Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Linha:
Estudo Empírico dos Ensinamentos da AMORC e o
Diálogo com a Ciência.
Orientação:
Prof. Dr. Luiz Eduardo V. Berni, FRC
Grupo de Pesquisa
Fundamentos do Rosacrucianismo e do
Desenvolvimento Humano numa
Perspectiva Transdisciplinar (GP R+C Trans)
3
Catalogação na publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Universidade Rose-Croix Internacional
Jurisdição de Língua Portuguesa
CDD 150
4
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr.
Instituição: --------------------------------------------------
Prof. Dr.
Instituição: --------------------------------------------------
Prof. Dr.
Instituição: --------------------------------------------------
Comentários:
5
AGRADECIMENTOS
À Ordem Rosacruz – AMORC por tudo o que sou hoje e pelo que aprendi nestes
anos, pela confiança em mim depositada e pela oportunidade de realizar esta pesquisa.
constante durante toda a pesquisa, pela confiança e apoio nos momentos mais
ideias.
À minha família, em especial minha irmã Lucia Maria, pelo apoio incondicional.
vivido e aprendido com todos e pela oportunidade concedida de realizar esta pesquisa.
6
LISTA DE SIGLAS
MC - Medicina Convencional
MT - Medicinas Tradicionais
NP - Níveis de Percepção
NR - Níveis de Realidade
Único de Saúde
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.........................................................................................................12
INTRODUÇÃO...............................................................................................................14
1ª PARTE – FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS....................................19
1. Fundamentos do Conhecimento Tradicional da AMORC.........................................20
1.1. A Psicologia do Esoterismo Rosacruz da AMORC......................................20
1.2. A Personalidade-alma e suas Potencialidades............................................28
1.3. A Evolução da Consciência e a Consciência Cósmica................................35
2. Fundamentos Científicos...........................................................................................49
2.1. Construtivismo Vigotskiano ................................................................................49
2.2. A formação social da mente e a relação entre pensamento e linguagem .........53
a) Do uso de instrumentos e de símbolos à internalização das funções
psicológicas superiores................................................................................53
b) A unidade pensamento e linguagem............................................................59
c) As raízes genéticas do pensamento e linguagem........................................61
d) O papel do brinquedo no desenvolvimento..................................................65
e) O desenvolvimento de conceitos.................................................................69
f) O Desenvolvimento de conceitos científicos na infância ............................77
g) Pensamento e palavra.................................................................................85
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................176
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................177
APÊNDICE...................................................................................................................180
GLOSSÁRIO ................................................................................................................181
9
RESUMO
por Basarab Nicolescu como mediadora desse diálogo hermenêutico, que foi realizado
Descalvado, SP, entre 2009 e 2012, em um estudo de caso ex post facto onde se
desorganização da linguagem.
PALAVRAS-CHAVES:
ABSTRACT
PAES DE BARROS, Renata.
THE DIALOGUE BETWEEN THE KNOWLEDGES THROUGH
TRANSDISCIPLINARITY: THE SCIENTIFIC KNOWLEDGE OF VIGOTSKI
CONSTRUCTIVISM AND THE TRADITIONAL KNOWLEDGE OF THE WESTERN
ESOTERICISM OF THE ANCIENT AND MYSTICAL ORDER ROSICRUCIAN –
AMORC APPLIED ON REORGANIZATION OF THE LANGUAGE
The aim of the following research was establish a dialogue between two different kinds
of knowledge: The Traditional Knowledge of the Western Esotericism of the Ancient and
scientific knowledge related to the Russian psychologist Vigotski, and its concept of
Thought and Language, with focus on the importance of the Play. The
dialogue. The hermeneutic results of this dialogue were applied by the researcher in an
ex-post facto study, in a single case. The application was on Speech and Language
Therapy “recovery of language” on the Public Health Service (SUS) in a small country
town of the state of Sao Paulo, in Brazil, between 2009 and 2012. The patient, male, 13,
KEYWORDS:
RÉSUMÉ
Basarab Nicolescu a été définie en tant que médiatrice de ce dialogue, qui a été mené par
Brésil (SUS) dans la municipalité de Descalvado, état de São Paulo, entre 2009 et 2012, et
présenté à partir d’une étude de cas où l’on a réussi la réorganisation du langage d’un
MOTS-CLÉS :
APRESENTAÇÃO
cientifica que serão aproximadas, bem como da abordagem mediadora dessa aproxi-
A segunda parte é iniciada com uma discussão teórica, em que se busca o diá-
so clínico analisado, para por fim discutir o caso à luz dos conhecimentos que foram
aproximados.
INTRODUÇÃO
O estudo da linguagem sempre me fascinou, tanto que meu curso superior foi
universo científico sempre fiquei instigada a buscar outras abordagens teóricas que
pudesse contemplar o que não estava visível. Como fonoaudióloga, vivenciei situações
em que o trabalho impôs outro olhar para as dificuldades de linguagem e uma maneira
diferente de entender a pessoa que busca recuperar a linguagem falada. Esse "falar"
particular, social e espiritual da pessoa que por variados motivos, seja neurológico,
linguagem passou a ter uma abrangência maior e o olhar clínico ampliou-se, pois como
estão integrados? A questão que sempre esteve presente nesta busca foi compreender
místico.
Há muitos anos, atendi uma criança de uns 12 anos com Paralisia Cerebral do
controle de corpo, não falava, mas que me tocava profundamente porque ela falava
comigo pelo olhar. Sentia em seu olhar uma mistura de alegria, contentamento e um
sofrimento resignado. Foi a partir disso que comecei a procurar algo de espiritualidade
menina. Compreendi que a “alma” fala e se expressa para além das limitações físicas
Num mundo impregnado pelo cientificismo tudo o que não é da técnica pela
casos clínicos há alguns anos com alunos de graduação, com maior profundidade e
complexidade, já fui chamada de “bicho grilo”. Como fonoaudióloga que atuava no SUS
– Sistema Único de Saúde – o viés cientificista ainda vigente, tanto por parte de
profissionais quanto dos próprios pacientes e familiares ainda é uma realidade e uma
limitação, mas acreditei que era possível ir além, por isso me propus essa investigação.
que Piaget teve, desde a década de 70 (século XX), maior influência na Educação e na
profissionais tiveram, e ainda hoje têm acesso. Após a ditadura militar, surgiram no
Brasil outros estudos sobre a linguagem com as ideias de Vigotski, entre outros russos,
mas ainda hoje seus trabalhos não foram publicados em sua totalidade (BACHA e
OSÓRIO, 2004).
sempre tive o referencial teórico de linguagem de Piaget, como muitos de meus pares.
linguagem não deve ser “reabilitada” do ponto de vista clássico, mas sim reorganizada
ao ato de tornar um sujeito, com condição dita patológica, apto, capaz de desempenhar
atos de sua vida que não consegue realizar. Nesse sentido o que está afastado de uma
norma, ou do que é considerado normal, deve ser tratado para recuperar, restabelecer
funções alteradas. O termo reorganização será utilizado para referir-se aos estudos de
desorganizados.
tecido conceitual, uma urdidura que vai sendo construída ao longo da vida, juntamente
social.
pois há alguns anos percebi que em alguns momentos tenho dificuldades para manter
falada, quer dizer, não entendia corretamente o que as pessoas falavam apesar de
de compreensão.
17
núcleos conceituais que percebia que se referiam ao que a pessoa estava falando, o
Percebia que havia algo interno que funcionava como um leme de barco e que
eficiente: a fala fica atrapalhada e mais predicativa por economizar elementos para
conseguir construir e falar uma frase correta e inteligível, e eu também tentava por
comunicar. Este norteador interno vai ajudando a construir essa significação e percebi
que no trabalho clínico tento fazer isso como uma reorganização, ou melhor, uma
Assim, este projeto de pesquisa teve como objetivo abordar, por meio da
podem ser acessados através da linguagem exterior até se chegar à linguagem interior,
percepção de si, de sua vida e a necessidade de uma solução para o problema que o
da potencialidade pura, espera-se que essa resposta seja enviada por uma inspiração
ou intuição, a qual poderá ser considerada como premissa maior pela mente
subconsciente.
conceito;
1ª PARTE
FUNDAMENTOS TEÓRICO-
METODOLÓGICOS
___________________________________
rosacruzes, objeto desse estudo, vou recorrer a três autores dos quais farei uma breve
Primeiramente, para uma visão geral, me reporto a Berni (2010) que, a partir de uma
Cósmica.
Assim, Berni afirma que ser esotérico ou místico é aprofundar-se em seu pensamento e
das grandes tradições perdeu força diante do cientificismo e foram, e ainda são
excluídos dos currículos da maioria dos cursos de Psicologia. Nesta ciência, aliás,
Apesar de não haver uma definição exata e única para o que vem a ser Psicologia,
pode-se entendê-la, segundo Ken Wilber (2000, apud Berni, 2010, p.113) como “a
ciência que estuda a consciência humana, suas estruturas, estados e modos, assim
dos potenciais inerentes aos seres humanos, a partir da capacidade de escolha e das
Psicologia Humanista, sendo mais abrangente que esta, e com o foco mais no cosmos
22
2010, p.117).
Educação.
2010, p.118-119).
funcionando sob a ação de princípios ou leis, regidos por lógicas específicas. São
Cósmico e o Ser Humano, tendo cada um, natureza dual, sendo estático e dinâmico,
sagrado e profano. Apesar desta concepção trina, o universo é unificado como uma
grande teia cósmica, entendido como um corpo único e vivo e como consciências
humanas, somos parte desse corpo vivo, desta teia cósmica. (BERNI, 2010, p.120).
ou livre arbítrio. Este universo manifesta-se em ritmos e ciclos, os quais são estudados
pela Psicologia do Desenvolvimento, cujos temas são: ciclos da vida e sua influência
no comportamento, Destino (Carma), Livre Arbítrio, entre outros (BERNI, 2010, p.120).
localização da psique humana, tendo como temas: Eu Interior (Self), Eu Exterior (Ego),
corpo físico, tendo dois núcleos, um interior chamado Eu Interior ou Self e outro
24
potencialidades da pessoa, ou seja, tudo o que a pessoa pode vir a ser, biológica,
circulação da energia psíquica desses dois núcleos cria um terceiro nível, o Nível da
regidas por leis próprias, sendo cada nível composto por zonas de não resistência,
autopercepção e percepção de realidade de cada um dos níveis, até atingir o mais alto
consciência. Isto quer dizer que este fluxo intenso torna possível a atualização dos
movimento de transcendência.
