Imagine a situação: documentos rasgados, amassados e manchados, livros com as capas soltas,
lombadas danificadas e cadernos com costuras rompidas. Diante de tantos danos, o que devemos
fazer primeiro para salvar estes materiais?
A primeira coisa que vem a nossa mente é a necessidade de consertar o que está danificado, ou
seja, restaurar o material degradado. Pensamos a partir da seguinte lógica: devemos restituir a
integridade física destes materiais para que de novo possam estar acessíveis à pesquisa e ao
estudo. Seguindo este raciocínio teríamos a seguinte seqüência de trabalho: primeiro restaurar o
material, depois conservá-lo e assim estaríamos preservando a informação para o futuro.
Será que procedendo deste modo estamos realmente salvaguardando estes livros e documentos
danificados? Aparentemente sim, a curto prazo. No entanto, caso não identifiquemos os fatores
que causaram a sua degradação, estaremos apenas nos iludindo, e, infelizmente, reduplicando o
mesmo dano em um futuro próximo. O que fazer, então?
A restauração é uma atividade técnica muito onerosa, pois exige equipamentos e materiais de alto
custo além de mão de obra especializada. Ao término do trabalho de restauração, todo o benefício
do tratamento volta-se para um único objeto. Se este livro restaurado retornar ao mesmo local de
guarda e ao meio ambiente que causaram o seu dano, o dispêndio de energia e de recurso
financeiro foram em vão. Para termos um procedimento efetivo e duradouro benéfico ao acervo a
logo prazo, devemos criar uma política de preservação voltada para a realidade do acervo de
cada Instituição ou Biblioteca.
Conservação Preventiva
A meta principal da Conservação Preventiva é o estudo e o controle das principais fontes
de degradação do papel. Constitui-se, na realidade, em uma série de medidas preventivas
contra a ação dessas fontes de degradação, com a finalidade de evitar o alastramento e a
disseminação de seus efeitos danosos. Em linhas gerais, os principais agentes de destruição
de acervos podem ser divididos em três categorias: fatores internos de degradação; fatores
externos ou ambientais de degradação; ação do homem sobre o acervo
Umidade e Temperatura
Esses dois fatores de degradação de acervos são extremamente comuns a nossa realidade
de país de clima tropical. A umidade é o conteúdo de vapor d’água presente no ar
atmosférico, resultante da combinação dos fenômenos de evaporação e condensação
d’água, que estão intrinsecamente relacionados à temperatura ambiental
Independentemente do tipo de fibra, todo o papel possui uma característica comum, o seu
caráter higroscópio, ou seja, toda a fibra de papel absorve água e perde água de acordo com
a taxa de umidade existente no local em que está sendo mantido.
Essa oscilação de umidade faz com que as fibras se dilatem ao absorver excesso de
umidade e se contraiam ao perder umidade. Esse movimento brusco de contração e
dilatação ocasiona rupturas na estrutura do papel, causando o seu enfraquecimento. A
temperatura elevada aliada à umidade excessiva e à falta de aeração são os fatores básicos
para a proliferação de esporos de fungos e bactérias. O controle da umidade se faz através
de desumidificadores, para locais úmidos, e de umidificadores, para locais secos. A
temperatura é controlada através de aparelhos de ar refrigerado. A taxa adequada para a
manutenção de um acervo é a seguinte: temperatura de 22º a 25ºC, umidade relativa de
55%. A medição da temperatura se faz com o uso de termômetros, e a de umidade com
higrômetros, podendo-se utilizar também o termoigrômetro (junção dos dois
equipamentos).
Além dessas constantes contrações e dilatações a que as fibras dos papéis estão
sujeitas devido às variações de umidade e temperatura, a proliferação de agentes
biológicos de degradação, como insetos, fungos e bactérias, encontra um local
propício para sua disseminação em ambientes úmidos e quentes.
Luz
Poluição atmosférica
A poluição atmosférica é um dos fatores que mais atinge os acervos. Essa poluição deriva-
se da poeira do dia a dia que se deposita sobre os materiais e também dos gases tóxicos que
são emitidos por automóveis, fábricas, queima de lixo, etc.
Ao lidar diariamente com o acervo, o homem introduz e utiliza uma série de materiais
impróprios à conservação de livros e documentos. Às vezes a tentativa bem intencionada de
tentar estancar a degradação provoca, na realidade, danos irreversíveis. Essas tentativas
amadoras não fundamentadas nos princípios de conservação se cristalizam com o correr do
tempo, transformando-se em hábitos que levam indiretamente a acelerar a degradação de
livros e documentos.
