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ASPECTOS ELETROQUÍMICOS DA FLOTAÇÃO DOS SULFETOS DE COBRE

C. E. Pereira 1 A. E. Clark Peres 2

É feita uma revisão da literatura sobre os aspectos


eletroquimicos da flotação dos principais sulfetos de cobre
que são fontes de produção industrial deste metal, a saber:
calcocita (Cu2S), bornita (CusFeS 4 ) e calcopirita (CuFes 2 ).
Esta revisão mostra diversos resultados de flotação desses
minerais na presença de coletores tio-compostos, em função de
variações no potencial eletroquimico da polpa, enumerando os
mecanismos que regem a adsorção desses coletores e posterior
flotação dos minerais. A partir dos resultados anteriores são
explicadas certas particularidades da flotação do minério de
cobre de Salobo, tais quais a necessidade de elevadas dosagens
de coletores, a não influência do pH e a necessidade de
grandes tempos de flotação, evidenciando-se a importância do
controle eletroquimico como forma de otimização tanto dos
resultados metalúrgicos quanto da economicidade dessa
operação.

ELECTROCHEMICAL ASPECTS OF COPPER SULFIDES FLOTATION

A literature review is carried out concerning the flotation


electrochemical aspects of the main copper sulfides which are
the industrial sources of this metal, such as: calcocite
(Cu 2 S), bornite (CusFeS4) and chalcopyrite (CuFeS2). This
review presents several flotation resul ts for these minerals
in the presence of thiocompounds, according to the changes of
the electrochemical potential of the pulp, citing the
mechanisms which govern the adsorption of these collectors and
subsequently the flotation of these minerals. In light of
earlier reports, certain flotation characteristics of the
·"Salobo" copper ore are explained, such as the need of high
collector dosage, lack of pH influence and necessity of longer
flotation times, showing the importance of the electrochemical
control as a means of optimizing metallurgical results as well
as the economic feasibility of the operation.

1 Doutor em Engenharia, ECM - ENGENHARIA E CONSULTORIA MINERAL


S.A. - Av. do Contorno, 3.257 - Cep 30110 - Belo Horizonte -
MG - Brasil
2 Ph.D., Departamento de Engenharia de Minas/UFMG
Rua Espirita Santo, 35 - Cep 30160 - Belo Horizonte - MG -
Brasil
137

INTRODUÇÃO

Ao longo do desenvolvimento da flotação, diversas


tentativas de explicação mecanistica do processo têm sido
feitas. No entanto, a maioria delas se mostrou inconsistente e
os sistemas reais de flotação, pela quantidade de substâncias
envolvidas e outras particularidades, têm mostrado pouca
relação com os resultados obtidos nos laboratórios quando da
realização dos estudos fundamentais.
Apesar disso este ainda é considerado o melhor
caminho para compreensão dos sistemas industriais de flotação
e o entendimento do mecanismo de interação do coletor com o
mineral, tornando-o hidrofóbico e flotável, é o ponto chave no
entendimento do processo de flotação dos minerais.
Para os minerais sulfetados, três mecanismos básicos
continuam a resistir à análise do tempo e são tidos como as
"teorias" que regeriam a flotação desses minerais, a saber:

a) mecanismo da reação metatética

Proposto, inicialmente, por Taggart e colaboradores


em 1930 (1) afirma que a flotação de sulfetos se processa como
resultado de uma reação de dupla troca entre um composto de
superficie, produto da oxidação do sulfeto, e o ânion tio-
composto, numa reação quimica do tipo:
AB + C D - - AC + BD

b) mecanismo da semi-condutividade dos minerais sulfetados

Proposto, inicialmente, por Plaksin e colaboradores


(2) (3) afirma que a flotação dos sulfetos seria resultado da
transformação da superficie do mineral de semi-condutor tipo n
(excesso de elétrons na superficie) em- semi-condutor tipo p
(deficiência de elétrons na superficie), habilitando-o a
interagir com o coletor, já que o semi-condutor tipo p
apresenta excesso de enxofre (deficiência de metal) na
superficie;
138

