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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
PROGRAMA DE MESTRADO EM CIÊNCIA POLÍTICA

JOSÉ MARCÍLIO DE SÁ

A ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL DO PARTIDO DO MOVIMENTO


DEMOCRÁTICO BRASILEIRO (PMDB) E SUA ATUAÇÃO NA ARENA
ELEITORAL DO ESTADO DO PIAUÍ: 1986 - 2006

TERESINA - PIAUÍ
2011
JOSÉ MARCÍLIO DE SÁ

A ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL DO PARTIDO DO MOVIMENTO


DEMOCRÁTICO BRASILEIRO (PMDB) E SUA ATUAÇÃO NA ARENA
ELEITORAL DO ESTADO DO PIAUÍ: 1986 - 2006

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação (Mestrado) em Ciência
Política do Centro de Ciências Humanas
e Letras da Universidade Federal do
Piauí, para obtenção do título de Mestre
em Ciência Política.

Orientador: Prof. Dr. Cleber de Deus


Pereira da Silva

TERESINA – PIAUÍ
2011
FICHA CATALOGRÁFICA
Serviço de Processamento Técnico da Universidade Federal do Piauí
Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco
S111o Sá, José Marcílio de.

A organização institucional do Partido do Movimento Democrático


Brasileiro (PMDB) e sua atuação na arena eleitoral do Estado do Piauí
[manuscrito]: 1986 - 2006 / José Marcílio de Sá – 2011.
168 f.

Cópia de computador (printout).


Dissertação (Mestrado) – Programa de mestrado em Ciência Política da
Universidade Federal do Piauí.
Orientador Prof° ‖Dr. Cleber de Deus Pereira da Silva.‖

1. Partidos Políticos. 2. Partido Cartel. 3. Arena Eleitoral. 4.


Multipartidarismo. 5. Política Piauiense. 6. Partido do Movimento
Democrático Brasileiro. I. Titulo.

CDD 320.981
JOSÉ MARCÍLIO DE SÁ

A ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL DO PARTIDO DO MOVIMENTO


DEMOCRÁTICO BRASILEIRO (PMDB) E SUA ATUAÇÃO NA ARENA
ELEITORAL DO ESTADO DO PIAUÍ: 1986 - 2006

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação (Mestrado) em Ciência
Política do Centro de Ciências Humanas
e Letras da Universidade Federal do
Piauí, para obtenção do título de Mestre
em Ciência Política.

Aprovada em 19 de agosto de 2011

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________
Presidente: Profº Dr. Cleber de Deus Pereira da Silva (Orientador)
Programa de Mestrado em Ciência Política - UFPI

_____________________________________________________
Profª Drª. Guiomar de Oliveira Passos
Programa de Mestrado em Ciência Política – UFPI

_____________________________________________________
Profº Dr. Fenelon Martins da Rocha Neto
Departamento de Comunicação Social – UFPI
À família
com carinho
AGRADECIMENTOS

Agradeço a todas as pessoas e instituições que colaboraram direta ou indiretamente para


o desenvolvimento e conclusão desta dissertação. Ao meu orientador, Professor Dr. Cleber de
Deus Pereira da Silva, pelas dicas, críticas e sugestões para o desenvolvimento da pesquisa,
em especial pelas sugestões concedidas para reformular a hipótese e os objetivos deste
trabalho.
Ao Professor Dr. Raimundo Batista dos Santos Júnior, pela convicção e perseverança em
projetar um Programa de Pós-Graduação em Ciência Política na Universidade Federal do
Piauí (UFPI), desafiando as contradições e o pessimismo daqueles que acreditavam na
inviabilidade do projeto.
Aos demais professores do Programa de Mestrado em Ciência Política da UFPI com os
quais cursei disciplina e que muito contribuíram para meu aprendizado ao longo do curso: Drª
Guiomar Passos, Dr. Márcio Vilarouca Grijó, Dr. Nelson Juliano e Dr. Ricardo Alaggio
Ribeiro. Agradeço também à professora Ana Beatriz pelo apoio moral.
Ao Professor Dr. Valeriano Costa (UNICAMP), por ter emprestado seu tempo e seu
conhecimento para ministrar um curso de metodologia da pesquisa em Ciência Política, tendo,
para tanto, que se deslocar de Campinas para Teresina. Ao professor Fenelon Rocha (UFPI),
pelas críticas, sugestões e incentivos no Exame de Qualificação. Agradeço também a Amaury
Assunção, o qual, quando esteve na secretaria da Coordenação do Programa, demonstrou
dedicação e tolerância para com os mestrandos.
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Piauí,
por proporcionar o aprofundamento de conhecimentos e a aquisição de novos aprendizados. À
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí – FAPEPI – pelo apoio financeiro
durante alguns meses, através do convênio FAPEPI/CAPES para concessão de bolsas de pós-
graduação, o qual possibilitou que eu ficasse, pelo menos durante o primeiro ano de estudos,
com dedicação exclusiva às atividades do curso.
Ao Tribunal Regional Eleitoral do Piauí (TRE – PI), por disponibilizar os bancos de
dados eleitorais e as informações relativas à filiação partidária dos candidatos em cada
processo eleitoral, bem como ao Diretório Regional do Partido do Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB), na pessoa de José Rodrigues, por conceder informações e documentos
essenciais para esta pesquisa.
Aos amigos e amigas que muito estiveram presentes em minha trajetória acadêmica:
Teodório Rogério Júnior, Francisco Frazão, Jane Oliveira, Juliana Cavalcante e,
principalmente, Sara Epitácio, pelas críticas, sugestões, conversas temáticas e auxílio com seu
acervo bibliográfico. Sou grato também ao meu grande amigo Luis José Oliveira Júnior
(Júnior), que sempre acreditou no meu potencial, tendo sido um grande incentivador.
Agradeço igualmente ao ilustre amigo e colaborador Jonas Moraes, pelos incentivos,
dedicação e empenho, procurando material em bibliotecas de São Paulo para enviar-me,
material este que foi fundamental para o desenvolvimento deste trabalho. Agradeço também a
Layla Ravana Andrade pelos esforços e incentivos no árduo trabalho direcionado para a
língua inglesa.
Ao meu pai Elias Bispo de Sá e à minha mãe Iracema Maria de Sá, por terem acreditado
no meu projeto de adotar a educação como suporte para o conhecimento e para vencer na
vida. A minhas irmãs e irmão – Kátia e Rosane, pelo apoio moral e financeiro para minha
formação, Isac, Iraci e Elisângela pelo apoio moral. Aos meus tios, tias, primos, primas,
sobrinhos e sobrinhas, pela compreensão, tolerância e dedicação. Agradeço também de forma
especial a Elka Barros, pelos incentivos, dedicação, paciência e companheirismo.
RESUMO

