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4 Editorial
28 Portos e Logística
08 Estratégias para 2018 Fornecedores de eletroeletrônicos
se preparam para ano difícil e seguem atentos a qualquer sinal de 42 Calendário
reaquecimento
49 Produtos e Serviços
Diretores
Marcos Godoy Perez e Rosângela Vieira
Reportagem
Danilo Oliveira
E
Direção de Arte
Alyne Gama
sta edição estava a caminho da gráfica quando final-
Revisão
mente foi definida a política de conteúdo nacional para
Francisco Aguiar
a quarta rodada e posteriores da Agência Nacional de
Comercial
Petróleo, Gás Natural e as Biocombustíveis (ANP). A Janet Castro Alves
solução adotada joga um balde de água fria nos forne- Assinaturas
cedores locais. Para a fase de unidades estacionárias de produção, Assinatura no Brasil: 1 ano: R$ 180,00.
Bianual: R$ 300,00.
a de real interesse para a indústria naval, o índice de 25% deve ser Números avulsos: R$ 18,00
atingido com a mão de obra, pouco sobrando além disso. A Associa- Assinatura no Exterior: América Latina 1
ção Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) ano: R$ 280,00. resto do mundo 1 ano:
R$ 480,00
estima em US$ 60 bilhões os investimentos realizados pelas empre-
Portos e Navios é uma publicação
sas brasileiras do setor nas últimas décadas. E pergunta o que fazer de Editora Quebra-Mar Ltda. CNPJ
com esse parque industrial. Já o Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) 01.363.169/0001-79 (registro no INPI nº
816662983)
avalia que a redução das exigências destravará investimentos, o que
Março de 2017 - Ano 59 - Edição 674
é verdade. Aquecerá a indústria de equipamentos em várias partes
Redação: Rua Leandro Martins, 10 - 6º
do mundo. Mas no Brasil no momento há somente incertezas. Não andar - Centro - CEP 20080-070 - Rio de
se trata de xenofobia. Novos atores são bem-vindos ao jogo. Mas a Janeiro - RJ
verdade é que não houve debate com a sociedade sobre a mudança Telefax: (21) 2283-1407
Danilo Oliveira
E
m 2016, todo o setor de eletro- A Associação Brasileira da Indústria
eletrônicos sofreu com queda Alguns Elétrica e Eletrônica (Abinee) contabili-
nas vendas e demissões. Al-
guns fornecedores de equi-
fornecedores de za 59 mil demissões em todo o setor de
eletroeletrônicos desde 2014. Aproxi-
pamentos projetavam recuperação a equipamentos madamente 31,8 mil desse total são de
partir de 2018, porém o cenário atual
ainda é de estagnação. Com poucos
projetavam empresas associadas fornecedoras do
segmento naval e offshore, que abran-
barcos de apoio em construção nos recuperação a gem fabricantes das áreas de automa-
estaleiros, as perspectivas se concen-
tram em outros tipos de embarca-
partir de 2018, ção, equipamentos industriais, GTD
(geração, transmissão e distribuição) e
ções. As encomendas para navegação porém, o cenário a parte de telecomunicações.
interior se mantêm aquecidas pelo
agronegócio. Os fornecedores estão
atual ainda é de Roberto Barbieri, assessor da direto-
ria da Abinee, avalia que as empresas
atentos à necessidade de peças de re- estagnação terão que conviver por um tempo com
posição e serviços de manutenção de serviços de manutenção e com enco-
reparo de embarcações em operação. mendas bem menores do que aquelas
Os impostos ainda são um dos princi- dos últimos anos. Ele diz que as perdas
pais desafios para as empresas ofere- de postos de trabalho aconteceram
cerem preços competitivos. porque muitas empresas promoveram
Serviços na desativação
Estaleiros se preparam para atender desmanche de embarcações
e descomissionamento de plataformas
Danilo Oliveira
A
indústria naval brasileira dois casos ainda existem debates so- de Carvalho, coordenador da bancada
segue na identificação de bre regulamentação e impactos am- patronal da NR-34, norma que trata de
oportunidades para ame- bientais. condições e meio ambiente de traba-
nizar os efeitos da crise da O Sindicato Nacional da Indústria lho na indústria da construção e repa-
construção. Entre as opções no radar da Construção e Reparação Naval e ração naval.
dos estaleiros estão o desmanche de Offshore (Sinaval) entende que os es- Um dos desafios é criar um padrão
embarcações e o descomissionamento taleiros brasileiros têm capacidade de de trabalho para executar dentro de
de plataformas de petróleo que sairão projetar, construir e descomissionar diques ou de estruturas em que haja
de operação. A primeira atividade tem embarcações, desde que haja uma acompanhamento profissional. A ex-
demanda em razão da aposentadoria política específica. O sindicato reco- tensão da NR-34 à atividade de des-
de embarcações antigas. Como nem nhece que ainda não há atratividade manche visa permitir a aplicação dos
sempre os estaleiros realizam o servi- para essa atividade porque o desman- requisitos da norma durante toda a
ço, muitas vezes o desmonte acontece che não é praticado de forma segura e vida da embarcação, desde a sua con-
de forma precária em instalações não legal. “As empresas que praticam essa cepção, construção e manutenção até
preparadas para realização de ativi- atividade não estão cobertas nem por o desmonte, seguindo a Convenção
dades de corte e solda. As unidades políticas trabalhistas nem de seguran- 167 da Organização Internacional do
offshore com idade avançada e baixa ça”, relata o vice-presidente de rela- Trabalho (OIT), que trata da constru-
produção também estão na mira. Nos ções institucionais do Sinaval, Marcelo ção civil e naval.
16 PORTOS E NAVIOS MARÇO 2017
A maioria dos navios e embarcações dade nesse continente são conside-
de apoio que são sucateados no mun- rados extremamente baixos. “Hoje, a
do geralmente segue para os países em Marinha, a Petrobras e outras opera-
que esse mercado está estabelecido. doras já possuem dezenas de embar-
Aproximadamente 95% da frota mun- cações a serem descomissionadas em
dial são reciclados em cinco países: suas carteiras, mas infelizmente quase
Índia, China, Bangladesh, Paquistão nada fica no país, em sua maioria são
e Turquia. “Os navios brasileiros tam- negociadas por mercadores estrangei-
bém estão indo para Ásia. Temos que ros que revendem essas embarcações
reverter esta situação, gerando aqui para outros países”, lamenta Carvalho.
empregos, renda e atividade para os Os valores pagos são baixos por
estaleiros que desejarem participar”, causa da precariedade em que são
defende Carreteiro, que foi diretor de praticados. “A vida de um trabalhador
gás natural e alternativos energéticos custa a esses empresários em média 18
da Petrobras Distribuidora e atual- dólares e em caso de morte 100 dóla-
mente é membro de Comitê de Lu- res. Queremos assistir esse filme aqui
brificantes do Instituto Brasileiro de no Brasil ou queremos construir uma
Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP). indústria séria com possibilidade de
Na internet é fácil encontrar víde- empregar centenas de trabalhadores
os e documentários sobre as condi- com expertise em desmanchar em-
ções desumanas de trabalho a que o barcações de todo planeta?!”, enfatiza
desmanche de embarcações na Ásia Carvalho.
submete homens, mulheres, crianças Outro problema é o custo de reven-
e idosos por poucos dólares de remu- da dos materiais a serem reciclados.
neração. A atividade também não tem Atualmente as empresas do setor che-
uma regulamentação ambiental espe- gam a pagar menos de R$ 1 por tone-
cífica. “Não existe nada prescrito com lada de aço reciclado. O valor varia de
relação à atividade em si. O que existe acordo com o preço do minério e tam-
O engenheiro Ronald Carreteiro, da são procedimentos de descarte e ma- bém com o tipo de material a ser re-
Rona Assessoria Comercial, aponta a nifesto de materiais como óleo, esgoto, ciclado. Dessa forma, seria necessário
necessidade de ajustes na NR-34 para combustível (...) tudo o que uma em- agregar valor financeiro ao trabalho
adaptação da atividade naval às opor- presa precisaria para obter uma licen- por meio de equipamentos, cabos elé-
tunidades que envolvam o desmon- ça de operação, mas nada específico tricos e materiais nobres.
te de navios chamados “inservíveis”. para a prática de desmanche”, observa O perfil de estaleiro que poderia ser
Carreteiro observa poucos estaleiros Carvalho, do Sinaval. indicado para esse tipo de serviço, se-
brasileiros com conhecimento da en- Muitos navios são desmantelados gundo o Sinaval, são as novas unida-
genharia reversa aplicada com respon- na Ásia porque os custos dessa ativi- des construídas para atender grandes
sabilidade social e sustentabilidade.
