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Poder

e
Administração

Maria Rita Silveira Botelho – Aluno 21601229

Administração Pública | Ciência Política e Relações Internacionais | 2017/2018

1
Índice Geral

Introdução……………………………………………………………………...........…..3

1.O Estado e seus conceitos……………………………………………………………..4


1.1 Estado e suas evoluções…………………………………………………….5
1.2 Estado e Poder…………………………………………………………….. 6

2. O Estado português …………………………………………………………………..7


2.1 O Poder executivo…………………………………………………………..8

3. Estado e administração……………………………………………………………….9
3.1 Administração Pública ……………………………………………………10

3.2 Poderes do governo face à Administração Pública ……………………….11

3.3 Classificações da Administração Pública …………………………………11

3.4 Centralização e Concentração …………………………………………….12

Conclusão ……………………………………………………………………………..14

Bibliografia …………………………………………….………………………….......15

2
Introdução

Este trabalho tem como principal objetivo a compreensão da relação entre poder e
Administração Pública e é realizado no âmbito da disciplina de Administração Pública.
Procuramos entender como o poder é exercido no seio da Administração Pública e qual
o seu respaldo na Lei.
Para o efeito, primeiro enquadramos o elemento Estado na história, através de uma breve
introdução. Depois definimos Poder, Poder Político e o seu alcance nas suas várias acessões. Em
seguida procuramos estabelecer uma correlação entre Estado e Poder e apresentamos um breve
esboço do Estado português. No capítulo seguinte temos como objetivo: relacionar
Administração Pública e o Estado; salientar a forma como o poder é exercido na Administração
Pública, como é exercido através do governo; como são classificadas as diversas facetas da
Administração Pública; e ainda as formas do Estado atuar.
Por fim, apresentamos uma conclusão que procura responder às seguintes questões: Qual
o significado do papel do Estado quando relacionado com a Administração Pública e qual a
distinção entre Poder e Administração.

3
1. O Estado

O homem através dos tempos sempre sentiu a necessidade de se agrupar para melhor
responder às suas necessidades. Foi assim estabelecendo elos entre si, primeiro dentro da mesma
família1, depois pela proximidade, pela partilha dos mesmos interesses, tais como interesses
religiosos, profissionais, e depois chegando a uma sociedade política, o Estado.2

Segundo Hegel “O Estado é um produto da sociedade quando ela chega a um determinado


grau de desenvolvimento”3; isto é, quando a sociedade é incapaz de resolver os seus problemas,
procura a resposta. Assim, existe quem diga que “O Estado evoluiu a partir de um punhado
complexo de necessidades humanas”4

Jean Bodin defendia que o Estado é “um governo justo daquilo que lhes é comum com
poder soberano, sendo o poder soberano absoluto e perpétuo”.(Castro 2012)5

É sobretudo a partir de Maquiavel que o uso do termo ‘Estado’ se torna corrente e, com
ele, toda uma série de discussões em torno das formas de ordenamento político e das
configurações do poder que ainda hoje perdura 6. E muitas são as vezes que a palavra Estado se
cruza com a palavra Poder, visível em Maquiavel já no século XVI.

Na conceção do Estado weberiano, o poder concentra-se e monopoliza-se no que diz


respeito à elaboração e à aplicação das políticas públicas, tendo como objetivo o controle social
e a ordem política, que são fundamentais à manutenção da unidade do Estado nacional.7

Com o contributo de Locke e mais tarde Montesquieu a “necessidade do poder travar o


poder”, e de haver uma separação efetiva dos poderes, contribuiu para uma evolução da relação
entre Estado, poder e administração.

Esta relação depende sempre do tipo ou forma de poder ou governo. Embora este trabalho
se vá debruçar sobre o Estado democrático e a forma de governo da Democracia, vamos aqui
relembrar as diversas formas de governo.