Esta dissertação de mestrado tem como objetivo central analisar o papel que o Partido do
Movimento Democrático Brasileiro – PMDB – desempenhou na política piauiense entre 1986
e 2006. O trabalho focaliza as relações de atuação e desempenho do partido na arena eleitoral,
impulsionado pelas arenas governamental e parlamentar. No desenvolvimento da dissertação,
argumenta-se que o PMDB tem atuado politicamente em uma propensão para o modelo de
partido de cartel, no qual a sobrevivência do partido deixa de depender da sociedade civil. No
modelo de partido cartelizado, as relações do partido com o Estado substituem suas relações
com a sociedade, nas quais os recursos do Estado passam a garantir a sobrevivência do
partido. Segundo essa perspectiva, o partido busca se articular junto ao poder para transformar
isso em visibilidade formadora de um capital político fortalecedor do partido na arena
eleitoral. Ao fazer parte do poder, principalmente ganhando o Executivo, mas igualmente
articulando coalizões, tem se estabilizado na arena eleitoral piauiense e evitado o declínio
partidário. A proposição sustenta que o exercício do poder e as influentes lideranças
peemedebistas têm sido fundamentais para o desempenho eleitoral do PMDB. Assim como o
poder viabiliza o partido a manter uma larga estrutura partidária que fortalece as bases
eleitorais do partido e causa efeitos positivos na arena eleitoral. Se a ampliação da competição
política reduziu o desempenho dos primeiros grandes partidos pós-democratização, no Piauí o
PMDB se sobressai em relação aos demais na medida em que, tratando-se de um partido
cartelizado e de espectro central, se articula com certa facilidade com o poder e reduz os
riscos de derrota e declínio. Como é de práxis do PMDB nacional, no Piauí o partido também
está constantemente no poder. As consequências disso são os desempenhos eleitorais em
relativa estabilidade. Enfatiza-se que, como o PMDB foi o partido que mais exerceu poder no
Piauí durante esse período, também é o partido que mais reduz riscos de declínio eleitoral na
medida em que tem elegido com frequência as maiores bancadas parlamentares no Estado. E
mais, sempre ampliou seu desempenho quando governou o Estado, e declinou
significativamente quando era realmente oposição. Por fim, constata-se que a lógica da
cartelização pressupõe o Estado como propulsor de recursos aos partidos, e estes,
transformam os recursos em base para se estabilizar no poder.

Palavras-chave: Partidos Políticos; Partido Cartel; Arena Eleitoral; Multipartidarismo; Política


Piauiense; Partido do Movimento Democrático Brasileiro.
ABSTRACT

This master dissertation has as main objective to analyze the role that the Brazilian
Democratic Movement Party – PMDB – plays in piauiense politics between 1986 to 2006.
The paper focuses the relationship of function and performance of the party in the electoral
arena driven by governmental and parliamentary arenas. In the developing of the dissertation
it has been argued that PMDB has acted politically in a propensity to party cartel model, in
which the party's survival no longer depends on civil society. In the model of cartelized party,
party's relations with the State replace the party's relations with society, in which state
resources are to ensure the survival of the party. In this perspective the party seeks to
articulate with the power to turn this into forming visibility of a party‘s strengthening political
capital in the electoral arena. As part of the government, especially winning the Executive, but
also articulating coalitions, the party has stabilized in the electoral arena of Piauí, and avoided
the partisan decline. The proposition is that exercise power and influential peemedebistas
leaderships have been critical to PMDB‘s electoral performance. As power enables the party
to hold a large party structure that strengthens the constituencies of the party and cause a
positive impact in the electoral arena. If the expansion of political competition has
reduced the performance of the first great post-democratization parties, in Piauí PMDB
stands in relation to others in that it comes from a party cartelized and central spectrum, it is
articulated with a certain ease with the power and reduces the risks of defeat and decline. As
usual in national PMDB, the party is constantly in the power in Piauí too. The consequences
of this are the electoral performances in relative stability. It is emphasized that,
since PMDB was the party that has exercised more power in Piauí during this period, it is also
the party that more reduces the risks of electoral decline in that it has often
elected more among the biggest parliamentary groups in the state. And more, it always
extended its performance when it ruled the state, and declined significantly when it was really
opposition. Finally, it has been shown that the logic of cartelization is the State as a resources
thruster to parties, and these transform the resource in base in order to stabilize in the power.

Keywords: Political Parties; Cartel Party; Electoral Arena; Multiparty; Piauiense Politics;
Brazilian Democratic Movement Party.
LISTA DE GRÁFICOS ILUSTRATIVOS E SEUS RESPECTIVOS TÍTULOS

1. GRÁFICO I: PIAUÍ – A relação de desempenho eleitoral entre ARENA e MDB para a


Câmara dos Deputados durante o sistema bipartidário, eleições de 1966 a 1978, p. 68.

2. GRÁFICO II: PIAUÍ – A relação de desempenho eleitoral entre ARENA e MDB para o
Senado Federal durante o sistema bipartidário, eleições de 1966 a 1978, p. 71.

3. GRÁFICO III: PIAUÍ – A relação de desempenho eleitoral entre ARENA e MDB para a
Assembleia Legislativa durante o sistema bipartidário, eleições de 1966 a 1978, p. 73.
4. GRÁFICO IV: PIAUÍ – Síntese de todos os cargos conquistados por ARENA e MDB
para a Assembleia Legislativa, Câmara dos Deputados e Senado Federal durante o sistema
bipartidário, eleições de 1966 a 1978, p. 76.

