Você está na página 1de 18

ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE ATERROS REFORÇADOS

SOBRE SOLOS MOLES DURANTE A CONSTRUÇÃO COM


UTILIZAÇÃO DE DRENOS VERTICAIS PRÉ-FABRICADOS
Nelson Santos de Oliveira Alves
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.
nelson.alves.mrs@uol.com.br

Marcos Massao Futai


Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.
futai@usp.br

Resumo. Neste trabalho apresenta-se a simulação numérica de um aterro reforçado sobre argila
mole com uso de drenos verticais pré-fabricados. O objetivo é analisar o comportamento de um
aterro reforçado com geossintético aliado ao uso de drenos verticais pré-fabricados. Foram
verificadas vantagens, como por exemplo: aumento do Fator de Segurança, aceleração dos
recalques e possibilidade da construção de aterros mais altos. As análises numéricas de tensão-
deformação foram realizadas pelo software PLAXIS 8.2. 2D. Os resultados obtidos apresentados
neste trabalho mostram que e possível aliar uma malha adequada de drenos com uma determinada
rigidez, buscando otimizar as duas soluções no objetivo de atingir a construção de aterros mais
altos. Determinação da deformação admissível do reforço em condições de trabalho de através da
proposta de cálculo de Fuertes (2012).

Palavras-chave: Aterro sobre solos moles, aterros reforçados, geossintéticos, drenos pré-
fabricados.

