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LITERATURA
CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD
Metodologia do Ensino: Literatura – Prof.ª Dra. Ana Cláudia da Silva
METODOLOGIA DO ENSINO:
LITERATURA
Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2010 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013
800.071 1 S71m
ISBN: 978-85-8377-084-8
CDD 800.071 1
Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos
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web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.
CRC
Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O texto literário. Literatura e direitos humanos. A leitura literária: texto, contexto e
pretexto. Textos didáticos, didatizados e paradidáticos. A literatura na legislação
educacional. Literatura e outras linguagens.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. INTRODUÇÃO
Este Caderno de Referência de Conteúdo, Metodologia do Ensi-
no: Literatura, refere-se aos caminhos possíveis para o ensino da lite-
ratura na educação básica.
Desde há muitos anos, o ensino de literatura tem sido pau-
tado pela historiografia: estudam-se, em Literatura, os chamados
períodos literários, com seus respectivos estilos de época, seus
autores fundamentais, canônicos – isto é, "obrigatórios" para o co-
nhecimento daquele período – e suas obras capitais.
Contudo, de alguns anos para cá, o ensino da literatura vem
recebendo outras orientações. Conforme os Parâmetros Curricula-
8 © Metodologia do Ensino: Literatura
Abordagem Geral
Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será estu-
dado neste Caderno de Referência de Conteúdo. Aqui, você entrará
em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma
breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões
no estudo de cada unidade. Desse modo, essa Abordagem Geral
visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a partir do
qual você possa construir um referencial teórico com base sólida
– científica e cultural – para que, no futuro exercício de sua profis-
são, você a exerça com competência cognitiva, ética e responsabi-
lidade social.
O ensino de literatura, tradicionalmente, tem sido pautado
pela História da Literatura. Isso implica no estudo do cânone lite-
rário, isto é, dos autores considerados fundamentais em cada pe-
ríodo literário e de suas principais obras. Entretanto, nos últimos
anos, o ensino da literatura tem recebido uma orientação diversa.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (conhecidos como PCNs),
observamos que toda a educação básica tem como objetivo pri-
mordial a formação da pessoa, especialmente do cidadão, na lei-
tura e na escrita, assim como sua preparação para ingressar de for-
ma competente e responsável no mundo do trabalho. O estudo da
literatura, dentro desse contexto, tem permanecido como discipli-
na nos currículos escolares como forma privilegiada de conhecer
e entender melhor a cultura do nosso país, o Brasil; a literatura é,
antes de outras coisas, uma expressão cultural da nação que a pro-
duz. Sabemos que o conhecimento dos estilos desenvolvidos em
cada período literário ainda permanece como uma das exigências
dos exames de ingresso no ensino superior; contudo, ele vem sen-
do substituído pelo trabalho com o texto propriamente dito, isto
© Caderno de Referência de Conteúdo 11
3. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados em Metodologia do Ensino: Lite-
ratura. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos:
1) Conhecimento literário: a literatura apresenta níveis de
conhecimento intencionais, isto é, propostos pelo autor
e assimilados pelo leitor, e níveis de conhecimento que
o leitor incorpora inconscientemente. Estes se referem à
organização mental e emocional que a ordem do texto li-
terário permite e que não percebemos conscientemente
durante a leitura.
2) Construção literária: todo texto literário é um objeto
construído, um conjunto de palavras ordenadas pelo seu
produtor. Essa ordem dada pelo autor favorece nossa
própria organização mental e de sentimentos; com isso,
nossa visão de mundo fica mais organizada também.
3) Conteúdo literário: aquilo que o autor efetivamente diz,
somado aos significados que lhe podemos atribuir no
processo de leitura.
4) Contexto: etimologicamente, indica aquilo que é tecido
conjuntamente; em literatura aponta para as circunstân-
cias (históricas, políticas, sociais etc.) em que uma obra
foi criada.
5) Didático: destinado ao ensino; que facilita a aprendizagem.
6) Didatização: processo pelo qual um objeto é transferido
de seu contexto original para a sala de aula, para fins de
ensino.
7) Enredo, intriga ou trama: organização das ações narra-
das de acordo com a lógica da obra. "Também distinta
do conceito de fábula, que remete para a organização
das ações de forma lógica, a intriga tem maior liberdade
na ordenação das ações, conflitos, peripécias ou aventu-
ras que vivem as personagens de uma história narrada."
(CEIA [199-?])
por meio
promove HUMANIZAÇÃO
de
EXPRESSÃO
DIREITO DO CIDADÃO CONTEÚDO
CONHECIMENTO
é FORMA + CONTEÚDO
composta
de
na escola,
implica‐se regula
LITERATURA ENSINO LEGISLAÇÃO
EDUCACIONAL
é estudada
por meio de
para
definido
pelo é/não é
CONTEXTO TEXTO PRETEXTO
na escola, apresenta‐se como
DIDÁTICO DIDATIZADO PARADIDÁTICO
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com a prática do ensino de Literatura pode ser uma
forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a re-
solução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se
preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso,
essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos
e adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
Dicas (motivacionais)
O estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo convida
você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo
de emancipação do ser humano. É importante que você se atente
às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes
© Caderno de Referência de Conteúdo 29
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua
Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.
CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: ______. Vários escritos. São Paulo: Duas
Cidades, 1995. p. 235-263.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva,
2002.
