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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS PÓVOA DE SANTA IRIA

Escola Básica e Secundária


D. Martinho Vaz de Castelo Branco Classificação
Ano letivo: 2018/2019
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Ficha de avaliação de Português
Nome: _______________________________________________________________________ Professor(a)
N.º _____ Ano: ___º Turma:___ Data:___ / ___ / 2019
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Encarregado de Educação ______________________________________________________
Lê este texto de Alves Redol, com muita atenção. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário que é
apresentado, por ordem alfabética, a seguir ao texto.
A personagem principal é o Constantino, a quem também chamam Cuco.
TEXTO
Para o Cuco, almirante de um navio de cana, a grande aventura, a verdadeira, vivera-a ele durante a noite.
Ainda agora se embala nessa aventura maravilhosa de viajar num barco mágico, onde acabara por nascer duma simples
folha um mastro com vela grande e verde. Parecia mesmo um pendão. Só assim pudera entrar pelo mar dentro – nem
sabia bem aonde chegara! –, embora acossado por vagas e temporais medonhos.
A viagem sonhada fora-lhe preciosa. Aprendera nela muitas coisas de marinhagem, de que aproveitaria quando
repetisse, ao vivo, essa aventura misteriosa. Ah, sim, tem a certeza, e agora mais do que nunca, de que irá construir
um barco seu, arrebanhando quantas canas e tábuas consiga encontrar na aldeia.
Há-de preparar o navio com todo o preceito, sem esquecer o mais importante. Para mastro arranjará um pau de
varejar azeitona. O pai tem um guardado no palheiro; é alto e verga-se bem. Tirará a vela dum lençol velho, mesmo
remendado. Precisa de oferecer ao vento uma boa concha para lhe soprar com força.
Não, não pode ficar-se por uma jangada qualquer feita à matroca com dois molhos de canas amarrados por arames, à
toa. Assim iriam, quando muito, até perto de Bucelas. E ele precisa de alcançar terras mais distantes…
Quer chegar a serralheiro de navios, há-de construir alguns que deitem fumo, desses que aguentam em cima com o
povo inteiro do Freixial. Não conhece ofício mais bonito!...
Precisa de mostrar às pessoas que merece andar com fato-macaco de duas alças. Não é serralheiro de ferro-velho,
como já o Evaristo Bacalhau lhe chamou a brincar. Um navio custa mais a fazer do que uma casa e o seu barco novo
há-de espantar toda a gente…
Daí por um ano, quando fizer o exame, o pai irá levá-lo aos estaleiros, como prometeu:
– Eh, mestre!... Precisa cá de um aprendiz?...
Ele poderá acrescentar sem melindres para ninguém:
– Aprendiz não é bem assim… Já fiz um barco… Já pus sozinho um barco a navegar. Vim da minha terra até aqui…
Vive para esse grande e único sonho, nascido à vista do Tejo, quando o levaram a Lisboa pela primeira vez.
Constantino sente-se investido na dignidade de guardador desse sonho. E sabe que o passará inteirinho para as suas
mãos.
Quando voltar à cidade, não dirá com espanto nos olhos:
– Ena pai, tanta água!... Donde vem esta água toda?!...
Conhece agora os mistérios da água e do mar. Aprendeu muitas coisas boas e sábias, e vai usá-las, pois então!
Quando?!...
Por enquanto é segredo. O Constantino quer fazer uma surpresa à Ti Elvira, porque a avó lhe disse um dia: cresce e
aparece. E o nosso amigo Cuco sabe também que o verdadeiro tamanho de um homem se mede pela coragem e pelas
obras. Amanhã mesmo ele vai continuar a construir o seu barco. Já o meteu no estaleiro do coração, conhece-o de cor,
e o resto é fácil…
Alves Redol, Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos,
18.ª ed., Lisboa, Editorial Caminho, 1998
1
VOCABULÁRIO:
à matroca – ao acaso; sem cuidado. pendão – bandeira.
acossado – perseguido. preceito – rigor.
arrebanhando – juntando; reunindo. serralheiro – indivíduo que faz ou que conserta
estaleiro – lugar onde se constroem e reparam navios. ferragens.
investido na – possuidor da; posto na posse da. varejar – sacudir com uma vara os ramos das árvores
marinhagem – conhecimento da arte de navegar. para fazer cair o fruto.
melindres – ofensas.

Para responderes às questões de 1. a 5., assinala a correspondente à alternativa correta, de acordo com o sentido do
texto.

1. Cuco passara pela grande aventura de viajar


a) num barco a motor. c) num navio a vapor.
b) numa jangada de canas. d) num barco imaginário.

2. A viagem nocturna de Cuco


a) despertou-lhe o desejo de construir o seu barco. c) aconteceu após uma visita aos estaleiros com o pai.
b) fê-lo desistir de fazer outras viagens no mesmo d) provocou-lhe indisposição, por causa da tempestade
barco.

3. Cuco há-de vir a ter um barco construído com material


a) comprado pelo pai. c) oferecido pelo serralheiro.
b) encontrado no estaleiro. d) arranjado por ele próprio.

