Você está na página 1de 46

LUANNA SANT’ANNA RONCARATTI

ALESSANDRO FONTENELLE

• Políticas Públicas
• Gestão Governamental

Brasília

2008
© 2008 Vestcon Editora Ltda.

Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de
19/2/1998. Proibida a reprodução de qualquer parte deste material, sem autorização prévia
expressa por escrito do autor e da editora, por quaisquer meios empregados, sejam eletrôni-
cos, mecânicos, videográficos, fonográficos, reprográficos, microfílmicos, fotográficos, gráficos
ou outros. Essas proibições aplicam-se também à editoração da obra, bem como às suas
características gráficas.

Título da obra: MPOG – Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão –


Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental –
Conhecimentos Gerais e Especializados – Nível Superior
Atualizada até 4-2008 (A1-AM143)

(De acordo com o Edital nº 12, de 26 de março de 2008 – Esaf)

Matéria:
Políticas Públicas

Autores:
Luanna Sant’Anna Roncaratti
Alessandro Fontenelle

DIRETORIA EXECUTIVA EDITORAÇÃO ELETRÔNICA


Norma Suely A. P. Pimentel Adenilton da Silva Cabral
Antonio Gerardo Pereira
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO Bruno Oliveira Lino Silva
Cláudia Alcântara Prego de Araújo Carlos Alessandro de Oliveira
Faria
SUPERVISÃO EDITORIAL Daniel dos Santos Sampaio
Maria Neves Robson Alves

SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO REVISÃO


Carla Cunha Nunes Adriene Maria Costa
Beatriz Carneiro
EDIÇÃO DE TEXTO Bruno Rocha
Reina Terra Amaral Claúdia Costa
Ivana Araújo Barreto
CAPA Márcia de Oliveira
Bertoni Design Naiane Francischetto
Agnelo Pacheco Priscila Almeida
Raquel da Cruz
Tahyane Pires Vieira

SEPN 509 Ed. Contag 3º andar CEP 70750-502 Brasília/DF


SAC: 0800 600 4399 Tel.: (61) 3034 9576 Fax: (61) 3347 4399

www.vestcon.com.br
SUMÁRIO
Políticas Públicas

POLÍTICAS PÚBLICAS
Conceito de Política Pública:
relação entre Política e Política Pública ....................................................5
Análise de Políticas Públicas ...........................................................................7
Modelos de tomada de decisão em política pública:
incremental, racional e suas variantes .....................................................10
As perspectivas do neo-institucionalismo na análise das estratégias e
dos resultados das políticas públicas..............................................................11
O papel da Burocracia no processo de formulação e implementação
de políticas públicas .......................................................................................12
Tipos de políticas públicas:
distributivas, regulatórias e redistributivas .............................................13
Políticas Públicas e suas fases:
formação da agenda.................................................................................14
formulação...............................................................................................15
implementação ........................................................................................17
monitoramento e avaliação .....................................................................18
Controle Social – transparência e participação social....................................19
Novos arranjos de políticas públicas..............................................................20
Federalismo e descentralização......................................................................21
Políticas Públicas no Brasil............................................................................22

GESTÃO GOVERNAMENTAL
Sistema de Planejamento e Orçamento do Governo Federal:
fundamentos legais ..................................................................................29
conceitos básicos do sistema de planejamento, orçamento
e financeiro ..............................................................................................29
gestão por programas ..............................................................................35
integração, planejamento e orçamento ....................................................43
eficiência do gasto público ......................................................................43
5
POLÍTICAS PÚBLICAS
Luanna Sant’Anna Roncaratti

O CONCEITO DE POLÍTICA PÚBLICA E A RELAÇÃO De forma simplificada, pode-se dividir as diversas de-
ENTRE POLÍTICA E POLÍTICA PÚBLICA finições em dois blocos. A primeira define política pública
como escolhas que o governo opta por fazer ou não, sendo
O Conceito de Política Pública sempre governamental. A política pública é vista, em
geral, como um processo ordenado com estágios claros,
A política pública tem sido objeto de estudo de dominado por profissionais e especialistas, cujo objetivo
diversos autores e tem recebido inúmeras definições é responder às diversas demandas da sociedade.
diferentes. A primeira delas, relacionada a Dye (DYE O segundo bloco percebe a política pública como um
processo que envolve múltiplas decisões inter-relacio-
apud HOWLETT; RAMESH, 1996), percebe a política
nadas tomadas por grupos diversos de atores políticos.
pública simplesmente como uma escolha governamental,
Sob essa perspectiva, as políticas públicas, em geral, não
como qualquer coisa que o governo escolhe fazer ou não têm início e fim claramente determinados, definindo-se
fazer. e redefinindo-se de forma continuada por meio de um
Outra definição importante de política pública, cujo processo de revisão e retração e em função do contexto
principal expositor é Lasswell (LASSWELL apud HO- em que se desenvolvem. Tampouco possuem processo de
WLETT E RAMESH, 1996), a compreende como um racionalidade manifesta. Ao contrário, a elaboração de
processo ordenado em etapas, dominado por especialistas políticas públicas envolveria um processo complexo, com
e tecnocratas, no qual as instituições públicas respondem numerosas decisões tomadas por numerosos indivíduos e
às demandas da sociedade, canalizadas por grupos de órgãos, caracterizado por limites incertos e pela interco-
interesse e partidos políticos, atuando para alcançar as nexão entre as diversas ações do governo.
soluções mais adequadas às demandas iniciais. Sob essa Para facilitar a compreensão do conceito de política
perspectiva, cada uma dessas etapas se desenvolve de pública, Saravia (2006) enumera os componentes comuns
forma mais ou menos autônoma, com limites definidos, às diversas definições. Assim, pode-se dizer que as prin-
tendo princípio e fim. cipais características das políticas públicas são:
De forma distinta, Jenkins (JENKINS apud HOW- • institucional: a política é elaborada ou decidida
LETT; RAMESH, 1996) percebe a política pública como por autoridade formal legalmente constituída no
um conjunto de decisões inter-relacionadas tomadas por âmbito da sua competência e é coletivamente
vinculante;
um ator ou grupo de atores políticos, relativas à seleção
• decisório: a política é um conjunto-seqüência de
de metas e meios de atingi-las dentro de uma situação
decisões, relativo à escolha de fins e/ou meios, de
específica, na qual essas decisões devem, em princípio, longo ou curto alcance, numa situação específica
estar dentro da esfera de poder dos atores. Jenkins vê as e como resposta a problemas e necessidades;
políticas como processos, diferentemente de Dye, que as • comportamental: implica ação ou inação, fazer
vê como escolha. Parte da idéia de política pública como ou não fazer nada; mas uma política é, acima de
um comportamento orientado por objetivos. tudo, um curso de ação e não apenas uma decisão
Anderson, por sua vez, traz uma definição genérica singular;
de política pública (ANDERSON apud HOWLETT; RA- • causal: são os produtos de ações que têm efeitos
MESH, 1996). Concebe-a como um curso proposital de no sistema político e social.
ação seguida por um ator ou conjunto de atores ao lidarem
com um problema ou questão. Essa definição envolve dois A relação entre Política e Política Pública
elementos: decisões tomadas por conjuntos de atores, não
um ator isolado, e a ligação entre ação do governo e a A política se refere à atividade humana relacionada
percepção da existência de um problema ou questão que ao exercício do poder social. Tem foco na vida em grupo,
requer ação. A política pública é vista, então, como um na coletividade, na alocação de recursos por parte da au-
fenômeno complexo consistindo em numerosas decisões toridade. A política sempre envolve poder, mas trata-se,
tomadas por numerosos indivíduos e órgãos. antes disso, de processos sociais e coletivos de escolha.
O conceito de política também está essencialmente ligado
Para Saravia (2006), a política pública envolve um
a questões e batalhas distributivas, como quem ganha o
fluxo de decisões públicas, orientado a manter o equilíbrio
que, quando e como. Envolve, portanto, um conjunto de
social ou a introduzir desequilíbrios destinados a modificar procedimentos destinados à resolução pacífica de conflitos
essa realidade. Envolvem decisões condicionadas pelo em torno da alocação de bens e recursos públicos.
próprio fluxo e pelas reações e modificações que elas Para Rua (1998), as políticas públicas envolvem ne-
provocam no tecido social, bem como pelos valores, idéias cessariamente atividade política. As disputas políticas e as
POLÍTICAS PÚBLICAS

e visões dos que adotam ou influem na decisão. Pode-se relações de forças de poder deixarão sempre suas marcas
dizer que é um sistema de decisões públicas que visa a nos programas e projetos desenvolvidos e implementados.
ações ou omissões, preventivas ou corretivas, destinadas A política pública nunca será resultado apenas da análise
a manter ou modificar a realidade de um ou vários setores técnica e racional sobre um determinado problema. Assim,
da vida social, por meio da definição de objetivos e estra- o processo político, a interação de forças e atores em uma
tégias de atuação e da alocação dos recursos necessários determinada arena política, influenciará os resultados das
para atingir os objetivos estabelecidos. políticas públicas.
6
Conforme Rua (1998), as políticas públicas resul- das funções de autoridade no sistema político. Para sa-
tam do processamento, pelo sistema político, dos inputs tisfazer as exigências e suscitar sustentáculos, o sistema
originários do meio ambiente e, freqüentemente, de produz decisões e ações em resposta às impulsões por ele
withinputs (demandas originadas no interior do próprio recebidas, são os outputs do sistema.
sistema político). Assim, pode-se afirmar que o sistema político está
Essa perspectiva tem como base a teoria de sistemas fundamentalmente em interdependência com seu am-
de Easton. Para Easton, a política é a abonação autoritá- biente, empenhando-se em converter as exigências e os
ria de valores, a atribuição autoritária de coisas de valor. sustentáculos que dele provêm em decisões e ações apro-
O sistema político pode, então, ser designado como o priadas. Em conseqüência, produz-se uma auto-regulação
conjunto das interações pelas quais se efetua a abonação do sistema, ou seja, uma regulação por retroação (feed-
autoritária de valores. Um sistema político se definiria, back). Desse modo, o sistema político produz outputs,
por conseguinte, como o conjunto das interações políticas que respondem aos inputs; mas que, por sua vez, reagem
verificadas numa dada sociedade. No modelo eastoniano, sobre eles e lhes dão forma. É o processo de retroação,
conforme Schwartzenberg, o sistema político é consi- pelo qual o funcionamento do sistema depende de seus
derado uma “caixa preta”, não se remetendo ao que se próprios outputs. A decisão é efetivamente uma resposta
passa no interior dessa caixa, porque a análise sistêmica às exigências e aos sustentáculos direcionados ao siste-
incide essencialmente nas relações do sistema com o seu ma, sendo também fonte de novas exigências e de novos
ambiente. apoios. Desse modo, as ações e decisões que o sistema
político empreende visam de maneira constante a maxi-
Figura 1 – Modelo sistêmico do processo político mizar o apoio disponível, respondendo de forma dinâmica
ao seu envolvimento.

Definição de inputs e withinputs


De acordo com Rua (1998), os inputs e os withinputs
podem expressar demandas e suporte. As demandas
podem ser, por exemplo, reivindicações de bens e ser-
viços, como saúde, educação, estradas, transportes etc.
A vida política formaria um sistema aberto, englobado Podem ser, ainda, demandas de participação no sistema
e imerso no seu envolvimento, mantendo múltiplas trocas político, como reconhecimento do direito de voto dos
e transações complexas com seu ambiente. Para descrever analfabetos, acesso a cargos públicos para estrangeiros,
essas relações, Easton utiliza um diagrama para descrever dentre outros.
o sistema político (Figura 1). A máquina política fun- Os suportes nem sempre estão diretamente vinculados
cionaria como a máquina econômica, com inputs (o que a cada demanda ou política específica. Geralmente, estão
alimenta o sistema) e outputs (o que o sistema produz), direcionados ao sistema político ou à classe governante.
o que sugere que o uso do sistema permite a separação da São exemplos de suporte ou apoio a obediência e o cumpri-
vida política do resto da sociedade. mento de leis e regulamentos; atos de participação política,
Os inputs são de dois tipos: as exigências ou demandas como o simples ato de votar e apoiar um partido político
e os apoios ou sustentáculos. Inputs na forma de deman- etc. Já a sonegação de impostos, a abstenção eleitoral e
das e apoios alimentam o sistema político. As demandas as manifestações contra os governantes são exemplos
surgiriam no ambiente ou no interior do próprio sistema. de ausência do input apoio em relação ao governo ou ao
Já os outputs emanariam do sistema político na forma de próprio sistema político (RUA, 1998).
decisões e ações políticas. Eles retroalimentam o ambien- Deve-se ter em conta ainda que os inputs de demanda
te pela satisfação das demandas de alguns membros do e de apoio não estão restritos ao plano interno da sociedade
sistema e assim geram apoio ao sistema. nacional, sendo as políticas públicas afetadas também pelo
As exigências ou demandas são definidas como a que acontece em outros países.
expressão da opinião de que uma abonação autoritária Os withinputs, por sua vez, também expressam de-
relativa a um objeto determinado deveria ou não deveria mandas e apoio. Distinguem-se, porém, dos inputs pelo
ser feita pelos responsáveis. A acumulação de exigências fato de que são provenientes do próprio sistema político:
criaria, no entanto, uma sobrecarga que o sistema pode dos agentes do executivo (ministros, burocratas, tecnocra-
suportar e absorver dentro de certos limites. Faria-se tas etc.) dos parlamentares, dos governadores de estado,
necessário, então, ajustar as exigências do ambiente à do Judiciário etc.
capacidade do sistema. Considera-se, portanto, que grande parte da atividade
Schwartzenberg remete-se a um segundo tipo de política dos governos se destina à tentativa de satisfazer
input: o apoio, suporte ou sustentáculo. Segundo ele, as demandas que lhes são dirigidas pelo atores sociais
as exigências tendem a enfraquecer o sistema político, ou aquelas formuladas pelos próprios agentes do siste-
enquanto o apoio tende a reforçá-lo. O apoio engloba todos ma político ao mesmo tempo que articulam os apoios
POLÍTICAS PÚBLICAS

os comportamentos favoráveis ao sistema, que podem necessários. Na realidade, o próprio atendimento das
ser de três tipos. O primeiro é o suporte da comunidade demandas deve ser um fator gerador de apoios – mas isto
política, o apego ao conjunto coletivo, à comunidade nem sempre ocorre, ou, mais comumente, ocorre apenas
nacional. O segundo é o suporte do regime, o conjunto parcialmente.
das regras do jogo, englobando valores sobre os quais se De todo modo, é na tentativa de processar as de-
assentam o sistema político, as normas e a estrutura de mandas que se desenvolvem “procedimentos formais
poder. O último é o apoio das autoridades, dos titulares e informais de resolução pacífica de conflitos” que ca-
7
racterizam a política. As políticas públicas, por sua vez, penhar suas tarefas. Os burocratas são geralmente
seriam o resultado do processamento dos diversos inputs a peça-chave no processo de políticas públicas e as
e withinputs pelo sistema político. figuras centrais em vários subsistemas.
Quando as demandas se acumulam e o sistema não • Grupos de interesses e grupos de pressão – Os
consegue encaminhar soluções aceitáveis, ocorre uma grupos de interesse constituem-se por pessoas que
crise que ameaça a estabilidade do sistema, chamada de compartilham pelo menos um interesse comum e
“sobrecarga de demandas”. que atuam em prol do seu objetivo. Não dependem
Trata-se de uma crise que pode ameaçar a governabi- das relações com entidades públicas e podem até
lidade do sistema. Nesse caso, surgem pressões resultantes mesmo prescindir dessas relações para a execução
da combinação do excesso ou complexidade de demandas do seu objetivo, caso não busquem a modificação
com withinputs contraditórios e redução do apoio ou das políticas públicas.
suporte. Em decorrência, o sistema torna-se incapaz de Já os grupos de pressão são conjuntos de pessoas
gerar decisões razoáveis, o que pode levar até mesmo à ou organizações que têm como objetivo influen-
ruptura institucional, dependendo da sua gravidade e da ciar as decisões do poder público, em especial o
sua duração. Legislativo, em favor de determinados interesses
privados. As pressões podem ser exercidas também
Atores políticos sobre o Executivo, o Judiciário e os meios de co-
Os atores políticos são os envolvidos na política, municação.
ou melhor, nos conflitos em torno da alocação de bens e O principal recurso dos grupos é o conhecimento,
recursos públicos. Segundo Rua (1998), são aqueles cujos especialmente informações que podem não estar
interesses serão afetados, positiva ou negativamente, pelo disponível aos outros. Geralmente dispõem de
rumo tomado por uma política pública qualquer. outros recursos organizacionais e políticos: como
Como identificar os atores em uma política pública? dar contribuições financeiras a partidos políticos.
O critério mais simples e eficaz é estabelecer quem tem Seus impactos sobre a formulação e a implementa-
alguma coisa em jogo na política em questão. Ou seja, ção de políticas públicas variam consideravelmente
quem pode ganhar ou perder com tal política, quem tem de acordo com os seus recursos organizacionais.
seus interesses diretamente afetados pelas decisões e ações Seus recursos não garantem que seus interesses
serão contemplados, mas é pouco comum que os
que compõem a política em questão (RUA,1998).
grupos, tanto de interesse como de pressão, sejam
Os atores políticos são diversos e possuem caracte-
inteiramente ignorados.
rísticas distintas. Podem ser indivíduos ou grupos e estão
• Organizações de pesquisa – São em geral univer-
tanto dentro da máquina do Estado como na sociedade.
sidades ou think tanks, organizações independentes
Podem ser divididos em cinco categorias:
engajadas em pesquisas multidisciplinares para
• Funcionários eleitos – dividem-se em duas cate- influenciar as políticas públicas. Elas mantêm
gorias: membros do Executivo e do Legislativo. interesse em um amplo conjunto de problemas e
O Executivo possui autoridade de formular e empregam uma variedade de expertise. Sua pes-
implementar as políticas públicas. Possui vários quisa tende a ser direcionada para propor soluções
recursos que fortalecem sua posição: controle práticas para problemas públicos ou para achar
sobre informação, controle sobre recursos fiscais, evidências para apoiar as posições ideológicas que
a burocracia que provê conselhos e desenvolve defendem. A partir de análises e criticas, podem ter
suas preferências. um impacto notável sobre as políticas públicas.
O Legislativo, por sua vez, envolve fóruns impor- • Mídia – A mídia em geral tem o potencial de
tantes nos quais problemas sociais são enfatizados influenciar fortemente as preferências do governo
e políticas para respondê-los são demandadas. No e da sociedade na definição e na solução de pro-
entanto, o potencial das legislaturas geralmente blemas. Principalmente os jornais e a televisão
não se realiza na prática. Ocorre, muitas vezes, são importantes agentes formadores de opinião,
a dominância do Executivo sobre o Legislativo, apresentando uma grande capacidade de mobilizar
e a natureza do problema também afeta o envol- a ação de outros atores e influenciar as políticas
vimento da Legislatura no processo político. públicas.
Em decorrência, as legislaturas geralmente desem- O seu papel na definição da agenda é significativo:
penham pequeno papel no processo de políticas o retrato que faz de problemas públicos e soluções
públicas. Enquanto alguns legisladores individu- propostas geralmente condiciona como eles são
almente podem, de acordo com suas experiências compreendidos pelo público e pelo governo. Não
ou interesse especial no problema, ser incluídos se deve, porém, exagerar seu papel no processo de
no subsistema, legislaturas como um todo não são políticas públicas, que é geralmente esporádico e
atores muito significantes na formulação e na im- freqüentemente marginal. Além disso, outros atores
plementação de políticas públicas, principalmente têm recursos para contrabalançar sua influência.
POLÍTICAS PÚBLICAS

pela dificuldade que possuem em se posicionar de


forma uniforme em relação aos diversos temas que ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
se apresentam.
• Funcionários permanentes – a burocracia consiste Existem diversas formas de abordar uma política
em um grande número de especialistas que têm pública, dependendo do ponto de vista do analista. Se-
tempo e expertise para lidar com questões políticas e gundo Saravia (2006), ao analisar uma política, pode-se
cuja principal função é ajudar o Executivo a desem- enfocar:
8
• estudos de conteúdos políticos, em que o analista cráticos operam como se estivessem em uma campanha
procura descrever e explicar a gênese e o desen- eleitoral perpétua, em que os tipos de decisões tomadas
volvimento de políticas específicas; variam de acordo com o timing (ajustamento) do ciclo
• estudos do processo das políticas, em que se dedica eleitoral, implementando as decisões e políticas populares
atenção às etapas pelas quais passa um assunto e se antes das eleições e as impopulares depois.
procura verificar a influência de diferentes setores Haveria, então, a necessidade de desenvolver institui-
no desenvolvimento desse assunto; ções para mudar o tipo de maximização de utilidade que
• estudos de produto de uma política, que tratam de serve aos interesses de indivíduos particulares, enquanto
explicar por que os níveis de despesa ou o forne- afetam a sociedade como um todo de maneira adversa.
cimento de serviços variam entre as áreas; Ou seja, seria necessária a construção de uma ordem que
• estudos de avaliação, que se localizam entre a canalizasse o comportamento auto-orientado dos parti-
análise de política e as análises para a política; cipantes em direção ao bem comum. A criação de regras
• informação para a elaboração de políticas, em que seria necessária, pois o mecanismo de maximização de
os dados são organizados para ajudar os tomadores utilidade que promove o bem geral nos mercados assume
de decisão a adotar decisões; uma forma prejudicial na arena política.
• análise de processo, em que se procura melhorar a A abordagem da Escolha Pública é uma simplifi-
natureza dos sistemas de elaboração de políticas; cação do que ocorre na realidade, tendo em vista que
• análise de políticas, em que o analista pressiona, no várias atividades políticas são implementadas por razões
processo de política, em favor de idéias ou opções simbólicas, ritualistas, e não pela maximização de utili-
específicas. dades em si. Além disso, a teoria tem pobre capacidade
Em geral, a análise de políticas públicas requer a de predição e, apesar de defender que é positiva e sem
inclusão de atores e instituições, dependendo da unidade valor, é explicitamente normativa e busca promover uma
de análise utilizada. Howlett e Ramesh (1996), ao tratar revisão particular do liberalismo ortodoxo.
da unidade fundamental de análise nas políticas públicas,
destacam o indivíduo, o grupo ou as instituições. Além Teoria de Classe (marxismo)
disso, os autores acrescentam dois métodos de construção Na teoria de classe, a unidade fundamental são as
analítica: o método dedutivo e o método indutivo. entidades coletivas. A associação em classe é usualmente
A partir desses elementos, os autores constroem a determinada pela presença ou ausência de certas carac-
seguinte matriz: terísticas, geralmente relacionadas à economia. A mais
conhecida teoria de classe é a marxista, que interpreta
Matriz de análise teórica das políticas públicas as políticas públicas nas sociedades capitalistas como
refletindo os interesses da classe dominante. Há, para os
Unidade fun- Métodos de construção da teoria marxistas, a dominação dos capitalistas sobre o Estado e
damental de sobre o que ele faz.
análise Dedutiva Indutiva A análise da política pública, neste caso, tende a de-
Economia do monstrar como uma política pública particular serve aos
Indivíduo Escolha pública interesses do capital, que seria uma prova de que ele usa
Bem-Estar
Pluralismo / Corpo- o Estado para promover seus interesses.
Grupo Marxismo Porém, ainda que a política pública sirva aos interesses
rativismo
capitalistas, não se pode concluir que ela foi implementada
Neo-institucio-
Instituições Estatismo para eles. Além disso, essa abordagem não pode explicar
nalismo
as políticas em oposição ao capitalismo. Somam-se a
Teorias Dedutivas isso as dificuldades em determinar o que é classe e em
conceituar “superestrutura” e “base” econômica.
Em geral, as teorias dedutivas partem de leis gerais
para situações específicas, saem de proposições gerais Neo-institucionalismo
acerca do funcionamento da sociedade para então analisar Essa abordagem reconhece os limites das teorias
as políticas públicas. baseadas no indivíduo e nos grupos em lidar com os
fenômenos políticos. Busca, então, reconhecer o papel
Escolha Pública (Public choice) crucial das instituições na vida política e argumentar que
Essa perspectiva aplica os princípios da economia ne- elas existem na sociedade para resolver problemas de
oclássica ao comportamento político. Desse modo, atores informação e troca.
políticos, como os econômicos, agem racionalmente para Sob essa perspectiva, a unidade básica de análise
maximizar suas utilidades e o único ator político relevante está relacionada à transação entre indivíduos no âmbito
é o indivíduo. Buchanan é um de seus principais expoentes das instituições. Elas são os produtos do delineamento
POLÍTICAS PÚBLICAS

e defende que toda a escolha pública e a teoria econômica humano, o resultado de ações propositadas por indivíduos
da política podem ser resumidas pela pressuposto de que instrumentalmente orientados. As instituições também
pessoas devem ser tratadas como maximizadores racionais modelam as preferências individuais e a extensão na qual
de suas utilidade (HOWLETT; RAMESH, 1996). elas podem se realizar. Sob essa perspectiva, os fenômenos
Acredita-se que os atores individuais são guiados pelo políticos, dentre eles, as políticas públicas, resultariam da
auto-interesse e buscam sempre o curso de ação que mais interação entre as instituições, que definiriam as regras do
se adapta às suas vantagens. Assim, os governos demo- jogo, e o comportamento dos indivíduos nessa arena.
9
O argumento não é de que instituições causam ações, Deve-se citar também como problemas dessa abor-
mas de que elas afetam as ações, modelando a interpreta- dagem:
ção de problemas e possíveis soluções e constrangendo a • a falha em reconhecer que os Estados quase nunca
escolha das soluções e a forma e extensão na qual podem fazem políticas de forma essencialmente técnica
ser implementadas. (sabe-se que a escolha geralmente é política de-
No entanto, esse arcabouço teórico apresenta alguns limitada por instituição política, feita por atores
problemas, como a inabilidade em prover explicações políticos, geralmente em respostas a pressões
coerentes e plausíveis da origem das instituições sem políticas);
recorrer ao funcionalismo. Esse modelo é apresentado • por negligenciar variáveis políticas, essa perspec-
de forma mais aprofundada no item “As perspectivas tiva é comumente descrita como um mito, uma
do neo-institucionalismo na análise das estratégias e dos ilusão teórica, que promove uma visão falsa e
resultados das políticas públicas”. ingênua do processo de políticas públicas.

