-se de beneficiário da Gratuidade de Justiça, não


há que se exigir o depósito recursal nem custas judiciais, conforme orientado
pelo TST:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


RITO SUMARÍSSIMO. RECURSO ORDINÁRIO NÃO
CONHECIDO. DESERÇÃO. JUSTIÇA GRATUITA. PESSOA
JURÍDICA. INSUFICIÊNCIA ECONÔMICA. EXTENSÃO DO
BENEFÍCIO AO DEPÓSITO RECURSAL. ARTIGO 98, § 1º,
VIII, DO CPC/2015. Ante a demonstração de possível violação
do art. 5º, LXXIV, da CF/88, merece processamento o recurso
de revista. Agravo de instrumento conhecido e provido. (...)1.
A jurisprudência desta Corte é pacífica quanto à possibilidade
de concessão da justiça gratuita à pessoa jurídica, desde que
comprovada a insuficiência econômica, hipótese dos autos. 2.
No tocante à extensão do benefício, o inciso VIII do § 1º do
artigo 98 do CPC/2015 é expresso ao assegurar que a
gratuidade da justiça compreende "os depósitos previstos em
lei para interposição de recurso, para propositura de ação e
para a prática de outros atos processuais inerentes ao
exercício da ampla defesa e do contraditório", sendo esse
preceito perfeitamente aplicável ao Processo do Trabalho, por
força do comando inserto no art. 769 da CLT c/c o art. 15 do
CPC/2015, tendo em vista a inexistência de disciplina
específica acerca da concessão da assistência judiciária
gratuita e sua extensão na Norma Consolidada. 3. A norma
em referência não faz nenhuma ressalva ou distinção no
tocante à natureza jurídica do depósito previsto em lei
para interposição de recurso, de modo que não há como
afastar a abrangência da gratuidade de justiça ao depósito
recursal fixado no artigo 899, § 1º, da CLT, ainda que possua
natureza jurídica de garantia do juízo. Inteligência do aforismo
jurídico ubi lex non distinguit, nec nos distinguere debemus. 4.
Acresça-se que a ilação ora exposta tem o escopo
precípuo de assegurar o pleno exercício da ampla defesa
e do contraditório, em homenagem à garantia
constitucional inserta no inciso LV do artigo 5º da Carta
Magna. 5. Nesse contexto, na linha da sistemática
processual contemporânea e do ordenamento jurídico
constitucional, a gratuidade de justiça deve compreender
a isenção do recolhimento do depósito recursal. Recurso
de revista conhecido e provido. (TST, RR - 20853-
87.2016.5.04.0016, Relatora Ministra: Dora Maria da Costa,
Data de Julgamento: 28/02/2018, 8ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 02/03/2018)

Concluindo-se que o depósito recursal é inexigível dos


beneficiários da Gratuidade de Justiça.

1.5 DA REGULAR REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL


A procuradora que subscreve o presente recurso, conta com
poderes para tanto, vez que recebeu procuração outorgada, cópia em anexo
às fls., pela parte recorrente. Assim, se verifica a regularidade de
representação.

1.6 DA INEXISTÊNCIA DE FATO INCOMPATÍVEL, EXTINTIVO OU


IMPEDITIVO DO DIREITO DE RECORRER.

Não houve nenhum acordo superveniente entre Recorrente e


Recorrida, renúncia ao direito de recorrer e nenhum cumprimento espontâneo
da decisão. Portanto, a interposição desse Recurso não encontra nenhum
óbice.

1.7 – DA LEGITIMIDADE
Tendo em vista a Recorrente ser parte vencida no processo, é
parte legítima para recorrer.

1.8 – DO INTERESSE PROCESSUAL


A Recorrente também tem interesse processual, visto que foi
parcialmente sucumbente no objeto da demanda, tendo por objetivo reformar a
decisão recorrida.

II- DO RESUMO DA DEMANDA

A Recorrente ajuizou Reclamação Trabalhista postulando as


seguintes verbas:

 Horas extras por intervalo de intrajornada não concedido;


 Adicional de insalubridade;
 Adicional de periculosidade;
 Cumulação dos adicionais de insalubridade e de periculosidade;
 Equiparação salarial;
 e Honorários advocatícios.
Ocorre que, o Douto Julgador de primeira instância julgou a ação
procedente apenas no tocante à equiparação salarial, em decisão,
complementada pelos Embargos de Declaração. E julgou improcedente os
demais pedidos, por isso a decisão recorrida merece ser reformada consoante
os fundamentos abaixo consignados.