1. Introdução solos podem ser facilmente determinados por


ensaios de campo ou laboratório, e as
Aterros sobre solos moles são características mecânicas do reforço são
constantemente estudados devido à importância fornecidas pelo fabricante ou podem ser
cada vez maior em se obter novas técnicas e determinadas por ensaios de laboratórios.
melhorias de técnicas já conhecidas para Existe uma escassez de pesquisa sobre o
obtenção de uma construção cada vez mais comportamento de aterro para os efeitos
rápida, mais segura e mais alta, quando combinados de reforço, drenos verticais, e
necessário, como é exigido nos dias de hoje. A velocidade de construção. Este trabalho
partir da utilização dos geossintéticos como verifica os efeitos combinados de reforço
elementos de reforço na base de aterros, foi geossintético e drenos verticais pré-fabricados
possível a construção de aterros mais altos. em aterro para estabilidade e adensamento
Com a utilização de drenos verticais pré- através do Método de Elementos Finitos, MEF.
fabricados ganhou-se velocidade no processo de A utilização do reforço gera um aumento
adensamento da camada mole. de tensões cisalhantes na base do aterro e
Aterros reforçados e drenos verticais são, consequentemente aumenta a capacidade de
geralmente, tratados separadamente nos carga, enquanto os drenos aceleram o processo
métodos de cálculo atuais. A análise da de adensamento do solo, por esse motivo, as
estabilidade é utilizada no projeto de aterros tensões efetivas aumentem mais rapidamente.
reforçados (por exemplo, Jewell, 1982; Rowe A metodologia utilizada foi calibrada
1984) e a partir da análise de recalque devido ao através de um caso de aterro reforçado estudado
adensamento são definidas as malhas de PVDs por Li & Rowe (2001). O objetivo do estudo foi
a serem adotadas (por exemplo, Rixner et al. mostrar que os efeitos do reforço e PVDs estão
1986; Holtz et al., 1991). Os parâmetros dos interligados e não devem ser tratadas
separadamente no projeto. O estudo de Li & estágio menos o recalque imediato. Com esse
Rowe (2001) considera os efeitos do reforço e par de valores se constrói um gráfico, conforme
dos drenos verticais simultaneamente e expresso na Figura 1. A ruptura é definida pela
investiga os benefícios combinados que altura líquida máxima, ou seja, quando o
resultam da consolidação parcial do solo de aumento da espessura não eleva mais a cota do
fundação, devido aos PVDs e ao reforço. Os aterro. A deformação de compatibilidade do
efeitos da velocidade de construção e sequência reforço e a deformação referente a altura líquida
de construção também foram examinados para máxima.
estabilidade e adensamento pelos autores.
Foram analisadas para um mesmo solo,
diversas velocidades de construção de aterros
reforçados com diferentes rigidezes do reforço
sem a utilização de drenos e com a utilização
dos mesmos.
O Método de Elementos Finitos é muito
útil na identificação dos mecanismos de ruptura.
Para a aplicação dos métodos de equilíbrio
limite é preciso conhecer a força no reforço.
Entretanto, esse valor não é conhecido,
portanto, o que normalmente se faz é a
aplicação de fatores de redução sobre a
resistência do reforço para obter a força no
reforço. As principais causas que levam a essa Figura 1 – Definição de altura líquida e deformação de
compatibilidade – Futai (2010).
redução são: danos causados pela própria
construção e instalação, emendas utilizadas na
3. Calibração do modelo
instalação do reforço, fluência do reforço ao
longo do tempo, deterioração causada pelo meio
Para validar a metodologia que foi
ambiente.
adotada nessa pesquisa, reproduziram-se as
A norma inglesa recomenda a imposição
simulações apresentadas por Li & Rowe (2001).
de uma deformação admissível ao reforço para
Na Figura 2 está mostrada a seção típica
definir a força de tração de projeto, esse valor
do aterro reforçado combinado com o uso de
depende da interação entre o solo de fundação,
drenos verticais pré-fabricados que foi usado
o reforço e o aterro.
nas análises. A seção apresenta espessura da
camada de argila D = 15 m e inclinação do
2. Método dos elementos finitos para análise
talude em 1H: 2V.
de aterro reforçado
Para simular o processo de construção
do aterro, a análise foi feita em estágios,
O Prof. Rowe da Universidade do Queen
representando cada um o carregamento de uma
(Canadá) tem publicado vários trabalhos que
camada de 0,375 m de altura do material de
seguem essa linha de atuação na análise de
aterro com peso especifico de 20 kN/m³, ângulo
aterros reforçados com ou sem utilização de
de atrito de 37º e coeficiente de Poisson ν = 0,3.
drenos verticais. Rowe & Soderman (1987),
Os espaçamentos (B) estudados pelos
chegaram à conclusão, por meio do cálculo por
autores para os drenos verticais pré-fabricados
elementos finitos de aterros hipotéticos levados
foram os seguintes: B = 1 m, 2 m e 3 m. Estes
a ruptura, que o parâmetro do reforço que deve
valores são equivalentes aos espaçamentos de
ser verificado é a sua deformação e não a força.
1,07 m, 2,14 m e 3,21 m, respectivamente, para
Em outro trabalho, Hinchberger & Rowe
uma malha triangular padrão. Os drenos pré-
(2003), introduziram o conceito de altura
fabricados considerados apresentam seção
liquida para determinação da máxima altura
transversal típica de 100 mm x 4 mm, onde seu
possível para o aterro em estudo. A altura
diâmetro equivalente dw é igual a 66 mm
líquida em cada estágio é a altura do aterro no
(Kjellman, 1948).
Para esta calibração foi adaptado o mostrados na Figura 3, pode-se observar uma
espaçamento de 2,0 m. Li & Rowe (2001) aproximação dos valores nas curvas geradas por
modelaram o comportamento do aterro com Li & Rowe (2001) com as obtidas pelo PLAXIS
variação do módulo de deformações através do 8.2. 2D. O gráfico apresenta resultados de altura
modelo elástico hiperbólico do Janbu (1963). O líquida para condição de drenos ideais, não
reforço estudado tem rigidez J variando de 250 considerada a resistência dos drenos, a um
a 2000 kN/m. A interface solo reforço foi espaçamento de 2,0 metros em malha triangular
considerada com a resistência do solo de com o aterro construído a uma velocidade de
fundação pelos autores. 2,0 m/mês. O reforço teve sua rigidez variada
entre J = 250 kN/m e J = 2000 kN/m, incluindo-
se também o caso de aterro não reforçado.
A altura líquida apresentada por Li &
Rowe (2001) para o aterro não reforçado foi de
aproximadamente 2,40 m enquanto que a obtida
neste trabalho foi de 2,21 m. Para os aterros
reforçados, as curvas de altura líquida
vsespessura de preenchimento do aterro se
Figura 2 - Geometria do aterro Li & Rowe (2001). aproximaram com maior precisão.

O solo de fundação utilizado nos estudos


de Li & Rowe (2001) apresenta os seguintes
parâmetros conforme Tabela 1.

Tabela 1 - Parâmetros do solo utilizado.