LAJOLO, Marisa. Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1991.
MICHELETTI, Guaraciaba; BRANDÃO, Helena Nagamine (Orgs.). Aprender e ensinar com
textos didáticos e paradidáticos. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2002.
EAD
Literatura e Direitos
Humanos
1
1. OBJETIVOS
• Refletir sobre os conceitos de metodologia, ensino e literatura.
• Perceber a literatura como um direito de todo o cidadão.
• Reconhecer as contribuições da leitura literária na forma-
ção do ser humano.
2. CONTEÚDOS
• Conceito de método, ensino e literatura.
• Literatura como um direito humano inalienável.
• Contribuições da literatura para a formação e humaniza-
ção do homem.
Antonio Candido
Antonio Candido de Mello e Sousa nasceu aos 24 de julho de 1918, no Rio de
Janeiro. Grande parte de sua infância, porém, foi vivida com a família em Poços
de Caldas – MG.
Formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo em 1941, Antonio
Candido tornou-se o maior crítico literário brasileiro, cujas obras são conhecidas
e debatidas em todo o território nacional e também no exterior.
Antonio Candido atuou também como jornalista, colaborando com jornais como
Folha da Manhã e O Estado de São Paulo.
Nos anos 40, juntamente com outros intelectuais como Décio de Almeida Prado,
Paulo Emílio Salles Gomes, Alfredo Mesquita, Florestan Fernandes e Gilda de
Moraes Rocha – sobrinha de Mário de Andrade e futura esposa de Candido –
criou a revista literária Clima, tornando-se seu redator-chefe. O grupo que se
reuniu em torno dessa revista deixou contribuições fundamentais no pensamento
sobre a cultura brasileira, nos âmbitos do teatro, cinema, moda, política etc.
Em 1957, iniciou sua atividade docente como professor de Literatura Brasilei-
ra na Unesp de Assis. Dois anos depois, publicou a obra que lhe daria maior
notoriedade: Formação da literatura brasileira: momentos decisivos (CANDIDO,
1971).
Inaugurou, em 1961, a cadeira de Teoria Literária e Literatura Comparada da
USP, na qual se formaram os principais nomes da crítica literária brasileira, tais
como Davi Arrigucci Junior, Alfredo Bosi, João Alexandre Barbosa, Walnice No-
gueira Galvão e outros.
Sempre alinhado com a esquerda marxista, Antonio Candido foi militante no Par-
tido Socialista Brasileiro e, em 1980, juntamente com Luiz Inácio da Silva, Sérgio
Buarque de Hollanda e Florestan Fernandes, participou da fundação do Partido
dos Trabalhadores.
Seus artigos têm presença marcante nos estudos literários em todo o Brasil,
devido à lucidez e profundidade com que trata a literatura, tanto na sua especi-
ficidade artística, quanto no diálogo que estabelece com a sociedade brasileira.
Conheça melhor Antonio Candido lendo uma reportagem especial sobre seus 90 anos,
em: <http://www4.usp.br/index.php/especiais/14925-os-90-anos-de-antonio-candido-
-professor-da-fflch>. Acesso em: 16 out. 2011.
© U1 – Literatura e Direitos Humanos 33
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Um dos poemas mais famosos de Carlos Drummond de An-
drade chama-se "Procura da poesia", do qual selecionamos um
fragmento que convidamos você, agora, a ler:
[...]
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Definições de literatura–––––––––––––––––––––––––––––––––
1 Rubrica: literatura.
uso estético da linguagem escrita; arte literária
Exemplo: tendências da literatura.
2 Rubrica: literatura.
conjunto de obras literárias de reconhecido valor estético, pertencentes a um
país, época, gênero etc.
Exemplo: literatura medieval
3 Derivação: por analogia.
conjunto das obras científicas, filosóficas etc., sobre determinada matéria ou
questão; bibliografia
Exemplos: literatura marxista; literatura farmacêutica
4 ofício, trabalho do profissional de letras
5 conjunto de escritores, poetas etc. que atuam no mundo das letras
6 disciplina escolar composta de estudos literários
7 conjunto de instruções, boletim, folheto etc. destinados a propaganda ou escla-
recimentos sobre certos produtos
8 Uso: pejorativo.
fantasia, irrealidade, ficção
Exemplo: Tudo o que havia dito era pura literatura.
(HOUAISS, 2009).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Observemos, pois, cada uma dessas definições.
A primeira forma possível de uso da palavra "literatura" re-
fere-se ao uso estético da linguagem, da palavra – é o que fazem
os poetas com as palavras: constroem objetos artísticos, tais como
contos, poemas, peças de teatro, romances, crônicas etc.
Literatura é também, segundo a definição 2, o conjunto de
obras literárias de um país – literatura brasileira, literatura fran-
cesa, literatura caboverdiana etc. -, ou de uma época – literatura
barroca, clássica, contemporânea etc. – ou, ainda, de um gênero
– literatura afrobrasileira, infanto-juvenil, marginal etc.