III- DO MÉRITO

1. Do intervalo intrajornada

Em que pese o brilhantismo das decisões proferidas pelo MM. Juiz


a quo, data vênia, incorreu em lamentável equívoco ao julgar improcedente o
pedido de pagamento de horas extras pela supressão parcial do intervalo
intrajornada.

O fundamento da decisão judicial é de que os cartões de ponto


estão pré-anotados, devendo ser consideradas válidos para fins de prova da
integral fruição da pausa intervalar.

No entanto, embora o art.74, § 2o da CLT, autoriza que os cartões


de ponto contenham apenas pré-assinalação do intervalo intrajornada, tal prática
caracteriza apenas uma presunção de veracidade, admitindo prova em contrário,
sendo ônus de prova do trabalhador. E a melhor maneira de se fazer esta
prova é justamente por meio de testemunhas.

Neste sentido, há entendimento jurisprudencial, notadamente do


acórdão 461-31.2013.5.04.0211, publicado em 13/05/2016, pelo Tribunal
Superior do Trabalho:

RECURSO DE REVISTA DO RECLAMADO INTERPOSTO NA


VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014.INTERVAO
INTRAJORNADA. PRÉ-ASSINALAÇÃO. PROVA DE
FRUIÇÃO PARCIAL. Não ofende os artigos 74, § 2º, e 818 da
CLT e 333 do CPC decisão do eg. Tribunal Regional que, não
obstante registre a existência de pré-assinalação do período
para descanso, conclui, com base na prova produzida, pela
fruição parcial do intervalo. Não é absoluta a presunção de
veracidade do tempo pré-assinalado para descanso,
incumbindo, assim, ao reclamante o ônus de comprovar que não
o usufruía integralmente, encargo do qual se desincumbiu.
Recurso de revista não conhecido.

(TST - ARR-461-31.2013.5.04.0211, Data de Publicação:


13/05/2016).

Destaca-se que não há hierarquia entre os meios de prova no


Direito Processual do Trabalho, ou seja, a prova oral não tem maior validade do
que a documental. Entretanto, a prova testemunhal pode ser utilizada para
desconstituir documento que não revela a realizada do dia a dia da prestação
laboral.

Diante do exposto, a recorrente espera que a sentença da primeira


instância seja reformada e que a Recorrida seja condenada ao pagamento das
respectivas horas extras pela supressão parcial do intervalo intrajornada.

2. Do adicional de periculosidade

A sentença julgou improcedente o pedido de condenação ao


pagamento de adicional de periculosidade, sob o argumento de que a exposição
a agente periculoso se dava por tempo extremamente reduzido, o que afasta o
pagamento do adicional respectivo, nos termos da Súmula n. 364, do TST.

Ocorre que o art. 193, da CLT, que regulamenta o adicional de


periculosidade, não faz qualquer ressalva quanto ao tempo de exposição,
bastando a exposição a agente inflamável ou explosivo para gerar o direito
ao reconhecimento do adicional de periculosidade.

Neste sentido, há entendimento jurisprudencial que entende ser a


exposição a produtos inflamáveis, independentemente de qualquer gradação
temporal, pois passível de explosão a qualquer momento. Vejamos a
jurisprudência:
AGRAVO DE INSTRUMENTO INTERPOSTO PELA
RECLAMADA1.ADICIONAL DE PERICULOSIDADE.
INFLAMÁVEIS. TEMPO DE EXPOSIÇÃO. 4 A 10
MINUTOS, DUAS VEZES NA SEMANA. ADICIONAL
DEVIDO. PRECEDENTES. NÃO PROVIMENTO. Este
Tribunal Superior tem entendido que o conceito jurídico de
tempo extremamente reduzido, a que se refere a Súmula
nº 364, envolve não apenas a quantidade de minutos
considerada em si mesma, mas também o tipo de perigo
ao qual o empregado é exposto, sendo que a exposição
a produtos inflamáveis, independe de qualquer
gradação temporal, pois passível de explosão a
qualquer momento. Dessa forma, empregado que entra
em contato com produtos inflamáveis, por cerca de 4 a 10
minutos, duas vezes por semana, faz jus ao adicional de
periculosidade, visto não se tratar de contato eventual ou
casual, tampouco tempo extremamente reduzido.
Precedentes. Incidência da Súmula nº 333 e do artigo 896,
§ 7º, da CLT. Agravo de instrumento a que se nega
provimento.

(TST – ARR: 331120125150039, Relator: Guilherme


Augusto Caputo Bastos, Data de Julgamento: 10/08/2016,
5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 19/08/2016)

Diante do exposto, espera a Recorrente que a sentença de primeiro


grau seja reformada, respeitando-se o disposto na legislação e na jurisprudência
ora apresentada.

