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Politicas Publicas PDF
Politicas Publicas PDF
ALESSANDRO FONTENELLE
• Políticas Públicas
• Gestão Governamental
Brasília
2008
© 2008 Vestcon Editora Ltda.
Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de
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ou outros. Essas proibições aplicam-se também à editoração da obra, bem como às suas
características gráficas.
Matéria:
Políticas Públicas
Autores:
Luanna Sant’Anna Roncaratti
Alessandro Fontenelle
www.vestcon.com.br
SUMÁRIO
Políticas Públicas
POLÍTICAS PÚBLICAS
Conceito de Política Pública:
relação entre Política e Política Pública ....................................................5
Análise de Políticas Públicas ...........................................................................7
Modelos de tomada de decisão em política pública:
incremental, racional e suas variantes .....................................................10
As perspectivas do neo-institucionalismo na análise das estratégias e
dos resultados das políticas públicas..............................................................11
O papel da Burocracia no processo de formulação e implementação
de políticas públicas .......................................................................................12
Tipos de políticas públicas:
distributivas, regulatórias e redistributivas .............................................13
Políticas Públicas e suas fases:
formação da agenda.................................................................................14
formulação...............................................................................................15
implementação ........................................................................................17
monitoramento e avaliação .....................................................................18
Controle Social – transparência e participação social....................................19
Novos arranjos de políticas públicas..............................................................20
Federalismo e descentralização......................................................................21
Políticas Públicas no Brasil............................................................................22
GESTÃO GOVERNAMENTAL
Sistema de Planejamento e Orçamento do Governo Federal:
fundamentos legais ..................................................................................29
conceitos básicos do sistema de planejamento, orçamento
e financeiro ..............................................................................................29
gestão por programas ..............................................................................35
integração, planejamento e orçamento ....................................................43
eficiência do gasto público ......................................................................43
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POLÍTICAS PÚBLICAS
Luanna Sant’Anna Roncaratti
O CONCEITO DE POLÍTICA PÚBLICA E A RELAÇÃO De forma simplificada, pode-se dividir as diversas de-
ENTRE POLÍTICA E POLÍTICA PÚBLICA finições em dois blocos. A primeira define política pública
como escolhas que o governo opta por fazer ou não, sendo
O Conceito de Política Pública sempre governamental. A política pública é vista, em
geral, como um processo ordenado com estágios claros,
A política pública tem sido objeto de estudo de dominado por profissionais e especialistas, cujo objetivo
diversos autores e tem recebido inúmeras definições é responder às diversas demandas da sociedade.
diferentes. A primeira delas, relacionada a Dye (DYE O segundo bloco percebe a política pública como um
processo que envolve múltiplas decisões inter-relacio-
apud HOWLETT; RAMESH, 1996), percebe a política
nadas tomadas por grupos diversos de atores políticos.
pública simplesmente como uma escolha governamental,
Sob essa perspectiva, as políticas públicas, em geral, não
como qualquer coisa que o governo escolhe fazer ou não têm início e fim claramente determinados, definindo-se
fazer. e redefinindo-se de forma continuada por meio de um
Outra definição importante de política pública, cujo processo de revisão e retração e em função do contexto
principal expositor é Lasswell (LASSWELL apud HO- em que se desenvolvem. Tampouco possuem processo de
WLETT E RAMESH, 1996), a compreende como um racionalidade manifesta. Ao contrário, a elaboração de
processo ordenado em etapas, dominado por especialistas políticas públicas envolveria um processo complexo, com
e tecnocratas, no qual as instituições públicas respondem numerosas decisões tomadas por numerosos indivíduos e
às demandas da sociedade, canalizadas por grupos de órgãos, caracterizado por limites incertos e pela interco-
interesse e partidos políticos, atuando para alcançar as nexão entre as diversas ações do governo.
soluções mais adequadas às demandas iniciais. Sob essa Para facilitar a compreensão do conceito de política
perspectiva, cada uma dessas etapas se desenvolve de pública, Saravia (2006) enumera os componentes comuns
forma mais ou menos autônoma, com limites definidos, às diversas definições. Assim, pode-se dizer que as prin-
tendo princípio e fim. cipais características das políticas públicas são:
De forma distinta, Jenkins (JENKINS apud HOW- • institucional: a política é elaborada ou decidida
LETT; RAMESH, 1996) percebe a política pública como por autoridade formal legalmente constituída no
um conjunto de decisões inter-relacionadas tomadas por âmbito da sua competência e é coletivamente
vinculante;
um ator ou grupo de atores políticos, relativas à seleção
• decisório: a política é um conjunto-seqüência de
de metas e meios de atingi-las dentro de uma situação
decisões, relativo à escolha de fins e/ou meios, de
específica, na qual essas decisões devem, em princípio, longo ou curto alcance, numa situação específica
estar dentro da esfera de poder dos atores. Jenkins vê as e como resposta a problemas e necessidades;
políticas como processos, diferentemente de Dye, que as • comportamental: implica ação ou inação, fazer
vê como escolha. Parte da idéia de política pública como ou não fazer nada; mas uma política é, acima de
um comportamento orientado por objetivos. tudo, um curso de ação e não apenas uma decisão
Anderson, por sua vez, traz uma definição genérica singular;
de política pública (ANDERSON apud HOWLETT; RA- • causal: são os produtos de ações que têm efeitos
MESH, 1996). Concebe-a como um curso proposital de no sistema político e social.
ação seguida por um ator ou conjunto de atores ao lidarem
com um problema ou questão. Essa definição envolve dois A relação entre Política e Política Pública
elementos: decisões tomadas por conjuntos de atores, não
um ator isolado, e a ligação entre ação do governo e a A política se refere à atividade humana relacionada
percepção da existência de um problema ou questão que ao exercício do poder social. Tem foco na vida em grupo,
requer ação. A política pública é vista, então, como um na coletividade, na alocação de recursos por parte da au-
fenômeno complexo consistindo em numerosas decisões toridade. A política sempre envolve poder, mas trata-se,
tomadas por numerosos indivíduos e órgãos. antes disso, de processos sociais e coletivos de escolha.
O conceito de política também está essencialmente ligado
Para Saravia (2006), a política pública envolve um
a questões e batalhas distributivas, como quem ganha o
fluxo de decisões públicas, orientado a manter o equilíbrio
que, quando e como. Envolve, portanto, um conjunto de
social ou a introduzir desequilíbrios destinados a modificar procedimentos destinados à resolução pacífica de conflitos
essa realidade. Envolvem decisões condicionadas pelo em torno da alocação de bens e recursos públicos.
próprio fluxo e pelas reações e modificações que elas Para Rua (1998), as políticas públicas envolvem ne-
provocam no tecido social, bem como pelos valores, idéias cessariamente atividade política. As disputas políticas e as
POLÍTICAS PÚBLICAS
e visões dos que adotam ou influem na decisão. Pode-se relações de forças de poder deixarão sempre suas marcas
dizer que é um sistema de decisões públicas que visa a nos programas e projetos desenvolvidos e implementados.
ações ou omissões, preventivas ou corretivas, destinadas A política pública nunca será resultado apenas da análise
a manter ou modificar a realidade de um ou vários setores técnica e racional sobre um determinado problema. Assim,
da vida social, por meio da definição de objetivos e estra- o processo político, a interação de forças e atores em uma
tégias de atuação e da alocação dos recursos necessários determinada arena política, influenciará os resultados das
para atingir os objetivos estabelecidos. políticas públicas.
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Conforme Rua (1998), as políticas públicas resul- das funções de autoridade no sistema político. Para sa-
tam do processamento, pelo sistema político, dos inputs tisfazer as exigências e suscitar sustentáculos, o sistema
originários do meio ambiente e, freqüentemente, de produz decisões e ações em resposta às impulsões por ele
withinputs (demandas originadas no interior do próprio recebidas, são os outputs do sistema.
sistema político). Assim, pode-se afirmar que o sistema político está
Essa perspectiva tem como base a teoria de sistemas fundamentalmente em interdependência com seu am-
de Easton. Para Easton, a política é a abonação autoritá- biente, empenhando-se em converter as exigências e os
ria de valores, a atribuição autoritária de coisas de valor. sustentáculos que dele provêm em decisões e ações apro-
O sistema político pode, então, ser designado como o priadas. Em conseqüência, produz-se uma auto-regulação
conjunto das interações pelas quais se efetua a abonação do sistema, ou seja, uma regulação por retroação (feed-
autoritária de valores. Um sistema político se definiria, back). Desse modo, o sistema político produz outputs,
por conseguinte, como o conjunto das interações políticas que respondem aos inputs; mas que, por sua vez, reagem
verificadas numa dada sociedade. No modelo eastoniano, sobre eles e lhes dão forma. É o processo de retroação,
conforme Schwartzenberg, o sistema político é consi- pelo qual o funcionamento do sistema depende de seus
derado uma “caixa preta”, não se remetendo ao que se próprios outputs. A decisão é efetivamente uma resposta
passa no interior dessa caixa, porque a análise sistêmica às exigências e aos sustentáculos direcionados ao siste-
incide essencialmente nas relações do sistema com o seu ma, sendo também fonte de novas exigências e de novos
ambiente. apoios. Desse modo, as ações e decisões que o sistema
político empreende visam de maneira constante a maxi-
Figura 1 – Modelo sistêmico do processo político mizar o apoio disponível, respondendo de forma dinâmica
ao seu envolvimento.
os comportamentos favoráveis ao sistema, que podem necessários. Na realidade, o próprio atendimento das
ser de três tipos. O primeiro é o suporte da comunidade demandas deve ser um fator gerador de apoios – mas isto
política, o apego ao conjunto coletivo, à comunidade nem sempre ocorre, ou, mais comumente, ocorre apenas
nacional. O segundo é o suporte do regime, o conjunto parcialmente.
das regras do jogo, englobando valores sobre os quais se De todo modo, é na tentativa de processar as de-
assentam o sistema político, as normas e a estrutura de mandas que se desenvolvem “procedimentos formais
poder. O último é o apoio das autoridades, dos titulares e informais de resolução pacífica de conflitos” que ca-
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racterizam a política. As políticas públicas, por sua vez, penhar suas tarefas. Os burocratas são geralmente
seriam o resultado do processamento dos diversos inputs a peça-chave no processo de políticas públicas e as
e withinputs pelo sistema político. figuras centrais em vários subsistemas.
Quando as demandas se acumulam e o sistema não • Grupos de interesses e grupos de pressão – Os
consegue encaminhar soluções aceitáveis, ocorre uma grupos de interesse constituem-se por pessoas que
crise que ameaça a estabilidade do sistema, chamada de compartilham pelo menos um interesse comum e
“sobrecarga de demandas”. que atuam em prol do seu objetivo. Não dependem
Trata-se de uma crise que pode ameaçar a governabi- das relações com entidades públicas e podem até
lidade do sistema. Nesse caso, surgem pressões resultantes mesmo prescindir dessas relações para a execução
da combinação do excesso ou complexidade de demandas do seu objetivo, caso não busquem a modificação
com withinputs contraditórios e redução do apoio ou das políticas públicas.
suporte. Em decorrência, o sistema torna-se incapaz de Já os grupos de pressão são conjuntos de pessoas
gerar decisões razoáveis, o que pode levar até mesmo à ou organizações que têm como objetivo influen-
ruptura institucional, dependendo da sua gravidade e da ciar as decisões do poder público, em especial o
sua duração. Legislativo, em favor de determinados interesses
privados. As pressões podem ser exercidas também
Atores políticos sobre o Executivo, o Judiciário e os meios de co-
Os atores políticos são os envolvidos na política, municação.
ou melhor, nos conflitos em torno da alocação de bens e O principal recurso dos grupos é o conhecimento,
recursos públicos. Segundo Rua (1998), são aqueles cujos especialmente informações que podem não estar
interesses serão afetados, positiva ou negativamente, pelo disponível aos outros. Geralmente dispõem de
rumo tomado por uma política pública qualquer. outros recursos organizacionais e políticos: como
Como identificar os atores em uma política pública? dar contribuições financeiras a partidos políticos.
O critério mais simples e eficaz é estabelecer quem tem Seus impactos sobre a formulação e a implementa-
alguma coisa em jogo na política em questão. Ou seja, ção de políticas públicas variam consideravelmente
quem pode ganhar ou perder com tal política, quem tem de acordo com os seus recursos organizacionais.
seus interesses diretamente afetados pelas decisões e ações Seus recursos não garantem que seus interesses
serão contemplados, mas é pouco comum que os
que compõem a política em questão (RUA,1998).
grupos, tanto de interesse como de pressão, sejam
Os atores políticos são diversos e possuem caracte-
inteiramente ignorados.
rísticas distintas. Podem ser indivíduos ou grupos e estão
• Organizações de pesquisa – São em geral univer-
tanto dentro da máquina do Estado como na sociedade.
sidades ou think tanks, organizações independentes
Podem ser divididos em cinco categorias:
engajadas em pesquisas multidisciplinares para
• Funcionários eleitos – dividem-se em duas cate- influenciar as políticas públicas. Elas mantêm
gorias: membros do Executivo e do Legislativo. interesse em um amplo conjunto de problemas e
O Executivo possui autoridade de formular e empregam uma variedade de expertise. Sua pes-
implementar as políticas públicas. Possui vários quisa tende a ser direcionada para propor soluções
recursos que fortalecem sua posição: controle práticas para problemas públicos ou para achar
sobre informação, controle sobre recursos fiscais, evidências para apoiar as posições ideológicas que
a burocracia que provê conselhos e desenvolve defendem. A partir de análises e criticas, podem ter
suas preferências. um impacto notável sobre as políticas públicas.
O Legislativo, por sua vez, envolve fóruns impor- • Mídia – A mídia em geral tem o potencial de
tantes nos quais problemas sociais são enfatizados influenciar fortemente as preferências do governo
e políticas para respondê-los são demandadas. No e da sociedade na definição e na solução de pro-
entanto, o potencial das legislaturas geralmente blemas. Principalmente os jornais e a televisão
não se realiza na prática. Ocorre, muitas vezes, são importantes agentes formadores de opinião,
a dominância do Executivo sobre o Legislativo, apresentando uma grande capacidade de mobilizar
e a natureza do problema também afeta o envol- a ação de outros atores e influenciar as políticas
vimento da Legislatura no processo político. públicas.
Em decorrência, as legislaturas geralmente desem- O seu papel na definição da agenda é significativo:
penham pequeno papel no processo de políticas o retrato que faz de problemas públicos e soluções
públicas. Enquanto alguns legisladores individu- propostas geralmente condiciona como eles são
almente podem, de acordo com suas experiências compreendidos pelo público e pelo governo. Não
ou interesse especial no problema, ser incluídos se deve, porém, exagerar seu papel no processo de
no subsistema, legislaturas como um todo não são políticas públicas, que é geralmente esporádico e
atores muito significantes na formulação e na im- freqüentemente marginal. Além disso, outros atores
plementação de políticas públicas, principalmente têm recursos para contrabalançar sua influência.
POLÍTICAS PÚBLICAS
e defende que toda a escolha pública e a teoria econômica humano, o resultado de ações propositadas por indivíduos
da política podem ser resumidas pela pressuposto de que instrumentalmente orientados. As instituições também
pessoas devem ser tratadas como maximizadores racionais modelam as preferências individuais e a extensão na qual
de suas utilidade (HOWLETT; RAMESH, 1996). elas podem se realizar. Sob essa perspectiva, os fenômenos
Acredita-se que os atores individuais são guiados pelo políticos, dentre eles, as políticas públicas, resultariam da
auto-interesse e buscam sempre o curso de ação que mais interação entre as instituições, que definiriam as regras do
se adapta às suas vantagens. Assim, os governos demo- jogo, e o comportamento dos indivíduos nessa arena.