c) mecanismo eletroquimico

O envolvimento da eletroquimica (reações de


oxidação-redução) com o comportamento dos sulfetos foi
observado desde a década de 30. Muitos trabalhos analisaram o
comportamento dos sul fetos visando ao seu tratamento
hidrometalúrgico. Nixon e colaboradores (4), em 1953, foram os
primeiros a correlacionarem o comportamento dos sulfetos na
flotação com a eletroquimica do sistema, o que pode ser
considerado um marco no entendimento atual da flotação dos
sulfetos. Este mecanismo serA melhor analisado adiante.
Apesar de se apresentar os mecanismos de forma
separada, é notório o interrelacionamento entre eles. Os três
são consistentes com a necessidade da presença de oxigênio no
sistema e na maioria dos ~studos se observa reações e produtos
tipicos de mais de um desses mecanismos. Na realidade, a
reação de oxidação da superficie do sulfeto no mecanismo da
reação metatética é uma reação de corrosão e,
conseqüentemente, eletroquimica. A transformação da semi-
condutividade de um sulfeto de n a p envolve a transferência
de elétrons e, conseqüentemente, eletroquimica.
Tais fatos, somados ao grande desenvolvimento das
técnicas para estudos eletroquimicos, fazem com que haja hoje
uma tendência a se considerar os dois primeiros mecanismos
como aspectos especificas dentro de um enfoque mais global e
que a eletroquimica englobaria os fenômenos envolvidos no
processo de flotação dos sulfetos (5), conforme será observado
adiante.

ASPECTOS ELETROQUÍMICOS DA FLOTAÇÃO DOS SULFETOS

A revisão da litera·t ura sobre a eletroquimica da


flotação de sulfetos, a partir das proposições iniciais de
Nixon e colaboradores (4), deixa bem estabelecida que o
desenvolvimento da hidrofobicidade na superficie do mineral
sulfetado em um sistema de flotação é conseqüência de uma
reação anódica envolvendo o coletor tio-composto e
139

possivelmente o mineral, devidamente acoplada a uma reação


catódica.
Os processos anódicos na eletroquimica da flotação
poderiam ser três, podendo estar todos presentes em um único
sistema, e resumidos de acordo com as seguintes reações (6):

a) adsorção quimica do ion tio-composto com


transferência de
carga.

x----- Xads + e

b) oxidação do ion tio-composto a seu ditiolato

0
c) formação de um composto de superficie com um componente
metálico do mineral

MS + 2X----- MX 2 + S + 2e

Independente de qual reação anódica que ocorra, a


mesma é balanceada por uma reação catódica que, na flotação de
sulfetos, normalmente é a redução do oxigénio, sendo esta a
sua principal função em tais sistemas (7).
Esta reação de redução do oxigénio é função do pH.
Em meio básico, mais comum na flotação dos sulfetos, é
expressa pela seguinte reação (8):

®
Quando a flotação se processa em meio ácido, e sob
ação catalitica da superficie mineral,-tem-se:
140

Conforme observado, os processos anteriores são


responsáveis pelo estabelecimento do caráter hidrofóbico nas
particulas sulfetadas e a taxa de cada um deles varia de
acordo com a magnitude do potencial na interface
sólido/liquido (mineral/solução). Dai poder se afirmar que no
modelo eletroquimico a recuperação na f lotação é função do
potencial (9).
A interação mineral coletor é dependente do
potencial e a flotação normalmente ocorre numa faixa muito
estreita de variação deste. Ou seja, a diferença de potencial
da interface mineral/solução é um importante parâmetro para
determinar as reações que ocorrerão e suas respectivas taxas.
Desses entendimentos advém a prática de se interpretar o
comportamento da flotação em termos de reações dependentes do
potencial utilizando-se dados derivados da termodinâmica
clássica.
Este potencial é medido com a utilização de um
eletrodo de referência e outro do mineral (chamado eletrodo de
trabalho), seja uma particula ou um leito de particulas deste,
ou com a utilização de um eletrodo combinado de platina imerso
em uma polpa do mineral. o "potencial da polpa" conforme
medido é convertido à escala do "eletrodo padrão de
hidrogênio" (SHE) com a adição de O, 245 V, sendo chamado de
potencial redox, potencial de repouso ou Eh e assumido como
sendo o potencial na interface mineraljsolução.
Esta prática é bem estabelecida e há mui to se sabe
que os potenciais dos sulfetos, medidos com a utilização do
eletrodo de trabalho, são similares aos potenciais de repouso
das respectivas polpas, tendo isto sido recentemente
confirmado para a calcocita (9).
A medida desse potencial permite se deduzir que
reações estão ocorrendo na superficie do mineral e as taxas
desses processos, dando informações tanto sobre a
termodinâmica quanto sobre a cinética dos processos.
Diversas técnicas vêm sendo aprimoradas para
medições das propriedades eletroquimicas dos minerais
141

