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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................... V

LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................................... VII

LISTA DE TABELAS ........................................................................................................................ X

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS .............................................................................................. XII

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1

1.1 CONTEÚDO DO MANUAL ..................................................................................................... 1

2 INTRODUÇÃO GERAL AOS PRINCÍPIOS DA DRENAGEM PLUVIAL URBANA .................. 3

2.1 PROCESSOS HIDROLÓGICOS E A URBANIZAÇÃO ........................................................................ 3

2.1.1 Ciclo hidrológico ................................................................................................... 3

2.1.2 Impactos da urbanização ..................................................................................... 4

2.2 GÊNESE DAS INUNDAÇÕES ................................................................................................... 6

2.2.1 Inundações ribeirinhas.......................................................................................... 7

2.2.2 Inundações urbanas.............................................................................................. 8

2.3 PRINCÍPIOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DOS SISTEMAS DE DRENAGEM PLUVIAL ........ 9

2.4 ALTERNATIVAS PARA A GESTÃO DO ESCOAMENTO PLUVIAL URBANO ......................................... 12

2.5 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DAS MEDIDAS DE CONTROLE ESTRUTURAIS ............................... 12

2.5.1 Armazenamento ................................................................................................. 12

2.5.2 Infiltração ........................................................................................................... 14

2.5.3 Canalização/Ampliação ...................................................................................... 14

2.6 CRITÉRIOS DE PROJETO...................................................................................................... 18

2.6.1 Riscos .................................................................................................................. 18

2.6.2 Chuva de projeto................................................................................................. 21

2.6.3 Tempo de concentração ..................................................................................... 26

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 I


2.6.4 Cenários de planejamento .................................................................................. 30

2.6.5 Escalas de projeto (fonte, microdrenagem e macrodrenagem) ......................... 32

3 TÉCNICAS PARA O CONTROLE DE INUNDAÇÕES RIBEIRINHAS .................................. 34

3.1 PREVISÃO DAS INUNDAÇÕES .............................................................................................. 34

3.2 PREDIÇÃO DE CHEIA.......................................................................................................... 36

3.3 MEDIDAS DE CONTROLE .................................................................................................... 37

3.3.1 Medidas estruturais ............................................................................................ 38

3.3.1.1 Medidas extensivas .................................................................................................... 39

3.3.1.2 Medidas intensivas ..................................................................................................... 39

3.3.2 Medidas não estruturais ..................................................................................... 42

4 TÉCNICAS PARA O CONTROLE DE INUNDAÇÕES URBANAS ....................................... 50

4.1 SISTEMAS DE DRENAGEM URBANA ...................................................................................... 50

4.1.1 Higienista ............................................................................................................ 50

4.1.2 Métodos compensatórios ................................................................................... 52

4.1.3 Desenvolvimento urbano de baixo impacto ....................................................... 53

4.2 MEDIDAS DE CONTROLE ESTRUTURAIS ................................................................................. 56

4.2.1 Na fonte .............................................................................................................. 57

4.2.1.1 Preparo do Solo .................................................................................................. 57

4.2.1.2 Biorretenção ....................................................................................................... 58

4.2.1.3 Telhado Verde ..................................................................................................... 59

4.2.1.4 Pavimentos permeáveis ...................................................................................... 59

4.2.1.5 Captação e aproveitamento de água da chuva.................................................. 62

4.2.1.6 Trincheira de infiltração...................................................................................... 63

4.2.1.7 Bacias de infiltração ........................................................................................... 64

4.2.1.8 Valos de infiltração ............................................................................................. 65

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 II


4.2.1.9 Poço de infiltração .............................................................................................. 67

4.2.1.10 Manta de infiltração ........................................................................................... 68

4.2.1.11 Microrreservatórios ............................................................................................ 69

4.2.2 Na microdrenagem ............................................................................................. 71

4.2.2.1 Bacias ou reservatórios de detenção .................................................................. 72

4.2.2.2 Canalização (transporte) .................................................................................... 77

4.2.3 Na macrodrenagem ............................................................................................ 78

4.2.3.1 Bacias ou reservatórios de detenção .................................................................. 79

4.2.3.2 Canalização (transporte) .................................................................................... 79

4.3 MEDIDAS DE CONTROLE NÃO ESTRUTURAIS .......................................................................... 80

5 TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO ......................................................................... 83

5.1 REDES DE MICRODRENAGEM .............................................................................................. 83

5.1.1 Dados necessários .............................................................................................. 83

5.1.2 Configuração da drenagem ................................................................................ 84

5.1.3 Critérios para o traçado da rede pluvial ............................................................. 85

5.1.4 Componentes hidráulicos do sistema de redes de microdrenagem pluvial........ 86

5.1.5 Controle de escoamento utilizando estruturas de amortecimento .................... 87

5.1.6 Disposição dos componentes .............................................................................. 90

5.1.7 Determinação da vazão de projeto para rede de microdrenagem: Método


Racional ............................................................................................................................ 92

5.1.8 Dimensionamento hidráulico da rede de condutos ............................................ 95

5.1.8.1 Capacidade de condução hidráulica de ruas e sarjetas...................................... 95

5.1.8.2 Bocas-de-Lobo .................................................................................................... 97

5.1.8.3 Canalizações ..................................................................................................... 103

5.2 REDES DE MACRODRENAGEM ........................................................................................... 110

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 III


5.2.1 Concepção de projeto ....................................................................................... 111

5.2.2 Planejamento, dimensionamento e verificação ............................................... 113

5.2.3 Modelagem hidrológica.................................................................................... 120

5.2.4 Modelagem hidráulica ...................................................................................... 132

5.2.4.1 Propagação em canais ou condutos ................................................................. 132

5.2.4.2 Verificação da linha de energia em regime permanente ................................. 139

5.3 ESTRUTURAS DE ARMAZENAMENTO .................................................................................. 156

5.3.1 Concepção de projeto ....................................................................................... 156

5.3.2 Reservatórios de microdrenagem e macrodrenagem ...................................... 159

5.3.3 Reservatórios de lote ........................................................................................ 167

5.4 ESTRUTURAS DE INFILTRAÇÃO .......................................................................................... 177

5.4.1 Viabilidade de implantação .............................................................................. 177

5.4.2 Estimativa dos parâmetros ............................................................................... 179

5.4.3 Dimensionamento de pavimentos permeáveis e sistemas de infiltração em


planos .......................................................................................................................... 186

5.4.4 Dimensionamento de bacias, valos, poços e trincheiras de infiltração ............ 191

5.4.5 Dimensionamento de valos de infiltração para funcionarem como canais ..... 193

6 EQUIPE TÉCNICA....................................................................................................195

6.1 EQUIPE CHAVE .............................................................................................................. 195

6.2 EQUIPE DE APOIO TÉCNICO ............................................................................................. 195

7 BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................196

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 IV


APRESENTAÇÃO

O Plano Diretor de Drenagem Urbana de Teresina, objeto do Contrato nº 04/2010,


firmado entre a Prefeitura Municipal de Teresina – PMT, por intermédio da Secretaria
Municipal de Planejamento e Coordenação – SEMPLAN, e a Concremat Engenharia e
Tecnologia S. A., tem como finalidades principais, dentre outras: 1) a definição de diretrizes
institucionais visando estabelecer condições de sustentabilidade para as políticas de
drenagem urbana; 2) a caracterização das condições de funcionamento hidráulico das
tubulações, galerias, canais a céu aberto, canais naturais, dispositivos de captação e conexão
entre redes; e 3) as proposições, em nível de gestão, de obras de curto, médio e longo prazo
necessárias ao equacionamento dos problemas encontrados na drenagem urbana de
Teresina.

Dentre os produtos do Plano Diretor de Drenagem Urbana de Teresina, encontram-se


os Manuais Técnicos. A coleção de manuais, composta por três volumes, visa orientar
projetistas e profissionais dos órgãos responsáveis pelo planejamento, implantação e
gerenciamento dos sistemas de drenagem urbana. Os manuais previstos são:

 Manual de atualização do cadastro do sistema de drenagem, incorporando


medidas de manutenção e limpeza preventiva;
 Manual de inspeção periódica do sistema de drenagem;
 Manual de projeto indicando os critérios e metodologias a serem seguidos
quando do projeto de novas intervenções, especialmente de obras hidráulicas
de condução e detenção.

O Manual de Projeto orientará quanto aos métodos de projeto e critérios


construtivos, ficando a critério do projetista o seu uso. Os elementos que devem ser
obedecidos no projeto e implantação são os da legislação pertinente e as normas de
apresentação. Cabe ao projetista desenvolver seus projetos dentro do conhecimento
existente sobre o assunto.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 V


O Manual de Projeto corresponde ao volume 3, que tem o principal objetivo de dar a
orientação aos projetistas e à PMT quanto a critérios de projeto e aspectos específicos da
legislação de controle da drenagem urbana previstos no Plano Diretor de Drenagem Urbana
de Teresina.

O desenvolvimento deste manual foi baseado na experiência de cidades como Porto


Alegre/RS, que desde 2002 possui um volume semelhante. Parte dos conceitos e
metodologias aqui apresentadas foram extraídas do Manual disponibilizado no site da
Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Além deste volume, foi utilizado o material didático
elaborado para o treinamento no curso de capacitação da Rede Nacional de Capacitação e
Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental (RECESA) - Núcleo Regional Sul (Souza et
al, 2007).

Este manual deve ser constantemente atualizado, visto que existe um contínuo
desenvolvimento de tecnologias e revisão de metodologias de dimensionamento. Além da
consulta deste material, os projetistas deverão atender às especificações e sugestões que
eventualmente a equipe da PMT possa fazer.

Celso Silveira Queiroz

Diretor do Projeto

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 VI


LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1. Seção transversal de um rio mostrando o vale de inundação (Fonte:


RECESA/Souza et al., 2007 ) ....................................................................................................... 8

Figura 2.2. Hidrogramas típicos de pequenas áreas urbanas, onde o tempo de concentração
é muito pequeno (Fonte: Manual de Drenagem de Porto Alegre) .......................................... 13

Figura 2.3. Tempo de concentração em uma bacia hidrográfica. ........................................... 27

Figura 3.1. Situação prévia e perspectiva da restauração do rio Cheonggyecheon (Seul,


Coréia do Sul). .......................................................................................................................... 42

Figura 3.2. Zoneamento de áreas inundáveis, sendo (1) a zona de passagem de cheia; (2)
zona com restrições e; (3) zona de baixo risco (Fonte: Souza et al., 2007) ............................. 46

Figura 4.1. Biorretenção. .......................................................................................................... 58

Figura 4.2. Telhados Verdes. .................................................................................................... 60

Figura 4.3. Pavimentos Permeáveis. ........................................................................................ 60

Figura 4.4. Aproveitamento de água de chuva (Brasil, Austrália e E.U.A). .............................. 63

Figura 4.5. Trincheira de infiltração (Manual de Drenagem de Porto Alegre). ....................... 64

Figura 4.6. Bacia de infiltração (CIRIA, 1996). .......................................................................... 65

Figura 4.7. Valo de infiltração (CIRIA, 1996). ........................................................................... 66

Figura 4.8. Vista do valo de infiltração (Urbonas e Stahre, 1993). .......................................... 67

Figura 4.9. Detalhe de um valo de infiltração com uma contenção (Urbonas e Stahre, 1993).
.................................................................................................................................................. 67

Figura 4.10. Poço de infiltração (CIRIA, 1996). ......................................................................... 68

Figura 4.11. Manta de infiltração (Fonte: Manual de Drenagem de Porto Alegre) ................. 69

Figura 4.12. Detenção na fonte (Fonte: Manual de Drenagem de Porto Alegre).................... 70

Figura 4.13. Detenções na cidade de Porto Alegre. ................................................................. 72

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 VII


Figura 4.14. Sistema de drenagem com capacidade limitada na seção A e uso da detenção
para amortecimento da vazão para volume superior a capacidade de escoamento em A
(detenção off-line). (Fonte: Manual de Drenagem de Porto Alegre)....................................... 74

Figura 4.15. Detenção ao longo do sistema de drenagem (parcialmente on-line). Controle de


saída limitado pela seção de jusante. (Fonte: Manual de Drenagem de Porto Alegre). ......... 74

Figura 4.16. Hidrogramas de pré e pós-ocupação – on-line. ................................................... 75

Figura 4.17. Hidrogramas de pré e pós-ocupação – off-line. ................................................... 76

Figura 5.1. Alinhamento das canalizações de microdrenagem quando há mudança de


diâmetro. .................................................................................................................................. 87

Figura 5.2. Reservatórios de detenção e de detenção (Adaptado de Maidment, 1993). ....... 89

Figura 5.3. Disposição dos sistemas da rede coletora de microdrenagem. ............................ 91

Figura 5.4. Seção transversal de uma sarjeta. ......................................................................... 95

Figura 5.5. Tipos de bocas-de-lobo (DAEE/CETESB, 1980). ...................................................... 98

Figura 5.6. Capacidade de engolimento (DAEE/CETESB, 1980). .............................................. 99

Figura 5.7. Capacidade de esgotamento das bocas-de-lobo com depressão de 5 cm em


pontos baixos das sarjetas (DAEE/CETESB, 1980). ................................................................. 100

Figura 5.8. Traçado da rede de microdrenagem pluvial. ....................................................... 104

Figura 5.9. Delimitação das áreas de contribuição. ............................................................... 106

Figura 5.10. A ocupação da bacia hidrográfica e suas consequências (Fonte: DEP/POA, 2002).
................................................................................................................................................ 112

Figura 5.11. Planejamento de controle de bacia no primeiro estágio de urbanização. ........ 113

Figura 5.12. Etapas do planejamento (Fonte: DEP/POA, 2002). ............................................ 116

Figura 5.13. Hidrograma unitário triangular do SCS. ............................................................. 123

Figura 5.14. Convolução do hidrograma unitário do SCS (Fonte: DEP/POA, 2002). .............. 125

Figura 5.15. Variação dos parâmetros. .................................................................................. 134

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 VIII


Figura 5.16. Curva de precisão (Jones, 1981)......................................................................... 134

Figura 5.17. Determinação da linha de energia utilizando a equação de Bernoulli. ............. 140

Figura 5.18. Esquema de expansão em condutos. ................................................................. 143

Figura 5.19. Esquema de contração na rede de drenagem. .................................................. 144

Figura 5.20. Determinação do ângulo . ................................................................................ 148

Figura 5.21. Determinação do fator m. .................................................................................. 149

Figura 5.22. Sistema de drenagem para verificação da linha de energia. ............................. 151

Figura 5.23. Perfil longitudinal do sistema de drenagem. ..................................................... 152

Figura 5.24. Linha de energia e linha d’água.......................................................................... 157

Figura 5.25. Relação entre cota e armazenamento. .............................................................. 161

Figura 5.26. Extravasores de reservatórios. ........................................................................... 161

Figura 5.27. Cálculo do amortecimento em reservatório: funções de armazenamento. ..... 162

Figura 5.28. Função vazão x armazenamento. ....................................................................... 162

Figura 5.29. Característica do descarregador de fundo. ........................................................ 170

Figura 5.30. Determinação de hc em um reservatório. ......................................................... 171

Figura 5.31. Diâmetro dos descarregadores de fundo (orifícios) em função da vazão e carga
hidráulica (diâmetros até 60mm)........................................................................................... 172

Figura 5.32. Diâmetro dos descarregadores de fundo (orifícios) em função da vazão e carga
hidráulica (diâmetros maiores ou igual a 60mm). ................................................................. 173

Figura 5.33. Diâmetro dos descarregadores de fundo (bocal) em função da vazão e carga
hidráulica (diâmetros até 60mm)........................................................................................... 173

Figura 5.34. Diâmetro dos descarregadores de fundo (bocal) em função da vazão e carga
hidráulica (diâmetros maiores ou igual a 60mm). ................................................................. 174

Figura 5.35. Área da seção transversal do descarregador de fundo (orifício) em função da


vazão e carga hidráulica. ........................................................................................................ 175

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 IX


Figura 5.36. Classificação trilinear dos solos (Caputo, 1969). ................................................ 184

Figura 5.37. Curva envelope (Adaptado de Urbonas e Stahre, 1993) ................................... 185

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1. Dispositivos de infiltração. .................................................................................... 17

Tabela 2.2. Período de recorrência para projetos de redes de drenagem pluvial urbana. ..... 20

Tabela 2.3. Hietograma de 60 minutos pelo método dos blocos alternados. ......................... 26

Tabela 2.4 . Equações para a estimativa do tempo de concentração (Fonte: Adaptado de


Silveira, 2004) * ........................................................................................................................ 27

Tabela 2.5 .Coeficiente de rugosidade de Manning. ............................................................... 30

Tabela 3.1. Medidas estruturais para o controle de inundações ribeirinhas e suas


características........................................................................................................................... 38

Tabela 5.1 . Valores de C por tipo de ocupação (adaptado: ASCE, 1969 e Wilken, 1978). ..... 94

Tabela 5.2. Valores de C de acordo com superfícies de revestimento (ASCE, 1969). ............ 94

Tabela 5.3. Coeficiente de rugosidade de Manning ................................................................ 96

Tabela 5.4. Fatores de redução de escoamento das sarjetas (DAEE/ CETESB, 1980). .......... 102

Tabela 5.5. Fator de redução do escoamento para bocas-de-lobo (DAEEE/CETESB, 1980).. 102

Tabela 5.6. Elementos geométricos das seções dos canais. .................................................. 105

Tabela 5.7. Planilha de cálculo de redes de microdrenagem. ............................................... 108

Tabela 5.8. Relações para Fator Hidráulico de seções circulares. ......................................... 110

Tabela 5.9. Modelo de procedimento de projeto de macrodrenagem – Caracterização 1. . 118

Tabela 5.10. Modelo de procedimento de projeto de macrodrenagem – Caracterização 2. 119

Tabela 5.11. Modelo de procedimento de projeto de macrodrenagem – Caracterização 2. 119

Tabela 5.12. Valores de CN para bacias urbanas e suburbanas. ........................................... 122

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 X


Tabela 5.13. Modelo de procedimento de projeto de macrodrenagem 1. ........................... 126

Tabela 5.14. Modelo de procedimento de projeto de macrodrenagem 2. ........................... 127

Tabela 5.15. Exemplo de planilha de cálculo para determinar a precipitação efetiva pelo
método do CN-SCS. ................................................................................................................ 127

Tabela 5.16. Parâmetros para convolução............................................................................. 129

Tabela 5.17. Planilha de cálculo para a convolução da chuva aplicando o princípio do


hidrograma unitário. .............................................................................................................. 130

Tabela 5.18. Modelo de procedimento para aplicação do método de Muskingum-Cunge. . 137

Tabela 5.19. Exemplo de planilha de propagação do escoamento no método Muskingum-


Cunge...................................................................................................................................... 138

Tabela 5.20. Coeficiente de perda de carga por expansão. ................................................... 143

Tabela 5.21. Coeficiente de perda de carga por contração. .................................................. 144

Tabela 5.22. Coeficiente de perda de carga devido a curvas................................................. 145

Tabela 5.23. Coeficientes de perdas em junções e poços-de-visita. ..................................... 146

Tabela 5.24. Coeficiente de perda de carga por junções. ...................................................... 146

Tabela 5.25. Planilha para a determinação do regime de escoamento. ............................... 153

Tabela 5.26. Planilha de cálculo para verificação da linha de energia. ................................. 154

Tabela 5.27. Perdas de carga. ................................................................................................ 156

Tabela 5.28. Modelo de procedimento de projeto: Dimensões e curva cota volume de


reservatório. ........................................................................................................................... 164

Tabela 5.29. Modelo de procedimento de projeto: Descarregador de fundo e/ou vertedor.


................................................................................................................................................ 165

Tabela 5.30. Exemplo de planilha de cálculo para determinação da função auxiliar para a
propagação do escoamento utilizando o algoritmo de Puls.................................................. 166

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 XI


Tabela 5.31. Exemplo de planilha para realização da propagação do escoamento utilizando o
algoritmo de Puls.................................................................................................................... 167

Tabela 5.32. Área da seção transversal dos descarregadores de fundo – circulares. ........... 170

Tabela 5.33. Sistema de pontuação para avaliação de possíveis locais de implantação de


dispositivos de infiltração e/ou percolação (Urbonas e Stahre, 1993). ................................. 179

Tabela 5.34. Classificação nominal da brita (Araújo et al., 2000). ......................................... 180

Tabela 5.35. Característica dos concretos sem finos para agregado de 9,5 a 19 mm.
(McIntosh, Botton e Muir,1956 apud Neville, 1982). .......................................................... 181

Tabela 5.36. Experimentos em superfícies urbanas (Genz, 1994). ........................................ 182

Tabela 5.37. Resultados das simulações de chuva nas superfícies (Araújo et al., 2000). ..... 182

Tabela 5.38. Alguns valores típicos de taxas de infiltração. .................................................. 183

Tabela 5.39. Condutividade hidráulica saturada em diversos tipos de solo (Urbonas e Stahre,
1993)....................................................................................................................................... 184

Tabela 5.40. Porosidade efetiva para materiais típicos (Urbonas e Stahre, 1993). .............. 184

Tabela 5.41. Alguns valores típicos de coeficientes de infiltração, baseados na textura do solo
(Watkins apud CIRIA, 1996).................................................................................................... 186

Tabela 5.42. Fatores de segurança para o coeficiente de infiltração (CIRIA, 1996). ............. 186

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AGESPISA Águas e Esgoto do Piauí S/A

ANA Agência Nacional de Águas

CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo

CHESF Companhia Hidroelétrica do São Francisco

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 XII


CPRM Serviço Geológico do Brasil

DMAE Departamento Municipal de Água e Esgoto de Porto Alegre

Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INMET Instituto Nacional de Meteorologia

NSF National Sanitation Foundation

PDDrU Plano Diretor de Drenagem Urbana

PERH Plano Estadual de Recursos Hídricos

PMT Prefeitura Municipal de Teresina

SCS Soil Conservation Service

SDU Superintendência de Desenvolvimento Urbano

SEMPLAN Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação

SIG Sistema de Informações Geográficas

SNIRH Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 XIII


1 INTRODUÇÃO

Neste manual são apresentados os principais conceitos, tecnologias e metodologias


de dimensionamento atualmente aplicados ao projeto de estruturas de drenagem pluvial.
No entanto, poderão ocorrer casos específicos, em que a equipe da PMT sugerirá estudos,
técnicas e metodologias não contempladas neste volume. O uso de procedimentos não
especificados neste manual deverá ser justificado e previamente aprovado pela equipe da
PMT.

Este manual não tem a pretensão de esgotar a revisão bibliográfica sobre os temas
abordados, mas busca fornecer conceitos básicos e, de forma prática, elementos para que os
projetos sejam realizados de acordo com metodologias padronizadas, recomendadas e
reconhecidas pela equipe da PMT.

A padronização e definição de um conjunto de metodologias conhecidas pela equipe


da PMT resultam de particular importância, dada a grande variedade de técnicas utilizadas
pelos diferentes profissionais em todo o Brasil. Com a padronização, espera-se que o tempo
de análise dos projetos seja reduzido, e que questões subjetivas, como, por exemplo, qual o
resultado mais adequado frente a diferentes técnicas de dimensionamento para um mesmo
fim, sejam equacionadas.

1.1 Conteúdo do manual

Este manual está dividido em cinco capítulos principais:

1. Introdução: as definições preliminares e orientações sobre o uso do manual;


2. Introdução geral aos princípios da drenagem pluvial: neste capítulo são
apresentados conceitos gerais sobre o ciclo hidrológico em áreas urbanas, as
principais características das inundações urbanas, os tipos de sistemas de

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 1


drenagem pluvial, e critérios de projeto necessários para o tratamento dos
sistemas de drenagem pluvial;
3. Técnicas para o controle de inundações ribeirinhas: neste capítulo são
apresentadas as principais técnicas empregadas para o controle das inundações
de origem ribeirinha;
4. Técnicas para o controle de inundações urbanas: neste capítulo são apresentadas
as principais técnicas empregadas para o controle das inundações, devido à água
pluvial no meio urbano, desde microestruturas até as macroestruturas, além de
sua aplicabilidade;
5. Técnicas de dimensionamento: este último capítulo destina-se a mostrar as
metodologias de dimensionamento das estruturas apresentadas no capitulo
anterior. A apresentação é feita de acordo com o princípio de funcionamento das
obras apresentadas, sejam elas de armazenamento, infiltração ou de condução.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 2


2 INTRODUÇÃO GERAL AOS PRINCÍPIOS DA DRENAGEM
PLUVIAL URBANA

2.1 Processos hidrológicos e a urbanização

2.1.1 Ciclo hidrológico


O bom entendimento do ciclo hidrológico natural é essencial para a correta
identificação dos impactos que o processo de urbanização pode desencadear sobre o
mesmo.

No ciclo hidrológico natural, a principal força motriz é a energia solar, que provoca o
aquecimento do ar, do solo e da água superficial resultando na evaporação da água e no
movimento das massas de ar. O vapor de água é transportado de forma ascendente pelo ar
e pode condensar na atmosfera formando nuvens. A evaporação dos oceanos é a maior
fonte de transferência de vapor para a atmosfera, embora a evaporação de água dos solos,
dos rios e lagos e a transpiração da vegetação também contribuem.

Em circunstâncias específicas, o vapor de água condensado nas nuvens pode retornar


à superfície terrestre em diferentes formas de precipitação, como a chuva, neve e granizo. A
precipitação que atinge a superfície pode escoar superficialmente ou infiltrar-se nas
camadas do solo. Devido a condicionantes topográficos, o escoamento superficial converge
para regiões de vales, dando origem a rios e lagos, que drenam para corpos d’água cada vez
maiores, até atingir o oceano.

A água infiltrada pode escoar para camadas inferiores no solo, ressurgindo na forma
de nascentes, ou percolar para camadas ainda mais profundas atingindo os aquíferos
subterrâneos. Quando um aquífero está em contato direto com a superfície, ele é dito não
confinado, e a água fica armazenada no chamado lençol freático, sob o qual atua a pressão
atmosférica. Quando existe alguma formação geológica, que separa a zona de
armazenamento de água no solo da superfície, o aquífero é dito confinado, e sobre ele atua

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 3


uma pressão superior à atmosférica. A água armazenada em ambos os aquíferos pode
ressurgir na forma de escoamento de base, em razão do gradiente topográfico, alimentando
rios, lagos e outros corpos d’água. É esse escoamento de base, justamente o responsável
pela perenização dos rios durante os períodos de estiagem.

O processo acima descrito não cessa, ele é continuamente movido pela energia solar,
por isso chamado de ciclo hidrológico. Em escala global, o ciclo hidrológico é fechado. Se
considerado em escala regional, podem existir alguns subciclos. No entanto, para que esse
ciclo continue em seu curso natural, é necessário que não haja alteração nos volumes de
água que permanecem em uma ou outra fase do processo, ou seja, na atmosfera, na
superfície e no solo. Mesmo que todas as etapas do processo sejam importantes,
normalmente o ciclo hidrológico é estudado com maior interesse na fase terrestre, onde o
elemento fundamental de análise é a bacia hidrográfica.

Embora o ciclo hidrológico seja um processo natural, ações antrópicas e não


antrópicas que podem desestabilizar este equilíbrio. Entre as ações antrópicas que mais
impactam o ciclo hidrológico natural, podemos citar o processo de urbanização, conforme
discutido a seguir.

2.1.2 Impactos da urbanização


Embora sejam conhecidas as desvantagens da urbanização para o ecossistema e o
bem-estar humano, as pessoas continuam a migrar do meio rural para áreas urbanas. Aliado
a esta migração, está o crescimento e o desenvolvimento das cidades, que muitas vezes
ocorre de forma desordenada ou irregular, consequência da falta de planos de
desenvolvimento, de fiscalização e controle eficientes.

Na grande maioria das cidades, o desenvolvimento urbano intensivo tem resultado


em uma grande parcela do solo pavimentado ou recoberto com superfícies impermeáveis,
como ruas e passeios públicos. Árvores, vegetação e culturas agrícolas, que interceptam a
precipitação, são removidas e as depressões naturais, que armazenam água
temporariamente, são transformadas em uma topografia uniforme, através de obras para
terraplenagem. O solo torna-se severamente compactado, devido à passagem de veículos

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 4


pesados, e esse processo conduz a um aumento do escoamento superficial durante a
ocorrência de eventos de chuva, com consequente aumento das inundações. Somam-se a
isso, os impactos causados pelas superfícies impermeáveis, como telhados,
estacionamentos, e outras, que impedem a infiltração da água no solo.

A água, que antes conseguia infiltrar no solo, agora escoa de forma superficial,
gerando um maior volume escoado superficialmente que, com maior velocidade, acaba
convergindo para regiões de cota topográfica inferior, gerando assim focos de inundação.
Pequenos eventos de chuva, que anteriormente não chegavam a produzir escoamento
superficial, passam a gerar significativos volumes escoados. As inundações acarretam riscos
à saúde e à qualidade de vida das pessoas, além de prejuízos sociais e econômicos.

O aumento do escoamento superficial pode ser tão significativo que o sistema de


drenagem natural existente (córregos, rios, etc.) se torna insuficiente para o esgotamento
das águas geradas, provocando o extravasamento dos córregos, arroios, valas e rios,
gerando problemas de inundação ribeirinha. Como resultado, o sistema de drenagem
natural é frequentemente alterado para um sistema eficiente de coleta e transporte do
escoamento, por exemplo, com a introdução de bocas-de-lobo, sarjetas, tubulações e
galerias. Assim, o escoamento superficial, coletado por meio das redes de drenagem, é
subsequentemente descarregado em um corpo hídrico a jusante, como um rio, reservatório,
lago ou estuário.

Além do aumento significativo das vazões e volumes escoados, a urbanização


promove uma deterioração da qualidade da água, que é afetada pela presença do
esgotamento cloacal, sedimentos, resíduos sólidos, óleos, graxas, fertilizantes e pesticidas,
sedimentos oriundos do solo nu ou pobremente vegetado, sedimentos gerados pela
construção civil, além de outros poluentes que atingem os córregos e rios. A água que infiltra
no solo, sistemas de fossa séptica, aterros sanitários, vazamentos nas redes coletoras
pluviais, entre outros, também podem contaminar aquíferos, comprometendo uma
importante reserva estratégica.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 5


Alguns autores mencionam que a urbanização, adicionalmente, pode provocar o
aumento da temperatura nas cidades, devido às superfícies negras, que absorvem muito
calor e criam condições para a ocorrência de precipitações mais intensas, o que agrava ainda
mais o problema das inundações.

Com relação aos impactos da urbanização nas águas urbanas, talvez os impactos
quantitativos sejam aqueles que mais trazem danos à população, ou são mais sensíveis à
percepção, pois se traduzem por meio de inundações. As inundações já estão consideradas
entre os riscos ambientais mais comuns, devido à distribuição da população nos vales fluviais
e zonas costeiras.

2.2 Gênese das inundações

A gravidade de uma inundação é determinada por uma combinação de fatores, como


relevo da bacia hidrográfica, zona de ocorrência e de circulação da tempestade, condições
de umidade antecedente do solo, grau de impermeabilidade do solo, condições de
drenagem existentes, ocupação urbana, entre outros. Eventos climáticos de larga escala,
como El Niño, também têm sido associados aos eventos de inundações em alguns países.

Basicamente, as inundações poderiam ser agrupadas segundo diferentes categorias,


como: 1) de acordo com a sua duração; e 2) de acordo com o local de ocorrência, ou ainda,
apresentar características dos dois grupos.

Uma inundação pode ser caracterizada de acordo com a sua duração como lenta ou
rápida. Assim, eventos como enxurradas, por exemplo, são inundações de rápida duração.
Em geral, inundações que podem ser caracterizadas por sua duração estão associadas a
eventos climáticos naturais bastante desfavoráveis, como a ocorrência de chuvas torrenciais
ou chuvas de longa duração. No entanto, também podem surgir devido às falhas em
sistemas de proteção contra enchentes e deficiência no sistema de drenagem.

De acordo com o seu local de ocorrência, uma inundação pode ser caracterizada
como costeira, ribeirinha ou urbana.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 6


As inundações costeiras podem ocorrer devido a condições meteorológicas que
provocam a elevação do nível do mar acima do normal. Nestas condições, pode haver
inversão de escoamento da água do mar para a terra, provocando inundações em toda a
região costeira com cota topográfica abaixo do nível d’água.

Como a cidade de Teresina não apresenta condições para a ocorrência de


inundações costeiras, este manual será focado na abordagem de técnicas voltadas para o
controle das inundações ribeirinhas e urbanas.

2.2.1 Inundações ribeirinhas

As inundações ribeirinhas ocorrem quando as margens de um rio, arroio ou córrego


se tornam alagadas. É normalmente causada pela ocorrência de uma chuva forte ou
prolongada, que produz um evento de cheia, cuja vazão supera a capacidade de escoamento
da calha do rio, arroio ou córrego, sendo mais comuns em grandes bacias hidrográficas e, em
geral, é um processo natural.

Um vale de inundação (Figura ‎2.1) é definido principalmente por dois leitos: O leito
menor, que representa a seção de rio por onde as águas escoam na maior parte do tempo, e
o leito maior, por onde o rio escoa durante as inundações. O leito menor é claramente
definido pelas margens dos rios e o leito maior é delimitado pelo vale onde o rio meandra.

As inundações ocorrem quando as águas dos rios, riachos ou galerias pluviais saem
do leito menor de escoamento devido à falta de capacidade de transporte de um destes
sistemas e ocupa áreas utilizadas pela população para moradia, transporte (ruas, rodovias e
passeios), recreação, comércio, indústria, e outras atividades humanas.

Quando a precipitação é intensa e o solo não tem capacidade de infiltrar, grande


parte do volume escoa para o sistema de drenagem, superando sua capacidade natural de
escoamento. O excesso do volume que não consegue ser drenado ocupa a várzea
inundando-a de acordo com a topografia das áreas próximas aos rios. Estes eventos ocorrem
de forma aleatória em função dos processos climáticos locais e regionais. A existência de

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 7


estruturas hidráulicas também pode provocar obstruções ao escoamento, dando origem às
inundações ribeirinhas.

Figura ‎2.1. Seção transversal de um rio mostrando o vale de inundação (Fonte: RECESA/Souza et
al., 2007 )

2.2.2 Inundações urbanas

As inundações urbanas ocorrem quando há uma falha, ou falta de sistema de redes


de drenagem. Podem ocorrer também quando o evento de chuva supera o critério utilizado
no dimensionamento.

A ocupação do solo, com consequente impermeabilização das superfícies, faz com


que os volumes escoados superficialmente aumentem consideravelmente. Em razão disso,
redes de drenagem pluvial são implementadas. No entanto, à medida que o processo de
urbanização avança, podem ocorrer falhas no sistema de drenagem, que foi dimensionado
para uma vazão inferior à atual, em razão da alteração da impermeabilização. Assim,
observa-se a insuficiência hidráulica das tubulações e galerias e o armazenamento
temporário da água pluvial nas superfícies urbanas.

As inundações urbanas também podem ocorrer por inexistência de sistemas de


esgotamento das águas pluviais. Essa condição é bastante comum em áreas de ocupação
irregular, onde o poder público não instalou a infraestrutura para tal fim. No entanto, não é

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 8


raro encontrar cidades de que historicamente não instalaram sistemas de redes de
drenagem pluvial, permitindo o escoamento sobre as vias públicas. Nestes casos, os
problemas passam a ocorrer quando os volumes escoados aumentam, devido ao avanço da
urbanização.

O desenvolvimento da infraestrutura urbana também pode contribuir para a


insuficiência dos sistemas de drenagem pluvial, por meio de obstruções ao escoamento
como aterros, pontes, resíduos sólidos, e assoreamento, critérios construtivos inadequados,
entre outros.

2.3 Princípios para o desenvolvimento sustentável dos sistemas de drenagem


pluvial

Para que o desenvolvimento dos sistemas de drenagem pluvial seja realizado de


maneira sustentável, foi estabelecido um conjunto de princípios essenciais, que devem ser
aplicados para a correta gestão da água no espaço urbano, conforme a seguir descritos.

1. O Plano Diretor de Drenagem Urbana deve ser desenvolvido em consonância com o


Plano de Diretor de Desenvolvimento Urbano, Ambiental, de Esgotamento Sanitário,
de Resíduos Sólidos e de Transporte da cidade. A drenagem pluvial faz parte do
conjunto dos sistemas de infraestrutura urbana, portanto, deve ser planejada em
conjunto com os demais.

2. O escoamento pluvial durante os eventos chuvosos não pode ser ampliado pela
ocupação da bacia hidrográfica, em todas as escalas de planejamento existentes no
ambiente urbano. Isto se aplica a um simples aterro urbano, como a construção de
pontes, rodovias, edificações, e toda a implementação dos espaços urbanos. O
princípio é de que nenhum usuário urbano pode ampliar a cheia natural.

3. O Plano Diretor de Drenagem Urbana deve contemplar estudos integrados para as


bacias hidrográficas sobre as quais a urbanização se desenvolve. Para estas bacias,

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 9


devem ser propostas medidas para o controle do escoamento pluvial que não
transfiram os problemas existentes em uma área para outras. Caso isso ocorra, deve-
se prever uma medida mitigadora.

4. O Plano Diretor de Drenagem Urbana deve prever a minimização do impacto


ambiental devido ao escoamento pluvial através da sua compatibilização com o
planejamento do saneamento ambiental, controle do material sólido e a redução da
carga poluente nas águas pluviais.

