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Utilização da Teoria de Vygotsky em Robótica

Educativa
Alzira Ferreira da Silva Akynara Agaé Luiz Marcos G. Gonçalves
arizla@dca.ufrn.br kakayzinha@gmail.com lmarcos@dca.ufrn.br

Ana Maria G. Guerreiro Renata Pitta Dennis Barrios Aranibar


anamaria@dca.ufrn.br repitta@dca.ufrn.br dennis@dca.ufrn.br
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Dep. de Engenharia da Computação e Automação - DCA
59078-900 - Natal – RN - Brasil

RESUMO possibilidades um recurso que atraia as crianças e com isso


Este artigo tem como propósito relatar a utilização de uma facilitaria o processo de aprendizagem. Um de seus trabalhos mais
metodologia baseada na teoria socio-interacionista de Lev célebres foi a criação da tartaruga controlada em LOGO, que é
Vygotky para o ensino de robótica a crianças do Ensino uma linguagem de programação de fácil assimilação, a qual serve
Fundamental. Os conceitos de robótica foram trabalhados em para a comunicação do homem com o computador. Tempos
forma de oficinas, realizadas na Escola Municipal Ascendino de depois surge a junção da linguagem LOGO com os brinquedos da
Almeida, na cidade do Natal, RN-Brasil, com crianças do 50 e 60 LEGO, formando o sistema LEGO-LOGO. Desta forma, as
anos do Ensino Fundamental. Foram utilizados kits Lego e crianças têm a possibilidade de construir seus protótipos
desenvolvido um software, o RoboEduc, especialmente para que utilizando o brinquedo LEGO que, estando conectado ao
os alunos controlassem e programassem os protótipos computador, as mesmas poderão construir programas em LOGO e
desenvolvidos. proporcionar comportamentos aos protótipos montados.
A robótica educacional caracteriza-se por um ambiente de
Palavras-chaves trabalho, onde os alunos têm a oportunidade de montar e
Robótica Educativa, Vygotsky, Metodologia de Ensino programar seu próprio sistema robotizado, controlando-os através
de um computador com softwares especializados. Através da
1. Introdução robótica, o aprendiz será o construtor de seus conhecimentos, por
De acordo com Steffen[7], a robótica pode ser definida como uma meio de observações e da própria prática. Acreditamos, que esse
área de conhecimento relacionada com o controle e a construção processo se dá através de um ensino colaborativo, onde
de robôs. Robô é uma derivação da palavra tcheca robotnik que parceiros(professores e alunos) construam coletivamente.
significa “servo”. Coube ao escritor de ficções científicas e
bioquímico famoso, Isaac Asimov a popularização do termo Entretanto, desenvolver um ambiente onde a aprendizagem
Robô, por meio de publicações envolvendo a temática Robótica. colaborativa ocorra não é uma tarefa fácil. É preciso que os
Foi ele também o idealizador das três leis fundamentais da profissionais envolvidos trabalhem também de forma a
robótica. colaborarem uns com os outros. Isso é possível através do
planejamento. Pois, pode-se buscar os elementos mediadores que
Na educação, a robótica pode ser vista como o emprego da possibilitem o desenvolvimento de capacidades cognitivas
robótica industrial, isto é, a utilização de conceitos básicos de superiores, dentro da perspectiva da psicologia sócio
mecânica, cinemática, automação, hidráulica, informática e interacionista [8].
inteligência artificial em um ambiente de aprendizagem[7]. Nesse
ambiente, as atividades de construção e controle de dispositivos Nesse artigo apresentamos a aplicação da teoria de Vygostky[8]
(usando kits de montar ou outros materiais, como sucata, ao ensino de robótica para crianças do Ensino Fundamental.
composta por diferentes peças, motores e sensores controláveis Busca-se o desenvolvimento da aprendizagem colaborativa
por computador e softwares) devem propiciar o manuseio e a através do Projeto de Inclusão Digital com Robôs[1]. Esse projeto
contrução de novos conceitos. Portanto, a robótica aplicada à propõe o combate a exclusão digital presente nas camadas
educação designa-se Robótica Educativa ou Robótica Pedagógica, desfavorecidas da sociedade brasileira, propiciando a
ambas com o mesmo sentido familiarização com os recursos tecnológicos utilizados, neste caso,
computadores e robôs.