Envoltória de ruptura, M*N/A 0,874


Ângulo de atrito () (normalmente adensado) 27
Envoltória de ruptura, M*S/A 0,63
Coesão para argila sobreadensada, ck (kPa)* 2,7-4,7
Índice de compressão,  0,3
Índice de recompressão,  0,03
Coeficiente de empuxo em repouso, K’0 0,6
Coeficiente de poisson, ν 0,35
Peso específico (kN/m3) 15,2
Permeabilidade, kV0 (m/s) 1x10-9
Índice de vazios, e0 2,5
Índice de mudança de permeabilidade, Ck 0,5
Relação permeabilidade horizontal e vertical, k h/kv 3 Figura 3 - Variação da altura líquida Li & Rowe (2001)
comparadas com curvas obtidas no PLAXIS.
A análise pelo MEF foi realizada com o
programa PLAXIS 8.2. 2D. Foi considerado As pequenas diferenças observadas nas
estado plano de deformação, com uma malha de curvas da Figura 3 podem ter ocorrido devido à
15 nós triangular de deformação linear plástica. diferença entre os programas de cálculo
A malha foi definida com impedimento aos utilizados, bem como ao refinamento,
deslocamentos na direção horizontal nas considerado por cada estudo, das malhas dos
fronteiras laterais e deslocamentos horizontais e elementos.
verticais impedidos na fronteira inferior. Com a boa concordância apresentada,
A comparação entre os resultados está considerou-se validada a metodologia, a qual
apresentada na Figura 3. Nessa Figura podem- será aplicada a seguir.
se comparar os valores obtidos nessa pesquisa
com aqueles obtidos por Li & Rowe (2001). 4. Modelagem
Comprovou-se que a medida em que se
aumenta a rigidez do reforço, a altura de ruptura Nesse trabalho foram modelados aterros
também aumenta. Nos resultados da calibração, para diversas velocidades de construção entre
0,5 m/mês e 6,0 m/mês, com variação da rigidez
do reforço entre aterro não reforçado e J= 6000 Figura 4, com a mesma capacidade de descarga.
kN/m, com drenos espaçados de B=1,0 m, Assim, o diâmetro equivalente (dw) de um
B=2,0 m e B=3,0 m. O aterro foi alteado em geodreno com largura (a) e espessura (b) pode
camadas de 0,20 m de espessura. O material do ser expresso da seguinte maneira.
aterro tem como parâmetros e peso especifico
de 20 kN/m³, ângulo de atrito de 30º e o 2(a+ b)
coeficiente de Poisson ν = 0,3 e módulo de d w=
elasticidade E= 10000 kPa. π
A seção transversal apresenta 20 m de (3)
espessura da camada de solo mole e inclinação Barron (1948) desenvolveu teoria para
do talude em 1 : 2. adensamento radial sob condições ideais.
O solo de fundação foi modelado
utilizando critério “soft soil” do programa −8 T h
U h=1−exp ⁡( ) (4)
PLAXIS 8.2., que é o modelo Cam-Clay μ
modificado. Hansbo (1981) modificou a equação de
Os parâmetros utilizados para o solo mole Barron (1948) para incluir o efeito smear e a
foram baseados nas argilas SFL de Santos resistência dos drenos.
(Massad, 1999). O peso especifico do solo de
fundação adotado no modelo foi de 13,5 kN/m³, n k
2
3 π ( 2 lz−z ) kn
o índice de vazios foi considerado constante,
sendo e0 = 2,5, parâmetro Cc/(1+e0) = 0,43 e
μ=ln
s()( )
+
ks
ln ( s )− +
4 qw
(5)

Cs/Cc = 10%. Os valores de Cc e Cs são Onde:


respectivamente 1,505 e 0,1505, que são n= R/rw e s = rs/rw
rw = Raio do dreno
transformados nos parâmetros * e * por meio
rs = Raio da zona amolgada
das seguintes equações:
Cc
λ¿ = (1)
2,303(1+e 0) Dreno
rw
kh ks Zona de
1 rs b
amolgamento bs
2C s R
w
κ ¿= (2) B
2,303(1+ e0 )
D 2B

A tensão de pré-adensamento desse solo Figura 4 - Equivalência entre drenagem radial e


é governada pela equação a (kPa) = 20 + 3,5z, drenagem.
pertencente ao solo de Cubatão segundo
Massad (1999) . Para transformar o adensamento radial
Os drenos verticais pré-fabricados axissimétrico em adensamento bidimensional
utilizados neste trabalho apresentam seção Hird et. al (1992), baseado na teoria na Hansbo
transversal de 100 mm x 5 mm, típico das (1979), apresentou equações para essa
dimensões correntes no mercado. equivalência. Nas equações são considerados
A função de um dreno vertical é recolher tanto os efeitos de resistência dos drenos como
a água radialmente ao seu interior e transportá- também o efeito do amolgamento do solo.
la verticalmente na direção das fronteiras A equivalência pode ser feita de três
drenantes com o mínimo de resistência maneiras, a saber:
hidráulica possível. (Terzaghi et al., 1996).
Na teoria de adensamento com drenos 1) Mudança na geometria, ou seja, no
verticais é assumido que os drenos são de seção espaçamento entre os drenos (kaxi = kplano);
circular, o que não acontece no caso dos drenos
geossintéticos pré-fabricados, que têm uma
{( )[ ( )]}.
1
k
secção transversal retangular. Hansbo (1979)
sugeriu a transformação da seção retangular em
B
R
=
3
2 ks ( )
ln ( n ) + h ln ( s )−
3
4
2
(6)

uma seção circular equivalente, conforme


2) Mudança na permeabilidade horizontal (B = desenvolvimento da altura real do aterro em
R); cada instante da construção.
2 k ax
k pl = Com esse gráfico é possível conhecer a