Ele acredita que rapidamente haverá
crescimento dessa atividade no Brasil, Centros de desmanche no mundo
em face das dificuldades de novas con-
tratações e da necessidade de geração
de empregos. Ele coordenou um grupo
de trabalho que durante mais de dois
anos estudou o tema, sobretudo a par-
te de regulação ambiental e legislação
trabalhista.
O grupo estima que 600 embarca-
ções de diversos tipos e portes sejam
desmanteladas por ano no mundo.
Desse total, cerca de 290 delas são de
médio ou grande porte. No Brasil, há
cerca de 100 unidades a serem des-
manteladas, entre navios flutuando e
afundados. Outros cerca de 150 navios
estão perto de completar seus ciclos
de navegação.
PORTOS E NAVIOS MARÇO 2017 17
INDÚSTRIA NAVAL E OFFSHORE
Naufrágio sustentável
de resíduos, mas não querem inves-
tir em equipamentos, por opção ou
viabilidade de escala. “Nesses casos,
a empresa deve executar serviços de Já existem empresas de navegação que fazem uma espécie de "naufrágio
transporte, movimentação interna, sustentável" de seus rebocadores antigos. A DPC esclarece que nem todos
acondicionamento em caçambas, os casos serão atendidos por essa solução e ressalta que existe uma legisla-
prensagem, briquetagem e trituração, ção internacional a ser cumprida, entre as quais a Convenção de Alijamen-
tanto na planta do próprio cliente to (London Convention -72). No Brasil, vigoram duas normas da autoridade
como nas suas instalações”, detalha marítima: a Normam-07/DPC, sobre inspeção naval, e a Normam-11/DPC,
Carreteiro. que trata da realização de obras em águas jurisdicionais brasileiras.
Entre as competências da autoridade marítima estão: retirar de bordo to-
O diretor superintendente dos Esta- dos os elementos poluentes e estruturais que possam se desprender do navio
leiros Amazônia S.A. (Easa-PA), Thiago e ficar à deriva; e cumprir o item 0203 da Normam-07/DPC, no caso de afun-
Lemgruber Porto, concorda com a ava- damento de embarcação avariada, ou item 0110 da Normam-11/DPC, caso o
liação de que há viabilidade de estabe- casco seja aproveitado como petrecho de atração de pesca.
lecer uma indústria de desmanche de Além das orientações contidas nas normas, o Instituto Brasileiro do Meio
navios no Brasil. Para ele, existe uma Ambiente e dos recursos Naturais Renováveis (Ibama) estabelece na instru-
tendência mundial para favorecer a ção normativa 22/2009 uma série de procedimentos específicos para a auto-
reciclagem de materiais no mundo, rização da implantação de recifes artificiais, inclusive de embarcações.
como prática sustentável e ambiental-
PORTOS E NAVIOS MARÇO 2017 19
INDÚSTRIA NAVAL E OFFSHORE
de plataformas
dade, num encontro de contas de recei-
ta versus despesa. No momento em que
a operadora decide pela desativação, a
ANP e a autoridade marítima são comu-
nicadas. No Brasil, a maior operadora é a
Petrobras, inclusive a que tem platafor-
mas com mais tempo em atividade.
Os riscos que envolvem plataformas
desativadas não estão previstos no Pla-
no Nacional de Contingência (PNC).
De acordo com a DPC, o plano existe
apenas para incidentes de poluição por
óleo em águas jurisdicionais brasileiras,
para ampliar a capacidade de respos-
ta a esses incidentes, minimizar danos
ambientais e evitar prejuízos à saúde
pública. Dessa forma, o PNC não tra-
ta do desmanche de embarcações e do
descomissionamento de plataformas
de exploração de petróleo. “Os riscos
envolvendo as plataformas são os mais
diversos possíveis, daí a complexidade
da realização de tarefas desse tipo”, ava-
lia a DPC.
Em linhas gerais, os riscos envol-
vem a segurança do pessoal durante o
desmonte da plataforma, bem como a
A
s operadoras de petróleo do segurança da navegação durante seu
Brasil também se preparam O Plano Nacional translado e sinalização náutica de seus
para desativar plataformas remanescentes. Além disso, precisam
de exploração de petróleo de Contingência ser estudados os impactos ambientais
com muitos anos de operação. Já exis- não prevê riscos e a gerência de espécies bioinvasoras.
tem plataformas desativadas no Brasil. As empresas envolvidas devem cuidar
Até o momento a Marinha tem conhe- de desativação de da gerência e da destinação de resíduos
cimento de cinco plataformas fixas, lo- plataformas tóxicos e os órgãos responsáveis devem
calizadas na Bacia do Espírito Santo e monitorar as estruturas remanescentes
do Rio Grande do Norte, e de seis mó- e os poços desativados.
veis, na Baía de Todos os Santos. O setor naval vê muitas oportuni-
Os grupos de trabalho e estudo têm dades no mercado de manutenção de
participação da Agência Nacional do plataformas e refinarias de petróleo na
Petróleo, Gás Natural e Biocombustí- medida em que as unidades de produ-
veis (ANP), do Ibama e da Marinha. As ção (offshore e onshore) e as refinarias
discussões têm como base a resolução necessitam estar em boas condições
ANP 27/2006, que trata da desativação operacionais. “Quem tiver expertise e
de instalações e, posterior devolução videnciar a devida sinalização náutica pronto para atender, com empregados
de áreas de concessão. O foco da au- no local. “Em ambos os casos, há ne- capacitados e com os certificados para
toridade marítima é nos aspectos refe- cessidade de atualização de documen- adentrarem em uma unidade offshore,
rentes à segurança da navegação. Um tos náuticos, entre os quais as cartas ambientes confinados, poderão expe-
exemplo típico, é que tipo de platafor- náuticas”, informa a DPC. A diretoria rimentar sucesso”, avalia Carreteiro.
ma e em que profundidade deve ser também avalia o aproveitamento des- Somente no Rio de Janeiro estão
removida total ou parcialmente. sas estruturas, caso solicitado, para instaladas e operando 54 platafor-
A DPC explica que, se removida par- emprego como recifes artificiais, ser- mas. As tarefas típicas de atendimento
cialmente, há necessidade de se pro- vindo de atratores de pesca. emergencial são: vazamento de óleo;
20 PORTOS E NAVIOS MARÇO 2017
parada de bomba; parada de geração; De acordo com o relatório, os gastos Europa, Angola e Nigéria devem im-
parada de compressão; falha na instru- de 2015 com descomissionamento de pulsionar essa atividade na África, en-
mentação e automação; e parada do plataformas foram de US$ 2,4 bilhões. quanto México e Brasil serão o foco da
tratador eletrolítico. As tarefas de ma- O Golfo do México tem sido a região demanda de descomissionamento na
nutenção preventiva são delineadas com maior número de plataformas já América Latina a partir de 2017 e 2018,
em mensais, trimestrais, semestrais e descomissionadas – aproximadamen- e a Austrália impulsionará a demanda
anuais, e os serviços são prestados por te 400 – e com mais de 6.000 estruturas na região Ásia-Pacífico.
empresas contratadas por licitação. de petróleo e gás instaladas e operando. A cada ano, a indústria do petróleo
São realizados serviços elétricos; me- Enquanto a América do Norte é o maior tem desativado uma média de 100 pro-
cânica; e de instrumentação. mercado para descomissionamento, a jetos. Carreteiro, da Rona Assessoria, diz
Existem cerca de 150 plataformas Europa tem o maior gasto com desco- que a indústria está caminhando para
offshore no Brasil e em torno de 15% missionamento, com base no tamanho um cenário com o aumento do núme-
devem estar em situação de estudos e no volume das estruturas descomis- ro de estruturas no fim da vida e regu-
para o descomissionamento. O setor sionadas no Mar do Norte. lamentos cada vez mais rigorosos. Ao
estima que os custos que estão por vir Statoil, Total, Chevron, ExxonMo- mesmo tempo, os provedores de servi-
variem entre US$ 2 milhões e US$ 4 bil e ConocoPhillips lideram a lista de ços de descomissionamento são muito
milhões por plataforma em águas ra- operadores com atividades de desco- fragmentados. “Não há players domi-
sas. O descomissionamento de antigas missionamento, de acordo com o rela- nantes, o que torna ainda mais difícil
plataformas e poços está aumentando tório. Além da América do Norte e da para as empresas de E&P e de serviços
drasticamente, com mais de 600 pro- offshore prever com precisão os custos e
jetos previstos para serem desativados riscos de descomissionamento”, analisa.
no mundo nos próximos cinco a seis Na medida que a produção de pe-
anos. Esse movimento está fazendo tróleo avançou para águas mais pro-
com que os gastos aumentem 540% A DPC avalia o aproveitamento das fundas, a remoção de grandes platafor-
até 2040, segundo o estudo Offshore plataformas como recifes artificiais mas e ativos instalados em ambientes
Decommissioning Study Report. para incrementar a pesca mais complexos pode custar cerca de
um bilhão de dólares por plataforma
Geraldo Falcão/Agência Petrobras e levar um bom período de tempo para
ser analisada, implementada e conclu-
ída com êxito. Além disso, o descomis-
sionamento não oferece retorno sobre
o investimento, mas carrega respon-
sabilidades ambientais e regulatórias
significativas.
