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Fernando Filgueiras
Doutorando em Ciência Política no IUPERJ
Mestre em Ciência Política pela UFMG
Resumo
Este artigo constrói uma crítica metodológica aos modelos formais e comparativos de estudo da
corrupção na política. Em primeiro lugar, apresento a agenda de pesquisas, iniciada na década de 1950, da
teoria da modernização e o modo como ela construiu um conceito e uma perspectivada corrupção. Em
segundo lugar, apresento as pesquisas conduzidas a partir da década de 1990, de viés econômico e
institucionalista. Argumento que estas abordagens do problema da corrupção naturalizam seu conceito e
sua prática. Isso ocorre porque o conceito e a prática da corrupção têm parâmetros culturais e
hegemônicos construídos pela teoria política, nos países do capitalismo central. Especulo, neste artigo,
que o tema da corrupção deve partir de uma teoria política que seja capaz e aberta o suficiente para
absorver os elementos semânticos que atravessam o conceito de corrupção. Desse modo, evita-se os
vieses comparativos e as correlações espúrias construídas ao longo de cinqüenta anos de pesquisa sobre o
tema da corrupção.
1. INTRODUÇÃO
corrupção deve ser alargado em direção aos diferentes sentidos semânticos atribuídos ao
conceito e à prática da corrupção nas ordens políticas contemporâneas. Isso permite a
construção de metodologias comparativas que ressaltem as diferenças nos processos
sociais da corrupção sem cair na armadilha de certo relativismo, o qual pode envolver o
conceito de corrupção, além de evitar os vieses epistemológicos pela universalização
hegemônica do conceito.
Penso que a abertura do conceito de corrupção a outros sentidos semânticos, que
não apenas o do comportamento maximizador utilitarista, possibilita a formatação de
outros significados e de outras práticas que estão envolvidas no universo da corrupção.
Sem embargo, este artigo é um manifesto contra a teoria política que instrumentalizou o
conceito de corrupção defronte às agendas de políticas determinadas por atores
internacionais. Argumento que, para a devida compreensão do conceito e da prática da
corrupção, é essencial a construção de uma outra teoria política, ou seja, uma teoria
política da corrupção. Isto porque o conceito de corrupção, da maneira como tratado
pelas pesquisas comparativas e formais, tem uma constante cultural dos países de
capitalismo avançado, o que não dá conta dos processos de corrupção no âmbito dos
países periféricos.
enquanto fenômeno, como uma realidade social objetiva, responsável por reproduzir um
tipo de estrutura predatória, a qual tende a configurar um conjunto de comportamentos
orientados por espólios e por vantagens obtidas de modo eminentemente ilegal. A
corrupção representa tanto uma função manifesta nos sistemas sociais, quanto uma
função latente, uma vez que, em sociedades cuja estrutura é tradicional, a corrupção é,
em essência, a própria norma, no sentido atribuído pelos modernos (Merton, 1970).
Como função manifesta, a corrupção tem por conseqüência fomentar ou impedir a
modernização, representando, em muitos casos, eventuais benefícios para a constituição
de uma ordem moderna, balizada, principalmente, nas iniciativas do espírito capitalista.
Para a sociologia da modernização há uma relação necessária entre corrupção e
modernização, uma vez que cenários de larga corrupção definem uma baixa
institucionalização política e, por sua vez, uma ordem fraca para a mediação e a
adjudicação de conflitos (Huntington, 1975).
A corrupção, fundamentalmente, pela tese da modernização, é mais evidente em
sociedades pouco desenvolvidas em relação aos critérios do moderno capitalismo, tendo
em vista o fato de que estas sociedades estão no centro dos processos de mudança
social. Ou seja, a mudança social produz um contexto favorável às práticas de corrupção
uma vez que as normas advindas com a modernização podem representar a corrupção,
de um ponto de vista tradicional, ao mesmo tempo em que são fracas para conter sua
prática. Em cenários de baixa institucionalização, portanto, a corrupção tende a ser uma
prática mais acentuada, já que os processos de modernização implicam a consecução de
novos atores na arena política, ensejando as clivagens sociais e um comportamento não
conducente à norma.