[ ( )( )
3 ln
n
s
k
+ ax ln ( s ) −
ks
3
4 ] altura máxima que o aterro pode atingir e,
portanto, o ponto de ruptura.
A rigidez do reforço, o espaçamento entre
(7)
3) Mudança tanto no espaçamento ente os os drenos e a velocidade de construção são
drenos como na permeabilidade horizontal. alguns dos fatores que influenciam diretamente
2 B2 k ax na altura líquida do aterro. Com isso, através
k pl = desses gráficos, pode-se perceber e analisar a

[ ( )( )
3 R2 ln

(8)
n
s
k
+ ax ln ( s )−
ks
3
4 ] influência direta desses fatores na determinação
do seu emprego na construção do aterro
Nas Figuras 6 a 8 são apresentados os
Onde: gráficos de altura líquida para os aterros
B = Espaçamento dos drenos construídos a uma velocidade de 0,5 m/mês, 2,0
R = Raio de influencia m/mês e 4,0 m/mês respectivamente, com
ks = Permeabilidade horizontal na zona espaçamento entre os drenos de 2,0 m para as
amolgada diferentes rigidezes, variando de não reforçado
kh = Permeabilidade horizontal do solo a J = a 6000 kN/m.
kax = Permeabilidade axissimétrica
Pode-se observar na Figura 6 que os casos
kpl = Permeabilidade no plano
de aterros reforçados com J> 500 kN/m não
indicaram ruptura até a altura em que foi
Sendo adotada para este trabalho a
construído, 6,0 m de espessura de
mudança de geometria, temos as seguintes
preenchimento, enquanto que os casos não
relações de espaçamentos entre drenos
reforçados e com reforço J = 500 kN/m
conforme Tabela 2. A figura 5 representa o
atingiram a ruptura. Percebe-se,
modelo constitutivo utilizado no trabalho, nesta
portanto,claramente a influência da rigidez do
figura os drenos estão espaçados com B=2,0 m.
reforço na altura líquida dos aterros.
Tabela 2 - Equivalência do espaçamento entre drenos. Nas figuras 7 e 8, casos com velocidade
Baxi (m) Bplano (m) de construção 2,0 m/mês e 4,0 m/mês, todos os
1,0 1,29
aterros romperam, independente da rigidez do
2,0 2,82
3,0 4,44 reforço. Porém, quanto maior foi a rigidez,
maior foi a altura líquida atingida.
Pode-se concluir também, com esses
gráficos, que a velocidade de construção
20,0 m influência diretamente na altura líquida dos
B=2,0 m (típico)
aterros. Isso ocorre em função do ganho de
resistência dos solo de fundação através do
adensamento parcial durante a construção. Por
Figura 5 - Geometria do aterro no programa PLAXIS 8.2 esse motivo, os aterros do caso de velocidade
para espaçamento dos drenos B=2,0 m. 0,5 m/mês, não apresentaram tendência de
ruptura para J> 500 kN/m.
5. Resultados
Percebe-se que a influência do reforço é
5.1. Altura Líquida muito significativa principalmente em relação
aos casos não reforçados chegando a altura
Os gráficos de altura líquida possibilitam líquida, para os casos reforçados com J = 500
através das deformações verticais analisar o kN/m, superar em mais 50% os casos não
reforçados. A partir daí, a medida em que se
aumenta a rigidez do reforço, a contribuição na
altura líquida passa a ser cada vez menos
significativa quanto maior for a rigidez.
Feita uma analise dessa contribuição do
reforço para alguns casos em que todos os
aterros atingiram a ruptura, mantendo os
espaçamento entre os drenos em B = 2,0 m,
foram obtidos os resultados apresentados nas
Figuras 10 e 11 e Tabelas 3 e 4.
Na Figura 11, pode-se observar que caso
foss optado pela utlização de um reforfor com
J.6000 kN/m, o ganho na altura líquida seria
praticamente insignificante.
Os casos com B = 2,0 m e B = 3,0 m
atingem a ruptura, já o caso com drenos
espaçados em B = 1,0 m, não atinge a ruptura.
Observa-se que a ruptura para o caso de B = 3,0
m é mais brusca que para caso com B = 2,0 m.

Figura 6 - Alturas líquidas para drenos espaçados a cada


2,0 m e velocidade de construção de 0,5 m/mês com
diferentes rigidezes de reforço.

Figura 8 - Alturas líquidas para drenos espaçados a cada


2,0 m e velocidade de construção de 4,0 m/mês com
diferentes rigidezes de reforço.