Com cerca de 70 plataformas ma-
rítimas com mais de 25 anos de ope-
ração, a Petrobras está ampliando o
desenvolvimento de projetos de des-
comissionamento de sistemas de pro-
dução de petróleo offshore. Entre os
projetos do tipo em desenvolvimento
ou planejamento da empresa estão os
do campo de Cação, na Bacia do Es-
pírito Santo e de Marlim, na Bacia de
Campos.
Recentemente, a diretora de explo-
ração e produção da Petrobras, Solan-
ge Guedes, reconheceu que há siste-
mas que “já alcançaram sua vida útil".
Em outra ocasião, a gerente-executiva
de sistemas submarinos da Petrobras,
Cristina Pinho, afirmou que o desco-
missionamento é um desafio para a
indústria nacional. "O descomissio-
namento é um assunto tão importante
hoje para a companhia que temos uma
gerência dedicada para isso", disse. n
PORTOS E NAVIOS MARÇO 2017 21
INDÚSTRIA NAVAL E OFFSHORE
Interesse
nacional
Decreto deve facilitar
créditos públicos para
investidores estrangeiros em
setores importantes para
desenvolvimento do país
Danilo Oliveira
U
m decreto federal publica- nada à necessidade de ampliação da as entidades e estabelecimentos de
do em janeiro atualizou o entrada de capital internacional para crédito da União e/ou dos estados,
texto em que são listadas a retomada do crescimento da econo- inclusive as sociedades de economia
as atividades econômicas mia do país. O decreto 8.957 amplia mista por elas controladas, só podem
de alto interesse nacional. Um dos o acesso de empresas estrangeiras a conceder empréstimos, créditos ou
principais efeitos é que o decreto deve financiamentos com instituições ou financiamentos a investimentos a se-
facilitar a concessão de financiamen- bancos públicos. rem realizados no ativo fixo de empre-
to de bancos públicos brasileiros para O advogado Wagner Botelha, sócio sa cuja maioria de capital, com direito
empresas estrangeiras que investirem responsável pela área de negócios in- a voto, pertença a pessoas não resi-
nesses segmentos no Brasil. O decre- ternacionais do escritório Braga Nas- dentes no país. “É condição que tais
to 8.957/2017 incluiu o setor petróleo cimento e Zilio Advogados Associados, valores sejam investidos em setores
e gás, compreendendo a exploração explica que o novo decreto presiden- de atividades e regiões econômicas de
e a produção de hidrocarbonetos e cial vai permitir que empresas que atu- alto interesse nacional”, completa o
toda a sua cadeia produtiva, inclusive am no Brasil, mas que são controladas advogado.
indústria de bens de capital, demais por matrizes internacionais, possam Ainda segundo o especialista, o de-
indústrias, serviços de engenharia e conseguir créditos, empréstimos ou creto 8.957 atualizou os setores da eco-
demais serviços aplicáveis. O novo de- financiamentos diretamente com ins- nomia brasileira com a participação
creto também adicionou sistemas de tituições públicas da União ou mesmo de empresas estrangeiras que podem
logísticas e de distribuição de bens ao estaduais ou municipais. O advogado solicitar esses créditos públicos como,
item que já listava “portos e sistemas acredita que a medida vai estimular por exemplo, do Banco Nacional de
de transportes, inclusive de carga e investimentos e geração de empregos Desenvolvimento Econômico e Social
passageiros”. no curto prazo. (BNDES) ou do Banco do Brasil. “A atu-
Analistas acreditam que a revisão Segundo Botelha, a legislação vi- alização destes mercados é necessária,
do decreto 2.233/1997 esteja relacio- gente (Lei 4.131/1962) estabelece que uma vez que existe urgência nos in-
24 PORTOS E NAVIOS MARÇO 2017
vestimentos atuais, que naturalmente tadas para obter financiamento”, relata.
se modificam com o tempo”, reforça. A diretora da LTSeg conta que alguns
Botelha conclui que o novo decreto, bancos não aceitam mais apólices de
além de atualizar e ampliar os setores seguro garantia, que sempre serviram
da economia beneficiados, levando-se para lastrear financiamento bancário.
em conta os cenários macroeconômi- A mudança dessa regra para alguns
cos, se compromete com a geração de segmentos leva o investidor estran-
empregos no curto prazo. geiro a buscar um banco parceiro no
Com o decreto, setores ligados a in- exterior para poder lastrear esse fi-
fraestrutura e indústria serão os mais nanciamento adquirido no Brasil. “O
beneficiados com o acesso a emprés- investidor é obrigado a utilizar lá fora
timos, tais como: telecomunicações; recursos que ele não utilizaria para
portos e sistemas de transporte; sane- lastrear um banco daqui, se tornando
amento ambiental; química e petro- uma operação mais complexa do que
química; mineração e transformação deveria ser porque poderia pegar um
mineral; agroindústria; tecnologia da Completion bonus e lastrear esse fi-
informação, entre outros. A nova lista nanciamento”, diz.
também contempla as empresas das A estrutura complexa aumenta o
áreas de saúde, como as fabricantes de custo do projeto. Para Bruna, falta
vacinas e de materiais médicos e hos- segurança jurídica e econômica e or-
pitalares; de educação; e do comércio. ganização dos bancos brasileiros em
relação a esse tipo de investimento.
A diretora da LTSeg, Bruna Timbó,
WAGNER BOTELHA Ela entende que, por mais que tenha
avalia que a política do atual gover- A atualização janela de oportunidades, ela é difícil
no é de atração de estrangeiras para dos mercados é de ser concretizada. A diretora da LTSeg
prestação de serviços no Brasil. Ela necessária, uma vez diz que estão sendo contratados no ex-
diz que as empresas muitas vezes não que existe urgência terior serviços que poderiam ser con-
precisam de financiamento de ban- tratados aqui.
cos públicos porque elas mesmas são
nos investimentos Segundo Bruna, o problema não
aptas a financiar a própria obra. “Não está associado com a existência desse
vejo problema se elas precisarem de decreto porque isso se trata mais da
financiamento dos bancos públicos. A política financeira do país e dos cri-
diferença atualmente é que os bancos térios que precisam ser definidos. “A
públicos estão abertos à concessão de existência desse decreto não melhora
empréstimos e financiamentos para em nada. Precisamos nos organizar
pessoas jurídicas de direito privado — para dar ao investidor estrangeiro essa
empresas estrangeiras constituídas ou estrutura de financiamento de que ele
não no Brasil, ainda que seja só uma precisa. O Brasil segue fértil para negó-
filial”, detalha. cios, mas mesmo assim não estamos
Bruna observa que as empresas es-
trangeiras ainda enfrentam problemas
para compreender a estrutura do fi- BRUNA TIMBÓ
nanciamento. “Elas sempre nos falam Política do atual
que esses financiamentos envolvem
contragarantias de Project finance e cor-
governo é de atração
porate finance (...) eles não conseguem de estrangeiras para
compreender que o banco de fomento prestação de serviços
misture modelos financeiros e ficam no Brasil
impactados com nossa desorganização,
muito embora o sistema bancário bra-
sileiro seja considerado um dos mais
evoluídos do mundo”, analisa.
Ela identifica a falta de financia-
mento como um dos grandes entraves
para os projetos saírem do papel. “Te-
mos visto muito a restrição dos bancos
públicos de fomento às garantias pres-
PORTOS E NAVIOS MARÇO 2017 25
INDÚSTRIA NAVAL E OFFSHORE
Danilo Oliveira
O
sistema de gerenciamento se sistema, inédito no Brasil”, informa
e informação do tráfego de O governo tem planos o ministério.
embarcações (VTMIS) do A espanhola Indra afirma que não
Porto de Vitória (ES) está de implantar sistemas houve alterações de escopo nos con-
em fase de final de testes de operação menos complexos tratos dos projetos de implantação do
e será submetido à inspeção da Mari- VTMIS em Santos e Vitória. A empresa
nha até maio de 2017. De acordo com tecnologicamente informa que as instalações em Vitória
o Ministério dos Transportes, Portos em portos de menor estão concluídas e em fase de testes
e Aviação Civil (MTPAC), a expectati- dos sistemas, para iniciar a fase de
va para o Porto de Santos (SP) é que a movimentação operação assistida em 2017. “Uma vez
operação do sistema tenha início no de cargas iniciada esta fase, se realizam as apro-
segundo semestre de 2018. Enquanto vações e certificações finais por parte
o governo não lança novos editais, há da Marinha para que a Companhia
estudos sobre soluções menos com- de Docas do Espírito Santo (Codesa)
plexas que o VTMIS para portos com possa oficialmente ter sua operação
tráfego menos intenso e terminais de tráfego marítimo realizada pelo VT-
portuários privados, como o VTS (Ves- MIS”, conta o diretor de infraestrutu-
sel Traffic Service) e o LPS (Local Port ras da Indra no Brasil, Cristiano Alves
Service). de Oliveira.