© U1 – Literatura e Direitos Humanos 37
5. O DIREITO À LITERATURA
No ano de 1988, Antonio Candido foi convidado para profe-
rir uma palestra em um curso organizado pela Comissão de Jus-
tiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, com o tema "Direitos
humanos e literatura". Essa palestra deu origem ao ensaio deno-
minado "O direito à literatura", incluído no volume Vários escri-
tos (CANDIDO, 1995). Embora escrito há mais de 20 anos, esse
texto guarda algumas reflexões que consideramos essenciais na
formação do professor de literatura. Nele, Candido desenvolve
uma argumentação irrefutável sobre a contribuição da literatura
na formação do homem. Vamos ler e comentar alguns fragmen-
tos desse texto, perseguindo os passos do autor no desenvolvi-
mento da tese de que a literatura constitui um direito humano
inalienável.
Candido começa sua reflexão considerando o seguinte:
[...] em comparação a eras passadas chegamos a um máximo de
racionalidade técnica e de domínio sobre a natureza. Isso permite
imaginar a possibilidade de resolver grande número de problemas
materiais do homem, quem sabe inclusive o da alimentação. No
entanto, a irracionalidade do comportamento é também máxima,
servida freqüentemente pelos mesmos meios que deveriam rea-
lizar os desígnios da racionalidade. Assim, [...] em certos países,
como o Brasil, quanto mais cresce a riqueza, mais aumenta a péssi-
ma distribuição dos bens. Portanto, podemos dizer que os mesmos
meios que permitem o progresso podem provocar a degradação da
maioria (CANDIDO, 1995, p. 235).
© U1 – Literatura e Direitos Humanos 39
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O Art. 6º. da Constituição brasileira, publicada em 1988, garantia como direitos
sociais "[...] a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância [e] a assistência aos desampara-
dos." (BRASIL, 1988). Em fevereiro de 2000, a moradia foi acrescentada a essa
lista e, dez anos depois, outra emenda acrescentou também a alimentação como
um direito social constitucionalmente garantido.
Segundo notícia publicada na Folha de S. Paulo de 10 de julho de 2010 (GUER-
REIRO, 2010), há um movimento para que se inclua, no texto legal, a busca
da felicidade como anterior a todos os direitos sociais. O texto constitucional
passaria a vigorar assim: "São direitos sociais, essenciais à busca da felicidade,
a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a
© U1 – Literatura e Direitos Humanos 41
Dica de procedimento––––––––––––––––––––––––––––––––––
Se você não é exatamente um especialista em literatura, mas profissional de
outra área que será habilitado, por este curso, ao ensino da literatura, saiba que
tem à sua frente uma seara imensa – e intensamente prazerosa, tanto mais pra-
zerosa quanto maior for o seu gosto pela literatura!
Procure com o seu tutor indicações de textos que possam lhe fornecer o conhe-
cimento dos elementos formais da literatura; sempre que sentir necessidade,
recorra também à crítica literária especializada, sobre a qual o seu tutor também
poderá dar excelentes indicações, na medida da sua necessidade e interesse.
Só não deixe de estudar a teoria da literatura: sem ela, você será sempre um
leitor "ingênuo", capaz de ler os textos apenas na superfície – e perderá o que
de melhor a literatura tem a oferecer, que é o desvendamento de seus enigmas!
Todo texto literário pede agora a você: "Decifra-me (ou devoro-te!)"
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
8. LITERATURA HUMANIZA
Retomemos, pois, as observações de Antonio Candido. En-
tender que o conteúdo da literatura humaniza é mais simples. Ela
pode tratar de temas que se relacionam com valores importantes
para o ser humano, pode levar o leitor a refletir sobre as relações
que estabelece consigo mesmo e com o mundo e as pessoas que
o cercam. Antigamente, os exercícios de interpretação de textos
procuravam descobrir qual a "mensagem" do texto; os livros didá-
ticos da primeira metade do século 20 traziam textos recheados
de valores morais, pois acreditavam que o leitor escolar precisava
ser formado também na "moral" e nos "bons costumes". Nada de
errado com isso.
Hoje em dia, porém, entendemos que a função da literatura
não é "ensinar" valores. O texto literário, mediante sua condição
de objeto artisticamente construído, perde a qualidade quando se
compromete somente com a "panfletagem" de valores de deter-
minada parcela da sociedade.
O alcance da literatura está além do conteúdo que veicula –
e que pode, sim, servir de motivo para reflexões valorativas, uma
vez que o texto é produzido num dado contexto histórico, ou seja,
reflete o modo de pensar o mundo dos homens de uma dada cul-
9. TEXTOS COMPLEMENTARES
Como textos complementares a esta unidade, sugerimos as
seguintes leituras:
• CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: ______. Vários
escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995. p. 235-263.
• A leitura na íntegra desse artigo que comentamos nesta uni-
dade trará a você não apenas mais elementos para refletir
11. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você estudou os conceitos de metodologia
e de literatura. Refletiu sobre as implicações que existem na ta-
refa de ensinar literatura e sobre o poder humanizador desta. Em
seguida, você aprenderá mais sobre a presença da literatura nos
livros didáticos.
12. E-REFERÊNCIAS
ALOÉ, Flávio. Sonhos. [19--?]. Entrevistador: Dráuzio Varella. São Paulo: Varal Produções,
[19--?]. Disponível em: <http://www.drauziovarella.com.br/ExibirConteudo/1089/
sonhos>. Acesso em: 13 jul. 2010.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>.
Acesso em: 10 jul. 2010.
CALLIGARIS, Contardo. O direito de buscar a felicidade. Folha de S. Paulo. São Paulo,
10 jun. 2010. Ilustrada. Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/
fq1006201023.htm>. Acesso em: 10 jul. 2010.