5. GRÁFICO V: Evolução do Número de Municípios e de Diretórios do PMDB no Estado do


Piauí, p. 92.

6. GRÁFICO VI: Desempenho dos partidos que disputaram o governo do Estado do Piauí
nas eleições de 1982, p. 97.

7. GRÁFICO VII: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas
Eleições para a Câmara dos Deputados, 1982, p. 99.

8. GRÁFICO VIII: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas
Eleições para a Assembleia Legislativa, 1982, p. 100.

9. GRÁFICO IX: Desempenho dos partidos que disputaram o governo do Estado do Piauí
nas eleições de 1986, p. 101.
10. GRÁFICO X: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas
Eleições para a Câmara dos Deputados, 1986, p. 104.
11. GRÁFICO XI: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas
Eleições para a Assembleia Legislativa, 1986, p. 105.

12. GRÁFICO XII: Desempenho dos partidos que disputaram o governo do Estado do Piauí
nas eleições de 1990, primeiro turno, p. 106.

13. GRÁFICO XIII: Desempenho do PFL e do PSDB para o governo do Piauí, 1990,
segundo turno, p. 108.

14. GRÁFICO XIV: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas
Eleições para a Câmara dos Deputados, 1990, p. 109.

15. GRÁFICO XV: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas
Eleições para a Assembleia Legislativa, 1990, p. 110.

16. GRÁFICO XVI: Desempenho dos partidos que disputaram o governo do Estado do Piauí
nas eleições de 1994, primeiro turno, p. 111.
17. GRÁFICO XVII: Desempenho dos partidos que disputaram o governo do Estado do
Piauí nas eleições de 1994, segundo turno, p. 113.

18. GRÁFICO XVIII: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas
Eleições para a Câmara dos Deputados, 1994, p. 114.
19. GRÁFICO XIX: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas
Eleições para a Assembleia Legislativa, 1994, p. 116.
20. GRÁFICO XX: Desempenho dos partidos que disputaram o governo do Estado do Piauí
nas eleições de 1998, primeiro turno, p. 118.

21. GRÁFICO XXI: Desempenho dos partidos que disputaram o governo do Estado do Piauí
nas eleições de 1998, segundo turno, p. 119.

22. GRÁFICO XXII: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas
Eleições para a Câmara dos Deputados, 1998, p. 120.
23. GRÁFICO XXIII: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas
Eleições para a Assembleia Legislativa, 1998, p. 122.

24. GRÁFICO XXIV: Desempenho dos partidos que disputaram o governo do Estado do
Piauí nas eleições de 2002, primeiro turno, p. 123.

25. GRÁFICO XXV: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas
Eleições para a Câmara dos Deputados, 2002, p. 126.
26. GRÁFICO XXVI: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas
Eleições para a Assembleia Legislativa, 2002, p. 127.

27. GRÁFICO XXVII: Desempenho dos partidos que disputaram o governo do Estado do
Piauí nas eleições de 2006, primeiro turno, p. 129.

28. GRÁFICO XXVIII: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas
Eleições para a Câmara dos Deputados, 2006, p. 131.

29. GRÁFICO XXIX: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas
Eleições para a Assembleia Legislativa, 2006, p. 133.

30. GRÁFICO XXX: A Relação de Desempenho Eleitoral entre o Executivo e o Legislativo:


O PMDB nas Eleições de 1986, 1994, 1998, respectivamente, p. 137.

31. GRÁFICO XXXI: Relação entre o Número de Municípios do Estado e de Prefeituras


Conquistadas pelo PMDB no Estado do Piauí; 1982 – 2004 p. 139.

TABELA E SEU RESPECTIVO TÍTULO

1. TABELA I: Evolução do Número Efetivo de Partidos (NE) e de Partidos Parlamentares


(NP) no Estado do Piauí, 1986 – 2006. Assembleia Legislativa, p. 97.
LISTA DE SIGLAS

AC - Ato Complementar;

AI – Ato Institucional;

ARENA – Aliança Renovadora Nacional;

IUPERJ – Instituto Universitário de Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro;

MDB – Movimento Democrático Brasileiro;

MTR – Movimento Trabalhista Renovador;

NE – Número de Partidos Efetivos;

NP – Partidos Parlamentares;

PCB – Partido Comunista Brasileiro;

PCdoB – Partido Comunista do Brasil;

PDC – Partido Democrata Cristão;

PDS/PPR/PPB/PP – Partido Democrático Social/Partido Progressista Reformador/ Partido


Progressista Brasileiro/Partido Progressista;

PDT – Partido Democrático Trabalhista;

PFL/ DEM – Partido da Frente Liberal/ Democratas;

PL/PR – Partido Liberal/ Partido da República;

PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro;

PMN – Partido da Mobilização Nacional;

PP – Partido Progressista;

PRN – Partido da Reconstrução Nacional;

PRP – Partido da Representação Popular;

PRT/PRD/PRT – Partido Rural Trabalhista/Partido Republicano Democrático/ Partido


Republicano Trabalhista;

PSB – Partido Socialista Brasileiro;


PSC – Partido Social Cristão;

PSD – Partido Social Democrático;

PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira;

PSP – Partido Social Progressista;

PST – Partido Social Trabalhista;

PT – Partido dos Trabalhadores;

PTB – Partido Trabalhista Brasileiro;

PTR – Partido Trabalhista Renovador;

TRE-PI – Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Piauí;

UDN – União Democrática Nacional;


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO__________________________________________________________13