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O argumento não é de que instituições causam ações, Deve-se citar também como problemas dessa abor-
mas de que elas afetam as ações, modelando a interpreta- dagem:
ção de problemas e possíveis soluções e constrangendo a • a falha em reconhecer que os Estados quase nunca
escolha das soluções e a forma e extensão na qual podem fazem políticas de forma essencialmente técnica
ser implementadas. (sabe-se que a escolha geralmente é política de-
No entanto, esse arcabouço teórico apresenta alguns limitada por instituição política, feita por atores
problemas, como a inabilidade em prover explicações políticos, geralmente em respostas a pressões
coerentes e plausíveis da origem das instituições sem políticas);
recorrer ao funcionalismo. Esse modelo é apresentado • por negligenciar variáveis políticas, essa perspec-
de forma mais aprofundada no item “As perspectivas tiva é comumente descrita como um mito, uma
do neo-institucionalismo na análise das estratégias e dos ilusão teórica, que promove uma visão falsa e
resultados das políticas públicas”. ingênua do processo de políticas públicas.
• “Falhas de governo”: Estas envolvem desajustes entre Estado e os grupos de interesse ou grupos reco-
organizacionais e custos crescentes na tomada de nhecidos pelo Estado. Em decorrência, a interação entre
decisões e implementação de políticas públicas. grupos é institucionalizada dentro do Estado, que não é
Por isso, os governos não devem apenas examinar monolítico, mas uma organização com fissuras internas
as falhas de mercado cuidadosamente, mas avaliar que afetam suas ações.
também sua própria capacidade de corrigi-las antes Os principais problemas do corporativismo na análise
de tentar fazê-lo. de políticas públicas são:
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• descreve categorias de um tipo particular de arranjo Modelo incremental (Lindblom)
político;
• desenvolve pouco a noção de processo de política Neste modelo, as decisões de políticas públicas são
pública, vistas como um processo político caracterizado pela barga-
• não contém uma noção clara de grupo de interesse; nha e pelo compromisso entre decisores auto-orientados.
• aborda vagamente a significância de grupo na As decisões limitam-se a decisões sucessivas anteriores,
política; sendo, portanto, apenas marginalmente diferentes das
• não tem clara concepção da natureza do Estado, de anteriores. Dessa forma, ocorreriam apenas mudanças
seus interesses e de porque ele reconhece alguns incrementais no status quo.
grupos e outros não. O modelo incremental traz duas constatações ao
processo de políticas públicas: 1) por mais adequada que
Estatismo seja a fundamentação técnica de uma alternativa, a decisão
Segundo essa perspectiva, os Estados criam, organi- envolve relações de poder; 2) os governtos democráticos
zam e regulam as sociedades. Eles dominam outros órgãos não possuem efetivamente liberdade total na alocação de
dentro de um território particular, moldando sua cultura recursos públicos.
e sua economia. A principal crítica a este modelo se refere à sua pou-
O Estado é visto, portanto, como um ator autônomo ca compatibilidade com as necessidades de mudanças
com a capacidade de implementar seus objetivos, não necessárias à gestão de programas e projetos, podendo
necessariamente respondendo às pressões impostas por gerar prejuízos à eficiência do Estado e legitimar um viés
grupos ou classes sociais dominantes. conservador no processo decisório.
A autonomia e a capacidade do Estado se baseiam
na sua equipe de funcionários com experiências espe- Modelo da Análise Misturada (mixed-scanning
cializadas e no fato de constituir-se em uma organização model – Etzioni)
soberana com recursos financeiros, pessoais e coercitivos
sem paralelo. Em razão disso, o Estado é mais que uma Combina elementos dos dois modelos anteriores.
mera arena para os grupos sociais. Prevê dois tipos de decisões:
Essa abordagem, no entanto, não leva em conta as • incrementais (ordinárias, do dia-a-dia);
liberdades sociais. Além disso, é impossível para um Es- • fundamentais (estruturantes, estratégicas). Assim,
tado democrático ser autônomo da sociedade com direito tomam-se as decisões estruturantes e estratégicas
de voto nos dias atuais. da forma mais racional possível, e as decisões mais
detalhadas tendem a ser elaboradas e implementa-
MODELOS DE TOMADA DE DECISÃO EM POLÍTICA PÚ- das de forma incremental.
BLICA: INCREMENTAL, RACIONAL E SUAS VARIANTES Sugere que a tomada de decisões ótima consistiria
numa busca apressada, superficial (scanning) de alterma-
Conforme Rua (1998), existem diferentes formas de tivas, seguida pela investigação detalhada da alternativa
“pensar” uma solução ou uma política pública em resposta mais promissora. Requer que os tomadores de decisão se
a um problema público. Três modelos principais de tomada engajem em uma ampla revisão do campo de decisão, sem
de decisão em política pública são considerados: se dedicar, no entanto, à análise detalhada de cada alterna-
• modelo racional-compreensivo; tiva, que ocorre no modelo racional-compreensivo.
• modelo incremental; Permitiria mais inovação do que o modelo incremental
• modelo mixed-scanning (análise misturada). sem impor as demandas irrealistas do modelo racional.
Modelo Racional-Compreensivo (H. Simon) Modelo irracional (ou lata de lixo – garbage
can model)
Neste modelo, a tomada de decisão segue as seguintes
atividades seqüenciais: Vários modelos partem do pressuposto da irracio-
• Um objetivo para solucionar um problema é esta- nalidade na tomada de decisões de políticas públicas.
belecido. O modelo da lata de lixo, um dos mais conhecidos dessa
• Todas as estratégias alternativas para alcançar o perspectiva, defende a forma inerentemente irracional do
objetivo são exploradas e listadas. processo de tomada de decisão. Nega até a racionalidade
• Todas as seqüências significantes de cada alterna- limitada permitida pelo incrementalismo. Os demais
tiva estratégica são previstas e as probabilidades modelos pressupõem um nível de racionalidade, de com-
dessas conseqüências ocorrerem são estimadas. preensão de problemas e previsibilidade de relações entre
• Por fim, a estratégia que parece resolver o problema atores que não são obtidos na realidade. Para os defenso-
ou que o resolve com menor custo é selecionada. res dessa abordagem, a tomada de decisões é altamente
Esse modelo parte de um pressuposto ingênuo de que ambígua e imprevisível, pouco relacionada com a busca
POLÍTICAS PÚBLICAS
a informação é perfeita e não considera limites cognitivos de meios para alcançar fins.
em se analisar todas as opções de políticas. Tampouco As oportunidades de decisões são vistas como uma
considera adequadamente o peso das relações de poder lata de lixo em que vários problemas e soluções são jo-
na tomada de decisões. Os decisores, muitas vezes, são gados pelos participantes. A mistura do lixo numa única
obrigados a selecionar políticas públicas em bases po- lata depende em parte dos rótulos vinculados às latas
líticas, ideológicas ou aleatoriamente, sem referência a alternativas, mas também depende de qual lixo esteja
padrões de eficiência. sendo produzido no momento.
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Sob essa perspectiva, a construção de conhecimento é sempre tenha que compensar a parte prejudicada em um
coletiva e a compreensão dos problemas e das soluções é grau em que seja custoso violar um contrato. Alcançar uma
limitada. O processo de políticas públicas se dá em um con- imposição de terceiros para contratos é o maior dilema
texto de incerteza e em um sistema de tentativa e erro. para as sociedades.
Esse modelo tira a aura de ciência e racionalidade As instituições distinguem-se das organizações.
atribuída à tomada de decisões. Defende que os objetivos O propósito das regras (instituições) é definir a forma na
são freqüentemente desconhecidos para os decisores, qual o jogo será jogado; enquanto que as organizações in-
assim como as relações causais. Os decisores definem as cluem corpos políticos, econômicos ou sociais, formados
metas e escolhem meios em um processo necessariamente por grupos de pessoas com o mesmo objetivo. Ou seja, se
contingente e imprevisível. as instituições são as regras do jogo, as organizações são
aqueles que “jogam o jogo”.
AS PERSPECTIVAS DO NEO-INSTITUCIONALISMO NA Essa abordagem, no entanto, possui várias vertentes,
ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS E DOS RESULTADOS DAS não sendo algo uniforme. Uma das vertentes compartilha
POLÍTICAS PÚBLICAS elementos com a abordagem da escolha racional. Consi-
dera-se, portanto, que os indivíduos são racionais, isto é,
Definição de instituições exibem consistência em suas preferências, sendo elas com-
pletas e transitivas. Sabe-se, contudo, que a agregação de
Em toda política pública, conforme Saravia (2006), preferências individuais consistentes não produz escolhas
as instituições desempenham um papel decisivo. Delas coletivas racionais. Ou seja, a racionalidade individual
emanam ou elas condicionam as principais decisões. De dificilmente conduzirá à racionalidade do grupo, o que
acordo com North (1990), as instituições são as regras resultará em equilíbrios socialmente subótimos.
do jogo numa sociedade ou, mais formalmente, são os As instituições são uma solução para conduzir a
constrangimentos que modelam as interações humanas. resultados socialmente melhores, resolvendo o problema
Em conseqüência, elas estruturam os incentivos nas trocas da credibilidade entre indivíduos e conduzindo-os ao
humanas, sejam elas políticas, sociais ou econômicas. comportamento cooperativo.
As instituições reduzem a incerteza provendo a
estrutura da vida cotidiana. São guias para as interações A mudança institucional e a dependência da
humanas, definindo e limitando o conjunto de escolhas trajetória
dos indivíduos. As instituições podem ser formais (regras
escritas) e informais (convenções e códigos de compor- Segundo North (1990), as instituições tendem a mudar
tamento). mais de forma incremental que de maneira descontínua.
A compreensão do comportamento dos atores é necessária
Quadro 1 – Exemplos de instituições formais e para a explicação da direção da mudança institucional.
informais O comportamento humano aparenta ser mais complexo do
que o defendido nos modelos de utilidade individual.
Instituições formais Instituições informais As instituições alteram os preços que os indivíduos
Regras de comércio Vínculos históricos pagam e conseqüentemente conduzem a idéias, ideologias
internacional entre países e dogmas, ocupando freqüentemente um papel maior nas
escolhas que os indivíduos fazem. North cita o argumento
Posturas e atitudes em
Direitos de propriedade de Ronald Heiner de que há um espaço entre a competên-
relação às mulheres cia do indivíduo em decifrar problemas e a sua dificuldade
Relações empresá- em selecionar suas alternativas preferidas (CD gap). Essa
Leis trabalhistas
rio-cliente seria a maior chave para a forma na qual os indivíduos
se comportam. Atores podem dispor de informações tão
São as regras formais e informais, somadas às ca- pobres que não identificam as melhores alternativas. Por-
racterísticas de imposição (enforcement) dessas regras tanto, o neo-institucionalismo leva em conta também que
que definem o conjunto de escolhas e os resultados do os indivíduos agem baseados em informações incompletas
processo. A extensão da diversidade de interesses políticos e com modelos subjetivos errôneos.
e econômicos, dada a força de barganha relativa, influen- Na realidade, há assimetrias informacionais entre os
ciará a estrutura de regras. Para a maioria das questões, jogadores, havendo assim implicações para a teoria eco-
diz o autor, não há apenas um equilíbrio possível, mas nômica. Não apenas uma parte da negociação sabe mais
múltiplos equilíbrios. sobre um atributo que a outra parte como ela pode agir
A imposição de regras é tipicamente imperfeita por oportunisticamente, ocultando essa informação (relação
duas razões: devido aos custos de mensuração já abor- agente–principal).
dados e ao fato de que essa imposição é implementada Além disso, a ocorrência da mudança institucional
por agentes cujas funções de utilidade influenciam os depende dos custos de transação envolvidos para alterar
POLÍTICAS PÚBLICAS
resultados. Para North, a incapacidade de sociedades em um “estado de coisas”. Custos de transação consistem em
desenvolver imposição de contratos efetiva e de baixo custos de medir os atributos do que está sendo trocado e os
custo é a fonte mais importante da estagnação e subde- custos de proteger direitos e de fazer cumprir acordos.
senvolvimento. Em decorrência, apenas quando for do interesse
A imposição de regras por um terceiro requer uma daqueles com maior poder de barganha alterar as regras
parte neutra com a habilidade de medir atributos de um formais, haverá maiores mudanças na estrutura institucio-
contrato e impor acordos, de forma que a parte ofensora nal formal. No entanto, mudanças marginais incrementais
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ocorrem nas complexas instituições formais e informais. • sua posição permanente na estrutura de formulação
Essas pequenas mudanças alteram a estrutura institucional e implementação das políticas, que se constitui em
ao longo do tempo. um dos recursos mais eficazes.
Assim, a mudança institucional tipicamente consiste É no processo de execução dos programas governa-
de ajustamentos marginais no complexo de regras, normas mentais que resulta mais clara a influência da burocracia
e imposição que constituem a estrutura institucional. Ou sobre o conteúdo e o alcance desses programas. Na realida-
seja, mudanças institucionais são incrementais. de, os objetivos das políticas públicas tendem a ser incon-
O autor refere-se, então, a uma teoria evolutiva das sistentes e difusos; os recursos são sempre insuficientes; o
instituições segundo a qual ao longo do tempo institui- controle é muito superficial e formalista; e as circunstâncias
ções ineficientes são eliminadas, instituições eficientes de trabalho na Administração Pública tendem a ser desenco-
sobrevivem, havendo assim uma evolução gradual de rajadoras. Em resposta a essa indeterminação, os burocratas
formas de organização econômica, política e social mais tendem a apresentar três tipos de respostas:
eficientes. • geram pautas de atuação que tendem a limitar a
Portanto, se o processo pelo qual se chegou às institui- demanda, a maximizar a utilização dos recursos e
ções atuais é relevante e constrange escolhas futuras, não a obter a resposta positiva do público-alvo, para
se pode compreender as escolhas de hoje sem se traçar a reforçar a sua própria existência.
evolução incremental das instituições. • tendem a modificar o seu trabalho, de forma a
A dependência da trajetória (path dependence) des- ajustar os objetivos do programa aos recursos dis-
creve o fato de que uma decisão ou política pública, uma poníveis, reduzindo os objetivos ou simplesmente
vez implementada, tende a criar uma série de interesses e modelando-os às condições existentes.
processos ao seu redor, que tornam as mudanças custosas • modificam a sua própria definição do que deveria
e, em algumas situações, quase impossíveis. Dessa manei- ser o serviço prestado, para assim acomodar a dis-
ra, uma vez que uma política é colocada em uma direção, tância entre objetivos e resultados e encontrar uma
é difícil mudar sua trajetória, em razão da rede de institui- resposta positiva do seu trabalho entre a clientela
ções e interesses criada ao seu redor. Não se trata, porém, atendida.
