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CONSUELO NOVAIS SAMPAIO

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SALVADOR DA BAHIA
NO SÉCULO XIX

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su mario
16 Introduçã o

A CIDADE SE EXPANDE 24
( 1850-1870)
26 O comércio comanda
60 O palácio domina
84 O povo reclama
96 Salvador, pés no chão
132 Salvador, rodas na rua

A CI DADE SE ARTICULA 15 2
[1870-1900)
154 Estímulos e desafios
164 Reinam os bondes
182 Bonde e elevador
202 Bonde e chariot
218 Concorrência e fusão
230 Bonde e energ ia elétrica
240 Problemas e que ixas
254 Salvador, tempos modernos

NOTAS 266

ANEXOS 269
CRÉDITOS DAS IMAGENS 283
BIBLIOGRAFIA 288

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reserva tóri os a fim de \~r,;,cor 'e l'lden
. .
água potave l. Se a agud não -•t<c- r,oesse as
a se r di stri buída co rn o
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dP f1C1Pnc,a cor, l u1u011 do l al for m a 'I"" Nn 1?31 a s,,ç;,0 d~ A')u-,
co n ,çoes de h, ,enP do Mu n1cíp10 ,i:.-,ol-,c1i, í'Sl.Jbel,:,cc r a:, r.a:.a~ el e ve nd0 r !1')ua, ~&.: ·
a comissão deveri a mform~r se havia f,lt . . ·
_ ros , em caso negativo, gun do inforrna o jornal A farde• no dia 16 de março daq ude an,;
lena de expl ica r a raz ao de não havê- los · f
.. - e ,n ar mar os proces-
sos de punf ,ca çao qu e deve ri am se r em pregados .
Não sabemo s se houve parece r da c . _
om, ssao . Sa bem os LIMPANDO A CIDADE
apenas que esta decl arou faltarem -lh e ce rto s in strum entos
· f · -
pa ra real izar o trabalh o, os qua is ·· não ha ve nd 0
• aqu,. 01mister Não menor do que o da fal i a d"água era o drama relat ivo
mandar vir do Rio de Janei ro'", conform e divulgou O Diário da ao se rviço público de coleta e destinação f,nal do 111 0 e de toda
Bah,a de 28 de dezembro de 1864.
espécie de su1 eiras acum ulada s nas vias e es paços públ icos e
A presidênc ia da Provínc ia renovou O contra i o co m a na s resid ência s. Pode -se dizer que. até meados do séc ulo XX. o
Companhia do Queimado em 1870 , obriga ndo - a a r e duz,r
· o pre- esg otam ento sa nitár io em Salva dor foi mui to precári o. A ma io-
ço da água vendida em barris a 10 réi s e a construir casas de ria dos morad ores jogava li xo dom és tico e ··águas servi das" nas
banho públ icas . Nada ind ica haja m sido construidas. A compa- ruas ou nos qu intai s. Quando não, os excrem en tos eram en -
nh ia também não forneceu, confo rm e ordenara a presidência, rolados e at irados no ar, indo bater em paredes, telhad os ou
··ág ua suficiente para os m ictó rios existen tes em diversos pon- quintais de vizinh os de menos so rt e. Eram os in es perad os e
tos desta Cidade, de modo a t ê-lo s sem pre li m pos e in odoros". se mpre tem ido s "pombos", até recentemente co nhe ci dos nas
Em resposta a essa ord em, afirmou que áreas ma is pobres . O mal era mu ito antigo, e cresc eu com o
aumento da população, a crônica deficiênc ia de educa ção e do
go staria mu ito, mas esses m ictórios não são aqu i utili zados ens ino público e a carênc ia de serviços ur banos bá sico s.
con íorm e o ri m para que foram de stinados e, pelo contrário, se
Existiam posturas municipais que obrigavam os m orad o-
tornam, pelo abuso que de les se faz, verd adei ro s foc os de in-
re s a limpar suas ru as e a despejar lixo, excrementos e águ as
fecção, qu e não podem ser lavados fáci l e proficuamente, não
tendo eles, de ma is a mais, o esgo lament o aprop riado. Devem servidas de suas casas no mar ou em loca is preestabelecidos.
se r constantem ente vigiados duran te o dia e fec ha dos à noite." Esse serviço era feito por escravos. que carregavam os deje tos
e as águas de se us senhores em pesadas barr ica s. Em segu ida .
Tod as as m ed ida s tomada s pelo Estado para m an ter a Ci- retornavam co m o barri l vazio, pron to para receber nova ca rga .
dade limpa fo ram inóc ua s. O que se observa , com a turbulênc ia Quem não linh a escravos. podia alug ar o serviço de ganhad ores.
qu e se segu iu à passagem para a Repúbl ica, é a fo rm ação de No l ivro Arruar, his tória pitoresca do Rec,/e antigo, o es-
uma seqüência de com issões que na da decidiram, mesmo por- critor Mário Sete [1948) con ta que esses barris eram chama-
que não tinham poder, nem co nd ições, para l al. A si luação finan- dos de tigres - o di cioná ri o Calda s Aule te conf irma -. se ndo
ceira da Bahia , po r outro lad o, nunca havia sido tão cr iti ca , mas o termo, por ex tensão, apli cado aos negros que os carregavam.
a da companhia parecia ser pior. O fa to é que a Com panhia do possive lmente, diz ele, em al usão à coragem de transport arem
Que imado foi encam pada pelo Mun icípio, por esc r itura de 30 de cargas tão repugnan tes . Suponho qu e se tenha chamado o bar ril
setembro de 1905, de acord o com decisão de seus 146 acionis- de tigre pela re lativa semelhança com o corp o da fera as,át,ca.
tas e resolução do Con selho Mun ic ipal. A inden ização fo i fixada Os aros de ferro escuro, co ntornando transversalm ente o reci -
em 2 mi l e 700 co nto s de réis . Nessa oca sião ainda fun cionavam piente de mad eira ama relada, de alio a baixo. ta z1am -no lembra r
os 22 cha farize s e as se l e casas de ven der ág ua. Gradualmente, essa fera, co m se us pêlos amarelado s e listas marrom -esc uras ,

o Municípi o foi de sati van do tanl o esl as como aqu eles. quase prela s. Como em Re cit e, em Salvad or havia os tigres co m
A despeito dos esfo rços para minimizar o prob le m a, chapéu e os ti gres se m chapé u, ou seja, barri as tampadas ou
como a cons tru ção da barragem de Mata Escu ra, represando o não. Esses tem idos tigres subsistiram até a Ab oli ção .

ri o Camurug,pe, Sa lvado r varou as primeira s década s do século Mes mo depois, não fo ,·am raro s os qu e co nl,nuJram a
XX padecendo de grave problema de abastec imento de água . A faz er o se,viço para ganho ; mu itos Já o faziam ant es do 13 de

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o comércio comanda
abeça erguida, mãos nas costas, pés fincados
na proa, Raffaele Arian, parecia ordenar às
águas que se abrissem para dar passagem à
escuna Amabele Sabia que a brisa do Sudeste era constante,
mas não que soprasse tão forte, Jogando-lhe os cabelos contra
o rosto pálido e longo, protegido por densa barba, ma,s escura
que o castanho dos olhos. Viu quando a escuna penetrou na
Baía de Todos os Santos, a maior do Brasil, seguindo o rastro
de luz que o farol da Barra lhe apontava. Identificou o forte de era alto, nariz longo e afilado, olhos grandes e castanhos como
Santa Maria, o de São Diogo, o da Gamboa, na seqüência que o os cabelos. Quando ambos estivessem bem-estabelecidos, Lu-
filho Luciano e os amigos lhe haviam indicado. Olhos fixos na ciano ,ria a Mântua buscar a mãe, dona Ricca Bella F1uz1 Ar,ani,
cumeada da montanha, viu os primeiros raios do sol colorirem e o irmão Giustiniano, carinhosamente tratado de Giusto, então
as nuvens ralas que avançavam em sua direção. Em s1lênc10, com apenas 12 anos.
,móvel, avistou a montanha crescendo à medida que a escu- Como milhares de ,tal,anos, Raffaele Ariani, aos 47 anos,
na se aproximava do porto. Coberta por árvores de um verde decidira • fazer o Novo Mundo·, deixando-se atrair pelas notícias
intenso, aqui e ali entremeadas pelo branco das casas que se animadoras que recebia da Bahia. Fugia da crise que abalava
equilibravam nas encostas íngremes, pareceu-lhe que a mon- a Europa e dos arrogantes e odiados austríacos, usurpadores
tanha não tinha apenas 60 metros, como lhe haviam dito. de sua terra natal. Dizia-se que , na Bahia, os judeus poderiam
Raffaele Ariani era apenas um dos muitos 1tal1anos que viver em paz. Trouxera algum dinheiro, dec1d1do a abrir negócio
haviam tomado a escuna Amabele em Gênova e desembarcava e a vencer. Sempre lutara pela vida e para manter a família
no porto de Salvador em 16 de dezembro de 1840. Nascera na Viera para ficar: conquistaria a confiança do povo da terra e
cidade de Mântua, um pequenino marquesado que, como lodo dos poderosos.
o Norte da Itália, estava sob o domínio da Áustria desde 1815. Recém-chegado, Raffaele foi aloJar-se num pequeno cô-
Luciano, o filho mais velho , viera para Salvador antes, em 13 de modo no sobrado de um amigo, na rua da Alfândega, perto do
Janeiro daquele mesmo ano de 1840, para sondar se o amb,en mar Estava próximo a comerciantes de ,·enome, como o inglês
te ,hes sena favorável. Luciano tinha 16 anos e, tal como o pai, John O'Dwyer que, com sua alfa,atana, ganhara a confiança
de membros da alta classe, os quais só com ele se vest iam,
compravam casacas e sobrecasacas, calças, coletes, paletós
Tudo importado da Inglaterra. Dos teares de Liverpool também
vinham os tecidos que expunha à sua seleta cl1enteld. Nessa
mesma ma hav,a mu,tos outros comerciantes espec1al1zados,
um dos quais oferecia s,netes e selos de todas as qualidades.
Luciano preferiu l1 car com outro amigo, na rua das G,·a
desde Ferro, per to da fante do Pereira, na qual os navios costu-
mavam se abas l ecer, bem no 1níc10 da estreita lad eira da M,se
mórd,a. A Grades de Ferro era ponto de rl'feré'nc,a para quem

50 AN05 DE URBANIZAÇAO I O , .Jn e o , ,,11 :'1 2'1

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procurava Jóias, como as que Ernest Pinot ex b,a e,.,., sua te a
PASSA.PORTO.
- grande variedade de pedras preciosas, 1nclus1ve br ,hantes,
(il:,'1,j"'º 9$. . / / ouro e prata, o que havia de mais fino e de qualidade garar.·,aa
§',,,,,.,_,,,,u 9$. • <i'/,1' para adornar o colo da mulher amada .
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As ruas onde Raffaele e Luciano se instalaram ra:,ar
CONNOTATI.
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parte da Ir eguesia da Conceição da Praia, fulcro das at.v,ca-
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.,,.,,,,. ~-/~-- des comerciais. Os dois deveriam comparecer oe seis e seis
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:1:::-:- . Ca"//, r,,. .,-.,,t.,, ,__:,, meses, para revalidar seus títulos de entrada. na Repart,cão
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de Polícia. então chefiada pelo juiz de O,re,to do Crnne. Dr
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,/__,., e-, Francisco Gonçalves Martins.' Cunosamente, oito anos depo s.
r.·- ./4. .,;... ... ;-... - 'lla1u ,.,..~,.;"?~ esse mesmo JUIZ, que mais tarde receberia o titulo de ,sconae
,,.,,. /•/~ ,,;,. ,
cll11,lu ,-..., . .-;:......... ... . de São Lourenço, estaria sentado na cadeira de pres,dente JJ
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Província, a de mais alto espaldar existente na Bahia. Verer10;
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./4-' Col1t,i11 _..).•.,.; adiante que ele murto colaborou para o progresso daquele ,ta·
dl.11fcÃ1/pa,1,"rrl,,,;
lia no barbudo, cuia entrada no Pais agora aprova\a Aos pou,o;
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o período de 1·eval1daçào 101 sendo espaçado, ate a obtt'nçào d0
titulo de residência permanente
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Com muito esforço, Raffaele se 1nteqrarra ao pequen,,
FOLHA JE ROSTO JO 'AS::iAPORIL grande mundo do comércio baiano, que com~ndava a soc1t'oaoe
Of í<AF Af~ - /.RIANI. COM SEU~
OAOO OEC RI TIVOS
local. Ganhara exper rênc,a co,no negoc,,rnte ern ~lântua. trab-1
lhando com o pa, , o rab n n. • •
' 1 o, 1ospero Mo,,,,,s Ana111 L.i, t•nt,,11·1
negócio no prédio n'' J 908 d
. · a rua do,; Ounv,,,-., ,1nd,1 por ,o,n
11n~1A nn l-\1·011r c1dê11era também t, "b li 1
• a 1av,1m J,icob ls,1,1L e G,u~,•ppe ~,u.1,
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Dec1d1u Ld' 11 ~,
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28 50 ANOS DE URBANIZAÇÃO I C 1,1t l Nov.. c1mp Ho

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Além de enxoval completo, R,cca Bella recebeu do pa, um dote desde os mais distintos negociantes até os mais rebeldes es-
de 13.500 liras 1tal1anas, para serem usadas quando ela atingisse cravos e toda a sorte de marginalizados da sociedade. Devido à
a maioridade, em 1825, de acordo com os termos do contrato do- sua localização pr ivilegiada - separada do palácio do Governo
tal entre os Fiuz, e os Arian1. Ela também renunciaria, a favor dos apenas pela encosta da montanha e ligada ao mar pelo cais de
,rmãos. a qualquer d1re1to que pudesse ter à herança paterna. desembarque -, atraiu grandes e pequenos comerciantes, na-
O casamento em Mântua, em 31 de julho de 1822 - R1cca C10nais e estrangeiros, assim como havia atraído Tomé de Sousa,
Bella ainda adolescente -. fo, solene, celebrado pelo rabino que ali mandara erguer a prim1t1va igreja de Nossa Senhora da
ma,or, cavalheiro Marco Mortare. A despeito dos termos do con- Conceição, de taipa. No mesmo lugar fo, edificado depois, todo
trato datal, porém, Raffaele recebeu um adiantamento, com o de mármore, o belo templo que hoje lá se encontra. inaugurado
qual, ao se casar, abriu com o irmão Benjamin uma casa de ar- em 1765 e que domina a área, dando a ela o seu nome.

tigos da moda. R & 8. Irmãos Arian1. O intenso movimento comercial e marítimo lambem con-
Recordando esse passado. Raffaele aguardava a chega corria para o número sempre crescen te de pedintes. ' A prox1rn1•
da da mulher e do filho caçula, ás vésperas do Natal de 1844 dade do precário cais de desembarque co ntribuía para que rnan

Sabia que muitas lutas tena de enfrentar, mas estava certo de nhe1ros das rna,s diversas nacionalidades. muitos ernbnagados.

que as venceria. Não sab,a, porém, que ,na ma,s longe do que aumentassem os d1stúrb1os naquela ,ire,, JiÍ bc1st~11te contur b.i

hav,a planejado Por sua determinação e ânimo para o trabalho, da. A freguesia da Conce1çao larnbéll1 acolheu mulhe1 ~s que

eslava destinado a mudar a feição e os hábitos da cidade que tinham seus próprios nrgoc1os . cost111 e1r c1s, qu1t.111dp1r ,i,,, l.1t,,,

escolhera para viver, como veremos no decorrer deste estudo ras etc Na estreita farxci de lerr d CjlJP c,ept1 1 w<1 ll nwn t.u,h,1 do
mar, haviam-se e,gu 1do Cd'-', 1':> de neqocw·, t1 ·,ob1<1dn,; lh' ,11~,
quatro andares [si:ics :.iohriJrlo~ dhll(J,lV,HTl, ,io tL'', dti tllo1u,
A ZONA COMERCIAL bem a vista do~ pwssuntes, n!:. produto•, pi1 I , 1 Vl'tHl 1, 1 l,11111l1.1

aloJnva se no' c1ndd rc:_, :1UpP1torl''\ rt1bt'IH l0 dn, t1111pr, 1 q,1dl)'• 1'
Reurndos, os quatro membros da família Anani concorda escravos o ult11no piso (l11.,11rlo v1;1tn11 '> ilv 11lu1 I'"'" 11 ,11,t, .. , d,,
ram em permanecer na freguesia da Conce,çao da Praia. ren lndependênnu do íl1 1•,11 ,11111111",,1M,111,1 r,1.d1,1111 I 11/ 11/,, 1' l,1.1I
tro da zona comercial, um verdadeiro microcosmo da sociedade e!:>canddlizou ri cu,n P Ídln d11 r11t1• l,m pt, 111•11 1 , ".1•11•111 111111, i

da época Al, estavam representadas todas a, caí'ladas soc,a,s. da, pelr1s rn,11 d1ve1 ,11 11Hv1d,1rl1•• 1 111q1 ,11 1111

nu ,0111 IU IIN II.\N I.IAI.Â\l 1

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JGREJA DE N . SRA. DA
CONCEIÇÃO DA PRAIA CDM l odos os artífices lrazem seus bancos e ferramentas pa1·a a rua. de penetração capi talista na Província. Inicialmente, até 181,Q, a
CHA~ARIZ. 1873 Nos espa ços que deixam livres. ao longo da parede. estão ven - cidade baixa resumia - se "numa única rua paralela à praia", diz
dedores de frutas. de sa lsichas, de chouriços, de peixe frito, de
Moema P. Augel [1979, p. 145). citando Kidder.
azeite e doces, negros trançando chapéus ou tap etes, cadeiras
!espécie de l1te1ras) com seu s carregadores, cães, porcos e aves À proporção que o comércio foi-se desenvolvendo, novos
domésticas, sem separação nem distinção: e como a sarJeta moradores passaram a construir suas casas na encosta da mon-
corre no meio da rua, tudo ali se alirn das diferentes loJas, bem tanha. Derrubaram parte da mala que a revestia, tornando o solo
como das Jane las. Ali vivem e al1menlam - se os animais. Nessa
mais permeável às chuvas que caíam constantemente no inverno
rua estão os armazéns e os escritórios dos comerciantes, tanto
estrangeiros quanto nativos .
e facilitando o desmoronamento de terras e casas, ocorrências
desastrosas que, ao longo do tempo, se tornaram cada vez mais
A medida que as atividades se desenvolviam, os comer- freqüentes. Essas terras foram usadas no alargamento da cida-
ciantes de maior destaque foram deslocando sua residência de baixa . Mais tarde, o melhoramento de acessos à cidade alta
para a cidade alta . Os mais ricos preferiram a bucólica freguesia - com o nivelamento e calçamento das ladeiras da Conceição,
da Vitória. O verde intenso de suas árvores frutíferas e a grande Preguiça, Misericórdia, Pilar, Taboão e outras que, como a rua
variedade de pássaros atraíram tanto estrangeiros como altas Nova da Montanha, foram sendo construídas - contribuiu para
autoridades da Província. Tendo vivid o algum tempo em Salva- a aceleração do processo de aterramente da chamada zona co-
dor, o inglês Thomas Lindley 11805) narrou, no início do século mercial. Na década de 1880, toda a área, até a Alfândega Nova,
XIX, que as pessoas "de melhor classe socia l construíram para havia sido conquistada ao mar. Conforme O aterro Ia avançando.
si grandes e elegantes residências, especialmente nos arredo- as casas, construídas muito perto umas das outras. não permi-
res da Cidade, e mobiliaram nas com bom gosto .. tiam a existência de ruas largas. Menos que ruas, eram becos
Sem dúvida a Conceição da Praia era uma das fregue- estreitos e escuros, de traçado irregular, à semelhança das cida-
sias mais movimentadas da Cidade. Não se há de estranhar que des européias do início dos tempos modernos.
tenha sido o ponto 1n1c1al do alargamento e da expansão da c1 No sentido vertical, a área comprimida entre a Alfândega
dade baixa, de modo a satis fazer as necessidades dos grandes eª praça do Ouro era o cerne das atividades comerciais de Sal-
comerciantes, nacIonaIs e estrangeiros, facilitando o processo vador. Artigos suntuários, destinados aos membros da alta elas

50 ANOS DE URBANIZAÇAO 1 'onc;uel J N( v<J1S '>ümp-l!


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rua d< C 11nt 10, o exi:: npl d as. Gu1 1r1I c..1t e o t~ venc d
que1JOS r;-:1rr-s 1ESUíllO" llc >r1:-s. e se1v 15 de 1equme•, tr•Jtas
e e I Jlffll ). uol t1c 11 1rJ1 ~ 1d1>
secas, doce! os rria1s d1vP·-sn , vinhos rns~ ,mo:, e tambem o~ de ~1 •rn mt, A1 1c11 o, 1-3 üua, 1'11
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menor qualidade, alerr- daqueles que possuíam propriedades re- ü1plomado +:;.1 111 e e1 1ac;- 1ur'd1r: 1 por C01mbrd par 111 1
constItuIntes, que podiam servi ""tanto para a tosse. quanto para pnu. êlO Jdc de O Pe dro, da lute pPla re~l, tJ raç. o 1be
o pasto··. isto é, a refeição. Não faltavam louças finas com o sinete ral fl consl1tuc1onal1,;ta de Portugal Em 1831 , fo i ro meado
para seu prnne1ro emprego públ1to, 1u1z de D1re1to da Co-
da Companhia das lnd,as. Eram importadas da Inglaterra, Fran-
marca da Cidade do Salvador e, algum lempo depois, chefe de
ça e Portugal. As destinadas às famílias enobrecidas eram bra-
Polícia da Província da Ba hia. Nessa posição. deu entrada no Pai;., ao
sonadas, de modo a ex1b1r a d1st1nção de classe que as separava 1lal1ano Raffaele Anan1 , e na mesma posição. pôs um fi m cruel a r-:lvn ta
do resto da sociedade. Conferiam indispensável toque de /,nesse dos ma lês .. , com a morte de 70 negros rebeldes pelas patas de cavalos e
e noblesse aos banquetes e mesmo às refeições quotidianas. O espadas afiadas, no Quartel da Cavalaria. defronte da igreja do Santlss1mo

olhar detalhista de Maria Graham (1956) não deixou escapar o Sacramento, em Ág ua de Meninos Eleito suplente de deputado pela Pro-
víncia da Bahia para a Assembléia Geral Leg,slallva 11834-18371 e depu-
bom gosto de ··algumas casas". como a de um capitão da mari-
tado provincial pela Assembléia Provincial da Bahia. assumiu esse man-
nha, cujo ··soalho era atapetado e as mesas ornamentadas com
dato, sendo subseqüentemente reeleito l 1835-18521. Era chefe de Policia
bela porcelana da Índia e de França , a senhora muito elegante, quando eclodiu a Sabinada, revolta liderada pelo médico Francisco Sabino
com um vestido francês"". Em outra casa registrou não apenas Álvares da Rocha V1e1ra 11837 -381. Em decorrência de desentendimento
que ··lustres de vidro pendiam do teto, belos espelhos alternavam com o então presidente da Província, Francisco de Sousa Paraíso. ligado

com gravuras e pinturas··. mas também que ""boa quantidade de à fuga das autoridades durante a revolla, foi exonerado do cargo de chefe
de Polícia, retornando às funções de juiz de O1re1to
bela porcelana chinesa exibia-se em torno da sala"".
Com a subida ao poder do Partido Conservador, em setembro de 1848,
Para comodidade dos negociantes . estava instalada na
e sendo militante fiel desse partido, fo, nomeado presidente da Província
rua do Comércio a Caixa de Economias [29 nov. 18531. Localiza- da Bahia l 1848-1852). Para combater a Revolta Praieira em Pernambuco,
da ""no salão de aula de contabi l idade da Associação Comercial"", em novembro de 1848, enviou toda a linha de tropa existente na Bahia.
emprestava d1nhe1ro a juros de 6% a 10% ao ano e ··a prazo não Nas eleições preliminares realizadas na Bahia, em setembro de 1850.
para preenchimento de vagas no Senado, foi escolhido pelo Imperador na
lista sêxtupla apresentada No ano seguinte. lo, nomeado desembargador
do Tribunal da Relação da Bahia. Deixou a presidência da Provinc,a da
Bahia por ler sido escolhido para ocupar o cargo de ministro do lmpeno
lma10 de 1852 a setembro de 18531. naquele que ficou conhecido como
Ministério das Águias. Com a queda desse gabinete, o senador Gonçalves
Martins regressou à Bah,a para ocupar a pres,dênc,a do Tribunal de Re-
lação da Província.
Em 14 de março de 1860, o Imperador d1st1ngu1u-o com o titulo de
barão de São Lourenço. Retornou ao Senado com a subida ao poder dos
liberais I186/il. fazendo -lhes forte oposição Com a volta dos conservado-
res ao podei, assumiu a pres1dênc1a da Província da Bahia pela segunda
vez 11868-18711. exonerando-se dessa pres1dênc1a em função de d1scôrd1a
no partido conservador da Bahia
Por decreto de 15 de novembro de 1871, recebeu o titulo de visconde
de São Lourenço, ·· em função dos serviços prestados à Pátria e ao lmpe-
rio". Faleceu em Salvador em 10 de setembro de 1872, sendo epultado no
Cemitério do Campo Santo

lRECHO ... OE T TULOS DE RF.~IOttJ( 1/. A ES1 RANGEIROi:: Fonte Wll □ B[RGER, A, nold, l 11t-•s1dentes dd Provmc ,J dd 8Jf11d, p J16 33~
;NC DIDO~ A RAFFAE E. ARIANI E A UC1At>IO ARIANl,
JM A ASSINATUR/. OE AM80c

50 ANO 01 URBANllAÇAO \ l 31

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maior de 6 meses. sobre letras da praça que tivere m pelo me varn tr·ês .
tª.JJC!C ies d p (q"'rJe
,~ J
rrl::, rr, ! ,
nos duas firmas de reconhecido crédito", registra o Almanaque gocIan te,e VPnd,arr, Sva ,pPrc,, 10
da Bahia de 1855. Já na rua Direita do Comé rcio' havia um grande Pequeno, CobE'rto do I~-:. .; ':,r ' 1 '
,l. "
importador que fornecia aos es tab elecimentos lo ca is matéria- de Castro Leite vendra
prima européia para a fabricação de medicamentos e vidros para
embalagem. Também nessa rua estavam o esc ritór·io de Cons
roupa feita por a1or jdr., t cJ

d1ços; grande- sort rrer'o 1<e ,.,


tant1no José de Oliveira e o de Francisco Alberto dos Santos. des-
nivetes, tesouras para cc-• .J ~ ...
tinados à "compra e venda constante" de esc ravos. João Anastá- qualidades, esto1os de uria e d-~
cio Pereira [rua da Alfândega) e Ramiro da Silva Gu imarã es [rua para roupa e cabelo, ptn•e~ ,; ~n
Direita da Misericórdia) eram outros negociantes de escravos pentes de búfalo para a :;ar ~

anunciados no Almanaque de 1845 [p. 202). Nele também consta de mola. bolsas de bu'a ,. e éf as. ....,, ""'-=L=,... --= ,~ y- f _ ± :
por preço cômodo.
a lo1a de Joaquim Alves da Cruz Rios, onde podiam se r obt idas
informações de compradores de escravos que preferissem não
No centro da área comerc a . es'ê =- õ Vcã _a 1 _ •'·= '<(.; J
ter seus nomes divulgados. O cerco ao tráfico negreiro conduzia
depois mercado de São João 'lOrf'e cor•e~ ;r IJ,c " tp"1 •-a r,J
à clandestinidade e ao contrabando na venda de esc ravos.
estava srtuado, abaixo da 1gre1a e 0°s =·::e~ E c;=r- =.3;"ii,,·,
Embora terminantemente proibido em 1850, por muito
Foi construído por determina cão do o e~,, - ;,_,., lc •~ : :;rr,
tempo esse lucrativo comércio seria feito "por baixo do pano"
víncia, Francisco Gonçalves l\1ar ms a - e =- Cl.? 'Í: J;;~~ ~ Je
No Recôncavo, endividados senhores de engenho, negociantes
e empresários não titubearam em vender seus escravos para
anunciar que o cais com escadas de c.;r-•ar =es i e IT' ~k

agentes do Rro de Janerro e de São Paulo - províncias nas quais


escreveu que havia contra ado a co s· ~-ã - e - ~ , - ~se. "' l ·

a produção de café conquistara lugar de destaque na pauta de


me rcado púb lico, que rnuIto e mr b-.. ra a·~,.,•:· s~,- ~~•
exportação nacional. O Almanaque de 1855 estampa o anún c io da freguesia da Conceição da Pra a Esse~~ '\.:a:· e, • 1 • "
.. espetáculo repulsivo de uma praça e"
de dois "avaliadores" capazes de estabelecer um bom preço .,. : .i5
para a "mercadoria": Joaquim José de Moraes, na rua Direita
lamaçal, 1nd1gna mesmo da atde a ma s ,·

da Piedade, e Luiz Ribeiro Sanches, na rua da Lapa, nº 10.


mr seráve1s barracas que a Càrnara Cl> •s,
rendimento não pequeno· Dero1s .1e. t-,
Na rua do Corpo Santo, na qual foi construída a igreja
to movimento de "n,1c ona., e e-,t
que lhe deu o nome, en co ntrava-se a loja de moda s de Mada
me Delfina Castelo!, e bem perto, na rua da Louça, a de outru
modista, Madame Po1sson . Os nomes afrancesados , ve 1dade1-
ros ou adotados para a garantia de bon s negócios, Induz1am a:,
clientes a sentirem-se vestrdas de acordo com o cJem,er cr, d;i O 4/manaqu,, d,• '8:,:, h'q ,l ,l ,ll
moda parisiense. Quando os Ariani chegaram a Salvador, só v1dido em dll,h "qu1tand;i,, ,1t1 ,,•t,w,,.,
1 1
havia Madame Laurent, na rua Direita do Pa l~ c10, para sulI,la g e1a de S.int.i H,1rlidr d e,pun[l,J ,J ,
1

zero gosto requintado das senhoras e senho r 1nhus baianas. No Gri111dp do Sul qu.- \t'nd,., 1
, ,·t.il•i.,

Relatório de 1904 apresen lado pelo intendenle rnunIcip.il Fdu CPI P,11•," "v_,, d111,1•; dl' t,,dd q1 ,ili,•. , ' ',, •t;

ardo Freire de Carvalho Filho con sta que. no uno ante, 101, ele lildo d,• tall1D•, d,, Ldt n1,d,, \,h 1, ,,,, p,,r' ,, ", '
mandara cortar a rarte posterior da 191 eja cio Corpo S,111to flui" PXl111 IH\ P'-,L1v,i t1.1d(\1dl1 dt' H\J 1< i' r
'- 1 !. ( ~ t',
alargar a rua Pm que es tava situa da, nIvC'la11clo- ,1 e l1q,111dn ",- h,111),,11 0•,L• l c •\nut111n,•t1J~
1
1
1 , tn-.• 1 •
t , _. 1 p

rua das Princesas . Hoje quase esqu<'c1d,1, e provável l[LIP e•,s,1 rln l'vto1 ••11 "· "I" d,••,1111,,d,1 ,, ·i't', ,.1111•, t k
tenha sido uma das primeiras igre1a•, a ser'E•Ir1 sau i11c.irl a·, er [~p , 011< ,lVn, <'I dl11 l 1,111•,[1111 l 1cj'
11 cll 0 1 ,ldVdlll i ' ''. Pt'L))
nome do progresso.
q1,111,0 q1I,11111,t.id" lo
Entre as muitas propriedades do 10na cnrrw r era!, <'',t.i IH'I 11 '• Pill11•,. pn111hc1 • 1 \\t•lhn , t,•,t,,
l,1, l,1111hi•n1 ii<1vi,1 i(1Ja•
' ' l1tll\ií1fl
34 50 ANOS OE URBANIZAÇÃO j ! )1 " lo ~1,)v
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A n J ~e. as e'1tradõs i:Jas di.1as qu ta Jas er~'!'fl te ho.:!3_ la ta der~ ,,. ,os 11,i;inc, ,ro , para pôr em prática uma solução
corri por.6es de 'erro para segurar>ca aos ~equer>os .orr,e--c ri C pr, :e ,o de urbanizaç1c, e de h1g1enização da Cidade variou
tes que. com frequê'"'c,a. se que xavarn de •urtc,s C, nipree, - ldmteJT co1P o poder de dec,sao de governantes e da elite eco
de- se que os mercados ·er, al"'1 a~ra di ger•e sem r-ecurs0s a no:n,ca e po: t,ca dorr,nante ao longo rla segunda metade do
1arr> r>'a na esperança de que atgo ,he ~,esse as mãos. Os arcos sécu,O XIX
de Sar>ta Bárbara. ac ma da nova praça. Já se cons , u:am num As ruas de Salvador, demasiado estreitas, desniveladas,
dos mu os pontos procurados por essa populacão. precanamente calçadas, cheias de poças lamacentas, abomina-
ln,anavelmer>'e, a c,dade ba,xa causava má mpressào das por tantos v,s,tantes, no entanto levaram um deles, o reve-
aos que nela àesembarca,. ,am ,odas se encanta,am com o rendo norte-americano James C Fletcher, a observar, no relato
ma~,zaoo harmonioso do panorama que viam ao mar· o verde que fez de sua viagem a Salvador, que, ··às vezes , elas eram Ião
exuberante da monta ha, contornada. nos flarcos e na cumea- su1as e fedorentas como as de Nova York" [FLETCHER: KIDDER,
da, por casas gem nadas ou então cercadas de amplos quintais. 18681. De fato, também como as ruas das grandes capitais, as de
de cores claras. dom,nadas pelo branco. A d1stnbu1ção perfei- Salvador eram formigueiros de gente de toda a espécie. Num vai-
ta dos elementos e a harmonia do color;do deslumbravam. O e-vem constante, por elas transitavam negociantes com pesadas
oesembarque. con udo. era ser'"lpre constrangedor Os degraus casacas, escravos seminus, vendedores ambulantes e carrega-
das escadas do ca,s. de made,ra, carcomidos pelo embate das dores de todos os tipos. moleques, pedintes fendentes, mari-
ondas. carec,acn de so ,dez, transmitindo insegurança e medo nheiros aos pares, por vezes abraçados a dengosas cabrochas.
aos que neles pisavam Em terra f,rme. o quadro era a,nda ma,s Segundo Fletcher, que visitou Salvador nessa época, pou-
desalentador - um aglomerado de pessoas malvest,das. an- co hav,a mudado na cidade baixa desde o início do século XIX,
draiosas, merd,gos. escravos e meninos de rua. entre monturos com exceção da rua Nova do Comércio. Ele não errou ao desta -
de su1e1ra. res :,s de frutas e de comida. car essa rua como a mais importante. Por ser a mais nova, era

O francês Ernest Mouchez. citado por Walter Fraga Filho a mais larga e bem-pavimentada. O Almanaque de 1855 regis-
(1 996, p. 156). fo, um crítico 1mp1edoso da quantidade de negros. tra que nela estavam as ma,s conce1luadas casas comerc1a1s
mulatos e carregadores que a. se movimentavam ntensamen- da Província Além de alguns bons hotéis, como o de Eduardo
te. além dos -numerosos mendigos. todos ma,s ou menos le- Muetler, aí se encontravam a Ca,xa de Reserva Mercantil [desde
prosos e expondo suas horríveis chagas-. Entretanto. em Lon- "8t,2) e a Ca11a Comercial [desde 18t,8J. Nos anos 1850, havia
dres, Pans. Lisboa, Berl,m. Nova York e tantas outras cidades pelo menos oito estabelecimentos bancários com o obJet,vo ex
da primeira metade do século XIX. a situação não era murto di- plíc,to de emprestar d1nhe1ro. Entre eles, o Banco Econômico
ferente Na elegan'.e Pans de 1857. mendigos não menos repe- SA to, um dos primeiros a ser fundado, em 1831,. No n' 11 r,
,entes arrasta ,am-se pelas ruas e saqetas. tão imundas que fo, ca,a a ,oJa de Chapéus de Sol de João Batista Massena, com
necessário recrutar uma legião de homens para a limpeza. Es- "grande sort,mento de chapéus de sol de seda e paninho pura
gotos subterrâneos. entupidos por enxurradas de t.,o. no me,o homens e senhoras, muito ncas bengalas dr cana e dt• bMba
do qual ar,ma,s mortos decompostos ezpandiam ,nsuporêá ,e1 tana, chicotes e ch,cotinhos pdra homens e senhoras Vende"
mau che,ro, rransm,tiam moléstias e ep1dem1as que caracten retalho e em porções"
za,am a época, el'tre elas a temida tubercut0se Tudo reme11do I Ja rua I Java do Comérr10 liJmbém sr conr r•nl1 av,11n
por batalhões de raros Calcula-se que. naquele ano. cada ·1,rr- agências de mu,tus companh1-1•, rle lrd11~po1 tP 111c11 i111110 d1 1
1011

pador de esgoto· tenha matado cerca de 300 ratos ga distância. Jodds. lldS rTlrlOS dP. PL,lfrffl(Jl•ffO',. fHlllflp.ilflll'llll'