2 SOBRE AS ORGANIZAÇÕES PARTIDÁRIAS: TRAJETÓRIAS, MODELOS E


TRANSFORMAÇOES_____________________________________________________21

2.1 O SURGIMENTO DOS PARTIDOS E OS MODELOS PARTIDÁRIOS____________24

2.2 OS PARTIDOS VISTOS COMO ORGANIZAÇÕES INSTITUCIONAIS___________33

2.3 OS PARTIDOS COMO INTERMEDIÁRIOS DEMOCRÁTICOS: UMA DISCUSSÃO


SOBRE O REORDENAMENTO PARTIDÁRIO__________________________________36

2.4 OS PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL: DAS ORIGENS À REVOLUÇÃO DE


1930_____________________________________________________________________40

2.5 PARTIDOS E SISTEMA PARTIDÁRIO NA TERCEIRA REPÚBLICA (1945 – 1964):


O SURGIMENTO DOS PARTIDOS MODERNOS NO BRASIL_____________________45

3 PMDB - ORIGENS HISTÓRICAS E TRAJETÓRIA DEMOCRÁTICA: O CASO DO


ESTADO DO PIAUÍ_______________________________________________________52

3.1 O REGIME AUTORITÁRIO E A FORMAÇÃO DO BIPARTIDARISMO__________53

3.2 MDB E ARENA: AS ELEIÇÕES SOB O BIPARTIDARISMO NO ESTADO DO PIAUÍ


E O DECLÍNIO NO DESEMPENHO ELEITORAL EMEDEBISTA (1966 –
1978)____________________________________________________________________62

3.3 DA ABERTURA POLÍTICA AO RETORNO DO MULTIPARTIDARISMO: UMA


LONGA E GRADUAL TRANSIÇÃO__________________________________________78

4 PMDB: A INSTITUIÇÃO PEEMEDEBISTA NA ARENA ELEITORAL DO


ESTADO DO PIAUÍ_______________________________________________________82
4.1 A ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL DO PARTIDO DO MOVIMENTO
DEMOCRÁTICO BRASILEIRO – PMDB______________________________________86

4.2 A POLARIZAÇÃO POLÍTICO-ELEITORAL ENTRE A HERANÇA ARENISTA E A


HERANÇA EMEDEBISTA__________________________________________________93

4.3 O DESEMPENHO DO PMDB NA ARENA ELEITORAL DO ESTADO DO PIAUÍ: A


LÓGICA DE SER GOVERNO________________________________________________96

4.4 A LÓGICA DA CARTELIZAÇÃO PARTIDÁRIA: A RELAÇÃO DO PODER COM O


DESEMPENHO DO PMDB NA ARENA ELEITORAL PIAUIENSE________________135

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS______________________________________________142

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS______________________________________150

7 ANEXOS______________________________________________________________155
13

1 INTRODUÇÃO

O propósito deste trabalho consiste em investigar quais procedimentos foram adotados


pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB – para manter-se fortalecido no
que se refere ao seu desempenho na arena eleitoral piauiense1 durante a nova democracia
brasileira2, com uma constante e significativa conquista de cargos eletivos. O sistema
partidário fragmentou-se, o que levou todos os demais partidos que apareceram com altos
índices de desempenho eleitoral no período imediatamente seguinte à pós-redemocratização, a
reduzirem bastante suas conquistas de cargos eletivos nas últimas disputas eleitorais. Em
contrapartida, ocorreu um aumento significativo na quantidade de partidos com desempenho
relevante na arena eleitoral.
Os partidos políticos têm despertado interesses significativos no âmbito da ciência
política, como um campo de análise e objeto de estudo que são parte da ―engrenagem‖ do
sistema político democrático surgido no Brasil a partir do retorno do multipartidarismo com a
Lei de nº 6.767, sancionada em 20 de dezembro de 1979, no bojo do processo de abertura
política.
Esta lei finda o sistema bipartidário compulsório, anteriormente imposto pelo regime
militar autoritário, em que apenas a Aliança Renovadora Nacional – ARENA – e o
Movimento Democrático Brasileiro – MDB – competiam na arena eleitoral brasileira3. A lei4
citada fixou um prazo de seis meses para que os novos partidos se organizassem com vistas a
atuarem na nova arena eleitoral, de caráter competitivo e institucionalizado, sob novos
princípios (NICOLAU, 1995; 1996; SILVA, 1999; ALMEIDA, 2004; CORBELLINI, 2005;

1
Isso não significa que o PMDB vem mantendo os mesmos patamares eleitorais dos anos 80, e sim que o PMDB
é, dentre todos os partidos que atuam no subsistema partidário piauiense e que já surgiram fortalecidos durante o
período de redemocratização (devido às heranças seja do velho MDB, seja da antiga ARENA), o partido que
sofreu menos com o surgimento e o crescimento de outros partidos, ou seja, com a fragmentação partidária.
2
A nova democracia brasileira tem o seu marco na retomada do poder civil em 1985, com a eleição de Tancredo
Neves no Colégio Eleitoral. Mesmo sem a efetivação de sua posse devido ao seu falecimento, o vice-presidente
eleito, José Sarney, assume em março do mesmo ano. Apesar de o retorno dos civis ao poder ter ocorrido via
Colégio Eleitoral, já estava previamente estabelecido que nos anos seguintes o Congresso Nacional (formado nas
eleições de 1986) iria elaborar uma nova Constituição através da Assembleia Nacional Constituinte e que as
eleições presidenciais seguintes, previstas somente para após a Constituição de 1988, não mais seriam pelo
Colégio Eleitoral e sim pelo voto popular, em sufrágio universal. O trabalho somente abrangerá o período até
2006. Nas eleições de 2010, o PMDB não lançou candidato majoritário.
3
Apesar da existência de dois partidos, o regime mantinha controle sobre as eleições e não permitia a
competição livre e justa, de tal forma que o partido do governo – ARENA – conseguia assegurar a maioria dos
cargos eletivos. Para mais detalhes, confira Kinzo (1988; 2004).
4
Para maiores detalhes, confira a lei supracitada. Para perceber mais detalhadamente como aconteceu a transição
do bipartidarismo autoritário para o multipartidarismo democrático e competitivo, consultar Nicolau (1996).
14