da inevitabilidade na qual o passado prediz o futuro. Deve-se ter em conta também que a burocracia tem
a capacidade de competir pelo preenchimento de cargos
O PAPEL DA BUROCRACIA NO PROCESSO DE FORMU-
governamentais e pela alocação de recursos orçamentá-
LAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
rios. A competição interburocrática pode contribuir para
o alargamento da participação política, mas também pode
A burocracia tem desempenhado um papel central
ser prejudicial à formulação de políticas governamentais
no encaminhamento de decisões cruciais, que afetam di-
coerentes. Esse tipo de competição pode levar à fragmen-
retamente a vida dos cidadãos. Ainda assim, é incipiente
o conhecimento relativo a este ator, especialmente nas tação excessiva do processo decisório, gerando medidas
democracias não consolidadas (RUA; AGUIAR, 2006). contraditórias e impasses intragovernamentais (RUA;
A burocracia pode ser definida como um conjunto de AGUIAR, 2006).
pessoas organizadas de forma hierárquica, que realizam
um trabalho de natureza eminentemente rotineira, repe- Insulamento Burocrático
titiva, com pautas de trabalho fixas e normatizadas. No
entanto, conforme Subirats (2006), não é conveniente Trata-se de um mecanismo de intermediação de
definir a burocracia como mera executora indiferente das interesses que descreve a relação entre a burocracia e a
decisões políticas. sociedade. Supõe uma espécie de isolamento do núcleo
Torna-se claro que a burocracia não é composta de técnico do Estado contra a interferência do público. Des-
agentes neutros, mas dotados de interesses próprios, que se modo, a alta burocracia estatal da sociedade permane-
tentam maximizar e são capazes de mobilizar recursos cia isolada, conhecida como tecnocracia, implementando
políticos. Além disso, são capazes de desenvolver con- políticas e tomando decisões sem a participação do povo
cepções próprias sobre as políticas públicas e o seu papel ou sociedade e de seus representantes. Significa uma
no jogo político, independentemente de considerações redução do escopo da arena em que os interesses e as
técnicas, e de competir com os políticos visando a decisões demandas populares podem desempenhar um papel na
favoráveis às suas propostas e até mesmo pelo processo tomada de decisões. A participação é vista como maléfica
político (RUA; AGUIAR, 2006). por atrasar ou emperrar a discussão sobre questões de
Para compreender o papel da burocracia, deve-se interesse público ou porque os diversos atores sociais
ter em conta seus recursos específicos, que lhe permite não possuem o conhecimento necessário para participar
exercer um protagonismo maior do que o previsto nas do processo.
análises tradicionais (Subirats, 2006). Os recursos mais Durante todo o regime militar no Brasil, buscou-se
importantes da burocracia são: isolar a Administração Pública da influência da sociedade,
• o controle sobre a informação e capacidade profis- de modo que as decisões eram tomadas sem que houvesse
POLÍTICAS PÚBLICAS
sional: é a burocracia que melhor conhece o que qualquer participação e as políticas públicas eram execu-
está ocorrendo nos programas públicos, conhece o tadas sem mecanismos de controle social.
grau de aceitação que geram e as principais falhas Sob esse paradigma, chamado também de paradigma
em seu desenho que devem ser modificadas. tecnocrático, independentemente do regime político em
• a rede de contatos formais e informais que lhe dá vigor, a eficiência governamental deveria ser privilegiada
uma grande acessibilidade e uma notável influência por meio de concentração, centralização e fechamento do
na estrutura administrativa. processo decisório.
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Anéis burocráticos nada em comum. A estrutura dessas relações de assistências
Segundo Cardoso (1974), anéis burocráticos são mútua, envolvendo favorecimento ou benefícios em troca
círculos de informação e pressão (portanto, de poder) de votos ou de apoio eleitoral, conduz tipicamente ao Con-
que se constituem como mecanismo para permitir a gresso Nacional, onde se pode perceber uma estruturação
articulação entre setores do Estado (inclusive das forças relativamente estável, na qual todos se apóiam mutuamente.
armadas) e setores das classes sociais. Permitem, portanto, Outro exemplo são iniciativas caracterizadas pela patro-
a articulação entre setores do Estado e de determinados nagem e clientelismo (pork barrel), em que benefícios
grupos da sociedade para garantir o acesso privilegiado a individuais são trocados por apoio político.
certas decisões públicas. As questões distributivas individualizam e restringem
o conflito, oferecendo bases para coalizões altamente es-
TIPOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS: DISTRIBUTIVAS, táveis. As arenas distributivas são aquelas em que domina
REGULATÓRIAS E REDISTRIBUTIVAS um padrão pluralista, no qual, em princípio, todos os atores
são equivalentes, ou seja, todos têm chances de obter a
A classificação das políticas públicas em diferentes decisão que lhes seja mais favorável.
tipos segue a concepção de que diferentes áreas de ati-
vidade governamental tendem geralmente a desenvolver Políticas Regulatórias
estruturas políticas características.
Parte-se da perspectiva de que a política segue as A regulação é o processo ou atividade em que o
políticas públicas (politics follows policies). Ou seja, governo requer ou prescreve certas atividades ou com-
as políticas públicas, os interesses nelas envolvidos mol- portamentos a indivíduos ou organizações, privadas ou
dam e definem as decisões de política e as características públicas, e faz isso por meio de processo administrativo
da arena na qual ocorrerá o jogo político. contínuo, geralmente por intermédio de agências regu-
Os interesses seriam definidos a partir das especia- latórias especialmente desenhadas. As regulações são
lidades intrínsecas das políticas públicas, conforme a prescrições do governo que precisam ser cumpridas,
maneira na qual os custos e benefícios da política pública envolvendo penalidades caso não sejam.
incidem sobre os atores (ou como a incidência de custos Essas políticas trabalham com ordens e proibições,
é percebida por eles). decretos e portarias. Os efeitos referentes aos custos e
Assim, o padrão de interação política entre atores benefícios não são determináveis de antemão; dependem
é, ele próprio, definido pela natureza da política pública da configuração concreta das políticas. Os impactos des-
em questão. sas políticas abrangem geralmente setores da economia,
sendo ao longo de linhas setoriais que se vão acumulando
Políticas Distributivas as decisões desse tipo.
As políticas regulatórias também têm impactos es-
As políticas distributivas são políticas de alocação pecíficos e individualizados. Porém, não são passíveis da
de recursos. Caracterizam-se pela facilidade com que desagregação quase infinita, típica das políticas distributi-
podem ser desagregadas e seus recursos dispensados de vas. Distinguem-se das distributivas pelo fato de, a curto
forma atomizada a unidades isoladas, sem obediência a prazo, envolverem uma escolha direta entre quem será
qualquer critério mais geral e universalista. Em geral, favorecido e quem será desfavorecido.
as políticas distributivas beneficiam um grande número de Embora as leis ou regulamentos sejam estabelecidos
destinatários, todavia em escala relativamente pequena. em termos gerais, o impacto das decisões regulatórias
São políticas individualistas, em que há a multiplicidade eleva diretamente os custos, reduzindo ou expandindo
de interesses e de possibilidades de acesso, o que reduz as alternativas de ação dos agentes individuais privados.
as chances de conflito. Os custos e benefícios podem ser distribuídos de forma
Envolvem decisões tomadas pelo governo que des- igual e equilibrada entre os grupos e setores da sociedade,
consideram a questão dos recursos limitados. Além disso, do mesmo modo como as políticas também podem aten-
são caracterizadas por um baixo grau de conflito dos der a interesses particulares e restritos. Os processos de
processos políticos, visto que essas políticas só parecem conflito, de consenso e de coalizão tendem a se modificar
distribuir vantagens, e não acarretar custos (diretamente conforme a configuração específica das políticas.
percebíveis) para outros grupos. A arena regulatória parece ser composta de uma
Nas políticas distributivas, é marcante a presença do multiplicidade de grupos organizados em torno de re-
consenso e da indiferença amigável. O relacionamento lações caracterizadas por interesses que se tangenciam
dos atores assemelha-se ao de “não-interferência mútua”, ou de “atitudes compartilhadas”. É possível aceitar a
segundo o qual é adequado que cada um procure benefícios afirmação pluralista mais radical de que uma política
ou favorecimento para si próprio, mas é inadequado e in- governamental tende a ser um resíduo da interação de
justo opor-se aos favorecimentos ou benefícios buscados grupos em conflitos.
por outros. Nesse caso, a base para coalizões é inteiramente dife-
POLÍTICAS PÚBLICAS
As políticas distributivas envolvem atividades gover- rente da distributiva. A estrutura típica de poder na política
namentais nas quais os favorecidos e os não favorecidos, regulatória é muito menos estável que a da distributiva.
os beneficiados e os não beneficiados nunca precisariam Como as coalizões se formam em torno do interesses com-
entrar em confronto direto. Os desfavorecidos, nesses partilhados, elas se alteram à medida que esses interesses
casos, sequer podem ser identificados como grupo. mudam ou que surjam conflitos entre eles.
Uma coalização fundada nessas bases não se molda no Trata-se de um padrão que combina pluralismo
conflito. Ao contrário, compõe-se de membros que não têm com elitismo, em que os resultados tendem a já estarem
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definidos previamente pelos interesses das elites, que geralmente presentes. Portanto, a separação das políticas
controlam os recursos organizacionais e regulamentam públicas em fases é recurso mais importante para fins de
a sociedade. análise do que um fato real do processo político.
Assemelham-se às políticas regulares, no sentido A palavra agenda tem muitos usos. Para Kingdon
de que envolvem relações entre amplas categorias de (2006), ela é a lista de temas ou problemas que são alvo
indivíduos e em que as decisões individuais precisam ser em dado momento de uma séria atenção tanto por parte
inter-relacionadas. Ou seja, não podem ser atomizadas das autoridades governamentais como de pessoas fora do
ou casuísticas como as distributivas. São diferentes na governo, mas estreitamente associadas às autoridades.
natureza do impacto, pois atingem categorias do tipo das A construção da agenda envolve um processo de es-
classes sociais ou algo próximo: ricos e pobres, grandes pecificação de alternativas no qual se restringe o grande
e pequenos. conjunto de alternativas possíveis a um grupo menor a
Constituem fatores destinados a afetar relações de partir do qual as escolhas são realmente efetuadas. A idéia
poder. Sua estrutura política parece estar muito estabiliza- de “inclusão na agenda”, em geral, refere-se ao estudo e à
da, virtualmente institucionalizada, devido à estabilidade explicitação do conjunto de processos que conduzem os
ou ao equilíbrio observável nas relações entre os grandes fatos sociais a adquirir status de “problema público”.
segmentos ou classes no conjunto da sociedade, ou mes- Ao falar de agenda, deve-se diferenciar a agenda sis-
mo dos impasses existentes. Tal estabilidade deriva de têmica ou pública da agenda de governo ou institucional.
interesses compartilhados no interior de cada um desses A agenda sistêmica ou pública é a agenda da sociedade
grandes conjuntos sociais ao contrário do que ocorre na para discussão de problemas públicos. Envolve todas
arena distributiva. as questões percebidas pela comunidade política como
Na redistribuição, nunca haverá mais de dois lados, merecedoras de atenção pública.
e esses lados serão sempre claros, estáveis, consistentes. Já a agenda governamental ou institucional é com-
É possível a negociação, mas apenas com a finalidade de posta pelo que é visto como problema pelo governo,
reforçar ou suavizar o impacto da redistribuição. sobre o qual se precisa fazer algo. Apenas uma pequena
Por isso, as políticas redistributivas exigem um pro- proporção de problemas da agenda sistêmica compõe a
cesso complexo de balanceamento de interesses conflitan- agenda institucional.
tes numa escala ampla. O padrão verificado costuma ser Desse modo, a agenda pública é uma agenda para
de soma-zero, ou seja, para que um ator ganhe, o outro discussão, enquanto a agenda institucional é uma agenda
tem que perder. para ação, indicando que o processo político para lidar
São políticas que atingem um maior número de pes- com o problema começou.
soas e impõem perdas concretas e a curto prazo para certos A maneira na qual os problemas são reconhecidos,
grupos sociais e ganhos incertos e futuros para outros. se são reconhecidos, determina a relevância com que eles
Assim, a característica principal deste tipo de política são serão tratados. Uma enorme variedade de fatores políticos,
o conflito e a polarização que ela é capaz de gerar. Isso é sociais e ideológicos determinam quais problemas ganham
absolutamente natural, uma vez que seu objetivo são o des- acesso à agenda de políticas públicas.
vio e o deslocamento conscientes de recursos financeiros
direitos ou outros valores entre camadas sociais e grupos Padrões de formação da agenda
da sociedade. São exemplos de políticas redistributivas: • Modelo de iniciação externa: as questões surgem
tributos, políticas sociais universais, previdência etc. de grupos não-governamentais e daí se expandem
até a agenda do governo.
POLÍTICAS PÚBLICAS E SUAS FASES: FORMAÇÃO DA • Modelo de mobilização: as questões são colocadas
AGENDA; FORMULAÇÃO; IMPLEMENTAÇÃO; MONI- na agenda formal sem passar pelo reconhecimento
TORAMENTO E AVALIAÇÃO público. Os líderes políticos iniciam a política
pública, mas precisam de apoio do povo para sua
Conforme Kingdon (2006), a política pública envolve implementação e tentam passar o tema da agenda
um conjunto de processos, incluindo pelo menos: 1) o formal para a agenda pública.
estabelecimento de uma agenda; 2) a especificação das • Modelo de iniciação interna: grupos influentes
alternativas a partir das quais as escolhas são feitas; 3) com acesso especial aos decisores iniciam uma
uma escolha final entre estas alternativas específicas, por política pública e não necessariamente querem que
meio de votação no Legislativo ou decisão presidencial; ela seja expandida e contestada pelo povo.
4) a implementação dessa decisão.
Saravia (2006) também ressalta que cada política Modelo de fluxos múltiplos (multiple streams mo-
pública passa por diversos estágios. Em cada um deles, del – J. Kingdon)
os atores, as coalizões, os processos e as ênfases são Para Kingdon (2006), as agendas governamentais
POLÍTICAS PÚBLICAS
diferentes. As etapas normalmente consideradas no ciclo são estabelecidas por três dinâmicas de processos: a dos
de políticas públicas são: formulação, implementação e problemas, a das políticas públicas e a da política.
avaliação.
Deve-se ter em vista, porém, que a divisão por etapas Problemas
é uma esquematização teórica do que ocorre na prática.
O processo nem sempre obedece à seqüência sugerida, A razão por que alguns problemas recebem mais aten-
mas as etapas mencionadas e suas fases constitutivas estão ção do que outros por parte das autoridades encontra-se
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tanto nos meios pelos quais esses atores tomam conheci- independentemente de estarem associados a problemas
mento das situações como nas formas pelas quais essas ou propostas.
situações foram definidas como problemas. No entanto, em alguns momentos essas três dinâmicas
As pessoas dentro e fora do governo reconhecem os se unem. Um problema urgente demanda atenção, por
problemas de diversas maneiras. São em geral situações exemplo, e uma proposta de política pública é associada
que colocam em cheque valores importantes para uma ao problema e oferecida como solução. Ou então, um
dada comunidade. Algumas questões podem passar a ser evento político, como a mudança de governo, gera mu-
vistas como problemas em comparação com outros países danças de direção.
ou unidades relevantes. Em alguns momentos ao longo do caminho, porém,
O reconhecimento de problemas é um passo crítico ocorrem algumas associações parciais: soluções para pro-
para o estabelecimento de agendas. As chances de uma blemas que não contam com receptividade política naquele
dada proposta ou de certo tema assumir lugar de destaque momento político; políticas para propostas que estão de-
em uma agenda são decididamente maiores se elas estive- sacompanhadas da idéia de que um grande problema está
rem associadas a um problema importante. sendo resolvido; política e problemas, ambos clamando
Portanto, o reconhecimento e a definição dos proble- por uma ação, mas sem uma alternativa disponível. Essas
mas afetam significativamente os resultados do processo conexões têm menos chances de ganhar prioridade dentro
das políticas públicas. de uma agenda de decisões. Contudo, a completa junção
das três dinâmicas aumenta significativamente as chances
Política de um tema se tornar parte de uma agenda de decisão e
pode compor uma janela para políticas públicas.
