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Resumo: A recriação histórica encetada pelos romances Oríon (2002) e Peregrinação de Barnabé das
Índias (1998) aponta para o preenchimento de vazios e lacunas deixados pela extensa tradição de
narrativas que recorreu ao tema da expansão marítima, envolvendo secundariamente o tema do
exílio judaico. Nesse vazio, a subjetividade ganha força por meio da manifestação do maravilhoso
que contribuiu para desmistificar a imagem esplendorosa de Reis e Capitães, e exaltar a figura dos
Judeus, vagamente representados nas crônicas e vítimas de diversas atribulações. Esses fatores
proporcionam originalidade à escrita de Mário Cláudio, garantindo um texto literário de grande
poder criativo e densa representação histórica, literária e sociológica sobre a cultura e,
especificamente, sobre o passado português.
Abstract: The reconstruction of history introduced by the novels Orion (2002) and Peregrinação de
Barnabé das Índias (1998) points to the filling of voids and gaps left by the long tradition of
narratives that appealed to the issue of maritime expansion, and which secondarily involves the
theme of Jewish exile. In this void, subjectivity gains strength through representation of the
marvelous, in order to help demystify the radiant image of Kings and Captains, and exalt the
silenced Jews. These aspects provide originality to Mário Cláudio’s writing, ensuring a literary text
of great creative power and dense historical, sociological, and literary representation of Portuguese
culture.
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Onde ficam neste cenário as almas afligidas dos presos colhidos na sua rede, os
queimados vivos por terem resistido até ao fim sem reduzir-se, os garroteados, os
penitentes humilhados e ofendidos, os reduzidos à fome pelo confisco dos bens e
impossibilitados de recorrer à esmola dos homens, sequer, por motivo da exibição
pública obrigatória do sambenito que provocava não só os murmúrios dos
circunstantes, mas também a recusa da ajuda? Onde fica neste cenário o homem que
é a matéria primeira e objeto fundamental da atividade da inquisição? [. . .]. De que
adiantará a pura e exata pesquisa histórica, desatenta ao destino do homem? O
condicionamento teológico ou cientifico aplicado com exagero na pesquisa acerca da
inquisição, resulta em perspectivação distorcida da atividade inquisitorial e das
ocorrências negativas que a antecederam. (465–466)
tal contraste fora determinado em grande parte pelo interesse particular do monarca,
o qual estava então cobiçando o casamento com a princesa Isabel, filha dos reis
católicos Fernando e Isabel, da vizinha Espanha, os quais haviam decretado
semelhante expulsão de judeus dos seus reinos em 1492. . . . D. Manuel, elevado ao
trono a 27 de Outubro do mesmo ano, viu-se atraído pelo sonho de união ibérica
sob a égide portuguesa que vislumbrava no horizonte político e familiar, como
conseqüência do casamento com a princesa de Castela. (10)
Porém, dessa vez o plano do rei português não dera certo, pois, depois da
expulsão e da conversão forçada, deu-se a morte da rainha no parto do príncipe
Miguel, morrendo também esse futuro herdeiro da coroa de Castela e Portugal
com a idade de dois anos apenas. Nem por isso esvaeceu-se o projeto de D.
Manuel de estabelecer um império ibérico sob seu reinado 4.
Exílio e imaginário
Considerando as respectivas fontes cronísticas de tais episódios, podemos
perceber que através delas apresentam-se narrativas polêmicas ora por sua
dramaticidade, como em Usque, ora por sua celebrativa memória que exalta os
reis e seus mandos, amenizando e ocultando informações detalhadas mais
realistas e denegridoras dos fatos opressivos supracitados. Essa postura elogio-
sa ocorre, sem dúvida, em Garcia de Resende e em outros cronistas reais.
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Até agora não se apurou ao certo o destino dos pequenos cativos na tão
temerosa ilha de São Tomé. Muitos podem ter morrido durante a viagem, mas
alguns podem ter sobrevivido no local. Muito pouco também se sabe da
existência e do destino dos judeus que conseguiram escapar da compulsória
conversão executada por D. Manuel em 1497, seja antes, durante ou depois do
ocorrido. O que se sabe de fato é que “as correntes emigratórias para o Estado
da Índia e o Império Otomano fazem parte do fenômeno global da emigração
judaica e cristã-nova que se iniciou nos finais do século XV, a partir da
Península Ibérica, [. . .] devido à forçada conversão” (Cunha 17).