GUERREIRO, Gabriela. Constituição pode incluir o "direito à felicidade". Folha de S. Paulo.
São Paulo, 10 jul. 2010. Cotidiano. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/
cotidian/ff1007201020.htm>. Acesso em: 10 jul. 2010.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA
– UNESCO. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a Unesco da Comissão
Internacional sobre Educação para o século XXI. Relator: Jacques Delors. Tradução de
José Carlos Eufrásio. São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco, 1998. Disponível em: <http://
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000009.pdf>. Acesso em: 14 jul. 2010.
© U1 – Literatura e Direitos Humanos 53
2
1. OBJETIVOS
• Refletir sobre os usos que se faz do texto literário no con-
texto escolar.
• Desenvolver um olhar crítico para com os textos escola-
res.
• Repensar práticas escolares de ensino da literatura já cris-
talizadas pelo seu uso.
2. CONTEÚDOS
• A leitura do texto literário na sala de aula.
• O texto como pretexto para o ensino de valores, vocabu-
lário, norma culta e outros fatores a ele estranhos.
• O texto e seu contexto de produção.
56 © Metodologia do Ensino: Literatura
Marisa Lajolo
Marisa Philbert Lajolo nasceu em São Paulo e viveu muito tempo na cidade
de Santos. Em 1967, concluiu o bacharelado e a licenciatura em Letras na
Universidade de São Paulo. Na mesma instituição, no Departamento de Teo-
ria Literária e Literatura Comparada, defendeu, em 1975, sua dissertação de
Mestrado, intitulada "Teoria Literária e Ensino de Literatura" e, em 1980, sua
tese de Doutorado, com o tema "Usos e abusos da literatura na escola"; ambas
com a orientação de Antonio Candido. Realizou também um Pós-Doutorado na
Brown University, em Providence (Long Island), em 1990, e várias pesquisas
na Biblioteca Nacional de Lisboa, na Biblioteca Saint Genevieve – Paris e na
John Carter Brown University. Desde 1979 atua como docente na Universidade
Estadual de Campinas, instituição com a qual mantém hoje um vínculo como
professora colaboradora voluntária. Atualmente é docente da Universidade
Presbiteriana Mackenzie. Em 2009, foi premiada com o Prêmio Jabuti, por sua
produção na área de Teoria e Crítica Literária. Além deste, a escritora recebeu
inúmeros outros prêmios.
Marisa Lajolo é autora de vários livros voltados para o ensino da literatura, a
formação de leitores e a literatura infanto-juvenil, dentre os quais podemos ci-
tar: Do mundo da leitura para a leitura do mundo (1994); A formação da leitura
no Brasil (1996); A leitura rarefeita (2002), em coautoria com Regina Zilberman
e Monteiro Lobato livro a livro (2008), escrito em parceria com João Luis Cec-
cantini.
© U2 – O Texto Literário na Sala de Aula 57
Guaraciaba Micheletti
Guaraciaba Micheletti é graduada em Letras, pela Universidade de São Paulo, desde
1972. Também na USP, no Departamento de Teoria Literária e Literatura Compara-
da, sob a orientação de Davi Arrigucci Junior, desenvolveu sua pesquisa de Mestrado
(1983), intitulada "Na confluência das formas: estudo de uma narrativa compósita"; A
pedra do reino, de Ariano Suassuna, e de Doutorado (1992), esta sob o tema "A poe-
sia, o mar, a mulher: um só Vinícius", sobre a poesia de Vinícius de Moraes. Em 2000,
passou a integrar o corpo docente da Universidade de São Paulo, para a qual, mes-
mo depois de aposentada, continua a prestar serviços como colaboradora, orientando
pesquisas de Mestrado e Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Filologia e
Língua Portuguesa. Atualmente, é professora titular da Universidade Cruzeiro do Sul,
onde coordena o curso de Pós-Graduação em Linguística.
É autora de vários artigos e livros, dentre os quais destacamos A poesia, o mar e
a mulher: um só Vinícius (1994), Na confluência das formas: o discurso polifônico
de Quaderna/Suassuna (1997), Leitura e construção do real (2000), em parceria
com Letícia Paula de Freitas Peres e Ana Elvira Luciano Gebara.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, debruçamo-nos sobre os conceitos de
metodologia, de ensino e de literatura. Vimos que a metodologia
indica um caminho de ação; que o ensino é indissociável da apren-
dizagem e que o professor é um mediador entre o aluno e o co-
7. TEXTO E CONTEXTO
Diferentemente de Marisa Lajolo, Guaraciaba Micheletti de-
fende que o texto, no contexto escolar, é sempre pretexto para o
ensino de algo que está além dele – sua inclusão no sistema de
ensino tem sempre alguma intenção:
Ter consciência da intencionalidade do texto é o primeiro dever de
todo e qualquer professor. É preciso ter presente que um texto é um
tecido em que se entrecruzam ideologias, sentimentos, culturas. Na
escolha do professor também se cruzam aspectos diferentes: o pro-
fessor, quando seleciona um texto, parte de um objetivo de ensino,
mas para a formulação desse objetivo concorrem não só os pressu-
postos da escola, de uma filosofia de ensino, mas também traços de
sua formação pessoal e profissional (MICHELETTI, 1992, p. 2).