Aristóteles deixou como seu legado uma análise dos tipos de governo, segundo dois
critérios; um critério quantitativo e outro valorativo. O critério quantitativo classifica pelo número

1 Duverger, Maurice, (1983)p. 147


2 Fernandes, António José, 2010, p. 75
3 Miranda, Jorge. ( 2014). p. 19
4 Castro, Thales (2012) p.101
5 Cfr. Castro, Thales (2012). P. 106
6 Cfr. Castro, Thales (2012). P. 100
7 Castro, Thales (2012). P.102

4
de pessoas que governa, que lhe chama de formas puras: o governo de um só, a monarquia; o
governo de alguns, a oligarquia; e a politeia como governo de muitos. O critério valorativo, que
apelida de formas degeneradas, divide em tirania, oligarquia e democracia.

Montesquieu no seu” De L’ Esprit de Lois”, agrupa as formas de governo como sendo a


república, a monarquia e o despotismo. Também ele fez esta distinção tendo em conta aspetos
valorativos, destacando-se o moderado, que ele está no alicerce da ideia de separação de poderes
que acima mencionamos.

1.1 Estado e suas evoluções

A evolução do papel do Estado sofreu alterações através dos tempos desde o absolutismo
até aos dias de hoje. Também os fins do Estado foram sendo entendidos de forma diferente. A
segurança interna, a segurança externa foram sempre pilares de qualquer tipo de estado, e a forma
de organização política. O estar organizado é que já o define como sendo Estado, isto é um tipo
especifico de organização política. Claro que a existência de uma Constituição, é o confirmar da
vontade de um determinado povo se organizar de uma determinada forma num determinado
território. 8

O Estado tem também por ele assumido diferentes formas de atuar. Desde a revolução
americana, que deu início a este ciclo constitucional, observamos diversas formas de se entender
o Estado. Inicialmente o Estado liberal, defensor dos direitos liberais, não advoga qualquer forma
de governo, advoga sim que o poder seja controlado para que não se torne ilegítimo, aludindo a
formas democráticas. O limite à autoridade é essencial para que os direitos individuais sejam
devidamente assegurados. É a autoridade a ser exercida pela lei e não pela força. É a lei positiva
como instrumento do Poder.9

Mais tarde, o Estado social deu lugar a uma necessidade de se defender esses direitos e
não só enunciá-los. É nesta altura que vimos surgir um Estado social produtor, mais interveniente
na economia, que ao adquirir uma magnitude insuportável derivou num Estado mais regulador. É
no Estado social, ou “Welfare” que se deu uma crise de “eficácia”, aumentando as suas estruturas,
10
recursos e despesas, perdendo mobilidade e agilidade. ou como Niklas Luhman definiu ao
defender que o Estado “pediu demasiado aos seus próprios instrumentos de implementação”.11

O Estado regulador compreende três tarefas essenciais: estabelecer normas jurídicas;


fiscalizar a sua aplicação; e ainda proteger os mais necessitados.

8 Miranda, Jorge (2014) Manual de Direito constitucional volume II, P.34


99 Moreira, Adriano (2014) p.28
10 Cruz, Manuel Braga (2015) p.115
11 Cruz, Manuel Braga (2015) p.115

5
1.2 Estado e Poder

A diferença entre Estado e uma sociedade é a existência de um poder político definido e


organizado.

Política é “a ambição de participar no poder ou de influenciar a partilha do poder, quer


seja entre estados, quer seja no seio de um Estado entre os grupos humanos que este abrange”,
12
ou “como a técnica que visa alcançar os melhores resultados com o menor dispêndio de
esforços”, ou como a arte de governar” 13

O Poder é toda a capacidade de condicionar o comportamento alheio, e “é legítimo se há


um consenso a seu respeito”14

Segundo Thales de Castro, poder no sentido amplo, está presente em todos e quaisquer
cenários onde existam relações humanas. 15 Mas no seu sentido estrito está sempre relacionado
“com o estudo de ciência politica contemporânea envolvendo os órgãos do estado em todos os
seus níveis”.