5. O Plano Diretor de Drenagem Urbana, na sua regulamentação, deve contemplar o


planejamento das áreas a serem desenvolvidas e a densificação das áreas atualmente
loteadas. Depois que a bacia, ou parte dela, estiver ocupada, dificilmente o poder
público terá condições de responsabilizar aqueles que estiverem ampliando a cheia
natural. Portanto, se a ação pública não for realizada preventivamente, através do
gerenciamento, as consequências econômicas e sociais futuras serão muito maiores
para todo o município.

6. Nas áreas ribeirinhas, o controle de inundações é realizado através de medidas


estruturais e não estruturais, que dificilmente estão dissociadas. As medidas
estruturais envolvem grande quantidade de recursos e resolvem somente problemas
específicos e localizados. Isso não significa que esse tipo de medida seja totalmente
descartável. A política de controle de inundações, certamente, poderá chegar a
soluções estruturais para alguns locais, mas dentro da visão de conjunto de toda a
bacia, onde estas sejam racionalmente integradas com outras medidas preventivas
(não estruturais) e compatibilizadas com o esperado desenvolvimento urbano.

7. O controle deve ser realizado considerando a bacia como um todo e não em trechos
isolados.

8. Os meios de implantação das medidas para o controle de enchentes são o Plano


Diretor de Drenagem Urbana, as Legislações Municipal/Estadual e o Manual de

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 10


Drenagem. O primeiro estabelece as linhas principais, as legislações controlam e o
manual orienta os projetistas.

9. O controle de enchentes é um processo permanente. Não basta que sejam


estabelecidos regulamentos e que sejam construídas obras de proteção, é necessário
estar atento às potenciais violações da legislação e na expansão da ocupação do solo
de áreas de risco. Portanto, recomenda-se que:

 Nenhum espaço de risco seja desapropriado se não houver uma imediata


ocupação pública que evite a sua invasão;

 A comunidade tenha uma participação nos anseios, nos planos, na sua execução
e na contínua obediência das medidas de controle de enchentes.

10. A educação: a educação de engenheiros, arquitetos, agrônomos e geólogos, entre


outros profissionais; da população e de administradores públicos - é essencial para
que as decisões públicas sejam tomadas conscientemente por todos;

11. O custo da implantação das medidas estruturais, da operação e manutenção da


drenagem urbana deve ser transferido aos proprietários dos lotes,
proporcionalmente a sua área impermeável, que é a geradora de volume adicional
com relação às condições naturais. O conjunto destes princípios trata o controle do
escoamento pluvial na fonte, distribuindo as medidas de controle para aqueles que
produzem o aumento do escoamento e a contaminação das águas pluviais.

12. É essencial uma gestão eficiente na manutenção de drenagem e na fiscalização da


regulamentação.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 11


2.4 Alternativas para a gestão do escoamento pluvial urbano

As alternativas aplicadas para o desenvolvimento dos sistemas de drenagem pluvial


no espaço urbano e a gestão do escoamento pluvial, possuem dois objetivos básicos: o
controle do aumento da vazão máxima e melhoria das condições ambientais.

Estas alternativas incluem medidas estruturais ou não estruturais, que podem ser
aplicadas individualmente ou em conjunto, com ação na bacia hidrográfica em diferentes
escalas sendo, portanto, agrupadas em três categorias, conforme segue:

a) Ação distribuída ou na fonte: inclui o uso de medidas para o controle do


escoamento pluvial que atuam sobre o lote, praças e passeios;
b) Ação na microdrenagem: inclui o uso de medidas de controle do escoamento
pluvial que agem sobre o escoamento resultante de um loteamento, ou mais de um
loteamento, sendo definido em função da área de drenagem contribuinte;
c) Ação na macrodrenagem: contempla o uso de medidas para o controle do
escoamento pluvial sobre áreas acima de 1,5 km2 a 2km2, ou de áreas a serem
definidas em função dos principais riachos urbanos.

2.5 Princípio de funcionamento das medidas de controle estruturais

As principais medidas de controle do escoamento pluvial funcionam de acordo com


os princípios abaixo discutidos:

2.5.1 Armazenamento

O armazenamento mediante o emprego de estruturas de reservação promove o


amortecimento do escoamento, reduzindo a vazão de pico. O efeito do armazenamento
sobre o escoamento no hidrograma de pequenas áreas pode ser observado na Figura ‎2.2. O
efeito do volume do reservatório utilizado na reservação é de diminuição do pico do
hidrograma, como mostra a referida figura.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 12


Os reservatórios podem ser aplicados com ação na escala de lote, microdrenagem e
macrodrenagem. Os reservatórios de lote, que apenas detêm os volumes escoados, são
usados quando não é possível controlar o escoamento pluvial, na escala de microdrenagem
ou macrodrenagem, ou ainda, quando os empreendimentos são novos e é possível uma
melhor gestão da água pluvial.

Figura ‎2.2. Hidrogramas típicos de pequenas áreas urbanas, onde o tempo de concentração é
muito pequeno (Fonte: Manual de Drenagem de Porto Alegre)

Nos lotes, o armazenamento pode ser efetuado em pequenos reservatórios


distribuídos, em passeios, gramados, estacionamentos e áreas esportivas. Portanto, o
armazenamento no lote pode ser utilizado para amortecer o escoamento, em conjunto com
outros usos, como abastecimento de água, irrigação de grama e lavagem de superfícies ou
de automóveis.

Os reservatórios de microdrenagem e macrodrenagem podem ser utilizados em


qualquer estágio de urbanização, com a finalidade de evitar a transferência de impactos a

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 13


jusante, ou mitigar algum problema de inundação localizado. Nesta escala, eles podem ser
construídos para que trabalhem com detenção (quando é mantido a seco e controla apenas
o volume) ou retenção (quando é mantido com lâmina de água e controla também a
qualidade da água, mas exige maior volume).

2.5.2 Infiltração

Utilizando-se estruturas adequadas, através de dispositivos como pavimentos


permeáveis, valo de infiltração, plano de infiltração, entre outros, busca-se devolver uma das
componentes do ciclo hidrológico natural (infiltração), perdida com a impermeabilização das
superfícies urbanas.

Estas medidas contribuem para a melhoria ambiental, reduzindo o escoamento


superficial das áreas impermeáveis e melhorando a qualidade da água. Em geral, este tipo
de medida vem sendo aplicado com ação na fonte, no entanto, sob determinadas condições,
pode ser utilizado com ação na microdrenagem.

No projeto da urbanização de uma área, a preservação da infiltração da precipitação


permite manter condições mais próximas possíveis das condições naturais. As vantagens e
desvantagens dos dispositivos que permitem maior infiltração e percolação são as seguintes
(Urbonas e Stahre, 1993): redução das vazões máximas à jusante; redução do tamanho dos
condutos; aumento da recarga do aquífero; preservação da vegetação natural; redução da
poluição transportada para os rios; impermeabilização do solo de algumas áreas pela falta
de manutenção e; aumento do nível do lençol freático, atingindo construções em subsolo.

Os dispositivos de infiltração e percolação são apresentados na Tabela ‎2.1 com as


suas características principais e comentados a seguir.

2.5.3 Canalização/Ampliação

Em algumas situações, a aplicação de estruturas que funcionam com o princípio de


infiltração e armazenamento torna-se inviável, sendo que a canalização resulta como única
medida viável. As canalizações são a forma mais tradicional de tratamento do escoamento
pluvial e podem ser empregadas com ação na microdrenagem e macrodrenagem, sendo

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 14


que, em cada escala de análise, devem ser empregadas as metodologias específicas,
conforme será discutido mais adiante neste manual.

As canalizações também podem ser empregadas em qualquer estágio de


urbanização, desde a implantação de novas redes de drenagem até ampliação da sua
capacidade. O aumento da capacidade pode ser obtido mediante modificações de área da
seção transversal, redução da rugosidade da seção, aumento de declividade, introdução de
sistemas paralelos, entre outros. No entanto, esta solução, apenas transfere para jusante o
aumento da vazão, exigindo aumento da capacidade ao longo todo o sistema de drenagem,
aumentando exponencialmente o custo.

No capítulo ‎4. TÉCNICAS PARA O CONTROLE DE INUNDAÇÕES URBANAS, essas


medidas de controle são apresentadas em maior detalhe. No capítulo ‎5. TÉCNICAS DE
DIMENSIONAMENTO são apresentadas as metodologias para dimensionamento
padronizadas neste manual. O item ‎2.6 Critérios de projeto apresenta os critérios de projeto
que os projetistas devem ser empregados para o dimensionamento de qualquer uma das
estruturas contempladas.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 15


Tabela ‎2.1. Dispositivos de infiltração.
CONDICIONANTES FÍSICOS PARA A UTILIZAÇÃO
DISPOSITIVO CARACTERÍSTICAS VANTAGENS DESVANTAGENS
DA ESTRUTURA
Permite infiltração de parte Para planos com declividade > 0,1% a Profundidade do lençol freático no período
Gramados, áreas com da água para o subsolo. O quantidade de água infiltrada é pequena e chuvoso maior que 1,20 m. A camada
Planos e Valos
seixos ou outro decreto permite reduzir a não pode ser utilizado para reduzir a área impermeável deve estar a mais de 1,20 m de
de Infiltração
material que permita área impermeável do impermeável; o transporte de material profundidade. A taxa de infiltração do solo
com drenagem
a infiltração natural escoamento que drena para sólido para a área de infiltração pode quando saturado não deve ser menor que 7,60
o plano em 40% reduzir sua capacidade de infiltração mm/h.
Permite infiltração da água Profundidade do lençol freático no período
Gramados, áreas com para o subsolo. O decreto O acúmulo de água no plano durante o chuvoso maior que 1,20 m. A camada
Planos e Valos
seixos ou outro permite reduzir a área período chuvoso não permite trânsito impermeável deve estar a mais de 1,20 m de
de Infiltração
material que permita impermeável do sobre a área. Planos com declividade que profundidade. A taxa de infiltração do solo
sem drenagem
a infiltração natural escoamento que drena para permita escoamento para fora do mesmo. quando saturado não deve ser menor que 7,60
o plano em 80% mm/h.
Superfícies Profundidade do lençol freático no período
Permite infiltração da água.
construídas de chuvoso maior que 1,20 m. A camada
O decreto permite reduzir a Não deve ser utilizado para ruas com
Pavimentos concreto, asfalto ou impermeável deve estar a mais de 1,20 m de
área impermeável do tráfego intenso e/ou de carga pesada, pois
permeáveis concreto vazado com profundidade. A taxa de infiltração do solo
escoamento que drena para a sua eficiência pode diminuir.
alta capacidade de quando saturado não deve ser menor que 7,60
o plano em 80%
infiltração mm/h.
Profundidade do lençol freático no período
Poços de chuvoso maior que 1,20 m. A camada
Infiltração, Volume gerado no Redução do escoamento impermeável deve estar a mais de 1,20 m de
Pode reduzir a eficiência ao longo do
trincheiras de interior do solo que superficial e amortecimento profundidade. A taxa de infiltração do solo
tempo dependendo da quantidade de
infiltração e permite armazenar a em função do quando saturado não deve ser menor que 7,60
material sólido que drena para a área.
bacias de água e infiltrar armazenamento mm/h. Para o caso de bacias de percolação a
percolação condutividade hidráulica saturada não deve ser
-5
menor que 2.10 m/s.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 17


2.6 Critérios de projeto

2.6.1 Riscos
As obras estruturais com ação em qualquer escala, seja lote, microdrenagem ou
macrodrenagem, são dimensionadas para conferir proteção à população, para um
determinado evento de cheia. Assim, assume-se o risco de que, para eventos superiores ao
de projeto, a estrutura poderá vir a falhar.

O risco de uma vazão, ou precipitação, é entendido neste manual como a


probabilidade (p) de ocorrência de um valor igual ou superior ao de projeto em um ano
qualquer. O período de retorno (Tr) é o inverso da probabilidade p e representa o tempo,
em média, que este evento tem chance de se repetir.

1
Tr 
p (2.1)

Para exemplificar, considere um dado que tem seis faces (números 1 a 6). Numa
jogada qualquer, a probabilidade de sair o número 4 é p=1/6 (uma chance em seis
possibilidades). O período de retorno é, em média, o número de jogadas que o número
desejado se repete. Nesse caso, usando a equação 2.1 acima fica T = 1/(1/6)=6. Portanto, em
média, o número 4 se repete a cada seis jogadas. Sabe-se que esse número não ocorre
exatamente a cada seis jogadas, mas se jogarmos milhares de vezes e tirarmos a média,
certamente isso ocorrerá. Sendo assim, o número 4 pode ocorrer duas vezes seguidas e
passar muitas sem ocorrer, mas na média se repetirá em seis jogadas. Fazendo uma
analogia, cada jogada do dado é um ano para as enchentes. O período de retorno de 10 anos
significa que, em média, a cheia pode se repetir a cada 10 anos, ou a cada ano esta enchente
tem 10% de chance de ocorrer.

Portanto, o risco ou a probabilidade de ocorrência de uma precipitação ou vazão


igual ou superior num determinado período de n anos é

Pn  1  ( 1  p )n (2.2)

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 18


Por exemplo, qual a chance da cheia de 10 anos ocorrer nos próximos 5 anos? Ou
seja, deseja-se conhecer a probabilidade de ocorrência para um período e não apenas para
um ano qualquer. Neste caso:

Pn  1  (1  1 / 10) 5  0,41 ou 41%

A probabilidade, ou o período de retorno, é calculado com base na série histórica


observada no local. Para o cálculo da probabilidade, as séries devem ser representativas e
homogêneas no tempo. Quando a série é representativa, os dados existentes permitem
calcular corretamente a probabilidade. Por exemplo, se um determinado período de dados
de um rio contempla apenas enchentes de pequena magnitude, ele não é representativo, se
fora desse período, ocorreram algumas maiores. Diz que a série é homogênea, quando as
alterações na bacia hidrográfica não produzem mudanças significativas no comportamento
da mesma e, em consequência, nas estatísticas das vazões do rio.

Em projeto de áreas urbanas, como haverá alterações na bacia hidrográfica, o risco


adotado se refere à ocorrência de uma determinada precipitação, e não necessariamente da
vazão resultante, que é consequência da precipitação em combinação com outros fatores
fisiográficos da bacia hidrográfica. Desta forma, quando não for referenciado de forma
específica neste texto, o risco de projeto citado é sempre o da precipitação envolvida.

A grande importância da definição do risco para um projeto é que ele define a


dimensão dos investimentos envolvidos e a segurança quanto às enchentes. A análise
adequada envolve um estudo de avaliação econômica e social dos impactos das enchentes
para a definição dos riscos. No entanto, esta prática é inviável devido ao alto custo do
próprio estudo, principalmente para pequenas áreas. E também em situações de
planejamento futuro, o risco deve ser definido, antes mesmo que qualquer enchente possa
ter ocorrido. Desta forma, os riscos usualmente adotados são apresentados na Tabela ‎2.2.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 19


Tabela ‎2.2. Período de recorrência para projetos de redes de drenagem pluvial urbana.
VALOR
INTERVALO TR
SISTEMA CARACTERÍSTICA FREQUENTE
(ANOS)
(ANOS)
Microdrenagem Residencial 2–5 2
Comercial 2–5 5
Áreas de prédios públicos 2–5 5
Aeroporto 5 – 10 5
Áreas comerciais e
5 – 10 10
Avenidas
Macrodrenagem 10 - 25 10
Zoneamento de áreas
5 - 100 100*
ribeirinhas
* limite da área de regulamentação

A equipe de acompanhamento da PMT deverá fazer a recomendação ao projetista


sobre qual o risco deverá ser adotado, ou caberá ao projetista a decisão, sendo que para isso
podem ser consideradas as seguintes observações:

i. Escolher o limite superior do intervalo da tabela, quando envolverem grandes


riscos de interrupção de tráfego, prejuízos materiais, potencial interferência em
obras de infraestrutura como subestações elétricas, abastecimento de água,
armazenamento de produtos danosos quando misturado com água e hospitais;

ii. Quando existir risco de vida humana deve-se buscar definir um programa de
defesa civil e alerta além de utilizar o limite de 100 anos para o projeto.

Vale lembrar que, embora sejam utilizadas técnicas estatísticas para a determinação
das curvas de probabilidade, associada a esta determinação está a incerteza. Entende-se
como incerteza a diferença entre as estatísticas da amostra e da população de um conjunto
de dados. A incerteza é fruto dos erros de coleta de dados, da definição de parâmetros, da
caracterização de um sistema, das simplificações dos modelos e do processamento destas
informações para definição do projeto de drenagem. Assim, por exemplo, mesmo que uma
obra seja corretamente dimensionada para um evento que possui recorrência de 10 anos, é

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 20


possível que ele ocorra já no primeiro ano de implantação da obra, ou que ocorra mais de
uma vez no prazo de 10 anos.

2.6.2 Chuva de projeto


Conforme discutido anteriormente, exceto nos casos em que existem medições de
vazão, e seja possível a definição de vazões de projeto associadas a períodos de recorrência,
normalmente os eventos de cheia são determinados a partir de eventos de precipitação,
sendo que assume-se que o evento de cheia terá o mesmo período de recorrência da chuva.
Portanto, a chuva de projeto é uma variável de fundamental importância nos projetos dos
sistemas de drenagem pluvial

A precipitação é a principal informação hidrológica de entrada utilizada no cálculo


das vazões de projeto das obras de drenagem pluvial. A expressão precipitação de projeto
identifica a precipitação utilizada na geração do hidrograma ou vazão de projeto.

Neste item são apresentados os fundamentos utilizados para a definição do método


de obtenção de uma precipitação de projeto. Os primeiros fundamentos referem-se aos
conceitos de precipitação observada e precipitação de projeto.

A precipitação observada é uma sequência cronológica de eventos de chuva que


podem ser caracterizados, um a um, pelas seguintes variáveis (unidades usuais entre
parênteses):

 Lâmina precipitada P (mm);


 Duração D (min);
 Intensidade média precipitada iméd = P/D (mm/h);
 Lâmina máxima Pmáx (mm) da sequência de intervalos de tempo t que discretizam D;
 Intensidade máxima imáx = Pmáx / t (mm/h);
 Posição de Pmáx ou imáx dentro da duração D (entre 0 e 1, do início ao fim de D).

A precipitação de projeto é, por sua vez, um evento crítico de chuva construído


artificialmente com base em características estatísticas da chuva natural e com base em

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 21


parâmetros de resposta da bacia hidrográfica. Estas características estatísticas e parâmetros
são levados em conta através de dois elementos básicos (unidades usuais entre parênteses):

 Período de retorno Tr da precipitação de projeto (anos);


 Duração crítica Dcr do evento (min).

O aposto de projeto significa, justamente, que está associado à precipitação de


projeto um período de retorno que foi pré-estabelecido conforme a importância da obra,
conforme previamente discutido. Por convenção, atribui-se à vazão de projeto ou ao
hidrograma de projeto calculado com base nesta precipitação, o período de retorno desta.
Os critérios usados para a escolha do período de retorno foram apresentados no capítulo
‎2.6.1.

A duração crítica é outro elemento indispensável à definição das precipitações de


projeto, pois ela deve ser longa o suficiente para que toda a bacia contribua com o
escoamento superficial, o que equivale dizer que a precipitação efetiva (parcela da
precipitação total que gera escoamento superficial) deve ter duração igual ao tempo de
concentração (ver item ‎2.6.3) da bacia contribuinte.

As precipitações de projeto podem ser constantes ou variadas ao longo de sua


duração. A precipitação de projeto constante é normalmente utilizada em conjunto com o
Método Racional (seu uso é apresentado no capítulo ‎5.1 Redes de microdrenagem) e sua
duração é igual ao tempo de concentração. A precipitação de projeto variável no tempo
(hietograma de projeto) é utilizada para determinar o hidrograma de projeto no
dimensionamento de estruturas de infiltração (item ‎5.4 para dimensionamento de
Estruturas de infiltração), reservação (item ‎5.3 para dimensionamento de Estruturas de
armazenamento) e de redes de macrodrenagem (‎5.2 Redes de macrodrenagem). No
hietograma a precipitação é definida em intervalos de tempo onde a duração total da
precipitação utilizada é maior ou igual ao tempo de concentração.

As precipitações de projeto são normalmente determinadas a partir de relações


intensidade-duração-frequência (curvas IDF) da bacia contribuinte. Expressas sob forma de
tabelas ou equações, as curvas IDF fornecem a intensidade da precipitação para qualquer

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 22


duração e período de retorno. Pode-se obter uma lâmina ou altura de precipitação,
multiplicando-se a intensidade dada pela IDF pela sua correspondente duração. A IDF de um
local é definida a partir de registros históricos de precipitação de pluviógrafos, e representa
o máximo pontual.

Em razão das áreas de contribuição das bacias hidrográficas normalmente utilizadas


em zonas urbanas, não é necessário realizar o abatimento espacial das chuvas, a menos que
ela supere 25 km2.

A equação IDF recomendada neste Manual está apresentada abaixo e foi


determinada durante a elaboração do Plano Diretor de Drenagem Urbana do município, do
qual este faz parte.

1194,273T 0,1738
i (2.3)
t  100,7457
Onde: i é a intensidade da chuva em mmh-1, T é o período de retorno do evento em
anos e t é a duração em minutos.

Exemplo 2.1 Para o dimensionamento de uma rede de microdrenagem numa área


residencial, determinar a intensidade e o volume pluviométrico de uma precipitação com
duração de 1 hora.

Solução: A duração foi fornecida t=1h. O dimensionamento numa área de


microdrenagem o tempo de retorno varia de 2 a 5 anos (Tabela ‎2.2) em função dos prejuízos
potenciais. Adotando Tr = 5 anos.

1194 ,273T 0 ,1738 1194 ,273( 5 )0 ,1738


i   66 ,48mm / h
t  10 0 ,7457 60  10 0 ,7457

A precipitação total no período de uma hora será

P =66,48mm.h-1 * 1h = 66,48 mm

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 23


A precipitação natural possui grande variabilidade temporal durante um evento
chuvoso, e de evento para evento. Assim, também a variabilidade temporal da precipitação
natural dificilmente segue um padrão formal identificável, ou seja, os hietogramas que se
sucedem no tempo são diferentes uns dos outros.

A variabilidade temporal nas chuvas de projeto depende do método hidrológico


utilizado. Para a aplicação no Método Racional, por exemplo, o procedimento é o
apresentado no Exemplo 2.1, pois o método considera a chuva de projeto com intensidade
constante em toda a sua duração, retirada diretamente da curva IDF. No entanto, os
métodos baseados em hidrogramas unitários utilizam a precipitação de projeto variável no
tempo. Nesta situação, os métodos mais usados para a geração da distribuição espacial da
chuva são aqueles que atribuem uma distribuição arbitrária temporal para chuvas de
projeto, baseadas em cenários que produzem inundações críticas. Neste manual é
apresentado o método dos blocos alternados, que constrói o hietograma de projeto a partir
da curva IDF.

A metodologia denominada de bloco alternados distribui a precipitação ao longo do


tempo de forma a buscar um cenário crítico de precipitação. Este cenário baseia-se em
precipitação pequena e média no início do tempo e precipitação alta próximo do final da
duração, quando geram hidrogramas com grande pico.

Para a utilização da metodologia, o projetista deve seguir o roteiro abaixo


apresentado:

1. Para o período de retorno escolhido, calcular através da IDF selecionada a


precipitação correspondente à duração, espaçadas pelo intervalo de tempo até a
duração total.

A duração total (dt) da precipitação deve ser igual ou maior que o tempo de
concentração (tc) da bacia, permitindo que toda a bacia “sinta” o efeito da
precipitação.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 24


O intervalo de tempo (t) da precipitação deve ser igual, e preferencialmente
menor a 1/3 do tempo de pico do hidrograma unitário da bacia. Como este valor
nem sempre está disponível, é recomendável utilizar um intervalo de tempo que
seja menor igual a 1/10 do tempo de concentração.

Sugere-se considerar intervalos de t entre 5 e 10 minutos em hietogramas com


duração total de até 2 horas. Para durações maiores que 2 horas recomenda-se
utilizar intervalos de t entre 10 e 20 min.

Por exemplo, sendo a duração total (dt) de 60 min e o intervalo de tempo (t) de
10 min, calcula-se a partir da IDF as precipitações para as durações de 10, 20, 30,
40, 50 e 60 minutos. Este valores são precipitações acumuladas, Pa(t), para cada
duração.

2. Considerando que a precipitação em cada intervalo de tempo é a diferença entre dois


intervalos de tempo, obtém-se a primeira versão do hietograma. Por exemplo, a
Pi(t=30min)= Pa(30min)-Pa(20min). Geralmente este resultado mostrará o valor
máximo no primeiro intervalo de tempo, portanto o hietograma deve ser reordenado
para buscar cenários mais desfavoráveis.

3. Para reordenar o hietograma, posicione o maior (primeiro) valor a 50% da duração, o


segundo logo após ao anterior e o terceiro antes do maior valor e assim,
sucessivamente (veja exemplo 2.2).

Exemplo 2.2: Determinar o hietograma para a chuva de projeto calculada o exemplo


2.1, utilizando intervalo de tempo de 5 minutos.

Solução: Na Tabela ‎2.3, coluna 2 são apresentados os valores de intensidade de


precipitação para durações de até 60 minutos e intervalos de 10 minutos. A precipitação
total acumulada é apresentada na coluna 3. As precipitações desacumuladas são

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 25


apresentadas na coluna 4 e reordenadas como apresentado nas colunas 5 e 6, resultando
nos valores da coluna 7.

Tabela ‎2.3. Hietograma de 60 minutos pelo método dos blocos alternados.


Coluna 1 Coluna 2 Coluna 3 Coluna 4 Coluna 5 Coluna 6 Coluna 7
Tempo I (1) Pacum (2) Pdesac (3) Ordem Ordem Prearr (4)
(min) (mm/h) (mm) (mm) Decrescente alternada (mm)
10 169,23 28,20 28,20 1º 5º 5,19
20 125,07 41,69 13,49 2º 3º 8,77
30 100,92 50,46 8,77 3º 1º 28,20
40 85,45 56,97 6,51 4º 2º 13,49
50 74,59 62,16 5,19 5º 4º 6,51
60 66,49 66,48 4,33 6º 6º 4,33
1 - calculado com a IDF com t dado pela 1ª coluna
2 - multiplicação da 1ª coluna (tempo) pela 2ª (i) dividida por 60
3 - é o hietograma completamente adiantado obtido pela desacumulação da 3ª coluna
4 – é o hietograma final resultante do rearranjo dado pela ordenação alternada

Os tipos de precipitação de projeto sugeridas neste Manual são aplicáveis em casos


comuns de projeto. Em casos especiais, a equipe de acompanhamento da PMT pode exigir
outros tipos de precipitação de projeto.

2.6.3 Tempo de concentração


Conceitualmente, o tempo de concentração é o tempo que uma gota de chuva, que
atinge a região mais remota da bacia hidrográfica, leva para atingir o exutório. Para entender
o significado do tempo de concentração, considere o ponto P1 da bacia hidrográfica da
Figura ‎2.3.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 26


Figura ‎2.3. Tempo de concentração em uma bacia hidrográfica.

Se nesse ponto precipitar uma gota de água e houver condições para geração de
escoamento, essa gota d’água escoará por regiões de maior declividade até atingir o curso
d’água principal (P2). Quando a água atinge o rio principal, o escoamento passa a se
desenvolver em um canal, até o exutório da bacia hidrográfica.

O procedimento para o cálculo do tempo de concentração, com base na Figura ‎2.3 é


calcular o comprimento dos percursos (L1 – entre P1 e P2 e L2 – entre P2 e o exutório) e
estimar as velocidades da água correspondente (V1 e V2). Posteriormente, calcula-se o
tempo de viagem T1 e T2, sendo que o tempo de concentração total da bacia hidrográfica,
nesse caso, seria T1+T2.

A maneira mais adequada de determinação do tempo de concentração é a partir de


dados observados de precipitação e vazão. No entanto, são raras as bacias hidrográficas que
dispõem desse tipo de informação. Para contornar esses problemas, são apresentadas na
literatura algumas formulações empíricas para a determinação do tempo de concentração,
como as apresentadas a seguir, na Tabela ‎2.4.

Tabela ‎2.4 . Equações para a estimativa do tempo de concentração (Fonte: Adaptado de Silveira,
2004) *
APLICABILIDADE
NOME EQUAÇÃO 2
Área (km ) L(km) S(%) Tipo de superfície
Onda Cinemática Tc = 7,35n0,6i-0,4L0,6S-0,3 - <0,03 - Parcela
Kirpich Tc = 0,0663L0,77S-0,385 <0,45 <1,2 3/10 Rural

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 27


APLICABILIDADE
NOME EQUAÇÃO 2
Área (km ) L(km) S(%) Tipo de superfície
SCS Lag Tc = 0,057(1000/CN-9) L S 0,7 0,8 -0,5
< 8,1 - - Rural
Ven te Chow Tc = 0,160L0,64S-0,32 1,1/19 - - Rural
Dooge Tc = 0,365A0,41S-0,17 140/930 - - Rural
Corps Engineers Tc = 0,191L0,76S-0,19 <12000 <257 <14 Rural
Picking Tc = 0,0883L0,667S-0,333 - - - Rural
George Ribeiro Tc = 0,222(1,05)-1LS-0,04 <19000 <250 1/10 Urbana
Schaake et al Tc = 0,0828L 0,24 -0,16
S Aimp-0,26 <0,7 <1,8 <7 Urbana
McCuen et al Tc = 2,25i-0,7164L0,5552S-0,2070 0,4-16 <10 <4 Urbana
Carter Tc = 0,0977L0,6S-0,3 <21 <12 <0,5 Urbana
Eagleson Tc = 0,274nR-0,67LS-0,5 <21 - - Urbana
Desbordes Tc = 0,0869A0,3039S-0,3832Aimp-0,4523 <51 <18 <7 Urbana
Espey-Winslow Tc = 0,343 L0,29 S-0,145Aimp-0,6 <91 - - Urbana
SCS modificado Tc = 5,474.(n.L)0,8.P24-0,5.S-0,4 - <0,20 - Urbana

*ver a parametrização a seguir

Nestas equações, as variáveis são: Tc é o tempo de concentração em horas; A é a área


de drenagem em km2; L é o comprimento do talvegue em km; S é a declividade (m/m); H é a
diferença de cotas entre o exutório da bacia e o ponto mais alto do talvegue em metros; CN
é o número de curva (método SCS); Aimp é a fração de área impermeável; ip é a intensidade
de precipitação em mm/h e igual a 35 mm/h; n é a rugosidade de Manning adotada igual a
0,016 em regiões urbanas; Rh é o raio hidráulico em metros, adotado igual a 0,02;  é o fator
de condutância (adimensional) e igual a 0,3 em bacias urbanas; P24 precipitação de 24 horas
de duração em mm; i é a intensidade da chuva em mm/h, e a referência apontada por
McCuen et al (1984) é 35 mm/h; R(m) é igual a 0,02 para áreas urbanas e 0,20 para áreas
rurais.

Recomenda-se, no entanto, muito cuidado na utilização dessas equações, visto que


as mesmas foram desenvolvidas para bacias hidrográficas com determinadas características
e em condições específicas. Deve-se, portanto, observar as condições de aplicabilidade

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 28


apresentadas na Tabela ‎2.4, para as quais as formulações foram desenvolvidas, e identificar
a mais adequada para a bacia hidrográfica em questão.

Para o escoamento em superfícies, recomenda-se que o tempo de concentração seja


estimado conforme a equação mais adequada, a ser selecionada dentre as apresentadas
posteriormente. Para a estimativa do tempo de concentração em canais, redes de
drenagem, valas, entre outros, deve ser utilizada a equação de Manning, conforme segue:

Rh 2/3 .S 1 / 2
V
n (2.4)

Onde: V é a velocidade do escoamento (m/s); S é a declividade do fundo (m/m); n é o


coeficiente de rugosidade de Manning (consultar Tabela ‎2.5).; Rh é o raio hidráulico (m),
calculado conforme a equação:

A
Rh 
Pm (2.5)

Onde: A é a área da seção transversal (m2); Pm é o perímetro molhado da seção


transversal (m).

Determinada a velocidade do escoamento, determina-se o tempo de concentração


através da equação:

L
tc 
V (2.6)

Onde: tc é o tempo de concentração (segundos); L é comprimento do trecho onde


ocorre escoamento (m); V é a velocidade do escoamento (m/s).

Quando se tratarem de vários trechos de drenagem deve ser calculado um tc para


cada trecho, e o tc total será dado pela soma dos tc individuais.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 29


Tabela ‎2.5 .Coeficiente de rugosidade de Manning.
CARACTERÍSTICAS n
Canais revestidos:
Canais retilíneos com grama de até 15 cm de altura 0,30 - 0,40
Canais retilíneos com capins de até 30 cm de altura 0,30 - 0,060
Galerias de concreto:
Pré-moldado com bom acabamento 0,011 - 0,014
Moldado no local com formas metálicas simples 0,012 - 0,014
Moldado no local com formas de madeira 0,015 - 0,020
Sarjetas:
Asfalto suave 0,013
Asfalto rugoso 0,016
Concreto suave com pavimento de asfalto 0,014
Concreto rugoso com pavimento de asfalto 0,015
Pavimento de concreto 0,014 - 0,017
Pedras 0,017
Para outros tipos de materiais pode-se recorrer às tabelas e fotografias apresentadas por Chow (1959), no
livro Open-channel Hydraulics.

Durante o desenvolvimento de exemplos no capítulo ‎5 TÉCNICAS DE


DIMENSIONAMENTO, são feitas as estimativas do tempo de concentração, a título de
exemplo.

2.6.4 Cenários de planejamento


Os cenários de planejamento dos sistemas de drenagem pluvial urbano e para o
dimensionamento das medidas de controle de enchentes, envolvem a definição da condição
de urbanização para a qual se está pensando o planejamento da água pluvial no espaço
urbano.

Os principais cenários de planejamento urbano e de sistemas de drenagem são


discutidos a seguir, sendo que outros poderão ser elaborados para condições particulares.

I. Cenário de pré-desenvolvimento: este cenário representa a situação de escoamento


natural que ocorria na bacia hidrográfica, antes de sua urbanização. As condições naturais de
escoamento envolvem superfície permeável e escoamento em leito natural sem canalização.
Normalmente, este cenário é utilizado como referência para a determinação da chamada
vazão natural ou vazão de pré-urbanização. Esta vazão é utilizada como valor máximo a ser

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 30


liberado em situações de empreendimentos novos, que devem respeitar os princípios do
desenvolvimento sustentável dos sistemas de drenagem pluvial, que incluem a não
ampliação da cheia natural.

II. Cenário atual de uso do solo: Esse cenário consiste em determinar as condições de
urbanização na ocasião de realização do estudo, emprego de fotografias aéreas, imagens de
satélite, dados do IBGE, entre outros. Em geral, este cenário de uso do solo é utilizado para
avaliar a eficiência e/ou impacto de implantação de novas obras de drenagem, calibração de
modelos hidrológico-hidráulico, entre outros.

III. Cenário de uso do solo previsto no Plano Diretor de Uso e Ocupação do Solo:
consiste na elaboração de um cenário de uso do solo, que contemple a densificação prevista
para as áreas urbanas. São observadas as taxas de impermeabilidade permitidas, as áreas
urbanizadas, e toda a parametrização de modelos hidrológicos é feita a partir desta
informação. Este cenário é utilizado, por exemplo, para responder a questões, como: “o que
pode acontecer com o sistema de drenagem pluvial atualmente implantado se a
densificação prevista no plano for atingida e nenhuma obra de drenagem for realizada?”. Ele
também é o cenário de uso do solo, utilizado para o dimensionamento de novas obras de
drenagem pluvial, a exemplo da canalização ou armazenamento. No caso de obras de
armazenamento, a vazão máxima deste cenário é utilizada para a determinação da medida
de controle do escoamento pluvial, que deverá manter a mesma a uma taxa igual ou inferior
àquela determinada para o cenário de pré-urbanização, conforme já discutido.

IV. Cenário atual de uso do solo combinado com o previsto no Plano Diretor de Uso e
Ocupação do Solo: este cenário só torna-se necessário quando se observar que em algumas
áreas a taxa máxima de impermeabilidade ou ocupação do solo no cenário atual já supera o
previsto no Plano Diretor. A sua aplicabilidade é a mesma descrita no Cenário II.

V. Cenário de ocupação máxima do solo: este cenário é uma representação bastante


crítica do que pode ocorrer na bacia hidrográfica. Nele são representadas as taxas máximas
de impermeabilidade possíveis, considerando os padrões de urbanização existentes em
diferentes partes da cidade, e o desrespeito e falta de fiscalização no cumprimento dos

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 31


limites estabelecidos no Plano Diretor de Uso e Ocupação do Solo. Normalmente ele é um
cenário utilizado para fins de comparação.

2.6.5 Escalas de projeto (fonte, microdrenagem e macrodrenagem)


Os sistemas de drenagem pluvial urbano são, normalmente, agrupados em três
categorias, de acordo com o seu domínio: fonte, microdrenagem e macrodrenagem.

A drenagem na fonte é definida pelo escoamento que ocorre na residência, no


edifício, lote, condomínio ou empreendimento individualizado, estacionamentos, área
comercial, parques e passeios.

O dimensionamento de estruturas de drenagem convencionais como calhas dos


telhados, condutores verticais e condutores horizontais deve ser realizado seguindo as
recomendações técnicas da NBR 10.844 – Instalações Prediais de Águas Pluviais, do ano
vigente. Para as demais técnicas de dimensionamento de estruturas para o controle do
escoamento na fonte, como estruturas de infiltração e armazenamento, recomenda-se que
sejam utilizadas as metodologias apresentadas no capítulo ‎5 (‎5.3 Estruturas de
armazenamento e ‎5.4 Estruturas de infiltração).