Seu conceito parte da idéia de que a prática da corrupção representa uma ação
intencional por parte de uma autoridade, no interior de um sistema social, que tende a
sobrepor seus interesses privados ao interesse comum, tendo em vista uma estrutura
normativa institucionalizada, a qual determina as fronteiras de uma ação aceita ou não
aceita no interior do sistema (Brooks, 1979).
O sistema normativo tanto pode motivar quanto inibir a prática de corrupção. Seu
sucesso em coibi-la, na vertente da modernização, depende da institucionalização
política, entendida como a aceitação de normas por parte de uma comunidade. Os
critérios de institucionalização são determinados funcionalmente, visando a assegurar a
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aprofunda, uma vez que as decisões coletivizadas são inefetivas como mecanismo de
canalização do comportamento tipicamente maximizador dos atores políticos
(O’Donnell, 1998). Situações de desordem propiciam práticas de corrupção, porque não
há institucionalização suficiente ou condizente com determinado contexto social.
A abordagem institucional da corrupção chama a atenção, por conseguinte, para a
necessidade de reformas institucionais, no plano político e econômico, visando a criar
regras fixas para a interação entre os interesses privados e o interesse público,
comungando com mecanismos institucionais que impeçam a existência de monopólios e
a captura da burocracia estatal por parte de funcionários públicos e de agentes privados.
Um excesso de controle para coibir a prática de corrupção, no entanto, pode implicar a
ineficiência da administração pública, fazendo com que a busca de integridade mediante
a maquinaria anticorrupção e as reformas institucionais caminhem, necessariamente, no
aumento gradativo e sistemático dos custos para o controle da corrupção (Anechiarico e
Jacobs, 1996).
Por outras palavras, não cabe às reformas institucionais reforçar o poder da
burocracia, uma vez que estas reformas resultariam em maior discricionariedade e em
maior incentivo para o pagamento de propina e de suborno, ou seja, em ampliação das
práticas de corrupção. Por outro lado, é necessário um mecanismo de agregação de
vontades particulares em decisões coletivizadas, visando a assegurar a consecução de
uma ordem estável e produtora de cooperação entre os indivíduos. No aspecto formal,
que representa um consenso entre analistas ligados a teorias neo-institucionalistas, a
prática de corrupção não é coibida mediante reforço do poder burocrático, mas pelo
fomento do mercado (North, 1990).
Paralelo às reformas das instituições políticas, cabe ao arranjo institucional
fomentar a existência de um mercado enquanto arena constante de negociação e de
catalisação dos interesses por parte de agentes econômicos e políticos. Os esquemas de
corrupção dependem dos recursos disponíveis políticos ou materiais para que as
autoridades ajam discricionariamente, redundando na criação de incentivos para o uso
de pagamentos de propinas e de suborno. Todavia, além disso, a corrupção, de acordo
com Rose-Ackerman, é uma prática que encontra motivação na proporção em que as
falhas de mercado estão presentes na cena política, fazendo com que os agentes públicos
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propinas por parte de legisladores racionais, que têm os custos da ação corrupta ou
corruptora ampliados (Rasmusen e Ramseyer, 1994).
Em essência, a abordagem econômica da corrupção, tendo em vista a perspectiva
neo-institucionalista, trabalha com a idéia de que os esquemas de corrupção representam
modelos de múltiplos equilíbrios. Ou seja, a corrupção assume dimensões sistêmicas
quando as estratégias adotadas pelos atores resultam em eventual sucesso das práticas
corruptoras. A corrupção é permanente, mesmo em contextos de liberalização do
mercado, na medida em que ela representa um custo menor do que os custos impostos
pela burocracia e pela ordem social. As estratégias bem sucedidas de corrupção tendem
a ser adotadas pelos atores, caso não haja elementos competitivos que inibam sua
prática (Mishra, 2006).