Apresentamos uma série de recomendações técnicas gerais, com a finalidade de facilitar a
identificação de procedimentos técnicos corretos ao lidar com problemas cotidianos de
conservação de acervos.
· Evitar guardar os livros semi-inclinados, quando os mesmos não couberem nas estantes
· Reservar espaço de três milímetros entre cada livro para facilitar sua retirada da
prateleira e evitar o atrito entre as capas (desgaste por abrasão).
· Não puxar os livros pelo topo (cabeça) ao retirá-lo das estantes, os volumes devem ser
retirados da estante pelo centro da lombada.
· Evitar umedecer as pontas dos dedos com saliva para virar as páginas do livro.
· Evitar dobrar as margem superiores ou interiores das folhas para marcar as páginas
· Evitar encapar os livros com papel pardo ou similar. Essa aparente proteção contra a
poeira causa, na realidade, mais dano do que benefício ao volume em médio e curto prazo.
O papel tipo pardo, de natureza ácida devido a seu processo de feitura, transmite seu teor
ácido para os materiais que estiver envolvendo (migração ácida).
· Não utilizar fitas adesivas tipo durex e fitas crepes, cola branca (PVA) para evitar a
perda de um fragmento de um volume em degradação. Esses materiais possuem alta
acidez, provocam manchas irreversíveis onde aplicado.
· Não utilizar grampos e clips metálicos, esses materiais enferrujam com o correr do
tempo, deixando, no local aplicado, manchas marrons, oxidando o papel, causando o
rompimento das fibras com subseqüente rasgo do papel.
· Evitar a incidência direta de luz solar sobre o acervo, a luz solar provoca o
esmaecimento de cores, amarelamento do papel e esfacelamento do couro.
· Não encostar as estantes nas paredes: evita-se que a umidade presente nas paredes se
transmita aos volumes.
· Colocar telas protetoras contra insetos nas janelas de bibliotecas situadas em locais de
muita vegetação.
¨ Não abrir os livros que forem atingidos diretamente por água e que estejam com as
folhas molhadas.
· Intercalar papel mata-borrão para secar as folhas e as capas de livros atingidos por água.
· Nunca secar os livros molhados com calor: sol, forno de cozinha, secador de cabelo. O
calor em excesso faz o papel secar muito rapidamente, causando ondulação do material.
· Usar as duas mãos para virar as páginas de jornais: segurar no topo e no pé da página
para virá-lo.
· Optar por encadernação inteira, ao mandar encadernar um livro. Não sendo possível
fazer encadernação inteira, optar por encadernação meia com cantoneiras.
Higienização de Acervo
A operação técnica de higienização nada mais é do que manter o acervo de modo limpo e
asséptico. Uma operação tão simples de ser realizada e que, por isso mesmo, passa
desapercebida para nós, transforma-se a curto prazo em um dos mais sérios problemas
enfrentados por bibliotecários, arquivistas e por todos aqueles que têm a missão de manter
um acervo em bom estado.
A poeira, depositada dias após dias sobre os livros e documentos, causa sérios danos para a conservação do
acervo. O acúmulo de poeira na superfície das obras interfere no seu aspecto estético e constitui-se em uma
fonte contínua de acidez e degradação. Sendo assim, a higienização deve ser executada de modo sistemático,
a fim de manter o acervo livre dessa fonte contínua de acidez, deixando-o o mais saudável possível. Os
procedimentos técnicos básicos para a atuação na área de higienização são os seguintes:
· Limpar os livros com trinchas ou pincel nas áreas da cabeça (parte de cima), no pé (parte de
baixo) e na goteira (parte lateral). Deve-se segurar o livro pelo centro com a lombada
voltada para cima, para evitar que, durante o processo de limpeza, a poeira penetre por
entre as folhas. Os livros que forem incorporados ao acervo devem ter prioridade no
processo de higienização. Estes livros devem ser limpos individualmente, e folha a folha,
forrando-se a mesa de trabalho com papel de tonalidade clara (branca de preferência) para
possibilitar a identificação da sujidade removida. O ideal é utilizar uma mesa de
higienização com sucção.