Teorias Indutivas Pluralismo e Corporativismo


O pluralismo defende a primazia dos grupos de in-
Ao contrário do dedutivismo, as teorías indutivas teresse no processo político. Segundo Howlett e Ramesh
dependem da acumulação de múltiplos estudos empíricos, (1996), há diferentes interesses na sociedade que se ma-
dos quais se podem extrair proposições generalizáveis. nifestam em diferentes grupos (latentes ou potenciais e
Assim, a partir da análise de casos específicos de políticas manifestos ou organizados).
públicas, os analistas chegam a conclusões gerais sobre o A política seria o processo no qual vários interesses
funcionamento da sociedade em questão. concorrentes se reconciliam. As políticas públicas, por sua
vez, são os resultados da competição e colaboração entre
Economia do Bem-Estar grupos trabalhando para implementar o interesse coletivo
Conforme Howlett e Ramesh (1996), trata-se da de seus membros.
abordagem mais amplamente usada no estudo de políticas Os seus principais problemas são:
públicas. Baseia-se na noção de que os indivíduos, por • não desenvolve a noção de que grupos possuem
meio dos mecanismos de mercado, são a base para as capacidade variada de afetar tomada de decisões;
decisões sociais. Reconhece que mercados nem sempre • o papel do governo na forma de políticas públicas
distribuem os recursos eficientemente, de forma que os não é claro;
comportamentos individuais maximizadores de utilidade • a noção de governo respondendo a pressão de
não se agregarão de forma a maximizar o bem-estar de grupos é concebida erroneamente, pois assume
todos. a unidade de propósito de ação como parte do
Falhas de mercado ocorrerão e as instituições poderão governo.
atuar para suplementar ou substituir o mercado. São consi- O neopluralismo, porém, modifica a idéia de igualda-
deradas falhas de mercado: monopólio natural; informação de aproximada entre grupos e reconhece explicitamente
imperfeita; externalidades; dentre outras. que alguns são mais poderosos. No entanto, ainda tem
Para essa vertente, a teoria de formulação de políticas problemas: concentra excessivamente o papel de grupos
públicas baseia-se no conceito de falhas de mercado. As- de interesse e negligencia outros fatores importantes do
sim, o governo teria a responsabilidade de corrigir essas processo de políticas públicas; e não aborda a existência
falhas, pois resultados desejados socialmente não resultam de interesses e objetivos no Estado que podem ter efeito
da tomada de decisões individual sem coordenação. sobre as políticas públicas.
Essa abordagem traz alguns conceitos relevantes para Já o corporativismo baseia-se na idéia de um siste-
a análise de políticas públicas: ma de intermediação de interesses em que as unidades
• Otimalidade de Pareto: Requer que uma ação seja constituintes são organizadas em um número limitado de
implementada apenas se oferecer a possibilidade categorias singulares, compulsórias, não competitivas,
de fazer ao menos uma pessoa ficar em melhor ordenadas hierarquicamente e funcionalmente diferen-
situação sem piorar a situação de ninguém mais. ciadas. São reconhecidas ou licenciadas (se não criadas)
É impossível de ser aplicada na arena de políticas pelo Estado e garantidas por monopólio deliberado de
públicas, porque todas as ações do governo fazem representação dentro das categorias respectivas em troca
com que alguns fiquem melhor às expensas de de certos controles sobre a seleção de lideres e articulação
outros. de demandas e apoios.
• Critério Kaldor-Hicks: Pressupõe que apenas Diferentemente do pluralismo, os grupos não se for-
alternativas políticas que maximizem benefícios mam livremente, não são voluntários nem competitivos.
líquidos sobre os custos sejam escolhidas. Sob esse Nem são autônomos: dependem do Estado para reco-
critério, uma política pública pode ser escolhida nhecimento e apoio em troca de seu papel nas políticas
mesmo que alguma perda ocorra, desde que os ga- públicas.
nhos totais sejam maiores que a soma de perdas. Assim, a política pública é modelada pela interação
POLÍTICAS PÚBLICAS

• “Falhas de governo”: Estas envolvem desajustes entre Estado e os grupos de interesse ou grupos reco-
organizacionais e custos crescentes na tomada de nhecidos pelo Estado. Em decorrência, a interação entre
decisões e implementação de políticas públicas. grupos é institucionalizada dentro do Estado, que não é
Por isso, os governos não devem apenas examinar monolítico, mas uma organização com fissuras internas
as falhas de mercado cuidadosamente, mas avaliar que afetam suas ações.
também sua própria capacidade de corrigi-las antes Os principais problemas do corporativismo na análise
de tentar fazê-lo. de políticas públicas são:
10
• descreve categorias de um tipo particular de arranjo Modelo incremental (Lindblom)
político;
• desenvolve pouco a noção de processo de política Neste modelo, as decisões de políticas públicas são
pública, vistas como um processo político caracterizado pela barga-
• não contém uma noção clara de grupo de interesse; nha e pelo compromisso entre decisores auto-orientados.
• aborda vagamente a significância de grupo na As decisões limitam-se a decisões sucessivas anteriores,
política; sendo, portanto, apenas marginalmente diferentes das
• não tem clara concepção da natureza do Estado, de anteriores. Dessa forma, ocorreriam apenas mudanças
seus interesses e de porque ele reconhece alguns incrementais no status quo.
grupos e outros não. O modelo incremental traz duas constatações ao
processo de políticas públicas: 1) por mais adequada que
Estatismo seja a fundamentação técnica de uma alternativa, a decisão
Segundo essa perspectiva, os Estados criam, organi- envolve relações de poder; 2) os governtos democráticos
zam e regulam as sociedades. Eles dominam outros órgãos não possuem efetivamente liberdade total na alocação de
dentro de um território particular, moldando sua cultura recursos públicos.
e sua economia. A principal crítica a este modelo se refere à sua pou-
O Estado é visto, portanto, como um ator autônomo ca compatibilidade com as necessidades de mudanças
com a capacidade de implementar seus objetivos, não necessárias à gestão de programas e projetos, podendo
necessariamente respondendo às pressões impostas por gerar prejuízos à eficiência do Estado e legitimar um viés
grupos ou classes sociais dominantes. conservador no processo decisório.
A autonomia e a capacidade do Estado se baseiam
na sua equipe de funcionários com experiências espe- Modelo da Análise Misturada (mixed-scanning
cializadas e no fato de constituir-se em uma organização model – Etzioni)
soberana com recursos financeiros, pessoais e coercitivos
sem paralelo. Em razão disso, o Estado é mais que uma Combina elementos dos dois modelos anteriores.
mera arena para os grupos sociais. Prevê dois tipos de decisões:
Essa abordagem, no entanto, não leva em conta as • incrementais (ordinárias, do dia-a-dia);
liberdades sociais. Além disso, é impossível para um Es- • fundamentais (estruturantes, estratégicas). Assim,
tado democrático ser autônomo da sociedade com direito tomam-se as decisões estruturantes e estratégicas
de voto nos dias atuais. da forma mais racional possível, e as decisões mais
detalhadas tendem a ser elaboradas e implementa-
MODELOS DE TOMADA DE DECISÃO EM POLÍTICA PÚ- das de forma incremental.
BLICA: INCREMENTAL, RACIONAL E SUAS VARIANTES Sugere que a tomada de decisões ótima consistiria
numa busca apressada, superficial (scanning) de alterma-
Conforme Rua (1998), existem diferentes formas de tivas, seguida pela investigação detalhada da alternativa
“pensar” uma solução ou uma política pública em resposta mais promissora. Requer que os tomadores de decisão se
a um problema público. Três modelos principais de tomada engajem em uma ampla revisão do campo de decisão, sem
de decisão em política pública são considerados: se dedicar, no entanto, à análise detalhada de cada alterna-
• modelo racional-compreensivo; tiva, que ocorre no modelo racional-compreensivo.
• modelo incremental; Permitiria mais inovação do que o modelo incremental
• modelo mixed-scanning (análise misturada). sem impor as demandas irrealistas do modelo racional.

Modelo Racional-Compreensivo (H. Simon) Modelo irracional (ou lata de lixo – garbage
can model)
Neste modelo, a tomada de decisão segue as seguintes
atividades seqüenciais: Vários modelos partem do pressuposto da irracio-
• Um objetivo para solucionar um problema é esta- nalidade na tomada de decisões de políticas públicas.
belecido. O modelo da lata de lixo, um dos mais conhecidos dessa
• Todas as estratégias alternativas para alcançar o perspectiva, defende a forma inerentemente irracional do
objetivo são exploradas e listadas. processo de tomada de decisão. Nega até a racionalidade
• Todas as seqüências significantes de cada alterna- limitada permitida pelo incrementalismo. Os demais
tiva estratégica são previstas e as probabilidades modelos pressupõem um nível de racionalidade, de com-
dessas conseqüências ocorrerem são estimadas. preensão de problemas e previsibilidade de relações entre
• Por fim, a estratégia que parece resolver o problema atores que não são obtidos na realidade. Para os defenso-
ou que o resolve com menor custo é selecionada. res dessa abordagem, a tomada de decisões é altamente
Esse modelo parte de um pressuposto ingênuo de que ambígua e imprevisível, pouco relacionada com a busca
POLÍTICAS PÚBLICAS

a informação é perfeita e não considera limites cognitivos de meios para alcançar fins.
em se analisar todas as opções de políticas. Tampouco As oportunidades de decisões são vistas como uma
considera adequadamente o peso das relações de poder lata de lixo em que vários problemas e soluções são jo-
na tomada de decisões. Os decisores, muitas vezes, são gados pelos participantes. A mistura do lixo numa única
obrigados a selecionar políticas públicas em bases po- lata depende em parte dos rótulos vinculados às latas
líticas, ideológicas ou aleatoriamente, sem referência a alternativas, mas também depende de qual lixo esteja
padrões de eficiência. sendo produzido no momento.
11
Sob essa perspectiva, a construção de conhecimento é sempre tenha que compensar a parte prejudicada em um
coletiva e a compreensão dos problemas e das soluções é grau em que seja custoso violar um contrato. Alcançar uma
limitada. O processo de políticas públicas se dá em um con- imposição de terceiros para contratos é o maior dilema
texto de incerteza e em um sistema de tentativa e erro. para as sociedades.
Esse modelo tira a aura de ciência e racionalidade As instituições distinguem-se das organizações.
atribuída à tomada de decisões. Defende que os objetivos O propósito das regras (instituições) é definir a forma na
são freqüentemente desconhecidos para os decisores, qual o jogo será jogado; enquanto que as organizações in-
assim como as relações causais. Os decisores definem as cluem corpos políticos, econômicos ou sociais, formados
metas e escolhem meios em um processo necessariamente por grupos de pessoas com o mesmo objetivo. Ou seja, se
contingente e imprevisível. as instituições são as regras do jogo, as organizações são
aqueles que “jogam o jogo”.
AS PERSPECTIVAS DO NEO-INSTITUCIONALISMO NA Essa abordagem, no entanto, possui várias vertentes,
ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS E DOS RESULTADOS DAS não sendo algo uniforme. Uma das vertentes compartilha
POLÍTICAS PÚBLICAS elementos com a abordagem da escolha racional. Consi-
dera-se, portanto, que os indivíduos são racionais, isto é,
Definição de instituições exibem consistência em suas preferências, sendo elas com-
pletas e transitivas. Sabe-se, contudo, que a agregação de
Em toda política pública, conforme Saravia (2006), preferências individuais consistentes não produz escolhas
as instituições desempenham um papel decisivo. Delas coletivas racionais. Ou seja, a racionalidade individual
emanam ou elas condicionam as principais decisões. De dificilmente conduzirá à racionalidade do grupo, o que
acordo com North (1990), as instituições são as regras resultará em equilíbrios socialmente subótimos.
do jogo numa sociedade ou, mais formalmente, são os As instituições são uma solução para conduzir a
constrangimentos que modelam as interações humanas. resultados socialmente melhores, resolvendo o problema
Em conseqüência, elas estruturam os incentivos nas trocas da credibilidade entre indivíduos e conduzindo-os ao
humanas, sejam elas políticas, sociais ou econômicas. comportamento cooperativo.
As instituições reduzem a incerteza provendo a
estrutura da vida cotidiana. São guias para as interações A mudança institucional e a dependência da
humanas, definindo e limitando o conjunto de escolhas trajetória
dos indivíduos. As instituições podem ser formais (regras
escritas) e informais (convenções e códigos de compor- Segundo North (1990), as instituições tendem a mudar
tamento). mais de forma incremental que de maneira descontínua.
A compreensão do comportamento dos atores é necessária
Quadro 1 – Exemplos de instituições formais e para a explicação da direção da mudança institucional.
informais O comportamento humano aparenta ser mais complexo do
que o defendido nos modelos de utilidade individual.
Instituições formais Instituições informais As instituições alteram os preços que os indivíduos
Regras de comércio Vínculos históricos pagam e conseqüentemente conduzem a idéias, ideologias
internacional entre países e dogmas, ocupando freqüentemente um papel maior nas
escolhas que os indivíduos fazem. North cita o argumento
Posturas e atitudes em
Direitos de propriedade de Ronald Heiner de que há um espaço entre a competên-
relação às mulheres cia do indivíduo em decifrar problemas e a sua dificuldade
Relações empresá- em selecionar suas alternativas preferidas (CD gap). Essa
Leis trabalhistas
rio-cliente seria a maior chave para a forma na qual os indivíduos
se comportam. Atores podem dispor de informações tão
São as regras formais e informais, somadas às ca- pobres que não identificam as melhores alternativas. Por-
racterísticas de imposição (enforcement) dessas regras tanto, o neo-institucionalismo leva em conta também que
que definem o conjunto de escolhas e os resultados do os indivíduos agem baseados em informações incompletas
processo. A extensão da diversidade de interesses políticos e com modelos subjetivos errôneos.
e econômicos, dada a força de barganha relativa, influen- Na realidade, há assimetrias informacionais entre os
ciará a estrutura de regras. Para a maioria das questões, jogadores, havendo assim implicações para a teoria eco-
diz o autor, não há apenas um equilíbrio possível, mas nômica. Não apenas uma parte da negociação sabe mais
múltiplos equilíbrios. sobre um atributo que a outra parte como ela pode agir
A imposição de regras é tipicamente imperfeita por oportunisticamente, ocultando essa informação (relação
duas razões: devido aos custos de mensuração já abor- agente–principal).
dados e ao fato de que essa imposição é implementada Além disso, a ocorrência da mudança institucional
por agentes cujas funções de utilidade influenciam os depende dos custos de transação envolvidos para alterar
POLÍTICAS PÚBLICAS

resultados. Para North, a incapacidade de sociedades em um “estado de coisas”. Custos de transação consistem em
desenvolver imposição de contratos efetiva e de baixo custos de medir os atributos do que está sendo trocado e os
custo é a fonte mais importante da estagnação e subde- custos de proteger direitos e de fazer cumprir acordos.
senvolvimento. Em decorrência, apenas quando for do interesse
A imposição de regras por um terceiro requer uma daqueles com maior poder de barganha alterar as regras
parte neutra com a habilidade de medir atributos de um formais, haverá maiores mudanças na estrutura institucio-
contrato e impor acordos, de forma que a parte ofensora nal formal. No entanto, mudanças marginais incrementais
12
ocorrem nas complexas instituições formais e informais. • sua posição permanente na estrutura de formulação
Essas pequenas mudanças alteram a estrutura institucional e implementação das políticas, que se constitui em
ao longo do tempo. um dos recursos mais eficazes.
Assim, a mudança institucional tipicamente consiste É no processo de execução dos programas governa-
de ajustamentos marginais no complexo de regras, normas mentais que resulta mais clara a influência da burocracia
e imposição que constituem a estrutura institucional. Ou sobre o conteúdo e o alcance desses programas. Na realida-
seja, mudanças institucionais são incrementais. de, os objetivos das políticas públicas tendem a ser incon-
O autor refere-se, então, a uma teoria evolutiva das sistentes e difusos; os recursos são sempre insuficientes; o
instituições segundo a qual ao longo do tempo institui- controle é muito superficial e formalista; e as circunstâncias
ções ineficientes são eliminadas, instituições eficientes de trabalho na Administração Pública tendem a ser desenco-
sobrevivem, havendo assim uma evolução gradual de rajadoras. Em resposta a essa indeterminação, os burocratas
formas de organização econômica, política e social mais tendem a apresentar três tipos de respostas:
eficientes. • geram pautas de atuação que tendem a limitar a
Portanto, se o processo pelo qual se chegou às institui- demanda, a maximizar a utilização dos recursos e
ções atuais é relevante e constrange escolhas futuras, não a obter a resposta positiva do público-alvo, para
se pode compreender as escolhas de hoje sem se traçar a reforçar a sua própria existência.
evolução incremental das instituições. • tendem a modificar o seu trabalho, de forma a
A dependência da trajetória (path dependence) des- ajustar os objetivos do programa aos recursos dis-
creve o fato de que uma decisão ou política pública, uma poníveis, reduzindo os objetivos ou simplesmente
vez implementada, tende a criar uma série de interesses e modelando-os às condições existentes.
processos ao seu redor, que tornam as mudanças custosas • modificam a sua própria definição do que deveria
e, em algumas situações, quase impossíveis. Dessa manei- ser o serviço prestado, para assim acomodar a dis-
ra, uma vez que uma política é colocada em uma direção, tância entre objetivos e resultados e encontrar uma
é difícil mudar sua trajetória, em razão da rede de institui- resposta positiva do seu trabalho entre a clientela
ções e interesses criada ao seu redor. Não se trata, porém, atendida.
da inevitabilidade na qual o passado prediz o futuro. Deve-se ter em conta também que a burocracia tem
a capacidade de competir pelo preenchimento de cargos
O PAPEL DA BUROCRACIA NO PROCESSO DE FORMU-
governamentais e pela alocação de recursos orçamentá-
LAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
rios. A competição interburocrática pode contribuir para
o alargamento da participação política, mas também pode
A burocracia tem desempenhado um papel central
ser prejudicial à formulação de políticas governamentais
no encaminhamento de decisões cruciais, que afetam di-
coerentes. Esse tipo de competição pode levar à fragmen-
retamente a vida dos cidadãos. Ainda assim, é incipiente
o conhecimento relativo a este ator, especialmente nas tação excessiva do processo decisório, gerando medidas
democracias não consolidadas (RUA; AGUIAR, 2006). contraditórias e impasses intragovernamentais (RUA;
A burocracia pode ser definida como um conjunto de AGUIAR, 2006).
pessoas organizadas de forma hierárquica, que realizam
um trabalho de natureza eminentemente rotineira, repe- Insulamento Burocrático
titiva, com pautas de trabalho fixas e normatizadas. No
entanto, conforme Subirats (2006), não é conveniente Trata-se de um mecanismo de intermediação de
definir a burocracia como mera executora indiferente das interesses que descreve a relação entre a burocracia e a
decisões políticas. sociedade. Supõe uma espécie de isolamento do núcleo
Torna-se claro que a burocracia não é composta de técnico do Estado contra a interferência do público. Des-
agentes neutros, mas dotados de interesses próprios, que se modo, a alta burocracia estatal da sociedade permane-
tentam maximizar e são capazes de mobilizar recursos cia isolada, conhecida como tecnocracia, implementando
políticos. Além disso, são capazes de desenvolver con- políticas e tomando decisões sem a participação do povo
cepções próprias sobre as políticas públicas e o seu papel ou sociedade e de seus representantes. Significa uma
no jogo político, independentemente de considerações redução do escopo da arena em que os interesses e as
técnicas, e de competir com os políticos visando a decisões demandas populares podem desempenhar um papel na
favoráveis às suas propostas e até mesmo pelo processo tomada de decisões. A participação é vista como maléfica
político (RUA; AGUIAR, 2006). por atrasar ou emperrar a discussão sobre questões de
Para compreender o papel da burocracia, deve-se interesse público ou porque os diversos atores sociais
ter em conta seus recursos específicos, que lhe permite não possuem o conhecimento necessário para participar
exercer um protagonismo maior do que o previsto nas do processo.
análises tradicionais (Subirats, 2006). Os recursos mais Durante todo o regime militar no Brasil, buscou-se
importantes da burocracia são: isolar a Administração Pública da influência da sociedade,
• o controle sobre a informação e capacidade profis- de modo que as decisões eram tomadas sem que houvesse
POLÍTICAS PÚBLICAS

sional: é a burocracia que melhor conhece o que qualquer participação e as políticas públicas eram execu-
está ocorrendo nos programas públicos, conhece o tadas sem mecanismos de controle social.
grau de aceitação que geram e as principais falhas Sob esse paradigma, chamado também de paradigma
em seu desenho que devem ser modificadas. tecnocrático, independentemente do regime político em
• a rede de contatos formais e informais que lhe dá vigor, a eficiência governamental deveria ser privilegiada
uma grande acessibilidade e uma notável influência por meio de concentração, centralização e fechamento do
na estrutura administrativa. processo decisório.
13
Anéis burocráticos nada em comum. A estrutura dessas relações de assistências
Segundo Cardoso (1974), anéis burocráticos são mútua, envolvendo favorecimento ou benefícios em troca
círculos de informação e pressão (portanto, de poder) de votos ou de apoio eleitoral, conduz tipicamente ao Con-
que se constituem como mecanismo para permitir a gresso Nacional, onde se pode perceber uma estruturação
articulação entre setores do Estado (inclusive das forças relativamente estável, na qual todos se apóiam mutuamente.
armadas) e setores das classes sociais. Permitem, portanto, Outro exemplo são iniciativas caracterizadas pela patro-
a articulação entre setores do Estado e de determinados nagem e clientelismo (pork barrel), em que benefícios
grupos da sociedade para garantir o acesso privilegiado a individuais são trocados por apoio político.
certas decisões públicas. As questões distributivas individualizam e restringem
o conflito, oferecendo bases para coalizões altamente es-
TIPOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS: DISTRIBUTIVAS, táveis. As arenas distributivas são aquelas em que domina
REGULATÓRIAS E REDISTRIBUTIVAS um padrão pluralista, no qual, em princípio, todos os atores
são equivalentes, ou seja, todos têm chances de obter a
A classificação das políticas públicas em diferentes decisão que lhes seja mais favorável.
tipos segue a concepção de que diferentes áreas de ati-
vidade governamental tendem geralmente a desenvolver Políticas Regulatórias
estruturas políticas características.
Parte-se da perspectiva de que a política segue as A regulação é o processo ou atividade em que o
políticas públicas (politics follows policies). Ou seja, governo requer ou prescreve certas atividades ou com-
as políticas públicas, os interesses nelas envolvidos mol- portamentos a indivíduos ou organizações, privadas ou
dam e definem as decisões de política e as características públicas, e faz isso por meio de processo administrativo
da arena na qual ocorrerá o jogo político. contínuo, geralmente por intermédio de agências regu-
Os interesses seriam definidos a partir das especia- latórias especialmente desenhadas. As regulações são
lidades intrínsecas das políticas públicas, conforme a prescrições do governo que precisam ser cumpridas,
maneira na qual os custos e benefícios da política pública envolvendo penalidades caso não sejam.
incidem sobre os atores (ou como a incidência de custos Essas políticas trabalham com ordens e proibições,
é percebida por eles). decretos e portarias. Os efeitos referentes aos custos e
Assim, o padrão de interação política entre atores benefícios não são determináveis de antemão; dependem
é, ele próprio, definido pela natureza da política pública da configuração concreta das políticas. Os impactos des-
em questão. sas políticas abrangem geralmente setores da economia,
sendo ao longo de linhas setoriais que se vão acumulando
Políticas Distributivas as decisões desse tipo.
As políticas regulatórias também têm impactos es-
As políticas distributivas são políticas de alocação pecíficos e individualizados. Porém, não são passíveis da
de recursos. Caracterizam-se pela facilidade com que desagregação quase infinita, típica das políticas distributi-
podem ser desagregadas e seus recursos dispensados de vas. Distinguem-se das distributivas pelo fato de, a curto
forma atomizada a unidades isoladas, sem obediência a prazo, envolverem uma escolha direta entre quem será
qualquer critério mais geral e universalista. Em geral, favorecido e quem será desfavorecido.
as políticas distributivas beneficiam um grande número de Embora as leis ou regulamentos sejam estabelecidos
destinatários, todavia em escala relativamente pequena. em termos gerais, o impacto das decisões regulatórias
São políticas individualistas, em que há a multiplicidade eleva diretamente os custos, reduzindo ou expandindo
de interesses e de possibilidades de acesso, o que reduz as alternativas de ação dos agentes individuais privados.
as chances de conflito. Os custos e benefícios podem ser distribuídos de forma
Envolvem decisões tomadas pelo governo que des- igual e equilibrada entre os grupos e setores da sociedade,
consideram a questão dos recursos limitados. Além disso, do mesmo modo como as políticas também podem aten-
são caracterizadas por um baixo grau de conflito dos der a interesses particulares e restritos. Os processos de
processos políticos, visto que essas políticas só parecem conflito, de consenso e de coalizão tendem a se modificar
distribuir vantagens, e não acarretar custos (diretamente conforme a configuração específica das políticas.
percebíveis) para outros grupos. A arena regulatória parece ser composta de uma
Nas políticas distributivas, é marcante a presença do multiplicidade de grupos organizados em torno de re-
consenso e da indiferença amigável. O relacionamento lações caracterizadas por interesses que se tangenciam
dos atores assemelha-se ao de “não-interferência mútua”, ou de “atitudes compartilhadas”. É possível aceitar a
segundo o qual é adequado que cada um procure benefícios afirmação pluralista mais radical de que uma política
ou favorecimento para si próprio, mas é inadequado e in- governamental tende a ser um resíduo da interação de
justo opor-se aos favorecimentos ou benefícios buscados grupos em conflitos.
por outros. Nesse caso, a base para coalizões é inteiramente dife-
POLÍTICAS PÚBLICAS

As políticas distributivas envolvem atividades gover- rente da distributiva. A estrutura típica de poder na política
namentais nas quais os favorecidos e os não favorecidos, regulatória é muito menos estável que a da distributiva.
os beneficiados e os não beneficiados nunca precisariam Como as coalizões se formam em torno do interesses com-
entrar em confronto direto. Os desfavorecidos, nesses partilhados, elas se alteram à medida que esses interesses
casos, sequer podem ser identificados como grupo. mudam ou que surjam conflitos entre eles.
Uma coalização fundada nessas bases não se molda no Trata-se de um padrão que combina pluralismo
conflito. Ao contrário, compõe-se de membros que não têm com elitismo, em que os resultados tendem a já estarem
14
definidos previamente pelos interesses das elites, que geralmente presentes. Portanto, a separação das políticas
controlam os recursos organizacionais e regulamentam públicas em fases é recurso mais importante para fins de
a sociedade. análise do que um fato real do processo político.