MADEIRA, 2006). A lei 6.767/79 ―regulamentou o processo de criação dos partidos no país
entre 1980 e 1995‖ (NICOLAU, 1996, p. 11).
As instituições políticas democráticas (partidos políticos) tornaram-se pontos centrais
para a compreensão do sistema político brasileiro institucionalizado a partir da retomada do
multipartidarismo5 e da base legal sustentada pela Constituição promulgada em 5 de outubro
de 1988, assim como da Lei de nº 9.096 de 19 de setembro de 1995 – Lei dos Partidos
Políticos. A princípio, em decorrência de os partidos políticos estarem na base de sustentação
do regime democrático e por proporcionarem um sistema político-eleitoral competitivo.
Além disso, o processo de redemocratização, desenvolvido nos anos 1980 (NICOLAU,
1996) e consolidado nos anos 1990 (KINZO, 2004; 2005), não seria o mesmo e não teria a
mesma intensidade caso as instituições partidárias não estivessem efetivamente participando,
notadamente no tocante à organização das eleições competitivas, para que tais partidos
pudessem chegar ao poder pela via do voto popular.
O trabalho abrangerá o período de 1986 a 2006. É um período no qual o avanço da
democracia ocorre em uma trajetória que tem o PMDB como um dos partidos de maior
influência no país. Embora não na mesma proporção, este fato se repete no Estado do Piauí,
pois apesar de o partido algumas vezes ter conseguido ser o maior partido no Congresso
Nacional (FERREIRA, 2002), no Piauí quase invariavelmente tem sido o segundo maior
partido no Parlamento, sendo superado pelo PFL até nas eleições de 2002. Contudo, o PMDB
passa a superar o PFL a partir das eleições de 2006.
O subsistema partidário piauiense encontra-se inserido nesse processo multipartidário,
com um significativo número de partidos efetivos6. Os partidos efetivos existentes desde a
redemocratização tiveram altos desempenhos no início do regime democrático, porém, nas
últimas eleições reduziram significativamente o seu desempenho eleitoral. O PMDB
igualmente passa pela redução de seu desempenho eleitoral, mas com uma diferença em
relação aos demais. Efetivamente, desde a redemocratização, trata-se do partido efetivo que
tem conseguido manter o seu desempenho eleitoral, pois é aquele que teve a menor redução
em suas performances.

5
A retomada ao multipartidarismo ocorre oficialmente em 1979 com a Lei de nº 6.767, extinguindo o
bipartidarismo compulsório e finalizando a polarização entre a Aliança Renovadora Nacional – ARENA – e o
Movimento Democrático Brasileiro – MDB – que prevalecia desde 1965/1966. Contudo, a estruturação do
sistema partidário brasileiro acontece na década de 1980 e se consolida a partir da década de 1990. Para maiores
detalhes, confira Kinzo (1993; 2004), Nicolau (1995; 1996).
6
O Número Efetivo de Partidos pode ser calculado a partir da seguinte fórmula: NE = 1/Σ ², em que pe é a
proporção de cadeiras ocupadas por partido (SANTOS, apud FREITAS, 2010, p. 89).

1986 1990 1994 1998 2002 2006


15

Se compararmos o desempenho eleitoral de PMDB, PFL/DEM e PDS/PPR/PPB/PP no


Estado do Piauí durante esse período, é perceptível que o primeiro sempre manteve um alto
desempenho, embora não o mais alto, enquanto os demais, dentre os quais o PFL/DEM, que
durante muito tempo apresentou o melhor desempenho eleitoral, vem reduzindo fortemente
seu desempenho. Nessa trajetória, o PDS/PPR/PPB/PP igualmente se encontra extremamente
reduzido em termos de resultados eleitorais, de fato, com um desempenho eleitoral menor que
o PFL/DEM. O declínio do PDS/PPR/PPB/PP ocorreu antes da redução sofrida pelo
PFL/DEM. Enquanto isso, o PMDB permanece com um desempenho elevado, não apenas em
relação aos demais partidos já citados, mas entre todos os partidos efetivos do subsistema
partidário piauiense.
Partindo desses pressupostos, busca-se compreender: como o PMDB, nessa trajetória de
duas décadas, período em que ocorreram várias eleições democráticas, tem se articulado em
termos de organização institucional e de atuação na arena eleitoral para se manter como um
dos partidos mais importantes no exercício da política no Estado do Piauí? Em outros
termos, como o PMDB tem sido organizado internamente e como tem atuado na arena
eleitoral para obter resultados relevantes em todos os processos eleitorais de toda trajetória
dessa nova democracia? Afinal, o que tem feito do PMDB o partido com maior estabilidade7
na arena eleitoral do Estado do Piauí?
O trabalho desenvolvido sobre o PMDB no Estado do Piauí discutirá a seguinte hipótese:
a perpetuação do PMDB junto ao poder, ocupando espaço na estrutura do Estado, tem sido
decisiva para a sobrevivência do partido8 nas arenas eleitoral, parlamentar e governamental.
Isso contribuiu para o partido manter uma larga estrutura partidária no Estado, e vice-versa;
da mesma forma, a influência de líderes políticos oriundos dos tempos do bipartidarismo,
mas principalmente daqueles que aderiram ao PMDB durante a redemocratização e/ou sua
consolidação, foi fundamental durante esse período na condução do partido9 e no seu
desempenho eleitoral.
A escolha do tema aconteceu em decorrência da relevância que este partido evidenciou
na ―Nova República‖. O PMDB foi o mais expressivo partido na conquista do Executivo
estadual e nas coalizões de governos, e a segunda maior expressão no Parlamento, mantendo
igualmente um elevado desempenho nas eleições municipais.

7
Relativo à quantidade de cargos eletivos, quesito em que o PMDB tem sempre assegurado uma posição de
destaque, mantendo-se entre os primeiros.
8
A hipótese fundamenta-se na teoria do modelo de partido de cartel, de Richard Katz e Peter Mair (1995).
9
Sobre a força dos ex-arenistas e ex-emedebistas na política brasileira, ver Rafael Machado Madeira (2006).
16