26
dinâmica e influência na formação dos hábitos, temas que são o foco de estudo da
Psicologia Rosacruz Funcional. Essa pode ser considerada uma Psicologia Aplicada,
2010, p.132).
através dos cinco sentidos físicos e atua sobre os atos voluntários como a memória e o
é realizada com base nas percepções emocionais e racionais ou mentais, e por isso
encontra alterado. Podemos pensar que a terapia de linguagem atua nos níveis de
própria consciência.
verdadeira, pois toda informação consistente que chega a ela é considerada verdadeira
imperativa e é o elemento chave desse funcionamento, sendo que essa sugestão pode
também contribui para a consolidação dos afetos positivos e negativos, os quais irão
percepção. Com isto, a AMORC entende que a expansão das diferentes percepções
resolver os problemas. No inicio do século XX, fundou a AMORC nos EUA e, a partir de
29
até o momento em que o homem começou a elevar seus pensamentos para além de si
Essa busca, ainda hoje, realiza-se pela compreensão dos mistérios da alma e do ser.
da encarnação da alma num corpo físico, bem como o objetivo ou a missão dessa alma
humano ter várias vidas na Terra e de não haver clara compreensão da razão pela qual
a alma humana não pode continuar a existir sem a necessidade de se encarnar num
corpo físico. Quanto a essas críticas, Lewis pontua que a doutrina da reencarnação
parte do fato de que o homem está encarnado no corpo físico vivendo na Terra e não
corruptível e mortal. Quando o corpo físico não pode mais conter a essência anímica,
imortal passa por uma mudança ou transição e permanece em seu estado eterno.
tem recebido muitos nomes e a denominação mais generalizada é alma, termo que
está associado à palavra sopro. Esse sopro seria uma “[...] vitalidade etérea que emana
tudo o que existe” (LEWIS, 1993, p.36; 49). Tanto nas religiões judaica quanto cristã há
mente. Porém há uma distinção entre a alma e o espírito, sendo esse último, “[...] a
p.52).
cósmica, tem certas funções e atributos, como uma espécie de consciência divina, a
qual pode ser chamada de “Mente Infinita” (LEWIS, 1993, p.52). Essa “Mente Infinita”
tem as faculdades de audição, visão, tato, paladar e olfato como no corpo físico, porém
impressões são recebidas e traduzidas pela consciência física nos termos dos cinco
pois a alma humana é parte integrante da Alma Universal e todos os pensamentos que
porque só existe uma única alma no universo, a Alma Universal ou Alma Absoluta que
dessa, mantendo eterno contato com a Alma Universal (LEWIS, 1993, p.53).
Lewis (1993, p.155) explica esse ponto com o exemplo da corrente elétrica: a
sendo essas lâmpadas como as almas humanas individuais. Logo, todas as almas
Universal, pois essa energia passa por cada corpo e nele se manifesta. Porém, para
sem ela o corpo físico não teria vida. Cada segmento individual da Alma Absoluta, ou
personalidade, o qual tem mente e consciência com memória. A alma do ser humano
irradia luz como efeito da essência e vitalidade anímica presente no corpo, a qual se
cósmicos, os quais só podem ser obtidos por meio espiritual, visto ser um
consciência das células do corpo e da presença da alma humana nele. Isto significa
que o corpo físico do homem apresenta uma constituição tal que permite que a alma do
fundante da evolução da alma, da alma do símio para a alma do homem (LEWIS, 1993,
p.56). Nas palavras de Lewis (1993, p.57), “O maior elo perdido dessa cadeia
para a alma do homem. E ninguém pode considerar seriamente a busca desse elo”.
evoluirão à medida que a alma tiver mais oportunidade de se expressar e dominar seus
Têm-se, então, três razões para a encarnação da alma no corpo físico (LEWIS,
1993, p.60): a necessidade de ter experiências terrenas, o ser humano deve adquirir
éticos que formam o código de vida de uma pessoa, sendo o caráter e a individualidade
65). A personalidade interior constitui na fase mental, aquilo que se tornou verdadeira
moral, refere-se aos princípios adotados como código de vida; a personalidade interior
p.66-68).
(LEWIS, 1993, p.87, grifo do autor), ou seja, é a memória perfeita de todas as suas
escolha – Livre Arbítrio, para aceitar ou recusar os impulsos de sua memória completa,
porém tem débitos e créditos, o qual não pode evitar (LEWIS, 1993, p.88). O Carma ou
que não há vingança porque o Carma exige apenas justiça, não só para aquele que
errou, mas para todos os envolvidos. “O Carma retém exclusiva responsabilidade por
34
sua própria operação, já que o homem concordou com isto quando decidiu” (LEWIS,
1993, p.88-89).
físico. Porém a hereditariedade não explica, por si só, as diferenças físicas entre
personalidade que ocorre durante a encarnação no corpo físico é mais do que uma
necessidade.
“Tem de existir uma lei de evolução (mudança), da qual resulte nova forma
para a mente, o caráter, a personalidade e a alma do homem, assim como
existe essa lei para o corpo físico. Concomitantemente com a gradual e
progressiva evolução do corpo físico do homem, no passado, deu-se a
progressiva evolução de sua alma” (Lewis 1993, p.101).
Universal de que o ser humano está intimamente dotado. Ao encarnar no corpo físico,
que desenvolveu sob o impulso do Eu Interior. Sendo a natureza humana dual, a parte
real do homem é sua consciência ou essência infinita que constitui seu Eu Interior, que
também pode ser chamada de Mente Infinita. A Mente infinita tem as faculdades de
audição, visão, olfato, paladar e tato que funcionam de forma amalgamada, num canal
através dos ciclos de nascimento e renascimento e, para isso, quanto mais o ser
humano eleva sua consciência objetiva e se torna mais sensível aos influxos da Alma,
distrito da cidade de Ontário. Seu pai era um brilhante erudito, conhecia sete idiomas e
tinha uma biblioteca com milhares de livros. Richard não teve educação formal e seu
pai ensinou-o Latim e deixou-o mergulhar na sua biblioteca para aprender sozinho. Aos
sete anos sua mãe faleceu e aos dezessete sua madrasta também faleceu e então
decidiu sair da fazenda e ver o mundo. Cruzou a fronteira para os Estados Unidos,
trabalhou em vários lugares, entre eles Ohio, Nevada, Salt Lake. Trabalhou como
foi amputada. Um ano depois estava recuperado e tinha 21 anos, o que fez com que
herdasse a parte de sua mãe na fazenda e resolveu usar o dinheiro para cursar
Medicina. Teve uma carreira médica notável e foi professor universitário. Em 1867 uma
em 1879 publicou seu primeiro livro “A Natureza Moral do Homem”. Em 1894 a questão
mental da Humanidade, a qual à medida que se tornar mais comum a todos elevaria a
era dotado apenas de consciência simples, andava ereto, não sabia o que era pecar ou
sentir vergonha, não tinha conhecimento do bem e do mal e nem noção de atividade
noção de pecado e aprendeu a trabalhar para atingir metas. Essa situação continua há
eras, segundo Bucke, e a solução para essa situação ou libertação é ascender uma
37
vez mais até atingir a Consciência Cósmica, sendo essa consciência a que destrói o
a consciência simples, que se refere à consciência de seu corpo e das coisas ao seu
redor, mas não de si mesmo ou de seu ego; a autoconsciência, que lhe permite ter
permite tratar de seus próprios estados mentais como objetos de consciência, sendo a
estas ser entendidas como uma “teoria geral da evolução psíquica” (BUCKE, 1996,
p.453).
perceptos não podiam mais ser elaborados e registrados pelo intelecto e com o
contínua evolução e registro dos receptos, após muitas gerações, os receptos foram se
ao seu redor, mas não de si ou de seu ego. Houve nova transcendência quando o ser
humano agrupou os perceptos e receptos, que não podiam mais ser elaborados e
seja, o recepto precisa ser marcado com um signo que o represente, sendo esse a
esse o intelecto conceptual ou mente conceptual (BUCKE, 1996, p.46). Ao afirmar que
verdadeiras.
espécie humana, há milênios. É interessante observar que a primeira edição deste livro
data de 1898 e Bucke diz que as primeiras palavras das crianças surgem com três
anos e hoje, século XXI observamos que as primeiras palavras surgem entre um e dois
quando o organismo psíquico [...] estava pronto para produzi-la” (BUCKE, 1996, p.59).
atos instantâneos, enquanto a natureza moral ou emocional é a parte que sente sendo
Porém, não há como dizer a partir da observação da mente, como esses conceptos
evolução, pois “[...] a linguagem é o equivalente exato do intelecto: para todo concepto
há uma palavra ou palavras e para toda palavra há um concepto; nenhum dos dois
pode existir sem o outro” (BUCKE, 1996, p.61). Desta forma, a evolução do intelecto e
40
Bucke (1996, p.66) parte dos estudos da Filologia e da teoria de Darwin para
pode-se pensar que o ser humano começou a pensar com bem poucos conceptos e
nossa época”. Assim, pode-se analisar a evolução da consciência por meio do exame
qual, através da analise das línguas pode-se ter uma ideia do que o intelecto humano
Segundo Bucke, o sentido da cor é de data recente, visto que os escritos antigos como
fragrância também não era citado em escritos antigos como no Cântico dos Cânticos,
como o sexual e maternal é bem antigo, mas a natureza moral humana é mais recente
faculdade nos adultos da espécie hoje em dia; a rapidez, ou o inverso, com que a
“Em suma: como a ontogênese nada mais é que a filogênese in petto – isto é,
como a evolução do indivíduo é necessariamente a evolução da espécie numa
forma abreviada, simplesmente porque não pode por natureza ser diferente
(não pode seguir quaisquer outras linhas, porque não há outras linhas a seguir)
– é claro que órgãos e faculdades (ampla e genericamente falando) têm de
aparecer no indivíduo na mesma ordem em que apareceram na espécie e,
conhecida uma ordem, a outra pode ser confiavelmente presumida” (BUCKE,
1996, p.84, grifo do autor).
Bucke explica que quanto menor for o tempo de aquisição de uma dada
maior for o tempo de aquisição e surgimento de uma dada faculdade na espécie, mais
seguramente serão herdados. Isto significa que aquilo que se considera como doentio
pode ser considerado como “atavismo ou reincidência de uma condição que era normal
A natureza moral humana, para ser plena, deveria incluir faculdades como a
parental e filial, o amor por nossos semelhantes, amor ao belo, o temor respeitoso, a
Porém, como essa faculdade é de aquisição recente, como outras estão sujeitas a
relação a cada faculdade e aos tipos de consciência, como uma escala indo da
ao atingir um limite em que não poderão mais ser armazenados e registrados pelo
o Buda, de “Nirvana”; de “Reino de Deus” ou “Reino dos Céus”, por Jesus; de “Estado
Crístico”, por Paulo apóstolo; de “Especialismo”, por Balzac; de “Minha Alma”, por
riqueza, a aniquilação do velho ego (self). Mas, para que a espécie humana alcance
essa nova consciência, deverá primeiro ser adquirida pelos mais preparados
qualidades morais. Segundo Bucke, este processo também deve ter acontecido na
saúde, mas acima de tudo natureza moral elevada, forte solidariedade, coração cálido,
(BUCKE, 1996, p.102-104): a pessoa tem a sensação de estar imersa em uma nuvem,
homens sobre mulheres; a época do ano em que ocorreu foi geralmente entre o
começo da primavera e o fim do verão, tendo a metade dos casos ocorrida entre maio
que ocorreu foi com algum grau de certeza entre as idades de 30 e 40 anos, sendo: 1
caso com 24 anos; 3 com 30 anos; 2 com 31 anos; 2 com 31 anos e meio; 3 com 32
anos; 1 com 33 anos; 2 com 34 anos; 8 com 35 anos; 2 com 36 anos; 2 com 37 anos; 2
com 38 anos; 3 com 39 anos; 1 com 40 anos; 1 com 49 anos; 1 com 54 anos.
