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O Passo “Jump”
São Paulo
Junho/2012
Resumo
O “Jump” é um dos passos mais complicados da Dança Irlandesa, pois, como o próprio
nome sugere, é um salto, mas é realizado partindo da meia ponta de um pé só, enquanto a
outra perna está estendida à frente do corpo. Além disso, ele costuma ser realizado com
deslocamento. Portanto, deve-se tomar bastante impulso partindo de pouco contato com o
solo, o que é muito complicado. Agregando os conceitos de Cinesiologia e Biomecânica, é
possível que esse movimento possa ser melhor e mais facilmente executado, especialmente
para os alunos no momento do aprendizado.
A Dança e a Cinesiologia
Introdução
Breve História
É difícil de acreditar que um povo que possui tanto apreço pela música – a julgar pela
quantidade de instrumentos musicais que possui – nunca dançou ou nunca teve conhecimento
de dança, já que normalmente a dança precede a música. Apesar de não existirem muitas
referências de dança na literatura antiga irlandesa, sabe-se que, como em qualquer outra
civilização em tempos remotos, realizavam-se danças rituais, de guerra, de trabalho e também
de recreação. Diz-se que a primeira música foi trazida à Irlanda por volta de 1600 a.C. pelos
Tuatha De Danann (Povo da Deusa Dana). Eles possuíam cabelos claros, eram muito enérgicos
e, de acordo com a tradição, eram muito cultos.
Com a cristianização da Irlanda em aproximadamente 431 d.C., muitas tentativas
foram feitas de inibir tanto a dança quanto as práticas rituais celtas, mas muitas características
pagãs permaneceram. Com as invasões vikings e anglo-normandas, novas características
culturais foram assimiladas, que refletiram na dança.
Na literatura anglo-irlandesa e inglesa dos séculos XVI e XVII encontram-se várias
referências à dança irlandesa. Essas danças em questão eram comumente chamadas de
roundelays, heys, trecnhmores, jigs e rince fada. Em uma publicação escocesa de 1549,
“Complainte of Scotland”, há referência a uma dança de roda escocesa sendo similar à rince
fada dos irlandeses. No livro History of Irish Music, de 1905 e escrito por Grattan Flood, há
referência de uma carta escrita por Sir Henry Sidney em 1569 à Rainha Elisabeth I na qual ele
escreve sobre as damas de Galway que dançam a jig irlandesa, dizendo que são
maravilhosamente vestidas, muito bonitas e dançarinas de primeira classe.
A maior influência na dança irlandesa deu-se através dos dance masters (mestres de
dança) que apareceram na cena social na segunda metade do século XVIII, introduzindo
refinamento e disciplina nas danças de grupo e desenvolvendo os trabalhos de pés das danças
solo. Com isso, a dança irlandesa alcançou a altura máxima da perfeição nas danças solo e no
sapateado.
Os mestres de dança foram figuras de alta estima, talvez mais do que os próprios
músicos, e eram tratados com muito respeito por toda a comunidade local. Sua chegada era
uma ocasião de muita alegria, e eles faziam acordo com os fazendeiros, de ter um lugar para se
hospedarem e usarem para ensinar a dança, e em troca davam aulas de dança aos seus filhos.
Eles não eram apenas famosos por suas habilidades de dança, mas também pela habilidade de
compor novos passos.
Os antigos mestres de dança sobreviveram até o começo do século XX, e a eles deve-se
a recuperação de várias ceili dances, como The High Caul Cap, St Patrick’s Day e The Limerick
Walls.
Por volta do século XVII o relacionamento entre clérigos católicos e dança irlandesa
ficou complicado, com vários bispos e padres condenando não somente a dança em si, mas
também o prazer que as pessoas sentiam ao dançar. E homens e mulheres dançando juntos
era outro motivo de desgosto dos clérigos, que condenavam os praticantes e incentivavam os
pais a punirem seus filhos fisicamente, isso quando eles próprios não o faziam. Graças à
pressão exercida pela Igreja, foi criada uma lei em 1935 que proibia a prática de dança sem
licença em prédios, jardins ou qualquer lugar fechado, temporário ou permanente. Isso
acarretou no quase fim das reuniões sociais informais e em grande prejuízo na preservação e
desenvolvimento da dança irlandesa.
