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PRINCIPAIS FUNÇÕES DO FÍGADO

// by Dr. Pedro Pinheiro ▸ 27 Agosto 2018Arquivado em: Gastroenterologia, Hepatologia -


Doenças do Fígado

O QUE É O FÍGADO?

O fígado é um órgão vital, sem o qual não é possível sobreviver. Além de ser o maior órgão
sólido e a maior glândula do corpo, ele também é responsável por centenas de funções no
nosso organismo.

O fígado é um grande órgão maciço, com aproximadamente 20 cm de diâmetro, 17 cm de


altura e peso médio de 1.4 quilo, localizado no quadrante superior direito da cavidade
abdominal, logo abaixo do diafragma.

O seu suprimento sanguíneo é feito por duas vias, pela artéria hepática (20-40%) e pela veia
porta (60-80%). O fígado é um órgão tão vascularizado que chega a receber 1.5 litro de sangue
por minuto.

Uma das suas mais interessantes caraterísticas é a incrível eficiência para se regenerar, sendo
ele capaz de retornar ao tamanho normal mesmo após ter mais de 50% do seu volume
retirado cirurgicamente.

O fígado é uma complexa fábrica orgânica, com centenas de funções, entre as mais
importantes, remover toxinas do sangue e processar alimentos vindos dos intestinos.
FUNÇÕES DO FÍGADO

As células do fígado, chamadas hepatócitos, contêm milhares de enzimas que são responsáveis
pela metabolização das substâncias presentes no sangue, sejam elas benéficas ou prejudiciais
ao nosso organismo. O fígado também é capaz de armazenar nutrientes e outras substâncias
úteis, além de produzir proteínas e vitaminas essenciais para nossa saúde.

A ciência já conhece mais de 500 funções do fígado, vamos falar resumidamente das
principias:

METABOLIZAÇÃO DOS NUTRIENTES DIGERIDOS

O processo de digestão consiste na quebra dos nutrientes em moléculas cada vez menores, até
o ponto delas poderem ser absorvidas pela mucosa dos intestinos e depois lançadas na
circulação sanguínea.

Toda a circulação sanguínea do trato digestivo drena em direção à veia porta, de forma que
nenhum nutriente ou substância ingerida consiga chegar ao resto do organismo sem antes
passar pelo fígado.

Este processo é de suma importância, pois é o fígado quem controla quanto, qual, em que
forma cada substância originada da alimentação passará para o resto do corpo. Exemplos:

a. Gorduras

O processo de digestão quebras as gorduras em moléculas pequenas, chamadas ácidos graxos


e glicerol. São estas as moléculas absorvidas pelos intestinos e lançadas em direção à veia
porta. No fígado essa gordura é transformada em diversas substâncias, como fosfolipídios ou
colesterol, que são essenciais na produção de nossas células.

O fígado também usa as gorduras para sintetizar lipoproteínas, como o HDL, VLDL, e LDL, que
são as moléculas responsáveis pelo transporte de colesterol pelo sangue (leia: COLESTEROL
HDL | COLESTEROL LDL | TRIGLICERÍDEOS).

O fígado também é quem determina se a gordura ingerida será usada para gerar energia ou
será armazenada. Se o indivíduo consome gorduras em excesso, o fígado transforma o glicerol
e o ácido graxo em triglicerídeos, armazenando-os no tecido subcutâneo, criando camadas de
tecido adiposo (os famosos pneuzinhos). De forma oposta, se o corpo precisar de fontes extras
de energia, o tecido adiposo quebra os triglicerídeos novamente em glicerol e o ácido graxo,
enviando-os de volta para o fígado para que eles possam ficar disponíveis como fonte de
energia para as células (leia: O QUE SÃO OS TRIGLICERÍDEOS?).

b. Proteínas

O processo de digestão quebra as proteínas ingeridas em moléculas chamadas aminoácidos. O


fígado é o órgão que decide o destino destes aminoácidos, podendo utilizá-los como:

 fonte para produção de proteínas essenciais para o organismo, como albumina,


globulinas, lipoproteínas, fatores da coagulação, etc;

 fonte para formação de massa muscular;

 fonte para produção de gordura, pois, caso necessário, o fígado consegue transformar
aminoácidos em triglicerídeos, num processo chamado lipogênese;

 fonte para produção de glicose, em um processo chamado gliconeogênese.

Pacientes com doenças graves do fígado apresentam níveis baixos de proteínas no sangue,
principalmente albumina. A perda de massa muscular também é comum devido à perda de
capacidade de lidar com os aminoácidos recebidos da alimentação. A deficiência de fatores da
coagulação faz com que estes pacientes apresentem maior risco de sangramentos.