O poder pode ser exercido por um só (monarquia), por vários (aristocracia e oligarquia)
e por muitos (democracia).

Numa monarquia o poder pode ser atingido pela via do sangue, isto é, de forma
hereditária, e pela via da conquista.16 Aqui o poder é exercido pela monarquia, que tal como a
palavra indica é o poder concentrado num só.

“Em alguns países afirma-se que a consideração do Estado como pessoa jurídica foi o
mais relevante ataque intelectual contra a construção monárquica do Estado, por o monarca se
converter em órgão do Estado”17

Para Russell, poder é “a produção de efeitos pretendidos” .18

Assim, o poder político consiste na faculdade de definir regras, ditar leis e obrigar ao seu
cumprimento eventualmente pela força.

“O Poder em todas as circunstancias é sempre capturado por um pequeno grupo de


homens e tem uma efetividade independente da legitimidade”.19

12 Weber, Max, 2000, p. 17,


13 Fernandes, António José, 2010, p. 11
14 Duverger, Maurice, 1983 p. 155
15 Thales, Castro, 2012 p.163
16 Duverger, Maurice ( p.166)
17 Miranda, Jorge. (2014). P.43
18 Russell, Bertrand (1996) p.25
19 Moreira, Adriano. (2014)p.29

6
O poder quando alcançado por sufrágio direto, secreto e periódico, estamos na presença
de uma democracia. Assim, os órgãos executivos resultam de processos democráticos e
estabelecidos pela lei.

2.0 O Estado português


Foi em 1820 na esteira das diversas revoluções liberais, que Portugal através da sua
própria revolução liberal, entrou numa fase constitucional e de definição do poder. É a partir de
1822, com a sua primeira constituição, que o Estado português começa a definir a sua organização
política com separação de poderes pela primeira vez. A história constitucional portuguesa sofreu
20
avanços e recuos, alterações e confirmações até aos dias de hoje.

Mas tal como afirmamos foi aqui que se realizou a separação da administração e da justiça
à semelhança do realizado em França e que a separação dos poderes se tornou efectiva dando
lugar ao poder legislativo, judicial e executivo.21

Como sabemos os principais fins do estado são a segurança, a justiça e o bem-estar. Hoje
a lei fundamental da República portuguesa define e estabelece os direitos dos cidadãos face ao
poder e à organização do poder político. Só entendendo como os direitos do cidadão estão
defendidos e como o poder político está organização é que vamos conseguir definir a relação entre
poder e administração.

De acordo com a Constituição da Republica Portuguesa ( CRP), no seu artigo 2º a


república portuguesa é um Estado baseado na separação e interdependência de poderes. A
competência de cada órgão de soberania (artigo 110º da CRP) estão definidos na lei.

Portugal como Estado de direito democrático ( artigo 2º da CRP), “ funde-se na legalidade


democrática e subordina-se à Constituição( artigo 3º nº 2 da CRP). Assim toda a organização do
Estado nas suas linhas gerais está definida na sua Lei Fundamental. Regime republicano,
semipresidencialista, com 4 órgãos de soberania.

O Presidente da República, garante da independência nacional, unidade do Estado, e o


regular funcionamento do Estado (artigo 120º da CRP); o órgão legislador por excelência, o
Parlamento; o órgão executivo, o Governo, o órgão judicial, e os Tribunais.

O Primeiro Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos


representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais. Os restantes

20 Miranda, Jorge. ( 2014). p. 199


21 Amaral, D. Freitas. ( 2016). p. 65

7
membros do governo são nomeados também pelo Presidente da República, por indicação do
Primeiro Ministro.

A função do órgão governo (artigo 182º da CRP) é o da condução da política geral do


país e de órgão superior da Administração pública. Como tal e de acordo com estas funções são
lhe atribuídas as competências constantes nos artigos 197, 198 e 199 da CRP.