Tudo 1nd1ca que, em Sal,ador, o problema se lenha es ingleses, que tanto ha11am lucrado com d u lH"'rluriJ do, pn1 IO'J

·end,do por mas tempo Isso nao se deu, porém, por ,gnorãn do Bras11 ern 1B08. Logo no prédio n· 1, ~•.l.iv-," r,,., ili> P,,q111•I•",
c,a do que ele reprPsenrava. tampouco por fa,ra de proietos A entre Southamptun, ÜrrJi:..11 e- R10 dr1 f >r ,,l,i, .ob tJ d11 •(, 10 clt1 111111,1

verdade é que, dev,do a posição penfenca que a Bar .. a ocupa,a IÍ glP',;) F p Vi/di;on & Cid /\d1.Jr1tc:, d d(JÍ•n< ld d.i L 1,J dP Vc1fHJI Ir,

no contexto bras,'e,ro e no sistema capital sta, hav,a absoluta entre L11erpool, (jr;i .,1 (• 11,0 du Pruld, d1111prl,1 p()r l:len11 /1.
0 r IJ

10 ANOI OI UHANIUÇÃO 1 1

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,e 1 ., das em ,eI Jes.
Salvador ca_,a s e< p. "
Não havia en" r,os es _ri •o 1c , '1e 'legoc,ar es
rn t,nharn ugar
Os que acontecia . dente s de ec \ oques 1rnportad%
ue vendiam exce
estrangeiros q art iculare ', Con mais írequên-
tmente em casas p
e, ocasiona ' , d porto. Erarr porem de natureza
nos armazens o
eia, ocorriam _ d ,as que não t, av1am sido retiradas
ferec1am merca or
diferente O d do ou que hav,a rT' sido apreendi-
dos armazéns no tempo ev1 ,
s os impostos correspondentes , por
das por não terem s1 d o pago
. outra razão qualquer Nada havia em
estarem avariadas ou por
rasse à casa que Raffaete Arian acabara
Salvador que se campa
de montar
Muito bern-orgarnzada, a casa de leitões transm1ua se-
riedade e inspirava confiança Oferecia tudo o que pudesse in-

teressar aos negociantes locais, além de drt1gos raros. ao gos o


da elite. Também 1ntermed1ava vendas e compras de obJetos
Conduzido por Raffaele, o leilão se tornaria um meio ef•ca.: e

atraente de negociar.
Nessa época, Ratfaele já era viúvo . A amada Ricca Bella
falecera em 1846, cerca de dois anos após haver aportado em
PUA NOVA or COMERCIO. Ao lado dessa nova rua, na Direita do Comércio, encontrava-se
ArUAI CONSELHEIRO
Salvador com o filho caçula Giusto na barca sardenha Sanzone.
escritório da C1a. de Navegação a Vapo r Luso-Bras1le1ra, CUJOS
0
DANT.A5 1861 que partira de Gênova em 184/4 Não se sabe as c,rcunstânc,as
vapores partiam de Lisboa com destino à Corte do Império, fa-
de sua morte, mas é possível que não se tenha adaptaoo à ru
zendo escalas na ilha da Madeira, em Pernambuco e na Bahia.
Na rua do Corpo Santo, nº 41, ao lado do Correio Geral, ficava deza das condições de vida da freguesia da Conceição Tudo

o escritório da Empresa de Navegação a Vapor Santa Cruz. O era tumultuado e barulhento, a língua lhe era descon'lec1da os
proprietário era o rico e influente comerciante, industrial e tra- costumes da população, estranhos e agressivos à sua -el,naoa
ficante de escravos Antônio Pedroso de Albuquerque. "fidalgo educação e natureza sensível; mesmo as práticas rel1g1osas,
cavaleiro e moço da imperial câmara". Os três vapores da Santa nas quais res1d1a a solidariedade que urna os Judeus. estavam
Cruz faziam a ligação e o comércio entre a Capital e o sul da restritas ao ambiente doméstico. um ambiente que não era o
Província, indo também aos portos de Sergipe e Alagoas. seu . A sorna de tudo isso com as saudades de parentes e a
gos distantes pode ter atingido mortalmente a delicada ,tal.ana
Ou tena ela sido vitima de alguma das muitas niolest a• que
O COMÉRCIO DE LEILÕES grassavam pela Cidade
Raffaele permane ceu
- em S al a dor col'1 os f ,ros, L J
Ainda no sobrado do am igo que o acolhera, Raffaele Aria111 e Giusto. lutando denod a d amente para vencer O '11a1s pr-est q,
havia vendido algumas estatuetas de alabastro e de b,scuit, xa so Jornal entre os comerciantes da Bahia, O te J'>t.
les de seda, vários obJetos de toucador e um par de candelabros g1-andes leilões sob seu •nartelo
' , como o t•a, Lílt
de prata que trouxera na bagagem Percebendo que inIcIava um
ed1~_ªº de 5 e 6 de Junho de 1849 E.ntao o n n,e d
negócio de sucesso garantido, estabeleceu sua Casa de l_e1lões havia tomado a lorn,a ab r;is,_ 1e11·adc1 Rata ' f r
na movimentada rua Nova do Comércio Anunciou então "nesle trat.:ido de Justo
estabelecimento se comp1 a e vende qualque1 obJeto que se ale
recer, tanto em leilão, como fo i a dele. e e um dPpós1lo tanto de
fazendas, como de móveis·
R,\Hl,\N la,·,\ f· 'dº e,t ,
l('m. à•"J 11 h0r (1c;, l1'-... llCui"'I

l8 50 AW'5 OE JRSAN,ZAÇA~ [

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peq, erii fdt:iue1r,. ...01 ndo L ·olt ere2:mt dS p , ·ha E. .uma
Jll-<ier de oui-o, ur '3 salva de ouro E oi ~ras Je pr... :1, ilgumgc;
fazendas. ,lg, ns Ir ~
tes ' Ocu 1os. um rt"logw
. de ouro de patente
duas pecas de pan0 fino e ,utros obIctos.

Mesmo depois de entregar-se ao negócio dos transpor-


tes urbanos - o que se verá adiante - ele não abandonou essa
atividade, que lhe permitiria realizar novos projetos. Periódicos
locais continuariam a anunciar seus leilões. o Jornal da Bahia de
11 de maio de 1855 publicou

Rafael Anan1 fará le,lào 2ª-fe,ra, 14 do corrente, à Praça do Co-


mércrn, ao meio dia, de um sobrado com três janelas na rua do
Genipapeiro n° 47 com quintal; uma casa térrea contínua nº 48·
um sobrado na rua Direita de Santo Antônio. do lado de terra:
fazendo frente com o Beco do Padre Bento nº 1, casa térrea na
mesma rua e do mesmo lado de terra. nº 36, que tudo se vende
rã sem reserva, por conta e ordem de quem pertencer.

Ao leiloar, Rafael Anani buscava atender às necessidades


e ao gosto das diversas camadas da sociedade. Não deixa de ser Transportavam com segurança gente de todos os t,pos.
curiosa a exposição de elementos tão díspares como tecidos. ri até altos negoc1anles, quando queriam se deslocar cte um,,

cos vestidos e luvas ao lado de peças de grossa ria [tecido grosso ponta a outra da Cidade. de ltapag1pe ao Comércio sem passar

de linho ou de algodão). presuntos e champanhe importados da pelos charcos e pântanos da Jequ1ta1a e adpcénc,as nwsmo

Europa. palitos de fósforos, fifós. carvões e outros combustíveis após o advento do bonde a burro Através dos saveiros. troc,wa'll

de uso doméstico, cachimbos e charutos destinados aos ncos, mercadorias entre os engenhos de açúcar e o porto dt> Sal d1.h'r,

cigarros para os de ·menor qualidade·. fumados às escondidas e entre diversas cidades ribe1rinh,1s, os neqoc,,rntes ,i,1 l'ap1

por empregados e caixeiros de loJaS, ou pitos dos negros, es tal e as feiras que a abasteci.im Tudo transportavam· po,-soas,
anImaIs. matenaIs de construção, objetos 9rdndes e 1.11 ,,1, os,
cravos ou não.
Escravos eram leiloados ao lado de anIma1s. Bom d1 todos os tipos de frutas e lequ111111osas existentes. I,mnh,1 ,k
Nazaré, obietos de cerâmrc c1 e t11olos d,, M,u .1qoc1•p1'
nhe1ro deve ter acumulado Rafael com os escravos e negros
O escravo "carreg,.ulor dt\ c;idt\lf ..1 t'ra n1u1to pt\)çura1.1t,
espec1al1zados que vendia. Leiloado em 8 de Junho de 18/49, o
pela habilidade que desenvolveu de Ldl I,•q,u rl\l 01nh1<1~ ,,1
·negro mestre de barco para todo o Recôncavo , por exemplo,
demnhas de tir r11t.:i1 ", ~.ubindr1 P dt\.;rt,ndo l~hl01 r~1~. p1•,,.'ndo t'lll
era da maior 1mportânc1a para o desenvolvimento do comércio
poças Lie la111n, em sUJt-'ÍI a~. dL' lúdl1r, 0'-1 tipos. "'em qupt,, ,,r 1.'
de Salvador Geralmente, em saveIr os, muitos homens como ele
ritmo di1 nldl cl,a, inílntendu os Jkl~•,o~ 11111\tH,, rrHl'-;.\ ul\\s. t:'h'
mostravam hab1l1dade de mestre Eram capazes de atravessar
se dos, c1,, modo J ~qu1l1l>1<11 d.i 11wlhu1 h1111\cl p,,.,,,I1 .-1 ,, , 1ch•11 ,1,
qualquer ponto da Baía de Todos os Santos: de subir e descer
p.:ira qw' st1u passd~Jt•11 o ndll ~011 t'·,s1.• o dt"•\ onh,r t0 \l,l•• 1u,\ .
r.os de águas rwrn sempre tranqüilas, corno as do Pai Jguaçu,
vit:1líls e ldde11d<;. de S.ilvíldo1 lh.. 1"·~r1, \Ví'l', p,11.i ·,tlJ\l\\\ d,1 l\'\,l
dP abordar ern qualquer ilha ou lugaI em torno ria ba1u Co
nhern, 111 canais, bancos de areIJ, correnl0s rnannhas e fluv1a1s,
f-•rc1m rni1Is 11bundan1r,~. torno ',t' vt' l't. . !1.1 ,IIHllh ll'. t'I11 dt'\ \\I t'n
era, Vdltdrn mti110•, IJodt 1 1ldnl 'lt 11vII IH''' í'IHlt'llh\1•1, 11.h f.i 1'1ht.t~.
como a< linhas das palmas de ~uas m5os.

hll A.Nl\ Ul UIUU,Nl1Al. Á,t\ 1


,,

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s e que estes est,wa1 l E• trdgados pelo
passe io s" el e suas ru a
de gado ou mesmo na Cidad e. cuidand o de quintais e de cháca e foram deixados depois di> fP1los" , pedi -
"total abandon o em qu ..
ras espa l hadas por todas as fregu esia s. Província que as referida , ruas , cen tro do
ram ao pres id en te da
Tais anúncios eram con stantes. Não há dúvida de que, , . - contribu em em maio r escala pa ra as ren -
com erclD, cujas casas
como agente de leilões, Rafael Arian i soube co nquistar a so- e estrang eiro ao desembarca r principia
ci edade ba iana . Ganhou notoriedade. respeitabil idade e bom da s do Estado, e on d O
ão e adiantam ento" , fosse m benefi ciadas
dinheiro De acordo com o regulamento vigente, pagava-se ape- a avaliar sua c1v1 l iz ªc.
.. b t a que O proprie tário da fábri ca de as falt o" esta -
nas 1% de imposto sobre o valor dos objetos vendidos em lei- com a co er ur
5
va fazendo em outro s lugare s.
lão. Com o capital acumulado, em pouco tempo ele montou sua
Durante sua primeira admin istraçã o, de 1848 a 1852,
pró pria fábri ca de carros e entregou- se, de corpo e alma, a mais
Francisco Gonçalves Martins, o futuro visconde de Sã o Louren-
uma novidade: o transporte coletivo urbano. Como empresário
ço . alargou O adro da igreja da Conceição . Nele construiu um
de destaque no ramo, Rafael Ariani voltará a ser objeto de nosso
chafariz e deu forma a uma praça voltada para o Arsenal e ro-
estudo alguns capítulos à frente.
deada de grades de ferro, com símbolos de mar e guerra. O
projeto ainda previa a abertura de uma rua, com 22 m de largu-

ALIANÇA GOVERNO E COMERCIANTES


ra . que iria da praça da Conceição da Praia até o mar, no estilo
bou/evard. Ao governar pela segunda vez, entre 1868 e 1871 . o

O Almanaque de 1855 anunciava quatro leiloeiros, todos visconde procurou completar o projeto e pediu permissão ao

estabelecidos na rua Nova do Comércio, a de ma ior prestígio na ministro da Marinha para abrir a planejada rua, através de ter-
área comercial: Rafael Ariani, Alberto Henrique Curry, Guilher- reno do Arsenal. Estimada em cerca de 100 contos de réis, a
me Evans e Udo Schleusner. Evans já fazia leilão em casas de obra seria custeada por part iculares e pelos cofres da Província
família , quando Rafael Ariani profissionalizou essa atividade . Ao Além da ampla aven ida que daria destaque ao suntuoso templo
todo, existiam 240 negociantes na Bahia, dos qua is a maioria, da Conceição, ela ofereceria um cais seguro para o embarque
í32. era de estrangeiros. Desses, 95 não estavam devidamen- e desembarque de passageiros . A despeito , porém, de haver o
te matriculados. isto é. não pagavam impostos. Entre os 108 projeto contado com o apoio das mais altas autoridades e dos
naciona is, havia duas mulheres e apenas 34 não estavam ma- melhores engen heiros da Província, encontrou firme oposição
triculados. A maioria esmagadora desses comerc iantes estava do inspetor do Arsenal da Bahia, que não adm1t1a que o Arsenal
voltada para o comércio de exportação-importação, que , desde perdesse nenhuma área.
os tempos colon1a1s, era a alma que animava a Província. De- Em se u plano de saneamento da área portuária. o viscon-
pois de o açúcar brasileiro ter forte queda na balança comercial, de de São Lourenço havia também projetado construi r. na base
sobretudo devido à concorrência do açúca r produz ido nas Anti - da ladeira da Preguiça, um mercado de peixe, a fim de "por-se
lha s, o comércio voltaria a crescer na virada do século XVI II para abaixo as imundas e fedorentas cabanas que , feitas de tábuas.
o XIX, estimulando a tão necessária reforma da área comercial. absorviam O líquido macerado que saía de peixes, mariscos, fru-
Ao longo da segunda metade do século XIX, observa-se tas, vísceras de gado etc .. nelas postos à ve nda". A Câmara Mu-
uma constante e conveniente parceria entre homens de negó- nicipal, contudo, impediu o segu imento do proJeto. alegando não
cios e Governo, na construção de ob ras que beneficiariam am- poder ficar sem O aluguel que recebia dos donos das cabanas.
bas as partes e que, bem ou mal. impulsionaram o processo conforme relata O presiden te na sua Fa la e o contra -almirante
de urbanização da Cidade Muitas vezes ex1g1am -se vantagens e Antô nio Alves Câmara em livro [191 1, p. 911
benefícios, mas sempre se pressionava pe lo melhoramento das
Para rea l izar obras públicas, vol tadas niio apenas para 0
condições físicas de deter minadas áreas Em 1861, po r exem me lhoramen to do port , d
_ º· mas tambC'm para as ruas e as con '
plo, comerciantes proprietários e 1nqu1l1nos das ruas Nova do çoes fís icas da Ci dad
, e, em ger al o Gove rn o da Província consll·
Comércio, Direita do Comércio, Santa Bárbara e ou tras, alegun tu1a uma com1ssiio de 11• .
' es mem br os, esco l hid os en t re c1dadao 5
do ter "contribuído com avultadas somas para o calçame nto e cons iderados id ôneos N . . •
ª mJ 1or pai te d<1$ vezes , o::, tres erJíl'

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dcre-çi 'Jr J. CJ C, '1C Ç«r ÇdV<.l, fT T do d ,1v,l fc r ,,s de Ao ,111, 'asp:ll 011carregado das obra,, do mer·
t1.:i,:, 31 --r tur 4 uJec; - J 1 ~ J. e;-: r ç re depaur,er H.Í1)• cufr~::. do de ',ao Joã0 A fim de "limpar a área , decidiu expulsar
cr Jv,"lC a 1 Cost., nava • mtribL 1r ..ipr~as \. m . ÍISLdlkaç.ão, as ganhade ras , vendedoras neg,.as que ocupavam os arcos
Seí'1pre a cargc de um er,gen~e ro da D1ret0na de Obr ~ Pú em frente aos boxes do mercado, os "armazéns·, no pavimento
bucas. Este deveria reportar ao presidente, ,n,nuc1osamente, 0 térreo. Teve o apoio do subdelegado da freguesia Mas o fiscal
andamento das obras da Tesouraria Provincial se opôs à sua decisão, argumentando
Era sob essas condições que se deveria prosseguir a que as ganhade1ras" pagavam por sua estada "um aluguel de
construção do cais em frente aos becos da Garapa e do Guin- inquilinos aos donos dos armazéns" e que, com a saída delas,
daste dos Padres. Seriam colocados canos e o calçamento, "a renda pública sofrerá um desfalque".' Assim. graças à preo-
cont nuando o que se havia feito no cais construído na praça cupação do fiscal com o Erário, as "ganhade1ras" continuaram a
São João. Os moradores da região há muito reclamavam dos vender nos "armazéns" e os donos deles. a receber os aluguéis
danos que sofriam "em dias de grandes chuvas, provenientes por elas pagos.
das 1mundíc1es e águas pútridas lançadas pelas v1g1as do cano
principal da rua do Comércio" O estado da área pedia urgência.
O cano principal estava obstruído pelo lixo de outros canos que O COMÉRCIO INVADE O MAR
desembocavam naquela rua. As casas de negócios haviam sido
inundadas. "causando assim não só notável preiuízo e dano pú- O desenvolvimento do comércio da Província levou ao au-

blico. como perda das mercadorias que existem nas referidas mento das importações e tornou urgente a urbanização da área

casas··. O Governo da Província indicou os membros para formar portuária O projeto elaborado cons istia, em linhas gerais, no

uma comissão e contribuiu com o entulho. Além disso. desig- avanço do aterro, na retificação do cais do Arsenal da Marinha

nou o competente e respeitado engenheiro Francisco Pereira de e na construçào do cais do Pedroso !atual ruê Miguel Calmon]
e de um novo edifício para a Alfândega, dotado de uma rotunda
Aguiar para a supervisão da obra
Dois dos 1nd1cados logo concordaram em conduzir ostra- - um desafio para a engenharia da época.
Os aterros sistemáticos ini ciados em 1843 foram intensi-
balhos. O terceiro vacilou, mas considerando que sua casa fica-
va em frente ao cais em construção e. portanto, ele próprio sena ficados. O excelente estudo realizado pelo arquiteto Marcos Pa-
raguassu A. Câmara, sobre as freguesias da Conceição e Pilar
beneficiário da obra, aceitou partIc1par do trabalho. Impôs, con-
11988), mostra em minúcias que o processo de aterro da cidade
tudo, uma condição: que se concedesse à comissão "todos os
baixa Já tivera 1níc10 com os primeiros moradores que chega ..
favores e adJutórios que se há co nced ido e houver de conceder
ram com Tomé de Sousa em 1549 Segundo conhecida planta de
a outras comissões encarregadas de obras iguais". Assim esti-
José Antônio Caldas, comentada por Gilberto FerreL em i-\s c,
mulados. os outros dois membros alegaram que, para acelerar
dades do Salvador e Rio de Janeiro. [ 1963, p. 581. a mannha. em
a obra antes da chegada das chuvas , haviam sido "obrigados a
meados do sécu lo XVIII, "tocava pelo pé dos cobertos grandes.
avultados desembolsos como adiantamento ao empre1te1ro", e
pediam ao presidente o pagamento de 2 co nlos de réis por conta
ca is da lenha e passava além do Cais do Lixa [ 1". "correndo
os anos leram os mornclores da pra1u estendendo para o ma,-",
dos trabalhos a serem realizados.'
atendendo "ao seu cômodo particulilr Os 1esu1 tas. entào senho
A área co mercial era local para a realização de grandes
1-es dilquela porçiio de mar1nhn, também av,rnç,ll am par a o mar
negócios, mas, também, era muito procurada pelos que exer
a igualar com o Cais do Lixa, que e1 il o mc11s c1vilnç.Jdo P lizE'r,1111
c1am pequenas atividades e, de modo geral, pelos que busca
vam um meio de sobrevivência A limpeza dessa área, tornando
cais novo [ 1". "e en l ulhaJi.1 lnil,1 a po11,10. qu,' l1ta l'lltr,' ele~,,
o cil 1s da lenha que loi, p11l rc1ru111" l.ib11, ,1 1 111,ir,1d<1s d,, ci.lsas
a mais atraente para o comerciante e o invcsl1dor eslrilnge1ro,
era obrigação 1mplíc1la em to das as obras públicas Po1 vezes, clP luipc1, lé!rre,1", [ I"

bO ANO~ nt: uRllANIZAÇAO l (\

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ALFÂNDEGA NOVA VENDO-SE A
ROTUNDA E A PONTE DE FERRO
DE ATRACAÇAO Entre iniciativas do Governo. de irmandades religiosas e
a Associação Comercial e o cais Dourado. Mais tarde, o aterro
de particulares, o aterro foi avançando, tendo chegado, no início
seguiu adiante, cobrindo a enseada de Agua de Meninos e indo
do século XIX, a cerca de 86.000 m 2 . Até 1894, o aterro ganhou do
além. Deu-se ao porto condições de expansão, e de organ1zaçào
mar calculados 97.600 m 2 • ou seja, foram cerca de 1.000 m 2 de
às atividades a ele ligadas.
aterro por ano. Nesse período, o Governo teria assumido inte-
A construção do mercado do ouro é um dos exerpplos de
gralmente o controle das obras. respondendo por 90% do aterro
utilização da área conquistada ao mar. Em vez de sentir mal
realizado. A área conquistada ao mar no século XIX corresponde a
estar, os estrangeiros que aportavam a negócios ou a passeio
mais da metade de toda a superfície aterrada: 183.800 m 2, desde
podiam concentrar-se nas "exóticas belezas trop1ca1s·.
a fundação da Cidade até 1894. Embora o avanço tenha sido mui-
to grande, Marcos Paraguassu [1988) o considera relativamente Tratou -se primeiro de recuperar o cais Dourado, que se

insignificante se comparado ao grande aterro que seria feito nas achava bastante deteriorado e "ameaçado de ruir completa-

primeiras décadas do século XX. Então, a área dessas freguesias, mente, a cada lua cheia, quando as marés crescem e as ondas

inclusive a portuária, assumiria a feição dos dias atuais. se tornam mais fortes", segundo observou Luciano D1n,z Borges

Também é Marcos Paraguassu quem observa que o em artigo sobre o mercado do ouro [20051. A nova construção to,

crescimento da área comercial se fez em duas direções: para destinada em especial a comerciantes livres, que ta:1am suas

o norte, o aterro foi gradativamente avançando da Conceição a vendas à beira do cais Dourado, onde save1ros desembarc,wam

Jequ1ta1a, em Agua de Meninos. A ligação entre o comércio e a mercadorias e gêneros al1n1ent1c10s diversos oriundos de 1ar1os

península de ltapag1pe, que, com freqüência, se fazia por mar, pontos do Recôncavo A h191t'n1;ação e a ordena,áo das feiras

devido à preca1·1edade e estreiteza da faixa terrestre, melhorou populares, mediante a construç,10 de merc,1dos publicas fe ~,J

sensivelmente com o alargamento, a ponto de perm1l11 o t1 ·â n dos, perm1t1nam um 1nelhor controle d,15 venda. p,,to,- ,, ca,~ do
sito de novos veículos que foram surgindo, como as gôndolas Governo e propo1-c1011a11a111 a pequeno,; e q 1cindes comt•r, 1Jl'te

e depois os bondes puxados a burro Na d1reçao oeste, a l111ha boa fonte de renda [m l]t'1 Jl, tais l1lPrLJ.dos ,, J con tru1dc
1 11
da costa avançou rumo ao mar, consumindo enormes qua11t1da por pai t1culart's, s!:!ndo o espdço 1nt,,rno li·vitlido " , hl ,, 1d

desde terra Nessa faixa tomada do mar. construíram ·se mui peqiicnol, rome1 LlílnlPs. r· st,";, po, u,1 vez, alulpv.1P1 er
tos prédios para morada e para negócios i.l Alfâmleg;i Nov,1, a ços que lhes pertenc 1arn ou clr r,•11d,1v,irn , v, ndC'd r rt
10

área entre esta e a praça Sao Joao com seu me1·cado e dai ilté livnis de aluq11el e dt> 11npo• lo ,, Jqo 1 •net1d
1 1 11
Va<; nor111.i~, tlr conduta

50 ANOS OE URBANIZACAO I on,; J1 1, N JV H Silmf'),1 o

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Com razão, Marws Paraguassu a~s,nala 119881 que o d, da Conce1çâo, da flC'/~ r Ja l)a I&' ª' r a ~~-- ~~ .. ~ J ~~ b. a1'1 :
rei'o público sobre os terrenos localizados à beira-mar deveria depó51to no mar de grand~:, q JB ... ~~'.:E~':': t~,-.=: ...
se estender às áreas aterradas. Se esse d1re1to ex,st,u, porém, A!érr desse ai:,ortE o assi:.~e:::n ::-- ➔ ";) "!.:::. .; ...~ ,:i.-',\JóC,~11'}

nunca fo, exercido Com efeito, particulares se apropriavam com por correntes mar rihô$ e .até rr €-Sf""' ~ ~-:. .. ~:. r:t:: ;i~-"'t 1 ;;r-~s

facilidade dessas áreas O terreno ao longo do cais Dourado, cujas bordas erarr erri terra r d• -::é 1::: ;:.'G,. ~.r !i' ... - -: : it"í: ,=,...- ":( ~;

por exemplo, hav,a pertencido aos herdeiros de José Gonçalves de des11zamentos de er costas 12 012xir:i2ir-- '=- ~ d~ 2-;~.5. "'~1 as:
da Ponte e deles foi comprado pelo rico comerciante português construídas - conforme reg :•ros ~,. --= ":½S -;.::;-1.:;- r: -=-~:_:...0
Manoel Francisco de Almeida Brandão [dono e acionista de vá- XVIII - também con r ouirêrr parc: 'J a~l:'. ......":. ~~= - -J.r- .o r-':'5t!'JS

nas companhias comerciais e também de transportes) e outros de casas destruídas pelo terr po, ~e,..-,:i '.las ;:.,Jr --ã-,,:t ":. p,1~
dois negociantes. para "nele construir uma praça de Mercado e outras razões. O autor lernb:-a Ct;e:. ::;,u5 ;e~-:5-E-~ ... ~ p ~ as

um prédio de armazéns e escritórios". Com esse objetivo, cons- se sucederam nas :reg1..,es as do P -li:,.. e :a =~,.. :~.e.à~ ~ q JI:-.
tituiu, em 1° de setembro de 1874, uma sociedade em coman- provavelmente, o dest,ro das r~ ~as lJ : -e-
d,ta com 41 sócios [24 portugueses, 11 brasileiros, um alemão, O mar também foi o oes1 . . o :e ;e-:::::::~-~ i:iJ ·: r:rce
um francês e quatro firmas comercia,sl. com data prevista para se acumulava na Cidade É o 'C\.ie d s.se~ ~- _.,,.. -=- :5-i:J:5- ':>"l'Ji;-J Jr:-
durar nove anos.• c1amentos. o empresário co :...sse o e, l ,._;:-€-.:a .:; C :12:t-=: ~.:ti-

O prédio do mercado, cuJa construção foi iniciada em se- sado de provocar incênd o nos es·a € n:.s ... e =iT'"E-; . . s -:-,:r- !'Ta ,<:::r-

tembro de 1875, estava estruturado em amplos armazéns. sa- queimado o lrxo aL acumulêdc. Je'ié~i::21.:-5'2. - 0:-;;-;o qJ<= o
lões e gabinetes de negócios, cobrindo uma área conquistada ao lixo transportado pelos carros ae SlfC: e.,......;p""?sc: -=-a ·l:=. ~-= -:sa-
mar, de 75 m de frente e 100 m de fundo, com uma bela fachada, rnente lançado no mar. no lu ga- e:rri : ue st ::-ne-: x =~ ~r 11
u ho
no centro da qual havia enorme portão de ferro trabalhado. Os destinado ao mercado do oe ).i?- St=g...J ... C~ t r ~:r .. ~ e :ic:: 1

que a ele se referiam falavam em "notável edifício", na "riqueza Jogava lixo seu a11tecessor. ·co:nc os ~-=::-,'12s -=-~~~..J.--S d.e

de toda a obra de cantaria e ferro", elogiavam sua "imponen- Policia, quando esteve esse sen çv a Si:- ccrg · ~e: :, -:'n"-

te grandeza·. O Almanaque da Bahia de 1881 diz que "no centro presário, 'mergulhado at,. na agua s.a!ga:õ, -,,ã;: •• ~2 ~.~ ? xo
existe uma pequena praça com quatro elegantes pavilhões so- por forma alguma pre,ua cara sa~:~ ,t.~ ca·
bre colunas de ferro, destinados para acomodar 120 quitandei-
ras de verduras, frutas etc. e, no centro dela, está colocado um
chafariz de mármore". A ALFÃ
A praça do Ouro foi também um ponto de carroças que
levavam mercadorias adquiridas no mercado para residências,
anunciando-as pelas ruas ou entregando-as por encomenda
em determmadas casas. Carroceiros, como vendedores, ba,a do Palácro, onde ela ha\la sid~
nas e tantos que lá trabalhavam, não só partI cIparam da vida o governo de Tome dE' S, usa ,,,,;s,3 ·J
econômica, como produziram uma cultura popular associada à da ,gn.>Ja do Corp,, Sant0 _-.,,es~r,
área. Infelizmente, o mercado está em franco processo de deca protegidas p,1r pes.,das \lrJa<'s , e ie
dénc,a Nem as quitandas internas permaneceram, tampouco o dceler ,.;ida dt'lt'11ot 3\:â◊ t-.. '1ih. ,y~

chafariz de mármore, importado da Europa.


