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Publicado em NOVA ESCOLA 24 de Abril | 2019

Bem-estar

Bem-estar do professor melhora o


desempenho dos alunos
Conheça o trabalho de um pesquisador que desenvolveu um treinamento
com foco no bem-estar de professores para propor um novo modelo de
Educação
Ana Carolina C D'Agostini

Alunos praticam meditação em sala de aula Crédito: Getty Images

Os índices de depressão ao redor do mundo aumentaram de maneira alarmante nos últimos 50 anos.
A média de idade do primeiro episódio depressivo migrou da fase adulta para o início da adolescência.
Pesquisas, como a de McLeod & Fettes, Trajetórias de Fracasso: O percurso educacional de crianças
com questões de saúde mental e de Steinberg, A idade da oportunidade: lições sobre as descobertas
científicas da adolescência, indicam que comprometimentos na saúde emocional dos adolescentes
contribuem para desempenho acadêmico mais baixo, maior porcentagem de faltas, diminuição do
autocontrole e maior taxa de evasão escolar. Além disso, outros estudos como o de Nidichi e um grupo
de pesquisadores sugerem que a promoção de bem-estar em idade escolar é um fator de proteção
contra a depressão na juventude e auxilia no desenvolvimento da criatividade, estimula a coesão social
e maior senso de cidadania até a idade adulta. Tais evidências sugerem a necessidade de um modelo
educacional que enfatize o bem-estar emocional dos estudantes, priorizando na mesma medida o
conteúdo acadêmico.

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me ajudar?

Com base nesse cenário, o economista e psicólogo mexicano Alejandro Adler defende um novo
paradigma para a Educação que contribua para o desenvolvimento integral do ser humano com base
em estudos sobre a união entre bem-estar, educação, habilidades socioemocionais e políticas públicas
com foco no professor. Para isso, ele desenvolveu uma pesquisa para a sua tese de doutorado na
Universidade da Pensilvânia (Estados Unidos) propondo um modelo de Educação Positiva com ênfase
no treinamento de professores em práticas de bem-estar que, consequentemente, têm impacto
benéfico tanto na saúde emocional dos professores como na dos seus alunos. O trabalho de Adler,
feito em escolas públicas do Butão, México e Peru, ao longo de três anos, teve amplo reconhecimento,
se transformando inclusive em política pública educacional nesses países e tendo levado o
pesquisador a atuar também como um dos membros do Comitê Internacional de Bem-Estar da ONU
(Organização das Nações Unidas).

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Professora explica técnica de mindfulness a seus alunos na Educação Infantil Crédito:


Mindfulness.org

Com base na teoria de Martin Seligman, Adler desenvolveu um programa intensivo de 10 dias para o
treinamento de professores com foco na promoção de bem-estar e na Educação Positiva, linha de
pensamento baseada nos princípios da Psicologia Positiva. Tal modelo educacional, paralelamente ao
aprendizado de conteúdos acadêmicos, enfatiza o uso das forças de caráter individuais, no trabalho
das emoções positivas, e na motivação individual para reforçar o aprendizado. Somado a esses
princípios, o cultivo e o aprendizado de práticas de bem-estar para alunos, professores e funcionários
fazem parte de maneira intrínseca e instrumental do treinamento para, posteriormente, serem
aplicadas no cotidiano escolar. Como exemplo, o currículo desenvolvido juntamente com o Ministério
da Educação do Butão, país conhecido por medir o índice de Felicidade de sua população, incluiu dez
habilidades “não-acadêmicas” no projeto pedagógico das escolas públicas. São elas:

1. Mindfulness: prática de meditação cujo foco é a consciência dos próprios pensamentos, das
emoções e do entorno;
2. Empatia: ser capaz de identificar o que outras pessoas estão pensando ou sentindo;
3. Autoconhecimento: saber reconhecer as próprias virtudes, limitações e objetivos;
4. Manejo das emoções: identificar, compreender e ser capaz de manejar as próprias emoções;
5. Comunicação: se comunicar de maneira ativa e construtiva;
6. Relacionamento interpessoal: desenvolver relacionamentos saudáveis com colegas e familiares;
7. Pensamento criativo: desenvolver ideias inovadoras e aplicáveis;
8. Pensamento crítico: contextualizar, aplicar, analisar, sintetizar e avaliar as informações
disponíveis para estruturar as próprias crenças e ações;
9. Tomada de decisão: escolher as melhores opções dentre as disponíveis;
10. Resolução de problemas: acessar de maneira efetiva o que está disponível no ambiente para
resolver questões práticas e teóricas.
Tais habilidades foram ensinadas aos professores ao longo do treinamento para que fossem incluídas
nas disciplinas regulares ou ensinadas nas aulas do curso Treinamento de Habilidades para a Vida –
incluído na grade escolar.

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O principal aprendizado que o pesquisador enfatiza é que práticas de bem-estar na escola devem ser
incluídas na cultura escolar e propor mudanças pedagógicas, respeitando os princípios de cada
instituição e os valores que guiam suas práticas. Incluir essas práticas no Projeto Pedagógico, como
demonstram resultados de pesquisas consistentes, melhora não só os resultados acadêmicos, mas
também os índices de bem-estar e as habilidades socioemocionais de professores, funcionários e
alunos.

Ana Carolina C D'Agostini é psicóloga e pedagoga com formação pela PUC-SP e mestre em
Psicologia da Educação pela Columbia University. Trabalha como consultora de projetos em
competências socioemocionais e é consultora do projeto de Saúde Mental da Nova Escola.

Referências Bibliográficas

Adler, Alejandro (2016). Teaching Well-Being increases Academic Performance: Evidence From
Bhutan, Mexico, and Peru. Publicly Accessible Penn Dissertations. 1572.
http://repository.upenn.edu/edissertations/1572

Birmaher, B., Ryan, N. D., Williamson, D. E., Brent, D. A., Kaufman, J., Dahl, R. E., & Nelson, B.
(1996). Childhood and adolescent depression: a review of the past 10 years. Part I. Journal of
the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, 35(11), 1427-1439.

McLeod, J. D., & Fettes, D. L. (2007). Trajectories of failure: The educational careers of children
with mental health problems. American Journal of Sociology, 113, 653-701.

Nidich, S., Mjasiri, S., Nidich, R., Rainforth, M., Grant, J., Valosek, L., … & Zigler, R. (2011).
Academic achievement and transcendental meditation: A study with at- risk urban middle
school students. Education, 131, 556-564.

Seligman, M. E. P., Ernst, R. M., Gillham, J., Reivich, K., & Linkins, M. (2009) Positive education:
Positive psychology and classroom interventions. Oxford Review of Education, 35, 293–311.

Steinberg, L. (2014). Age of Opportunity: Lessons from the New Science of Adolescence.
Houghton Mifflin Harcourt.

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