Na zona obscura desses episódios históricos é que o excelente romancista
português contemporâneo Mário Cláudio parece ter encontrado o seu campo
de trabalho 5. Na escassez de dados concretos, ele recorreu à contextualização,
sobretudo, no que diz respeito aos imaginários historicamente possíveis de tais
acontecimentos. A matéria para representar seus personagens e cobrir tais
ausências está de acordo com o que foi apontado pelas pesquisas da historio-
grafia cultural recente, verificando Mário Cláudio que, em diversas circuns-
tâncias, os hábitos mentais e as formas fantásticas reaparecem em quase todos
os domínios da vida corrente do final da Idade Média e do início do
Renascimento, especialmente no que diz respeito ao povo judeu 6.
Portanto, há nesse ponto imaginário certa coerência histórica. Não se trata
de uma invenção gratuita do escritor que muito bem pesquisou sobre a psicolo-
gia judaica e portuguesa da época:
Quem poderá descrever aquela Praça da Ribeira no dia nefasto em que ali se reuniam
as crianças? Originárias das mais distantes regiões do Reino de Portugal, juntavam-se
elas em magotes que os grandes fiscalizavam . . . Era uma manhã de Abril, tão suave
que mais parecia um agouro de acontecimentos festivos do que o limiar de um
holocausto que se preparasse. E os gritos das judias, descabeladas diante da tragédia
do furto dos seus rebentos, apegavam-se aos guinchos das gaivotas na luz da beira-
Tejo. (15)
Um dia veio ter comigo um freizinho picado das bexigas, com o qual encetara na
travessia extensa conversação. [. . .]. Vai o santo, e interpela-me nestes termos, “Eu
bem sei, Abel, meu filho, que nunca haverás de te converter em bom cristão, e nisso,
podes crer, residia o meu anseio, mas apegaste-te às falsas doutrinas da tua raça,
julgarás tu que não percebo que lês às escondidas o livro nefando?, mas é a vontade
de Deus”. (Oríon 37)
O caso foi acentuado pelo fato de que também os demais engenhos foram
aos poucos sendo abandonados e seus escravos começaram a sofrer visões
generalizadas, conturbados pela imagem de um menino que chamavam de
Benjamin, a quem os judeus aclamavam como Salvador e que acreditavam ser o
soberano de “um reino que só ele compreendia, testemunhavam-lhe obediência
e louvor os habitantes da Fuzeta, local remoto da ilha açoriana onde
governava” (111).
Portanto, via-se diminuída a produção de açúcar da ilha pela intranqüilida-
de em que persistiam viver os escravos e seus senhores criptojudeus. E assim
esgotavam-se as semanas, e nenhuma figura divina cruzava o firmamento, mas
nem por isso se extinguira a fé desvairada do povo. “A cada instante se disse-
minavam atoardas extraordinárias, de que descortinara alguém Benjamim na
sua alimária, e de que largava ele um rasto que à luz do poente se ia dourando”
(120). A imagem do garoto se não os libertava das dificuldades do exílio e da
escravidão, concedia-lhes o alívio para os sofrimentos cotidianos que não se
revelavam poucos, nem pequenos. Andava agora inteiramente conquistada a
multidão da ilha por tal miragem que se difundia gradualmente, conforme se
cita:
[. . .] toparam com as ruínas de uma cidade mui antiga, e que se implantava entre elas
um templo que resplandecia, e que pela escadaria dele testemunharam que ia
descendo um cortejo, formado pelas crianças executadas a mando de El-Rei Dom
João II de Portugal. E mais aduziram que à frente marchava o Menino com uma bela
capa de veludo vermelho, debruada a arminho, e que à sua direita se avistava Elisa
[sua companheira], e que a ambos assistia muita freguesia de ministros e de vassalos e
de pajens. . . . Acabaram por referir que ao encontro do pai infantil veio correndo
uma récua de unicórnios . . . e que a mesma ajoelhara, a fim de que trepassem
Benjamin e Elisa para a garupa, e que em continente disparara à desfilada,
transportando os pequenos para os longes do poente. (130)
propícios para tal contágio cultural; entretanto, eles não fizeram desaparecer as
antigas divergências entre as duas religiões em questão: “Tanto um quanto
outro supõe ser o povo eleito e aquele com a mais importante missão, mas os
dois estavam atrás da terra prometida juntos nas mesmas caravelas, atravessan-
do os mesmos oceanos” (Cruz 10).