4. Cuco precisa de mostrar a toda a gente que


a) aspira a ser serralheiro de ferro-velho. c) pretende dirigir um estaleiro naval.
b) é digno da profissão de serralheiro. d) deseja vir a ser almirante de um navio.

5. A frase «Constantino sente-se investido na dignidade de guardador desse sonho.» significa que Constantino
a) se sente preparado para voltar a sonhar. c) se sente impedido de conservar esse sonho.
b) sente que esse sonho é difícil de concretizar. d) se sente responsável por preservar esse sonho

6. Ateste a veracidade (V) ou falsidade (F), cada uma das hipóteses que completam a frase seguinte:
Ao longo da narrativa, Cuco vai-se revelando um rapaz
a) angustiado ____ d) determinado _____
b) arrogante ____ e) indeciso ____
c) corajoso _____ f) persistente ____

2
Lê o texto com muita atenção e responde às perguntas que te são colocadas.
Dia. Ó poderoso dom Anrique Fid. Quê? Quê? Quê? Assi lhe vai?
cá vindes vós? Que cousa é esta?
Dia. Vai ou vem, embarcai prestes!
Vem o fidalgo e, chegando ao batel Segundo lá escolhestes,
infernal, diz: assi cá vos contentai.
Pois que ja a morte passastes
Fid. Esta barca onde vai ora, havês de passar o rio.
que assi está apercebida?
Fid. Não há aqui outro navio?
Dia. Vai pera a ilha perdida
e há-de partir logo essa'ora. Dia. Não, senhor, que este fretastes,
e primeiro que espirastes
Fid. Pera lá vai a senhora? me destes logo sinal.

Dia. Senhor, a vosso serviço. Fid. Que sinal foi esse tal?

Fid. Parece-me isso cortiço... Dia. Do que vós vos contentastes.

Dia. Porque a vedes lá de fora. Fid. A estoutra barca me vou.


- Hou da barca! Pera onde is?
Fid. Porém, a que terra passais? Ah, barqueiros! Não me ouvis?
Respondei-me! Houlá! Hou!
Dia. Pera o Inferno, senhor. (Par Deos, aviado estou!
Cant'a isto é já pior
Fid. Terra é bem sem-sabor. Que giricocins, salvanor!
Cuidam que sao eu grou?)
Dia. Quê? E também cá zombais?
Anjo. Que querês?
Fid. E passageiros achais
pera tal habitação? Fid. Que me digais,
pois parti tão sem aviso,
Dia. Vejo-vos eu em feição se a barca do Paraíso
pera ir ao nosso cais... é esta em que navegais.

Fid. Parece-te a ti assi. Anjo Esta é: que demaindais?

Dia. Em que esperas ter guarida? Fid. Que me leixes embarcar.


Sou fidalgo de solar,
Fid. Que leixo na outra vida é bem que me recolhais.
quem reze sempre por mi.
Anjo Não se embarca tirania
Dia. Quem reze sempre por ti!... neste batel divinal.
Hi hi hi hi hi hi hi!...
E tu viveste a teu prazer,
cuidando cá guarecer
porque rezam lá por ti?
Embarcai! Hou! Embarcai,
que haveis de ir à derradeira.
Mandai meter a cadeira, Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno
que aqui passou vosso pai.

1. Quem é a personagem tipo nesta cena?


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2. Identifica o local onde decorre a ação.
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3. Indica os elementos cénicos que acompanham o Fidalgo e explica o que simboliza cada um deles.
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3
4. Descreve a movimentação da personagem em cena.
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5. Aponta, explicando, o critério indicado pelo Diabo para que as almas se salvem ou sejam
condenadas.
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6. Explicita a intenção crítica desta cena.
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7. Refere o recurso expressivo presente na segunda fala do Diabo e comenta o seu valor expressivo:
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8. Refere o recurso expressivo presente na segunda fala do Diabo e comenta o seu valor expressivo:
“Vai pera a Ilha Perdida e há de partir logo essora.”
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Lê o texto com muita atenção e responde às perguntas que te são colocadas.