Competências politicas, que compreendem entre outros a referenda dos atos do Presidente
da República, propostas de Lei e de resolução e realizar Convenções e Acordos Internacionais.
As suas competências legislativas englobam entre outras, fazer decretos-leis de matérias não
reservadas à Assembleia da República e as leis que dizem respeito ao seu funcionamento e
organização. As suas competências administrativas são regulamentação, planeamento e execução
do orçamento, promoção do desenvolvimento, funcionar, dirigir o governo como órgão superior
da administração publica, entre outras. O governo tem assim dupla dependência, a do parlamento
e do Chefe de Estado.

Para o âmbito deste trabalho o artigo 199º, que diz respeito às competências
administrativas é aquele sob o qual este trabalho mais incide.

2.1 O Poder Executivo

Segundo Francis Fukuyama “Um país é democrático quando é concedido à respetiva


população o direito de escolher o próprio governo através de eleições periódicas, secretas e
multipartidárias, com base no sufrágio universal e igualitário”22 .

Em Portugal como acima referimos, o Primeiro Ministro, o chefe do governo, é nomeado


pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e
tendo em conta os resultados eleitorais. Para que um governo se mantenha em funções necessita
de ter apoio parlamentar para o efeito. Isto é, uma maioria no parlamento que lhe permita
governar. Esta maioria pode ser atingida diretamente pelo voto popular ou resultar de alianças
parlamentares mais ou menos estáveis.

Em Portugal temos inscritos 22 partidos políticos no tribunal constitucional, dos quais 7


têm assento parlamentar na XIII legislatura. O sistema de partidos em Portugal é classificado
como sendo de um pluralismo moderado.23

O voto em Portugal é um direito constitucional que constitui um dever cívico, tal como o
preceito constitucional o determina no artigo 49º da CRP.

22 Cf. Coelho, Miguel (2014) p. 56


23 Marques, Fernando Pereira, (2026) p. 116

8
Os círculos eleitorais estabelecidos correspondem aos distritos procurando obter o
equilíbrio e a democratização na representação popular, como por exemplo, tentando representar
tanto o voto rural como o urbano. Tendo assim sido feita a escolha de um sistema de representação
proporcional. Isto é, a tradução de votos em mandatos é aferida segundo um método proporcional,
o método de Hondt.

O que aqui gostaria de referir é que o sistema proporcional tem como característica
fundamental a pluralidade na representação e promove a representatividade de todos os sectores
do espectro político, ao contrário do sistema maioritário, que promove a existência de um sistema
de partidos bipartidário.

Uma vez empossado um governo, ele mesmo determina a sua lei orgânica. O decreto lei
251-A/2015 de 17 de dezembro aprovou o regime de organização e funcionamento do XXI
Governo Constitucional24. Sendo que é este que se encontra em vigor e que foi elaborado de
acordo com o artigo 198º nº 2 da CRP.

E este governo, tal como os anteriores e os que estão para vir, todos utilizarão a
Administração Publica na aplicação das suas políticas.

3. Estado e Administração
Importa aqui definir que a Administração Pública é a máquina através da qual o governo
aplica as suas políticas. Isto é, a administração é quem tudo faz, é o aparelho administrativo, é
quem sobre a orientação do governo leva a cabo as suas políticas, e realiza as missões do Estado.