Eventos políticos fluem de acordo com dinâmica e As janelas são abertas por eventos que ocorrem
regras próprias. Desdobramentos na esfera política são tanto na dinâmica dos problemas como da política. Por
poderosos formadores de agenda. Um novo governo, por vezes, a abertura de janelas é bastante previsível, como o
exemplo, muda as agendas completamente ao enfatizar momento de renovação de alguma legislação. Em outros
as suas concepções dos problemas e suas propostas o que momentos, elas ocorrem de forma imprevisível, como no
torna bem menos provável que assuntos que não estejam
caso de um acidente aéreo.
entre as suas prioridades recebam atenção.
Previsíveis ou imprevisíveis, janelas abertas são pe-
Três elementos principais influenciam uma idéia a ser
quenas e escassas, não ficando abertas por muito tempo.
impulsionada pela política:
Uma janela pode se abrir, por exemplo, mas pode não
• O clima nacional (national mood): uma situação
haver uma solução disponível naquele momento no re-
compartilhada por muitas pessoas ao mesmo
tempo; pertório das políticas, de forma que a janela se fecha sem
• Forças políticas organizadas, especialmente gru- que haja a conexão de uma solução a um problema ou ao
pos de pressão; cenário político.
• Mudanças dentro do governo. As idéias desenvolvidas pelo modelo de fluxos múl-
tiplos diferem-se das teorias convencionais de análise de
Políticas públicas ou soluções políticas públicas. Para Kingdon (2006), os eventos não
ocorrem organizadamente em estágios, passos ou fases.
Para Kingdon (2006), a melhor forma de entender o Em vez disso, dinâmicas independentes que fluem pelo
surgimento de alternativas para políticas públicas é vê-lo sistema ao mesmo tempo, cada uma com vida própria e
como um processo de seleção, análogo ao processo de similar às outras, se unem quando se abre uma janela de
seleção natural, denominado de sopa política primeva oportunidade.
(policy primeval soup). As idéias surgem desordenada- Assim, os participantes não identificam primeiro o
mente, chocando-se umas com as outras, gerando novas problema para depois buscar soluções para ele; na verdade,
idéias e formando combinações e recombinações. a defesa de soluções freqüentemente precede a atenção
As propostas julgadas inviáveis (aquelas que não se aos problemas aos quais são associados. As agendas não
alinham aos valores das comunidades, cujos custos exce- são estabelecidas primeiro para depois serem geradas as
dem ao estipulado pelo orçamento, despertam a oposição alternativas. Ao contrário, as alternativas devem ser defen-
do público, ou não encontram a receptividade dos políti- didas por um longo tempo antes que uma oportunidade de
cos eleitos) têm menos chances de sobreviver do que as curto prazo se apresente na agenda. Logo, encontram-se,
propostas que satisfazem esses padrões. nesse modelo, doses consideráveis de caos, imprevistos,
conexões fortuitas e pura sorte.
Janelas para políticas públicas
A formulação de políticas públicas
As dinâmicas dos problemas, das políticas públicas e
do próprio jogo da política têm, cada uma, vida própria. A formulação de políticas públicas inclui a seleção
Os problemas são identificados e definidos de acordo e a especificação da alternativa considerada mais con-
com processos que são diferentes daqueles nos quais as veniente, seguida da declaração que explicita a decisão
POLÍTICAS PÚBLICAS
políticas públicas são elaboradas, ou de como se dão os adotada. Define, desse modo, os objetivos da política
eventos políticos. As propostas de políticas públicas, por pública, bem como os seus marcos jurídico, administrativo
sua vez, são desenvolvidas de acordo com critérios pró- e financeiro.
prios de incentivos e seleção, independentemente do fato Trata-se do processo de definir, considerar e aceitar
de constituírem soluções para determinados problemas ou ou rejeitar opções de políticas públicas. Não se assemelha
uma resposta a deliberações de ordem política. Eventos necessariamente ao processo ordenado das teorias racio-
políticos seguem sua própria dinâmica e as suas regras, nais. Espera-se, ao contrário, que a busca pela solução
16
de um problema seja contenciosa e sujeita a uma ampla • Redes em torno de questões (issue networks) –
variedade de pressões. Heclo (apud HOWLETT; RAMESH, 1996)
São características dessa etapa de formulação de concebe os subsistemas políticos como um con-
políticas públicas: - não precisa se limitar a um único tinuum, em que triângulos de ferro estão em uma
conjunto de atores. - pode ocorrer sem a definição clara ponta e redes em torno de questões na outra. Para
do problema ou sem que os formuladores tenham contato ele, a noção de triângulos de ferro e subgovernos
com os grupos afetados. - não há coincidência necessária presume a existência de pequenos círculos de
entre a formulação e a organização determinadas, apesar participantes que se tornaram autônomos. Redes
de ser atividade freqüente da burocracia. - a formulação de questões, por outro lado, englobam um grande
e a reformulação de políticas podem ocorrer por longos número de participantes com níveis muito variáveis
períodos de tempo sem que se obtenha apoio suficiente de compromisso mútuo ou dependência entre si,
para nenhuma proposta. - os efeitos do processo em geral sendo praticamente impossível dizer onde começa
não são neutros; alguém ganha e alguém perde. ou acaba uma rede.
Nem todas as decisões relativas às políticas públicas, Seus participantes entram e saem da rede constan-
porém, serão tomadas durante o que se convencionou temente. Em vez de grupos unidos dominando um
chamar de formulação de políticas públicas. Pode-se di- programa, ninguém nas redes controla as políticas
zer, portanto, que o processo de elaboração de políticas, ou questões, sendo geralmente qualquer interesse
freqüentemente, continua durante a fase de implemen- material secundário em relação ao compromisso
tação. intelectual ou emocional de seus participantes.
Há inúmeras razões para deixar algumas decisões para Assim, as redes em torno de questões são muito
o processo de implementação, como (HILL, 2006): menos estáveis, apresentando uma troca constante
• não há como resolver conflitos durante a fase de de participantes, e muito menos institucionalizadas
formulação; que os triângulos de ferro (HOWLETT; RAMESH,
• considera-se necessário permitir que decisões-cha- 1995).
ve sejam tomadas só quando todos os fatos estive- • Comunidades de políticas públicas (policy co-
rem disponíveis para os implementadores; munities) – Comunidade, por outro lado, não é o
• acredita-se que os implementadores estão mais mesmo que rede, ainda que sejam freqüentemente
bem preparados que outros para tomar deci-
usadas como sinônimos na literatura. Comunidade
sões-chave;
se refere a uma categoria mais inclusiva que todas
• pouco se sabe previamente sobre o verdadeiro
as envolvidas na formulação de políticas públicas.
impacto das novas medidas;
Identifica aqueles atores reais e potenciais do uni-
• é sabido que as decisões diárias terão que envolver
verso da política pública que compartilham uma
negociações e compromissos com grupos podero-
sos; ou perspectiva comum da política pública.
• considera-se politicamente inadequado tentar A principal vantagem na diferenciação entre rede
resolver os conflitos. e comunidade é a integração de dois conjuntos
A formulação de políticas públicas, portanto, é um diferentes de motivação que guiam a ação daqueles
processo altamente difuso, complexo e varia de caso a envolvidos na formulação de políticas públicas:
caso. Restringe-se, normalmente, àqueles que possuem conhecimento ou experiência técnica e interesse
um mínimo de conhecimento na área do problema em material. Ao associar uma comunidade de política
questão. Conforme Howlett e Ramesh (1996), uma das pública a uma base de conhecimento específico e a
mais importantes questões sobre o processo de formulação rede de política pública à busca de algum interesse
de políticas públicas é quem está de fato envolvido no material, dois diferentes aspectos do processo de
processo de políticas públicas. formulação de políticas públicas ganham desta-
Assim, identificar os principais atores dos subsiste- que. Os membros da comunidade estão, portanto,
mas de políticas públicas, o que os associa, como eles ligados por questões epistêmicas – uma base de
interagem e qual o efeito a interação deles traz à política conhecimento compartilhada – enquanto que os
pública é o alvo de estudo de algumas perspectivas ana- membros da rede compartilham não apenas essa
líticas. São elas: triângulos de ferro, redes em torno de base, mas também interesses materiais que permi-
questões, comunidades de políticas públicas e coalizões tem ou encorajam o contato regular (HOWLETT;
de advocacia. RAMESH, 1996).
• Triângulos de ferro (iron triangles) – Parte da • Coalizões de advocacia (advocacy coalitions) – Uma
noção de subgoverno, entendido como um agru- coalizão de advocacia refere-se a um subconjunto
pamento de atores sociais e estatais engajados em de atores no subsistema de políticas públicas. Para
padrões rotineiros de interação. Esse conceito se Jenkins-Smith e Sabatier (1999), uma coalizão de
baseia na observação de que grupos de interesses, advocacia consiste em atores de uma variedade de
comissões congressuais e agências governamentais instituições públicas e privadas de todos os níveis
POLÍTICAS PÚBLICAS
quanto aos objetivos a serem atingidos e essa con- para realizar uma avaliação pertinente, deve-se levar em
dição deve permanecer durante todo o processo de conta os limites da racionalidade e das forças políticas
implementação; que a modelam.
• ao avançar em direção aos objetivos acordados, O grande benefício da avaliação de programas, no
deve ser possível especificar, com detalhes com- entanto, talvez não sejam os seus resultados diretos,
pletos e em seqüência perfeita, as tarefas a serem mas o processo de aprendizado que a acompanha. Com
realizadas pelos participantes individualmente; a realização da avaliação, os atores políticos aprendem
19
constantemente e são levados a modificar suas posições. implementação de política/programa ou proje-
Uma parte importante desse processo são a discussão, to, de modo a julgar a sua eficácia. Destina-se
o debate, a argumentação e a persuasão que ocorrem a identificar os pontos fortes e as fraquezas de
constantemente entre os atores. uma intervenção, tendo como objetivo verificar
Pode-se concluir, portanto, que a avaliação pode se alguma mudança é necessária a fim de aper-
ocorrer por quatro razões: feiçoar a política/programa/projeto.
• para servir de subterfúgio ou de desculpa para algo. – Avaliação de resultados: refere-se à avaliação
Por exemplo, para postergar, mudar o comando do do nível de transformação da situação a qual o
programa, para legitimá-lo, para dar-lhe publici- programa se propõe a modificar. Expressa o grau
dade, dentre outros; em que os objetivos do programa foram alcan-
• para preencher condições de financiamento do çados. Verifica se o programa está cumprindo os
programa em organismos internacionais, por resultados que foram propostos. É a avaliação
exemplo; daquilo que se expressa como metas primárias,
• para subsidiar a tomada de decisão, apontando o intermediárias e finais de uma política/programa
que acontece no programa, possibilitando corre- ou projeto. Também conhecida como avaliação
ções e a mensuração de custos e benefícios, que sumária ou somativa, é um julgamento sobre a
possibilitem escolher a melhor alternativa dentre performance do programa.
as várias opções e orientar a decisão de continuar, – Avaliação de impacto: trata-se de um tipo de
expandir, institucionalizar ou cortar o programa; avaliação de resultados que busca conhecer os
• para gerar o aprendizado organizacional: trazer um efeitos produzidos pelo programa em algum(uns)
feedback para os executores, gerar maior engaja- aspecto(s) da realidade afetada pela sua existên-
mento dos implementadores, relembrar ou conven- cia. Geralmente está relacionada a resultados
cer os executores sobre os objetivos do programa, de médio e longo prazos, definidos como “im-
prestar contas do que está sendo gasto e dar maior pactos”, ou seja, conseqüências dos resultados
transparência ao programa, servir de fonte para o imediatos, e visa à identificação, à compreensão
desenvolvimento de teorias de intervenção social, e à explicação das mudanças nas variáveis e nos
possibilitando a aquisição de conhecimentos sobre fatores relacionados à efetividade do programa.
quais são os fatores que promovem a mudança Ex.: elevação da qualidade de vida no meio rural,
social ou de comportamento humano. melhoria do abastecimento dos centros urbanos,
aumento da poupança devido à redução das
Tipos de avaliação importações etc.
As avaliações de políticas públicas podem ser clas-
sificadas em diversas categorias, que se diferenciam pela • Quanto à execução
forma em que são conduzidos, os atores envolvidos e – Avaliação interna: avaliação realizada dentro
seus efeitos. da organização em que se localiza o programa,
• Quanto à temporalidade conduzida por unidade diferente da executora.
– Avaliação ex-ante: realizada antes do início de No caso da auto-avaliação, os trabalhos são re-
implementação de um programa. Pode ser uti- alizados pela equipe responsável pela gestão do
lizada para identificar se um programa deve ser programa. Tem como principais vantagens me-
executado. Para realizar esse tipo de avaliação nor custo e melhor aproveitamento no aprendiza-
é necessário projetar o que aconteceria com al- do institucional e na melhoria do gerenciamento
gumas características da população beneficiária do programa, dado que as organizações são em
caso o programa fosse executado, comparando geral mais receptivas à informação produzida
os custos e benefícios da iniciativa com as alter- internamente. Alguns autores optam por definir
nativas disponíveis à sua implantação. a temporalidade de avaliações que se realizam
– Avaliação ex-post: realizada após consolidação após o início de um programa ou projeto entre
ou na fase final de um programa. Normalmente avaliações intra (ou concomitante ao desenvol-
mede resultados e impactos. As avaliações vimento do programa), post (imediatamente ao
de impacto são geralmente mais caras que as término de um programa), diferenciando estas
avaliações ex-ante, por exigirem levantamento duas modalidades da avaliação ex-post, que
de dados primários sobre o público-alvo, caso seria aplicável somente meses ou anos após sua
o programa não disponha de um sistema de conclusão.
monitoramento desenvolvido. – Avaliação externa: avaliação realizada por ins-
• Quanto ao objeto tituições externas. Tendem a apresentar maior
– Avaliação de processo: refere-se a uma avaliação credibilidade com o público externo por utilizar
para identificação dos aspectos da implementa- padrões mais rígidos e neutros de análise.