A digestão das proteínas produz aminoácidos, mas também gera a amônia, uma substância
tóxica para o organismo. O fígado é o responsável pela metabolização da amônia,
transformando-a em ureia, uma substância infinitamente menos tóxica. Pacientes com cirrose
e falência hepática perdem a capacidade de metabolizar a amônia, fazendo com que a mesma
se acumule no corpo, levando à chamada encefalopatia hepática, um processo de intoxicação
dos neurônios.

Leia também: O QUE SÃO PROTEÍNAS E AMINOÁCIDOS?

c. Glicose

Os carboidratos ingeridos são transformados em moléculas de glicose, que é a principal fonte


de energia das células. Quando chega uma grande quantidade de glicose ao fígado, ele libera
uma parte em direção à circulação sanguínea e armazena outra sob a forma de glicogênio,
para que esta possa ser usada como fonte de energia nos períodos de jejum ou atividade física.
Se o fígado já está cheio de glicogênio, mas o indivíduo continua ingerindo carboidratos em
excesso, o mesmo passa a ser transformado em triglicerídeos (lipogênese), sendo enviado para
os tecidos subcutâneos. É por isso que comer muito carboidrato engorda.

Pacientes com grave doença hepática podem apresentar hipoglicemias, pois o fígado já não
consegue armazenar glicose na forma de glicogênio, fazendo com que o paciente não tenha
reservas de glicose facilmente disponíveis nos períodos de jejum.

Metabolização de substâncias tóxicas

Assim como os nutrientes, qualquer outra substância ingerida também passará pelo fígado
antes de chegar ao resto do organismo, incluindo remédios, drogas, toxinas ambientais e
álcool.
Os hepatócitos são ricos em citocromo P450, o nome dado a uma família de enzimas que têm
a capacidade de metabolizar, inativar e facilitar a eliminação pelos rins de diversas substâncias.

O exemplo mais famoso do processo de desintoxicação realizado pelo fígado é a


metabolização de bebidas alcoólicas. O álcool é uma substância extremamente tóxica, mas
que até certo ponto pode ser consumida, pois o fígado tem a capacidade de transformá-lo em
ácido acético, uma metabólito muito menos tóxico e facilmente eliminado pelos rins através
da urina. Se você quiser informações mais detalhadas sobre esse processo de metabolização
do álcool pelo fígado, leia: O QUE É A RESSACA?

O fígado também é capaz de desativar substâncias produzidas pelo próprio corpo, como
hormônios, impedindo que haja excesso dos mesmos circulando pelo sangue.

Pacientes com doenças hepática devem evitar álcool e determinados medicamentos, pois o
fígado já não será mais capaz de metabolizá-los adequadamente.

Produção de bile

Nossas hemácias (glóbulos vermelhos) são células que têm uma vida média de 120 dias.
Quando ficam velhas, elas são levadas para o baço, onde são destruídas. Um dos produtos
liberados neste processo é a bilirrubina, um pigmento amarelo-esverdeado. A bilirrubina
produzida no baço não é solúvel em água e, portanto, não pode ser eliminada pelos rins,
cabendo ao fígado este papel.

A bilirrubina é metabolizada no fígado e acrescentada a bile, uma substância que auxilia na


digestão de gorduras. A bile produzida pelo fígado é parte armazenada na vesícula biliar e
parte liberada no intestino, para facilitar o processo de digestão. A presença da bilirrubina na
bile é a responsável pela cor marrom das fezes. Pacientes com doenças no fígado ou nas vias
biliares que impeçam a drenagem de bile para os intestinos apresentam problemas de
digestão de gorduras e fezes esbranquiçadas.

Se o fígado perder a capacidade de metabolizar e excretar a bilirrubina, a mesma se acumula


no sangue e acaba se depositando na pele, tornando-a amarelada, um sinal que chamamos de
icterícia (leia: ICTERÍCIA | Neonatal e adulto).

Produção de substâncias essenciais ao organismo

Além da produção de proteínas importantes, como albumina e fatores da coagulação, já


explicados acima, o fígado também é capaz de produzir, metabolizar e armazenar uma grande
diversidade de outras substâncias, como vitaminas e ferro.

Destruição de bactérias e outros germes.

O fígado possui células de defesas, chamadas células de Kupffer, capazes de eliminar germes e
fragmentos de células mortas que passem pelo fígado.

Se você quiser ler sobre as principais doenças do fígado, acesse nosso arquivo sobre doenças
hepáticas: ARQUIVO DE HEPATOLOGIA.

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