A microdrenagem é definida pelo sistema de drenagem pluvial, arroio, ou canais em


um loteamento ou de rede primária urbana. Este tipo de sistema de drenagem é projetado
para atender à drenagem de precipitações com risco moderado e é composto sarjetas,
bocas-de-lobo, poços-de-visita, tubos e galerias.

A definição dos sistemas de microdrenagem pode ser realizada a partir de áreas de


drenagem utilizadas como referência, como, por exemplo, o limite de 2km2. Em alguns
casos, os sistemas de microdrenagem também podem ser definidos em função do diâmetro
das tubulações, como, por exemplo, tratar como rede de microdrenagem toda a tubulação
com diâmetro inferior a 1m.

O dimensionamento dos sistemas de microdrenagem é apresentado no capítulo ‎5


(‎5.1 Redes de microdrenagem), e segue basicamente a aplicação do Método Racional. No
entanto, em casos especiais como, por exemplo, aqueles em que as redes de

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 32


microdrenagem estão sujeitas a condicionantes de jusante (remanso, obstruções ao
escoamento, etc.), condutos sob pressão, deverá ser utilizada a abordagem apresentada
para redes de macrodrenagem.

A macrodrenagem engloba um conjunto de redes de microdrenagem. Nesse caso, as


áreas de drenagem envolvidas são de, pelo menos, 2km2, ou então, pode ser utilizado como
critério o diâmetro das redes de condutos de drenagem acima de um determinado valor. Por
exemplo, se na microdrenagem são considerados diâmetros até 1,5m, então a
macrodrenagem será composta por condutos com diâmetros ou capacidade superiores.

O sistema de macrodrenagem deve ser projetado com capacidade superior ao de


microdrenagem, com riscos de acordo com os prejuízos humanos e materiais potenciais.

De acordo com recomendação deste manual, as obras de macrodrenagem devem ser


dimensionadas mediante o emprego de modelos hidrológicos, que determinam o
hidrograma do escoamento. No capítulo ‎5 (‎5.2 Redes de macrodrenagem), é apresentada a
metodologia do Curve Number do SCS, combinada com o uso do Hidrograma Unitário
Sintético do SCS, para a determinação dos hidrogramas .

O escoamento também deverá ser propagado nas redes de macrodrenagem, com a


finalidade de identificar as condições de funcionamento do sistema, que dependerão de
condicionantes de jusante ou de condicionantes locais. Para situações em que existam
efeitos de jusante, como níveis dos rios, obstruções, aterros, pontes, reservatórios, etc., que
podem gerar remanso1, deverá ser utilizada modelagem específica, que permita avaliar o
impacto destas sobre o escoamento, conforme é apresentado no capítulo ‎5. Para os demais
casos, recomenda-se que um modelo de propagação em regime não permanente seja
utilizado para verificar os níveis e vazões ao longo de todo o sistema de drenagem.

1
Em um rio, se existe uma ponte, aterro ou outra obstrução, a vazão de montante é reduzida pelo

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 33


3 TÉCNICAS PARA O CONTROLE DE INUNDAÇÕES
RIBEIRINHAS

As técnicas para o controle de inundações ribeirinhas incluem a previsão, a predição


e o uso de medidas estruturais e não estruturais para o controle de cheias. Os itens a seguir
apresentam estes assuntos.

3.1 Previsão das inundações

Denomina-se previsão de vazão à estimativa do escoamento com antecedência no


tempo. A previsão de vazão é uma medida não estrutural, utilizada para minimizar o efeito
de eventos extremos, ao permitir que ações preventivas sejam tomadas. Por exemplo, o
conhecimento de chuvas intensas permitiria diminuir o volume existente em um
reservatório para amortecer a cheia futura. A previsão de vazão é realizada pelos modelos
hidrológicos e hidráulicos.

Os modelos hidrológicos são metodologias matemáticas para representação


simplificada da realidade. Para seu melhor entendimento, os modelos podem ser
classificados de acordo com as simplificações utilizadas em empíricos, conceituais (ou físicos)
e combinados.

Os modelos empíricos são baseados em relações estabelecidas entre variáveis


hidrológicas sem levar em conta os reais processos. Os modelos empíricos mais utilizados
hoje em dia são os modelos estocásticos, estatísticos, de redes neurais e de relações entre
variáveis (por exemplo, diferenças de cota).

Os modelos conceituais utilizam equacionamentos que representam os processos


físicos de uma bacia. Desta forma, ao representar melhor os processos, têm maior
capacidade de extrapolação e tratamento das variáveis hidrológicas. A maioria dos modelos
conceituais existentes também utiliza algumas formulações empíricas, como, por exemplo, a

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 34


representação de processos de pequena escala como uma série de armazenamentos,
devido, principalmente, à carência de informação que permitam caracterizar corretamente
estes processos.

Os modelos conceituais geralmente possuem dois componentes: (a) precipitação-


vazão: trata da geração de escoamento a partir da precipitação representando o balanço de
água no solo e vegetação e o escoamento na bacia (b) propagação em rios e reservatórios:
que representam o escoamento em trechos de rios e reservatório a partir da contribuição da
bacia obtida do módulo anterior.

Os modelos conceituais ou físicos podem ser distribuídos ou concentrados. Os


modelos distribuídos possuem a capacidade de levar em conta a distribuição areal das
características físicas e processos da bacia, enquanto que os concentrados consideram que
as características são uniformes na bacia.

Todos os modelos de previsão de vazão baseiam-se na utilização de algumas


informações básicas, tais como o nível da água ou vazão no próprio local em que se deseja
obter a previsão e em locais a jusante e a chuva observada na bacia. A previsão da cheia é
realizada considerando a antecedência necessária e, basicamente podem ser separados em
modelos de previsão de curto prazo ou de longo prazo.

A previsão de longo prazo é aquela em que a previsão é realizada para antecedências


de algumas semanas a vários meses. A previsão de curto prazo é a comumente utilizada para
minimização dos danos provocados por enchentes, tanto em planejamento de zonas
urbanas como em sistemas de alerta.

Dessa forma, o sistema de previsão indica qual a cheia prevista, sinaliza a cota crítica,
e a defesa civil pode alertar a população sobre as áreas que ficarão inundadas. Esse tipo de
sistema de previsão contra enchentes não é apresentado em maior detalhe neste manual,
dado o seu caráter abrangente e específico. Para maiores informações deverão ser
consultadas bibliografias adequadas.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 35


3.2 Predição de cheia

A predição é realizada com base na estatística de ocorrência de níveis no passado e


permite estabelecer os níveis de cheia para alguns riscos escolhidos (vazão máxima).

A predição de cheia considera as chances de ocorrência da inundação em termos


estatísticos, não prevendo quando ocorrerá a cheia. A estimativa de inundação de um
determinado local pode ser realizada com base nos seguintes procedimentos:

(a) A partir de série observada de vazões: deve-se possuir uma série de vazões medidas
no local de interesse por pelo menos 15 anos;

(b) Técnicas de regionalização de vazões;

(c) A partir da precipitação, com uso de modelo precipitação-vazão: utilizada


principalmente quando a série de vazões reconhecidamente não é estacionária.

Estas metodologias estimam o risco de inundação no local com base nos registros
históricos ocorridos e consideram que as séries históricas de vazões possuem as seguintes
características:

 Homogeneidade e estacionariedade: isso significa que as estatísticas da série


não se alteram com o tempo, ou seja, a média das vazões ou seu desvio
padrão não deveriam se alterar ao no longo do tempo. Por exemplo, ao ser
construída uma barragem a montante de uma seção de um rio com volume
importante para amortecimento de inundação, o risco da inundação deve
mudar porque a série não é mais homogênea;

 Representatividade: assume-se que as séries registradas de níveis de


inundação são representativas da ocorrência no local, ou seja, devem ser
longas o suficiente e conter a variabilidade de períodos secos e úmidos.

 Interdependentes: Os valores da série devem ser independentes entre si.


Geralmente uma cheia máxima de um ano não guarda dependência com o

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 36


ano seguinte se forem escolhidas dentro do chamado “ano hidrológico”, que
é o período do início do mês chuvoso ao final do mês seco.

Os dois primeiros itens apresentam a maior quantidade de incertezas e a utilização


de marcas de inundações é essencial para um ajuste confiável da curva de probabilidade de
vazões nos locais de interesse.

A predição pode ser utilizada para se conhecer o comportamento hidrológico do rio.


Assim, é possível identificar qual a probabilidade de cheias para diferentes vazões e associá-
las a cotas geométricas. Esse processo permite que seja realizado o zoneamento das áreas
inundáveis no entorno do rio para diferentes riscos. Assim, é uma medida não estrutural,
aplicável para a melhor convivência da população com as inundações ribeirinhas, conforme
será discutido no item a seguir.

A análise estatística por meio da predição também pode ser utilizada para a definição
de cotas para a construção de um dique de proteção para um determinado risco de projeto,
conferindo uma proteção de caráter estrutural à população, conforme discutido no item a
seguir.

A metodologia para desenvolvimento de modelo de predição de inundações é


apresentada no capítulo ‎5 TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO, item Erro! Fonte de
referência não encontrada. Erro! Fonte de referência não encontrada..

3.3 Medidas de controle

As medidas para o controle de inundações ribeirinhas se dividem em medidas de


caráter estrutural e não estrutural, de acordo com a sua interferência na calha do rio. No
primeiro caso, as intervenções atuam modificando o sistema existente, e no segundo caso,
elas reduzem os danos à população por meio de diretrizes que buscam a melhor convivência
da população com as cheias.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 37


3.3.1 Medidas estruturais

As medidas estruturais são aquelas nas quais o homem modifica o sistema ribeirinho
existente na tentativa de minimizar inundações. Estas medidas podem ser extensivas ou
intensivas, de acordo com a sua intervenção na calha do rio. Na Tabela ‎3.1 são apresentadas
as principais medidas estruturais e suas características.

Tabela ‎3.1. Medidas estruturais para o controle de inundações ribeirinhas e suas características.
Medida Tipo Principal vantagem Principal Aplicação
desvantagem
Medidas extensivas
Alteração da Difuso Abatimento do pico e Necessita de Todas as bacias
cobertura volume de cheia grande esforço
vegetal
Controle de Difuso Reduz assoreamento Idem ao anterior Todas as bacias
perda de solo
Medidas intensivas
Diques e Local Competência na Danos significativos Grandes rios e
pôlderes proteção para o em caso de falha planície
tempo de retorno de
projeto
Reservatório Todos Controle à jusante Desapropriação Bacias
para sua intermediárias
implantação
Com comportas Maior eficiência Vulnerabilidade a Usos múltiplos
hídrica falhas de operação
Controle de Mínimo de perdas Custo não- Restrito ao
Cheias partilhado controle de
cheias
Alteração na Desobstrução Ampliação de Efeito localizado Pequenos rios
calha de fluxo capacidade de
descarga com pouco
investimento
Retificação Acelera o escoamento Efeito negativo em Área de
(corte de rio com fundo inundação
meandros) aluvionar estreita
Alteração da Caminho da Amortecimento de Depende da Grandes bacias
calha cheia volume topografia
Desvio Reduz vazão do canal Idem ao anterior Bacias médias e
principal grandes
Revitalização Local Controle de cheia, Necessita de Rios alterados
do rio melhoria estética e de grande esforço
saúde do ecossistema

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 38


3.3.1.1 Medidas extensivas

As medidas extensivas são aquelas que agem no contexto global da bacia,


procurando modificar as relações entre precipitação e vazão, como a alteração da cobertura
vegetal do solo, que reduz e retarda os picos de cheias e controla a erosão da bacia.

Cobertura vegetal: a cobertura vegetal tem capacidade de armazenar parte do


volume precipitado de água pela interceptação vegetal, aumentar a evapotranspiração e
reduzir a velocidade do escoamento superficial pela bacia hidrográfica. Quando é retirada a
cobertura vegetal, a tendência é de aumentar o volume escoado, as cheias, e reduzir as
estiagens, aumentando a variabilidade das vazões. O aumento da cobertura é uma medida
extensiva para redução das inundações, mas aplicável a pequenas bacias, onde tem mais
efeito (< 10 km²). O efeito maior deste tipo de medida é sobre os eventos mais frequentes
de alto risco de ocorrência. Para eventos raros de baixo risco o efeito da cobertura vegetal
tende a ser pequeno.

Controle da erosão do solo: o aumento da erosão tem implicações ambientais pelo


transporte de sedimentos e seus agregados, podendo contaminar os rios a jusante e
diminuir a sua seção, e alterando o balanço de carga e transporte dos rios. Um dos fatores é
a redução da seção dos rios e o aumento da frequência das inundações em locais de maior
sedimentação. O controle da erosão do solo pode ser realizado pelo reflorestamento,
pequenos reservatórios, estabilização das margens e práticas agrícolas corretas. Esta medida
contribui para a redução dos impactos das inundações.

3.3.1.2 Medidas intensivas

As medidas intensivas são aquelas que agem numa escala menor, nos cursos d’água e
superfícies, e podem ser obras de (a) re-naturalização; (b) contenção, como diques e
pôlderes; (c) aumento da capacidade de descarga, como retificações, ampliações de seção e
corte de meandros de cursos d’água; (d) desvio do escoamento por canais e retardamento e
infiltração, como reservatórios, bacias de amortecimento e dispositivos de infiltração no
solo.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 39


Diques ou polders: São muros laterais de terra ou concreto, inclinados ou retos,
construídos a uma certa distância das margens, que protegem as áreas ribeirinhas contra o
extravasamento. Os efeitos de redução da largura do escoamento confinando o fluxo são o
aumento do nível de água na seção para a mesma vazão, aumento da velocidade e erosão
das margens e da seção e redução do tempo de viagem da onda de cheia, agravando a
situação dos outros locais a jusante. O maior risco existente na construção de um dique é a
definição correta da cheia máxima provável, pois existirá sempre um risco de colapso,
quando os danos serão piores que a não existência do mesmo.

O dique permite proteção localizada para uma região ribeirinha. Deve-se evitar
diques de grandes alturas, pois existe sempre o risco de rompimento para uma cheia maior
do que a de projeto. No caso de rompimento, o impacto é maior do que se o mesmo não
existisse.

Na construção de diques para a proteção de áreas agrícolas, o risco de colapso


adotado pode ser mais alto que em áreas urbanas, sempre que os danos potenciais sejam
somente econômicos. Quando o colapso pode produzir danos humanos o risco deve ser
menor e a obra complementada por um sistema de previsão e alerta em tempo atual. Tanto
em bacias rurais como urbanas é necessário planejar o bombeamento das áreas laterais
contribuintes ao dique, caso contrário, chuvas sobre estas bacias laterais ficam represadas
pela maior cota do rio principal ou acumuladas no seu interior, se não existirem drenos com
comportas.

Reservatório: O reservatório de controle de cheias funciona retendo o volume do


hidrograma durante as cheias, reduzindo o pico e o impacto a jusante do barramento.
Podem ser de uso exclusivo para esta finalidade ou podem ter usos múltiplos. O primeiro
tem como objetivo somente minimizar as inundações, enquanto que o segundo tem mais de
um objetivo, que são muitas vezes conflitantes.

Um reservatório sem controle de operação é aquele que não dispõe de comportas de


vertedor ou de fundo e a cheia é regulada pelas condições do vertedor livre. Quando

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 40


existem comportas é possível utilizar com mais eficiência o volume disponível para controle
da cheia.

Modificações do rio: As modificações na morfologia do rio visam aumentar a vazão


para um mesmo nível, reduzindo a sua frequência de ocorrência. Isto pode ser obtido pelo
aumento da seção transversal ou pelo aumento da velocidade. Para aumentar a velocidade é
necessário reduzir a rugosidade, tirando obstruções ao escoamento, dragando o rio,
aumentando a declividade pelo corte de meandros ou aprofundando o rio. Essas medidas,
em geral, apresentam custos elevados.

Para a seção de um rio que escoa uma dada vazão, a cota resultante depende da área
da seção, da rugosidade, raio hidráulico e da declividade. Para reduzir a cota devido a uma
vazão pode-se atuar sobre as variáveis mencionadas. Para que a modificação seja efetiva é
necessário modificar estas condições para o trecho que atua hidraulicamente sobre a área
de interesse. Aprofundando o canal, a linha de água é rebaixada evitando inundação, mas as
obras poderão envolver um trecho muito extenso para que a medida seja efetiva, o que
aumenta o custo. A ampliação da seção de medição produz redução da declividade da linha
de água e redução de níveis para montante. Estas obras devem ser examinadas quanto à
alteração que podem provocar na energia do rio e na estabilidade do leito. Os trechos de
montante e jusante das obras podem sofrer sedimentação ou erosão de acordo com
alteração produzida.

Revitalização do rio: Alterações do sistema ribeirinho modificado, como rios


canalizados ou retificados, para sistemas com características naturais promovem efeitos
significativos na proteção de cheias por infiltração e armazenamento providenciados por
várzeas, meandros, substrato e taludes revitalizados, isto é, não-impermeabilizados e
vegetados. Atividades de recuperação de rios têm recebido atenção especial recentemente
em virtude da percepção mais acurada dos processos hidrobiogeoquímicos realizados pelo
sistema natural. Com isto, sistemas ribeirinhos artificiais têm sido reavaliados, como o do rio
Cheonggyecheon, na cidade de Seul (Coréia do Sul, Figura ‎3.1), com custos aproximados de

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 41


US$ 300 milhões, para a remoção de via expressa e uma avenida, com aproximadamente 6
km, com vistas à criação de um espaço mais ameno e convidativo à população.

Figura ‎3.1. Situação prévia e perspectiva da restauração do rio Cheonggyecheon (Seul, Coréia do
Sul).2

É importante destacar que as medidas estruturais não são projetadas para dar uma
proteção completa. Isto exigiria a proteção contra a maior cheia possível, o que é
fisicamente e economicamente inviável na maioria das situações. Além disto, medidas
estruturais podem criar uma falsa sensação de segurança, permitindo a ampliação da
ocupação das áreas inundáveis, podendo futuramente resultar em danos significativos.

3.3.2 Medidas não estruturais

As medidas não estruturais são aquelas em que os prejuízos são reduzidos por meio
da melhor convivência da população com as cheias, com adoção de medidas preventivas que
não alteram o sistema existente. As medidas não estruturais, em conjunto ou não com as
estruturais, podem minimizar significativamente os prejuízos com um custo menor. O custo
de proteção de uma área inundável por medidas estruturais, em geral, é superior ao de
medidas não estruturais.

2
Extraída do sítio eletrônico: <http://www.streetsblog.org>

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 42


As principais medidas não estruturais são preventivas como: previsão e alerta de
inundação, zoneamento das áreas de risco de inundação, seguro e proteção individual
contra inundação.

Sistema de previsão e alerta: tem a finalidade de se antecipar a ocorrência da


inundação, avisando a população e tomando as medidas necessárias para reduzir os
prejuízos resultantes da inundação.

Um sistema de previsão envolve, basicamente, a seguinte estrutura metodológica


com os principais componentes apresentados a seguir, desmembrado em subcomponentes:

A. Informações: obter dados em qualidade e quantidade na bacia para permitir a


previsão e predição de vazões e outras variáveis climáticas e hidrológicas.

B. Avaliação: Aumento do conhecimento sobre o uso e tipo de solo, comportamento


do tempo e da hidrologia. O melhor entendimento dos processos regionais e as
características dos sistemas são fundamentais para uma melhor previsão e predição.

C. Prognóstico: Implementar e/ou melhorar o prognóstico hidroclimático: previsão e


análise de cenários buscando minimizar os impactos sobre os principais sistemas de recursos
hídricos.

D. Gestão dos Impactos: Estimar vulnerabilidades, oportunidades, medidas


mitigadoras e adaptação para reduzir as vulnerabilidades aos riscos climáticos.

E. Sistema de Gestão: O funcionamento do prognóstico depende de um sistema de


Gestão onde estão presentes as instituições: características, política, atribuições e
organização; seus recursos humanos: pessoal para atuar nas atividades do projeto; e
infraestrutura: rede de monitoramento, equipamentos de campo e escritório e softwares.

Um sistema de alerta de previsão tempo real envolve os seguintes aspectos:

 Sistema de coleta e transmissão de informações de tempo e hidrológicas:


sistema de monitoramento por rede telemétrica, satélite ou radar e
transmissão destas informações para o centro de previsão;

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 43


 Centro de Previsão: recepção e processamento de informações; modelo de
previsão; avaliação e alerta;

 Defesa Civil: programas preventivos: educação, mapa de alerta, locais críticos;


alerta aos sistemas públicos: escolas, hospitais, infraestrutura; alerta a
população de risco, remoção e proteção à população atingida durante a
emergência ou nas inundações.

Este sistema possui três fases distintas que são: prevenção, alerta e mitigação.

Na prevenção são desenvolvidas as atividades preventivas para minimizar as


inundações quando as mesmas ocorrerem. Isto envolve o treinamento da equipe da Defesa
Civil, da população através de informações, mapa de alerta que identifique as áreas alagadas
durante a sua ocorrência, planejamento de áreas para receber a população flagelada, entre
outros.

O alerta trata da fase de acompanhamento da ocorrência dos eventos chuvosos com


base no (a) nível de acompanhamento, isto é, nível a partir do qual existe um
acompanhamento da evolução da cheia, o alerta à Defesa Civil da eventualidade da chegada
de uma cheia e a previsão de níveis em tempo real; (b) nível de alerta, isto é, nível a partir do
qual as entidades prevêem o tempo em que será atingida a cota que pode produzir prejuízos
e que a Defesa Civil e administrações municipais passam a receber regularmente as
previsões para a cidade; (c) nível de emergência, isto é, nível no qual ocorrem prejuízos
materiais e humanos e a população passa a receber as informações de nível atual e previsto
com antecedência e o intervalo provável dos erros, obtidos dos modelos.

A fase de mitigação trata das ações que devem ser realizadas para diminuir o
prejuízo da população quando a inundação ocorre, como isolar ruas e áreas de risco,
remoção da população, animais e proteção de locais de interesse público.

O mapa de alerta é preparado com valores de cotas em cada esquina da área de


risco. Com base na cota absoluta das esquinas, deve-se transformar esse valor na cota
referente a régua. Isto significa que, quando um determinado valor de nível de água estiver

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 44


ocorrendo na régua, a população saberá quanto falta para inundar cada esquina. Isto auxilia
a convivência com a inundação durante a sua ocorrência.

Zoneamento de áreas inundáveis: O zoneamento propriamente dito é a definição de


um conjunto de regras para a ocupação das áreas de maior risco de inundação, visando à
minimização futura das perdas materiais e humanas em face das grandes cheias. Conclui-se,
daí, que o zoneamento urbano permitirá um desenvolvimento racional das áreas ribeirinhas.
Esta atividade engloba as seguintes etapas: a) determinação do risco das cheias; b)
mapeamento das áreas de inundação; c) zoneamento. A seguir são descritos os aspectos do
mapeamento e do zoneamento.

Os mapas de inundação podem ser de dois tipos: mapas de planejamento e mapas de


alerta. O mapa de planejamento define as áreas atingidas por cheias de tempos de retorno
escolhidos. O mapa de alerta foi descrito no item anterior.

Para a elaboração desses mapas são necessários os seguintes dados: a) nivelamento


da régua a um zero absoluto; b) topografia da cidade no mesmo referencial absoluto da
régua linimétrica. Cota da rua no meio de cada esquina das áreas de risco; c) estudo de
probabilidade de inundações de níveis para uma seção na proximidade da cidade; d) níveis
de cheias, ou marcas ao longo da cidade que permita a definição da linha de água; e) seções
batimétricas ao longo do rio no perímetro urbano. Caso a localização da seção de
observação se encontre fora do perímetro urbano, a batimetria deve ir até a referida seção.
O espaçamento das seções depende das modificações do leito e da declividade da linha de
água, mas espaçamentos entre 500 e 1000 m são suficientes; f) cadastramento das
obstruções ao escoamento ao longo do trecho urbano como pontes, edifícios e estradas,
entre outros.

Quando a declividade da linha de água ao longo da cidade é muito pequena e não


existem arroios significativos no perímetro urbano os itens d, e e f são desnecessários. No
caso das obstruções, essas podem ser importantes se reduzirem significativamente a seção
transversal.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 45


Na prática, é muito difícil a obtenção de todas as informações relacionadas acima,
portanto, é conveniente dividir o estudo em duas fases. Na primeira fase, dita preliminar,
seriam delimitadas com precisão reduzida as áreas de inundação com base em mapas
topográficos existentes e marcas de cheias. Na segunda fase, com a delimitação aproximada
das áreas de inundação, seria determinada a topografia mais detalhada para esta área,
juntamente com a batimetria do rio.

A seção de escoamento do rio pode ser dividida em três partes principais (Figura ‎3.2),
descritas a seguir.

Figura ‎3.2. Zoneamento de áreas inundáveis, sendo (1) a zona de passagem de cheia; (2) zona com
restrições e; (3) zona de baixo risco (Fonte: Souza et al., 2007)

Zona de passagem da cheia (faixa 1 em verde) - Esta parte da seção funciona


hidraulicamente e permite o escoamento da cheia. Qualquer construção nessa área reduzirá
a área de escoamento, elevando os níveis a montante desta seção. Portanto, em qualquer
planejamento urbano, deve-se procurar manter esta zona desobstruída.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 46


Zona com restrições (faixa 2 em cinza) - Esta é a área restante da superfície inundável
que deve ser regulamentada. Esta zona fica inundada, mas, devido às pequenas
profundidades e baixas velocidades, não contribui de forma significativa para a drenagem da
cheia.

Esta zona pode ser subdividida em subáreas, mas essencialmente os seus usos
podem ser:

(a) parques e atividades recreativas ou esportivas cuja manutenção, após cada cheia,
seja simples e de baixo custo. Normalmente, uma simples limpeza a reporá em
condições de utilização, em curto espaço de tempo;

(b) uso agrícola;

(c) habitação com mais de um piso, onde o piso superior ficará situado, no mínimo, no
nível do limite da cheia e estruturalmente protegida contra cheias ;

(d) industrial, comercial, como áreas de carregamento, estacionamento, áreas de


armazenamento de equipamentos ou maquinaria facilmente removível ou que não
estejam sujeitos a danos de cheia. Neste caso, não deve ser permitido
armazenamento de artigos perecíveis e principalmente tóxicos;

(e) serviços básicos: linhas de transmissão, estradas e pontes, desde que corretamente
projetados.

Zona de baixo risco (faixa 3 em amarelo) - Esta zona possui pequena probabilidade de
ocorrência de inundações, sendo atingida em anos excepcionais por pequenas lâminas de
água e baixas velocidades. A definição dessa área é útil para informar a população sobre a
grandeza do risco a que está sujeita. Esta área não necessita regulamentação, quanto às
cheias.

Nesta área, delimitada por cheia de baixa frequência, pode-se dispensar medidas
individuais de proteção para as habitações, mas orientar a população para a eventual
possibilidade de cheia e dos meios de proteger-se das perdas decorrentes, recomendando o

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 47


uso de obras com, pelo menos, dois pisos, onde o segundo pode ser usado nos períodos
críticos.

Regulamentação das zonas de inundação: Usualmente, nas cidades de países em


desenvolvimento, a população de menor poder aquisitivo e marginalizada ocupa as áreas
ribeirinhas de maior risco. A regulamentação da ocupação de áreas urbanas é um processo
iterativo que passa por uma proposta técnica a ser discutida pela comunidade antes de sua
incorporação ao Plano Diretor da cidade. Portanto, não existem critérios rígidos aplicáveis a
todas as cidades, mas sim recomendações básicas que podem ser seguidas de acordo com o
caso.

A regulamentação do uso das zonas de inundação apóia-se em mapas com


demarcação de áreas de diferentes riscos e nos critérios de ocupação das mesmas, tanto
quanto ao uso como quanto aos aspectos construtivos. Para que esta regulamentação seja
utilizada, beneficiando as comunidades, a mesma deve ser integrada à legislação municipal
sobre loteamentos, construções e habitações, a fim de garantir a sua observância.

Construção à prova de cheia: A construção à prova de cheia é definida como o


conjunto de medidas projetadas para reduzir as perdas de prédios localizados nas várzeas de
inundação durante a ocorrência das cheias. Dentre as medidas, destacam-se:

 Instalação de vedação temporária ou permanente nas aberturas das


estruturas;

 Elevação de estruturas existentes;

 Construção de novas estruturas sob pilotis;

 Construção de pequenas paredes ou diques circundando a estrutura,


relocação ou proteção de artigos que possam ser danificados dentro da
estrutura existente;

 Relocação de estruturas para fora da área de inundação;

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 48


 Uso de material resistente à água ou novas estruturas;

 Regulamentação da ocupação da área de inundação por cercamento;

 regulamentação de subdivisão e código de construção, compra de áreas de


inundação, seguro de inundação, instalação de serviço de previsão e de alerta
de cheia com plano de evacuação, adoção de incentivos fiscais para um uso
prudente da área de inundação; instalação de avisos de alerta na área e
adoção de políticas de desenvolvimento. As medidas não estruturais de
inundação podem ser agrupadas em: regulamentação do uso da terra,
construções à prova de cheias, seguro de cheia, previsão e alerta de
inundação.

Seguro de inundação: é um procedimento preventivo viável para empreendimentos


com valor agregado importante e no qual os proprietários possuem capacidade econômica
de pagar o prêmio do seguro. Além disso, nem todas as companhias estão dispostas a fazer o
seguro de inundações se não houver um sistema de resseguros para distribuição do risco.
Quando a população que ocupa a área de inundação é de baixa renda este tipo de solução
torna-se inviável.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 49


4 TÉCNICAS PARA O CONTROLE DE INUNDAÇÕES URBANAS

Como mencionado no capítulo anterior, as inundações urbanas acontecem na


medida em que a população impermeabiliza o solo, aumentando o volume de água escoado.
O emprego de canalização acelera o escoamento, o que faz com que a água chegue ao
mesmo tempo no sistema de drenagem, tornando, assim, as inundações mais frequentes do
que costumavam ser, antes da impermeabilização das superfícies.

Desta forma, a gênese das inundações urbanas é intrinsecamente ligada aos sistemas
de drenagem urbana existentes, que são analisados em maior detalhe nos próximos itens.

4.1 Sistemas de drenagem urbana

Os sistemas de drenagem pluvial foram concebidos para permitir a rápida evacuação


de águas pluviais. Neste item, é feita uma descrição da evolução dos sistemas de drenagem,
suas medidas de controle, interfaces com outros sistemas urbanos, impactos na saúde
humana e ambiental e os aspectos institucionais para sua implementação.

A evolução dos sistemas de drenagem pode ser caracterizada por três diferentes
fases: higienista, compensatória e de sistemas de baixo impacto, conforme descrito a seguir.

4.1.1 Higienista

Os primeiros sistemas de drenagem de pluviais surgiram ainda na Idade Antiga,


seguindo a reboque as técnicas de evacuação aplicadas no setor de esgotamento cloacal
(controle e tratamento de águas servidas), com vistas a amenizar inconvenientes. Com a
ausência de manutenção dos sistemas existentes, todos os tipos de resíduos e dejetos
passaram a ser lançados em áreas abertas e corpos hídricos, configurando o conceito
conhecido como “tout à la rue”. No século XVIII, constatou-se na Itália que as águas de
banhado e zonas alagadiças influenciavam na mortalidade de pessoas e animais. Isto
rapidamente foi considerado na Alemanha e na Inglaterra, e mais tarde na França,

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 50


desencadeando um processo de extinção de banhados como medida de saúde pública. Com
o aumento das aglomerações urbanas, a partir do século XIX e o avanço no conhecimento
das áreas de microbiologia e epidemiologia, evidenciou-se o papel sanitário de águas pluviais
como transmissor de doenças, contribuindo para uma mudança de concepção das relações
entre urbanismo e águas urbanas, levando ao “tout à l’égout”, também conhecido por
conceito higienista, que preconizava a evacuação rápida das águas pluviais e servidas, por
meio de impermeabilização de áreas e sistemas de condutos artificiais. A contaminação do
meio ambiente receptor destes lançamentos levou à elaboração de técnicas para proteger
tais áreas por meio de estações de tratamento das águas.

Já no fim do século XIX, o Brasil vê surgir a grande figura do engenheiro Saturnino de


Brito, que revolucionou o conceito higienista, apresentando argumentos sólidos em favor do
sistema separador absoluto (redes de condutos separados para esgotos pluviais e cloacais),
adequando técnicas importadas de drenagem ao comportamento da precipitação em
regiões tropicais e inovando ao apresentar projeto - que infelizmente acabou não vigorando
- para a cidade de Belo Horizonte, o qual ordenava a configuração da cidade respeitando o
sistema natural de drenagem.

Atualmente, sistemas higienistas de drenagem são empregados em boa parte dos


municípios brasileiros, embora não trabalhem com eficiência na melhoria da qualidade de
água e redução de impactos ao ciclo hidrológico. Isso ocorre, pois a canalização acelera e
amplia o pico de descarga superficial, além de aumentar o volume do escoamento
superficial, a duração e a frequência de inundações, diminuir a recarga subterrânea e a
evaporação. Com esta abordagem, o que acaba por ocorrer é:

 A transferência do problema para áreas de jusante, implicando em novas


obras de ampliação do sistema com custos incrementais crescentes;
 A falsa sensação de segurança na população com respeito às inundações,
culminando em grandes prejuízos à sociedade, e;
 A limitação de outros usos presentes ou futuros da água em meio urbano.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 51


4.1.2 Métodos compensatórios

Para resolver este problema, novas soluções têm sido pensadas e estudadas,
procurando favorecer o controle na fonte, ou seja, remediar os impactos o mais próximo
possível do local onde foi gerado, através de uma abordagem compensatória, ou
ambientalista (Baptista et al., 2005).

As soluções compensatórias de drenagem urbana, agindo em conjunto com as


estruturas convencionais, buscam compensar os impactos da urbanização nas águas
urbanas. Dessa forma, os princípios de controle do escoamento pluvial urbano passam a
priorizar o planejamento do conjunto da bacia hidrográfica, evitando a transferência dos
impactos para jusante, através da utilização de dispositivos que promovem o
armazenamento e/ou a infiltração.

A estratégia de planejamento urbano que faz uso dessas estruturas é conhecida


como Melhor Prática de Gestão (Best Management Practices, BMPs) que passaram a ser
adotadas pelo mundo a partir da década de 70 e, em alguns municípios brasileiros, como
Porto Alegre e São Paulo, isto passou a ocorrer na última década.

Estas medidas buscam compensar efeitos da impermeabilização de superfícies. O


método constitui-se de planejamento em escala de bacia e aplicação de dispositivos com
finalidade de armazenamento e infiltração de águas pluviais como detenções, retenções,
banhados, pavimentos permeáveis, microrreservatórios, valos e trincheiras de infiltração.

O uso das estruturas de reservação, no entanto, não resolve os problemas


relacionados com o aumento do volume escoado, a presença de resíduos sólidos e os
contaminantes presentes no escoamento pluvial. Assim, uma vez que o escoamento pluvial
tenha passado pela estrutura de reservação, todo seu volume e carga poluidora são
transferidos para jusante, mantendo o problema de insustentabilidade da solução adotada
para eliminar somente os problemas de inundação.

Além disto, diferenças sensíveis, quando comparadas à aplicação de sistemas


higienistas, dizem respeito à implementação de detenções (prática compensatória

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 52


estabelecida em norma de São Paulo, Porto Alegre, Guarulhos e Belo Horizonte, e que
possivelmente seja a mais empregada no país) que:

 Ameaçam a saúde da população – pela construção em meio urbano de uma


área de acúmulo de resíduos sólidos, sedimentos e água pluvial de qualidade
não-recomendável;
 Acirram demandas por espaço físico com outros setores de interesse da
sociedade (como recreação, transportes);
 Demandam capacitação geral (profissionais e população) para projeto e
convivência, e;
 Podem ampliar inundações, quando a superposição de descargas acontece
pela ausência de controle interligado da liberação de água de outras
detenções (reservatórios), caso existam.

4.1.3 Desenvolvimento urbano de baixo impacto

Uma evolução dessas técnicas, que busca uma maior integração com a paisagem e
aproximação do comportamento natural da bacia hidrográfica, utilizada para garantir o
controle do escoamento pluvial e a preservação da qualidade ambiental nas cidades, é o
emprego de construções de Desenvolvimentos de Baixo Impacto (LID - Low Impact
Development). Muitas cidades em todo o mundo vêm tirando proveito do uso dessas
tecnologias, também conhecidas como “tecnologias verdes”, para o controle do escoamento
pluvial.

A introdução do conceito de Desenvolvimento de Baixo Impacto no desenvolvimento


urbano visa “imitar” os processos naturais da bacia hidrográfica, através da réplica das
condições hidrológica e de paisagem pré-existentes.

Contrariamente aos padrões naturais de ocupação do solo, baseados em


maximização do aproveitamento do espaço urbano, sem respeitar as condições de
drenagem natural, o Desenvolvimento de Baixo Impacto procura preservar ao máximo os
sistemas naturais e distribui a ocupação em lotes menores, mantém uma maior área verde

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 53


comum, retira o meio-fio das ruas de menor movimento, integrando o asfalto a gramados ou
a outros sistemas naturais vegetados, para que toda água seja infiltrada no solo.

O Desenvolvimento de Baixo Impacto é uma abordagem de controle de escoamento


inovadora, mas com um princípio básico muito simples: gerenciar na fonte a água do
escoamento pluvial, usando controles descentralizados de micro-escala uniformemente
distribuídos. Os controles descentralizados fazem uso de tecnologias que permitem a
infiltração, evaporação e retém o escoamento perto da sua fonte de geração.

