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CONTROLE DIGITAL
19947
STATUS: SELECIONADA
DADOS DO PESQUISADOR
DADOS DA PROPOSTA
2 Nível
DOUTORADO
3 Instituição
Universidade Federal de Goiás
Localidade
GOIANIA
4 Curso PPGSS
FILOSOFIA
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7.2 Justificativas
O perdão é central nas relações e interações humanas: trata-se de um mecanismo de reconciliação com o passado. Seja como remissão por erro, obrigação
ou crime, o perdão se direciona àquele que comete uma falta na intenção de restabelecer uma ordem que eventualmente foi rompida. Constitui, portanto, uma
alternativa ao problema da irreversibilidade da ação. Esta irreversibilidade pode ser descrita como a impossibilidade física de se desfazer uma falta – mesmo
que em vários casos os efeitos possam ser reparados e até mesmo revertidos, a reparação de um dano ou a reversão de seus resultados é insuficiente para
anular uma falta cometida; noutros casos é da própria natureza do ato a impossibilidade de reparação ou reversão de seus efeitos, como no exemplo óbvio do
assassinato. Pelo mesmo motivo, também o direito e a justiça têm por propósito o mesmo fim: restabelecer o que eventualmente foi rompido a partir de uma
pena. A finalidade do perdão e da punição se entrelaça. Ambos intentam cessar um ciclo de violência perpetuo: “a punição é uma alternativa do perdão, mas
de modo algum o seu oposto; ambos têm em comum o fato de que tentam pôr fim a algo que, sem sua interferência, poderia prosseguir indefinidamente”
(ARENDT, 2007, p. 253).
O perdão possui, portanto, uma relação intrínseca com o tempo: ele se direciona a um passado que não passou. Um passado que se mantêm constantemente
atual e, portanto, irredutível. Para Arendt, o surgimento do totalitarismo e suas consequências nefastas eram desafortunadamente a síntese exata deste
passado presente. O ponto problemático é que perdoar não era uma alternativa de superação da experiência totalitária. “O perdão morreu nos campos de
morte” (JANKÉLÉVITCH, 1986, apud, GARAPON, 2002, p.173). Ademais, é importante ainda mencionar que o aparecimento de violências inéditas o qual a
autora convencionou chamar de “mal radical” em Origens do Totalitarismo contrariavam todas as noções usuais sobre o mal: para Arendt o mal finalmente
apresenta suas raízes no mundo a partir de um sistema político cuja característica essencial é a superfluidade humana. O único elemento discernível neste
contexto de completa novidade no que diz respeito às nossas concepções sobre o problema do mal é que “o mal radical surge em relação a um sistema no
qual todos os homens são igualmente supérfluos” (ARENDT, 1998, p. 510). Segundo a própria autora:
"Ao tornar-se possível, o impossível passou a ser o mal absoluto, impunível e imperdoável, que já não podia ser compreendido nem explicado pelos motivos
malignos do egoísmo, da ganância, da cobiça, do ressentimento, do desejo do poder e da covardia; e que, portanto, a ira não podia vingar, o amor não podia
suportar, a amizade não podia perdoar. Do mesmo modo como as vítimas nas fábricas de morte ou nos poços do esquecimento já não são “humanas” aos
olhos de seus carrascos, também essa novíssima espécie de criminosos situa-se além dos limites da própria solidariedade do pecado humano". (ARENDT,
1998, p. 510)
A intuição de Arendt de que o mal absoluto se manifesta pela superfluidade humana é concomitante ao surgimento durante o pós-guerra da figura dos crimes
contra a humanidade como um tipo penal específico no direito internacional. Estes crimes correspondem ao mais alto grau de transgressão em um mundo de
iguais. Além disso, os crimes contra a humanidade representam o esfacelamento da comunidade política. Se por um lado a essência dos direitos humanos é
como afirma Arendt o direito a ter direitos, o traço fundamental destes crimes é despir o indivíduo de qualquer possibilidade de possuir ou se valer do amparo
jurídico. “O crime contra a humanidade será a destruição daquilo que há de humano no homem” (GARAPON, 2002, pág. 98). Ademais, a característica
fundamental das vítimas destes crimes é sua completa suscetibilidade: o completo involuntário; a total impossibilidade de exercer qualquer tipo de controle
sobra a própria sorte. No contexto perdão e punição tornam-se obsoletos.
7.3 Metodologias
A pesquisa possui caráter teórico e filosófico. É, portanto, principalmente de natureza bibliográfica: é pressuposto o desenvolvimento de leituras das obras de
Hannah Arendt, bem como demais autores e comentadores que contribuam para o desenvolvimento da temática do perdão assim como da punição e da
relação entre ambos – em especial a tese de Arendt de que não se pode perdoar o que não se pode punir e que é impossível punir o que não se pode perdoar.
Esta tese é confrontada com as considerações feitas principalmente por Vladimir Jankélévitch, Paul Ricoeur, Jacques Derrida e Emmanuel Lévinas,
contemporâneos de Arendt e dos eventos totalitários, e que igualmente escreveram sobre o assunto. No que diz respeito à bibliografia de Arendt, especial
serão trabalhadas as obras: Origens do Totalitarismo, Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a Banalidade do Mal, Responsabilidade e Julgamento e A Vida
do Espírito que tocam nos pontos mais decisivos da temática proposta.