Os governos estão sempre a ser avaliados pela sua capacidade de “deliver” e se a


administração publica não for eficiente dificilmente o conseguirão.25 E também é importante. o
facto que uma boa administração ser constituída por homens e mulheres capazes de alcançar os
propósitos desenhados pelo poder político. 26

A organização pública, e a sua burocracia, é reconhecida não apenas como sendo um


braço da governação, mas também como tendo um papel importante na própria governação.27

Em Portugal foi com Marquês de Pombal, em pleno mercantilismo económico, que


primeiro se identificou a necessidade de existir uma boa Administração.28

24 Cf. Decreto Lei nº 251-A/2015


25
Peters, B. & Pierre, Jon. (2012) p.10
26 Peters, B. & Pierre, Jon. (2012) p.10
27 Denhardt, Robert & Catlan, Thomas( 2015) p.14
28 Rocha, Oliveira J. A.(2013) p. 75

9
A Administração Pública é uma área pluridisciplinar, pois resulta ao longo da sua história
da incorporação na sua esfera dos mais diversos sectores da sociedade, tais como o direito, a
gestão, a economia, a sociologia e claro da ciência política.29

Assim, entende-se que a Administração Pública “ is central in the process of governing


society, no matter what form de government may take.”30

O Estado de forma a cumprir os seus objetivos, pode fazê-lo de duas formas: Fazer
diretamente ou fazer através de outas pessoas, isto é, ou através dos serviços que lhe são próprios
ou a quem o Estado vai pedir, incutir ou delegar.

3.1 Administração Pública

O conceito de Administração Pública pode ser definido de acordo com dois sentidos:
segundo a sua estrutura ou segundo a sua atividade. Segundo a sua estrutura, é um conjunto de
organizações públicas, um sistema de órgãos, serviços e agentes do Estado e de outras entidades
públicas, que visam a satisfação regular e contínua de necessidades coletivas. Segundo a sua
atividade, é a chamada “gestão pública”, isto é a atividade que esses órgãos desenvolvem.

A Administração Pública pode observada por diversos primas, nomeadamente: segundo


a constituição; segundo a sua relação com o governo, segundo a sua relação com o território, de
acordo com o seu sector de atividade, e ainda de acordo com a sua tipologia.

Mas aqui vamos definir o que é administração direta, o que é administração indireta e o
que é administração autónoma. Segundo a lei nº 4/2004, de 15 de Janeiro, que estabelece os
princípios e normas a que deve obedecer a organização da administração direta do Estado, a
mesma determina que integram a administração direta do Estado, os serviços centrais e
periféricos, que pela natureza das suas competências e funções, devam estar sujeitos ao poder de
direção do respetivo membro do Governo.

A administração indireta compreende assim organismos dotados de personalidade


jurídica própria, que procuram assegurar atribuições que devido à sua especificidade a pessoa
jurídica Estado escolheu não prosseguir através dos serviços da administração direta. Como
exemplo temos os Institutos públicos, que de acordo com a lei 3/2004 façam parte da
administração indireta.

A administração autónoma pode regional ou pode ser local. Aqui falamos de regiões
autónomas e do poder local, municípios e freguesias.

29 Rocha, Oliveira J. A.(2013) p. 88


30 Peters, B. & Pierre, Jon. (2012) p.10

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3.2 Poderes do governo face à Administração Pública

Segundo a Constituição da República Portuguesa, compete ao governo, no exercício das


suas funções administrativas de acordo com o art.º 199º , alínea d) da CRP, dirigir o Estado da
seguinte forma:

. Administração direta é exercida através do poder de direção, que se define da seguinte


forma; o poder de dar ordens e expedir instruções para impor a prática de atos necessários ao bom
funcionamento do serviço ou à conveniente interpretação da lei. Os órgãos que o exercem,
confundem-se com o Estado, na medida em que é a mesma pessoa coletiva.

. Administração indireta é exercida através do poder de superintendência, e de tutela, que


compreende o poder de rever, confirmar, modificar ou revogar atos administrativos praticados
por outrem. Estas são entidades que realizam os fins do Estado, mas que tem personalidade
distinta do Estado. Exemplos são empresas de direito público, tais como os institutos públicos
(IAPMEI, Universidades, instituto nacional de estatística)

. Administração autónoma, que é exercida pelo poder de tutela, que compreende “ingerir
a gestão (autorizando ou aprovando atos (suprindo a omissão de deveres legais) no intuito de
coordenar os interesses dos tutelados com interesses mais amplos representados pelo órgão
tutelar”. Consiste assim na faculdade de verificar o cumprimento da lei por parte destas
organizações. Estas entidades são também pessoas coletivas distintas do Estado, exercendo assim
este poder por outras entidades que não o Estado, mas de direito público.

