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PÓS-GRADUAÇÃO – 2011
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Proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem o prévio consentimento, por escrito, da Anhanguera Educacional.
BRANDING E IDENTIDADE CORPORATIVA
1. INTRODUÇÃO
A prática de agregar valor a produtos por meio de uma marca é em si bastante antiga.
Desde a antiguidade, marcavam-se cerâmicas e outros tipos de objetos artesanais
como forma de distinção desses produtos. Ao longo do tempo, a marca toma cada vez
mais esse sentido de distinguir ou ainda de “marcar”. Segundo Keller e Machado
(2006, p. 2), a palavra brand (marca, em inglês), é derivada do termo nórtico antigo
brandr, que significa queimar. Faz referência à prática comum (como ainda é) de
queimar os animais de uma criação para marcar a propriedade sobre eles.
Essa ideia de “marca” foi sendo perpetuada ao longo da história até o pleno
desenvolvimento do capitalismo, prioritariamente até o século XIX, quando então os
comerciantes perceberam que diferenciar determinado produto por meio de um nome
e uma identidade visual poderia auxiliar no aumento das vendas. Esse cenário foi
possível dentro dos Estados Unidos em função de uma série de fatores, como a
melhoria dos transportes, melhoria nos processos de produção e de embalagem,
aumento da industrialização e da população nos centros urbanos e também o aumento
da propaganda em jornais e revistas (Keller e Machado, 2006).
O branding envolve uma série de ações ligadas à marca e não apenas à publicidade e
ao design. Pesquisa, avaliação financeira, questões legais e posicionamento também
fazem parte desse tipo de gestão. Os autores Keller e Machado (2006, p. XV) definem
branding como o “conjunto de atividades que visa a otimizar a gestão de marcas de
uma organização como diferencial competitivo”.
Assim, faz parte do propósito deste texto apresentar as principais ações ligadas ao
branding. Para começar, devemos entender a evolução da gestão do marketing para
chegarmos às estratégias de branding.
A notícia ganhou força rapidamente e alastrou-se pelo país, derrubando o valor das
ações de empresas como Coca-Cola, Procter & Gamble e Nabisco. A razão desse
impacto foi a percepção do mercado de que os consumidores não estavam mais se
preocupando com a marca, mas sim com o preço dos produtos. Isso se deu em função
da recessão por que passava o país na época e a interpretação de alguns estudiosos
do mercado que diziam que havia se chegado ao limite, com a saturação no uso da
publicidade e a conseqüente “cegueira das marcas”, um sintoma pelo qual passavam
os consumidores (Klein, 1999).
O Marlboro Friday é importante nos estudos que envolvem a marca, pois mostrou que
o mercado estava dividido entre dois tipos de estratégias. A primeira seria a estratégia
de produtos de barganha, com preços baixos num mercado altamente competitivo.
Nesse primeiro tipo de estratégia, a marca não importa tanto, o que influi é a estratégia
de vendas. A segunda seria a estratégia de marcas premium. Neste caso, as marcas
estariam atreladas a um campo muito grande da cultura contemporânea, presentes
cada vez mais no espaço cultural e definindo estilos de vida.
Neste campo de expansão, Klein (1999) mostra como as marcas foram expandindo
seu campo de ação. O caso da MTV é emblemático nesse sentido. O canal de música,
entendido como entretenimento, deveria ser um chamariz para anunciantes que
quisessem se comunicar com os jovens. O fato é que o canal conseguiu construiu uma
marca própria que embutia em si uma série de significados. O “barato” não era
simplesmente ver um canal de videoclipes, mas ver a MTV. Dessa forma, conseguiu-
se uma inversão e a marca MTV alcança um status maior. São os anunciantes que,
hoje, solicitam parcerias com o canal, numa estratégia chamada de co-branding.
Passa a ser interessante para esses anunciantes que a marca MTV venha vinculada
aos seus eventos, filmes, shows, roupas e até cartões de crédito.
Outro exemplo interessante citado por Klein (1999, p. 48) é o caso da cervejaria
canadense Molson, que também conseguiu inverter a lógica de funcionamento de
patrocínios de eventos, evidenciando sua marca. O costume entre patrocinadores de
cerveja de aliar sua marca a concertos de rock pode trazer bons resultados. Todavia, o
problema era que, muitas vezes, em vez de chamar a atenção para a marca da
cerveja, o que acabava se destacando na campanha de divulgação do evento era o
nome das bandas, como Soundgarder e Chemical Brothers, muito famosas e queridas
entre o público-alvo almejado pela empresa.