Além dos sistemas VTMIS para os No Porto de Santos, a previsão é
portos de Vitória e Santos, licitados e de operação parcial no final de 2017
contratados, o MTPAC pretende lan-
çar o edital para instalação do VTMIS
em mais um porto, ainda a ser defi-
nido, no segundo semestre de 2017.
A Secretaria de Portos do Ministério
dos Transportes prevê o investimento
de R$ 77 milhões pelo Programa de
Aceleração do Crescimento, dentro do
ciclo plano plurianual 2016-2019. Para
2017, a perspectiva é de R$ 22 milhões
para as implantações.
A percepção de fornecedores de
equipamentos e sistemas é que o go-
verno demorou a lançar novos editais
do programa de VTMIS. O MTPAC ga-
rante que o orçamento não foi preju-
dicado pelos cortes orçamentários do
governo nos últimos anos e que o vo-
lume de recursos é o mesmo previsto
desde o início. “Quanto ao cronogra-
ma, alguns atrasos detectados não fo-
ram em decorrência do contingencia-
mento dos recursos, e sim em função
da complexidade de implantação des-
28 PORTOS E NAVIOS MARÇO 2017
Edsom Leite/MT
menta central na operação do porto e comboio precisará fazer em cada eclu- duto escalável e turn-key (instalação
a Cash tem um contrato firmado com sa. Com isso o sistema é capaz de gerar completa). Treinamento e operação
o Prumo Logística, responsável pelo filas de eclusagens por eclusa, além de também podem fazer parte do escopo,
complexo portuário e industrial, para uma fila consolidada, respeitando a or- caso o cliente faça essa opção”, destaca
suporte, manutenção e atualização dem de chegada e os critérios de prefe- o gerente de vendas da Transas no Bra-
desse sistema. rências. sil, Diego Tavares Bonfim.
A Cash, que desenvolve sistemas A Transas possui sistemas instala- Para o mercado portuário brasileiro,
para o segmento náutico desde 1996, dos em todos os continentes, sendo a uma das apostas é um software que in-
atua como fornecedora e integradora presença maior na Europa e Ásia. Na tegra em uma única interface os senso-
de equipamentos para a área portuá- América Latina, Argentina, Colômbia, res mais utilizados nesse tipo de siste-
ria. O Nasareh é um sistema para nave- Peru e Chile utilizam exclusivamente mas: estações meteorológicas, radares,
gação da Cash utilizado a bordo e que sistemas Transas em portos públicos e câmeras, comunicações, estações de
pode ser integrado com instrumentos privados. A empresa estima que tenha base, entre outros. Bonfim diz que a
de navegação, como GPS, AIS, sonda, 35% de participação no mercado VTS, Transas tem como marca registrada a
bússola digital, giroscópio e piloto au- observando esse sistema em nível glo- capacidade de customização do produ-
tomático. bal. “Atuamos em todos os níveis de to às necessidades do cliente. Segundo
A Cash acredita no desenvolvimen- VTS e sistemas de vigilância costeira ele, qualquer equipamento ou dados
to da tecnologia VTS nos portos e ter- para o segmento militar, com um pro- que o usuário deseje integrar à solução
minais portuários brasileiros. “Nossa
expectativa é boa, apesar da crise que
também afetou o setor, tanto públi-
co quanto privado. A possibilidade de
surgimento de novos terminais priva-
dos é real e isso poderá representar um
avanço da tecnologia de VTS no Brasil”,
projeta o diretor da empresa, Marcelo
Ribeiro.
Ele estima que, num prazo de cinco
anos, os portos e terminais portuários
que não tiverem um VTS começarão
a sofrer com restrições para o recebi-
mento de navios estrangeiros. O diretor
da Cash reforça que o uso da tecnolo-
gia gera benefícios e que portos e ter-
minais portuários precisam ter con-
dições de receber navios que exigem
a presença do VTS. Ribeiro acrescenta
que a solução oferecida pela Cash se
adequa a portos e terminais portuários
de qualquer porte. “Vencemos todas as Governo é trabalhado de forma detalhada e caso
licitações das quais participamos dire- a caso, o que habilita o cliente final a
tamente e individualmente para o for- garante que o usufruir do potencial de dados do setor
necimento deste tipo de solução, sendo
a maioria de empresas privadas”, conta.
orçamento não marítimo no auxílio à tomada de deci-
sões.
Ribeiro diz que o STAq também se foi prejudicado O software Navi-Harbour pode ser
adequa a hidrovias. Em 2015, a empre- ampliado ou reduzido a qualquer mo-
sa forneceu para a AES Tietê o STAq e pelos cortes mento com muito pouca ou nenhuma
um sistema customizado a ele integra- orçamentários intervenção. Bonfim diz que o cliente
do capaz de projetar, a partir de um é ensinado a configurar o sistema de
banco de dados do próprio sistema, os e que recursos forma completa, com total transfe-
horários de passagem de todas as em-
barcações e comboios comerciais que
são os mesmos rência de conhecimento e tecnologia.
Ele acrescenta que sistemas de peque-
transitam pelas cinco eclusas sob res- previstos no porte podem ser configurados em
ponsabilidade da AES Tietê. O sistema pouco tempo e, sem muitas modifica-
reconhece os tipos de embarcações, ções, tem opção de ser dimensionado
os trajetos de cada uma, e calcula as a um “Full VTS”. “Todos os nossos pro-
quantidades de eclusagens que cada jetos são definidos em conjunto com o
30 PORTOS E NAVIOS MARÇO 2017
cliente, demonstrando o ajuste às ne- O conceito de Sistema de Geren-
cessidades dele”, comenta. ciamento do Tráfego de Embarcações
O serviço de tráfego de embarca- (VTMS) surgiu a partir da evolução
ções (VTS) é um auxílio eletrônico à tecnológica, dos antigos VTS, com a
navegação, com capacidade de prover incorporação de novos sensores aos
monitorização ativa do tráfego aqua- serviços. Atualmente, tal diferenciação
viário, cujo propósito é ampliar a se- não é mais necessária e o conceito de
gurança da vida humana no mar, a se- VTMS se confunde com o de VTS, po-
gurança da navegação e a proteção ao dendo ser utilizado tanto para se refe-
meio ambiente nas áreas com intensa rir a um VTS quanto a um VTMIS.
movimentação de embarcações ou ris- Além do Porto do Açu, existem 11
co de acidente de grandes proporções. portos autorizados a implantar o VTS:
O Sistema de Gerenciamento e In- Rio Grande (RS), Imbituba (SC), São
formação do Tráfego de Embarcações Francisco do Sul (SC), Itajaí (SC), Para-
(VTMIS) é uma ampliação do VTS, na naguá (PR), Santos (SP), Rio de Janeiro
forma de um sistema integrado de vi- (RJ), Itaguaí (RJ), Vitória (ES), Salva-
gilância marítima que incorpora ou- dor/Aratu (BA) e Fortaleza (CE). Po-
CRISTIANO ALVES
tros recursos de telemática, a fim de rém, apenas Vitória e Santos mantêm
Em Vitória, instalações estão
permitir aos serviços aliados e outras ações em curso para implantar um
concluídas e em fase de testes dos
agências interessadas o compartilha- tipo de VTS. Nos demais portos que
sistemas
mento direto dos dados do VTS ou o receberam a licença de implantação
acesso a determinados subsistemas, ainda não existem processos licitató-
para aumentar a efetividade das ope- rios em curso.
rações portuárias ou da atividade ma- Pelas regras da Organização Marí-
rítima como um todo. tima Internacional (IMO), o VTS não
oportunidades para profissionais e se nortearam na aquisição de simula- tam os custos de implantação e opera-
empresas especializados nesse tipo de dores e na preparação de uma infraes- ção. A FHM ressalta que o primeiro VTS
tecnologia. Para Bonfim, fornecedores trutura adequada para recebê-los. do país foi instalado por um terminal
de eletrônica marítima e pessoal habi- A fundação tem um simulador de portuário privado.