sulfetados com os sistemas aquosos, as quais permitem se


determinar a composição química e a estrutura da superfície
alterada dos sulfetos destacando-se, entre estas, a IGP
(Intermitent Galvanostatic Polarization), a CV (Cyclic
Voltammetry) e, sobretudo, a LPSV (Linear Potential Sweep
Voltammetry).
A primeira permite a construção de curvas de
polarização, enquanto com as demais se constroem os
voltamogramas, onde picos de corrente a dados potenciais
indicam a ocorrência de reações eletroquímicas que são
caracterizadas com a utilização de dados da termodinâmica
clássica.
Informações adicionais sobre composição química dos
produtos desses processos, e composição da superfície, são
obtidas a partir de técnicas espectroscópicas, destacando-se
entre ela~ a SPAS (Spectrophotometric Analysis of .solutions) e
XLPS (X-Ray Photoelectron Spectroscopy), esta também chamada
de ESCA (Electron Spectroscopy for Chemical Analysis).
A utilização conjunta dos diagramas Eh x pH, dos
voltamogramas e da análise dos produtos em solução e na
superfície, em comparação com resultados de estudos de
flotação dos minerais sulfetados, tem sido a ferramenta básica
de entendimento dos mecanismos envolvidos nas flotações desses
minerais, conforme veremos a seguir para os sulfetos de cobre.

FLOTAÇÃO DOS SULFETOS DE COBRE

Calcocita

A calcocita - cu 2 s - é considerada um sulfeto ideal


para estudos de interação mineral-coletor por se tratar de um
dos sulfetos de mais baixa flotabilidade na ausência de
coletores.
Os aspectos eletroquímicos da flotação da calcocita
têm sido estudados por diversos autores, destacando-se os
trabalhos de Heyes e Trahar (10), de Richardson e
142

colaboradores (11) (12), de Basilio e colaboradores (13), de


Woods (14), de Laajalehto e colaboradores (15) e de Janusz e
colaboradores (16).
Os resultados de flotação da calcocita com etil-
xantato em função do potencial, obtidos em alguns desses
estudos, são comparados na Figura 1.
A análise dessa figura mostra boa concordância no
ponto de inicio da flotação desse mineral, em torno de -0,2 V,
independente das diferentes amostras e diferentes condições
operacionais de cada um dos estudos. Mostra, também, que o
ponto máximo de flotação é independente do pH.

FIGURA

FLOTAÇÃO DE CALCOCITA COM ETIL-XANTATO DE POTÁSSIO


EM FUNÇÃO DO POTENCIAL ( 5)

100

~ 80
o
I<(
<>

~t..
60
<(
z
o
I <C
<>
<(
40
a:
w
Q.
::>
u
w
a:: 20

o~------~--------~-------4--------~-
---
0.4 0.6
-o.s - 0.4 -0.2 o 0 .2
POTENCIAL tVl

LEGENDA:
--CURVA I - BASÍLIO et alii I 1985)
la•pHII, lb • pH8 e lc•pH5
- - - - CURVA2- He:YES e TRAHAR (1979)
2a•pHII e 2b•pH8
- · -·- CURVA 3 - RICHARDSON et ai ii ( 19 8 4 l
pH 9. 2
143

A Figura 2 mostra os voltamogramas para a calcocita


em duas diferentes concentrações de etil-xantato.
Observa-se que o primeiro pico de corrente varia
pouco de altura com a variação do xantato e os autores
calcularam que, neste ponto de potencial (- 0,2 V), teria-se
uma cobertura de xantato da ordem de uma monocamada. Já o
segundo pico varia de altura e de posição com a concentração,
da maneira esperada para a formação de xantato de cobre.