Políticas redistributivas A formação da agenda

Assemelham-se às políticas regulares, no sentido A palavra agenda tem muitos usos. Para Kingdon
de que envolvem relações entre amplas categorias de (2006), ela é a lista de temas ou problemas que são alvo
indivíduos e em que as decisões individuais precisam ser em dado momento de uma séria atenção tanto por parte
inter-relacionadas. Ou seja, não podem ser atomizadas das autoridades governamentais como de pessoas fora do
ou casuísticas como as distributivas. São diferentes na governo, mas estreitamente associadas às autoridades.
natureza do impacto, pois atingem categorias do tipo das A construção da agenda envolve um processo de es-
classes sociais ou algo próximo: ricos e pobres, grandes pecificação de alternativas no qual se restringe o grande
e pequenos. conjunto de alternativas possíveis a um grupo menor a
Constituem fatores destinados a afetar relações de partir do qual as escolhas são realmente efetuadas. A idéia
poder. Sua estrutura política parece estar muito estabiliza- de “inclusão na agenda”, em geral, refere-se ao estudo e à
da, virtualmente institucionalizada, devido à estabilidade explicitação do conjunto de processos que conduzem os
ou ao equilíbrio observável nas relações entre os grandes fatos sociais a adquirir status de “problema público”.
segmentos ou classes no conjunto da sociedade, ou mes- Ao falar de agenda, deve-se diferenciar a agenda sis-
mo dos impasses existentes. Tal estabilidade deriva de têmica ou pública da agenda de governo ou institucional.
interesses compartilhados no interior de cada um desses A agenda sistêmica ou pública é a agenda da sociedade
grandes conjuntos sociais ao contrário do que ocorre na para discussão de problemas públicos. Envolve todas
arena distributiva. as questões percebidas pela comunidade política como
Na redistribuição, nunca haverá mais de dois lados, merecedoras de atenção pública.
e esses lados serão sempre claros, estáveis, consistentes. Já a agenda governamental ou institucional é com-
É possível a negociação, mas apenas com a finalidade de posta pelo que é visto como problema pelo governo,
reforçar ou suavizar o impacto da redistribuição. sobre o qual se precisa fazer algo. Apenas uma pequena
Por isso, as políticas redistributivas exigem um pro- proporção de problemas da agenda sistêmica compõe a
cesso complexo de balanceamento de interesses conflitan- agenda institucional.
tes numa escala ampla. O padrão verificado costuma ser Desse modo, a agenda pública é uma agenda para
de soma-zero, ou seja, para que um ator ganhe, o outro discussão, enquanto a agenda institucional é uma agenda
tem que perder. para ação, indicando que o processo político para lidar
São políticas que atingem um maior número de pes- com o problema começou.
soas e impõem perdas concretas e a curto prazo para certos A maneira na qual os problemas são reconhecidos,
grupos sociais e ganhos incertos e futuros para outros. se são reconhecidos, determina a relevância com que eles
Assim, a característica principal deste tipo de política são serão tratados. Uma enorme variedade de fatores políticos,
o conflito e a polarização que ela é capaz de gerar. Isso é sociais e ideológicos determinam quais problemas ganham
absolutamente natural, uma vez que seu objetivo são o des- acesso à agenda de políticas públicas.
vio e o deslocamento conscientes de recursos financeiros
direitos ou outros valores entre camadas sociais e grupos Padrões de formação da agenda
da sociedade. São exemplos de políticas redistributivas: • Modelo de iniciação externa: as questões surgem
tributos, políticas sociais universais, previdência etc. de grupos não-governamentais e daí se expandem
até a agenda do governo.
POLÍTICAS PÚBLICAS E SUAS FASES: FORMAÇÃO DA • Modelo de mobilização: as questões são colocadas
AGENDA; FORMULAÇÃO; IMPLEMENTAÇÃO; MONI- na agenda formal sem passar pelo reconhecimento
TORAMENTO E AVALIAÇÃO público. Os líderes políticos iniciam a política
pública, mas precisam de apoio do povo para sua
Conforme Kingdon (2006), a política pública envolve implementação e tentam passar o tema da agenda
um conjunto de processos, incluindo pelo menos: 1) o formal para a agenda pública.
estabelecimento de uma agenda; 2) a especificação das • Modelo de iniciação interna: grupos influentes
alternativas a partir das quais as escolhas são feitas; 3) com acesso especial aos decisores iniciam uma
uma escolha final entre estas alternativas específicas, por política pública e não necessariamente querem que
meio de votação no Legislativo ou decisão presidencial; ela seja expandida e contestada pelo povo.
4) a implementação dessa decisão.
Saravia (2006) também ressalta que cada política Modelo de fluxos múltiplos (multiple streams mo-
pública passa por diversos estágios. Em cada um deles, del – J. Kingdon)
os atores, as coalizões, os processos e as ênfases são Para Kingdon (2006), as agendas governamentais
POLÍTICAS PÚBLICAS

diferentes. As etapas normalmente consideradas no ciclo são estabelecidas por três dinâmicas de processos: a dos
de políticas públicas são: formulação, implementação e problemas, a das políticas públicas e a da política.
avaliação.
Deve-se ter em vista, porém, que a divisão por etapas Problemas
é uma esquematização teórica do que ocorre na prática.
O processo nem sempre obedece à seqüência sugerida, A razão por que alguns problemas recebem mais aten-
mas as etapas mencionadas e suas fases constitutivas estão ção do que outros por parte das autoridades encontra-se
15
tanto nos meios pelos quais esses atores tomam conheci- independentemente de estarem associados a problemas
mento das situações como nas formas pelas quais essas ou propostas.
situações foram definidas como problemas. No entanto, em alguns momentos essas três dinâmicas
As pessoas dentro e fora do governo reconhecem os se unem. Um problema urgente demanda atenção, por
problemas de diversas maneiras. São em geral situações exemplo, e uma proposta de política pública é associada
que colocam em cheque valores importantes para uma ao problema e oferecida como solução. Ou então, um
dada comunidade. Algumas questões podem passar a ser evento político, como a mudança de governo, gera mu-
vistas como problemas em comparação com outros países danças de direção.
ou unidades relevantes. Em alguns momentos ao longo do caminho, porém,
O reconhecimento de problemas é um passo crítico ocorrem algumas associações parciais: soluções para pro-
para o estabelecimento de agendas. As chances de uma blemas que não contam com receptividade política naquele
dada proposta ou de certo tema assumir lugar de destaque momento político; políticas para propostas que estão de-
em uma agenda são decididamente maiores se elas estive- sacompanhadas da idéia de que um grande problema está
rem associadas a um problema importante. sendo resolvido; política e problemas, ambos clamando
Portanto, o reconhecimento e a definição dos proble- por uma ação, mas sem uma alternativa disponível. Essas
mas afetam significativamente os resultados do processo conexões têm menos chances de ganhar prioridade dentro
das políticas públicas. de uma agenda de decisões. Contudo, a completa junção
das três dinâmicas aumenta significativamente as chances
Política de um tema se tornar parte de uma agenda de decisão e
pode compor uma janela para políticas públicas.
Eventos políticos fluem de acordo com dinâmica e As janelas são abertas por eventos que ocorrem
regras próprias. Desdobramentos na esfera política são tanto na dinâmica dos problemas como da política. Por
poderosos formadores de agenda. Um novo governo, por vezes, a abertura de janelas é bastante previsível, como o
exemplo, muda as agendas completamente ao enfatizar momento de renovação de alguma legislação. Em outros
as suas concepções dos problemas e suas propostas o que momentos, elas ocorrem de forma imprevisível, como no
torna bem menos provável que assuntos que não estejam
caso de um acidente aéreo.
entre as suas prioridades recebam atenção.
Previsíveis ou imprevisíveis, janelas abertas são pe-
Três elementos principais influenciam uma idéia a ser
quenas e escassas, não ficando abertas por muito tempo.
impulsionada pela política:
Uma janela pode se abrir, por exemplo, mas pode não
• O clima nacional (national mood): uma situação
haver uma solução disponível naquele momento no re-
compartilhada por muitas pessoas ao mesmo
tempo; pertório das políticas, de forma que a janela se fecha sem
• Forças políticas organizadas, especialmente gru- que haja a conexão de uma solução a um problema ou ao
pos de pressão; cenário político.
• Mudanças dentro do governo. As idéias desenvolvidas pelo modelo de fluxos múl-
tiplos diferem-se das teorias convencionais de análise de
Políticas públicas ou soluções políticas públicas. Para Kingdon (2006), os eventos não
ocorrem organizadamente em estágios, passos ou fases.
Para Kingdon (2006), a melhor forma de entender o Em vez disso, dinâmicas independentes que fluem pelo
surgimento de alternativas para políticas públicas é vê-lo sistema ao mesmo tempo, cada uma com vida própria e
como um processo de seleção, análogo ao processo de similar às outras, se unem quando se abre uma janela de
seleção natural, denominado de sopa política primeva oportunidade.
(policy primeval soup). As idéias surgem desordenada- Assim, os participantes não identificam primeiro o
mente, chocando-se umas com as outras, gerando novas problema para depois buscar soluções para ele; na verdade,
idéias e formando combinações e recombinações. a defesa de soluções freqüentemente precede a atenção
As propostas julgadas inviáveis (aquelas que não se aos problemas aos quais são associados. As agendas não
alinham aos valores das comunidades, cujos custos exce- são estabelecidas primeiro para depois serem geradas as
dem ao estipulado pelo orçamento, despertam a oposição alternativas. Ao contrário, as alternativas devem ser defen-
do público, ou não encontram a receptividade dos políti- didas por um longo tempo antes que uma oportunidade de
cos eleitos) têm menos chances de sobreviver do que as curto prazo se apresente na agenda. Logo, encontram-se,
propostas que satisfazem esses padrões. nesse modelo, doses consideráveis de caos, imprevistos,
conexões fortuitas e pura sorte.
Janelas para políticas públicas
A formulação de políticas públicas
As dinâmicas dos problemas, das políticas públicas e
do próprio jogo da política têm, cada uma, vida própria. A formulação de políticas públicas inclui a seleção
Os problemas são identificados e definidos de acordo e a especificação da alternativa considerada mais con-
com processos que são diferentes daqueles nos quais as veniente, seguida da declaração que explicita a decisão
POLÍTICAS PÚBLICAS

políticas públicas são elaboradas, ou de como se dão os adotada. Define, desse modo, os objetivos da política
eventos políticos. As propostas de políticas públicas, por pública, bem como os seus marcos jurídico, administrativo
sua vez, são desenvolvidas de acordo com critérios pró- e financeiro.
prios de incentivos e seleção, independentemente do fato Trata-se do processo de definir, considerar e aceitar
de constituírem soluções para determinados problemas ou ou rejeitar opções de políticas públicas. Não se assemelha
uma resposta a deliberações de ordem política. Eventos necessariamente ao processo ordenado das teorias racio-
políticos seguem sua própria dinâmica e as suas regras, nais. Espera-se, ao contrário, que a busca pela solução
16
de um problema seja contenciosa e sujeita a uma ampla • Redes em torno de questões (issue networks) –
variedade de pressões. Heclo (apud HOWLETT; RAMESH, 1996)
São características dessa etapa de formulação de concebe os subsistemas políticos como um con-
políticas públicas: - não precisa se limitar a um único tinuum, em que triângulos de ferro estão em uma
conjunto de atores. - pode ocorrer sem a definição clara ponta e redes em torno de questões na outra. Para
do problema ou sem que os formuladores tenham contato ele, a noção de triângulos de ferro e subgovernos
com os grupos afetados. - não há coincidência necessária presume a existência de pequenos círculos de
entre a formulação e a organização determinadas, apesar participantes que se tornaram autônomos. Redes
de ser atividade freqüente da burocracia. - a formulação de questões, por outro lado, englobam um grande
e a reformulação de políticas podem ocorrer por longos número de participantes com níveis muito variáveis
períodos de tempo sem que se obtenha apoio suficiente de compromisso mútuo ou dependência entre si,
para nenhuma proposta. - os efeitos do processo em geral sendo praticamente impossível dizer onde começa
não são neutros; alguém ganha e alguém perde. ou acaba uma rede.
Nem todas as decisões relativas às políticas públicas, Seus participantes entram e saem da rede constan-
porém, serão tomadas durante o que se convencionou temente. Em vez de grupos unidos dominando um
chamar de formulação de políticas públicas. Pode-se di- programa, ninguém nas redes controla as políticas
zer, portanto, que o processo de elaboração de políticas, ou questões, sendo geralmente qualquer interesse
freqüentemente, continua durante a fase de implemen- material secundário em relação ao compromisso
tação. intelectual ou emocional de seus participantes.
Há inúmeras razões para deixar algumas decisões para Assim, as redes em torno de questões são muito
o processo de implementação, como (HILL, 2006): menos estáveis, apresentando uma troca constante
• não há como resolver conflitos durante a fase de de participantes, e muito menos institucionalizadas
formulação; que os triângulos de ferro (HOWLETT; RAMESH,
• considera-se necessário permitir que decisões-cha- 1995).
ve sejam tomadas só quando todos os fatos estive- • Comunidades de políticas públicas (policy co-
rem disponíveis para os implementadores; munities) – Comunidade, por outro lado, não é o
• acredita-se que os implementadores estão mais mesmo que rede, ainda que sejam freqüentemente
bem preparados que outros para tomar deci-
usadas como sinônimos na literatura. Comunidade
sões-chave;
se refere a uma categoria mais inclusiva que todas
• pouco se sabe previamente sobre o verdadeiro
as envolvidas na formulação de políticas públicas.
impacto das novas medidas;
Identifica aqueles atores reais e potenciais do uni-
• é sabido que as decisões diárias terão que envolver
verso da política pública que compartilham uma
negociações e compromissos com grupos podero-
sos; ou perspectiva comum da política pública.
• considera-se politicamente inadequado tentar A principal vantagem na diferenciação entre rede
resolver os conflitos. e comunidade é a integração de dois conjuntos
A formulação de políticas públicas, portanto, é um diferentes de motivação que guiam a ação daqueles
processo altamente difuso, complexo e varia de caso a envolvidos na formulação de políticas públicas:
caso. Restringe-se, normalmente, àqueles que possuem conhecimento ou experiência técnica e interesse
um mínimo de conhecimento na área do problema em material. Ao associar uma comunidade de política
questão. Conforme Howlett e Ramesh (1996), uma das pública a uma base de conhecimento específico e a
mais importantes questões sobre o processo de formulação rede de política pública à busca de algum interesse
de políticas públicas é quem está de fato envolvido no material, dois diferentes aspectos do processo de
processo de políticas públicas. formulação de políticas públicas ganham desta-
Assim, identificar os principais atores dos subsiste- que. Os membros da comunidade estão, portanto,
mas de políticas públicas, o que os associa, como eles ligados por questões epistêmicas – uma base de
interagem e qual o efeito a interação deles traz à política conhecimento compartilhada – enquanto que os
pública é o alvo de estudo de algumas perspectivas ana- membros da rede compartilham não apenas essa
líticas. São elas: triângulos de ferro, redes em torno de base, mas também interesses materiais que permi-
questões, comunidades de políticas públicas e coalizões tem ou encorajam o contato regular (HOWLETT;
de advocacia. RAMESH, 1996).
• Triângulos de ferro (iron triangles) – Parte da • Coalizões de advocacia (advocacy coalitions) – Uma
noção de subgoverno, entendido como um agru- coalizão de advocacia refere-se a um subconjunto
pamento de atores sociais e estatais engajados em de atores no subsistema de políticas públicas. Para
padrões rotineiros de interação. Esse conceito se Jenkins-Smith e Sabatier (1999), uma coalizão de
baseia na observação de que grupos de interesses, advocacia consiste em atores de uma variedade de
comissões congressuais e agências governamentais instituições públicas e privadas de todos os níveis
POLÍTICAS PÚBLICAS

nos Estados Unidos desenvolveram um sistema de de governo que compartilham um conjunto de


apoio mútuo ao longo de interações mútuas cons- crenças básicas e que procuram manipular regras,
tantes em questões legislativas e regulatórias. Essas orçamentos e pessoal das instituições governamen-
relações de três pontas em áreas como agricultura tais para alcançar suas metas ao longo do tempo.
e transporte ficaram conhecidas também como Uma coalizão de advocacia inclui tanto os atores
triângulos de ferro (iron triangles) que capturavam sociais como os estatais em níveis de governos
e controlavam o processo político. locais, subnacionais e nacionais.
17
Esse conceito também combina, segundo Howlett Conforme Rua (1998), neste tipo de abordagem, são
e Ramesh (1996), o papel do conhecimento e quatro as variáveis mais importantes:
dos interesses no processo de políticas públicas. • a natureza da política: não pode admitir ambigüi-
Os atores agregam-se em razão de suas crenças dades;
comuns, geralmente baseadas no conhecimento • a estrutura de implementação: os elos da cadeia
que compartilham sobre o problema público e devem ser mínimos;
em seus interesses comuns. Todos os integrantes • a prevenção de interferências externas;
da coalizão de advocacia participam do processo • o controle sobre os atores envolvidos na imple-
político para usar a máquina governamental para mentação.
alcançar seus objetivos.
Na maioria dos casos, há pelo menos duas coali- Deve-se levar em consideração, também, como o tipo
zões de advocacia em cada subsistema, podendo de política e de arenas políticas pode afetar o processo de
haver mais conforme a quantidade de estruturas implementação. Ocorre que diferentes tipos de políticas e
de idéias existentes em cada área de política pú- de arenas políticas envolvem diferentes participantes com
blica. distintos níveis de envolvimento, conforme o que esteja
em jogo no momento. Assim, alguns tipos de políticas
A implementação das decisões podem ser mais ou menos difíceis de implementar, podem
ter maior ou menor probabilidade de interferência externa
A implementação de políticas públicas constitui-se etc. (RUA, 1998)
no planejamento e na organização do aparelho adminis- Já o modelo de baixo para cima, ao contrário, ocorre
trativo e dos recursos humanos, financeiros, materiais e com todos os atores públicos e privados envolvidos na
tecnológicos necessários à execução de uma política. En- implementação de programas, dando ênfase à participação
volve a preparação para pôr a política pública em prática, do público-alvo alcançado pelo programa. Essa perspec-
bem como a elaboração de todos os planos, programas e tiva concentra-se sobre os atores e os órgãos em si e suas
projetos que permitirão executá-la. Já a execução da po- interações, centrada nas ações como método para identi-
lítica pública é o conjunto de ações destinado a atingir os ficar com mais clareza quem parece estar influenciando o
objetivos estabelecidos pela política. É a prática efetiva,
quê, como e o porquê. Trata-se de uma abordagem mais
a realização da política.
realista sobre como ocorre a implementação. Abordam-se
As fases de implementação e execução referem-se ao
as ações como processo contínuo da interação, com po-
estágio em que a política pública é colocada em prática.
líticas mutantes e passíveis de mudanças, uma estrutura
Transformar programas em resultados, porém, não é
complexa de interações e um mundo externo que condi-
simples e, por uma série de questões, eles podem não ser
implementados como o esperado. Os fatores que comu- ciona a implementação.
mente influenciam a execução das políticas são:
• a natureza dos problemas; Dificuldades da implementação
• os contextos social, econômico, tecnológico e Por uma série de questões relacionadas à natureza
político em que se inserem; dos problemas, às circunstâncias sociais, econômicas,
• a organização dos aparatos administrativos; tecnológicas e políticas ao redor deles, à organização da
• os recursos políticos e econômicos do público-alvo; máquina administrativa encarregada da tarefa e ao seu
• o apoio político de que dispõe. público-alvo, as políticas públicas podem não ser imple-
Embora os recursos públicos sejam sempre escassos mentadas como o programado.
frente às necessidades, não raramente os programas de É importante reconhecer as principais limitações do
governo falham, por exemplo, em alcançar os resultados processo de implementação para compreendê-lo:
desejados mais por deficiência na gestão do que por ca- • a natureza dos problemas afeta a implementação
rência de recursos. dos programas de diversas formas;
• as decisões políticas envolvem graus variados de
Modelos “de cima para baixo” e “de baixo para dificuldades técnicas durante a implementação.
cima” Alguns problemas são simplesmente mais difíceis
A execução das políticas pode ocorrer conforme duas de resolver por serem mais complexos, novos,
abordagens: o modelo de cima para baixo (top-down interdependentes e por envolverem uma série de
approach) e o modelo de baixo para cima (bottom-up decisões.
approach). O modelo de cima para baixo assume que • a diversidade dos problemas considerados por um
o processo de política pública pode ser visto como uma programa pode dificultar sua implementação.
série de cadeias de comando nas quais os líderes políticos • o tamanho e os recursos do grupo alvo também
articulam uma clara preferência de política pública que é afetam a implementação, pois quanto maior e mais
desenvolvida com altos níveis de especificidade. Começa diverso o grupo mais difícil é afetar seu compor-
com decisões do governo e não considera funcionários de tamento da forma desejada.
POLÍTICAS PÚBLICAS

níveis inferiores. • a extensão da mudança buscada determina o nível


A perspectiva de cima para baixo baseia-se no mo- de dificuldade em sua implementação.
delo de estágios e aconselha uma distinção clara entre a
formulação e a implementação de políticas. Nesse caso, Conforme Rua (1998), na implementação, há que
o ato de implementação pressupõe um ato anterior, o ato se considerar a importância dos vínculos entre diferen-
de formular a política pública. As políticas são tidas como tes organizações e agências públicas para o sucesso da
propriedade dos formuladores que estão no “topo”. implementação. Geralmente, quando a ação depende de
18
um certo número de elos numa cadeia de implementação, • é necessário que haja perfeita comunicação e co-
então o grau necessário de cooperação entre as organiza- ordenação entre os vários elementos envolvidos
ções para que esta cadeia funcione pode ser muito elevado. no programa;
Se isso não acontecer, pequenas deficiências acumuladas • os atores que exercem posições de comando devem
podem levar a um grande fracasso. ser capazes de obter efetiva obediência dos seus
Além disso, há que se ter em mente que nem sempre comandados.
a implementação se distingue do próprio processo de
formulação, e, em muitos casos, a implementação acaba Monitoramento e avaliação
sendo algo como “a formulação em processo”. Isso tem
conseqüências: entre outras, os próprios objetivos da O monitoramento ou acompanhamento é o processo
política e os problemas envolvidos, que não são conhe- sistemático de supervisão da execução de uma atividade,
cidos antecipadamente em sua totalidade, ao contrário, tendo como objetivo fornecer a informação necessária
vão aparecendo à medida que o processo avança. Além para introduzir eventuais correções, a fim de assegurar a
consecução dos objetivos estabelecidos.
disso, se há políticas que possuem características de “pro-
A avaliação de programas, por sua vez, constitui-se
gramas” – com objetivos e recursos definidos claramen-
em um processo de coleta e análise sistemática de infor-
te – outras não possuem tais características, sendo muito
mações sobre características, processos e impactos de um
menos claras, inclusive quanto aos seus limites. programa, de forma a atribuir valor e analisar o mérito
Então, freqüentemente, o estudo e o acompanhamento do programa, gerando recomendações para aperfeiçoar a
da implementação enfrentam a dificuldade de identificar o gestão e a qualidade do gasto público.
que é que efetivamente está sendo implementado, porque A avaliação pode ter como foco a efetividade (medida
as políticas públicas são fenômenos complexos. Even- do grau de cumprimento dos objetivos que orientaram a
tualmente, essa complexidade é deliberada, ou seja, em constituição de um determinado programa, tendo como
certos casos, as políticas formuladas podem ter apenas o referência os impactos na sociedade), a eficácia (medida
objetivo de permitir que os políticos ofereçam ao público do grau de cumprimento das metas fixadas para um de-
satisfações simbólicas, sem que haja nenhuma intenção terminado projeto, atividade ou programa em relação ao
verdadeira de implementá-las (RUA, 1998). previsto) ou a eficiência (medida da relação entre os recur-
Assim, o processo de implementação pode ser uma sos efetivamente utilizados para a realização de uma meta
continuação da formulação, envolvendo flexibilização, para um projeto, atividade ou programa frente a padrões
idas e vindas etc. – de maneira que compreende um estabelecidos) de um programa ou projeto.
contínuo processo de interação e negociação ao longo do A avaliação pode ser definida ainda como o exame
tempo entre aqueles que querem pôr uma política para objetivo, sistemático empírico dos efeitos da política
funcionar e aqueles de quem este funcionamento depende pública sobre suas metas em termos de objetivos que
(RUA, 1998). pretendiam alcançar. Entretanto, os objetivos das políti-
Rua (1998) indica dez pré-condições necessárias para cas públicas freqüentemente não são definidos de forma
que haja uma implementação adequada: suficientemente clara para descobrir em que extensão eles
• as circunstâncias externas à agência implementado- foram alcançados.
ra não devem impor restrições que a desvirtuem; As possibilidades de análise objetiva são limitadas
• o programa deve dispor de tempo e recursos sufi- também devido às dificuldades incalculáveis em desenvol-
cientes; ver padrões objetivos para avaliar o sucesso do governo em
• não apenas não deve haver restrições em termos lidar com questões subjetivas e problemas sociais. Uma
de recursos globais, mas também, em cada estágio mesma condição pode ser interpretada diversamente por
diferentes avaliadores e não há formas definitivas para
da implementação, a combinação necessária de
determinar a forma certa. A interpretação que prevalece é
recursos deve estar efetivamente disponível;
determinada por conflitos políticos e compromissos entre
• a política a ser implementada deve ser baseada
os vários atores.
numa teoria adequada sobre a relação entre a causa Assim, a avaliação de políticas públicas também
(de um problema) e o efeito (de uma solução que envolve a atividade política. O que não significa, con-
está sendo proposta); tudo, que a avaliação seja um processo irracional ou
• esta relação entre causa e efeito deve ser direta e, se completamente político. A profundidade e o cuidado
houver fatores intervenientes, devem ser mínimos; da avaliação dependem daqueles que a demandam e/ou
• deve haver uma só agência implementadora, que daqueles que a levam a cabo. O processo de avaliação
não dependa de outras agências para ter sucesso; quase sempre envolve burocratas e políticos do governo
se outras agências estiverem envolvidas, a relação lidando com a política pública em questão e usualmente
de dependência deverá ser mínima em número e envolve membros não-governamentais do subsistema da
em importância; política pública. Pode envolver também os membros do
• deve haver completa compreensão e consenso público-alvo e do eleitorado como um todo. Desse modo,
POLÍTICAS PÚBLICAS

quanto aos objetivos a serem atingidos e essa con- para realizar uma avaliação pertinente, deve-se levar em
dição deve permanecer durante todo o processo de conta os limites da racionalidade e das forças políticas
implementação; que a modelam.
• ao avançar em direção aos objetivos acordados, O grande benefício da avaliação de programas, no
deve ser possível especificar, com detalhes com- entanto, talvez não sejam os seus resultados diretos,
pletos e em seqüência perfeita, as tarefas a serem mas o processo de aprendizado que a acompanha. Com
realizadas pelos participantes individualmente; a realização da avaliação, os atores políticos aprendem
19
constantemente e são levados a modificar suas posições. implementação de política/programa ou proje-
Uma parte importante desse processo são a discussão, to, de modo a julgar a sua eficácia. Destina-se
o debate, a argumentação e a persuasão que ocorrem a identificar os pontos fortes e as fraquezas de
constantemente entre os atores. uma intervenção, tendo como objetivo verificar
Pode-se concluir, portanto, que a avaliação pode se alguma mudança é necessária a fim de aper-
ocorrer por quatro razões: feiçoar a política/programa/projeto.
• para servir de subterfúgio ou de desculpa para algo. – Avaliação de resultados: refere-se à avaliação
Por exemplo, para postergar, mudar o comando do do nível de transformação da situação a qual o
programa, para legitimá-lo, para dar-lhe publici- programa se propõe a modificar. Expressa o grau
dade, dentre outros; em que os objetivos do programa foram alcan-
• para preencher condições de financiamento do çados. Verifica se o programa está cumprindo os
programa em organismos internacionais, por resultados que foram propostos. É a avaliação
exemplo; daquilo que se expressa como metas primárias,
• para subsidiar a tomada de decisão, apontando o intermediárias e finais de uma política/programa
que acontece no programa, possibilitando corre- ou projeto. Também conhecida como avaliação
ções e a mensuração de custos e benefícios, que sumária ou somativa, é um julgamento sobre a
possibilitem escolher a melhor alternativa dentre performance do programa.
as várias opções e orientar a decisão de continuar, – Avaliação de impacto: trata-se de um tipo de
expandir, institucionalizar ou cortar o programa; avaliação de resultados que busca conhecer os
• para gerar o aprendizado organizacional: trazer um efeitos produzidos pelo programa em algum(uns)
feedback para os executores, gerar maior engaja- aspecto(s) da realidade afetada pela sua existên-
mento dos implementadores, relembrar ou conven- cia. Geralmente está relacionada a resultados
cer os executores sobre os objetivos do programa, de médio e longo prazos, definidos como “im-
prestar contas do que está sendo gasto e dar maior pactos”, ou seja, conseqüências dos resultados
transparência ao programa, servir de fonte para o imediatos, e visa à identificação, à compreensão
desenvolvimento de teorias de intervenção social, e à explicação das mudanças nas variáveis e nos
possibilitando a aquisição de conhecimentos sobre fatores relacionados à efetividade do programa.
quais são os fatores que promovem a mudança Ex.: elevação da qualidade de vida no meio rural,
social ou de comportamento humano. melhoria do abastecimento dos centros urbanos,
aumento da poupança devido à redução das
Tipos de avaliação importações etc.
As avaliações de políticas públicas podem ser clas-
sificadas em diversas categorias, que se diferenciam pela • Quanto à execução
forma em que são conduzidos, os atores envolvidos e – Avaliação interna: avaliação realizada dentro
seus efeitos. da organização em que se localiza o programa,
• Quanto à temporalidade conduzida por unidade diferente da executora.
– Avaliação ex-ante: realizada antes do início de No caso da auto-avaliação, os trabalhos são re-
implementação de um programa. Pode ser uti- alizados pela equipe responsável pela gestão do
lizada para identificar se um programa deve ser programa. Tem como principais vantagens me-
executado. Para realizar esse tipo de avaliação nor custo e melhor aproveitamento no aprendiza-
é necessário projetar o que aconteceria com al- do institucional e na melhoria do gerenciamento
gumas características da população beneficiária do programa, dado que as organizações são em
caso o programa fosse executado, comparando geral mais receptivas à informação produzida
os custos e benefícios da iniciativa com as alter- internamente. Alguns autores optam por definir
nativas disponíveis à sua implantação. a temporalidade de avaliações que se realizam
– Avaliação ex-post: realizada após consolidação após o início de um programa ou projeto entre
ou na fase final de um programa. Normalmente avaliações intra (ou concomitante ao desenvol-
mede resultados e impactos. As avaliações vimento do programa), post (imediatamente ao
de impacto são geralmente mais caras que as término de um programa), diferenciando estas
avaliações ex-ante, por exigirem levantamento duas modalidades da avaliação ex-post, que
de dados primários sobre o público-alvo, caso seria aplicável somente meses ou anos após sua
o programa não disponha de um sistema de conclusão.
monitoramento desenvolvido. – Avaliação externa: avaliação realizada por ins-
• Quanto ao objeto tituições externas. Tendem a apresentar maior
– Avaliação de processo: refere-se a uma avaliação credibilidade com o público externo por utilizar
para identificação dos aspectos da implementa- padrões mais rígidos e neutros de análise.
POLÍTICAS PÚBLICAS

