Você está na página 1de 1

Ausência

- O que é a vida? – Perguntam-me.


Calo. Tudo fica em silêncio. Mas não é um silêncio comum
daqueles que antecedem as palavras.
É um silêncio eterno e inquisitório.
É um silêncio angustiante.
Não é um silencio de ‘’Ainda não’’
ou um silencio de espera. É um silencio sozinho
sem expectativas, sem ansiedade.
Um silêncio sem ‘’Além disso’’ e sem charme.
é um silencio sem ‘’daqui a pouco’’ e sem ‘’logo mais’’.
Não contem em si um ‘’depois disso’’.
Não é uma ausência de palavras, é apenas uma ausência.
É o silencio de algo que não chegou a acontecer.
Um silencio daquilo que nem sabíamos se podia acontecer.
É algo que não chegou a ser algo.
É um silencio sem ponto de referencia.
Sem algo a que se compare.
É silencio de vergonha, de pudor.
É o silencio de uma vítima muda e cega
que é interrogada sobre o crime ao qual foi apenas um objeto periférico.
Mas é um silencio calmo que não espera um ‘’Ate que fim’’.
Um silencio que não tem pressa por que não há tempo.

É um silencio que estrangula


e que nos prende a goela como quando seguramos o choro.
É um silencio expansivo, sem centro.
É um silencio que oprime
Que nos humilha sem rir de nós
Que nos profana sem falar blasfêmias.
Não é um silencio alegre, pois nada espera.
Não é um silencio triste, pois nada nos foi tirado.
é apenas silencioso, como por essência.
é apenas existente como qualquer algo.

Uns olham para os outros. Mas é um olhar de culpa


é um silencio que todos sabem que é ridículo.
e as vezes para romper com ele, alguns ousam responder
mas a resposta é pequena, ridícula, todos riem.
é uma pequena diversão antes do novo silencio.
todos sabem que foi ridículo.
E tudo volta ao silêncio.

Júlio Miguel de Aquino

Você também pode gostar