Este trabalho seguirá uma perspectiva segundo a qual se compreende que os partidos são
instituições importantes, as quais estão passando por um processo de realinhamento10 para
cumprirem as suas funções de forma restrita na arena eleitoral e formarem governos
democráticos. Para isso, recorrer-se-á às teorias que delimitam as funções dos partidos
políticos.
O partido será analisado segundo uma definição tipológica que compreende os partidos
como instituições que desenvolvem atividades de forma restritos estando, os mesmos,
voltados para a arena eleitoral, um espaço onde atuam com exclusividade. Além disso, o
trabalho se desenvolve sob uma perspectiva na qual o partido atua em uma arena eleitoral
democrática e competitiva, tendo como objetivo alcançar um desempenho relevante para levar
seus membros/representantes ao Governo e/ou ao Parlamento, onde pode fazer parte de uma
coalizão de governo ou marcar posição fazendo oposição ao governo.
Entende-se que o PMDB tem atuado na arena eleitoral piauiense com a preocupação
constante de conquistar, a priori, o Executivo ou, em caso de inviabilidade, articulando
coalizões com o partido vencedor. Dessa forma, o partido quase invariavelmente beneficia-se
de sua posição de partido de centro, o que concede um índice de rejeição baixo, tornando
viáveis as articulações junto ao partido que governa o Estado. Nessa perspectiva, a sua
reorganização junto ao poder tem sido uma constante no Estado do Piauí. Daí a sua
aproximação programática com o modelo de partido de cartel.
Ao longo do desenvolvimento do trabalho, demonstrar-se-á que o PMDB tem
desempenhado um papel de partido governista nos moldes típicos de partido cartelizado. O
modelo de partido de cartel foi discutido e conceituado por Richard Katz e Peter Mair (1995).
Segundo este modelo, os partidos optam por realinhar-se ao Estado ao ver sua base − a
sociedade civil − se distanciar da organização.
A partir deste pressuposto, sustenta-se que o PMDB tem se apoiado no exercício de
poder, em sua estrutura partidária, na influência de seus líderes e em sua menor rejeição
comparativamente ao seu histórico e maior rival no Piauí, o PFL, para emplacar um
desempenho relevante na arena eleitoral. Serão Focalizados os procedimentos adotados pelo
partido para não entrar em declínio e se manter com certa estabilidade na conquista de cargos
eletivos no Estado do Piauí.
O partido de cartel tem o Estado como sua fonte financeira maior. Passa a sobreviver dos
recursos que o Estado distribui. Uma distribuição feita a partir de uma divisão proporcional ao

10
Sobre o realinhamento partidário, confira Gunther e Montero (2002).
17

tamanho da representatividade do partido, como é o caso do fundo partidário e do tempo livre


no rádio e na televisão (NICOLAU, s/d). Além disso, o partido distribui recursos quando
governa ou quando compõe uma coalizão de governo e ocupa cargos lá onde há recursos. Daí
a importância de governar ou ao menos fazer parte de governos, reduzindo assim os riscos de
derrotas eleitorais e de declínio do partido, o que em consequência reduziria seus recursos
estatais (EPITÁCIO, 2010, p. 10).
Tanto em âmbito nacional quanto local, o PMDB tem sido um partido presente nos
governos, adotando estratégias programático-eleitorais que o sustentam como uma instituição
que é parte do poder. Seguindo o exemplo do PMDB nacional, o PMDB piauiense articula
alianças com partidos eleitoralmente significativos.
Contudo, analisar um partido em uma unidade da Federação requer alguns cuidados para
perceber a sua relação com o alinhamento do partido no âmbito nacional, assim como na
busca das especificidades da instituição partidária na unidade federada na qual o partido está
sendo analisado. Por isso, no curso do desenvolvimento desse trabalho, será necessário buscar
identificar tanto o alinhamento do PMDB do Piauí com o PMDB nacional, quanto o que há de
diferente no PMDB piauiense a partir do desempenho institucional e dos alinhamentos
programático-eleitorais.
Essa diferença existia, ao menos nos tempos de MDB, pois, segundo Silva (1999), havia
no Piauí um consistente domínio do partido governista, a ARENA, a ponto de não haver
efetivamente uma competição por parte da oposição. Em nenhuma das quatro eleições sob o
bipartidarismo o MDB chegou a ameaçar o domínio autoritário local aliado aos militares.
Portanto, resta-nos analisar se o não alinhamento permanece no regime democrático instituído
na década de 80. E, permanecendo ou não, em que grau de relação local/nacional com o
Estado.
Ainda que no modelo de partido de cartel aumentem as decisões pragmáticas com a
finalidade de estar no poder, isso não significa o fim das ideologias, apesar de ter-se que
reconhecer sua redução nas últimas décadas, pois ―aparentemente não apenas as estruturas
organizacionais orientam o comportamento dos membros partidários, mas também alguns
princípios, alguns objetivos comuns, perspectivas ou ideologias‖ (KROUWEL, 2009, p. 249)
(Tradução nossa), considerando ainda que ―a dimensão ideológica compreende tanto a base
por competição partidária como o grau de concorrência interpartidária‖ (KROUWEL, 2009,
p. 253) (Tradução nossa).
18

A abordagem será referenciada por uma perspectiva neoinstitucionalista11, ou seja,


compreende-se que as instituições são importantes, portanto indispensáveis para a
compreensão dos processos sociais e políticos democráticos (HALL e TAYLOR, 2003; DE
DEUS, 2006, p. 13). ―O novo institucionalismo tem despertado grande interesse em diversas
áreas da Ciência Política, como nos debates sobre sistemas eleitorais, estudos legislativos
[partidos políticos] e políticas públicas, entre outros‖ (DE DEUS, 2006, p.13). Nesse caso,
trata-se dos partidos políticos, de sua importância na organização das eleições em regime
democrático, servindo de vínculo entre o Estado e a sociedade civil, assim como de sua
atuação na arena eleitoral em sistemas políticos democráticos competitivos.
Não se deve distanciar-se da ideia da importância das instituições e de seu papel, pois
―em qualquer sociedade minimamente civilizada, as relações e os processos de poder se
realizam no quadro das instituições e estas últimas, suas regras, mecanismos e procedimentos,
não são indiferentes quanto aos resultados dos processos políticos‖ (TAVARES, 2003, p. 11).
E tais processos requerem análises teórico-metodológicas.
A não utilização de um único método de análise nesse trabalho acontecerá em função de,
atualmente, haver certa liberdade no âmbito das ciências sociais que permite, com frequência,
a combinação das análises qualitativas (BAQUERO, 2009), pois esta investigação abrange
uma gama de enfoques sobre fatos sociais e políticos (KING, KEOHANE e VERBA, 2000, p.
14), com as análises quantitativas (BAQUERO, 2009), que têm como base os aspectos
numéricos dos fenômenos políticos e sociais, partindo no entanto da descrição geral de casos
concretos, para comprovar hipótese previamente levantada pelo pesquisador sobre seu objeto
de estudo (KING, KEOHANE e VERBA, 2000, p. 14), possibilitando um maior
aprofundamento na análise do objeto em foco (BAQUERO, 2009).
Nesse caso, os métodos quantitativos e qualitativos12 irão formar, por essência, a
natureza da pesquisa, visto que, ―[...] permite o uso de técnicas quali-quantitativas sem
abdicar da metodologia utilizada‖ (BAQUERO, 2009. p. 24). Assim, busca-se a compreensão