Segundo Castilho [3], poucos são os registros sobre a história da
robótica aplicada à educação. Saymourt Papert foi o grande Para o desenvolvimento do Projeto foi proposto a aplicação de
precursor desta atividade, dando início aos seus trabalhos acerca oficinas de robótica pedagógica, nas quais foram realizados
da robótica na educação, pois via no computador e suas experimentos de inserção digital envolvendo robôs, a operação
remota e programação de protótipos, bem como o por ela que comunicamos o conhecimento e as idéias individuais e
desenvolvimento e testes das ferramentas criadas. entendemos o pensamento do outro envolvido no processo.
A Escola Municipal Ascendino de Almeida foi escolhida para A origem da inteligência está nas relações sociais, portanto, a
aplicação do Projeto. Esta encontra-se localizada em um bairro aprendizagem acontece inicialmente de forma interpsíquica , no
periférico em Natal, RN. Participam desse projeto alunos coletivo, para a intrapsíquica, no indivíduo[8]. O conhecimento é
criteriosamente escolhidos por apresentarem dificuldades na construído pelas interações com outros indivíduos. As interações
aprendizagem escolar. sociais desencadearam o desenvolvimento. Isso ocorre devido ao
processo de mediação criado quando duas ou mais pessoas
Nas oficinas de robótica pretendemos trabalhar por meio do cooperam numa atividade (interpessoal), favorecendo a
ensino colaborativo e avaliar de forma contínua o raciocínio reconstrução do conhecimento (intrapessoal).
lógico, a criatividade, o trabalho em equipe, a autonomia e
responsabilidade dos estudantes, além do trabalho com os Segundo Frawley[5] para Vygotsky o desenvolvimento é
conteúdos de robótica e informática, de maneira a promover a teleológico, isto é, o progresso vai em direção a um estado final
socialização entre os envolvidos. melhor. A aprendizagem se dá quando ocorre uma situação
inesperada, um colapso, o indivíduo procura ajuda, direcionando
Para controle e programação dos robôs foi desenvolvida uma suas ações para o grupo e a condições sociais externas em busca
ferramenta que pudesse auxiliar as crianças no processo de de apoio. Esse processo se dá de acordo com três conceitos
aprendizagem colaborativa: o softaware RoboEduc[1]. Com o uso elementares: a internalização, a mediação e o controle.
dessa ferramenta podemos trabalhar com as crianças conceitos
tecnológicos, como informática e robótica, incentivando a Para Vygotsky[8] a interação de um indivíduo com o mundo não é
colaboração entre todos os envolvidos no projeto. Além disso, uma relação direta, mas mediada, sendo os sistemas simbólicos os
podemos trabalhar a cooperação entre robôs, pois os alunos elementos intermediários nessa intervenção. Em termos genéricos,
poderão ensiná-los a desenvolver determinadas tarefas. a mediação é o processo de intervenção de um elemento numa
relação, que deixa de ser direta e passa a ser mediada por esse
Buscaremos, nas seções seguintes, descrever, brevemente, a teoria elemento.
de Vygotsky, a metodologia aplicada, as oficinas e resultados
alcançados. Vygotsky[8,2,5] identificou dois níveis de desenvolvimento, um
real, já adquirido ou formado, que determina o que uma pessoa é
2. Aspectos Teóricos capaz de fazer por si própria, e um potencial, ou seja, a capacidade
Vygotsky elaborou uma psicologia alicerçada na teoria marxista de aprender com outra pessoa. A aprendizagem interage com o
do funcionamento intelectual humano juntamente com seus desenvolvimento, produzindo abertura nas Zonas de
colaboradores Alexandre Romanovich Luria e Alexei Leontiev. Desenvolvimento Proximal (ZPD), que é distância entre o nível de
Para ele, o desenvolvimento cognitivo se dá pelo processo de desenvolvimento real e o potencial nas quais as interações sociais
internalização da interação social com materiais fornecidos pela são centrais, estando então, ambos os processos, aprendizagem e
cultura. desenvolvimento, inter-relacionados.
De acordo com Oliveira [6], a interação social, seja diretamente De acordo com Vygotsky, a ZPD corresponde às funções que
com os outros membros da cultura, seja através dos diversos estão em maturação no indivíduo. Essa zona proximal revelaria a
elementos do ambiente culturalmente estruturado, fornece a dinâmica do processo de desenvolvimento, prevendo o resultado a
matéria prima para o desenvolvimento psicológico do indivíduo. ser obtido quando o conhecimento foi assimilado. Ela revela o
desenvolvimento real futuro, aquilo que uma pessoa será capaz de
Segundo Vygotsky[8], nascemos apenas dotados de funções
fazer sozinho, depois de internalizar o aprendizado. Assim, é
psicológicas elementares, como os reflexos e a atenção
possível prever o desenvolvimento de uma pessoa ao observar
involuntária, presentes em todos os animais mais desenvolvidos.
essa diferença entre o que ela faz e o que pode fazer.