Séculos de perseguições e proibições fizeram com que muitas casas de dança
desaparecessem gradualmente, bem como ceilis e muitas outras atividades culturais
irlandesas. Consequentemente isso fez com que muitos músicos, incapazes de encontrar
emprego, emigrassem para a Inglaterra, América ou outros países com fortes comunidades
irlandesas onde seus talentos seriam apreciados. A vida cultural irlandesa certamente
empobreceu com essas emigrações.
Durante o século XIX um movimento muito forte estava desenvolvendo em direção a
uma identidade e orgulho nacionais irlandeses, o que resultou na criação da Gaelic League
(Liga Gaélica) em 1893, com prioridade na promoção e preservação da língua irlandesa
(gaélico) e da dança irlandesa, esta através de aulas, competições, introdução de metodologia
e terminologia e criação do termo ceili dances. Essa organização teve grande influência no
futuro da dança irlandesa e hoje possui muitos professores qualificados pelo mundo todo, e
conduziu à criação da Irish Dance Comission (Comissão de Dança Irlandesa) em 1930, ainda
existente hoje supervisionando e organizando a maioria das danças irlandesa pelo mundo
inteiro.
A Dança Irlandesa é caracterizada pela postura rígida do tronco e membros superiores,
saltos e movimentos rápidos e complexos dos pés. É composta por duas técnicas: soft shoes
(figura 01) e hard shoes (figura 02). Na primeira, dançada nos ritmos reel, slip jig, light jig e
single jig, utiliza-se sapatilhas (chamadas ghillies), e os movimentos remetem aos do balé
clássico. Já na segunda técnica são utilizados os sapatos de sapateado e os ritmos treble reel,
treble jig e hornpipe. Com os hard shoes são realizadas também as set dances, danças
tradicionais com músicas e passos próprios, possivelmente coreografados no início do século
19.
Além dessas danças solo, há as danças sociais (céili dances), realizadas em grupo, onde
em cada coreografia acompanham passos típicos, com número definido de praticantes -
variando de 3 a 16 pessoas - que formam figuras (figura 03).
A Dança Hoje
Objetivo Geral
Este estudo tem como objetivo verificar se é possível que o movimento “jump” da
dança irlandesa possa ser melhor e mais facilmente assimilado e executado, especialmente
para os alunos no momento do aprendizado, utilizando os conceitos de Cinesiologia e
Biomecânica.
Objetivos Específicos
Justificativa do Estudo
Delimitando o estudo
Método do estudo
O estudo será realizado em parte por pesquisa bibliográfica, para compreender desde
a história dessa modalidade de dança até os conceitos anatômicos, cinesiológicos e
biomecânicos do corpo na execução dos passos da dança irlandesa. A outra parte será
questionário e observação dos sujeitos, que são todos alunos, podendo assim manter um
melhor acompanhamento durante o estudo.
Coleta de dados
A execução do passo
Antes de entender o que acontece com o corpo na execução do passo “jump” (figura
04) é necessário entender o passo em si.
1º - O passo inicia-se a partir do chamado elevé no balé clássico em 5ª posição: pés apoiados
na região do ante-pé, ou seja, nos metatarsos e com o calcanhar fora do chão e joelhos
estendidos.
Observação: a partir dessa preparação e durante todo o passo deve-se manter a
rotação externa de quadril (chamada de en dehors do balé clássico).
2º - Estende-se a perna da frente o mais alto possível e à frente do corpo (flexão de quadril,
extensão de joelho e flexão plantar), mantendo a rotação externa de quadril.
3º - Executa-se um salto tendo como impulso a perna de trás, que até então está estendida e
apoiada no ante-pé.
Observação: é fundamental flexionar o joelho tanto na saída do salto quanto na volta
dele, para impulso no primeiro caso e para absorver impacto no segundo.
4º - Enquanto o salto é realizado a perna de trás, após impulsionar o corpo para cima, é
flexionada em outro movimento chamado de “lift” (extensão de quadril, flexão de joelho e
flexão plantar).