litado e capacitado para instalar e gerir VTS integrado a outros simuladores, Braga enxerga horizonte de oportu-
sistemas de manutenção apropriados como terminal de petróleo, controle nidades nos próximos anos para pro-
a esse tipo de projeto complexo serão de derramamento de óleo, navegação, fissionais especializados em VTS. Ele
bastante demandados. posicionamento dinâmico. “Podemos destaca que alguns portos brasileiros
O gerente de vendas da Transas ain- simular uma operação portuária com- vão num futuro próximo implementar
da observa dificuldade para encon- pleta, com todos os seus desdobra- o sistema e acrescenta que os profissio-
trar profissionais capacitados a gerir a mentos, envolvendo inclusive as prati- nais interessados nessa área terão pla-
manutenção de sistemas complexos cagens e o representante da autoridade nos de carreira. “Já evidencia que esses
e completamente integrados como o marítima”, explica o diretor-superin- centros de VTS precisarão constituir
VTS. “Talvez não por falta de profissio- tendente, Odilon Braga. equipes, já que primeiro os profissio-
nais, mas por certificação e capacita- A FHM afirma que todos os supervi- nais passam por cursos para se torna-
ção adequada a uma resposta no tem- sores e operadores de VTS existentes no rem operadores VTS e depois, realizan-
po adequado e requerido pelo cliente”, Brasil são formados pela FHM. A fun- do outros cursos e atendendo certos
analisa. dação acredita que os investimentos requisitos, tornam-se supervisores VTS,
Bonfim conta que a empresa ten- necessários serão feitos porque, com a podendo chegar à função de controla-
ta minimizar ao máximo o tempo de entrada dos centros de VTS em opera- dor VTS”, diz.
resposta com acesso remoto seguro ção, os benefícios certamente suplan- A FHM entende que todos os grandes
ao sistema e a seus componentes. Por portos brasileiros deveriam implantar
vezes, um técnico se faz necessário pre- o VTS, entre eles os portos do Rio de
sencialmente. “Enxergamos isso como Janeiro, Itaguaí, Paranaguá e Ponta da
uma grande oportunidade de parcerias Madeira. Como a instalação do VTS
com nossos fornecedores de equipa- Em Santos, pressupõe a instalação de sensores
mentos”, projeta. ambientais, a FHM adota decisões ba-
A Indra acompanha outras oportuni- a previsão é seadas em dados em tempo quase real.
dades ligadas ao VTMIS e ao programa de operação Tais dados possibilitam o uso de ferra-
Cadeia Logística no Brasil. A empresa mentas de suporte à decisão, como si-
aumentou a capacidade de sua equipe parcial em 2017 mulações, o que acaba por resultar em:
técnica de engenheiros e consultores
no Brasil. “Os projetos de fornecimen-
e término das recebimento de navios maiores. Outros
benefícios são: o uso mais prolongado
to dos VTMIS nos deram oportunidade instalações da infraestrutura (janelas de maré, ope-
de nos reforçarmos, tanto pelo trabalho ração sob condições adversas) e o uso
conjunto com as equipes de engenha- em 2018 mais intenso da infraestrutura, com o
ria que temos em outros países, como aumento da movimentação de cargas.
pelo trabalho conjunto com os profis-
sionais da Codesp e Codesa”, ressalta.
Nos projetos de Santos e Vitória,
a equipe da Indra também contribui
para a operação assistida com alto nível
técnico e de conhecimento embarcado,
a fim de dar mais segurança e eficiência
na utilização do sistema. Oliveira des-
taca que a participação dos controlado-
res oficiais da Codesp e Codesa agregou
valor ao projeto por sua experiência e
seu conhecimento das normas nacio-
nais e internacionais que regram esse
tipo de operação e sistema.
A Fundação Homem do Mar (FHM)
e a Shelter (Consultoria Marítima e Cur-
sos Offshore) continuam sendo as duas
únicas instituições do Brasil credencia-
das pela Marinha para treinamentos na
área de VTS. Os investimentos da FHM
34 PORTOS E NAVIOS MARÇO 2017
O VTS depende de contínua avalia- barômetro, piranômetro para medição As torres abastecerão a central com
ção de sua eficiência, da adequabili- de radiação solar e medidor de umidade dados sobre a localização e movimen-
dade de seus sensores, de seus proce- relativa), antena de comunicação para tação de embarcações. Cada uma das
dimentos. Braga explica que, se muda transmissão dos dados e gerador elétrico. torres terá um radar, uma câmera de
a intensidade do tráfego, fruto de no- A instalação da estação Delta, loca- alta definição e um transponder AIS,
vas linhas, de uma dragagem e/ou do lizada na Ilha Barnabé, já foi iniciada, que recebe sinais enviados obrigato-
aquecimento da economia, pode haver enquanto as demais, localizadas em riamente pelos navios. Como a maior
a necessidade de novos sensores ou de área de terceiros passaram por serviço parte dos barcos pequenos não emite
mais operadores. “Se no decorrer de de sondagem de solo, já concluídos, e sinais de transponder, a tarefa do ra-
um ano de operação o porto decidir seguem cronograma para instalação. O dar será identificar estas embarcações
oferecer serviço de organização do trá- processo demandou tratativas para au- menores até um metro quadrado de
fego, será preciso uma nova avaliação torizar a implantação. área.
de riscos, novas simulações e novo trei- O monitoramento de tráfego é re- A câmera inteligente apontará au-
namento”, ressalta. alizado através do rastreamento dos tomaticamente para o alvo localiza-
navios, previsão de rotas, inclusive em do pelo radar. A utilização do sistema
Em fevereiro, durante as comemora- casos de perda de sinal, rastro histórico permite ainda o aprimoramento da
ções dos 125 anos do Porto de Santos,
foi inaugurado o centro de controle do Edsom Leite/MT
RB Fotografia
damento da Pandenor com Suape foi
renovado por mais 25 anos e expira em
janeiro de 2044. O contrato atual ven-
ceria em 2019.
“Vamos investir R$ 70 milhões nes-
sa ampliação, o que vai nos permitir
modernizar e otimizar o terminal para
atender à crescente demanda do mer-
cado interno”, explicou Paulo Perez
Filho, superintendente da Pandenor.
Durante a fase de obras, serão gera-
dos cerca de 200 empregos e outros
40 devem ser contratados para ope-
rar os novos tanques. Inaugurado em
2000, o terminal é alfandegado, o que
possibilita a importação e a expor-
tação de granéis líquidos, que são as
cargas mais movimentadas em Suape.
Em 2016, 17,28 milhões toneladas de
granéis líquidos passaram pelo porto,
registrando um aumento de 21,8% em
comparação com 2015. Suape é líder
nacional na movimentação dessa car-
Suape ga entre os portos públicos.
Em 2016, o Porto de Suape “Os terminais de granéis líquidos e
R$ 4 mi na manutenção movimentou 22,74 milhões gases do Porto e a Rnest são respon-
de toneladas sáveis por 76% de toda movimentação
da portuária de Suape. Essa ampliação da Pandenor
vai nos ajudar a aumentar ainda mais
O Complexo Industrial Portuário elétrica consumida e seu uso eficiente. as operações dessas cargas, consoli-
de Suape está investindo R$ 4 mi- O processo de manutenção está di- dando Suape como um hub port de
lhões para a realização de serviços vidido em etapas. Após a definição do granéis líquidos do Brasil”, comentou
de manutenção preventiva, preditiva planejamento semanal pelo Comitê Paulo Coimbra, diretor de Gestão Por-
e corretiva nas estruturas mecâni- de Manutenção, a empresa contra- tuária de Suape. Atualmente, a Pande-
cas e elétricas do Porto de Suape. Os tada executa os serviços que assegu- nor armazena gasolina, diesel, etanol,
serviços têm por objetivo melhorar ram, prioritariamente, o atendimento biodiesel e querosene de aviação. Em
ainda mais o desempenho do porto às demandas da operação portuária e 2016, o terminal foi responsável pela
diante do crescente aumento na mo- àquelas relacionadas às questões de movimentação de 416,9 mil toneladas
vimentação de cargas. Durante o ano segurança das instalações. desses combustíveis no porto per-
de 2016, o atracadouro movimentou nambucano.