3.3 Classificações da Administração Pública

Acima já referimos a classificação da Administração Pública segundo a constituição,


agora passamos a enunciar as restantes classificações.

Na sua relação com o governo, temos a seguinte classificação: Direta, indireta e


autónoma.

A relação direta, é exercida pelo governo com o poder de direção, que consiste na
faculdade de poder dar ordens e instruções. Na sua relação indireta, o governo exerce o poder de
superintendência, que se traduz na possibilidade de praticar ou modificar atos realizados pelos
órgãos responsáveis por estas organizações. O poder de tutela exercido pelo governo tanto na
administração indireta como na administração autónoma, consiste na faculdade de verificar o
cumprimento da lei por parte destas organizações.

Na sua relação com o território a Administração Pública é classificada da seguinte forma:


Administração central e Administração local. Administração central quando se trata de

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organizações com a competência sobre todo o território nacional, tal como a ordem dos médicos,
o INEM, a direção geral de saúde, etc. Administração local, é aquela cuja competência incide
sob uma parcela do território, tal como cada uma das autarquias.

A classificação de acordo com o sector de atividade, é a sua agrupação pelo seu sector de
atividade onde se inserem, tal como o sector da saúde, sector da educação, sector da defesa
nacional, etc. Por exemplo quando falamos de sector da saúde compreende a Direção Geral da
Saúde, os hospitais, etc.

Na classificação em relação à própria tipologia e à proximidade do Estado com a


administração. Também ela é dividida em administração direta e administração indireta. A
administração direta diz respeito ao próprio Estado e próxima do Estado e administração indireta
diz respeito a outras pessoas jurídicas para além do Estado e está mais distante.

O que importa referir é que nas organizações que compõem a administração direta, o
Estado confunde-se com as mesmas, pois os organismos não têm personalidade jurídica própria,
e a sua confunde-se com a do Estado.

À semelhança de organizações privadas as organizações públicas que compreendem a


administração indireta ou autónoma, são constituídas por diversos órgãos, dos quais destaquemos
os órgãos de caracter deliberativo e órgãos de carácter executivo. Por exemplo nos órgãos do
município, a assembleia municipal é o órgão deliberativo e a camara municipal é o órgão
executivo.

A Administração Pública tem como princípios fundamentais a prossecução do interesse


publico, e os demais princípios enunciados no artigo 266º da CRP. É também neste artigo, mas
no nº 2 que se faz menção de que AP está sujeita o principio da legalidade. Isto é, na AP só se
pode fazer o que lei permite. Ao contrário do que se pode fazer no sector privado, onde se pode
fazer tudo, exceto o expresso na lei.

3.4 Centralização e Concentração

Acima mencionamos as várias formas de como se exerce o poder na AP, mas não
relacionamos, ou definimos a sua relação em termos funcionais. Aqui o que se pretende é
relacionar a desconcentração ou descentralização de serviços prestados pelo Estado. A
desconcentração de serviços é realizada pela administração periférica e a descentralização pela
administração autónoma ou indireta.

Centralização no sentido lato é a ação e o efeito de centralizar, reunir várias coisas num
centro comum ou fazer com que as coisas dependam de um poder central.

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Um Estado centralizado é aquele em que todas as atribuições administrativas estão sob a
alçada da lei conferida ao Estado.

Assim num estado totalmente centralizado, os órgãos das autarquias são nomeados e
demitidos pelos órgãos do poder central, quando dependem diretamente do governo, ou mesmo
do partido único, seja esse o caso.