Depois de analisar falas de presidentes da Pr ovinc,a,
Marcos Paragu<lssu (1988, p. 1811 sugere que as te11,1, e ,,n
tulhos usados na construção do aterro entre <1 pI<1çil ':,<10 Jo,10
!atual praça da Inglaterra) e~ Alf;rndega Novil lenhilm ",Ido, crn
grande parte, oriundas da mon tanha Obras rP,1lr1.id<1s na cl.S d.ide,
cada de 1850, como a const r uçáo ua loderr J d,1 Mrser ,có, rir,,, \1qn~- l",untu~,nL,'l IH,n,t ~ dl ,1"'.~'-i \ \

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\' l\'l1h1 fl, 11w1, .l\.h,11 l'• ltw. p,H't t 1...1m llh\Hllrúl.1\•1.11~ lnti._•ndll'I~, ll,Wtll, l' 1núrrwr,1-; propr ll'd1Jci l'5 . OuiJndo fillPU'U, rirrl ~W/8. JCU

,,\ t'I t 111111, lt11 t1, qllt''l1..1..:.1. P'-°'r


1 \t' ·t•... rt•--.L1lltlnd1., 1.:•111 p1.:.1 tdd tot.11, 111v,,ntdno ind1ct1v,1 que, só em S.itvador. erd propr1el,jr1() d{I /41

1 flh\ IL\llllt'\ ('li \. \Hll l' li lflll lW \1\ I krn Hl~,nl, quandú n1JI de ,obr.1dos. Oesles, 12 s1t11,ivam se na lrPrJues r.i d.i Conc~1çao rJJ
du,1· irnl <,H\,I', d, ,1, L11..11r hll .1111 lh.:?•,t1 wd11s pdo loqo O t1 up1ch1.' Pru1J e dois nJ do P1lJ1 De11l1 e os bens rlecldrados. po,suí;i a,n
l 111•n.1 l,HHlH.'lll !l'\l' 111 l\t"• prt'J\.11 Q--.. d •çor r ~ntt'--. th:' 1nc0nd1os dJ 22 c.i•;as. lrês fazendas. um engenho. cinco roças. um mata
1t•1n Ht~,1.l, .i--..•.1111 \llllW \,i; lr 1µ1clw•~ Um•r1IH) ,, P1l,11 !em 18561. dou, o no Hel1ro e um trap1che na rua das Pedreiras 1
~11, 1p1t h1• '1 h ,1\..1 1\: m Ii; ') ,.1 \!,li lt' out1 lls, çonlorme ,1s~smc1la
1
O segundo fato , a procras1,nar os trabalhos de constru
~l,11,,,. l'.11,H111,1•,•,ll llv8t1, p IMll ,\s•,1111 ••11,,ndendo J 111lé1es çao da Allàndega Nova trnha a ver com d1vergênc1as na escolha
. t PH1luü .... ~ d,h ' ll,1p11..lh1 , 1..'\t~h•nte toram ,1lfJndeg~1dos. de 111atéria•pnma e envolvia interesses comerc,a,s ingleses O
1lt 111 d1.. dt11 . 1111,.1 t n~ um.i p1 en~J dwetor das Obras Públicas da Província. tenente-coronel João
th Jlt'I ro, ,1 l '111,1lH.. ll•• que h,w1,1m .,ido 1ntc1ados em Bléiem, 1ns1slla no uso do ferro - que sena fornecido pela Ingla-
3 h.H m 1nlt•n 1fl(,1dn ~t'lll', .tnt15 liepo1s, JS obr,;1s dd nova terra . enquanto o engenheiro Przewodowski lulava pelo em-
\tt. 111 d,•qJ "'"'\ 11.J111, ,,,,w l1<l l'iulo Orm111do de Azevedo no prego de madeira especial - abundante na Bahia - e de peças
,, .1udt' \ ,111 ct, r1 om J ,, 11~851. ob o êom,mdo do Pnge- de canlaria que poderiam ser exlraídas do arrabalde da Barra
1dw1h ndr, P, t'W dt1\o\· k1. um polorn?--. 11,Jlural11..1do bras1le1ro Alegando que colunas fe,las com a cantaria da Barra ser,am
qu, 1 ,,,Li "',, , .111101 do pt úJ1'l N.1 l.ill-1 d, 11 ,1h,1lh.1dores ha- emendadas. ocupanam mu,10 espaço e não teriam resrstênc,a
11111,1111• 1, Hhll d 1 ,1b1 .1 !e· publ1t..ar .3nune10 no 1orn )l parn sustenlar a rotunda, o lenente-coronel. apoiado pelo ins-
, M, .'/'t, ,k 1, eh 111111w .i,, ,9 A llbra ,i., nova Allândega pelor da Tesouraria. gerou tal impasse que retardou por cerca
I" , , d 1, 1l•Jlh.1d , ,, IM< p.1y I ti, 4QQ 1 t,80 re,s de dois anos a conlinuação das obras.
d1!11 uld,1d n1 1 ft'llc r11I Hn nt,1.111mentm1 cum ,1 ep1dem1a A questão chegou ao ponto de o v1ce-pres1denle em exer-
,t, 1 t I irn 11, 1 II.-~n' 'I," II.i,wlr• do hole1,1 mor/lu 118551 e c,c10 obrigar o diretor das Obras Públicas a preslar esclarec,-

1
SO ANOS OE URBANIZAÇAO 1

"

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PLANTA DE MARCOS
PARAGUASSU, COM OS
mentas perante membros da Junta de Engenheiros. O parecer se inútil, devido ao assoreamento de areias que p0t:co a :o_c:
SUCESSIVOS TRECHOS DE
ATERRO NA CIDADE BAJXA do relator Inocêncio Veloso Pederneiras faz diversas críticas ao impossibilitou a atracação de navios, tendo sido àesria-c-a:2
"desenho inglês" apresentado pelo diretor, inclusive por nele e vendida a uma fundição". O serviço de embarque e oeser:-c~2--
constarem 22 colunas de ferro, em vez das oito de cantaria , pre- que das mercadorias voltou a ser feito pelas alvarengas :~e e--
vista s no projeto origina l. Depois de comentar que o ferro sofre- costavam na rotunda. Os volumes eram retirados [ou coloca.i:s
ria "a influência dos seus maiores adversários, a umidade e o por guindastes, depositados em carrinhos aproonaJ s e co--
calor" e que na Europa ainda se faziam experiências sobre seu duzidos para o armazém a que se destinavam. Cur;osar,'er.:e e
uso, o relator cons id erou que "a posição da Província entre as fiscal Jácome Martins Bagg1 foi eleito para a Asser.--bte 3 _e,;-
nações 1ndustriosas apenas nos permite por hora adotar o que lativa Provincial no biênio 1870-71, quando ocupou a oos d;:, :ê
elas já ensaiaram, e não ensaiar com ela s". Assim conclui: "Sou 1° vice· presidente, sendo reeleito para os quatro b1er s ;i ~ se
de parecer que a obra continue como vai ( .. ]",de modo "que se seguiram, até 1879.
evite que mais alguma proposta fora de regra apareça que nos Vinte anos depois de construida. a .l.-ltànde~ia ""'ª 3 n,§c
atrapalhe e tire o lempo ao serviço, em pura pe rda"-" sat1sfaz1a. O Já citado livro de Antônio A Càmara 11~• 'I tra 0 s
É possível que a pressão exercida por in teresses ingleses creve documento elaborado pela .i.ssoc,açã C,,,•,en: 3, JJ
tenha motivado a substituição do engenheiro Przewodowsk1 pelo Bahia, em 1883, no qual ela manifestou seL, ,i<'sagra ,, en' '\'.J-
maJor Francisco Pereira Aguiar, ainda que este fosse tão compe- ção à falta de inf1a esti·utura do porto dt' Saliadc>r ~t'lt>, ,nt ,-,•_,
tente quanto o primeiro. Vencida a oposição, uma ponte de ferro o espaço exíguo do novo ediflc10 d.i ~\ltjndeg,1 ,, J ·isut, ~ ,, '
foi construída, com o desenho que aparece na planta. Conta-nos de parlas para a s.iída de m,,,c'1dor"is. R<'ql,,'ít'\J ,irQ,l11c1J nJ
Paulo Ormindo de Azevedo [19851 que, contratada desde 1861 à constrnçào tle docas, dr modo ,1 t..i,-1ht,11 dS , .1,-,.1,1s ,, ,,,,~--~
fundição John Watson, a ponte estava concluída em 15 de dezem qas feitJs dos nuviu~ • nllO m . .,,~ ~kt'1l~u1do qtit.' .h'"'· t'Pl i t,:,
bro de 1863 e que, segundo relatório do fi scal de Obrn,, Pt'1bl icas, por "alvLlrt:'nQ~F, rnov1d,1s ll V,lr,1, Llll .l ft\h\.,q\le' t,tt,ql..lt',1111 ii
engenheiro Jácome Martins Bagg1, sua terminwçào tr1angula1 passd~}ern LÜ.' "v11po1 t''j 11 dlh.1tl,lnt1\. ~,-\ .. t"' pn"'\l'l .~lhh' t' , \ :l''"'
lhe permitiria receber, s1multanec1mente, três nc1vios. Pos,,ufa 1
cons1dt 1àvt •1~, µ11111 o L 011w, l CntH. úl \lf . )ndt'\l,"l
. L'
11.) ,.1 1 --..1,,, d,~
três guindastes, além de outros requisi tos modernos, ma•, não por tlt• l1 tH:1 qt111HL1~,lt'', lJllt' n,h.J d,h' \,il,h' . .ll, ...,t\l\ H 1..\ 1.1<" ,._u1d,J
se preparou a área para receber navios de alto rn lado d':, IHP1 Lt1du1 lil\., tl\Jlthl..h pu1 tHu1h) d,,, ..'\ nlt'll'l'''r1t' t' Jú h r
Citando Sítio Boccanera Jr, Paulo Orm1ndu dr, Azeverln to, 11l1:'1n dP p1 \IV1.H ~1 1\'ll' \1 pt•1 d.i dt' H1t'f" 1d,.1r ,,1·, tr ..hlt't•_~ \.orr10
119851 registra que, "poucos anos mais tardP, a po1i1,, tornou loUCil', v1<11 ú•, µ111 <'l 1 ,
• • l- d \.} ~, t dll dlHhl l)I ,llh.Ít'•, t' JI ,'."o•~

48
50 ,ANOS DE URBANIZAÇAO I Co11 u 'o 'Jova1 ~ ,rnp<HO

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TRAPICHE QUERINO. À
ESQUERDA PLANO INCLINADO
PILAR. C. '898

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Al'IAN1Al Olfüi ~I lNlli NU

50 A NOS UE llRBA NIU i.,> 1

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LA.t- -\1 __. EOI .,..lí'"
- _,m)r; _o; E EPf'lc; TQc;I "lO Anexo 2 registra a entrada e a tonelagem de embarcações das obrigatória de embarcações de longo curso, mesmo que só pre-
rt.:. ~ il.MARKA~ e J6
cinco princ1pa1s nac1onal1dades, inclusive a bras1le1ra, que apor-
cisassem ser reabastecidas ou reparadas nos eslale1ros locais.
taram em Salvador no qü1nqüên10 1885-1889. É evidente o pre-
Qualquer que fosse a razão, essas embarcações traziam para
domínio inglês, com navios oriundos principalmente dos portos
Salvador uma população flutuan te, que congesllonava a região
de L,verpool e Southamplon, mas também se percebe o avan-
portuária, provocava transtornos e fazia crescer os problemas
ço dos alemães, que se tornaram o mais importante parceiro das comunidades locais.
comercial da Bahia a partir da virada da República, quando o
Os gêneros al1mentíc1os escasseavam, as doenças conta-
fumo, ao lado do café, passou a ser o sustentáculo da economia
giosas aumentavam, a mendicância e o roubo fugiam a qualquer
baiana. Então, os alemães Já dominavam as plantações lcom
tentativa de controle. Composta sobretudo de marinheiros, essa
aquisição de terras). o fabrico e a compra do fumo. A França,
população foi estimada por Kátia Mattoso (1978, p 143) em cerca
tão quenda dos baianos, fez progressos ao longo do período.
de 2.200 indivíduos por dia. Cálcu lo bastante acurado, posto que
o~ dados relativos a outras nac1onal1dades estão pulvenzados
só os vapores ingleses desembarcaram 42.871 tnpulantes em
entre austriacos, belgas, argentinos, chilenos e 1lalianos.
Salvador no qüinqüênio resumido no Anexo 2, elaborado segundo
Esses numeros sugerem que, a despeito da crise que
o Relatório de 1890 do cônsul britânico na Bahia para o Fore1gn
prc.gress1vamenle atingiu a economia baiana, e apesar de seu
Ofíice Nesse período, ocorr-eu uma baixa na população flutuante
crescente declínio na paula de exportações nacIonai,, a re
devido ao agravamento da crise econõm,ca na Bahia. resultante,
1resentdçao ,omerc1al do porto de Salvador continuou a ser
por um lado, da própria crise mternac 1onal. e por outrn, da aboli
grdndc Alén rJo ua'. l1gaçoes com o mercado internacional,
ç,ío da escrav1dao e da mudança de regime polit1co.
Sa,v, dor era 1rr pcrtJnlf' c"ntro d, reexportação de rnerc Jdona•.,
N,io SI' podp esquecer que o porto de Salvador estava ,n
para 'Jutr 1' prov111c1il' do lrr péno e para' ua, r1dade~ e vila• riu
tegr ido ao s1st0 1na cap1tal1sta 1nt0rnac1onal, no qual o Brasil
r,;:•-r de;taq _,, .:>or ~ua pos1ç:io 4eograf1ca, m.1gníl1co1s d1rne11
ocup,iva po,,içilo periférica Alem tl1sso, a pdrt1c1paçao da Pro·
s<Je' E qu~ da d sr ul Jr JI',, ldrr,tier,1 era ponto d,, par 1cla quaso
vinuc1 da B.-, lua L'I" pPnléric,1 lambem no contexto nacional. per·

12 50 ANOS DE URBANIZAÇAD 1

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dendo para as províncias do Centro .Sul, cuia produção cafeeira
A CONSTRUCÃO DO CAIS
liderava as exportações e exercia forte influência sob,·e pode,
O INTl=RESSES EM CONFLITO
central. A despeito de ludo. o movimento de embarcações na
Baía de Todos os Santos continuou intenso. Barcos a vela, sa A falta de docas apropriadas foi por todos apontada como
ve,ros e alvarengas cruzavam em todas as direções com peque- a razão maior dos pre1uízos que o comércio sofria. As docas en·
nos. médios e grandes navios a vapor. tanto do País quanto das tão existentes eram precárias. descontinuas. 1nd1v1dualizadas
nac1onal1dades ma,s diversas, formando um quadro confuso. e não permitiam o acostamento de navros de maror calado . A
mas cheio de dinamismo e vida Carregando e descarregando historiadora Kát,a Matloso comenta que ··os navios eram tão
mercadorias, do Recôncavo e do exterior. essas embarcações mal-alojados, que era necessário bastante cuidado para não
revelavam a importância comercial de Salvador e clamavam a deitar âncora sobre a âncora do vizinho" 11978. p. 781 Os serv,-
modernização urgente de seu porto. ços prestados pelas alvarengas eram lentos e não oferecram se-
Por sua 1mportânc1a comercial. o porto de Salvador linha gurança. Essas toscas embarcações estavam desgastadas pelo
muitos problemas a resolver. Um dos mais graves era a pro- uso e eram 1nsuf1c1enles para atender à crescente demanda .
fundidade. 1nsufic1ente para navios de grande calado. De igual Chegava -se ao ponto de não se "dar descarga a muitos nav,os
magnitude era a falta de um cais de alvenaria, Já comum nos Esse fato. aliado ao "longo tempo que no porto demora,am as
pr1nc1pais portos da Europa Todo o movimento de embarque e embarcações mercantes", concerna para o descrédito do porto
desembarque de mercadorias e passageiros era feito por alva- de Salvador perante os mercados estrangeiros 11978. p. 4ll
rengas e tinha lugar na precária ponte de madeira do trap,che
correspondente ou ao longo da borda marinha. onde só essas
embarcações podiam acostar.
Na estação chuvosa. quando sopravam ventos do sudeste
e do sudoeste, e no verão. quando assoviavam os do noroeste.
seguidos de trovoadas e fortes descargas de chuva. o mov,men
to do porto ficava prejudicado pela dificuldade de transportar as
mercadorias. Nos dias em que nele entravam quatro ou mais
embarcações estrangeiras o que era freqüente . Iodas as al-
varengas er·am sol1c1tadas. Então. navios a vela podiam demomr
mais de dois meses para serem descarregados, porque se dava a
preferência às embarcações a vapo1 O emba 1·que e o desemba,
que de passageuos eram constrangedores; as ond,1s cobr1<1m ilS
toscas escadas de made11a. turvando u v1s1bil1dade e de, rurnan
do se sobi·e a rua, que se tornava esco , rngad,a e perigosJ
Mesmo as escadas de pedra insp11 Jva111 cuid<1do O Olá
no de Noticias de li de fpvere,ro de 1884 idlav,1 sobre a necess1 C:ond1çoL", lnvo, ,ÍVPI' p, 1111 t11l,th-1r 111 ,li ,1 \H ,,,1 )h1I h1til I,l

dade de se conse,ta, as esc.idas do Cai•, de PNl 1,1, 'µaro 11,10 sui q11 ,Jrr1 qt1.J11do o (jovP1 nu lm1w11,1l p1 nn111lq1,11 l' 11,,~ 11 1\,
1
tl'

ter mos novamente dfl ai;sIstI1 ao de,lolt1do r Pspet,·1culo de ver 1 71,6, p111 IJ d!' mrl11l1111 ,1,, l!lóH, 1•11l11•q,md,1 ,l ""'I'"' .. 1 1•,11

,enhoras. chegando d,1 Euroµa, lrepa1c111 po1 ,1q1H•l;is pedi .I', t1cul,11 l 1', i1 cnn~,1 1uçlw dl' do, d', 11d. d1v,•1 l.,\'\ ptl 1\llh 1~1•, d1 1 h11
cobertas de lrrno ' corn qr ,Jndt< 11srn rfp vida, pL•r 10 Pl'llt.lH'', dt 1 P!llpt 11 <11111• dn•, p11th Ip,11·, p11r1t1, 11\ 1 P,
d e~COllJUll l a d a-:,, t

para po d erem pOr· pe ern ter r, I f111 nc I od,1<.:i t1s PJL.id,1•-1 dD lon , IHJVl'ldlll 111\ tvl1111•,tt'IIO ,l,1 l\q11t11illlld IJ,1 ll.1111,1, •,t'tlllf\ '""·'

qo do , 31 , tornani •:::ie mace~síve1( (1L1tJ1Hlo 1 rn;irr' L",I ·1VdL,111do, i1•,•,1111Hld p111 qu,1!1n11t•q1111,111lP• /\11\n1111 1 l 1,11,c 1•,111 dr 1,11 •1·(1,\,

ou O mar Evollo .. Nt ;sar oc,1s1of s, t1Jdo Prrl 11np1 ev1c-,iví'l, tudn p,11 dn t rm•-.lrtllnr dn 11lr•v.irh1 1 1 d1 r1d,1, 11.H1l11 l 1 111'T'll,1 t-.h 1 t1 lr,1 \

d1111tu1 d,1 ( or11pi111h1r1 dn fJ11t111n.1d11. qw 1 11d,lr11,1 di- 1 t1,111, ,1 l 1


pDd,J acontecer

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dade; l=ranc1sco de Samp, 10 Viana, Joaqu11n d,• C ,slI0 Guima
, .1v, q 1 .J 1
rães Os donos dos lr~p1ches r·ebelaram ;e 0'., mais impor '" 11
)fí' l ii .ií• /
les - barão de Pereira Marinho, Josc Pinto Redr Igue·, da Co5 la, ,. ,J,, rn1,,1r h• l •'fl•,f
f1w,do11
Antônio Pedroso de Albuquerque, Manoel José de Magalhaes nr1 ,rdf•ri(Jr ri J t,.11.1 !ri·; i v· trJ' r
e Augusto Gomes Moncorvo 1med1alamenle enviaram doeu Am<.1ro, ur1 ,J p,H i t-lt1I,Jf1· ·1 J: . r '
q11.1lln vaporr·, t1r1
~
irn ,1
r1, , ,. ,,n , . J, J
menlo ao min1slro, alegando caber- lhes o d1re1lo de construir as i

Ern 11iJ2. O' r,ri11-rr ,.ir,1, (.: ir. Ji.


docas do porto de Salvador, por estarem seus lrap1ches cl1anle ·) r · r ·) . l
qucrcp,1", (JJl'if:t,o r.:ttl1c;1rl') r.,J t~-1 J z
da marinha onde elas deveriam ser erguidas. pard cobnr ;1 cosl,1 rJf Mar•·1·1 d C11,,1r ·:

Formaram-se dois grupos antagônicos no interior de d11a·, companh1,r~ for,lm ir,coq,or-1rt;i. , o


uma fração da alta classe. Seus interesses co1ncid1am, mas di- Ela1ana de Navc,g,1çao, com ',edc - rn • ·,r-Jr ·J.
pelo mgtés Hugh W1l':ion Or:pr~1, '10 i:J :TP.' ''J
vergiam no modus fac,end, da modernização do porto. lêqu1pa t,r

Albuquerque, ern 5 de ag(J-;tr) dt.!187ij, ,;j- -~ .1"' ftJ


ravam-se em poder econômico , em prestígio social e político
Salvador Na década de 1880, pos•,ui.J 16 r-,p,,r,,-_
Muitos eram membros da diretoria da Associação Comercial
as pnncipar~ cidades e vilas do Rcr..Órrc-;1,0 '= -3 rd J';,'' d -: 1ade 4e
da Bahia, estavam vinculados a atividades industriais, ao setor Valenca e oito para a navegaçao cost~ira
bancário e financeiro. Eram grandes proprietários rurais e ur - E~ 1879, os 16 ,,apores dessa CQm~anh,a 1rar;;,pr.,f"'f3r-am
banos, comerciantes com abrangência nacional e 1nternac1onal, total de 105.159 passageiros, sendo 98 598 nos ,a,;cres 1a nha
terna da baía e 6.561 nos da costeira Dos cofri?s d,; f":"lpêr e rece a
enfim, personalidades de destaque na sociedade local.
subvenção anual de 155 contos de rés para a r.,31egacão cast€ ra
O interesse empresarial por vezes os unia de tal forma
dos cofres provinciais, 115 contos de réis para a na,egação f a
que se associavam , como é o caso de An tônio Francisco de La-
cerda e Antônio Pedroso de Albuquerque, sócios da indústria de Fontes, CÂMARA, 1911, p. 16-17, WILSON, Hugh, Re a•;,o . ·31,9 Aj)eo
1nventâr10 de ALBUQUERQUE. A P
tecidos Todos os Santos , situada no mun1cíp10 de Valença. Tam-
bém unidos por interesses iguais estavam Antônio Francisco de
Lacerda e Joaquim Pe reira Marinho, Querino Gomes e Joaquim houvesse certo equilíbrio de interesses entre os aos gr -::~,. a
Lopes de Carvalho, lodos memb ros do Conselho da Direção do d1screpânc1a numérica era muito grande O pr r-r,e •, e·a êo-s
Banco da Bahia. Alguns deles eram donos de trap1ches , outros tituído de 20 empresários, enquanto o dos ;rapte e •os SO"' .l'o3
não, e este, possivelmente , era o fator que ma is os distinguia. cem - cinco vezes superior ao pnmeIro Não só em .,_,recc
Os liderados por Antônio Francisco de Lacerda não possuíam concluímos, mas também em poder de pressão pos o q_e •:
trapiches, "reivmdicavam a modernização de áreas do po rt o que dos gozavam de excelentes cond,cões ' nanceIras e de gaa 0 .ê
almeJavam con t rolar" e equipar com as mais modernas técni- influência política.
cas. conforme o padrão europeu. Já os comandados pelo indus-
No entanto, ao contrário do que se poder a Il""lag -a- r-ã.
trial Pedroso de Albuquerque eram donos de trapiches; que-
foram apenas essas condições que perm,trra'T aos '•a:i ,"e r.:;
riam a continuação das docas de atracação , dos trap1ches e das
bloquear essa oportunidade de modernização Aque e ,;i~e ot·
alvarengas, informa a historiadora Rita Rosado, em seu elogia
vesse a concessão lena o d-re1to de demol r trap ::ties e pé'n•2sde
do trabalho sobre o porto de Salvador [1983). Como os do outro
atracação A prevalênc,a de interesses C"ldt d as 1rrred a• sras,
grupo, ansiavam pela modern ização do porto, mas de modo a
somada à falta de coesão entre os memb·os do gn,oo dera::!:
náo ferir interesses e dwe1los seus Já adquiridos. Com efeito, os
por Antônio Francisco Lacerda, certamente..:, la orá e. aos 1ra-
lrap1che1ros recebiam "pagamen to pela ancoragem de navios
p1che1ros. Com efe,to, Lada ~omponente desse gn,po ap-es?n 1 :u
de longo curso, de cabotagem e de embarcações de pequeno
proposta que atendia a seu interesse part,cu,ar
porte; pela aI mazenagem das me rcado ri as no Inl er Ior dos Ira
Assim, um deles em.Iou proIe o oropondo consl•v • ur-a
piches, e pelo transporte dessas mercado rias e de passageiros"
doca na praça do Ouro. outro 1nd1ca\'a o trecho e, tre Ag..,a oe
em suas alvarengas, no caso de navios de grande calado
Menino 5 e o largo do Pilar, outro, em irente à sua t na cão
Em sua pesquisa, Rit a Rosado constata que, embora
na Jequitaia; ainda outro, em frente à sua rábr :a de produtos

64 50 ANOS OE URBANIZAÇÃO j )I' J1 \IJ tJ V.J )i.Hr:jl<II~

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0
quifT' co, aboar1a, lambem na Jequ1ta1a e assim por d1an a, 1nrertezas de proJrtos der sco de •,conhecido r a mst ,b1l1d,1d(
te, segundo exemplo dt Rita Rosado Além do mais, não hav1> polit1c.i E. soc1Jl - naquela fase de exl1nçdo da escrav1dao r'SE s
complemen .ar1dade entre os proJetos. Um não se relacionava fatores podem ter contribuído paréJ ;i reaçao de autodefe•;a" dw
ao outro. Eram estanques, foram apresentados em tempos di- trap1che1ros, na expressão de Rita Rosado [ 1983]
ferentes e, por vezes, entravam em conflito No entanto, além desses negociantes de maior destaque,
Tudo sugeria que, menos que a modernização efetiva do donos das maiores fortunas da Província, os bacharéis Ferre1ras
porto, os primeiros peticionários queriam gozar de condições que também pediram preferência para a construçao do cais. lrmaos,
seus oponentes possuíam. Voltavam-se sobre s1 mesmos, lutando basearam seu pedido num projeto que seu falecido pai, Joao
pelo sucesso de seu projeto, desprovidos de visão mais abrangen- Gonçalves Ferreira, enviara sem sucesso ao Governo Imperial,
te. O que não se há de estranhar Cientistas sociais têm demons- 17 anos antes. Diante da animosidade criada entre os maiores
trado que essa postura pré-cap1tal1sta é própria de sociedades e mais poderosos comerciantes baianos que os d1v1d1a em fac-
predominantemente agrárias como era a da Bahia e, mesmo, a ções rivais, o Conselho de Estado decidiu-se a favor da proposta
brasileira da época. A capacidade empreendedora e pragmática dos Ferreira, o que provocou irritadas manifestações dos preten-
que os homens de negócio poderiam ter era obscurecida pela de- das. O contrato assinado com os irmãos estabelecia oito grandes
fesa de interesses pessoais que lhes falavam mais de perto. obrigações, entre as quais o alargamento, por aterros, da área
Esse comentário deixa claro que a segunda metade do entre a Alfândega e a praça do Comércio e daí até a estação da
século XIX, na Bahia, corres ponde à transição de uma socie- Jequitaia [a tual Calçadal. na qual seriam construídos cais até o
dade mercant il-escravocrata pa ra uma sociedade capitalista. forte de São Marcelo.
Percebe-se o choque entre aquela postura tradicional e uma Não se há de estranhar que. por detrás dos Ferreira, es-
visão mais progressista e crítica como, na época, a do presiden- tivessem os in teresses ingleses. Em 12 de outubro de 1872, a
te da Província, Francisco Gonçalves Martins, o futuro visconde companhia foi incorporada em Londres com o nome de Bahia
Docks Company L1mited , com o capital de 900 mil libras esterli- PLANTA OOTRA.PI Hf
de São Lourenço. Ainda que a chaga do escravismo manchasse
8ARNA8! 186.t
seu universo de crenças [como vimos quando ele dispõe de afri-
canos apreendidos para a realização de obras públicasl. na Fala
PLA.,_N TA
de 1851 [p. 4] ele observa, em relação aos homens de negócio, Stapicht. ~1.,\4.k

que "o espírito de empresas não se acha por ora desenvolvido '*"',n,~~:,.:; "::.~::·=t::·•·· ..
entre nós·, sendo necessário que o Governo ·anime os 1nd1ví-
_,A r...,.(M.......>o
r,J,,,.... ,, Jcl~
Jocl. .j{~-··&i..~\.,..
f t,-,wn&-,. L,_; l
duos, que lhes prepare os pr imeiros trabalhos, que se associe
...,. )
,_. 116f t. r

mesmo com eles·. Acentua a necessidade de se ·desafiar o in-


teresse individual", atraindo para obras públicas cap 1ta 1s ·hoje
como que d1rig1dos para especulações, que exigem um menor
trabalho pessoal, o que é mais próprio de nossos hábitos ain-
da de pouca atividade" Prossegue criticando os grandes luc ros
u □□
que "os capitalistas realizam hoje nos Bancos e Caixas Públicas
sem algum trabalho, a fac il idade com que al i depositam peque- D
nas e grandes somas, e as re tiram quando lhes convém a ince,-
teza de lucros de especulações"
Corporificando a mentalidade conservadora e tradicional
criticada pelo presidente da Província, o grupo dos trap1che1ros
manteve-se coeso na defesa de seus interesses. Essa postu ra
1ndiv1dual1sta pode ter sido reforçada pela conj un l ura. a desca
pitalização da Província , a dependência de ca pitais estra nge iros,

~O ANO\ OE UR8ANIUCAO 1 n

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ÁGUA DE MENINOS. VENDO-SE A
GRF.JA DA iANTfSSIMA TRINDADE. nas. o visconde de Mauá estava à frente da diretoria. Enviou-se
FM FREtJTI:. Ac OFICINAS E crise econômico-financeira que feria em cheio o sistema capita-
a Salvador uma comissão composta dos engenheiros Charles
')[?ÓSITOS DA BAHIA ANO SAN lista, somado à demora do Governo Imperial em pronunciar se
f ~AJJC "'CO RAILWAY C 1890 Neat e Bulrman Atk1nson, que apresentaram novos planos.
e em aprovar as plantas levou os concess1onarios a apresentar
substituindo os inicialmente propostos pelos irmãos Ferreiras.
àquele Governo, em 26 de Julho de 1879, uma expos1cào de mo-
Contra tal concessão, os proprietários de trap1ches tra-
tivos na qual lhe comunicava a dissolução da companhia
varam verdadeira luta pela imprensa. reclamando por um di-
Segundo Rita Rosado 11983). entre 1854 e 1891, forar" ir
reito que diziam lhes pertencer, e dando origem ao que ficou
deferidos 17 projetos de modernização do porto de Salvador, e"
conhecido como ··a grande questão das docas da Bahia··. Duran-
caminhados ao Governo central Em todo o Pais. apena, C' por•r
te décadas. essa disputa no seio da classe dominante impediu
do Rio de Janeiro, na Corte, e o de Santos, escoado~•o do ,,1fe
a realização de uma obra fundamental para o desenvolvimento
foram modernizados A Bahia havia perdido 1rremed1avet~1 e"
da Província. Nos reg is tros do contra-almirante Antônio Alves
Câmara [1911) consta que tal r1val1dade tran sformou-se numa
a vantagem econômica comparativa pilra o Centro Sul cJfe •r
··guerra de extermínio, inglória e mal-entendida, movida pela Chegou o século XX sem que nE>nhum melhorame11tC' >iouv
ambição de lu cros certos e valiosos" sido 1·eal1za do em suas precárias in,,t,,taçoes portu.irici.

Entrementes, em 26 de março de 1873, a Bahia Docks Co. mente quílndo J. J. Seab1 a ilSsunw.~e ll M n1<,lt>n0 d.J J :

Governo Rodrigues AlvPs 1190/, 1906) e. n is IJ1 G


Lld. apresentou ao Governo Imperial as plantas do seu proieto,
da Bahi.1 [1912 1916)
ao qual Juntou pedido de vantagens fiscais. O agravamento da • d<, muito dt'~t•p,fa f' n , l' d
de rnodernizaç,10 do por lo d,i S.ilvad . r «'T í('<ll l

51 50 ANOS OE URBANIZAÇÃO ( l'o u lo Novl1 e :ln D H,

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O palácio d

1ferentemente do que acontecia nas cidades da


América espanhola. nas quais a praça central
era dominada por uma grande igreja, represen-
tação do poder rel1g1oso. na América portuguesa a praça prin-
cipal foi construída em frente à Casa do Governador, símbolo
maior do poder civil. O fundamento dessa diferença encontra-se
no processo de formação das nações ibéricas. Na cidade do Sal-
vador, a igreJa da Sé, o principal templo religioso, foi construída
saneamento. da iluminação públ.ca e dos rre os '.Je c-s~c-e
em outra praça, separada da principal pela rua onde está situ-
coletivo. O presidente não tomava nenhuma decisão e..,., "'-'--"~ª'i;
ada a Santa Casa de Misericórdia. Na praça do Palácio, primi-
tivamente denominada praça da Parada, estavam as sedes dos
à Cidade sem antes ouvir a Diretoria de Obras :o:c" rcs
A urbanização se acelerou com o cresc'Tlen•c, o;; :,::: _-
poderes executivo. legislativo. judiciário. Até os anos de 1860, ela
lação. que se expandiu em direção ao sul e ao rmre ce - :--
abrigava a Casa do Governador - no Império. Palácio do Presi-
tanha, habitando a segunda cumeada. suas verten:es e rc:.es
dente da Província -. a Casa da Câmara e a Cadeia . a Casa da
As famílias mais abastadas ocupam as panes 1'"'12 s a.tas. e e
Relação, com o Júri e o Tesouro, depois Casa da Moeda, a Casa
gente pobre em geral habita os vales As ah oaces cc:,,·,e-r:' :e s
da Alfândega e a Guarda Militar.
ampliam-se, a despeito da crise econôm co-••rar:ce1ra e :;.;is Si-
Foi a partir da praça do Palácio, e por determinação do
cas periódicas que afetam a produção dos pP~c: ra s cc-c,.:_t:.,c
poder civil. que o processo de urbanização de Salvador ganhou
impulso. Ao mesmo tempo em que a área comercial estimula- de exportação.

va o progresso na cidade baixa, a praça do Palácio funcionava


como pólo de irradiação das transformações urbanas que se
DESLIZAMENTOS E DESABA E T S
operavam na cidade alta. especialmente a partir da criação da
Diretoria de Obras Públicas. em 1846. Diretores, fiscais e enge-
Na cidade baixa, os moradores, cuias .:-.,sas se_,, '-_, .o --
nheiros desse novo órgão - ligado à Secretaria do Presidente
à beira-mar, foram sendo empurrados ,1ara a t,,,s.: j_ --.· '!.>
da Província - passaram a cuidar do abastecimento de água, do
nha Desmataram áreas e fizeram cortes r,as enc,1. 1.,::- ,, t . .
des. para nelas erguerem novas casas Jj os 11,, .,, ., e" ., : ·
le alta tendiam a construir na be1r J da cn--,t,1, J ·11-1 t, l -~ S, ~-
a devida sustentação, suas hah1tacoe•, l1ca,a•1, .,, ,, •,t, . e,
l1zamentos e desmoron.imento,, - r,,,;,;0,1,, ,ic n e ,, , ,, , .-
qüenlementc sepultadas n,h rumas de• u. ,, , ,1•,,1:,
presidente barão de CJ~apava, ,,m •,ua 1-,1l,1 d,• 'tci.:
l11le1 vençóes conllnu.id.i., ao lonqo ,1,1• t: ,, , , L
desmalilmPnlos e con•,ti-uçü<"-, ciP c.is.i
para a dÇào d,,Gtrut1v.i das d1uvac., de 1mNno, .,e
das de for tes ventos Numa cidade tao atóll a em· t

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LADEIRA DA JAOUEIRA,
AD FUNDO O PORTO DAS
PEDREIRAS E A PREGUIÇA

..AOE RA ,AO qANC SW Ol


'AULA AruA uE ME NINO,,
All JlfüO IGRE JI 1A
Ar-.t S;:ilMh R1,-1üAtl

62 60 ANOS OE URBANIZAÇAO 1 1, ,m.,

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Jr l[ J /4f.'. 11, q ,,., rr Jc C k :1 ~ ) )r 'r ,rrc ,. ~

.,. rc e ,r lC r,JcfíEJLlí con• 'l)'ler ,rJc □ f',lillí'F ,•,cd, cr•d- hrdT E J_-r j

por exe T"J: (. j 1.. r C ._. r <- )í ( e , jr, (. ) j lC:,E } í C (1 ) C..L 1eriu =llí e. ldddP dltd jevPr1c. '::ir r- e ar- Er tf- a JdrJ . ..,r-a-:!-3
rj a, er, l Jr rd nc1d úe J ru c-rr pe~•-adP, ião m2ro~ VI )lE' ,t~J ou ~lld bds,' orldlPLJdd mE d1,i ,te a conctr d0 de g ';)a'l e_ a
ric 'Yles, <:1 'l E' '"'lê:; do ar n de IL o povc organrzoL. a proc.ts mJJralhas Esta alternai va felizmente preva,eceu
5110 do Sfrinvr ªª (' L.l O deslizamento de 3 de maio de '74.8, refer du 111., J ,'"3
Nos a rios e,e 18'2 e 18'3, ocorreram grandes desabamen norte-americano, tambem está reg strado r.; A1Maraq~e 'Je
t..is flO Pilar, no Xrx. na M1sericórd1a e na Conceição. Em 1813, 1878 (p. 88] que o atr1bu1 à
ct->uvas torreflc1a1s carram em Salvador durante 45 dias, causan-
do dezenas de rrortes. Exerceram tal impacto sobre o conde dos grande chuva que caiu à noite, desabando as terras se a- .-2

ras à ladeira do Pilar e demolindo todas as casas que he esta


Arcos. um dos grandes governantes da Bahia, que este decidiu
vam na frente. Morreu Ioda a gente que dentro de ases a J A
elaborar um projeto para a construção de uma nova cidade na
terra caída foi tanta que entulhou a rua, chegando à a• irai das
parte baixa, que irra desde a Jequitaia (Água de Meninos] até lta -
Janelas da igreja do Hospício dos Carmelitas que ali ex•stc Por
pagrpe Apesar dos esforços ervrdados , o plano não vingou. essa ocasião a cidade baixa ficou quase despovoada, e--n v sta oo
Em História política e admm1strat1va da Cidade do Salvador, o terror e receio de novos desabamentos.
historiador Afonso Rui (SOUSA. 1949, p. 355] relata o desabamen-
to da muralha de sustentação no Pilar, na altura da Cruz do Pas- Em 1848, moradores da montanha reclamaram de fl 11l-

coal. Em 14 de Junho de 1843, após 43 dias de chuvas, a muralha tração na rocha. Um cano de t1Jolo havia sido constru,do para
não resistiu, destruindo o trapiche Barnabé. Houve "continuados conduzir as águas que rolavam pela encosta. A escavacão da
arrasamentos de prédios e perdas de vida no Xixi, na M1sericór- base da montanha, porém, levara o cano a rachar, cedenac
d1a, na Gamboa e Conceição". Em 10 de julho, oito casas foram cerca de um metro. As águas pluv1a1s, então, l1medecerarn as
"destruídas sob o peso de grande porção de terra desprendida·· camadas argilosas, formando uma espécie de "saponace0 es
da parte norte do forte de Santo Antônio Além do Carmo. corregadia·· que penetrou até a rocha viva
Desastres dessa ordem ocorriam cons tantemente. Pro- Em informe ao presidente da Prov1nc1a sobre a s1ll,-l,,10
curando contê-los, o presidente da Província, Joaquim José Pi- o diretor de Obras Públicas esclc1receu quE', pi1I a '-'t,stent,1r --1..,
rhe rode Vasconcelos , anunciou, em 5 de agosto de 1848, que a casas, serra necessilrio remover toda a teII d que dtnd,> t' t.1
Asserrblé1a Legislativa Prov1nc1al havia aprovado a seguinte Pos va para rolar e, em seguida, construir uma mui alli-1. rc,1h1t'r,,u.
lura da Câmara Mun1c1pal [s/n, em substituição à Postura 54 ]: porém, que "pouco ImpoI l aI1te Selo o•, t 1 dil1lJLh e' I1.it1 l<'mt> lu 1
dos su f1 c1en le s pc1rn a construçc10 d0 muralh,,s 0m ltld,1 1 h1n
fs1nguérr poderá arrancar árvores, ou lIrar pedra desde a falda lanha". Hnvia out ro,, luqc1 1es de 1111po1t:111L1.t ct1111<1 1,1,tl ,, r e
até o c Jme da montanha da Cidade, no espaço cornprecnd1do
préUIOS OJ1Ue OS µreJUÍZOS, lld SLlcl 0µI11I.ic>, poclt'l l,1111 •,,'! ,'1W
dc,sde Santo António da Barra até o Noviciado pena de 30$000
messe nào foc,sr.m i1Cucl1clo,. coI11 pI tllllid,w 1
rP•s P 0110 dias de pnsao A Cámara proíbe, expressa1ne1Ilr, de
bal/O das r0esrnas penas, que se edifiquem sobrados no cuI 1w
da montanha, r,a P.ttensão mencionada
GlllNílASTE LAD 1
o estudo de Marcos Paraguassu [19881 al 111ha ,Jlerros
e desabdrnentos ocorridos de~de a f1md.Jçao de Snlw1do 1 ü l é A mor follHJld ele' ,dvc1do1, <1llt•111,111dt1 1 ,,1111.1•, ,, 1.11,... , 1,,1
1894 Os rJC'sabarnentos er,Jfíl tao frequeriles e dcs<1slrosos qur prnlJl1 •1n<1 rl esrl1• □' , pi IIIwII u', .iIIr,,, d,1, ,,11• 11 li\ ,111 ,. , 1,· ,, ,•11, ,,nI

repercutiam no e1lerIor O Ballon 's /J1G1011a/, publir ado 11<1 wl;i <1 ex p,I I1 •,.-in rl,1 L1d,1d1· ',1• .i 11111111p1u d,1v,1 ,11,·, 111111.id,,r,, .i , •1

dt, norte arnerIcana dP. Boston, poI e~ernplo, r•d1r,.,10 dr> ·1f, rlP lu JÇ.DO dfl 1
d 1 lJlllrlfH,d LUlllld d d lllPdl,d lh' Ili l',lhl t"1\l,HHJ{ 1 II,) '•