11
O neoinstitucionalismo surge na ciência política como campo teórico que discute as questões políticas a partir
das influências das instituições. Tem como uma de suas metas fundamentais analisar e compreender como as
instituições interferem no comportamento dos indivíduos. Procura demonstrar que o comportamento dos
indivíduos e dos processos sociais e políticos sofrem interferência do desenho institucional, visto que as ações
dos indivíduos, nessa perspectiva, tornam-se intermédios para que as instituições venham a exercer influência
sobre as diversas situações políticas, para que determinadas ações inadequadas aos princípios da legalidade
sejam submetidos ao ―aparato institucional-legal‖ para que este venha a se tornar um propulsor de novas práticas
e comportamentos adequados a determinadas finalidades previamente estabelecidas nas normas legais. Para mais
detalhes, confira Hall e Taylor (2003), De Deus, (2006).
12
Essas assertivas não são mutuamente excludentes. De fato, são métodos que, por serem instrumentos de
abordagem utilizados paralelamente no trabalho, podem se tornar complementares na medida em que cada um
pode elucidar aspectos que o outro não consegue. Para mais detalhes, confira King, Keohane e Verba (2000).
19

de certos fenômenos sociopolíticos apoiados em pressupostos de aspecto para além da


objetividade, aspectos vinculados à ação e ao comportamento social em processos eleitorais.
Portanto, o trabalho exige estudo capaz de evidenciar vários aspectos inerentes à
natureza teórica da política, à atuação do partido na arena eleitoral e à sua estrutura
organizacional junto ao multipartidarismo e ao regime político democrático. Daí que, se por
um lado é possível analisar o partido como organização, como instituição, para compreender a
sua dinâmica interna de funcionamento, o que é viável pelo uso do método qualitativo, por
outro, não é possível compreender o seu desempenho na arena eleitoral (análise de dados
eleitorais) sem o uso do método quantitativo. Daí a necessidade do uso de ambos (KING,
KEOHANE e VERBA, 2000; BAQUERO, 2009), sem prejuízo para os resultados da
pesquisa.
Afinal, ―a utilização de múltiplos métodos para o progresso da ciência é um tema menos
controverso‖ (CEPALUNI, 2009, p. 1), de forma que se torna falsa a ideia da existência de
uma oposição entre os métodos quantitativos e qualitativos (KING, KEOHANE e VERBA,
2000; BAQUERO, 2009).
A dissertação está dividida em cinco capítulos, sendo que o primeiro é a introdução e o
último comporta as considerações finais. No segundo capítulo são apresentadas as bases
teóricas dos partidos, fazendo uma breve discussão sobre as trajetórias e transformações das
organizações partidárias, apresentando os modelos e enfatizando a transformação/declínio dos
partidos de massa e o surgimento do partido de cartel. O capítulo está dividido em cinco
tópicos: no primeiro discute-se o surgimento dos partidos e os modelos partidários; no
segundo, a discussão recai sobre os partidos como organizações institucionais; no terceiro,
sobre o reordenamento partidário, ou seja, as transformações partidárias recentes; em seguida,
aborda-se o embrião dos partidos brasileiros a partir do século XIX até a Revolução de 1930;
por último, enfatiza-se o surgimento dos partidos modernos no Brasil.
No capítulo seguinte, apresentam-se as origens do PMDB no Piauí, fundamentando-se a
partir do MDB. O capítulo está dividido em três tópicos: primeiramente aborda-se a formação
do bipartidarismo sob o autoritarismo; a seguir, aparecem, empiricamente, as eleições
piauienses sob o bipartidarismo, enfatizando o domínio da ARENA e a fragilidade e declínio
do MDB; por último, enfatiza-se o longo processo de abertura política e a retomada do
multipartidarismo, momento em que o MDB passa a ser denominado PMDB.
No quarto capítulo, desenvolve-se uma discussão empírica sobre o PMDB como
instituição e toda sua trajetória e desempenho eleitoral no Estado do Piauí entre 1986 e 2006.
20

O capítulo está dividido em quatro tópicos: no primeiro é analisada a organização do PMDB


no estado do Piauí; em seguida, demonstra-se que as heranças político-eleitorais do
bipartidarismo polarizaram as disputas de poder no Piauí nas décadas de 80 e 90; no terceiro
tópico, analisa-se o desempenho do PMDB na arena eleitoral piauiense, na perspectiva de ser
governo e utilizar do poder para se fortalecer eleitoralmente; por fim, faz-se uma análise sobre
a relação do poder com o desempenho eleitoral do partido, enfatizando a lógica da
cartelização partidária como forma de sobrevivência política.
Nas considerações finais, desenvolver-se-á uma reflexão acerca dos procedimentos que
foram demonstrados durante a discussão, com ênfase no desempenho eleitoral como reflexos
da ocupação de espaços de poder. Refletir-se-á sobre a cartelização, ou seja, ser governo
encabeçando o Executivo ou em uma coalizão como lógica de desempenho eleitoral, de
redução dos riscos de declínio e de sobrevivência, considerando que o Estado tem sido a
grande fonte mantenedora do partido.
21