Lajolo revisitada
Vinte e seis anos após a escrita de "O texto não é pretexto",
Marisa Lajolo procede a uma revisitação de seu texto, amplian-
do-o com a experiência acumulada nesse tempo em que muitos
acontecimentos vieram alterar o campo de estudos sobre a leitura:
cursos, teses, ensaios, congressos, pesquisas – muito se produziu,
entre 1982 e 2008, sobre essa questão.
Nesse novo texto, intitulado "O texto não é pretexto. Será
que não é mesmo?", Lajolo (2009, p. 99) retoma, não sem espan-
to, as convicções - por vezes demasiadamente assertivas – de seu
texto anterior.
Sua revisão inicia por uma explicação dos termos do título:
texto significa, etimologicamente, "tecido", e pretexto é, na ori-
gem, "aquilo que se tece antes", ou seja, que se tece para encobrir
algo que está numa camada inferior.
Em seguida, a autora questiona sua proposição antiga de
que o texto se constitui numa instância que promove a comuni-
cação entre o leitor e o escritor. Mais acertadamente, na mesma
linha de raciocínio de Guaraciaba Micheletti, Marisa Lajolo recon-
sidera essa questão, e afirma:
Hoje, não acredito mais na autonomia do texto, nem na solidão,
nem no caráter individual da escrita e da leitura. Aprendi que no
texto inscrevem-se elementos que vêm de fora dele e que os su-
jeitos que se encontram no texto – autor e leitor – não são pura
8. TEXTOS COMPLEMENTARES
Como textos complementares a esta unidade, sugerimos as
seguintes leituras:
• LAJOLO, Marisa (Org.). Leitura em crise na escola: as al-
ternativas do professor. 10. ed. Porto Alegre: Mercado
Aberto, 1991.
• Este livro encontra-se atualmente esgotado, mas você
pode encontrá-lo com facilidade nas bibliotecas e nos se-
bos (se quiser, procure-o na Estante Virtual, portal que
reúne grande número de sebos on-line - <http://www.
estantevirtual.com.br>). Trata-se de um livro que reúne
artigos importantes sobre o ensino de língua e literatura,
bem como sobre a formação do leitor.
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
As questões a seguir procuram abordar os tópicos que es-
tudamos nesta unidade. Elas estão aqui dispostas para que você
faça a sua autoavaliação. Se você tiver dificuldades, reveja o que
foi estudado anteriormente; caso a dificuldade persista, recorra ao
seu tutor: ele estará pronto e disponível para ajudar você.
1) Em seu texto "O texto não é pretexto", Marisa Lajolo afirma:
O texto não é pretexto para nada. Ou melhor, não deve ser. Um
texto existe apenas na medida em que se constitui ponto de en-
contro entre dois sujeitos: o que escreve e o que lê; escritor e leitor,
reunidos pelo ato radicalmente solitário da leitura, contrapartida
do igualmente solitário ato de escritura.
No entanto, sua presença na escola cumpre funções várias e nem
sempre confessáveis, frequentemente discutíveis, só às vezes inte-
ressantes (LAJOLO, 1991, p. 52).
Anos mais tarde, a autora revê essa posição e conclui que o texto não é, mesmo,
pretexto para nada – mas com outra justificativa. Como você explica essa mu-
dança, no primeiro texto e no segundo, no embasamento da mesma afirmativa?
10. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, refletimos sobre a didatização do texto lite-
rário. A discussão sobre tomar a literatura como pretexto para a
aprendizagem de outros saberes também foi retomada, tanto por
nós, quanto pelos próprios autores que a produziram.
11. E-REFERÊNCIAS
CEIA, Carlos. Intriga. In: ______ (Org.). E-dicionário de termos literários. [199-]. Disponível
em: <http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_content&view=frontpage&Item
id=1>. Acesso em: 10 ago. 2010.
HOLANDA, Chico Buarque de. Até o fim. 1978. Disponível em: <http://www.chicobuarque.
com.br/letras/ateofim_78.htm>. Acesso em: 12 ago. 2010.
LAJOLO, Marisa Philbert. O texto não é pretexto. Será que não é mesmo ?. In: ZILBERMAN,
Regina; ROSING, Tania (Orgs.). Escola e Leitura: velha crise - novas alternativas. São
Paulo: Global, 2009.
MICHELETTI, Guaraciaba; PERES, Letícia Paula de Freitas; GEBARA, Ana Elvira Luciano.
Leitura e construção do real. São Paulo: Cortez, 2000.
MICHELETTI, Guaraciaba. Na confluência das formas: o discurso polifônico de Quaderna,
de Ariano Suassuna. São Paulo: Leia Cliper, 1997.
_______. A poesia, o mar e a mulher: um só Vinícius. São Paulo: Escuta, 1994.
_______. O texto e a escola. São Paulo, 1992. Texto inédito; cópia gentilmente cedida
pela autora.
PRADO, Adélia. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
1. OBJETIVOS
• Refletir sobre a presença dos livros didáticos na escola,
sobre sua contribuição e sobre os cuidados que devemos
ter ao adotá-los.
• Conhecer o processo de didatização de textos e sua inser-
ção no ensino de literatura.
• Elaborar critérios para a escolha dos livros paradidáticos e
de leitura que costumam acompanhar o ensino de Língua
Portuguesa.