Cansada desse tipo de resultado, a empresa criou, em 1996, o Blind Date Concert
(algo como “concerto do encontro às cegas”). Neste caso, a empresa contratava uma
banda de peso, relevante para seu público-alvo, mas não divulgava qual seria essa
banda. A estratégia causou curiosidade e expectativa entre o público e o nome em
evidência nas campanhas de divulgação do concerto passou a ser o da Molson e não
mais o nome da banda. Dessa forma, a marca ganhou relevância na comunicação
entre os jovens. A ligação dela com as bandas se tornou uma conseqüência posterior
ao evento e não mais o motivo que estava apagando a importância do patrocínio dos
shows.
Hoje, presentes em todos os lugares e fazendo parte da vida cultural das populações
de todo mundo, as marcas têm sido cuidadosamente pensadas de forma a agradar e
criar relacionamento com os clientes. Esse gerenciamento passa pela criação da
identidade da marca. Veremos a seguir quais itens são importantes nessa tomada de
decisão.
2. CONCEITO DE MARCA
Entender a marca do ponto de vista do branding é entendê-la de forma mais ampla do
que simplesmente como a identidade visual de uma empresa ou produto. Uma
definição de marca muito usada é a da American Marketing Association (AMA) que
define marca como “nome, termo, signo, símbolo ou desenho – ou uma combinação
desses elementos – que deve indicar os bens e serviços de uma empresa ou grupo de
empresas e diferenciá-los dos da concorrência” (Kotler, 2005, p. 235).
Além de produtos e serviços, a marca pode estar atrelada a pessoa (Ana Hickman,
Pelé), lugar (Rio de Janeiro, Chicago), eventos (Olimpíadas, Panamericano),
organização (Greenpeace, Doutores da Alegria) ou idéia (diversidade sexual,
reciclagem). Em todos os casos, porém, a marca se relaciona à promoção e à
diferenciação de produtos e de serviços, bem como auxilia a sua visibilidade.
A definição de marca citada pode ser complementada com as idéias propostas por
Kotler (2005) quando ele nos diz que a marca pode expressar vários níveis de
significados, que seriam:
Tais níveis nos mostram a complexidade de significados existentes por trás de uma
marca. O seu entendimento, sob esse aspecto, coloca-nos frente aos desafios do
branding que irá trabalhar com o todo que compõe os valores intangíveis presentes
em uma marca.
2.1. DECISÕES SOBRE A MARCA
A marca individual é adotada por empresas que desejam marcas específicas para
seus produtos e tem como vantagens a maior flexibilidade com relação à escolha do
nome, a melhor segmentação, posicionamento e manutenção da marca. Caso o
lançamento não seja um sucesso, sua retirada do mercado não causa interferências
nos demais produtos da empresa. A desvantagem desse processo é o maior gasto
com estratégias de naming e pesquisa.
Finalmente, a marca mista combina as duas estratégias anteriores. Usa-se uma marca
individual para o produto ao mesmo tempo em que não se abandona a marca manda-
chuva. Neste caso, aposta-se tanto na individualidade do produto quanto no poder de
influência da marca principal. A campanha televisiva da Limpol, por exemplo,
evidencia a marca manda-chuva Bombril presente no cenário do filme.
Outra empresa que faz uso da estratégia de marca mista é a Unilever, pois ela
enfatiza a marca de produtos individualmente e, ao mesmo tempo, trabalha a marca
principal. Assim, conhecemos as marcas Dove, Knorr, Lux e Kibon e a marca da
companhia também nos é bastante familiar.
Fonte:
http://www.cabecadecuia.com/imagem/materias/c973e59751fbc7536deffdc44f5174ed.jpg
Acesso em 30/12/2009.
O slogan é uma frase concisa que deve transmitir uma idéia ou um conceito ligado a
uma empresa, um produto ou um serviço. Também tem fins políticos, quando usados
em ambientes militares ou por governos que procuram trabalhar de forma ideológica
com a população, com o intuito de fazer com que todos se engajem em suas
diretrizes.
No caso das empresas, o slogan pode estar diretamente ligado aos atributos do
produto (Ex.: Natura – bem estar bem) ou representar uma idéia abstrata que constrói
um posicionamento eficaz na mente do consumidor (Ex.: Santander – o valor das
idéias). Para Perez (2004, p. 87), o propósito do slogan é o de “aproximar os
consumidores das marcas e dos produtos que pretende promover. Sua função é
colaborar para a fixação e o reconhecimento da marca”.
A identidade da marca passa também pelo aspecto visual de seus componentes. Eles
são responsáveis por transmitir uma série de elementos aos consumidores que vão
construir a imagem da marca nas suas mentes. Kapferer (2003) oferece um modelo,
simplificado para fins didáticos, para entendermos esse processo. O modelo parte do
princípio de que a construção de uma marca está ligada a um processo de
comunicação. Vejamos:
IMAGEM E IDENTIDADE
Fluxograma 1. Imagem e identidade.