Dentre as estruturas integradas, elaboradas ou reaproveitadas por LID, encontram-


se: biorretenções, telhados verdes, coletores de água de chuva, fundações verdes e
pavimentos permeáveis. Nestas estruturas, enfatiza-se o aproveitamento de processos
físicos, químicos e biológicos naturais, conferidos por vegetação diversificada, para o
controle e tratamento da drenagem aliado a potenciais efeitos paisagísticos.

O principal objetivo com o uso dessas estruturas é priorizar a infiltração da água no


solo, já que esse processo é perdido com a impermeabilização superficial, ao mesmo tempo
em que são reduzidos os volumes escoados e as vazões de pico. Alguns trabalhos
desenvolvidos no Brasil (de Souza, 2002; Acioli, 2005; Souza, 2005) mostram que esse tipo
de sistema é realmente eficiente no controle das vazões de pico e volumes escoados.

A passagem da água pelo solo promove uma recarga do aquífero, ao mesmo tempo
em que alguns poluentes são removidos, melhorando significativamente a qualidade
proveniente do escoamento pluvial.

As técnicas são baseadas na premissa de que o gerenciamento do escoamento pluvial


não pode ser encarado como uma estratégia para a disposição de um efluente. Ao invés de
gerenciar e conduzir o escoamento em longas e onerosas canalizações, o Desenvolvimento
de Baixo Impacto permite que o controle do escoamento pluvial seja realizado através de
pequenas estruturas, de baixo custo e com eficiência elevada, adaptadas às características
da paisagem.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 54


A adaptação das estruturas às características da paisagem é conhecida como Prática
Integrada de Gerenciamento (IMP - Integrated Management Practices). Quase todos os
componentes do ambiente urbano têm o potencial de servir como uma Prática Integrada de
Gerenciamento, incluindo, não somente espaços abertos, mas também telhados,
estacionamentos, ruas, passeios, entre outros.

As tecnologias verdes, mais utilizadas na gestão da água pluvial, são as biorretenções,


banhados, valos, trincheiras de infiltração, bacias de infiltração, paisagismo com água de
chuva, telhados verdes, pavimentos permeáveis e ruas verdes, entre outros, que podem ser
incorporados em vários projetos urbanos. A finalidade do uso dessas estruturas é a criação
de espaços com propósitos múltiplos, que embelezam, aumentam a segurança de pedestres,
e fornecem, adicionalmente, oportunidades para recreação passiva ou ativa.

No Brasil, o Ministério das Cidades tem estimulado, e destacada como prática


preferencial a utilização de LID para implantação e ampliação de sistemas de drenagem
urbana com vistas à sustentabilidade, conforme apresentado em manual para apresentação
de propostas. Estimula-se, portanto, a aplicação de projetos locais específicos, em
contraposição à padronização costumeiramente incentivada. Além disso, a aplicação de
estruturas distribuídas de pequena-escala com objetivos diversificados, como paisagismo ou
abastecimento, sugerem maior aceitação de empreendedores e usuários finais.

Cabe ressaltar que, mesmo em aplicações de LID, restrições locais como altura do
freático/leito rochoso, espaço físico, características do solo, podem levar à aplicação
combinada com práticas compensatórias ou mesmo higienistas, como detenções e condutos
forçados, respectivamente.

Independentemente do sistema de drenagem pluvial existente, as ações para o


controle das inundações urbanas podem ser desenvolvidas sob duas óticas, tratadas neste
manual, basicamente como medidas estruturais e medidas não estruturais.

A princípio, não existe uma receita única para a definição de qual, ou de quais
medidas de controle podem ser aplicadas em um local. Fatores como a área de drenagem
contribuinte, o estágio de urbanização do local, a sua localização dentro da bacia

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 55


hidrográfica são determinantes para a escolha da melhor prática. Assim, cada caso deverá
ser analisado de forma individualizada. Para a melhor identificação do tipo de medida de
controle adequado, recomenda-se a leitura dos itens específicos, apresentados a seguir.

4.2 Medidas de controle estruturais

O gerenciamento da drenagem de águas pluviais pode ser realizado mediante o


emprego de medidas estruturais (aplicação de estruturas físicas de controle) ou não
estruturais (normas, incentivos fiscais).

As medidas de controle do escoamento pluvial podem ser classificadas, de acordo


com sua ação na bacia hidrográfica, em:

 Distribuída ou na fonte: é o tipo de estrutura que atua sobre pequenas áreas


de drenagem, lote, praças e passeios;
 Na microdrenagem: é o tipo de estrutura que age sobre o hidrograma
resultante de um parcelamento ou mesmo mais de um parcelamento, em
função da área;
 Na macrodrenagem: é o tipo de estrutura que atua sobre áreas acima de
2km2 ou dos principais riachos urbanos.

Ao órgão público responsável pelo controle do escoamento pluvial, cabe a


ponderação quanto à seleção de aplicação de medidas difusas para o controle do
escoamento na fonte (melhor opção numa ótica global de médio e longo-prazo quando há
disponibilidade de tempo), ou o emprego de medidas estruturais com ação na escala de
microdrenagem e na macrodrenagem (quando há urgência de remediação de problemas).

As medidas com caráter estrutural mais comuns incluem o uso de canalização,


diques, armazenamento em reservatórios e estruturas de infiltração. É necessário,
primeiramente, identificar qual, ou quais, as mais adequadas em cada caso.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 56


A seguir é feita uma apresentação das medidas de controle estrutural comumente
utilizadas em diferentes escalas.

4.2.1 Na fonte

Medidas de controle na fonte envolvem o emprego de dispositivos que regulam o


escoamento pluvial o mais próximo possível da fonte onde se dá a alteração dos processos
hidrológicos.

Uma questão que pode gerar confusão está relacionada à nomenclatura antes
utilizada, que considerava o controle do escoamento pluvial em escala de lote como sendo
controle na fonte. Nesta ótica antiga, a aplicação de estruturas físicas era realizada apenas
na saída dos lotes, para minimizar os impactos devidos à urbanização. Como as técnicas de
controle evoluíram para estruturas em escalas menores e integradas aos processos pré-
existentes na localidade, o emprego de várias medidas distribuídas no lote passou a ser
possível (e desejável). Assim, um único lote pode ter vários dispositivos operando
concomitantemente na fonte, sendo o controle na fonte realizado em escala menor que o
controle no lote, o qual normalmente se dava apenas na saída deste.

As estruturas físicas utilizadas para o controle do escoamento na fonte, que merecem


maior estímulo em virtude do desempenho que apresentam são descritas a seguir.

4.2.1.1 Preparo do Solo

A incorporação de matéria orgânica derivada de compostagem ou húmus (de solo


local ou importado), quando adequadamente implementada e mantida, providenciam
funções hidrológicas (por exemplo, redução de 50% de escoamento) e ambientais, incluindo:
redução de erosão; aumento de filtragem de sedimentos, adsorção e biofiltragem de
poluentes; aumento da taxa de crescimento de plantas, resistência a doenças e estética
paisagística; melhoria da retenção de umidade do solo e redução de demanda por
manutenção, isto é, irrigação, fertilizantes e pesticidas.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 57


A produção de compostagem – pela reciclagem de resíduos de comida, jardinagem e
cultivo agrícola, de lodo de estações de tratamento e entulhos de construção – integra
atividades, conduzindo ao desenvolvimento de ciclos.

4.2.1.2 Biorretenção

A biorretenção (Figura ‎4.1) consiste em uma depressão rasa com solo preparado para
o plantio (ver descrição do item anterior) de uma diversidade de espécies, sendo
dimensionada para receber o escoamento pluvial oriundo de uma área pequena de captação
de água da chuva.

As biorretenções, usualmente são construídas em formato de célula ou de valo, o


que permite que as plantas, em conjunto com os micróbios presentes no solo realizam
processos físicos, químicos e biológicos, removendo poluentes e controlando
quantitativamente as águas pluviais.

Figura ‎4.1. Biorretenção.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 58


4.2.1.3 Telhado Verde

Dentre as vantagens apresentadas com o uso do telhado verde, constam a melhoria


de eficiência energética, da qualidade do ar (retenção de até 85% da poeira) e da estética,
redução de temperatura e barulho, controle de águas pluviais (dependendo da região pode
chegar até 90%) e aumento da vida útil do telhado.

A diversidade de opções de configuração de telhados verdes (como inclinação de até


40o) facilita a sua implantação em proporções crescentes (em 2003, 13,5 milhões de m²
foram instalados na Alemanha), podendo classificá-los em duas categorias: leves e pesados.

Telhados pesados (Figura ‎4.2) são dimensionados com perfil de solo profundo (≥ 15
cm), sendo plantados com arbustos e árvores e servindo ao público para caminhadas. Os
telhados leves são mais comumente empregados, contendo perfis de solo rasos (2,5 a 12,5
cm) e plantas adaptadas às condições de telhados.

Atualmente, existem no Brasil algumas empresas especializadas na fabricação de


módulos de telhas leves, próprias para a execução de telhados verdes, que permitem a sua
instalação em planos inclinados, além de baixa carga estrutural.

A eficiência do telhado verde no controle quantitativo do escoamento pluvial deve


ser avaliada em cada caso, pois esta é dependente das características construtivas do
mesmo.

4.2.1.4 Pavimentos permeáveis

O uso de pavimentos permeáveis consiste na utilização de (Figura ‎4.3a)


concreto/pavimento poroso/blocos vazados em sua camada superior, uma camada de base
(normalmente brita) e uma manta geotêxtil para impedir a migração de material entre
camadas.

A camada superior dos pavimentos porosos (asfalto ou concreto) é construída de


forma similar aos pavimentos convencionais, mas com a retirada da fração da areia fina da
mistura dos agregados do pavimento.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 59


Figura ‎4.2. Telhados Verdes.

b)

a) c)

Figura ‎4.3. Pavimentos Permeáveis.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 60


O princípio de funcionamento da estrutura é de fazer com que o escoamento infiltre
rapidamente na capa ou revestimento poroso (espessura de 5 a 10 cm), passe por um filtro
de agregado de 1,25 cm de diâmetro e espessura de aproximadamente 2,5 cm e vá para
uma câmara ou reservatório de pedras mais profundo com agregados de 3,8 a 7,6 cm de
diâmetro.

A capa de revestimento permeável somente age como um conduto rápido para o


escoamento chegar ao reservatório de pedras. Assim, a capacidade de armazenamento dos
pavimentos porosos é determinada pela profundidade do reservatório de pedras
subterrâneo (mais o escoamento perdido por infiltração para o subsolo).

No caso de blocos de concreto vazados, eles devem ser assentados acima de uma
camada de base granular (areia), sob a qual devem ser colocados filtros geotêxteis para
prevenir a migração da areia fina para a camada granular. O sistema deverá prever o
esgotamento do volume num período de 6 a 12 horas. A metodologia para
dimensionamento dos pavimentos permeáveis é apresentada no item ‎5 TÉCNICAS DE
DIMENSIONAMENTO - ‎5.4 Estruturas de infiltração.

Áreas de tráfego de pedestres, ciclistas e veículos leves (como calçadas,


estacionamentos e vias residenciais e internas a empreendimentos, Figura ‎4.3b) são
preferencialmente escolhidas para implantação de pavimentos permeáveis, recomendando-
se que o mesmo receba somente o escoamento das águas drenadas sobre ele.

Além do controle quantitativo e qualitativo de águas pluviais, os pavimentos


permeáveis apresentam a vantagem de aumentar a segurança e conforto em vias pela
diminuição de derrapagens e ruídos. Um estudo em Porto Alegre com asfalto poroso e bloco
vazado (Figura ‎4.3c) revelou a eficiência hidráulica (coeficiente de escoamento, isto é,
relação entre precipitação média e vazão média, de 5% e 2,3%, respectivamente) dos
pavimentos permeáveis. Verificou-se ainda a disponibilidade no mercado de todos os
materiais envolvidos no estudo, com o asfalto poroso custando 21% a mais que o asfalto
comum para uma área de 132m².

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 61


A utilização dos pavimentos permeáveis, em um contexto geral, pode proporcionar
uma redução dos volumes escoados e do tempo de resposta da bacia para condições
similares às condições de pré-desenvolvimento. Em alguns casos, dependendo das
características do subsolo, o resultado obtido com a utilização deste tipo de estrutura pode
levar a condições melhores que as de pré-desenvolvimento. Para atingir este grau de
eficiência, no entanto, a estrutura deve ser utilizada racionalmente, respeitando seus limites
físicos, e há necessidade de manutenção preventiva (de preferência trimestralmente),
evitando assim o seu entupimento.

Os principais problemas que estes tipos de dispositivos podem apresentar são:

 Quando a água drenada é fortemente contaminada, haverá impacto sobre o lençol


freático e o escoamento subterrâneo;

 Falta de controle na construção e manutenção que podem entupir os dispositivos


tornando-os ineficientes.

4.2.1.5 Captação e aproveitamento de água da chuva

A captação e o aproveitamento de água de chuva promove a eficiência hídrica no


empreendimento, permitindo que o proprietária faça uma economia com relação ao
pagamento pela água tratada.

Dentre as alternativas para coleta e armazenamento de água de chuva, encontram-se


cisternas, reservatórios, barris de chuva (Figura ‎4.4), adaptações de pavimentos permeáveis,
telhados verdes e biorretenções (com a introdução de drenos subjacentes).

A principal idéia deste sistema é a utilização de superfícies impermeáveis sem


trânsito, como telhados, para a captação da água da chuva e sua destinação a um sistema de
reservação, para posterior utilização não potável, como rega de jardim, descarga de bacia
sanitária entre outros.

Atualmente, existe normatização técnica (ABNT-NBR 15527/2007) para o


dimensionamento de sistemas de captação e aproveitamento de água da chuva. No entanto,

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 62


a definição do volume a ser armazenado também pode ser fruto das diretrizes previstas na
legislação que regulamenta o controle quantitativo na fonte, previsto no decreto do Plano
Diretor de Drenagem Urbana da cidade.

Crédito:
Adriana Menezes Figura ‎4.4. Aproveitamento de água de chuva (Brasil, Austrália e E.U.A).

4.2.1.6 Trincheira de infiltração

A trincheira de infiltração, como o próprio nome indica, consiste de uma vala


escavada, é preenchida com material de determinada granulometria, e tem a função de
armazenar temporariamente a água pluvial e permitir que ela seja eliminada através do seu
interior por meio da infiltração (Figura ‎4.5).

A principal dificuldade encontrada com o uso desse tipo de dispositivo é o


entupimento dos espaços entre os elementos pelo material fino transportado para o seu
interior, portanto, é recomendável o uso de um filtro de material geotêxtil. De qualquer
forma, é necessário a sua limpeza após algum tempo (Urbonas e Stahre, 1993).

Existem algumas restrições com relação ao uso deste sistema de infiltração,


conforme é apresentado nas técnicas de dimensionamento apresentadas no item ‎5.4
Estruturas de infiltração, dessa forma, antes de optar por sua utilização é necessário verificar
a sua aplicabilidade, seguindo o procedimento apresentado no referido capítulo.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 63


Figura ‎4.5. Trincheira de infiltração (Manual de Drenagem de Porto Alegre).

4.2.1.7 Bacias de infiltração

As bacias de infiltração são construídas para recolher a água das superfícies e criar
condições de escoamento da mesma através do solo. Trata-se de uma área de solo
circundada por uma margem ou contenção que retém as águas pluviais até que estas
infiltrem através da base e dos lados (Figura ‎4.6). Em geral são escavadas, mas podem ser
aproveitadas pequenas encostas já existentes no terreno.

Podem ser utilizadas para, parcialmente, atenuarem picos de cheias juntamente com
a função principal de promover a infiltração da água no solo, além de permitir que haja
evaporação da mesma. Para dimensionamento deste tipo de estrutura, devem ser
observadas as orientações apresentadas no capítulo ‎5 TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO -
‎5.3 Estruturas de armazenamento.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 64


Figura ‎4.6. Bacia de infiltração (CIRIA, 1996).

4.2.1.8 Valos de infiltração

Os valos de infiltração são dispositivos de drenagem lateral, muitas vezes utilizados


paralelamente às ruas, estradas, estacionamentos e conjuntos habitacionais, entre outros
(Figura ‎4.7). Esses valos concentram o fluxo das áreas adjacentes e criam condições para
uma infiltração ao longo do seu comprimento, de forma que eles também podem agir como
canais, armazenando e transportando água para outros dispositivos de drenagem.

Para facilitar ainda mais a infiltração, podem ser instaladas pequenas contenções ao
longo do comprimento, transversalmente ao sentido do escoamento. Urbonas e Stahre
(1993) recomendam isto quando a declividade for maior ou igual a 2%. Neste caso, o
funcionamento dos valos se assemelha ao das bacias de infiltração.

Esse dispositivo funciona, na realidade, como um reservatório de detenção, à medida


que a drenagem que escoa para o valo é superior à capacidade de infiltração. Nos períodos

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 65


com pouca precipitação ou de estiagem, ele é mantido seco. Permite também a redução da
quantidade de poluição transportada para jusante. Na Figura ‎4.8 e na Figura ‎4.9, é
apresentada uma vista geral, mostrando sua aplicação.

O método de dimensionamento dos valos de infiltração são apresentados no item ‎5


TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO - ‎5.4 Estruturas de infiltração. Deve-se ter atenção
especial e identificar se o valo funcionará como um canal que transporta água, ou apenas
um valo onde a água é armazenada, pois o método de dimensionamento difere nestes casos.

Figura ‎4.7. Valo de infiltração (CIRIA, 1996).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 66


Figura ‎4.8. Vista do valo de infiltração (Urbonas e Stahre, 1993).

Figura ‎4.9. Detalhe de um valo de infiltração com uma contenção (Urbonas e Stahre, 1993).

4.2.1.9 Poço de infiltração

Um poço de infiltração consiste de uma escavação em forma cilíndrica, ou retangular,


com uma estrutura ou preenchimento de pedras para manter a forma da escavação. Em
locais maiores, vários poços podem ser conectados. Quando da ocorrência de um evento,
parte da água pluvial fica armazenada, enquanto parte infiltra na base e nas laterais (CIRIA,

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 67


1996). Podem ser construídos de anéis de concreto perfurado, pré-moldados, etc. Na Figura
‎4.10 há um exemplo em formato cilíndrico.

Os dispositivos para retenção de sedimentos na entrada do dispositivo devem ser


limpos regularmente, com frequência maior quando a área for grande ou com muita
presença de material que possa causar obstrução. A metodologia de dimensionamento é
apresentada no item ‎5 TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO - ‎5.4 Estruturas de infiltração.

Figura ‎4.10. Poço de infiltração (CIRIA, 1996).

4.2.1.10 Manta de infiltração

As mantas de infiltração são semelhantes às trincheiras, sendo que as mantas são


cobertas pelo solo ou por alguma outra superfície infiltrante (Figura ‎4.11). Como o sistema é
completamente enterrado, a superfície do solo pode ser usada para outras finalidades.

A disposição final da água normalmente é feita de maneira pontual. Um geotêxtil


permeável é utilizado para separar o material de preenchimento do material que cobre o
dispositivo. A mesma separação deve ser feita entre o material de preenchimento e o solo
sub-superficial. Condutos perfurados ou porosos distribuem a água que vem da fonte

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 68


pontual que, em geral, é um conduto tradicional. Recomenda-se colocar armadilhas para
sedimentos de óleos. A frequência de limpeza mínima deve ser de um ano.

Uma das desvantagens deste tipo de estrutura é a manutenção que é difícil, bem
como também o monitoramento da sua eficiência. Assim, quando há suspeitas do
comprometimento da eficiência da estrutura, a mesma deve ser substituída.

Figura ‎4.11. Manta de infiltração (Fonte: Manual de Drenagem de Porto Alegre)

4.2.1.11 Microrreservatórios

Os microrreservatórios atuam armazenando o escoamento pluvial e podem ser


executados na forma de pequenas estruturas nos lotes. Ele também pode ser utilizado como
um sistema que reserva a água pluvial para o aproveitamento para fins não potáveis,
cumprindo assim, o papel de controle do escoamento pluvial em conjunto com outros usos,

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 69


como abastecimento de água, irrigação de grama e lavagem de superfícies ou de
automóveis.

O microrreservatório para controle na fonte pode ser aberto, utilizando o relevo do


terreno, enterrado em concreto, de tijolos, executado com auxílio de tubos de concreto ou
de pedra. Um exemplo da configuração padrão de sua distribuição pode ser observado na
Figura ‎4.12.

Figura ‎4.12. Detenção na fonte (Fonte: Manual de Drenagem de Porto Alegre)

Existe uma infinidade de tipos de microrreservatórios que podem ser utilizados em


um lote. As condições básicas de seu dimensionamento são:

 Limite da vazão de saída da sua estrutura de descarga;

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 70


 Volume necessário para que seja realizado o controle do escoamento pluvial,
permitindo a liberação da vazão da saída.

Além da limitação acima descrita, que em geral está prevista na legislação que
fornece as diretrizes do Plano Diretor de Drenagem Urbana, existem as restrições físicas:

 Cota da rede pluvial;

 Cota do terreno.

Em alguns casos, a cota da rede pluvial limita a profundidade de escavação e a cota


onde o conduto de saída deve se posicionar, considerando a sua declividade. Com base
nesta profundidade de escavação será determinada a área necessária para atender ao
volume do reservatório. Quando não existir esta restrição, pode-se otimizar as dimensões do
mesmo.

Este volume pode ser distribuído de forma enterrada, com abertura para limpeza, ou
aberto na forma de gramados ou mesmo áreas pavimentadas, desde que a sua saída atenda
a exigência de manutenção da vazão limite na saída do lote.

Geralmente, os dispositivos abertos, quando possível, são os mais recomendados,


pois podem integrar-se ao paisagismo da área com custo menor que as detenções
enterradas, além de facilitar a limpeza das folhagens que a drenagem transporta. Algumas
das áreas típicas que podem ser utilizadas para detenção na fonte são: áreas de
estacionamento, parques e passeios.

A metodologia de dimensionamento dos microrreservatórios é apresentada no item


‎5 TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO - ‎5 TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO - ‎5.3 Estruturas
de armazenamento.

4.2.2 Na microdrenagem

Medidas de controle do escoamento pluvial na microdrenagem consistem no manejo


de águas provenientes de loteamentos ou conjunto de lotes. As práticas mais comumente
empregadas visam restaurar aspectos hidrológicos, por meio da utilização de bacias de

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 71


detenção (Figura ‎4.13) - ou banhados artificiais para controle do pico de cheia, ou viabilizar o
rápido escoamento para jusante, mediante a ampliação/reparo de dutos pluviais.

Figura ‎4.13. Detenções na cidade de Porto Alegre.

4.2.2.1 Bacias ou reservatórios de detenção

A recomendação para a implantação das medidas de controle nos sistemas de redes


de microdrenagem pluvial deve priorizar o emprego de estruturas físicas, sempre que o
controle na fonte não for suficiente para recuperar ou manter processos hidrológicos
naturais, dando preferência ao uso de bacias de detenção, ou banhados artificiais, em razão
de ganhos ambientais.

O dimensionamento das bacias de detenção envolve as seguintes etapas:

- Disposição espacial da estrutura de reservação;

- Estimativa de volume;

- Dimensionamento hidráulico dos dispositivos de saída.

Para o dimensionamento das bacias de detenção, deve-se considerar os seguintes


condicionantes:

I) Nos trechos em que não existe separador absoluto da rede de drenagem, com
relação a rede cloacal, o controle da qualidade da água não pode ser realizado por uma

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 72


detenção aberta on-line. Neste caso, a detenção é projetada para receber somente o
excedente da capacidade de descarga do sistema de galerias e/ou canais e funciona off-line
(Figura ‎4.14). O canal ou galeria que drena a vazão paralelamente à bacia de detenção é
chamado de by-pass. Durante a estiagem, o escoamento que é transportado pelo sistema de
drenagem é uma combinação de esgoto cloacal com a contribuição natural da bacia.

Este mesmo dispositivo pode funcionar com um vertedor lateral ou com uma galeria
ou canal, extravasando para a área de detenção a partir de uma vazão, como pode ser
observado na Figura ‎4.15. Estes são sistemas de detenção parcialmente on-line, mas que
funcionam como o anterior. Existem grandes variações destes dispositivos em função dos
condicionantes locais de capacidade de escoamento para jusante, volume e afluência ao
sistema.

II) Quando existe separador absoluto, as detenções também podem ser projetadas
para reter sempre a parte inicial da inundação do pluvial com o objetivo de melhorar os
condicionantes de qualidade da água e sedimentos, além de amortecer o volume excedente
visando o controle de volume (recomenda-se este tipo de estrutura quando existe separador
absoluto). Este tipo de dispositivo é denominado de Detenção estendida, porque mantém a
água da primeira parte da cheia, que contém maior quantidade de contaminação por um
período de 6 a 40 horas na detenção. Geralmente este tipo de reservatório funciona on-line,
com uma câmara de entrada para reter os resíduos sólidos e uma canaleta para o
escoamento na estiagem.

Além deste sistema, existem dispositivos denominados de Retenção que são


reservatórios com lâmina de água, que são projetados para melhorar a qualidade da água da
drenagem afluente em função do tempo de residência do volume dentro do reservatório.

Estes dispositivos têm seu volume acrescido, com relação ao amortecimento pico,
visando o atendimento das condições de qualidade da água.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 73


A

Sistema de drenagem

Figura ‎4.14. Sistema de drenagem com capacidade limitada na seção A e uso da detenção para
amortecimento da vazão para volume superior a capacidade de escoamento em A (detenção off-
line). (Fonte: Manual de Drenagem de Porto Alegre)

Câmara de A
entrada detenção

A’
detenção
Seção com
Seção A-A’
capacidade
limitada

(a) reservatório on-line com câmara de retenção de resíduos sólidos


A
detenção

A’
detenção
Seção com
Seção A-A’
capacidade
limitada

(b) reservatório on-line com reservação lateral


Figura ‎4.15. Detenção ao longo do sistema de drenagem (parcialmente on-line). Controle de saída
limitado pela seção de jusante. (Fonte: Manual de Drenagem de Porto Alegre).

O volume necessário para a bacia de detenção deve ser estimado com base na
equação apresentada no Decreto Municipal que regulamente o controle do escoamento
pluvial em áreas urbanas, para áreas de até 1 km2, desde que no dimensionamento não

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 74


sejam utilizadas estruturas especiais como o by-pass (reservatório off-line). Caso contrário,
para área superior a esta, ou se o projetista preferir um dimensionamento mais criterioso,
deve-se utilizar a metodologia apresentada no item ‎5 TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO -
‎5.3 Estruturas de armazenamento.

A seguir são comentados os casos frequentes de utilização de reservatório e o


procedimento a ser seguido para a determinação do seu volume.

- Dimensionamento de uma bacia de detenção em loteamento, ou situação similar: é


necessário manter a vazão máxima de pré-ocupação na saída do empreendimento,
portanto, deve-se conhecer o hidrograma anterior à ocupação. É necessário também
determinar o novo hidrograma, ou seja, aquele após instaladas as edificações no
empreendimento, ruas pavimentadas, etc. Desta forma, tem-se dois hidrogramas
conhecidos: hidrograma de pré-ocupação x hidrograma de pós-ocupação (Figura ‎4.16). Caso
seja instalado um reservatório do tipo on-line, o volume preliminar a ser armazenado
corresponde à área hachurada da Figura ‎4.16. Se for instalado um dispositivo do tipo off-
line, com um by-pass, deve-se dimensionar o by-pass e descarregador de fundo, para que a
soma de suas vazões máximas de descarga não ultrapassem a vazão máxima de pré-
ocupação. Neste último caso, o volume preliminar de armazenamento pode ser estimado
como na Figura ‎4.17.

Figura ‎4.16. Hidrogramas de pré e pós-ocupação – on-line.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 75


Figura ‎4.17. Hidrogramas de pré e pós-ocupação – off-line.

A metodologia de dimensionamento dos microrreservatórios é apresentada no item


‎5 TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO - ‎5 TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO - ‎5.3 Estruturas
de armazenamento.

- Dimensionamento de um reservatório de microdrenagem para atenuação de


inundação: neste caso, o reservatório será utilizado para atenuar as vazões de pico,
eliminando a necessidade de ampliação das redes de microdrenagem a jusante. Para o
dimensionamento do reservatório, neste caso, deve-se conhecer a capacidade de drenagem
da rede que se encontra a jusante do reservatório, e que receberá a descarga do mesmo.
Assim, o reservatório deverá ser dimensionado de forma a armazenar os volumes gerados e
as estruturas de descarga devem drenar no máximo a capacidade da rede a jusante, ou caso
esta rede de drenagem já receba contribuições, deve-se drenar a vazão complementar, até
atingir o limite de capacidade do sistema. As recomendações para o cálculo de volume são
as mesmas mencionadas no item anterior.

Quando o reservatório também é utilizado para controle da qualidade da água, deve-


se estimar o volume adicional do reservatório em função do tempo previsto de manutenção
de parte do volume dentro do sistema.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 76


A metodologia de dimensionamento dos microrreservatórios é apresentada no item
‎5 TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO - ‎5 TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO - ‎5.3 Estruturas
de armazenamento.

A instalação de estruturas físicas, como detenções, no entanto, requer manutenção


apropriada para seu correto funcionamento. Caso esta manutenção não aconteça, podem
ocorrer riscos à saúde da população, principalmente aquelas mais próximas a estas
estruturas, devido à presença de elementos contaminantes, como o resíduo sólido urbano
ou esgoto doméstico (muitas vezes fruto de ligação clandestina).

4.2.2.2 Canalização (transporte)

A prática tradicional em resolver os problemas de drenagem pluvial urbana vem


sendo o dimensionamento e construção de redes de drenagem. Assim, especialmente em
muitas cidades, o emprego de canalizações é utilizado para a solução dos problemas de
inundação, especialmente nos casos em que a utilização de práticas compensatórias ou de
baixo impacto não podem ser aplicadas.

No entanto, como a abordagem higienista contempla a aplicação de medidas


fortemente centradas em proteger a propriedade de danos provocados pelos alagamentos,
sem maiores cuidados com o destino final das águas pluviais, ou o seu impacto sobre o ciclo
hidrológico urbano, essa alternativa mostra-se insustentável a curto ou médio prazo. Dado o
caráter dos projetos de drenagem, que incluem uma solução pontual, não são identificando
os impactos que essa solução pode gerar no ecossistema do entorno ou às regiões à jusante.
Ainda, muitas vezes, a canalização pode ser aparentemente razoável quando pensada e
planejada isoladamente, mas inviável ou ineficiente quando o conjunto da bacia hidrográfica
é considerado. As soluções localizadas resolvem o problema da cheia em uma área, mas o
transferem para jusante, exigindo assim, o redimensionamento da rede de drenagem de
jusante e resultando em custos cada vez mais elevados devido às dimensões das novas
estruturas. Além desses aspectos, o ecossistema de jusante pode ser gravemente afetado
pelo aumento das vazões e pela qualidade da água. Assim, o emprego de canalização deve
ser justificado.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 77


Podem existir situações muito particulares, no entanto, em que a canalização mostra-
se como única alternativa técnica, ou que economicamente é viável. Como exemplo, pode-
se destacar a drenagem de áreas muito planas, com lençol freático aflorando. Nestes casos a
sugestão de utilização de reservatórios demandaria a necessidade de estações elevatórias,
que representam considerável custo de operação e manutenção, e o uso de estruturas de
infiltração não é aplicável, devido às condições de umidade no solo. Estes assuntos são mais
bem explicados ao longo do manual. Poderão existir, ainda, situações em que a aplicação de
canalizações combinadas com outras técnicas mostre-se como uma alternativa adequada.

As técnicas de dimensionamento dos sistemas de redes de microdrenagem estão


apresentadas no item ‎5 TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO - ‎5.1 Redes de microdrenagem.

4.2.3 Na macrodrenagem

Na escala de macrodrenagem, normalmente, são tratados problemas em cursos


d’água urbanos, ou redes do sistema de drenagem com diâmetro ou área de seção
transversal superior a um determinado valor, que pode ser definido pela equipe da
prefeitura, ou ainda de acordo com as características físicas de cada bacia hidrográfica
urbana.

Cabe ressaltar, no entanto, que a drenagem nesta escala pode ser realizada por meio
alternativo à canalização, com a introdução de ações de forma a minimizar os problemas das
inundações, como a utilização de técnicas de convivência com eventos extremos. Algumas
das medidas nesta escala podem ser: (a) o planejamento de uso e ocupação do solo, com
definição de áreas de preservação e de desenvolvimento residencial, comercial ou industrial,
embasado em características de solo, vegetação, topografia e hidrografia da região e (b) a
implantação de políticas em nível municipal ou de bacia com vistas à aquisição pelo poder
público de áreas pertencentes às várzeas de inundação, para implantação de áreas de
lazer/recreação, diminuindo prejuízos à população e ao ecossistema ribeirinho após cada
evento.

Com sugestão de prática de planejamento, aconselha-se empregar estruturas físicas


(como detenções, canalização ou estações de tratamento de água) em último caso, quando

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 78


o controle na fonte e na microdrenagem não for suficiente para recuperar ou manter
processos hidrológicos naturais, devendo se privilegiar a recuperação da mata ciliar,
vegetação ripária e aquática e várzeas de inundação. No entanto, em cidades construídas
“dentro” da várzea de inundação, a aplicação de dispositivos desejáveis para minimização de
impactos à saúde da população e do meio ambiente é dificultada.

Assim, muitas vezes, as intervenções nos sistemas de macrodrenagem são


inevitáveis, sendo que as medidas de controle do escoamento pluvial mais utilizadas nesta
escala incluem o uso de estruturas de detenção, canalização, ou a combinação de práticas.
Resta ao projetista decidir qual a maneira mais adequada de tratar a água nos sistemas de
macrodrenagem em cada caso.

4.2.3.1 Bacias ou reservatórios de detenção

O dimensionamento das bacias de detenção nos sistemas de redes de


macrodrenagem pluvial envolve as mesmas etapas e cuidados apresentados para a escala de
microdrenagem, no item ‎4 TÉCNICAS PARA O CONTROLE DE INUNDAÇÕES URBANAS - ‎4.2
Medidas de controle estruturais - ‎4.2.2 Na microdrenagem - ‎4.2.2.1 Bacias ou reservatórios
de detenção.

A diferença é que no caso dos sistemas de macrodrenagem, deve ser realizado o


dimensionamento do reservatório utilizando a metodologia apresentada no item ‎5
TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO - ‎5.3 Estruturas de armazenamento, e não é mais possível
utilizar a equação simplificada apresentada no Decreto Municipal para estimar o volume de
reservação.

4.2.3.2 Canalização (transporte)

As recomendações sobre os critérios a serem observados para a decisão sobre o uso


de canalização nas redes de macrodrenagem deve atender às observações apresentadas no
item ‎4.2.2.2 Canalização (transporte), apresentado para as redes de microdrenagem.

As técnicas de dimensionamento dos sistemas de redes de macrodrenagem estão


apresentadas no item ‎5 TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO -‎5.2 Redes de macrodrenagem.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 79


Deve-se lembrar que o sistema de macrodrenagem deve ser projetado com
capacidade superior ao de microdrenagem, com riscos de acordo com os prejuízos humanos
e materiais potenciais.

O escoamento também deverá ser propagado nas redes de macrodrenagem, com a


finalidade de identificar as condições de funcionamento do sistema, que dependerão de
condicionantes de jusante ou de condicionantes locais. Para situações em que existam
efeitos de jusante, como níveis dos rios, obstruções, aterros, pontes, reservatórios, etc., que
podem gerar remanso, deverá ser utilizada modelagem específica, que permita avaliar o
impacto destas sobre o escoamento, conforme é apresentado no capítulo ‎5. Para os demais
casos, recomenda-se que um modelo de propagação em regime não permanente seja
utilizado para verificar os níveis e vazões ao longo de todo o sistema de drenagem.

4.3 Medidas de controle não estruturais

O Gerenciamento do Uso do Solo é uma medida não estrutural que necessita ser
adotada de maneira a prevenir os problemas relacionados com a água no espaço urbano. Ele
envolve procedimentos administrativos e legislativos, além de aspectos técnicos específicos,
orientando a construção das novas edificações.

O Gerenciamento de Uso do Solo pode ser instituído através do Plano Diretor de uso
e ocupação do solo. Atualmente, o Plano Diretor é um instrumento obrigatório para um
grande número de cidades brasileiras, de acordo com o artigo 41 do Estatuto da Cidade (Lei
no 10.257 de 10 de Julho de 2001 – que estabelece diretrizes gerais da política urbana).
Assim, ele poderá orientar o desenvolvimento urbano, estabelecendo taxas limites para a
impermeabilização do solo, que terão reflexo direto no escoamento pluvial.

Dado que os processos hidrológicos são altamente dependentes do grau de


impermeabilidade do solo, é importante que o Plano Diretor de uso e ocupação do solo seja
desenvolvido conjuntamente com o Plano Diretor de Drenagem Urbana.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 80


O Plano Diretor de uso e ocupação do solo também poderá fornecer incentivos fiscais
a empreendimentos que sejam desenvolvidos com redução das superfícies impermeáveis,
reservação de áreas para a manutenção de espaços abertos, redução de largura de
acostamentos, entre outros.

Para que haja eficácia da implantação das medidas não estruturais, deve haver
controle e fiscalização na implantação das obras, através da aprovação de projetos de
loteamentos, obras públicas e de drenagem, onde também devem ser verificados aspectos
ambientais.