Figura 7 - Alturas líquidas para drenos espaçados a cada


2,0 m e velocidade de construção de 2,0 m/mês com
diferentes rigidezes de reforço
Figura 9 - Alturas líquidas velocidade de construção de
Nessas análises não foi limitada a 2,0 m/mês e rigidez J = 2000 kN/m.
deformação do reforço, portanto, o reforço não
atinge a ruptura mesmo com valores de Tabela 3 - Tabela comparativa da contribuição do reforço
formação acima das usuais encontradas no na altura líquida em relação ao aterro não reforçado –
Casos com espaçamento entre drenos B = 2,0 m em que
mercado como será apresentado a seguir. foram atingidas a ruptura.
O espaçamento entre drenos também é um
fator que tem significativa influência na altura
líquida dos aterros e no comportamento dos
aterros na ruptura.
Na Figura 9, são apresentadas as curvas Tabela 4 - Tabela comparativa da contribuição parcial do
de altura líquida para velocidade de construção reforço na altura líquida em relação ao aterro não
2,0 m/mês e rigidez do reforço J = 2000 kN/m. reforçado – Casos com espaçamento entre drenos B = 2,0
m em que foram atingidas a ruptura
de deformação se aproximam, assim como as
força mobilizadas.
Percebe-se que, os reforços atingem
valores de deformações superiores aos reforços
disponíveis no mercado, o que indica que o
reforço, em alguns casos, teria rompido antes
que os aterros atingissem a altura líquida
apresentada nas Figuras 6 a 8.
O valor mais usual para limitação das
deformações admissíveis é ε =5%, porém,
existem disponíveis no mercado reforços muito
rígidos que a deformação máxima é ε =5%,
Figura 10 - Gráficocomparativo da contribuição enquanto outros menos rígidos atingem valores
do reforço na altura líquida em relação ao aterro acima de ε =10%.
não reforçado – Casos com espaçamento entre Como primeira observação, vê-se que
drenos B = 2,0 m em foram atingidas a ruptura tanto deformações quanto forças mobilizadas
aumentam conforme a velocidade de construção
dos aterros aumenta.
Isso ocorre em função do solo de
fundação ter um aumento pouco significativo de
resistência através do adensamento parcial para
velocidades de construção elevadas. Ou seja, o
grau de adensamento médio atingido é baixo em
comparação com velocidades mais baixas. Esse
tema será abordado mais detalhadamente em
outro item deste trabalho.
Figura 11 - Gráficocomparativo da contribuição Outra observação que pode ser feita é que
parcial do reforço na altura líquida em relação a deformação para uma mesma altura de
ao aterro não reforçado – Casos com preenchimento de aterro é maior a medida em
espaçamento entre drenos B = 2,0 m em foram que a velocidade de construção também
atingidas a ruptura aumenta, ou seja, para velocidades maiores a
curva de deformação fica levemente mais
acentuada.
5.2. Deformação e força no reforço
O espaçamento entre os drenos, também
Para os mesmos casos exemplificados no influência de forma significativa o
item anterior, serão apresentadas as desenvolvimento das deformações e
deformações e forças mobilizadas no reforço mobilização de força no reforço. Espaçamentos
durante o período construtivo nas Figuras 12 a entre drenos menores aceleram o processo de
14. adensamento, fazendo com que os
deslocamentos dos aterros sejam menores e por
Para obter as deformações, primeiro sua fez, os reforços sejam menos solicitados.
foram obtidas as tensões mobilizadas no reforço
(Ta = mJεa,) para cada camada de A Figura 15 apresenta essa comparação da
preenchimento do aterro, onde m é o número de deformação e forças mobilizadas para o caso
camadas do reforço, para esse estudo m = 1. onde são mantidos constantes velocidade de
construção em 2,0 m/mês e rigidez J = 2000
Observa-se que deformação do reforço é kN/m.
menor para rigidezes maiores, porém à medida
que o reforço se torna muito rígido, os valores
Os casos de espaçamento 2,0 m e 3,0 m
entre drenos, atingem a ruptura. O Ponto de Figura 13 - Deformação (a) e Força mobilizada (b) no
reforço para velocidade de construção de 2,0 m/mês e
ruptura está indicado na figura. espaçamento entre drenos de B= 2,0 m

Figura 14 - Deformação (a) e Força mobilizada (b) no


Figura 12 - Deformação (a) e Força mobilizada (b) no reforço para velocidade de construção de 4,0 m/mês e
reforço para velocidade de construção de 0,5 m/mês e espaçamento entre drenos de B= 2,0 m
espaçamento entre drenos de B= 2,0 m

