Calo. Tudo fica em silêncio. Mas não é um silêncio comum daqueles que antecedem as palavras. É um silêncio eterno e inquisitório. É um silêncio angustiante. Não é um silencio de ‘’Ainda não’’ ou um silencio de espera. É um silencio sozinho sem expectativas, sem ansiedade. Um silêncio sem ‘’Além disso’’ e sem charme. é um silencio sem ‘’daqui a pouco’’ e sem ‘’logo mais’’. Não contem em si um ‘’depois disso’’. Não é uma ausência de palavras, é apenas uma ausência. É o silencio de algo que não chegou a acontecer. Um silencio daquilo que nem sabíamos se podia acontecer. É algo que não chegou a ser algo. É um silencio sem ponto de referencia. Sem algo a que se compare. É silencio de vergonha, de pudor. É o silencio de uma vítima muda e cega que é interrogada sobre o crime ao qual foi apenas um objeto periférico. Mas é um silencio calmo que não espera um ‘’Ate que fim’’. Um silencio que não tem pressa por que não há tempo.
É um silencio que estrangula
e que nos prende a goela como quando seguramos o choro. É um silencio expansivo, sem centro. É um silencio que oprime Que nos humilha sem rir de nós Que nos profana sem falar blasfêmias. Não é um silencio alegre, pois nada espera. Não é um silencio triste, pois nada nos foi tirado. é apenas silencioso, como por essência. é apenas existente como qualquer algo.
Uns olham para os outros. Mas é um olhar de culpa
é um silencio que todos sabem que é ridículo. e as vezes para romper com ele, alguns ousam responder mas a resposta é pequena, ridícula, todos riem. é uma pequena diversão antes do novo silencio. todos sabem que foi ridículo. E tudo volta ao silêncio.