Um dos aspectos relacionados com a proteção ambiental e a drenagem urbana se


refere à faixa marginal dos arroios urbanos. O Código Florestal prevê a distância mínima de
quinze metros da margem dos arroios, definida pela seção transversal de leito menor. No
desenvolvimento da grande maioria das cidades brasileiras não se observa que este limite
seja obedecido, o que dificulta o controle da infraestrutura da drenagem urbana. Portanto,
Plano Diretor de uso e ocupação do solo deve prever o zoneamento dessas áreas, evitando
assim a ocupação das mesmas, e os consequentes danos em situação de inundação.

Uma medida não estrutural alternativa que visa evitar, principalmente, os danos à
vida humana, consiste na utilização de sistemas de previsão de cheias associados aos planos
de evacuação das áreas de risco. Uma cidade brasileira que faz uso desse tipo de sistema de
previsão é a cidade de União da Vitória, no Paraná, que se encontra às margens do Rio
Iguaçu. Esse tipo de medida não estrutural não evita, no entanto, que alguns bens sejam
perdidos durante as inundações.

A minimização econômica dos prejuízos decorrentes das inundações pode ser obtida
utilizando outra medida de caráter não estrutural, que é o seguro contra inundações. Esse
tipo de prática, no entanto, não é muito comum no Brasil.

Finalmente, a educação sobre a importância de evitar o aumento das superfícies


impermeáveis, do controle do escoamento, entre outros, se constitui em relevante medida
não estrutural.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 81


As medidas estruturais e não estruturais são mais efetivas quando aplicadas
conjuntamente, para atingir a solução ótima no combate às inundações na bacia
hidrográfica. Em áreas ribeirinhas, por exemplo, o controle de inundações é realizado
através de medidas estruturais e não estruturais, que dificilmente estão dissociadas. As
medidas estruturais envolvem grande quantidade de recursos e resolvem somente
problemas específicos e localizados. As medidas não estruturais disciplinarão a ocupação do
solo nessas áreas inundáveis, buscando a isenção da necessidade de obras estruturais.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 82


5 TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO

5.1 Redes de microdrenagem

A microdrenagem urbana é definida pelo sistema de condutos pluviais no loteamento


ou na rede primária urbana. Neste capítulo, são apresentados os procedimentos
convencionais utilizados no projeto de uma rede deste tipo.

O dimensionamento de uma rede de pluviais é baseado nas seguintes etapas:

 Subdivisão em áreas de drenagem e traçado;

 Determinação das vazões que afluem à rede de condutos;

 Dimensionamento da rede de condutos.

Este capítulo tratará, inicialmente, dos elementos físicos do projeto, das definições e
dos procedimentos para cálculo da vazão através do Método Racional do dimensionamento
hidráulico do sistema de redes de microdrenagem.

Se o sistema de redes de microdrenagem estiver combinado com o uso de estruturas


para o controle do escoamento pluvial (ver item ‎5.1.5 Controle de escoamento utilizando
estruturas de amortecimento), aplicam-se os princípios deste item para o dimensionamento
da canalização, e devem ser consultados os outros itens para proceder ao dimensionamento
da estrutura específica.

5.1.1 Dados necessários

Os principais dados necessários à elaboração de um projeto de rede pluvial de


microdrenagem são os seguintes:

Mapas: Os principais mapas necessários aos estudos são os seguintes:

 Mapa de situação da localização da área dentro do município;

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 83


 Planta geral da bacia contribuinte: escalas 1:5.000 ou 1:10.000, juntamente
com a localização da área de drenagem. No caso de não existir planta plani-altimétrica da
bacia, deve ser delimitado o divisor topográfico por poligonal nivelada;

 Planta plani-altimétrica da área do projeto na escala 1:2.000 ou 1:1.000, com


pontos cotados nas esquinas e em pontos notáveis.

Levantamento Topográfico: o nivelamento geométrico em todas as esquinas,


mudança de direção e mudança de greides das vias públicas;

Cadastro: de redes existentes de esgotos pluviais ou de outros serviços que possam


interferir na área de projeto;

Urbanização: devem ser identificados elementos que permitam avaliar como é a


urbanização da bacia contribuinte, na situação atual e prevista no plano diretor, como, por
exemplo, tipo de ocupação das áreas (residências, comércio, praças, etc.), porcentagem de
área impermeável projetada de ocupação dos lotes, ocupação e recobrimento do solo nas
áreas não urbanizadas pertencentes à bacia.

Dados relativos ao curso de água receptor: essas informações devem conter


indicações sobre o nível de água máximo do canal/arroio que irá receber o lançamento final,
levantamento topográfico do local de descarga final.

Adicionalmente, em função da configuração a ser definida será necessário o


levantamento de áreas específicas para detenção do escoamento.

5.1.2 Configuração da drenagem

Com base na topografia disponível e na rede de drenagem natural, é realizado o


traçado do sistema de redes de microdrenagem pluvial. Para estudar a configuração da
drenagem, é necessário realizar um processo interativo com o projetista do arranjo e
disposição da área, principalmente para que se obtenha um melhor aproveitamento das
áreas de detenção ou retenção, de acordo com a filosofia de projeto da área.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 84


5.1.3 Critérios para o traçado da rede pluvial

A rede coletora deve ser lançada em planta baixa (escala 1:2.000 ou 1:1.000), de
acordo com as condições naturais do escoamento superficial. Algumas regras básicas para o
traçado da rede são as seguintes:

 Os divisores de bacias e as áreas contribuintes a cada trecho deverão ficar


convenientemente assinalados nas plantas;

 Os trechos em que o escoamento se dê apenas pelas sarjetas devem ficar


identificados por meio de setas;

 As redes de microdrenagem pluvial, sempre que possível, deverão ser lançadas


sob os passeios;

 O sistema coletor, em uma determinada via, poderá constar de uma rede única,
recebendo ligações de bocas-de-lobo de ambos os passeios;

 A solução mais adequada, em cada rua, é estabelecida, economicamente, em


função da sua largura e condições de pavimentação;

 O amortecimento do escoamento é realizado nas áreas baixas junto a drenagem


principal. Procura-se localizar a área de amortecimento preferencialmente junto à
saída do sistema projetado;

 Preferencialmente, os sistemas de detenções devem estar integrados de forma


paisagística na área, neste caso, poderá ser necessário utilizar detenções ou
retenções internas ao parcelamento na forma de lagos permanentes ou secos
integrados ao uso previsto para a área;

 O projeto deve estabelecer a área máxima impermeável de cada lote do


parcelamento, além das áreas comuns.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 85


5.1.4 Componentes hidráulicos do sistema de redes de microdrenagem pluvial

Bocas-de-Lobo: as bocas-de-lobo devem ser localizadas de maneira a conduzirem,


adequadamente, as vazões superficiais para a rede de condutos. Nos pontos mais baixos do
sistema viário, deverão ser, necessariamente, colocadas bocas-de-lobo com vistas a se evitar
a criação de zonas mortas com alagamentos e águas paradas.

Poços de Visita: os poços de visita devem atender às mudanças de direção, de


diâmetro e de declividade à ligação das bocas-de-lobo, ao entroncamento dos diversos
trechos e ao afastamento máximo admissível.

Canalização circular: o diâmetro mínimo das galerias de seção circular deve ser de
0,30m. Os diâmetros comerciais correntes são: 0,30; 0,40; 0,50; 0,60; 0,80; 1,00; 1,20 e
1,50m. Alguns dos critérios básicos de projeto são os seguintes:

 As redes de microdrenagem pluvial são projetadas para funcionamento a


seção plena com a vazão de projeto. A velocidade máxima admissível determina-
se em função do material a ser empregado na rede. Para tubo de concreto, a
velocidade máxima admissível é de 4,0m/s e a velocidade mínima é de 0,80 m/s;

 O recobrimento mínimo da rede de drenagem pluvial deve ser de 1,00m,


quando forem empregadas tubulações sem estrutura especial. Quando, por
condições topográficas, forem utilizados recobrimentos menores, as canalizações
deverão ser estruturalmente projetadas ou protegidas por estruturas especiais;

 Nas mudanças de diâmetro, os tubos deverão ser alinhados pela geratriz


superior, como indicado na Figura ‎5.1.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 86


Figura ‎5.1. Alinhamento das canalizações de microdrenagem quando há mudança de diâmetro.

5.1.5 Controle de escoamento utilizando estruturas de amortecimento

Conforme já discutido neste manual, a medida de controle, tradicionalmente


utilizada para eliminar os problemas relacionados com as inundações das redes de
microdrenagem, consiste em drenar a área desenvolvida através de condutos pluviais até
um coletor principal ou riacho urbano. Esse tipo de solução acaba transferindo para jusante
o aumento do escoamento superficial com maior velocidade, já que o tempo de
deslocamento do escoamento é menor que nas condições pré-existentes. Desta forma,
acaba provocando inundações nas redes de macrodrenagem.

A impermeabilização e a canalização produzem aumento da vazão máxima e do


escoamento superficial. Para que esse acréscimo de vazão máxima não seja transferido para
jusante, uma das técnicas utilizadas de forma combinada com as redes de microdrenagem
pluvial consistem na utilização de estruturas de armazenamento (ver item ‎4 TÉCNICAS PARA
O CONTROLE DE INUNDAÇÕES URBANAS - ‎4.2 Medidas de controle estruturais - ‎4.2.2 Na
microdrenagem - ‎4.2.2.1 Bacias ou reservatórios de detenção). O armazenamento do
escoamento gerado é feito através de dispositivos como tanques, lagos, reservatórios
abertos ou enterrados, entre outros.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 87


Quando instalados conjuntamente com as redes de microdrenagem, os reservatórios
podem ser utilizados para reduzir a vazão máxima, distribuir no tempo o volume do
escoamento superficial gerado e controlar os sedimentos transportados, conforme descrito.

Redução da vazão máxima: este é o caso típico de controle dos efeitos de inundação
sobre áreas urbanas. O reservatório é utilizado para amortecer o pico da vazão a jusante,
permitindo que as seções hidráulicas dos condutos a jusante sejam reduzidas, e seja possível
manter as condições de vazão pré-existente na área desenvolvida.

Controle do volume: normalmente, esse tipo de controle é utilizado quando o


escoamento cloacal e pluvial são transportados por condutos combinados, ou quando
recebe a água de uma área sujeita a contaminação. Como a capacidade de uma estação de
tratamento é limitada, é necessário armazenar o volume proveniente do escoamento pluvial
para que possa ser tratado. Nesse caso, o reservatório possui um tempo de residência maior
e é utilizado para a deposição de sedimentos e depuração da qualidade da água, mantendo
seu volume por mais tempo dentro do reservatório. O tempo de retenção, que é a diferença
entre o centro de gravidade do hidrograma de entrada e o de saída, é um dos indicadores
utilizados para avaliar a capacidade de depuração do reservatório.

Controle de sedimentos: quando a quantidade de sedimentos produzida é


significativa, esse tipo de dispositivo pode reter parte dos sedimentos, por meio de
deposição, para que sejam retirados do sistema de drenagem.

Assim, de acordo com o requisito exigido para o seu funcionamento, os reservatórios


podem ser dimensionados para manterem uma lâmina permanente de água (retenção), ou
secarem após o seu uso, durante uma chuva intensa para serem utilizados em outras
finalidades (detenção) (ver Figura ‎5.2).

A vantagem da manutenção da lâmina de água, e do consequente volume morto, é


que não haverá crescimento de vegetação indesejável no fundo, sendo o reservatório mais
eficiente para controle da qualidade da água. O seu uso integrado, junto a parques, pode
permitir um bom ambiente recreacional. A vantagem de utilização do dispositivo seco é que
pode ser utilizado para outras finalidades. Uma prática comum consiste em dimensionar

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 88


uma determinada área do reservatório para escoar uma cheia frequente, como a de dois
anos, e planejar a área de extravasamento com paisagismo e campos de esporte para as
cheias acima da cota referente ao risco mencionado. Quando a mesma ocorrer, será
necessário realizar apenas a limpeza da área atingida, sem maiores danos a montante ou a
jusante.

a - reservatório de detenção

b - reservatório de retenção

Figura ‎5.2. Reservatórios de detenção e de detenção (Adaptado de Maidment, 1993).

Na Figura ‎5.2, são apresentados, de forma esquemática, o reservatório de detenção e


o reservatório com lâmina de água permanente (retenção). Os reservatórios ou bacias de
detenção são os mais utilizados nos Estados Unidos, Canadá e Austrália. São projetados,

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 89


principalmente, para controle da vazão, com esvaziamento de até seis horas e com pouco
efeito sobre a remoção de poluentes. Aumentando-se a detenção para 24 a 60 h, poderá
haver melhora na remoção de poluentes (Urbonas e Roesner, 1994), sendo que, para esta
finalidade, é mais indicado o uso de um reservatório de retenção. Este tipo reservatório
pode ter um fundo natural, escavado ou de concreto. Os reservatórios em concreto são mais
caros, mas permitem paredes verticais, com aumento de volume. Isso é útil onde o espaço
tem um custo alto.

ASCE (1985) menciona que as instalações de detenção têm maior sucesso quando a
instalação está integrada a outros usos, como a recreação, já que a comunidade, no seu
cotidiano, usará esse espaço de recreação. Portanto, é desejável que o projeto desse sistema
esteja integrado ao planejamento do uso da área.

5.1.6 Disposição dos componentes

Traçado preliminar: através de critérios usuais de drenagem urbana, devem ser


estudados diversos traçados da rede de microdrenagem, considerando-se os dados
topográficos existentes e o pré-dimensionamento hidrológico e hidráulico. A definição da
concepção inicial é mais importante para a economia global do sistema do que os estudos
posteriores de detalhamento do projeto, de especificação de materiais, etc.

Esse trabalho deve ser desenvolvido simultaneamente ao plano urbanístico das ruas
e das quadras, pois, caso contrário, ficam impostas, ao sistema de drenagem, restrições que
levam sempre a maiores custos. O sistema de redes de microdrenagem deve ser planejado
de forma homogênea, proporcionando, a todas as áreas, condições adequadas de
drenagem.

Coletores: existem duas hipóteses para a locação da rede coletora de águas pluviais:
(i) no passeio, a 1/3 da guia (meio-fio) e (ii) a menos utilizada, sob o eixo da via pública
(Figura ‎5.3). Além disso, deve possibilitar a ligação das canalizações de escoamento das
bocas-de-lobo.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 90


Bocas-de-lobo: a locação das bocas-de-lobo deve considerar as seguintes
recomendações: (i) serão locadas em ambos os lados da rua, quando a saturação da sarjeta
assim o exigir ou quando forem ultrapassadas as suas capacidades de engolimento; (ii) serão
locadas nos pontos baixos da quadra; (iii) a localização das bocas-de-lobo deve ser
determinada através do cálculo da capacidade hidráulica da sarjeta, considerando-se uma
altura do meio-fio de 0,15 m e uma largura da lâmina d’água variável (estipulada caso a caso,
nas diretrizes de projeto fornecidas pela equipe de acompanhamento da prefeitura); (iv) a
melhor solução para a instalação de bocas-de-lobo é que esta seja feita em pontos pouco a
montante de cada faixa de cruzamento usada pelos pedestres, junto às esquinas; (v) não é
conveniente a sua localização junto ao vértice de ângulo de interseção das sarjetas de duas
ruas convergentes, porque os pedestres, para cruzarem uma rua, teriam que saltar a
torrente num trecho de máxima vazão superficial e, também, porque as torrentes
convergentes pelas diferentes sarjetas teriam, como resultante, um escoamento de
velocidade em sentido contrário ao da afluência para o interior da boca-de-lobo.

Figura ‎5.3. Disposição dos sistemas da rede coletora de microdrenagem.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 91


Poços de visita e de queda: o poço de visita tem a função primordial de permitir o
acesso às canalizações para limpeza e inspeção, de modo que se possam mantê-las em bom
estado de funcionamento. Sua locação é sugerida nos pontos de mudanças de direção,
cruzamento de ruas (reunião de vários coletores), mudanças de declividade e mudança de
diâmetro. O espaçamento recomendado para os poços de visita é de 50 m.

Detenção ou retenção: Como foi mencionado acima, os reservatórios podem ser


abertos ou enterrados, de acordo com as condições para sua localização. Em locais onde o
espaço seja reduzido ou que seja necessário manter-se uma superfície superior integrada
com outros usos, pode-se utilizar reservatórios subterrâneos; no entanto, o custo desse tipo
de solução é superior ao dos reservatórios abertos.

Quando o sistema descarrega diretamente o volume drenado para o reservatório,


trata-se de uma reservação do tipo on-line. No caso em que o escoamento é transferido
para a área de amortecimento somente após atingir uma determinada vazão, o sistema é
denominado off-line, conforme apresentado no item ‎4.2.2.1 Bacias ou reservatórios de
detenção.

Quanto à localização dos reservatórios, pode-se dizer que ela dependerá dos
seguintes fatores:

 Em áreas muito urbanizadas, a localização depende da disponibilidade de espaço e


da capacidade de interferir no amortecimento. Se existe espaço somente a
montante, que drena pouco volume, o efeito será reduzido;

 Em áreas a serem desenvolvidas, deve-se procurar localizar o reservatório nas


regiões de baixo valor econômico, aproveitando as depressões naturais ou parques
existentes. Um bom indicador de localização são as áreas naturais que formam
pequenos lagos antes do seu desenvolvimento.

5.1.7 Determinação da vazão de projeto para rede de microdrenagem: Método Racional

Equacionamento: a metodologia empregada para o dimensionamento das redes de


microdrenagem pluvial é baseada no emprego da equação do Método Racional. Para o

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 92


dimensionamento de redes, utilizando o método racional, adota-se como limite uma área de
até 2km2.

Os princípios básicos para a aplicação do Método Racional são:

 A duração da precipitação máxima de projeto é igual ao tempo de


concentração da bacia. Admite-se que a bacia é pequena para que essa condição aconteça,
pois a duração é inversamente proporcional à intensidade;

 Adota um coeficiente único de perdas, denominado C, estimado com base nas


características da bacia;

 Não avalia o volume da cheia e a distribuição temporal das vazões, portanto


não pode ser utilizado para o dimensionamento de reservatórios de amortecimento.

A equação do modelo é a seguinte:

Q  2,78.C .I .A (5.1)

Onde: Q é a vazão máxima (m3/s); C é o coeficiente de escoamento superficial; I é a


intensidade da precipitação (mm/h); A é a área da bacia (ha).

A intensidade da precipitação depende da equação IDF da região (ver item ‎2.6.2


Chuva de projeto), do tempo de concentração (‎2.6.3 Tempo de concentração), do período
de recorrência da chuva (‎2.6.1 Riscos). A equipe de acompanhamento da prefeitura de
Teresina poderá fornecer diretrizes para a definição desses parâmetros.

O coeficiente de escoamento superficial utilizado no método racional depende das


seguintes características: solo, cobertura, tipo de ocupação, tempo de retorno, intensidade
da precipitação.

Os coeficientes de escoamento recomendado para as superfícies urbanas estão


apresentados na Tabela ‎5.1. Na Tabela ‎5.2 são apresentados coeficientes de escoamento
com base em superfícies de revestimento. Para os períodos de recorrência utilizados nos
projetos de redes de microdrenagem, não existe variação desse coeficiente. A variação com

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 93


a intensidade da precipitação também não é considerada, já que é uma das premissas
utilizadas pelo método.

Tabela ‎5.1 . Valores de C por tipo de ocupação (adaptado: ASCE, 1969 e Wilken, 1978).
DESCRIÇÃO DA ÁREA C
Área Comercial/Edificação muito densa:
Partes centrais, densamente construídas, em cidade com ruas e calçadas
0,70 - 0,95
pavimentadas
Área Comercial/Edificação não muito densa:
Partes adjacentes ao centro, de menor densidade de habitações, mas
0,60 - 0,70
com ruas e calçadas pavimentadas
Área Residencial:
residências isoladas; com muita superfície livre 0,35 - 0,50
unidades múltiplas (separadas); partes residenciais com ruas 0,50 - 0,60
macadamizas ou pavimentadas
unidades múltiplas (conjugadas) 0,60 - 0,75
lotes com > 2.000 m2 0,30 - 0,45
áreas com apartamentos 0,50 - 0,70
Área industrial:
indústrias leves 0,50 - 0,80
indústrias pesadas 0,60 - 0,90
Outros:
Matas, parques e campos de esporte, partes rurais, áreas verdes, 0,05 – 0,20
superfícies arborizadas e parques ajardinados
parques, cemitérios; subúrbio com pequena densidade de construção 0,10 - 0,25
Playgrounds 0,20 - 0,35
pátios ferroviários 0,20 - 0,40
áreas sem melhoramentos 0,10 - 0,30

Tabela ‎5.2. Valores de C de acordo com superfícies de revestimento (ASCE, 1969).


SUPERFÍCIE C
Pavimento:
Asfalto 0,70 – 0,95
Concreto 0,80 – 0,95
Calçadas 0,75 – 0,85
Telhado 0,75 – 0,95
Cobertura: grama/areia
plano (declividade 2%) 0,05 – 0,10
médio (declividade de 2 a 7%) 0,10 – 0,15
alta (declividade 7%) 0,15 – 0,20

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 94


SUPERFÍCIE C
Grama, solo pesado:
plano (declividade 2%) 0,13 – 0,17
médio (declividade de 2 a 7%) 0,18 – 0,22
alta (declividade 7%) 0,25 – 0,35

5.1.8 Dimensionamento hidráulico da rede de condutos

5.1.8.1 Capacidade de condução hidráulica de ruas e sarjetas

As águas, ao caírem nas áreas urbanas, escoam, inicialmente, pelos terrenos até
chegarem às ruas. Sendo as ruas abauladas (declividade transversal) e tendo inclinação
longitudinal, as águas escoarão rapidamente para as sarjetas e, destas, ruas abaixo. Se a
vazão for excessiva poderão ocorrer: (i) alagamento das ruas e seus reflexos; (ii) inundação
de calçadas; (iii) velocidades exageradas, com erosão do pavimento.

A capacidade de condução da rua ou da sarjeta pode ser calculada a partir de duas


hipóteses: a água escoando por toda a calha da rua ou a água escoando somente pelas
sarjetas.

Para a primeira hipótese, admitem-se a declividade da rua (seção transversal) de 3%


(Figura ‎5.4) e a altura de água na sarjeta h1 = 0,15 m. Para a segunda hipótese, admite-se
declividade também de 3% e h2= 0,10 m.

Figura ‎5.4. Seção transversal de uma sarjeta.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 95


O dimensionamento hidráulico pode ser obtido pela equação de Manning
transformada:

A.Rh 2 / 3 S 1 / 2
Q
n (5.2)

Onde: Q é a vazão (m3/s); A é a área de seção transversal da sarjeta (m2); Rh é o raio


hidráulico (m); S é a declividade do fundo (m/m); n é o coeficiente de rugosidade de
Manning (consultar Tabela ‎5.3).

Tabela ‎5.3. Coeficiente de rugosidade de Manning .


CARACTERÍSTICAS n
Canais revestidos:
Canais retilíneos com grama de até 15 cm de altura 0,30 - 0,40
Canais retilíneos com capins de até 30 cm de altura 0,30 - 0,060
Galerias de concreto:
Pré-moldado com bom acabamento 0,011 - 0,014
Moldado no local com formas metálicas simples 0,012 - 0,014
Moldado no local com formas de madeira 0,015 - 0,020
Sarjetas:
Asfalto suave 0,013
Asfalto rugoso 0,016
Concreto suave com pavimento de asfalto 0,014
Concreto rugoso com pavimento de asfalto 0,015
Pavimento de concreto 0,014 - 0,017
Pedras 0,017
Para outros tipos de materiais pode-se recorrer às tabelas e fotografias apresentadas por Chow (1959), no livro Open-
channel Hydraulics Para a via pública, o coeficiente de rugosidade, em geral, é de 0,017.

Exemplo 5.1. Calcule a vazão máxima que escoa pela sarjeta com uma altura de 15
cm e por toda a rua, segundo os parâmetros normais de via pública. Para uma declividade
longitudinal de 0,005 m/m, quais são as vazões?

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 96


Solução:

a) capacidade total da calha da rua: neste caso, a largura de cada lado fica

0,15/0,03 = 5 m.

A área da seção pode ser aproximada por um triângulo e fica

A= (0,15x5,0)/2 = 0,375 m2

O perímetro é obtido pela altura no meio fio 0,15, somado da hipotenusa do


triângulo [(0,15) 2 + (5,0)2 ]=5, o que resulta P = 5 + 0,15 = 5,15 m. A vazão resulta:

0 ,375.0 ,375 5 ,15 2 / 3 0 ,005 1 / 2


Q  0 ,272m3 / s
0 ,017

3
Para os dois lados da rua, resulta Q = 2 . 0,272 = 0,544 m / s

b) capacidade das sarjetas, h2 = 10 m. O procedimento é semelhante, resultando A =


0,167 m2 , P = 3,43 m e Q = 0,094 m3 /s. Para os dois lados da rua, fica Q = 0,188 m3/s.

5.1.8.2 Bocas-de-Lobo

Tipos: as bocas coletoras (bocas-de-lobo) podem ser classificadas em três grupos


principais: bocas ou ralos de guias; ralos de sarjetas (grelhas); ralos combinados. Cada tipo
inclui variações quanto às depressões (rebaixamento) em relação ao nível da superfície
normal do perímetro e ao seu número (simples ou múltipla) (Figura ‎5.5).

Capacidade de engolimento: quando a água acumula sobre a boca-de-lobo, gera


uma lâmina com altura menor do que a abertura da guia. Esse tipo de boca-de-lobo pode ser
considerado um vertedor, e a capacidade de engolimento será dada por

Q  1,7.L.y 3 / 2 (5.3)

onde: Q é a vazão de engolimento (m3/s); y é a altura de água próxima à abertura na guia


(m); L é o comprimento da soleira (m).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 97


a) Boca-de-Lobo de Guia

b) Boca-de-Lobo com Grelha

c) Boca-de-Lobo Combinada

d) Boca-de-Lobo Múltipla

e) Boca-de-Lobo com Fenda Horizontal Longitudinal


Figura ‎5.5. Tipos de bocas-de-lobo (DAEE/CETESB, 1980).

Na Figura ‎5.6 e Figura ‎5.7, são apresentados os gráficos que permitem determinar a vazão
total, com base na altura e largura da depressão do bueiro, declividade transversal e altura
projetada de água.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 98


Onde: W = largura da depressão em m; a = altura da depressão em m; I = declividade
transversal do leito carroçável em m/m.
Figura ‎5.6. Capacidade de engolimento (DAEE/CETESB, 1980).

Quando a altura de água sobre o local for maior do que o dobro da abertura na guia,
a vazão será calculada por

Q  3,01Lh 3 / 2 ( y1 / h )1 / 2 (5.4)

Onde: L é o comprimento da abertura (m); h é a altura da guia (m); y1 é a carga da


abertura da guia (m) ; (y1 = y - h/2). Para cargas de uma a duas vezes a altura da abertura da
guia (1 < y1/h < 2), a opção por um ou outro critério deve ser definida pelo projetista.

As bocas-de-lobo com grelha funcionam como um vertedor de soleira livre para


profundidade de lâmina de até 12 cm. Se um dos lados da grelha for adjacente à guia, este
lado deverá ser excluído do perímetro L da mesma. A vazão é calculada pela equação 5.3,
substituindo-se L por P, onde P é o perímetro do orifício em m. Para profundidades de
lâmina maiores que 42 cm, a vazão é calculada por:

Q  2,91.A.y 1 / 2
(5.5)

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 99


Figura ‎5.7. Capacidade de esgotamento das bocas-de-lobo com depressão de 5 cm em pontos
baixos das sarjetas (DAEE/CETESB, 1980).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 100


Onde: A é a área da grade, excluídas as áreas ocupadas pelas barras (m2); y é a altura
de água na sarjeta sobre a grelha (m). Na faixa de transição entre 12 e 42 cm, a carga a ser
adotada é definida segundo julgamento do projetista.

A capacidade teórica de esgotamento das bocas-de-lobo combinadas é,


aproximadamente, igual à somatória das vazões pela grelha e pela abertura na guia,
consideradas isoladamente.

Exemplo 5.2: Dimensione uma boca-de-lobo para uma vazão de 94 l/s na sarjeta e
uma lâmina de água de 0,10 m.

Solução: como boca-de-lobo de guia: da equação 5.4, pode-se isolar L, resultando:

L  Q/(1,7y 3/2 )  0,094/[1,7.(0,10)3/2 ]  1,75m

Logo, haverá necessidade de um comprimento de 1,75 m de soleira. Pode-se adotar


duas bocas-de-lobo padrão, com L = 1,0 m cada e guia com h = 0,15m. Entra-se na Figura ‎5.7
com h = 15 cm (abertura da guia padrão) e com yo/h = 0,10/0,15=0,67, a partir da
identificação destes dois pontos no gráfico, traça-se uma reta unindo ambos. A interseção da
reta com a linha da escala Q/L permite determinar a capacidade de escoamento (l/s.m).

Como Q= 94 l/s, L = 94/55 = 1,71 m. Semelhante ao anterior.

Trabalhando como boca-de-lobo combinada:

a) boca-de-lobo guia padrão (h = 0,15 m e L =1,0 m) e

Q  1,7.L.y 3 / 2 = 1,7.1,0.( 0 ,10 )3 / 2  54 l/s

b) boca-de-lobo grelha padrão (a = 0,87 e b = 0,29m, conforme esquema )

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 101


a a b

Q  1,7.P.y 3 / 2 = 1,7.0 ,87  2.0 ,29.( 0 ,10 )3 / 2  78 l/s

Q total = 54 + 78 = 132 l/s ( > 94 l/s),

Portanto, o dimensionamento atende às necessidades de drenagem do local.

Fatores de redução da capacidade de escoamento: a capacidade de escoamento


anteriormente citada pode, segundo alguns autores, sofrer redução no valor calculado,
dadas limitações existentes nos casos reais.

No caso das sarjetas, uma vez calculada a capacidade teórica, multiplica-se o seu
valor por um fator de redução, que leva em conta a possibilidade de obstrução de sarjetas
de pequenas declividades por sedimentos, carros estacionados, lixo, etc.. Na Tabela ‎5.4 são
apresentados valores recomendados de fatores de redução.

Tabela ‎5.4. Fatores de redução de escoamento das sarjetas (DAEE/ CETESB, 1980).
DECLIVIDADE DA SARJETA (%) FATOR DE REDUÇÃO
0,4 0,50
1a3 0,80
5,0 0,50
6,0 0,40
8,0 0,27
10 0,20

A capacidade de esgotamento das bocas-de-lobo é menor que a calculada devido a


vários fatores, entre os quais: obstrução causada por detritos, irregularidades nos
pavimentos das ruas junto às sarjetas e alinhamento real. Na Tabela ‎5.5 são propostos
alguns coeficientes de redução para estimar essa redução.

Tabela ‎5.5. Fator de redução do escoamento para bocas-de-lobo (DAEEE/CETESB, 1980).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 102


LOCALIZAÇÃO NA TIPO DE BOCA DE LOBO % PERMITIDA SOBRE O
SARJETA VALOR TEÓRICO
De guia 80
Ponto Baixo Com grelha 50
Combinada 65
guia 80
grelha longitudinal 60
grelha transversal ou longitudinal
Ponto Intermediário com barras transversais 60
combinadas 110% dos valores
indicados para a grelha
correspondente
* Valor que multiplica os indicados nas grelhas correspondentes.

5.1.8.3 Canalizações

O dimensionamento das canalizações que compõem o sistema de redes de


microdrenagem é realizado com base nas equações hidráulicas de movimento uniforme,
como a de Manning (equação 5.2), Chezy e outras. O cálculo depende do coeficiente de
rugosidade do material da canalização e do tipo de canalização adotada (ver exemplo 5.3).
Para maiores detalhes quanto aos coeficientes de rugosidade, consulte a Tabela ‎5.3.

Os elementos geométricos das principais seções transversais de redes de drenagem,


utilizadas em drenagem urbana, estão apresentadas na Tabela ‎5.6 (outras informações
podem ser obtidas em Chow, 1959).

Os passos a serem seguidos para o dimensionamento de uma rede de


microdrenagem pluvial estão explicados em detalhe no exemplo 5.4.

Exemplo 5.3: Determine o diâmetro necessário para escoar a vazão de 94 l/s obtida
no exemplo anterior, considerando a declividade longitudinal da rua igual a 0,001 m/m. O
conduto é de concreto, com n = 0,013.

Solução - Com o uso da equação da continuidade e fazendo-se, na equação de


Manning, R = D/4 (seção plena), deduz-se a expressão para o diâmetro:

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 103


 . D2  D 2 / 3 1 / 2
Q .  .S
4.n 4
3/ 8
 Q.n 
D  1,55 .    0 ,458 m
 1/2 
S 

Pode-se adotar D = 0,50 m.

Exemplo 5.4: Roteiro para dimensionamento. A Figura ‎5.8 apresenta o traçado de um


sistema de redes de microdrenagem, e a delimitação das áreas contribuintes é apresentada
na Figura ‎5.9.

Figura ‎5.8. Traçado da rede de microdrenagem pluvial.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 104


Tabela ‎5.6. Elementos geométricos das seções dos canais.
Características Retangular Trapezoidal Circular

Geometria

2y
  2 arccos( 1  )
D

Área B.h (B + m.h) . h


.  sen  .D 2
1
8

Perímetro molhado B + 2.h 1


B  2.h. 1  m 2 . .D
2

Raio hidráulico B.h B  h.m.h 1 sen 


. 1  .D
B  2.h B  2.h. 1  m 2 4  

Para outros tipos de seção pode-se recorrer às tabelas apresentadas por Chow (1959), no livro Open-channel Hydraulics.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 105


Figura ‎5.9. Delimitação das áreas de contribuição.

Solução:

Precipitação de projeto

Primeiramente, é calculado o tempo de concentração médio para a região mais a


montante do sistema, através de equação adequada, selecionada dentre as apresentadas no
item ‎2.6.3 Tempo de concentração. Posteriormente, é definido o risco do evento de chuva,
de acordo com o apresentado no item ‎2.6.1 Riscos. Finalmente, é calculada a Intensidade da
chuva de projeto, utilizando a IDF apresentada no item ‎2.6.2 Chuva de projeto.

Coeficiente de escoamento

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 106


Determinar o valor do coeficiente de escoamento ponderado para cada área de
contribuição em função dos diferentes usos do solo na parcela de drenagem (ver Tabela ‎5.1
ou Tabela ‎5.2).

Dimensionamento hidráulico

Utilizando-se a equação de Manning (equação 5.2) e substituindo-se Q = v/A,


isolando-se o termo em v, pode-se determinar a velocidade, substituindo a rugosidade
(consultar Tabela ‎5.3). Procede-se o cálculo, seguindo os seguintes passos: i) considerando-
se que a precipitação origina-se no limite físico do loteamento, calcula-se o tempo de
concentração, que é, então, o tempo de concentração de partida; ii) estabelecem-se os
percursos da rede e delimitam-se as áreas contribuintes a cada trecho, como mostra a Figura
‎5.9; iii) em uma planilha auxiliar (Tabela ‎5.7) de cálculo procede-se o dimensionamento em
sequência.

As orientações sobre o preenchimento da tabela encontram-se em seu rodapé.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 107


Tabela ‎5.7. Planilha de cálculo de redes de microdrenagem.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Trecho L Áreas (ha) tc Q D S y/D V te Cotas do Cotas do Profund.
(PV) (m) trecho (min) (m3/s) (m) (m/m) (%) m/s (min) terreno (m) greide (m) (m)
acum. mont jus mont jus mont jus

Col. 1: nome do trecho, identificado pelo PV de início e PV de fim.


Col. 2: comprimento do trecho.
Col. 3: área de drenagem acumulada – área de drenagem contribuinte a cada trecho de microdrenagem + de montante.
Col. 4: tempo de concentração de cada trecho – para o primeiro trecho determinar aplicando metodologia recomendada. Nos trechos subsequentes, o tempo de concentração
será o do trecho inicial mais o tempo de escoamento. O tempo de escoamento é dado pela razão do comprimento pela velocidade (L/V) do trecho anterior.
Col. 5: determinar a vazão utilizando a equação do método Racional.
3/ 8
 Q.n 

Col. 6: determinar o diâmetro da tubulação em função da vazão (Q) e da declividade (S). D  1,55 .   - Adotar o diâmetro comercial adequado.

