Há dias, alguém sugeriu continuar a dar conta de «tesouros» da nossa Língua.
Registei o desafio, mas sem a promessa de cumprir algo tão difícil. No entanto, às vezes, acende-se uma lamparina. Assim, hoje serve para dar conta de que em 2014 comemoramos 800 anos da Língua Portuguesa. Bem!... Porque o documento, «Testamento de Afonso I», foi considerado, durante muitos anos, como o texto escrito mais antigo. Na verdade, o documento escrito em português mais antigo, foi descoberto em 1999: Notícia de Fiadores, 1175. Como quer que seja, o nosso Império é anterior ao dito Império dos Argonautas cantado por Camões. Atualmente, os falantes do Português, como Língua oficial, são à volta de 250 milhões: Brasil (c.200), Moçambique (c.23), Angola (c.19), Portugal (c.11), Guiné- Bissau (c.1,5), Timor-Leste (c.1), Cabo Verde (c.500 mil), São Tomé e Príncipe (c.160 mil). No facebook, é a terceira língua mais utilizada. Pois é!... o nosso Império é muito superior a Nós! Mais um dado em números: o nosso vocabulário (Português de Portugal) contém cerca de 200 mil entradas; o vocabulário do Português do Brasil, cerca de 380 mil entradas! Apesar da mesma Língua, existem inúmeras variantes: na construção das frases, no sentido das palavras, até na escrita de muitos vocábulos. E nesta matéria, o Acordo Ortográfico, embora importante e necessário, precisará de mais alguma coerência assertiva e coesão internas. Mas sobre esta matéria, escreveremos mais adiante. Com uma língua tão dispersa no mapa, desde o continente americano até ao asiático, será complicado termos uma única estrutura, pese, embora, o facto de se tratar da quarta língua mais falada no mundo. Alguns exemplos, provas da universalidade da nossa Língua: 1. Quantas vezes já ouvimos, na Madeira, «ir ao açougue»? No Brasil também. Atualmente vamos ao talho. 2. Nas salas de aulas, usamos uma tela para projetar imagens multimédia. No Brasil também, mas para referir-se ao que chamamos ecrã de cinema. 3. Ary dos Santos escreveu o poema: os putos, no Brasil usa-se menino/garoto com o mesmo sentido. 4. Com o tempo quente, sabe sempre bem um sumo que os brasileiros chamam suco. Mas enquanto esse tempo não chega, tomamos outra bebida; no Brasil um drink. 5. E as nossas avós não usavam a xícara?! No Brasil também. Mas para os bebés usa-se o biberão, mamadeira no Brasil. À custa desta heterogeneidade, ouvimos e lemos tanta bacorada (Br.), em Portugal diz-se «algo que não tem a ver com o assunto». Cheguei a ouvir emigrantes envaidecidos com a construção de «casas tipo maison (casa), com janelas à la fenêtre (janela)». Também não é vulgar designar o «suporte de armazenamento amovível de dados» por pen? Sabiam que o primeiro suporte amovível se chamou «pendrive»? É isso, gente! Mais uma curiosidade, agora africana: a palavra «quilombo» resulta de um naufrágio que obrigou um grupo de angolanos a povoar a ilha de São Tomé em 1544, construindo aldeias às quais deram este nome. Por sua vez, em Angola, o mesmo vocábulo era referente a um acampamento militar. Na verdade, a nossa língua é muito baril (termo de origem árabe), até bastante fixe (do francês, fixe) e bué (angolanismo) de complicada. Termino estas mini histórias ou estórias (?). É assim: «estória» (decalque do inglês «story»), narrativa de cunho popular e tradicional; «história», quando nos referimos à história da nossa Língua. O Dicionário da Academia de Ciências de Lisboa apenas regista «história». Desafio: enquanto não «batemos as botas», deixemos de ser «bichos do buraco», tímidos que nem um «bisalho», por causa de muitas coisas que nos deixam o «bucho encostado» às «aduelas» e vamos tratar das «semilhas» porque isto está a dar-me uma «roeza» e a Maria ainda se queixa de estar «malmaridada». Deliciem-se com este vídeo: http://youtu.be/7BTcK35UI38 Para tornar este espaço mais profícuo aos leitores deste DN, fica o e-mail para onde pode ser enviada qualquer questão sobre o nossa Língua, escrita ou falada: onossoimperio@sapo.pt João Luís Freire