Jesus Cristo e Juan Yepes ou São João da Cruz são muito conhecidos e Walt
(MATEUS, 13, p.55; apud BUCKE, 1996, p.127) ou “Não é este o carpinteiro, filho de
O temperamento devoto de Jesus fica evidenciado pelo fato de ter ele ido a João
Batista para ser batizado, sendo este um dos traços característicos do advento
relato deste momento vem de Marcos (MARCOS, 1, p.10-12; apud BUCKE, 1996,
p.127): “E, logo ao sair da água, viu os céus rasgarem-se, e o Espírito descendo como
pomba sobre ele. Então foi ouvida uma voz dos céus: Tu és meu filho amado, em ti me
comprazo. E logo o Espírito o impeliu para o deserto”. Esta fala de Marcos demonstra a
instantaneidade da iluminação, uma possível, mas não definida, luz subjetiva, a voz
objetiva que foi ouvida e o comportamento de isolamento, que parece ser universal
nestes casos.
sendo, porém, diferente de outros de sua época, exceto por sua qualificação espiritual
inerente à sua natureza e oculta tanto aos outros como a si mesmo. Instantaneamente
ocorreu a mudança e com ela a chamada “Tentação”, pois, o que fazer com esse
poder, com essa força espiritual, como deveria ser usada e com que objetivo. Deveria
ser usado para obter poder, riqueza, fama ou o quê (BUCKE, 1996, p.128). Todos os
moral, pois, caso contrário, estes “[...] seres seriam na verdade uns tantos demônios
que acabariam destruindo o mundo” (BUCKE, 1996, p.128). A essência desta tentação
ensinar o que aprendeu por ter entrado em Consciência Cósmica e guiá-los “[...] em
direção a ela, ou, em suas próprias palavras, para o reino de Deus” (BUCKE, 1996,
Juan Yepes, conhecido como São João da Cruz, nasceu em Fontibere, perto de
Ávila, em 24 de junho de 1542. Quando ainda criança, seu pai faleceu e sua mãe ficou
em estado de pobreza. Após estudar no Colégio dos Jesuítas, tornou-se religioso com
1996, p.175). Tornou-se sacerdote aos 25 anos e entre 30 e 33 anos passou por um
Após esse período que ficou conhecido como Noite Negra da Alma, teve
outro de iluminação em que um brilho, uma luz resplandecia de seu rosto. Aos 36 anos
entrou em Consciência Cósmica. Nessa fase estava preso por ter aderido a certas
não se ligar às coisas que sente, vê, percebe, isto é, desligar-se do funcionamento da
como a autoconsciência percebe e funciona no mundo para que ocorra a União Divina
intelectual não tão forte como em outros casos, um senso perfeito de imortalidade, a
O caso em que o autor considera o mais notável por ter maiores dados para a
análise é do escritor e poeta Walt Whitman. Ele observou uma diferença entre os
aptidão e poder, com escritos sem nenhum valor alternado com outros de páginas em
que mostram um fogo etéreo. Whitman também parece não ter feito ideia do que era
que lhe estava dando o poder mental, a elevação moral e o imenso júbilo,
anos. O relato sobre o momento vivido ocorreu através de seus escritos, primeiramente
conhecimento que transcende todo o raciocínio na Terra e de sentir sua vida exterior
ser guiada e inspirada por esse novo Eu sem esquecer ou aniquilar o velho ego. Os
sinais indicativos de que Whitman atingiu o sentido cósmico são: a forte presença da
objetiva, Ego (self), e a consciência deixa-se guiar por um novo Eu. A intuição, que é o
natureza moral elevada dão surgimento à mente intuitiva que é esse novo Eu, fase da
(2000), Thofern e Leopardi (2006), Prestes (2010) e Prestes e Tunes (2012) para
2. FUNDAMENTOS CIENTÍFICOS
Rússia ainda bebê, tendo essa última se tornado sua cidade natal. Vigotski queria
estudar história e filosofia, mas na época tzarista os formandos destas áreas eram
família judaica não poderia trabalhar nos serviços públicos. Assim, começou a estudar
Medicina, mas ficou somente um mês, e transferiu seus estudos para Direito,
papel da sociedade e da cultura neste processo com inúmeros textos escritos que até
hoje não foram publicados em sua totalidade. Morreu aos 37 anos de tuberculose
1
Optou-se pela grafia de VIGOTSKI com "i" como o tradutor Paulo Bezerra que traduziu diretamente do russo e
também de Prestes (2010).
50
explicam que a tradução mais adequada seria fala e não linguagem. O livro Formação
textos escolhidos pelos editores e traduzidos do inglês para o português com sérios
problemas nas duas traduções. Prestes (2010) faz uma análise extensa sobre as obras
que ficou consagrado no Brasil é questionado por tradutor Paulo Bezerra que o traduz
linguagem, pois segundo ela, Vigotski não se refere à linguagem, mas a fala que é o
pensamento verbalizado, portanto o correto seria dizer que o autor estudou a relação
será linguagem.
russos, especialmente de Vigotski, sendo que Prestes e Bezerra optaram pela grafia de
movimento dialético entre dois polos, como uma estrutura bipolar, sendo que esse
51
inseparáveis, porém cada um deles mantém a sua particularidade visto que não são
idênticos.
sujeito é uma construção própria, fruto da interação com o ambiente e suas disposições
que o autor dialogou com diversas disciplinas, arte, psicologia, filosofia, etc.
social em que se insere. Trata-se, portanto de uma construção mediada pela relação
com o meio, com outro e consigo mesmo. Essa mediação se dá por meio do contato
forma, somente através das condições sociais, culturais e de seu contexto histórico que
um indivíduo pode ser “analisado”, quer dizer, um indivíduo não pode ser analisado de
compreensão só pode ser realizada como um ser ativo, com seus vínculos e relações
(AGUIAR, 2000).
específica entre o pensamento e a linguagem para que pudesse tanto estabelecer uma
transforma a natureza com o seu trabalho, cria a cultura, as relações sociais e o uso de
natureza e com ele o homem modifica o ambiente, cria a sua história e de seu grupo
social e é transformado pela sua história e pela sociedade, sendo a base da formação
puramente humanas de inteligência prática e abstrata. Isto significa que, quando a fala
proposta, ou seja, quando a criança não consegue resolver o problema sozinha recorre
a um adulto através da fala socializada, descreve o método que utilizou, mas que não
55
sua lógica com a lógica necessária para resolver o problema e só mais tarde isto vai se
ela a criança pode escolher um objeto específico dentro da situação global percebida.
campo perceptivo e passa a dominar sua atenção com a ajuda da função indicativa das
O campo temporal em ação, que foi criado com o auxílio da fala, é dinâmico e ao incluir
sistema único que engloba passado, presente e futuro (VIGOTSKI, 2007, p.28-29).
mediação através de signos. A memória natural, que está muito próxima da percepção,
56
caracteriza-se pelo imediatismo, perceptiva e não mediada, visto que surge como
autogerada, quer dizer, pela criação e uso de signos (VIGOTSKI, 2007, p.33).
que emitir uma palavra é nomear uma classe de elementos visuais, sendo que essa
do adolescente tem certa estrutura lógica e por isso se torna necessário pensar e
2007, p.49).
etc., utilizando de meios auxiliares, como a criação e uso de signos é análogo à criação
e uso de instrumentos, mas no campo psicológico. Porém essa analogia não significa
que estes conceitos sejam idênticos, mas antes apresentam semelhanças, diferenças e
eles, pois estas duas linhas orientam o comportamento humano de maneira diferente.
2007, p.58).
59
transformação continua a existir e a mudar por muito tempo, como uma forma externa
este autor, os estudos da Psicologia oscilaram entre dois extremos: entre a plena
dissociação. No caso da fusão entre eles o autor considera que não há espaço para
discussão da relação entre eles, pois a relação do objeto consigo mesmo não pode
tornar-se objeto de investigação (VIGOTSKI, 2009, p.3). Neste caso, a palavra foi
dividida em som e significado (signo), com uma relação mecânica externa entre si, ou
significado (da palavra). A palavra é uma generalização porque se refere a uma classe
linguagem e pensamento. Vigotski considera que o método de análise, então, deve ser
impossível, pois para que haja comunicação de algum conteúdo da consciência deve
palavra.
ainda não dominam certa generalização, pois o que falta neste caso são os respectivos
61
inverso. Assim, Vigotski considera ser possível que seu método de análise possa
Vigotski mostra que a fronteira entre pensamento e linguagem não é muito clara
no adulto. Esta relação é representada como dois círculos que se cruzam formando um
campo chamado de pensamento verbalizado (fala) que não esgota todas as formas de
p.111).
a que cada coisa tem seu nome. O comportamento da criança muda e ela passa a
perguntar “Como isso se chama” ao ver o objeto. A criança, então, necessita da palavra
e busca assimilar ativamente o signo pertencente ao objeto, a qual serve para nomear
sintomas: a ampliação ativa por parte da própria criança de seu vocabulário e essa
p.131).
63
mais tarde. Para Vigotski, em crianças surdas-mudas não ocorre esta descoberta, mas
uma série de mudanças que levam a esta descoberta, o que coincide com o processo
de assimilação do signo, pois mesmo em crianças de idade escolar não ocorre uma
descoberta direta do uso funcional do signo, mas uma série de estágios que leva a
pensamento do ser humano. Para ele, há uma transição entre as linguagens exterior e
por sua função, uma linguagem para si e que está no caminho de se tornar interior,
Têm-se então, para Vigotski, três etapas neste processo: linguagem exterior,
criança conta nos dedos, do uso dos signos mnemotécnicos externos no processo de
contar mentalmente, a usar a memória lógica, ou seja, a operar com relações interiores
com signos interiores. É a fase da linguagem interior ou silenciosa. Porém existe uma
2009, p.138-139).
Vigotski (2009, p.149) conclui que ocorre uma mudança no tipo de desenvolvimento, do
momento da criança de realizar os seus desejos não realizáveis, porém tendo como
autor discorda em definir o brinquedo como uma atividade que dá prazer porque
existem outras atividades que dão prazer mais intenso como chupar chupeta, e
também porque existem jogos em que os resultados nem sempre dão prazer, como os
jogos esportivos em que nem sempre se ganha. Vigotski não considera a atividade de
brincar como uma ação simbólica no sentido próprio do termo, pois não pode ser
Para este autor, a criança cria uma situação imaginária na atividade de brincar, a
por exemplo, quando a criança imagina-se como mãe e sua boneca como criança ou
quando brinca de algo que é verdadeiro ao representar ser criança, ser filha ou irmã.