Junho de 1855, cr1tIcou d frag1l1dade da murdlh;i de· ',u,,tenl,H,.ilO ro1I1 u l1•I11po, 1, cl1",l'J1v11lv11111•11lu d.i 1 1tl,1il,· PI11 d111•. 1•1.1111•·,, .,.

da montanha· "parece qLm o~ dP•,iJslrosos "cor1tr,r 1111r•I1tr,s dr' IJdldLlO', [Hll L",Jdip,i llllllill ll ll!IL'llll', i,11I11111 ',t' IIIIJ lJI\IJILh'd1•

ÕU ANO Ot llli0,111 A /10 1 <' •

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.
d1t1nos tenam com prado o pu1ndaste
' da Pra,a, s1tJad0 ·-s ,,.
'""
hoJe chama do da PreguIca , · praia arde se acha 12., urr, 'ra~ ~- 0-.
no porto de Ba llazar Ferraz"' · O gu,ndaste dos TE:res1os ·er ~,• ""
•·
construído pelos Carmelitas de Alérr do Carrr10 '.lue prec1s:;,:;-

transpor tar mat erial para a construcão


· do con 1er> G d~ :.,-,,•
Teresa. Segundo Calderón, esse guindaste a da pra a aas :o:;.
dreiras até as obras do convento. Depois, serviu como rc•, •• - 0

público Para tanto, os terés1os abriram uma rua até e 9- ·:="''=


"para ser assim mais útil ao povo e methor ser,er· aª"·"·
In icialmente ligados a ordens rel1g1osas. logo Gs ;e,.
dastes seriam adotados por autoridades ci':1s O gL no2s;;; :;;
BAÍA OE TODOS OS SANTOS
Praça transportava mercadorias do ca•s. na cidade ba xa, ;:,a==
[1620-251 COM DESTAOU~ PARA
safio a ser vencido. Para transitar de um a outro nível, aos pou-
05 GUINDASTES Alfândega, primitivamente situada na praça do Palao'J =e ::,;-
cos os moradores foram alargando ravinas , abrindo picadas e
sivelmente o primeiro a ser erguido, sen, indo à const~ucão 2 2:
seguindo trilhas, a pé ou carregados às costas de um ··inferior"·,
abastecimento da própria Cidade. No fasc1narite No; cIas :a=='=
depois transportados em seges ou cade1r1nhas por escravos ou
de 1850 (1981, p. 251, Pierre Verger c•ta três dep01rren :s s;:;:.'t
··ganhadores··. como se verá em capítulos a segui r.
esses mecanismos. Frézier, em 1714. os descreveu co-c ;,==
Além da comunicação necessária entre as autoridades
grandes rodas a tambor, que têm um eixo comur!' sobre e :....=
governamentais, no topo da montanha, e as atividades comer-
estão os fa rdos de mercadorias que sobem peta o<ca oos ~õ;--::0
ciais, abaixo da esca rpa, era necessário transportar os mais va-
que, caminhando sobre as rodas, viram o cabo soore e g" r:a;-
riados tipos de mercadorias que chegavam do porto, ou que por
te··. Vinte anos antes, em 1694, Damp1er t1nha a to· ·a casa ,n:;,
ele deveriam partir. Os caminhos eram por demais pre cá rio s: o
está instalado este guindaste ftca situada na beira da ePccsta ;,-·
lombo dos poucos animais existentes e a cabeça dos escravos
direção do mar, dominando o prec1pic10, e ha pranc as ,e r,aj:,s
não suportavam o peso da maior parte das mercadorias, inclu-
sive materiais de construção, como grandes blocos de pedra. ao longo do declive de alto a ba,xo, contra as qua s a:; P'er,2.:;,-

Para contornar esse desafio, abriram-se ladeiras e construí- nas deslizam, quando elas são pv~adas para c•rna 01., .::es ·as
ram-se guindastes. A tercewa descrição, estc1 de Pvr-,rd de La al. data de , ~ J

O pr1meIro guindaste da Bahia foi cons truído pelos jesu-


ítas em fins do século XVI, con forme relata Valent1n Calderón. ludo o que se carrega p,1r~ d cidade altJ ,,u -i ,,, tr ,.~

Em Biografia de um monumento ... (1970, p. 361, ele fala de uma e desce µor rne10 dt.:"' un)(l n1..iqli 11a 'Yh.lr u~1th,"l>J ''ª"'
za carroças, porqu1..' ~er1u n1u1to dll1, l t' dt,pt;' hl ~ . ., , ~ t. ... ,,
··inovação revolucionária que muito contribuiu para o progres
esta rnóqu1n;:i i~tv ndo cuc.t ..1c..un P. .tr,1 ·,ut\1. \., n . ~ ..l
so·· O guindaste transportava cargas, não apenas para suprir
Isto custç, Vlllle l t'nl,1YO'"I 1.' Ol1tr1,.1 '\'"h" p..1I J .. t :-., ._1J
as necessidades da Companhia de Jesus e do co légio que fun custo de cadJ Vvlt 1 , ,
, t.
1 t.llklrt.\nt\l '- \'l\t\l\\"'. p' ~u' ~
l t
dou. Outros moradores pagavam uma pequena Importanc1a soue umc1 µ1µd ou Oll\1 -i l ,,1•.\.1 Pt'••,1d.1,'' ,lt'•,, t-' .,
pelo serviço. Devido à preferência que mereceu da sociedade, po urnc1 ou 1, ·--' do 11'tH,nrn l't1,,,,
0 t' \ Ullh\ ,, •. t,,,l,it", QI. l'
solw 1n t•m um poç~i
··engenhoso meio de transporte·· tornou se ··uma boa font e rl e
renda para a Companhia de Jesus" Popularizou-se a tal ponto
que passou a ser conhecido como guindaste dos Pc1dres. HoJe,
este é o nome de uma das ruas que dá acesso ao Plc1no lncl1n~
do Gonçalves, const ruído no local do ant 190 guindaste
Caldéron afirma que mais ta1·de, no prImeIro quartel !.lo
século XVII, Já havia três ou quatro guindastes . Em 1698, os b,,n,,

64 50 ANOS DE URBANIZAÇÃO I Con ue ) fl ,va '1 IHp ~!o

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Sustentação da montanha. O crescimento da Cidade e o to na Cidade empregavarr, em média, 30 trabal'iadores, a cc~s-
aumento da população levaram governantes a investir na reten- trução da muralha absorvia 242 Em cerca de Jm a'lo, aperas
ção das encostas da montanha, a fim de evitar tantos desaba com a mão-de obra, foram gastos mais de 76 contos de réis. O
mentos. A construção de uma forte muralha de apoio à mon- presidente informou que se construiu nova muralha sobre a ,a-
tanha tornou-se prioridade. A Cidade, construída havia menos de1ra que ··passa detrás do Palácio da Presidência e ,a deser1-
de três séculos, ameaçava desmoronar. Algumas muralhas de bocar na Conceição·· la futura ladeira da Montanha]. As cr,.;vas,
sustentação tinham sido erguidas por diferentes administra- porém, continuavam freqüentes e seguidas de deslizamen'.os,
ções, mas de modo descontínuo e precário. Não resistiram à en qu anto o numerário era insuficiente para as desapropriações
inclemência do tempo. Na Fala de 1845, o então presidente da necessárias à obra. ln1c1ada com entusiasmo, a contenção da
Província, Francisco José de Sousa Soares d"Andréa lo barão de montanha tornou-se lenta e penosa.
Caçapaval, dissera, alarmado: ··É preciso segurar a Montanha" De acordo com o plano do presidente em exercício. am-
Para isso, propôs a construção de ··grossas e contínuas mura- bém duas ladeiras deveriam ser construidas para a ligação
lhas, destinadas a evita r que as terras continuassem a correr". entre os dois planos da Cidade. Deveriam subst1tu,r as ve.has
Outro presidente, João José de Moura Magalhães, também escadas dos primeiros anos da colonização. Para sso atargar•a
mostrou-se aflito na Fala de 1848 lp. 521. Para ele, tratava-se de veredas Já existentes, muito íngremes, mas bem frequentadas.
obra urgente, ··de instante necessidade··. A primeira começava ao lado da igreia de Nossa Senha~ da
A obra de contenção da montanha dependia do melho- Conceção e terminava em frente ao largo do Teatro. Sena a la-
ramento das condições físicas das ladeiras. A realização desse deira da Conceição. A segunda partia da rua D,re,ia de Santa
projeto coube ao dinâmico presidente Francisco Gonçalves Mar- Bárbara, ao lado da rua Grades de Ferro, seguia por detrás do
tins, futuro visconde de São Lourenço, que tomou a si o encargo hospital da Santa Casa de Misericórdia e desembocava 'la praca
de alargar, consolidar e calçar diversas ladeiras que ligam a do Palácio, entre a Casa da Moeda e o prédio da Relacào Trara-
área comercial com a cidade alta. Salvador também deve a ele va-se da ladeira da M1sencórd1a
a construção da muralha que sustenta a montanha em toda a O declive da ladeira da Conceição era mu,to acen uaao
sua extensão, minimizando os desabamentos que chegavam a deveria ser desbastado, de modo a facilitar a subida. EM •35_,
provocar vítimas fatais. Por essas e outras obras , o historiador após outro grande deslizamento de terras. o empre,te,ro Tomas
Braz do Amaral [apud WILDBERGER, Presidentes da Província da de Aquino Gaspar, contratado para reali::ar a obra de recupera-
Bahia) considera Francisco Gonçalves Martins ··o melhor adm1- ção da área at1ng1da, entre o beco do Mata Porco e a ladeira oa
n1strador que Já houve na Bahia". Conceição, pediu rescisão do contrato. Apontou quatro razões
Foi em seu primeiro mandato !1848-18521 que rranc1s- primeiro, o preço dos materiais de construção ha\la au'l1e11tad0
co Gonçalves Martins dec1d1u que faria uma obra definitiva para muito desde a assinatura do contrato, -feito em tempos ores-
conter a montanha. Custeada pelo Governo Geral, os recursos peros": segundo, a Jornada dos trabalhat.Jores tambem esta\,l
destinados à obra cresceram com investimento da Província, na muito alta, pela 'dil1culdacte de os obter depois ,1a tem\el el'
medida em que os constantes desabamentos e corrimentos de dem1a· da feb1·e arn r·ela, terceiro, não se ha\'1a pm\1denc J<.10 a
terra passaram a ameaçar nao somente ··pessoas de menos", alocação de recursos para o pugamento d,1 ohra. p◊r Lht ,,, . •
mas também comerciantes, além do próprio Palácio governa desmoronamento e tal e tào custo~o que não po,1,, h,1\er qut>n'
mental, CUJOS Jardins se debruçavam sobre a encosta íngreme possa cu lcular o tempo preciso, ou mesmo o pr,,\-1\et en1 que
e longa da montanha Na face do Palácio voltada pilra o ma,·, se possa fa:er o trabalho. O empre1lt'1ro rrtorcou o pt>d100 ,1e
o muro Já começara a desabar, pondo em risco a pr·ópria es dJuste de contJs, d1~emto l<'1 lht' cu~tc1do muito dmheiro aquela
trutura do prédio. Sustentar a montanha passou a s1gn1f1car a 01>1 "· "dlérn dP d1'"LJO<,t1J E' consumi\ ,1e~ 1
salvaguarda do Palácio . sede física e representação maior do Au Gove1 no. nao 1nteres~,11,1 pt'1 dN ,1 n lat- ra ·,io ae n,
poder político e adm1nistrat1vo da Província dos rna1s ,1t1vos <'íllp1 L",.lr 10•; de obr,1~ publ1,·,1,; L1 qrupo de 1"
Enquanto as outras 16 obras pC1bl1cas em desenvolv1men com que cont,wa ,,1,1 pequt>no pM,l o.; n1u1to tr,1b,1lh s J rea-

li ANOS DI UIIIANIIAÇÃO 1 u

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arrerr "t"nt~ do ' il~a r '· ,to da Me r~ ., _
tes Em 1858 , um
toso porque riao for"' pre1 1s,o. ne•r oir: -:•s
trava se d esgos • · •
dificuldade~ que enr0ri•rava corr,o 'Od ;; ~ _
no orcamento as ·-
· , · rrebentar· se a grosso rrie10 e qu<= se erc-,r•·,-
é necessa rio a •
tulho" e deveriam ser delT'o,1das. Err · S63 ~-
por baixo do en
• d A no Gaspar provável parerte do empr<õsár '.. ---- .
tonI0 e qu I • -
lhava na muralha de sustentacào da 'f,J"'>•·-
A Gaspar, t ra ba · · <
·ras da Misericórdia e Conce1çao Esta•,a nsa· s'•
entre as l adel ·
·· · havia gastado muito em alvenaria e do orem CGc--:·,.
porque Ja · ••
do com Governo [12 contos) havia recebido apenas a rne:a:~
O
Além de braços humanos, apenas carroças mo11das a e.-:;
removiam os materiais. de preferência para as á eas □e a·=-:
0

LADEIRA OA espalhadas por toda a cidade baixa. O sofnr,emo dos "e;-:s


MISERICÓRDIA. CUJO suor amalgamou tantas construções. nunca seras.' e=·-
FINS SÉC. XIX
temente avaliado. Os animais usados no transporte de :e=õ;
também sofriam abusos. conforme criticou o O,ána de Nc·: 25
em 22 de julho de 1885, ··especialmente no trecho de ,ga:à' :=

lizar. Entre várias construções, Tomás Aquino Gaspar havia fei-


cidade baixa com a alta. Os animais estão expostos a ma.s ·=-
to o calçamento de boa parte da área comercial e, na cidade tos por parte dos carroceiros que os ch1cote1am para cor:,.;:-

alta , trabalhava na abertura da longa rua da Lapa, hoje avenida rem peso superior a suas forças··. Aliás, essa pratica era ::-• -

Joana Angélica. A despeito de seus desgostos, Tomás Aquino em todas as ladeiras. Na do Taboão, que era muito 'ngre .e :;
Gaspar continuou a trabalhar na obra da Conceição. Doze anos animais empacavam e eram chicoteados até sangrar .l.le- ::;

depois, em 1868, após realizar o nivelamento possível, de re- arrematantes que possuíam suas próprias carroças. hav a ·.a~:;
solver problemas com os canos de gás e com o encanamento ··empresários de carroças de aluguel'·. sete dos quais sàc. ,·3-
das águas da Companhia do Queimado, ele quis calçar a ladeira dos no Almanaque de 1873 (p. 19). com seus endereços
com paralelepípedos importados do Rio de Janeiro. Estes eram Com relação ao Taboão. região sob o domõnio ao c0r: 0 t
considerados de baixa qualidade e contrariavam os termos do Antônio Pedroso de Albuquerque, e interessante obser.Jr ;;ue
contrato. Foram usados, porém, devido à urgência da ob1·a e à presidente Francisco Gonçalves Martins não atendeL dJ re: ::
falta de recursos da Província. por ele feito para mandar concluir o "caminho 'lavo ao Tar.:à~
O engenheiro de Obras Públicas havia comunicado ao Alegou a "falta de recursos pecunIanos da Càmara ~•u 0 e~.,
presidente que a ladeira estava ··em extremo escorregadia, a e atribuiu ao próprio cornnel o encargo de reali:açà0 ~ar~·
ponto de se tornar perigosa, principa lmente a parte inferior". Em 12 de Julho de 1849, O Mercantil publicou as palavras d0 r"'·
Propôs assim que o calçamento "abrangesse toda a ladeira e s1dente· ··conf 1a nd o no zelo de que e V.S ,1n1ri1.3do t'l1' ~?·"""
,,
não apenas a parte superior", como havia ordenado o seu an- causa pública • tenho por conveniente
• encan·eqa lo ,ie ~ror"
tecessor. José Bonifácio Nascen tes Azambuja. A construção da a realização dess 1 ob 1. d · •
' a. me Iante a coadJuvação que ,;ol , 1<3
ladeira da M1sericórd1a daria dignidade ao "caminho ela banda das pessoas Intere s~a- d as em que s,'Fl .-la 1.-vada a .,,,,,10
norte", o qual dava acesso à "fonte que se diz do Pereira" e aos
dapresentapo lorm
. 'il da necessidade d,• se constn. r a ,Jae J
que desembarcavam dos navios, registra o Jovem aIquIteto Er
ª Montanha Jd <'Slava 11•1 F-alc1 cf,, 1867 do :rnt,, ,•ssor d0 ~a=~
nesta R Xavier de Carvalho [1996, p. 61 dP Sao l ourenço pr, J • _
. · ~Sllil'nt,, Jo,,,, Bon1t.ic10 NJ-."'ntes ,\.JI"'
Apesar das dificuldades que encontrnu, o barão rle São bu1a Ut' dt>cl irou
' quP O Govt'I no Pro, I11c1dl quenJ, ,10 c0n,\rll·
Lourenço deu forma def1n1llva à ladeira da M1ser wórd1íl f"oi 1
é muralh,1
.
dt' "ll~t,,111~
·
.
'\,lo, 111,11 il dupla v-111t,1qern de tan'be n'
mais um ti·abalho difícil e demo1ado, corn rPcursos I11suf1c1pn
con~t'q u11 un1,1 • ub1 I·1 .
' L' m,w. '>ll,Wt• t'ntr,, ,1, c1dddt'~ alta e b3·''

66 50 ANOS OE URBANIZAÇAO I r Cl, ur>lo N, 11 1 • n) 10

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PLANTA
de i"'<Ú da.
LADElffA DA CONCUÇÁO DA PIJAI~,
Ct.~111 V- ~.,~, .. cro--1uy. . ,t, 'U..SÜ\,AM.l..\l •n
1Lo.. ltl't'dc dc.\o.L.u.du.

..... ' ~:-4: • H- • ... # !4:"

PI.ANTA PARA A RESTAURAÇAO


Para tanto fez desapropriar várias casas, não só para a obra de
DA PARTE DESABADA do sobre a ribanceira a mu1-alha que a protegia pelo lé1aO d :J'
Dt. _.t.QflRA DA CONCEIÇAO segurança, como para a nova comunicação·· que v1na a ser a rua
')APRA!A. 1871
O Almanaque de 1878 [p. 109} 1ntorma que, na oca;, ão, ca as
Nova da Montanha. O barão de São Lourenço acrescentou que
rua da Preguiça foram atingidas, "não ha,e11do, 1pt,-í'le '<
0 declive "mais suave" entre as ladeiras da M1sencórd1a e da
lamentar-se n1orte alguma, talvez por ter ;,
Conceição tornara-se "cada dia mais urgente pelo grande de-
cimento pela madrugada, quando 11ào tia, ia e q•
saparecimento dos africanos que se dão ao trabalho puramente
que po1 a\1 ha durante o dia" E:m lc 7 , pol,
braçal dos transportes, que convém sejam feitos por modo mais
parte sul, em d11 eçào ao larqo do Teatro, Qt. rj
fácil, para o que não se prestam as atuais e íngremes ladeiras"
da lade11 a da Conce1c,.ào .A, ohr .i do Lano !lt'l n
Foram braços escravos, contudo, que construíram a rua Nova
montanha" est,iva p,ir,ida PC1rqu,, linda e ,t 'Tll
da Montanha, desbastando matos, arrancando árvores, demo
lei to dii novél I u,1 /\,,, obr<1• d,, ',equr él J
lindo casas, carregando pedras e terras. Realizando, enfim, a 111
nrn ft(ll dll~n1rl1_P/' ct1..-,•_~, o ~Ht'C.1d0nlt:' 1..i -l
principal obra de ligação entre os do is plilnos da capital
cio, n,1 lul,1 d,1t7ll<'le ,1 110 o,, 11 ib ilh ,
Enquanto se construía a murnthw, cop10,as ch11vd~ cun
dd llll \,1, 111,l', d11 ,lll1il .) pi f'
pJr \11
tinuavam a cair sobre a Cidade Em 8 de Junho tle 18'/1, d p;irte
Melo, enlrp ô d,• il'Vl'lci,,, , 'i d
central da ladeira da Conceição da Praia desmornnou , ar1 a', idn
L1it.10, 1111, fl<.•litdi ,ir, 1 r·
! r r r,
68 50 ANOS DE URBANIZAÇÃO I e Jns•Je t') f\J ,vc11,. 5;;11rpa o

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nova rua. que partia da parte baixa da ladeira da Mi ,er1cordid e ed<i11 dd Rf'I :l( dO, r rr,ba1x:o do qual 'í.: dl'JJ() ,~ a Guardéj o prf:,.
e
seguia até o a to dd ladeira da Jamei.e Ira Em 7 de agosto dE dente da Província, Fr,ir1c1sco Go11çal1es Mar I'IS, fut ;ro 11su,r
1878, o presidente contratou essa obra e outras a ela ligadas de de São Lourenço, considerava o passarhço I1m "mút1l P.d1fic o,
com a empresa de Transportes Jrbanos de Antônio de Lacerda, diminuindo o espaço da praça e 'irando a esta a 11sta rJo r'I;;1r
no valor de mais de 200 contos de réis. Em certos trechos. a Na Fala de 1852 [p. 261. afirmou que, para· o aforrnoseamer o da
rua Nova da Montanha ficava superposta à ladewa da Concei Cidade", sena necessário "demolir o edifício da ReIação e a Casa
ção, de modo que, para sustentá-la, construíram-se 23 arcos. da Assembléia Provincial" que, segundo seus pianos, narr para
Em março de 1879, após 20 anos de trabalho, os arcos estavam o segundo andar do "maJesloso edifício da Cámara Mun1c1pa1.,
prontos, havendo sido gastos 688 m' de alvenaria nos 8911 m de onde igualmente se acomodariam o Júri e a casa da Tesouraria
comprimento da rua, que media 9 m de largura Como se fosse Provincial". Esta sugestão do visconde precedeu, err 17 anos,
por um processo de recuperação de casas humildes que haviam o pedido de demolição da Casa da Relação feito por Antôr10 de
sido destruídas, os arcos foram sendo gradativamente fecha- Lacerda, em 1869, para a construção do Elevador H1drául1co da
dos, transformando-se em habitações de pobres, em oficinas de Conceição, como se verá na segunda parte deste estudo
ferreiro, oficinas de marmoristas etc. Por muitos anos, devido à absoluta falta de recursos pe-
De acordo com o plano, a nova rua foi construída em "sua- cuniá rios, o proJeto urbano da praça do Palácio não pôde ser
ve declive", facilitando a comunicação e a subida de carros , car- executado. No entanto, lá estavam local1Zados os prédios das
roças e mesmo de "cadeirinhas de a1-ruar", sempre transporta- princ1pa1s inst1tu1ções civis da Província - a Presidência, o Tri-
das por braços negros, escravos ou não. Dois anos depois, no bunal da Relação, a Assembléia Prov1nc1al, a Tesouraria Provin-
dia consagrado a Nossa Senhora da Conceição - 8 de dezembro cial e a Câmara Municipal. A Casa da Moeda, inaugurada em 8
de 1881 -, a nova rua da Montanha foi, finalmente, aberta ao de agosto de 1694, não funcionava desde 13 de março de 1834.
público. Em homenagem àquele que havia contribuído decisiva- quando deixara de cunhar moedas por decreto imperial. Seu
mente para sua conclusão, recebeu o nome de Barão Homem edifício ficara entregue ao abandono por décadas e, quando se
de Melo. Essa denominação, porém, ficou apenas na placa que decidiu urbanizar a praça. em 1876, já havia sido demolido. 'No
a identifica. Na boca do povo, a antiga rua da Montanha, depois local, ergueu-se a Imprensa Oficial do Estado [1915) e, ao lado,
de alargada e concluída, continua sendo chamada de ladeira da a Biblioteca Pública [19191.
Montanha. Nela prevalece a grandeza dominadora e a beleza ex- No subsolo do Palácio, estava instalada a Caixa Econômi-
traordinária das altas e outrora verdes escarpas do promontório, ca. Criada em 1834, a ela recomam todas as camadas da po-

que distingue a capital da Bahia de todas as outras. pulação, que lá deixavam, como penhor de empréstimos. I0Ias
O arquiteto Ernesto Carvalho observa no artigo "A ladeira e objetos outros de ouro e prata Comerciantes e empresános

perdida", publicado no Jornal A Tarde, em 29 de março de 1997, podiam caucionar seus empréstimos com ações de firmas.
que a construção da ladeira da Montanha cortou o acesso direto apólices da dívida e similares. Tudo indica que um dos maiores
à área comercial que antes possuía a ladeira da Misericórdia, problemas no processo de urbanização da principal praça da

anulando seu uso, pois a ladeira da Montanha, de declive mais Província tenha sido a existência, no meio dela e do lado oposto

suave, passou a ter a preferência de quantos se d1rig1am à parte ao Palácio, de diversos prédios e casas particulares que prec
savam ser desapropriados. para que as obras de melhoramento
alta da Cidade.
tivessem lugar Em 1873, mais duas casas foram desapropria
das, mas. "por falta de recursos pecuniários·, as desJpropna

A PRAÇA DO PALÁCIO ções foram interrompidas. O desequilíbrio entre a receita e a


despesa era muito grande Para contornar a s1t1i.1çào, o Gover,10
Sustentada a montanha, tratou-se de alargar e de "afor- decidiu fazer acordos com diversos moradores. realtrados s,'m

mosear" a praça do Palácio e o próprio Palácio Em 1851, o Go- grnndes problemas. A exceçao ficou poI conta de D Cai olina

verno Imperial permIl1u a demolição do passadiço que o unia à Augus ta de Matos Vilela, que resIstIu Loqo elc1. CllJJ casa ia

o d
SOA.NOS DE URBANIU,ÇA.0 1
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Provinc,a ordenou que •osser' "• "-;;
l• tu..., ., ,,.,..,..,"''"'.., fronteiro a Sé a fim de propo e o~º , ~ rc, " 'L -~- ~'.:- : :.
-• e \ • ~• ,;,.o..,, l,CII. •.__~
recrera e distração • cor.for"ie reg s ,, - ., ,._, "',; '1a :::i!- a - -=
dezem bro d e , 86l i A- ,,,a
- do- laze' r o sé:, • X : :<: e:~-,,"º
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hoJe .embra, com sua C''-'Z '.a.,
'-'a º- ~ 6.
J.
" e.
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;::. f
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.... - --- - --
= =" = =--=
destruiu em 1933 e cu,o processoº" des•· - :ã:; =:e -=:s:s·~-:=
à destruição está bem retra'ado ro ,rn de =e·ria·:: := ="e-,,
Peres, Memória da Sé (197l,
Em grande moda na E.iropa e no St. !Jr, :ia s. cs : s :· _
meiros quiosques de Sa.lêldor forar1 rs•a.aaos e-- '~-ê -= :-=-
ça do Palácio e na praça do õearro São J'>ãc Sic'.Ju ra--== -==
DAH' - :JA -LANTA 00 GRADIL 17, 12 fixados ao longo docas (da A.'ánaega à D'<lÇê ~ a: 0 -= _
DE fERRO DA PRACA DO
PALÁCIO. 1876
z1a bem no meio da praçal Finalmente, a casa foi demolida em um no largo das Princesas e ..in ~o ,argo ao c~~E·c o -~ :=--
1876, ano que assinala o inicio do "aformoseamento" da praça. po Grande de São Pedro foram cotocaoos ~as -rês s~o a- e:=
Mas amda restavam prédios a desapropriar e a demolir. tudo: guloseimas, charutos. ,ornais e rriI-oe2:2s e- gere. :; _ -
A construção do gradil de ferro delicadamente trabalhado
e de bancos de mármore, que facilitavam o acesso à bela vista
panorâmica da baia e de construções da cidade baixa com seus
velhos telhados, eram parle do projeto de embelezamento. O
negociante Nicolau Gavazza vendeu à Província uma coleção de
estátuas de mármore fino, vindas da Itália, para serem coloca-
das sobre as 16 pilastras do gradil. Representavam as estações
do ano, com 1.72 m de altura; outras simbolizavam as quatro
partes do mundo antigo; as demais eram alegorias diversas,
medindo 1,50 m Embora consideradas, pelo diretor de Obras
Públicas, "triviais alegorias que nenhuma emoção despertam

l na alma do espectador"-." essas estátuas embelezaram a praça


do Palácio durante muito tempo, até desaparecerem ou serem
estragadas por vandalismo. Hoje, restam apenas alguns exem-
plares, preservados no Museu de Arte da Bahia.
Para manter a praça limpa, gastou-se mais de 3 contos
de réis na construção de quatro latrinas públicas e, na parte que
restou de uma das casas demolidas, construiu-se uma morada
para o zelador dessas latrinas. O plano do Governo. Já expresso
na Fala de 1848 [p 541 , era espalhar latrinas e m1ctórios pela Ci
dade, com a intenção de contribuir para ··a educação deste povo,
que assim se C01b1rá de costumes que tão alto falílm contra
nossa civ1l1zação, além de sere111 excessivamente preIud1cia Is
à salubridade pública" Cuidou se também de melhor ar areils
de lazer para a populaçao, como o PasseJO Público, que tantos
elogios mereceu pela beleza de suas fontes e pela vegNaçáo
d1vers1f1cada e luxuriante. No centro da Cidade, o presidente da

70 50ANOSOEURBANIZACÃ O j lo· •Jel1tlrv31,, 1rnp 11

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QUIOSQUES NO CAIS
DDURADD. 1879
manaque de 1878 [p. 841 informa que a concessão para os quios- Sé, o palácio do Arcebispo e passando sob o arco do Colégio dos
A DIREITA. IGREJA E
MOSTEIRO DE SÀO BENTO, ques era válida por 20 anos e os que as recebiam pagavam anual- Jesuítas, chegava-se ao Terreiro de Jesus. Praça bem maior
EM PRIMEIRO PLANO. mente uma renda à Câmara Municipal por cada um deles. que a do Palácio, Já fora famosa por concorridas cavalhadas que
O OUIDSDUE DO LARGO
A fim de conferir à praça a "decência necessária". pintou - divertiam os jovens no século XVIII. Lá estavam [e ainda estão!
DO TEATRO SÃO JOÃO. 1878
se lodo o Palácio do Governo e fez-se um orçamento para re- as belas igrejas de São Domingos e de São Pedro dos Clérigos,
forma. O encanamento para a iluminação a gás foi considerado bem como a antiga igreja da Companhia de Jesus que, no sécu-
"inteiramente inservível; muito arruinado e mesmo antigo. não lo XIX, se tornara catedral.
se presta a novos consertos, além dos muitos que tem sofrido" Ao visitar esse grande templo de mármore, D Pedro 11
Também pareceu de "impe ri osa necessidade" a compra de nova disse que era "o mais vasto· que Já vira, conforme registrou no
mobília destinada à sala de audiências, "por estar a existente diário contido em Viagens pelo Brasil ... [2003, p. 157} Defrontan-
muito arruinada e servida, como se vê, principalmente no em- do-se com o portentoso chafariz, armado no meio da praça pela
palhamento·. O encanamento e a mobília, além do retelhamen- Companhia do Queimado, o imperador o considerou o melhor"
lo do prédio e de melhoramentos na sala de jantar, sairiam por
conhecido no País [p. 2001. Dando asas a seu pendor pelas ciên-
2 contos e 500 mil réis. Compraram-se dois lustres dourados, cias e inovações de modo geral, D. Pedro visitou por duas ve2es
encomendados na Europa; tapetes, aparelhos de louça e vidros ,
a Faculdade de Medicina, o primeiro templo da c1ênc1a méd,ca
"tudo com a marca de Palácio , meio eficaz de se tornar dura-
construído no Brasil. Percorreu também a igreJa de São Fran-
douro o que nele existe, sem outra serventia·. Assim, com f1 -
cisco, magnífica representação do barroco nacional, que fica er>
datgu1a, o presidente da Província, barão de São Lourenço, pro- frente à catedral.
curava turvar olhos ávidos e conter mãos ligeiras que, bem se
Nos domínios da freguesia da Sé, esta a também a lade 1•

sabe, nunca deixariam de existir.


ra do Pelourinho, com a importante 1greia de N Sra. do Rosaro.
à qual se agregou a palavra Pretos, por haver sido constr.,,da
frequentada pelos negros Subindo a colina eM frente, chega•.J·
A CIDADE SE EXPANDE
se ao ba1r rode Santo Antônio Além do Carmo [desmeml:trado '
freguesia da Se, era parte da fr·equec, 1a do Passai. Pc1s a J
A partir da praça do Palácio, o processo de urban1zaçáo
entao à Soledade e, em seguida, à estrada da L bera.1de, J C'r J
seguiu em duas direções· rara o norte, contornando a 1greic1 da
ele se e5p1a1ando, continuadamente

72 so ANOS oe URBANIZAÇAO I C r:insue o Novd1 Sdmp<1to

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50 ANOS DE UROANIZACAO 73

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Em minucioso estudo feito por Anna Amélia Vieira Nasci-
existente. As obras corneçararr ri • 8 J• <r, ,"r . d"- se ,
mento 11986, p. 681, lê-se que, em meados do século XIX, a super· anos depois Já pelo conde doe 4• C)<; l ""' p-u-- 1',,;J •

população da Sé havia provocado s1gnif1cat1vas transformações. inauguração do teat.ro em 13 de rrw, d~ 1$' L h r er ~'J"~rdj.