Ruído da
concorrência
Além dos sinais verbais já citados, os sinais visuais também fazem parte da identidade
da marca. As cores integram esses sinais e devem estar ligadas ao perfil desejado
pela empresa. Escolher as cores é um processo cuidadoso, já que se trabalha com
aspectos psicológicos, culturais e biológicos (funcionamento do aparelho óptico).
LARANJA VERDE
(SECUNDÁRIA) (SECUNDÁRIA)
VERMELHO AZUL
(PRIMÁRIA) (PRIMÁRIA)
VIOLETA
(SECUNDÁRIA)
Fonte: Adaptado.
Em termos culturais, as cores podem trazer significados particulares em uma
determinada região ou país. Podem ainda estar atreladas a uma crença, tradição ou
religião. Abaixo, alguns exemplos do uso de cores nesse sentido.
Como síntese do que discutimos até agora, temos o logotipo, que representa uma
espécie de junção do nome com o símbolo escolhido pela empresa e constitui, desse
modo, sua identidade visual principal. É a ponte que estabelece a familiarização
imediata do consumidor com a marca. Segundo Perez (2004, p. 52), “o logotipo é a
chave de acesso imediato ao universo representativo da marca. Provido de facilidades
sígnicas, o logotipo deve reunir a essência do que se quer comunicar”.
Fonte: http://www.biggameclube-portugal.com/images/Fotos%20Artigos/Logo_WWF.jpg
O logo da ONG (Organização Não Governamental) WWF (World Wide Fund for
Nature) faz uso de um símbolo (o desenho do urso panda) e as letras do seu nome.
Trata-se, pois, de um nome fácil de ser gravado e de ser pronunciado.
A marca da instituição já está tão bem conceituada no mercado que ao vermos o urso
já sabemos se tratar dessa ONG. O desenho também nos mostra que ela está
preocupada com os animais e com o meio ambiente. Além disso, o logo dessa ONG
facilita a identificação da marca em função da simplicidade e contraste. Considerando-
se o todo, a escolha feliz do tema do desenho estilizado e o nome curto da instituição
facilitam a identificação da marca (Castro e Silva, 2009).
A lei base que organiza o registro de marcas e patentes é a lei nº 9279/96. Essa lei
regulariza uma série de aspectos com relação ao registro de marcas. Destacamos, a
seguir, alguns itens relevantes para nosso estudo.
O primeiro cuidado que se deve tomar é com relação à validade da marca. Há uma
série de requisitos que podem impedir o seu registro. Nomes muitos genéricos, que
façam parte da linguagem popular, por exemplo. É o caso de nomes como
Transportadora Nacional ou Grande Hotel (Keller e Machado, 2006). Deve-se tomar
cuidado também com símbolos que se pareçam com marcas já existentes da mesma
categoria ou que causem confusão entre os consumidores.
Verificados os quesitos para a validade das marcas, parte-se para o registro. Após o
depósito do pedido de registro pelo interessado, o INPI realiza uma busca para
verificar a disponibilidade da marca e demais cumprimentos legais.
Uma vez concedido o pedido, a empresa pode utilizar a marca em todo o território
nacional, ceder direitos, licenciar produtos e usufrui do poder de protegê-la, quando
necessário.
Tomadas, a princípio, como o sinal que distingue uma determinada empresa, produto
ou serviço dos demais concorrentes, as marcas começaram a ser entendidas, então,
como patrimônio das empresas e, portanto, como parte significativa dos negócios.
Em função dessa importância, as decisões sobre a marca passaram a ser muito bem
pensadas. Para uma correta tomada de decisão acerca da marca, deve-se começar
com a prática do naming e a identidade verbal. Depois, observa-se a identidade visual
e os itens que a compõem (cores, formas e o logotipo). Finalmente, deve-se atentar
aos aspectos legais que envolvem o registro e a proteção da marca. Checar
viabilidade e conformidade com a lei evita desperdício de tempo e dinheiro, além de
contribuir para a correta proteção da marca criada.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASTRO, Márcio Sampaio de; SILVA, Tarcisio Torres. Competências Profissionais.
Valinhos: Anhanguera Educacional, 2009. Material Didático.
KELLER, Kevin L.; MACHADO, Marcos. Gestão estratégica de marcas. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2006.
http://www.mundodomarketing.com.br/26,671,naming-o-desafio-de-dar-nomes-no-
marketing.htm
Fonte: http://greensmoke.com/blog/evolution-of-the-marlboro-man/
Acesso em 29 de dezembro de 2009.