Nesse caso, a criança comporta-se da forma como ela pensa que uma filha ou irmã
Desta forma, toda situação imaginária contem regras ocultas e todo jogo com
regras contém de forma oculta uma situação imaginária. O brinquedo evolui e pode ser
visualizado na mudança de uma situação imaginária às claras com regras ocultas para
jogos com regras às claras e uma situação imaginária oculta (VIGOTSKI, 2007, p.112).
Vigotski explica que uma criança com menos de três anos não consegue
que não é possível em crianças dessa idade. Segundo este autor, durante a atividade
de brincar a criança aprende a agir em uma esfera cognitiva, com suas motivações e
situação, porém em crianças muito pequenas há ainda uma fusão entre o significado e
separa-se dos objetos e a ação surge das ideias e não das coisas, o que representa
uma inversão da relação da criança com a situação visual concreta e real, ocorrendo
usando um “cavalo de pau” como pivô para imaginar a situação, e nesse momento há
uma mudança na estrutura básica da relação da criança com a realidade porque muda
Vigotski explica que não é qualquer objeto que serve como pivô da separação,
fósforo não, por não poder ser usado pela criança como um cavalo, apenas um adulto
poderia pensar assim. Por isso, a substituição livre não é possível e é o brinquedo e
vassoura não tem o papel de signo de cavalo para a criança. Para este autor, o ponto
os significados estão desligados das ações e objetos, os quais estão vinculados. Para
a criança separar um significado ou palavra do objeto ela precisa de algo que seja o
criança reconhece em uma palavra a propriedade do objeto, quer dizer, ela não vê a
palavra, mas o objeto que ela designa. Primeiramente a criança lida com os
esses atos de forma consciente. Assim, é através do brinquedo que a criança atinge
a criança opera com um significado vinculado a uma situação real; o segundo é que a
criança caminha do que ela mais gosta de fazer, por estar unido ao prazer, para
caminhos mais difíceis ao aceitar as regras do brinquedo e renunciar ao que ela quer,
diante de um conflito entre aceitar as regras do jogo e o que ela faria se pudesse agir
68
espontaneamente, quer dizer, no jogo a criança age de forma contrária a que gostaria.
Dessa forma, uma regra torna-se um desejo e esse é o atributo essencial do brinquedo
escolar a criança consegue fazer mais do que é capaz de compreender, sendo que a
ação predomina sobre o significado. Para realizar a separação entre ação e significado
é necessário um pivô na forma de uma ação que substitua a ação real, como por
2007, p.118-120).
ocorrem quando a criança opera com significados de ações. No brinquedo, uma ação
substitui outra ação e um objeto substitui outro objeto, sendo que a transferência de um
2007, p. 120). Este autor mostra ainda outra diferença no comportamento da criança no
vida real e as motivações. Portanto, o brinquedo pode ser considerado uma atividade
uma modificação na forma como participam, pois nessa fase são mediados pelo signo
mas fora dele, nos problemas que o meio social coloca diante do adolescente e o
projetam na vida cultural, profissional e social dos adultos. Isto quer dizer que é o meio
que deve criar problemas e novas exigências, pois caso contrário o pensamento do
representa um conceito. Da palavra como complexo para a palavra como conceito tem
• Primeiro estágio
estão organizados em uma imagem mista muito instável. O significado que a criança
atribui a uma palavra pode lembrar o significado dado à mesma palavra pelo adulto,
mantém a comunicação. Esse estágio se divide em três fases (VIGOTSKI, 2009, p.175-
176).
concreta, mas a criança ainda se orienta pelos vínculos subjetivos, pela semelhança
entre os objetos e não por seus traços. Na terceira fase, a imagem sincrética se forma
em uma base mais complexa e a criança atribui um significado aos representantes dos
mesmo sincretismo dos conceitos nas duas fases antecedentes (VIGOTSKI, 2009,
p.176-178).
• Segundo estágio
de vínculos objetivos entre os objetos, porém sem relação entre si, sendo a diversidade
de vínculos o traço mais importante neste pensamento, sendo que cada elemento do
associativo com qualquer dos traços que a criança observa no objeto, como a
nomes de família ou grupo e não mais a denominações de nomes próprios, quer dizer,
repetir objetos que possuem o mesmo indício, reunindo assim, os exemplares únicos
que representam todo o grupo. Como exemplo, pode-se citar o complexo-coleção que
a criança usa no dia-a-dia como um conjunto para o almoço constituído por um garfo,
elemento se vincula a um elo anterior e a outro elo posterior mesmo que estes elos não
tenham vínculo entre si, mas estejam vinculados ao elo intermediário. Como no
complexo não existe vínculo hierárquico, o final da cadeia pode não ter nada em
e diluídos que se combinam por via associativa aos elementos e complexos concretos.
73
Isto significa que nesse tipo de pensamento não é possível realizar a verificação prática
fenotipicamente idênticos ao conceito, mas que difere totalmente desse por sua
causais que são sua base, ou seja, tem-se uma contradição interna, pois,
encontra esta linguagem pronta no discurso dos adultos com seus significados
falsa impressão de que no pensamento de uma criança de três anos já está presente
todas as formas da atividade intelectual do adulto, e que na idade transitória não ocorre
antes que se desenvolva o conceito para si”. Assim, o pseudoconceito é o elo entre o
2009, p.198-199).
interdependência entre dois fenômenos ou objetos que podem ter ou não influência ou
vínculo entre si (VIGOTSKI, 2009, p. 205). Vigotski explica que para as crianças que
pensamento deve ser a participação porque os vínculos e relações que surgem entre
próprio”, segundo expressão de Potiebnyá (apud VIGOTSKI, 2009, p.215). Por isso, é
de conceitos não se realiza totalmente por conceitos, pois ainda há alternância entre o
• Terceiro estágio
definida, pois o pensamento por complexos ainda persiste até a conclusão da sua
processo de abstração, mas que mal pode ser percebido, pois essa abstração baseia-
potenciais, tanto por sua referência prática a um grupo de objetos, quanto pelo
dentro de uma possibilidade, mas que ainda não realizou essa possibilidade, ou seja,
antes da idade escolar, pois a definição que a criança dá a um conceito tem essa
natureza funcional, por exemplo, ao pedir a uma criança que explique uma palavra, ela
o faz explicando o que o objeto faz ou pode fazer. No conceito potencial, o atributo
escolhido como a base de inclusão é um atributo distinto, que foi abstraído do grupo
76
concreto de atributos aos quais está efetivamente vinculado (VIGOTSKI, 2009, p.224-
225).
verdade. Nesta etapa, base para a última fase, a criança abstrai determinados atributos
dos objetos, destrói o vínculo concreto dos atributos e cria condições para a formação
de uma nova base de combinação desses atributos. Na quarta fase, surge o conceito
quando uma série de atributos abstraídos volta a sintetizar-se, e esta síntese abstrata
papel decisivo na formação do conceito é a palavra, pois é com ela que a “[...] criança
orienta arbitrariamente a sua atenção para determinados atributos, com a palavra ela
os sintetiza, simboliza o conceito abstrato e opera com ele como lei suprema entre
conceitos e conclui o terceiro estágio da evolução do seu intelecto. Este processo não
sincréticas e por complexos, o uso dos conceitos potenciais torna-se mais raros e a
criança passa a usar com mais frequência os verdadeiros conceitos (VIGOTSKI, 2009,
p.228). O adulto não pensa o tempo todo por conceitos, pois é muito frequente o
tem dele não surge ao mesmo tempo. A existência de um conceito pode surgir e existir
situações concretas novas, que ele pensa também no plano abstrato (VIGOTSKI, 2009,
p.229-231).
Gerken (2008, p.549-558) ressalta que para Vigotski e Luria há uma diferença
pessoas que não desenvolveram a escrita. Isto porque estes autores consideram que a
Porém, pode-se pensar que há famílias que residem longe de escolas formais e
o que pode se aproximar de um “sistema de ensino”, quer dizer, o adulto, nesse caso,
comunicação oral e, em alguns casos, pela escrita. Ou seja, neste caso pode-se
pensar que a linguagem oral tem uma estrutura tal que permite uma certa mediação e
abstração.
283).
mudança na sua estrutura e nos vínculos entre as partes. Assim, para tomar
consciência é preciso que haja o que deve ser conscientizado e na idade escolar a
que deve ser percebido e representado pela memória (VIGOTSKI, 2009, p.287). Em
paralelos em sincronia com o tempo. Uma terceira teoria mantém as duas concepções
produz mais no desenvolvimento que aquilo que contém em seus resultados imediatos.
Isto significa que a aprendizagem pode ir passo a passo com o desenvolvimento e até
p.296-304).
complexas entre si, não sendo dois processos independentes ou o mesmo processo
do desenvolvimento proximal.
Com relação à linguagem escrita e interior, Vigotski afirma que a escrita tem
uma função específica de linguagem que difere da fala pela sua estrutura e modo de
abreviada ao máximo grau, e por sua estrutura sintática é predicativa e forma o campo
linguagem interior, ou linguagem para si, para a linguagem escrita, ou linguagem para o
modo consciente e arbitrário, levando-a a agir de modo mais intelectual e a ter mais
Com relação à aprendizagem, Vigotski concluiu que ela está sempre adiantada
determinada área antes de aplicá-los de modo consciente e arbitrário. Isto quer dizer
criança, definida com o auxílio dos problemas resolvidos com autonomia, e o nível que
2009, p.327).
Vigotski coloca que a criança só pode imitar o que está na zona de suas próprias
passar do que a criança sabe fazer para o que ela não sabe fazer. Assim, o trabalho
em colaboração significa que a criança pode fazer mais do que faria sozinha, mas
científicos segue por via oposta ao desenvolvimento dos conceitos espontâneos, uma
se projetando de cima para baixo até o ponto em que a outra inicia o seu movimento de
baixo para cima, sendo as propriedades do conceito mais simples designados como
explica o fato que é necessário a elevação dos conceitos espontâneos para que ocorra
p. 351-352).
que vem a ser diferente em cada fase do desenvolvimento dos significados, em função
equivalência dos conceitos que estabelece que todo conceito pode ser designado por
concreto ao sumamente abstrato. A latitude pode ser definida como o lugar que o
conceito ocupa entre outros conceitos da mesma longitude, mas relacionado a outros
contida em tal conceito. A junção da longitude e latitude do conceito produz uma noção
transição de uns conceitos a outros, sendo que a relação entre eles se realiza por
p.365-367).
Dessa forma, todo conceito está representado na consciência como uma figura
p.367).
84
seu sentido, da sua expressão havendo maior liberdade nas operações semânticas em
deve haver uma transformação e não uma anulação das generalizações realizadas
um tipo de generalização por complexo para outro de tipo superior (VIGOTSKI, 2009, p.
374).
relação anterior com o objeto e a passagem não é realizada de forma acentuada. Nas
g ) Pensamento e Palavra
trabalhos produzidos por ele entre os anos 1924 a 1934. Toassa (2006) fez uma
psicológico.