A população, "que fora de elite, e que ocupava a freguesia onde ,


Pnnc1pe Regente D João · no dia d~ ',f'.i º" v_•sar ,
nascera a cidade, era constituída, em sua ma1or1a, de pessoas de As cnses que assotaram a Pro11r - d f0rar- ~rarfa, .;

camadas medianas da sociedade, ou mesmo de pequenas famí- mente, dificultando a apresentaçao de cr ,,- p<1r,'1 a, es r;;eig~

lias pobres[...)"; "os grandes sobrados, construídos para serem a ras. Estas eram as que realmente en•i.,,,dsrna,cr. o pvo , 1 ~

sede de grandes famílias, se subdividiram em fogos pelos anda- elite manifestava certo desprezo pe 1as corn,ar h a, ~ac,. ºcJ ,.
res". Apesar disso, na Sé ainda se localizava a residência doba- numa franca manifestação de ranço co!oi11al s a ::e q Ja q JC-C
rão de São Francisco que, na verdade, morava em seu engenho, forma. 0 Teatro Público, co!T'O freqUE''lteP'le11te era charnad:
no Recõncavo. No cruzeiro de São Francisco, habitava o visconde exerceu acentuada influênc,a nos háb,:os e c.;sh.irPes .a épo .é!

de Pirajá, e assim por diante. Em contraste, na rua das Verôni- Jaime Nascimento resume· -10 earro; aoo 11., os 1éus e Ji"' ~;

cas, próxima ao Convento e Ordem Terceira de São Francisco, quais as mulheres da elite ba1ara cobnarr os "e"'s ''.JS os. a-i
"aglomeravam-se pardos, cabras e pretos, livres e libertos, pou- saírem às ruas. A platéia dos teatros. rad e oralf'ler,•;, "2Séi•-
cos escravos, com ocupações primárias e prestações de serviços vada para os homens, também passou a ser .iu,;iaaa .: □- "lJ·
autônomos, como ·vende água·, ·vende lenha', ·vende mingau·, lheres", no que se democrat,zou o espaço e 'o -se rn'ld,ka" fo
·carrega cadeira· , 'de ganho· , ·rema saveiro· etc.", serviços sem a posição da mulher na soc,edade baiana
os quais a Cidade não funcionaria !NASCIMENTO, 1986, p. 69) Jaime diz que o São João tarnbelT' :01 o p- noe •o "e"trn
Voltando à praça do Palácio e descendo a rua Direita do de convenções" de Salvador. uma vez aue poet3s. a· 1s•as e~'!'-
Palácio. chega-se ao largo do Teatro São João. o primeiro teatro líticos lá encontravam o espaço e o público deseiaoos ::a•a ,La;
público construído no País. Por sua grande importância na vida declamações. apresentações e diset,•sos
social da comunidade. conduziu o processo de ur banização em
direção à Barroquinha. daí à rua da Vala e, no sentido sul. su- Castro Alves fo, acolhido peio Teatro a~s se·e ~" s p ~ .,
bindo a rua de São Bento. rumo aos ba1rrns em construção do Depois. grande poeta, fo, apresenta.:w ,,, !3-.ss J.1s ~-z
Campo Grande, Canela e Graça. até o arrabalde da Barra. obtendo naquele palco o seu pnt"eirv ,Jrar-Je t· " ' C , . _
forma. ali também foram apla~d d ~. er- r·c e ·::s w ,-,
Pedro Labatut. Carlos Gomes R~, t; -~ -5 Snb 3
tantas outras persona,,d:ides de b• . ~
O TEATRO SÃO JOÃO :•U ..
Bah,a o carnaval e a lL .- etN a

O largo do Teatro era um dos pontos mais importantes da


A cr se I nance,rd, entretanto, to t>s· _e t>"J
Cidade A elite costumava ass1st11 a variadas ar1·esenla~ões de
as co1·es do Teatrn Pubt,co A estrutur,i e "·.1 ~ n--.i n
companhias estrangeiras e nac1ona1s no teatro São Joao. E:sses
m.:is os equ1pdme11tos se dt'teriora,·c1n, L or •., 1. J
dramas. óperas e espetáculos de canto eram. na ve1·rlade. o ún I
çao Na F,ild de 1868 Jµ 12\. 0 prb,dt>'1t J 8 ,, , .
co lazer em á1·ea pública que a Província oferecia.
di,;se "!1zern111 se l1(Je1ros CL11ht>rt,,,, n,J 1.-, '1..i
No al'l1go que escreveu, "Teatro Sao Joao, a l6n1x 1n1pos
de• c)e9t11,H'I\.J lOnlrd 11)\.t;l"\(_lJt) C)l
sível". Jaime Nascimento 120051 diz ser ess<1 a pnmeIra g1 ,llld<'
to d.1 101 ne,ra, ta lJll<' n 10 101,~, , f.'' .,
obra da arquitetura c1v1l de função públ1ra ern Salv,1dor, rnl,1th'
l10l t''1'.'.l,H r.1~J e,11 r.1'"--;l, di.:"' inl:énJ10 [)
ç"r~ada de construções rel1g1osJs e mil1liltes. Al11 ma que to 1 ,1
':,,10 1 o1110n,o l,lnlt'nlou u,, 1,, 11,'
pr1rne1ra grande casa :onslruída no Br,v,il com .i l111al11!Jdo rle
qllt'lllddL, 11.1• oc ,1 ., 0 ,. d l' ,p ,
ser urr tealro A 1n1cIat1va coube ao 6• condl' d,1 Pont,,, q1i<1n 11
do gowrnador e cap1tao-geral. da Caµ1l,in1;i d<1 8Jh1c1, qup 11 t,•
ria concebido para ·,er a mJ1or cac;a dP p,,pr>t.i, ,itn•, .ité ,,n1, 10

74 50 ANOS OE URBANIZAÇAO 1

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'FATRO SAO JOAO, COM
CHAFARIZ, C 1858

público. ou porque a época desgraçada que atravessamos te-


nha restringido os gozos da população, dificultando - lhe mesmo mo aconteceu com o Palácio do Governo, e quase todos os 10'.:
quase o indispensável para as mais imperiosas exigências da mil exempla res da Biblioteca Pública se perderam O processo
vida. O fato é que as empresas têm naufragado. ainda as me- de decadência do teatro foi estimulado pelo Governo Seabra. Er
lhores administradas.
6 de Junho de 1923, também uma quarta-feira, o teatro ardeu
em chamas. Curiosamente, comenta Jaime, o 1nquéri o palie a
O desejo do barão era de que o teatro criasse "entre nós
!instaurado pelo primeiro delegado auxiliar, Pedro Veloso Gor-
a verdadeira arte dramática, cuja utilidade é atestada pela civi-
dilhol restou inconcluso. Seu arquivamento lo, pedido pela pro-
lização de todas as épocas". Em 1849. ele havia pedido e obtido
motoria pública em agosto de 1923. Jamais se apagou da merte
que a Assembléia Provincial concedesse uma subvenção anual
popular a impressão de o incêndio haver sido criminoso.
para a manutenção do teatro, posto que a renda gerada pela
frequência era diminuta e precária: "sem o auxilio da Provín-
cia, 0 leatro não poderia continuar", suslentou. Graças a essa Calçamento. O calçamento da área que desc·a a rua D•e
colaboraçao entre o poder público e o capi tal privado ao longo la do Palácio, cobria o largo do Teatro e daí voltava a descer rur,,o
do li Império, o Teatro Público da Bahia manteve sua posição de à rua do Vale e, no sentido sul, subia a lade ra de São Bento e a de
pr inc1pal centro de lazer da Capital baiana. Baixo de São Bento. rumo a Vitória e Graça, era prioridade ~ao
Com o início do período republicano, o leatro foi perdendo ável. No in1c10 da obra de sustentação da montanl-ia, no lar-~o d
sustentaçáo. Em várias oportunidades - conforme registra, em teatro São João, em 1842, o arrematante havia deixado o cano de
detalhes, o ar t,go de Jaime Nascimento 120051 - foi lrar1sfo1· escoamento obstruído. Consequentemente, alagou se a area ae
macio em quartel da polícia rnil1t,ir 11907-1911] e em quartel ela águas putridas. pre1ud1cando a freqüência do público. O arrerna-
guar·da c1v1l 11912 19131 e abrigou 1nslalaçoes da Caixêi Econô lante se negara a redirecionar O cano para r;o das Tr pas, des-
O
mica Federal e do Monte do Socorro Um absurdo rnr1101 .:icon cendo íl l<1de1ra da Barroqu,nha Alegou não constar a tarefa ao
teceu na famigerada quarta fC>11a, 10 de J<1ne1ro de 1912, coni a seu c.ont1 .:i to de trab.:ilho, nem haver verba orçada pa~a esse 1
tomada do poder por J J Seabr.J
Novo proJeto 101 elc1bo1 udo ma 15 tarde, nclu rido a umpeza dor
0
No ep1sód10, Sulvador for bomba, dc>,ldil e o l eJtro Sc10
dcls T, ipc1s Fssa obra era cons1de1 ada de absoluta necess dade
Pelo P"-'llll 'O qL1 ° l · ' -~
João, entao usado como quartel de polícia, 101 <1l1n\.)1llo O 1nr•s
· ' ' l • ll'iêl êl Sê!udl' publica a estagnacão da:, agu~-
e 11nu11d1ul", qut' -011 1 - tra
· , ' ° C<1110 tapado, se vao depos,tar na e
76 50 ANOS DE URBANIZAÇÃO I r u l, N" li e rn~

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da da rua de:-< C,p1tc E .i r,a d.i D rc itu dü p ilac 10 . p ora b·),1lutc1
rio• e ,11 J' O enc.rna111enlo da' ;\guas foi pr olor,godo, par d q,J<•
falta de d1r,he11 >. e intudo, a obra f cou par 3 da. •
fossem despEJ<1diJS 110 rio das T11pas Deste 1nodo, o prr,cP ,so ,Je
Na Fa,a de 1845 ') barã d
· c _
e. e açapava , en tao pres1de11t~ urbaniza,~o avançou em direçao a Vald Geral depois, rua da
da Província, propôs a construção de um ca no de escoame nto da Va lu, em seguida , B~1xa dos Sapa teiros. hoje, J J . Sea bra
ci dade alta pa ra o 1·io das Tri pas. CU JO "long o curso estava redu
z1do a um cha1·co de 1m un díc1es". O barão de Caça pava invest iu
esforços na obra . dan do por term inado o trec ho qu e Ia do largo CQN<;TRul"IDG AR JA DA 1/AI A
do Teatro até o ri o das Tr ipa s, "faltando apenas se r calca do"
Pouco depoi s, contudo, ele mesmo reconh eceu qu e O la~go d~ As to rrencia is chuvas qu e, con stantemente, caíam le ain-
Teatro e outros lug ares público s continuavam amon toados de da cae m) sobre Salvad or, somadas ao desnivelamer>to do solo
lixo [Fala de 1846, p. 331. Na s ruas. observou, sempre se en con- qu e ab sorvia as águas caída s. en cheram a Cidade de charcos.
travam corpo s de anImaIs em estado de decomposição e canos lagoa s e pâ ntanos. A porosidad e do solo, sorvedouro natural das
obstruídos. Para seu desagrado, João Batista Ferrari, o empre- águ as pluviai s. tornava as encostas tremendamente 1nstáve1s,
sário encarregado da obra. não pôde levar adiante o trabalho . su1e Itas a deslizamentos constantes, como se viu . A perene ca-
Ferrari comunicou-lhe que, para desentulhar o r io das Tripas. rên cia de recursos financeiros, limitando a tecnologia e a qua-
linha de passar por "quintais particulares. remover cercas e lidade do traba lho, fazia com que, ao se consertar uma obra.
muros, para aprofundar e alargar o leito do rio·. Infelizmente. outra arrebentasse. Esgotos ficavam expostos e as cond ições
porém, encontrara "oposição brutal de quase todos os proprie - sanitária s da Cidade se deterioravam. Todos concordavam que o
tários que o atacavam com insultos e ameaças pessoais" . saneamento da rua da Vala era da maior 1mportânc1a. O no das
O calçamento da rua Direita do Palácio. com passeios la- Tripas precisava ser controlado.
terais, teve início em agosto de 1847. A Câmara Municipal for- Com suas nascentes entre as áreas de São Bento e da

neceu a pedra para o abaulamento do leito da rua. a fi m de que Palma. o rio das Tripas. no decorrer dos tempos, havia cavado

as águas pluv1a1s corressem por valetas entre as extremidades um vale profundo, separando a cidade alta em duas partes. Era

da rua e os passeios. Uma série de motivos contribuiu para a afluente do Camurug1pe, nele desaguando depois do no Verme-

demora da obra : a Câmara colaborava com lentidão, o trabalho lho, "entre o Campo do Barbalho e as montanhas que susten-

era braçal, a colocação e o nivelamento das pedras requeriam tam o dique·. O nome lhe foi dado pelas tripas e outros restos
de gado morto !suíno. vacum ou lanígero) da roça e do criadouro
certa habilidade e faltavam trabalhadores aptos. Além do mais,
do convento de São Bento. As carnes eram postas à venda nas
os moradores colaboravam pouco. Na Fala de 1847, o presiden-
cabanas "que servem de açougue", pertencentes à Ordem. e que
te Francisco Gonçalves Martins Já chamara a atenção para a
se enfileiravam por toda a descida da ladeira de São Bento. no
0ecessidade de os moradores "calçarem os seus passeios com
0 lado direito.'°
,aies, e fazerem com que as bicas dos telhados desçam até
A jusante . o rio das Tripas inundava as margens, forman
r, vel da rua" Procurava evitar que os transeuntes se enchar-
do um largo pântano na área da Barroquinha . Aí começava a rua
rassem com as águas das chuvas que, em Jarros, despencavam
da Lama. CUJO nome expressava as suas condições Na estação
~s bi cas de latão, no alto dos telhados.
chuvosa de 1847, os moradores dessa rua, 1nd1gnados, pediram
Mesmo lento, o calçamento seguiu até o largo do Teatro.
providências à Pres1dênc1a porque a "Vala Geral" listo é. o no
m 1876 foi feito outro contrato com ª empresa Transportes
· calçamento rua Direita das Tripas) "Já se achava ao nível da rna e alguns moI adores
, banas, do grupo Lacerda, para novo .
continuavam a faze r os seus despeIos na rua. de modo que a
.oaIxo. ' Interessava a empresa O melhoramento dessa area,
se verá adiante O ser su1eIra invadia suas casas"
.a qua l trafegavam seus bon d es, com O
uinha entulhando -se Sabia se que tal sItuaçao só sena comq1da com o t'ntu
1 .o foi feito até a descida pai a a B arroq ·
deira nivelando-se o leito da rua lhamenlo do rio das Tripas [e sua candl1z<1~.10, onde nao tosse
" pequenas barrocas d a l a ,
"que ali embaraçavam o trân sito possível cohr1 lo de lei ral. lrc1nslorm,rndo a Vai,, Geral em rua d,,
om a superfície dos canos,

60 ANOS DE URBANIZAtAO (
"

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5eg ... -~ . . •..,a
fres provi,•nras , aPres1dên~at~r--1- .. -~p~ .... r1,ar
, p rt -ão de ,Jb,ras p . . :> '--d~ rT J --~-ar::
~ ' ...
obra. Ate na "epa ',.
haviam sido. ataca aos d a fetiro rc, '"a.,•F ~
- ~ ,r'I"" JS -=!r'"" uS ~r-- ..~_

ram preumonia em decorreric1a ,Ja 1,bre

.; No entanto se essa era i..rr d das e ü'oS rn3 s '1 - -e s =~


bém era uma das rria1s rnporta-.1es para a C oaa2 exça-. '-s,

ao longo da Seg unda cumeada aa rrio •dr ha :és-a se sena-.= • -


da cu meada principal pelo va,e du r o das - 'oas. :::u''.3"!' e;
trabalhos deveriam ,r até a Barroa.; P"ª· 'a:e :esanar:: 0, ª"
·· 0 grande obstá cu .o para a CO'llLJnrcação aos . e Cu.:s so!:·e --:-
das" Assim, promovia-se rielhora 'Tla s o g,...a ja '"'Csss e
zaçào .. - nas pala•:ras do en•ão ores jente da :iro rica =.., . _
cisco Goncalves Marnns. o rutura v1sco'1 □ e ae Sã lou•e-cc
-~c-rHO~!A .-~RIJA.D 'vA,A_
Arrefecido o medo da febre amarela. o set: sucessor. J:ào
CJFPfl S BA XA J "' -SAPA ...E RO;;i.
Vala. Iniciou-se, assim, esse trabalho que levaria muitos anos. O Maurício Wanderley, ba•ão de Coteg ce 1' 852-135- . ae: ..J. 2s-
J..T JAl J .1 .1F.A~RA. .., -3-..;,
empresário encarregado foi o capitão-mor Antônio Joaquim da
timular os trabalhos na rua da '. a,a, tão nosa la a..,aN: "52
Costa. Dec1d1u enfrentar o desafio e começou animadamente,
lubre. As copiosas chuvas aue ha, 1aTT' ca ao ao lo'1gc ~: e"3'
com um batalhão de trabalhadores, inclusive escravos. A tarefa
tinham causado muitos prejtJÍZOS à Pro-. ·ric1a reta·.:ia:i..J~ a!'. '3
era d1fíc1l. A região, cheia de pântanos e muito lamacenta, exa-
Como nenhum arrematar,te quis ass,.;,..., r o - t.s Je rea.::a- 2
lava odores sufocantes. Tudo o que não prestava era jogado no
o barão de Coteg1pe achou por berri est 'Pular o ca~ tàc e
rio das Tripas.
Antônio Joaquim da Costa. ad1antanao-, e a quanta e 3 :c-t~s
A situação ficou mais difícil com as ep1dem1as de febre ama-
de réis. Era importante que a obra fosse •e1ta a•1tes u3 es!a~à~
rela e de cólera, nos anos de 1850 e 1855. Em sua elogiada História
chuvosa seguinte, quando tuoo f·car a r1a s c,-,c l
da Bah,a, Luís Henrique Dias Tavares [2001. p. 2731 registrou que
Ao fiscalizar os trabalhos er,, 1S5-,, o a retor .:ie ;:'t, as P.
o '"primeiro grande surto de febre amarela aconteceu em 1850,
blicas informou ao presidente que por f ....1, r,a,1a s do eritu,~3~a
transmitida por tripulantes do brigue negreiro norle-americano,
Brasil. A doença fez inúmeras vítimas na Bahia. Só na cidade do a rua que dava acesso à horta do con, ento ae São Franc s~:

Salvador ocorreram mais de três mil óbitos naquele ano··. Dois Os trabalhos de encanamento do no das Tr ;:,as l'''e"1, t',,~u
anos depois, reapareceu com maior 1nlens1dade e mais vítimas haviam progredido porque ·a obra encont-a\J· se '10 [,:,cal 0 1a 5

Foi também um navio, chegado de Belém do Pará, que trouxe pantanoso da região Tambén1 ha\,a'l> surg1<1,1 oi..tr0s prob,e
0
cholera-morbus a Salvado1 A epidemia devastou a população das mas. entre 05 quais o reterente a dois oos socios ,<lo arreº' 3
lantel, "inclusive O qlie s ., :1 ~ .
principais cidades do Recôncavo - Cachoeira, Santo Amaro, Na eí\ a e e e a1,a Estao co111pr P'et ilcS
no crnne de fabricar rn d r
1aré e de Salvador, deixando mais de 25 mil mortos oe a a 1sa /\las ,e111b"Ou qci,' . a1~e da
Todos esses fatores levaram o capitão-mor Antonio Jo quantia do emprest1mo lt11to pelo Go\c>rno havia s,do qarant ,13
aqu1m da Costa a des1st1r da obra. A maior parle dos esc.ravos poi um sequeSlro em bE'ns do arrt"11atante e seu,- f1<h10res. ~ae
esperam sei reembol ·ad ,
que nela trabalhavam havia morrido de febre ama1·ela Os t 1a "' º" co111 a 0brJ qut1 s,, f01 13 -e,ido
balhadores livres não atendiam a seu chamado po1 causa da Alén1 desw um
· · ou 1ro problema <'sta,a na •alta de ,,p~
, anos, pelar sco do trJb li
IPm1da ep1dem1él. Desse 111odo, o presidente lransm1l1u, na 1-iila
5
acha atualinPnle" .
P
'- ª 'º no ll1q •..1r .nte(to
'
t' n~1ludo~0 erii QL. .,
de 1850, ac, 1nqu1l,laçães do empresário que, pa1·~ alr,m lratJc1
hl · cont,nl,d J <'xpl1, ar o diretor de Ob• as Pu·
lhadores, leve de oferece i '"altos salários: contra tou ce1·cd dl' 1, as 01; qu,, o 11Te111 t
'
a ob1 a. ma,, l:-ilt,1111 lhe' 1'
ª
anlt' l,'111 todo o intere -se em adi-1ntJI
60, porém, ao fim de alguns meses, eslava arr u1nadol" Peta~
1 'cui ',o, P,,d., ao Gü\'t'rno que ·mande
mesmas c1rcunslânc1as e pela lotai falta de recursos nos co pi, o n1011os ]O .1f1 ic ,111os 11
1
-
d 1 · ' e~ • sugPrind, que se t ras,e a guns
e c.ic J otJ1d ontl' ' t
' '" ,iv.-irn " 111 PtegJdos Terminou d1 end'
78 50 ANOS DE URBANIZAÇÃO 1 Jf J t~ V 1 )Un a10

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riecessa
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ser. espera'1ca ele ](
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ba.ho, garar,t u J .; r arº , e .irac SE)t, 1, o
deoo1s (rnd o je • 8!:l« e; arre ra•.ir, ,, ,L r
<I • V 'l "1Í rr llU
que os traba t>os fo•.irn ter, ,-. P Jos dev de, ias ~,de s P ~ r ir
tanas da norta aos re. ,i os_ s fra 1C scanus - el u
Embl'ra. err 1868, a obra da n,:i da V.·" Já · esse outro :Jua •od.,) rr ]

eripre1te ro - A·1tôn o Augusto Gaspar - 05 t· ªº" hos não se Pa·d~ ..v-- er•.· ,pra·~1
gu,ram rra1s rap1do que sob o .. c-,.,arido de seu aí'lecessor O la1es de Gên'l a E .,., , u,, ç: • , • i.: ~a•·,
calçaMento da rua dever a estar cor>clu1do ef'Y'\ 15 de abril de
'86°, con·orrrie .:i cortra o o eí'lar o. dos B.282 m' a serem mesmo as pedre ra.-:: da Pr- n,:- a A5 4 -: _ a-2 :":::: ~~--===
calcados. aoenas ' 3 5 m esta am completos em fevereiro, ,n estarern mais pr'""K ~as "or"""õrn a..:;. 1.~ r:- ....- ~
clu1nao obras de al enar1a
tarar1. pert '7do à Câ~ara ...J 1 -: ::a - ... e r-:2----::2::.=.-:: rle.
e entulhar as esca ê~~=s (L=: s-= ·er-r- '= -.: -=- .::-:r - . . 2 ..... = =-=~,-
AC DADE AVANCA PARA O SUL no cafT' nho ao ;=a ...r:-- a at: n:;: n3n : :: ...... ~ ,....._:: - 2 : .=- -~~ .-

pedra, ruma ex cnsà ... ce .... = b 3.:as _


.;, co!T'ur,cação entre as pólos ae concentração da poder tomada - orarnat zara,...,..., - ,: cJt :e .:=:"": ;.., =~ :'=s .:: =~
e de expansão da Cidade - o Comércio e o Palácio - era de trada e exposto a t..'""1 ~e: to as e? ~ ... se -:e: ~ . ., i;: -,;
granoe necess daoe. Ass rn, boa parte dos exíguos recursos cheguerT' as chu as ab r ant"s
''lance ros aa Pro, inc1a foraf'Y'l ap 1cados para melhorar essa Os Muros. q e cerca a,..,.., s:: ~ 3 5-= .:s ~-•::.-.._. . ~ c- :: • 1~

. gação e as cond ções ae percurso das mais movimentadas ao ,ongo aas ,aa;;,
r... a5 e ,ade ras. Quase ser1pre. a realização de uma obra ge· cont1nu1dade e torca
rava transtornos para a popu.ação e danos em outro serviço ja chavaí'1 e aesa a, a•
rea. :ado. corno temos acertuado. O calçamento da ladeira da o muro da casa ele
::>regu ca. por exemolo, passando pelo largo da Conceição, até a
•o~ e oas Pedre ras. Já a a sido feito com t11olos ,mportados da havia re1to 1como era e, n-•
Be.g ca. embora esse rr,atenal fosse considerado de má qual1- terreno a,ar,casse s0bre

aaae Oca çamemo ío1 aesrru ao em 18-7, para dar-se 1n1c10 à


cbca ao granae cano. 1errompeu o tràris t~ Lt-. _
Este cano. sub,nao a Pregu1ca, passa a pelo Sodre ate o o muro a anoc; es!a, a
C:atleca. perto da praça aa P eoade. local que também se trata,a morador nerhuma D

ja a r asear· Desde então. que xou-se o diretor de Obras Publicas


::,ub cas. essa area t da ficou • descalçada I l em terra VI\ a, O pres

"J"' es ado sempre lamoso e de pess1mo trânsito nas ocasiões F'ala de 18,-1_ as r·e9 a
e".., csas. sobretud causando grande ru1na ao novo cano, de- 101 .:onstn.J Ja a.o pe~c-

d as aguas absorv das pela terra nua que lhe fica superior trans1ta,e s E se;i Ja ,
~ .de orava co as mui as aguas que rolam da ladeira da da Prül n-

:. ce cão Para baratear o custo desse recalçamento na fre- menrn d.:, nter o
, es a da Co ce cão. suger u-se ao Governo ·o uso das pedras abandonadas " a~
as e ex stem no argo do Teatro removidas para dar

~ga a a pa mentação e m a metade (las

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da-; ruas cr,,. que rnoravdm 1dé1a que e,e an 1taç,,o ~ pouc.o n CJfJf) ': r ~ ., 1 J )

depois foi estendida a con~truça0 dos pa·,srI0s. 28 ,IJblJr f1 .' r " r rl "
De acordo com o Arl 2º §3' do Regulamento eritao ma .. 866. rr J) .., ~ .... ir r1 r lJ) tr

srder e rJa Pro,ír r ~;. '1 Oci' ./· ,, ..,. ,. .,,.: "~
do, rc,ssa colaboração sena proporcional à quantidade de ~asas r)

e aos recursos f1nance1ros de cada morador O• pobres esta,arn "d1spostoarndr1dafP/~'L"'-7' r ~.,., .,~ . ; · ; - - : - . . , -;--=;,'
isentos. O custo da obra e a cota que se deveria pagar eram cou reg1str~do eM d~r:.,, .. r~rr- a 1 e:c--;.:, ~ . . r, . .., ,, l'.., ·.., ..,.-;;,:-:

estabelecidos pelos engenheiros das Obras Públicas. A quan ludo, que o ca~çar11~r to 1~ ;y..,,e ...;J
• rl ,,,.. ,, C,i:;.,r:•--
.,.1:;- _,:;: .. _, · "l: _:J,,,..-
. . -: .: · -=
f'. ,.._ e;.. ..
~

tia arrecadada era entregue a um dos membros da comissão pípedos. foi 1r>1c a10 err, í 876 e •e:,--- '~,;,; "'" ~~,
designada pelo presidente da Província que providenciaria a re- A área do Carripo ce ':~o Pe';"'-r.; "!e;c.,,:, s :~'"· ::.-:. ~-::-:.:::
alização da obra. Assim foi feito, por exemplo, em 1854, pela constituía.-se nurna e i:uação e,,.;:: a '!e 5., r,;; =-~;:-=::-~::~ ~::: =::-:-
comissão encarregada do calçamento da íngreme ladeira da trada da V·tóna por üma gra,.. de 1-e:: ...essã~ -:: e~- ... ·- & ;-::.f: i::
Praça Procedeu-se ao rateio e distribuição de despesas pelos de fosso, na nova rua do Care.a E-a :;-v ::a:::::: ';:,-õ":, -
proprietários, cobrando-se, pelo "calçamento. orlas e ladri- velar toda a área, de modo a 1ac -a-: ~=5 s:a-;;-•: ::a= -=
lhos dos passeios", quantia que. no prazo de 30 dias. deveria Grande parte da el·!e da Pr,:i-/nc a 1c.:; -a 1,:; :=- ': -=-= _:;-,; :;,
ser entregue a um dos membros da comissão. Este, por sua Cidade, para fixar-se na área :erde1a-;e e sa_::é,e ::a ;;s·--a::a
vez, contrataria o empreiteiro. que contrataria os trabalhado- da Vitória, que se estendia eIT' direção a Graca :: E'::a == ==
res. Em v1s1tas periódicas do engenheiro supervisor. a comissão Barra e ao Bom-Gosto áo Care a ::ã- a-eas ::e '= ;§: s.:-
reportava-lhe o cumprimento ou não, pelos proprietários, das rural. com muitas chácaras e gra m,s i;-opr e:iaces e----a-e2-
obrigações. relacionando os que não haviam pago suas cotas e das de vales difíceis de transpor
espec1f1cando as Justificativas de cada um. No balanço final. a Pensando em benef1c1aros r cos -o-aco--e;; :::55:5 -- _s
Tesouraria Prov1nc1al deveria ressarcir o empreiteiro pelo que bairros, o presidente da Pro'línc1a. José 3o- ·ac e as:e--es ==
havia investido na obra, da parte do Governo. Azambuja. destacou. na Fal a de i8c,8, a ·c.-gente ·e:ess :a:;;-
1lão foram poucos os moradores que procuraram furtar- de se calçar a ladeira do no ce São Pec-::, -a 2"2ca Se;.-::,
se ao pagamento de suas cotas. sob as mais variadas alegações. ele, o trânsito aí era quase sempre i~•erroIT;~ ::e ::-.:y· !:'-r:-'" _-
A título de exemplo, um morador da rua do Tira Capote alegou. dos sulcos feitos pelas enxurraoaÇ !.i;::i'l:2::2 ~=: :;;; e=:
para o não-pagamento, "os danos causados em sua proprieda- a obra ficou a cargo da Santa Casa ce '· se-:c-r:: = ;a~:2~
de pela escavação fe1la para o nivelamento da rua·. Não se sabe responsável por tornar mais sua.e o Dm~ ... n,:o va ..e ,::_,e s2:,:
que danos foram esses. mas é provável que tivessem relação rava a Graça do Campo Santo onae es-a .-a o ce....., :2• ::- : :r e=
com a diferença de nível entre a propriedade e a r ua Tanto na construído. Obras complicadas. riur,a época 2"'1 Gue a 3raca se
cidade baixa como na alta, muitas casas haviam sido construí- comunicava com o arrabalde aa Barra aoe.,as atG es 2 u~a
das abaixo do ní·,el de suas ruas. Para chegar às casas. as pes- estreita ponte
soas desciam degraus escavados no solo.
Quanto ao Campo Grande o pres1ae~:e sc;:,n~e ~e 5ª:
l,!o outro extremo. proprietários pagaram mais do que de- Lourenço, expôs o problema na sua :'a a ae 'S5! ~
viam Uns por livre vontade, outros por problemas gerados pela
mara Mun1c1pal havia feito contrato de a-re a:acão :iara e-
precária administração municipal e prov1nc1al. Tal foi o caso de D.
lamento do Campo. Uma moradora, C0'1ttJao na a e t-a·;=u a
Jac1n1.a da Silva, proprietária da casa nº 1, logo no tnícto da rua do
obra O presidente ·nterve10 e tor'lou a obra ::-rc n: a • ",.cs e
Passo, confluência da freguesia do Car mo. do Taboão e da rua do
pela falta de recursos da Câmara. De\er a pôr u a;, :-r2-
Passo. Foi cobrada pelos f1sca1s de cada uma dessas áreas. pa-
c1píc10 de profundo vale que ali corre en•re as ouas r;:s~tar a~
gando tri>s vezes o imposto sobre seu único imóvel, assim como
laterais, ameaçando cortar a propna rtJa da estraJa .:la tc~a
pagou 1r,pl1c;,da a cota que lhe cabia pelo calçamento da rua "
com perigo para o trânsito publ co ,. ) e estag.,acã, ;:e agya; e
Pensando resolver tão grave e constrangedor problema
tempo das chuvas· Disse haver cor ado cor a coa il SNS .:ã,--
como o do calçamento das ruas. " D1retor1 a de Obras Públicas
do Sr Eduardo Parker, inden1:ando em! contos ae resa pr:-

1D 50 ANOS DE URBANIZAÇ.4.0 1 r r: J '11 1•1 e 1r-tn

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IGREJA E MOSTEIRO DE SÃO BENTO,
LADEIRA PAVIMENTADA COM
PÉS-DE-MOLEQUE E LAMPIÕES A GÁS

LARGO D[ ,AD rrnRO, PARTr


DA ATUAI AVEt@A SETE DL
SETf MBRO, COM LNGHAX/\fb E
CAflllOÇA' COM TONílS

82 50 ANOS OE URBANIZAÇAO 1 l f~ " e 11 p

-~_..._,_,.~-~ -- - -~.- - ...


. ., .