ção (insumos, processos e produtos) que podem


gerar ganhos ou perdas no atendimento às metas CONTROLE SOCIAL – TRANSPARÊNCIA E PARTICIPA-
do programa em relação ao seu público-alvo. ÇÃO SOCIAL
Também é conhecida como avaliação formativa.
Deve-se citar também a chamada avaliação de O conceito de cidadania refere-se à qualidade do
matriz, de estrutura ou de modelo, em que a indivíduo que dispõe dos direitos políticos em uma dada
informação coletada refere-se ao desenho e à sociedade. Os direitos políticos, por sua vez, constituem
20
um conjunto de normas constitucionalmente fixadas, refe- para o compartilhamento do poder e uma disposição dos
rentes à participação popular no processo político. Dizem atores sociais para o diálogo e para a ocupação dos espa-
respeito, em outras palavras, à intervenção do cidadão na ços de poder, além da capacidade de formular políticas e
vida pública de determinado país. de acompanhar a implementação das decisões de forma
No Brasil, a participação do cidadão no processo compartilhada.
político ocorre principalmente por meio do sufrágio, em Em decorrência das mudanças verificadas nas rela-
suas diversas manifestações. No entanto, a intervenção ções entre Estado e sociedade, novas institucionalidades
dos cidadãos como atores sociais e políticos nas políticas e espaços de concertação têm surgido para possibilitar a
públicas no Brasil tem se ampliado significativamente gestão participativa e a governança democrática no Brasil.
nos últimos anos. Na escala nacional, tem-se o CDES (Conselho de Desen-
Os cidadãos podem ser vistos como atores políticos volvimento Econômico e Social), bem como os conselhos
quando estão envolvidos em conflitos acerca da alocação como o Condraf (Conselho Nacional de Desenvolvimento
de bens e recursos públicos. A partir da democratização Rural Sustentável), o Conama (Conselho Nacional do
e da Constituição Federal de 1988, identifica-se um novo Meio Ambiente) e o Consea (Conselho Nacional de Se-
padrão na implementação das políticas públicas no País, gurança Alimentar e Nutricional) que articulam políticas
sobretudo no que se refere à participação e à inclusão ministeriais. Nos âmbitos estadual e municipal, tem-se
do cidadão. As iniciativas dos governos municipais se um grande número de conselhos setoriais, os orçamentos
ampliam no campo das políticas sociais e do desenvolvi- participativos, os consórcios públicos, dentre outros.
mento local. A ação governamental local passa a ocorrer
principalmente em razão da transferência de atribuições Conselhos de Políticas Públicas
e competências do governo central e da esfera estadual de
governo para o governo municipal, com ênfase nas atribui- Conforme Carneiro (2006), a questão dos conselhos
ções relativas à cidadania social, trazida pela Constituição de políticas públicas insere-se fundamentalmente na área
Federal de 1988, e à maior proximidade do governo local da governança democrática. Como canais institucionali-
com as demandas da população, que passa a ter um grande zados de participação, marcam uma reconfiguração das
peso em um contexto democrático. relações entre Estado e sociedade e instituem uma nova
O arranjo democrático recente valoriza a construção modalidade de controle público sobre a ação governa-
de novos arranjos institucionais que privilegiam a inclusão mental e, idealmente, de co-responsabilização quanto ao
de novos atores na formulação, na implementação e na desenho, ao monitoramento e à avaliação de políticas.
avaliação das políticas públicas no nível local. Muitos Tem-se como pressuposto que os conselhos sinalizam
dos programas governamentais atuais têm como elemen- possibilidades de avanço na gestão de políticas públicas,
to constitutivo a participação do cidadão em conselhos, fomentando práticas mais participativas, articulando me-
fóruns e redes de políticas públicas. canismos de accountability e gerando responsabilidade
A idéia de controle social e transparência no processo pública.
de políticas públicas ganha força a partir dos anos 1980. Os conselhos são espaços públicos não estatais que
O termo accountability, cuja versão mais próxima na lín- sinalizam a possibilidade de representação de interesses
gua portuguesa é o termo responsabilização, aparece como coletivos na cena política e na definição da agenda pública.
um fator de grande importância na atuação governamental. Têm caráter híbrido, sendo parte do Estado e da sociedade
Remete à idéia de prestação de contas à sociedade, ou seja, ao mesmo tempo. São espaços de argumentação sobre
à obrigação de membros de um órgão administrativo ou valores, normas e procedimentos, de formação de con-
representativo de responder e prestar contas a instâncias sensos, de transformação de preferências e de construção
controladoras ou a seus representados. Implica, portanto, de identidades sociais. São também mecanismos de ação,
questões de responsabilidade social, imputabilidade, que inserem na agenda governamental as demandas e os
obrigações e prestação de contas. temas de interesse público, para que sejam absorvidos,
articulados politicamente e implementados sob a forma
NOVOS ARRANJOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS de políticas públicas.
Os conselhos, conforme Carneiro (2006), contribuem
Segundo Farah (2006), é possível identificar atual- para aproximar o governo dos cidadãos e para o enfra-
mente uma série de iniciativas que sugerem estar em curso quecimento das redes de clientelismo, trazendo alianças
um processo embrionário de reconstrução do Estado no e conflitos de interesse para esferas públicas de decisão.
Brasil, em que se destacam o estabelecimento de uma Permitem também um maior grau de acerto no processo
nova relação entre Estado e sociedade e a redefinição da de tomada de decisões; ajudam na identificação mais
esfera pública. O movimento em curso, em especial na rápida de problemas e na construção de alternativas de
esfera local, pode ser entendido como parte de um pro- ação, bem como aumentam a transparência administrativa
cesso de reconstrução da esfera pública, orientado para a e pressionam as diversas áreas do governo em direção a
democratização da gestão das políticas públicas no País, ações mais integradas.
POLÍTICAS PÚBLICAS

o qual tem na descentralização um de seus componentes A inclusão de novos atores, da sociedade civil e do
centrais. setor privado, na formulação, na implementação e no
Surge, então, o conceito de governança democrática, controle das políticas públicas, principalmente no nível
que pressupõe a descentralização do processo decisório e local, assinala a ruptura com o padrão não democrático
a capacidade de implementação e acompanhamento das de articulação entre Estado e sociedade e a tendência
políticas públicas por parte da sociedade. A prática da para a ampliação do domínio público. Abre-se caminho,
governança democrática exige dos governantes a abertura portanto, para que a sociedade passe a cobrar os resul-
21
tados da ação estatal, aumentando a accountability das seja, envolvem a cooperação entre os seus membros. Se
políticas públicas no Brasil. As políticas no âmbito local há conflito, é mais entre as redes do que dentro delas.
já não parecem se restringir ao padrão de intervenção 3) a definição de poder nas redes é relacional.
estatal exclusiva e os governos locais têm assumido um A análise de redes surge com o objetivo de captar a
papel de coordenação e de liderança, mobilizando atores diversidade de formas de intermediação de interesses entre
governamentais e não-governamentais e procurando esta- setores, entre países e no tempo. Sob essa perspectiva,
belecer um processo de concertação de diversos interesses as políticas públicas são entendidas como um processo
e de diferentes recursos em torno de objetivos comuns de troca e negociação entre os atores públicos e privados
(FARAH, 2006). que interagem entre si com a finalidade de trocar recursos
No entanto, alguns obstáculos ainda são percebidos e informações num marco institucional concreto.
para a atuação mais consistente dos conselhos. Essas di- A leitura da ordem política, conforme Massardier
ficuldades referem-se em geral a ampliar a participação, (2006), não se faz mais em termos de separação entre
viabilizar o envolvimento e o compromisso de atores Estado e sociedade, mas entre espaços sociais autônomos
centrais, tanto governamentais como não-governamentais, que incluem atores privados e públicos mobilizados por
e instituir mecanismos de controle e deliberação efetivos. um objetivo.
Além disso, o desempenho dos conselhos em geral relacio-
na-se à qualidade do governo municipal, e a emancipação FEDERALISMO E DESCENTRALIZAÇÃO
dessas organizações requer uma sociedade civil organiza-
da e capaz de exercer influência sobre o sistema político e Atualmente, o valor fundamental da descentraliza-
sobe as burocracias públicas (CARNEIRO, 2006). ção, isto é, a transferência das funções do “centro” para
a “periferia”, é amplamente reconhecido, seja no seio de
Redes de Políticas Públicas uma única organização administrativa, seja com referência
ao relacionamento entre múltiplas estruturas que fazem
Redes de políticas públicas envolveriam ligações entre parte de uma organização mais abrangente. Em particular,
atores sociais e estatais no processo de políticas públicas. há tempos foi esclarecida a conexão entre Administra-
As interações entre os vários departamentos e agências do ção Pública e a mudança das estruturas sociais, com a
governo e entre o governo e outras organizações na socie- conseqüente necessidade de que o desenvolvimento das
dade constituem redes de políticas públicas fundamentais estruturas administrativas se adequasse a uma inteligente
para sua formulação e seu desenvolvimento. distribuição de funções e de tarefas (BOBBIO, 2002).
Para Rhodes, dizem Howlett e Ramesh (1996), É possível incluir na noção de descentralização uma
as redes variam de acordo com seu nível de integração, série de instituições, considerando-as como diferentes
que é função da estabilidade na associação, da abertura na manifestações de um fenômeno qualitativamente único
associação, do grau de insulamento de outras redes e do em sua essência. A descentralização política distingue-se
público e da natureza dos recursos controlados. Assume-se da administrativa, não apenas pelo tipo diferente de fun-
que os participantes fazem parte das redes para promover ções exercidas, mas também pelo “título” que caracteriza
seus próprios objetivos, vistos como essencialmente mate- o seu fundamento. A descentralização política expressa
riais e objetivamente reconhecíveis de fora da rede. uma idéia de direito autônomo, enquanto na descentrali-
A análise de redes nega a possibilidade de utilizar um zação administrativa específica temos um fenômeno de
modelo único para explicar o processo de elaboração das derivação dos poderes administrativos que, por sua vez,
políticas públicas e se baseia na idéia da diversidade das derivam do aparelho político-administrativo do Estado.
relações Estado-sociedade e a necessidade de desagrega- A descentralização política, porém, não coincide com o
ção da análise para compreender de forma mais completa federalismo. Um Estado federal é, certamente, politica-
as políticas públicas. mente descentralizado, mas temos Estados politicamente
Nesse enfoque, o investigador assume que 1) o descentralizados que não são federais. Somente quando a
contexto institucional é elemento central que influencia descentralização assume os caracteres da descentralização
nos objetivos e estratégias que perseguem os atores que política podemos começar a falar de federalismo ou, em
participam do processo; 2) os atores perseguem interes- nível menor, de uma real autonomia política das entidades
ses diversos que não podem ser a priori assumidos e sua territoriais.
compreensão depende de pesquisa empírica; 3) o volume É afirmação constante e generalizada que existe uma
de atores que participam do processo de elaboração de estreita conexão entre os conceitos de descentralização
políticas não pode se limitar a grupos sociais e atores pú- e de democracia, também em relação ao fato de que a
blicos, mas deve ser ampliado a um conjunto mais amplo luta pela descentralização consistiu, principalmente, na
como meios de comunicação e especialistas. luta pelas autonomias locais a fim de perseguir, além da
Assume-se, portanto, que as redes: 1) são numerosas; descentralização, objetivos de democratização. Alguns
2) fragmentam o Estado em tantos segmentos justapostos viram também na descentralização o instrumento por meio
quantas forem as redes; 3) dividem a sociedade em tan- do qual podem manifestar-se inteiramente as forças da
tas “ordens locais” justapostas de elaboração de política Nação (do Estado-comunidade, conforme a terminologia
POLÍTICAS PÚBLICAS

pública quantas forem as redes de ação pública (MAS- mais recente) em contraposição às forças do Estado, que
SARDIER, 2006). é institucionalmente dominado pelo princípio da centra-
São características das redes: lização. A descentralização seria, portanto, o meio para
1) as regras de funcionamento são informais e deci- chegar, por intermédio de uma distribuição da soberania,
didas na ação. a uma real liberdade política (BOBBIO, 2002).
2) são espaços em que se trocam recursos, e a troca Soares (1998) define o sistema federal como uma
entre os membros é que cria sua interdependência, ou forma de organização do Estado nacional caracterizada
22
pela dupla autonomia territorial do poder político: uma criminação das estruturas especializadas em cada área de
central e outra descentralizada. Ambas, entretanto, têm atuação governamental: educação, saúde, habitação etc.
poderes únicos e concorrentes para governar sobre o A quarta característica das políticas públicas brasilei-
mesmo território e as mesmas pessoas. ras nesse período consistia na exclusão da sociedade civil
Um Estado federado envolve necessariamente a des- do processo de formulação das políticas, da implementa-
centralização do poder e possui as seguintes característi- ção dos programas e do controle da ação governamental.
cas: repartição de competências entre os diversos níveis, Nesse período, três mecanismos principais de articulação
autonomia política, autonomia organizacional (auto-admi- entre Estado e sociedade definiam o padrão verificado no
nistração) e autonomia financeira. Assim, caracteriza-se o Brasil: o clientelismo, o corporativismo e o insulamento
Estado federado pelo igual nível jurídico de convivência burocrático (FARAH, 2006).
entre o órgão central e os órgãos regionais. Dessa forma, a implementação de programas e a
Um dos desafios relacionados ao federalismo brasi- alocação de recursos eram influenciadas, ora pela troca de
leiro refere-se, conforme Anastasia (2004), às enormes favores, ora pela lógica corporativa. As políticas públicas
desigualdades de diferentes tipos que atingem os diversos incorporavam, portanto, interesses da sociedade civil e
estados brasileiros, agravadas pela competição predatória do mercado, mas tal incorporação era excludente e sele-
entre os estados-membros. A concessão de incentivos tiva, um padrão não democrático de articulação entre o
financeiros e fiscais é muitas vezes utilizada como forma Estado e a sociedade. A opacidade e a impermeabilidade
de compensar desvantagens estruturais e geográficas de das políticas nesse período, definidas em grande medida
algumas regiões em relação a outras do País. pelo regime autoritário então vigente, introduziram no
Há, conforme Rezende (1997), uma grande dificuldade sistema um crescente déficit de accountability e de res-
em conciliar a descentralização fiscal com as desigualda- ponsabilidade pública, comprometendo também o alcance
des regionais no Brasil. Em um contexto como o brasileiro, da eqüidade.
de acentuadas desigualdades na repartição espacial da
renda e da riqueza, o equilíbrio entre competências impo- Políticas públicas no Brasil após a redemocra-
sitivas próprias e transferências compensatórias é muito tização
difícil de ser alcançado. Uma maior descentralização de
competências favorece estados e municípios de forte base Já durante os anos 1980, o debate sobre políticas
econômica ao mesmo tempo em que reduz o espaço para públicas e o papel do Estado no Brasil teve como eixos a
ampliação das transferências da União em proveito das democratização dos processos decisórios e a eqüidade dos
unidades economicamente mais fracas da Federação. resultados das políticas públicas, sendo a democratização
Para Abrucio (1994), o resultado da estrutura estabe- vista como condição de eqüidade dos resultados.
lecida com a redemocratização foi um federalismo no qual Enfatizou-se naquele momento a descentralização e
não há pesos e contrapesos (checks and balances) para a participação dos cidadãos na formulação e na imple-
equilibrar o poder dos chefes dos Executivos estaduais. mentação das políticas e para alcançar a universalização
A fragmentação partidária no Congresso Nacional, dos direitos sociais. Nesse período, porém, em paralelo
que, conforme Abrucio (1994), culmina em enorme di- à preocupação com a democratização nos processos e à
ficuldade para o presidente compor maiorias, aumenta o eqüidade dos resultados, foram introduzidas a preocupação
poder dos governadores no plano nacional devido à força com eficiência, eqüidade e efetividade da ação estatal, já
do fator regional como organizador das demandas dos que a crise fiscal se constituía em um limitante à capa-
parlamentares. Isso tornaria os governadores dos estados cidade de resposta do Estado às demandas crescentes da
os comandantes das bancadas estaduais na votação de população.
algumas questões, como a reforma tributária. Contrariamente às medidas neoliberais que já vi-
nham sendo adotadas na Inglaterra e Estados Unidos
POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL ao longo da década de 1980, o Brasil aprovou em 1987,
com vigência a partir de 1988, a chamada “Constituição
Políticas públicas no Brasil antes da redemo- Cidadã”. A Constituição Federal de 1988 possui caráter
cratização extremamente descentralizador, o que delineou um novo
federalismo, e ampliou os benefícios sociais garantidos
Até o início dos anos 1980, as políticas públicas pelo Estado, aumentando sobremaneira os encargos da
promovidas pelo Estado brasileiro se caracterizavam, em União.
primeiro lugar, pela centralização decisória e financeira na Muito foi feito pela ampliação do conceito de cida-
esfera federal. Caberia, então, aos estados e municípios, dania e pela sua extensão ao campo dos direitos sociais.
quando envolvidos nas políticas, o papel de executores A preocupação dos constituintes foi mais de assegurar
das iniciativas formuladas centralmente e tendia-se a se o acesso aos serviços públicos do que de viabilizar os
estabelecer uma articulação entre governos estaduais e recursos financeiros necessários para a realização dessa
municipais e governo federal baseada na troca de favores tarefa. A intenção foi criar um sistema de proteção social
POLÍTICAS PÚBLICAS

de cunho clientelista. amplo e destinado a reduzir as desigualdades econômicas


As políticas públicas eram marcadas, em segundo lu- e sociais do País.
gar, pela fragmentação institucional. Havia a sobreposição A Constituição de 1988 é redistributiva e inclusiva do
de novas agências a agências preexistentes sem ocorrer a ponto de vista social, mas fortemente descentralizadora,
coordenação da ação entre os diversos órgãos. complexa e expansionista do ponto de vista das insti-
Em terceiro lugar, as políticas públicas sociais tinham tuições fiscais. Emergem, conseqüentemente, questões
caráter setorial. Ao longo dos anos 1960, ocorreu a dis- referentes à capacidade do Estado em transformar as
23
demandas sociais em políticas públicas efetivas e, ainda, Outro aspecto recorrente nas políticas públicas, es-
a problemas econômicos e fiscais. pecialmente nas políticas sociais, é o de que as decisões
No tocante à formulação e à implementação de e ações tendem a ser pensadas a partir da oferta e muito
políticas públicas, a partir dos anos 1990, surgem novas raramente são efetivamente consideradas as demandas. To-
formas de articulação do Estado com a sociedade civil e dos esses traços expressam, provavelmente, os padrões de
com o setor privado. Busca-se, então, substituir o modelo autoritarismo e centralização presentes na nossa formação
de provisão estatal por um modelo em que o Estado deixa histórica, bem como nas heranças do passado autoritário
de ser o provedor direto exclusivo e passa a ser coorde- recente. Causas à parte, o fato é que disso resultam des-
nador e fiscalizador de serviços que podem ser prestados compassos entre oferta e demanda de políticas, acarre-
pela sociedade civil ou pelo mercado ou em parceria com tando desperdícios, lacunas no exercício da cidadania,
esses setores. frustração social, perda de credibilidade governamental,
A descentralização, por sua vez, não significa apenas desconfiança e óbices à plena utilização do potencial de
transferir atribuições de forma a garantir eficiência, mas é participação dos atores sociais etc.
vista, sobretudo, como redistribuição de poder, favorecen- Uma quinta regularidade, conforme Rua (1998), é a
do a democratização das relações entre Estado e sociedade, presença de uma clara clivagem entre formulação/decisão
bem como do acesso aos serviços. e implementação, que expressa uma perspectiva linear,
A focalização das políticas sociais, por outro lado, vertical e planificadora da política pública. Essa clivagem
é incorporada pelo reconhecimento da necessidade de se é observada, primeiro, pela presença de uma cultura que
estabelecerem prioridades de ação em contexto de limites enfatiza a formulação/decisão, tomando a implementação
de recursos e pelo entendimento de que é preciso atender como dada. Ou seja, a implementação é vista como um
de forma dirigida a alguns segmentos da população, que conjunto de tarefas de baixa complexidade, acerca das
vivem situações de carência social extrema. quais as decisões já foram tomadas.
Assim, conforme Farah (2006), a agenda para a Outra recorrência observada é a hegemonia do eco-
atuação estatal no fim dos anos 1980 e nos anos 1990 é nomicismo e a desarticulação entre política econômica
marcada pelos seguintes elementos: e política social. Como regra, as políticas econômicas
• as teses de descentralização e participação; assumem a primazia em todo o planejamento governamen-
• a necessidade de estabelecimento de prioridades tal, cabendo às políticas sociais um papel absolutamente
de ação; secundário, subordinado e subsidiário.
• a busca de novas formas de articulação com a Finalmente, Rua (1998) destaca que a maioria dos
sociedade civil e com o mercado (envolvendo a programas existentes peca pela falta de focalização. Esse é
participação de ONGs, a comunidade organizada e um tema bastante controvertido. Na forma defendida pelo
o setor privado na provisão de serviços públicos); Consenso de Washington, a focalização e a seletividade
• a introdução de novas formas de gestão nas orga- das políticas sociais ameaçam a idéia da universaliza-
nizações estatais (dotando-as de maior agilidade, ção, tão cara a certos setores políticos brasileiros, já que
eficiência e efetividade). corresponde ao estreitamente do grupo beneficiado pelas
políticas, restringindo-as progressivamente aos estratos
Características das políticas públicas no Brasil sociais mais excluídos, cabendo aos demais recorrer à
oferta de serviços pelo mercado. Na realidade, embora
Segundo Rua (1998), a análise das políticas públicas tal estratégia seja potencialmente viável nas economias
no Brasil permite identificar a presença de importantes desenvolvidas do pós-welfare state – no qual o bem-estar
regularidades. Um dos aspectos que primeiro chamam a é mais ou menos generalizado e identificam-se apenas
atenção nas políticas públicas brasileiras é a fragmenta- minorias excluídas –, no caso dos países em desenvol-
ção. Percebe-se a existência de linhas rígidas – mas nem vimento, com suas imensas assimetrias sociais e uma
sempre consensuais e respeitadas – de demarcação das maciça maioria de excluídos, a focalização parece perder
áreas de atuação de cada uma delas. totalmente o sentido.
Como conseqüência, as políticas muito freqüente- Focalização e seletividade significariam, em socie-
mente emperram devido à competição interburocrática; ou dades como a nossa, que os direitos são universais, mas
são fragmentadas em áreas de controle de cada agência, os recursos são redistribuídos segundo as necessidades
na busca de uma convivência pacífica; ou, finalmente, sociais, setoriais, locais e regionais, que são, sempre,
estabelecem-se superposições que levam à baixa racio- extremamente diferenciadas.
nalidade e ao desperdício de recursos.
Uma outra característica recorrente citada por Rua Fundamentos atuais das políticas públicas no
(1998) é a descontinuidade administrativa. Como, em Brasil
regra, inexistem concepções consolidadas de missão ins-
titucional, as agências envolvidas nas políticas públicas Atualmente, as políticas públicas brasileiras organi-
são forte e diretamente afetadas pelas preferências, con- zam-se no Plano Plurianual, elaborado a cada quatro anos.
POLÍTICAS PÚBLICAS