 S 1/2 
Col. 7: determinar a declividade: (Cota do greide de montante – cota do greide de jusante)/comprimento

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 108


Col. 8: se o Dadotado > Dcalculado, deve-se calcular a lâmina percentual (y/D), a qual levará ao raio hidráulico Rh real e a velocidade efetiva v de escoamento no conduto. Para a
Q.n
determinação de y/D, deve-se primeiramente determinar o fator hidráulico (Fh) da seção. Fh  . Se for seção circular, determinado Fh, entra-se com este valor na
D 3 .S 1 / 2
8 /

Tabela 5‎ .8 e determinam-se as relações Rh/D e y/D. Feito o processo, recorre-se à equação de Manning é a velocidade é recalculada, e o tempo de escoamento determinado.
Col. 9: velocidade de projeto, recalculada a partir dos procedimentos apresentados para a coluna 8.
comprimento
Col. 10: tempo de escoamento, determinado a partir dos procedimentos apresentados para a coluna 8. te  .
velocidade
Col. 11: fornecer as cotas do terreno a montante e a jusante do trecho.
Col. 12: fornecer as cotas do greide do projeto das redes de drenagem.
Col. 13: calcular a profundidade de enterramento (cota do terreno – cota do greide).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 109


Tabela ‎5.8. Relações para Fator Hidráulico de seções circulares.
FH de 0.001 a 0.080 FH de 0.081 a 0.250 FH de 0.251 a 0.333
FH RH/D h/D FH RH/D h/D FH RH/D h/D
0.0001 0.0066 0.01 0.0820 0.1935 0.35 0.2511 0.2933 0.68
0.0002 0.0132 0.02 0.0864 0.1978 0.36 0.2560 0.2948 0.69
0.0005 0.0197 0.03 0.0910 0.2020 0.37 0.2610 0.2962 0.70
0.0009 0.0262 0.04 0.0956 0.2062 0.38 0.2658 0.2975 0.71
0.0015 0.0326 0.05 0.1003 0.2102 0.39 0.2705 0.2988 0.72
0.0022 0.0389 0.06 0.1050 0.2142 0.40 0.2752 0.2998 0.73
0.0031 0.0451 0.07 0.1099 0.2182 0.41 0.2798 0.3008 0.74
0.0041 0.0513 0.08 0.1148 0.2220 0.42 0.2842 0.3017 0.75
0.0052 0.0575 0.09 0.1197 0.2258 0.43 0.2886 0.3024 0.76
0.0065 0.0635 0.10 0.1248 0.2295 0.44 0.2928 0.3031 0.77
0.0080 0.0695 0.11 0.1298 0.2331 0.45 0.2969 0.3036 0.78
0.0095 0.0755 0.12 0.1350 0.2366 0.46 0.3009 0.3040 0.79
0.0113 0.0813 0.13 0.1401 0.2401 0.47 0.3047 0.3042 0.80
0.0131 0.0871 0.14 0.1453 0.2435 0.48 0.3083 0.3043 0.81
0.0152 0.0929 0.15 0.1506 0.2468 0.49 0.3118 0.3043 0.82
0.0173 0.0986 0.16 0.1558 0.2500 0.50 0.3151 0.3041 0.83
0.0196 0.1042 0.17 0.1612 0.2531 0.51 0.3183 0.3038 0.84
0.0220 0.1097 0.18 0.1665 0.2562 0.52 0.3212 0.3033 0.85
0.0246 0.1152 0.19 0.1718 0.2592 0.53 0.3239 0.3026 0.86
0.0273 0.1206 0.20 0.1772 0.2621 0.54 0.3264 0.3018 0.87
0.0301 0.1259 0.21 0.1826 0.2649 0.55 0.3286 0.3007 0.88
0.0331 0.1312 0.22 0.1879 0.2676 0.56 0.3305 0.2995 0.89
0.0362 0.1364 0.23 0.1933 0.2703 0.57 0.3322 0.2980 0.90
0.0394 0.1416 0.24 0.1987 0.2728 0.58 0.3335 0.2963 0.91
0.0427 0.1466 0.25 0.2041 0.2753 0.59 0.3345 0.2944 0.92
0.0461 0.1516 0.26 0.2094 0.2776 0.60 0.3351 0.2921 0.93
0.0497 0.1566 0.27 0.2147 0.2799 0.61 0.3353 0.2895 0.94
0.0534 0.1614 0.28 0.2200 0.2821 0.62 0.3349 0.2865 0.95
0.0572 0.1662 0.29 0.2253 0.2842 0.63 0.3339 0.2829 0.96
0.0610 0.1709 0.30 0.2306 0.2862 0.64 0.3222 0.2787 0.97
0.0650 0.1756 0.31 0.2388 0.2882 0.65 0.3294 0.2735 0.98
0.0691 0.1802 0.32 0.2409 0.2899 0.66 0.3248 0.2666 0.99
0.0733 0.1847 0.33 0.2460 0.2917 0.67 0.3117 0.2500 1.00
0.0776 0.1891 0.34

5.2 Redes de macrodrenagem

A macrodrenagem envolve bacias geralmente com área superior a 2km 2, onde o


escoamento é composto pela drenagem de áreas urbanizadas e não urbanizadas. O
planejamento da drenagem urbana na macrodrenagem envolve a definição de cenários,

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 110


medidas de planejamento do controle de macrodrenagem e estudos de alternativas de
projeto.

5.2.1 Concepção de projeto

Com raras exceções, a grande maioria das obras de drenagem no Brasil segue até
hoje o conceito higienista do século XIX (Silveira, 2000), onde a idéia era a eliminação
sistemática das águas, através de obras de canalização. Por exemplo, considerando a bacia
da Figura ‎5.10, onde no primeiro estágio (a), a bacia não está totalmente urbanizada, e as
inundações ocorrem no trecho urbanizado, nesta região existem áreas (junto à planície de
inundação) que inundam com frequência, portanto, não estão ocupadas. A partir do
momento em que este trecho é canalizado, as inundações deixam de ocorrer.

Assim, a suposta segurança torna estas áreas valorizadas, com ocupações muitas
vezes nobres. Com o desenvolvimento da bacia de montante e o respectivo aumento da
vazão máxima, que não é controlada pelo poder público, as inundações voltam a ocorrer no
antigo leito maior. Nesta etapa já não existe mais espaço para ampliar lateralmente o canal,
sendo necessário aprofundá-lo, aumentando os custos em escala quase exponencial, já que
é necessário estruturar as paredes do mesmo. Além dos problemas mencionados, a simples
transferência das vazões gera problemas para as regiões a jusante da saída desta bacia.

Este processo pode ser evitado através do planejamento e gerenciamento adequado


do desenvolvimento da bacia. Existem geralmente duas situações onde o planejamento é
diferenciado:

Bacia desenvolvida com loteamentos implantados: desenvolvimento do plano de


controle, com medidas de detenção e ampliação de rede pluvial, tratando a bacia de forma
integrada e considerando todos os efeitos do escoamento.

Bacia em estágio rural: a bacia está no primeiro estágio de urbanização ou é ainda


rural. Neste caso, pode-se utilizar a estratégia apresentada na Figura ‎5.11:

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 111


Figura ‎5.10. A ocupação da bacia hidrográfica e suas consequências (Fonte: DEP/POA, 2002).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 112


Figura ‎5.11. Planejamento de controle de bacia no primeiro estágio de urbanização.

O poder público deve regulamentar o uso e ocupação, especialmente as áreas


naturalmente inundáveis, combinar estas áreas inundáveis para que atuem como
reservatórios de detenção urbano, regulamentar a microdrenagem para não ampliar a
enchente natural, planejar parques e outras as áreas públicas com lagos para amortecer e
preservar os hidrogramas de uma mesma bacia, ou entre diferentes sub-bacias.

Para as áreas ribeirinhas de risco, quando não pertencentes ao poder público, deve-
se prever uso adequado para que haja boa convivência com as inundações. Pode-se reduzir
os impostos de acordo com as restrições e prever a troca por solo criado para
implementação de uso público, como parques, campos de esporte, entre outros. Nenhuma
área desapropriada pelo poder público pode ficar sem implantação de infraestrutura pública
(parque ou área esportiva), evitando desta forma que a mesma seja invadida.

5.2.2 Planejamento, dimensionamento e verificação

No estudo de planejamento das obras de uma rede de macrodrenagem pluvial


urbana, são recomendadas as seguintes etapas de desenvolvimento (Figura ‎5.12).

a) Caracterização da bacia: esta etapa envolve: (i) avaliação da geologia, tipo de solo,
hidrogeologia, relevo, ocupação urbana, população caracterizada por sub-bacia para os
cenários de interesse; (ii) drenagem: definição da bacia e sub-bacias, sistema de drenagem
natural e construído, com as suas características físicas tais como: seção de escoamento,
cota, comprimento e bacias contribuintes a drenagem; (ii) dados hidrológicos: precipitação,

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 113


sua caracterização pontual, espacial e temporal; verificar a existência de dados de chuva e
vazão que permitam ajustar os parâmetros dos modelos utilizados; dados de qualidade da
água e produção de material sólido.

b) Definição dos cenários de planejamento: os cenários de planejamento são


definidos de acordo com o desenvolvimento previsto para a cidade, representado pelo Plano
Diretor de uso do solo e ambiental, bem como as áreas ocupadas que não foram previstas,
áreas desocupadas parceladas e áreas que deverão ser parceladas no futuro. Poderão existir
variantes dos cenários em função de condições específicas de cada bacia.

c) Escolha do risco da precipitação de projetos: escolher o risco de acordo com o


discutido no item ‎2.6.1 Riscos.

d) Determinação da precipitação de projeto: usar a equação IDF e determinar a


precipitação com duração igual ou maior que o tempo de concentração da bacia (‎2.6.3
Tempo de concentração). Este valor deve ser distribuído no tempo em intervalos de tempo
escolhido para a simulação. O intervalo de tempo deve ser menor ou igual a 1/5 do tempo
de concentração da bacia.

e) Simulação dos cenários de planejamento com modelo hidrológico: os cenários são


simulados para as redes de drenagem existentes ou projetadas. O modelo hidrológico
utilizado deve ser capaz de representar a região hidrográfica da simulação da forma mais
realista possível dentro do cenário previsto. A finalidade destas simulações é identificar se o
sistema tem capacidade de comportar os acréscimos de vazão gerados pela evolução urbana
de cada cenário, no caso de verificação; ou no caso de projeto, se o sistema foi corretamente
dimensionado para a vazão existente. Quando utiliza-se o cenário de ocupação urbana atual,
o objetivo é verificar a capacidade de escoamento das redes de drenagem existentes. A
análise dos resultados permite identificar os locais onde o sistema de drenagem não tem
capacidade de escoar as vazões, gerando, portanto, inundações.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 114


d) Seleção de alternativas para o controle do escoamento pluvial: considerando as
condições simuladas no item anterior, quando a situação for de verificação da capacidade
das redes de drenagem, devem ser identificadas as limitações existentes no sistema e os
locais onde ocorrem (caso não exista, esta etapa não é realizada). Neste caso, o planejador
deve buscar analisar as alternativas de controle do escoamento pluvial, priorizando medidas
de detenção ou retenção, que não transfiram para jusante os acréscimos de vazão máxima
(para dimensionamento, ver item ‎5.3 Estruturas de armazenamento). Geralmente, a
combinação de soluções envolvem reservatórios urbanos em áreas públicas, ou áreas
potencialmente públicas, com adaptação da capacidade de drenagem em alguns trechos,
mantendo a vazão máxima dentro de limites previstos pela legislação ou da capacidade dos
rios, arroios ou canais a jusante do sistema. No caso de dimensionamento de novas redes de
macrodrenagem, aplica-se o princípio da não transferência de impactos, e deve ser utilizada
uma medida para o controle do escoamento pluvial, de forma que estruturas de
amortecimento sejam usadas para não ampliar a enchente a jusante, e deve-se verificar se a
rede projetada tem capacidade para escoar a atual vazão.

e) Simulação das alternativas de projeto: definidas as alternativas na fase anterior, as


mesmas devem ser simuladas para o risco e cenário definido como meta. Nas simulações é
verificado se a alternativa de controle também evita as inundações das ruas para riscos
menores ou iguais ao de projeto. No caso de verificação, a mesma pode ser realizada para o
cenário atual de ocupação e/ou para um cenário de ocupação futura. Nesta análise também
deve ser examinado o impacto para riscos superiores ao de projeto (até 100 anos), com a
finalidade de alertar a Defesa Civil, tráfego e outros elementos urbanos, sobre os riscos à
população envolvidos quando ocorra esta situação.

f) Avaliação da qualidade da água: as etapas da avaliação da qualidade da água são:


(i) determinação da carga proveniente do cloacal que não é coletada pela rede de
esgotamento sanitário; (ii) determinação da carga de resíduo sólido; (c) determinação da
carga produzido pelo pluvial; (iii) avaliação da capacidade de redução das cargas em função
das medidas de controle previstas nas alternativas. A avaliação da qualidade da água
depende da existência da rede de esgotamento sanitário

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 115


g) Avaliação econômica: os custos das alternativas de projeto devem ser
quantificados, permitindo analisar a alternativa mais econômica, envolvendo, quando
possível, também a melhoria da qualidade da água pluvial.

h) Seleção da alternativa: em função dos condicionantes econômicos, sociais e


ambientais deve ser recomendada uma das alternativas para o sistema de macrodrenagem
estudado, estabelecendo etapas para projeto executivo, sequência de implementação das
obras e programas que sejam considerados necessários.

Figura ‎5.12. Etapas do planejamento (Fonte: DEP/POA, 2002).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 116


Para se proceder com a caracterização das bacias hidrográficas, pode-se utilizar um
modelo de procedimento de projeto “Caracterização da bacia para estudos de
macrodrenagem - parte 1” e “Caracterização da bacia para estudos de macrodrenagem -
parte 2”. (Tabela ‎5.9 e Tabela ‎5.10). A definição dos cenários de análise pode ser feita no
modelo de procedimento de projeto “Definição de cenários para estudos de
macrodrenagem” (Tabela ‎5.11).

Para a simulação dos cenários indicados acima, podem ser usados diferentes
modelos de acordo com as necessidades do sistema e do problema.

Os modelos são subdivididos nos seguintes tipos: bacia, canal (ou conduto) e
reservatório. No modelo bacia são representados os principais processos de transformação
da chuva em vazão (hidrológico). No modelo canal a vazão é transportada pelos canais e
condutos através do sistema de drenagem, que podem ser naturais ou construídos
(hidráulico de propagação em canal). No modelo reservatório é representado o
amortecimento das vazões nos reservatórios através do balanço entre os volumes de
entrada e saída (hidráulico de propagação em reservatório).

A seguir, são apresentados os modelos aplicados a cada um destes módulos, e


recomendados por este manual.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 117


Tabela ‎5.9. Modelo de procedimento de projeto de macrodrenagem – Caracterização 1.
Modelo de procedimento de projeto
Caracterização da bacia para estudos de macrodrenagem – parte 1
Projetista:
Empresa:
Data:
Projeto:
Localização:
1. Localização

2. Área A= km2
3. Contexto de bacia
É sub-bacia de alguma outra bacia ? (Sim ou Não)
Em caso afirmativo, qual a bacia ?
Sim
Não
4. Comprimento L= km
5. Desnível H= m
6. Tempo de concentração
tc = min
7. Afluentes
Há algum afluente ? (Sim ou Não)
Descrever caso a opção marcada for a Sim
Sim
Não

9.Geologia

10. Solos (classificação geológica)

11. Solos (SCS)

Observações:

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 118


Tabela ‎5.10. Modelo de procedimento de projeto de macrodrenagem – Caracterização 2.
Modelo de procedimento de projeto
Caracterização da bacia para estudos de macrodrenagem – parte 2
Projetista:
Empresa:
Data:
Projeto:
Localização:
1. Rede de drenagem não canalizada

2. Rede de drenagem canalizada

3. Outras descrições

4. Urbanização

Observações:

Tabela ‎5.11. Modelo de procedimento de projeto de macrodrenagem – Caracterização 2.


Modelo de procedimento de projeto
“Definição de cenários para estudos de macrodrenagem”
Projetista:
Empresa:
Data:
Projeto:
Localização:
1.Número de cenários

2. Descrição dos cenários

Observações:

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 119


5.2.3 Modelagem hidrológica

Neste tipo de modelagem, são determinados, a partir da transformação de chuva em


vazão, os hidrogramas ou vazões de aporte às galerias, condutos ou reservatórios.
Simplificadamente, os processos hidrológicos que ocorrem na bacia são: precipitação,
perdas iniciais, infiltração e escoamento superficial. Cada um destes processos pode ser
tratado com um algoritmo específico, até a determinação final do escoamento superficial
que será utilizado para o dimensionamento.

O modelo utilizado na bacia deve possuir condições de representar os cenários de


urbanização (planejamento) além das condições de infiltração, dadas pelo tipo e uso do solo.
Basicamente o modelo recebe o dado de precipitação e, a partir desse valor, é feita a
separação do escoamento e propagação do escoamento superficial.

A precipitação é um dado hidrológico de entrada para a simulação. Existem as


seguintes situações: precipitação de projeto (obtida a partir de uma equação IDF) e
precipitação conhecida (evento observado).

A precipitação de projeto é determinada com base nos elementos apresentados no


‎2.6.2 Chuva de projeto. As etapas são as seguintes:

1. Escolher a IDF representativa da área em estudo;

2. Determine o tempo de concentração (tc) da bacia em estudo. Quando envolver

trechos em canais o tempo de concentração deve considerar também o tempo de

propagação na seção principal a ser simulada. A metodologia para o cálculo do tempo

de concentração é apresentada no item ‎2.6.3 Tempo de concentração;

3. A duração total da chuva e o tempo de simulação devem ser de aproximadamente 2

vezes o tempo de concentração da bacia;

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 120


4. Determine o intervalo de tempo de simulação (t) com base no seguinte critério

t  t c 5 . Se a bacia for subdividida em sub-bacias e a simulação for conjunta o

intervalo de tempo deve ser o menor entre as bacias estudadas;

5. Determinar a partir da curva IDF as precipitações máximas para o tempo de retorno

escolhido e duração correspondente a cada intervalo de tempo acumulado. Por

exemplo, para um intervalo de tempo de 30 minutos obtenha P (30 min); P(60min);

P(90 min), etc., até a duração total da precipitação.

6. Obtenha as precipitações de cada intervalo de tempo e a sua distribuição temporal

crítica (item ‎2.6.2 Chuva de projeto).

Para a transformação da precipitação em vazão, a seguir, é apresentado o método do


SCS, com propagação superficial utilizando o hidrograma unitário triangular.

Transformação chuva-vazão e propagação do escoamento superficial utilizando o


hidrograma unitário do SCS.

O recomendado neste manual é a utilização do modelo de precipitação-vazão do SCS


(Soil Conservation Service, 1975) com a propagação superficial pelo hidrograma unitário
triangular do SCS.

I. Separação do escoamento:

O modelo SCS (1975) faz a separação do escoamento com base na equação 5.6
quando P > 0,2 S:

( P  0 ,2 S ) 2
Pef 
P  0 ,8 S (5.6)

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 121


e quando P  0,2.S, Pef = 0, onde: P é a precipitação em mm; Pef é a precipitação
efetiva; S é o armazenamento no solo em mm, estimado por

25400
S  254
CN (5.7)

O CN é um valor estimado com base no tipo de solo e características de cobertura


(consultar Tabela ‎5.12).

Tabela ‎5.12. Valores de CN para bacias urbanas e suburbanas.


UTILIZAÇÃO OU COBERTURA DO SOLO A B C D
Zonas cultivadas: sem conservação do solo 72 81 88 91
com conservação do solo 62 71 78 81
Pastagens ou terrenos em más condições 68 79 86 89
Baldios em boas condições 39 61 74 80
Prado em boas condições 30 58 71 78
Bosques ou zonas florestais: cobertura ruim 45 66 77 83
Cobertura boa 25 55 70 77
Espaços abertos, relvados, parques, campos de golfe,
cemitérios,
com emmais
relva em boasdecondições:
75% da área 39 61 74 80
com relva de 50 a 75% da área 49 69 79 84
Zonas comerciais e de escritórios 89 92 94 95
Zonas industriais 81 88 91 93
Zonas residenciais
lotes de (m2) % média impermeável
<500 65 77 85 90 92
1000 38 61 75 83 87
1300 30 57 72 81 86
2000 25 54 70 80 85
4000 20 51 68 79 84
Parques de estacionamentos, telhados, viadutos, etc. 98 98 98 98
Arruamentos e estradas:
asfaltadas e com drenagem de águas pluviais 98 98 98 98
paralelepípedos 76 85 89 91
Terra 72 82 87 89

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 122


II. Determinação do hidrograma unitário:

No hidrograma unitário triangular do SCS, que está representado na Figura ‎5.13.

Figura ‎5.13. Hidrograma unitário triangular do SCS.

Para a determinação do hidrograma unitário, deve-se inicialmente determinar alguns


parâmetros, conforme roteiro a seguir:

1) Determinar o tempo de concentração (tc) da bacia (‎2.6.3 Tempo de concentração).

t
tm   0 ,6.tc
2) Determinar o parâmetro tm, 2

Onde: t éo intervalo de tempo de simulação, obtido a partir da precipitação; tc é o


tempo de concentração da bacia.

3) Determinar o tempo de pico do hidrograma tp, tp  0 ,6.tc

4) Determinar o tempo de recessão do hidrograma tr, tr  1,67.tp

5) Determinar o tempo de base do hidrograma tb, tb  tm  tr

6) Determinar a vazão máxima utilizando a equação 5.8

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 123


0 ,208.A
Qp 
tm (5.8)

Onde: Qp é a vazão máxima do hidrograma triangular em m3/s; A é a área da bacia


em km2. O intervalo de tempo é definido em unidades de tp. Recomenda-se a utilização de
 t = tp/5.

III. Propagação do escoamento superficial

O hidrograma resultante, obtido a partir da precipitação de projeto, é obtido


utilizando a equação de convolução discreta expressa por (e exemplificado na Figura ‎5.14):

t
Qt   Pef i ht i 1
i 1 para t < k

(5.9)

t
Qt   Pef h i t i 1
i t  k 1 para t  k

Onde: Qt é a vazão de saída da bacia (m3/s); H é o número de ordenadas do


hidrograma unitário (m3/s/mm); Pef são os valores de precipitação efetiva no intervalo de
tempo (mm); K é o número de ordenadas do hidrograma unitário, que pode ser obtido por k
= n – m +1, onde m é o número de valores de precipitação e n é o número de valores de
vazões do hidrograma.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 124


40 0
P1 P3 Pefetiva (mm)
Hu SCS
35 =P1*hu
=P2*hu
P2
=P3*hu 5
Q final
30

25
10
Vazão (m3/s)

20

Precipitação
(mm)
15
15

10
20

0 25
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3
Tempo (horas)

Figura ‎5.14. Convolução do hidrograma unitário do SCS (Fonte: DEP/POA, 2002).

Para o uso do método do SCS para a determinação da chuva efetiva e propagação do


escoamento superficial, podem ser utilizados os modelos de procedimento de
macrodrenagem “Determinação do CN e parâmetros para a precipitação de projeto” (Tabela
‎2.1). Para a determinação do HU, utiliza-se o hidrograma triangular conforme o modelo de
procedimento de projeto “Hidrograma Unitário triangular SCS” (Tabela ‎5.14).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 125


Tabela ‎5.13. Modelo de procedimento de projeto de macrodrenagem 1.
Modelo de procedimento de macrodrenagem
Determinação do CN e parâmetros para a precipitação de projeto
Projetista:
Empresa:
Data:
Projeto:
Localização:
1. Cenário
2. Área A= km2
2. Comprimento L= km
3. Desnível H= m
4. CN
Valor do CN CN =
5. Armazenamento e perdas iniciais
S = 25400/CN – 254 S= mm
Ia =0,2.S Ia = mm
6. Tempo de concentração
tc = min
7. Tempo de retorno TR = anos
8. Duração da chuva e discretização
Duração da chuva (recomendado = 2.tc) t= min
Discretização (recomendado = tc/5) t = Min
9. Número de intervalos de tempo Nint = intervalos
Nint = t/t Adotado = intervalos
10. Curva IDF
11. Reordenamento
Assinale Sim ou Não
se Sim, informar a posição do pico
25%
Sim se Sim 50%
Não 75%
12. Coeficiente dos Polígonos de Thiessen Valor =

Observações:

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 126


Tabela ‎5.14. Modelo de procedimento de projeto de macrodrenagem 2.
Modelo de procedimento de projeto
Hidrograma Unitário triangular SCS
Projetista:
Empresa:
Data:
Projeto:
Localização:
1. Área A= km2
2. Tempo de concentração tc = h
3. Tempo de pico
tp = 0,6.tc tp = h
4. Intervalo de tempo t = h
5. Vazão máxima
tm =t/2 + tp tm = h
Qp = 0,208.A/tm Qp = m3/s
6. Tempo de recessão
tr = 1,67.tp tr = h
7. Tempo de base
tb = tr + tm tb = h
Observações:

Estabelecidos os parâmetros para a determinação de projeto, determina-se a


precipitação efetiva, utilizando a equação 5.6 para cada intervalo de tempo. Recomenda-se
que seja utilizada uma planilha de cálculo a exemplo da apresentada na Tabela ‎5.15.

Tabela ‎5.15. Exemplo de planilha de cálculo para determinar a precipitação efetiva pelo método do
CN-SCS.
Col 1 Col 2 Col 3 Col 4 Col 5 Col 6 Col 7 Col 8
Nint t Pacum Pdesagregad Pprojeto Pprojeto acum Pef Pef’‎
(min) IDF (mm) a (mm) (mm) (mm) (mm) (mm)

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 127


Onde:

Col 1: item 9 do modelo de procedimento de macrodrenagem 1

Col 2: item 8 do modelo de procedimento de macrodrenagem 1

Col 3: precipitação obtida a partir da curva IDF selecionada no item 10 do modelo de


procedimento de macrodrenagem 1

Col 4: Pdesagragada (Nint) = Pacum IDF(Nint) – Pacum IDF (Nint-1)

Col 5: precipitação reordenada segundo distribuição temporal escolhida no item 11


modelo de procedimento de macrodrenagem 1

Col 6: Pprojeto acum (Nint) = Pprojeto(Nint-1) + Pprojeto (Nint)

( P  0 ,2S)2
Col 7: precipitação acumulada obtida da equação: Pef  . Sempre que Pef
P  0 ,8S

 0,2.S Pef* = 0

Col 8: precipitação desacumulada e reordenada segundo o método dos blocos


alternado (‎2.6.2 Chuva de projeto)

Determinado o hidrograma unitário triangular, é necessário determinar o hidrograma


gerado pela chuva de projeto considerada. O procedimento a ser executado a seguir é a
convolução da chuva, para obter o hidrograma de escoamento direto. Para isso, recomenda-
se que seja preenchido o modelo de procedimento de projeto “Parâmetros para
convolução” (Tabela ‎5.16), e que o processo de cálculo seja realizado em uma planilha
similar à apresentada na Tabela ‎5.17.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 128


Tabela ‎5.16. Parâmetros para convolução.
Modelo de procedimento de projeto
Parâmetros para a convolução
Projetista:
Empresa:
Data:
Projeto:
Localização:
1. Tempo de base tb = h
2. Intervalo de tempo t = h
3. Número de ordenadas do hidrograma unitário
k = tb/t k= ordenada(s)
k adotado ordenada(s)
4. Número de ordenadas da precipitação m= ordenada(s)
5. Número de intervalos de tempo do hidrograma
Número de ordenadas do hidrograma resultante calculado é
n = k+ m – 1
Os valores diferentes de zero de vazão são calculados até n n= ordenada(s)
n adotado ordenada(s)
Observações:

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 129


Tabela ‎5.17. Planilha de cálculo para a convolução da chuva aplicando o princípio do hidrograma unitário.
Col. 1 Col. 2 Col. 3 Col. 4 Col. 5 Col. 6 Col. 7 Col. 8 Col. 9 Col. 10 Col. 11 Col. 12
Ordem t (min) t (h) HU SCS Pef’ (mm) Q1=P1*hu Q2=P2*hu Q3=P3*hu Q4= P4*hu Qn-1= Pn- Qn=Pn*hu Q final
1*hu

Onde:
Col. 1: número de ordenadas (item 5 – Modelo de procedimento de projeto – Parâmetros para a convolução)
Col. 2: intervalo de tempo em minutos
Col. 3: intervalo de tempo em horas
Col. 4: valor das ordenadas do hu, obtido conforme: - se t < tp, hu = (Qpico / tp) * tempo
- se t > tp, hu = [Qpico * ( tb – tempo )] / (tp – tb)
Col. 5: precipitação efetiva, determinada na Tabela ‎5.15
Col. 6: para o primeiro intercalo de tempo = Pef*(1)*hu(1); para o segundo intervalo de tempo = Pef*(1)*hu(2); assim por diante.
Col. 7 à Col. 11: calculado conforme a coluna 6.
Col. 12: somatório das vazões calculadas em cada linha da planilha.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 130


PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 131
5.2.4 Modelagem hidráulica

5.2.4.1 Propagação em canais ou condutos

Os modelos de simulação do escoamento em galerias, canais e condutos em geral


podem possuir as seguintes características:

Modelo do tipo armazenamento: considera basicamente os efeitos de


armazenamento no conduto ou canal, transladando as ondas de cheias. Não considera
efeitos de remanso no escoamento. Este tipo de modelo é útil para representar o
escoamento de projeto, onde geralmente é definida a capacidade dos condutos, ou a
primeira verificação da capacidade de escoamento no sistema de drenagem existente. O
modelo deste tipo mais utilizado na prática deste tipo é o de Muskingun-Cunge.

Modelo Hidrodinâmico: o modelo hidrodinâmico pode trabalhar à superfície livre ou


considerar as condições de pressão dentro dos condutos. Este último considera todos os
efeitos do escoamento dentro dos condutos como refluxo, remanso, ressalto, escoamento
supercrítico e o escoamento sob-pressão de gradientes de pressão moderados.

Os modelos de propagação e suas características são descritos a seguir:

Modelo Muskingun-Cunge

O modelo Muskingun (Tucci, 1998) utiliza a equação da continuidade e a equação de


armazenamento seguinte:

S = K [X I + (1- X) Q] (5.10)

Derivando a equação 5.10 com relação ao tempo e substituindo na equação da


continuidade, resulta em uma equação diferencial do modelo, cuja discretização por
diferenças finitas, resulta:

Qt 1  C1I t 1  C2 I t  C3Qt
(5.11)

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 132


t t t
 KX  KX  K( 1  X ) 
C1  2 ; C2  2 ; C3  2
t t t
K( 1  X )  K( 1  X )  K( 1  X ) 
Onde 2 2 2

Cunge (1969) estimou os parâmetros do modelo Muskingun utilizando considerações


do termo de difusão numérico e real, obtendo

Qref
X  0 ,5.( 1  )
B.So.Cel .x (5.12)

Onde: B é a base do canal; So é a declividade; x é o comprimento do trecho; Qref é


a vazão de referência para determinação dos parâmetros (normalmente 2/3Qmáx); Cel é a
celeridade da onda, determinada conforme a equação abaixo.

0 ,3 0 ,4
5 S o .Qref
Cel  .
3 n 0 ,6 .B 0 ,4 (5.13)

Onde n é a rugosidade de Manning.

O parâmetro X representa o peso da integração da vazão no espaço. Seu intervalo de


variação é

0  X  0,5 (5.14)

O parâmetro K tem unidade de tempo e representa o tempo médio de deslocamento


da onda entre montante e jusante do trecho e é determinado segundo a equação:

x
K
co (5.15)

A Figura ‎5.15 mostra a região válida dos parâmetros, e a equação abaixo mostra o
intervalo:

t
2X   2(1  X)
K (5.16)

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 133


Figura ‎5.15. Variação dos parâmetros.

Jones (1981) demonstrou que a difusão numérica afeta a velocidade da onda ao


mesmo tempo em que a atenua. Também analisou a solução numérica da equação de
difusão, com base no esquema utilizado pelo método Muskingum, definindo os erros
envolvidos na discretização. Na Figura ‎5.16 são apresentadas as isolinhas do erro numérico
na atenuação e na velocidade para diferentes valores de X e K/t. Nesta figura, no intervalo
de X entre 0,2 e 0,5 pode-se ajustar uma curva que atenua as duas funções dentro da
margem de 2,5% de erro.

Figura ‎5.16. Curva de precisão (Jones, 1981).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 134


Observando a equação 5.11, os coeficientes C1 e C3 podem ficar negativos de acordo
com os valores dos parâmetros. C1 é negativo quando o t /K é menor que 2X, ou seja, a
distância entre as seções é muito grande produzindo um valor alto de K, sendo necessário,
evitar vazões negativas, subdividir o trecho, o que reduzirá o valor de K para cada subtrecho.

Quando C3 é negativo t /K é maior do que 2(1-X), o que indica que o intervalo de


tempo é muito grande, o que também pode produzir valores negativos nas vazões, portanto
é recomendável que o intervalo de tempo seja reduzido.

Recomenda-se que o modelo de Muskingun-Cunge seja utilizado somente quando


seja cumprida a seguinte equação:

30
T
g
So.
ho (5.17)

Onde: T é o período da onda de cheia (corresponde ao tempo total do hidrograma a


ser propagado); So é a declividade do canal; g é a aceleração da gravidade; ho é a
profundidade máxima do canal.

Caso não seja cumprida a equação 5.17, a propagação deverá ser realizada com um
modelo de remanso ou hidrodinâmico.

Roteiro de cálculo

O roteiro de cálculo começa com a escolha do t e x de cálculo, no entanto, estes


dependem das características dos trechos e dados disponíveis. Quando x é fixado em
função dos dados (largura, declividade ou rugosidade), t é determinado procurando ficar
dentro das faixas de precisão das curvas estabelecidas e t  tp/5, onde tp é o tempo de
pico do hidrograma de entrada. Para um trecho de canal com condições físicas
aproximadamente uniformes e sem dados históricos, a combinação das equações anteriores
pode ser usada na discretização. Existem várias alternativas, a seguir apresentamos dois
roteiros:

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 135


i. Fixe t = tp/5 ou outro valor que obedeça à condição t  tp/5;

ii. x é determinado por tentativa, iniciando com um valor obtido por

2 ,5.Qref
xo 
So.B.co (5.18)

O valor de Qref deve ser adotado como 2/3 da vazão máxima do hidrograma de
montante.

iii. Conhecido x é possível calcular X e K das expressões 5.15 e 5.16. Verifique se a


precisão está dentro da faixa de 5%, caso contrário retorne ao item ii e reavalie x, ou usar
outro valor de t.

iv. Após determinados os valores de X e K dentro dos limites de aplicabilidade,


determinar os valores dos ponderadores C1, C2 e C3;

v. Realizar a propagação, com o cuidado de quando os dados não estarem


discretizados de acordo com o t calculado, deve-se interpolar os dados de vazão.

Recomenda-se que seja utilizado o modelo apresentado na Tabela ‎5.18 para


proceder com a estimativa dos parâmetros. Determinados os parâmetros necessários, parte-
se para a propagação com o modelo de Muskingun-Cunge. A Tabela ‎5.19 apresenta uma
planilha sugestão para a demonstração do processo de propagação do escoamento.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 136


Tabela ‎5.18. Modelo de procedimento para aplicação do método de Muskingum-Cunge.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 137


Tabela ‎5.19. Exemplo de planilha de propagação do escoamento no método Muskingum-Cunge.
Col. 1 Col. 2 Col. 3 Col. 4 Col. 5 Col. 6
3
Tempo Tempo Q entrada Tempo Q entrada (m /s) Q saída
(min.) (seg.) (m3/s) (seg.) discretizada (m3/s)

Onde:
Col. 1: é o tempo em minutos do hidrograma de entrada, obtido do SCS;
Col. 2: é o tempo em segundos do hidrograma de entrada, para compatibilização com propagação;
Col. 3: é a vazão de entrada, obtida a partir do algoritmo do SCS;
Col. 4: é o tempo em segundo que deve ser utilizado na propagação por Muskingun-Cunge;
Col. 5: é a vazão de entrada, agora discretizada no t necessário para a propagação de Muskingun-
Cunge;
Q  C 1I t  1  C 2 I t  C3Q t
Col. 6: é a vazão de saída da propagação, conforme a equação t  1 , onde
C1, C2 e C3 são os ponderadores calculados no item 20 do Modelo de procedimento de
dimensionamento de macrodrenagem - Propagação em canal - Muskingun-Cunge. I representa as
vazões de entrada e Q a vazão propagada.

Modelo hidrodinâmico

O escoamento numa área urbana pode ser considerado como resultante de diversos
componentes, dois dos quais são de grande destaque, o que se desenvolve na superfície da
bacia e o que está ligado à Rede de Drenagem de Águas Pluviais (RDAP). No primeiro,
utilizam-se métodos de transformação precipitação-vazão e propagação do escoamento
superficial. No segundo, os modelos de rede de condutos.

Sendo simples ou complexos, os modelos de redes de condutos desempenham


grande papel no projeto e melhoramento das RDAPs, pois os resultados advindos de sua
aplicação podem ser largamente utilizados para planejamento, projeto e para propósitos
operacionais, e sua escolha depende de vários fatores como, por exemplo, o desejo de se
representar os fenômenos físicos ou não, adquirir mais consistência ou precisão nos
resultados, aplicabilidade e outros que consigam fornecer ganhos significativos.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 138


Dentre estes modelos, os hidrodinâmicos são os mais sofisticados, pois utilizam as
equações completas de Saint Venant que levam em consideração os principais elementos
governantes do fluxo unidimensional. Esta formulação é necessária quando se deseja uma
simulação precisa, contudo, processar os fenômenos em sofisticados modelos não
necessariamente significa melhorar a precisão; a vantagem está na avaliação da
performance de componentes propostos de um sistema. De uma forma ou de outra, os
modelos computacionais sofisticados permitem uma análise mais completa e dão resultados
mais realistas.

Os modelos hidrodinâmicos em geral podem representar o sistema de redes de


drenagem e contemplam todos os efeitos de remanso. As equações de fluxo são resolvidas
por esquemas implícitos de diferenças finitas. As estruturas especiais que aparecem numa
rede de drenagem são representadas, geralmente, de forma simplificada, mas
contemplando todos os efeitos importantes que elas provocam. Como esses modelos tratam
todos os processos principais envolvidos, permitem analisar modificações e levar em conta
efeitos de jusante, que outros métodos não têm condições de representar, e podem ser tão
rápidos quanto os outros métodos.

Atualmente, tanto na macrodrenagem como na microdrenagem, os modelos de


hidrodinâmicos estão assumindo papel de destaque. Ao passo que sua sofisticação aumenta,
também aumenta o suporte tecnológico e vice-versa.