Deste modo, o único modelo de equilíbrio possível para o controle da corrupção é
a construção de instituições competitivas através de reformas que mantenham a
liberalização do mercado intacta. Apesar de a corrupção representar custos para o
próprio mercado, a adoção de uma estratégia corruptora por parte dos atores é preferida
em relação a estratégias conducentes à obediência das normas. Neste sentido, as
reformas devem optar pela construção de instituições competitivas, que trabalhem com
a idéia de controle externo, sobreposição de jurisdições, ombudsman e múltiplos “veto
powers” (Bardhan, 2006).
A perspectiva institucionalista e econômica defende reformas do Estado no
sentido da erosão dos monopólios estatais, da fragmentação das burocracias
profissionais e da privatização de empresas controladas pelo governo. O combate à
corrupção se dá através da criação de uma estrutura constitucional que limite o nível dos
benefícios dos monopólios sob controle do Estado, que, por natureza, é um expropriador
de riquezas dos agentes privados. Por outras palavras, para que ocorra um devido
combate à corrupção mediante os fatores institucionais exógenos à racionalidade dos
atores políticos, é necessária a transferência das atividades controladas pelo Estado
que é uma estrutura personalista por natureza para o mercado, tanto em sua dimensão
política, quanto em sua dimensão econômica.
O ponto central para o estudo da corrupção na política, de acordo com esta
abordagem institucionalista, é a consideração dos sistemas de incentivos criados pela
burocracia, para que os agentes tenham um comportamento “rent seeking”. As
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Na seção anterior deste artigo apresentei os elementos gerais que estão contidos
nas agendas de pesquisa sobre o tema da corrupção. Da mesma maneira, apresentei o
modo de acordo com o qual o controle da corrupção, derivado do conhecimento
acumulado em aproximadamente cinqüenta anos de pesquisa sobre o tema, está
relacionado à naturalização de seu conceito, em torno do comportamento maximizador,
e das instituições dos países do capitalismo avançado.
No que diz respeito à naturalização do conceito de corrupção, ele é pensado
sempre na fronteira dos interesses, passando por cima de elementos culturais
diferentes da abordagem culturalista da modernização , sociais e políticos (Filgueiras,
2004). Por outro lado, naturalizou-se, também, as instituições do capitalismo avançado
através da proposição normativa do desenvolvimento e da modernização, implicando,
por parte dos países periféricos, na importação de modelos e organizações políticas e
judiciárias. Além disso, o que diferencia as agendas de pesquisa sobre a corrupção é o
fato de que a abordagem da modernização fez um tratamento consequencialista da
corrupção, tendo em vista a metodologia funcionalista, enquanto a abordagem
institucionalista e econômica assentou-se na questão dos custos da corrupção para o
Estado e para o mercado.
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O lugar comum das pesquisas sobre o tema da corrupção, tanto as formais, quanto
as comparativas, é escamotear os processos sociais e os aspectos semânticos que estão
envolvidos no conceito e na prática da corrupção. Argumento que o tema da corrupção é
árido para as metodologias e as técnicas de pesquisa das ciências sociais. No entanto, é
fundamental a construção de uma teoria política da corrupção, a qual seja capaz de
alargar o horizonte de expectativas do conceito, por meio do mapeamento dos
elementos semânticos que estão contidos em sua prática.
De antemão, argumento que o tema da corrupção tem uma forte ligação com o
tema da moralidade. Por mais que as pesquisas formais tentem passar por cima disso, ao
assumir a naturalização do comportamento maximizador dos agentes políticos, existe
uma ligação com o tema da moralidade, pelo fato de haver uma orientação normativa
relacionada ao tema da ordem política. Ou seja, a corrupção é aquilo que a sociedade
constrói como o rompimento de uma orientação normativa, a qual é estabelecida pela
construção de juízos morais acerca do comportamento dos atores e das instituições.
