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1. Enquadramento geral
Portugal teve apenas dois Códigos Penais. O direito penal antigo estava
contido nas Ordenações do Reino (Afonsinas, Manuelinas e Filipinas), no Livro
V, de uma forma desordenada, casuística e discriminatória – a punição das
pessoas dependia da classe social do agente e da vítima do crime.
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suprimiram-se os crimes contra a religião, que só persistiram como crimes
contra os sentimentos religiosos – ou seja como crimes contra a sociedade.
Por fim, na reforma em curso (já aprovada pelo Governo e remetida para
o Parlamento) aprofunda-se (entre vários outros aspectos) a linha de protecção
de vítimas indefesas. A distinção entre actos homossexuais e heterossexuais
com adolescentes (com idade entre 14 e 16 anos), que implica que os
primeiros sejam sempre punidos e a punibilidade dos segundos dependa do
abuso da inexperiência, é superada. O conceito de violação é alargado e as
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discriminações em função do sexo e da orientação sexual são abolidas por
completo. Por exemplo, a distinção entre actos homossexuais e heterossexuais
com adolescentes (com idade entre 14 e 16 anos), que implica que os
primeiros sejam sempre punidos e a punibilidade dos segundos dependa do
abuso da inexperiência, é superada.
Desta breve análise, que não pretende ser exaustiva, depreende-se que
o cunho liberal do nosso Direito Penal (enformado pelo princípio da intervenção
mínima e orientado pelo fim de protecção de bens jurídicos – artigo 18º, nº 2,
da Constituição e 40, nº 1, do Código Penal) se tem acentuado,
progressivamente, desde a Revolução. A evolução do “Direito Penal Sexual”
constitui um dos domínios privilegiados para observar essa evolução. Em
simultâneo, desde o início da década de 80 (o Decreto-Lei nº 433/82, de 27 de
Outubro, que revogou o Decreto-Lei nº 232/79, de 24 de Outubro, consagra o
regime geral do ilícito de mera ordenação social), temos assistido à
descriminalização de bagatelas penais (transgressões e contravenções), que
têm sido convertidas em contra-ordenações. Um dos pontos mais altos desse
movimento coincidiu com a aprovação do Código da Estrada de 1994. Mais
recentemente, o consumo de droga, por exemplo, também foi transformado em
contra-ordenação (Lei nº 30/200, de 29 de Novembro).
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pessoas, drogas e armas e actividades instrumentais, como o branqueamento),
sendo legítimo criar mecanismos para tornar o processo mais célere e eficaz.
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incompatível com o princípio da igualdade. Mas daqui não se infere, por
exemplo, que a Constituição obrigue a punir o aborto em todos os casos.
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Os crimes contra ao propriedade não determinam a transferência
de propriedade, mas afectam, de algum modo o se exercício. Em regra,
supõem a perda de detenção e a constituição de uma nova detenção
sobre uma coisa.
Crime de furto
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originária, depois um acto de desapossamento e, por fim, o furto consuma-se
com a constituição de uma nova detenção.
O objecto do crime é uma coisa móvel alheia. Mas o que é, afinal, uma
coisa móvel? A noção é prevista no Código Civil (CC) com grande clareza:
coisa móvel é a coisa não incorporada, directa ou indirectamente, no solo a
título permanente. Porém, em Direito Penal, o conceito deve ser compreendido
numa perspectiva funcional, orientada teleologicamente: podem ser objecto do
crime de furto todas as coisas originariamente móveis, mas também todas as
coisas imóveis que possam ser transformadas em móveis e subtraídas (por
exemplo, o quadro de uma sala de aula, se arrancado à parede).
A exigência de que a coisa seja alheia, implica que ela não seja do
agente do crime, no todo ou em parte. Estando em curso, por exemplo, uma
acção de divórcio, a subtracção de um bem que integre o património comum
não constitui furto.
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da coisa em sentido jurídico, salvo se ocorrer a usucapião, pelo que não se
exige, objectivamente, a apropriação. Trata-se, por isso, de um crime
incongruente, cujo tipo subjectivo é mais extenso do que o tipo subjectivo.
Também se diz que é um crime de resultado cortado ou parcial, precisamente
porque a sua consumação depende da subtracção, não se requerendo a
apropriação.
Neste crime, o agente apropria-se de uma coisa alheia que lhe foi
entregue por título não translativo de propriedade. Continua a não haver uma
apropriação em sentido jurídico, mas o agente passa a comportar-se como
proprietário da coisa. Imagine-se, por exemplo, que um estudante empresta a
outro um livro e este decide ficar com ele…
Por que razão existe este crime? Porque a situação que ele tipifica
ocorre com frequência e porque é difícil provar a intenção de apropriação. Este
tipo de crime resulta da dificuldade de prova e demonstra a relação de
interdependência funcional entre o Direito e o Processo Penal.
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Crime de roubo
Crime de dano
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Todos os crimes contra o património em geral têm por objecto o
património de outra pessoa e consumam-se com uma diminuição desse
património. Mas qual será o conceito de património válido? O critério preferível
é o jurídico-económico, devendo integrar-se no património todas as situações
jurídicas com um significado económico, englobando, nos termos gerais, lucros
cessantes e danos emergentes.
Crime de burla
A burla ocorre quando uma pessoa utiliza astúcia para induzir outra em
erro ou engano, de modo a que essa pessoa pratique um acto de disposição
patrimonial de que resulte um prejuízo. Subjectivamente, requer-se uma
intenção de enriquecimento ilegítimo.
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Tal como o furto, trata-se de um crime incongruente e de resultado
cortado ou parcial, uma vez que não é necessário que o agente enriqueça
objectivamente, bastando que tenha a intenção de enriquecer. Se, por
exemplo, a vítima do crime se engana e pratica o acto de disposição fazendo o
depósito na conta de um terceiro, o agente não enriquece mas há burla
consumada.
Crime de receptação
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Aspecto relevante, no actual regime, é a punição da negligência
grosseira. Quando o agente puder “razoavelmente” suspeitar da proveniência
criminosa de uma coisa que adquire (pela sua natureza, pelo seu preço ou pela
qualidade de quem a oferece), é punível, nos termos do art.231º, nº.2, do CP.
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