Através desses fatores, define-se, portanto, a singularidade cultural do
povo português como um povo de existência miraculosa, resultado de uma
predileção divina específica de que só encontraremos caso semelhante no povo
judaico. Contudo, a maneira com que os portugueses se comprazem nessa
adoração é bastante singular, apesar dos traços comuns com a cultura judaica.
A cultura portuguesa, por sua vez, tendo como referente mítico um catolicismo
assimilado à “história ideal de cruzados de Cristo durante séculos, integra em si
uma espécie de imperativo a defesa dos valores do cristianismo” (Lourenço 51).
No entanto, muitos pensadores da cultura portuguesa foram sensíveis às
analogias entre o messianismo judaico e o português. A diferença é que o
messianismo português se mostrou sempre mais universalizante: “Em nome de
Cristo, os reis desse país, então senhor dos mares, do Brasil ao Japão, ousaram
colocar-se no centro do mundo” (10). Trata-se do sonho de um Rei e a forma-
ção de um império universal, em que o messianismo inculcado na imagem do
Rei D. Sebastião é apenas uma das muitas prefigurações do intenso imaginário
português, mas “seria exagero dizer que o povo português é o único que
merece a designação de fanático, pois o fanatismo é a coisa mais bem partilhada
do mundo” (106).
Em resumo, na Peregrinação de Barnabé das Índias, portugueses judeus e
cristãos confundem-se em muitos aspectos. Isso implica na obra um
reposicionamento na descrição da viagem que é readequada também sob a
perspectiva imaginária da cultura judaica, ambientando-se a sua representação
peregrinante através de figuras ultraterrestres e messiânicas. Desse modo, o
romance de Mário Cláudio “revê o passado colocando parte da glória da
conquista do caminho para as Índias na essência do conhecimento e esforço da
cultura judaica, e não só nos cristãos-velhos, como conta a historiografia
oficial” (Cruz 12).
Afinal, Barnabé, personagem principal dessa obra escrita por Mário
Cláudio, é um judeu que conseguiu escapar à conversão forçada instaurada pelo
édito manuelino de 1496, infiltrando-se, como se cristão-novo fosse, na
primeira esquadra que em 1497 se destinava ao Oriente. A própria constituição
do seu nome disfarçado confirma essa tensão de fuga, pois, contrastando com
sua religião judaica, o nome Barnabé, apesar de ser de origem hebraica, repre-
senta um dos primeiros apóstolos cristãos mencionados no Novo Testamento.
A peregrinação que esse apóstolo realizou a Síria e a Salamina pregando o
evangelho, acabou lhe trazendo a morte, porque alguns judeus, irritados com o
seu extraordinário sucesso, o atacaram enquanto pregava na sinagoga,
arrastaram-no para fora e apedrejaram-no até lhe tirarem a vida: “os judeus
incitaram as mulheres devotas de alta posição e os principais da cidade,
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E um clarão se alçou diante dos olhos que repentinamente se lhe descerraram, e por
cima do próprio corpo estilhaçado viu ele pairar o esbelto São Rafael que de
sentinela se postava na proa da sua nau. . . . E estendeu para ele Barnabé os braços
desimpedidos, e tomou-o a visão que se ampliara até ao firmamento, e na capa
enfunada o abrigou, protegendo-o como se infante fosse o mancebo, e contra as
fúrias disparadas. E uma cintilante planície se espraiava, e não correspondia a oceano,
nem a nuvem, nem a terra, nem a estrela, mas à aragem fresquíssima do que não
alcança termo, e em si se dissolve, e na doçura de que se compõe. E pelos espaços o
arrebatava a entidade que o socorrera, arrastando-o para um futuro onde o tempo se
extinguia, e desdobrava-se a Ásia como o império sem limites, tão achegada à alma
que nela se ia engastando, tão fecunda das preciosidades que formam a coroa dos
conquistadores da glória da promissão. E voaram a par, marinheiro e arcanjo,
reunidos na máquina que o Espírito sustém, e desgrenhavam-se no azul os cabelos
de ambos, e um luzeiro se lhes incrustara nas órbitas, e em sua esteira de centelhas
flutuavam os que pelo Planeta tinham vagueado desde o princípio do Mundo, e na
unidade se congregavam, e nem lhes pertencia o rosto, porquanto lhes retirara Rafael
a máscara que os corrompera.