Como observou Habermas, a linguagem da moralidade envolve, necessariamente,
a emissão de juízos justificados no plano da razão prática, os quais permitem a postura
de assentimento ou de rejeição por parte do sujeito. O jogo da linguagem moral envolve,
necessariamente, uma analogia da moral com o conhecimento, vinculando o sentido
prescritivo, tais como as asserções “correto” ou “proibido”, ao sentido epistêmico, tais
como as asserções “justificado” ou “injustificado” (Habermas, 2004). Não cabe,
portanto, um distanciamento metodológico entre ética e direito, ou entre ética e política,
para a análise do fenômeno da corrupção, porque, pelo fato de se tratar de juízos
emitidos pelos atores, que consideram a corrupção ou a integridade, necessariamente,
eles devem estar vinculados a uma norma.
No plano da linguagem, dizer que uma ordem política é íntegra ou corrompida,
significa mobilizar, no ato de fala, determinados valores justificados racionalmente,
fazendo parte de consensos normativos2 que orientam a ação dos atores em contextos de
interação. Para dizermos que uma ordem política é corrompida, ou não, depende do
modo como os agentes criam o significado de sua interlocução no plano da moral,
agregando à ordem o qualificativo de sua corrupção ou de sua integridade. O significado
da corrupção, dessa forma, prende-se a enunciados contingentes, conforme orientações
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A respeito do conceito de consensos normativos, conferir Eisenberg (2003).
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normativas que não escapam ao plano da moral. Porém, o plano moral da política
funciona, no caso da corrupção, em contextos de aplicação de valores. Por outras
palavras, a corrupção só pode ser apreendida em seu alcance na esfera pública através
das questões hermenêuticas que atravessam os juízos estabelecidos pelos atores em
contextos de interação.
No plano da linguagem, portanto, estabelecer se uma ordem é corrompida ou
íntegra, significa estabelecer juízos morais, os quais integram ao plano de aplicação de
conceitos os valores consensualmente formulados no plano moral. Desta maneira,
proponho que o tema da corrupção deve ser analisado conforme sua abrangência na
ordem política, social, cultural e econômica. Em primeiro lugar, porque o instrumental
empírico não permite averiguar, de modo exato, qual o custo da corrupção dentro da
sociedade. Em segundo lugar, porque, pela idéia de abrangência, especula-se de que
forma a corrupção se espalha na sociedade. E em terceiro lugar, porque uma abordagem
em torno da abrangência da corrupção procura justamente os elementos semânticos que
estão contidos no conceito e na prática da corrupção, ao contrário da abordagem
funcionalista, como a da teoria da modernização, que encobriu estes elementos
semânticos e agregou, na mesma ordem natural, as diferenças sistêmicas e singulares no
plano comparativo.
Apreender a abrangência da corrupção, desse modo, só é possível levando-se em
consideração os juízos empregados pelos atores ao estabelecer que determinada ordem é
corrompida ou não. O plano moral, portanto, é inescapável para a análise da corrupção,
tendo em vista o fato de ela ser compreendida, na esfera pública, não por orientações
subjetivas ou naturalizadas no plano do sistema, mas por orientações oferecidas pelos
valores dados à socialização. Não se trata, portanto, de mobilizar a moral para uma
reforma totalitária da ordem, mas de compreender os substratos políticos que dão
sustentação à norma, sem os quais não é possível compreender a corrupção na política.
Estes substratos políticos estão relacionados aos elementos fundacionais, sociais,
culturais e econômicos da corrupção, os quais integram quatro tipos ideais de corrupção,
de acordo com os tipos de juízos morais emitidos pelos atores.
Os juízos morais podem ser de valor ou de necessidade. No caso dos juízos
morais de valores, é necessária uma adesão interna dos indivíduos ao plano dos valores,
criados como uma forma consensual de vida que orienta o agir na realidade social
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3
Alasdair MacIntyre define dois tipos de bens, no plano ético. Os bens internos promovem a vinculação
empática dos agentes, de modo a fundamentar uma racionalidade orientada a valores e motivada por uma
identidade fundamental. Por outro lado, os bens externos estão relacionados ao dinheiro e poder, que
demandam um controle institucional da ação. Os bens externos, desse modo, definem uma racionalidade
tipicamente instrumental, formando um potencial corruptor de primeira ordem. A esse respeito, conferir
MacIntyre (2001).