Apesar do comportamento semelhante


quanto ao desenvolvimento das deformações e
forças mobilizadas, para os casos de ruptura, a
ruptura com B = 3,0 m ocorre para uma altura
de preenchimento de 3,75 m, enquanto que para
B = 2,0 m, ocorre para altura de preenchimento
de 4,35 m. A força mobilizada no instante da
ruptura, também é menor para espaçamento B =
3,0 m, sendo 150 kN/m contra 200 kN/m para o
caso de espaçamento B = 2,0 m nos instante da
ruptura.
Percebe-se que o desenvolvimento das
deformações e forças mobilizadas ocorre de
maneira muito mais rápida para os casos onde
ocorreu a ruptura, sendo ainda ruptura por
capacidade de carga, uma vez que, nessa etapa,
não foi limitada a deformação admissível do
reforço.
rigidez do reforço J = 2000 kN/m . Para case a
figura mostra o deslocamento no quando
preenchidos 5,0 m de aterro. Para o caso de
ruptura, apenas a velocidade de construção foi
alterada para 2,0 m/mês e a figura representa o
ruptura deslocamento no instante da ruptura, para
espessura de preenchimento de 4,4 m.

Figura 15 - Deformação (a) e Força mobilizada (b) no


Figura 16 - Deslocamentopara aterro com drenos
reforço para velocidade de construção de 2,0 m/mês e
rigidez J = 2000 kN/m com B=2,0 m, J=2000 kN/m e velocidade de
construção = 0,5m/mês. Espessura de
preenchimento de 5,0 m.
5.3. Deslocamentos do aterro

Cada um dos fatores analisados influencia


diretamente também nos deslocamentos do
aterro e solo de fundação. Esses deslocamentos
durante o processo de construção serão
apresentados nas Figuras 16 e 17 através de
vetores para um caso em que a ruptura não é
atingida e outro em que é atingida
respectivamente.
No caso onde não ocorre a ruptura fica
evidenciado através dos vetores deslocamentos
o processo de adensamento prevalecendo, já
para o caso que o aterro rompe, fica claro a
concentração dos vetores deslocamento
próximos ao pé do talude e a formação de uma
superfície de ruptura circular.
Os vetores indicam a direção e a
magnitude relativa ao aumento das deformações Figura 17 - Deslocamento para aterro com drenos com
nos pontos próximos à superfície. B=2,0 m, J=2000 kN/m e velocidade de construção = 2,0
m/mês. Espessura de preenchimento de 4,4 m
O caso em que o aterro não rompe a
velocidade de construção é de 0,5 m/mês,
espaçamento entre drenos de B = 2,0 m e
Os deslocamentos laterais sob o pé do talude menor para uma mesma deformação admissível
estão apresentados na Figura 18. do reforço.
Percebe-se também que quanto mais
rígido o reforço, a deformação admissível é
menor para um mesmo grau de adensamento.
A velocidade de construção é outro fator
que influência diretamente no grau de
adensamento e na deformação do reforço. A
medida em que a velocidade de construção
aumenta, a deformação do reforço é maior para
um mesmo grau de adensamento.
Novamente, vale lembrar que, como não
houve limitação da deformação admissível do
reforço, a deformação resultante é superior aos
valores de deformação admissível encontrados
no mercado.
Na Figura 19(a) o aterro atingiu a ruptura
para o caso com J = 500 kN/m. Para os casos da
Figura 18 - Deslocamento lateral sob o pé do talude ao Figura 19(b) e 19(c) todos os casos rompem.
longo do período construtivo. (a) drenos com B=2,0 m,
J=2000 kN/m e velocidade de construção 2,0 m/mês. (b)
drenos com B=2,0 m, J=2000 kN/m e velocidade de
construção 0,5 m/mês.

Vê-se na Figura 18 que o deslocamento


lateral é maior para o caso em que se atinge a
ruptura, e se desenvolveu muito mais
rapidamente que o caso onde a ruptura não foi
atingida.

