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COLÉGIO XIX DE MARÇO

educação do jeito que deve ser

2016
1ª PROVA PARCIAL DE LITERATURA
Aluno(a): Nº

Ano: 1º Turma: Data: 14/03/2016 Nota:

Professor(a): Renato Gorgulho Valor da Prova: 40 pontos

Orientações gerais:
1) Número de questões desta prova: 15
2) Valor das questões: Abertas (5): 4,0 ponto cada. Fechadas (10): 2 pontos cada.
3) Provas feitas a lápis ou com uso de corretivo não têm direito à revisão.
4) Aluno que usar de meio ilícito na realização desta prova terá nota zerada e conceituação
comprometida.
5) Tópicos desta prova:
- Teoria da Literatura;
- Auto da barca do inferno (1517), de Gil Vicente.

Texto para as questões de 1 a 3:

Isto
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo.
Não. Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
PESSOA, Fernando. Poemas Escolhidos.
São Paulo: Globo, 1997.
1ª Questão:
Este poema de Fernando Pessoa aborda aspectos fundamentais do conceito de Literatura.
a) Analise os versos Dizem que finjo ou minto / Tudo que escrevo no que ele traz de fundamental
para que um texto seja literário.

b) Com relação ao papel do leitor na construção da arte literária, analise o verso Sentir? Sinta quem
lê!

1ª PP de Literatura / 1º ano / Prof. Renato / Pág. 1


2ª Questão:
Releia este trecho:

Por isso escrevo em meio


Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
[...]
a) Levando em consideração que “estar ao pé” significa “aquilo que está próximo” e que “enleio”
significa “algo com o qual a pessoa tem uma relação direta” ou que é “de sua experiência pessoal”,
pensando no papel do escritor, do artista, faça uma análise baseada nos conceitos teóricos da
Literatura.

b) Eu simplesmente sinto / Com a imaginação. / Não uso o coração. Qual é a sua opinião quando
Pessoa afirma que não escreve com o coração, mas sim com a imaginação?

3ª Questão:
Fernando Pessoa é um dos poetas mais extraordinários do século XX. Sua obsessão pelo fazer
poético não encontrou limites. Pessoa viveu mais no plano criativo do que no plano concreto, e criar
foi a grande finalidade de sua vida. Poeta da “Geração Orfeu”, assumiu uma atitude irreverente.
Com base no texto e na temática do poema “Isto”, conclui-se que o autor
a) revela seu conflito emotivo em relação ao processo de escritura do texto.
b) considera fundamental para a poesia a influência dos fatos sociais.
c) associa o modo de composição do poema ao estado de alma do poeta.
d) apresenta a concepção do Romantismo quanto à expressão da voz do poeta.
e) separa os sentimentos do poeta da voz que fala no texto, ou seja, do eu lírico.

Texto para as questões 4 a 6:

Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,


Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
[...]

1ª PP de Literatura / 1º ano / Prof. Renato / Pág. 2


4ª Questão:
Relendo o fragmento do poema de Fernando Pessoa
a) Justifique, com elementos presentes no texto, a afirmação de que o poeta é um fingidor que
“finge... completamente”.

b) A quem se referem os verbos leem, escreve, sentem, teve e têm, na segunda estrofe?

LEITORES:

ESCRITOR:

5ª Questão:
O assunto do texto é a poesia, o poeta e o público. Trata-se, no caso, de poesia lírica, pois
a)o poema é curto e versa sobre a própria poesia.
b)um eu exprime suas emoções, ou “finge dor”.
c)o poeta fala de algo ficcional.
d)representa uma voz coletiva.
e)os versos são curtos e rimados.

6ª Questão:
A palavra do título indica que:
a) o texto apresentará a visão do eu-lírico sobre os outros com quem convive.
b) o poema tecerá considerações sobre a subjetividade do próprio eu-lírico.
c) o texto discutirá a formação do leitor.
d) o poema dialogará com os leitores em potencial.
e) o poema tecerá considerações sobre o amor.