• Observar a relação entre a literatura e as outras lingua-
gens e perceber que contribuições as adaptações de obras
literárias podem trazer para o aprendizado do aluno, bem
como algumas restrições ao seu uso.
84 © Metodologia do Ensino: Literatura
2. CONTEÚDOS
• Textos didáticos.
• Textos didatizados.
• Textos paradidáticos.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, você estudou alguns aspectos que dizem
respeito à presença de textos literários na sala de aula do ensino básico.
Você deve ter percebido que grande parte dos textos que
circulam na escola são provenientes dos livros didáticos, então é
sobre eles que nos debruçaremos agora, nesta unidade.
Além dos livros didáticos, há também os textos que não são
produzidos com finalidades didáticas, mas tornam-se didáticos na
medida em que o professor os recorta e os insere no contexto edu-
cacional. Esse processo recebe o nome de "didatização", e será
objeto do nosso trabalho, também, nesta terceira unidade.
Além dos textos didáticos e didatizados, é importante voltar-
mos os olhos ainda para os paradidáticos, que costumam acompa-
nhar o estudo e suscitam uma série de reflexões.
Nesta unidade, trabalharemos também, brevemente, sobre
a relação entre a literatura e as outras linguagens, especialmente
o cinema, o teatro e a música, procurando refletir sobre como as
adaptações de obras literárias para outras linguagens podem con-
tribuir para o ensino de literatura.
Vamos, pois, aos textos!
5. TEXTOS DIDÁTICOS
Ao serem inseridos no contexto escolar, os textos – literários
e outros – sofrem um processo de didatização, que pode ocorrer
em dois níveis: o dos textos didatizados e o dos textos didáticos:
O primeiro nível de didatização é o encontrado no livro didático: o
autor do manual seleciona os textos que, no geral, não foram escritos
visando ao ensino e elabora um trabalho sobre eles. Assim, o pro-
fessor, ao adotar o livro, ou ao consultá-lo, estará lançando mão de
textos já didatizados, sendo apenas um transmissor do processo de
didatização do material que leva a seus alunos (SILVA, 1997, p. 32).
6. TEXTOS DIDATIZADOS
Depois do texto didático, segundo pesquisadores da USP, o
tipo de texto que mais circula na escola é o didatizado. Já vimos
que o livro didático institui-se como um primeiro nível de didati-
zação de textos. Há, contudo, um segundo nível, que é o seguinte:
O segundo nível [de didatização de textos] é aquele em que o edu-
cador pode instituir-se como sujeito do processo, pesquisando tex-
tos em diversas fontes e trazendo-os para a sala de aula, com a sua
proposta de trabalho (SILVA, 1997, p. 32).
Há, também, outro problema sério no que diz respeito aos tex-
tos didatizados pelo professor: a ausência de dados que indiquem a
autoria e a fonte bibliográfica da qual o professor retirou o texto.
Omitindo estas informações, perde-se a oportunidade de evidenciar
para os alunos que todo texto tem uma autoria, e que esta deve ser
respeitada e referida sempre que lidarmos com o texto de outrem.
Em tempos de propagação da internet como fonte de pesqui-
sa e de acesso ao conhecimento de todas as áreas, o descuido com
a autoria pode induzir o leitor/ estudante à ideia de que aquilo que
está disponibilizado na rede pertence a qualquer um e pode, por
isso, ser apropriado para os fins mais diversos. A apropriação de tex-
tos de outra pessoa, sem referir a autoria e a fonte, constitui não
apenas um erro de metodologia científica, mas fere o princípio de
autoria – em síntese, constitui-se em crime contra o direito autoral.
Os pesquisadores concluem:
[...] hoje ocorre nas escolas uma naturalização do processo de di-
datização, segundo os moldes do manual didático. O texto, mesmo
que "original", está fadado a se encaixar em modelos de exercícios
preestabelecidos pelo livro didático, presente implícita ou explicita-
mente em sala de aula, e [...] o texto didatizados, da maneira que
este trabalho o concebe, está ausente da sala de aula devido á ins-
titucionalização do manual didático (SILVA, 1997, p. 76).
texto, o que ele tem de melhor, que é a sua leitura, o acesso a ca-
madas progressivamente mais profundas de significação para os
diferentes leitores.
O livro didático instala-se no processo de ensino e aprendi-
zagem com uma autoridade inquestionável, que é reforçada não
só pelo professor, que vê nele um facilitador de seu trabalho, abdi-
cando, assim, de pensar por si só a respeito do texto literário.
Muitas vezes, a ditadura do livro didático é reforçada por po-
líticas como a do PNDL, em que o professor não tem autonomia de
avaliar com seus próprios critérios o livro a ser adotado – e, menos
ainda, de dispensar o uso do livro didático. Este, quando não é
adotado nas escolas, é substituído pelas apostilas, que cumprem
a mesma função.
Políticas de formação de professores como a que adota,
atualmente, o Estado de São Paulo também contribuem para o
"emburrecimento" do professor. Este recebe do Estado um trei-
namento para a condução do processo educativo e, quanto mais à
risca o docente seguir as indicações do Estado, mais será valoriza-
do – isto é, seu salário aumenta em função das gratificações dadas,
por meio de avaliação periódica, aos professores que adotaram as
proposições do Estado na íntegra.
O que causa espanto e tristeza é concluir que as políticas
públicas pressupõem que os professores não são mais capazes de
desempenhar responsável e eficientemente o seu trabalho. Se isso
é verdade, em muitos casos (basta para isso espiarmos os noticiá-
rios), não será por que a profissão docente está tão desvalorizada
que não incita mais no profissional da educação o gosto de tornar-
-se um profissional cada vez melhor? Esta, porém, é uma questão
que foge ao âmbito específico deste nosso Caderno de Referência
de Conteúdo. Voltemos, pois, a ela.
Além dos textos didáticos e didatizados, outro tipo de texto
largamente adotado nas escolas, principalmente no ensino funda-
mental, é o paradidático.
7. TEXTOS PARADIDÁTICOS
Etimologicamente, a palavra "paradidático" quer dizer "aqui-
lo que está ao lado do didático". No contexto escolar, trata-se de
um conjunto de obras produzidas para a leitura na escola e utiliza-
das como complemento para a aprendizagem nas diferentes áreas
do conhecimento.
Os livros paradidáticos são adotados principalmente no ensi-
no fundamental e acompanham todo o processo de alfabetização
dos alunos.
A produção editorial de paradidáticos responde pelo maior
mercado de consumo de literatura do país. Dados de 1998 esti-
mam que a venda desses títulos chega a 4 milhões de exemplares
por ano, movimentando o que correspondia a um faturamento de
vinte e cinco milhões de reais para as editoras.
Na década de 1970, o mercado de paradidáticos oferecia aos lei-
tores, prioritariamente, histórias de aventuras, tais como as que inte-
gravam a antológica Coleção Vagalume, da editora Ática. Na década de
1980, a temática começou a incluir as histórias policiais. Nomes como
Marcos Rey e Pedro Bandeira destacam-se nesse setor, obtendo algo
difícil de conquistar pelos autores tradicionais de literatura: renda.
Num país em que o livro está longe de ser um disputado bem de
consumo, esses autores conseguiram a proeza de se profissionali-
zar, ganhando um bom dinheiro para os padrões editoriais brasi-
leiros. Muitos vivem confortavelmente apenas com o resultado do
trabalho com a pena (GRAIEB, 1998).
8. TEXTOS COMPLEMENTARES
Além da leitura dos textos integrais que comentamos aqui,
você pode aprofundar mais o conhecimento sobre a temática desta
unidade a partir da leitura dos seguintes textos complementares:
• MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Guia de livros didáticos:
PNDL 2011 – Língua Portuguesa. Brasília: Ministério da
Educação/Secretaria da Educação Básica, 2011.
• Neste Guia, elaborado para orientar os professores na
escolha dos livros didáticos, você poderá encontrar não
apenas as diretrizes de avaliação dos livros didáticos para
o ensino de Língua Portuguesa, mas também a legislação
nacional que regula a presença dos manuais didáticos nas
escolas.
© U3 – Textos Didáticos, Didatizados e Paradidáticos 99
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
As questões de autoavaliação a seguir foram sugeridas para
que você possa avaliar os resultados de seu estudo neste Cader-
no de Referência de Conteúdo. Lembre-se de que elas são mais um
parâmetro para que você possa aferir a qualidade de sua apren-
dizagem. Assim, se encontrar dificuldades em respondê-las, reto-
me a leitura da unidade. Caso as dificuldades persistam, procure
esclarecê-las com seu tutor.
1) Considere a seguinte afirmação:
O uso do livro didático, assim, prosperou durante o período da di-
tadura militar, pois, apoiado pela ideia governamental de ser ele
um material condensado e, por isso, mais econômico, facilitava a
vida do professor na medida em que trazia para a sala de aula os
materiais sancionados pelo governo (SILVA, 2011, p. 5).
Levando em conta o que você estudou nesta unidade, explique o caráter auto-
ritário do livro didático, que permanece até os nossos dias.
4) Por que é possível afirmar que os textos paradidáticos se prestam bem aos
projetos intertextuais na educação fundamental? Procure entender esta
questão, lembrando exemplos de textos que poderiam ser trabalhados, con-
juntamente, em Língua Portuguesa e em outras disciplinas.
10. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, fizemos algumas reflexões sobre os textos
didáticos, didatizados e paradidáticos que circulam no ambiente
escolar. Eles são importantes instrumentos de apoio ao professor
e, por esse motivo, sua presença na sala de aula deve ser objeto
da nossa atenção.
Tudo o que ocorre na sala de aula é responsabilidade direta
do professor, é ele quem responde, em primeira instância, pela
sala de aula e pela condução do processo de aprendizagem de seus
alunos. Questionar o uso dos materiais didáticos ou paradidáticos
que circulam na escola é, portanto, parte de sua tarefa!
11. E-REFERÊNCIAS
FUNDAÇÃO NACIONAL PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO. Programas – Livro
Didático. [2010]. Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/index.php/programas-livro-
didatico>. Acesso em: 12 ago. 2010.
SANTOS, Cícero Gabriel dos; REINALDO, Maria Augusta Gonçalves de M. A escolha do
livro didático de língua portuguesa e o uso desse material em sala de aula: implicações
para o ensino da escrita. Disponível em: <http://www.linguaeducacao.net/press/05.
pdf>. Acesso em: 13 ago. 2010.
FARBIARZ, Jackeline Lima; CAVALCANTE, Nathália Sá. O livro didático de língua portuguesa
em uma sociedade educacional. Disponível em: <http://www.maxwell.lambda.ele.puc-
rio.br/11979/11979.PDF>. Acesso: 13 ago. 2010.
GRAIEB, Carlos. Para gostar de ler. Disponível em: <http://veja.abril.com.
br/130598/p_134.html>. Acesso em: 13 ago. 2010.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE): leitura
e bibliotecas nas escolas públicas brasileiras. Brasília: Ministério da Educação, 2008.
Coordenação-Geral de Materiais Didáticos; elaboração de Andréa Berenblum e Jane
Paiva. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Avalmat/livro_mec_
final_baixa.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2010.
4
1. OBJETIVOS
• Conhecer a legislação educacional no que diz respeito ao
ensino da literatura.
• Perceber as mudanças de sentido que foram historica-
mente sendo atribuídas aos estudos literários na educa-
ção básica.
• Utilizar os indicadores nacionais como parâmetros para o
trabalho com o texto literário na sala de aula.
2. CONTEÚDOS
• O desenvolvimento dos estudos literários na legislação
educacional.
• A literatura nos Parâmetros Curriculares Nacionais.
104 © Metodologia do Ensino: Literatura
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, refletimos sobre os livros didáticos para
o ensino de língua e literaturas de língua portuguesa; abordamos
também o processo de didatização dos textos. Outro tópico do
qual tratamos foi a presença dos paradidáticos na escola e a con-
tribuição que estes podem dar ao ensino, principalmente no que
diz respeito à interdisciplinaridade.
Nesta unidade, abordaremos o ensino de literatura do ponto
de vista das legislações educacionais do Brasil. Para isso, tomare-
mos uma perspectiva histórica, apresentando os modos como a
literatura vem sendo concebida pela legislação ao longo do tempo,
e as mudanças inerentes às transformações ocorridas.
© U4 – A Literatura na Legislação Educacional 105
1) parecer n. 5, de 1997;
2) parecer n. 15, de 1998;
3) parecer n. 1, de 1999;
4) resolução n. 3, de 1998;
5) resolução n. 2, de 1999;
6) diretrizes Curriculares para o ensino médio, de 01 de ju-
nho de 1998.
É ele quem comenta:
[...] de acordo com o ponto de vista expresso nesses documentos,
o profissional dos novos tempos deve ser qualificado não apenas
quanto aos requisitos técnicos, mas também quanto à capacidade
de se adaptar a novos contextos sociais e profissionais, de interagir
e se comunicar com outras pessoas, de lidar com as tecnologias de
ponta e de expressar uma visão democrática, solidária e ética da
vida em sociedade (CEREJA, 2005, p. 111).
3) Em seu texto "A literatura no ensino médio: um modo de ver e usar", José
Luís Jobim afirma:
Nossa proposta para o ensino de literatura é, também, de um curso
que possibilite ao aluno refletir sobre sua vida e o contexto em que
se insere, a partir da discussão e da problematização de temas que
lhe dizem respeito.
[...]
Sabemos que o aluno é, concomitantemente, elo transmissor e re-
ceptor em uma cadeia significativa contínua. Quando um texto se
apresenta ao aluno, não se apresenta diante de um receptor pas-
sivo e isolado, nem esse texto é, ele próprio, um elemento isola-
do: é contextualizado, inserido em múltiplos sistemas significativos
(2009, p. 123).
Procure identificar, a partir do que estudamos nesta unidade, qual a orienta-
ção seguida pela proposta de Jobim para o trabalho com a literatura no ensino
médio.
© U4 – A Literatura na Legislação Educacional 127
5) Você deve ter notado que os PCNs trouxeram grandes mudanças nas orien-
tações para os estudos literários. Como você avalia essas transformações?
14. E-REFERÊNCIAS
BELLO, José Luiz de Paiva. História da educação no Brasil. Rio de Janeiro, 1998. Disponível
em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb01.htm>. Acesso em: 30 jul. 2010.
BRASIL. Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as diretrizes e bases da educação
nacional. Disponível em: <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/fontes_
escritas/6_Nacional_Desenvolvimento/ldb%20lei%20no%204.024,%20de%2020%20
de%20dezembro%20de%201961.htm>. Acesso em: 5 ago. 2010.
BRASIL. Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa diretrizes e bases para o ensino de
1º. e 2º. graus, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/L5692.htm>. Acesso em: 5 ago. 2010.
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.
htm>. Acesso em: 5 ago. 2010.
BRASIL. Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no
currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura
Afro-Brasileira", e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/2003/L10.639.htm#art1>. Acesso em: 5 ago. 2010.
BRASIL. Lei n. 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, modificada pela Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de
ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena".
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/
L11645.htm#art1>. Acesso em: 5 ago. 2010.
CONSTITUIÇÃO política do Império do Brazil (de 25 de março de 1824). Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao24.htm>.
Acesso em: 30 jul. 2010.
LEI de 15 de outubro de 1827. Manda criar escolas de primeiras letras em todas as
cidades, vilas e lugares mais populosos do Império. Disponível em: <http://www.histedbr.
fae.unicamp.br/navegando/fontes_escritas/3_Imperio/lei%2015-10-1827%20lei%20
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MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. "Reforma Capanema"
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Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002.
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino
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Tecnológica, 2000. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.
pdf>. Acesso em: 16 ago. 2010.
© U4 – A Literatura na Legislação Educacional 129