3. Da cumulação dos adicionais de periculosidade e insalubridade

A decisão de primeiro grau não analisou o pedido de cumulação


dos adicionais de periculosidade e de insalubridade, pois julgou improcedente o
primeiro deles. Por isso, juntamente com a reforma da decisão acerca do
adicional de periculosidade, a sentença também deve ser reformada quanto ao
pagamento cumulado dos adicionais.

No presente caso, a Recorrente esteve exposta, simultaneamente,


a agentes que acarretem o recebimento do adicional de periculosidade e do
adicional de insalubridade e por isso faz jus ao recebimento dos dois
adicionais.

A cumulação dos adicionais é admitida pela jurisprudência do TST


quando forem diversas as causas de pedir. Assim, se pronunciou a decisão 7ª
Turma do TST nos autos n. RR-7092-95.2011.5.12.0030, publicada em
26/08/2016, na qual

O relator do recurso de revista da Whirlpool ao TST, ministro


Douglas Alencar Rodrigues explicou que a subseção,
responsável pela uniformização da jurisprudência das Turmas
do TST, firmou entendimento de que o direito à cumulação
deve ser reconhecido quando o fato gerador dos adicionais
for diverso. "Restam expressamente delineadas premissas
fáticas a demonstrar que cada um dos adicionais em questão
teve, comprovadamente, como fato gerador, situações distintas",
afirmou. Essa decisão pode ser acessada no seguinte endereço
eletrônico:
em:http://www.tst.jus.br/noticias/set_publisher/89Dk/content/op
erador-de-fabrica-de-letrodomestico-recebera-adicional-de-
insalubridade-e-periculosidade-
cumulativamente/pop_up?inheritRedirect=false, Acesso em 27
de março de 2019

A Reclamante realizava a higienização de instalações sanitárias de


uso público ou coletivo de grande circulação, e a respectiva coleta de lixo,
ensejando o pagamento de adicional de insalubridade em grau máximo. E,
também, ficava em contato com produtos inflamáveis diariamente, por pelo
menos 10 (dez) minutos.

Sendo, portanto, distintos os fatos geradores, a Reclamante


tem direito à cumulação do adicional de insalubridade (sujeira) e
periculosidade (explosão).

Tendo em vista a não observância do pagamento de adicional de


periculosidade e de insalubridade, requer a reforma da sentença pela
condenação da Reclamada ao pagamento cumulativo de adicional de
periculosidade e de insalubridade.

4. Dos honorários advocatícios

A Reclamante foi condenada ao pagamento de honorários


advocatícios no importe de 10% do valor da condenação apurado em sede de
liquidação de sentença.

Ocorre que a Reclamante é beneficiária da gratuidade judiciária. E,


embora, a disposição do art. 791-A, da CLT, assevera que os honorários são
devidos mesmo a quem teve o deferimento da gratuidade judiciária, essa decisão
não deve prosperar.

Sobre esse tema, está em trâmite no Supremo Tribunal Federal


uma Ação Direta de Inconstitucionalidade n.5766 questionando a
inconstitucionalidade do art. 791-A, da CLT.

Dentre os argumentos expostos nessa ação, cabe destacar o


apontamento de que ao impor maior restrição à gratuidade judiciária na Justiça
do Trabalho, a legislação investe contra garantia fundamental da população
trabalhadora socialmente mais vulnerável e alveja a tutela judicial de seus
direitos econômicos e sociais trabalhistas, que integram o conteúdo mínimo
existencial dos direitos fundamentais, na medida de sua indispensabilidade ao
provimento das condições materiais mínimas de vida do trabalhador pobre.

Diante disso, requer que a sentença seja reformada e que a


Reclamante, por ser beneficiária da gratuidade judiciária, não seja condenada
ao pagamento de honorários advocatícios.

III- PEDIDOS

Diante do exposto, requer:

a) O conhecimento e o provimento do presente Recurso, posto que


preenchidos os pressupostos de admissibilidade;
b) A reforma da decisão recorrida para determinar procedentes:

b.1) o pedido de pagamento de horas extras pela supressão


parcial do intervalo intrajornada;

b.2) o pagamento do adicional de insalubridade;

b.3) o pedido de cumulação dos adicionais de periculosidade e


insalubridade;

b.4) o pedido de NÃO pagamento de honorários advocatícios.

c) A notificação da Recorrida, para se manifestar, querendo;

d) A condenação da Recorrida, ao ônus de sucumbência e honorários


advocatícios.

Nestes termos, pede deferimento.


Belo Horizonte, 29 de março de 2019.
Advogada OAB/ Assinatura

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