5.4. Estudo das deformações no reforço em


função do grau de adensamento

O Grau de adensamento médio é um


importante parâmetro para a avaliação e
conhecimento do comportamento dos aterros
sobre solos moles.
A Figura 19 mostra a evolução da
deformação do reforço em função do grau de
adensamento médio para as diferentes rigidezes
do reforço com velocidade de construção 2,0
m/mês para os três espaçamentos entre drenos,
B = 1 m, B = 2 m e B = 3 m.
A primeira observação é que quanto
menor o espaçamento entre drenos os reforços
são menos solicitados e as deformações Figura 19 - Deformação do reforço em função do grau de
ocorrem para graus de adensamento maiores em adensamento médio para Velocidade de 2,0 m/mês e
relação aos casos com drenos mais afastados espaçamento entre drenos de 1,0 m (a), 2,0 m (b) e 3,0 m
um do outro, quando o grau de adensamento é (c) para diferentes rigidezes.
O grau de adensamento atingido durante o
período construtivo para os casos com drenos B
=1,0 m, é muito superior para os outros dois
5.5. Correlações gráficas
casos de espaçamento entre drenos.
Para que seja possível fazer uma análise Quando observa-se a influência da
mais completa e geral dos casos analisados e as velocidade de construção, verifica-se que
influências de cada variável estudada, serão quanto maior essa velocidade, maiores e mais
apresentados gráficos que se correlacionam rápidos são os deslocamentos, tanto verticais
entre si, proporcionando melhor entendimento como horizontais, para um grau de adensamento
do comportamento do aterro. baixo, ou seja, o solo de fundação não teve
tempo de ganhar resistência suficiente através
Com isso, podem ser também melhor
do adensamento parcial.
analisadas as influências de cada variável
separadamente, como a rigidez do reforço, o Quanto mais rápida a construção, mais
espaçamento entre drenos e a velocidade de brusca se apresentou a ruptura por capacidade
construção. de carga.
Serão apresentados gráficos comparativos A rigidez do reforço, é a variável, dentre
analisando as influências de cada variável as estudadas, que mais influenciou na altura
citada ao longo do tempo sobre os recalques, líquida dos aterros.
deformação do reforço, deslocamento lateral e Verifica-se também que quanto mais
grau de adensamento. rígido o reforço, maior pode ser o recalque
A Figura 20 mostra a correlação para o antes da ruptura e também o grau de
caso de velocidade de construção 2,0 m/mês e adensamento.
espaçamento entre os drenos de 2,0 m.
As Figuras 21 a 23 mostram a influência
de cada uma das variáveis separadamente.
A Figura 21 apresenta correlações
mostrando a influência do espaçamento entre
drenos no comportamento do aterro.
A Figura 22 apresenta correlações
mostrando a influência da velocidade de
construção no comportamento do aterro.
Por fim, a Figura 23 mostra o
comportamento do aterro influenciado pelas
diferentes rigidezes do reforço.
Observa-se que os recalques verticais, são
maiores inicialmente, antes da ruptura, para os
casos com B = 1,0 m. Porem, quando ocorre
ruptura, esses recalques aceleram e superam os
casos em que não atingem a ruptura, como
mostrado na Figura 21.
O deslocamento lateral é sempre menor
para espaçamentos entre drenos menores, isso
ocorre em função do adensamento ser maior
em relação aos casos com drenos mais
afastados.
Figura 20 - Correlação de gráficos para espaçamento entre drenos B = 2,0 m, velocidade de construção de 2,0 m/mês.
Figura 21 – Verificação da influência do espaçamento entre drenos para velocidade de construção de 2,0 m/mês e
rigidez do reforço J = 2000 kN/m