Com o aprendizado cultural, mediado pela linguagem, no entanto,
parte dessas funções básicas transforma-se em funções 3. Metodologia
psicológicas superiores, como a consciência, o planejamento e a O trabalho com a robótica no âmbito educacional estimula a
deliberação, características exclusivas do homem. curiosidade, empolgação, concentração, orgulho e prazer na
O mecanismo que proporciona essa dinâmica é a linguagem. realização das atividades, possuindo metodologias específicas, as
Vygotsky considera a linguagem um dos instrumentos básicos quais possibilitam o relacionamento com conteúdos curriculares,
inventados pelo homem, que tem duas funções fundamentais: a de como os de matemática, artes, física, ciências, dentre outros.
intercâmbio social - é para se comunicar que o homem cria e Assumi-se, desta forma, como ferramenta interdisciplinar,
utiliza sistemas de linguagem - e de pensamento generalizante - é favorecendo assim a construção do conhecimento.
pela linguagem podemos ordenar o real, agrupando uma mesma A robótica sugere um trabalho bastante significativo. Nesse, os
classe de objetos, eventos, situações, sob uma mesma categoria, alunos devem ser estimulados a pensar, estruturar suas idéias,
que se constroem os conceitos e significados das palavras. Assim, elaborar hipóteses, para, enfim, chegar ao objetivo pretendido.
a linguagem é fundamental para estruturar o pensamento, pois é Portanto, a Robótica Pedagógica caracteriza-se como uma
Permission to make digital or hard copies of all or part of this work for aprendizagem problematizadora.
personal or classroom use is granted without fee provided that copies are
not made or distributed for profit or commercial advantage and that copies Dentro dessa perspectiva é que a metodologia empregada no
bear this notice and the full citation on the first page. To copy otherwise, Projeto de Inclusão Digital com Robôs, se insere, propondo
or republish, to post on servers or to redistribute to lists, requires prior atividades em que se possa reconhecer a importância de um
specific permission and/or a fee. trabalho em equipe; o saber dividir, por meio do
Conference’04, Month 1–2, 2004, City, State, Country.
Copyright 2004 ACM 1-58113-000-0/00/0004…$5.00.
compartilhamento de tarefas e a não ter medo de errar, pois como
assegura Zilli [4], “o erro oferece oportunidades para que o aluno
entenda porque errou e busque uma nova solução para o
problema, investigando, explorando, descobrindo por si próprio,
ou seja, a aprendizagem se dará pela descoberta”.
A postura teórica em relação aos aspectos educacionais pauta-se
na aprendizagem colaborativa e pela observação, valorizando
aspectos socioconstrutivistas, nesse sentido nossas investigações
tomam por base as teorias de Lev S. Vygotsky, como descrito
acima.

3.1.Software RoboEduc
O RoboEduc[1] dá suporte ao ensino de conceitos de robótica e
programação de robôs, assistindo na construção, controle e
programação de diversos modelos de protótipos de robôs. (1b) Tela Controle
Encontra-se implementado um banco de dados de protótipos
agrupados pelo nível de complexidade na construção dos mesmos Figura 1:Telas do RoboEduc
e das tarefas que podem ser realizadas para cada robô.
No RobEduc, o usuário do sistema (professor ou estudante) tem
três casos nos quais pode usar o sistema: Escolher um Protótipo,
Programar e Controlar o mesmo(ver figura 1). O usuário dispõe
de vários tipos de protótipos de robôs. Os protótipos são
agrupados pela funcionalidade que os mesmos têm no mundo
real, chamada neste software de modelo do robô.
Quando um modelo é escolhido, o usuário precisa indicar para o
software como o robô foi construído, quer dizer, como é sua a
base e quais os sensores (elementos para perceber ou sentir o
ambiente) e atuadores (elementos para atuar sobre ou modificar o
ambiente) que o robô possui. Após escolhido um protótipo, o
usuário pode então escolher entre Controlar ou Programar o
Robô(ver figura 2 ).