E num sussurro o incitava deste modo o companheiro, “agora te visito,
Barnabé, para que compreendas, e te despojes das algemas que te ferem os pulsos, e
se te desvende o que para além das dunas do medo se situa, e atravessaste a morte de
novo, e te alimpaste das chagas que te atormentavam, porque está morto o que vive,
e vivo está o que morre, e transpuseste as fronteiras que submetem as criaturas, e por
todos os quadrantes do Universo viajarás, e hás-de tocar com os dedos a refulgência
dos astros, e na harmonia das esferas te correrás o líquido das veias, . . . e às Índias
verdadeiras aportaste, pois que sempre se alojaram elas nos ocultos de ti, e de
tamanha riqueza te revestes que nenhum reino te ultrapassará . . . .(199–201)
O Arcanjo faz aportar Barnabé em terras que serão, mais tarde, alcançadas
por Vasco da Gama. Só à vista das futuras terras portuguesas do Oriente, nos
sítios onde mais tarde se ergueriam os fortes de Calicute, Cochim e Cananor, é
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que Barnabé poderá relacionar-se com um espaço não evocado pelos prodígios
e seres imaginários. Esse processo de libertação dos mitos pelo personagem
Barnabé é retratado no capítulo “Os Anjos”, no qual essa viagem celestial, tão
significativa para a sua transformação mental, é narrada.
A princípio, é estranho pensarmos no fato de que uma figura mística e
religiosa como a do Arcanjo sirva de dispositivo no texto para o desvaneci-
mento desses imaginários, como se estivéssemos diante de um mito que age
contra a validade de outros mitos. No entanto, o Arcanjo Rafael não representa
qualquer figura mítica, pois na tradição religiosa ele é o responsável por
executar todos os tipos de cura, inclusive a cura mental. Enviado à Terra por
Deus para curar em Seu nome, Rafael significa “Deus cura” em hebraico, no
qual a palavra correspondente a médico é Rophe.
Levado por tal divindade, Barnabé aporta antes que toda a tripulação nas
verdadeiras Índias, descobrindo que o lugar é bem diferente daquele que se
alojara antes em sua mente. Portanto, como observado no referido texto, o
Arcanjo Rafael é um elemento chave para o desfecho do romance, ao
possibilitar que Barnabé se “despoje das algemas que lhe ferem os pulsos, e se
desvende o que para além das dunas do medo se situa” (200).
Não podemos deixar de observar que essa cena está muito interligada aos
temas referentes aos textos bíblicos posteriores ao Exílio da Babilônia (após
538), como
mais integrado à vida do que o histórico Capitão que comandou a esquadra e que, no
livro, tem sua importância empalidecida, por não ter sido submetido às experiências
viscerais que deram a Barnabé uma espécie de domínio sobre o medo e sobre a
morte, em benefício, afinal, do tempo da vida. (Calvão 8)
nada como o infortúnio para nos ensinar com que linhas se cose o nosso destino.