22,74 milhões de toneladas, regis- Pandenor O terminal da Pandenor está co-
trando um crescimento de 15% em nectado ao Píer de Granéis Líquidos
relação a 2015. Iniciada ampliação no 1 (PGL 1) do Porto de Suape através
Toda a estrutura mecânica e elétri- de duas linhas de aço carbono, com
ca do porto organizado de Suape está Porto de Suape condição de carga e descarga numa
sendo contemplada nesses serviços, vazão de 750 metros cúbicos/hora.
incluindo limpeza, jateamento, pin- A empresa Pandenor Importação e O píer tem 330 metros de extensão e
tura, ajustes e demais correções em Exportação, localizada no Porto de Sua- dois berços para navios de 200 metros
boias de sinalização, defensas portu- pe, está construindo oito novos tanques de comprimento. Em ambos, podem
árias, guarda-corpos, passarelas, esca- de armazenagem de granéis líquidos, atracar navios de 45 mil toneladas por
das, trilhos, cabrestantes e demais ele- para aumentar sua capacidade em 60 porte bruto. O terminal tem capaci-
mentos mecânicos. Já na área elétrica, mil metros cúbicos. Após a expansão, o dade para carregar simultaneamente
estão sendo contemplados os serviços terminal da Pandenor terá capacidade até 12 caminhões tanques com vazão
de organização de cabeamentos, subs- para armazenar 122 mil metros cúbicos constante de 1,6 mil metros cúbicos/
tituição de eletrodutos, troca de lâm- de combustíveis líquidos. As obras já hora e descarregar até três caminhões
padas e reatores e uma inspeção pro- foram iniciadas e devem ser concluídas a uma vazão de 210 metros cúbicos/
funda quanto à qualidade da energia em julho de 2018. O contrato de arren- hora.
36 PORTOS E NAVIOS MARÇO 2017
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| NAVIOS MARÇO 2017 37
PORTOS E LOGÍSTICA
Resultado
esperado
Retração na economia leva portos
a perder 1% de cargas em 2016.
Cabotagem melhora 0,8%
O
s portos brasileiros movi- os portos públicos viram a movimen- período 2015/2016. Petróleo, bauxita e
mentaram 998.068.793 to- tação encolher 2,5% — foram 343 mi- contêineres foram as principas cargas.
neladas em 2016, 1% me- lhões de toneladas em 2016 e 351 mi- Foram movimentadas 210,7 milhões
nos mercadorias do que em lhões de toneladas em 2015. de toneladas em 2015 e 212,4 milhões
2015. O desempenho está registrado O longo curso movimentou menos em 2016.
no Anuário elaborado pela Agência 1,7% em 2016. Os TUPs responderam A navegação interior perdeu 1,5%
Nacional de Transportes Aquaviários por 63% e os portos públicos, 37% do de suas cargas em 2016 (83,8 milhões
(Antaq) 2016, recém-divulgado. Os total. Em 2015, 754,1 milhões de tonela- de toneladas) em relação a 2015 (85,1
terminais privados (TUP) sofreram das passaram pelos portos brasileiros no milhões de toneladas). Mas apre-
retração de 0,25% — movimentaram longo curso e em 2016, 741,5 milhões. senta resultado positivo no perío-
655 milhões de toneladas em 2016 e A cabotagem apresentou resultado do 2010 a 2016, com incremento de
657 milhões de toneladas em 2015. Já positivo, com 0,8% de acréscimo no 11,3%.
Fonte: Antaq
38 PORTOS E NAVIOS MARÇO 2017
Portos organizados - movimentação 2016 Os TUPs aumentaram a parti-
cipação no total de contêineres
que passaram pelos portos bra-
sileiros. Passaram de 26,5% em
2015 para 30% do total em 2016.
O Porto de Santos segue na li-
derança da movimentação dos
contêineres, com 32 milhões de
toneladas, mas o resultado é 5,4%
pior do que o do ano anterior. O
terminal Portonave ultrapassou
o Porto de Paranaguá e se tor-
nou o segundo movimentador de
contêineres em 2016. O terminal
localizado em Navegantes (SC)
Fonte: Antaq
movimentou 9,7 milhões de to-
neladas, um aumento de 27,2%
em volume. O terminal Embra-
port, localizado em Santos (SP),
Terminais de uso privado - movimentação 2016 e o Porto Itapoá (SC) também
obtiveram resultados positivos.
O Embraport, na quinta posição,
movimentou 6,7 milhões de to-
neladas, mais 17,2% do que em
2015. Já Itapoá, sexto da lista da
Antaq, movimentou 6,3 milhões
de toneladas, ou mais 0,1% que
em 2015.
Os Portos de Paranaguá (PR) e
Rio Grande (RS), terceiro e quar-
tos colocados em movimentação
de contêineres em 2016, tiveram
queda de 5,4% e 0,7% respectiva-
mente. Paranaguá movimentou
8,2 milhões de toneladas e Rio
Fonte: Antaq Grande, 7,3 milhões.
PORTOS E NAVIOS MARÇO 2017 39
PORTOS E LOGÍSTICA
O
2016, suas médias foram de 72,8 e 65,9 s portos recuaram
movimentos/hora respectivamente. menos que o PIB
brasileiro e mos- ABTP calcula em R$ 25 bilhões os
Arnaldo Alves
tram como são cen- investimentos possíveis
trais no processo de recupera-
ção da economia brasileira. A
afirmação é do presidente da Asso- ça a expansão de terminais e enrijeça a
ciação Brasileira dos Terminais Por- expansão de áreas nos portos.
tuários (ABTP), Wilen Manteli, para Além disso, o excesso de burocra-
quem os portos podem se tornar uma cia e de intervenção estatal nos por-
poderosa alavança de desenvolvi- tos imprime pouca flexibilidade para
mento. Mas para isso, defende Man- adaptações simples a contratos de ar-
teli, o país teria de reduzir a excessiva rendamento, não permite reorganiza-
presença do Estado no setor. ção eficiente da área dos portos, torna
Desde outubro de 2016, entidades lenta a emissão de documentação e
Foram movimentadas 628,7 milhões
empresariais do setor portuário têm priva o setor de mecanismos para in-
de toneladas de granéis sólidos
debatido com o Ministério dos Trans- vestimentos na infraestrutura comum.
portes, Portos e Aviação Civil (MTPAC) “Não estamos demandando recur-
Os granéis sólidos, campeões absolu- medidas que poderiam destravar R$ 25 sos. O que pedimos é a reorientação
tos, movimentaram menos 0,7% tone- bilhões no curto e médio prazos. Pelos das políticas do setor para que essas se
ladas em 2016, somando 628,7 milhões. cálculos da ABTP, são R$ 13 bilhões em tornem a favor da livre iniciativa, libe-
O minério de ferro aumentou 3,1% em novos arrendamentos, R$ 4 bilhões nas ralizante e pragmática. É disso que o
tonelagem (376 milhões). Os granéis prorrogações e adaptações de contra- Brasil precisa neste momento de crise”,
líquidos refluíram 3,8%, totalizando tos, R$ 6 bilhões em novos terminais explica Manteli.
218 milhões de toneladas. Menos 3,8% privados e R$ 2 bilhões em investi- Para a ABTP, é certo que os portos
combustíveis passaram pelos portos em mentos de infraestrutura comum que avançaram muito, principalmente a
2016 (223 milhões de toneladas). Carga podem se tornar mais ágeis com capi- partir de 1993. O marco regulatório do
geral teve resultado positivo, adicionan- tal privado. setor vigente, a Lei n. 12.815, de 2013,
do 7,2% mais carga em 2016, ou 51,3 As primeiras medidas mapeadas pe- também trouxe conquistas. O anuá-
milhões de toneladas. Os terminais mo- las entidades têm foco no curto prazo. rio da Antaq divulgado recentemente
vimentaram menos 0,5% contêineres Elas sugerem mudanças no marco in- mostra, por exemplo, o papel impor-
— 100,1 milhões de toneladas. fralegal do setor, com a revisão do de- tante dos terminais de uso privado,
A Antaq destaca o forte incremento creto 8.033, de 2013, que regulamentou que movimentaram 66% das cargas no
da soja e milho no Arco Norte. De 2011 a Lei dos Portos. “São ações simples e país no ano passado - os portos organi-
a 2016, a região foi responsável pelo de rápido impacto que vão aumentar zados ficaram com 34%.