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comportamento orientado por normas, nesse contexto, ocorre uma vez que o agente
moral se sinta obrigado consigo mesmo, ou seja, vincule a seu agir a conquista dos bens
internos, frente ao potencial corruptor dos bens externos, tornando-se honrado frente a
seus co-partícipes na comunidade. A corrupção é, necessariamente, um perigo para a
reprodução da tradição, porque o potencial corruptor dos bens externos torna a
excelência do agir vulnerável pela via de um viver cotidiano. A corrupção depende dos
campos simbólicos que designam as práticas dos agentes como honestas ou como
corruptoras, tendo em vista a honra pessoal em face do juízo emitido em torno dos
valores fundamentais da comunidade.
Em terceiro lugar, a corrupção pode assumir uma forma social, na medida em que
os juízos morais vinculam ao agir necessidades materiais. A semântica da corrupção é
estabelecida como a usurpação dos bens por parte dos agentes ou das instituições. Em
essência, configura-se o juízo moral em torno da semântica da segurança e da proteção
da propriedade e do bem comum. O descontrole das armas leva a uma restrição do
Estado como elemento garantidor da ordem. Substantivamente, a corrupção do Estado
está ligada a qualquer tipo de prática ilegal que vise a ampliar a riqueza em
contraposição aos procedimentos da justiça. A corrupção é um ato de violência que
implica na restrição do Estado, entendida por Rousseau (1998) como o fato de o
governo não administrar mais conforme o império da lei.
Finalmente, a corrupção pode estar associada a uma forma econômica, cuja
semântica representa qualquer tipo de apropriação indébita de um domínio público,
tendo em vista sua ilegalidade. Ao contrário da usurpação, entretanto, a corrupção,
compreendida em sua forma econômica, não ocorre por meio da violência, mas das
fraudes que envolvam o domínio público, rompendo a confiança depositada nos atores
políticos que representam as partes envolvidas na moral contratual4 . Uma vez que a
moral contratual não é respeitada em função de uma fraude, a qual se generaliza no
âmbito da sociedade, temos um contexto de desestabilização do modo de produção pela
via da corrupção, em sua forma econômica. O quadro abaixo mapeia as semânticas da
corrupção, conforme seus tipos ideais.
4
A respeito da moral contratual, conferir Durkheim (2002).
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Formas da
Política Cultural Social Econômica
corrupção
Conteúdo do juízo
Decoro Costumes Respeito Confiança
moral
Consideração do
juízo em contextos Prevaricação Desonestidade Usurpação Fraude
de corrupção
Mudança ou Campos simbólicos Práticas ilegais, que Apropriação indébita
suspensão dos que ordenam as visam a ampliar de uma coisa de
Substâncias da valores morais práticas designadas prestígio e renda, domínio comum,
corrupção fundamentais (de como honestas ou mediante ato mediante ação ilegal.
boa vida e de bom corruptas e/ou violento.
governo) corruptoras.
Reprodução de Restrição do Estado
Transferência de
Deslegitimação da práticas que colocam como mecanismo renda entre grupos
Conseqüências da ordem política. em risco a garantidor da sociais e
corrupção integridade da segurança, minando
monopolização de
comunidade. sua autoridade. atividades
econômicas.
Institucionalização Proibição de Proibição de Proibição de práticas
de determinados determinadas determinadas por parte dos agentes
princípios práticas por parte práticas por parte econômicos, visando
constitucionais que dos agentes morais, dos agentes privados à manutenção do
Normatização orientem e motivem visando à integração e do Estado, visando modo de produção
contra a corrupção
os agentes políticos, da comunidade à integração da (reprodução
para a manutenção (reprodução, sociedade econômica)
da ordem. mediante (reprodução social,
entronização) mediante regulação
externa ao agente)
Afirmo que os tipos ideais acima distinguem diferentes formas mediante as quais
podemos compreender a abrangência da corrupção nas ordens políticas contemporâneas.