Quando caímos num poço de atribulações, olhamos para trás, e tudo parece
corresponder à vontade de Deus. Desconhecemos o futuro, e o que importa para o
merecermos, mas achamo-nos na posse de um tesouro luminoso, capaz de nos guiar
na peregrinação. (137)
Notas
1 Para verificar essa tendência, bastará um olhar breve pelas publicações modernas. Deparam-se,
objetivo desse rei com o desterro forçado das crianças para tal província ultramarina era mantê-los
“apartados dos pays, & suas doutrinas, & de quem lhes pudesse falar na ley de Moisés, para que
fossem bons Christãos; & tambem pera que, crecendo e casando se, pudesse com elles povoar a
dita ilha, que por esta causa dahi em diante foy em crecimento” (Resende 111).
3 “É incerta a data exata do descobrimento da ilha, que provavelmente foi realizada por João de
Santarém e Pedro Escobar, quando da sua viagem pelos anos de 1471–72 às costas da Mina, de
Benim e do Gabão. Foram aí enviados por Fernão Gomes, que obtivera, em 1469, de D. Afonso
V, o arrendamento do comércio da Guiné, com a obrigação de descobrir novas terras” (Lipiner
23).
4 Com efeito, tal projeto não se escreceu depois da morte de Isabel e do príncipe Miguel. Maria, a
sua segunda esposa, será também filha dos Reis Católicos. Isabel de Portugal, filha de D. Manuel,
casará com Carlos I de Espanha. Tudo isso irá parar à Monarquia Dualista filipina. Até o terceiro
casamento de D. Manuel foi com uma princesa espanhola visando efetivar futuramente a união
ibérica.
Daniel Vecchio Alves / Exílio e imaginário │ 219
pseudônimo literário de Rui Manuel Pinto Barbot Costa. Nasceu no Porto em 1941. Ficcionista,
poeta e ensaísta, trata-se de um intelectual dotado de uma sólida carreira, com destaque para sua
formação em Direito pela Universidade de Coimbra, onde se diplomou também como
bibliotecário-arquivista, e para sua atividade docente na Escola Superior de Jornalismo do Porto.
6 Somente com os estudos de história dos imaginários, como O maravilhoso e o quotidiano no Ocidente
medieval, de Jacques Le Goff e Monstros, Demônios e Encantamentos no Fim da Idade Média, de Claude
Kappler, por exemplo, é que foi plenamente reconhecida uma forte presença da mentalidade
maravilhosa ainda no Renascimento.
7 A trilogia das constelações é composta pelas seguintes obras: Ursamaior (2000), Oríon (2003) e
Gémeos (2004). A informação de que as três obras fazem parte da Trilogia das Constelações foi
facultada pela editora portuguesa Dom Quixote.
8 Imago Mundi é o título latino de vários livros antigos e medievais, incluindo a mais famosa
cosmografia escrita em 1410 pelo teólogo francês Pierre d'Ailly (1351–1420). Imago é uma imagem
ou representação no significado latino. Assim, o título é traduzido por Imagem do Mundo, sendo
comum nessas obras a apresentação de listas e mais listas de híbridos pavorosos que preenchiam o
orbe, segundo a mentalidade da tradição.
9 “Tem-se o exemplo de uma situação semelhante no Livro de Enoc (Enoc I), de cerca de 164 a.C.
No capítulo 14, Enoc vê-se transportado ao céu e chega a um muro de cristal que rodeia o palácio
divino, sendo este cercado por línguas de fogo. Ao se aproximar do palácio, porém, o medo e o
terror o dominam. Em seguida ele acede à visão da glória divina em seu trono: “A glória divina
estava instalada, suas vestes mais fulgurantes que o sol e mais brancas que a neve” (XIV, 21).
Enoc contempla o que nenhum anjo ou ser de carne e osso pode perceber. A sua é sem dúvida a
visão mais antiga do carro divino (Merkabah) que conhecemos fora das Escrituras” (Goetschel,
12–13).
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Daniel Vecchio Alves é Mestre em Literatura e Doutorando em História Cultural. Seu interesse
abrange os estudos sobre a Literatura Portuguesa de Viagens, a História e a Historiografia dos
Descobrimentos, fazendo parte de grupos de pesquisa como o NEP (Núcleo de Estudos
Portugueses da Universidade Federal de Viçosa-MG) e o Mare Liberum (Centro de Estudos e
Referências sobre a Cartografia Histórica da Unicamp).