POLÍTICAS PÚBLICAS
o qual tem na descentralização um de seus componentes A inclusão de novos atores, da sociedade civil e do
centrais. setor privado, na formulação, na implementação e no
Surge, então, o conceito de governança democrática, controle das políticas públicas, principalmente no nível
que pressupõe a descentralização do processo decisório e local, assinala a ruptura com o padrão não democrático
a capacidade de implementação e acompanhamento das de articulação entre Estado e sociedade e a tendência
políticas públicas por parte da sociedade. A prática da para a ampliação do domínio público. Abre-se caminho,
governança democrática exige dos governantes a abertura portanto, para que a sociedade passe a cobrar os resul-
21
tados da ação estatal, aumentando a accountability das seja, envolvem a cooperação entre os seus membros. Se
políticas públicas no Brasil. As políticas no âmbito local há conflito, é mais entre as redes do que dentro delas.
já não parecem se restringir ao padrão de intervenção 3) a definição de poder nas redes é relacional.
estatal exclusiva e os governos locais têm assumido um A análise de redes surge com o objetivo de captar a
papel de coordenação e de liderança, mobilizando atores diversidade de formas de intermediação de interesses entre
governamentais e não-governamentais e procurando esta- setores, entre países e no tempo. Sob essa perspectiva,
belecer um processo de concertação de diversos interesses as políticas públicas são entendidas como um processo
e de diferentes recursos em torno de objetivos comuns de troca e negociação entre os atores públicos e privados
(FARAH, 2006). que interagem entre si com a finalidade de trocar recursos
No entanto, alguns obstáculos ainda são percebidos e informações num marco institucional concreto.
para a atuação mais consistente dos conselhos. Essas di- A leitura da ordem política, conforme Massardier
ficuldades referem-se em geral a ampliar a participação, (2006), não se faz mais em termos de separação entre
viabilizar o envolvimento e o compromisso de atores Estado e sociedade, mas entre espaços sociais autônomos
centrais, tanto governamentais como não-governamentais, que incluem atores privados e públicos mobilizados por
e instituir mecanismos de controle e deliberação efetivos. um objetivo.
Além disso, o desempenho dos conselhos em geral relacio-
na-se à qualidade do governo municipal, e a emancipação FEDERALISMO E DESCENTRALIZAÇÃO
dessas organizações requer uma sociedade civil organiza-
da e capaz de exercer influência sobre o sistema político e Atualmente, o valor fundamental da descentraliza-
sobe as burocracias públicas (CARNEIRO, 2006). ção, isto é, a transferência das funções do “centro” para
a “periferia”, é amplamente reconhecido, seja no seio de
Redes de Políticas Públicas uma única organização administrativa, seja com referência
ao relacionamento entre múltiplas estruturas que fazem
Redes de políticas públicas envolveriam ligações entre parte de uma organização mais abrangente. Em particular,
atores sociais e estatais no processo de políticas públicas. há tempos foi esclarecida a conexão entre Administra-
As interações entre os vários departamentos e agências do ção Pública e a mudança das estruturas sociais, com a
governo e entre o governo e outras organizações na socie- conseqüente necessidade de que o desenvolvimento das
dade constituem redes de políticas públicas fundamentais estruturas administrativas se adequasse a uma inteligente
para sua formulação e seu desenvolvimento. distribuição de funções e de tarefas (BOBBIO, 2002).
Para Rhodes, dizem Howlett e Ramesh (1996), É possível incluir na noção de descentralização uma
as redes variam de acordo com seu nível de integração, série de instituições, considerando-as como diferentes
que é função da estabilidade na associação, da abertura na manifestações de um fenômeno qualitativamente único
associação, do grau de insulamento de outras redes e do em sua essência. A descentralização política distingue-se
público e da natureza dos recursos controlados. Assume-se da administrativa, não apenas pelo tipo diferente de fun-
que os participantes fazem parte das redes para promover ções exercidas, mas também pelo “título” que caracteriza
seus próprios objetivos, vistos como essencialmente mate- o seu fundamento. A descentralização política expressa
riais e objetivamente reconhecíveis de fora da rede. uma idéia de direito autônomo, enquanto na descentrali-
A análise de redes nega a possibilidade de utilizar um zação administrativa específica temos um fenômeno de
modelo único para explicar o processo de elaboração das derivação dos poderes administrativos que, por sua vez,
políticas públicas e se baseia na idéia da diversidade das derivam do aparelho político-administrativo do Estado.
relações Estado-sociedade e a necessidade de desagrega- A descentralização política, porém, não coincide com o
ção da análise para compreender de forma mais completa federalismo. Um Estado federal é, certamente, politica-
as políticas públicas. mente descentralizado, mas temos Estados politicamente
Nesse enfoque, o investigador assume que 1) o descentralizados que não são federais. Somente quando a
contexto institucional é elemento central que influencia descentralização assume os caracteres da descentralização
nos objetivos e estratégias que perseguem os atores que política podemos começar a falar de federalismo ou, em
participam do processo; 2) os atores perseguem interes- nível menor, de uma real autonomia política das entidades
ses diversos que não podem ser a priori assumidos e sua territoriais.
compreensão depende de pesquisa empírica; 3) o volume É afirmação constante e generalizada que existe uma
de atores que participam do processo de elaboração de estreita conexão entre os conceitos de descentralização
políticas não pode se limitar a grupos sociais e atores pú- e de democracia, também em relação ao fato de que a
blicos, mas deve ser ampliado a um conjunto mais amplo luta pela descentralização consistiu, principalmente, na
como meios de comunicação e especialistas. luta pelas autonomias locais a fim de perseguir, além da
Assume-se, portanto, que as redes: 1) são numerosas; descentralização, objetivos de democratização. Alguns
2) fragmentam o Estado em tantos segmentos justapostos viram também na descentralização o instrumento por meio
quantas forem as redes; 3) dividem a sociedade em tan- do qual podem manifestar-se inteiramente as forças da
tas “ordens locais” justapostas de elaboração de política Nação (do Estado-comunidade, conforme a terminologia
POLÍTICAS PÚBLICAS
pública quantas forem as redes de ação pública (MAS- mais recente) em contraposição às forças do Estado, que
SARDIER, 2006). é institucionalmente dominado pelo princípio da centra-
São características das redes: lização. A descentralização seria, portanto, o meio para
1) as regras de funcionamento são informais e deci- chegar, por intermédio de uma distribuição da soberania,
didas na ação. a uma real liberdade política (BOBBIO, 2002).
2) são espaços em que se trocam recursos, e a troca Soares (1998) define o sistema federal como uma
entre os membros é que cria sua interdependência, ou forma de organização do Estado nacional caracterizada
22
pela dupla autonomia territorial do poder político: uma criminação das estruturas especializadas em cada área de
central e outra descentralizada. Ambas, entretanto, têm atuação governamental: educação, saúde, habitação etc.
poderes únicos e concorrentes para governar sobre o A quarta característica das políticas públicas brasilei-
mesmo território e as mesmas pessoas. ras nesse período consistia na exclusão da sociedade civil
Um Estado federado envolve necessariamente a des- do processo de formulação das políticas, da implementa-
centralização do poder e possui as seguintes característi- ção dos programas e do controle da ação governamental.
cas: repartição de competências entre os diversos níveis, Nesse período, três mecanismos principais de articulação
autonomia política, autonomia organizacional (auto-admi- entre Estado e sociedade definiam o padrão verificado no
nistração) e autonomia financeira. Assim, caracteriza-se o Brasil: o clientelismo, o corporativismo e o insulamento
Estado federado pelo igual nível jurídico de convivência burocrático (FARAH, 2006).
entre o órgão central e os órgãos regionais. Dessa forma, a implementação de programas e a
Um dos desafios relacionados ao federalismo brasi- alocação de recursos eram influenciadas, ora pela troca de
leiro refere-se, conforme Anastasia (2004), às enormes favores, ora pela lógica corporativa. As políticas públicas
desigualdades de diferentes tipos que atingem os diversos incorporavam, portanto, interesses da sociedade civil e
estados brasileiros, agravadas pela competição predatória do mercado, mas tal incorporação era excludente e sele-
entre os estados-membros. A concessão de incentivos tiva, um padrão não democrático de articulação entre o
financeiros e fiscais é muitas vezes utilizada como forma Estado e a sociedade. A opacidade e a impermeabilidade
de compensar desvantagens estruturais e geográficas de das políticas nesse período, definidas em grande medida
algumas regiões em relação a outras do País. pelo regime autoritário então vigente, introduziram no
Há, conforme Rezende (1997), uma grande dificuldade sistema um crescente déficit de accountability e de res-
em conciliar a descentralização fiscal com as desigualda- ponsabilidade pública, comprometendo também o alcance
des regionais no Brasil. Em um contexto como o brasileiro, da eqüidade.
de acentuadas desigualdades na repartição espacial da
renda e da riqueza, o equilíbrio entre competências impo- Políticas públicas no Brasil após a redemocra-
sitivas próprias e transferências compensatórias é muito tização
difícil de ser alcançado. Uma maior descentralização de
competências favorece estados e municípios de forte base Já durante os anos 1980, o debate sobre políticas
econômica ao mesmo tempo em que reduz o espaço para públicas e o papel do Estado no Brasil teve como eixos a
ampliação das transferências da União em proveito das democratização dos processos decisórios e a eqüidade dos
unidades economicamente mais fracas da Federação. resultados das políticas públicas, sendo a democratização
Para Abrucio (1994), o resultado da estrutura estabe- vista como condição de eqüidade dos resultados.
lecida com a redemocratização foi um federalismo no qual Enfatizou-se naquele momento a descentralização e
não há pesos e contrapesos (checks and balances) para a participação dos cidadãos na formulação e na imple-
equilibrar o poder dos chefes dos Executivos estaduais. mentação das políticas e para alcançar a universalização
A fragmentação partidária no Congresso Nacional, dos direitos sociais. Nesse período, porém, em paralelo
que, conforme Abrucio (1994), culmina em enorme di- à preocupação com a democratização nos processos e à
ficuldade para o presidente compor maiorias, aumenta o eqüidade dos resultados, foram introduzidas a preocupação
poder dos governadores no plano nacional devido à força com eficiência, eqüidade e efetividade da ação estatal, já
do fator regional como organizador das demandas dos que a crise fiscal se constituía em um limitante à capa-
parlamentares. Isso tornaria os governadores dos estados cidade de resposta do Estado às demandas crescentes da
os comandantes das bancadas estaduais na votação de população.
algumas questões, como a reforma tributária. Contrariamente às medidas neoliberais que já vi-
nham sendo adotadas na Inglaterra e Estados Unidos
POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL ao longo da década de 1980, o Brasil aprovou em 1987,
com vigência a partir de 1988, a chamada “Constituição
Políticas públicas no Brasil antes da redemo- Cidadã”. A Constituição Federal de 1988 possui caráter
cratização extremamente descentralizador, o que delineou um novo
federalismo, e ampliou os benefícios sociais garantidos
Até o início dos anos 1980, as políticas públicas pelo Estado, aumentando sobremaneira os encargos da
promovidas pelo Estado brasileiro se caracterizavam, em União.
primeiro lugar, pela centralização decisória e financeira na Muito foi feito pela ampliação do conceito de cida-
esfera federal. Caberia, então, aos estados e municípios, dania e pela sua extensão ao campo dos direitos sociais.
quando envolvidos nas políticas, o papel de executores A preocupação dos constituintes foi mais de assegurar
das iniciativas formuladas centralmente e tendia-se a se o acesso aos serviços públicos do que de viabilizar os
estabelecer uma articulação entre governos estaduais e recursos financeiros necessários para a realização dessa
municipais e governo federal baseada na troca de favores tarefa. A intenção foi criar um sistema de proteção social
POLÍTICAS PÚBLICAS
vicções, compromissos políticos e idiossincrasias pessoais Conforme o texto do projeto de lei do Plano Plurianual
diversas dos seus escalões mais elevados. Esses cargos, (PPA) 2008-2011, o PPA “organiza a atuação governamen-
por sua vez, são em grande parte preenchidos conforme tal em programas orientados para o alcance dos objetivos
critérios políticos, o que confere uma certa impermanência estratégicos definidos para o período do Plano”. É no
aos seus ocupantes. Com isso, cada mudança dos titulares PPA, portanto, que o governo pode revisar os programas
dos cargos, como regra, provoca alterações nas políticas existentes do Estado, reformulá-los, extingui-los ou criar
em andamento. novos programas e projetos. Ou seja, o PPA é a ferramenta
24
administrativa de que dispõe o governo para avaliar e Desse modo, o modelo de planejamento, orçamento
definir o direcionamento que se quer dar ao País durante e gestão por programas instituído pelo Governo Federal
aquele mandato, com a clara definição dos objetivos es- pressupõe orientar toda a ação do governo para a resolução
tratégicos que serão buscados e das questões que entrarão de problemas ou demandas da sociedade. Busca romper
na agenda como prioritárias. com a visão departamentalizada das organizações do
No PPA 2008-2011, estão os seguintes objetivos como setor público, centrada nos procedimentos burocráticos,
orientações estratégicas do governo: introduzindo nas organizações públicas uma preocupação
• promover a inclusão social e a redução das desi- gerencial com a obtenção de resultados na sociedade.
gualdades;
• promover o crescimento com sustentabilidade,
geração de empregos e distribuição de renda; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• propiciar o acesso da população brasileira à edu-
cação e ao conhecimento com eqüidade, qualidade ABRUCIO, Fernando Luiz Abrucio. Os barões da fede-
e valorização da diversidade; ração. In REVISTA LUA NOVA, nº 33, 1994.
• fortalecer a democracia, com igualdade de gêne- ANASTÁSIA, Fátima. Federação e relações intergover-
ro, raça e etnia, e a cidadania com transparência, namentais. Em AVELAR, Lúcia e CINTRA, Antônio
diálogo social e garantia dos direitos humanos; Otávio. Sistema político brasileiro:uma introdução.Rio
• implantar uma infra-estrutura eficiente e integra- de Janeiro: Fundação Konrad-Adenauer-Stiftung ; São
dora do território brasileiro; Paulo : Fundação Unesp; 2004.
• reduzir as desigualdades regionais a partir das BOBBIO, Norberto & MATEUCCI; Nicola & PASQUI-
potencialidades locais do território nacional; NO, Gianfranco. Dicionário de Política, 2002.
• fortalecer a inserção soberana internacional e a BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Ges-
integração sul-americana; tão. Secretaria de Planejamento e Investimentos Estraté-
• elevar a competitividade sistêmica da economia, gicos. Manual de avaliação : plano plurianual 2004-2007
com inovação tecnológica; : exercício 2008 : ano base 2007 / Ministério do Planeja-
• promover um ambiente social pacífico e garantir
mento, Orçamento e Gestão. Secretaria Planejamento e
a integridade dos cidadãos;
Investimentos Estratégicos. Brasília : MP, 2008.
• promover o acesso com qualidade a serviços e
____. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
benefícios sociais, sob a perspectiva da universa-
Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos.
lidade e da eqüidade, assegurando-se seu caráter
Manual de apresentação de estudos de pré-viabilidade de
democrático e descentralizado.
projetos de grande vulto, 2005.
Os fundamentos que sustentam esse modelo são:
____. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
• integração entre planejamento, orçamento e gestão:
desenvolver planejamento, orçamento e gestão por Secretaria de Planejamento e
programas, de forma integrada, em todos os órgãos Investimentos Estratégicos. Orientação Estratégica de
da Administração Pública; Governo – OEG Plano Plurianual 2008-2011: plano plu-
• transparência, participação e controle social: tornar rianual 2008-2011. Brasília: MP, 2007.
públicas as informações referentes à execução CARNEIRO, Carla. Conselhos de políticas públicas:
dos programas de governo, possibilitando maior desafios para sua institucionalização. In SARAVIA &
e melhor controle quanto à aplicação dos recursos FERRAREZI, Políticas Públicas, Enap, 2006.
públicos e aos resultados obtidos; e possibilitar FARAH, Marta. Parcerias, novos arranjos institucionais e
uma participação mais efetiva da sociedade no políticas públicas no nível local de governo. In SARAVIA
processo alocativo; & FERRAREZI, Políticas Públicas, Enap, 2006.