Figura 2: Tela Controle e Programação


A etapa de controle é considerada o nível 0(zero) de programação,
visando apenas que os estudantes compreendam conceitos básicos
de robótica e computação. O controle do robô se faz através do
uso de uma interface visual de controle, por um programa
executado no computador.
Quando o usuário programa um protótipo, ele tem que escolher o
nível de programação que ele deseja utilizar. O nível 0 refere-se
ao nível de abstração dos objetos disponíveis para a programação
do robô.
No nível 1, o usuário dispõe simplesmente de botões
representando as funcionalidades de alto nível do robô (e.g. andar
para frente ou girar à direita).
No nível 2, o programador pode editar programas diretamente
num arquivo texto, usando um editor qualquer, e salvar o arquivo
que será então interpretado pelo Roboeduc. Neste nível, os
comandos são ainda em alto nível, uma vez que são direcionados
(1a) Tela protótipo a crianças na faixa etária de 6 a 10 anos.
O nível 3, assemelha-se em complexidade ao uso do Robolab,
sendo destinado a faixa etária seguinte. No nível mais avançado
(destinado a programadores mais experientes), o programador
poderá programar comandos baseados na linguagem de mesmo tempo que explicava para que servia cada peça. Ao
programação C, tendo representações textuais dos diferentes final, desafiava os alunos a montarem o robô. Nessas oficinas
elementos controláveis dos robôs como motores, sensores, foram trabalhados conceitos como engrenagem, atuadores,
elementos de comunicação, etc. motores, e conceitos como transferência de movimento, base
para robôs, etc.
3.2.Proposta Metodológica
A metodologia do projeto é organizada por meio de oficinas de 2. Imitação: Construção Passo a Passo.
robótica pedagógicas, onde participaram alunos do quarto e quinto Nessa etapa os alunos utilizaram um manual para montar o
ano do Ensino Fundamental. Nessas oficinas os alunos foram robô. Aos alunos foram apresentado uma questão desafio,
incentivados a usar o raciocínio lógico, por meio do planejamento como por exemplo, “Vamos fazer um robô com dois motores
de ações, construção e reconstrução de protótipo e da resolução de que seja capaz de executar uma tarefa, como levar um cubo de
problemas, a criatividade, o trabalho em equipe, a um local a outro?”. Os alunos separavam, juntos com o
responsabilidade, a disciplina, a socialização, a autonomia, dentre monitor, as peças necessárias para confecção do robô, de
vários outros aspectos. Tudo isso foi buscado através de acordo com o manual, e seguiam o guia de montagem. Em
atividades criteriosamente planejadas. cada etapa, as monitoras explicavam conceitos referentes a
As oficinas funcionaram uma a cada quinze dias, com uma hora e robótica. Ao final, os alunos controlavam o robô usando o
quarenta minutos de duração, concomitantemente ao horário em software RoboEduc.
que os alunos não participantes do projeto estão em sala de aula. 3. Construção Livre
Essas foram realizadas na sala de leitura da escola. Participaram o
total de dezoito crianças com idades entre 09 e 11 anos. Esses Nessa etapa as crianças forão desafiadas a construir em
alunos foram divididos em três grupos, com seis alunos cada, conjunto um robô, sem um manual. As monitoras tiveram
sempre acompanhados por uma monitora. apenas o papel de catalizadoras das idéias. Entretanto, o robô
montado deveria executar uma tarefa específica. As monitoras
Não podendo englobar todos os alunos, esses foram, então, auxiliaram e questionaram os alunos quanto ao processo de
escolhidos criteriosamente pelas professoras em conjunto com construção dos robôs.
diretora da instituição, pois apostaram na robótica como atividade
motivadora da aprendizagem dos alunos, os quais apresentavam As oficinas que exigiram a presença de um modelo foram
dificuldades na aprendizagem, baixa concentração em sala de aula desenvolvidas em três etapas. Na primeira foram abordados
e repetências seguidas. conceitos referentes a informática, como periféricos, sistema
operacional, ícones, janelas, etc. A segunda etapa, consistiu na
O Projeto de Inclusão Digital com Robôs conta com a montagem de robôs, mediante a utilização de um manual de
participação de uma equipe formada por cinco alunos da montagem, elaborado pela própria equipe do projeto. Na última
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, nas áreas de foram feito o controle dos protótipos através do software
Engenharia da Computação e Educação. educacional RoboEduc, para execução de alguma tarefa. Esses
momentos foram sempre orientados por cada monitora,
3.2.1. Descrição da Metodologia objetivando o desenvolvimento de estratégias para a execução das
Como visto o projeto foi desenvolvido através de oficinas de atividades propostas.