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pr lcíi,l í'11dlgd11e, ,iue ',U,pP11de-r1 "ilÇcO e consentira "no
pE I feito .il11 huir' 1 · e da p, ard qu,. depois de concluída, será
o mais bElo e pNfe1to lo( ai desta C1dadC'". Edward Parker era
o capela0 da comunidade b1·1tán1ca em Salvador. Foi o grande
1mpuls1011ddor do p1 acesso de urbanização nessa área, promo-
vendo inclusive a const, ução do belo templo anglicano em es-
tilo clássico, registrado por Lou1se Helena Guenlher. no estudo
que fez sobre .. The Brí/Jsh Commun,ty o( Bahia, Brazil 1808, 1850"
(1988, p. 1001 Inaugurado em 1853. a St. George·s Church foi.
durante 122 anos, o mais s1gn1ficat1vo marco da presença in-
glesa na Bahia, até ser desl1 uído em 1975 para. prosaicamente.
dar lugar a um prédio de apartamentos.
A obra 101 orçada em 43 contos de réis. no que se incluía a
plantação de árvores em toda a área e a macadamização dos ca-
minhos. Com esses recursos. também se faria o aterro do fosso
que separa o Campo da nova rua do Canela e o "rebaixamento
PALACETE DO l.:OMERC'ANTE
da rua que segue para o banco dos ingleses" . ass im abrindo tnbuir 100 pelos diversos arrematantes e empreiteiros de Obras CEROUI.IRA UMA. NA V TORI.!..
Públicas. mediante uma indenização razoável ao Cofre Provmc,al VLNDO·SE O GRANOE
mais uma comunicação da cidade alta com a área comercial e
SEMICÍRCVL QUE ELE MANDOU
[grifo nosso]. para nelas serem exclusivamente empregados.
portuária. Essa obra era de grande interesse para os ingleses. CONSTRUIR PARA '"I RI --.RNO 0
desembaraçada assim a Fazenda Pública do seu tratamento[ __ .] SUAS C•\RRL AGfNS. F,NS SÉC
cuJa comunidade . em sua quase totalidade, residia na aprazível
demasiadamente pesado. Sob inspeção eles adquirirão os hábi- XIX NO LOCAL l:'IESDE PS::, S,.A
e ,trada da V1tó11a. Tão marcante foi a influência inglesa que a
0
tos do trabalho e as convenientes habilitações. a fim de estarem o MUSfU DE ARTE ti,\ Ar- !A

rua antes mencionada ainda guarda o nome de rua Banco dos prontos e sem dispêndio da Província [._.]_ Além do mais. com o
Ingleses, na qual também se localiza o Clube dos Ingle ses. A conhecimento da língua e livre do perigo de serem extraviados.
mao de obra para a realização desse enorme e árduo trabalho poderá o Governo talvez emprcg.í los nas obras do interior

,e, ,d d rna,s barata possível Com certo entusiasmo. o pres1den-


Embora o barão de São Lourenço tenha sido apontado
·e anunciou que um "ensejo favorável se me apresentou com a
como o melhor presidente que a Bahia teve. é manifesto seu
ai:,reensao de alguns centos de africanos, criminosamente 1m-
po1 tJdos para o País" !na fazer com que trabalhassem nessa preconceito em relação aos negros, escravos ou não. Em suas
falas, demonstra urna verdadeira obsessão pelo "perigo af1·ica
e brd "nJú porque entendesse haver maior economia no traba-
no", talvez decorrente de sua experiência corno chefe de Po
ll"ic, mas -,,rn p,ll a ocupar braços ociosos que se aglomeravam
líc1a na época da ··,·evolta dos rnillês", contra os quais moveu
r :is depó<.1lúS e r>11ch1am os hosp1ta1s. com grande despesa e
implacável persegu1çao Na c1tJção mencionJdJ, parece claro
crr nenb Jrna ut1l1dadP pública"
Er'1 relaç10 a e•·.es .ifnranos "apreendidos·, o presidente que, quando fala na distribu1çiio entre empre1te1ros de obr;is p(1
bl1cas de afnCilnos "ap1·eendidos", "1110d1ante urn,1 111d,,n1,,1çao
c0rl11rJOU a ro1nc1113r, na mesma fala (p. 27)·
,-azoável ao cofre rrov1nc1.il", o visconde t' t,iva. 11,1 v0rd.1dt', .-,,

1 •r1 do• 120 vfr1cc1no• ,l Sl'rr:-m ernp11•9,:HJ □ ~ n,1 obi l cio CrJmpn 1ne1c1alwmdo P~c rélvos flocf,, ~P bp1111111,,q111d1 o qu,, c,1q·11f1cou
1
,r 31-U1 e quP e<;.li10 gud1dados na r OI tall'Zíl vwnlld rcJdO Pedro] p,H"a esses negro•, o 11 .ilia lho 101 ,ddo, ~,,111 q,11t1d,1 p,11 ,1 ,,1,,~ ,,
,. di 21, rj , t•ib,.ídc, j,df,j JJUd,11 .J con•,lr1J(,IO do rl'm1tr'•rro, lo co111 dc:>sco11heL1m1-•nto tut.il d,1 linqua lc1idLL1 pl'lo·, qu,' o·, co
1
r _,1n e, ,t,,J' l.f7 d1c:tr 11lu1d0•, pJrd a1ud.J1 nos 1 ",ldbPll•c1111r·r1tos 1nc.11H L 1vn111 NdP ':IP h,) dl 1 c1dr1111.11 qut:1clll1•~lo11.1 tL1 8,._1il1~1 t'[,lf"ld
,Jc r,11 dad ', na Lclpilul' pnriupdl', ',u.,d<'S do rieco11co1vo, 1'2 t- 1 1lln!1rwc1dd d 11 111díllll-",L.1cnf'', dt 1 1 evoll~1 t' th' Vt'rd.H1P11 dS rebe
Pdld ir1s1itL, co,•, 1Jcvern.Jme1,ta1, 1 1 1 ] um qr,11nk' 111·uneru
110<", e l PVdnlL••.:i dL' pc:11 ldVO',, tOlllll d lhcrn1ad,._1 'greve dl~ 1857",
iJl1) 110' dcpo 1101. do A, ·,E•nal dl· Mctr H1ho, drHH.k ·~.-11ar11 flrJI ,1
,•:, hE-r u•, ho'",p 1ta 1s, e f)nd<· dlqun.-, o11nd.J s1\ Cdw~e:rvd111 í-11 c.lts
rele, 1dd na~ p~191na qu e seguem

li ANIi DI UIIIANI A~O 1 u

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,,re,(JU ri r_)pr d l.l t r' f
das rua~ Pe-_.,_
poucos passos de d1stânc1a '". Mas com graça registra que 'a Cél
o ide,,I das e, ilc', rnorlPr r.,; r 1
de•rinha. como o balcão, é um palco de faceIrice, nela também Na vPrdilde. ,.,,,.,,s rnE O r 'l
o primeiro gesto gracioso de uma senhora bra s1le1ra consiste • 11rr lu;o / r ,j, ' l ' d'l, Í ' r;- -:.- ► -.,-- '.
bano consl 1t 11I;irn
em agitar o leque fechado. Quanto mais vivos e re1terudos os
vulgar/lados, prarn pro1b1t.11os P r J 'ir r 1r rr e ',r ~ -:~ --y.
movimentos, mais amável e condescendente é o acolhimento, laçao. a qual. mesmo dPpoIs do adt"r•-, ,,:,-, t,·,,1,,_, ,:,_- -
sobretudo quando se acompanha de um sorriso afetuoso, hábito
a se de slocar a pé É fácil IrrigIr ar ri JE:, , o i::-:i,a~-, ~•,~e~
que se observa igualmente em Lisboa e Madr1'" . rinalmente, no s
•· m habitantes de Sa, téldr)r so 1,,,:,S<:" ',:; •---·-,
diz como é guardada quando se chega em casa: "a cadeirinha que vIvIa . 05 · - -
da supe rpopula ção e da congestao ,,roa," As <:i:s;;: '=" ~:-"
é despojada de suas cortinas e coberta com uma tela grosseira
eram construídas parede corP parede ao O",;,; d<? , :.:: :· ~~ ':ê
que a preserva da poeira, durante o tempo em que não é utiliza -
Jogava toda espécie de su1eIra O 1nglés ~rorr;;s _ --:: '= ·::~
da Suspendem-na em seguida ao teto do corredor de entrada,
p. 2461. que viveu em Salvador no iníc o do sér - o t f. ,:õ:f', 0 _
bem Junto ao muro, a fim de dar passagem aos barris dos ne-
que "o aspecto das casas ,istas da rua é·- s·-= '= s,_: -:; ~,,,,-:
gros carregadores de água'"
Os coches chegaram ao Brasil com D. João VI e começa-
acontecendo no interior. Os ed1fíc1os na l'Ylé 0r é ::-:; ,<e:_~
ram a trafegar em Salvador após a partida do re i para a Corte, são malconstruídos e dada a qualidade dos ma_;;- as .:"'=- --
no Rio de Janeiro. O historiadorWaldemar Mattos, na introdução =-=== =2 é
ram-se rapidamente [ ... J". No entanto a pocc..2-;:~:

do livro Carruagens para o Imperador, diz que os habitantes de Cidade se expand ia. Em meados do séc1.,lo X X Sc.ic,," =- - ,=-

Salvador ficaram muito admirados ao ver esses coches. '"Debru- va cerca de 150 mil habitantes.
çavam-se nas sacadas dos solares, ávidos de curiosidade ... As
rodas haviam chegado para mudar o ritmo de vida da Cidade.
Aos poucos, foram aparecendo carros de diversos tipos ABASTECENDO DE AGUA
e modelos. Havia os pequenos, como o tílburi , puxado por um
só animal, com duas rodas e apenas dois lugares. ou como a Pode-se dizer que essa populacão lu;a,a ceses:::e-:~:;-
charrete, carro de passeio, de dois lugares e um só cavalo, com mente para ter água em suas casas - água ce re::-e•;, ;; ;
quatro rodas. A vitória - assim chamada em homenagem à rai- de lavar. Embora Salvador fosse, como a1noa e ~-'a : :3~•
nha reinante da Inglaterra -, de quatro lugares e dois animais, excessivamente úm1da, na qual a dens daol:' a r'c,,·e· :, ; -.,
era o mais luxuoso e confortável. Com rodas revestidas de bor- em torno de 90%, às vezes acima. e embora cri ,as ,0--st.r•e,
racha maciça, minimizava o atrito com o calçamento precário provocassem le provoquem] desastrosos e f.'c - e:e:; L ;:'3!:,

ct-R'< ,An~nrs
JR/1 J<..PORíAMJ•) "Jlff
IÁ' J/o úl VltsHO, AlE E
GltAEhTútT• !

50 ANOS OE URBANIZACAO / 1
udo "J J'J 11 Sdmp :1 ,

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-
desabamentos JE ,, e 1 , e,
)(' l pare b, Jl'r, b,lnh,11
e realizar outra! t, ,f< l €'Ir<
'I l e. ' l. pele me I e e dl ' ,.
primeiras décad,E, do e 'L Jlc XX
Salvador fora cc i,,t uida
.. , rum sítio sadio e de bons
ares . com agua abundar ter, maqnífic
e, porto. conforme a Co-
roa portuguesa ordenara a Tomé de So
usa, que amda fe1 mais·
construiu-a num alto e longo promontó ·
no, cercado de água por
todos os lados. Mesmo ao norte onde a t b
' erra usca o contI
nente, havia rios e manancIa1s em abunda' A -
ncIa obtencao de
água, contudo, era dificultada por desaguarem d.
quase to as as
fontes no sopé da grande montanha A situaca"o d
· . era aIn a mais
difícil, segundo Vilhena l 1969). porque nos limites da Cidade
não havia água potável, com exceção da fonte do Gravatá, por
de Engenheiros trabalhava nas obras de contenção da encosta , '• f '1-F J• A .a,
ele qualificada de "imunda e pior de todas .. - provavelmente r: .. -.a,1.c~ ~::__
da montanha. O provedor não gostou de saber que os traba'~a- :::;:1,a,.

por ser a mais procurada. A água das fontes mais próximas, .t.!1.5 ...ft iE.,
dores da obra estavam usando a "boa água da cac1mba da Santa
como a dos Padres e a do Pereira , era salobra.A primeira havia Casa para o amassadouro da obra das muralhas· O diretor da
sido construída pelos Jesuítas na base da ladeira do Taboão. repartição imperial defendeu-se dizendo que sim, ·a água era
e abastecia . além do colégio da Ordem, a área das Portas do extraída na cacimba detrás da casa pertencente à Sarrn Casa
Carmo e embarcações fundeadas no porto. A segunda, estra- de tvl1sericórd1a ... mas que essa água era proveniente de ou;ra
tegicamente localizada no início da ladeira da Misericórdia . em ..vertente que apareceu na casa VIZlnha à da M1sericord1a , e
frente ao porto, abasteceu , como a primeira, navios que chega- que, apesar "do dono dela na sua escritura de compra dizer que
vam a Salvador. existe água nativa na sua casa. a maior porção d'água é condu-
É corrente a versão de que a fonte do Pereira fora con- zida para a cac1mba da Santa Casa da Misericórdia" '

cedida pelo governador geral a um degredado de igual nome Não menos importantes eram as demais fontes. munas

que. com a venda da água, havia obt ido "lucros elevados" Des- fontes. existentes na Cidade. A de Água de Meninos, por exeíl'-

caracterizada pela construção da ladeira da Montanha. que plo, abastecia a região entre os Coqueiros e o Nov1c1ado dos

he cortou o acesso direto à área comercial. a fonte do Pereira Jesuítas. Essa 1nst1tuição abrigava muitos meninos que, cori1
freqüência. 1am banhar-se na pequena enseada que at, exIst,a,
continua a Jorrar água em abundância , perm1t1ndo que pobres
antes de ser aterrada em 1890. Na estreita praia desta ensea·
e margInaIs, habitantes ou freqüentadores da ladeira da Mise-
da também desembarcavam canoas e saveIros carregados àe
r :órdia, ali se banhem e lavem suas roupas, corroborando as
todos os tipos de frutas, peixes, raIzes etc oriundas do Recõn
palavras de Vilhena quando escreveu que essas fontes só ser
cavo, dando origem à maior e mais popular feira que até recen
.ialT' para gasto" No início da ladeira da Montanha, uma placa
temente teve a cidade A fon te era lambem muito procurada por
Je mármore fala de seu va lor histórico.
navios e embar-cações d1ve1·sas que nela 1am se at,astecer de
Ainda hoJe também existe, no pátio interno da Santa
água Muitas vezes, alvarengas e sawIros transportavam n1er
· t rna ou cac1mba, como
asa de Misericórdia, uma gran d e c1s e , .
cador1as cont 1abamleadas. facilmente esl0nd1da,; por entre a
· more que du rante se
1tao se chamava, com bordas de mar ,
vasta vegetJçào que ·,e e,tend1a no lado opoi,to da estr.1da ,ia
d I1 eguesia da Sé Os sul-
,', forneceu água a moradores ª JcquI taIa. e voltavam rom h,1rns cheio•. de ,19u,1
rdas em suas bordas
profundos deixados pelo roçar d as co . Com o obIetIvo dP col,1hor,11 com ,1 salub, 1d,1de publ1cJ
enllou na historia
t, nunham o grande papel que d esem P , n,1 par te que toc.i J h1q1r1H' das Jqua; pot.ivP" , o d1r,'tor do
- ten ha tambern gerado
, 8ah1a. O que não quer dizer que nao lmp,, I 1al Corpo de' 1 nqenhe110<,. t,,n,,nte ,monel Joao Bloem,
d ria da Sünl a Casil e o
nfl tos como o ocorrido entre a P rove 0 ,•ncc1minhou, em 181,8, u111 pI ograrna de trabalho, com a ne e
·· . uando O lmpe11al Co,po
vcr·10 da Província em fins de 1848 · q

10 ANOS Dl UHANllAÇÀO 1 .
,

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t LA-IA} ~t,

~ - -- ---- -- - -

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sána cautela ,r.:i r Jl 1
1 U 01 r(1

melindre dos r1E r ~t l t (d l\'irc1pd 14 ,


está su1e1to tudo e J(' 11, lf'ltl ,r i->s ,-lubl,
dizendo que o .:st~ fo prE ~E ,t >r l yU •,t.Jc él< fc 1te• públ cac
t tast1moso. Pela sua md constr J~"º· há nela, infiltr icoec, de
aguas impuras. um efetivo mdu cheiro. pelos c scos pod.re, que
se observam nelas. com a falta de tanque em suas frentes, que
sirvam de receber as águas· A seguir. mostra a importância da
construção de tais tanques, destacando três pontos, em primei-
ro lugar. eles beneficiariam os "pobres escravos que de madru-
gada, e na alta noite são obrigados a buscar água e umedecem
os pés e roupa, de maneira que quando se deitam dormem na
umidade, e assim estragam sua saúde": em segundo, serram
importantes depósitos de água. dos quais. nas ocasiões de in-
cêndios. "facilmente se extra1r1am água, o que não acontece nas
bicas··: em terceiro, serv1r1am de "bebedouros aos animais ne-
cessitados·. E. acrescentamos, de lava-pés para carregadores.
AGUADEIROS E.M FILA PARA ENCHER SEUS
livres ou não, como se vê em foto na página anterior. BARRIS NO CHAFARIZ DO LARGO D015 DE
Segundo o plano do diretor, deveria haver uma "perfei- JULHO, FINS SÉC XIX

ta v1g1lânc1a policial", procedendo-se a "um exame rigoroso nas


vertentes, condutos e esgotos de cada uma das fontes· Em
anexo a esse documento estão relacionadas 27 fontes públicas,
especificando-se o lugar em que ficavam e a freguesia a que
pertenciam Doze estavam na cidade baixa e 15 na cidade alta.
Foram organizadas em seis grupos, cada um devendo ser 1nspe-
c1onado por um guarda, visto que o regulamento vigente alocava
se,s guardas para esse serviço. 3'
Agua para beber. os escravos leriam de 1r buscar na fonte
1e São Pedro ou na fonte do Queimado, fora dos limites da Cida-
ue Br•gas e mortes eram constantes na disputa do precioso lí-
~o,•do. Vilhena (1969] disse ser "inenarrável" a desordem gerada
V falta d'água Nas fontes, alguns escravos "quebravam-se
rmente as cabeças e braços". A v1olênc1a se agravava com
,olêrc1a dos insubordinados soldados. que obrigavam os
- "º,; a levar água para onde bem quisessem Se não obede- TUMUI TO [N IRE AGUADEIRO,

r'l. era infalível o quebrar-lhes as vasilhas e dar-lhes mui NUMA FONTE PÚBLICA

1• ada. quebrando a cabeça a muitos pretos que ficavam


Joc ou morriam.
Era vergonhosa a apropriação 1ndébita que "homens de
sZ1am de fontes públicas, desviando nascentes para o
J fo suas casas. Esses. como os que tinham poço no qu1n
' 1 arr da água um negócio rendoso, pois muitos moradorr,,s

6D ANOS DE URBANIZAÇÃO \
'º'

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prr:fP.rtarn br ber rJ("',d i,g d r, - ,. ·m·; 1.
put·Js ~ anqrer la'"' "ld':. '0r '6:, p J ...., • ~ ..... :. -;r-: -
aguadeiros, E' botarJon:-; r1P .-J1 _J 1~ ,.._ryr rJ- ~ -'J . . Q,,.. •.. s ,- . .;i

farizes espci hados pela ridari dr,~_, ~ jr J .,"'r,~_ '"B: . . ~E~':._-,


panh1a do Oue1(l')ado. Er,rt ,arr dJ t"_ 0., .J ,.-3•~0 t....,n 'S -: .. t~r,:

madeira, de até 80 1 ros, pn,rd .;ir• rr;_ ,,,., ,~b-, '!r ,·, L.c•
e saíam a vender. J...s r-11; tier€-s .. sa,:.,;..-..., gr~--! --; ~.. :•~:i ~e:..~-,-
e latas, transportados na i:::;it,e,;a pro E'.J d;; pr;• ,rr3 ri:~e:; .~
pano enroscado. Saíam •odos pe as - Jiis ~a C -::a'.!<; :''=·,;:e-~.
o precioso líquido nas casas de farr a e esr,e,: a ··-=-·'= ·:, :.
mérc10 e nos mercados, ond'Z: a carêr e~ s-rc G·-3: 'C, ~-e: ... -:.~-~-
va de acordo com as estações de cht... ,a da ... 0') r.0-- s ~ ~-:s "':_
períodos de seca, registra o L11ro das ág as '2G':3 p -
Nas casas e nos esc•;tónos. a ii:Jua era a·~=E· ::a,;-
tanques, talhas, potes e mor r,gas ae ca··c coz ::o C:nst•

O' MEMNOS.
ram-se chafarizes, cisternas e cac moas pc· 'J'.:'JS ".'s
entanto, à medida que a população C''=SC a a ª] aa
s minadouros descobertos pela população eram balizados
• Tornou-se urgente prover a C,oace CCC'l , - ss =-= -= º·==·
conforme o uso, o lugar onde se encontravam, ou suas
características. A fonte de Água Brusca. por exemplo, expressa a tec1mento constante, sobrett..oo q~a11ao se cc...,c"o ., :,': =
força com que jorravam suas águas; também assim se chamou a propagação da famigeraáa peste oe 1850, q1..e o za-õ-a g-=r:,;
ladeira onde ela se situava. A fonte de Água de Meninos. segundo a parte da população. esta :a I gada as ;)reca- as e ,.,:: :ê':s _,, !-
tradição, tem seu nome ligado aos meninos do Noviciado dos 1esu gieoe da Capita ..
ítas, os quais se banhavam nas águas mansas da pequena enseada
que ali ex1st1a antes de ser aterrada nos anos 1890 A fonte do Xixi,
prót.1ma dos trap1ches do mesmo nome . eslava localizada num beco A Companhia do Quei mado.:::,...., '8:? G err: :: ='-::·
que alraía muitos daqueles que precisavam satisfazer suas neces vínc1a alocou no Orçarnerito · 50 cor.:os ce ·e s na'a esLJ:;c :
sidades f1s1ológicas. A fonte da Matança eslava perto do matadouro
implantação de um sen. ço ce ca a ~acão
de gado, no Retiro. O nome da fonte do beco da Água de Gasto In ce ag ... a para Sõ
vador Esse 1nceot vo resu tou na c· acã
d1cava que ela só servia para banhos e limpeza em geral. A fonte oa Com:'.'an 3 -
Nova deu nome íl ladeJfa e ao estádio de futebol que ali se construiu Queimado peta Let Previne al 11 0 _5, je 1
ae ...,, e e :5:
no Governo Otáv10 Mangabei ra em meados do século XX. A fonte do
cuia l1nal1dade era d stributr ág d oo·a ela :::,:-::-u.acao c:••a ""
Tororó, no distrito do mesmo nome, ladeira abt11xo. próxima ao 0 1
de chafarizes, casas de ena a d agua e ::,e"as aa a • ;,~2
que. teve suas águas bornbr,adas erf'\ projeto construído e rea!lzadc. 9 3
por Anlôn10 de Lacerda, quando provedor da Santa Casa de M1se- d'água era urna peça móvel Qlle cor, ro a:a a q1..ar,• nade '.:'€"'1
r córdra. com o firr especial de abastecer a Casa do Recolh1rne1to,
da pelos chafar zes,.
no topo da ·.,egund,J r.umeada da montanha A fonte do Oue1mêldu, A pedra de ,Jncame11t0 da b·a da C
c-,1tuad;-1 n.J lazendü do rne~mo nome, deu 011ger. à t:ompanh11 que d mado fo1 assentada 10
partir rJa d(,, dda df• 1850 c:.c encarrNJOU de dbastecer toda v C1dc1de a oe de7e'T'bro de ,5:? a ai r'o'
Acred1!ov:-i ·,e t<Jrnbérn que a~ .'Jg u.J=, de alguma~, lontt·"' t1rihar'! ,\
ferida para tné'ugurdçoes e soe" .:iades ~e•
rJod, · de c,JrcJr. como u de:: '::,;.,mta l utia. co11l,1derada 'll1la1yo ,cl par da Imaculada Corice,cao p aroe ra d ln->per Tra•a a ,e J.
1 0
doern d' dr....J othoc, A fonte do Gc1hnel, no lílrqo do Ac1\ll1, (1Ul depo1c; empresa privada, cu,o cortr t0 Õ"' o G e"'T'o I ass aa 'é't e
rJ 1 11,f11•p,:•ndr·nc a d;:i Bah1.J p,l' ·,ou u charm::ir ·,e I.Hgo 2 de lulh1,
portugue<, Fr nc,sco Artú,1 Pu·e ra d R e a e p~· Be - ,.
r:•r,1 r1,1,1tc µmcuradd porqur· ,. d ,11a que ·.,i,1i;âqud'3 curw 1111 L e·1
Ferre1r a P 'Ts em 1., de a
c,1 ~ ,..,u1ld5 fon1ac, li,mur d1n u nome d,~ JC·UG propru•tur 10•,, 1 1J1T10 ,i ri rn Je
1nclu1do o 1 onopc,l O a
do Dr Car ✓.illio, d do Cúr1111rt Pcdre1rc1 e .1 lont~• doe,, Píldte•., 0í'1p;;,n
Cão de d1re1t ~ c1,far,dc qa 1
ü tod.is .is t-ir,i:, 'lt- a

101 50 ANOS ~t URBANIZAÇAO 1

.... ....,..~_.._._._,.... _______ _.,.._.

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de <,u JIC'l ':lc it;,<t r, le "• J
L Vl!,1./el - p-e \J')r r cl r d e r l - o , - -1,
ra de rnerc.adon,~s lí l. u r il z Jdét r .., j T r E ~ f rr'j r-- a:
também de pE,a~ d_ cliaf ... ze- E d fJ ze·_ • •e ,; P ' •
ta de 1870. a A,em;irha ,.Jrge 'Jnl) e- 'T P•' 1 " a ' • a .-rr;
no fornec,mento do carvao-de "edn Tao ê>;0 dese> bar ,-:;-
os chafarizes, as obras 1ora'T' ri1c1ar:la r-, <;:ar1, ~ aba-;te-
c1mento peta Compant>,a do O•Jc1mad'l a •.,r arã' r d a 7 1c;
Janeiro de 1857. E.a vendia água a port, arão ª" r-c-:.:, J~ 2 -~ s
[uma pequena moeda de cobre por barr () :'12'2r z -en-e -
de Jesus. que foi construido para .iso oa Púí.., acãc e CJ d :2-~

Uzação foi estendida ao com,en o de São F,anc "'-º ner":~. "


D. Pedro li. quando de sua v•s,•a a Sa ,a1or 1- :,9. "'>9 s p. -
sua importância e beleza. O r1ananc a. da comca a "í3 'l r.
do Queimado. uma das nascentes oo r o C,- - ~g ce. "" s
construiu uma barragem que produz a e lO''lO :;e 1 O 1 « ~~
AGUADE1RA. NUM
CHAFARIZ PU8l1CO riam pagar apenas a taxa de 1% relativa a expediente [serviços água por dia, distribuídos por 22 c a'ar =es. 2 - .ersos ~n• .s
alfandegários!. Logo após a assinatura do contrato, Pereira da da Cidade.
Rocha foi à Europa realizar a comp ra dos pr1me1ros chafames. De acordo com os teríllOS 00 ccn:ra O a Co~:-an :i 1_.
Nos termos do cont rato, deveriam se r construídos in1c1almente ria fornecer água pela terca par:e oo pre~c 30 ·ea•• Sã 0
J'.:à~
12 chafarizes. cinco na cidade baixa, entre Água de Meninos e Alfândega, a navios de guerra e ao .:.rsena Ja 'arr a a~-~,
Conceição da Praia, e sete na cidade alta. entre a Cruz do Pas- ma forma, ao Recoth1mento oa ser e: ra a. a0 ~:-s~ -~ ·a'.:
coal e o largo da Piedade. ndade. ao convento oe São Franc se
Mas o desembarque dos chafames e dos demais equi- ao Matadouro Público e às cinsões
pamentos foi dificultado pelo excesso de zelo do inspetor da Al- tônio Na cidade bal\a, onde a corre'"\, a Je
fândega. Este ex1g1a pagamento de impostos. embora o diretor lo grande ela instalou, er1 '85
da companhia, Paulo Pereira Monteiro, ex1b1sse documento que
dava à empresa a isenção de d1re1tos alfandegários. Com fre-
qüência Monteiro leve de recorrer ao presidente da Província, água depositada no gra'1de ese1Vat
como aconteceu no dia 3 de novembrn de 1853. quando o navio
francês Les Am1s chegou ao porto com a mercado1·1a que Pei-e1-
ra da Rocha fora comprar na Europa. A 1·elaçâo entre o inspetor
e o diretor ficou mais complicada quando, Junto a chafanzes, estivesse muito a t,e1'
tubos etc., vieram vários candelabros que, segundo o diretor, face ao a,uttado n
deveriam compor os chafarizes, confm·me planta apresentada os1dade e ,,ol1d,,
ao Governo Não se convenceu o inspetor, e o diretor queixou se
ao presidente "o nobre Inspetor da Allândega recusa dPl\3 los ao p1e,;1dt>nte da P \li'

sa11 por Julg,i los de mero luxo Imploro a V.Exº que d,; suas d,, <,er t,,-.on1v1ru ,
01·dl ns e fica a cargo da Altândeg,1 venl1La 1 se porvenlura sao seL s a, ,on1sta ·
extr av1ildos do fim po1 que v1e1 arn

, ,o 50 ANOS OE URBANIZAÇAn 1 r,

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r" xIst1rar l. entr, rJ dd a e eripre: a< Que rea ,ava:"1 obras


Públ cas. •·irnecIrr -2rito d-~ ar J 3 e gds• l1 rnr,ecza, ca\ÇarT'erto,
p
transportes, e em Odas as co!T'binacões

r,oss,v~·,, ,

Para comp l eme nt ar a água dos 22 chafarozes. Insu cIen-


les para o consumo da Cidade . e porque poucas casas pod,an,
se dar ao luxo de ter penas d'água . a Compann1a do Queimado
.
organizou . .b uIçao
a d1stn - do líquido em diversas casas, con~e-

c1das como casas d e ven der água . Por terem sido instaladas
.
ao termino d a Gue rra do Paraguai. foram designadas com os
nomes de l ocaIs on de houvera vitórias do exército bras1le1ro
- Curuzu. Huma1tá etc. Achavam-se localizadas em ruas mo-
vimentadas. como as do Pão-de-ló, do B,spo, das Vassouras.
a Baixa dos Sapateiros, a Calçada do Bonfim. a Madragoa e a
travessa das Mercês A descrição é feita pelo mesmo contem-
porâneo !anônimo) que prestou depoimento ao Jornal A Tarde em
16 de março de 1933. Segundo ele, essas casas tinham apenas
uma parla, que dava entrada a minúsculo espaço, no qual havia
uma torneira instalada pela companhia. A quantidade de água
correspondia ao valor da moeda de cobre 110, 20. 40 e 60 re1sl
que era depositada

em uma caixa de madeira, pintada de verde. fechada a cadeado


l.lMA .IA~ MUITAS CASAS DE
VE"lü[R ÁGUA EM CjALVADOR colocada sobre o torniquete que regulava a entrada e saioa do
cipalmente nos períodos de seca. como a de 1891-92, cuia ação comprador. Todas as manhãs as caixas eram subst,tu das PM
destrutiva foi comparada à da seca que havia devastado a Pro outras e levadas por ganhadores afr,ca nos para o escr-tono da
víncIa dez anos antes. Queixas contra a companhia partiram de Companhia do Queimado, onde eram abertas. conta neto se o d
nheiro. A Companhia trocava o cobre pelo papel, vendendo uo,
todos os lados. Em depoimento ao Jornal A Tarde, em 16 de mar-
saco de cem mil reis !Rs 100$0001 de cob1 e por 90$000 de papel
ço de 1933, um contemporâneo disse que a companh ia dava a 1. 1
"gratificação de um mil réis a cada pobre cego que fosse até lá,
informar o ponto onde havia água vazando. Assim. qualquer pes-
Já transparecia na lransaçdo a desvalorização das moe·
soa que, pela manhã, encontrasse água vazando, procurava um
das, freq(ientementc fals1l1cadas.
cego, dos que tirava esmola, para levar a noticia à Companhia" A despeito dos esforços da co111panh1a, o .ib<1stec1mer
As d1!1culdades continuaram, e em Junho de 1858 o d1re lo se tornava m<1Is def1c1entc com o cr e<;cI111enlo popul,1c1011al,
tor da companhia, Paulo Pereira Monteiro, voltou a queixar se razao por que ela I11IcI.i1 ,1 .i construpo do rese, vJlorio da Cruz
ao presidente da Província, dessa vez por não poder assentar do Co<,rnc, co ns1dp1,1clo u prnneIro dr .ilv;,11a11<1 lt'1lo no B1 a,1l
no largo do Ac1ól1 o último cha fariz contratado. po, cau·,a do Por outI0 l,,do. a<, co11d1çoes rmu,o h1q1t:,, td\, d,, ,1qu.1 fo,nec da
entulho" que ali se achava, 1mped1ndo a colocaçao Ele nüo se pPl,1 coI11p,111h1.i p1 ovoc.iv.im co11,,t,111tes prote<toc, d.1 poplll,
conformava com a morosidade com que se está lau•11do íl re ç.io A qup ,t,10 101 lrv,1d,1 .i A~<;P1nlilL•1,1 Prov1nc1,1l. 011d,, qerol.
moção" do tal entulho ' Os dtritos entre as diferentes comp,1 lonq,1 d1sr w.s.it> 1 m d,•,n11,•11uc1 t1 ,,.,o, o p1e<,icknlC' d.i P1ov1n
I
nh1as e empre1le1ros que p,eslavain ',erv1ço público foram u111c1 ri.i nor11 0ou uIn.i rnInI,;,,. qu , dPV<'I '" 1 ,1 , ,lu,i,c>o geo
10 1 111 01111 1 1
con~tante em todo o período No caso. o cle,mnto 111l,iqo111co lótJ1< .i, liulroqr,1l1r,1 r d,, h1111c11L• d,1', veI l1'11lt><, qu 1l11nentavJ1T'
era a EM presa de Asseio e Limpeza da C1dc1tle, rn,1s ~l r 1to, se11I "' , ~fll 1• <,,1•,, 1, , 1 d,1• prnp ,1,, íL'fll l'~, ,, , dn i1 <li .i éHJllcl no
II 1
112 50 ANOS DE URBANIZAÇAO j
"

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reservat órios a f m de verificar se poderia d .b
ser 1s•r u,dd como def1c1enc1a -:ont1ni 1ou de tal fo i ma que em 1933 a Se-;ão de Água
água potável. Se a água não atendesse às d. -
_ . con 1çoes de h191ene, do Município resolveu restabelece r as Ci!Sas de vender água, se
a com1ssao deveria informar se havia f• lt .
ros, em caso negativo, gundo informo o jornal A Tarde no dia 16 de março daquele ano.
lena de explicar a razão de não havê los e f
in armar os proces-
sos de purificação que deveriam ser empregados
Não sabemos se houve parecer da comissão. Sabemos LI MPANDO A CIDADE
apenas que esta declarou faltarem-lhe certos instrumentos
para realizar o trabalho, os quais, .. não havendo aqui, foi mister Não menor do que o da falta d'água era o drama relativo
mandar vir do Rio de Janeiro", conforme divulgou O Diário da ao serviço público de coleta e destinação final do lixo e de toda
Bahia de 28 de dezembro de 1864. espécie de suieiras acumu ladas nas vias e espaços públ icos e
A presidência da Província renovou o contrato com a nas res1dênc1as. Pode-se dizer que, até meados do século XX, o
Companhia do Queimado em 1870, obrigando-a a reduzir O pre- esgotamento sanitário em Salvador foi muito precário. A maio-
ço da água vendida em barris a 1O réis e a constr uir casas de na dos moradores Jogava lixo doméstico e "águas servidas" nas
banho públicas. Nada indica hajam sido construídas. A compa- ruas ou nos quintais. Quando não, os excrementos eram en
nhia também não forneceu , conforme ordenara a pres1dênc1a, rolados e atirados no ar, indo bater em paredes, telhados ou
"água suficiente para os m1ctór ios existentes em diversos pon- quintais de vizinhos de menos sorte. Eram os inesperados e
tos desta Cidade, de modo a tê-los sempre limpos e inodoros". sempre temidos "pombos .. , até recentemente conhecidos nas
Em resposta a essa ordem, afirmou que áreas mais pobres. O mal era mu ito antigo, e cresceu com o
aumento da população, a crônica defic1ênc1a de educação e do
gostaria muito. mas esses mictónos não são aqui utilizados ensino púl::lico e a carência de serviços urbanos básicos.
conforme o fim para que foram destinados e. pelo contrário, se Existiam posturas murnc1pa1s que obrigavam os morado-
tornam, pelo abuso que deles se faz, verdadeiros focos de in-
res a limpar suas ruas e a despejar l ixo, excrementos e águas
fecção, que não podem ser lavados fácil e proficuamente, não
tendo eles, de mais a mais, o esgotamento apropriado. Devem servidas de suas casas no mar ou em locais preestabelecidos.
ser constantemente v191ados durante o dia e fechados à noite." Esse serviço era feito por escravos, que carregavam os dejetos
e as águas de seus senhores em pesadas barricas. Em seguida,
Todas as medidas tomadas pelo Estado para manter a Ci- retornavam com o barril vazio, pronto para receber nova carga.
dade limpa foram inócuas. O que se observa, com a turbulência Quem não tinha escravos, podia alugar o serviço de ganhadores.

que se seguiu à passagem para a Repú blica, é a formação de No livro Arruar, h1stóna pitoresca do Recife antigo, o es-

uma seqüência de comissões que nada decidiram , mesmo por- cri tor Mário Sete 119481 con ta que esses barris eram chama-

que não tinham poder, nem condições, para tal. A situação finan- dos de tigres - o dicionário Caldas Aulete confirma -, sendo

ceira da Bahia, por ou tro lado, nunca havia sido tão crítica, mas o l ermo, por extensão, aplicado aos negros que os carregavam,

a da companhia parecia ser pior. O fato é que a Companhia do possivelmente, diz ele, em alusão à coragem de transportarem

Queimado fo 1encampada pelo Mun icípio, por escritura de 30 de cargas Ião repugnantes. Suponho que se tenha chamado o barril

setembro de 1905, de acordo com decisão de seus 146 aciorns- de tigre pela relativa semel hança com o corpo da fera as1át1ca

. as e resolução do Consel ho Mun1c 1pal. A indenização foi fixa da Os aros de fe r ro escuro, contornando transve rsalmente o rec1

em 2 mil e 700 contos de réis. Nessa ocasião ainda funcionavam p1ente de madeira amarelada, de alto a baixo, faziam no lembrar

º' 22 chafarizes e as sete casas de vender água. Gradualmente, essa fera, com seus pêlos ama relados e listas marrom escu,·as,
quase pretas. Como em Recife, em Sa lvador havia os t191 es com
o Município foi desa tivando tan to estas como aqueles.
A despeito dos esforços para min1m1zar o problema, chapéu e os l 1gres sem chapéu, ou seJa, b.:irncas 1a111pad,1s ou

como a construcão da barragem de Mata Escura, represando o não . Esses temidos 1191 es subs1st1rarn até a Abolição

no Camurug ipe,· Salvador varou as primeiras décadas do_ século Mesmo depois, não !01 am raros os que conllnuar.:im u

XX padecendo de grave problema de abastecimento de agua . A fuzer o serviço par.:i ganho; muitos ji'i o la:1am antes do 13 de

5 0 ANOS DE UR BANIZAÇ AO I e H11 el1 .J h l 113

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11', 50 ANOS DE URBANIUÇAO 1

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rnaI0, ak 1der>ac 11· r udo 1 , de ntro d,, ed ~e. ~ IE Nu 'ur, ui d, B.1h1, cJ,, }'1 e, 1tir11 J, e ,,.,r
1
/ rr r ~1 1,
,ão ex1Sl.3IT' q, ,ais µ, " E Cl
var,rr fo5,,ôs. Quando ú erv•ç, e dd;p vr.111.1 dí J' ~ e }1111 , e 1111 1 e;!J• ,., .i,11 1fJ d qu , '
era regular, .J p,,:i~ x dia< n-iensal COIT) frequenc1a
• não de<;1 '1 1c1r l Muni, 1p,1I 11' d1cl c1 r 111 poriludl, :w<, r JfJ rj,;
1ada, a bamca ~nvelhecida e ePf aquecida pelo uso, quebrava em bu1cficio dd _, ~údc p11b11( c1
se, e seu conteudo repugnante espalh ava- se pelo chão, n,10 c,em
antes emporcalhar o negro que a ca rregava Por onde esses ne • NPnhuma lE",. ~or.1 poder on• ,,v,ir urnin1 a fJ' rr c.:g11,
gros passavam
. após O acidente , O s l '_anseunles fugiam, encos- C'',lt1gnada~ U!.t qUlflldl', , pr1l10~ rlí.! uw, ra• , pr•nJ ,J
tavam -se as paredes, cobriam nar 12 com l enço, procurando de ou quatru :l1,1c._, de pnsc10
O
• O despejo imundo da· Ccl"ii'l~, será lr.varfo rlO mc1r n1 ,,,•. err
todos os modos afastar-se dos in felizes trabalhadores.
vasilhas caber tus: os que forern tncontr :1do f;uendo • 31 t1r
Entende-se que O pi oblema de l.impeza tenha aumenta pe10 nas ruas ou oulros lugare5 que nao c-,eJam O'> rJroc:.1rJnêJrfoC'
do com a abol1cão da escravidão e . 1ncorrerão uns e outros na pena de 2 1f1c;, ou 24 hord' dr: pr,
· O crescimento da população
são. Ficam os senhores responsáveis por seu~ e';;;cra,o!.i
- este, em parte, decorrente do êxodo rural provaca do por se-
• Todo aquele que lançar de sua casa para a'.t rua'"" ág1...o::. d,J
cas periódicas e sempre inclementes. Nas instItu1ções públicas serviço dela, ou quaisquer corpos que possam enxovalhar os
a situação não era melhor. Nos hosp1ta 1s, por exemplo, a preca- viandantes. será multado em ação do dano â parle ofendida
riedade das condições era constrangedora. Só os doentes muito ■ Todos são obrigados a ter sempre varndas a!;. testadas de
suas casas, e a frente dos prédios rústicos roçada e limpa de
debilitados usavam urinóis, que eram acumulados na enferma-
ramagens que impeçam o trânsito público; e os moradores de
ria, entre os doentes, e depois despejados em barris a serem largos e praças até 40 palmos em fre nte de suas propnedades
transportados pelos tigres. Os pacientes que podiam andar iam para o centro dos mesmos largos e praças: pena de 1O réis ')tJ
satisfazer suas necessidades numa estreita fa ixa de terra, entre cinco dias de prisão e de ser feita a limpeza pela Câmara as
custas dos infratores
a parede externa do hospita l e o muro que o cercava. A Fala de
• Ficam proibidos os canos que despeJem imundices sobre as
1838, por exemplo, informa que o hospital Regimenta l pedi ra a ruas: pena de 1O réis ou cinco dias de prisão pela primeira
construção de uma cloaca e "mais alguém que se ocupe no des- vez, e de 20 réis e 8 dias de prisão, se depois de marcado um

pejo dos urinóis, para evitar o mal de conservarem -se nas en- prazo pelo respectivo subdelegado para o seu desmancho o
não fizer. Os desaguadouros que com facilidade possam ser
fermar1as, entre doentes, materiais excrementícias" Não havia
encaminhados para o mar e os de águas pluviais nas ruas, em
tigres em número suficiente. que não houverem canos reais, serão tolerados, contanto que
O Governo provincial tinha consciência da dimensão do passem por baixo dos passeios, nas ruas em que houverefT1
proprietários ou inquilinos das casas, porém se não os con-
problema. Tanto assim que em 1826 obteve do Imperador per-
servarem limpos serão multados em 8 réis ou sofrerão 4 dias
missão para constituir uma comissão com o objetivo de traçar
de prisão
o plano para a abertura de um canal, ligando a Jequita1a à pe
quena enseada de ltapagIpe. Um dos objetivos desse plano era
O Plano de Asseio da Cidade de 1864 determinava a re-
minimizar os males produzidos pelas águas fluviais estagnadas
moção, pai-a pontos distantes. do "lixo e matérias pútridas" a
como resultado da represa formada com a acumulação do lixo
serem descartados. O presidente da Província registrou, na Fala
Também a Câmara Mun1c1pal sabia que o problema de lim-
desse ano lp. 15-161, "o aspecto assaz desagradável e repuls1•
peza da Cidade era grave. Havia publicado várias posturas proi-
vo" do espaço público 'As praças, ruas, praias, e tudo que se
bindo os habitantes de Jogar nas ruas qualquer tipo de sujeira . A
refere ao exterior das habitações constituem perenes causas de
dificuldade dos moradores em cumpri-las, ou mesmo em delas
insalubridade ... No interior das casas as condições de h191ene
•ornar conhecimento, aliada à def1c1ente fiscalização, fez com que
não eram melhores. Foi animadora a proposta de cooperação
em pouco tempo fossem ignoradas Penodicamenle, eram repu-
hoje diríamos parceria que o Governo provincial tez ao mu
blicadas em orna Is -- embora sem grande resultado, o que não
1 nic1pal, considerando a escassez dos recu rsos arrecadados ~s
sena de admirar, tendo em vista que mais de 90% da população
sim se expressou o presidente da Prov1nc1a Entendi ser meu
era composta de analfabetos que nao tinham acesso aos órgãos
dever coad1uvar o serviço de limpeza. para a recuperaçao das
de imprensa, destinados a uma d1m1nuta elite letrada.