Texto para as questões 7 e 8:

Vem um Frade com uma Moça pela mão, e um broquel1 e uma espada na outra, e um casco2
debaixo do capelo3; e, ele mesmo fazendo a baixa4, começou de dançar, dizendo:
Frade: Tai-rai-rai-ra-rã; ta-ri-ri-rã;
ta-rai-rai-rai-rã; tai-ri-ri-rã;
tã-tã; ta-ri-rim-rim-rã. Huhá!
Diabo: Que é isso, padre?! Que vai lá?
Frade: Deo gratias! Som cortesão.5
Diabo: Sabeis também o tordião6?
Frade: Por que não? Como ora sei!
Diabo: Pois, entrai! Eu tangerei7
e faremos um serão8.
Essa dama é ela vossa?
Frade: Por minha la9 tenho eu,
e sempre a tive de meu10,
(...)
Frade: Pera onde levais gente?
Diabo: Pera aquele fogo ardente
que não temestes vivendo.
Frade: Juro a Deos que nom t’entendo!
E est’hábito no me val?11
Diabo: Gentil padre mundanal12,
a Berzabu13 vos encomendo!
1ª PP de Literatura / 1º ano / Prof. Renato / Pág. 3
1 – Broquel: escudo pequeno. 2 – Casco: capacete. 3 – Capelo: capuz. 4 – Fazer a baixa: cantarolar ou assobiar a música de
uma “dança baixa”, espécie de dança cortesã então na moda. 5 – Deo gratias! Som cortesão: graças a Deus! Sou homem da
Corte. 6 – Tordião: tipo de dança. 7 – Tangerei: tocarei um instrumento. 8 – Serão: sarau. 9 – La: a. 10 – De meu: como
coisa minha. 11 – E est’hábito no me val?: esta batina de nada me vale? 12 – Mundanal: mundano. 13 – Berzabu: Belzebu,
o Diabo.

7ª Questão:
a) Como se chama o texto em itálico acima?

b) Em qual gênero literário se enquadra o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente?

8ª Questão:
Sobre o Auto da Barca do Inferno (1517), de Gil Vicente, responda:
a) O que é um auto?

b) Levando em conta o gênero textual em que se enquadra o Auto da Barca do Inferno, o que se
pode dizer sobre o narrador?

Texto para as questões 9 a 11

Muita coisa se poderia fazer em favor da poesia:


1 Esfregar pedras na paisagem.
2 Perder a inteligência das coisas para vê-las.
(Colhida em Rimbaud)
3 Esconder-se por trás das palavras para mostrar-se.
4 Mesmo sem fome, comer as botas. O resto em Carlitos.
5 Perguntar distraído: – O que há de você na água?
6 Não usar colarinho duro. A fala de furnas brenhentas de Mário-pega-sapo era na rua. Por
isso as crianças e as putas no jardim o entendiam.
7 Nos versos mais transparentes enfiar pregos sujos, teréns de rua e de música, cisco de
olho, moscas de pensão...
8 Aprender a capinar com enxada cega.
9 Nos dias de lazer compor um muro podre para os caramujos.
10 Deixar os substantivos passarem anos no esterco, deitados de barriga, até que eles possam
carrear para o poema um gosto de chão – como cabelos desfeitos no chão – ou como uma
bule de Braque – áspero de ferrugem, mistura de azuis e ouro – um amarelo grosso de
ouro da terra, carvão de folhas.
11 Jogar pedrinhas nim moscas...
BARROS, Manoel de. Matéria de Poesias, 3 ed.
Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 1999.

1ª PP de Literatura / 1º ano / Prof. Renato / Pág. 4


9ª Questão:
Esse poema é uma espécie de manifesto, uma tomada de posição ante o fazer poético; propõe que a
palavra seja descarregada de seus significados já prontos, automatizados, portanto. Nessa
concepção, o verso 10 ressalta que, na poesia, a palavra deve ser:
a) exata.
b) impermeável.
c) fecunda.
d) vaga.
e) cristalina.

10ª Questão:
O poema cita Rimbaud, poeta francês do século passado, e Carlitos, personagem dos filmes de
Charles Chaplin. “Perder a inteligência das coisas para vê-las”, de acordo com o texto de Manoel de
Barros é olhar as coisas:
a) em seu significado mais moderno.
b) com objetividade, deixando de lado o sujeito que olha.
c) recusando seu valor meramente utilitário.
d) pelo ponto de vista do especialista.
e) sem se preocupar com sua carga simbólica.