Existem modelos hidrodinâmicos disponibilizados gratuitamente, por exemplo o


SWMM (Storm Water Management Model) e HEC-RAS (Hydrologic Engineering Center), que
pode ser obtido a partir de um download na Internet (www.epa.gov/ednnrmrl/swmm/ e
http://www.hec.usace.army.mil/, respectivamente).

5.2.4.2 Verificação da linha de energia em regime permanente

As redes de drenagem devem ser dimensionadas de forma a transportar as vazões


sem sobrecarregar o sistema. É necessário verificar a linha piezométrica na rede de
drenagem, de forma a identificar os locais onde a linha piezométrica ultrapassa o nível das

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 139


sarjetas, podendo haver refluxos de água para as ruas, e mesmo projetar as redes para que
trabalhem sob pressão.

A metodologia de cálculo apresentada neste manual foi desenvolvida (Chow, 1959),


para escoamento em regime permanente, e a equação utilizada para a determinação da
linha de energia é de Bernoulli (equação 5.19), devendo ser aplicada entre duas seções do
canal, conforme a Figura ‎5.17.

Va 2 V 2
Za   Z b  b  hf (5.19)
2.g 2.g

Onde: Za e Zb são os níveis nas seções a e b; Va e Vb corresponde à velocidade nas


seções respectivas; hf é o somatório de perdas de carga entre seções.

Figura ‎5.17. Determinação da linha de energia utilizando a equação de Bernoulli.

O termo hf pode ser separado em perdas de carga singulares ou localizadas (hs) e


perdas de carga lineares (hl), então

hf  hs  hl (5.20)

Cada um dos tipos de perda é descrito em maior detalhe a seguir.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 140


Perda de carga linear ou por atrito

As perdas de carga linear devem-se principalmente ao atrito, e podem ser calculadas


utilizando uma equação para condições de escoamento pleno derivada da equação de
Manning.

19,62.n 2 V 2 
Sf  . 
 2.g 
Rh1,33   (5.21)

Onde: Sf é a declividade provocada pelo atrito (m/m); V é a velocidade do escoamento(m/s);


n é o coeficiente de rugosidade de Manning (consultar Tabela ‎5.3); g é a aceleração
gravidade (9,81 m/s2); Rh é o raio hidráulico (m), calculado conforme a equação:

A
Rh 
Pm (5.22)

Onde: A é a área da seção transversal (m2); Pm é o perímetro molhado da seção transversal


(m).

Assim, a perda de carga linear é obtida a partir da multiplicação do resultado da equação


5.21 (perda de carga devido ao atrito) multiplicada pelo comprimento do conduto, conforme
a equação 5.23.

hl  Sf .L (5.23)

Perda de carga singular ou localizada

Geralmente, entre a entrada e saída dos condutos encontramos uma variedade de


configurações no caminho de passagem do escoamento, tais como mudanças de tamanho,
ramificações, curvas, junções, expansões e contrações. Estas configurações impõem perdas
adicionais àquelas resultantes do atrito. As perdas podem ser expressas genericamente
conforme a equação 5.24

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 141


V2
H  K.
2.g
(5.24)

Onde: H são as perdas de carga (m): K é o coeficiente de perdas; V é a velocidade do


escoamento (m/s); G é a aceleração da gravidade (m/s2).

As equações para o cálculo das perdas de carga localizadas mais comuns em


drenagem urbana, específicas para cada singularidade comentada, estão descritas em
detalhe a seguir. Para condições não especificadas neste Manual de Drenagem, deve-se
consultar bibliografia especializada.

Nas equações apresentadas a seguir, os subíndices a e b denotam a seção de


montante e jusante, respectivamente.

Perdas por expansão dos condutos

Expansões em um sistema de drenagem resultarão em uma ação de corte entre a


alta velocidade de entrada do jato e a borda circundante. Como resultado, muita energia
cinética é dissipada pelos redemoinhos correntes e turbulentos. Esta perda pode ser
expressa por:

2
V 2  2
He  Ke . a 1   Aa  
2.g   Ab  
  (5.25)

Onde: A é a área da seção transversal (m2); Ke é o coeficiente de perda de carga por


expansão; V é a velocidade do escoamento (m/s).

O valor de Ke é aproximadamente 1,0 para o caso de uma expansão brusca e 0,2 para
uma expansão com transição suave. Na Figura ‎5.18 é apresentado um esquema de expansão
em condutos e na Tabela ‎5.20 encontram-se os coeficientes de perda de carga por
expansão.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 142


Figura ‎5.18. Esquema de expansão em condutos.

Tabela ‎5.20. Coeficiente de perda de carga por expansão.


Ke

*D2/D1 = 3 *D2/D1 = 1.5
10 0,17 0,17
20 0,40 0,40
45 0,86 1,06
60 1,02 1,21
90 1,06 1,14
120 1,04 1,07
180 1,00 1,00

*para valores de D2/D1 entre 3 e 1.5 usar interpolação; se D2/D1 > 3 considerar D2/D1 = 3; se D2/D1 < 1.5
considerar D2/D1 = 1.5.

Perdas por contração dos condutos

As perdas devido à contração (Figura ‎5.19) podem ser obtidas segundo a equação
abaixo

2
 2
V 2  Ab  
H c  K c . b 1   
2.g   Aa  
 
(5.26)

Onde: A é a área da seção transversal (m2); Ke é o coeficiente de perda de carga por


contração (conforme Tabela ‎5.21); V é a velocidade do escoamento (m/s).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 143


Figura ‎5.19. Esquema de contração na rede de drenagem.

Na Tabela ‎5.21 são apresentados os coeficientes de perda de carga por contração,


considerando a relação entre áreas das seções transversais.

Tabela ‎5.21. Coeficiente de perda de carga por contração.


D2/D1 Kc
0 0,50
0,4 0,40
0,6 0,30
0,8 0,10
1,0 0,00

Perdas devido a curvas

As perdas de carga causadas por curvas podem ser expressas pela relação

V 2
Hg  Kg . b
2.g
(5.27)

Onde: Kg é ocoeficiente de perdas devido a curvas (conforme Tabela ‎5.22).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 144


Tabela ‎5.22. Coeficiente de perda de carga devido a curvas.
1. Curvas com raios grandes

 Kg
90º 0,25
60º 0,20
45º 0,18
30º 0,14

2. Curvas com raio igual ao D do conduto

 Kg
90º 0,50
60º 0,43
45º 0,35
30º 0,25

Obs: a perda de carga é aplicada na entrada da curva.

Perdas devido a junções e poços de visita

Uma junção ocorre quando um ou mais braços do sistema de drenagem entra no


sistema principal, usualmente sendo conectada através de um poço-de-visita. A perda de
carga para um sistema passando em um poço-de-visita (PV) ou até a entrada na rede de
drenagem é calculada pela equação 5.28. A perda de carga devido ao impacto das junções é
calculada conforme a equação 5.29.

V 2
H pv  K pv . b
2.g
(5.28)

V 2 Va 2
H j  b K j.
2.g 2.g
(5.29)

Onde: A é a área da seção transversal (m2); Kj é o coeficiente de perda de carga


devido a junções; Kpv é o coeficiente de perda de carga devido ao PV; V é a velocidade do
escoamento (m/s).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 145


Na Tabela ‎5.23 e Tabela ‎5.24 são apresentados os coeficientes Kj e Kpv para algumas
situações comuns de junções e poços-de-visita.

Tabela ‎5.23. Coeficientes de perdas em junções e poços-de-visita.


1. Conduto entrando em passagem ou PV no 2. Conduto entrando em passagem no
sistema principal sistema principal com ramo lateral

Usar equação 5.28 – (Kpv = 0,05) Usar equação 5.29 – (Kj = 0,25)
3. PV na linha principal com ramo lateral 4. Passagem pela linha principal ou PV no
início do sistema

Usar equação 5.29 – (Kj – ver Tabela ‎5.24) Usar equação 5.28 – (Kpv = 1,25)
Obs: Se não há contribuição lateral
considerar item 1.

Tabela ‎5.24. Coeficiente de perda de carga por junções.


 Kj
0,5 – 22 0,75
45 0,50
60 0,35
90 0,25

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 146


Além da verificação da linha de energia, deve-se assegurar que a velocidade no
interior dos condutos obedeça às condições de velocidade mínima de 0,80 m/s e de
velocidade máxima 5,00 m/s.

Determinação do tipo de regime de escoamento

Para iniciar o processo de cálculo, deve-se, primeiramente, identificar que tipo de


escoamento está ocorrendo no sistema. Os coeficientes de perda acima apresentados
devem ser utilizados para o cálculo da linha de energia para escoamento em condição
subcrítica, situação mais frequente de ocorrência de escoamento em rede de drenagem
urbana.

A determinação do tipo de escoamento deve ser feita a partir do cálculo do número


de Froude, considerando a profundidade normal do escoamento. A seguir, o processo é
descrito em maior detalhe. Para uma revisão bibliográfica mais detalhada, ou ainda para
proceder com o cálculo da linha de energia para escoamento em regime supercrítico, deve
ser consultada literatura especializada em hidráulica (por exemplo: Porto, 2001; Neves,
1979; Chow, 1959)

Determinação do número de Froude

Um dos significados principais do número de Froude (F) nos projetos de drenagem


urbana, é que ele representa a relação entre forças de inércia e gravidade do escoamento

V
F
g .hn
(5.30)

Onde: V é a velocidade média do escoamento (m/s); g é a aceleração gravidade


(m/s2); e hn é a profundidade normal (m).

A profundidade normal utilizada na equação 5.30 pode ser obtida diretamente do


projeto ou determinada conforme a seguir apresentado.

A profundidade normal é uma função da vazão, tamanho e forma do canal,


declividade, e resistência por atrito ao escoamento. Para determinar a profundidade normal,

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 147


pode-se utilizar as equações apresentadas a seguir, derivadas da equação de Manning para
diferentes formas de canais.

Existem, ainda, as situações onde a profundidade normal está especificada no projeto


do sistema de drenagem, não havendo, portanto, a necessidade da utilização das equações
citadas abaixo para a determinação da mesma.

Canal retangular:

0 ,6 0 ,4
 n.Q   B  2.hi 
hi 1    . 
 S  B 
  (5.31)

Onde: B é a base do retângulo (m); n é a rugosidade de Manning (consultar Tabela


3
‎5.3); Q é a vazão (m /s); S é a declividade do canal (m/m); hi é a estimativa inicial da
profundidade normal (m); hi+1 é a altura normal resultante da estimativa inicial (m).

A equação 5.31 é recursiva, portanto o valor da profundidade normal é obtido por


tentativas, até que hi+1 seja igual a hi.

Canal circular:

D   
hi  .1  cos i 
2   2  (5.32)

Onde: D é o diâmetro do tubo (m); i é o ângulo em radianos, formado no interior da


seção (Figura ‎5.20). O valor de  é determinado a partir da equação recursiva 5.33.

Figura ‎5.20. Determinação do ângulo .

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 148


0 ,6
 n.Q 
 i 1  sen i  6 ,06.  .D 1,6 . i 0 ,4

 S  (5.33)

Onde: D é o diâmetro do tubo (m); n é a rugosidade de Manning (consultar Tabela


‎5.3); Q é a vazão (m3/s); S é a declividade do canal (m/m); i é a estimativa inicial do ângulo

(rad); i+1 é o ângulo resultante da estimativa inicial (rad).

A estimativa do ângulo  a ser utilizado na equação 5.32, é feita por tentativas, com a
equação 5.33, onde arbitra-se um valor inicial de i e calcula-se i+1 ; o valor encontrado de
i+1 será o novo valor de i no cálculo seguinte; o processo termina quando i+1 = i.

Canal trapezoidal:

0 ,4
  2 
0 ,6  B   2.hi . 1  m 
 n.Q   
hi 1    .
 S   B  m.hi 
   
  (5.34)

Onde: B é a base do trapézio (m); n é a rugosidade de Manning (consultar Tabela


3
‎5.3); Q é a vazão (m /s); S é a declividade do canal (m/m); m é a relação horizontal do talude
(1:m), conforme Figura ‎5.21; hi é a estimativa inicial da profundidade normal (m); hi+1 é a
altura normal resultante da estimativa inicial (m).

Figura ‎5.21. Determinação do fator m.

A equação 5.34 também é recursiva, portanto, o valor da profundidade normal é


obtido por tentativas, até que hi+1 seja igual a hi.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 149


O valor do número de Froude permite identificar que tipo de regime de escoamento
está ocorrendo no sistema:

Se F < 1: neste caso, trata-se de escoamento em regime subcrítico. Neste tipo de


regime de escoamento as forças gravitacionais têm efeito mais pronunciado; portanto, o
escoamento tem baixa velocidade e grande profundidade, e é encontrado tipicamente em
declividades suaves. Quando encontramos este tipo de escoamento, o cálculo da linha de
energia deve ser realizado de jusante para montante;

Se F = 1: quando o número de Froude é igual à unidade, diz-se que o regime de


escoamento é crítico. Este tipo de regime deve ser evitado em projetos de drenagem
urbana, pois torna o sistema instável;

Se F > 1: se o número de Froude é maior que um, o regime de escoamento é o


supercrítico, caracterizado pela preponderância das forças inerciais sobre as gravitacionais; o
escoamento tem alta velocidade e baixa profundidade. Este tipo deve ser evitado, pois
existe grande probabilidade de provocar a erosão das canalizações. Conforme mencionado
anteriormente, para este tipo de escoamento o cálculo da linha de energia não será feito de
forma detalhada neste manual, portanto, caso seja esta a situação, uma literatura
especializada deve ser consultada.

Portanto, determinado o número de Froude, se ele for menor que a unidade, deve-se
utilizar o procedimento apresentado a seguir, em forma de exemplo.

Exemplo: Determinar a linha de energia e linha de água para o sistema de rede de


drenagem pluvial apresentado na Figura ‎5.22 em planta e longitudinalmente na Figura ‎5.23,
sabendo que o exutório do sistema é um canal, com cota média de água em 3,5m. O sistema
recebe aportes de vazão conforme a Figura ‎5.22. A rugosidade dos condutos é 0,013.

Solução: O primeiro passo é verificar o tipo de escoamento que está ocorrendo no


sistema, através da determinação das profundidades normal e número do Froude. Como
neste exemplo os canais não têm uniformidade, vamos determinar a profundidade e o
número de Froude para cada segmento, com atenção especial dada à confluência do sistema

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 150


com o canal. Vamos considerar como segmento o comprimento de trecho com mesmas
características, e qualquer tipo de alteração (forma, PVs, junções, estreitamentos,
alargamentos, etc.) é um ponto de transição para um novo segmento, indicados pelas letras
A, B, C, D, E, F, G e H na Figura ‎5.22.

Figura ‎5.22. Sistema de drenagem para verificação da linha de energia.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 151


Figura ‎5.23. Perfil longitudinal do sistema de drenagem.

Para facilitar a determinação do tipo de escoamento que está ocorrendo no sistema,


foi montada a Tabela ‎5.25, apresentada a seguir.

Conforme resultados apresentados na Tabela ‎5.25, todos os trechos estão em


condição de regime subcrítico, portanto, aplica-se a metodologia de cálculo apresentada
neste manual, onde o cálculo da linha de energia é feita de jusante para montante.

Para a verificação da linha de energia em escoamento subcrítico, deve-se conhecer a


condição do sistema a jusante da rede de drenagem em estudo. Este condicionante de
jusante em redes de drenagem, normalmente é um determinado nível de água, como, por
exemplo, o rio Poti ou Parnaíba. Esta condição pode estar especificada no projeto, fruto de
um levantamento preliminar, ou pode ser fornecida pela equipe de acompanhamento da
prefeitura de Teresina.

A verificação deste condicionante pode não estar restrita a uma única análise, mas
pode ser realizada para várias cotas, com diferentes tempos de retorno, por exemplo. Na
Tabela ‎5.26 é realizada a determinação da linha de energia para este sistema.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 152


Na Tabela ‎5.27 são apresentadas as perdas de carga devido à forma dos condutos
para o sistema analisado.

Tabela ‎5.25. Planilha para a determinação do regime de escoamento.


Col. 1 Col. 2 Col. 3 Col. 4 Col. 5 Col. 6 Col. 7 Col. 8 Col. 9
Vazão Diâmetro Declividade  hn
Trecho 3 Rugosidade Froude regime
(m /s) (m) (m/m) (rad) (m)
A-B 2.26 1.2 0.013 0.0070 3.59 0.73 0.74 subcrítico
B-C 2.79 1.4 0.013 0.0040 3.73 0.90 0.61 subcrítico
C-D 3.92 1.4 0.013 0.0080 3.72 0.90 0.86 subcrítico
D-E 4.12 1.4 0.013 0.0080 3.82 0.93 0.88 subcrítico
E-F 4.12 1.7 0.013 0.0020 4.26 1.30 0.51 subcrítico
F-G 4.12 1.7 0.013 0.0045 3.43 0.97 0.59 subcrítico
G-H 4.12 1.7 0.013 0.0018 4.45 1.37 0.50 subcrítico

Onde:
Col. 1: segmento de trecho;
Col. 2: vazão de projeto em cada trecho;
Col. 3: diâmetro de projeto para cada trecho. Caso sejam canalizações do tipo retangular ou
trapezoidal a tabela deve ser adaptada para representar as características geométricas destas
seções;
Col. 4: rugosidade de projeto para cada trecho;
Col. 5: declividade de projeto para cada trecho;
Col. 6: ângulo para determinação da profundidade normal. Caso seja seção retangular ou trapezoidal
não é necessário a determinação deste ângulo;
Col. 7: profundidade normal, determinada conforme equações apresentadas acima;
Col. 8: número de Froude, determinado conforme apresentado neste item;
Col. 9: tipo de escoamento, determinado a partir da Col. 8, conforme acima apresentado.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 153


Tabela ‎5.26. Planilha de cálculo para verificação da linha de energia.
Col. 1 Col. 2 Col. 3 Col. 4 Col. 5 Col. 6 Col. 7 Col. 8 Col. 9 Col. 10 Col. Col. 12 Col. 13 Col. Col. Col. Col. Col. Col. Col.
11 14 15 16 17 18 19 20
1.33
Trech Dist. Diâm. C. água Área Pm Rh V Q Hv L.E. Sf Sf L (m) Hf Hb Hj Hm Ht Hpt
2 3
o (m) (m) (m) (m ) (m) (m) (m/s) (m /s) (m) (m) (m) (m) (m) (m) (m) (m)
H–G 0 1.70 3.50 1.96 3.79 0.42 2.10 4.12 0.23 3.73 0.0018 0.0018 70 0.13 - - - - 0.13
G-F 70 1.70 3.63 1.34 2.91 0.35 3.08 4.12 0.48 3.85 0.0045 0.0033 50 0.16 0.09 - - - 0.25
F-E 120 1.70 3.62 1.86 3.62 0.41 2.21 4.12 0.25 4.10 0.0020 0.0050 50 0.25 - - - - 0.25
E-D 170 1.40 4.10 1.09 2.68 0.30 3.78 4.12 0.73 4.35 0.0080 0.0080 30 0.24 - - - 0.001 0.24
D-C 200 1.40 3.87 1.04 2.60 0.30 3.75 3.92 0.72 4.59 0.0080 0.0060 50 0.30 - - 0.32 - 0.63
C-B 250 1.40 4.50 1.05 2.61 0.30 2.66 2.79 0.36 5.22 0.0040 0.0055 50 0.28 - 0.27 - - 0.55
B-A 300 1.20 5.41 0.72 2.16 0.23 3.12 2.26 0.50 5.77 0.0070 0.0070 30 0.21 - 0.33 - - 0.54
A 330 1.20 5.81 0.72 2.16 0.23 3.12 2.26 0.50 6.31

Onde:
Col. 1: identificação do segmento;
Col. 2: distância acumulada do sistema – jusante para montante;
Col. 3: diâmetro dos condutos, conforme determinado em projeto preliminar;
Col. 4: cota da linha d´água. Para a primeira seção, a cota é o nível da água no canal de jusante. Para as seções seguintes, Col.4i = Col.11i – Col.10i-1
Col. 5: área da seção molhada no conduto, determinada a partir da profundidade normal com devidas equações para a seção geométrica em estudo, conforme
.  sen .D2
1
A
apresentado na Tabela ‎5.6. Neste caso de seção circular, 8 ;
Col. 6: perímetro molhado da seção molhada (m). No caso de condutos circulares, P  0 ,5. .D ;
Col. 7: Rh 1,33 = (Col.5 / Col. 6)1,33 ;
Col. 8: V = (Col. 9 / Col. 5);
Col. 9: vazão, conforme projeto preliminar;
Col. 10: carga cinética: Col.10 = [(Col.82 )/ 2.g};
Col. 11: linha energia: Neste exemplo, para a primeira seção: Col.11i = Col.4i + Col.10i. Para as seções seguintes: Col.11 i = Col.11 i-1 + Col.20i-1

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 154


19,62.n 2
Col. 12: declividade da linha da água provocada pelo atrito: calculada conforme equação Sf  .C .13
C .10
Col. 13: média da declividade da linha da água entre seção de montante e jusante Sf i = 0,5.(Sf i + Sf i+1)
Col. 14: comprimento do segmento (m);
Col. 15: perda de carga devido ao atrito Col.15 = Col.13*Col.14;
Col.16: perda de carga devido à curvas, com coeficiente de perdas (Kg) determinado conforme Tabela ‎5.22; Col.16i = Kg.(Col.10i+1);
Col.17: perda de carga devido a junções; coeficiente de perdas (Kj) determinado conforme Tabela 5 ‎ .24; Col.17i  Col.10i 1  K j .( Col.10i ) (equação 8.25);
Col.18: perda de carga devido a poços-de-visita; coeficiente de perdas (Kpv) determinado conforme Tabela ‎5.23; Col.181i  K pv .Col.10i 1 (equação 8.24);
Col.19: perda de carga devido a transições (expansão (Ke) ou contração (Kc)), com coeficiente de perdas determinado na Tabela ‎5.20 ou Tabela ‎5.21, conforme
o caso:
2 2
 2  2
 Col.5i    Col.5i 1  
Col.19i  Ke .Col.10i .1    no caso de expansão. Col.19i  Kc .Col.10i 1 .1    no caso de contração.
  Col.5i 1     Col.5i  
   
Col. 20: perda de carga total: Col.20 = Col.15+Col.16+Col.17+Col.18+Col.19

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 155


Tabela ‎5.27. Perdas de carga.
Tipo de perda
Curva Trecho Ângulo Kg Observação
G-F 45º 0.18 Curva com raio grande

Expansão Trecho D1 D2 D2/D1 Ângulo Ke


E-D 1.4 1.7 1.214 45º 1.06

Poço-de-visita Trecho Caso Kpv


D-C I 0.05

Junção Trecho Caso Ângulo Kj


C-B III 30º 0.62
B-A III 60º 0.33

Na Figura ‎5.24 está graficado o perfil da linha de energia e linha de água para este
exemplo proposto. Conforme se pode verificar, o sistema está trabalhando em carga nestas
condições de projeto. Na região de jusante o nível da água está muito próximo à cota do
terreno, e à montante, a linha da água supera a cota do terreno. Esta situação fornece
subsídios para que seja recomendado que neste caso não sejam feitas conexões externas
nestas regiões, pois pode haver refluxo de água.

5.3 Estruturas de armazenamento

5.3.1 Concepção de projeto

Tratando-se do dimensionamento de reservatórios de amortecimento, o método


racional não deve ser utilizado, devendo ser utilizadas metodologias que permitam a
realização da propagação do hidrograma, a exemplo de Puls.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 156


Figura ‎5.24. Linha‎de‎energia‎e‎linha‎d’água.

Se o reservatório for instalado no lote, poderá ser utilizado o procedimento


apresentado no item ‎5.3.3 Reservatórios de lote. Para os demais casos, como
microdrenagem ou macrodrenagem, deverá ser empregado o procedimento apresentado no
item ‎5.3.2 Reservatórios de microdrenagem e macrodrenagem. Neste segundo caso, antes
de realizar a propagação, conforme apresentado neste item, é necessário determinar os
hidrogramas de pré-urbanização (ou vazão de restrição a jusante) e pós-desenvolvimento,
utilizando o procedimento de transformação chuva-vazão apresentado no ‎5.2.3 Modelagem
hidrológica.

O dimensionamento do reservatório envolve as seguintes etapas: i) disposição


espacial do reservatório; ii) determinação do volume; iii) dimensionamento hidráulico dos

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 157


dispositivos de saída. Esses aspectos foram abordados no item ‎4.2 Medidas de controle
estruturais, e alguns pontos serão reapresentados novamente neste capítulo.

Para o dimensionamento de um reservatório em loteamento, ou situação similar, é


necessário manter a vazão máxima de pré-ocupação na saída do empreendimento,
portanto, deve-se conhecer o hidrograma anterior à ocupação. É necessário também
determinar o novo hidrograma, ou seja, aquele após instaladas as edificações no
empreendimento, ruas pavimentadas, etc. Desta forma, tem-se dois hidrogramas
conhecidos: hidrograma de pré-ocupação x hidrograma de pós-ocupação (Figura ‎4.16). Caso
seja instalado um reservatório do tipo on-line, o volume preliminar a ser armazenado
corresponde à área hachurada da Figura ‎4.16. Se for instalado um dispositivo do tipo off-
line, com um by-pass, deve-se dimensionar o by-pass e descarregador de fundo, para que a
soma de suas vazões máximas de descarga não ultrapassem a vazão máxima de pré-
ocupação. Neste último caso, o volume preliminar de armazenamento pode ser estimado
como na Figura ‎4.17. Se o local de estudo se enquadrar na aplicação do Decreto Municipal
que regulamenta a drenagem pluvial urbana, não é necessária a determinação do
hidrograma de pré-ocupação, visto que neste caso, tanto a vazão de pré-ocupação como o
volume de armazenamento são determinados diretamente, a partir de equações empíricas,
desenvolvidas para a cidade de Teresina. No entanto, este procedimento, além da área,
limita-se a reservatórios simples operando na linha do sistema (on-line).

Para os demais casos, incluindo reservatórios dispostos nas redes de microdrenagem


e macrodrenagem, devem ser determinados os dois hidrogramas a partir da metodologia do
SCS (‎5.2.3 Modelagem hidrológica). Neste caso, a diferença entre os cenários de pré e pós
ocupação serão representados através dos parâmetros CN e tempo de concentração. Após a
determinação dos dois hidrogramas utiliza-se o algoritmo de Puls, apresentado a seguir,
para fazer a propagação do hidrograma de entrada. Durante a propagação do hidrograma
também é feito o dimensionamento das estruturas de descarga (descarregador de fundo e
by-pass, quando houver), observando sempre que a vazão máxima de descarga não supere a
vazão máxima de pré-ocupação, ou outra vazão de restrição.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 158


Quando o reservatório também é utilizado para controle da qualidade da água, deve-
se estimar o volume adicional do reservatório em função do tempo previsto de manutenção
de parte do volume dentro do sistema.

5.3.2 Reservatórios de microdrenagem e macrodrenagem

O método recomendado para o dimensionamento dos reservatórios é o de Puls, por


ser um dos mais conhecidos. O método utiliza a equação de continuidade concentrada, sem
contribuição lateral e a relação entre o armazenamento e a vazão é obtida considerando a
linha de água do reservatório horizontal. Discretizando a equação da continuidade resulta

S t 1  S t I  I t 1 Q t  Q t 1
 t  (5.35)
Δt 2 2

I t e I t +1 Qt e Qt+1
Onde: são as vazões de entrada no reservatório em t e t+1; são as
St e S t+1
vazões de saída do reservatório em t e t+1; são o armazenamento do reservatório
nos tempos referidos.

As duas incógnitas do problema são Q e S no tempo t+1. Reorganizando a equação


5.35 com as variáveis conhecidas de um lado e as desconhecidas de outro, resulta

2St  1 2S
Qt 1   I t  I t 1  Qt  t
Δt Δt (5.36)

Como existe uma equação e duas incógnitas, a equação adicional é a relação Q = f(S),
relacionando a vazão de saída do reservatório com o estado de armazenamento do mesmo.
A obtenção dessa função é descrita posteriormente nesse texto. Utilizando esta função, é
possível construir uma segunda função auxiliar, para a determinação de Qt+1

Q  f1(Q  2S/ΔS)
(5.37)

Normalmente essa função é conhecida de forma tabular, onde para cada ordenada
haverá um valor de S, dividido pelo intervalo de tempo de cálculo e somado a vazão define a
nova abscissa, gerando a função f1.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 159


Com base nas equações 5.36 e 5.37 é possível simular o escoamento através do
reservatório através da seguinte sequência:

a) Para o início do cálculo é necessário definir o volume inicial do reservatório (So). Esse
volume depende dos critérios do estudo em análise ou do valor observado
conhecido, no caso de reprodução de um evento. Conhecido So é calculado Qo
através da função entre as duas variáveis (Q = f(S));

b) Para o intervalo de tempo seguinte, deve-se determinar os termos da direita da


equação 5.36, já que todos os termos do lado esquerdo da equação são conhecidos
(hidrograma de entrada deve ser previamente conhecido);

c) O termo da direita é igual à abscissa da função f1. Portanto, entrando com esse valor
Qt 1
na função obtém-se a vazão ;

Qt 1 St  1
d) Conhecido determina-se através da função que relaciona essas variáveis.

Os passos de b até d se repetem para todos os intervalos de tempo.

A determinação da relação entre S e Q é estabelecida com base nas relações entre


Cota x Armazenamento e Cota x Vazão de saída.

A curva cota versus armazenamento é obtida pela cubagem do reservatório (Figura


‎5.25). Essa relação é apresentada na forma de tabela, gráfico ou é ajustada uma equação.
Devido às características normalmente encontradas nos reservatórios, essa função pode ser
ajustada a uma função do tipo seguinte:

Z  aS b (5.38)

Onde a e b são coeficientes ajustados aos dados e Z a cota. Existem outras expressões
matemáticas utilizadas para o ajuste.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 160


Figura ‎5.25. Relação entre cota e armazenamento.

A função entre cota e a vazão de saída depende do tipo de estrutura de saída que
está sendo utilizada. Essa função é fornecida pelo projetista ou estabelecida através de
modelo reduzido. Os reservatórios podem possuir dois tipos de extravasores: vertedor e
descarregador de fundo (Figura ‎5.26). Tanto um como o outro podem ter comportas.

Figura ‎5.26. Extravasores de reservatórios.

Para evitar que haja alteração destas equações, e possível comprometimento do


funcionamento do reservatório, recomenda-se que as estruturas de descarga não operem
afogadas, e, para proporcionar o esvaziamento total do reservatório, que o descarregador
de fundo esteja posicionado junto ao fundo do reservatório.

Combinando a função Z = f2(S) com a função Q = f3(Z) é possível determinar Q = f(S)


(conforme Figura ‎5.27). Utilizando um valor de Zi da primeira função, determina-se Si. Para o
mesmo valor de Zi, na função f3 determina-se Qi. Com esse ponto e outros obtidos da
mesma forma pode-se construir a relação mencionada (Figura ‎5.28).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 161


Figura ‎5.27. Cálculo do amortecimento em reservatório: funções de armazenamento.

Figura ‎5.28. Função vazão x armazenamento.

Quando o reservatório possui comportas, a curva de descarga muda para cada


manobra de comporta. A função f3 é alterada, o que necessita um novo cálculo de Q = f(S). A
regra operacional é transferida para a simulação através da função f3.

A aplicação do método de Puls, ou o uso somente da relação biunívoca entre


armazenamento e vazão, implica em admitir que a linha de água no reservatório é,

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 162


aproximadamente, horizontal. Quando a declividade da linha de água é importante, e os
processos dinâmicos afetam o escoamento de saída e mesmo ao longo do reservatório, esse
tipo de método não deve ser utilizado. Para esta situação deve-se procurar utilizar um
modelo hidrodinâmico baseado na solução das equações completas de Saint Venant ou
outro modelo de escoamento que trata o trecho do reservatório como um rio.

Recomenda-se que seja utilizado o Modelo de procedimento de projeto – Dimensões


e/ou curva cota x armazenamento para reservatórios (Tabela ‎5.28), na apresentação do
memorial de cálculo. Preencher também o modelo complementar: “Modelo de projeto –
Descarregador de fundo e/ou Vertedor” (Tabela ‎5.29).

Para a construção da curva da função conhecida f1 ( Q  f1(Q  2S/ΔS) ), utilizar uma


planilha de cálculo, a exemplo da apresentada na Tabela ‎5.30. A propagação do hidrograma
deve ser apresentada em planilha a exemplo do modelo da Tabela ‎5.31.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 163


Tabela ‎5.28. Modelo de procedimento de projeto: Dimensões e curva cota volume de reservatório.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 164


Tabela ‎5.29. Modelo de procedimento de projeto: Descarregador de fundo e/ou vertedor.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 165


Tabela ‎5.30. Exemplo de planilha de cálculo para determinação da função auxiliar para a propagação do escoamento utilizando o algoritmo de Puls.
Col1 Col2 Col3 Col4 Col5 Col6 Col7 Col8
Altura Armazenamento Z Q vertedor Q descarregador (2S/dt) (2S/dt) + Qdesc + Q vert Q saída
(m) (m3) (m) (m3/s) (m3/s) (m3/s) (m3/s) (m3/s)

Onde:
Col. 1: é a altura do reservatório, discretizada em intervalos de altura.
Col. 2: item 7 do “Modelo de procedimento de projeto - Dimensões e/ou curva cota x armazenamento para reservatório”.
Col. 3: corresponde à cota referenciada que é atingida dentro do reservatório. Z = Zo + Altura (Zo está especificado no “Modelo de procedimento de projeto -
Dimensões e/ou curva cota x armazenamento para reservatório”, e altura é a Col. 1).
.Cv.Lv. 2.g .Z  Z w 1,5
2
Qv 
Col. 4: vazão vertida pelo vertedor. Calculada a partir da equação: 3
Onde: g é a aceleração da gravidade m/s2; Cv e Lv estão especificados no “Modelo de procedimento de projeto - Descarregador de fundo e/ou Vertedor”.
2
.Cv.Lv. 2.g .Col 3  5 5,2
1,5
Substituindo as colunas da planilha P4 na equação, resulta: Qv 
3
Col. 5: vazão drenada pelo descarregador de fundo. Calculada a partir da equação: Q  Cd  Ac  2  g  h
Onde: g é a aceleração da gravidade m/s2; Cd e Ac estão especificados no “Modelo de procedimento de projeto - Descarregador de fundo e/ou Vertedor”.
Substituindo as colunas da planilha P4 na equação, resulta: Q  Cd  Ac  2  g  Col1
Col. 6: armazenamento no reservatório em intervalos de tempo de cálculo do hidrograma de entrada. (2.S/t) = (2.Col.2)/t.
t está definido no “Modelo de procedimento de projeto - Dimensões e/ou curva cota x armazenamento para reservatório”.
Col. 7: Col. 4 + Col. 5 + Col. 6
Col. 8: Col. 4 + Col. 5 (vazão de saída)
PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 166
Tabela ‎5.31. Exemplo de planilha para realização da propagação do escoamento utilizando o
algoritmo de Puls.
Col. 1 Col. 2 Col. 3 Col. 4 Col. 5 Col. 6
t I entrada It + It+1 - Ot + 2S/dt h (2S/t ) Q saída
(s) (m3/s) (m3/s) (m) (m3/s) (m3/s)

: : : : :
: : : : :

Onde:
Col. 1: intervalo de tempo de propagação (segundos).
Col. 2: hidrograma a ser propagado no reservatório.
Col. 3: Esta coluna representa o termo da direita da equação 5.36 (Qt+1 + 2.St+1/t = It + It+1 - Qt +
2.St/t).
Para o primeiro intervalo de tempo, o armazenamento inicial é conhecido (So) e determina-se
a Qsaída. Conhecido o valor do termo da direita da equação 5.36, calcula-se a cota atingida no
reservatório (h) , consultando as colunas 7 e 3 da planilha da tabela Tabela 5 ‎ .30. Determina-
se (2.St/t) consultando as colunas 6 e 7 da Tabela 5 ‎ .30, na mesma planilha, determina-se Qt
consultando as colunas 7 e 8. O mesmo procedimento é feito para todos os intervalos de
tempo seguinte, até haver a completa propagação no reservatório.
Col. 4: cota atingida no interior do reservatório. Calculada conforme apresentado acima.
Col. 5: armazenamento/t no interior do reservatório. Calculada conforme apresentado acima.
Col. 6: vazão de saída do reservatório. Calculada conforme apresentado acima.

5.3.3 Reservatórios de lote

Inicialmente deve ser determinada a vazão de pré-desenvolvimento (Qpd) a partir da


área do lote ou loteamento, de acordo com o limite estabelecido no Decreto Municipal que
regulamenta o controle da drenagem pluvial urbana. Para isso, deve-se observar se a área
do empreendimento se encontra dentro dos limites previstos no decreto. Posteriormente, o
volume de armazenamento pode ser estimado com a equação apresentada no Decreto
Municipal.

Para todos os casos em que a área do empreendimento for superior àquela prevista
no Decreto, é necessário um estudo hidrológico específico.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 167


Posteriormente, determina-se a altura disponível para armazenamento, visto que
existem várias formas de armazenamento, desde um cubo, cilindro, e outras formas
adaptadas ao espaço disponível. O dreno é o limitante e deverá ter como vazão de saída um
valor igual ou menor que é permitido para a área do terreno.

A altura do reservatório de armazenamento pode ser condicionada, em alguns casos,


pela disponibilidade de cota para conexão do reservatório à rede de drenagem pluvial
pública. Neste caso, há necessidade de projetar a cota de fundo do reservatório de forma
adequada; ou seja, a cota de fundo do reservatório sempre deve ficar acima da cota de
conexão com a rede de drenagem pluvial pública. Esta medida evitar possíveis inversões de
fluxo no sistema, ou seja, a água da rede pluvial entrar no reservatório. Conhecidos estes
condicionantes físicos, determina-se a altura (H) que pode ser utilizada para o
dimensionamento do reservatório. Esta altura corresponde à diferença entre a cota de
fundo do reservatório e a cota de topo da estrutura. A área em planta da estrutura de
armazenamento é determinada segundo a equação 5.39.