vicções, compromissos políticos e idiossincrasias pessoais Conforme o texto do projeto de lei do Plano Plurianual
diversas dos seus escalões mais elevados. Esses cargos, (PPA) 2008-2011, o PPA “organiza a atuação governamen-
por sua vez, são em grande parte preenchidos conforme tal em programas orientados para o alcance dos objetivos
critérios políticos, o que confere uma certa impermanência estratégicos definidos para o período do Plano”. É no
aos seus ocupantes. Com isso, cada mudança dos titulares PPA, portanto, que o governo pode revisar os programas
dos cargos, como regra, provoca alterações nas políticas existentes do Estado, reformulá-los, extingui-los ou criar
em andamento. novos programas e projetos. Ou seja, o PPA é a ferramenta
24
administrativa de que dispõe o governo para avaliar e Desse modo, o modelo de planejamento, orçamento
definir o direcionamento que se quer dar ao País durante e gestão por programas instituído pelo Governo Federal
aquele mandato, com a clara definição dos objetivos es- pressupõe orientar toda a ação do governo para a resolução
tratégicos que serão buscados e das questões que entrarão de problemas ou demandas da sociedade. Busca romper
na agenda como prioritárias. com a visão departamentalizada das organizações do
No PPA 2008-2011, estão os seguintes objetivos como setor público, centrada nos procedimentos burocráticos,
orientações estratégicas do governo: introduzindo nas organizações públicas uma preocupação
• promover a inclusão social e a redução das desi- gerencial com a obtenção de resultados na sociedade.
gualdades;
• promover o crescimento com sustentabilidade,
geração de empregos e distribuição de renda; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• propiciar o acesso da população brasileira à edu-
cação e ao conhecimento com eqüidade, qualidade ABRUCIO, Fernando Luiz Abrucio. Os barões da fede-
e valorização da diversidade; ração. In REVISTA LUA NOVA, nº 33, 1994.
• fortalecer a democracia, com igualdade de gêne- ANASTÁSIA, Fátima. Federação e relações intergover-
ro, raça e etnia, e a cidadania com transparência, namentais. Em AVELAR, Lúcia e CINTRA, Antônio
diálogo social e garantia dos direitos humanos; Otávio. Sistema político brasileiro:uma introdução.Rio
• implantar uma infra-estrutura eficiente e integra- de Janeiro: Fundação Konrad-Adenauer-Stiftung ; São
dora do território brasileiro; Paulo : Fundação Unesp; 2004.
• reduzir as desigualdades regionais a partir das BOBBIO, Norberto & MATEUCCI; Nicola & PASQUI-
potencialidades locais do território nacional; NO, Gianfranco. Dicionário de Política, 2002.
• fortalecer a inserção soberana internacional e a BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Ges-
integração sul-americana; tão. Secretaria de Planejamento e Investimentos Estraté-
• elevar a competitividade sistêmica da economia, gicos. Manual de avaliação : plano plurianual 2004-2007
com inovação tecnológica; : exercício 2008 : ano base 2007 / Ministério do Planeja-
• promover um ambiente social pacífico e garantir
mento, Orçamento e Gestão. Secretaria Planejamento e
a integridade dos cidadãos;
Investimentos Estratégicos. Brasília : MP, 2008.
• promover o acesso com qualidade a serviços e
____. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
benefícios sociais, sob a perspectiva da universa-
Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos.
lidade e da eqüidade, assegurando-se seu caráter
Manual de apresentação de estudos de pré-viabilidade de
democrático e descentralizado.
projetos de grande vulto, 2005.
Os fundamentos que sustentam esse modelo são:
____. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
• integração entre planejamento, orçamento e gestão:
desenvolver planejamento, orçamento e gestão por Secretaria de Planejamento e
programas, de forma integrada, em todos os órgãos Investimentos Estratégicos. Orientação Estratégica de
da Administração Pública; Governo – OEG Plano Plurianual 2008-2011: plano plu-
• transparência, participação e controle social: tornar rianual 2008-2011. Brasília: MP, 2007.
públicas as informações referentes à execução CARNEIRO, Carla. Conselhos de políticas públicas:
dos programas de governo, possibilitando maior desafios para sua institucionalização. In SARAVIA &
e melhor controle quanto à aplicação dos recursos FERRAREZI, Políticas Públicas, Enap, 2006.
públicos e aos resultados obtidos; e possibilitar FARAH, Marta. Parcerias, novos arranjos institucionais e
uma participação mais efetiva da sociedade no políticas públicas no nível local de governo. In SARAVIA
processo alocativo; & FERRAREZI, Políticas Públicas, Enap, 2006.
• formação de parcerias: estimular a participação de HILL, Michael. Implementação: uma visão geral. In
outras esferas de governo e da iniciativa privada SARAVIA & FERRAREZI, Políticas Públicas, Enap,
como fontes alternativas ao financiamento dos 2006.
programas; HOWLETT M. & RAMESH, M. Studying Public Policy:
• melhoria do gerenciamento: dotar os administra- Policy Cycles and Policy Subsystems, 1996.
dores públicos de um sistema gerencial estruturado KINGDON, John. Juntando as coisas. In SARAVIA &
e atualizado, visando a facilitar a tomada de deci- FERRAREZI, Políticas Públicas, Enap, 2006.
sões, corrigir desvios e direcionar a aplicação de ____. Como chega a hora de uma idéia? In SARAVIA &
recursos para o alcance dos resultados pretendidos; FERRAREZI, Políticas Públicas, Enap, 2006.
e desenvolver a Administração Pública de forma MASSARDIER, Giles. Redes de Políticas Públicas. In
a melhor definir responsabilidades, difundir a SARAVIA & FERRAREZI, Políticas Públicas, Enap,
conscientização de custos, a melhoria contínua da 2006.
qualidade e, sobretudo, o comprometimento com NORTH, Douglass C. Institutions, institutional change
POLÍTICAS PÚBLICAS

resultados; and economic performance. Cambridge, Cambridge


• avaliação: criar condições para a avaliação dos University Press, 1990.
programas e dos efeitos destes sobre a sociedade, REZENDE, Fernando. Federalismo fiscal no Brasil.
visando à melhoria da gestão e à compatibilização In Revista de Economia Política. Volume 15, nº 3 (59),
da alocação de recursos orçamentários com a ca- julho-setembro 1995.
pacidade de execução e geração de resultados dos ____. Federalismo fiscal: novo papel para estado e mu-
programas. nicípios. 1997.
25
RUA, Maria das Graças. Política Pública e Políticas Pú- b) O mais intenso nível de conflito de interesses ocor-
blicas no Brasil: conceitos básicos e achados empíricos. re nas arenas distributivas, já que, cada vez mais
In O Estudo da Política: tópicos selecionados, Brasília: os governos sofrem com a escassez de recursos.
Paralelo 15, 1998. c) As políticas redistributivas sempre contam com
RUA, Maria das Graças & AGUIAR, Alessandra. A polí- elevado grau de legitimidade social, já que expres-
tica industrial no Brasil,1985-1992: políticos, burocratas sam a disposição da classe política para superar as
e interesses organizados no processo de policy-making. desigualdades sociais.
In SARAVIA & FERRAREZI, Políticas Públicas, Enap, d) As políticas regulatórias têm por finalidade asse-
2006. gurar a proteção dos cidadãos contra o poder dos
SABATIER, PAUL e JENKENS-SMITH, HANK. “The monopólios privados.
Advocacy Coalition Framework: An Assessment”. In: e) As políticas distributivas são aquelas que mais
Theories of the Policy Process. Edited by Paul A Sabatier, contribuem para o avanço da democracia, já que
New York: Westview Press, 1999. permitem, aos representantes políticos, alianças,
SARAVIA, Enrique. Introdução à teoria da política pú- composições e barganhas com elevado grau de
blica. In SARAVIA & FERRAREZI, Políticas Públicas, legitimidade e transparência.
Enap, 2006.
SOARES, Márcia Miranda. Federação, democracia e 4. (FCC/Gestor-BA/2004) O Programa “Bolsa Escola”
instituições políticas. In REVISTA LUA NOVA, Nº 44, consiste em destinar – temporariamente – em dinhei-
1998. ro, um salário mínimo mensal às famílias em situação
SUBIRATS, Joan. El papel de la burocracia en el proceso de carência material e precariedade social. Um dos
de determinación e implementación de las políticas pu- requisitos é que todos os filhos da família entre 7 e
blicas. In SARAVIA & FERRAREZI, Políticas Públicas, 14 anos estejam matriculados em escolas públicas.
Enap, 2006. Programa “Bolsa Escola” é uma ação governamental
de tipo
EXERCÍCIOS a) regulatória
b) auto-regulatória
1. (FGV/FNDE/2007) Assinale a alternativa que melhor c) libertária
descreva o conceito de “política pública”. d) distributiva
a) Um programa de governo. e) redistributiva
b) O Plano Plurianual do governo.
c) Um conjunto de decisões interativas de governo 5. (Esaf/Ipea/Técnico/2004) O estudo das políticas pú-
com objetivos prefixados. blicas mostra que é possível haver diferentes arenas
d) Um conjunto de marcos jurídicos. decisórias, caracterizando distintas modalidades de
e) Um projeto de lei. “políticas”. Entre os enunciados abaixo, versando
sobre este tema, assinale a única assertiva correta.
2. (FGV/FNDE/2007) Analise as alternativas a seguir: a) O mais intenso nível de conflito de interesses
I. As políticas públicas são exclusividade da Adminis- ocorre nas arenas distributivas, porque a base de
tração Pública e das agências reguladoras. arrecadação dos governos vem-se estreitando con-
II. Políticas públicas distributivas são as que surgem sistentemente e os decisores enfrentam restrições
de demandas tópicas, específicas, restritas e de bens fiscais cada vez mais graves.
divisíveis e de impacto localizado. b) As políticas redistributivas acirram os conflitos,
III. Políticas públicas regulatórias são as que apresen- caracterizando-se como jogos de soma-zero, nos
tam impactos específicos e individualizados, elevando quais o benefício de um grupo ou coletividade
custos ou reduzindo a possibilidade de ação de agentes implica necessariamente o prejuízo dos interesses
privados, embora as decisões alocativas se baseiem do grupo oposto, pelo menos no curto prazo.
em leis e regulamentos que sejam estabelecidos em c) As políticas distributivas são aquelas que mais
termos gerais. contribuem para o avanço da democracia, pois
Assinale: permitem aos representantes políticos alianças,
a) se somente as alternativas II e III estiverem cor- composições e barganhas com elevado grau de
retas. legitimidade e transparência.
b) se somente a alternativa II estiver correta. d) A finalidade das políticas regulatórias é estabelecer
c) se somente as alternativas I e II estiverem corretas. o ordenamento da atividade econômica, de maneira
d) se somente as alternativas I e III estiverem cor- a assegurar a proteção dos cidadãos contra o poder
retas. dos monopólios privados.
e) se somente a alternativa I estiver correta. e) As políticas redistributivas sempre contam com
elevado grau de legitimidade social, já que expres-
3. (Esaf/EPPGG/2002) O estudo das políticas públicas sam a disposição da classe política para superar as
mostra que é possível haver diferentes arenas decisórias, desigualdades sociais.
POLÍTICAS PÚBLICAS

caracterizando distintas modalidades de policies. Entre


os itens abaixo, assinale a única assertiva correta. 6. (Esaf/APO/2002) Indique qual dos itens abaixo não
a) As políticas redistributivas acirram os conflitos, é considerado característico do processo de decisão
caracterizando-se como jogos de soma zero, nos incremental em políticas públicas.
quais o benefício de um grupo ou coletividade só a) Busca de composição de interesses e utilização das
pode ocorrer a partir do prejuízo dos interesses do informações disponíveis, ainda que incompletas.
grupo oposto. b) Mudanças graduais ao longo do tempo.
26
c) Inexistência de análise exaustiva das possibilidades c) As ações governamentais na área da assistência
de políticas existentes. social serão realizadas com recursos do orçamento
d) Pressão dos usuários, funcionários e beneficiários da seguridade social, além de outras fontes, e organi-
de um programa ou política pública, visando a sua zadas com base em certas diretrizes, entre as quais a
continuação. participação da população, por meio de organizações
e) Possibilidade de reverter às condições anteriores a representativas, na formulação das políticas e no
implementação do programa ou política pública. controle das ações em todos os níveis.
d) O Estado promoverá programas de assistência
7. (Cespe/TEC em PP-SE/2001) Ambiente, saneamento integral à saúde da criança e do adolescente, sendo
básico e vigilância sanitária são alguns dos assuntos obrigatória a participação de representantes do
públicos que envolvem cidadãos e Estado. Contempo- ministério público, dos órgãos locais de assistência
raneamente, é crescente a participação dos cidadãos, e de entidades não governamentais.
com novas formas de articulação de interesses em e) Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
organizações não- governamentais (ONGs) e em devem instituir Fundos de Combate à Pobreza, de-
redes de consumidores ou usuários. Isso exige que vendo os referidos Fundos ser geridos por entidades
se repensem as relações de um indivíduo com outro, que contem com a participação da sociedade civil.
de indivíduos com grupos e da sociedade com o
Estado. Em relação a esse assunto, assinale a opção 9. (Esaf/EPPG/2002) A tomada de decisão em políticas
incorreta. públicas pode ser considerada analiticamente dife-
a) As burocracias insuladas as redes de especialistas rente da implementação. Porém a realidade empírica
em políticas e o acesso restrito às informações mostra que decisão e implementação são entremeadas,
para a tomada de decisão são alguns dos fatores sendo a implementação a decisão em processo. Assim,
que empurraram a sociedade a formar ONGs para como regra as decisões políticas não são tomadas inte-
tratarem de questões específicas, como, por exem- gralmente durante a formulação de qualquer política.
plo, meio ambiente e vigilância sanitária. Muitas decisões ocorrem durante a implementação
b) Os burocratas e os políticos têm interesses que rara- por vários motivos, exceto:
a) por falta de informação e de conhecimento técnico
mente são privilegiados nessas arenas de políticas
específico dos tomadores de decisão, que acreditam
públicas, exatamente porque os grupos e as ONGs
que os implementadores estarão mais bem capaci-
têm uma atuação bastante organizada, conforman-
tados a tomar certas decisões.
do as políticas públicas nesses campos.
b) porque houve conflitos que não puderam ser
c) A noção de que os caronas se beneficiam das polí-
resolvidos durante a formulação, fazendo com
ticas públicas que promovem o bem comum, como
que a decisão se restringisse ao consenso mínimo
a preservação da natureza para gerações futuras, possível na ocasião.
sem pagarem por isso, é racional para o indivíduo, c) porque no momento específico em que a política
mas completamente irracional do ponto de vista da foi formulada seria politicamente inconveniente
coletividade. suscitar questões de alto potencial de conflito,
d) É especificamente nos campos em que existem que poderiam fragilizar até mesmo as decisões
relações indivíduos–Estado que as políticas públicas principais.
podem ser mais bem monitoradas em sua imple- d) porque já se conhecem todos os impactos efetivos
mentação por meio da criação de mecanismos das medidas tomadas e a racionalidade da classe
públicos, não-estatais, de controle democrático e política mostra ser pouco recomendável assumir
de participação cidadã. o ônus de várias decisões de uma só vez.
e) porque os interesses envolvidos em uma dada polí-
8. (Esaf/EPPG/2005) A criação de mecanismos de tica eram poderosos o suficiente para inviabilizá-la
participação social nas decisões relativas à formula- e para ameaçar os tomadores de decisão, caso im-
ção e gestão de políticas públicas está presente no pusessem demasiadas renúncias a um só tempo.
texto original e nas emendas à Constituição de 1988.
As frases a seguir refletem essa orientação. Indique 10. (Esaf/EPPG/2000) Pode-se corretamente compreen-
a que está incorreta, conforme as opções abaixo. der o insulamento burocrático como:
a) A política agrícola será planejada e executada na a) Uma relação entre a burocracia e a sociedade civil,
forma da lei, com a participação efetiva do setor de baseada na troca de dados e informações a fim
produção, envolvendo produtores e trabalhadores de aumentar a eficácia das ações o exercício da
rurais, bem como dos setores de comercialização, accountability.
de armazenamento e de transportes. b) Uma interação dentro da burocracia, baseada na
b) A seguridade social compreende um conjunto inte- hierarquia e na divisão de funções, com o objetivo
POLÍTICAS PÚBLICAS

grado de ações de iniciativa os Poderes Públicos e de superar a fragmentação das políticas públicas e
da sociedade. Compete ao Poder Público, com base da ação do poder público.
em certos objetivos, entre os quais obter o caráter c) Um tipo especial de burocracia, pouco acessível
democrático e descentralizado da administração, às influências da sociedade civil, criada para atuar
mediante gestão quadripartite, com participação eficientemente, sem o risco de ser contaminada
dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposen- por grupos burocráticos antigos, porosos e menos
tados e do Governo nos órgãos colegiados. eficientes.
27
d) Uma relação entre várias burocracias, inclusive 13. (Esaf/CGU/AFC/2008) A despeito das inúmeras
entre as burocracias civis e militares, públicas e e profundas mudanças pelas quais vem passando
privadas, centrada na busca de excelência e na o Estado brasileiro nas últimas décadas, algumas
eficiência máxima. características das políticas públicas permanecem.
e) Uma relação entre duas ou mais agências que têm Examine os enunciados abaixo e assinale o que não
objetivos comuns, tais como redução de custos, oti- é verdadeiro sobre as políticas públicas no Estado
mização ou adoção de programas governamentais. brasileiro contemporâneo.
a) Nos anos recentes, observa-se a superação da frag-
11. (Esaf/CGU/AFC/2008) De acordo com a literatura em mentação das políticas públicas, já que os atores
políticas públicas, agenda governamental consiste em sociais e o terceiro setor vêm atuando no sentido
um conjunto de temas que, em dado momento, são de cobrir as lacunas de articulação e cooperação
alvo de séria atenção tanto por parte das autoridades entre diferentes agências setoriais.
governamentais como de atores fora do governo mas b) As políticas geralmente emperram devido à
estreitamente associadas às autoridades. Sobre a for-
competição interburocrática, que faz com que
mação ou construção da agenda de políticas públicas,
sejam fragmentadas em áreas de controle de cada
pode-se afirmar que:
a) consiste em um processo de identificação e re- agência, na busca de uma convivência pacífica;
conhecimento de problemas, o que a distingue ou que provoca superposições que levam à baixa
da formulação, que consiste na especificação das racionalidade e ao desperdício de recursos.
alternativas de ação governamental. c) As políticas sofrem com a descontinuidade admi-
b) consiste em uma lista de temas que são objeto das nistrativa, pois as mudanças de dirigentes provo-
preocupações de todos os agentes governamentais, cam alterações de rumo ou de prioridade, levando
independentemente dos diferentes níveis e setores ao redimensionamento, reorientação, substituição,
de governo. suspensão ou abandono de ações em andamento.
c) depende de uma diferenciação entre o que é uma d) Existe uma forte clivagem entre formulação/deci-
situação e o que é um problema, com base em va- são e implementação, que faz com que a percepção
lores, na análise de dados empíricos, em pressões da complexidade das políticas públicas se restrinja
políticas, em eventos críticos e até no fluxo da ao ambiente/fase da formulação/decisão, enquanto
política. a implementação é vista como um conjunto de
d) não envolve a exclusão de problemas, que é na- tarefas de baixa complexidade, acerca das quais
turalmente causada pela mudança da realidade ou as decisões importantes já foram tomadas.
do foco de atenção das autoridades, pela banali- e) Apesar dos esforços de descentralização políti-
zação das situações ou pela dinâmica dos ciclos ca, ainda é reduzida a autonomia das agências
sociais. implementadoras e, em termos gerais, é frágil a
e) é determinada pelos meios mediante os quais as capacidade de gestão de políticas públicas nos
autoridades tomam conhecimento das situações, níveis subnacionais de governo.
como, por exemplo, os indicadores, os eventos-fo-
co, críticas severas do Congresso ou da mídia. 14. (Esaf/CGU/AFC/2008) Sobre os atores envolvidos
nas políticas públicas, assinale o único enunciado
12. (Esaf/CGU/AFC/2008) A implementação é o processo incorreto.
mediante o qual decisões relativas a políticas públicas a) Atores são exclusivamente aqueles que têm algum
tornam-se intervenção concreta na realidade. Para que
tipo de interesse em jogo em uma política pública
esse processo seja exitoso, algumas condições devem
e variam conforme a sua inserção institucional,
ser observadas, independentemente do modelo de
implementação. Entre os enunciados abaixo, relativos os seus recursos de poder e suas expectativas quan-
a tais condições de êxito da implementação, assinale to aos efeitos das decisões sobre tais interesses.
o único incorreto. b) Os atores visíveis definem a agenda de políticas
a) A legislação deve definir os objetivos da política de enquanto os atores invisíveis têm maior poder de
modo claro e consistente e restringir a emergência influência na escolha das alternativas de resolução
de outras políticas que tenham objetivos conflitan- dos problemas.
tes ou que concorram pelos mesmos recursos. c) São atores invisíveis aqueles que, embora atuem
b) Os agentes responsáveis pelas instituições imple- fora do centro das atenções da sociedade, são do-
mentadoras devem dispor de capacidade gerencial tados de elevado poder de influenciar as políticas
e de habilidades políticas e devem estar compro- públicas devido à sua posição econômica, como
metidos com os objetivos da política. financistas, banqueiros, empreiteiros.
c) O arranjo institucional da implementação deve d) Também são atores invisíveis as comunidades de
prever os mecanismos necessários de integração especialistas que agem de forma relativamente
hierárquica entre as agências envolvidas. coordenada: acadêmicos, consultores, assessores
POLÍTICAS PÚBLICAS

d) A política deve contar com o apoio de alguns e funcionários legislativos, burocratas de carreira
parlamentares e líderes do Executivo e não deve e analistas ligados a grupos de interesses.
sofrer restrições por parte do Judiciário. e) Os empresários políticos são atores de origem di-
e) A legislação deve estruturar o processo de imple- versa, dispostos a investir recursos para promover
mentação de maneira que tanto os agentes imple- políticas que possam lhes favorecer, por exemplo:
mentadores quanto os grupos-alvo entendam o seu políticos eleitos ou sem mandato, burocratas de
papel e possam ter o desempenho esperado. carreira, lobistas, jornalistas, acadêmicos.
28
15. (Esaf/CGU/Prev. corrupção/2008) Qual dos fatores re- GABARITO
lativos à implementação, listados a seguir, é específico
do modelo top-down? 1. c
a) Regras para tomada de decisões. 2. a
b) Recursos financeiros. 3. a
c) Critérios para resolução de conflitos. 4. e
d) Mecanismos e/ou canais para encaminhamento de 5. b
demandas e apoios. 6. e
e) Cadeia de comando hierárquico. 7. b
8. d
16. (Esaf/CGU/Prev. corrupção/2008) Entre as estraté- 9. d
gias e instrumentos do monitoramento e avaliação 10. b
de políticas públicas, encontram-se todas as listadas 11. c
abaixo, exceto: 12. a
a) uso mais intensivo de métodos e técnicas quanti- 13. a
tativos, especialmente estatísticas analíticas. 14. c
b) prioridade e legitimidade crescentes da avalia- 15. e
çãointerna. 16. a
c) incorporação de questões éticas na realização das 17. d
avaliações.
d) uso da avaliação como instrumento para fortalecer
a participação e empoderar os interessados na
política ou programa avaliado.
e) desenvolvimento de avaliações baseadas na teoria.

17. (Esaf/CGU/Prev. corrupção/2008) Uma importante


dimensão da gestão pública é o monitoramento e
a avaliação das políticas públicas, que também são
considerados uma fase do ciclo das políticas e um
instrumento de especial relevância para a gestão
orientada para resultados. Apesar da sua reconhe-
cida importância, o monitoramento e a avaliação
de políticas públicas enfrentam grandes desafios de
institucionalização, além de alguns consideráveis
problemas metodológicos. Examine os enunciados
abaixo sobre esse tema e assinale a resposta correta.
1 – Dada a multiplicidade de atores envolvidos no
monitoramento e avaliação de políticas públicas,
com posições e interesses distintos, no Brasil o fluxo
das informações passou a ser guiado pela definição
das necessidades de informação por parte desses
diferentes interessados.
2 – No Brasil a construção do desenho da avaliação,
como regra, passou a incorporar as perspectivas de
todos os grupos com interesse direto no projeto, devi-
do ao risco dos resultados não obterem legitimidade
ou relevância para os agentes envolvidos.
3 – No Brasil, na maioria das organizações públicas
a coleta, processamento, análise e, especialmente
a difusão das informações aos diversos atores envol-
vidos têm se tornado generalizadas, sendo cada vez
mais reconhecidas como tarefas essenciais à gestão
orientada para resultados.
4 – Devido à multicausalidade dos fenômenos
a identificação dos fatores que levaram a certos resul-
tados exige métodos quase experimentais que têm se
tornado cada vez mais utilizados no monitoramento
POLÍTICAS PÚBLICAS

e avaliação de políticas públicas no Brasil.

a) Todos os enunciados estão corretos.


b) Somente o enunciado de número 2 está incorreto.
c) Somente o enunciado de número 1 está incorreto.
d) Todos os enunciados estão incorretos.
e) Somente os enunciados 3 e 4 estão incorretos.
29
GESTÃO GOVERNAMENTAL
Alessandro Fontenelle

SISTEMA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO DO da articulação política e técnica destes três documentos,


GOVERNO FEDERAL determinando a compatibilidade ou adequação no conjunto
formado pelo PPA, LDO e LOA, como segue:
CONCEITOS BÁSICOS DO SISTEMA DE PLANEJAMENTO, • Art. 5º – Reitera a necessária compatibilidade entre
ORÇAMENTO E FINANCEIRO o PPA, a LDO e a LOA;
• Art.16 – Determina que o aumento de despesas
• Processo ou ciclo orçamentário brasileiro: para a criação, expansão ou aperfeiçoamento de
atividade contínua e simultânea de elaboração, ação governamental deverão ser compatíveis com
aprovação, execução, controle e avaliação da o PPA e a LDO, além de adequadas à LOA e à sua
ação da Administração Pública Federal – APF nos programação financeira; e
seus aspectos físico e financeiro, com base em três • Art.15 e 16 – Cabe ao ordenador de despesa decla-
instrumentos interligados: rar esta compatibilidade e adequação, sem o que
- Plano Plurianual Anual – PPA, que estabele- serão consideradas não autorizadas, irregulares e
ce uma visão programática de base estratégica lesivas ao patrimônio público.
de médio prazo, definindo objetivos e metas
para o período, cujo horizonte é de 4 anos, AS PEÇAS DO PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL
pré-condicionando a ação anual de curto prazo
conseqüente; Do que Esse Texto Tratará, Resumidamente:
- Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO, que
• Plano Plurianual (PPA) – Lei de periodicidade
dimensiona as ações referentes aos programas
quadrienal, de hierarquia especial e sujeita a prazos
do PPA, propondo metas físicas e financeiras
e ritos peculiares de tramitação, instituída pela
em horizonte anual; e Constituição Federal de 1988, como instrumento
- Lei Orçamentária Anual – LOA, que provê os normatizador do planejamento de médio prazo e
recursos necessários para cada ação constante da de definição das macro-orientações do Governo
LDO no horizonte anual. Federal para a ação nacional em cada período de
• Este processo ocorre de forma abrangente, sis- quatro anos, sendo estas determinantes (manda-
temática e continuada de planejamento da ação tórias) para o setor público e indicativas para o
governamental, conforme disposto no art. 1741. setor privado (art. 174 da Constituição). Conso-
da CF/1988. O processo ou ciclo orçamentá- ante estabelece o art. 165, § 1º da Constituição,
rio desenvolve-se em um período maior que o “a lei que instituir o PPA estabelecerá, de forma
exercício financeiro anual2 (1º de janeiro e 31 de regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da
dezembro de cada ano), no qual se promove a administração pública federal para as despesas de
execução orçamentária, permitindo que programas capital e outras delas decorrentes e para as relativas
que se estendam além de um ano sejam tratados de aos programas de duração continuada”. Deve ter
forma similar em mais de um exercício. Este ciclo como conteúdo as diretrizes, objetivos e metas
envolve: territoriais descentralizadas para fundamentar os
- elaboração e/ou reelaboração das três peças programas e suas respectivas despesas de capital e
referidas pelo Poder Executivo (incluindo as outras decorrentes, bem como indicar os programas
demandas do Poder Judiciário); de duração continuada que se estenderão por mais
- proposição ao Poder Legislativo, que as dis- de um exercício. Com vigência de 4 anos, com
cute e as aprova, inclusive com possibilidades início no 2º ano do mandato presidencial e término
de emendas e substitutivos; no 1º ano do mandato subseqüente.
- execução pelo Poder Executivo e pelo Poder • Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) – A Lei
Judiciário, concomitantemente com o seu de Diretrizes Orçamentárias é de peridiocidade
acompanhamento pelo Poder Legislativo; e, anual, de hierarquia especial e sujeita a prazos
por fim, e ritos peculiares de tramitação, destinada a pa-
- controle e avaliação do orçamento pelo Poder rametrizar a forma e o conteúdo com que a lei
Legislativo, que autorizou a realização dos orçamentária de cada exercício deve se apresentar
programas e ações. e a indicar as prioridades a serem observadas em
sua elaboração. Deve conter as metas e priori-
GESTÃO GOVERNAMENTAL

Embora se verifique a necessidade de integração entre dades a serem contempladas pelo Orçamento,
as três peças, a Lei Complementar 101/2001 – Lei de Res- as orientações para a elaboração do orçamento,
ponsabilidade Fiscal – LRF estabeleceu a obrigatoriedade as alterações na legislação tributária que entrarão
em vigor no ano seguinte e a política de aplicação
1 CF 1988 – “...Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade eco- das agências financeiras de fomento.
nômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo
e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para • Lei Orçamentária Anual (LOA) – Lei de Natu-
o setor privado.” reza Especial, em razão do seu objeto e da forma
2 O art. 34 da Lei nº 4.320/1964 determina que o exercício financeiro coincidirá
com o ano civil.
peculiar de tramitação que lhe é definida pela
30
Constituição, por meio da qual são previstas as lhamento definido pela LDO do exercício. É a peça
receitas, autorizadas as despesas públicas, explici- que autoriza os Poderes Executivo e Judiciário a
tados a política econômica financeira e o programa realizar suas ações no exercício, considerando três
de trabalho do Governo e definidos os mecanismos sub-orçamentos: Orçamento Fiscal, Orçamento
de flexibilidade que a Administração fica autori- de Seguridade Social e Orçamento de Investi-
zada a utilizar. A LOA deriva de projeto (PLO) mento das Empresas Estatais.
formalmente remetido à deliberação do Legislativo
pela Chefia do Poder Executivo, apreciado pelo Assim, Um único PPA condicionará 4 (quatro) LDO
Parlamento segundo a sistemática definida pela sucessivas, que por sua vez, orientarão 4 (quatro) LOA,
Lei Maior, possuindo a estrutura e nível de deta- respectivamente, como segue:
Exercícios Anuais

0 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano 5º ano 6º ano 7º ano 8º ano 9º ano


PPA 0 PPA 1 PPA 2 PPA 3
LDO 0.3 LDO 0.4 LDO 1.1 LDO 1.2 LDO 1.3 LDO 1.4 LDO 2.1 LDO 2.2 LDO 2.3 LDO 2.4
LOA 0.3 LOA 0.4 LOA 1.1 LOA 1.2 LOA 1.3 LOA 1.4 LOA 2.1 LOA 2.2 LOA 2.3 LOA 2.4

– Prazos para as peças componentes do Processo Orçamentário (segundo o art. 35, § 2º, do ADCT – Ato das Dis-
posições Constitucionais Transitórias):

Projeto Prazo de envio (até) Prazo de devolução(até)


4 meses antes do encerramento do 1º exercício financeiro. Deve ser Encerramento da sessão legislativa. Deve ser devol-
PPA
encaminhado até 31/08. vido até 22/12.
8,5 meses (oito meses e meio) antes do encerramento do exercício fi- Encerramento do primeiro período da sessão legisla-
LDO
nanceiro. Deve ser encaminhado até 15/04. tiva. Deve ser devolvido até 17/07.
4 meses antes do encerramento do exercício financeiro. Deve ser en- Encerramento da sessão legislativa. Deve ser devol-
LOA
caminhado até 31/08. vido até 22/12.

