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INFORMAÇÃO JURÍDICA

Colunas Berenice
Neubhaher

INFORMAÇÃO VS DOCUMENTAÇÃO JURÍDICA


[Fevereiro/2011]

A informação torna-se um insumo básico para a própria sobrevivência das


sociedades de Advogados e identificá-los é a função do profissional da
informação.

Em relação ao conceito de “informação”,

[...] Wurman entende que esse termo só pode ser


aplicado à "aquilo que leva à compreensão (...) O que
constitui informação para uma pessoa pode não passar
de dados para outra" (1995, p.43). Páez Urdaneta
também descreve o conceito de informação como dados
ou matéria informacional relacionada ou estruturada de
maneira potencialmente significativa (apud Ponjuán
Dante, 1998, p.3). Da mesma maneira, Miranda
conceitua informação como sendo "dados organizados
de modo significativo, sendo subsídio útil à tomada de
decisão" (1999, p.285). (VALENTIM, 2009, p. 1)

O desafio é selecionar as informações realmente confiáveis e relevantes, no


meio deste enorme volume de informações com circulação desordenada.

Teixeira Filho (1998) diz que “no ambiente de mudanças atual, informação é
vital... Muito mais importante [que quantidade] é a qualidade da
informação..., informações íntegras, atualizadas, precisas e no tempo certo
para a tomada de decisão”.

A organização sistemática da informação passa pela análise documentária e


pelo raciocínio investigativo da pesquisa.

Sianes (2005, p. 258) destaca que “a oferta [de informações] excede a


demanda, sendo um grande desafio processar as informações –
transformando-as em conhecimento – e prover seu acesso aos usuários
potenciais, por meio dos mais diversos canais e formas de comunicação”.

Apesar de trabalhar com as mesmas fontes de informação jurídica e


legislativa, diferentemente de outras instituições do Direito, o produto da
biblioteca da advocacia pressupõe outra relevância estratégica e outra forma
de apresentação. A relevância da informação jurídica no ambiente da
advocacia está intimamente ligada aos progressos que ocorrem no mundo dos
negócios e seus efeitos legais, a fim de manter a capacidade de resposta e
oferecer a melhor orientação legal disponível.

Portanto a informação jurídica é “toda unidade do conhecimento humano que


tem a finalidade de embasar manifestações do pensamento daqueles que
lidam com a matéria jurídica, quando procuram estudar ou regulamentar
situações, relações e comportamentos humanos, ou ainda quando interpretam
e aplicam dispositivos legais.” (PASSOS, 1994, p.363)

Efetivamente, a coleta da informação jurídica transita pelas mais diversas


fontes, e enquadra-se bem no processo de inteligência competitiva.

Importante esclarecer que “a expressão 'informação legal' não é sinônimo de


informação jurídica, trata-se apenas de uma tradução inadequada de legal
information, que na maioria dos casos significa apenas a base legal ou
legislação que ampara determinado ato ou decisão” (PASSOS, 2009, p. 94).

Para Cecília Andreotti Atienza

Entende-se por “Documentação Jurídica” a reunião,


análise e indexação da doutrina, da legislação (leis,
decretos, decretos-leis, atos, resoluções, portarias,
projeto de leis ou de decreto legislativos ou de
resoluções legislativas, ordens internas, circulares,
exposições de motivos etc.), da jurisprudência
(acórdãos, pareceres, recursos, decisões etc.) e de todos
os documentos oficiais relativos a atos normativos ou
administrativos. (ATIENZA, 1979, p.19)

A aplicação da linguagem documentária na documentação jurídica é


fundamental na recuperação e compreensão da informação. Propicia uma
ordem lógica aos termos que regem a biblioteconomia jurídica.

A habitual ferramenta de Gestão de Documentos (GED), encontrada em


escala nos escritórios, são softwares especialistas em capturar, indexar,
armazenar, consultar e gerenciar versões digitalizadas ou produzidas em meio
eletrônico (e-mails, documentos de textos, tabelas, apresentação etc.).
Criados com a finalidade de controlar grandes massas documentais, que
ocupam volumosos e caros espaços, os GED’s são eficazes no controle de
acesso e segurança aos documentos das redes corporativas. Com o
documento criado em meio eletrônico e a certificação digital, o original do
documento é totalmente eletrônico.

Essa ferramenta poderosa é acometida do mesmo defeito das ferramentas de


busca na internet (Google, Yahoo, Microsoft Live Search, Craiglist etc.), as
informações disponibilizadas nas redes não são, em sua maioria, estruturadas,
sofrem o processo de folksonomia, onde o próprio usuário faz a indexação.
Esse descuido com a customização da informação provoca perdas
significativas de conteúdo ou excessiva generalização das mesmas.

A forma adotada para sanar esse problema, é a criação de banco de dados


separadamente ao GED, onde é selecionada e estruturada a informação,
adotando-se a linguagem documentária.

Nas palavras de Fujita (2000)

uma Linguagem Documentária, também chamada de


Linguagem de indexação, é um conjunto controlado de
termos usado para representar os assuntos dos
documentos. E o objetivo da Linguagem Documentária é
o controle de vocabulário, isto é, controlar a
terminologia de área ou áreas do conhecimento através
do estabelecimento de um conceito/interpretação
definido aos termos de acordo com as necessidades de
uso do sistema. Para atingir esse objetivo, a Linguagem
Documentária é formada de vocabulário e sintaxe.
O vocabulário se refere à relação dos descritores usados
para a identificação do conteúdo de um documento e a
sintaxe se refere às regras utilizadas para a combinação
dos descritores usados para a identificação do conteúdo
de um documento.