robótica. Essas foram ministradas por três monitoras, todas
graduandas do curso de Engenharia da Computação na Nesses momentos, a interdisciplinaridade, na busca de fazer com
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Estas tiveram a que a prática interdisciplinar juntamente com esta ferramenta
primeira oportunidade de entrar em contato com o meio tecnológica; a robótica; colaborem ainda mais no processo de
educacional, mas propriamente como professoras através deste ensino-aprendizagem dos alunos inseridos nas oficinas. As
Projeto de Inclusão Digital com Robôs, participando do imagens mostram alunos montando um protótipo (Figura 3(a)) e
planejamento de ações juntamente com os outros componentes da usando o RoboEduc para controlá-lo (Figura 3 (b))
equipe do Projeto, sugerindo atividades, expondo as dificuldades
encontradas neste novo ofício que exercem, como também
apresentando os avanços de seus alunos, e assim mostram-se
realizadas como mediadoras da aprendizagem.
As oficinas foram desenvolvidas de modo que as crianças
adquirissem conhecimentos de robótica, informática, Matemática,
Física, dentre outras, além de desenvolver habilidade para montar
os robôs. Cada oficina foi dividida em duas partes: Trabalho com
informática, sempre de forma lúdica, e trabalho com Robótica,
que consistia em abordar aspectos teóricos, montagem e
manipulação de robôs construídos com o kit LEGO. Com essa (a)Montagem (b)Controle
estrutura, as oficinas foram divididas em três grandes momentos,
descritos abaixo. Figura 3:Desemvolvimento de uma oficina
1. Imitação: Desconstruir para construir Para a montagem dos protótipos, assimilação dos conteúdos de
robótica e resolução das atividades foram utilizados kits LEGO
Um protótipo pronto feito com peças LEGO foi apresentado
Mindstorms, com faixa etária indicada para alunos de onze a
às crianças. Os alunos manipularam o robô observando o que
ele fazia, que peças tinha. A monitora desmontava o robô ao dezesseis anos, três computadores, como meio para efetuar o
controle do robô montado por meio do software educacional altura, os alunos estavam mais soltos, e o trabalho começou a
RoboEduc, bem como para ministrar conteúdos de informática de adquirir um formato mais coletivo. Os alunos ainda buscavam as
forma concreta, onde os alunos não só aprendem teorias acerca respostas nas monitoras, mas já começavam a trocar idéias entre
dos programas e dos componentes físicos da máquina, como si, a ouvir o colega mais capaz.
também excutam esses programas e visualizam as partes físicas do
computador. As oficinas que mais exigiram do grupo foram, sem dúvida, as de
construção sem ajuda de um manual. Não na sua elaboração, pois
Nas oficinas em que a construção do robô era livre foram afinal consistia em motivar o grupo a construir um robô que
desenvolvidas em duas etapas: construção e programação, no pudesse executar uma tarefa. Essas oficinas foram divididas em
nivel 1. duas etapas. Na primeira, os alunos montavam o robô e o
controlava com a parte de controle do RoboEduc. Na segunda,
3.3 Processo de Avaliação além de montar o robô, deveriam programá-los.
Para acompanhar o desenvolvimento das capacidades dos alunos
participantes das oficinas, a equipe do projeto criou um sistema Apesar de termos “criado” uma zpd no que se refere a montagem
avaliativo, objetivando uma avaliação contínua. O modelo de de um robô e os conceitos de robótica, os alunos e monitoras se
avaliação levou as monitoras a observar mais cuidadosamente sentiram inseguros durante esse processo. Tinha sido tirado um
seus alunos, compreendendo melhor seu funcionamento, elemento mediador importante que eram os manuais. Agora, era
ajustando de maneira mais organizada e individualizada as necessário pensar sobre o que fazer. Para as monitoras isso era
mediações pedagógicas e as situações didáticas, na expectativa de também novidade, pois poderiam surgir questionamentos que não
obter melhores resultados no processo de ensino-aprendizagem. previsíveis, coisa que não acontecia antes, pois de ante mão elas já
sabiam como montar e na falta de uma peça, qual outra substituir.