50 4NOS DE. URBANIZAÇo\O 1 1'5

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ruas mais necessitadas e o asseio, limpeza e embelezamento carroceiro foi tirar, .. da montanra erre frv •e ao be:.o dú P ta
do largo do Terreiro e praças do Teatro e Piedade.· um esterqu1lín10 ant1quíss1mo· que a exs a
A Câmara Municipal fazia contrato com determin ado 1n Ao relatar o ocorrido ao chefe de Po 'r a. e. empresár
d1viduo, que constituía a sua "Empresa de Asseio e Lim peza da cri l1cou a inação do subdelegado e do f sca da freg es a co-
Cidade" e provia a f1scal1zação do serviço prestado. A Assem- mentando que a grande quantidade de esterco e xo a acum ..
bléia Provincial alocava recursos para tal fim no Orcamento da lada "só aumentará, se o subdelegado e o flsca não e ere
Província. O empresário assumia toda a responsab;l1d ade pela para que cesse". O subdelegado não gostou do comen á e
li mpeza da Cidade, com suas ca rroças puxadas a mulas, e con- disse que, na pessoa dele, o empresário estava ofendendo a Cã-
tratava carroceiros e se rventes. Eram muitos os problemas qu e m~ra Municipal. Sentindo a espada sobre a cabeça. o e presa-
enfrentava, os quais poderiam ser resumidos na falta de coope- ria desculpou -se, apesa r de considerar "não ter empregado um
ração da popu lação, que continuava a emporcalhar os espaços termo menos atencioso". E di sse: "apresso-me a dec arar que
públicos, e na omissão da s autoridades !subdelegados e fi sca is]. a minha intenção foi no interesse do Público e de nen uma ar-
que "nada faziam para que as posturas fossem obedecidas· e, ma ofender a Corporação Municipal". Varria as ruas conforme
mais grave. tendiam a pressi onar o empresário da limpeza, em o contrato, "não sendo culpa da empresa se, logo que o a
vez de com ele colaborar no processo que se tentava deslancha r os varredores as costas, novo lixo ali se lança-. sem aque as
de criação de novos hábitos e conscientização da população. autoridades o impedirem. 39
Além disso, os empresários tinham de lidar com pro- Outro problema surgia quando os carroceinos atendam a
blemas envolvendo seus empregados e an1ma1s. Trabalhando chamados de particulares e jogavam o lixo em lugares não ·nd -
incessantemente, ao longo de rua s estreitas e tortuo sas, de cados previamente, como aconteceu no Tororó. onde "um nd -
ladeiras íngremes e escorregadias, e alimentados de forma duo por nome e alcunha João do Tonoró" retirou barno para cons-
precária, tanto homens como animais tinham vida muito curta. truir sua casa e ped iu aos carroceiros que despejassem o l o
Com freqüência, as mulas morriam em serviço. Os moradores buraco aberto. "dando -l hes uma pequena compensacão
que tinham suas próprias viaturas simplesmente atiravam os Pior foi quando um carroceino jogou atrás da noça dopo-
animais mortos nos esterquilínios !amontoad os de esterco pro - deroso coronel Antônio Pedroso de Albuquerque oh o que ha
venientes da varredura dos excrementos dos animais] espalh a- coletado. O subdelegado da freguesia de Santo Antôn o o de
dos pela Cidade . Mas para o empresário do asseio não era tão morava o coronel, se enfureceu e deu ordens para o empresa

simples assim. "remover sem demora" o li o ali depos tado O empresá


Antes de tudo, era imprescindível que a mula houvesse justifi cou ao chefe de Policia, dizendo que "os lugares des
sido avaliada. para que o empresário pudesse comunicar a per- dos para depósito das varreduras das ruas desta C1dad
da, a fim de ser ressarcido . Assim legalizada a situação, quan
do O
animal morria o empresário imediatamente comuni cava o
ocorrido ao chefe de Polícia , como fez José Antônio da Costa em
maio de 1870: "a gora mesmo acaba de morrer uma da s mulas
Já avaliadas". O enterro do animal era postergado até que o em
presáno recebesse ordens do chefe de Polícia para reali zá lo,
pois antes a morte deveria ser comprovada Era preciso descar
tara hipótese de que o animal houve sse sido vendido .
Eram freqüentes os desentendimentos entre o encarre
gado da limpeza e os subdelegados dos d1 trito da d1ver
freguesias Estes, ciosos de sua autoridade uperlor t nd
humilhar os carroceiro • tratá lo gro Ir ment
a repetir serviço Ja real, ad F

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Polícia, para que não fosse multado, ou tivesse o seu contrato que ele o faria por 80 réis cada cesto". O empresário da limpeza

cancelado. Ainda na década de 1870. o descarte do lixo deveria da Cidade queixou se ao português. dizendo lhe que o estava

ser prov1denc1ado pelos moradores No entanto, à medida que a prejudicando, mas este retrucou que "'os carros eram seus e

escravidão to, afrouxando seus grilhões, os moradores que assim aquele serviço era todo particular"' -,

podiam foram conquistando a colaboração de carroceiros, me A falta de alternativa para a popula~ao, numa cidade que

diante um pequeno ··agrado", dado às escondidas, porque sabiam se expandia desordenadamente. sem nenhum plane1amento.

que, de acordo com os termos do contrato, o empresário deveria causava dese spe ro .ios empresà11os de Asse,o e L,mpNa da C,

despedir ,mediatamente aquele que cometesse tal falta" . dade, que viam o trubalho aumentai e o d1nhe1rn d1m111L,11 Entrt'

Ma,s tarde contratos foram feitos entre empresários e tanto, o que 111a1s parece tê los incomocl.1do lo, ,1 f,1ltd de ola
µdrt rulares possivelmente, como resultado da concorrência boração dos agentes publicas São const,llltL'S as qu<"ixas, ontr,1

qu,, cor, frequência cada vez maior. o empresário da limpeza os fiseu1s da Cà,na r il que nua cu 1np 11an1 o r,eu ,kv,,,. no ,,,,nt1d,,

publ ca passou a sofrer de empresários avulsos O português de vedu1 que os p,11 l1cularPs ,1111011 l oe111 llds I u,1, todo o l,,o tb

Joaqu,m Barros, por exemplo, saía com duas carroças nas fre su;ic casas l l' ·1 1chego ,l l1111p;11 qu1nt,11s p,1111,ul,llc"s, ,, 1

91.es,as do Passo e da Sé. "recebe ndo pelas CLl',as lixo por d, caplOd l flld':i, o qtJ(I ':::iP qlll 1rn t\lltf' 1\110 tª,l,\ l'll\tl\' 11 ob, ll],l~Oe'":;·
nhe,ro e até gritando pelas rua, quem linha l110 pólra dí'1l,11 for a esldbe\ec1dtl':í 110 t a nti ,1\u l on1 ,1 Ci11n.11 d

5ll A.Nll O UH ANIZA A.O \ ,.,

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,
Diz que a Camara Municipal nada fazia para que suas posturas
Se pela falta de um mun, por oro• ,ão da, chuvas terras e Ixo
se precipitam sobre a montanha. como d,z o Fiscal. não sendo fossem o b e d ec Ida s • e que nada recebia_das casas .particulares.
meu dever fazer muros. e nem me sendo possIve1 desbastar a
que pub l Icamen t e despejam o cisco, .ixo e Imund1c1es no rne I0
montanha em lugares que pertencem a particulares, parecen-
do-me anles caber exclusivamente à Câmara o cuidado de fazer das ruas .. . A s despesas haviam duplicado. sem o pagamen:o
isso com pessoal e as cautelas apropriadas L. ] correspondente. Queixou-se:

Pergunta por que os f1sca1s nada fazem contra [ _1hoje não lenho dia, nem noite. nem hora, nem número certo
de carros. Saem os que as necessidades exigem. duas. três e
mais vezes por dia. e em lugar de 25 carros. tenho 45 e err> vez
um particular que está formando uma montanha de caliça e
de 25 viagens, sou obrigado a dar diariamente de 100 a 120.
terra na ladeira que fica em continuação da rua por detrás do
Para bem dizer os carros não cessam e este serviço assim fe1•
Palácio do Governo, com visível dano do lrânsilo público. E para
isso não houve ainda um só fiscal que olhasse. Qualquer chuva 10 exige mator pessoal. melhor paga. homens para revezar e
prec1p1lará esse entulho pela ladeira abaixo, e então não deixa- maior número de animais [. ..J. 43
rão os fiscais e a Câmara de queixarem-se da Empresa que, se-
guramente, não lerá ltdo a menor culpa desse falo." Em 1876 o Serviço de Asseio e Limpeza da Cidade contava
com 57 carroceiros, sendo 39 livres e 18 escravos. Segundo a
O Governo estava impotente. Doenças endêmicas, como cor, foram assim identificados: crioulo [41 l. mulato 151. mulato
a febre amarela, continuavam a enfraquecer e matar e o esta-
escuro [41. branco 14!. pardo [2). preto 111." Pode-se imaginar as
do sanitário de Salvador não havia sido alterado. A situação se
dificuldades desses trabalhadores, numa Cidade com cerca de
agravou em 1873, quando a crise financeira atingiu o seu ápi-
150 mil habitantes, puxando suas carroças por ruas. becos ,a-
ce e a Assembléia Provincial diminuiu a verba para o serviço
macentos. amontoados de lixo, em meio a transeuntes apressa-
de limpeza, como lamentou o presidente da Província, Antônio
dos. vendedores ansiosos por vender. carros e gôndolas de toaos
Cândido da Cruz Machado, visconde de Serro Frio, na Fala de
os tipos. além dos muitos carregadores a pé, escravos ou não.
1874. Quatro anos depois, o beribéri, a febre amarela, a varíola,
A dificuldade de limpar a cidade baixa é cnterrosamente
a erisipela, a tuberculose e males crônicos que também atin-
regislrada pelo empresário da Limpeza-
giam viscondes e barões. como cólicas e diarréias, inquietavam
e matavam boa parte da população. Pouco depois. o presidente
nas prox1m1dades tias praças de mercado, nos cais e nas'" s
Antônio de AraÚJO de Aragão Bulcão fez saber, na Fala de 1879,
próximas à Allàndeg,1. Arsenal de Marinha e ot.t,as. às ,e~es
que o ··serviço de asseio" da Cidade passara a ser feito pela Câ
ª acurnulaçéio de lixo e cisco é tal, que custa a crer 4ue oels
mara Mun1c1pal desde o dia 1° de setembro de 1878 É fácil con m_ílnha todas l1ve!-:is1,;~m sido vurr1das e, t, \,.~nsport~1do pai a o:... de·
0
clutr que nada melhorou , nada havia mudado posito,, 4110 ',e .ipanhou em tod.1$ el,1s. 1. 1os la1·dos, os cest '5.
Certos documentos dispensam comentártos Além dos os ca1xo(•s e bt11 r ICd ..1 (Orn n1e1cado, i,.1s se llbrt.'m publlcJ1llente
1
n.-ic; ua~, l' a Plllha, o.., ObJt•los 1nt1t1l1Zdth.1~·, qut.' 5.t."rvlrJm ~' Hcl J
que Já referimos, vamos transcrever trechos do relatório que
0 ernt.J,1l.-iql'tn l' loduc; o•, l'L'stduo~ ,1ll f1L .im n..1'i. ru ..l., OL, ~e lJnçarr
dono da Empresa de Asseio da Cidade envia ao chefe dP í'oli nPllt'i; o~ ,111 n 11 lills l l
• 1 dVt"'l lhl ... , Ojd". l' holt'quins, Ct,,)fl) 'c)I \ c.1n'J~
eia em 1876. É valioso. não só porque nele eslao descrildS us exr.L•t;oe1:i, todo';. •,e v111 rt1111 .._. ll l ll,t,, l' v.11 loqo p 11 ..1 b rua J::.
,ÍtJt1.1~ •,e1v1di1•:. 1• lH 1
péswnas condições de h191ene de vánas áreas d,1 C1dnde e , , 11
ri~,.º"'•" o1l11,1111 d,, <1'1dlllou•I"'•,lu
..,t' dt"•Pt'J.ltn n0s JlveL1 t,,1,.b cJl\.,1
1
1
1 I
d1f1culdades para se procede r a respectiva limpeza. corno t,1 rd l hott•i,t,,IL",t..itirlrntt.?sJr.;CJ~
I11
,, dr Ir ut,1• l' llhll i<,l n-.., d• q..111,11,1 vidro•, p louç,1 quetirJdJ,
bém porque revela hábitos da populaçao, que, sem dist1nçuo ti~
',t• l.111ç.i111 n.i•~ t u.i•. º'• lf,1\0 ·, ,11l111t1,,· d s
~ , 1dtO•,, pd'i"),H ~ f' to ()
classe social, rnuIlo demo1ain para ser rnud,Hlos
o•, -1111111,11, llllH tui,,, li ..,,,ll' t• l 111 l\,.i 1qu,1l1nt:•11t1.• t' l<lll ·,rn1 nJS
r11.i• l\hJ11111.i v,1,,..
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Ele começd dizendo haver ,,11v1ado" Asse1 nl,li>1<1 L eqI•,ld
1 ' ' • l .i•.~1• , l''-',l hl ptú\1111.._h do mar ondt P
i 111111111 ldr1~.11 t·rn rt• l 1
tiva Provincial documento pedindo· reco11s1d1'1 dÇ.to tJ" 11 IIIHJlidd,1 •
1
.i·J 101.1• .. Pl·l~, 11wnn~ ~l\Jlld':.t f•rv1dd:, e
IH llhl',, 111,1, /lt.'tll 1 1 ' \ 1 1 t
11
subvenção" que rr~ceb1a dí::l Provinc1d, pr11!:i d 'JPU vr:H o•, Lu~,ltP.. , • , , lh u 1,1 dt' '•t'I l 111, ddll ,l'i ruJ p,~ra d
1 (111111r d1h•.i1 ..t\1od1l' 1 1 l
as cond1çõPs estabelecidos PSL1v,Hr1 m11Ito aq11ó1 n "" 1e,1l1tl.,tl1> 1 lt •h t IIT1p~11 t' l ,111 l'(J li l
Ni10 e 1-:.lu ~ó 111 1
.. º'
Pdl t d~ r u I ou thl o malcalçadas com
120 50 ANOS DE URBANIZAÇAO 1 ( ')(I .Je,,, IJo," Cl'flp 10

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altos e baixos e buracos c1qu1 e ~K1-1la, ou S':' acham dT1 tal l tra
fac1l1t.11. ,,rri ,b,,,xdí rnesnw P'Se m1se1,1vel preço, 1eduz1ndo o
go os calca,,-,entos. que oarec,• nao tê-los[. 1 1e.,ses depo
a 5 In1l-re1s <1nua1, ".'ermma pedindo ao clwfe de Pol1c1<1 que
sitos d~ lixo a esmo são espalhados pelos galos, cãe•. ralos e
besta~ a noite: basta chover um pouco para esse lixo se apegar recomende aos subdelPqados e todos os agenteº, pol1c1a1s e
ao chao, tornarem-se lame1ros ,mundos e desenvolverem-se urbanos. que velem pela exata execuç~o das posturas e conse-
fedores e corrupção no ambiente.
guir da Câmara que ela por sI laça o mesmo"•
Nada indica que qualquer prov1dênc1a tenha sido toma
Não é isto só· o cisco atirado assim nas ruas, nas noites de da. A falta de colaboração da sociedade e a postura autoritária
chuvas torrenc1a1s, como muitas temos tido neste inverno é
dos habitantes de melhor condição l1nanceIra. caracte rística do
ar~s~ado e por mais que se varra, nunca fica limpo; e O p~vo
esta tao avezado que algumas vezes os carros ainda estão apa- regime oligárquico-escravocrata vigente, estão reveladas na
nhando o lixo e eles trazem outras remessas, que por favor aos denúncia feita pelo Diário da Bahia de 6 de abril de 1877 con-
carroce1ros não despeJarn no chão, mas nos carros. As ruas es- tra a empresa de limpeza. que. segundo ele. "en tendia não ter
tão cheias de capim l...l. Deve ser arrancado, mas quem há de obrigação de remover a grande quantidade de lixo depositado
fazer este serviço? Compete sem dúvida à Câmara Municipal
Junto à muralha do Largo do Teatro. em frente à porta do Hotel
nas ruas e aos proprietários nos passeios: mas o que acontece
é que sou eu que para prevenir maior trabalho e despesa faço Figueiredo". O empresário explicou ao chefe de Polícia que José
este serviço à minha custa, como publicamente se está fazendo Pereira da Silva Porto. dono do referido hotel. era um dos pou-
desde a rua de São Pedro e ladeira de São Bento ... cos que havia feito contrato para a remoção da .. enorme porção
de lixo que resulta do tráfego diário do seu estabelecimento".
Tenho tido imenso trabalho para acabar com as montureiras Embora a mensalidade fosse de apenas mil-réis mensais,
do Coqueiro, dos Barris, da rua da Alegria, do Gabnel. das Que- o proprietário faltava com os pagamentos. Teve "uma pequena
branças. da ladeira da Gamboa, da rua do Ferrara e Iodas essas
altercação com o empregado da empresa. que lhe estranhou
maiores e menores. que o desleixo e preguiça formam aqui e
acolá. Se a Câmara Municipal velasse o cum primento de suas que por tão pequena quantia lhe fizesse tantas vezes subir as
posturas, isso não aconteceria; mas eu, há seis anos estou so- suas escadas". O dono do hotel não gostou e disse que não mais
frendo, clamando em vão por este socorro. mas nem as pró- pagaria pelo serviço. "E porque não possa guardar em casa as
prias leis municipais têm execução! varreduras do seu estabelecimento, as manda depositar. dia-
riamente, no lugar indicado pelo Diário. espalhar pela rua e.
Não pode V.Exª avaliar o que sofro, com os compromissos que
ultimamente, atirar sobre os arcos da nova rua da Montanha. "
inesperadamente caíram sobre mim de todos os lados, violen-
tando-me as despesas, que me tem traz,do um déficit anual de Terminou dizendo que esperava do chefe de Polícia "medidas
mais de 19 contos de réis [... ]. coercitivas contra semelhante abuso, que não deve continuar
com menoscabo das leis e autoridades"."

A subvenção então concedida pelo Governo era de 22 Não se há de estranhar que, para não pisar em ruas tão

contos de réis. Queixa-se o empresário não só dos moradores sujas, os mais aquinhoados se valessem das cadeirinhas de ar-

das freguesias mais pobres, mas também daquelas que tinham ruar. Ao anoitecer. porém. tudo se complicava. A Cidade se imo-

suas casas em ruas das principais e fazem o despeJo das ma- bilizava. A partir das seis da tarde. as famílias se recolhiam em

té as feca s nas bocas-de lobo e atiram os vasos velhos que- seus lares. Ocasionalmente. os mais afortunados iam a uma

brados cheios de tais materiais nas ruas, iunto ao cisco para se so,rée no teatro São João, ou no Pol1teama, a reuniões artísticas
ou literárias, mas tudo antecipadamente programado Era pe-
conduz rem nos carros da empresa-
lns ste para que a Câmara cumpra o seu dever, fazendo rigoso Ir à rua à noite, por não se poder ver onde se pisava As

tar por seus agentes as suas próprias posturas" Se as- pessoas tinham medo de se esparramarem numa poça d'água,
cons dera ele, todos os proprietários teriam leito num lamaçal, de tropeçar em lixos acumulados, em an1ma1s

a empresa pelo baratíssimo preço de 500 réis e mesmo em gente morta, ou em mendigos dormindo pelas
d ar 05 para O transporte de todo o laxo e c1s esquinas, para não se falar nas tantas valas e buracos das des
6
todo rressem, nao teria dúvida, para niveladas ruas Tudo era 1mprev1s1vel e muito arriscado

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1

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NiJo só na ba1<., - ~ 1Jr"lb r r ~ r,., t :.i '- .. • , . r -......, '>;,

ro s da Prt uba 0 dE' 1tapud,


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no lrvro Ba ,a r,m , o da bal.,,a dl'- Ma!'IOE' -~- 1~ ': ,- '
o dom ínio, no negocr • .
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r três vezes e1eri:eu. c0r'10 'r:~ C""e:. 1~.,.. :: :
Mene zes . qu e po , r ' t 'r.tY ~- • - ;::, •
Governo da Ba ra , en te1826e1820.~.uurn,;,J
h r , - _,,, -:___. •_ ,

~rme olh herd ara O co n trato do Sara ,a, (11.J°" "Jl" -= " --.
re tão de ltapuã e adqurrru o cor tra to da pesca '.la ,o . ~a a=-
dogde Mangutn h os. na ilha de ltaparrca, ' orna'lcc
_ -s,, : --_: - :;-
, · de ba leias na Ba ,a
pelista desse negocio So ~2 :. --2~2: ~=
Saraiva. cI·1a c 1·d Teixeira • havia ·uma con-,t.-raê-::,:; '.:': : s-· - '-
quarenta e cinco ·escravos do s erv•ço das ba e as ,:_~ "==-
) ticamente ilhada, naquelas distâ ncias e tod2 e;; c: - ce- ===
na atividade fundamental da pesca da oa 1e e " - 0 o: .. __: , ·
dustr1al do azeite
1 Além da produção desse gra nde r1oro ooltsta -=. , = =--
bém uma produção de óleo de ba leia em oequ er a ;,s: a = -
vavelmente para consumo domést ico. É o qu e s uge~ =: s:_: 3

municipal nº 124, de 18 de março de • 8~5 :] a ~'"() r =~-=se


cozinhasse carne de balera fora das casas es::ec a.r 2- :2 ~e;,-
tinadas a isso por contratos, "ou em l ugares r.u ;o ~-e~::;::;,=
ILUMINANDO A CIDADE
elas", lugares esses designados pela a utor aane ::-e ( a =-;;:--2

de prisão por oilo dias. e 10$000 reis e r 1ul1a · Na - , e5~3 ~3 '.a


A má iluminação era a razão principal do enclausura-
menta noturno da sociedade baiana. Moradores e autoridades
a Postura nº 125 determinava que os doros. ou a;i~- ~ s:ra. '-
res dos Contratos·. após "desmanchar q1;alqL e• ~ale a se'3'
de Salvador consideravam ··sofrível" a 1lum1nação da Capital.
Ainda na década de 1840, as ruas de Salvador eram iluminadas
obrigados a mandar lançar no mar distante ae terra ,'s ~ss~; ~
por lampiões, suspensos em altos postes através de cordas e mais fragmentos dela, de maneira que 'lào ,n<"9L.e , 1i •a a , "

roldanas, e alimentados por azeite de baleia. infratores estavam suJeItos a pena ele o,to ,1 Ias C<' rm sà~ e " ·
A pesca das baleias era Intens1va nos meses de Junho a de 30$000 r·érs. "Em ambas as Postt,ras ,1u l o r :;e ,í ~ as re·"~

outubro, quando, prenhes, buscavam as águas mais calmas da na reinc1denc1a ·· D1sc1pl1nava S\c' a produ ~,'I, ,i-, " 'I'' ,.st
Baía de Todos os Santos para terem suas crias. Documento de 1lummaçào, ao ternpo ern qut.' -....e pres~r\a\d . . . t'h. l'l' ,,,, ..,,

1775 registra para esse ano cerca de 80 barcos baleeiros, nos A pesca do cetáceo l"' o p1 lf'lh'II\) tr. .ltarnt'rHi.. ,1,h., ,h', .,t>
quais "não se vê um branco e a maior parle cativos" Arpoavam- le erarr, feitos na Bahia, l on-1 n1t.'tod1.'~ ~'rm, ,t, , ~.
1
, !a, .e·
se de 120 a 130 animais. e havia anos em que esse nC1mero che a baleia esc,,µdndo ft>rtcia Obt,d..i ,, ,1 ,,
1
1,, qn.,,,., , ,,a t, ,,
gava a 200. Eram levados para a ponta norte da tlha de ltapnrtca, usrida na Prov1nc1..i, nhl~ d p,lr lt' Lh' k,h' "-t.'1.ll 1
t''ll~,l . "' ·
conhecida como Armação de Baleias, onde ficava o "engenho l.1ver pool ,, H,rn1bu1 ""· ,,,n t,,,h'ts L,i ,, ,,t,,,, ,, 1 ,1 n,f n ,1 ,, ,, ,e
1

de azeite" Estimou• se que cada celáceo produzia 12 pipas de merualL ddn, conto11nr• 1,.0 11 \,ld no ~\t'l.it1.,, "' dt.' 1"-'l 1 d('\"'º"'
azeite, além da carne abundante. mndendo em lot no u,, 1,00 rnqlé~ p<11" o f º' <'HJ11 lllf 1"' lp vJ t-.1 u,t,, '"' ' 'li "llJtt" ,1 "~-

c□nlL'I r 10 dt
1
mil-réis. Essa indústria emp I·egava mais de 300 pn,tus, 111ula10,, n r t'\'\pur ttt\ ih), lldn '-' l '-'IH l' \'lt"'\' '- ,l b,11p1,1 , .., ...

e brancos, sendo estes poucos, segundo documenlo ctlado poI la111lw1n, u1n u "'• u1.,1 1, lfl ,, ,, 1,1 "'"'I'' ,l\,i b ''"' ,f,n.l\,l <' re·
11
Gilberto Ferrez (1963, p. 42) t1i,;po, lr1v11 Mt"•i11w llt~pl'I'. d\l dd\ t'Hll, d\, q ,. , <) l c·1t' 1.. nnt nuou
.i1lu11w1d11nLHl...1,1.U:•,tt t'llhlli ,,, tl ,, ,,,,t\•-ld.._,rc,J
1 ,, l t' Pll \ t\ 1• 111 ~
122 SO ANOS OE URBANIZAÇA.0 1 (ci'-u, ln Novo.11s ,1mp,1 o

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aoastece as : a j f JS · e 5 de dLLcdr dê rPq e du rc.rr o o ,apare· scltureo,. que eram exalados do gás extraido
~ecô.,ca o e au r~e - 12 P o rn.. a do carvao vegetal, empregado no Brasil Além disso. era de fácil
Os pr r,,e ros a pões ha, arn s,do in~talados pela Cã manuseio e, muito importante, reduzia o custo da 1lum1nação.
!'1ara Mure pa ern 82° na area central da Cidade. Pouco ilu Coube ao empresário José de Barros Pimentel o pr1-
rn navam V v a-se em densa penumbra Muitas ruas, nas trevas meIro contrato 110 de maio de 1858) feito com o presidente da
Tanto o aze te corno os larripiões. considerados de péssima qua- Província, desembargador Cansanção de Sin,mbu. para o forne-
dade. eram produzidos na Província Os revérberos que reves- cimento do gás hidrogênio bicarbonado, segundo os termos da
t amos candeeiros eram fe,tos de flandres. material que amor- Lei prov1nc1al nº 662, de 31 de dezembro de 1857 O empresário
ec a a uz em vez de avivá-la. Muitas reclamações chegaram à ou a companhia por ele organizada deveria iluminar Salvador
presidência da Província Em 1848, a O,retona de Obras Públicas ··pelo modo e pelos meios empregados atualmente nas cidades

sugeriu que passassem a ser feitos de latão, como os do Rio de de Londres, Paris e Rio de Janeiro'". O gás deveria ser empre-

Janeiro. pois esse metal refletia melhor a luminosidade. Assim gado tanto na iluminação pública como em casas particulares.

se fez. mas apenas nas repartições públicas e nos setores resI- variando o preço conforme a proporção do consumo.

denc a,s mais nobres, como a V1tóna . O local de instalação dos A chama tinha a forma de leque, com 2,5 cm de largura

lampiões. alto dema,s, contribuía para aumentar a escuridão de na parte superior, e a intensidade da luz nas ruas deveria cor-

Salvador. Embora a população pedisse para que fossem rebai- responder a dez velas de espermacete, variando para mais ou
para menos conforme o fim a que se destinava. O art. 3º do refe-
xados. tal não acontecia. Dizia-se ser um meio de protegê-los
r ido contrato determinava que, no verão, a iluminação começa-
das brincadeiras de desocupados e meninos de rua.
ria '"meia hora depois do Sol posto e, no inverno· {temporada de
O serviço de iluminação, como os dema is serviços pú-
chuvas!. "um quarto de hora depois e durará sem interrupção,
blicos. estava sob a 1med1ata fiscalização do chefe de Polícia.
tanto nas noites escuras, como nas de luar. até as cinco horas
Os empresários encarregados desse serviço m ediante contra to
da manhã··. O número de lampiões não poderia ser ,nfenor a
eram pagos sempre com muito atraso. Em 184 1. por exemplo,
1.500, sendo o preço de cada um 200 réis iart. 5°). Para estimu-
o Governo devia a um deles 5 contos e 818 mil-réi s. Não havia
lar o empresário, o Governo concedeu-lhe privilégio exclusivo
dinheiro para liquidar ou sequer amortecer a dívida. embora
por 30 anos e "a isenção dos direitos provincIaIs sobre os obJe-
essa despesa estivesse prevista no Orçamento. O sistema de
tos e materiais empregados no fabrico do gás'", comprometen-
arrecadação da Província era por demais precário, m inado de
do-se a solicitar do Governo Geral favores iguais. Esse contrato
corrupção. e não havia estrutura administrativa para torná-lo
foi reformado no ano seguinte, sofrendo nova modificação em
mais eficiente. Por todo o Recôncavo, inclusive em Santo Amaro
1860. Nesse período de dois anos. to, examinado por quatro pre
e Cachoeira, a situação era pior. Quando, em 1848, se decidiu
s1dentes de Província, cuia permanência no poder variou entre
luminar a Vitória, 0 serviço foi feito ·sem que a Província des-
quatro meses e 17 dias e sete meses e 29 dias. correspondendo
pendesse um real". Tiraram-se lampiões de freguesias mais
esta última duração ao governo de Herculano Ferreira Pena.
distantes, habitadas por famílias de baixa renda, e instalaram-
Não deixa de ser intrigante o fato de que, reformado o
nos na freguesia mais nobne da Capital. Os moradores da Vitó·
contrato em 1860, os ingleses Já houvessem, dois anos antes
na cotizaram se para pagar a despesa com a transferência de
- ou se1a, na mesma data de início dele , assinado contrato
lugar e a colocação dos novos lampiões " com o Governo, passando a dominar o serviço de iluminação na
uso do "gás de hidrogeneo bicarbonado" para fins de
0 Província através da Bahia Gas Company L1m1ted Obtiveram o
ummação. que passaria a gozar de predomínio absoluto nos
priv1lég10 exclusivo de iluminar os ed1fíc1os publicas e as re 1
anos 1850 era desconhecido no Brasil até fins da década an·
dênc1as particulares na Cidade durante 30 anos Também go a
te or. N~ na Corte havia tal ilummaçao. Por isso, 101 muito
ram da isenção de impostos que fora concedida ao empnesár10
aplaudido quando chegou O sistema era mais aperfeiçoado,
baiano Previa se que, terminado o prazo, haveria a renova o
ec a luz br hante. em o cheiro de agradável do azeite
do contrato ou a Indenização do material da ompanhia
prodUZta bstân ,a tó>< as 180 nocivas à aude pública

'° ANOS DI UIIANIIAÇÃO 1 ,aa

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estivesse aquém do estabetec,do, 1 cr a p ,r.i .!J JS a a
Esse pnv1lég10 fo1 concedido sem que se tratasse de
em intensidade e tamanho, cabe na. p tJ<' do d•r tore~
transferir para a nova companhia os direitos do empresario
Obras Públicas, ao engenheiro rec1de'lte Ja mr:;an· a, Rober•
José de Barros Pimentel. Até 1868 nada havia sido feito nesse
sentido Então, a companhia inglesa possuía dois gasômetros
Cumm1ngham. e nao ao diretor, c mo quer d,.., s ing ese~. p,r-

em uma só fábrica, e havia distribuído pelas ruas e praças de que este morava em Londres Tais aJuste pr vocaraM at• '%