11ª Questão:
“Mesmo sem fome, comer as botas” é uma referência a Carlitos que, em um filme, com fome,
isolado na neve e não tendo com que se alimentar, cozinhou as botas e as comeu, até os cadarços.
A expressão mesmo sem fome muda a situação. Se consideramos o poema uma espécie de
“conselho a um aprendiz de poeta”, o verso citado propõe que, em favor da poesia, é necessário:
a) duvidar das imagens carregadas de sugestões.
b) apropriar-se de realidades aparentemente sem valor.
c) sofrer privações materiais.
d) alimentar-se bem para ter boas ideias.
e) isolar-se do resto da humanidade.
Texto para as questões 13 e 14

POÉTICA
1
Que é Poesia?
uma ilha
cercada
de palavras
por todos
os lados.
2
Que é o Poeta?
um homem
que trabalha o poema
com o suor do seu rosto.
Um homem
que tem fome
como qualquer outro
homem.”
RICARDO, Cassiano. Jeremias Sem-Chorar.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1964.
13ª Questão:
A repetição da palavra “homem” na segunda estrofe exemplifica a seguinte característica:
a) variação semântica
b) reiteração expressiva
c) vício de linguagem
d) onomatopeia modernista
e) amenorreia do climatério
1ª PP de Literatura / 1º ano / Prof. Renato / Pág. 5
14ª Questão:
O eu-lírico no texto de Cassiano Ricardo expressa uma definição sobre a elaboração da poesia.
Essa definição é semelhante ao conteúdo do seguinte fragmento:
a) “Como varia o vento – o céu – o dia, / Como estrelas e nuvens e mulheres, / Pela regra geral de
todos seres, / Minha lira também seus tons varia, / e sem fazer esforço ou maravilha.” (Álvares
de Azevedo).
b) “O artista intelectual sabe que o trabalho é a fonte da criação e que a uma maior quantidade de
trabalho corresponderá uma maior densidade de riquezas.” (João Cabral de Melo Neto).
c) “[Minhas poesias] não têm unidade de pensamento entre si, porque foram compostas em épocas
diversas – debaixo de céu diverso – e sob a influência de impressões momentâneas.” (Gonçalves
Dias).
d) “Um dia (...) tive saudades da casa paterna e chorei. As lágrimas correram e fiz os primeiros
versos da minha vida, que intitulei – As Ave-Maria – a saudade havia sido a minha primeira
musa.” (Casimiro de Abreu).
e) “A alma cativa e obcecada / enrola-se infinitamente numa espiral de desejo / e melancolia. /
Infinita, infinitamente... / As mãos não tocam jamais o aéreo objeto, / esquiva ondulação
evanescente. / Os olhos, magnetizados, escutam / e no círculo ardente nossa vida para sempre
está presa, / está presa... / Os tambores abafam a morte do Imperador.” (Carlos Drummond de
Andrade)

15ª Questão:
Leia o poema a seguir e assinale o que for correto.

Interpretação
As palavras aí estão, uma por uma:
porém minha alma sabe mais.
De muito inverossímil se perfuma
o lábio fatigado de ais.
Falai! que estou distante e distraída,
com meu tédio sem voz.
Falai! meu mundo é feito de outra vida.
Talvez nós não sejamos nós.
MEIRELES, Cecília. Obra poética. Rio de Janeiro,
Nova Aguilar, 1977, p. 256.

a) O eu-lírico volta-se para dentro de si mesmo, promovendo uma espécie de sondagem no domínio
do mundo interior. Pode-se dizer que, no poema, existe uma intenção de busca da verdade
subjetiva, daquilo que não pode ser observado no mundo exterior.
b) Nos dois primeiros versos, há uma constatação de que a linguagem não é um instrumento
suficiente para expressar aquilo que habita o universo interior do eu-lírico. Esta insuficiência sugere
que a vida humana marca-se, por vezes, pela incomunicabilidade e, consequentemente, pelo
isolacionismo e pela solidão – aspectos que caracterizam o sentido deste poema.
c) Os versos “De muito inverossímil se perfuma / o lábio fatigado de ais” fazem referência à própria
criação artística. A arte pode ser “inverossímil”, ou seja, ela se permite dizer “inverdades”. O poeta
pode criar mundos e fingir sentimentos – o que fica evidenciado na expressão “lábio fatigado de
ais”.
d) O verso “Falai! que estou distante e distraída”, indica o desrespeito do eu-lírico para com as
outras pessoas. O eu-lírico experimenta uma introspecção tão imensa que, mesmo chamando o
interlocutor pelo tratamento cerimonioso “vós”, trata-o com desdém, revelando seu egoísmo e seu
desinteresse para com as necessidades do “outro”.
e) O verso “Talvez nós não sejamos nós” revela o estado de total conflito em que se encontra o eu-
lírico. Isso porque, profundamente interiorizado, o eu-lírico só poderia falar sobre si mesmo e não
sobre “nós”. O último verso indica, portanto, o delírio,
a perda da percepção dos limites da realidade, que são consequências diretas do
processo de introspecção do “eu”.

1ª PP de Literatura / 1º ano / Prof. Renato / Pág. 6

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