O Plano Plurianual – PPA no PPA, ou em lei que autorize a inclusão, sob pena
• Conceito: instrumento de base para o planejamento de crime de responsabilidade.
governamental, previsto na CF 1988, nos Art. 165, • Prazos de vigência e possibilidade de revisão: O
§ 1º3 e no Art. 167, § 1º4. O PPA procura integrar, PPA tem vigência do segundo exercício financeiro
no horizonte do médio prazo, as questões ineren- do mandato presidencial até o final do primeiro
tes à visão indicativa de planejamento estratégico exercício financeiro do mandato presidencial sub-
(duração de 8 anos), com os aspectos normativos seqüente, devendo ser encaminhado ao Poder Le-
do planejamento operacional (duração de um ano, gislativo até quatro meses antes do término do pri-
coincidente com o exercício fiscal). meiro exercício financeiro do mandato subseqüente
• Competência jurídica: é o Executivo (Presidente e devolvido ao Poder Executivo para sanção até o
da República) que detém competência privativa encerramento da sessão legislativa. Há previsão de
para remeter o Projeto de Lei do PPA ao Congresso edição de lei complementar que disponha sobre a
Nacional. Uma vez enviado ao Parlamento, irá para vigência, os prazos, a elaboração e a organização
a Comissão Mista de Planos, Orçamentos e Fisca- do PPA; no entanto, essa lei complementar ainda
lização, onde poderá sofrer emendas. Finalmente, não foi promulgada, ainda mantendo-se em vigor
após o parecer final da citada comissão, o Projeto as regras estatuídas no art. 35, § 2º, Inciso I do
de Lei do PPA será apreciado pelo Congresso Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
Nacional na forma do Regimento Comum. O PPA não é imutável no seu período de vigência,
• O que deve conter: A lei ordinária que institui podendo ser revisto por lei específica, com a mes-
o PPA estabelecerá, por regiões, as diretrizes, ma tramitação anteriormente descrita.
objetivos e metas da administração pública para
as despesas de capital e outras delas decorrentes Elaboração Do PPA: Conceitos Básicos
previstas, bem como aquelas relativas aos progra-
mas de duração continuada, que se estendam por Objetivo
GESTÃO GOVERNAMENTAL

mais de um exercício financeiro anual. Nenhum in- O objetivo básico do PPA é construir uma ponte entre
vestimento cuja execução ultrapasse um exercício a estratégia, que deriva do processo político e do seu ajuste
financeiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão às condições macroeconômicas e sociais, e a operação, que
implica a ação física e financeira propriamente, como pode
3
CF 1988 – “... Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: ser apreciado na Figura a seguir. O processo de elaboração
I – o plano plurianual;...”
4
CF 1988 – “...Art. 167...§ 1º – Nenhum investimento cuja execução ultrapasse tem como função primordial organizar as ações de governo
um exercício financeiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano em programas, voltados para a oferta de bens e serviços
plurianual, ou sem lei que autorize a inclusão, sob pena de crime de responsa-
bilidade.” que atendam as demandas da sociedade.
31
ciais de trabalho custeados por dotações globais, isto é,
pelas receitas da União. Em termos plurianuais, o Art.256
da mesma lei define a necessidade de existirem programas
correlacionados a metas, que são definidas como a reali-
zação de obras e de prestação de serviços.
Posteriormente, quando do resgate da filosofia de
orçamento-programa no lançamento do PPA, o Decreto
2.829/1998 estabeleceu as primeiras normas para a sua
elaboração e execução, bem como dos Orçamentos da
União. O Art. 2º do Decreto 2.829/1998 determina o que
Figura: Processo esquemático de elaboração do cada programa deverá conter o seguinte:
PPA
Objetivo
Orientação Estratégica de Governos Órgão responsável
O PPA parte de uma base de pensamento político/ Valor global
estratégico, denominada de Orientação Estratégica de Prazo de conclusão
Fonte de financiamento
Governo, resultante da visão político/partidária sufragada Indicador de resultado
na eleição majoritária, sendo, basicamente, o programa do Metas
governo vigente. A Orientação Estratégica de Governo Ações extra-orçamentárias
não se confunde com o Estado, sendo mais um conjunto Regionalização
de diretrizes que conformam a visão de governo, normal-
mente associada ao longo prazo. Cada programa do PPA, visa à solução de um proble-
ma específico ou ao atendimento de uma demanda da So-
Base Estratégica ciedade; seus objetivos, portanto, devem ser enunciados de
Resultado da Orientação Estratégica de Governo, que modo conciso, evitando idéias mais genéricas, e indicando
inclui a orientação setorial, consubstanciada nas Orienta- o que se pretende de forma clara, categórica e determinante
ções Estratégicas dos Ministérios, confrontada e analisada com aquela ação, de forma a permitir mensuração dos
com a situação atual do País, no cenário macroeconômico resultados sobre o público-alvo, por meio de indicadores
e social geral, o que permite a definição de objetivos econômicos e sociais pré-estabelecidos. Posteriormente,
setoriais baseados nas tendências setoriais observadas, deve-se reunir o conjunto das ações que contribuem para
seja em termos de problemas a solucionar, seja de opor- a consecução de ações de base:
tunidades a explorar. Assim, a base estratégica conforma • Orçamentária, que são os projetos, atividades e
as perspectivas de longo prazo para a ação federal, dire- operações especiais dos Orçamentos Fiscal, da Se-
cionando os esforços do governo para atender a estratégia guridade Social e de Investimentos das Estatais;
de desenvolvimento ou política de governo, momento em • Não-orçamentária, que configuram os financia-
que são elaborados os programas necessários. mentos por entidades oficiais de crédito, a renúncia
fiscal, os fundos constitucionais, fundos adminis-
Programas trados pela União, os dispêndios das estatais e as
Os programas são os instrumentos de organização normas de parcerias com os Estados, os Municípios
geral e setorial da ação governamental, destinando-se a e o setor privado.
enfrentar um problema detectado na avaliação da situação Os indicadores podem ser compreendidos como
atual ou a promover o desenvolvimento de uma oportuni- instrumentos que permitem identificar e medir aspectos
dade que vai conduzir a uma melhoria futura da sociedade,
relacionados a um determinado conceito, fenômeno,
permitindo que se consubstanciem ações operacionais es-
problema ou resultado de uma intervenção na realidade.
pecíficas para atendimento dessas questões. Os programas
explicitam a forma como ocorrerá, na prática, a estratégia A principal finalidade de um indicador é traduzir de forma
de desenvolvimento ou de política de governo, definindo mensurável determinado aspecto de uma realidade dada
metas, prioridades e resultados esperados para cada um (situação social) ou construída (ação de governo), de ma-
deles. A alocação dos recursos orçamentários e financeiros neira a tornar operacional a sua observação e avaliação.
é orientada por programas, nos sucessivos orçamentos Do ponto de vista da produção de bens e serviços públicos
anuais, e explicita a distribuição regional das metas, prio- ou privados e dos resultados produzidos, destacam-se
ridades e recursos, neste caso, para propiciar a integração duas principais tipologias de mensuração de aspectos
territorial das ações desenvolvidas pela União, Distrito fundamentais da gestão:
Federal, Estados e Municípios. Esta visão é derivada da • pela atuação na geração de produtos;
Lei 4.320/1964, que disciplina a elaboração, a proposição • pelas dimensões de desempenho.
e a operação da peça orçamentária. No Inciso IV do Art. 22 A primeira tipologia se refere aos instrumentos de
GESTÃO GOVERNAMENTAL

desta lei5, exige-se a especificação dos programas espe- mensuração das principais variáveis associada ao cum-
primento de metas e objetivos, relacionando os insumos
5
Lei 4.320/1964 – “...Art. 22 A proposta orçamentária que o Poder usados e os custos incorridos em sua utilização em proces-
Executivo encaminhará ao Poder Legislativo nos prazos estabe-
lecidos nas Constituições e nas Leis Orgânicas dos Municípios, 6
Lei 4.320/1964 – “...Art. 25. Os programas constantes do Quadro
compor-se-á:...IV – Especificação dos programas especiais de trabalho de Recursos e de Aplicação de Capital sempre que possível serão
custeados por dotações globais, em termos de metas visadas, decom- correlacionados a metas objetivas em termos de realização de obras
postas em estimativa do custo das obras a realizar e dos serviços a e de prestação de serviços. Parágrafo único. Consideram-se metas
prestar, acompanhadas de justificação econômica, financeira, social os resultados que se pretendem obter com a realização de cada pro-
e administrativa.... grama.”
32
sos destinados a ofertar bens ou serviços (produtos) des- – dificuldade na definição e operacionalização do
tinados à obtenção de resultados junto a um determinado que se espera como resultado final quando for
público-alvo. Cada um dos aspectos do processo produtivo o caso de estabelecer melhorias na “qualidade
apresentados acima dá origem a indicadores capazes de de vida” ou incrementar a “segurança da popu-
caracterizar o aspecto, como segue: lação”, que são conceitos multidimensionais,
• Indicadores de Insumos: referem-se aos recur- envolvendo mais de uma variável sujeita, ainda,
sos materiais, financeiros e humanos utilizados, à avaliação qualitativa de difícil escalonamento
geralmente expressos no número de profissionais comparativo;
envolvidos, quantidade de horas necessárias para – dificuldade em isolar os fatores externos ao pro-
o desenvolvimento de um projeto ou custo de grama que possam contribuir para o seu resultado
aquisição de insumos. São indicadores úteis para final;
dimensionar os recursos necessários para a produ- – prazos de transformação das condições iniciais
ção, mas não são capazes de indicar o cumprimento enfrentadas pelo programa podem extrapolar o
de objetivos finais. período de vigência do PPA; e
• Indicadores de Processos: quantificam o desem- – a apuração do indicador pode implicar em custos
penho de atividades relacionadas à forma de produ- proibitivos, pela necessidade de realização de
ção de bens e serviços, tais como procedimentos de avaliações ou pesquisas custosas e/ou demoradas
aquisições (dias de prazo para contratação de bens para sua obtenção.
ou serviços) ou realização de atividades (prazo • Eficácia, sendo a medida do grau de atendimento
médio para concessão de licenças ambientais). das metas fixadas para um determinado projeto,
• Indicadores de Produtos: demonstram quan- atividade ou programa em relação ao previsto.
titativamente os bens e serviços produzidos por O percentual de execução física e o percentual de
um programa, que são resultados da combinação execução financeira se constituem em exemplos
um conjunto de insumos mediante determinado de indicadores de eficácia da ação.
processo. No plano plurianual são sempre repre- • Eficiência, sendo a medida da relação entre os re-
cursos efetivamente utilizados para a realização de
sentados pela realização das metas físicas de ações,
uma meta para um projeto, atividade ou programa
que resultam em produtos específicos, por exem-
frente a padrões estabelecidos.
plo, “cidadão vacinado”, no caso de uma ação em
• Economicidade ou economia, tendo a ver com
programas destinados à erradicação de doenças.
a minimização dos custos de aquisição dos recur-
• Indicadores de Resultado: estão relacionados
sos utilizados na consecução de uma ação, sem
aos objetivos que determinado programa visa a comprometimento da qualidade desejada, sendo
cumprir. Também são denominados indicadores de de grande importância para o gerenciamento de
impacto e se relacionam à efetividade do programa, programas. No PPA, geralmente não são expli-
conforme será mostrado na seção seguinte. São citados na forma de indicadores de programa e
indicadores que informam quanto às conseqüências são freqüentes na elaboração e acompanhamento
da realização de um programa. de planos gerenciais, relacionando variáveis de
custo de aquisição de insumos para a realização
A segunda tipologia de indicadores é intrinsecamente de determinado produto.
relacionada à primeira. A primeira, porém, se destina
principalmente aos objetivos de prestação de contas e Cada indicador no PPA deve possuir os atributos
controle gerencial, enquanto a última é mais voltada à especificados a seguir:
avaliação e à tomada de decisões, situação que se deve • Denominação, que será a forma pela qual o indi-
à possibilidade de se estabelecer parâmetros relativos ao cador será apresentado à sociedade.
mérito da intervenção realizada pelo programa. • Unidade de medida, configura o padrão esco-
No caso da Administração Pública, o desempenho lhido para mensuração da relação adotada como
se refere à realização de compromissos assumidos, ao indicador. Por exemplo, para o indicador “taxa de
cumprimento daquilo a que estava obrigado pelas compe- analfabetismo” a unidade de medida seria “porcen-
tências inerentes à função ou cargo, ou ainda pela respon- tagem”, e para o indicador “taxa de mortalidade
sabilidade atribuída circunstancial ou permanentemente infantil” a unidade de medida seria “1/1000” (1
a uma função dirigente ou a um órgão. Para se realizar óbito para cada 1000 nascimentos).
uma avaliação de desempenho de programa, é necessário • Índice de referência, que vai expressar a situação
explicitar e precisar a que se refere à avaliação, quais mais recente do problema e sua respectiva data de
dimensões do desempenho interessam, a partir da análise apuração, permitindo a aferição de um indicador
dos seguintes aspectos de: em um dado momento, mensurado com a unidade
• Efetividade, que é a medida do grau de atendimen- de medida escolhida.
to dos objetivos que orientaram a constituição de • Índices esperados ao longo do PPA, conforma a
GESTÃO GOVERNAMENTAL

um determinado Programa, tendo como referência trajetória situacional que se deseja atingir com a
os seus impactos na sociedade. Essa categoria de execução do programa, expresso pelo indicador,
indicadores é fundamental para a mensuração do ao longo de cada ano do período de vigência do
resultado de um programa destinado a solucionar PPA.
um problema ou uma demanda social, sendo o • Índice ao final do programa, aplicável somente
indicador de programa por excelência. Contudo, para programas temporários, indica o resultado que
existem grandes dificuldades em sua construção, se deseja atingir com a conclusão da execução do
por exemplo: programa.
33
• Fonte, determina o órgão responsável pelo registro I – sejam compatíveis com o plano plurianual e
ou produção das informações necessárias para com a lei de diretrizes orçamentárias;
a apuração do indicador e divulgação periódica II – indiquem os recursos necessários, admitidos
dos índices que, eventualmente, o componham. apenas os provenientes de anulação de despesa,
A maior parte das informações utilizadas na excluídas as que incidam sobre:
construção dos indicadores poderá ser produzida a) dotações para pessoal e seus encargos;
pelos próprios órgãos executores dos programas b) serviço da dívida;
ou outros integrantes da estrutura do Ministério c) transferências tributárias constitucionais para
responsável, que deverão manter sistemas de coleta Estados, Municípios e o Distrito Federal; ou
e tratamento de informações com esta finalidade. III – sejam relacionadas:
Todavia, em muitos casos, as informações serão a) com a correção de erros ou omissões; ou
buscadas junto a outras fontes que podem ser b) com os dispositivos do texto do projeto de
instituições oficiais ou mesmo privadas, quando lei.
de reconhecida credibilidade: IBGE, FIPE, FGV, §4º As emendas ao projeto de lei de diretrizes or-
Banco Central, DIEESE, ANBID, entre outras. çamentárias não poderão ser aprovadas quando
• Periodicidade, indicando a freqüência com a qual incompatíveis com o plano plurianual.
o indicador é apurado. §5º O Presidente da República poderá enviar
mensagem ao Congresso Nacional para propor
• Base geográfica, que determina o menor nível de
modificação nos projetos a que se refere este arti-
agregação geográfica para a apuração do índice,
go enquanto não iniciada a votação, na comissão
podendo ser municipal, estadual, regional ou na-
mista, da parte cuja alteração é proposta.
cional.
§6º Os projetos de lei do plano plurianual, das
• Fórmula de cálculo, que demonstra, de forma
diretrizes orçamentárias e do orçamento anual
sucinta e por meio de expressões matemáticas, serão enviados pelo Presidente da República ao
o algoritmo que permite calcular o valor do indi- Congresso Nacional, nos termos da lei comple-
cador. mentar a que se refere o art. 165, § 9 o .
§7º Aplicam-se aos projetos mencionados neste
Aprovação Legislativa do PPA artigo, no que não contrariar o disposto nesta
Os projetos de lei relativos ao PPA, LDO, LOA e Seção, as demais normas relativas ao processo
aos Créditos Adicionais são apreciados pelas duas Casas legislativo.
do Congresso Nacional, na forma do regimento comum. § 8° Os recursos que, em decorrência de veto,
Por outro lado, o processo de apreciação, apresentação emenda ou rejeição do projeto de lei orçamentá-
de emendas, formulação de relatórios e substitutivo e ria anual, ficarem sem despesas correspondentes
encaminhamento para posterior votação ocorre no âmbito poderão ser utilizados, conforme o caso, me-
da Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e diante créditos especiais ou suplementares, com
Fiscalização (CMO), nos termos do artigo 166 da Cons- prévia e específica autorização legislativa.”
tituição Federal:
As atividades relacionadas à aprovação legislativa do
“Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano PPA podem ser agrupadas da seguinte maneira:
plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao or- • Iniciativa: vinculada ao Chefe do Poder Execu-
çamento anual e aos créditos adicionais serão tivo e a um prazo legal determinado no exercício
apreciados pelas duas Casas do Congresso Na- anual.
cional, na forma do regimento comum. • Discussão: ação interna ao Poder Legislativo, con-
§1º Caberá a uma comissão mista permanente figura a fase dos trabalhos consagrada aos debates
de Senadores e Deputados: legislativos, considerando a forma e o mérito do
I – examinar e emitir parecer sobre os projetos re- PL. É subdividida nas etapas de emendas, voto
feridos neste artigo e sobre as contas apresenta- do relator, redação final, que se dará no âmbito
das anualmente pelo Presidente da República; da CMO, e votação em plenário do Congresso
II – examinar e emitir parecer sobre os planos Nacional, sob regimento comum (deliberação
e programas nacionais, regionais e setoriais conjunta). Na fase que antecede o voto do relator,
o Poder Executivo poderá encaminhar mensagem
previstos nesta Constituição e exercer o acom-
retificadora da proposta ao congresso nacional,
panhamento e a fiscalização orçamentária, sem
propondo modificações nos projetos referentes ao
prejuízo da atuação das demais comissões do
PL de PPA, enquanto não iniciada a votação, na
Congresso Nacional e de suas Casas, criadas de comissão mista, da parte cuja alteração é propos-
GESTÃO GOVERNAMENTAL

acordo com o art. 58. ta.


§2º As emendas serão apresentadas na comissão • Sanção: fase em que o PL aprovado volta para o
mista, que sobre elas emitirá parecer, e aprecia- Poder Executivo, em que o seu titular deve aquies-
das, na forma regimental, pelo plenário das duas cer ou não, configurando veto parcial ou total,
Casas do Congresso Nacional. dentro de 15 dias úteis contados do recebimento
§3º As emendas ao projeto de lei do orçamento do projeto, comunicando ao poder Legislativo
anual ou aos projetos que o modifiquem somente os motivos do veto, quando volta para o Poder
podem ser aprovadas caso: Legislativo para ser deliberado em definitivo.
34
• Promulgação: nesta fase, o PL é transformado em
lei, quando aprovado pelo Legislativo, e sanciona-
do expressa ou tacitamente pelo Executivo.
• Publicação: sendo o ato final pelo qual é dado ao
público conhecer o novo PPA ou o PPA alterado,
que entra em vigor no início do exercício a que se
refere. Ao contrário da promulgação, que revela
apenas a existência de uma lei, a publicação impõe
a sua obrigatoriedade.
Figura: Sistema de Informações Gerenciais e de
Implantação do PPA Planejamento do PPA

A implantação do PPA ocorre após a sua publicação Monitoramento do PPA


pelo Chefe do Executivo. As diretrizes para implantação
do PPA são estabelecidas em Decretos e Portarias do No mesmo Decreto 2.829/1998, no Art. 4º, Pará-
órgão central do Sistema de Planejamento e de Orça- grafo Único, demanda-se a designação, pelo Ministro
mento Federal, que é o Ministério do Planejamento, de Estado ou titular de órgão vinculado à Presidência da
Orçamento e Gestão – MPOG, conforme determinou a República, de profissional capacitado para atuar como
Lei nº 10.180/2001. Gerente do Programa, configurando o nível de gerência
O PPA, após sua publicação, é implantado em um propriamente dita do PPA. Posteriormente, no Art. 4º do
sistema informatizado abrangente denominado SIG- Decreto 5.233/2004, foram estabelecidas as atribuições ou
PLAN – Sistema de Informações Gerenciais e de Pla- funções do Gerente de Programa, do Gerente Executivo
nejamento do Plano Plurianual, cujo esquema básico e Coordenador de Ação:
se encontra na Figura a seguir, que é o instrumento de
coleta, consolidação e acompanhamento das informações “Art. 4º A gestão do programa é de responsabili-
que compõem o PPA – Plano Plurianual e dos respecti- dade do gerente de programa, que poderá contar
vos programas e ações no âmbito do Governo Federal. com o apoio de gerente-executivo, e a gestão da
Entre as características mais importantes do SIGPLAN ação é de responsabilidade do coordenador de
destacam-se: ação.
• Acompanhamento da execução física em "tem- § 1º O gerente de programa é o titular da unidade
po real", com a APF podendo realizar um efetivo administrativa à qual o programa está vinculado,
gerenciamento das ações governamentais, em par- e o coordenador de ação é o titular da unidade
ticular no que diz respeito ao desempenho físico; administrativa à qual se vincula a ação, nos
• Gestão de Restrições, que possibilita ao gerente termos do art. 3º.
a antecipação e sistematização das restrições, § 2º Compete ao gerente de programa:
o que facilita a mobilização e a busca de soluções I – negociar e articular os recursos para o al-
por parte do governo e seus parceiros, permitindo cance dos objetivos do programa;
o compartilhamento na solução das restrições. II – monitorar e avaliar a execução do conjunto
Entende-se por restrição todo o problema que possa das ações do programa;
impedir ou prejudicar a execução de uma ou mais III – indicar o gerente executivo, se necessário;
ações do programa, cuja solução depende de um IV – buscar mecanismos inovadores para finan-
ou mais atores; ciamento e gestão do programa;
• Integração de informações: a base de dados do V – gerir as restrições que possam influenciar o
SIGPLAN contém informações sobre a execução desempenho do programa;
das ações, seu gerenciamento e monitoramento, VI – elaborar o plano gerencial do programa,
e informações orçamentárias e financeiras sobre que incluirá o plano de avaliação; e
cada programa, sendo composta de dados pro- VII – validar e manter atualizadas as informa-
venientes de diversas fontes, das quais se desta- ções do desempenho físico das ações, da gestão
cam: de restrições e dos dados gerais do programa,
– Dados de programas e ações da base de dados sob sua responsabilidade, mediante alimenta-
do Plano Plurianual – PPA; ção do Sistema de Informações Gerenciais e de
– Dados gerenciais fornecidos pelos gerentes de Planejamento – SIGPlan.
programas; § 3º Compete ao gerente-executivo apoiar a
– Dados físicos, situação atual e restrições e pro- atuação do gerente de programa, no âmbito de
GESTÃO GOVERNAMENTAL

vidências, fornecidos pelos coordenadores de suas atribuições.


ação; § 4º Compete ao coordenador de ação:
– Dados do Sistema Integrado de Dados Orçamen- I – viabilizar a execução e o monitoramento de
tários – SIDOR; uma ou mais ações do programa;
– Dados do Sistema Integrado de Administração II – responsabilizar-se pela obtenção do produto
Financeira – SIAFI; e expresso na meta física da ação;
– Dados do Sistema de Informação das Esta- III – utilizar os recursos de forma eficiente, se-
tais – SIEST. gundo normas e padrões mensuráveis;
35
IV – gerir as restrições que possam influenciar a Avaliando as restrições verificadas para a consecução
execução da ação; dos resultados previstos nos seguintes tópicos:
V – estimar e avaliar o custo da ação e os bene- • Na Concepção do Programa:
fícios esperados; – Revisando o problema e a delimitação do
VI – participar da elaboração dos planos geren- público-alvo;
ciais dos programas; e – Verificando a adequação dos objetivos;
VII – efetivar o registro do desempenho físico, da – Verificando a adequação dos indicadores;
gestão de restrições e dos dados gerais das ações, – Suficiência e pertinência das ações; e
sob sua responsabilidade, no SIGPlan. – Adequação da Estratégia de Implementação.
§ 5º O Ministério do Planejamento, Orçamento • Na Implementação do Programa:
e Gestão estabelecerá a periodicidade para o – Suficiência dos recursos humanos e materiais;
registro das informações no SIGPlan.” – Suficiência dos recursos financeiros;
– Adequação do fluxo de recursos;
No nível do órgão central, MPOG, o Monitor de – Desempenho das ações – cumprimento das metas
Programa acompanha todas as atividades executadas no físicas;
âmbito do PPA. A monitoração tem por objetivo contribuir – Qualidade do sistema de acompanhamento da
para a obtenção dos resultados desejados nos programas execução físico-financeira;
do Plano Plurianual e apoiar os gerentes nos processos que
– Eficiência dos mecanismos de controle social;
integram o ciclo de gestão. O monitor cumpre também
e
a função de ponto focal dos programas na Secretaria de
– Eficiência da comunicação com o público-al-
Planejamento e Investimentos Estratégicos – SPI.
vo.
Em termos de sistema, o Módulo de Monitoramento
do SIGPLAN é carregado anualmente com os programas Para cada fase da avaliação – resultados, concepção
e ações que serão objeto de gerenciamento e acompa- e implementação – deve-se considerar:
nhamento pelos diversos atores envolvidos na Gestão do • Quem deve participar do processo de avaliação?
Plano Plurianual. Essa base de informações do Módulo • Que informações são necessárias?
de Monitoramento do SIGPLAN contém: • Como obter informações?
• a Lei Orçamentária Anual completa, com todas os Posteriormente, faz-se a avaliação dos Resultados
seus programas, ações e localizadores de gasto; em confronto com a Estratégia Setorial, utilizando as
• as ações não-orçamentárias previstas no Plano seguintes questões:
Plurianual (PPA); • Se os resultados alcançados pelos programas res-
• os Restos a Pagar de Exercícios Anteriores; e pondem à estratégia setorial;
• os Créditos Orçamentários abertos ou reabertos no • Se os programas estão adequados aos objetivos
exercício atual. setoriais propostos.
Para responder, relacionam-se os resultados alcan-
Avaliação çados pelos programas aos objetivos setoriais e faz-se a
A Avaliação do PPA está prevista nos artigos 5º, 6º e avaliação dos Resultados hierarquizando os programas
7º do Decreto 2.829/1998, que estabelece as normas para quanto aos recursos empregados, verificando, por com-
elaboração e execução do Plano Plurianual e dos Orça- paração com média geral do PPA se estão dentro da faixa
mentos da União. Normalmente, nas leis que aprovam os de eficiência, eficácia e efetividade desejada. Entretanto,
PPA, encontra-se dispositivo determinando a avaliação, é necessário avaliar a Gestão do Conjunto de Programas,
como o Artigo 6º da Lei 9.989/2000, que aprovou o para verificar se contribuiu para o alcance dos resultados
PPA 2000-2003, que determina que o Poder Executivo dos programas, em especial, se a gestão dos programas
envie ao Congresso Nacional, até o dia 15 de abril de está adequada. Isso se faz analisando-se as práticas de
cada exercício, o Relatório Anual de Avaliação do Plano gestão quanto às:
Plurianual. • Estratégias e programas;
Adicionalmente, o Artigo 4º, inciso I, alínea e, da • Usuários e sociedade;
Lei Complementar nº 101/2000, Lei de Responsabilidade • Informação;
Fiscal – LRF, determina que a LDO disporá, para cada • Recursos Humanos; e
exercício, sobre norma relativa à avaliação dos resultados • Resultados.
dos programas financiados com recursos dos orçamen- Por fim, faz-se a avaliação geral do PPA, a qual será
tos, o que inclui, necessariamente, o PPA. Para o Poder publicada para conhecimento do cidadão, as perguntas
Executivo, é uma tarefa coletiva e institucional, com a
principais são “Que alterações ocorreram no cenário
participação decisiva dos gerentes de programas, das
macroeconômico proposto na elaboração do PPA?”;
equipes gerenciais, dos órgãos setoriais e do público-alvo
“Como evoluíram os objetivos estratégicos propostos na
dos programas. Envolve também o Poder Legislativo
GESTÃO GOVERNAMENTAL

e Judiciário, no limite das obrigações de que trata a lei elaboração do PPA? Os programas estão adequados aos
que aprovou o PPA. A avaliação dos resultados de um objetivos estratégicos propostos?” e “A gestão do plano
programa do PPA se dá com base na captação dos seus está adequada?”.
impactos, por meio de: O uso dos resultados desta etapa de avaliação per-
• análise da evolução dos indicadores; mite:
• consulta ao público-alvo; e • Melhoria da Alocação de Recursos, obtidas com
• busca de outras fontes de informação e consulta base nas informações e recomendações da avalia-
aos parceiros, quando houver. ção para a elaboração do PPA, LDO e LOA;
36
• Aperfeiçoamento da Gestão, com propostas para Revisão do Ppa
solucionar problemas relacionados à estrutura O processo de revisão anual do PPA obedece, tanto
organizacional e à gestão dos programas; e interna quanto externamente, às mesmas disposições
• Revisão e Ajustes do PPA para melhoria da quali- legais da etapa de elaboração.
dade da gestão de médio prazo do governo.