acréscimo de 88,5% no total de soja a eficiência das operações portuárias, Em relação às mercadorias, o le-
movimentado e de 174,8% de milho. fomentar investimentos privados nos vantamento da Antaq destaca os mi-
O número de atracações nos portos terminais portuários e melhorar a efi- nérios, com 418 milhões de toneladas
também caiu, uma redução de 7,5% ciência na gestão dos portos organi- movimentadas, aumento de 2,7% na
em relação a 2015, ficando com 54.973. zados”, explica o diretor-presidente da comparação com 2015. Também
O Porto de Santos recebeu o maior ABTP. houve aumento na movimentação
número de navios, 4.520 atracações, Para a associação, a rigidez regulató- de açúcar (9,2%), adubos (19,3%) e
contra 4.720 em 2015. Em seguida na ria sobre o setor portuário faz com que celulose (31,3%). O ponto negativo
estatística, Paranaguá recebeu 1.909 o país perca investimentos, aproveite foi a movimentação de cereais (gru-
navios em 2016 e 1.897 em 2015. Ita- mal os ativos públicos, conduza pro- po que inclui o milho), com queda
guaí (RJ) contou com 737 atracações cessos licitatórios inadequados, impe- de 30,6%.
em 2016 e 762 em 2015. n
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PORTOS E NAVIOS MARÇO 2017 41
CALENDÁRIO
Notícias da batalha
Ivan Leão*
A
batalha do conteúdo local chegou ao O caso ainda pendente para o waiver de Li-
fim na fase da definição para a 14ª bra refere-se à maximização do lucro.
rodada de licitações de petróleo e O Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP),
gás. Prossegue na isenção da multa apresenta na sua página na internet o gráfi-
(waiver) por não cumprimento do conteúdo co da evolução do preço do petróleo, acima
local para a plataforma de produção de Libra, de US$ 55 o barril em 2017 e projetando, até
com audiência pública marcada pela ANP para 2020, de US$ 55,7 na hipótese mais conserva-
30/3/2017. O único vencedor é o desejo do go- dora e US$ 79 o barril na previsão da Interna-
verno de atrair investimentos das petroleiras. tional Energy Agency (IEA).
O Ministério de Minas e Energia e o Minis- O vice-presidente da Deloitte, John En-
tério de Indústria, Comércio Exterior e Servi- gland, em evento para executivos e associa-
ços definiram os índices de conteúdo local dos do IBP, no início de fevereiro, informa que
para produção de petróleo em alto-mar: 18% as petroleiras aprenderam a lidar com o atual
na fase de exploração; 25% na fase de desen- patamar de preços e hoje há um otimismo
volvimento (perfuração de poços); 40% na fase no mercado. É uma afirmação que enfatiza a
submarina de escoamento; 25% para as plata- visão técnica do Consórcio de Libra, ao reco-
formas estacionárias de produção. nhecer que as petroleiras já trabalharam com
A indústria local, representada pela Produz preços do barril do petróleo inferior a US$ 30,
Brasil por intermédio de 14 instituições de em 2004.
classe, informa sua insatisfação. Os índices de Em entrevista em Londres, a petroleira
25% de conteúdo local se aplicam à constru- portuguesa Galp informa aumento de 48%
ção de plataformas de produção de petróleo da sua produção mundial de petróleo em
em alto-mar, onde se concentra a maior par- 2016, 60% obtidos no Brasil. Nos campos em
cela dos fornecimentos. Haverá impacto para que participa com a Petrobras, quatro plata-
uma estrutura local de fornecimento que re- formas de petróleo entraram em produção,
alizou com sucesso a integração de módulos, com integração de módulos realizadas local-
com prazo e preço. mente, duas no estaleiro Brasa, para a SBM, e
Examinando bem, é uma batalha sem ven- duas com integração de módulos no estaleiro
cedores. Como fato positivo fica a demonstra- BrasFELS, para a Modec.
ção de que a indústria é capaz de mobilização. A Modec estima, em apresentação sobre o
Mas o resultado demonstra que a competitivi- mercado mundial de plataformas, uma de-
dade da indústria é uma questão ainda a ser manda de 30 unidades: 10 na África; 10 na
endereçada. A reação foi tardia ante a decisão Ásia-Pacífico; sete no Brasil; três no Golfo do
anunciada em 2015 de contratar as próximas México. Portanto, é importante que a indús-
plataformas no exterior. As petroleiras foram tria local permaneça com contratos para re-
beneficiadas pela situação em que se encon- alizar aperfeiçoamentos, redução de custos e
tram o governo e a Petrobras, com baixa capa- formação de recursos humanos.
cidade de investir. O ideal é não perder uma visão ampla da
As proposições do IBP como o fim da par- questão. Para a indústria local, o debate vai
ticipação obrigatória da Petrobras, melhor além do conteúdo local. Envolve as questões
relação com a Pré-sal Petróleo S.A. (PPSA) e da inovação e da competitividade que não
o aperfeiçoamento do conteúdo local foram estão só restritas ao custo Brasil. Essa é uma
endereçadas e atendidas. Mas muitas das ale- batalha que continua. n
gações de atrasos na entrega de equipamentos
e aumento de custos também ocorreram em
fornecimento contratados na Ásia. *Diretor da Ivens Consult
PORTOS E NAVIOS MARÇO 2017 43
TRIBUNA
A questão da
competitividade
Patrício Jr.*
A
ssim que os fundamentos da econo-
mia retornarem a bases seguras, o
que já começa a ocorrer, com o es-
tabelecimento de teto para os gastos
públicos, o declínio da inflação e a consequen-
O governo deve
te redução dos riscos e dos juros, o Brasil terá adotar medidas que
que voltar a atenção novamente para a busca
da competitividade.
simplifiquem e agilizem
O acerto na macroeconomia, com a reconci- os investimentos em
liação das políticas fiscal e monetária, visando
ao crescimento sustentável, é um pressuposto portos, aeroportos,
indispensável. Contudo, para o crescimento
sustentável, deverá ser acompanhado de um
ferrovias e rodovias
reiterado esforço para que sejamos eficientes e
competitivos em nossas cadeias de produção.
Infelizmente, ainda não é o que ocorre hoje.
Pesquisa da Confederação Nacional da In- das nos últimos anos e que só começaram a ser
dústria (CNI) recentemente divulgada pelo jor- efetivamente revertidas no final de 2016. Sim,
nal O Estado de S. Paulo revela que o país está porque uma conjuntura desfavorável reduz a
na penúltima posição num ranking de compe- escala do mercado doméstico e, com isso, tam-
titividade formado por 18 países com econo- bém a disponibilidade de recursos para investi-
mias semelhantes e que disputam mercados mento em tecnologia e inovação.
com nossas empresas e produtos. Estamos à Quanto à disponibilidade de mão de obra,
frente apenas da Argentina, e atrás de Peru, um dos indicadores em que houve piora de 2015
Colômbia, Índia, África do Sul, Turquia, China, para 2016, podemos dizer que esse dado tem
Chile... Lideram o ranking Canadá, Coréia do um grau maior de complexidade. Ora, quando
Sul e Austrália. há retração da economia, como a que enfren-
Estruturada a partir de nove critérios que tamos nos últimos dois anos, há, em tese, uma
influenciam a capacidade de competição, a maior oferta de mão de obra — aqueles traba-
pesquisa nos permite fazer um raio x dos prin- lhadores que ficaram desempregados e que es-
cipais problemas a enfrentar e identificar onde tão à procura de recolocação no mercado.
melhorar. Em quatro indicadores, o país está Ocorre, contudo, que, para avançar em com-
muito mal, tendo piorado de 2015 para 2016. petitividade e disputar mercados, o Brasil preci-
São eles: disponibilidade e custo de mão de sará, cada vez mais, de uma mão de obra quali-
obra; ambiente macroeconômico; competição ficada, capacitada e bem treinada. Note-se que,
e escala de mercado doméstico; e tecnologia e num período de retração, deveria haver mão de
inovação. obra disponível. Mas, como a demanda é cada
Nos itens em que pioramos, conforme men- vez mais por profissionais qualificados, a pes-
cionados acima, ficam claros os efeitos, sobre quisa apontou que houve piora nesse item. Ou-
a competitividade de nossas empresas, da dete- tro fator que pesa é o alto custo do emprego no
rioração do ambiente macroeconômico, a par- Brasil, já que os encargos trabalhistas equivalem
tir de diretrizes e políticas equivocadas adota- a mais do que o dobro do salário do empregado.