86
vivências subjetivas através de uma compreensão ativa com relação ao meio social,
porém com uma reciprocidade entre os fatos internos e externos ao sujeito, os quais
aos 3 anos de idade a partir da linguagem dos outros para a criança, mas desenvolve-
pensamento e palavra.
semântico se desenvolve do todo para as partes ou da oração para a palavra, pois para
a criança pequena uma palavra, por seu significado, equivale a uma frase inteira e
da palavra se desenvolve na criança das partes para o todo, ou seja, a partir de uma
subordinadas, mas não tem consciência do seu aspecto semântico e não as emprega
palavra (fala corretamente, mas não sabe o porquê deve ser assim) e revela que há
coletiva da criança para as funções individuais. Aos três anos, segundo Vigotski, não
omitindo o sujeito e as palavras a ele vinculadas. Essa tendência para uma sintaxe
dos interlocutores e quando os falantes são conhecidos entre si. Porém é necessário
sentido sobre o seu significado. O significado de uma palavra é estável (mas não
de acordo com o léxico e em sua forma isolada, tem apenas um significado, mas no
discurso ela apresenta sentidos diferentes de acordo com o contexto (VIGOTSKI, 2009,
p.464-465).
inserida e começa a significar mais ou menos, além do seu significado isolado: menos
porque ocorre uma ampliação dos círculos do seu significado, abrangendo várias zonas
preenchidas pelo novo conteúdo. O sentido real de uma palavra é determinado pelos
palavra e uma palavra pode ser substituída por outra sem que haja alteração do
falada parte-se da zona mais estável de sentido que é o significado da palavra para as
zonas mais fluidas do sentido ou seu sentido conjunto. Na linguagem interior ocorre o
90
influência de sentido nos outros sentidos, os sentidos anteriores estão contidos nos
p.468-470).
Há ainda os idiomatismos que surgem entre pessoas que têm a mesma vida,
crianças de rua. Na linguagem interior também surge um dialeto interior, pois cada
palavra vai adquirindo outras nuances semânticas e à medida que vão se constituindo
Neste ponto, interessa destacar o que Vigotski afirma sobre a linguagem interior
linguagem interior para a exterior não é uma tradução direta de uma para outra, ao
realizada por uma via de mediação interna do pensamento que são os significados e
mundo, como a célula viva está para o organismo, como o átomo para o
cosmo. Ela é o pequeno mundo da consciência. A palavra consciente é o
microcosmo da consciência humana” (VIGOTSKI, 2009, p.486).
93
DOS SABERES
res; consultor da UNESCO; e autor de vários livros e diversos textos que procuram
pensamento que possam resgatar à cultura e à sociedade um ser humano mais com-
pleto.
assimilar todo o conhecimento que ela mesma produz, o que mostra a necessidade de
única disciplina por várias disciplinas ao mesmo tempo” (NICOLESCU, 2000a, p.10,
disciplina para outra” (NICOLESCU, 2000a, p.11, grifo do autor), distinguindo-se três
disciplina são utilizados em outra, como por exemplo, a física nuclear que contribui
disciplina para outra faz surgir novas disciplinas, contribuindo para o “big-bang”
clássico, para o qual o espaço entre as disciplinas é vazio. Neste, tem-se um único
nível de Realidade e uma visão piramidal do conhecimento, sendo que cada fragmento
2000a, p.11)
95
(NICOLESCU, 2000a, p.12). Estes pilares mantêm um paralelo com os três postulados
dados fundamentais. Estes postulados foram confirmados pela física clássica que
da física quântica. Max Planck confrontou-se com um problema de física que, para
campo da física, segundo a qual, a energia tem uma estrutura discreta e descontínua.
A descontinuidade significa que entre dois pontos não há nada, nem átomos nem
moléculas, nem objetos, apenas nada. Isto implica questionar a noção de causalidade
2000a, p.13-14).
perceptiva dos sentidos físicos, a qual estabelece que para passar de um ponto, no
espaço e no tempo, a outro ponto, deve-se passar por todos os pontos intermediários.
Na física quântica há outro tipo de causalidade, visto que “uma quantidade física
surgiu sete décadas depois e a natureza deste novo tipo de causalidade foi esclarecida
se afastam, eles irão interagir cada vez menos, mas no mundo quântico, as entidades
quânticas continuam a interagir qualquer que seja seu grau de afastamento e, por isso,
Realidade e introduz a ideia de que há uma coerência, uma unidade das leis que
“quantum” pode ser considerado como corpúsculos e ondas ao mesmo tempo, ou mais
precisamente, não são nem partículas nem ondas, pois “se houver uma onda, trata-se,
quantum num ponto preciso do espaço e num ponto preciso do tempo e é impossível
traçar uma trajetória bem determinada de uma partícula quântica (NICOLESCU, 2000a,
acaso ou imprecisão” (NICOLESCU, 2000a, p.16, grifo do autor; idem, 2008, p. 29,
grifo do autor), desde que se considere a noção de precisão com relação aos atributos
um único nível de Realidade. Nicolescu (2000a, p.17, grifo do autor; idem, 2008, p.30
grifo do autor) entende por Realidade, do ponto de vista pragmático, “[...] aquilo que
invariáveis sob a ação de um número de leis gerais [...]” (NICOLESCU, 2000a, p.18;
idem, 2008, p.31), ou seja, as entidades quânticas estão submetidas às leis quânticas,
as quais são totalmente distintas das leis do mundo macrofísico. Dois níveis de
realidade são diferentes se houver ruptura das leis e dos conceitos fundamentais ao
Realidade, mas isto não impede os dois mundos de coexistirem e a prova disto é a
nossa própria existência: nossos corpos têm uma estrutura macrofísica e uma estrutura
Os níveis de Realidade são distintos dos níveis de organização, pois esses não
pressupõem uma ruptura dos conceitos fundamentais, como por exemplo, a economia
3.1.3 A Complexidade
multiplicação das disciplinas. É a lógica binária clássica, com suas normas de verdade,
2000a, p.19; idem, 2008, p.43) como é o caso da física, base da visão piramidal do
disciplinas e por isto o ser humano tem sido então, estudado de forma fragmentada,
1. “O axioma da identidade: A é A.
2. O axioma da não-contradição: A não é não-A.
3. O axioma do terceiro excluído: não existe um terceiro termo T (T de “tercei-
ro incluído”) que é ao mesmo tempo A e não-A” (NICOLESCU, 2000a,
p.22, grifo do autor).
uma certa lógica e visão de mundo sempre fundamentam qualquer ação individual ou
p.37-38; idem, 2000a, p.23). O terceiro termo significa a existência um terceiro termo T
ângulos em outro nível de Realidade. O estado T atua em outro nível de realidade, “[...]
onde aquilo que parece desunido (onda ou corpúsculo) está de fato unido (quantum), e
contraditórios promove uma unidade que inclui e vai além da soma dos dois termos. A
lógica do terceiro incluído não elimina a lógica do terceiro excluído, apenas limita a sua
área de validade.
terceiro incluído, num processo interativo seguindo etapas (NICOLESCU, 2008, p.59):
103
“1. Um par de contraditórios (A, não-A) situado num certo nível de realidade é
unificado por um estado T situado num nível de Realidade imediatamente
vizinho; 2. por sua vez, este estado T está ligado a um par de contraditórios (A’,
não-A’), situado em seu próprio nível; 3. o par de contraditórios (A’, não-A’)
está, por sua vez, unido por um estado T’ situado num nível diferente de
Realidade, imediatamente vizinho daquele onde se encontra o ternário (A’, não-
A’, T). O processo interativo continua infinitamente até o esgotamento de todos
os níveis de Realidade conhecidos ou concebíveis” (NICOLESCU, 2008, p.59).
induz a uma estrutura aberta do conjunto dos níveis de realidade e esta estrutura
nova teoria que elimina as contradições num certo nível de realidade. Porém, com a
experiência e a teoria, esta teoria será modificada à medida que novos pares de
novas teorias mais unificadas, processo esse que tenderá ao infinito. Portanto, a
Realidade “[...] per se, aquilo que está em cima é como aquilo que está embaixo, mas
aquilo que está embaixo não é como aquilo que está em cima” (NICOLESCU, 2008,
p.60, grifo do autor). Isto porque a matéria fina (quântica) penetra a matéria mais
ao outro, do mais baixo para o mais alto nível (NICOLESCU, 2008, p.60).
104
Para que esta coerência vá além dos níveis limites, mais alto e mais baixo,
isomorfismo entre os níveis alto e baixo. Neste sentido, “aquilo que está ‘embaixo’ é
como o que está ‘em cima’”, constituindo a unidade aberta (NICOLESCU, 2008, p.61-
62).
corpo físico e aos órgãos dos sentidos. Porém, ao admitir a possibilidade de limite do
de uma única e mesma realidade, surge um novo Princípio de Relatividade, para o qual
os outros níveis. Isto significa que um nível de realidade deve ser compreendido na sua
relação simultânea com os outros níveis, o que implica em uma maneira diferente de
(NICOLESCU, 2008, p.63). Para que o Sujeito possa se comunicar com o Objeto
Transdisciplinar, as duas zonas de não-resistência devem ser idênticas, pois “ao fluxo
O Terceiro Oculto é alógico, pois ele está inteiramente situado na zona de não-
resistência, enquanto que o terceiro incluído é lógico, pois ele se refere aos
p.74).
2008, p.74).
Esta estrutura ternária define a Natureza viva, a qual pede nova metodologia, a
afirmação: “1) o ser humano pode estudar a Natureza através da ciência; 2) a Natureza
107
não pode ser concebida fora de sua relação com o ser humano” (NICOLESCU, 2008,
p.75).
níveis de compreensão também são múltiplos, complexos e ligados entre si num Todo
aberto que inclui Sujeito e Objeto Transdisciplinares. Este Todo se abre para uma zona
unificados surge paradoxalmente uma zona de resistência absoluta, zona essa que
2008, p.81).
feita pelo acordo entre os níveis de Realidade e os níveis de percepção e, desta forma,
sagrado, constituindo três faces de uma só Realidade em total harmonia, as quais não
todo ser humano tem o direito a abrir-se para uma autotransformação libertadora e
NICOLESCU, 2008, p.95, grifo do autor), significa a “[...] capacidade individual ou social
para manter uma orientação constante, imutável, qualquer que seja a complexidade de
que garante uma afetividade crescente que assegura a ligação entre nós e nós
refletem a feminilidade do mundo. Mas o mundo tem uma face ternária que se
p.98-100).
interioridade e exterioridade do ser humano, sendo essa visão pertencente a outro nível
p.122-123).
