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06 Outubro 2011
mais de 30 anos, Vunjanhe esclarece que a sociedade ainda convive com os reflexos da
ditadura do partido único, "limitando totalmente os direitos e as liberdades
fundamentais do seu povo". Exemplos do passado são percebidos no presente a partir
da atuação dos sindicatos, que possuem relações estreitas com o governo moçambicano.
"Quase todos os sindicatos existentes no país, incluindo o dos trabalhadores da Vale, é
controlado pelo governo e pelo partido Frelimo, que simultaneamente tem interesses
empresariais no projeto da Vale em Moatize", menciona.
Confira a entrevista.
A Vale, através da sua subsidiária Vale Moçambique, está presente em aqui desde
novembro de 2004, depois de ter sido escolhida pelo governo por meio de um concurso
internacional aberto para adjudicação das minas de carvão de Moatize no âmbito do
Plano do Gabinete de Desenvolvimento do Vale do Zambeze. Em junho de 2007, a Vale
assinou um contrato mineiro com o governo moçambicano até 2030, renovável por
igual período e obteve uma concessão mineira numa área de 23.780 hectares. O projeto
de exploração da mina de carvão de Moatize concedido à Vale é desenvolvido a céu
aberto. Na fase de plena exploração, a capacidade da mina da Vale vai atingir cerca de
26 milhões de toneladas de carvão bruto, que, depois do respectivo tratamento, vai
obter-se cerca de 11 milhões de toneladas de carvão metalúrgico e carvão energético,
dos quais 8,5 milhões de toneladas (Mtpa) de carvão metalúrgico – hard coking coal – e
2,5 Mtpa de carvão térmico. O restante carvão remanescente do processo de tratamento
do carvão bruto tem um teor de cinzas demasiado elevado para poder ser
comercializado. Então, a Vale pretende utilizá-lo numa central térmica de 2600MW a
No plano político, é indisfarçável a grande hegemonia exercida pela Vale nos corredores
políticos de Tete e de Maputo, que a par da Riversdale (outra mineradora de capitais
australiana recentemente comprada pela Rio Tinto) se tornaram majoritárias e
dominantes, manipulando as consciências da população e aproveitando da conivência e
submissão de alguns setores do Estado. Na cidade de Tete e em Moatize, a Vale e a
Riversdale têm se convertido em proprietários absolutos das unidades hoteleiras e
restaurantes, das vias de acesso, do aeroporto local, enfim do destino da província, por
sua importância econômica no investimento nacional e pelo seu expressivo peso na
política externa do Brasil e nas relações externas com Moçambique. A Vale está
interferindo no funcionamento normal das instituições oficiais, impondo-se com maior
relevância do que a maioria dos órgãos públicos locais como ator nos processos de
decisões políticas, econômicas e sociais.
A Vale tem desrespeitado os direitos dos trabalhadores e não tem honrado suas
promessas de progressão na carreira profissional. Trabalhadores queixam-se de serem
forçados a refeições que lhes provocam alergias e dores no estômago e denunciam os
descontos injustos a que são submetidos para o pagamento das refeições.
Neste momento,em conversa com um dos líderes do Sinticim, soube que a Vale
negociou com os trabalhadores e que chegaram a um acordo para evitar a greve. Por
outro lado, o recurso à intervenção de forças especiais da Polícia da República de
Moçambique – PRM é frequente da parte da Vale e do governo local, para persuadir e
reprimir os trabalhadores que se manifestarem.
Desenvolvimento insustentável
Paradoxalmente, nesta última década Moçambique é um dos países do mundo que mais
contribui com o desenvolvimento. É conhecido como "o menino bonito" dos doadores
internacionais, para recorrer à expressão do jornalista e acadêmico Joseph Hanlon.
Na verdade, informações oficiais revelam que a situação social e econômica dos
moçambicanos piorou nos últimos cinco anos. Segundo dados publicados no Relatório
do Mecanismo Africano de Revisão de Pares de 2011, "há também a preocupação de que
o crescimento econômico não tem estado associado a uma significativa criação de
emprego e redução da pobreza. O país enfrenta um grande e crescente desemprego,
particularmente entre os jovens". O Marp, uma iniciativa africana de avaliação do
progresso dos países do continente, acrescenta ainda que uma outra fonte de
preocupação é o aumento da desigualdade nos rendimentos. Moçambique não tem sido
capaz de tratar o problema da crescente desigualdade de rendimento (dentro e entre as
regiões, e entre as zonas urbanas e rurais). As desigualdades não são só evidentes em
relação ao rendimento, mas também em relação a outros serviços básicos como saúde e
educação.
Chimoio. O Inquérito de Trabalho Agrícola – TIA (2008) revelou que a maioria das
famílias rurais (composta por um mínimo de cinco membros) tinha um ganho efetivo
menor de trinta meticais (moeda local que vale menos de um dólar norte americano)
por semana, e a maior parte estava mais pobre em 2008 do que em 2002. Cungura e
Hanlon (2010) defendem que houve fracasso no processo de combate à pobreza em
Moçambique, pois ela aumentou nos últimos anos. O CHR Michelsen Institute (2010)
sustentou que a pobreza urbana, sobretudo na cidade de Maputo, está crescendo cada
vez mais e há falta de recursos essenciais para a sobrevivência das populações.
Entretanto, é preciso reconhecer que, durante essas últimas duas décadas, há uma
mudança significativa no setor dos mídias, particularmente aqueles considerados
independentes do governo. Eles têm desenvolvido um trabalho extraordinário na
cobertura e divulgação das agendas e demandas da sociedade civil, cobrando do
governo mais vigor na solução dos problemas que o país enfrenta.
Diante deste cenário, a Vale é uma empresa incapaz de respeitar os direitos das
pessoas e de conviver com elas. É urgente acelerar o processo de fortalecimento dos
povos e das comunidades afetadas pela ação danosa da Vale, denunciando-a
amplamente, forjando resistências e alternativas locais coordenadas
internacionalmente. O Brasil desempenha um papel estratégico nessa mobilização.
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