FIGURA 2

VOLTAMOGRAMAS A 20 m V s-1 PARA A CALCOCITA EM UMA SOLUÇÃO


3
EM TETRABORATO DE SÓDIO A 0,05 moi dm- (14)

....,
'E
<i.
::j_ 40

w
I-
z
w
a:
a:
o
u 20
w
o
w
o
<t
o
Cf)
z
w
o
0\ I I
-0 .6 -0.4 -0.2 o
POTENCIAL (V l

LEGENDA :
4 3
a I x 10 moi dm DE ETIL- XANTATO
4 3
b 5 x 10· moi dm DE ETIL-XANTATO
144

Ou seja, a figura mostra que a quimissorção do


xantato ocorre a potenciais abaixo daqueles onde haveria a
formação de xantato do metal e que já se teria quantidade
suficiente de xantato adsorvido na superfície a um Eh de - 0,2
V que, como conseqüência, tornou o mineral hidrofóbico e
iniciou seu processo de flotação.
De fato, o potencial O, 2 V é O, 4 V abaixo do
potencial reversível para oxidação do xantato a dixantógeno de
acordo com a reação G) e 0,1 V abaixo do potencial reversível
para a formação de xantato de cobre, considerando a seguinte
reação básica:

Cu2S + 0,07 X----- Cu1,93S + 0,07 CuX + 0,07e 0


De tal for.ma, o mecanismo de interação
calcocitajcoletor só poderia ser do tipo de adsorção direta do
xantato, conforme a reação ®
sendo este fenômeno responsável
pela flotação desse mineral. De fato, nem a adição direta de
dixantógeno na calcocita a tornou flotável fora da faixa certa
de potencial (10).
A Figura 1 também mostra que apesar do pico máximo
de flotação independer do pH, o ponto onde a flotação cessa é
função deste. Tal fato é atribuído ã oxidação do xantato de
cobre na superfície a CuO, inibindo a flotação a altos
potenciais.
A Figura 3 compara os resultados de flotação da
calcocita com um voltamograma para este mineral.
Novamente se observa um pico anódico devido ã
quimissorção do xantato na superfície do mineral a um Eh onde
começa a se observar a sua flotação. O segundo pico anódico é
devido ã formação do xantato de cobre, observando-se o máximo
de flotação nesta região.
Esta formação do xantato de cobre pode se dar tanto
pela forma observada em reações químicas do tipo da reação (D
quanto por precipitação posterior ã oxidação do mineral a um
dos hidroxo-complexos solúveis de Cu 2 + (11), tais quais CuOH+
ou Cu 2 (0H) 2 2 +.
145

FIGURA 3

FLOTAÇÃO DE CALCOCI TA COM ETI L-XANTATO, EM FUNÇÃO


DO POTENCIAL E VOLTAMOGRAMA (5)

....... ....•----
100 450
.....,

~ I • 300

o
ao I
:
. ·······. <(
~
I<C I
~
.. ·····I
I ............. ·..:
150
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(.). III
<( cr
a: -300 a:
III o
a.. / u
:::>
u
w
a:
20

o
.......
/ . /
/.
-450

-600
-0.4 - 0.2 o 0.2

POTENCIAL (V)

LEGENDA :

---DADOS DE R I CHARDSON et o Iii (1984)


--DADOS DE HEYES e TRAHAR (1979)
.. ....... VOLTAMOGRAMA (CVl A 5mVs" 1 COM UM ELETRODO DE LEITO DE
PARTÍCULAS DE CALCOCITA- O' DELL et o I i i (1984)