A documentação agrega valor à informação, atribue relevância e pertinência.


No contexto competitivo e na atividade de inteligência voltada para o mundo
dos negócios, a documentação busca o desenvolvimento e manutenção de
vantagens em relação aos concorrentes.

Com base na literatura especializada e na observação das sociedades de


Advogados, as competências e habilidades exigidas aos Bibliotecários de
Advocacia, a competência pode ser definida como um “[...] conjunto de
conhecimentos, habilidades e experiências que credenciam um profissional a
exercer uma determinada função.” (MAGALHÃES ET AL., 1997, p.14 apud
BARBALHO; ROZADOS, 2008, p. 2). Portanto, a competência está relacionada
à combinação de experiência e destreza. Philippe Zarifian (2001 apud
BARBALHO; ROZADOS, 2008) afirma que a competência é de iniciativa e
responsabilidade do indivíduo frente às situações de trabalho complexas, a
partir de uma postura reflexiva. Autores como Le Boterf (1999 apud
BARBALHO; ROZADOS, 2008) e Dutra et al (1998 apud BARBALHO;
ROZADOS, 2008) abordam a competência não somente como um conjunto de
qualificações que um indivíduo detém, mas também como o produto de tais
qualificações aplicadas ao ambiente de trabalho.

A atitude diz respeito aos aspectos sociais e afetivos relacionados ao trabalho.


O conhecimento corresponde a uma série de informações assimiladas e
estruturadas pelo indivíduo, que lhe permitem entender o mundo. A
habilidade, por sua vez, é a capacidade de aplicar e fazer uso produtivo do
conhecimento adquirido. Essas três dimensões da competência estão
interligadas e são interdependentes, uma vez que, para exposição de uma
habilidade, presume-se que o indivíduo conheça princípios e técnicas
específicas. (BARBALHO; ROZADOS, 2008).

Diante do exposto, as competências e habilidades do Bibliotecário


concentram-se na análise da contribuição do profissional da informação para
o escritório e clientes, bem como no modo dela ser concretizada, exigindo-se
assim, não uma só competência, mas um conjunto delas, que envolve tanto
um saber geral quanto um conhecimento específico para bom exercício no
trabalho.

Na próxima coluna será abordado o tema “Fonte de pesquisa jurídica”.

REFERÊNCIAS

ATIENZA, Cecília Andreotti. Documentação jurídica: introdução à análise e


indexação de atos legais. Rio de Janeiro: Achiamé, 1979. 266p.

BARBALHO, C. R. S. ; ROZADOS, H. B. F. Gestão do conhecimento através do


mapeamento de competências O case do Sistema CFB/CRB. In: IX Workshop
Brasileiro de Inteligência Competitiva e Gestão do Conhecimento, 2009,
Belém, Pará. Anais ... Rio de Janeiro : Finep, 2009.

FUJITA, Mariângela Spotti Lopes, CESSEL, Vera Lúcia. Avaliação de linguagens


documentárias para controle terminológico em áreas especializadas.
Apresentado em: Simpósios de RITerm, 7,Lisboa, 2000. Disponível em:
<www.riterm.net/actes/7simposio/fujita.htm>. Acesso em: 29 set.2008.

LE BOTERF, Guy. Competénce et navigation profissionnelle. Paris: Éditions


d´Organisatio, 1999.

MAGALHÃES, Sérgio, et alli. Desenvolvimento de competências: o futuro


agora! Revista Treinamento & Desenvolvimento, São Paulo, p. 12-14, jan.
1997.

MIRANDA, R. C. da R. "O uso da informação na formulação de ações


estratégicas pelas empresas". Ciência da Informação, Brasília, v.28, n.3,
p.284-290, set./dez. 1999.
PASSOS, Edilenice e BARROS, Lucivaldo Vasconcelos. Fontes de Informação
para pesquisa em direito. Brasília: Briquet de Lemos, 2009.170 p.

PONJUÁN DANTE, G. Gestión de información en las organizaciones: principios,


conceptos y aplicaciones. Santiago: CECAPI, 1998. 222p.

SIANES, Marta. Compartilhar ou proteger conhecimentos? Grande desafio no


comportamento informacional das organizações. In: STAREC, Claudio,
GOMES, Elisabeth, BEZERRA, Jorge (orgs.) Gestão estratégica da informação
e inteligência competitiva. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 255-270.

TEIXEIRA FILHO, Jayme. Qual é o futuro dos profissionais da informação?


1998. Disponível em: <http://www.informal.com.br> Acesso em: 25 mar.
2009

VALENTIM, Marta Lígia Pomim. Inteligência Competitiva em Organizações:


dado, informação e conhecimento. Datagramazero, Rio de Janeiro, v.3, n.4,
ago. 2002. Disponível em: <http://www.dgz.org.br> Acesso em: 11 mar.
2009.

WURMAN, R. S. Ansiedade de informação: como transformar informação em


compreensão. 5.ed. São Paulo: Cultura Editores, 1995. 380p.

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