Na avaliação optamos por contemplar aspectos relacionados ao
comportamento, à interação, à participação nas atividades, Esses foram momentos de muito colapso cognitivo, primeiro em
integração com o grupo, criatividade e assimilação dos conteúdos ajudar os alunos a se desprenderem dos manuais e criar a partir do
passados de robótica e informática, como também, por meio de que já sabiam e depois, foi ajudá-los a sair do controle, outro
um trabalho interdisciplinar, conteúdos relacionados com o elemento mediador, e a pensar como programar, que exige um
Português, a Matemática, a Geografia, a Física, enfim disciplinas pensar algoritmo. Isso exigiu que a equipe pedagógica não
as quais as atividades desenvolvidas englobam. perdesse de vista que o suporte dado aos alunos era transitório,
pois aos poucos o controle deveria sair das mão das monitoras
Durante as oficinas a avaliação foi feita individualmente(pessoal) para os alunos.
e também o grupo como um todo(social). Os aspectos citados
acima foram analisados pelas monitoras da oficina e com base na As tarefas que os robôs deveriam executar foram simples.
avaliação individual a atuação de cada aluno era classificado em Consistiam na sua grande maioria em percorrer determinado
regular, bom ou ótimo. Existiu também um espaço para caminho, apanhar algum objeto. Nessas oficinas, não foram
comentários. Os comentários focarm às dificuldades encontradas realizadas tarefas que exigiam o uso de controle de fluxo, só os
por cada monitora na realização da oficina, seja de ordem técnica, comandos primitivos(direita, esquerda, frente, ré, abre/fecha garra
da maneira como abordar os conteúdos, avanços de determinados e pare).
alunos, bem como aos problemas ocorridos entre eles. Esta análise
final revelou com mais propriedade as dificuldades encontradas A construção do trabalho pelo enfoque sócio-histórico mostrou-se
pelas monitoras no decorrer de suas aulas, os quais, juntamente rica em vários aspectos. O mais relevante foi a construção do
com toda equipe foram procuradas formas de resolvê-las. conhecimento pelos alunos. Mediados por vários recursos, os
conceitos principais de robótica foram sendo construídos nas
4 Experiências Realizadas e Resultados oficinas. O processo de mediação foi feito através dos recursos
Foram realizadas 20 oficinas, sendo quatro da primeira fase, seis descritos abaixo.
de Construção Passo a Passo e as restantes de Construção livre e 1. Linguagem oral e escrita
Programação. Na primeira etapa, alguns se mostraram eufóricos
em responder sobre o que poderia fazer o robô, para que servia. Uma das formas de mediação comumente utilizada, a
Eram respostas espontânea, sem pensar, ás vezes. No entanto, a expressão oral buscava sempre respeitar e incentivar a fala dos
maioria esperava que a monitora desse a resposta para o alunos. As monitoras foram orientadas a buscar sempre as
questionamento feito. As vezes parecia um monólogo. As opiniões dos alunos, relatos das oficinas e nomeação das peças
monitoras, nesse momento, questionavam os alunos sobre as do kit. Apresentação de conceitos em forma de história em
respostas dadas, quais as suas crenças, o que poderia ser feito, quadrinhos e posterior leitura pelas e monitoras e pelos
modificado. Os alunos, nessa etapa, se mostraram meio receosos alunos, serviram para mostra que todos teriam voz durante a
em responder aos questionamentos, em dá sua opinião, levantar realização das oficinas. os alunos receberam um caderno onde
hipóteses. O processo de montagem era meio individual, deveriam, após cada oficina, relatar o que aprenderam.
revelando que os alunos tinham pouco contato com trabalho em Os exercícios impressos também foram elementos de grande
grupo. importância, pois aliavam a linguagem oral e a escrita.