Deve ser ressaltado também que estudos de


espectroscopia de elétrons gerados pelo efeito foto-elétrico
de raios-X (XPS), efetuados por Mielczarski e Suoninen (17),
para análise de ad~orçâo de etil-xantato na superficie da
146

calcocita, mostraram a adsorção de uma .monocamada de xantato


bem orientada na superficie, seguida de um lento crescimento
de rnulticarnadas desordenadas de xantato cuproso, num mecanismo
análogo àquele deduzido a partir de estudos eletroquirnicos.
São de importância ainda no estudo do presente
sistema as observações efetuadas por Barzyk, Malysa e
Pornianowski (18) que estudaram o efeito da influência da
oxidação da superficie da calcocita com etil-xantato. Foi
observado que o xantato adsorve na superficie da calcocita
oxidada por um processo de troca iônica e que,
conseqüentemente, uma cobertura muito maior de xantato era
necessária para se obter a mesma recuperação que se obtinha
com a amostra não oxidada, na qual o xantato se adsorve pela
oxidação anódica comum, corno já descrita. Os autores
recomendam que a oxidação da superficie seja mantida em um
minirno antes da adição de coletor para prevalecer o mecanismo
de oxidação anódica e, conseqüentemente, se obter um menor
consumo de coletor.
Chander e Fuerstenau (19) estudaram
eletroquimicamente o sistema calcocita/dietilditiofosfato
tendo observado dois picos anódicos. ·O primeiro foi atribuido
à quimissorção do ditiofosfato na superficie do mineral e o
segundo à formação de ditiofosfato de cobre. Observaram,
também, máximos de flotação coincidentes com estes potenciais
de oxidação anÓdica, usando tubo de Hallirnond modificado.
Medições de ângulo de contato, que foram encontrados finitos
nestes potenciais, também indicaram aptidão à flotação nestas
condições.
Tais estudos indicam que os mecanismos que regem o
sistema calcocita-ditiofosfato deverão ser os mesmos que regem
o sistema calcocita-xantato, respeitados os diferentes valores
absolutos dos potenciais de repouso.
Tais resultados, somados à identificação de
ditionocarbarnato de cobre na interface calcocita/solução nos
estudos de Allison e colaboradores (20), fazem crer que os
mecanismos de interação da calcocita devem ser os mesmos com
147

os três principais tipos de tio-compostos normalmente


utilizados em sua flotação.

Sulfetos de Cobre e Ferro

O relacionamento entre a flotação na presença de


etil-xantato e o Eh para a calcocita, a bornita, a calcopirita
e a pirita foi estudado por Richardson e Walker (21) e seus
resultados são mostrados na Figura 4.
Pode se observar que a calcocita flota em ambiente
ligeiramente redutor, a partir da quimissorção do xantato em
sua superficie, conforme visto anteriormente.
No outro extremo tem-se a pirita, flotando em
ambiente oxidante e após a formação de dixantógeno (5) (6), o
que permite se concluir que a flotação desse mineral é
efetuada através do mecanismo descrito na reação (0
os sulfetos de cobre e ferro têm comportamento
intermediário.
A flotação da calcopirita começa a um Eh inferior ao
qual se inicia a formação de dixantógeno e tem a recuperação
máxima obtida na região de predominância do dixantógeno em
equilibrio. Para este mineral parece que a flotabilidade é
devida a uma combinação de mecanismos dos 3 tipos. Ou seja: há
o inicio da flotação em um valor de Eh onde pode ocorrer a
adsorção do xantato e/ou a formação do xantato de cobre de
superficie para depois se atingir um máximo quando da presença
de dixant6geno.
A Figura 4 mostra, também, que a flotação da bornita
começa a potenciais mais redutores que o da calcopirita e
atinge cem por cento de recuperação bem antes do potencial
reversivel do par xantato/dixantógeno, mostrando que este
mecanismo (oxidação do ion tio-composto a seu ditiolato) não
deve ser importante para este mineral, prevalecendo os outros
dois (quimissorção do ion tio-composto e formação de composto
de superficie com componente metálico do mineral).
148

FIGURA 4

FLOTAÇÃO DE CALCOCITA, BORNITA, CALCOPIRITA E PI RI TA,


COM ETIL-XANTATO, EM FUNÇÃO DO POTENCIAL (5)

100

~ 80
o
.~
v
~
1-
3 60
u..
~
z
o 40
·~
v
~
a::
w
0.. 20
:::>
u
w
a::
0~~------~-----r--~~----~+---~;------r----~---"

-0.3 -0.2 -01 o 0.1 0 .2 0 .3 0.4


POTENCIAL IV)

TEMPO DE CONDICIONAMENTO : 10 min.