Substancialmente, os tipos ideais acima apresentados estão relacionados com os
elementos semânticos que atravessam os enunciados lingüísticos, os quais atribuem a
probidade ou a corrupção de um ato praticado por um ator político. A abrangência da
corrupção, entretanto, deve somar ao ato praticado pelos atores o aspecto potencial que
atravessa seu conceito. Argumento que além do ato, a corrupção deve ser analisada em
sua potência sobre a ordem política.
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Limite das
necessidades
Limite dos
valores
Variação no
tempo
A B C tempo
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Do ponto de vista de uma axiologia do Estado, Weber destaca que, na modernidade, há um
esvaziamento de valores, de forma que a racionalidade se sobreponha às formas de encantamento típicas
dos antigos. Conferir, Weber (2002).
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Parto do princípio que as instituições são destinadas a controlar o poder, o dinheiro e as armas. São
organizações que absorvem e aplicam regras ao comportamento humano, de modo a estabilizar a vida
cotidiana.
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A respeito do conceito de socialidade, ver Baechler (1995).
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TIPOS DE
CORRUPÇÃO
ABRANGÊNCIA
DA CORRUPÇÃO
Círculo Os campos Mecanismos legais Mecanismos legais
institucional simbólicos que impeçam a que impeçam a
virtuoso, no qual as designam a usurpação do poder fraude e a
instituições são corrupção como e do dinheiro apropriação
Controlada
envolvidas por um mal que deve através do largo indébita de coisas
virtudes do corpo ser combatido com controle dos meios do domínio
político. a força repressora de violência. comum, tendo em
da própria vista certa
comunidade. igualdade de
classes.
Extensão do Os campos Um descontrole A burocracia do
clientelismo, do simbólicos toleram parcial das armas, Estado fomenta um
nepotismo e da a corrupção por ser acompanhado de contexto em que é
patronagem, ela um meio para baixo grau de mais vantajoso para
visando à auferir vantagens obediência em os agentes
reprodução de um materiais, em vista relação aos econômicos
Tolerada grupo estamental, do fato de ser comandos do pagarem propinas e
no conjunto da incorporada à Estado. subornos para
tradição política da tradição. continuarem suas
comunidade. atividades, em vista
de certa
desigualdade de
classes.
Declínio das Os campos Descontrole dos Monopolização de
virtudes cívicas simbólicos meios de violência certas atividades
pela total apatia designam a que fazem com que econômicas por
dos corpos da corrupção como os agentes do parte dos agentes,
república e o uma prática aceita Estado usurpem a fomentando maior
Endêmica declínio da em vista da propriedade alheia desigualdade
liberdade positiva desintegração dos e o domínio estatal social.
pelo esvaziamento laços comunitários, para auferir
da fundação da em face da ruptura vantagens privadas
ordem. com a tradição. e prestígio.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Posso dizer que esse é um artigo de protesto. O estudo da corrupção está associado
a agendas de pesquisa que reproduzem certos interesses e perspectivas de políticas que
são definidas, normalmente, no plano internacional. Por esta assertiva, mostrei que o
conceito de corrupção tem um parâmetro cultural e hegemônico. Argumentei que o
estudo da corrupção deve partir de uma premissa normativa, sem a qual não se
compreende o comportamento transgressor, nem mesmo seus processos dentro das
ordens políticas e sociais. A construção de uma teoria política da corrupção, portanto, é
essencial enquanto abordagem sistêmica do conceito e da prática da corrupção,
refinando o conceito pelo modo de acordo com o qual ocorre sua absorção e sua
tradução, visando a uma aplicabilidade que seja capaz de incluir o mundo periférico.
Por se tratar de um artigo de protesto, especulo que a devida análise da corrupção
deve se ater aos elementos normativos que estão envolvidos no plano lingüístico do
conceito de corrupção. Apenas dessa forma podemos ter uma noção da abrangência da
corrupção, tendo em vista uma taxonomia de seus processos, ou seja, das configurações
de poder envolvidas nos planos da ação e da potência da corrupção sobre a ordem.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS