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Evilasio Salvador - As Implicações do Sistema

Tributário Brasileiro nas Desigualdades de


Renda
O texto “As Implicações do Sistema Tributário brasileiro nas desigualdades de renda” do autor
Evilasio Salvador faz um estudo da política tributária e de seus reflexos nas desigualdades de
renda do Brasil, principalmente em relação ao agravamento das distâncias entre pobres e
ricos, mulheres e homens, negros e brancos. Isso se dá devido à existência um sistema
tributário muito regressivo, visto que a arrecadação se concentra nos tributos indiretos e
cumulativos, que oneram mais o trabalhador mais pobre ao invés financiar o Estado de forma
justa e tributar aqueles com mais capacidade produtiva. Além disso, a tributação sobre a renda
e o patrimônio é pouco expressiva. O autor faz uma comparação entre o Brasil e alguns países
da OCDE que confirma o caráter regressivo dos impostos brasileiros, ao analisar que, ao
contrário destes países, os aumentos da carga tributária ocorridos no Brasil no período de
1995 a 2012 não buscaram reduzir as desigualdades, mas favorecem a concentração de renda
na medida em que agravam o ônus fiscal dos mais pobres e desonera o das classes mais ricas.

Posteriormente, o autor trata da representatividade dos tributos diretos e indiretos na carga


tributária brasileira entre os anos de 2000 e 2011. Ele percebe que há uma particularidade no
sistema tributário brasileiro, visto que há uma maior tributação sobre as rendas oriundas do
trabalho. Assim, os rendimentos de capital e de outras rendas da economia são tributados com
alíquotas menores do que as do IR incidente sobre a renda do trabalho. Como consequência
desse sistema tributário, tem-se uma população pobre grandemente onerada e que suporta
uma elevada tributação indireta. Além disso, os impostos diretos são pouco progressivos e
incidem fortemente sobre a renda dos trabalhadores. Ademais, apesar de esses anos terem
sido marcados por um aumento da representatividade do sistema de tributos diretos, isso não
foi suficiente para acabar com o aspecto regressivo do sistema tributário brasileiro.

Em um terceiro momento, o texto trata da questão da regressividade dos tributos brasileiros


levando em consideração as questões de gênero e raça, fatores que são estruturantes das
desigualdades do país. Como não existiam dados oficiais no Brasil que permitissem analisar o
impacto da regressividade tributária nas desigualdades de gênero e raça, o estudo realizou um
levantamento inédito dos dados. Nele, a população foi separada por decis de renda e, dentro
de cada decil dividiu-se a população entre homens e mulheres, negros e brancos. Percebeu-se
que os tributos que incidem sobre o consumo não são neutros em relação aos homens e as
mulheres. Já em relação à questão da regressividade dos tributos, podemos dizer que os
produtos que compõem a cesta básica recebem alta incidência tributária, o que onera ainda
mais os pobres, particularmente a população negra. Conclui-se que como grande parte da
carga tributária brasileira está embutida nos preços dos bens e serviços, as pessoas com menor
renda (por exemplo, as mulheres negras) pagam proporcionalmente mais tributos do que
aquelas com renda mais elevada. Assim, é possível afirmar que o aspecto do peso dos tributos
em relação ao financiamento das políticas públicas brasileiras recai majoritariamente sobre as
mulheres e os(as) negros(as).

Em seguida, o autor trata das principais mudanças que ocorreram no sistema tributário
brasileiro ao longo do século XXI. Destaca-se primeiramente o governo de FHC, no qual foram
feitas alterações na legislação infraconstitucional trouxeram aos grandes benefícios ao grande
capital e acentuaram o caráter regressivo do sistema tributário. Em relação ao governo Lula o
autor destaca as duas tentativas falhas de reforma tributária, a primeira que buscava ampliar e
aprimorar a tributação direta devido ao seu caráter mais progressivo, e a segunda que buscava
simplificar o sistema tributário. Já no governo Dilma, as principais iniciativas direcionadas ao
sistema tributário consistiram nas desonerações concedidas a setores industriais que também
favoreceram o aumento da regressividade. Em resumo, ao longo do século XXI, as medidas
adotadas que buscavam reduzir as desigualdades sociais no âmbito do sistema tributário
foram muito pontuais.

Para concluir, o estudo cita algumas mudanças muito importantes que são necessárias para
tornar o sistema tributário brasileiro mais progressivo e justo. São elas: os tributos devem
incidir mais sobre aqueles que recebem mais; os bens supérfluos precisam ser mais tributados
e os produtos essenciais menos; revogação das leis que favoreceram a renda do capital em
detrimento da renda do trabalho; a tributação precisa ser reorientada para incidir
majoritariamente sobre o patrimônio e a renda dos contribuintes; o IR precisa ser o pilar do
sistema tributário, pois é o mais importante dos impostos diretos, visto que determina a
contribuição de acordo com a capacidade econômica do contribuinte; deve ser implementado
o Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), que irá onerar o patrimônio dos mais ricos no país e
promover justiça social; e deve ser ampliada a tributação sobre o IPVA, de modo que este
incida sobre a propriedade de embarcações e aeronaves particulares.

Para que isso ocorra é extremamente necessário que a administração tributária seja
fortalecida e que haja governantes dispostos a promover justiça social, a combater fraudes,
sonegação e evasão fiscal, pois, somente assim essa realidade pode ser melhorada. Além disso,
em cenários de crise econômica, torna-se mais difícil promover alterações nas alíquotas do IR
de acordo com a inflação, visto que, isso implica em redução do montante arrecadado. Com
isso, vemos que diversos são os desafios a serem enfrentados na busca por um sistema
tributário mais progressivo e que promova ajustes na distribuição de renda.

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