110
2008, p.123-124, grifo do autor). Este nível de confusão pode levar a uma
transdisciplinaridade mal compreendida visto que, ainda que seja possível o diálogo
com outros campos do saber, somente a ciência pode explicar a totalidade de tudo o
Realidade” (NICOLESCU, 2008, p.125, grifo do autor), o que poderia levar à anexação
universitária atual que é reduzir tudo a linguagens que constroem uma realidade, sem
p.125-126).
impulso transdisciplinar pela Nova Era que, pela sua falta de rigor, poderia misturar
consciência.
poderia constituir o meio ideal para proporcionar uma nova legitimidade aos líderes
2008, p.128-129).
tripla orientação, para o porquê, o como e o terceiro incluído, que assegura a qualidade
112
autêntica com o Outro. A comunicação é uma comunhão entre pessoas, ou seja, uma
porém mais aprofundado por levar em conta não só as coisas, mas também os seres e
mas não pode haver disciplinas com caráter transdisciplinar (NICOLESCU, 2008,
p.134).
encontrando nas profundezas de cada uma delas o que liga o Sujeito e o Objeto
entre a ciência e o sentido, entre Sujeito e Objeto começou no século XVII com a
Na ciência moderna, ciência e cultura estão dissociadas e “[...] a ciência não tem
(NICOLESCU, 2008, p.108). Apesar de a ciência ser uma parte da cultura, as culturas
que tem ocorrido uma reaproximação entre a arte e a ciência tanto em uma abordagem
conhecimento do ser humano. Porém esta separação não é completa, pois em cada
culturas, mesmo que não haja uma comunicação efetiva entre elas, mostrando uma
cultura no espelho de outra, o que permite a interpretação de uma cultura por outra e o
entre todas as culturas, pois isto significa a existência de uma linguagem universal
traduzir uma cultura para outras culturas em relação àquilo que as atravessa e
ultrapassa, porém considerando que não há cultura que esteja em lugar privilegiado a
partir do qual possa julgar as outras culturas. Nicolescu entende que a cultura é a
campo que liga o Sujeito ao Objeto. O campo que os liga é a experiência da relação
3.1.8 O Sagrado
existir”, segundo Mircea Eliade (apud NICOLESCU, 2008, p.137). Essa vivência da
realidade não pode ser reduzida ao real no mundo e se revela por um sentimento que
Essa zona de resistência absoluta é o sagrado, como terceiro incluído, que concilia a
3ª PARTE
APROXIMAÇÃO DOS SABERES
___________________________________
1. DISCUSSÃO TEÓRICA
base mecanicista dos tratamentos, com o foco nas doenças, na agressividade de me-
cina baseada nesse paradigma está inserida na Lógica Clássica para a qual há a sepa-
ração total entre o indivíduo e a realidade, sendo essas independentes entre si (AN-
evidenciados a partir das impressões recebidas pelos órgãos dos sentidos ou por
dos objetos e quanto mais os objetos estiverem afastados, menos irão interagir.
considera as patologias como um distúrbio que acomete o corpo físico, que está fora
quadro, quer dizer, todo o fluxo de atendimento clínico parte inicialmente do médico
profissional não médico não pode encaminhar seu paciente a outro profissional pois o
sistema não aceita; isto já aconteceu com várias colegas da pesquisadora. Isto significa
adoecimento e pensam que só isto os leva a considerar que estão operando num fluxo
inter ou até transdisciplinar. Com relação a este ponto, pode-se pensar num nível zero
percepção.
pensamento, que não são determinísticos a partir do encadeamento causal, como por
com diferentes níveis de percepção que mantém (ou não) entre si diálogo, porém a
dimensões do ser humano, com o objetivo de alcançar a tão almejada visão integral do
nível de Realidade, Assim, entendo que o mesmo possa ser afirmado com relação às
tradicionais que consideram outros aspectos que não são passíveis de serem descritos
pela lógica clássica, como os saberes que foram incluídos nas Práticas Integrativas e
social, emocional, física e mental, sendo esse sujeito entendido como um ser integral
com concepção trina de corpo, mente e espírito (ou alma para outros saberes)
considerando que os múltiplos aspectos do ser humano e que não fazem parte da
sujeito integral. De acordo com Nicolescu (2000a; idem, 2008), trata-se de diferentes
dos níveis de Realidade, mas isto não impede os dois mundos de coexistirem e a prova
disto é a nossa própria existência: nossos corpos têm uma estrutura macrofísica e uma
estrutura quântica.
considerar que essa é determinada pela interação de fatores físicos, mentais, sociais e
espirituais. Assim, o conceito de saúde tem sido ampliado no sentido de incluir uma
perspectiva mais integral e, dessa forma, criar níveis de saúde em suas múltiplas
2006 com a Portaria 971 do Ministério da Saúde, a qual trouxe a Política Nacional de
p.151).
concebem o ser humano como ser integral, não existindo limites entre mente, corpo e
métodos podem atuar. Portanto, é uma abordagem que exige uma terapia
Clínica Ampliada do SUS (BRASIL, 2009, p.10). Porém o que inicialmente deve ser
de seu próprio conhecimento para que, a partir disso, possa olhar para o outro. Então,
(BRASIL, 2009, p.5-6). Faz parte desta conquista a Política Nacional de Humanização,
qualquer profissional clínico, seja de qualquer área, pois não basta considerar a
processo de saúde, mas torna-se necessário agir desta maneira, como profissional e
transdisciplinaridade.
A Clínica Ampliada pretende ser uma proposta que integre os vários aspectos da
que isso signifique a exclusão dos outros aspectos (BRASIL, 2009, p.9-10).
saúde, a qual possibilita uma atenção maior com responsabilização direta dos
como forma de viabilizar maior eficácia na relação entre profissionais e usuários e entre
lidar com suas próprias dificuldades e com os problemas sociais e subjetivos do sujeito
presença de sua própria subjetividade nas situações relacionais (BRASIL, 2009, p.17).
ou doença sem que estejam encarnadas em pessoas. Isto significa que a ampliação é
para a clínica do sujeito, para ampliar também a finalidade do trabalho clínico, qual seja
atuar sobre si mesmo e sobre a sua própria vida (CAMPOS e AMARAL, 2007, p.852-
853).
a clínica disciplinar ao mesmo tempo em que se busca abrir espaço para a discussão
Neste ponto, torna-se necessário colocar que esta pesquisa foi realizada pela
atores não foi registrada o que daria indícios de uma atuação próxima a uma clínica
psíquico).
consciência vem impregnada de potenciais que podem e devem ser acessados. Deve
ser entendida, segundo Berni (2010) como um “continuum” que se amplia conforme o
cada um dos níveis, até atingir o mais alto grau, que é o da Consciência Cósmica,
um nível para outro, de atualizar seus potenciais físico, social e espiritual, os quais se
podendo estas ser entendidas como uma “teoria geral da evolução psíquica” (BUCKE,
1996). Lewis (1993) afirma que a personalidade-alma tem tendência evolutiva por estar
individualizada no homem por ser um termo mais generalizado e afirma que a parte
sede da consciência com certas funções e atributos, com mente infinita e memória. É
128
seja, Lewis considera como alma, tanto a essência divina no homem como a sua
personalidade ou memória.
segmento inseparável da Alma Universal com que o homem está infundido, a qual
revela tudo o que foi acumulado em sua memória em incontáveis experiências, quer
se que alma é uma força vital, uma energia cósmica e uma inteligência ou Consciência,
maneira como o homem reage a essa força anímica em seu interior que constitui sua
o ser humano está intimamente dotado. Nesse trabalho, o termo utilizado para referir-
Por outro lado, Lewis (1993) coloca que o termo alma relaciona-se ao termo
sopro que significa uma vitalidade etérea que emana da fonte de todas as fontes e
Berni (2010) concorda com Lewis ao afirmar que a alma é a geradora de energia
potencialidades.
Assim, pode-se entender que a alma é uma força vital e inteligente, com
consciência, que anima os seres viventes, sendo que no homem ela se manifesta como
compreender sua natureza e potencialidades para que desta forma se possa contribuir
universo, tendo cada um, natureza dual. O universo é concebido por Deus e da
exclusivos surge um terceiro termo T que concilia esses pares, mantendo o axioma da
energia surge o terceiro termo dessa lógica que é o próprio homem, ressaltando que
compreensão de que isto só é possível se aceitarmos uma nova lógica que explique
campo da mente subconsciente a qual não realiza julgamentos, pois apesar de ter
verdadeira, o que acaba direcionando a vida da pessoa e sendo assim, é uma mente
executiva.
Porém, o Eu Interior, para Lewis (1993), apresenta uma “Mente Infinita” a qual
tem as faculdades de audição, visão, tato, paladar e olfato como no corpo físico, porém
física nos termos dos cinco sentidos. A esse conjunto de percepção e recepção de
1993).
Quanto à personalidade interior dessa mente, Lewis afirma que é ela quem
espirituais; no sentido moral, refere-se aos princípios adotados como código de vida ou
funciona através dos 5 sentidos físicos, atua sobre os atos voluntários como a memória
linguagem.
revela tudo o que foi acumulado em sua memória em incontáveis experiências (BERNI,
do ser humano apresenta uma estrutura de consciência ou mente que evoluiu ao longo
de inúmeras experiências.
comportamentos e escolhas do sujeito, o que sugere ser capaz, para isso, de realizar
julgamentos sobre os seus próprios atos e escolhas. No entanto, Berni afirma que a
quanto a fase subjetiva da mente, tem o raciocínio silogístico, mas que, sendo uma
mente executiva não realiza julgamentos, pois executa o comando da premissa maior,
134
subjetiva.
seus atos e escolhas para que possa evoluir e, caso essa escolha ou ato seja contrário
pessoa a agir de acordo com seus impulsos, o que sugere que ela é capaz de analisar
premissa maior, o que fica a questão: qual premissa a mente subconsciente aceitará
faça uma escolha, mas da união dos contraditórios, resulte no terceiro incluído, uma
nele. Isto significa que o corpo físico do homem apresenta uma constituição tal que
homem (personalidade-alma).
uma ideia ou uma imagem composta de perceptos velhos e novos. Essa é a mente
coisas e do mundo ao seu redor, mas não de si ou de seu ego (BUCKE, 1996).
136
funcionar com a máxima perfeição, sendo o cérebro seu grande comandante, ou seja,
é visto apenas sob a ótica macrofísica. Porém, Berni e Lewis afirmam que o ser
humano, como ser integral, transcende o corpo físico, e concordam que a dimensão
O homem se destaca em relação aos outros seres viventes por possuir uma
afirma que ninguém pode pensar seriamente na busca do elo perdido da história da
Dessa forma, pode-se entender que o corpo físico tem uma dimensão para além
de sua própria condição física, sendo sua dimensão físico-biomédica a que dá suporte
Isto quer dizer que, sob a ótica transdisciplinar, e segundo Berni e Lewis, os
mundos macrofísico e quântico coexistem ao afirmar que as células do corpo físico têm
137
níveis de Realidade distintos que mantém uma coerência entre si, e através da união
social que o ser humano vivencia, poderá ter acesso ao conhecimento humano dos
diferentes níveis de Realidade, visto que o conhecimento está aberto para sempre
(NICOLESCU, 2008).
personalidade distinta com a idade aproximada de três anos, e afirma também que a
não pode por natureza seguir outra linha ontogenética que não seja a do ser humano.
Isto quer dizer que antes desse momento, segundo esse autor, a criança pode ser
mental ou ideia.