· Reforçar a limpeza, com pincel ou trincha, no centro das folhas do livro. Este é o local
preferido pelos microorganismos para se desenvolverem e atacarem o papel. Isso se deve,
principalmente, ao fato de ser a lombada do livro coberta com espessa camada de cola em
geral de base protéica que se torna uma fonte potencial de alimento para os
microorganismos.
· Iniciar a higienização das estantes pela prateleira superior. A limpeza pode ser feita com o
auxílio de um aspirador de pó doméstico, de flanela ou perfex. Essa limpeza é denominada
de limpeza a seco, pois não utiliza vias aquosas de limpeza.
· Trabalho de higienização dos livros e das estantes deve ser feito segundo escala de trabalho
a ser estipulada. A princípio de 2 em 2 meses, de acordo com o tamanho do acervo.
Atenção especial deve ser tomada ao se utilizar o aspirador de pó para limpeza das áreas
externas do livro, devem-se observar os seguintes procedimentos:
Higienização de Documentos
A limpeza de documentos avulsos deve ser feita com o auxílio de pó-de-borracha. O pó-de-
borracha é facilmente obtido através da seguinte operação:
· Ralar a borracha Tk plastic em ralador inox, a fim de obter uma fina película.
· Utilizar tecido de puro algodão para ajudar a fricção e evitar o contato com os dedos.
Higienização do Assoalho
A remoção da poeira depositada no assoalho deve ser feita com cuidado, a fim de evitar o seu deslocamento
para a superfície das estantes e para os livros. Idealmente deve ser realizada com o auxílio de aspirador de pó,
pois assim evita-se que a poeira fique em suspensão. Não se deve utilizar vassoura ou espanadores como na
higienização doméstica, esse procedimento faz com que a poeira se desloque de um local para outro.
Procurar utilizar, na impossibilidade de ter aspirador de pó, a vassoura revestida de pano levemente
umedecido. É necessário que a poeira grude no pano, evitando o seu deslocamento para outra área do acervo.
Pode-se também utilizar o pano levemente umedecido em mistura de lisoform e álcool,
(uma parte de lisoform para duas partes de água) para evitar a proliferação de
microorganismos.
Em todo esse processo é fundamental que o pano de chão nunca esteja molhado. Para
saber se está no ponto correto de utilização, deve-se torcer o pano até não pingar nenhum
excesso líquido. Ao ficar saturado de sujidade, o pano deve ser lavado ou substituído por
outro. A utilização do pano sujo causará apenas o deslocamento de sujidade de uma área
para outra.
· Não abrir o livro molhado ou úmido para tentar secar as folhas do livro. Ao abrir,
aleatoriamente, as folhas do livro, a água, depositada em algumas folhas, penetra para
outras não atingidas ou levemente atingidas, causando o alastramento do problema.
· Intercalar o papel mata-borrão entre as capas e retirar todo o excesso de água possível.
· Não expor o livro ao sol para secar, nem colocá-lo perto de forno. A secagem com calor
se dará muito rapidamente, causando grande deformação do papel.
· Produtos inflamáveis devem ser guardados isolados em armários especiais e longe das
áreas de trabalho e circulação de pessoas.
A montagem de exposições de livros, gravuras e mapas deve sempre obedecer a diretrizes básicas de
conservação, evitando-se, assim, que as peças sofram degradação durante o período de exposição.
Apesar de o período de uma exposição ser curto, os problemas que advêm da exposição
inadequada das peças causam danos irreversíveis ao material, o que costumamos denominar
de envelhecimento precoce do material ou envelhecimento acelerado do material.
Cuidados especiais devem ser tomados em relação à montagem, à iluminação e às vitrines.
Na montagem das gravuras, mapas e livros a serem expostos devem-se obedecer às
seguintes recomendações:
· Utilizar cartão neutro com gramatura de no mínimo 600gr, a fim de afastar a obra em
relação ao vidro.
· Não utilizar fitas adesivas ou colas para a fixação das gravuras no cartão de base do
passe-partout.
· As gravuras nunca devem ser expostas sob os efeitos da luz solar ou incandescente. A
recomendação de iluminação é de no máximo 60 lux luz.
· As peças que forem expostas sem passe-partout devem sempre ter um afastamento em
relação ao vidro, evitando o contato direto da gravura com o vidro.
· Os livros expostos abertos devem ter suportes especiais de sustentação (“berço”) como
medida de proteção a sua estrutura.
Conclusão