5º - A aterrissagem do salto ocorre na perna que estava estendida à frente do corpo, que
desce ao solo no ante-pé.
6º - A perna que estava flexionada atrás do corpo desce na frente da outra perna, também em
elevé, ficando assim na posição inicial.
Movimento e alavancas
O quadril
A cintura pélvica é formada pela pelve ou quadril. A pelve é primariamente uma bacia
de ossos, e se liga aos membros inferiores pela articulação coxofemoral, responsável pela
rotação externa do quadril (en dehors), onde a cabeça esférica do fêmur se encaixa no
acetábulo, que é uma reentrância côncava no ilíaco. A pelve é o lugar anatômico dos fatores à
sexualidade e à fertilidade. Portanto, os aspectos emocionais, medos, realizações e frustrações
sexuais e ligadas à reprodução tendem a alterar sua organização. Além dos aspectos
educacionais que interferem diretamente no comportamento sexual, é certo que existe uma
grande influência da cultura e da sociedade na organização e na mobilidade de todo o corpo, e
principalmente da pelve. É comum que muitas alunas tímidas tenham problema em conseguir
ou manter o en dehors.
Por ser o elemento central da estrutura do corpo, a pelve é fundamental também para
manter o equilíbrio e a estabilização do tronco, ambos muitíssimos importantes na dança
irlandesa e onde é comum que as alunas tenham dificuldade.
A articulação do quadril (coxofemoral) é envolvida por músculos poderosos e bem
equilibrados que não somente movimentam os membros, como também ajudam a manter a
posição do tronco.Os principais músculos responsáveis pela rotação externa do quadril são:
piriforme, obturador externo, obturador interno, gêmeo superior, gêmeo inferior e quadrado
da coxa. Tais músculos devem ser alongados e fortalecidos, para manter a rotação externa
desejável na dança irlandesa, principalmente ao realizar o “jump”. Outros músculos que
também são trabalhados neste passo são: psoas, ilíaco, reto femoral e pectíneo para a flexão
do quadril (perna alongada na frente do corpo); bíceps femoral (porção longa),
semimembranáceo, semitendíneo e glúteo máximo para a extensão do quadril (perna
flexionada atrás do corpo).
Resultados da pesquisa
Com base no questionário respondido pelas alunas, conclui-se que realizar saltos em
geral na dança irlandesa é uma das maiores dificuldades, superado apenas pela dificuldade em
manter tronco e braços imóveis.
Com relação ao passo “jump” exclusivamente, os problemas maiores se resumem em
manter a perna da frente alta e braços alongados, seguido por falta de impulso para saltar e
manter a perna da frente estendida.
Manter o en dehors
Realizar saltos
O objetivo deste estudo era verificar se é possível que o movimento “jump” da dança
irlandesa pudesse ser melhor e mais facilmente assimilado e executado, especialmente para os
alunos no momento do aprendizado, utilizando os conceitos de cinesiologia e biomecânica,
além de relacionar a dança irlandesa com essas disciplinas, aprofundar os conhecimentos
sobre a prática dessa dança e verificar se há incidências traumáticas devido ao treino desse
passo nos praticantes amadores.
Os resultados do estudo mostraram que é possível sim que o “jump” possa ser melhor
e mais facilmente assimilado e executado, utilizando o conhecimento de uso de força e
alavancas do corpo, proporcionado pelos conceitos da cinesiologia e biomecânica.
Evidente que somente o uso correto das alavancas não é o suficiente. Os músculos do
corpo, especialmente os abdominais, quadríceps, internos de coxa e gastroecnêmio devem ser
fortalecidos. E esse é um trabalho mais demorado e específico.
Não foi registrada nenhuma incidência de traumas durante o treino e execução do
“jump” nas alunas que praticam a dança irlandesa durante uma hora e meia, uma vez por
semana.
Referências Bibliográficas
Figuras
Nome:
Idade:
Início da prática da Dança Irlandesa:
Motivo da procura por essa modalidade:
Problemas de saúde/ortopédicos?Quais?
Especifique: ___________________________________________________________________
Data: ____/____/2012
Ass:_________________