Vem um Onzeneiro, e pergunta ao Arrais ANJO Pois cant'eu mui fora estou de te levar para
do Inferno, dizendo: lá. Essoutra te levará; vai pera quem te enganou!
ONZENEIRO Pera onde caminhais? ONZENEIRO Porquê?
DIABO Oh! que má-hora venhais, onzeneiro, meu ANJO Porque esse bolsão tomará todo o navio.
parente! Como tardastes vós tanto? ONZENEIRO Juro a Deus que vai vazio!
ONZENEIRO Mais quisera eu lá tardar...Na safra do ANJO Não já no teu coração.
apanhar me deu Saturno quebranto. ONZENEIRO Lá me fica, de rondão, minha fazenda
DIABO Ora mui muito m'espanto nom vos livrar o e alhea.
dinheiro!... ANJO Ó onzena, como és feae filha de maldição!
ONZENEIRO Solamente para o barqueiro nom me Torna o Onzeneiro à barca do Inferno e diz:
leixaram nem tanto... ONZENEIRO Houlá! Hou! Demo barqueiro! Sabês vós
DIABO Ora entrai, entrai aqui! no que me fundo?Quero lá tornar ao mundo e trazer
ONZENEIRO Não hei eu i d'embarcar! o meu dinheiro.que aqueloutro marinheiro, porque
DIABO Oh! que gentil recear, e que cousas pera me vê vir sem nada, dá-me tanta borregada como
mi!... arrais lá do Barreiro.
ONZENEIRO Ainda agora faleci, leixa-me buscar DIABO Entra, entra, e remarás!Nom percamos mais
batel! maré!
DIABO Pesar de Jam Pimentel! Porque não irás ONZENEIRO Todavia...
aqui?... DIABO Per força é! Que te pês, cá entrarás! Irás
ONZENEIRO E pera onde é a viagem? servir Satanás, pois que sempre te ajudou.
DIABO Pera onde tu hás-de ir. ONZENEIRO Oh! Triste, quem me cegou?
ONZENEIRO Havemos logo de partir? DIABO Cal'te, que cá chorarás.Entrando o
DIABO Não cures de mais linguagem. Onzeneiro no batel, onde achou o Fidalgo
ONZENEIRO Mas pera onde é a passagem? embarcado, diz tirando o barrete:
DIABO Pera a infernal comarca. ONZENEIRO Santa Joana de Valdês! Cá é vossa
ONZENEIRO Dix! Nom vou eu tal barca. Estoutra senhoria?
tem avantagem.Vai-se à barca do Anjo, e diz:Hou FIDALGO Dá ò demo a cortesia!
da barca! Houlá! Hou!Haveis logo de partir? DIABO Ouvis? Falai vós cortês! Vós, fidalgo,
ANJO E onde queres tu ir? cuidareis que estais na vossa pousada? Dar-vos-ei
ONZENEIRO Eu pera o Paraíso vou. tanta pancada com um remo que renegueis!
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1.“(…)onzeneiro, meu parente!”
1.1.Explica este verso proferido pelo Diabo.
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2. ”Ora mui muito m'espanto /
nom vos livrar o dinheiro!...”
2.1. Indica qual o recurso expressivo utilizado nesta frase e explicita o seu valor expressivo.
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3. Quando entra em cena, o Onzeneiro traz consigo um símbolo cénico.
3.1.Diz qual é e indica qual o seu valor simbólico.
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4.Diz quais os argumentos de acusação usados pelo Diabo e pelo Anjo.


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5. Chegado ao cais, naturalmente que o Onzeneiro desejava entrar na Barca da Glória. Para isso apresenta
argumentos para a defesa da sua pretensão.
5.1.Que argumentos foram usados pelo Onzeneiro para sua defesa?
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6.Seleciona o verso que manifesta a tomada de consciência do erro do Onzeneiro.


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7.Apresenta a razão do cumprimento do Onzeneiro ao Fidalgo.


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8.Aponta a finalidade da escolha desta personagem, neste auto de Gil Vicente.
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1- Transforma cada par de frases simples numa frase complexa, utilizando conjunções das subclasses
indicadas entre parênteses. Faz as alterações necessárias:
a) Tu subirás a essa árvore. Os ramos partir-se-ão. (conjunção subordinativa condicional)
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b) Esta azinheira tem uma sombra tão ampla! Convida ao repouso. (conjunção subordinativa consecutiva)
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2- Retira das frases complexas que se seguem as orações subordinadas e classifica-as:


a)“Fezestes bem, que é fermosa!” (v. 15)
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b) “Juro a Deus que nom t’entendo!” (v. 24)
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c) Geralmente, os alunos que leem o Auto da Barca do Inferno acham graça ao Parvo.
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3 - Indica os processos fonológicos verificados nas palavras:


a) val> vale ______________________________________________________________________________
b) door> dor _____________________________________________________________________________
c) lupu> lobo _____________________________________________________________________________
d) ante > antes __________________________________________________________________________
e) et > e _________________________________________________________________________________
f) nostru > nostu > nosso ___________________________________________________________________

Escolhe UMA das seguintes propostas de composição:


1. “Um dos aspectos mais importantes das peças vicentinas é o da sua actualidade. Basta trocar os
nomes de algumas personagens por outros mais actuais, e aí as temos vivas e actuantes, movendo-se entre
nós.”
Numa composição cuidada (100 – 150 palavras), apresente e descreva um tipo social do nosso tempo que
corresponda a uma personagem vicentina do Auto da Barca do Inferno.
.
2. “O autor, desassombradamente (sem medo), denuncia a corrupção espiritual, moral e social de todas as
classes, com particular acento no clero e na nobreza.”
Numa composição cuidada (100 – 150 palavras), comente a afirmação procurando demonstrar a veracidade
da mesma.
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3. “Gil Vicente é considerado, por muitos, o pai do teatro português.”
Numa composição cuidada (100 – 150 palavras), comente a afirmação procurando demonstrar a veracidade
da mesma, refreindo-se à vida e obra de vicentina.

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Bom Trabalho!

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