Quando passamos para a parte de construir com a ajuda do 2. Linguagem Infográfica
manual, observamos que os conceitos abordados na etapa anterior
tinham sido assimilado pelos alunos. O interessante é que o grupo Os manuais de montagem utilizam o texto e imagens. A
aceitou bem a leitura infográfica exigida pelos manuais. Optamos construção dos robôs partia da unidade para o todo. Os alunos
em fazer uma manual com imagens e indicações de como montar “viam” as peças que seriam utilizadas, separava-as e aos
cada parte do protótipo que seria construído na oficina. Nessa poucos iam vendo com elas se agregavam para formar o todo,
o robô. 5 Considerações Finais
3. Kit Lego Durante a realização das oficinas vários desafios foram surgindo,
alguns foram superados e outros ainda continuam em estágio de
Para a formação dos conceitos buscou-se partir dos latência. Um deles foi encontrar elementos mediadores que
conhecimento espontâneo dos alunos. Por exemplo, para possibilitassem a aquisição de conceitos de robótica e de
trabalhar os sensores foi explorado o conhecimento dos disciplinas afins(Matemática, Física, etc). Os componentes do kit,
sentidos e apresentados os sensores e como “funcionam” em que a princípio eram mera ferramentas, passaram a ser signos ao
um robôs. Com as peças do kit foi possível abordar conceitos constituirem elementos dos manuais de montagem. Os robôs,
com transferência de movimento, através das engrenagens, também passaram a ter seu caráter simbólico ao abordarmos
construção de polias, etc. conceitos como engrenagem, movimento, necessidade executar
4. Apresentações feitas no Software OpenOffice uma determinada tarefa.
Apresentação Acreditamos que a estrutura das oficinas foi relevante para o
As apresentações foram utilizadas para abordar conceitos de sucesso e desafios surgidos. Partimos de um processo
robótica, de outras disciplinas e de informática. Esse recurso exploratório, inicialmente imitativo, concreto, para uma processo
foi interessante, uma vez que utilizamos texto, imagens, de criação de modelos. É certo que os alunos ainda fazem
animações, sons. modelos similares aos que foram montados com a ajuda dos
manuais. Isso não desqualifica o trabalho, pelo contrário, mostra
5. Jogos que os alunos estão saindo de um processo de imitação para o de
elaboração. Inicialmente, as monitoras tiveram um maior controle,
Em cada oficina foi utilizado algum jogo. Esses foram como indivíduos mais especializados, mas esse foi sendo delegado
utilizados com dois objetivos, uma para avaliação, como jogo gradualmente aos alunos. Dessa forma, a ajuda teve/tem como
da memória, e outros para as crianças controlarem os robôs
requisito sua desmontagem progressiva, sendo ajustável e
para executar um determinada tarefa, como labirinto, palavra
temporal[2].
cruzada(ver figuras 4 e 5). Alguns jogos foram criados
especialmente para as oficinas, como o jogo ``Dodecaedro Analizando as oficinas realizadas, podemos dizer que os alunos
Fracionário", que foi utilizado robótica, noções de fração, sairam de um estágio em que não existiam um nível de
geometria espacial e controle de software. Outro jogo bastante desenvolvimento potencial, o surgimento desse e com isso, a
interessante foi o “Viajando pelo Rio Grande do Norte”, em criação de zpds. O processo metacognitivo se deu através do
que as crianças deveriam fazer com que o robô navegasse por diálogo, do desenvolvimento das capacidades da criança em
um mapa, com algumas cidades em destaque, fazendo o pensar estratégias e concretizá-las.
menor caminho entre elas. Nesse jogo foram abordados
conceitos de robótica, matemática(caminho em grafos, 6 Referências Bibliográficas
aspectos topológicos), geografia(leitura de mapas, localização
[1] D. B. Aranibar, V. Gurguel, M. Santos, G. R. Araujo, V. C.
espacial).
Roza, R. A. Nascimento, A. F. da Silva, A. Silva, and L. M.
G. Nascimento. Roboeduc: A software for teaching robotics
to technological excluded children using lego prototypes. In
3rd IEEE Latin American Robotics Symposium,
Santiago,Chile, 2006.
[2] R. Baquero. Vygotsky e a Aprendizagem. Artmed, 2000.
[3] M. I. Castilho. Robótica na educação: Com que objetivos?
Master’s thesis, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
2002.
[4] S. do Rocio Zilli. A robótica educacional no ensino o
fundamental: Perspectivas e práticas. Master’s thesis, a
Figura 4: Jogo Labirinto Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção,
Universidade Federal de Santa Catarina, 2004.
[5] W. Frawley. Vygotsky e a Ciência Cognitiva: linguagem e e
integração das mentes social e computacional. Artmed, 2000.
[6] M. K. Oliveira. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento
um processo sócio-histórico. Scipione, 1997.
[7] H. H. Steffen. Robótica pedagógica na educação: Um recurso
de comunicação, regulagem e cognição. Master’s thesis,
Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo,
São Paulo
[8] L. S. Vygotsky. Pensamento e Linguagem. Martins Fontes,
1993.

Figura 5: Jogo Palavras_Cruzadas

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