V
Aplanta 
H (5.39)

Onde: Aplanta é a área em planta do reservatório (m2); V é o volume de


armazenamento necessário (m3), determinado através da equação do Decreto Municipal; H
é a altura do reservatório (m).

Caso não haja limitação de altura para a implantação do reservatório, o critério


utilizado para o dimensionamento pode ser a disponibilidade de área em planta para a
implantação da estrutura. Desta forma, conhecendo a área disponível, deve-se determinar a
altura do reservatório segundo a equação abaixo:

V
H
A planta
(5.40)

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 168


Deve-se considerar que a vazão de saída pelo descarregador é função da carga
hidráulica no reservatório; portanto, quanto maior a altura do reservatório, menor será a
seção transversal do descarregador.

O descarregado de fundo deve ser instalado no reservatório de forma a permitir a


liberação gradual da água armazenada. Deve-se instalar o descarregador junto ao fundo do
reservatório, evitando assim o acúmulo de água no interior da estrutura. Recomenda-se
ainda que, para não haver obstrução do descarregador, seja colocada uma grade antes do
mesmo.

Dependendo do tipo de descarregador utilizado, ele pode funcionar como um


orifício, ou seja, uma simples abertura na parede lateral do reservatório; ou como um bocal,
onde existe um tubo que faz a drenagem para fora da estrutura. Em casos onde o
reservatório é fechado, e utiliza-se um vertedor de emergência, em geral, utiliza-se um
orifício, que faz uma passagem para a segunda câmara, que serve para a inspeção e limpeza.
Na Figura ‎5.29 são apresentadas as situações onde o descarregador funciona como orifício
(Figura ‎5.29 a) e como bocal (Figura ‎5.29 b); na Figura ‎5.29 c é apresentado o modelo com
câmara de inspeção.

Para determinar a área da seção transversal do descarregador de fundo pode-se


utilizar a equação 5.41(a) para o caso de um orifício ou a equação 5.41(b) para o caso de um
bocal. Caso o descarregador de fundo a ser utilizado é circular, pode-se determinar a área da
seção transversal e consultar o diâmetro comercial correspondente na Tabela ‎5.32.

0 ,37.Q
pd
A 
c h
c 5.41(a)

0 ,45.Q
pd
A 
c h
c 5.41(b)

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 169


Onde: Qpd é a vazão de pré-desenvolvimento (m3/s); hc é a diferença entre o nível
máximo da água e o ponto médio da abertura da seção de saída (m) - conforme Figura ‎5.30;
Ac é a área da seção transversal do descarregador (m2).

(a) – O descarregador é um orifício (b) – O descarregador é um bocal

(c) – O descarregador é um orifício – com câmara de inspeção


Figura ‎5.29. Característica do descarregador de fundo.

Tabela ‎5.32. Área da seção transversal dos descarregadores de fundo – circulares.


Área (m2) Diâmetro comercial (mm)
0,00049 25
0,00071 30
0,00080 32
0,00126 40
0,00196 50
0,00283 60

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 170


Área (m2) Diâmetro comercial (mm)
0,00785 100
0,01766 150
0,03140 200
0,07065 300
0,12560 400
0,19625 500
0,28260 600
0,38465 700
0,50240 800

Figura ‎5.30. Determinação de hc em um reservatório.

Pode-se também determinar o diâmetro do descarregador de fundo diretamente da


equação 5.42(a) para o caso de um bocal ou a equação 5.42(b) para o caso de um orifício.

0 ,76. Q pd
D
hc
5.42(a)

0 ,69. Q pd
D
hc
5.42(b)

Onde o diâmetro é dado em m.

Caso a área da seção transversal tenha resultado menor que 0,00049 (m 2) ou o


diâmetro menor que 25 mm, usar o diâmetro mínimo de 25 mm, ou seção transversal com
esta área. Para valores maiores, aproxime sempre para o diâmetro superior.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 171


Nas Figura ‎5.31 (para diâmetros até 6cm) e Figura ‎5.32 (para diâmetros maiores ou
igual a 6cm) são apresentadas as curvas que fornecem o diâmetro do descarregador
(orifício) em função da carga hidráulica hc e da máxima vazão de saída permitida Qpd. As
mesmas curvas são apresentadas para o caso de descarregador funcionando como bocal nas
Figura ‎5.33 e Figura ‎5.34.

Na Figura ‎5.35 são apresentadas as curvas da área da seção transversal do


descarregador (orifício) em função da carga hidráulica hc e da máxima vazão de saída
permitida Qpd.

160

140

120

100
Carga hidráulica (cm)

80

60

diâmetro em mm
40   

20
  

0
0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00 10.00
Vazão (l/s)

Figura ‎5.31. Diâmetro dos descarregadores de fundo (orifícios) em função da vazão e carga
hidráulica (diâmetros até 60mm).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 172


220

200

180

160

140
Carga hidráulica (cm)

120

100 diâmetro em mm
  
80

60
  
40

20   

0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
Vazão (l/s)

Figura ‎5.32. Diâmetro dos descarregadores de fundo (orifícios) em função da vazão e carga
hidráulica (diâmetros maiores ou igual a 60mm).

160

140

120

100
Carga hidráulica (cm)

80

60

diâmetro em mm
40
  

20
  

0
0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00
Vazão (l/s)

Figura ‎5.33. Diâmetro dos descarregadores de fundo (bocal) em função da vazão e carga hidráulica
(diâmetros até 60mm).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 173


220

200

180

160

140
Carga hidráulica (cm)

120

100 diâmetro em mm
  
80

60
  
40

20   

0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
Vazão (l/s)

Figura ‎5.34. Diâmetro dos descarregadores de fundo (bocal) em função da vazão e carga hidráulica
(diâmetros maiores ou igual a 60mm).

Recomenda-se que seja utilizado o maior tamanho (diâmetro, área) possível obtido
no dimensionamento do descarregador, evitando, por exemplo, a utilização de dois
descarregadores. Esta medida evitará possíveis entupimentos da estrutura.

É necessário também, prever a instalação de um vertedor de excessos, que tem a


finalidade de escoar o excesso de água que entra no reservatório, quando ocorrem chuvas
com intensidade superior à utilizada no dimensionamento.

Recomenda-se, no entanto, que o dimensionamento do vertedor seja feito somente


quando o extravasamento do reservatório possa provocar danos na propriedade. Na maioria
dos casos, este dispositivo é desnecessário, visto que a água fica acumulada nas superfícies
por um curto período de tempo.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 174


160

140 Área (cm2)

120 3
Carga hidráulica (cm)

100 5

80 7

60
10

40
20

20
30

0
0.00 2.00 4.00 6.00 8.00 10.00 12.00 14.00 16.00 18.00
Vazão (l/s)

220

200

180

160
Carga hidráulica (cm)

140

120

100 Área (cm2)


50 70 100
80

60
500 700 1000
40

20 2000 3000 4000

0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
Vazão (l/s)

Figura ‎5.35. Área da seção transversal do descarregador de fundo (orifício) em função da vazão e
carga hidráulica.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 175


O vertedor, de acordo com aspectos construtivos utilizados, pode ser de paredes
delgadas ou de parede espessa. Esta classificação é:

 Parede delgada: e < 2/3.hmax;


 Parede espessa: e  2/3. hmax.

Onde e é a espessura da parede do vertedor e hmax é a carga máxima desejada no


vertedor (hmax = z-zw, sendo z é a cota corrente e zw é a cota da crista). Neste manual
recomenda-se a utilização de hmax = 5 cm. Assim, o vertedor será de parede delgada
quando a espessura da parede for menor ou igual a 3 cm, e de parede espessa quando a
espessura forma maior que 3 cm.

A vazão de descarga do vertedor (Qv) deve ser determinada a partir da equação 5.43
(Método Racional).

Qv  0,278.C.I. A (5.43)

Onde: Qv é a vazão de descarga do vertedor (m3/s); C é o coeficiente de escoamento


da área que contribui para a estrutura (entre 0,85 e 0,95); A é a área drenada para a
estrutura (km2); I é a intensidade da precipitação (mm/h). A intensidade I deve ser obtida a
partir da equação IDF, para uma duração igual ao tempo de concentração (tc), com tempo
de retorno de 50 anos. O tempo de concentração em planos deve ser estimado a partir da
equação da onda cinemática-Manning (Tabela ‎2.4).

5 ,474.n.L 0 ,8
tc 
P24 0 ,5 .S 0 ,4
(5.44)

Onde: tc é o tempo de concentração (minutos); S é a declividade (m/m); n é o


coeficiente de rugosidade de Manning (Tabela ‎5.3); L: comprimento do escoamento (m); P24
é a precipitação com 24 horas de duração (mm). A P24 é determinada para IDF
correspondente ao local em estudo, considerando o tempo de retorno de projeto.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 176


Quando não existirem contribuições externas, a área contribuinte for, no máximo de
1 ha, e a declividade média for menor ou igual a 0,2 m/m, o tempo de concentração inicial
não deve ser calculado pela formulação acima, mas sim adotado igual a 5 minutos.

A equação 5.45 deve ser utilizada para o dimensionamento do vertedor com de


parede delgada, e a equação 5.46 deve ser utilizada para paredes espessas:

Qv
Lv 
2 ,95.Cv .( h )1.5
max (5.45)

Qv
Lv 
Cv .1,704.( h )1.5
max (5.46)

Onde: Lv é o comprimento da crista do vertedor (m); Qv é a vazão de descarga do


vertedor, determinada conforme equação 5.43 (m3/s); hmáx é a carga sobre o vertedor (m);
Cv é o coeficiente de descarga do vertedor.

Recomenda-se usar Cv=0,64, para vertedores de parede delgada, e Cv=0,86 para


vertedores de parede espessa, e hmáx igual a 5 cm.

5.4 Estruturas de infiltração

5.4.1 Viabilidade de implantação

Segundo Urbonas e Stahre (1993), sob as seguintes condições, a disposição de águas


pluviais por infiltração não é recomendada:

 Profundidade do lençol freático no período chuvoso menor que 1,20 m, abaixo da


superfície infiltrante;

 Camada impermeável a 1,20 m ou menos da superfície infiltrante;

 A superfície infiltrante está preenchida (ao menos que este preenchimento seja de
areia ou cascalho limpos);

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 177


 Os solos superficiais e subsuperficiais são classificados, segundo o SCS, como
pertencentes ao grupo hidrológico D, ou a taxa de infiltração saturada é menor que
7,60 mm/h, como relatado pelas pesquisas de solo do SCS.

Se estas condições não excluírem o local, deve ser feita uma segunda avaliação,
usando o método desenvolvido pela Swedish Association for Water and Sewer Works em
1983, e apresentado por Urbonas e Stahere (1993). A cada característica do local é associada
uma pontuação. O somatório dos pontos informa o resultado da avaliação. Assim:

 Se o total for menor que 20, o local deve ser descartado;

 Entre 20 e 30, o local é um candidato a receber um dispositivo de infiltração;

 Se o total for maior que 30, o local pode ser considerado excelente.

A Tabela ‎5.33 fornece os valores dos pontos de acordo com cada característica.

Para testar se o local é um candidato a uma estrutura do tipo desejado, preenche-se


o modelo de procedimento de projeto chamado “Verificação preliminar da aplicabilidade
para estruturas somente de infiltração – parte 1” para o caso de estruturas de infiltração,
como pavimentos permeáveis, valos de infiltração e bacias de infiltração, ou “Verificação
preliminar da aplicabilidade para estruturas somente de percolação – parte 1” para o caso
de estruturas de percolação como as trincheiras de infiltração ou bacias de percolação,
poços de infiltração, mantas de infiltração.

Em caso de aprovação, passa-se para o modelo de procedimento de projeto chamado


“Verificação preliminar da aplicabilidade de estruturas de infiltração ou percolação – parte
2”, baseado na tabela do Swendish Association for Water and Sewer Works (1983).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 178


Tabela ‎5.33. Sistema de pontuação para avaliação de possíveis locais de implantação de
dispositivos de infiltração e/ou percolação (Urbonas e Stahre, 1993).
Características Pontos
1. Razão entre área impermeável contribuinte (AIMP) e área de infiltração (AINF)
 AINF > 2.AIMP 20
 AIMP  AINF  2 AIMP
.
10
 0,50 AIMP  AINF  AIMP
.
5
Superfícies impermeáveis menores que 0,50.AIMP não devem ser
usadas para infiltração
2. Natureza da camada de solo superficial
 Solos grosseiros com baixa taxa de material orgânico 7
 Solo com taxas de matéria orgânica intermediárias 5
 Solos granulados finos com alta taxa de material orgânico 0
3. Subsuperficial
 Se os solos subsuperficiais são mais grosseiros que os solos da superfície,
associe o mesmo número de pontos daquele dos solos de superfície associado no
item 2
 Se os solos subsuperficiais são mais granulados finos que os solos da
superfície, use os seguintes pontos:
Cascalho ou areia 7
Areia siltosa ou lemo 5
Silte fino ou argila 0
4. Declividade (S) da superfície de infiltração
 S<7% 5
 7  S  20 % 3
 S > 20 % 0
5. Cobertura vegetal
 Cobertura de vegetação natural, saudável 5
 Gramado bem estabelecido 3
 Gramado novo 0
 Sem vegetação – solo nu -5
6. Grau de tráfego na superfície de infiltração
 Pouco tráfego de pedestres 5
 Tráfego de pedestres médio (parque, gramado) 3
 Muito tráfego de pedestres (campos esportivos) 0

5.4.2 Estimativa dos parâmetros

Para a estimativa da taxa de infiltração, deve-se realizar uma sondagem a uma


profundidade de 0,6 a 1,2 m abaixo do nível inferior do reservatório de pedras a fim de
verificar o tipo de solo existente (já que tipos de solos com um percentual superior a 30% de

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 179


argila ou 40% de silte e argila combinados não são bons candidatos para este tipo de
dispositivo).

Para determinar a profundidade do reservatório de pedras, é necessário selecionar o


tipo de material a ser utilizado no mesmo. Schuller (1987) recomenda o uso de brita 3 ou 4
no reservatório de pedras, conforme Tabela ‎5.34, onde é apresentada uma classificação de
acordo com as dimensões nominais do material, sendo diâmetro mínimo e abertura da
peneira, a qual corresponde uma porcentagem retida igual ou imediatamente superior a
95%.

Tabela ‎5.34. Classificação nominal da brita (Araújo et al., 2000).


Material Peneira Malha
brita 0 9,5 4,8 mm
brita 1 19,0 9,5 mm
brita 2 25,0 19,0 mm
brita 3 50,0 25,0 mm
brita 4 76,0 50,0 mm
brita 5 100,0 76,0 mm

Para uma brita 3 (comercial), verificou-se valores de porosidade da ordem de 40 a


50% (ARAÚJO et al., 2000). Desta forma com os valores de porosidade e volume de água a
reter pode-se estimar a profundidade do reservatório de pedras. Aconselha-se, por questões
práticas, utilizar profundidade mínima do reservatório de pedras de 15 cm.

Blocos Vazados: O módulo de blocos vazados geralmente é construído para que a


superfície pronta fique no mesmo nível da superfície adjacente e os blocos fiquem
confinados lateralmente. O solo, na base da abertura, não deve ser compactado para evitar
uma redução na capacidade de infiltração do terreno. Na base é colocado um filtro geotêxtil,
com a finalidade de separar o agregado graúdo do solo, e assim evitar a migração do solo
para o reservatório de pedras, quando este estiver na condição de enchimento. O
reservatório de pedras é preenchido com brita 3 de granito até o topo, perfazendo uma
espessura final de agregado igual a 15cm. Após a compactação do agregado, novamente é

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 180


colocado um tecido geotêxtil sobre a camada de agregado com a finalidade de prevenir a
migração da areia média da camada superior para dentro do reservatório de pedras. Uma
camada de 10 cm de areia média é colocada sobre o anterior. Por fim, os blocos vazados são
assentados sobre a areia e as juntas e os orifícios dos blocos de concreto são preenchidos
com areia e grama.

Concreto poroso: O concreto sem finos deve ser pouco adensável e a vibração só
pode ser aplicada por períodos muito curtos, caso contrário a pasta de cimento poderá
escorrer para o fundo. Também não se recomenda o adensamento com soquetes pois
podem resultar massas específicas localizadas elevadas. Para o concreto sem finos não
existem ensaios de trabalhabilidade de concretos; somente é possível avaliar visualmente se
a camada de revestimento das partículas é adequada. Os concretos sem finos têm baixo
valor de coesão; por isso, as formas devem ser mantidas até que se tenha desenvolvido uma
resistência suficiente. A cura úmida é importante, especialmente em climas secos e com
ocorrência de vento devido às pequenas espessuras da pasta de cimento (NEVILLE, 1982). As
características do concreto são apresentadas na Tabela ‎5.35. A construção das estruturas,
utilizando concreto poroso é semelhante à dos blocos vazados, sendo que a única diferença
está no revestimento superficial, que deve ser de concreto poroso com espessura de 15 cm.

Tabela ‎5.35. Característica dos concretos sem finos para agregado de 9,5 a 19 mm. (McIntosh,
Botton e Muir,1956 apud Neville, 1982).
Relação Cimento Relação Água Massa Resistência a
/agregado em volume /cimento Específica Compressão
3
em massa (Kg/m ) 28 dias - MPa
1:6 0,38 2020 14
1:7 0,40 1970 12
1:8 0,41 1940 10
1 : 10 0,45 1870 7

Na Tabela ‎5.36 e Tabela ‎5.37 são apresentados valores de coeficientes de


escoamento obtidos para diferentes superfícies urbanas.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 181


Tabela ‎5.36. Experimentos em superfícies urbanas (Genz, 1994).
Declividade Coeficiente de Taxa final de Precipitação
Superfície Escoamento infiltração simulada
(%) ( mm/h ) ( mm/h )
Gramado 1a9 0,54 a 0,68 19 a 23 110 a 142
Chão batido 1,3 0,92 a 0,95 110 a 120
Paralelepípedo antigo 2 a 11 0,88 a 0,95 103 a 128
Paralelepípedo novo 4 0,58 a 0,63 18 a 23 114 a 124
Blockets 2 0,83 a 0,85 10 a 14 116 a 127

Tabela ‎5.37. Resultados das simulações de chuva nas superfícies (Araújo et al., 2000).
Variáveis* Solo Concreto Bloco de Paralelepípedo Bloco
Compactado Concreto Vazados
I (mm/h) 112 110 116 110 110
P (mm) 18,66 18,33 19,33 18,33 18,33
Q (mm) 12,32 17,45 15,00 10,99 0,5
C 0,66 0,95 0,78 0,60 0,03

*I =intensidade da precipitação; P = precipitação total mm; Q = escoamento total; C = coeficiente de escoamento

O uso de pavimentos permeáveis pode eliminar a necessidade de caixas de captação


e tubos de condução da água, pois o dispositivo praticamente não gera escoamento.

Se o local é considerado propício para receber a instalação, a fase seguinte a ser


considerada é a determinação dos parâmetros e posterior dimensionamento. Para o
dimensionamento, os parâmetros considerados são a taxa de infiltração, a condutividade
hidráulica saturada e a porosidade efetiva (razão entre o volume de água que pode ser
drenada do solo saturado por ação da gravidade somente e o volume total). É difícil
generalizar os valores, principalmente os de condutividade hidráulica, por isso recomendam-
se testes de campo, utilizando os menores valores medidos para o projeto.

Para a instalação de estruturas em áreas menores a 1000 m2, podem ser utilizados os
valores de taxas de infiltração, de acordo com a classificação do Soil Conservation Service
utilizadas estão na Tabela ‎5.38; para áreas superiores a esta, deve ser realizado um teste de
infiltração no local. Para fins de dimensionamento de estruturas de infiltração ou

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 182


percolação, deve-se utilizar a taxa de infiltração correspondente ao valor de Ib, que
corresponde ao estado em que o solo atingiu a saturação.

Tabela ‎5.38. Alguns valores típicos de taxas de infiltração.


Taxa de infiltração (mm/h)
Tipo de solo
Io Ib
A 254,0 25,4
B 203,2 12,7
C 127,0 6,35
D 76,2 2,54

Segundo a classificação do SCS (SCS, 1957) os tipos de solo mencionados são


classificados da seguinte forma:

 Solo A: solos que produzem baixo escoamento superficial e alta infiltração. Solos

arenosos profundos com pouco silte e argila;

 Solo B: solos menos permeáveis do que o anterior, solos arenosos menos profundos

do que o tipo A e com permeabilidade superior à média;

 Solo C: solos que geram escoamento superficial acima da média e com capacidade de

infiltração abaixo da média, contendo porcentagem considerável de argila e pouco

profundo.

 Solo D: solos contendo argilas expansivas e pouco profundos com muito baixa

capacidade de infiltração, gerando a maior proporção de escoamento superficial.

A Tabela ‎5.39 contém valores típicos de condutividade hidráulica, enquanto que a


Tabela ‎5.40 contém valores de porosidade efetiva. Os tipos de solo podem ser vistos na
Figura ‎5.36.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 183


Tabela ‎5.39. Condutividade hidráulica saturada em diversos tipos de solo (Urbonas e Stahre, 1993).
Tipo de solo Condutividade hidráulica (m/s)
Cascalho 10-3 – 10-1
Areia 10-5 – 10-2
Silte 10-9 – 10-5
Argila (saturada) < 10-9
Solo cultivado 10-10 a 10-6

Tabela ‎5.40. Porosidade efetiva para materiais típicos (Urbonas e Stahre, 1993).
Material Porosidade efetiva (%)
Rocha dinamitada – Brita grossa 30
Cascalho de granulometria uniforme 40
Brita graduado ( ¼ polegadas) 30
Areia 25
Cascalho de jazida – Seixo rolado 15 – 25

Figura ‎5.36. Classificação trilinear dos solos (Caputo, 1969).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 184


O dimensionamento dos dispositivos de infiltração e percolação faz uso da “curva
envelope” de influxo de escoamento (URBONAS & STAHRE, 1993). A máxima diferença entre
esta curva e o fluxo de saída acumulado, como mostra a Figura ‎5.37, representa o volume a
armazenar. Pode-se, ao invés do máximo volume, utilizar-se da máxima profundidade (CIRIA,
1996). Neste manual estão demonstradas as duas maneiras.
Volumes de entrada e saída

Excede a capacidade de infiltração


Escoamento superficial
Infiltração

Máx. armazenado
Infiltrado
ta Duração tb tc

Figura ‎5.37. Curva envelope (Adaptado de Urbonas e Stahre, 1993)

Duas regiões distintas podem ser observadas na Figura ‎5.37. Para durações menores
que tb, não há infiltração total do escoamento superficial. Para durações maiores que tb, a
capacidade de infiltração supera o volume afluente de escoamento superficial e a água
armazenada infiltra no solo.

CIRIA (1996) utiliza no dimensionamento um coeficiente de infiltração q, obtido a


partir de testes de percolação e que está relacionado com a permeabilidade do solo. Valores
típicos do coeficiente de infiltração estão na Tabela ‎5.41.

O coeficiente de infiltração ainda é reduzido por fatores de segurança para levar em


conta a diminuição da capacidade de infiltração durante a vida do dispositivo. Alguns valores
são encontrados na Tabela ‎5.42 (CIRIA, 1996).

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 185


Tabela ‎5.41. Alguns valores típicos de coeficientes de infiltração, baseados na textura do solo
(Watkins apud CIRIA, 1996).
Coeficiente de
Tipo de solo
infiltração (mm/h)
Cascalho 10 – 1000
Areia 0,1 – 100
Areno lemoso 0,01 – 1
Lemo arenoso 0,05 –0,5
Lemo 0,001 – 0,1
Lemo siltoso 0,0005 – 0,05
Características Calcárias 0,001 - 100

Ponto divisor para a maioria dos sistemas de infiltração 0,001

Lemo argilo arenoso 0,001 – 0,01


Lemo argilo siltoso 0,00005 – 0,005
Argila < 0,0001
Rocha 0,00001 – 0,1

Tabela ‎5.42. Fatores de segurança para o coeficiente de infiltração (CIRIA, 1996).


Consequências da falha do dispositivo de infiltração
Danos à construção
Área a ser drenada Nenhum Inconveniência menor, ou estrutura,
m2 dano ou como alagamento inconveniência maior,
inconveniência de um estacionamento como inundação em
estradas
< 100 1,50 2 10
100 a 1000 1,50 3 10
> 1000 1,50 5 10

5.4.3 Dimensionamento de pavimentos permeáveis e sistemas de infiltração em planos

O procedimento adotado por CIRIA (1996) pode ser adaptado para os projetos dos
sistemas de infiltração em planos e os pavimentos permeáveis. Os dados requeridos são os
seguintes:

q: coeficiente de infiltração (m/h);

A: área a ser drenada (m²);

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 186


: porosidade efetiva do material de preenchimento (volume de vazios/volume
total);

I: intensidade da chuva em (mm/h);

t: a duração (h);

Ab área base do sistema de infiltração (m²)

Pode-se então dimensionar a profundidade máxima do dispositivo (hmax), da


seguinte maneira:

1. Corrigir o coeficiente de infiltração q, dividindo o valor achado nos testes de


campo pelo fator de segurança apropriado (Tabela ‎5.42);

2. Achar a porosidade efetiva do material de preenchimento granular ou estimar o


valor na Tabela ‎5.40;

3. Calcular a razão de drenagem R = A/Ab, onde A é a área a ser drenada e Ab a área


da base da superfície de infiltração;

4. Calcular a intensidade de chuva I, função da IDF adotada, da duração t e do tempo


de retorno TR (estruturas de controle na fonte TR=10 anos);

5. Calcular hmax

 R  I  q 
t
hmax 
 (5.47)

6. Repita 4 e 5 para várias durações de chuva;

7. Selecione o maior valor dentre os obtidos no passo 6.

Se q excede R.I, hmax assumirá valores negativos. Isto significa que toda água
precipitada em um intervalo de tempo, infiltra, neste mesmo intervalo de tempo. Para o
pavimento permeável, R =1 e o passo 3 é omitido. Neste caso, a máxima profundidade é
dada por:

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 187


 I  q 
t
hmax 
 (5.48)

Caso se deseje o inverso, ou seja, dado hmax, calcular Ab, o procedimento é o


seguinte:

1. Obter o coeficiente de infiltração q, dividindo o valor achado nos testes de campo


pelo fator de segurança apropriado (Tabela ‎5.42);

2. Achar a porosidade efetiva do material de preenchimento granular ou estime o


valor da (Tabela ‎5.40);

3. Fornecer a área a ser drenada A e a profundidade máxima permitida, hmax

4. Calcular a intensidade de chuva I, função da IDF adotada, da duração t e do tempo


de retorno

(i) Calcule A.I.t, .hmax e q.t

(ii) Calcular Ab

A I t
Ab 
  hmax  q  t (5.49)

5. Repita 4 e 5 para várias durações de chuva;

(i) Selecione o maior valor dentre os obtidos no passo 5.

(ii) Se a área é inaceitavelmente grande, aumente hmax ou diminua A e repita o


processo a partir do passo 3.

O sistema deverá prever o esgotamento do volume num período de 6 a 12 horas. O


tempo de esvaziamento para este fim é dado pela seguinte expressão:

  hmax
t esv 
q (5.50)

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 188


Também é possível utilizar a metodologia da curva envelope para o dimensionamento destes
dispositivos (Urbonas e Sthare, 1993). Neste caso, o roteiro de cálculo é o seguinte:

1. Para determinar o volume de projeto afluente à estrutura de infiltração ou percolação,


utiliza-se a equação 5.51. Desta forma, obtém-se o volume afluente acumulado através da
multiplicação da vazão pelo tempo, para diversas durações de chuva.

  I  
Ve  1,25.3600.C . T .t .A (5.51)
  1000  

Onde: Ve é o volume total escoado no tempo t para uma precipitação de T anos de retorno
(m3); C é o coeficiente de escoamento; IT é a intensidade da precipitação de T anos de
retorno (l/s/ha); t é a duração da precipitação (h); A é a área da bacia de contribuição (ha).

Para o dimensionamento pode-se considerar que apenas as áreas impermeáveis


estarão contribuindo para a estrutura, tendo um coeficiente de escoamento (C) entre 0,85 e
0,95 (URBONAS & STAHRE, 1993).

2. Estimar as dimensões iniciais da trincheira e determinar o volume da estrutura (V T)


para estas dimensões, conforme a equação 6.22.

VT  L.h.b (5.52)

Onde: VT é o volume da trincheira (m3); L é o comprimento da trincheira (m); h é altura da


trincheira (m); b é a argura da trincheira (m).

3. Construir a curva de volumes acumulados de saída (Vs), com base na condutividade


hidráulica saturada e nas dimensões atuais.

Aperc
Vs  k .3600.t (5.53)
2

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 189


Onde: Vs: é o volume acumulado de saída, para diversas durações t ; k é a condutividade
hidráulica saturada; Aperc é a área de infiltração ou percolação; t é a duração da precipitação
(h).

Uma vez que os solos tendem a se tornarem gradualmente colmatados com o tempo,
reduzindo sua condutividade hidráulica disponível, é recomendado que a condutividade seja
reduzida por um fator de segurança. Recomenda-se que o valor seja reduzido por um
coeficiente de segurança 2 ou 3, de acordo com o local onde está inserida a estrutura de
percolação.

A área de percolação (Aperc) corresponde à área das paredes laterais da estrutura de


infiltração, podendo ser determinada pela equação 5.54.

Aperc  2.h( b  L ) (5.54)

Onde h, b e L são as características das dimensões da trincheira.

4. Identificar o ponto de máxima diferença entre as curvas de volume afluente (V e) e


o volume de saída da trincheira (Vs). A máxima diferença corresponde ao volume (V) da
trincheira.

V  máx( Ve  Vs ) (5.55)

5. Considerando a porosidade do material que será usado para o preenchimento,


determinar o volume necessário para o armazenamento (Vdim).

Vdim  V (5.56)

Onde  é a porosidade do material.

6. Comparar o volume da trincheira (VT) com o volume de dimensionamento (Vdim):

- Se VT >> Vdim  reduzem-se as dimensões da trincheira e recomeçar no passo 3;

- Se VT < Vdim  aumentam-se as dimensões da trincheira e recomeça-se no passo 3;

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 190


- Se VT  Vdim  fim do processo de dimensionamento.

Mesmo com todos os critérios alcançados, o solo pode não ter uma condutividade
hidráulica (k) suficiente para esvaziar a instalação, no tempo adotado, utilizando somente a
percolação. Por isso, pode ser viável a colocação de um conduto de saída que coleta a água
da bacia de percolação e descarrega esta água lentamente através de um orifício ou uma
válvula de estrangulamento.

Recomenda-se o uso deste auxílio em solos com 2 x 10-5 < k < 5 x 10-4m/s (URBONAS
& STAHRE, 1993). O conduto auxiliar de saída deve sempre ser equipado com um restritor de
fluxo, que por sua vez, é projetado para fornecer uma taxa total de saída (percolação através
do solo mais conduto auxiliar) equivalente a uma bacia tendo uma taxa de percolação de 5 x
10-4m/s.

5.4.4 Dimensionamento de bacias, valos, poços e trincheiras de infiltração

O método de dimensionamento recomendado é o de CIRIA (1996), para sistemas de


infiltração tridimensionais, válido também para valos e poços de infiltração. Esta
metodologia adota o procedimento abaixo, o qual será adaptado em um modelo de
procedimento de projeto. Os dados requeridos são os seguintes: q, coeficiente de infiltração
(m/h); A, área a ser drenada (m2);  é a porosidade efetiva do material de preenchimento
(volume de vazios/volume total); I, intensidade da chuva em (m/h); d a duração (h) e Ab,
área base do sistema de infiltração (m2). Pode-se então dimensionar a profundidade
máxima do dispositivo (hmax), da seguinte maneira:

1. Corrigir o coeficiente de infiltração q, dividindo o valor achado nos testes de


campo pelo fator de segurança apropriado (Tabela ‎5.42);

2. Achar a porosidade efetiva do material de preenchimento granular, ou estimá-lo


da Tabela ‎5.40. Se a estrutura é aberta, como ocorre com as bacias e os valos de infiltração,
 = 1. Caso a estrutura seja um poço de infiltração em formato cilíndrico, perfurado e
instalado em um plano de escavação (retangular ou circular), com o espaço entre o anel e o
solo sendo preenchido com pedra limpa, a porosidade efetiva tem que ser calculada por:

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 191


  r / 2    W  L    r / 2 
 
'/

W L (5.57)

Onde: r’ é o raio das seções dos anéis; W é a largura de escavação e; L é o comprimento de


escavação.

3. (i) Fornecer a área a ser drenada (A) e a área da superfície de infiltração (Ab); (ii)
Escolha o tipo e a forma do sistema de infiltração, isto é, se a estrutura será um poço de
infiltração cilíndrico ou retangular, trincheira de infiltração, valo ou bacia de infiltração;

4. Adotando as dimensões requeridas, isto é: o raio, no caso de poço de infiltração


cilíndrico; a largura e o comprimento para o sistema retangular – parte-se para o cálculo da
área da base Ab, e o perímetro, P;

5. Determine o valore do coeficiente b:

Pq
b
Ab   (5.58)

6. Calcular a intensidade de chuva I, a partir da equação IDF do local, para a duração


de tempo t e do tempo de retorno TR;

7. Determine o valor de a:

Ab A  I
a 
P Pq (5.59)

8. Calcular hmax


hmax  a  e bt  1  (5.60)

9. Repetir os passos 6 a 8 para várias durações de chuva;

10. (i) Tomar o maior valor de hmax;

(ii) Se hmax é inaceitavelmente alta, retornar ao passo 4 e aumentar as dimensões;

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 192


(iii) Se hmax é ainda inaceitavelmente alta: retorne ao passo 3(i) e reduza a área
drenada a um sistema individual, ou retorne ao passo 3(ii) e escolha um tipo diferente de
sistema.

Sugere-se que a taxa de infiltração seja tal que o dispositivo esvazie pela metade em
24 horas. O tempo de esvaziamento para este fim é dado pela seguinte expressão:

 A 
  Ab  hmax  b 
t esv   ln  P 
qP  max
h A 
  b
 2 P  (5.61)

Esta metodologia de dimensionamento também pode ser utilizada para trincheiras


de infiltração, conforme será apresentado no item Bacias de Percolação ou Trincheiras de
Infiltração.

5.4.5 Dimensionamento de valos de infiltração para funcionarem como canais

Para que os valos de infiltração funcionem também como canais, os dados necessários para
o dimensionamento são os seguintes (WANIELISTA apud URBONAS & STAHRE, 1993):

V: distância vertical da declividade lateral;

Hv: distância horizontal da declividade lateral mais a largura de fundo;

Sv: declividade longitudinal;

Q: vazão (m3/s);

n: coeficiente de rugosidade de Manning (consultar Tabela ‎2.5);

i: a taxa de infiltração saturada (cm/h), estimada da Tabela ‎5.41 ou medida no local;

Lv: é o comprimento necessário para infiltrar a taxa média de fluxo de projeto Q.

A expressão é a seguinte:

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 193


3
 5 3 
 H v  8  8 16 
151,361      Q  Sv 
 V   
Lv   


3 5
n 8  i . 1  (
Hv 2 8
)
Z (5.62)

O valo deve ser tão plano quanto possível, e nunca com declividade (Sv)  2%. Pode-
se alcançar isto com pequenas contenções. Lateralmente, recomenda-se 4H:1V ou mais
plano (6H:1V, 8H:1V, 10H:1V, etc.) para maximizar a área de contanto com a água.

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 194


6 EQUIPE TÉCNICA

6.1 Equipe Chave


Nome Especialidade Cargo
Celso Queiroz Especialista em Drenagem Urbana Diretor de Projeto
Silvio de Oliveira Meteorologista 1º Consultor
Especialista em Recursos Hídricos
Luis A. Villaça de Garcia 2º Consultor
Superficiais
Alexandre Costa Especialista em Engenharia Hidráulica 3º Consultor
Martinho Rottmann Especialista em Geologia 4º Consultor
Especialista em Planejamento Regional e
Fernando Bidegain 5º Consultor
Meio Ambiente
Alexandre Cabral Especialista em Direito Administrativo 6º Consultor
Especialista em Geoprocessamento e
Renato. B. L. Neto 7º Consultor
foto-interpretação
Rogério Drumond Especialista em Saneamento Engenheiro Residente

6.2 Equipe de Apoio Técnico


Nome Especialidade
Daniel G. Allasia P. Especialista em Drenagem Urbana
Rutinéia Tassi Especialista em Drenagem Urbana
Juan Martin Bravo Especialista em Simulação Hidráulico-Hidrológica
Lidiane Souza Gonçalves Especialista em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental

PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 195


7 BIBLIOGRAFIA

ACIOLI, L. A. (2005). Estudo experimental de pavimentos permeáveis para o controle do


escoamento superficial na fonte. Porto Alegre. Dissertação - Programa de Pós-Graduação em
Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

ARAÚJO, P. R. (2000). Análise experimental da eficiência dos pavimentos permeáveis na


redução do escoamento superficial, dissertação de mestrado do programa de pós-graduação
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Rio de Janeiro.

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mestrado do programa de pós-graduação em Engenharia de Recursos Hídricos do
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PDDrU TERESINA – MANUAL TÉCNICO 3 197

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