138
convergência dessas duas linhas, pode-se pensar que a criança vivencia uma fase em
redor do primeiro ano de vida. Pode-se pensar no que Vigotski apresenta como fase da
e a comunicação.
potencialidades do corpo físico para que, por meio dele, a personalidade-alma possa
filogênese ou as linhas de sua espécie, como diz Bucke, porque não há outras linhas a
seguir. O corpo físico tem uma dimensão que vai além de sua própria condição física,
pensamento e da linguagem.
139
separadas, independentes, até que, ao redor de 2 anos de idade, estas curvas cruzam-
dominá-lo e faz uma grande descoberta, a que cada coisa tem seu nome. A fala torna-
por dois sintomas: a ampliação ativa por parte da própria criança de seu vocabulário e
essa ampliação do vocabulário ocorre de forma rápida e aos saltos (VIGOTSKI, 2009).
Dessa forma, pode-se pensar que é ao redor de dois a três anos que a criança
termo que inclui e vai além desses dois termos. Isto significa que surge a
influenciará nas escolhas do indivíduo na sua vida, sendo que estas escolhas podem
Bucke afirma que houve nova transcendência quando o ser humano agrupou os
perceptos e receptos, que não podiam mais ser elaborados e registrados pelo intelecto,
composto de muitos perceptos e receptos, ou seja, o recepto precisa ser marcado com
pensamento verbalizado.
e evolução da personalidade-alma.
processo será a base do pensamento da criança. Este processo mostra que a criança
dos conceitos.
142
autoconsciência para que possa viver e cuidar de sua vida com autonomia e
por exemplo, de um tipo de generalização por complexo para outro de tipo superior, e
conserva-se na fase superior uma relação anterior com o objeto e a passagem não é
salto e uma brusca reconstrução da relação do conceito com o objeto e das relações
constituído pelo conjunto dos níveis de Realidade e sua zona complementar de não-
resistência, tendo natureza objetiva. O conjunto dos níveis de percepção e sua zona
duas zonas de não-resistência devem ser idênticas, pois ao fluxo de informação que
desta união entre Sujeito e Objeto na zona do terceiro oculto que surge o Sagrado
A formação dos conceitos evolui para uma estrutura complexa formando um te-
mento, o qual é determinado pela lei de equivalência dos conceitos que diz que todo
conceito pode ser designado por uma infinidade de meios através de outros conceitos.
tual fazendo analogia com o globo terrestre: os conceitos na linha de longitude vão do
144
do próprio ato de pensar, da própria abrangência dos objetos no conceito sob a ótica
formação de um conceito superior significa que nele estão incluídos os conceitos su-
bordinados que estão inter-relacionados, ou como diz Bucke, os conceptos que cres-
cem por divisão e ramificação, quer dizer, os conceptos vão aumentando em número,
diferença ou identidade entre ideias, juízo ou conclusão, implica num determinado mo-
para que possa estabelecer e encontrar relações lógicas e com isso reconhecer o ele-
mento que busca e, assim, possa se lembrar. Na criança, pensar significa recorrer à
estrutura lógica da criança para o adolescente, ou como diz Vigotski, a logicização su-
tos, seja dentro de um mesmo estágio ou na transição de um estágio a outro, para que
145
a rede de conceitos seja reorganizada que, por ocasião de doença fica desorganizada.
Assim, a partir da dificuldade apresentada pelo sujeito, por exemplo, quando ele se en-
contra em uma fase em que só reconhece objetos mais concretos, é possível reorgani-
mais abstrato ao mais concreto, no caso de sujeitos adultos, o que significa estabelecer
ção entre pensamento e palavra, qual seja, o significado, chega-se a uma construção
conceito vai se separando da palavra e vai adquirindo certa independência, porém não
se deve esquecer que mesmo o ser humano adulto não pensa o tempo todo por con-
samento do ser humano adulto oscila indo do mais concreto ao mais abstrato, do mais
geral ao particular, e em relação aos conceitos com os quais está ligado, o que mostra
do por signos. Isto significa que o pensamento se fundamenta em uma rede conceitual,
como um tecido que vai sendo construído ao longo da vida, sendo que no pensamento
no sentido, pois o sentido real de uma palavra é determinado pelos momentos existen-
exterior até se chegar à linguagem interior, compreendendo que a via será do significa-
do da palavra até o sentido da palavra e do discurso. Para tanto, é preciso que se te-
nha uma escuta diferenciada do discurso do sujeito para que se possa perceber os
sentidos e significados do que foi dito e, desta forma, acessar esses conteúdos da
seja, à medida que o vínculo entre o sujeito e o terapeuta evolui, o sujeito vai mostran-
do o que se costuma chamar de sua “realidade”, mas na verdade, mostra o seu nível
mundo.
realizada por uma via de mediação interna do pensamento através, primeiramente, pe-
los significados e depois pelas palavras. O pensamento não se origina de outro pen-
samento, mas do campo de sua própria consciência que o motiva, de acordo com as
ciência, que sente e pensa, tem diferentes modos de representar a realidade, estes
147
ciência em seu conjunto, e não um simples pensamento, está vinculada em seu desen-
enviada por uma inspiração ou intuição, a qual poderá ser considerada como premissa
do paciente para que se possa realizar a atuação clínica não só considerando o que o
linguagem.
diferença entre a idade mental real ou nível de desenvolvimento atual da criança, defi-
nida com o auxílio dos problemas resolvidos com autonomia, e o nível que a criança
atinge ao resolver problemas sem autonomia, em colaboração com outra pessoa que é
determinado através desses dois níveis. Quer dizer, o que a criança consegue fazer
2007).
resistência, pois é nela que há uma relação de isomorfismo entre os dois fluxos, de
149
no processo terapêutico pode ser evidenciada em sujeitos adultos que, por ocasião de
terapeuta atuar como mediador na terapia, de forma que a pessoa possa perceber a si
alma. É essa a clínica ampliada que se pretende nas questões das alterações da
Com isso, espera-se que o sujeito transcenda seu nível de percepção, dentro do
nível de realidade em que se encontra, até atingir o mais alto grau do nível de
percepção que ele pode atingir. Considerando que a consciência do ser humano tem a
Consciência Cósmica. Porém, Bucke afirma que alguns problemas podem surgir no
intuições. Isto pode ser aproximado ao que Vigostki afirma que há uma mudança na
salto e uma brusca reconstrução da relação do conceito com o objeto e das relações
percepção do sujeito. Porém, Bucke afirma que para se atingir o mais alto grau de
outros.
jetiva, Eu Exterior ou Ego (self), e a consciência deixa-se guiar por um novo Eu. A intui-
mente com a natureza moral elevada, dão surgimento à mente intuitiva que é esse no-
caráter que influenciará nas escolhas e decisões do ser humano, e quanto mais o ho-
gem, juntamente com a natureza moral elevada, dando surgimento à mente intuitiva,
mento e a linguagem vão estabelecendo relações cada vez mais complexas e abstra-
ência, conforme Berni e Lewis. Nesse sentido, pode-se pensar que a mente intuitiva
pensa o tempo todo por conceitos e não utiliza mais os complexos em seu pensamen-
to.
Esse novo Eu pode ser entendido como um sujeito que transcendeu no nível de
Para finalizar este estudo apresento um estudo de caso ex post facto onde
paciente foi atendido pela fonoaudióloga no município de Descalvado – SP, com uma
242 km da capital, fazendo divisa ao norte com o município de Luís Antônio; a noroeste
com Santa Rita do Passa Quatro; a leste com Porto Ferreira; ao sul com Analândia; a
Descalvado é de 5,79, o quinto melhor índice da DRSIII, sendo maior que a média do
Brasil que é de 5,40 e também da região Sudeste que é 5,56, mas menor que o IDSUS
no ano de 2011 atingiu a menor taxa da região da DRS III de Araraquara, chegando a
2,8 mortes em cada mil nascidos vivos, sendo a média regional de 11,9 e a média do
desenvolvidas são:
Sexo: Masculino
Idade: 13 anos
hipótese diagnóstica a Doença de Lyme, porém não temos um laudo que confirme esta
hipótese. Ao relatar este quadro dado pelo INCOR a mãe lembrou-se que em
17/11/2007 o paciente foi à Represa do Broa, local muito visitado na região entre
Descalvado e São Carlos para atividades de lazer, e foi picado por um carrapato,
surgindo dias depois uma lesão avermelhada, febre e dor de garganta sendo tratada e
depois sumiu. No entanto, o paciente não tem esta doença confirmada por meio de
Yoshinari (SBY) foi proposta para substituir todas as nomenclaturas prévias dadas para
reproduz a maior parte dos sintomas neurológicos observados em DL, exceto por
da família, onde moram o pai, a mãe e três filhos, sendo o paciente do sexo masculino,
13 anos, o filho do meio. A fonoaudióloga foi recebida pela mãe e, após o irmão menor
A mãe relatou que em 2008 o filho teve vários episódios de dores de garganta,
dor na perna, dores musculares e em 10/11/2008, e nos dias seguintes, apresentou dor
Descalvado/SP e transferido para a Santa Casa de São Carlos/SP. Em São Carlos teve
três paradas cardiorrespiratórias ficando na UTI por 21 dias mais 8 dias no quarto.
Ficou entubado por nove dias em coma induzido, fez uso de marca-passo, sonda
nasogástrica para alimentação por 24 dias e após recebeu alimentação via oral.
paciente foi submetido a exame de corpo delito, por suspeita de violência física ou
psíquica, sem alterações detectadas. Quando da alta da Santa Casa de São Carlos, a
mãe contou que conversou com o médico e lhe disse se não seria a hora de fazer novo
exame de corpo delito visto que ela estava levando o filho dela, mas todo machucado,
demonstrando a sua dor e sentimento de humilhação por ter sido suspeita de agredir o
filho.
O menino foi transferido para a Santa Casa de Descalvado ficando internado por
mais 6 dias e depois foi para casa com encaminhamentos para Fonoaudiologia,
rapaz apresentou paralisia facial direita e lado direito do corpo com comprometimento
motor, porém na época da avaliação fonoaudiológica não foi observada tal alteração.
157
A mãe relatou que o filho iria cursar a oitava série do Ensino Fundamental II,
mas que não se lembrava das letras do alfabeto, a memória de trabalho foi mais
afetada que a memória de longo prazo, fala lenta, voz pastosa e incoordenação motora
pé, ora sentada contando toda a história. Durante a internação hospitalar, o paciente
e o paciente em que ele apresentou consciência do que tinha acontecido, soube contar
abstração.
de signo auxiliar.
Foi solicitado que escrevesse palavras e texto, porém o paciente não escreveu.