• formação de parcerias: estimular a participação de HILL, Michael. Implementação: uma visão geral. In
outras esferas de governo e da iniciativa privada SARAVIA & FERRAREZI, Políticas Públicas, Enap,
como fontes alternativas ao financiamento dos 2006.
programas; HOWLETT M. & RAMESH, M. Studying Public Policy:
• melhoria do gerenciamento: dotar os administra- Policy Cycles and Policy Subsystems, 1996.
dores públicos de um sistema gerencial estruturado KINGDON, John. Juntando as coisas. In SARAVIA &
e atualizado, visando a facilitar a tomada de deci- FERRAREZI, Políticas Públicas, Enap, 2006.
sões, corrigir desvios e direcionar a aplicação de ____. Como chega a hora de uma idéia? In SARAVIA &
recursos para o alcance dos resultados pretendidos; FERRAREZI, Políticas Públicas, Enap, 2006.
e desenvolver a Administração Pública de forma MASSARDIER, Giles. Redes de Políticas Públicas. In
a melhor definir responsabilidades, difundir a SARAVIA & FERRAREZI, Políticas Públicas, Enap,
conscientização de custos, a melhoria contínua da 2006.
qualidade e, sobretudo, o comprometimento com NORTH, Douglass C. Institutions, institutional change
POLÍTICAS PÚBLICAS
grado de ações de iniciativa os Poderes Públicos e de superar a fragmentação das políticas públicas e
da sociedade. Compete ao Poder Público, com base da ação do poder público.
em certos objetivos, entre os quais obter o caráter c) Um tipo especial de burocracia, pouco acessível
democrático e descentralizado da administração, às influências da sociedade civil, criada para atuar
mediante gestão quadripartite, com participação eficientemente, sem o risco de ser contaminada
dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposen- por grupos burocráticos antigos, porosos e menos
tados e do Governo nos órgãos colegiados. eficientes.
27
d) Uma relação entre várias burocracias, inclusive 13. (Esaf/CGU/AFC/2008) A despeito das inúmeras
entre as burocracias civis e militares, públicas e e profundas mudanças pelas quais vem passando
privadas, centrada na busca de excelência e na o Estado brasileiro nas últimas décadas, algumas
eficiência máxima. características das políticas públicas permanecem.
e) Uma relação entre duas ou mais agências que têm Examine os enunciados abaixo e assinale o que não
objetivos comuns, tais como redução de custos, oti- é verdadeiro sobre as políticas públicas no Estado
mização ou adoção de programas governamentais. brasileiro contemporâneo.
a) Nos anos recentes, observa-se a superação da frag-
11. (Esaf/CGU/AFC/2008) De acordo com a literatura em mentação das políticas públicas, já que os atores
políticas públicas, agenda governamental consiste em sociais e o terceiro setor vêm atuando no sentido
um conjunto de temas que, em dado momento, são de cobrir as lacunas de articulação e cooperação
alvo de séria atenção tanto por parte das autoridades entre diferentes agências setoriais.
governamentais como de atores fora do governo mas b) As políticas geralmente emperram devido à
estreitamente associadas às autoridades. Sobre a for-
competição interburocrática, que faz com que
mação ou construção da agenda de políticas públicas,
sejam fragmentadas em áreas de controle de cada
pode-se afirmar que:
a) consiste em um processo de identificação e re- agência, na busca de uma convivência pacífica;
conhecimento de problemas, o que a distingue ou que provoca superposições que levam à baixa
da formulação, que consiste na especificação das racionalidade e ao desperdício de recursos.
alternativas de ação governamental. c) As políticas sofrem com a descontinuidade admi-
b) consiste em uma lista de temas que são objeto das nistrativa, pois as mudanças de dirigentes provo-
preocupações de todos os agentes governamentais, cam alterações de rumo ou de prioridade, levando
independentemente dos diferentes níveis e setores ao redimensionamento, reorientação, substituição,
de governo. suspensão ou abandono de ações em andamento.
c) depende de uma diferenciação entre o que é uma d) Existe uma forte clivagem entre formulação/deci-
situação e o que é um problema, com base em va- são e implementação, que faz com que a percepção
lores, na análise de dados empíricos, em pressões da complexidade das políticas públicas se restrinja
políticas, em eventos críticos e até no fluxo da ao ambiente/fase da formulação/decisão, enquanto
política. a implementação é vista como um conjunto de
d) não envolve a exclusão de problemas, que é na- tarefas de baixa complexidade, acerca das quais
turalmente causada pela mudança da realidade ou as decisões importantes já foram tomadas.
do foco de atenção das autoridades, pela banali- e) Apesar dos esforços de descentralização políti-
zação das situações ou pela dinâmica dos ciclos ca, ainda é reduzida a autonomia das agências
sociais. implementadoras e, em termos gerais, é frágil a
e) é determinada pelos meios mediante os quais as capacidade de gestão de políticas públicas nos
autoridades tomam conhecimento das situações, níveis subnacionais de governo.
como, por exemplo, os indicadores, os eventos-fo-
co, críticas severas do Congresso ou da mídia. 14. (Esaf/CGU/AFC/2008) Sobre os atores envolvidos
nas políticas públicas, assinale o único enunciado
12. (Esaf/CGU/AFC/2008) A implementação é o processo incorreto.
mediante o qual decisões relativas a políticas públicas a) Atores são exclusivamente aqueles que têm algum
tornam-se intervenção concreta na realidade. Para que
tipo de interesse em jogo em uma política pública
esse processo seja exitoso, algumas condições devem
e variam conforme a sua inserção institucional,
ser observadas, independentemente do modelo de
implementação. Entre os enunciados abaixo, relativos os seus recursos de poder e suas expectativas quan-
a tais condições de êxito da implementação, assinale to aos efeitos das decisões sobre tais interesses.
o único incorreto. b) Os atores visíveis definem a agenda de políticas
a) A legislação deve definir os objetivos da política de enquanto os atores invisíveis têm maior poder de
modo claro e consistente e restringir a emergência influência na escolha das alternativas de resolução
de outras políticas que tenham objetivos conflitan- dos problemas.
tes ou que concorram pelos mesmos recursos. c) São atores invisíveis aqueles que, embora atuem
b) Os agentes responsáveis pelas instituições imple- fora do centro das atenções da sociedade, são do-
mentadoras devem dispor de capacidade gerencial tados de elevado poder de influenciar as políticas
e de habilidades políticas e devem estar compro- públicas devido à sua posição econômica, como
metidos com os objetivos da política. financistas, banqueiros, empreiteiros.
c) O arranjo institucional da implementação deve d) Também são atores invisíveis as comunidades de
prever os mecanismos necessários de integração especialistas que agem de forma relativamente
hierárquica entre as agências envolvidas. coordenada: acadêmicos, consultores, assessores
POLÍTICAS PÚBLICAS
d) A política deve contar com o apoio de alguns e funcionários legislativos, burocratas de carreira
parlamentares e líderes do Executivo e não deve e analistas ligados a grupos de interesses.
sofrer restrições por parte do Judiciário. e) Os empresários políticos são atores de origem di-
e) A legislação deve estruturar o processo de imple- versa, dispostos a investir recursos para promover
mentação de maneira que tanto os agentes imple- políticas que possam lhes favorecer, por exemplo:
mentadores quanto os grupos-alvo entendam o seu políticos eleitos ou sem mandato, burocratas de
papel e possam ter o desempenho esperado. carreira, lobistas, jornalistas, acadêmicos.
28
15. (Esaf/CGU/Prev. corrupção/2008) Qual dos fatores re- GABARITO
lativos à implementação, listados a seguir, é específico
do modelo top-down? 1. c
a) Regras para tomada de decisões. 2. a
b) Recursos financeiros. 3. a
c) Critérios para resolução de conflitos. 4. e
d) Mecanismos e/ou canais para encaminhamento de 5. b
demandas e apoios. 6. e
e) Cadeia de comando hierárquico. 7. b
8. d
16. (Esaf/CGU/Prev. corrupção/2008) Entre as estraté- 9. d
gias e instrumentos do monitoramento e avaliação 10. b
de políticas públicas, encontram-se todas as listadas 11. c
abaixo, exceto: 12. a
a) uso mais intensivo de métodos e técnicas quanti- 13. a
tativos, especialmente estatísticas analíticas. 14. c
b) prioridade e legitimidade crescentes da avalia- 15. e
çãointerna. 16. a
c) incorporação de questões éticas na realização das 17. d
avaliações.
d) uso da avaliação como instrumento para fortalecer
a participação e empoderar os interessados na
política ou programa avaliado.
e) desenvolvimento de avaliações baseadas na teoria.
Embora se verifique a necessidade de integração entre dades a serem contempladas pelo Orçamento,
as três peças, a Lei Complementar 101/2001 – Lei de Res- as orientações para a elaboração do orçamento,
ponsabilidade Fiscal – LRF estabeleceu a obrigatoriedade as alterações na legislação tributária que entrarão
em vigor no ano seguinte e a política de aplicação
1 CF 1988 – “...Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade eco- das agências financeiras de fomento.
nômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo
e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para • Lei Orçamentária Anual (LOA) – Lei de Natu-
o setor privado.” reza Especial, em razão do seu objeto e da forma
2 O art. 34 da Lei nº 4.320/1964 determina que o exercício financeiro coincidirá
com o ano civil.
peculiar de tramitação que lhe é definida pela
30
Constituição, por meio da qual são previstas as lhamento definido pela LDO do exercício. É a peça
receitas, autorizadas as despesas públicas, explici- que autoriza os Poderes Executivo e Judiciário a
tados a política econômica financeira e o programa realizar suas ações no exercício, considerando três
de trabalho do Governo e definidos os mecanismos sub-orçamentos: Orçamento Fiscal, Orçamento
de flexibilidade que a Administração fica autori- de Seguridade Social e Orçamento de Investi-
zada a utilizar. A LOA deriva de projeto (PLO) mento das Empresas Estatais.
formalmente remetido à deliberação do Legislativo
pela Chefia do Poder Executivo, apreciado pelo Assim, Um único PPA condicionará 4 (quatro) LDO
Parlamento segundo a sistemática definida pela sucessivas, que por sua vez, orientarão 4 (quatro) LOA,
Lei Maior, possuindo a estrutura e nível de deta- respectivamente, como segue:
Exercícios Anuais
– Prazos para as peças componentes do Processo Orçamentário (segundo o art. 35, § 2º, do ADCT – Ato das Dis-
posições Constitucionais Transitórias):
O Plano Plurianual – PPA no PPA, ou em lei que autorize a inclusão, sob pena
• Conceito: instrumento de base para o planejamento de crime de responsabilidade.
governamental, previsto na CF 1988, nos Art. 165, • Prazos de vigência e possibilidade de revisão: O
§ 1º3 e no Art. 167, § 1º4. O PPA procura integrar, PPA tem vigência do segundo exercício financeiro
no horizonte do médio prazo, as questões ineren- do mandato presidencial até o final do primeiro
tes à visão indicativa de planejamento estratégico exercício financeiro do mandato presidencial sub-
(duração de 8 anos), com os aspectos normativos seqüente, devendo ser encaminhado ao Poder Le-
do planejamento operacional (duração de um ano, gislativo até quatro meses antes do término do pri-
coincidente com o exercício fiscal). meiro exercício financeiro do mandato subseqüente
• Competência jurídica: é o Executivo (Presidente e devolvido ao Poder Executivo para sanção até o
da República) que detém competência privativa encerramento da sessão legislativa. Há previsão de
para remeter o Projeto de Lei do PPA ao Congresso edição de lei complementar que disponha sobre a
Nacional. Uma vez enviado ao Parlamento, irá para vigência, os prazos, a elaboração e a organização
a Comissão Mista de Planos, Orçamentos e Fisca- do PPA; no entanto, essa lei complementar ainda
lização, onde poderá sofrer emendas. Finalmente, não foi promulgada, ainda mantendo-se em vigor
após o parecer final da citada comissão, o Projeto as regras estatuídas no art. 35, § 2º, Inciso I do
de Lei do PPA será apreciado pelo Congresso Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
Nacional na forma do Regimento Comum. O PPA não é imutável no seu período de vigência,
• O que deve conter: A lei ordinária que institui podendo ser revisto por lei específica, com a mes-
o PPA estabelecerá, por regiões, as diretrizes, ma tramitação anteriormente descrita.
objetivos e metas da administração pública para
as despesas de capital e outras delas decorrentes Elaboração Do PPA: Conceitos Básicos
previstas, bem como aquelas relativas aos progra-
mas de duração continuada, que se estendam por Objetivo
GESTÃO GOVERNAMENTAL
mais de um exercício financeiro anual. Nenhum in- O objetivo básico do PPA é construir uma ponte entre
vestimento cuja execução ultrapasse um exercício a estratégia, que deriva do processo político e do seu ajuste
financeiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão às condições macroeconômicas e sociais, e a operação, que
implica a ação física e financeira propriamente, como pode
3
CF 1988 – “... Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: ser apreciado na Figura a seguir. O processo de elaboração
I – o plano plurianual;...”
4
CF 1988 – “...Art. 167...§ 1º – Nenhum investimento cuja execução ultrapasse tem como função primordial organizar as ações de governo
um exercício financeiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano em programas, voltados para a oferta de bens e serviços
plurianual, ou sem lei que autorize a inclusão, sob pena de crime de responsa-
bilidade.” que atendam as demandas da sociedade.
31
ciais de trabalho custeados por dotações globais, isto é,
pelas receitas da União. Em termos plurianuais, o Art.256
da mesma lei define a necessidade de existirem programas
correlacionados a metas, que são definidas como a reali-
zação de obras e de prestação de serviços.
Posteriormente, quando do resgate da filosofia de
orçamento-programa no lançamento do PPA, o Decreto
2.829/1998 estabeleceu as primeiras normas para a sua
elaboração e execução, bem como dos Orçamentos da
União. O Art. 2º do Decreto 2.829/1998 determina o que
Figura: Processo esquemático de elaboração do cada programa deverá conter o seguinte:
PPA
Objetivo
Orientação Estratégica de Governos Órgão responsável
O PPA parte de uma base de pensamento político/ Valor global
estratégico, denominada de Orientação Estratégica de Prazo de conclusão
Fonte de financiamento
Governo, resultante da visão político/partidária sufragada Indicador de resultado
na eleição majoritária, sendo, basicamente, o programa do Metas
governo vigente. A Orientação Estratégica de Governo Ações extra-orçamentárias
não se confunde com o Estado, sendo mais um conjunto Regionalização
de diretrizes que conformam a visão de governo, normal-
mente associada ao longo prazo. Cada programa do PPA, visa à solução de um proble-
ma específico ou ao atendimento de uma demanda da So-
Base Estratégica ciedade; seus objetivos, portanto, devem ser enunciados de
Resultado da Orientação Estratégica de Governo, que modo conciso, evitando idéias mais genéricas, e indicando
inclui a orientação setorial, consubstanciada nas Orienta- o que se pretende de forma clara, categórica e determinante
ções Estratégicas dos Ministérios, confrontada e analisada com aquela ação, de forma a permitir mensuração dos
com a situação atual do País, no cenário macroeconômico resultados sobre o público-alvo, por meio de indicadores
e social geral, o que permite a definição de objetivos econômicos e sociais pré-estabelecidos. Posteriormente,
setoriais baseados nas tendências setoriais observadas, deve-se reunir o conjunto das ações que contribuem para
seja em termos de problemas a solucionar, seja de opor- a consecução de ações de base:
tunidades a explorar. Assim, a base estratégica conforma • Orçamentária, que são os projetos, atividades e
as perspectivas de longo prazo para a ação federal, dire- operações especiais dos Orçamentos Fiscal, da Se-
cionando os esforços do governo para atender a estratégia guridade Social e de Investimentos das Estatais;
de desenvolvimento ou política de governo, momento em • Não-orçamentária, que configuram os financia-
que são elaborados os programas necessários. mentos por entidades oficiais de crédito, a renúncia
fiscal, os fundos constitucionais, fundos adminis-
Programas trados pela União, os dispêndios das estatais e as
Os programas são os instrumentos de organização normas de parcerias com os Estados, os Municípios
geral e setorial da ação governamental, destinando-se a e o setor privado.
enfrentar um problema detectado na avaliação da situação Os indicadores podem ser compreendidos como
atual ou a promover o desenvolvimento de uma oportuni- instrumentos que permitem identificar e medir aspectos
dade que vai conduzir a uma melhoria futura da sociedade,
relacionados a um determinado conceito, fenômeno,
permitindo que se consubstanciem ações operacionais es-
problema ou resultado de uma intervenção na realidade.
pecíficas para atendimento dessas questões. Os programas
explicitam a forma como ocorrerá, na prática, a estratégia A principal finalidade de um indicador é traduzir de forma
de desenvolvimento ou de política de governo, definindo mensurável determinado aspecto de uma realidade dada
metas, prioridades e resultados esperados para cada um (situação social) ou construída (ação de governo), de ma-
deles. A alocação dos recursos orçamentários e financeiros neira a tornar operacional a sua observação e avaliação.