CICLO DE GESTÃO DO PPA (esquematizado):

Figura: Processo sistêmico de desenvolvimento do PPA


Lei de Diretrizes Orçamentárias panham a LDO: o Anexo de Metas Fiscais e o Anexo
de Riscos Fiscais. A LRF, ao estabelecer, no art. 4º, I,
Conceito a, que a LDO passará a dispor sobre equilíbrio entre
A Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO, segundo receita e despesa, pretende evitar, e até mesmo eliminar,
a CF/1988, é aquela que compreende as metas e as prio- a ocorrência de déficit na gestão fiscal. Além disso, a LRF
ridades da administração pública, incluindo as despesas estimula a administração das unidades federativas a uti-
de capital para o exercício financeiro subsequente, que lizarem sistemas de apropriação e de apuração de custos
orienta a elaboração da Lei Orçamentária Anual, que
e de avaliação de resultados, mediante normas a serem
dispõe sobre as alterações na legislação tributária e que
estabelece a política de aplicação das agências financeiras fixadas na LDO, com vistas à economicidade, à eficiência
oficiais de fomento. e à eficácia das ações governamentais. Outro ponto que
deverá ser definido na LDO refere-se à avaliação dos
Objetivos resultados da organização governamental. A LDO dispõe
A Lei de Diretrizes Orçamentárias é um instrumento sobre critérios para avaliar os resultados da entidade, com
de planejamento com o objetivo de oferecer à sociedade base na apreciação de seus resultados por indicadores e
maior transparência ao orçamento e às ações do governo. parâmetros que permitam à Administração verificar se
Essa lei atribui competência ao Legislativo para discussão atingiu ou não os resultados esperados.
e ingerência na definição dessas questões, e permite a
adequação das orientações do Plano Plurianual ao novo O Anexo de Metas Fiscais
quadro de demandas sociais que então se apresenta. O Anexo de Metas Fiscais, que integra a LDO, foi
A LDO faz a conexão do planejamento de longo oficializado pela LRF. Até a publicação da lei comple-
prazo, representado pelo PPA, com as ações políticas mentar em questão, as metas da Administração Pública
e necessárias no dia-a-dia, concretizadas no orçamento para as despesas eram estabelecidas em termos físicos.
anual. Orienta a elaboração do orçamento mediante a es- Para completar essa especificação, esse Anexo conterá
colha de prioridades e metas do PPA para o ano seguinte as metas fiscais de receitas e despesas das entidades
e estabelece a metodologia a ser usada para projeção dos governamentais.
gastos e das receitas. Meta fiscal é a meta financeira a ser atingida pela
Com a LDO, o Legislativo passa a interferir no pro- Administração, ou seja, quanto o tesouro público pre-
cesso decisório, que resulta na elaboração da LOA, ao
aprovar as normas para elaboração da mesma ou permitir tende arrecadar, gastar e alcançar de resultado (ingressos
menos desembolsos) em seus cofres, em um determinado
GESTÃO GOVERNAMENTAL

que sejam executados alguns atos que afetem diretamen-


te o Orçamento-Programa Anual, como, por exemplo, período de tempo.
alterações na legislação tributária. Sua responsabilidade O Anexo de Metas Fiscais compreende um conjunto
deixa de ser, assim, daquele que meramente autoriza o de demonstrações do qual constarão metas de receita,
crédito já fixado. metas de despesa, metas de resultado, avaliação do
cumprimento de metas, demonstrativo das metas anuais,
A LDO corresponde a um texto de lei, cujo conteúdo evolução do patrimônio líquido, estimativa e compensação
é estabelecido pela Constituição Federal e complementado da renúncia e da margem de expansão das despesas de
pela LC nº 101/2000. Além desse texto de lei, acom- caráter continuado.
37
• As metas de receita serão anuais, estabelecidas metas de resultado também apresentará metas em
para o exercício que se elabora a LDO e os dois valores correntes e constantes.
seguintes. Para os três anos citados, as metas se- • A avaliação do cumprimento de metas relativas
rão calculadas em valores correntes e constantes. ao ano anterior é mais um item que deverá constar
A meta deverá corresponder a um valor encontrado do Anexo de Metas Fiscais. Tal avaliação consiste
mediante a realização de cálculos aritméticos e, se em um texto no qual a Administração Pública
possível, estatísticos. A própria LRF faz esta exi- deverá apresentar a comparação entre o que foi
gência, ao determinar, como se verá mais adiante, estabelecido como metas fiscais de receita, despesa
que sejam apresentadas memória e metodologia de e resultado para o ano anterior ao qual se elabora
cálculo das metas fiscais. A meta deverá ser esta- a LDO, e o que foi realizado de receita e despesa,
belecida no maior nível de detalhamento possível, no mesmo período, e o conseqüente resultado
por ser este o de mais fácil mensuração. Quanto alcançado. A comparação virá acompanhada das
maior for o nível de detalhamento da fonte, mais justificativas que levaram a entidade a ter o de-
preciso será o trabalho de elaboração das metas de sempenho financeiro demonstrado para o ano em
receita. questão. O objetivo desta avaliação é permitir que
• As metas de despesa também serão anuais, es- a Administração reflita sobre as ações executadas e
tabelecidas para o exercício em que se elabora o alcance dos objetivos pretendidos, de forma que
a LDO e os dois seguintes, e apresentadas em a mesma tome, se necessário, medidas corretivas
valores correntes e constantes. Estabelecer uma ou faça a modificação da proposta de governo
meta fiscal de despesa é estipular o quanto será traçada.
necessário efetuar de gastos, em um período, para • Demonstrativo das Metas Anuais: este demons-
que sejam cumpridas as metas físicas da Adminis- trativo é um desdobramento referente às metas
tração Pública, definidas no PPA e na LDO, para fiscais de receita, de despesa e de resultado. Seu
este mesmo período. Há também gastos que são conteúdo consiste em um quadro no qual serão
efetuados não em função de uma meta física, mas apresentadas as metas financeiras da entidade para
sim para o pagamento de uma obrigação oriunda o período para o qual se elabora a LDO, em compa-
de um acordo (convênio), contrato (operação de ração com as metas fixadas para os três exercícios
crédito) ou de mandamento legal (transferências). anteriores. Este demonstrativo conterá, ainda, um
Assim, a meta fiscal de despesa de um ente, para texto, no qual será apresentada a metodologia de
determinado período, corresponderá aos gastos cálculo para as metas estabelecidas, isto é, como
estimados para o alcance de metas físicas e para o foram calculadas as metas anuais.
pagamento de obrigações contratuais e legais. • Evolução do Patrimônio Líquido: a contabilida-
• Resultado significa o produto obtido com a reali- de, como meio de informação, decompõe o patri-
zação das atividades da entidade governamental, mônio de uma entidade em bens, direitos, e valores
podendo assumir os mais diversos tipos. As metas que ela tem a receber de terceiros, e obrigações,
fiscais de resultado são metas financeiras, isto é, isto é, o que ela deve a terceiros. A LC 101/2000
o que se estima é um resultado que corresponde exige a elaboração de um demonstrativo que apre-
à diferença entre entradas e saídas de recursos sente a evolução do patrimônio líquido das enti-
financeiros. Assim, tais metas são obtidas pela di- dades governamentais nos três últimos exercícios,
ferença matemática entre as receitas e as despesas contados a partir do ano em que se elabora a LDO,
da entidade. A LRF estabelece a apuração de dois bem como a origem e a aplicação dos recursos
tipos de resultado financeiro: resultado nominal e obtidos com alienação de ativos. Esta demonstra-
resultado primário. Resultado nominal, neste caso, ção integrará o anexo de metas fiscais. Uma outra
é a diferença entre todas as receitas a arrecadar e to- exigência da LRF diz respeito à alienação de bens
das as despesas a realizar pela entidade. Operações e direitos. O Anexo de Metas de Fiscais deverá
financeiras extra-orçamentárias podem afetar o conter uma demonstração, que apresente a origem
disponível e, conseqüentemente, o endividamento e a aplicação dos recursos obtidos com a alienação
líquido. Neste sentido, tais operações afetarão o de ativos. A conversão em espécie de bens e direi-
resultado nominal, que é calculado pela variação tos é, como define a Lei nº 4.320/1964, uma das
da dívida fiscal líquida (variação da dívida líquida fontes de recursos das entidades governamentais.
e receita de privatizações). Resultado primário é A alienação é um meio de obtenção de recursos que
a diferença entre a receita arrecadada e a despesa acarreta um ônus para a organização, uma vez que
liquidada, dela excluída tudo o que diga respeito sua realização se dá com a baixa de um ativo do
a receitas financeiras, alienações de bens, opera- patrimônio público. Deste modo, a Administração
ções de crédito e suas respectivas amortizações. deverá avaliar, como já mencionado, a relação
GESTÃO GOVERNAMENTAL

O objetivo de se apurar o resultado primário é custo/benefício deste tipo de operação, bem como
medir, sob o aspecto financeiro, a capacidade da o impacto da mesma sobre o equilíbrio das contas
Administração fornecer bens e serviços à comu- públicas. A LRF cria uma vinculação da Receita
nidade com recursos próprios da entidade, obtidos de Alienação às Despesas de Capital, com exceção
pelo seu “esforço”, o que não inclui o endivida- do sistema previdenciário próprio dos servidores
mento e o seu pagamento (principal + encargos), públicos. É em função desse fato que a Adminis-
a remuneração do capital próprio (juros obtidos) tração Pública deverá elaborar a demonstração
ou a assunção de obrigações. A demonstração das de origem e aplicação dos recursos provenientes
38
de alienação. A LRF criou o Fundo Especial para O Anexo de Riscos Fiscais
as entidades governamentais, pois, pelo art. 44, Este segundo documento, que integra a LDO, traz
os recursos financeiros, obtidos pela alienação de a previsão de riscos fiscais, a qual, embora devesse ser
bens e direitos, têm sua aplicação vinculada às sempre realizada pelos administradores públicos, não
despesas de capital ou ao financiamento de siste- era, até a publicação da LRF, uma exigência legal. A lei
mas previdenciários próprios dos servidores. Tal 4.320/1964 estabelece um mecanismo que possibilita a
vinculação, entretanto, não se dá sobre o total da Administração Pública remediar os problemas causados,
receita obtida com a alienação, mas somente sobre entre outros, pela concretização de um risco fiscal. É o
a receita de capital da alienação, isto é, aquela que crédito adicional, que permite o aumento dos créditos
corresponde ao valor contábil do bem, não se in- autorizados e, conseqüentemente, da despesa. A LRF,
cluindo, aí, os ganhos auferidos na alienação que, no entanto, prefere prevenir a remediar, ao estipular que
conforme já explicado, são contabilizados como os riscos fiscais devem ser conhecidos e avaliados, bem
receita corrente (patrimonial). como ser previstas as medidas a serem tomadas, caso eles
• Estimativa e compensação da renúncia de re-
se concretizem.
ceita e da margem de expansão das despesas
Risco fiscal é uma ameaça às previsões fiscais, ou
de caráter continuado: A LRF determina que
seja, um acontecimento que pode vir a prejudicá-las
renúncia de receita, ocasionada pela concessão ou
ampliação de incentivo ou por benefício de natu- como, por exemplo, a não-arrecadação de uma receita
reza tributária, bem como expansão de despesas ou a realização de uma despesa em patamar superior ao
de caráter continuado, deverá ter seus respectivos programado. Entretanto, a LRF não pretende que se faça
impactos sobre o orçamento e as finanças públicas o impossível, como por exemplo, que se preveja uma
estimados. Esta estimativa também integra o conte- calamidade pública inesperada. O que ela quer é que não
údo do Anexo de Metas Fiscais. Conforme definido só os administradores busquem estudar previamente a
na LC 101/2000 (art.14, par. 1º), a renúncia de possibilidade de ocorrência de riscos fiscais, como que
receita compreende: se preparem para enfrentar os mais prováveis.
– a anistia – é a exclusão do crédito tributário rela- Para atender a uma despesa gerada pela ocorrência de
tivo a penalidades pecuniárias, ou seja, às multas um risco fiscal, tem-se o crédito adicional suplementar ou
e aos juros de mora. Pela anistia, o legislador ex- especial, enquanto, para as despesas ocasionadas por fatos
tingue as penalidades cometidas pelo contribuin- imprevisíveis, se tem o crédito adicional extraordinário.
te infrator da legislação tributária, impedindo a O Anexo de Riscos Fiscais apresentará a avaliação dos
constituição do crédito. Se o crédito já estiver passivos contingentes e de outros riscos capazes de afetar
constituído, o legislador poderá dispensá-lo pela as contas públicas, informando as providências a serem
remissão, mas não pela anistia. tomadas, na hipótese de tais riscos ocorrerem. O passivo,
– a remissão – é a dispensa concedida ao contri- como já mencionado, compreende as obrigações da en-
buinte de pagar o crédito tributário correspon- tidade. A Lei 4.320/1964 classifica contabilmente tais
dente, já constituído. Pode ser total ou parcial, obrigações nos seguintes grupos:
e visa atender: • Passivo financeiro – representado pelas dívidas a
a) à situação econômica do contribuinte; curto prazo ou pela chamada dívida flutuante, cujo
b) ao erro ou à ignorância escusáveis do contri- pagamento independe de autorização orçamentá-
buinte, quanto à matéria de fato; ria;
c) à diminuta importância do crédito tributá- • Passivo permanente – compreende as dívidas
rio; de longo prazo, ou seja, a dívida fundada, cuja
d) a considerações de eqüidade;
amortização ou resgate depende de autorização
e) a condições peculiares de determinada região
legislativa;
territorial da entidade tributante.
• o subsídio – corresponde ao benefício tributário • Passivo de compensação: representa os valores
concedido pela entidade governamental, que re- em poder da entidade governamental, que não são
sulta no abatimento de parte do preço de venda de sua propriedade e, portanto, não integram seu
dos bens e dos serviços das empresas. patrimônio.
• o crédito presumido – corresponde a créditos
tributários usados para a compensação do valor a O Anexo de Riscos Fiscais demonstrará, ainda,
ser recolhido, pelos contribuintes, de determinados as medidas administrativas e financeiras a serem tomadas
tributos sujeitos ao regime de compensação. para solucionar ou dirimir os problemas causados pela
• a concessão de isenção – a lei que institui um tri- ocorrência do risco fiscal.
buto, define, entre outros aspectos, as situações de
incidência do mesmo. Essas situações constituem Lei Orçamentária Anual
as hipóteses de incidência do tributo. A concessão
GESTÃO GOVERNAMENTAL

de uma isenção significa estabelecer qual(is) – a(s) Antecedentes


hipótese(s) de incidência, que mesmo ocorrendo,
não darão origem ao tributo. A isenção pode ser O Orçamento clássico ou tradicional
total ou parcial. Antes do advento da Lei nº 4.320, de 17/03/1964,
• a alteração de alíquota ou a modificação da base o orçamento utilizado pelo Governo Federal era o orça-
de cálculo – a alíquota e a base de cálculo são mento tradicional. O orçamento clássico se caracterizava
elementos fundamentais para a determinação do por ser um documento de previsão de receita e de autori-
valor do tributo a ser recolhido. zação de despesas, estas classificadas segundo o objeto de
39
gastos e distribuídas pelos diversos órgãos, para o período Assim, o orçamento apresenta os objetivos e a
de um ano. Em sua elaboração não se enfatizava, primor- programação de metas e realizações da administração,
dialmente, o atendimento das necessidades da coletividade explicitando quanto custam para a sociedade esses bens
e da administração: tampouco se destacavam os objetivos e serviços. De outro lado, o orçamento é um importante
econômicos e sociais. instrumento de apoio à fiscalização, ao controle e à ava-
A maior deficiência do orçamento tradicional con- liação da aplicação dos recursos públicos. Para tanto,
sistia no fato de que ele não privilegiava um programa o orçamento constitui-se em poderoso mecanismo de:
de trabalho e um conjunto de objetivos a atingir. Assim, • Verificação do adequado uso dos recursos públicos
dotava um órgão qualquer com as dotações suficientes para e da lisura de comportamento dos agentes do Es-
pagamento de pessoal e compra de material de consumo tado que arrecadam e aplicam os recursos obtidos
permanente para o exercício financeiro. Os órgãos eram junto à sociedade; e
contemplados no orçamento, sobretudo, de acordo com • Avaliação da eficiência, da eficácia, da qualidade
o que gastavam no exercício anterior e não em função do e dos resultados da atuação dos órgãos governa-
que se pretendia realizar. mentais.
Mesmo não sendo possível ignorar que o orçamento,
desde o início, representou uma importante conquista Os Princípios Orçamentários:
como instrumento disciplinador das finanças públicas, • Princípio da Unidade: Na expressão mais simples
desse princípio, cada unidade governamental deve
sua função principal foi a de possibilitar aos órgãos de
possuir apenas um orçamento.
representação um controle político sobre os Executivos.
• Princípio da Universalidade: o orçamento (uno)
O orçamento e os demais elementos financeiros estavam
deve conter todas as receitas e todas as despesas
a serviço da concepção do Estado Liberal, preocupado
do Estado.
em manter o equilíbrio financeiro e evitar ao máximo a • Princípio do Orçamento Bruto: todas as parcelas
expansão dos gastos. O orçamento constituía-se numa da receita e da despesa devem aparecer no orça-
fórmula eficaz de controle, pois colocava frente a frente mento em seus valores brutos, sem qualquer tipo
despesas e receitas. Na época, os impostos eram autori- de dedução.
zados anualmente, o que permitia uma verificação crítica • Princípio da Anualidade ou Periodicidade: o
mais rigorosa das despesas a serem custeadas com a receita orçamento público brasileiro deve ser elaborado
proveniente desses impostos. e autorizado para um período de um ano.
• Princípio da Não-afetação das Receitas: nenhu-
Orçamento de desempenho ou de realizações ma parcela da receita geral poderá ser reservada ou
O orçamento clássico evoluiu para o orçamento de comprometida para atender a certos e determinados
desempenho ou de realizações, que buscava saber “as gastos.
coisas que o governo faz e não as coisas que o governo • Princípio da Discriminação ou Especialização:
compra”. Assim, saber o que a administração pública as receitas e as despesas devem aparecer no orça-
compra tornou-se menos relevante do que saber para que mento de maneira discriminada, de tal forma que
se destina a referida aquisição. O orçamento de desempe- se possa saber, pormenorizadamente, a origem dos
nho, embora já ligado aos objetivos, não poderia, ainda, recursos e sua aplicação.
ser considerado um orçamento-programa, visto que lhe • Princípio da Exclusividade: a lei orçamentária de-
faltava uma característica essencial, que era a vinculação verá conter apenas matéria financeira, excluindo-se
ao Sistema de Planejamento. dela qualquer dispositivo estranho à estimativa
Um orçamento de desempenho é aquele que apre- da receita e à fixação da despesa para o próximo
senta os propósitos e objetivos para os quais os créditos exercício.
se fazem necessários, os custos dos programas propostos • Princípio do Equilíbrio: segundo a Constituição
para atingir aqueles objetivos, e dados quantitativos que de 1967, o montante da despesa autorizada em cada
meçam as realizações e o trabalho levado a efeito em exercício financeiro não poderá ser superior ao total
cada programa. das receitas estimadas para o mesmo período.

Orçamento moderno Outros Princípios Tradicionais:


• Princípio da clareza: o orçamento público deve
São instrumentos de administração ou de gestão,
ser apresentado em linguagem clara e compreensí-
auxiliando o Executivo nas várias etapas do processo ad-
vel a todas aquelas pessoas que, por força de ofício
ministrativo: programação, execução e controle. A partir
ou por interesse, precisam manipulá-lo.
de suas características como documento de “antecipação”, • Princípio da publicidade: o orçamento público
o orçamento representaria a própria programação de tra- deve merecer ampla publicidade.
GESTÃO GOVERNAMENTAL

balho do governo. • Princípio da exatidão: desde os primeiros diag-


No âmbito das organizações governamentais, o orça- nósticos e levantamentos com vistas na elaboração
mento cumpre duas finalidades principais: da proposta orçamentária, deve existir grande
• apresenta o programa de realizações da administra- preocupação com a realidade e com a efetiva ca-
ção como um todo e de cada um de seus órgãos; e pacidade do setor público de nela intervir de forma
• possibilita a fiscalização e o controle sobre as positiva por intermédio do orçamento.
finanças governamentais, bem como, a avaliação • Programação: para representar os elementos do
dos resultados da ação das instituições públicas. planejamento, o orçamento vem sofrendo mu-
40
danças profundas em sua linguagem, buscando
veicular a programação de trabalho de governo, Composição da LOA
isto é, os objetivos e metas perseguidos, bem como A Constituição de 1988 define que o orçamento anual
os meios necessários para tal. é de iniciativa do Executivo e compreenderá:
• O orçamento fiscal, em que estimam todas as re-
c) Classificação: A classificação é a chave estrutural ceitas e despesas da Administração pública direta
para a organização consciente e racional do orçamento do e indireta;
Governo. As contas orçamentárias devem ser: • O orçamento de investimento das estatais, por fonte
– organizadas de maneira a facilitar a formulação de financiamento;
de programas; • O orçamento da seguridade social, no qual inclui-se
– organizadas de maneira a contribuir para a efe- a Saúde, Assistência Social e a Previdência So-
tiva execução do orçamento; cial.
– apresentadas de maneira a servir ao objetivo da
prestação de contas; e
A LRF, em relação à LOA, dispõe que:
– organizadas de forma que seja possível analisar
• O projeto de lei orçamentária anual deverá ser
os efeitos econômicos das atividades governa-
elaborado de forma compatível com o plano pluria-
mentais.
nual, com a lei de diretrizes orçamentárias, e com
as normas da Lei Fiscal;
Classificação das despesas:
• Conterá demonstrativo da compatibilidade da
• Classificação Institucional: sua finalidade é evi-
programação dos orçamentos com os objetivos e
denciar as unidades administrativas responsáveis
metas constantes do anexo de metas fiscais;
pela execução da despesa.
• Classificação Funcional: sua finalidade é fornecer • Será acompanhada de demonstrativo regionalizado
as bases para a apresentação de dados e estatísticas do efeito, sobre as receitas e despesas, decorrente
sobre os gastos públicos nos principais segmentos de isenções, anistias, remissões, subsídios e bene-
em que atuam as organizações do Estado. É sub- fícios de natureza financeira, tributária e credití-
dividida em funções e subfunções. cia;
• Classificação por Programas: sua finalidade bá- • Demonstrará as medidas de compensação a renún-
sica é demonstrar as realizações do governo, o re- cias de receita e ao aumento de despesas obrigató-
sultado final de seu trabalho em prol da sociedade. rias de caráter continuado;
Foi subdividida em quatro categorias: programas, • Conterá reserva de contingência, de acordo com
projetos, atividades e operações especiais. o estabelecido na LDO destinada ao atendimento
• Classificação segundo a Natureza: sua finalidade de passivos contingentes e outros riscos e eventos
é dar indicações sobre os efeitos que o gasto pú- fiscais imprevistos;
blico tem sobre toda a economia. • Conterá todas as despesas relativas à dívida públi-
ca, mobiliária ou contratual, e as receitas que as
A classificação da despesa orçamentária segundo a atenderão, constarão da lei orçamentária anual;
natureza está assim organizada: • O refinanciamento da dívida pública constará se-
• Categorias econômicas; paradamente na lei orçamentária e nas de crédito
• Grupos; adicional;
• Modalidades de aplicação; e • Atualização monetária do principal da dívida mo-
• Elementos. biliária refinanciada não poderá superar a variação
do índice de preços prevista na lei de diretrizes
Classificação das receitas orçamentária, ou em legislação específica.
A Lei nº 4.320/1964 estabelece os seguintes critérios
de classificação da receita orçamentária, exigidos nos Além disso, a LOA não poderá consignar crédito com
orçamentos de todos os entes: finalidade imprecisa ou com dotação ilimitada, nem dota-
• Classificação por Categorias Econômicas: recei- ção para investimento com duração superior ao exercício
tas correntes e receitas de capital que se destinam financeiro que não esteja previsto no plano plurianual ou
ao atendimento das despesas correntes e os que em lei que autorize a sua inclusão.
viabilizam a realização das despesas de capital,
respectivamente, evidenciando a origem dos re- Forma da Proposta Orçamentária
cursos que financiam o consumo e o investimento A norma geral que disciplina a apresentação da pro-
público. posta e da lei orçamentária é ainda a Lei nº 4.320/1964.
• Classificação por Fontes: por meio desta classifi- Elaborada pelo Poder Executivo, apreciada e aprovada
cação, estima-se, no orçamento, e acompanha-se, pelo poder Legislativo, a proposta orçamentária deve
durante a execução, o comportamento da arreca- estar organizada:
GESTÃO GOVERNAMENTAL