Ana Hickman
A ex-modelo e apresentadora usufrui de seu sucesso por meio de grife que leva seu
próprio nome. Entre os produtos da grife estão moda praia, moda íntima, óculos,
bolsas, acessórios, jeans, esmaltes, sandálias e câmeras.
Site: http://www.anahickmann.com.br/#produtos
Naming
Na estratégia de naming da agência A La Carte, a primeira linha de corantes a frio do
mercado Brasileiro, fabricada pela empresa Guarany, ganhou o nome de Colo[r]
evolution. No site da agência, encontramos a justificativa: “Colo[r]evoluion deixa a ótica
de vender corante têxtil para trás e passa a vender um estilo de vida baseado na
essência “ATITUDE CUSTOMIZADA”.”
A linguagem e as embalagens foram criadas a partir desta estratégia e trazem as
imagens das pessoas com os respectivos significados de cada uma das cores.
Linha Colo[r]evolution, da Guarany
Fonte: http://www.alacarte.net.br/cases/colorevolution
Acesso em 30 de dezembro de 2009.
Coca-Cola
Perez (2004, p. 88) mostra os slogan da Coca-cola nos últimos anos:
Até 1942 - Deliciosa e refrescante;
1942 – 1950 - A pausa que refresca;
1951 – 1965 - Isto faz um bem;
1966 – 1971 - Tudo vai melhor com Coca-Cola;
1972 – 1976 - Isso é que é, Coca-Cola;
1977 – 1982 - Coca-Cola dá mais vida;
1983 – 1989 - Coca-cola é isso aí!
1989 – 1993 - Emoção pra valer!
1993 – 1999 - Sempre Coca-Cola;
2000 – 2001 - Curta Coca-Cola;
2001 - Gostoso é viver...
2002 - Essa é a real;
Significados Particulares
Abaixo, algumas explicações de logotipos de montadoras e a relação cultural com o
país ou região de onde são provenientes.
Alfa Romeo
Nissan
Logo Nissan.
Fonte: http://www.perkons.com.br/?page=curiosidades&pageid=34&pagina=2
A moldura azul (cor do céu e do sucesso na cultura japonesa) e um círculo vermelho
ao fundo (que representam a luz do sol e a sinceridade) remetem ao provérbio
"sinceridade leva ao sucesso". Nissan significa "indústria japonesa".
Peugeot
Logo Peugeot.
Fonte: http://www.perkons.com.br/?page=curiosidades&pageid=34&pagina=2
Facilidades Sígnicas
O novo logo do grupo Pão de Açúcar é um bom exemplo das qualidades presentes
nos signos (textos e imagens, neste caso) que foram usados na marca nova. Auxiliam
a melhor interpretação da marca pelo consumidor.
Segundo depoimento, no site da empresa, de José Roberto Tambasco, vice-
presidente executivo do Grupo Pão de Açúcar:
“Em sessenta anos de história, esta é a sexta vez que mudamos a logomarca da rede
Pão de Açúcar. Essa atitude mostra nosso compromisso com as mudanças e
tendências de comportamento e as adequações que temos que fazer ao longo dos
anos para melhor atender e responder às mudanças e expectativas dos nossos
consumidores”. Para ele, a nova marca traduz essa atitude de inovação.
Novo logo do Pão de Açúcar.
Fonte: http://logobr.wordpress.com/2009/07/14/novo-logo-pao-de-acucar-logobr
Acesso em 30 de dezembro de 2009.
A análise da marca incluiu pesquisas qualitativas e quantitativas e análise semiótica.
Com relação aos significados da marca, a empresa afirma que a luminosidade do logo
mostra a transparência da empresa e o frescor dos alimentos vendidos nas lojas. O
formato arredondado dos morros está ligado ao calor humano, há um traço contínuo
que contorna os dois morros, dando a idéia de infinito. “Os nossos morrinhos estão
mais leves e joviais e reforçam os valores do Pão de Açúcar, como confiança e
qualidade”, afirma o vice-presidente no site da empresa.
Matéria completa disponível em:
http://www.grupopaodeacucar.com.br/imprensa/default_area.asp?idNoticia=7432&cod
_area=1.
Acesso em 30 de dezembro de 2009
Lei nº 9279/96
A lei completa está disponível no seguinte endereço:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9279.htm
INPI
O próprio requerente pode fazer uma pesquisa prévia no site do INPI, digitando o
nome pretendido. Clicar em “pesquisas” e depois “marcas” a partir do endereço
abaixo:
http://www.inpi.gov.br