é orientada por programas, nos sucessivos orçamentos Do ponto de vista da produção de bens e serviços públicos
anuais, e explicita a distribuição regional das metas, prio- ou privados e dos resultados produzidos, destacam-se
ridades e recursos, neste caso, para propiciar a integração duas principais tipologias de mensuração de aspectos
territorial das ações desenvolvidas pela União, Distrito fundamentais da gestão:
Federal, Estados e Municípios. Esta visão é derivada da • pela atuação na geração de produtos;
Lei 4.320/1964, que disciplina a elaboração, a proposição • pelas dimensões de desempenho.
e a operação da peça orçamentária. No Inciso IV do Art. 22 A primeira tipologia se refere aos instrumentos de
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desta lei5, exige-se a especificação dos programas espe- mensuração das principais variáveis associada ao cum-
primento de metas e objetivos, relacionando os insumos
5
Lei 4.320/1964 – “...Art. 22 A proposta orçamentária que o Poder usados e os custos incorridos em sua utilização em proces-
Executivo encaminhará ao Poder Legislativo nos prazos estabe-
lecidos nas Constituições e nas Leis Orgânicas dos Municípios, 6
Lei 4.320/1964 – “...Art. 25. Os programas constantes do Quadro
compor-se-á:...IV – Especificação dos programas especiais de trabalho de Recursos e de Aplicação de Capital sempre que possível serão
custeados por dotações globais, em termos de metas visadas, decom- correlacionados a metas objetivas em termos de realização de obras
postas em estimativa do custo das obras a realizar e dos serviços a e de prestação de serviços. Parágrafo único. Consideram-se metas
prestar, acompanhadas de justificação econômica, financeira, social os resultados que se pretendem obter com a realização de cada pro-
e administrativa.... grama.”
32
sos destinados a ofertar bens ou serviços (produtos) des- – dificuldade na definição e operacionalização do
tinados à obtenção de resultados junto a um determinado que se espera como resultado final quando for
público-alvo. Cada um dos aspectos do processo produtivo o caso de estabelecer melhorias na “qualidade
apresentados acima dá origem a indicadores capazes de de vida” ou incrementar a “segurança da popu-
caracterizar o aspecto, como segue: lação”, que são conceitos multidimensionais,
• Indicadores de Insumos: referem-se aos recur- envolvendo mais de uma variável sujeita, ainda,
sos materiais, financeiros e humanos utilizados, à avaliação qualitativa de difícil escalonamento
geralmente expressos no número de profissionais comparativo;
envolvidos, quantidade de horas necessárias para – dificuldade em isolar os fatores externos ao pro-
o desenvolvimento de um projeto ou custo de grama que possam contribuir para o seu resultado
aquisição de insumos. São indicadores úteis para final;
dimensionar os recursos necessários para a produ- – prazos de transformação das condições iniciais
ção, mas não são capazes de indicar o cumprimento enfrentadas pelo programa podem extrapolar o
de objetivos finais. período de vigência do PPA; e
• Indicadores de Processos: quantificam o desem- – a apuração do indicador pode implicar em custos
penho de atividades relacionadas à forma de produ- proibitivos, pela necessidade de realização de
ção de bens e serviços, tais como procedimentos de avaliações ou pesquisas custosas e/ou demoradas
aquisições (dias de prazo para contratação de bens para sua obtenção.
ou serviços) ou realização de atividades (prazo • Eficácia, sendo a medida do grau de atendimento
médio para concessão de licenças ambientais). das metas fixadas para um determinado projeto,
• Indicadores de Produtos: demonstram quan- atividade ou programa em relação ao previsto.
titativamente os bens e serviços produzidos por O percentual de execução física e o percentual de
um programa, que são resultados da combinação execução financeira se constituem em exemplos
um conjunto de insumos mediante determinado de indicadores de eficácia da ação.
processo. No plano plurianual são sempre repre- • Eficiência, sendo a medida da relação entre os re-
cursos efetivamente utilizados para a realização de
sentados pela realização das metas físicas de ações,
uma meta para um projeto, atividade ou programa
que resultam em produtos específicos, por exem-
frente a padrões estabelecidos.
plo, “cidadão vacinado”, no caso de uma ação em
• Economicidade ou economia, tendo a ver com
programas destinados à erradicação de doenças.
a minimização dos custos de aquisição dos recur-
• Indicadores de Resultado: estão relacionados
sos utilizados na consecução de uma ação, sem
aos objetivos que determinado programa visa a comprometimento da qualidade desejada, sendo
cumprir. Também são denominados indicadores de de grande importância para o gerenciamento de
impacto e se relacionam à efetividade do programa, programas. No PPA, geralmente não são expli-
conforme será mostrado na seção seguinte. São citados na forma de indicadores de programa e
indicadores que informam quanto às conseqüências são freqüentes na elaboração e acompanhamento
da realização de um programa. de planos gerenciais, relacionando variáveis de
custo de aquisição de insumos para a realização
A segunda tipologia de indicadores é intrinsecamente de determinado produto.
relacionada à primeira. A primeira, porém, se destina
principalmente aos objetivos de prestação de contas e Cada indicador no PPA deve possuir os atributos
controle gerencial, enquanto a última é mais voltada à especificados a seguir:
avaliação e à tomada de decisões, situação que se deve • Denominação, que será a forma pela qual o indi-
à possibilidade de se estabelecer parâmetros relativos ao cador será apresentado à sociedade.
mérito da intervenção realizada pelo programa. • Unidade de medida, configura o padrão esco-
No caso da Administração Pública, o desempenho lhido para mensuração da relação adotada como
se refere à realização de compromissos assumidos, ao indicador. Por exemplo, para o indicador “taxa de
cumprimento daquilo a que estava obrigado pelas compe- analfabetismo” a unidade de medida seria “porcen-
tências inerentes à função ou cargo, ou ainda pela respon- tagem”, e para o indicador “taxa de mortalidade
sabilidade atribuída circunstancial ou permanentemente infantil” a unidade de medida seria “1/1000” (1
a uma função dirigente ou a um órgão. Para se realizar óbito para cada 1000 nascimentos).
uma avaliação de desempenho de programa, é necessário • Índice de referência, que vai expressar a situação
explicitar e precisar a que se refere à avaliação, quais mais recente do problema e sua respectiva data de
dimensões do desempenho interessam, a partir da análise apuração, permitindo a aferição de um indicador
dos seguintes aspectos de: em um dado momento, mensurado com a unidade
• Efetividade, que é a medida do grau de atendimen- de medida escolhida.
to dos objetivos que orientaram a constituição de • Índices esperados ao longo do PPA, conforma a
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um determinado Programa, tendo como referência trajetória situacional que se deseja atingir com a
os seus impactos na sociedade. Essa categoria de execução do programa, expresso pelo indicador,
indicadores é fundamental para a mensuração do ao longo de cada ano do período de vigência do
resultado de um programa destinado a solucionar PPA.
um problema ou uma demanda social, sendo o • Índice ao final do programa, aplicável somente
indicador de programa por excelência. Contudo, para programas temporários, indica o resultado que
existem grandes dificuldades em sua construção, se deseja atingir com a conclusão da execução do
por exemplo: programa.
33
• Fonte, determina o órgão responsável pelo registro I – sejam compatíveis com o plano plurianual e
ou produção das informações necessárias para com a lei de diretrizes orçamentárias;
a apuração do indicador e divulgação periódica II – indiquem os recursos necessários, admitidos
dos índices que, eventualmente, o componham. apenas os provenientes de anulação de despesa,
A maior parte das informações utilizadas na excluídas as que incidam sobre:
construção dos indicadores poderá ser produzida a) dotações para pessoal e seus encargos;
pelos próprios órgãos executores dos programas b) serviço da dívida;
ou outros integrantes da estrutura do Ministério c) transferências tributárias constitucionais para
responsável, que deverão manter sistemas de coleta Estados, Municípios e o Distrito Federal; ou
e tratamento de informações com esta finalidade. III – sejam relacionadas:
Todavia, em muitos casos, as informações serão a) com a correção de erros ou omissões; ou
buscadas junto a outras fontes que podem ser b) com os dispositivos do texto do projeto de
instituições oficiais ou mesmo privadas, quando lei.
de reconhecida credibilidade: IBGE, FIPE, FGV, §4º As emendas ao projeto de lei de diretrizes or-
Banco Central, DIEESE, ANBID, entre outras. çamentárias não poderão ser aprovadas quando
• Periodicidade, indicando a freqüência com a qual incompatíveis com o plano plurianual.
o indicador é apurado. §5º O Presidente da República poderá enviar
mensagem ao Congresso Nacional para propor
• Base geográfica, que determina o menor nível de
modificação nos projetos a que se refere este arti-
agregação geográfica para a apuração do índice,
go enquanto não iniciada a votação, na comissão
podendo ser municipal, estadual, regional ou na-
mista, da parte cuja alteração é proposta.
cional.
§6º Os projetos de lei do plano plurianual, das
• Fórmula de cálculo, que demonstra, de forma
diretrizes orçamentárias e do orçamento anual
sucinta e por meio de expressões matemáticas, serão enviados pelo Presidente da República ao
o algoritmo que permite calcular o valor do indi- Congresso Nacional, nos termos da lei comple-
cador. mentar a que se refere o art. 165, § 9 o .
§7º Aplicam-se aos projetos mencionados neste
Aprovação Legislativa do PPA artigo, no que não contrariar o disposto nesta
Os projetos de lei relativos ao PPA, LDO, LOA e Seção, as demais normas relativas ao processo
aos Créditos Adicionais são apreciados pelas duas Casas legislativo.
do Congresso Nacional, na forma do regimento comum. § 8° Os recursos que, em decorrência de veto,
Por outro lado, o processo de apreciação, apresentação emenda ou rejeição do projeto de lei orçamentá-
de emendas, formulação de relatórios e substitutivo e ria anual, ficarem sem despesas correspondentes
encaminhamento para posterior votação ocorre no âmbito poderão ser utilizados, conforme o caso, me-
da Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e diante créditos especiais ou suplementares, com
Fiscalização (CMO), nos termos do artigo 166 da Cons- prévia e específica autorização legislativa.”
tituição Federal:
As atividades relacionadas à aprovação legislativa do
“Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano PPA podem ser agrupadas da seguinte maneira:
plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao or- • Iniciativa: vinculada ao Chefe do Poder Execu-
çamento anual e aos créditos adicionais serão tivo e a um prazo legal determinado no exercício
apreciados pelas duas Casas do Congresso Na- anual.
cional, na forma do regimento comum. • Discussão: ação interna ao Poder Legislativo, con-
§1º Caberá a uma comissão mista permanente figura a fase dos trabalhos consagrada aos debates
de Senadores e Deputados: legislativos, considerando a forma e o mérito do
I – examinar e emitir parecer sobre os projetos re- PL. É subdividida nas etapas de emendas, voto
feridos neste artigo e sobre as contas apresenta- do relator, redação final, que se dará no âmbito
das anualmente pelo Presidente da República; da CMO, e votação em plenário do Congresso
II – examinar e emitir parecer sobre os planos Nacional, sob regimento comum (deliberação
e programas nacionais, regionais e setoriais conjunta). Na fase que antecede o voto do relator,
o Poder Executivo poderá encaminhar mensagem
previstos nesta Constituição e exercer o acom-
retificadora da proposta ao congresso nacional,
panhamento e a fiscalização orçamentária, sem
propondo modificações nos projetos referentes ao
prejuízo da atuação das demais comissões do
PL de PPA, enquanto não iniciada a votação, na
Congresso Nacional e de suas Casas, criadas de comissão mista, da parte cuja alteração é propos-
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e Judiciário, no limite das obrigações de que trata a lei elaboração do PPA? Os programas estão adequados aos
que aprovou o PPA. A avaliação dos resultados de um objetivos estratégicos propostos?” e “A gestão do plano
programa do PPA se dá com base na captação dos seus está adequada?”.
impactos, por meio de: O uso dos resultados desta etapa de avaliação per-
• análise da evolução dos indicadores; mite:
• consulta ao público-alvo; e • Melhoria da Alocação de Recursos, obtidas com
• busca de outras fontes de informação e consulta base nas informações e recomendações da avalia-
aos parceiros, quando houver. ção para a elaboração do PPA, LDO e LOA;
36
• Aperfeiçoamento da Gestão, com propostas para Revisão do Ppa
solucionar problemas relacionados à estrutura O processo de revisão anual do PPA obedece, tanto
organizacional e à gestão dos programas; e interna quanto externamente, às mesmas disposições
• Revisão e Ajustes do PPA para melhoria da quali- legais da etapa de elaboração.
dade da gestão de médio prazo do governo.