44 PORTOS E NAVIOS MARÇO 2017
TRIBUNA
Eis aí um dos grandes desafios que a nossa claro que o país deve reequacionar a sua
economia enfrentará a partir da retomada do estrutura fiscal, estancando déficits, o que
crescimento. Salvo iniciativas setoriais ou em- passa necessariamente pela reforma da Pre-
presariais isoladas, ainda não damos à educa- vidência, que deve ser votada este semestre
ção e à capacitação a importância estratégica no Congresso.
que merecem ter na trajetória do desenvolvi- Reduzindo os gastos, poderá igualmente
mento. O Brasil precisa, mais do que nunca, pensar na diminuição da carga tributária, via
investir em pessoas. uma nova reforma que viria a simplificar um
Examinemos os indicadores que se man- sistema hoje caótico. Esse sistema gera custos
tiveram estáveis na pesquisa, sem piora. São desnecessários, pelo excesso de obrigações
eles: disponibilidade de capital; infraestrutura acessórias, e contribui para minar a competi-
logística; peso dos tributos e ambiente de ne- tividade. Se há uma boa notícia, é que todas
gócios. Está claro que um relativo avanço em essas medidas primordiais ou estão em curso
competitividade também poderá vir da me- ou se encontram em discussão no governo e
lhora desses indicadores em decorrência da no Congresso.
própria mudança operada na política econô- Retornemos para mais um dado da pes-
mica. O exemplo mais claro está na maior fa- quisa CNI, este de caráter micro, não macro.
cilidade de financiamento, para investimento, O levantamento informa que o item infraes-
via redução da taxa de juros. trutura logística não piorou de 2015 para 2016.
Mas é importante remarcar que o salto Melhor assim. Mas isso não significa que esse
significativo, em termos de competitividade, segmento esteja satisfatório. No momento em
somente ocorrerá com as reformas estrutu- que a economia voltar a crescer, alguns sérios
rantes de nosso arcabouço legal, sobretudo gargalos estruturais voltarão a aparecer, mi-
no que diz respeito às legislações trabalhista nando a eficiência e a competitividade.
e tributária. Temos, portanto, dois horizontes Isso significa que, paralelamente a tudo que
condicionando a nossa competitividade e, por está sendo feito, o governo deve adotar medi-
decorrência, o nosso desenvolvimento: um de das que simplifiquem e agilizem ainda mais os
curto e outro de longo prazo. investimentos em portos, aeroportos, ferrovias
No curto prazo, restabelecemos o norte da e rodovias. Não estamos neste caso falando de
política econômica, com resultados já palatá- macroeconomia, mas de ajustes nos marcos
veis: queda da inflação, maior confiança dos regulatórios e ações pontuais. Assim como o
agentes econômicos, redução da taxa básica investimento em pessoas, a desburocratização
de juros. No longo prazo, começamos a de- deve estar na ordem do dia. n
linear que mudanças de fundo são impres-
cindíveis para que o crescimento dê-se em *Presidente do Porto Itapoá e da Associação dos
bases seguras e perenes. Nesse sentido, está Terminais Portuários Privados (ATP)
N
ão é de hoje que lemos e ouvimos
diversos comentários a respeito do O combustível marítimo
efeito estufa, das reuniões infindá-
veis entre países para decidirem tem um teor 3,5 mil
qual será a redução de emissão de gases no
meio ambiente para os próximos 50 anos, in- vezes maior do que as
cluindo a discussão sobre os grandes vilões
que ocasionam esse mal que assola o mundo
normas vigentes para
todo. o diesel utilizado em
A queima do combustível fóssil é um des-
ses vilões, ou o maior deles, já que a popula- veículos na Europa
ção de veículos que habitam os grandes cen-
tros não para de crescer. Bem como a queima
de óleo através das embarcações, sejam elas
de navegação interna, bem como as que ope-
ram pela costa, e até as que cobrem grandes
distâncias carregando uma grande quantidade
de produtos pelos sete mares. É sabido que o Essa normativa para a redução do enxofre
transporte marítimo é o maior emissor de en- está claramente identificada no site da IMO,
xofre na atmosfera. Pois o óleo combustível através da Marpol Anexo VI — limites de en-
que é utilizado para esse transporte tem um xofre no combustível. Vale aqui comentar que
teor 3,5 mil vezes maior do que as normas vi- o percentual de 0,5% de enxofre a partir de
gentes para o diesel utilizado em veículos na 2020 seria para as regiões que não se encon-
Europa. O enxofre é sabido que mata. tram no chamado ECA (Áreas de Controle de
Existem regras muito claras que a ONU, Emissões) que possuem um percentual ainda
através da IMO (International Maritime Orga- menor, chegando a 0,1% de enxofre nos com-
nization), impõe com reduções significativas bustíveis de uso naval a partir da mesma data
de emissões de gases provenientes da queima de implantação. Esses ECA’s se utilizam hoje
de combustíveis navais, em adição à redução da normativa IMO Marpol Anexo VI — limites
do percentual de enxofre a ser implementado de emissões Tier III, que já foram implemen-
nos combustíveis navais, dos 3,5% atuais para tadas nessas regiões desde o dia primeiro de
0,5% até 2020. Para tal encomendou-se um es- janeiro de 2016.
tudo para trazer à tona a real disponibilidade Existem sim rumores de uma data para que
do combustível com esse teor de enxofre mais o Brasil ratifique o IMO Marpol Anexo VI Tier
baixo para o período estipulado (primeiro de III para níveis de emissões, já no início de 2020.
janeiro de 2020) e aí sim decidir com a imple- Ou seja, além do combustível tipo naval com
mentação global. Ainda existem forças contrá- menor teor de enxofre, podemos ter requisitos
rias que pedem que seja implementado ape- para redução dos gases emitidos através de
nas em 2025, principalmente em função do motores com diferentes tecnologias, mas com
pouco tempo para se prepararem em termos o mesmo intuito de cumprir com a normativa.
de disponibilidade de produto, logística, custo Secretarias do verde e meio ambiente têm se
de produção, dentre outros itens. mostrado a favor da implementação em regi-
46 PORTOS E NAVIOS MARÇO 2017
TRIBUNA
Existem
rumores de
data para
que o Brasil
ratifique o
IMO Marpol
Anexo VI
Tier III para
níveis de
emissões já
no início de
2020
me de urgência. Para tal implementação seria custo de operação (Opex), mesmo que tenha
prudente entender quais seriam as consequ- que investir um pouco mais na contratação
ências desse movimento. Teremos de ter, por e na compra do equipamento escolhido (Ca-
exemplo, a adequação do design das embarca- pex).
ções para o encaixe do sistema de tratamen- Outro vilão é o tipo de combustível necessá-
to dos gases (chamado pós-arrefecimento) e rio para tal operação. Os que têm alto teor de
considerar um custo inicial adicional para tal enxofre não são de forma alguma recomenda-
inclusão (equipamentos com alto valor agre- dos. Por esse motivo, a introdução dessa nor-
gado), sem considerar a dificuldade para o ma- mativa tem de estar vinculada à introdução
nuseio do sistema por ser novo e a procura por dos combustíveis com teor de enxofre próximo
sistemas de exaustão adequados. Hoje temos a 0,1%. Caso contrario haverá vários proble-
escassez de fornecedores capazes de desenvol- mas de operação dessa nova tecnologia, o que
ver tais soluções em nosso território. ocasionará uma dor de cabeça adicional para
Alguns fabricantes de motores a diesel utili- os donos de embarcações.
zam o sistema SCR (Selective Catalytic Reduc- O tema tem de ser mais bem discutido entre
tion), uma das formas mais efetivas de redu- as agências reguladoras, ministério do meio
ção de NOx com a injeção de ureia no sistema ambiente, fabricantes de motores marítimos,
de exaustão, e alguns EGR (Exhaust Gas Recir- fornecedores de combustível, dentre outros
culation) através da recirculação de gases refri- importantes participantes, tanto principais
gerados na câmara de combustão. como coadjuvantes.
Existem alternativas aos motores a diesel Mas ainda assim, na minha opinião, en-
como motores a gas (LNG) — menos eficientes tendo ser um pouco prematuro imaginar que
mas com grande vantagem perante os demais seja possível, em tão curto espaço de tempo,
sistemas, ou dual fuel — onde se pode operar termos todos os envolvidos preparados para a
com diesel e com gás. Além de sistemas inova- data de implementação ora prevista para o dia
dores como a adição de uma bancada de ba- primeiro de janeiro de 2020. n
terias aos motores diesel ou a gás — sistema
híbrido. Todos esses sistemas são desenhados *Diretor da empresa WMS Consulting, graduado em
para atender à normativa. Engenharia Mecânica e Bacharel em Física, com pós-
No final, o que importa para o operador da graduação em Marketing e MBA de Gerenciamento
embarcação é a alternativa que lhe dá menor de Negócios Internacionais.
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MURAL
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9 Fotos 1 a 4 - Flashes do
seminário "Eletrificação e
redução de custos no setor
marítimo", no Rio de Janeiro;
Fotos 5 a 9 - Cerimônia de
batismo do FSV Baru Vega,
armador Baru Offshore Brasil /
estaleiro ETP:
Foto 5 - Juan Carlos Pedroza
(Baru Offshore) e Juliana Dahl
Vélez (madrinha do Baru Vega).
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PRODUTOS E SERVIÇOS
Soluções
Suatrans Marine:
• Elaboração de Plano de Emergência
Individual (PEI);