Salvador 2.115 combustores de gás. Os pnmeIros 90 lampiões constantes entre Mr Cumm1ngham e func1 '" · 10s do Governo

a gás foram instalados em 1862, no trecho que se estendia do Certa ocasião, 0 fiscal da 1tuminação ficou 1T'. to rr taao por-

gasômetro IJequ1ta1al ao cais Dourado. A maléria-pnma em- que. ao comunicar-lhe que as chamas estavam rregu ares ~
pregada era o carvão-de-pedra lcannel coa!). considerado não- engenheiro inglês lhe respondeu que o diretor da compart- a
tóx1co, como o vegetal, devendo ser importado da Inglaterra, de George Clark, residente na Inglaterra, o havia proibido de fazer
cuJas minas era retirado. Colocado em fornos, esse carvão mi- qualquer intervenção nas chamas.
neral era submetido a longo processo. a fim de liberar o gás a Em poucas palavras, a Bahia Gas Company nãG campr a
ser usado na ilumin;iç:;io 48 0 regulamento da Província. Agia ao seu livre-arbitr u. aoesar
Apesar de a luz ser mais clara, de qualidade superior, re- de o diretor de Obras Públicas 1nsIstir ser 1nd1spensave qce
clamações de todos os tipos surgiram pela Cidade Oue1xavam- o engenheiro da Companhia de Gás se entenda com esta D re-
se, moradores e funcionários da Diretoria de Obras Públicas, da tona' .. Com o tempo. cresceu o número de lampiões apagados
maneira descuidada e pouco honesta como a nova companhia e amortecidos. ficando a Cidade na penumbra que Ja conhec a
operava Em 1862, por exemplo. moradores da freguesia do Pilar Alguns dados colhidos nas Falas de 1885 e 1886. relat vos aos
protestaram contra a destruição de suas calçadas em decorrên- anos anteriores, podem dar-nos uma 1dé1a do que ocorna.
cia do "irracional e péssimo trabalho de canalização feito pela Em 1884, na fábrica de gás funcionavam, no inverno, ses
Companhia de Gás" Ao assentar tubos de ferro, ela "quebrou fornos com 42 retortas, e no verão, cinco fornos com 35 ret:r--
e obstruiu canos de esgoto das águas de servidão das casas, e tas, considerados suf1c1entes para deixar a Cidade 1lum oaoa
das águas pluviais, que descem das montanhas próximas" Os No relatóno do fiscal da Província. entretanto. consta que na
moradores pediam prov1dênc1as urgentes, pois "águas imundas quele ano existiam 2.462 combustores de 1lum,nação pub ca.
rompem as calçadas e se espalham. difundindo Iorros de mate- sobre os quais haviam incorrido 16.653 multas por estanern os
riais fecais e águas corruptas pelas ruas e pelos quintais". A si- lampiões "amortecidos· e 408 por estarem apagados. oa
tuação se agravava na época de "trovoadas e chuvas grossas" " seguinte havia 2.483 combustores: as multas por um naca
No entanto, apesar desses estragos constan tes, os moradores insuficiente subiram a 17.495 e as relativas a combustones apa
procuravam insistentemente a companhia, a fim de que em suas
gados, a 1 018. Nesse ano, 2.134 casas tinham gas cana zad
habitações fosse instalada a 1lum1nação a gás, tão superior à dos
mas em apenas 1.628 o gás estava funcionando. Para a prod
candeeiros, fifós e velas de espermacete que ainda usavam. O
ção da Ilummação, a Prov1nc1a havia importado, em 1885. mas
óleo de baleia também continuava a ser ut1l1zado.
de 5 mil toneladas de carvão de pedra da Inglaterra'
Não só os moradores de Salvador, mas também os res -
A situação ficou mais constrangedora quando se co sta
pon sáveis pela Diretoria de Obras Públicas arrolaram queixas
teu que as contas apresentadas pelo superintendente da Ba
constantes contra o procedimento da companhia estrangeira.
Gas Company estavam quase sempre superfaturad s. q
O trabalho de medir a chama do gás, por exemplo, que deveria
obrigava o Secretário do Governo a devolvê las para serem
sempre estar igual à existente na fábrica, que servia de parâ
rigidas Como 101 o aiuste de contas entre a ompanh a
metro, cabia ao fiscal da 1lum1nação, conforme explicou o d1
e o Governo da Provmc1a, não sabemos O que
retor de Obras Públicas ao presidente da Província. Para rea
em 1884 o Governo havia pago a de pe
hzar esse serviço, o fiscal e seu ajudante deveriam Ir muitas e 200 contos de ré, uma quantia expre
muitas vezes à fábrica, a fim de obterem o tamanho exato da
Governo de tarou que a de pe a m
chama, de acordo com o estipulado no contrato Se a chama 0
tem e elevado extraordtnan m nt • m

12' H AIIOI OE UHAIIIUÇÃO (

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.d pelo governador, E 1ha chegado a uma
uestão foi reme l I a .
gação do pagamento em ouro e ao câmbio do dia em que ele q _ . M sagem de 1896 ele diz que havia pago no
solucao, pois na en . -
deve se r feito·· ' . · ra parcela da 1ndenIzacao, no valor de 424
ano anterior a primei
No relatório de 1890, enviado ao Fore1gn Ofí1ce, o côn- , d quais O Mu111cíp10, ao qual competia reali-
contos de reis, os
sul britânico comentou que o contrato da Bahia Gas Company ão colaborara com apenas 86 contos de réis,
zar essa in d enIzaç , .
terminaria em 1892 e que havia pouca possibilidade de serre· - de insolvência financeira Em maio de 1894 0
dada sua s1 tua çao
novado devido às 1·eclamações geradas nos últimos 18 meses, · t nsferido para o Mun1cíp10 os bens da Bahia Gas
Estado havia ra
ligadas à má qualidade e ao alio custo da 1lum1nação Nessa
Company L1mited. .
época, além do superintendente, a companhia empregava três Por muito tempo a iluminação de Salvador cont111uaria a
··súditos britânicos··. 16 ··nativos·· para alimentara fornalha, dois ser rotulada de ··sofríver· Por intermédio dos alemães, cuja in-
mecânicos, quatro auxiliares e 14 trabalhadores [peõesl. fluência na Bahia Já estava superando a dos 111gleses, a energia
Para a manutenção do serviço, a Província empregava a
elétrica na Capital baiana moveu primeiro os bondes da Sie-
massa de trabalhadores, constituída de brasileiros. Não temos
mens & Halske, em 1897, para depois - em 1903 - iluminaras
dados para 1890, mas sabemos que, em 186 7, o serviço de ilumi-
ruas, as praças e as residências de uma cidade que nesse ano
nação contava com 31 empregados e 35 acendedores. Entre os
possuía estimados 265 mil habitantes.
empregados predominavam os pardos [141. seguidos dos bran-
cos [13] e dos crioulos [41. A grande maioria [24] era de soltei-
ros: apenas sete declararam ser casados. Entre os acendedores
QUEIXAS CONTRA OS SERVIÇOS PÚBLICOS
também predominavam os pardos [211. v,ndo depois os brancos
(8] e os crioulos [61. Também aí havia mais solteiros [23]; 11 eram
Ao longo do seu processo de urba111zação, Salvador foi
casados e um viúvo. Escravos estavam proibidos de trabalhar
muito movimentada por queixas dos mais diversos teores e in-
em obras públicas. No entanto, abaixo dessa relação enviada ao
tensidades. Ao lado das formas de protesto sociais, como as
presidente da Província, o diretor de Obras Públicas registrou:
apresentadas no capítulo anterior, a população reclamava com
··Tenho alguns empregados estrangeiros e outros escravos, os
freqüência dos serviços urbanos. A fim de tornar mais clara a
nomes dos quais não estão inclusos na lista acima··.s,
Como previsto, depois de 30 amargurados anos, o con- exposição, procuramos reunir alguns casos em função do servi-

trato com a companhia ,nglesa não foi renovado. Mas, em de- ço urbano a que se referiam, devendo-se, contudo, ter em men

corrência da grande instabilidade política e da profunda crise te a não prevalência de um sobre o outro, bem como a sIncrorn

econômico-financeira, o Governo propôs à companhia uma cidade das ocorrências.

prorrogação por três meses, tend o o contrato vencido no dia 9 Muitas eram as reclamações dos consumidores e com
de maio de 1892. Uma segunda prorrogação de seis meses foi freqüência estampadas nas páginas dos Jornais Embora dire-

seguida de uma terceira, proposta pe lo governador Rodrigues tamente vinculada às classes mais favorecidas, econômica e
Lima. A companhia aceitou, mas assumiu uma postura inflexível soc1alrncnte, a imprensa refletia, de certa forma, a profunda 1n
em relação à forma como se deveria processar a 1nden1zação satisfação dos hdb1lantes de SalvJdor cornos sei-viços que lhes
por seus materiais e equipamentos que deveriam ser 111corpo eram oferecidos pelas novus comp,111hi11s que se organ1~avam

rados pelo Mu111cíp10. com O apoio rlo Governo. Queixas pr olift'raram, encontrando
O impasse su rgiu quando o Estado fez o pagamento em terreno fértil sob 1·etudo nos Ior nc1is de opo~,içc1u Recl,irnJv,1 ~,,
moeda corrente no Brasil e a companhia o recusou, ex1g1ndo contra ludo companh1115 que coh1ava111 c,110 l' n.io pr<'~tavJr'
ser paga em ouro. A questão foi submetida a dois ar·b1tramentos bomse1v1co ' '
f1•ui,nu,
::.i e. . fl~,Cd l t:,lV(llll, podt;\I Ln, pubt1co~. lJUl,
., ( 11 dO

e ao exame da Congregação da Faculdade Livre de Direito da não exigi.im O rump1111w11 to de coI1tr,1ll', ,,te E.111 cont1.1r, 1rt I
Bahia, mantendo-se a companh ia irredutível , con forme escla da, os at.i c;iclos I ecl,1111dva 111 co11t 1.i o~ c1ddd,10',, 11!11111 indo que
rece o governador Rodrigues Lima, em suil Mensagem de 1893. lldO s,11J1a 1n , ou ll , 10 qu1 ' llilln, v1w 1 dt> ,ic,Hdo lOIT1 ,J•, pre,e1t
Tudo indica que a Procuradoria Geral do Estado, pai u onde a de c1vIl1zaçc10 !fU P o ' ,P cu lo irnpunh.i

126 50 ANOS OE URBANIZAÇÃO I Coqc;ye o Nov.:.i1s c;arnptt o

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vador tives,,,, qr :111<1,, fll 1011d,1d,, l I.rb.ilh,1v,, c,l' L' l11 fll oi tfp llllld
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C011'1 t•r1I P1T1 que ,1 · o l.iç,1 ,1 b1111 i1 do c.111 1 ,, nr,rJ~ r r1r d., ·Ir·1e'., r ~ CJ
Caprlal de P1ovíncra c1~s{,pt,cd, sc1lubr,', arl'i.id.i M.r•, ,1 rnrlcrc•
.i mi110, JJ1 l'•,lr1rlo r d rlP ',P1v1r,0 d l1rnpeL,J rl,1 C1d,1rfr
t11açào c1,,sse rdc'ul Psil,111 ava 11<1 pr ópr 1,1 ,•str ulur ,1 ,luta, ,ilrc.i
1 A!, Vf'lt", , dS C01npcmh1i1r., dr lunpPLíJ urb,1n,1 prorurrJ/,iT
da soe red;idp
se de fpncf Pr Corno l1rnpr11, ,t' rntis,no Nn /ired'".. hab1tc1dd,_. pr.ir
A [mpr-esa de Asseio e I rmp eza da Crd.id e catn l1 s,1va o
ilustrr s cid,1d,rns e hornens de negócios, corno er" o Pelour,
maro, número de rl'clarnaçoe•, fJor outrn lado, a rn é, ua dopo
nho, seus morildores agrarn como os rnernbrns d<Js camada,
der público no t ocan lC! il fr sca lrw çao d,i s compan hia s con tr ala
mars pobres da soc iedade? Nao ío, por 0I 1lra razao qu€ Antônro
das er·a molrvo de querxas I ecorrc nt es nos pe r ródrcos b,11 anos.
Ca rdo so de Castro, ent ão responsável pelo assere da ç,dad~.
lodas as medidas lembradas pela com rssào de saú de e atual esc reveu ao Dráno da Bah,a, em 25 de dezembro de 1874, para
mente pelo rnsp to, d e saú de têm sido leira rnona", come ntou explicar qu e sua empresa linha o cuidado de lrmpar o beco em
o Diário da Bahia de 1, de ma ro 1860, ao denuncia r a exis tênc ia de fr ·ente à ladeira do Ferrão e que "ele nao linha culpa que os ru
um cano aberto na, ua das Veróni cas . "uma du s mai s asso ladas rn erosos habi tantes da grande casa do Ferrão, que lhe frca por
pelo chole, a mor/Jus .. dran te, na íalta de ca nos, ía ça m para ai, todo o despeJo do seu
E:ram co rnun s os conf l itos entre os trabalhad ores das l rxo, águas serv ida s e matérias íe ca rs Enquanto a autoridade
companh1<1s de lrmp ,za e moradores, r azao pelJ qual o empre não reprrmIr tais abusos , dando execuçao às Posturas muni
sárro do assrro, obedl'ce nd o a ofício do c heíe de Políc ra, deu "ar crpars, so írerá a empresa in culpa ções que lhe não cabem. se
dc·n:., t'Xp r <'ssas aos vai redo res parn evrtar q ualq u er co nflrto en bem ío r·ern estu dados os ratos" Na ocasião, segundo pesquisa
t,e r>lr>s e os habrlante s dcs l a Cid,1de, so b pena de demissão".''' realizada pelo historiador Waldemar Matias sobre a Evolução
Ern vao: os co nílrto s cor1lr11uarn 111, as demrssoes nao existiram, histórica e cultural do Pelourinho 11978, p. 1021. o solar do Ferrao
rne~mo porqui• nao e , .;i todo pr P IO drsponível que se suJ ertava a era habitado pelo barão da Palma, Antônro de Freitas Paranhos,
e•,;e trpo dr> s,,rv,ço. Os rno, ador L's acusavam a compan hi a de filh o do português José de Freitas Paranhos, tro de José Mana

negl1gf•11c1,1 na co le ta do lrxo e 11.i va r rr çao das ru ílS, ussrm co rno da Silva Paranhos, visconde do Rio Branco
• os . r sses
ra r••rnopo do s 1c>pu911,rntes es 1e,-qu r11111 · monte s de Na ci dade baixa, as condi ções hrgrênrcas eram piores,

e ierco pr odumJo fll'lo s anr rn ars, ,1o s qu.rrs se 11111tav,1 toda espé· como se ve r·a no capi tulo seguinte Art rgo do D1áno da Bahia de

e,, dr> lrxo ,, atr> a11II11.irs rno r l o·,, Psl ava r,1 e ,palh,id os
0
por toda 1/, de íevererro de 1871, dá uma rd éra do que se passava no ba,rro
d C1<fod<>, ~ rrre-, 1110 dO 1.rdo Lio ho sprlíll dd Q11111la dos I ázaros, comemal "O íedor rnars na useabundo é exalado dessas hab,

r.,11 ·1Jdic ..rndo a fti c.u pPld~,10 do•> ej oen I0s, eorilu r ,ne denunciado lações, que, arnda por crrna, não são nunca lavadas, salvo mur
pou cas exceções , porque ou nelas moram pessoas rnu,to pobres
pdr> 01.í11u tl.r (J,1/11,1 PIII 13 dv llldi\0 cfp 18'//2
AI, r,r dr s·,o , d p1,1lrc>1 d<' ,,111ullr;11 c!Ppres•,oe~ de terreno ou genle de ma vrd a, ou en tao sao casas de negócio, e foge se de

., f< O if,, J' 11\l'II O , illílS 11,10 Clll laviÍ la s por causa das avanas nas fa zendas: .~qur ou acolá existe
"" trxo J.Í h,rv1,J ,,,do pr or tJlud 110 r
<Jlv,ido r,
f ,~
que " 1rlílVd 111u1lo os r 1101 d< or,
o l rxo ,, q1I,1IsqucI
.
11111iJ ou 01111 <1 habitada por familias decentes 8 há errados
0
1 d P!-> IU10 11!11i1l pt!ld d~ ܽ e, r.id os, bem se sa be, eram pn! requ1s1to fund amen tal
dPJr>f a,, dPwr 1,111, s er 1oq,11ii1•, no m,1
Ir> L ' 1I l'fll•• dl' q11.rlq11l'I trpo dl' pür,1 ,1 l rrn pez,1 No ilr lrg o reíerrcfo, o Jornalista convida o leitor a
mund rcrr•s ur bJn.i•,. 11u I11.J <.lt1,1,
conrprovílr su as denúncríls O v,s, tante verá, afrrrna, que ·além
P~qo lu ,na ~ ,no1.ido1P4:i q1u,1x .i v,1 111 Sl' dd I lflf)/' P~ d dPA<.:,'Je 10
· íld', pi .il,l'i, o ITI Lll (i dt1 [1 vete':! d,, tudo isto hcí urn perigoso lrgre em ca da quarto ou cozinha :
<\Ui>, po r cornod1• m o, l,HlÇ ,JVJ 05

50 ANOS DE URBANIZAÇÃO 1 ~atvador. pes no ~h~o 127

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mulld □ O Ulll ou outro dl rl'rT -11, 'ilC', rn 1' I",O r JO li[ f)Pde r -

ludo conl1nln1 do fl\C:''.:irno rfltJdn, ,1) fl d, r JcJ'J JUJr1 J~ pr ;,,u

no1enld'>, os b e coe-' I munrlosl" E rn ',egu1cf,J, e1plico, ,qIie 1.~()


acontecia porque "a rnull<1 0 ,1 É. 111' 1gr11f1c.ir1IP r,IJ r,~o P di>v1rld
mente cob1ada"
Contra a prática secular dE JOgdr d<>J(;ito,:, pra- Jélr!'[ac,
também bradou o O,áno de Nolíe1as d12 16 de fc:vNE' f'l di: 1881

No artigo "Imundice", sugeriu·


,GuAS srnvlDAS JOGADAS
DA VARANDA. TRANSEUNTE
PROTEGEl~DO-SE PELA
em cada loja e em cada canteiro de pipas, nos armazéns de mo- Há pessoas neste rrundo para qJem se dP•Jer·, ~nar um ,J.r
PASSAGEM OE UM TIGRE lhados: de dia estão incensando a tal habitação e à noite vão ser especial para suas moradas, afastando as corripI lamec do
lançados nas bocas-de-lobo pelas ruas da cidade, ou na maré, centro c,v,lizado, para não empestarefT'I com os ,ír o, ç,o•co
bem como os barris de águas podres, que, por comodida de e rias aqueles que não têm estômago para as suportar Cun pre
ende -se que se more numa rua orde a 1JT1urd,ce é devida d n-
costume, despejam-se janela abaixo·· Não raro, transeuntes
cúria dos encarregados dos asse,os da c,dadP. ) 'Tias hc~1far
eram surpreendidos com inesperado banho de urina e fezes.
em um prédio qualquer e fazer da própria rua onde ele ,e ar" i
A prática descrita não se restringia à cidade baixa. Também depósito de águas podres, de cascas de fru•as ~. , que e ma 3,
na alta, os moradores se valiam de tigres para acumular todo o lixo ainda de matérias fecais, é ndecoroso e prPc•sa urgen ernenfe
gerado no ambiente doméstico, assim como urina e excrementos, que o sr. dr. Augusto França [presidente da CâfT'lara "lurr ·Ipa
use de medidas enérgicas, que multe seriamente Iodes s n-
despejados dos urinóis - tarefa em geral delegada a crianças
fratores, mandando prender aqueles que se achafT'I rebe 1es
escravas, quando as havia, conforme registra Maria Cristina Luz Para certa classe de pessoas, todo o ngor é pouco Na ~ade 'li
Pinheiro, no estudo Das cambalhotas ao trabalho, sobre a criança da Conceição, é tal o odor que dela se desprende que causa
escrava em Salvador na segunda metade do século XIX. náuseas aos ma,s n1os estômagos

Pelo mau cheiro que exalavam, os tigres eram por todos


temidos. Numa campanha em prol da instalação de esgotos, A cont1nu1dade das reclamações levou o pres1derte da

que gerou muito debate, em virtude de interesses envolvidos, o Câmara a prestar satisfação ao público, por me,o de of1c10 d u.·

O,áno da Bahia de 10 de março de 1874 estampou curiosa nota, gado pelo 01árro de Notícias de 24 de dezembro de '885. ro q1.,a

em feitio de oração: "Meu Deus I Tanta gente graúda espichou criticava o serviço prestado pela em presa responsável peta lrn,

seu nome contra os esgotos I E eu, que sou pequenino, só vos peza da Cidade, e ex1g1a que ela cumprisse o contrat0 ass l'adc

peço que perm1ta1s que Já se realize essa grande empresa par·a "de modo a cessarem as Justas reclamacões que todos tJS e ac,
me livrar dos encontros fatais com os tigre s da cidade bu1xa aparecem contra a ausência de um bom serv,c.o d1c asse o
[Assinado] Um do Povo" O presidente da Câmara sabia qL,e os novos d2u O
de
As medidas tomadas pelos ór gc1os pL1hl1cos, ld1s co Ino h1CJ1ene es ba, r.:ivam em habitas antIqu ss,mos, qu.: r~o ~er =
des1gnaçao de> locais ec;pecíf1cos para o despejo rio s lIq1 ec,, inul ílholrcios de u1na hora pai a outra por 'neras postúras T "·

tas aos empresários da l11npew, e outr ,1•; pc1l1<1l1va s, rrn 11.id ,1 fhll '., Além do 11,0, hc1vta os anI111a1s. As leis pro,b, M, p ' ,err
melhoraram as condições h191êr11c,ic, du C1d<1rlr• fl,, coI11p,111hi.1c, plo, ,1 e, 1,1 ~,10 tlt' porco s per to eia cidade c.ostt.rrie r•,q ,.
de asseio esl,1v;irr1 olmg,1rlils iJ cu1cl;11 do e:;p,içn pt'd1l1c o, 111.1•; <ln d,1 f t11 op.i 1ned1,,v,1l Par a que 'os en ot:-€'deuCJ

este era invadido pelos morurlorP'.,, n,10 c,n por ll."il11lrl', <111,11 , 011•,lr t111 urn 1n,1t,Hlou I n n.i c.eiTan .i da r,ct
gados, mas por falta dP <1ltern ..divu rnaI•, co1rnHln, uI11,1 Vt't qt1t• ,\di.iiit,, D h,ih1to 1'111,1Iz,1tfo, ,, d fic.L.ld<1dP, J,
l,l, l,l 'idl)\ co,11 Cjll<' r1101,1dnr e, c,,rt,nu rn

128 50 ANOS OE URBANIZAÇÁO I êon ,cl' Nun J 'T11jl(l

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nos quintais de suas casas e a ma,a los, quando necessário.
A despeito das críticas. a grande maioria da população,
O Jornal de Not1c1as ' em 9 de abril
· de 1881 , es tampou re
os ma,s próximos da Zululând1a, resistia. Essa res,stênc,a foi
clamação de moradores da rua das Merces, no centro da cida- um dos componentes da gradativa mudança daqueles de ma,or
de, 1nd1gnados com a matança de porcos e carneiros no quintal poder f1nance1ro na direção sul da Cidade, onde ocuparam no-
de determinada casa "Se uma postura municipal proíbe que se vas áreas de habitação. acelerando o processo de urbanização
cne gado suíno perto dos povoados, é intuitivo que não se deve de bairros como Vitória, Graça e Barra. O choque entre essas
tolerá-los no centro da cidade, nem que em quintal seJam eles diferentes visões de mundo prosseguiria. pelo menos até a pn
mortos porque o sangue e os resíduos que ficam dos mesmos meira metade do século XX. num processo de "c1v1lização" à
entram facilmente em decomposição e vão afetar seriamente a força, excludente e doloroso
saúde pública ... Reclamação semelhante foi feita por moradores
dos Mares, cidade baixa. poucos dias depois, no mesmo jornal: Ág ua. A estratégia mais disseminada para res1st1r às
"São constantes as reclamações contra criadores da raça suína mudanças era ignorar ou burlar a le i. Os habitantes de Sal-
que, além de tudo, invadem os quintais vizinhos e estragam as vador encontravam mil maneiras de fazê-lo. A Companhia do
plantações" Queimado, constituída em 1852 para fornecer água à Cidade,
Os Jornais manifestam preocupação com a opinião de era alvo constante das reclamações. A qualidade da água ti-
estrangeiros, v1s1tantes ou não. A recomendação expressa no nha-se deteriorado com a falta de manutenção através das
D1áno da Bahia de 14 de fevereiro de 1874 é válida para todo décadas. Mas o preço havia subido Muitos consumidores pas-
o peI iodo: "Nenhum cidadão pode prescindir do asseio, tanto saram então a vender parte da água que lhes era fornec1d<1, ou
para seu benefício como por dignidade própria aos olhos does- quebravam os registros, a fim de conter o custo. A freqüência
trangeiro c1v1l1zado'. Salvador deve ser limpa e seus habitantes de casos semelhantes levou a companhia a publicar um aviso,
devem cultivar costumes de higiene, para que seja julgada civili- no Diáno da Bahia. em 1° de maio de 1877. de que ela iria cortar

zada. A Europa continua a ser a grande referência. Num texto de o fornecimento de água de alguns consumidores, porque, alem

10 de março de 1874, a Cidade é chamada de ''Atenas brasilei - de venderem água que recebiam. destruíam equipamentos,

ra" O jornal comenta: "Como é que esses senhores apregoam "para o fim de obterem mais quant idade do que lhes é devida".

que a Bahia não pode suportar a enorme despesa dos esgo tos Esse comportamento, segundo a companhia. contrariava ore-

e querem ao mesmo tempo fazer crer que a Atenas brasi leira gulamento. Pode-se completar: e fazia-lhes concorrência.

é a segunda província do Império?" A Bahia tenta se identificar A maior parte das reclamações estava relacionada à ma

com os modos europeus, c1v1lizados, e se distanciar da África, qualidade e à falta de água. O Diário de Noticias de 29 de se-
tembro de 1885 publicou abaixo-assinado pedindo ao inspetor
referência de barbárie Leia-se o texto a seguir, referente a um
de Saúde Pública para manda, examinar a .~gua "que. há 15
car,o quebrado num sobrado da ladeira da Montanha, publicado
dias. a Companhia do Queimado fornece a seus consumidores
"º D1áno de Notícias de 9 de abril de 1885; a referência à Zulu-
Na quadra calamitosa que vamos atravessando, todo cuidado
'andia é bastante reveladora.
com a higiene pública é pouco" [mbora Salvado, st?rnpr0 t.-,

Infelizmente, emanações telúricas, alterações at'1'.osféricas ou nha sofrido carênc ia de águéi, as secas µe1 ·1ód1cc1s cont1·1buír.i111
outra qualquer coisa nos está ameaçando com a lugubre pers: muito para a falta desse líquido nu Cidade 101 ;-im 11umP1\isac;
pecI1va de uma epidemia de febre amarela, cujos pródromos 1a as queixas semelhantes à rP91s tr ad,1 pt>lo Co11e1D d,• No/1n,1, d,,
se anunciam nos repetidos casos de morte que vamos reg,s-
- demos confia, na sol1- 30 de agos l o de 1895. fo, mulada pPlo•, 111or;1do1 r", d,1 t,,,qtlt",1,1
trando· e nesta quadra de sustos nao po
de Sao Ped , o, conl 1a o falo de pass,11 ,,m c/1,1,, 0 d1;:is, :,,, v,'-""·
c,tude ~o Governo em precaver a população dos golpes destes
· há observância d.1s 15 ou mais. sem recPhe r ~19uc1, •,L'11du olir1q,H1L,,, ., n1111p1 ,i l,1
flagelos, e isto em uma rn.lade on de nao .
ma,s comezinhas regras de h1g1ene pública, onde as propnas dos aguc1dP11 os ;11n lJLil,rnll's "Nn Pll t,111I 0 1m 11111 do llH;,, ,l, ,>111
hab,tacões se convertem em cent.ros morbfí1cos, devid o ao mdll p<1nh1,1 cob t i1 corno '•" /011w, , .. ,,,,, P~c1t.i111<,11I,, . pt ,,t,",l,11,1111
· _ d . a quando mu1lo hon, a, a
sistema de canal1zaçao. que po er 1 atrnvés do 10111ul.
qualquer aldeola da Zululãnd,a

ao ANOS o URUNlZAÇÀO 1 ( 1 t lt ("! •l~ 1, IH

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LARGO OA SOLEOAOE.
EM DIREÇÃO À COMPANHIA
00 QUEIMADO

Calçamento. Grande parte das queixas dos habitantes de cIas à Câmara porque a rua f ca a 'ltrans ta~e ..;_.,~JJ :·
Salvador estava relacionada às obras públicas, em especial às O pedido foi atendido mas, confor'T'e o _ ª"· ~2 ' ,'/. 2:' : , :
ruas esburacadas e ao calçamento deficiente. [m muitos casos, de março de 1885, ·os ta,s encal"'t'ga,h s ~3 ,'t "" -. ·,-,
como o citado pelo Jornal de Notícias em 22 de abril de 1881, na de modo que, quando chove, as ag as 1.,;- ..;_,, e :.õ 't
moradores reclamaram contra o "'Lastimável estado·· das ladei- próximo às casas porque, en1 Cic'rtOs :,,r,,,s ~ e s:i: • .:;,
ras, nas quais era '"difícil transitar se a pé, e as cai-roças só a valeta [de escoamento] <' P1l, to Sl,,'s'r ,'r 3 'S --i:;s" ,·s -
muito custo passarão. As fendas na terra são tão profundas que
já afetam as casas e se de pronto não se der remédio, é muito
provável que até as próprias casas sofram em seus alicerces··
Atendendo a outra reclamação, o arl1culisla do D1áno de embelelamento p,ira a rua·, 10 'lt ,, t', ) \. \'
Notícias de 30 de Junho del885 ironizou: Num dba1xo as,,11,a,io. '1 o
Campo Santo recl,1m,m, d.- , ,.,,, ,,t, , ,., h ,
Continua ainda escancarado na ladeira de S Francisco um bu
nlleu-o F, tlncisco Pc.\ft'lrd "\9lU 1r \ ·,, , t' . ''f· • .. ~ .. ,._..
raco que a Câmara Mun1c1pal ali mantém, como um atestado de
sua ativrdade e zelo em adminrslrar o município. Nõo querernoc:.
ladr1ra qur dd dCt'ç·~--o ao et\tH1h'•r ,, t'\m , .
forçá-la a perder esse pad, ão de glória, cobrindo-o com algu
mas pedras, não é isso que pedimos agora; ma~ que prigue íl
um empregado para, iunto dele, gritar de continuo Ao largo,
quem tem amor a suas pernas!· Se Já tivessem cliegarlu a este
alvitre, ontem, coníorme nos comun1caram, uma pobre cr1d11ç;::i
não teria quebrado nele uma perna.

Mesmo quando as autoridades mandavam reparar o pro


blema, o resultado quase nunca era o esperado Na i-ua novcl
de São Bento, por exemplo, os moradores pedtrd111 jlf ov1dP-n

50 ANOS OE URBANIZAÇAO 1 1 1i• N '-1 l1 li ip ,11


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udicada porque as corr pa~ 11as de água e gás. no afã de colocar Império. o que causava muita confusão, não perm1t1ndo que os
1
e retirar tubulações, dar ficavam o calcamento
, , sem se preo- consumidores verificassem as contas recebidas O 01áno de No-
cupar em consertá -lo. uma jogando a responsabilidade para a tícias criticou o fato em 17 de setembro de 1884, nos segu1ntes
outra Foi o que denunciou o Diário da Bahia de 15 de outubro de termos·
!87/4 -Está em mau estado o calçamento da cida de. Além de não
ser reparada a parte que se deteriora pelo tempo, a companhia Uma das trapalhices com que a companhia mais embrulha o
de gás. nos seus consertos e encanamentos. revolve a calçada e público é com a anacrônica unidade aritmética de pés, que nin-
guém tem obrigação de enlender, num País em que há muito
a deixa em piores condições. E alteia em diversas partes O nível 1
se acha oficialmente decretado o sistema métrico Pois é tal a
das ruas, e as pedras são repostas soltas e fora do lugar". potência da companhia de gás que até obrigou esta terra, onde
As reclamações relativas à companhia do gás aumenta- a lei não permite o pé como medida, a aceitá-lo como medida
ram. a partir de sua incorporação pela inglesa Bahia Gas Com- legal, contra a lei de estado que estabeleceu como sistema ge-
ral de pesos e medidas o rac1onalíssimo e sobremodo compre-
pany. Em 4 de março de 1887, por exemplo. o 01áno da Bahia de-
ensível sistema métrico.
nunciou que, entre os "muitos abusos que com tanta constância
comete esta companhia", estava o de d1minu1r a quantidade de
gás fornecido. a partir das 9 horas da noite. prejudicando a in- Foi também contra a arrogância do superintendente da

tensidade da luz na rua e nas casas. "Isto. que deve ser de gran- companhia que um cidadão. Euclides Caldas, se manifestou

de economia para os interesses da companhia . é sem dúvida numa carta publicada pelo Jornal da Bahia em 24 de setembro
de 1883. Indignado com o comportamento do superintenden-
alguma prejudicialíssimc ao público que. sem diminuição da
te. o qual. segundo ele . cobrava contas indevidas e ameaçava
despesa. fica entretanto condenado a uma iluminação que em
suspender o fornecimento de gás para sua casa. o m1ssIvIsta
nada é superior às lamparinas."
autorizou publicamente a medida. Já que pretendia mudar sua
Curiosa reclamação está estampada no Diário de Notícias
iluminação para querosene. por não suportar mais "os despro-
em 2/4 de março de 1885. No arrabalde do Rio Vermelho, de
pósi tos desta célebre companhia". Para melhor expressar sua
acordo com o contrato assinado pela companhia, não era ne-
irritação. Caldas c1Iou trecho de carta que havia publicado em
cessário acender os lampiões em noite de luar, consideradas
1875: "Dia virá em que a população desta Capital. levada ao de-
suficientemente claras. para uma população pobre que acabava
sespero, por não achar na le,, nem nas autoridades, remédio
de conhecer a luz do gás. "Nada mais justo. nada mais natural" ,
às prepotências deste orgulhoso bretão, fará 1ust1ça. como nos
comenta . com ironia. o jornalista, porque numa "noite de tem-
Estados Unidos se pratica. usando a Le, de Lynch" Felizmente,
poral naquele arrabalde. sem iluminação nas ruas. é simples-
a solução do linchamento não chegou a ser adotada."'
mente um maná ... " para os assaltantes. Já em plena República,
A insatisfação generalizada. estampada nos jornais, não
a falta de iluminação públ ca continuou a ter graves conseqüên-
deixou de ser percebida pelas autoridades. Em 1881, a Câmara
cias. como exemplifica a reclamação de um morador da fregue-
Municipal con tratou um funcionário só para ler as notícias so-
sia da Sé, no coração da cidade. registrada no Oiáno de Notícias
bre "assuntos tendentes a serviços subord1nados à edilidade",
err 3u de dezembro de 1893. "O único lampião que existe no
informa o Jornal de Notícias em 20 de Junho de 1881 . Esse funcio -
Der - •lo Seminário, há mais de 15 dias conserva-se apagado
nário seria uma espécie de ouvidor, que repassaria as 1eclama
Por • ichar estragado e, por ,sso, os tais ... penetraram na casa
ções aos órgãos compelentes. As próprias empresas também
n· ' 0 azularam 126$000 em d1nhe1ro, relógio e cadeia . e uns
se viram na necessidade de organizar as queixas. Já em 1866, a
b,lh s de loteria, sem terem sido vistos"
Companhia do Queimado avisou. por me,o do 01ano d., R.,h,a d~
A Bahia Gas Company despertava an t1patIas. nãu só pela
12 de janeiro de 1866, que só recebe1·ia reclamnções por escrito,
~11 ai dade do serviço prestado, mas por adotar, por inter
entregues no escritório da empresa ou na casa do adm,rnstrc1do,
ao superintendente. atitudes prepotentes Havia queixas
Queixas não faltavam. O confo 1mismo é um concPito que em ne
.or ' tes, por exemplo, quanto à adoção do sistema de medi-
nhum momento da h,stó1 ,a da B;,h1a se adequou 01 seu povll.
~a• 'ês, em pés, em vez do sistema métrico, já adotado no

!:!O ANOS OE UR8ANIZACAO 1 131

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