Pelo contrário, o poder quando é descentralizado, a lei define que os diversos níveis de
poder estão sujeitos a eleições livres. A sua eleição ou nomeação depende somente da vontade
dos seus eleitores. Estão igualmente sob a tutela administrativa para que o controlo da legalidade
seja garantido no seio de um Estado, de uma administração. Assim a função administrativa num
estado descentralizado não está somente confiada ao Estado, mas também a outras pessoas com
distintas personalidades jurídicas do Estado.

Quando a Administração Pública é desconcentrada, tanto na Administração direta do


Estado como na Administração de outras pessoas coletivas públicas, o poder de decisão tem a
forma de pirâmide hierárquica.

A descentralização segundo a CRP tem três níveis: Regiões Autónomas, (Madeira e


Açores), Regiões administrativas (embora contemplado no texto constitucional não está
implementado), e Poder Local que são as autarquias: Municípios (308) e freguesias (3091).

Hoje temos na agenda política, a descentralização de mais serviços. É na área da


mobilidade e dos transportes que o governo identifica como sendo prioritário o avanço. No que
diz respeito aos transportes procura-se descentralizar para as autarquias estas competências.31
Politicamente será necessário assegurar um consenso alargado na Assembleia da Republica, afim
de esta descentralização, poder chegar a bom porto.

A Administração Pública em todas as suas formas procura responder às necessidades do


Estado que serve. Agilizar o “Estado”, a “Administração”, aqui como o conjunto de organizações,
procura a eficiência é a uma das funções governativas.

Nos últimos anos e através do novo Código de Procedimento Administrativo, procura-se


obter uma relação mais próxima da sociedade face ao “aparelho”. Exemplo foi a introdução do
artigo 17º do CPA que estabelece a necessidade da administração ser aberta desde que a Lei o
permita.

31
Cabrita, Eduardo ( 2018)

13
Conclusão

O princípio Holístico eternizado por Aristóteles “O todo é maior do que a soma das
partes” é bem aplicável no bom funcionamento da máquina do Estado, na tão afamada
Administração Pública. Pois tal como Diogo Freitas do Amaral afirma,

“o Estado é a principal entidade de entre as que integram a administração, o governo é o mais


importante órgão administrativo do país, os ministérios, as direções gerais, as repartições publica
são serviços de maior relevância no panorama administrativo, e os funcionários civis são decerto
o maior corpo de elementos humanos ao serviço da Administração. Só que, em boa verdade,
tudo isso não passa de uma parte da Administração Pública no seu conjunto.”32

Aqui, o que se pretende é realçar o papel da Administração nos desígnios da governação.


Pois, sem Administração Pública nada acontece e esta enlaça a sociedade com o poder político.
Isto é, é o elo de ligação entre os cidadãos e o poder político.
A emissão de um novo código do procedimento administrativo em 2015, engrandece as
práticas da Administração Pública, e veio marcar de forma efetiva um novo ciclo da administração
publica e a sua relação com os cidadãos.
Acima tínhamos verificado que o novo CPA efetivamente tinha reafirmado a necessidade
de aproximação da máquina aos cidadãos. Este facto é bem evidente no seu artigo 11º que
estabelece o princípio da colaboração com os particulares.
O Poder político em Portugal colocou na Agenda Política a descentralização de serviços.
O seu desenho está na esfera da discussão pública e terá direto impacto na descentralização e na
Administração Púbica.

Um novo capitulo está a ser escrito e o importante é que possa contribuir para uma melhor
prestação da Administração nas suas diversas vertentes. Porque a Administração e o seu
funcionamento não é estático, mas sim dinâmico. E o que se pretende é que independentemente
de quem dá as ordens, a máquina seja eficaz, eficiente e célere.

32 Amaral, Diogo Freitas (2016) p.30

14
Bibliografia
Amaral, Diogo Freitas (2016). Curso de Direito Administrativo. Volume I. Lisboa: Edições
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