dação de cada modalidade de receita orçamentária. I – Mensagem, que conterá: exposição circunstancia-
As fontes de receita constituem a classificação bá- da da situação econômico-financeira, documentada com
sica para as análises econômico-financeiras sobre demonstração da dívida fundada e flutuante, saldos de
o financiamento das ações governamentais. créditos especiais, restos a pagar e outros compromissos
• Classificação Institucional: tem por finalidade financeiros exigíveis; exposição e justificação da política
demonstrar as entidades ou unidades orçamentárias econômico-financeira do Governo; justificação da receita
que, respondendo pela arrecadação, são detentoras e despesa, particularmente no tocante ao orçamento de
das receitas. capital;
41
II – Projeto de Lei de Orçamento, Como corolário desta etapa, devemos providenciar a
III – Tabelas explicativas, das quais, além das estima- formalização de um documento onde fique demonstrada a
tivas de receita e despesa, constarão em colunas distintas fixação dos níveis das atividades governamentais, através
e para fins de comparação: da formulação dos programas de trabalho das unidades
a) a receita arrecadada nos três últimos exercícios administrativas, e que, em última análise, constituirá a
anteriores àquele em que se elaborou a proposta; proposta orçamentária.
b) a receita prevista para o exercício em que se elabora As propostas parciais das unidades administrativas,
a proposta; organizadas em formulário próprio, serão acompanhadas:
c) a receita prevista para o exercício a que se refere das tabelas explicativas da despesa realizada no exercício
a proposta; imediatamente anterior, da despesa fixada para o exercício
d) a despesa realizada no exercício imediatamente em que se elabora a proposta, e da despesa prevista para
anterior; o exercício a que se refere a proposta, e da justificação
e) a despesa fixada para o exercício em que se elabora pormenorizada de cada dotação solicitada, com a indica-
a proposta; e ção dos atos de aprovação de projetos e orçamentos de
f) a despesa prevista para o exercício a que se refere obras públicas, para cujo início ou prosseguimento ela
a proposta. se destina.
IV – Especificação dos programas especiais de A estimativa da receita terá por base as demonstrações
trabalho custeados por dotações globais, em termos de mencionadas, da arrecadação, pelo menos, dos três últimos
metas visadas, decompostas em estimativa do custo das exercícios, bem como as circunstâncias de ordem conjun-
obras a realizar e dos serviços a prestar, acompanhadas tural e outras que possam afetar a produtividade de cada
de justificação econômica, financeira, social e adminis- fonte de receita. As propostas orçamentárias parciais serão
trativa. revistas e coordenadas na proposta geral, considerando-se
V – Descrição sucinta das principais finalidades de a receita estimada e as novas circunstâncias.
cada unidade administrativa, com indicação da respecti- f.2) Estudo e aprovação: Esta fase é de competência
va legislação. Por seu turno, a lei orçamentária anual terá, do Poder Legislativo, e o seu significado está configurado
além do texto regulamentar, a seguinte composição: na necessidade de que o povo, através de seus representan-
tes, intervenha na decisão de suas próprias aspirações, bem
1) sumário geral da receita por fontes e da despesa
como na maneira de alcançá-las. As emendas ao projeto de
por funções do Governo;
lei do orçamento anual ou aos projetos que o modifiquem
2) quadro demonstrativo da receita e despesa segundo
somente podem ser aprovadas caso:
as categorias econômicas;
I – sejam compatíveis com o plano plurianual e com
3) quadro discriminativo da receita por fontes e res-
a lei de diretrizes orçamentárias;
pectiva legislação; II – indiquem os recursos necessários, admitidos
4) quadro das dotações por órgãos do Governo e da apenas os provenientes de anulação de despesa, excluídas
Administração; as que incidam sobre:
5) quadros demonstrativos da receita e planos de a) dotações para pessoal e seus encargos;
aplicação dos fundos especiais. b) serviço da dívida;
VI – quadros demonstrativos da despesa, na forma c) transferências tributárias constitucionais para Es-
dos anexos nº 6 a 9 da Lei nº 4.320/1964; tados, Municípios e Distrito Federal; ou
VII – quadro demonstrativo do programa anual de III – sejam relacionadas:
trabalho do Governo, em termos de realização de obras a) com a correção de erros ou omissões; ou
e de prestação de serviços. b) com os dispositivos do texto do projeto de lei.
Devidamente discutido, o projeto de lei orçamentário,
f) Ciclo orçamentário: uma vez aprovado pelo Poder Legislativo, merecerá de
sua parte a edição de um autógrafo e, logo após, enviado
O orçamento, embora seja anual, não pode ser conce- para sanção pelo chefe do poder Executivo.
bido ou executado isoladamente do período imediatamente f.3) Execução orçamentária e financeira:
anterior e do posterior, pois sofre influências condicionan- – Programação de desembolso : As dotações consig-
tes daquele que o precede, assim como constitui uma base nadas aos créditos orçamentários e adicionais representam
informativa para os futuros exercícios. Daí a necessidade autorizações de despesas válidas para utilização no perí-
de compreensão do Ciclo Orçamentário, que é a seqüência odo de vigência da lei orçamentária anual.
das etapas desenvolvidas pelo processo orçamentário, Para que as despesas possam ser efetivamente reali-
assim, consubstanciado: zadas, é necessário que os recursos financeiros estejam
a) elaboração; disponíveis no momento devido para quitar a obrigação.
b) estudo e aprovação; Como não ocorre automaticamente o ajuste entre a entrada
c) execução; e efetiva das receitas e as necessidades de pagamento das
GESTÃO GOVERNAMENTAL

d) avaliação. despesas, o administrador deve precaver-se, programan-


do a realização dos gastos de forma harmonizada com o
f.1) Elaboração: A elaboração do orçamento, de comportamento do fluxo de entrada dos recursos. Com
conformidade com o disposto na lei de diretrizes orça- essa finalidade, a norma brasileira determina que o Poder
mentárias, compreende a fixação de objetivos concretos Executivo, no prazo de até trinta dias após a publicação da
para o período considerado, bem como o cálculo dos lei orçamentária, estabelecerá a programação financeira e
recursos humanos, materiais e financeiros, necessários à o cronograma de execução mensal de desembolsos. (LC
sua materialização e concretização. 101/2000: art. 9º)
42
Na fixação da programação, particularmente das cotas ção Federal de 1988 manteve essa concepção e deu-lhe um
mensais, devem ser considerados os créditos adicionais e sentido ainda mais amplo. O caput do artigo 70 estabele
as operações extra-orçamentárias, em especial os restos a que a fiscalização contábil, financeira, orçamentária e pa-
pagar. Esse cuidado permite que a programação funcione, trimonial da União e das entidades da administração direta
também, como um autêntico fluxo de caixa, ajustando e indireta, quanto à legalidade, economicidade, aplicação
a realização futura das despesas com o comportamento das subvenções e renúncia das receitas, será exercida pelo
esperado das receitas. Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo
A flexibilidade, no entanto, deve ser uma característica sistema de controle interno de cada Poder.
da programação de desembolso. Assim, o cronograma Especificamente no plano orçamentário, as áreas
poderá ser alterado durante o exercício, tendo em vista centrais de atenção do controle estão definidas no artigo
modificações nas prioridades e, especialmente, no com- 75 da Lei nº 4.320/1964:
portamento da arrecadação. Neste aspecto, é importante I – a legalidade dos atos de que resultem a arrecadação
ter presente as seguintes regras da Lei de Responsabili- da receita ou a realização da
dade Fiscal: despesa, o nascimento ou a extinção de direitos e
• se verificado, ao final de um bimestre, que a obrigações;
realização da receita poderá não comportar o II – a fidelidade funcional dos agentes da administra-
cumprimento das metas de resultado primário ou ção responsáveis por bens e valores públicos; e
nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, III – o cumprimento do programa de trabalho, ex-
os Poderes e o Ministério Público promoverão, presso em termos monetários e em termos de realização
por ato próprio e nos montantes necessários, nos de obras e prestação de serviços.
trinta dias subseqüentes, limitação de empenho
e movimentação financeira, segundo os critérios g) Orçamento-Programa: a adoção do orçamen-
fixados pela lei de diretrizes orçamentárias; to-programa na esfera federal foi efetivada em 1964,
• no caso de restabelecimento da receita prevista, a partir da edição da Lei nº 4.320.
ainda que parcial, a recomposição das dotações O Decreto-Lei nº 200, de 23/02/1967, por sua vez,
cujos empenhos foram limitados dar-se-á de forma menciona o orçamento-programa como plano de ação do
proporcional às reduções efetivas;
Governo Federal, quando, em seu art. 16, determina que
• não serão objeto de limitação as despesas que
em cada ano, será elaborado um orçamento-programa
constituam obrigações constitucionais e legais do
que pormenorizará a etapa do programa plurianual a ser
ente, inclusive aquelas destinadas ao pagamento
realizado no exercício seguinte e que servirá de roteiro à
do serviço da dívida, e as ressalvadas pela lei de
execução coordenada do programa anual.
diretrizes orçamentárias;
• até final dos meses de maio, setembro e fevereiro, O orçamento-programa está intimamente ligado ao
o Poder Executivo demonstrará e avaliará o cum- Sistema de Planejamento e aos objetivos que o Governo
primento das metas fiscais de cada quadrimestre, pretende alcançar durante o período de tempo. O orça-
em audiência pública na comissão mista de orça- mento-programa pode ser definido como sendo um plano
mento. de trabalho expresso por um conjunto de ações a realizar
– Programação dos desembolsos no governo e pela identificação dos recursos necessários à sua exe-
federal: Na União, a programação da execução cução não sendo apenas um documento financeiro, mas,
da despesa tem como principal norma discipli- principalmente, um instrumento de operacionalização das
nadora o Decreto-lei nº 200/1967, que define a ações do governo, viabilizando seus projetos/atividades
programação financeira de desembolso como em consonância com os planos e diretrizes estabelecidos,
instrumento básico do planejamento, sofren- com as seguintes vantagens:
do alterações anuais, a cada edição da LDO. a) melhor planejamento de trabalho;
A programação pode ser dividida em duas partes: b) mais precisão na elaboração dos orçamentos;
a programação orçamentária, que explicita os c) melhor determinação das responsabilidades;
valores fixados na lei orçamentária e os valores d) maior oportunidades para redução dos custos;
liberados para movimentação e empenho (a di- e) maior compreensão do conteúdo orçamentário por
ferença representa valores contingenciados, ou parte do Executivo, do Legislativo e do público;
seja, critérios autorizados na lei orçamentária, f) facilidade para identificação de duplicidade de
mas que as unidades não estão autorizadas a funções;
utilizar); e a programação financeira é consti- g) melhor controle da execução do programa;
tuída pelo cronograma anual de cotas mensais de h) identificação dos gastos e realizações por programa
desembolso financeiro. Aqui, não se trata mais e sua comparação em termos absolutos e relativos;
de cotas orçamentárias, como anteriormente, i) apresentação dos objetivos e dos recursos da
mas de valores financeiros que as unidades, em instituição e do inter-relacionamento entre custos e pro-
GESTÃO GOVERNAMENTAL

princípio, poderão contar em cada um dos meses gramas; e


do exercício. Tais valores deverão atender tanto j) ênfase no que a instituição realiza e não no que
às despesas do exercício em curso, como os ela gasta.
restos a pagar.
Identificam-se, na elaboração de um orçamento-pro-
f.4) Controle e avaliação da execução orçamentária grama, algumas fases nítidas e necessárias, quais sejam:
: A Lei nº 4.320/1964 estabelece dois sistemas de controle • Determinação da situação – identificação dos
da execução orçamentária: interno e externo. A Constitui- problemas existentes.
43
• Diagnóstico da situação – identificação das causas recursos é Política Pública e deve ter por base o entrelaça-
que concorrem para o aparecimento dos proble- mento entre planejamento/orçamento para implementação.
mas. Esse entrosamento, no caso brasileiro, teve seu marco
• Apresentação das soluções – identificação das al- inicial com o advento da Lei 4.320/1964, que pretendeu
ternativas viáveis para solucionar os problemas. instituir o orçamento programa, instrumento de alocação
• Estabelecimento das prioridades – ordenamento de recursos com ênfase não no objeto de gastos, mas no
das soluções encontradas. seu objetivo.
• Definição dos objetivos – estabelecimento do que
se pretende fazer e o que se conseguirá com isso. Apropriação de Custos na Administração Pública
• Determinação das tarefas – identificação das ações Federal:
necessárias para atingir os objetivos.
• Determinação dos recursos – arrolamento dos Com a edição da LRF, tomam fôlego na Administra-
meios: recursos humanos, materiais, técnicos, ção Pública os defensores da idéia de implantar instrumen-
institucionais e serviços de terceiros necessários. tos de equilíbrio entre receitas e despesas, e de controle
• Determinação dos meios financeiros – expressão da qualidade da gestão do dinheiro público. O art. 50,
monetária dos recursos alocados. Expressa, tam- §3º, da referida Lei prevê que a Administração Pública
bém, o custo financeiro necessário para utilizar os manterá sistema de custos que permita a avaliação e o
recursos que necessitam ser mobilizados. acompanhamento da gestão orçamentária, financeira e
patrimonial, reforçando o disposto na Lei 4.320/1964 a
As principais críticas feitas ao orçamento-programa respeito do dever do gestor público de apurar custos a fim
se referem à dificuldade de adoção de padrões de medição de uma prestação de serviços mais eficiente.
do trabalho, especificamente a definição dos produtos Além disso, na literatura encontra-se bastante ênfase a
finais: respeito do tipo de sistema de custos que possa atender ao
• Em primeiro lugar, há a necessidade de que os setor público e permita aos gestores identificar: custo dos
novos conceitos sejam conhecidos por todos os bens e serviços; a quantidade física dos serviços entregues;
órgãos executores de atividades e programas, bem a apropriação a projetos e atividades; e a apropriação ao
como por todos os técnicos que elaboram e avaliam resultado do exercício a) Requisitos para implantação
projetos e programas e por todas as autoridades que de um sistema de custos: Em qualquer tipo de empresa
tomam decisões. seja ela pública ou privada, a primeira providência é
• Em segundo lugar, as próprias dificuldades em conhecê-la – e o melhor instrumento para a Administração
identificar produtos finais fazem com que sejam Pública são os documentos gerados no Ciclo de Planeja-
apressadamente apontados como tal produtos mento e de Orçamento (PPA, LDO, LOA).
intermediários ou produtos de segunda linha. Como segunda informação, não menos importante
• Em terceiro lugar, certas atividades relevantes que a primeira, é conhecer os serviços prestados pela enti-
do Estado são intangíveis, seus resultados não se dade pública, e qual sua razão de existência. Como conse-
prestam a medições. qüência, será preciso dispor de um consistente sistema de
planejamento, contabilidade voltada ao desenvolvimento
h) Integração do orçamento ao planejamento: um de custos, de um bom sistema de controle interno e de
dos instrumentos administrativos que mais notoriedade suporte de tecnologia da informação.
obtiveram nos últimos 30 anos foi o planejamento. Seu A contabilidade de custos deve organizar-se de forma
emprego sistemático, nos programas militares desde a desconcentrada em todas as unidades orçamentárias, com
Segunda Guerra Mundial, contribuiu para aperfeiçoá-lo e um plano de contas único, capaz de fornecer as informa-
desenvolvê-lo sobremaneira, o que estimulou as empresas ções no grau de detalhamento adequado. O controle inter-
e outros setores do governo a incorporar suas técnicas. no é essencial na identificação dos fluxos dos processos
A tendência para aproximar o orçamento do planeja- da Administração, identificando as rotinas e os caminhos
mento evidencia-se naturalmente, até que, na década de 60 de cada operação realizada, onde inicia-se o processo e
surgiu o Sistema de Planejamento, Programação e Orça- em qual setor este se finda.
mento, que constituem os processos por meio dos quais os b) Algumas metodologias de apropriação de cus-
objetivos e os recursos, e suas inter-relações, são levados tos: Custos são gastos efetuados e que são formadores
em conta visando à obtenção de um programa de ação, dos produtos ou serviços prestados pela Administração à
coerente e compreensivo para o governo como um todo. sociedade, através de programas e ações públicas. O custo
A nova concepção ambiciosa integra de forma sistemática: está relacionado sempre com o produto, direta ou indire-
os diagnósticos e prognósticos, os objetivos, a análise de tamente. Assim, há diversas formas de apropriá-los:
cursos alternativos, os programas e projetos com suas – Sistema de custeio por absorção : consiste em
metas, os recursos a serem empregados, a indicação de apropriar todos os custos de produção aos bens elaborados,
GESTÃO GOVERNAMENTAL

custos, bem como os esquemas de avaliação e controle. e só os de produção ; todos os gastos relativos ao esforço
O planejamento teria o papel mais saliente em todo de fabricação são distribuídos para todos os produtos ou
o processo, e isso seria possível devido ao estágio alcan- serviços feitos.
çado pelas modernas técnicas de informação que visam No setor público os custos realizados, na sua maio-
auxiliar a análise e a tomada de decisões. No atual modelo ria, são de prestação de serviços, para isso o sistema de
orçamentário brasileiro, existe estreita conexão entre absorção deve ser adaptado às realidades públicas. Ao se
Planejamento e Orçamento, formando, assim, binômio trabalhar com sistemas de custeio, encontram-se algumas
inseparável. Para os estudiosos da área, distribuição de dificuldades na separação dos custos comuns, que seriam
44
aqueles que pertencem a mais de um serviço. Deve-se criar Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para
um método de rateio para custos indiretos, procurando elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União,
que o mesmo tenha o menor grau de risco, ou seja, cause dos Estados, dos Municípios e do DF.
a menor distorção no custo total, ainda que haja algum
grau de arbitrariedade e subjetivismo, porque os custos Leis Ordinárias
fixos existem independentemente da produção, e acabam
presentes no mesmo montante, mesmo que oscilações Lei nº 11.514, de 13 de agosto de 2007 (LDO 2008)
ocorram no volume de produção. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
– Sistema de custeio direto ou variável : nesse 2010/2007/Lei/L11514.htm
sistema, despesas e custos são classificados como fixos Dispõe sobre as diretrizes para a elaboração da Lei
ou variáveis. A alocação de recursos no custeio direto é Orçamentária de 2008 e dá outras providências.
realizado segundo o plano de contas, que contempla em
sua estrutura básica a unidade funcional, designada como Lei nº 11.451, de 7 de fevereiro de 2007 (LOA 2007)
centro de responsabilidade e por atividade fim, designadas http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
como centro de custos. 2010/2007/Lei/L11451.htm
A análise das variações de despesas e custos forne- Estima a receita e fixa a despesa da União para o
cidas pelo custeio variável é de grande utilidade para a exercício financeiro de 2007.
tomada de decisão, estando aí uma das maiores vantagens
deste sistema de custeio. Lei nº 11.450, de 7 de fevereiro de 2007 (Revisão
- Sistema de custeio baseado em atividades – abc PPA)
(activity based cost): O ABC (Activity-Based Costing), http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
ou custeio baseado em atividades, propõe a redução da 2010/2007/Lei/L11450.htm
subjetividade ou arbitrariedade na alocação de custos Altera a Lei nº 10.933, de 11 de agosto de 2004,
indiretos. Tem vantagens para a administração pública, ao que dispõe sobre o Plano Plurianual para o período de
permitir trabalhar com diversidade de produtos, efetuar 2004/2007.
o mapeamento dos principais processos existentes na
organização, identificar as atividades existentes em cada Lei nº 10.933 de 11 de agosto de 2004 (PPA 2004-
processo, levantar os custos e recursos associados a cada 2007)
atividade (custo/atividade), identificar as atividades que http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
não agregam valor ao produto e avaliar a influência das 2006/2004/Lei/L10.933.htm
atividades secundárias no produto final, ou seja, determi- Estima a Receita e fixa a despesa da União para o
nar se podem ser eliminadas ou pelo menos reduzidas. exercício financeiro de 2007.
c) Classificação dos custos:
• Os custos fixos se mantêm inalterados indepen- Lei nº 10.180 de 6 de fevereiro de 2001
dentemente da variação unitária das quantidades http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LEIS_
em relação a determinado produto. 2001/L10180.htm
• Os custos variáveis se modificam em razão do Organiza e disciplina os Sistemas de Planejamento
volume de produtos. e de Orçamento Federal, de Administração Financeira
• Os custos diretos são os custos apropriáveis dire- Federal, de Contabilidade Federal e de Controle Interno
tamente ao produto. do Poder Executivo Federal, e dá outras providências.
• Os custos indiretos são aqueles que não condu-
zem de maneira clara e objetiva à apropriação ao Decretos
produto, muito embora sejam custos.
Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967
FUNDAMENTOS LEGAIS DO SISTEMA DE PLANEJAMEN- http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/
TO E ORÇAMENTO BRASILEIRO Del0200.htm
Dispõe sobre a organização da Administração Federal,
Constituição Federal de 1988 – Seção II – Dos estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá
Orçamentos, Art. 165 A 169 outras providências.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
Constituiçao.htm Decreto nº 6.183, de 8 de agosto de 2007
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
Leis Complementares 2010/2007/Decreto/D6183.htm
Estabelece, no âmbito do Poder Executivo, limites
Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 para empenho de despesas com publicidade no exercício
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/ de 2007.
GESTÃO GOVERNAMENTAL

Lcp101.htm
Lei de Responsabilidade Fiscal – Estabelece normas Decreto nº 6.139, de 3 de julho de 2007
de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
gestão fiscal e dá outras providências. 2010/2007/Decreto/D6139.htm
Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demons-
Lei nº 4320, de 17 de Março de 1964 trativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratifica-
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4320. das do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão,
htm e dá outras providências.
45
Decreto nº 6.046, de 22 de fevereiro de 2007 SUGESTÕES DE LEITURA
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2007/Decreto/D6046.htm FIGUEIREDO, A. et allii. Prefácio. In: REZENDE, F. e
Dispõe sobre a programação orçamentária e finan- CUNHA, A. O orçamento público e a transição do poder.
ceira e estabelece o cronograma mensal de desembolso Rio de Janeiro, FGV, 2003 (pp. 7-13).
do Poder Executivo para o exercício de 2007, e dá outras FIGUEIREDO, A. et allii. Posfácio. In: REZENDE, F. e
providências. CUNHA, A. O orçamento público e a transição do poder.
Rio de Janeiro, FGV, 2003 (pp. 7-13).
Portarias Específicas do MP e MF GIACOMONI, James. Orçamento Público. 13ª ed. São
Paulo, Atlas, 2005.
Portaria SOF nº 37, de 16 de Agosto de 2007 BRASIL. Secretaria de Orçamento Federal – Manual
https://www.portalsof.planejamento.gov.br/bib/legis- Técnico de Orçamento – MTO-04-2008, SOF/MPOG,
lacao/portaria_37_de_160807.pdf
Brasília. Disponível em: https://www.portalsof.planeja-
Altera o anexo da Portaria MOG nº 42, de 14 de abril
mento.gov.br/bib/MTO/MTO_2008_04.pdf
de 1999 e dá outras providências
CORE, Fabiano Garcia. Reforma Gerencial dos Processos
Portaria SOF nº 5, de 22 de fevereiro de 2007 de Planejamento e Orçamento. ENAP. Texto para discus-
https://www.portalsof.planejamento.gov.br/bib/legis- são nº 44, Brasília, 2001.
lacao/portarias/Portaria_05_de_220207.pdf ANGÉLICO, João. Contabilidade Pública. 8ª ed. São
Estabelece procedimentos e prazos para solicitação Paulo: Atlas, 1994.
de alterações orçamentárias no exercício de 2007, e dá CRUZ, Flávio da. GLOCK, José Osvaldo. Controle
outras providências. Interno nos municípios: orientação para a implantação
e relacionamento com os tribunais de contas. São Paulo:
Portaria SOF nº 4, de 22 de fevereiro de 2007 Atlas, 2003.
https://www.portalsof.planejamento.gov.br/bib/legis- FLORES, Paulo César. Sistema de Custos na Administra-
lacao/portarias/Portaria_04_de_220207.pdf ção Pública. Porto Alegre, 2004.
Estabelece procedimentos a serem observados na HORNGREN, Charles T. FOSTER, George. DATAR,
abertura de créditos autorizados na Lei Orçamentária de Srikant M. Contabilidade de Custos. 9ª ed. Rio de Janeiro,
2007, no âmbito dos órgãos dos Poderes Legislativo e 2000.
Judiciário e do Ministério Público da União. MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. 9ª ed. São
Paulo: Atlas, 2003.
Portaria SOF nº 9, de 27 de junho de 2001 REIS, Heraldo da Costa. A Lei 4.320 Comentada. 23ª ed.
https://www.portalsof.planejamento.gov.br/bib/legis- Rio de Janeiro, 1991.
lacao/portarias/Portariasof_09_270601.pdf SLOMKI, Valmor. Manual de contabilidade pública: um
Dispõe sobre a classificação orçamentária por natu- enfoque na contabilidade municipal. São Paulo, 2001.
reza de receita.

Portaria Interministerial STN/SOF nº 163, de 4


de maio de 2001
https://www.portalsof.planejamento.gov.br/bib/legis-
lacao/portarias/PortInterm_SOF-STN_163_040501.pdf
Dispõe sobre normas gerais de consolidação das
Contas Públicas no âmbito da União, Estados, Distrito
Federal e Municípios e dá outras providências.

Portaria SOF nº 1, de 19 de fevereiro de 2001


https://www.portalsof.planejamento.gov.br/bib/legis-
lacao/portarias/Portariasof_01_190201.pdf
Dispõe sobre a classificação orçamentária por fontes
de recursos.

Portaria MOG nº 42, de 14 de abril de 1999


http://www.planejamento.gov.br/orcamento/conteu-
do/legislacao/portarias/portaria_42_14_04_99.htm
Atualiza a discriminação da despesa por funções de
que tratam o inciso I do § 1º do art. 2º e § 2º do art. 8º,
ambos da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, estabelece
GESTÃO GOVERNAMENTAL

os conceitos de função, subfunção, programa, projeto,


atividade, operações especiais, e dá outras providências.

Portaria SOF nº 51, de 16 de novembro de 1998


https://www.portalsof.planejamento.gov.br/bib/legis-
lacao/portarias/Portariasof_51_161198.pdf
Institui o Subsistema de Cadastro de Programas e
Ações do SIDOR, e dá outras providências.
46

Formato
15 x 21cm

Mancha
11,5 x 17,5cm

Papel
Offset

Gramatura
70 gr/m2

Número de páginas
46

Impressão e acabamento
GESTÃO GOVERNAMENTAL

SEPN 509 Ed. Contag 3º andar CEP 70750-502 Brasília/DF


SAC: 0800 600 4399 Tel.: (61) 3034 9576 Fax: (61) 3347 4399
www.vestcon.com.br

Você também pode gostar