TEMPO DE FLOTAÇÃO : 2 min.
pH ' 9,2
5 3
DOSAGEM DE ETIL-XANTATO : CALCOCITA = 1,44 x 16 moi dm
5
DEMAIS MINERAIS =!2! 0,1) x lô moi dm 3

t estabelecido que as flotações desses dois minerais


começam na região onde o ferro começa a ser removido da
superficie, e oxidado em solução, e o xantato começa a
interagir com os sulfetos de cobre resultantes na superficie
dos minerais, seja via adsorção direta, seja formando
compostos.
149

Na realidade, estudos voltarnétricos e


espectroscópicos em bornita (6) mostram que a reação de
oxidação inicial nesse mineral é efetivamente a remoção de
átomos de ferro de sua rede cristalina, deixando na interface
um sul feto de cobre com a estequiometria cu 5 s 4 . Tais reações
foram identificadas corno sendo em:

meio ácido ®

A calcopirita tem comportamento similar (6) (22)


levando ao aparecimento de cus 2 na interface, um sulfeto
deficiente em metal (semi-condutor tipo p) e rnetaestável. As
reações tlpicas seriam em:

meio básico: CuFeS 2 + 3H 2 o ~ cus 2 + Fe(OH) 3 + 3H+ + 3e @


o cus 2 de superfície é uma entidade suficientemente
hidrofóbica para proporcionar a flotação da calcopiri ta sem
coletor como também pode reagir com este, quando de sua
presença, por um dos mecanismos já analisados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE MECANISMOS

É estabelecido que os mecanismos eletroquirnicos


determinam o comportamento dos sulfetos na flotação. No
entanto, são notórias as limitações em se utilizar dados da
pesquisa básica, realizada com minerais puros, na
interpretação dos sistemas reais de flotação nos quais as
condições fisicas e o conjunto de~ substâncias presentes,
destacando-se os cátions metálicos e seu marcante efeito,
levam a flotação para pontos de equillbrio muitas vezes
distantes do previsto.
150

Nos sistemas reais a função dos coletores parece ser


tanto se sobrepor aos efeitos dos hidróxidos formados na
superficie quanto aumentar o caráter hidrofóbico dos minerais
a serem flotados.
Nesses sistemas de flotação o Eh é mais ou menos
constante e determinado sobretudo pelo oxigénio da aeração,
pelo pH e pelo minério. Há urna relação intima entre o Eh e o
pH. Dai que, nesses sistemas, a alteração de pH é praticamente
a única forma de se alterar o Eh. Inclusive, muitos dos
efeitos atribuidos ao pH nas flotações de sulfetos podem ser
devidos à conseqüente alteração concomitante do Eh (6) . A
adição de agentes redutores abaixa o Eh temporariamente, mas
manter o ambiente redutor normalmente demanda quantidades
enormes desses produtos.
Ter um estrito controle do Eh das polpas de flotação
dos minérios será um grande passo em tornar possivel a
extrapolação dos resultados de pesquisa básica aos sistemas
industriais de flotação.
Esta técnica, de experimentos com minérios e com
controle de Eh e do pH, está em seu estágio inicial mas irá se
tornar urna prática cada vez rnàis aplicável, devendo cada
sistema especifico requerer suas considerações individuais.
Cabe ressaltar dois recentes avanços na aplicação da
flotação de minérios com potencial eletroquímico controlado.
O primeiro se refere ao uso de células de flotação
fechadas, com recirculação da fase gasosa o que, ao diminuir a
concentração de oxigénio dissolvido na polpa, permite o
controle do Eh pela adição de muito menores quantidades de
agente redutor (23). Esta técnica vem sendo industrialmente
aplicada para flotação diferencial da rnolibdenita em
concentrados de cu-Mo.
O segundo avanço diz respeito ao desenvolvimento na
Finlândia (24) de um dispositivo analisador e controlador do
potencial de polpas de flotação, mesmo em escala industrial,
colocando-se a operação a um ponto étimo de Eh, redundando em
melhores recuperações e seletividades. Este controle do Eh
151

pode ser feito de diversas maneiras, a depender das exigências


de cada sistema mineral, podendo ser efetuado através de
simples variação de pH (aplicação clássica dos diagramas Eh x
pH), da adição de agentes redutores ou por meio de descargas
elétricas efetuadas na polpa.