.
Figura 22 – Verificação da influência da velocidade de construção para espaçamento entre drenos B = 2,0 m e rigidez
do reforço J = 2000 kN/m
Figura 23 – Verificação da influência da rigidez do reforço para velocidade de construção de 2,0 m/mês e espaçamento
entre drenos B = 2,0 m
6. Conclusões
Na correlação de gráficos, foi possível
Os resultados obtidos na calibração do analisar de forma mais completa os casos
modelo, comparado com os resultados obtidos apresentados, incluindo o grau de adensamento.
por Li & Rowe (2001), permitiram validar a Observou-se que o deslocamento lateral é
metodologia adotada. sempre menor para espaçamentos entre drenos
Foi utilizado o conceito de altura líquida menores, rigidezes maiores e velocidades de
(Hinchberger & Rowe, 2003) para interpretar os construção menores, isso ocorre em função do
resultados obtidos pelo MEF e definir a ruptura adensamento ser maior em relação aos casos
dos aterros. com drenos mais afastados, e consequentemente
Através dos gráficos de altura líquida foi o ganho de resistência do solo de fundação
possível observar a influência tanto da rigidez também é maior.
do reforço como também da velocidade de Quanto menor o adensamento parcial,
construção. maiores são os deslocamentos laterais
Pode-se observar nos gráficos que para ocorridos.
velocidades baixas de construção, e rigidezes
elevadas, a tendência é que não ocorra ruptura, A rigidez do reforço, é a variável, dentre
ao passo que para as mesmas rigidezes e as estudadas, que mais influenciou na altura
espaçamento entre drenos, os gráficos indicam líquida dos aterros.
ruptura do aterro. Verificou-se que quanto mais rígido o
Verificou-se que a medida em que a reforço, maior pode ser o recalque antes da
rigidez é aumentada, sua contribuição na altura ruptura e também o grau de adensamento.
líquida passa ser cada vez menor. O reforço
mostrou melhor eficiência no intervalo entre Com os resultados, o MEF mostrou que
J=500 kN/m e J=2000 kN/m, a partir daí a pode ser útil na escolha do reforço mais
rigidez do reforço passa a ser menos adequado para a condição de obra desejada,
significativa, principalmente para velocidades juntamente com espaçamento entre drenos. Foi
de construção mais altas. possível verificar que a combinação de ambos
A velocidade de construção mostrou ter os elementos pode ser bastante vantajosa em
influencia na deformação do reforço. Quanto relação à utilização de apenas um deles.
mais rápida a construção do aterro, a As deformações do reforço determinadas
deformação do reforço atinge valores altos mais pelo MEF podem ser usadas para escolher o
rapidamente, para alturas de preenchimento do reforço adequado para um aterro sobre solo
aterro menores. O mesmo ocorre para o mole.
espaçamento entre drenos: quanto maior o
espaçamento, mais cedo o reforço atinge
valores altos de deformação.
Com as Figuras dos deslocamentos foi
possível perceber tanto a influencia da rigidez
do reforço como da velocidade de construção.
Foi possível observar que com o mesmo
espaçamento entre drenos e mesma rigidez, o
aterro construído com maior velocidade teve
formada uma superfície de ruptura bem definida
e próxima ao pé do talude em comparação com
o aterro construído a uma velocidade menor,
que não apresentou uma superfície de ruptura
definida, prevalecendo o processo de
adensamento.
.
REFERÊNCIAS Prefabricated vertical drains. Vol. 1: engineering
guidelines. U.S. Federal Highway Administration,
Barron, R.A. (1948), Consolidation of fine-grained soils Report FHWA-RD-86/168.
by drain wells. Transactions of the American Society Rowe, R. K. & Soderman, K.L. (1987). Stabilization of
of Civil Engineers,113: 718–743. very soft soils using high strength geosynthetics: The
British Standard, BS8006: (1995). Code of practice for Role of Finite element Analyses. Geotextiles e
strengthened/reinforced soils and other fills. Geomembranes 6. p. 53-80.
Fuertes Ampuero, M. V. (2012), Análise numérica e Rowe, R. K. & Taechakumthorn, C. (2008). Combined
analítica de aterros reforçados sobre solos moles com effects of PVDs and reinforcement on embankments
uma camada superficial de areia / M.V. Fuertes , Tese over rate-sensitive soils. Geotextiles and
de Mestrado, Escola Politécnica da Universidade de Geomembranes 26 J22, 239-249.
São Paulo Rowe, R.K. (1984), Reinforced embankments: analysis
Futai, M. M., (2010), Considerações sobre a Influência and design. Journal of Geotechnical Engineering,
do adensamento secundário e do uso de reforços em ASCE, 110(GT2): 231–246.
aterros sobre solos moles, Tese de livre docência, Terzaghi, et. al (1996), Soil Mechanics and Engineearing
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Practice. John Wiley and Sons, inc.
Hansbo, S. (1979), Consolidation of Clay by Band-
Shaped Prefabricate Drains. Foudation Engineearing,
12 (5), pp. 16-25.
Hansbo, S. (1981). Consolidation of fine-grained soils by
prefabricateddrains. In Proceedings of the 10th
International Conference on Soil Mechanics and
Foundation Engineering, Stockholm, Vol. 3, pp. 677–
682.
Hinchberger, S. and Rowe, R. K., (2003), Geosynthetic
reinforced embankments on soft clay foundations:
reinforcement strains at failure. Geotextiles e
Geomembranes 21.p.151-175.
Hird, C.C., Pyrah, I.C., and Russell, D. (1992), Finite
element
modeling of vertical drains beneath embankments on
soft ground. Géotechnique, 42(3): 499–511
Holtz, R.D., Jamiolkowski, M.B., Lancellotta, R., and
Pedroni, R.(1991). Prefabricated vertical drains:
design and performance. CIRIA Ground Engineering
Report: Ground Improvement. Butterworth-
Heinemann Ltd., Oxford, U.K.
Janbu, N. (1963), Soil compressibility as determined by
oedometer and triaxial tests. In Proceedings of the
European Conference on Soil Mechanics and
Foundation Engineering, Wiesbaden, Vol. 1,pp. 19–
25.
Jewell, R.A. (1982), A limit equilibrium design method
for reinforced embankments on soft foundations. In
Proceedings of the 2nd International Conference on
Geotextiles, Las Vegas, Vol. 4, pp. 671–676.
Kjellman, W. (1948), Accelerating consolidation of fine-
grained soils by means of cardboard wicks. In
proceedings of the 2nd International Conference on
Soil Mechanics and Foundation Engineering,
Rotterdam, pp. 302–305.
Li, A.L.and Rowe, R. K, (2001), Combined effects of
reinforcement and prefabricated vertical drains on
embankment performance Can. Geotech J38, 1266-
1282.
Massad, F., (1999), Baixada Santista: Implicações da
Historia Geológica no Projeto de Fundações.
Conferencia Pacheco Silva, Solos e Rocha, vol. 22(1),
3-49.
Rixner, J.J., Kraemer, S.R., and Smith, A.D. (1986),

Você também pode gostar