Além disso, a pesquisa incide perifericamente no Problema do Mal: sobretudo no que diz respeito à adequação do conceito de Mal Radical oriundo da filosofia
kantiana à própria interpretação de Arendt (como um sistema cuja principal característica é a superfluidade humana) e na opção pelo uso da expressão
Banalidade do Mal na obra Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a Banalidade do Mal para descrever o fato de que Adolf Eichmann era terrível e
horrivelmente normal. É pressuposto a análise do Problema do Mal ao longo da História da Filosofia e da Literatura e em que medida as noções de Mal Radical
e Banalidade do Mal revelam o estatuto de novidade das novas formas de violência e de apreensão do mal introduzidas pelos regimes totalitários. Ademais,
temática dos elementos introduzidos por Arendt acerca do problema do mal será analisada concomitantemente à análise do Mal Radical na filosofia de
Immanuel Kant.
Serão utilizados dados históricos, relatos, depoimentos, textos bíblicos e registros literários de qualquer tipo que incorram no assunto proposto. Não obstante,
serão feitos ainda, sempre que necessários e oportunos, o uso de elementos audiovisuais como documentários, registros de entrevistas e filmes temáticos.
Também, na medida em que é intenção do trabalho verificar os institutos jurídicos que simulam o perdão – indulto, a anistia e a prescrição, bem como a
simulação de imperdoabilidade no caso da imprescritibilidade dos crimes contra a humanidade – deve-se recorrer sempre que possível ao auxílio da literatura
jurídica à disposição: constituições, códigos, doutrinas, tratados, jurisprudências, convenções, declarações, decretos, protocolos e acordos. Por fim, a fim de
contextualizar a temática proposta no cenário sócio-político nacional, serão considerados em especial os depoimentos de vítimas e testemunhas ouvidas pela
Comissão Nacional da Verdade no Brasil sancionada pela presidenta Dilma Rousseff em 11 de novembro de 2011 com o objetivo de investigar as violações de
direitos humanos ocorridos entre 1946 e 1988 no Brasil - segundo os dados da Comissão Nacional da Verdade, foram presas pelo menos 50 mil pessoas
apenas no primeiro ano do Regime Militar imposto pelo golpe de 1964.
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Por sua vez, a impossibilidade do perdão resulta menos da crueldade do que da indiferença. Com efeito, as vítimas destes crimes não tem qualquer esperança
de lhe ver respeitadas seus direitos, pois o crime contra a humanidade é oriundo da própria maquina estatal: o crime contra humanidade destrói a dignidade da
pessoa humana, menos concebida a partir de um valor intrínseco, mas como um laço mínimo entre homens. Se por um lado a impossibilidade do perdão
parece obviamente ser decorrência da magnitude deste tipo de crime, o que por sua vez também impossibilita punição adequada, no entanto, os crimes contra
a humanidade se afiguram imperdoáveis mais especificamente por uma característica negativa: não tanto pela quantidade e nem mesmo pela extrema
crueldade, mas sobretudo por endossar o desaparecimento de qualquer relação humana - a completa ausência de relação entre agressor e vítima.
Por fim, se espera poder discutir a anistia no contexto proposto da CF/88: ainda que não se intente mitigar qualquer forma de crime é relevante notar que os
crimes contra a humanidade são de natureza diversa dos crimes de terrorismo. No primeiro caso trata-se da efetivação de um Estado criminoso ao passo que
no segundo é uma inversão da violência contra sua própria fonte em vista de uma política almejada.
CRONOGRAMA FÍSICO:
1) Meta: Levantamento de dados históricos referentes aos Estados Totalitários e Ditatoriais. Organização de dados audiovisuais. Levantamento de
literatura jurídica acerca de anistia, indulto e prescrição.
Mês Mês
Atividade Indicador físico de execução
Inicial Final
1.1) Leitura de dados históricos e literatura jurídica
Desenvolvimento de artigo sobre a relação entre o perdão e a anistia,
para desenvolvimento de artigo para submeter à 1 6
o indulto e a prescrição.
avaliação e possível publicação.
2) Meta: Levantamento de bibliografia filosófica sobre a temática do perdão, da punição e do problema do mal.
Mês Mês
Atividade Indicador físico de execução
Inicial Final
2.1) Re-leitura de bibliografia filosófica já consultada
no desenvolvimento do projeto de doutorado e leitura Fichamentos. Apresentação no Seminário Interno de Pós-Graduação
7 12
de bibliografia a ser consultada sobre os temas do da FAFIL. Desenvolvimento de resumo para apresentação.
perdão, da punição e do problema do mal.
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CONTROLE DIGITAL
19947
STATUS: Selecionada
Coordenador do PPGSS
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Assinatura
Orientador
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Assinatura
Proponente/Candidato(a) à Bolsa
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Assinatura
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Maria Zaira Turchi Albenones Jose de Mesquita
Presidente Diretor Científico
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