Foram mostradas as letras do alfabeto, mas não as reconheceu. Com as letras móveis
solicitado que lesse palavras e frases, mas também não reconheceu nenhuma palavra
nem frase.
raciocínio lógico, além do trabalho com a voz. O caso clínico do paciente foi
ABORDAGEM TRANSDISCIPLINAR
alma
alguma doença. Nesta pesquisa tem-se que é a clínica ampliada que se pretende
estudos de Berni, Bucke, Lewis e Vigotski que a linguagem deve ser reorganizada, e
resistência
imaginária às claras com regras ocultas para jogos com regras às claras e uma
brinquedo cria uma ZDP e fornece ampla estrutura básica para modificações da
imaginativa, a criação das intenções voluntárias, a formação dos planos da vida real e
regras, a criação das intenções voluntárias, a formação dos planos da vida real e
um quadro com uma combinação específica de peças duplas ou triplas, com formas de
todas as peças. O outro jogo foi o Tangran, peças em madeira com 2 triângulos
ajuda da profissional.
perceptivo concreto e passa a dominar sua atenção com o auxílio da função indicativa
das palavras, criando, desta forma, novos centros estruturais dentro da situação
campo temporal com o auxílio da fala que a torna capaz de dirigir sua atenção de forma
um sistema único que engloba passado, presente e futuro. É esse sistema psicológico
162
conceitos que o paciente possuía indo até o máximo que ele conseguia atingir de
c) Evolução do caso
complexo, porém notava-se que pensava como pseudoconceito, mas ainda de forma
instável.
vínculos entre figuras e entre figuras e palavras escritas, sendo inicialmente escolhidas
escrita com o auxílio do método fônico. Em abril/2009 já conseguia ler e entender o que
lia, apesar das dificuldades perceptivas visuais. Havia dificuldade na leitura de textos
Neste mês de maio, a mãe conseguiu guia de referência e consulta marcada para o
leitura de palavras polissílabas, leitura de textos, mas com letra cursiva disgráfica, não
oitava série, por decisão da mãe, para não ficar muito afastado da escola e dos
164
amigos, ficando na mesma turma que acompanhou nas séries anteriores, mesmo sem
discurso oral propiciou melhor organização de ideias, pois não era objetivo nas
pequenos textos, porém eram textos simples de fácil entendimento. Havia dificuldades
aritenoide direita, sem interferir na mobilidade das pregas vocais, boa coaptação;
preservada.
em estar vivo. Sobre esta questão, a mãe contou que em todas as consultas de retorno
tinha de vida e a resposta era que eles, médicos, estavam fazendo o melhor. Assim,
ele sentia e temia não ter muita perspectiva de vida e, por isso, seu objetivo e
preocupação era em estar vivo e não havia futuro na sua vida. Em outubro/2009 já
oitava série e mudou-se de escola. Em janeiro/2010 a voz estava mais grave, a leitura
e dizia que começara a “lembrar das coisas”. Houve a necessidade por parte do
namoros e a fonoaudióloga sugeriu que conversasse com um amigo e ele optou por
dificuldades da doença.
fonoaudióloga que antes ele não precisava estudar e queria ser ele de antes do
problema.
atividades escolares reclamado pelos professores e observado pela mãe. Por isso, foi
relação dele com os professores, mostrava-se mais interessado, mas teve notas baixas
provas realizadas no mesmo dia, pois dizia que não se lembrava de nada do que foi
estudado.
relações complexas subentendidas no texto e isso era evidenciado na escola, pois não
sala de aula.
matérias para provas, pois não aceitava ajuda e também não estudava. O trabalho com
auxiliares externos ajudava na memorização, mas ele era resistente em aceitar a ajuda
de outra pessoa. Observou-se que após a reunião com a equipe da escola ficou mais
professores ou colegas quando tinha alguma dúvida. No final do ano foi promovido
emocionalmente bem. Até junho daquele ano houve evolução da produção, leitura e
projetos para o futuro. Naquele ano trabalhou voluntariamente como assistente técnico
Filosofia e Inglês, mas apesar das dificuldades conseguiu a promoção para o 2º ano do
Ensino Médio.
já podia seguir sua vida escolar sem a terapia, pois a fonoaudiologia já tinha cumprido
Fonoaudiológica.
Transdisciplinar
971/2006) contemplam a integralidade do ser, não existindo limites entre corpo, mente
Rosacruz que também considera o ser nas suas dimensões física, social, emocional e
que o terapeuta ocupou o lugar de terceiro incluído em muitas das situações, se não
a encontrar caminhos para reorganizar sua vida. Nesse sentido, o terapeuta buscou
Este lugar de terceiro incluído é um lugar não definido, quer dizer, não há uma
incluído é um “lugar” em que se pode estar, de onde se pode ter um olhar diferenciado
sobre a realidade. Eu estou sugerindo que ao dizer que o terapeuta ocupou o “lugar” de
terceiro incluído significa que em alguns momentos este terapeuta conseguiu elevar-se
momento terapêutico que vivenciou com seu paciente. Sob a ótica do paciente, pode-
se pensar que o terceiro incluído dele foram as pessoas com quem ele convive e as
situações as quais foi exposto. Este terceiro incluído provoca uma compreensão
Neste trabalho o profissional da saúde é entendido como um ser que faz parte
da vida do seu paciente e interage com ele, vivencia momentos importantes e tem uma
precisa se reorganizar para continuar sua vida. Neste sentido, o sujeito que tem uma
169
doença não recebe passivamente os cuidados imprescindíveis à sua vida, mas é co-
de que ele tem sua subjetividade, quer dizer, ele também é uma pessoa. Da mesma
forma, o sujeito que tem um problema também tem sua subjetividade, sua história e
sua consciência estruturada e, portanto, ele continua uma pessoa, um sujeito integral,
enfrentar um processo terapêutico que pode ser longo. Além disso, o sujeito espera
que seu terapeuta o acolha e o compreenda, mas isto significa que o terapeuta
precisará, muitas vezes, olhar a vida e a problemática sob o olhar do outro. Isto
significa que cada pessoa tem uma história particular, individual, própria, apesar e além
casos clínicos e já descritos na literatura científica. Quer dizer que o sujeito encontra-se
em um determinado nível de Realidade e de nível de percepção que pode não ser igual
aos outros seres humanos e, além disso, carrega a sua própria individualidade
entendido como aquele sujeito que sabe tudo ou pelo menos deveria saber, quer dizer,
é o suposto saber, detentor do poder de realizar a reabilitação do paciente para que ele
tradicional, deve ser imparcial, não se envolver, pois ele é apenas um veículo de
paciente em também manter uma atitude transdisciplinar constante em sua vida e para
acessadas. Busca-se com isso que todas as coisas e seres possam encontrar seus
lugares, apesar de quase nunca este lugar configurar a totalidade do ser (NICOLESCU,
2008:101).
maior e, desta forma, impulsiona o aprendizado, mas para que isso seja possível a
pessoa deve aprender a olhar para dentro de si e compreender que as soluções aos
exterior até se chegar à linguagem interior, compreendendo que a via foi do significado
da palavra até o sentido da palavra e do discurso. Para tanto, foi preciso que ter uma
que foi dito e, desta forma, acessar esses conteúdos da consciência. Porém é
seja, à medida que o vínculo entre o sujeito e o terapeuta evolui, o sujeito vai
mostrando o que se costuma chamar de sua “realidade”, mas na verdade, mostra o seu
si e do mundo.
possibilidade de tornar o sagrado real, justamente por poder promover o diálogo entre o
No caso deste paciente, ele tinha a vida voltada para a escola e amigos (era
excelente aluno e dizia que nunca precisou estudar porque memorizava tudo e era
sua condição.
queria ser ele mesmo, mas ele de antes do problema. Essa outra pessoa ainda
continuava ali, mas de outro jeito, com limitações que deveriam ser enfrentadas,
ótimo aluno antes do problema e sabia disso e, exatamente por isso não aceitava as
maneiras diferentes de resolver aquela situação que para ele era caótica: antes era um
caráter que limitava sua evolução, expressa pela forte resistência a mudanças, a essa
nova realidade.
consegue realizar em colaboração o que ainda não faz sozinho, mas desde que tenha
capacidade intelectual para tanto, ou seja, desde que tenha potencialidades intelectuais
pode ser pensada como a zona de não resistência, a que resiste às representações,
alma. O menino buscava organizar-se nos estudos, lia os textos e matérias da escola
ou escrevia, e com relação à sua saúde já respeitava seus limites físicos, como o
solução.
personalidade-alma, quer dizer, ele começou a perceber que era somente ele quem
ou intuição, a qual pode ser considerada como premissa maior pela mente
intuições, situação essa em que o paciente disse que estava se lembrando das coisas.
percepção, o que garante uma afetividade crescente que assegura a ligação entre nós
(NICOLESCU, 2008).
176
CONSIDERAÇÕES FINAIS
linguagem. O conceito de linguagem deve ser ampliado e entendido como uma via de
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, JOÂO TADEU DE; COSTA, LIDUINA FARIAS ALMEIDA DA. Medicina
Complementar no SUS: práticas integrativas sob a luz da Antropologia médica.Saúde
Soc. São Paulo, v.19, n.3, p.497-508, 2010. Acesso em 11/10/2012. Disponível em
http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v19n3/03.pdf
BACHA, SMC; OSÓRIO, AMN. Fonoaudiologia & Educação: Uma Revisão Da Prática
Histórica. Rev CEFAC, São Paulo, v.6, n.2, 215-21, abr-jun, 2004. Acesso em 09/01/12.
Disponível em: http://www.cefac.br/revista/revista62/Artigo%2015.pdf
ORDEM ROSACRUZ AMORC. Manual Rosacruz. Rio de Janeiro: Rénes, s.d.: 252. In:
BERNI, LEV. O Homem Alfa e Ômega da Criação: A visão rosacruz do conhecimento
rumo à transdisciplinaridade. Curitiba: Grande Loja da Jurisdição de Língua
Portuguesa, 2010.
PRESTES, ZOIA RIBEIRO. Quando Não É Quase A Mesma Coisa: Análise de tradu-
ções de Lev Semionovitch Vigotski no Brasil. Repercussões no campo educacional.
Tese de Doutorado. Universidade de Brasília. Brasília, 2010.
APÊNDICE
____________________________
181
GLOSSÁRIO
Descontinuidade – conceito da física quântica que significa que entre dois pontos não
há nada, nem átomos nem moléculas, nem objetos, apenas nada.
Sagrado – é aquilo que liga seres e coisas, mas não como atributo da religião. É a
experiência de uma realidade e a origem da consciência de existir, sendo um elemento
essencial na estrutura da consciência. Há um duplo movimento simultâneo, com duas
direções ascendente e descendente, que atravessa os níveis de Realidade e os níveis
de percepção, originado na zona e resistência absoluta ou o sagrado que, como
terceiro incluído, concilia a transcendência imanente e a imanência transcendente,
permitindo o encontro do duplo movimento, de informação e da consciência, através
dos níveis de Realidade e dos níveis de percepção.
Zonas de não-resistência – aquilo que está além dos limites do corpo físico e dos
órgãos dos sentidos, mesmo usando qualquer instrumento de medição, a qual não se
submete a nenhuma racionalização, ou seja, corresponde ao sagrado. Desempenha o
papel de terceiro oculto ao permitir a unificação do sujeito e objeto transdisciplinares
sem eliminar as diferenças entre eles.
Zona de resistência absoluta - zona que resiste a toda compreensão qualquer que
seja o nível de Realidade.
185