ENTENDIMENTO ELETROQUÍMICO DA FLOTAÇÃO DO MINÉRIO DE COBRE DE


SALOBO

São particularidades do minério de Salobo a alta


energia demandada na moagem e uma liberação muito fina dos
sulfetos contidos (19 kWh/t para uma moagem 90 % abaixo de 149
JJ.m, cujo produto apresenta um grau de liberação de apenas
cerca de 60%).
Esta liberação fina leva à ocorrência de elevados
valores de carga circulante entre os estágios de flotação,
dada a grande presença de particulas mistas, levando ã
necessidade de 4 estágios de limpeza.
Ainda advindo da liberação muito fina observa-se uma
flotação "rougher" bastante rápida das particulas liberadas
seguida de uma flotação lenta das particulas mistas, o que
demanda altos tempos de flotação como única forma de se
garantir niveis aceitáveis de recuperação (25).
Este tempo longo, além de seus reflexos econõmicos
no dimensionamento da seção de flotação em si, desfavorece
ainda mais o equilibrio eletroquimico da flotação, aumentando
o estado de oxidação da polpa.
Como os sulfetos presentes neste minério são
predominantemente a calcocita, vindo a bornita em segundo
lugar, ocorre a adsorção do coletor por um processo de troca
iõnica ao invés de ser pela oxidação anódica do processo
eletroquimico levando ã necessidade de uma dosagem muito maior
de coletor, conforme observado nos es-tudos de Pomianowski e
colaboradores (18).
Mantendq-se a oxidação de superf icie em um minimo
antes da adição do coletor, fazendo prevalecer o mecanismo de
152

oxidação anódica, garantir-se-ia uma flotação mais rápida


{seção de flotação menor) e muito menor consumo de coletor.
Na verdade, durante toda a pesquisa para este
minério se buscou minimizar o consumo de coletor não havendo
indicios de melhorias substanciais a não ser por radical
alteração no estado de oxi-redução da polpa.
O reagente que mostrou melhores resultados para tal
foi o sulfeto de sódio, agente redutor. A sua introdução
melhora a seletividade do processo e permite significativa
redução na dosagem de coletor e discreta redução do espumante.
Contudo, estimativas de custo/beneficio resultantes da adição
de Na2S no sistema de fl?tação não se mostraram positivas dado
seu grande consumo. o acréscimo de recuperação necessário para
compensar o custo adicional da introdução do referido reagente
é muito grande e dificilmente será obtido.
No entanto, confirmando a revisão da literatura,
esse reagente mostrou que novas formas de alteração do
equilibrio eletroquimico no sentido do meio ser menos oxidante
até ligeiramente redutor parece ser a efetiva maneira de se
otimizar essa flotação.
Outra constatação importante é que não foi
verificada diferença significativa entre os testes realizados
em pH natural ou alcalino na alimentação da flotação para as
demais condições fixas, confirmando novamente a revisão da
literatura. ou seja, para faixas de variação de pH que não
alterem substancialmente o Eh da polpa, não se observa efeito
do pH nessa flotação.
De fato, as moagens dos sulfetos se processam em
ambiente redutor. Depois da moagem normalmente se eleva o pH
para criar-se condições ligeiramente oxidantes que (
proporcionam a flotação. Como a calcocita é um sulfeto que I

flota em ambiente até ligeiramente redutor, o pH não é


importante para esta flotação, já que sua variação parece não
alterar substancialmente o Eh e nem as espécies em equilibrio.
153

REFERtNCIAS

01 - TAGGART, A. F. et alii - Chemical Reactions in Flotation,


Trans. AIME~, 1930: 217 - 260 p.

02- PLAKSIN, I. N.; SHAFEEV, R. Sh. -A Study of the


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