O objetivo de se apurar o resultado primário é custo/benefício deste tipo de operação, bem como
medir, sob o aspecto financeiro, a capacidade da o impacto da mesma sobre o equilíbrio das contas
Administração fornecer bens e serviços à comu- públicas. A LRF cria uma vinculação da Receita
nidade com recursos próprios da entidade, obtidos de Alienação às Despesas de Capital, com exceção
pelo seu “esforço”, o que não inclui o endivida- do sistema previdenciário próprio dos servidores
mento e o seu pagamento (principal + encargos), públicos. É em função desse fato que a Adminis-
a remuneração do capital próprio (juros obtidos) tração Pública deverá elaborar a demonstração
ou a assunção de obrigações. A demonstração das de origem e aplicação dos recursos provenientes
38
de alienação. A LRF criou o Fundo Especial para O Anexo de Riscos Fiscais
as entidades governamentais, pois, pelo art. 44, Este segundo documento, que integra a LDO, traz
os recursos financeiros, obtidos pela alienação de a previsão de riscos fiscais, a qual, embora devesse ser
bens e direitos, têm sua aplicação vinculada às sempre realizada pelos administradores públicos, não
despesas de capital ou ao financiamento de siste- era, até a publicação da LRF, uma exigência legal. A lei
mas previdenciários próprios dos servidores. Tal 4.320/1964 estabelece um mecanismo que possibilita a
vinculação, entretanto, não se dá sobre o total da Administração Pública remediar os problemas causados,
receita obtida com a alienação, mas somente sobre entre outros, pela concretização de um risco fiscal. É o
a receita de capital da alienação, isto é, aquela que crédito adicional, que permite o aumento dos créditos
corresponde ao valor contábil do bem, não se in- autorizados e, conseqüentemente, da despesa. A LRF,
cluindo, aí, os ganhos auferidos na alienação que, no entanto, prefere prevenir a remediar, ao estipular que
conforme já explicado, são contabilizados como os riscos fiscais devem ser conhecidos e avaliados, bem
receita corrente (patrimonial). como ser previstas as medidas a serem tomadas, caso eles
• Estimativa e compensação da renúncia de re-
se concretizem.
ceita e da margem de expansão das despesas
Risco fiscal é uma ameaça às previsões fiscais, ou
de caráter continuado: A LRF determina que
seja, um acontecimento que pode vir a prejudicá-las
renúncia de receita, ocasionada pela concessão ou
ampliação de incentivo ou por benefício de natu- como, por exemplo, a não-arrecadação de uma receita
reza tributária, bem como expansão de despesas ou a realização de uma despesa em patamar superior ao
de caráter continuado, deverá ter seus respectivos programado. Entretanto, a LRF não pretende que se faça
impactos sobre o orçamento e as finanças públicas o impossível, como por exemplo, que se preveja uma
estimados. Esta estimativa também integra o conte- calamidade pública inesperada. O que ela quer é que não
údo do Anexo de Metas Fiscais. Conforme definido só os administradores busquem estudar previamente a
na LC 101/2000 (art.14, par. 1º), a renúncia de possibilidade de ocorrência de riscos fiscais, como que
receita compreende: se preparem para enfrentar os mais prováveis.
– a anistia – é a exclusão do crédito tributário rela- Para atender a uma despesa gerada pela ocorrência de
tivo a penalidades pecuniárias, ou seja, às multas um risco fiscal, tem-se o crédito adicional suplementar ou
e aos juros de mora. Pela anistia, o legislador ex- especial, enquanto, para as despesas ocasionadas por fatos
tingue as penalidades cometidas pelo contribuin- imprevisíveis, se tem o crédito adicional extraordinário.
te infrator da legislação tributária, impedindo a O Anexo de Riscos Fiscais apresentará a avaliação dos
constituição do crédito. Se o crédito já estiver passivos contingentes e de outros riscos capazes de afetar
constituído, o legislador poderá dispensá-lo pela as contas públicas, informando as providências a serem
remissão, mas não pela anistia. tomadas, na hipótese de tais riscos ocorrerem. O passivo,
– a remissão – é a dispensa concedida ao contri- como já mencionado, compreende as obrigações da en-
buinte de pagar o crédito tributário correspon- tidade. A Lei 4.320/1964 classifica contabilmente tais
dente, já constituído. Pode ser total ou parcial, obrigações nos seguintes grupos:
e visa atender: • Passivo financeiro – representado pelas dívidas a
a) à situação econômica do contribuinte; curto prazo ou pela chamada dívida flutuante, cujo
b) ao erro ou à ignorância escusáveis do contri- pagamento independe de autorização orçamentá-
buinte, quanto à matéria de fato; ria;
c) à diminuta importância do crédito tributá- • Passivo permanente – compreende as dívidas
rio; de longo prazo, ou seja, a dívida fundada, cuja
d) a considerações de eqüidade;
amortização ou resgate depende de autorização
e) a condições peculiares de determinada região
legislativa;
territorial da entidade tributante.
• o subsídio – corresponde ao benefício tributário • Passivo de compensação: representa os valores
concedido pela entidade governamental, que re- em poder da entidade governamental, que não são
sulta no abatimento de parte do preço de venda de sua propriedade e, portanto, não integram seu
dos bens e dos serviços das empresas. patrimônio.
• o crédito presumido – corresponde a créditos
tributários usados para a compensação do valor a O Anexo de Riscos Fiscais demonstrará, ainda,
ser recolhido, pelos contribuintes, de determinados as medidas administrativas e financeiras a serem tomadas
tributos sujeitos ao regime de compensação. para solucionar ou dirimir os problemas causados pela
• a concessão de isenção – a lei que institui um tri- ocorrência do risco fiscal.
buto, define, entre outros aspectos, as situações de
incidência do mesmo. Essas situações constituem Lei Orçamentária Anual
as hipóteses de incidência do tributo. A concessão
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dação de cada modalidade de receita orçamentária. I – Mensagem, que conterá: exposição circunstancia-
As fontes de receita constituem a classificação bá- da da situação econômico-financeira, documentada com
sica para as análises econômico-financeiras sobre demonstração da dívida fundada e flutuante, saldos de
o financiamento das ações governamentais. créditos especiais, restos a pagar e outros compromissos
• Classificação Institucional: tem por finalidade financeiros exigíveis; exposição e justificação da política
demonstrar as entidades ou unidades orçamentárias econômico-financeira do Governo; justificação da receita
que, respondendo pela arrecadação, são detentoras e despesa, particularmente no tocante ao orçamento de
das receitas. capital;
41
II – Projeto de Lei de Orçamento, Como corolário desta etapa, devemos providenciar a
III – Tabelas explicativas, das quais, além das estima- formalização de um documento onde fique demonstrada a
tivas de receita e despesa, constarão em colunas distintas fixação dos níveis das atividades governamentais, através
e para fins de comparação: da formulação dos programas de trabalho das unidades
a) a receita arrecadada nos três últimos exercícios administrativas, e que, em última análise, constituirá a
anteriores àquele em que se elaborou a proposta; proposta orçamentária.
b) a receita prevista para o exercício em que se elabora As propostas parciais das unidades administrativas,
a proposta; organizadas em formulário próprio, serão acompanhadas:
c) a receita prevista para o exercício a que se refere das tabelas explicativas da despesa realizada no exercício
a proposta; imediatamente anterior, da despesa fixada para o exercício
d) a despesa realizada no exercício imediatamente em que se elabora a proposta, e da despesa prevista para
anterior; o exercício a que se refere a proposta, e da justificação
e) a despesa fixada para o exercício em que se elabora pormenorizada de cada dotação solicitada, com a indica-
a proposta; e ção dos atos de aprovação de projetos e orçamentos de
f) a despesa prevista para o exercício a que se refere obras públicas, para cujo início ou prosseguimento ela
a proposta. se destina.
IV – Especificação dos programas especiais de A estimativa da receita terá por base as demonstrações
trabalho custeados por dotações globais, em termos de mencionadas, da arrecadação, pelo menos, dos três últimos
metas visadas, decompostas em estimativa do custo das exercícios, bem como as circunstâncias de ordem conjun-
obras a realizar e dos serviços a prestar, acompanhadas tural e outras que possam afetar a produtividade de cada
de justificação econômica, financeira, social e adminis- fonte de receita. As propostas orçamentárias parciais serão
trativa. revistas e coordenadas na proposta geral, considerando-se
V – Descrição sucinta das principais finalidades de a receita estimada e as novas circunstâncias.
cada unidade administrativa, com indicação da respecti- f.2) Estudo e aprovação: Esta fase é de competência
va legislação. Por seu turno, a lei orçamentária anual terá, do Poder Legislativo, e o seu significado está configurado
além do texto regulamentar, a seguinte composição: na necessidade de que o povo, através de seus representan-
tes, intervenha na decisão de suas próprias aspirações, bem
1) sumário geral da receita por fontes e da despesa
como na maneira de alcançá-las. As emendas ao projeto de
por funções do Governo;
lei do orçamento anual ou aos projetos que o modifiquem
2) quadro demonstrativo da receita e despesa segundo
somente podem ser aprovadas caso:
as categorias econômicas;
I – sejam compatíveis com o plano plurianual e com
3) quadro discriminativo da receita por fontes e res-
a lei de diretrizes orçamentárias;
pectiva legislação; II – indiquem os recursos necessários, admitidos
4) quadro das dotações por órgãos do Governo e da apenas os provenientes de anulação de despesa, excluídas
Administração; as que incidam sobre:
5) quadros demonstrativos da receita e planos de a) dotações para pessoal e seus encargos;
aplicação dos fundos especiais. b) serviço da dívida;
VI – quadros demonstrativos da despesa, na forma c) transferências tributárias constitucionais para Es-
dos anexos nº 6 a 9 da Lei nº 4.320/1964; tados, Municípios e Distrito Federal; ou
VII – quadro demonstrativo do programa anual de III – sejam relacionadas:
trabalho do Governo, em termos de realização de obras a) com a correção de erros ou omissões; ou
e de prestação de serviços. b) com os dispositivos do texto do projeto de lei.
Devidamente discutido, o projeto de lei orçamentário,
f) Ciclo orçamentário: uma vez aprovado pelo Poder Legislativo, merecerá de
sua parte a edição de um autógrafo e, logo após, enviado
O orçamento, embora seja anual, não pode ser conce- para sanção pelo chefe do poder Executivo.
bido ou executado isoladamente do período imediatamente f.3) Execução orçamentária e financeira:
anterior e do posterior, pois sofre influências condicionan- – Programação de desembolso : As dotações consig-
tes daquele que o precede, assim como constitui uma base nadas aos créditos orçamentários e adicionais representam
informativa para os futuros exercícios. Daí a necessidade autorizações de despesas válidas para utilização no perí-
de compreensão do Ciclo Orçamentário, que é a seqüência odo de vigência da lei orçamentária anual.
das etapas desenvolvidas pelo processo orçamentário, Para que as despesas possam ser efetivamente reali-
assim, consubstanciado: zadas, é necessário que os recursos financeiros estejam
a) elaboração; disponíveis no momento devido para quitar a obrigação.
b) estudo e aprovação; Como não ocorre automaticamente o ajuste entre a entrada
c) execução; e efetiva das receitas e as necessidades de pagamento das
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custos, bem como os esquemas de avaliação e controle. e só os de produção ; todos os gastos relativos ao esforço
O planejamento teria o papel mais saliente em todo de fabricação são distribuídos para todos os produtos ou
o processo, e isso seria possível devido ao estágio alcan- serviços feitos.
çado pelas modernas técnicas de informação que visam No setor público os custos realizados, na sua maio-
auxiliar a análise e a tomada de decisões. No atual modelo ria, são de prestação de serviços, para isso o sistema de
orçamentário brasileiro, existe estreita conexão entre absorção deve ser adaptado às realidades públicas. Ao se
Planejamento e Orçamento, formando, assim, binômio trabalhar com sistemas de custeio, encontram-se algumas
inseparável. Para os estudiosos da área, distribuição de dificuldades na separação dos custos comuns, que seriam
44
aqueles que pertencem a mais de um serviço. Deve-se criar Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para
um método de rateio para custos indiretos, procurando elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União,
que o mesmo tenha o menor grau de risco, ou seja, cause dos Estados, dos Municípios e do DF.
a menor distorção no custo total, ainda que haja algum
grau de arbitrariedade e subjetivismo, porque os custos Leis Ordinárias
fixos existem independentemente da produção, e acabam
presentes no mesmo montante, mesmo que oscilações Lei nº 11.514, de 13 de agosto de 2007 (LDO 2008)
ocorram no volume de produção. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
– Sistema de custeio direto ou variável : nesse 2010/2007/Lei/L11514.htm
sistema, despesas e custos são classificados como fixos Dispõe sobre as diretrizes para a elaboração da Lei
ou variáveis. A alocação de recursos no custeio direto é Orçamentária de 2008 e dá outras providências.
realizado segundo o plano de contas, que contempla em
sua estrutura básica a unidade funcional, designada como Lei nº 11.451, de 7 de fevereiro de 2007 (LOA 2007)
centro de responsabilidade e por atividade fim, designadas http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
como centro de custos. 2010/2007/Lei/L11451.htm
A análise das variações de despesas e custos forne- Estima a receita e fixa a despesa da União para o
cidas pelo custeio variável é de grande utilidade para a exercício financeiro de 2007.
tomada de decisão, estando aí uma das maiores vantagens
deste sistema de custeio. Lei nº 11.450, de 7 de fevereiro de 2007 (Revisão
- Sistema de custeio baseado em atividades – abc PPA)
(activity based cost): O ABC (Activity-Based Costing), http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
ou custeio baseado em atividades, propõe a redução da 2010/2007/Lei/L11450.htm
subjetividade ou arbitrariedade na alocação de custos Altera a Lei nº 10.933, de 11 de agosto de 2004,
indiretos. Tem vantagens para a administração pública, ao que dispõe sobre o Plano Plurianual para o período de
permitir trabalhar com diversidade de produtos, efetuar 2004/2007.
o mapeamento dos principais processos existentes na
organização, identificar as atividades existentes em cada Lei nº 10.933 de 11 de agosto de 2004 (PPA 2004-
processo, levantar os custos e recursos associados a cada 2007)
atividade (custo/atividade), identificar as atividades que http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
não agregam valor ao produto e avaliar a influência das 2006/2004/Lei/L10.933.htm
atividades secundárias no produto final, ou seja, determi- Estima a Receita e fixa a despesa da União para o
nar se podem ser eliminadas ou pelo menos reduzidas. exercício financeiro de 2007.
c) Classificação dos custos:
• Os custos fixos se mantêm inalterados indepen- Lei nº 10.180 de 6 de fevereiro de 2001
dentemente da variação unitária das quantidades http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LEIS_
em relação a determinado produto. 2001/L10180.htm
• Os custos variáveis se modificam em razão do Organiza e disciplina os Sistemas de Planejamento
volume de produtos. e de Orçamento Federal, de Administração Financeira
• Os custos diretos são os custos apropriáveis dire- Federal, de Contabilidade Federal e de Controle Interno
tamente ao produto. do Poder Executivo Federal, e dá outras providências.
• Os custos indiretos são aqueles que não condu-
zem de maneira clara e objetiva à apropriação ao Decretos
produto, muito embora sejam custos.
Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967
FUNDAMENTOS LEGAIS DO SISTEMA DE PLANEJAMEN- http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/
TO E ORÇAMENTO BRASILEIRO Del0200.htm
Dispõe sobre a organização da Administração Federal,
Constituição Federal de 1988 – Seção II – Dos estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá
Orçamentos, Art. 165 A 169 outras providências.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
Constituiçao.htm Decreto nº 6.183, de 8 de agosto de 2007
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
Leis Complementares 2010/2007/Decreto/D6183.htm
Estabelece, no âmbito do Poder Executivo, limites
Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 para empenho de despesas com publicidade no exercício
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/ de 2007.
GESTÃO GOVERNAMENTAL
Lcp101.htm
Lei de Responsabilidade Fiscal – Estabelece normas Decreto nº 6.139, de 3 de julho de 2007
de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
gestão fiscal e dá outras providências. 2010/2007/Decreto/D6139.htm
Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demons-
Lei nº 4320, de 17 de Março de 1964 trativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratifica-
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4320. das do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão,
htm e dá outras providências.
45
Decreto nº 6.046, de 22 de fevereiro de 2007 SUGESTÕES DE LEITURA
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
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reza de receita.
Formato
15 x 21cm
Mancha
11,5 x 17,5cm
Papel
Offset
Gramatura
70 gr/m2
Número de páginas
46
Impressão e acabamento
GESTÃO GOVERNAMENTAL