2 SOBRE AS ORGANIZAÇÕES PARTIDÁRIAS: TRAJETÓRIAS, MODELOS E


TRANSFORMAÇÕES

O objetivo deste capítulo é desenvolver uma discussão sobre as organizações partidárias


enfatizando, ao final, os partidos políticos no Brasil com vistas a compreender as origens e a
formação do Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB. Será feita uma
problematização sobre os partidos, relacionando-a à trajetória política brasileira, focando os
partidos e a sua atuação. Serão levantadas discussões sobre os partidos em regimes
democráticos, apresentando-os como conectores sociopolíticos, como organizações
institucionais em transformação junto às mudanças na sociedade e na política das últimas
décadas, de tal forma que influenciam diretamente as instituições políticas.
A discussão busca demonstrar que os partidos políticos estão passando por um processo
de reordenamento organizacional, reestruturando-se em uma perspectiva na qual, com o
declínio dos partidos de massa e o surgimento do modelo de partido de cartel, há uma relação
de distanciamento entre a organização partidária e a sociedade civil (KATZ e MAIR, 1995).
Em função desta nova relação organizacional, os partidos se aproximam do Estado como
estratégia de preenchimento do espaço vazio deixado pelo afastamento das bases,
inversamente ao que acontecia com os partidos de massa, que tinham uma relação de muita
aproximação com a sociedade civil, passando então a ter o Estado como base para o
desempenho eleitoral, como referência de sobrevivência.
A sociedade civil, que por muito tempo foi uma referência de sustentação, vem sendo
substituída pelo Estado com a emergência do modelo de partido de cartel a partir dos anos de
1970 na Europa (KATZ e MAIR, 1995). Ao tomar este caminho, a discussão desenvolverá
uma trajetória sobre os modelos de partidos que antecederam o modelo de partido de cartel,
demonstrando os caminhos que levaram a este último. Dessa forma, entende-se que o PMDB
se enquadra nesse modelo devido à sua constante ocupação de espaço estatal13, desde a
redemocratização brasileira na década de 80 até os governos atuais, assim como,
consequentemente, aos seus relevantes resultados eleitorais.
Segundo Jairo Nicolau (1996, p. 10), para fazer as definições tipológicas dos partidos, ao
se tomar o caminho de uma definição restrita, não se pode excluir os micropartidos que
emergiram após o processo de redemocratização, desde que os mesmos tenham participado ou
13
Referente tanto aos cargos que o partido ocupa no Poder Executivo, cargos eletivos e cargos de indicação
política, quanto aos cargos que conquista no Legislativo. Haja vista que o PMDB frequentemente ocupa espaço
nas diversas instâncias estatais, e isso foi uma das motivações para essa pesquisa.
22

participem de eleições. Por outro lado, busca-se um distanciamento de análise relativamente a


grupos extraparlamentares (organizações leninistas de esquerda ou organizações/partidos de
extrema direita) ou a partidos com existência efêmera, que sequer chegaram a participar de
uma eleição, a exemplo do Partido Popular (PP), que atuou apenas entre 1980 e 1981.
Por esse caminho, não enfatizamos qualquer discussão pessimista que negligencia a
existência de partidos no Brasil ou que não acredita nas funções dos partidos como
organizações que competem por votos na arena eleitoral e organizam governos democráticos.
Portanto,
Para a compreensão de partidos políticos, a questão básica é precisar se os partidos
são definidos em termos amplos ou restritos. A definição determina se a teoria
geral é limitada para explicar apenas o comportamento dos partidos puramente
competitivos em sistemas democráticos ou se atinge um universo mais amplo,
incluindo sistemas unipartidários e partidos anti-sistema ou subversivos (JANDA,
1993, p. 166, apud NICOLAU, 1996, p. 10).

As instituições partidárias são organizações que surgem e se desenvolvem através das


ações coletivas dos atores políticos pela ótica da participação, aglutinação ou contestação, em
uma trajetória onde há, no mínimo, um princípio de ideal comum para que os objetivos da
organização possam se tornar realidade nas arenas eleitoral, governamental e parlamentar, na
composição de governos e nos processos de tomada de decisão.
Por esta razão, para Angelo Panebianco (2005) os partidos não podem ser
compreendidos sem que haja uma análise que procure perceber os princípios e os objetivos da
instituição que se fizeram/fazem presentes em suas origens e trajetória em função das
transformações históricas na sociedade, na política, e, consequentemente, levando em
consideração as mudanças no interior da instituição partidária e na forma de ação política
segundo suas metas e objetivos. Ou seja, os partidos devem ser vistos como instituições que
se relacionam com o seu ambiente social e político.
Nessa perspectiva, os partidos políticos podem ser compreendidos como organizações
originadas por grupos sociais os mais diversos, podendo ter suas bases vinculadas desde com
as relações pessoais de caráter particularista até com as organizações sustentadas pela
formalidade e impessoalidade das instituições burocráticas complexas. Porém, em ambas as
situações, são marcados, desde que atuando em um ambiente democrático, por uma
característica comum, a saber, a rotatividade constante e previamente estabelecida nas várias
instâncias de exercício do poder político14.

14
Para maiores informações sobre democracia e instituições políticas democráticas, confira Robert Dahl (2001),
Manuel Alcántara Sáez e Flavia Freidenberg (2002).
23

Os partidos políticos são instituições que representam parte da conquista e expansão das
liberdades civil e da política da sociedade moderna. Eles são parte de um longo e complexo
processo de formação das sociedades democráticas, de organização dos processos políticos no
interior das nações, participando diretamente dos trajetos políticos de combate às ideologias
autoritárias e promovendo a expansão da democracia15.
O que importa aqui é o partido que busca o poder aceitando as regras do jogo
democrático e institucional. Partidos para os quais uma derrota eleitoral não se desdobrará em
quaisquer tentativas de chegar ao poder por outras vias que não estejam positivadas e aceitas
dentro das previsibilidades legais da democracia. Entende-se que o PMDB tem uma longa
trajetória seguindo essa lógica, pois desde o seu surgimento já se vinculara ao combate ao
regime autoritário.
Este capítulo está dividido em cinco tópicos. O primeiro apresenta uma discussão sobre o
surgimento dos partidos políticos e os modelos partidários que foram estruturados e
desestruturados ao longo da história, enfatizando como cada modelo se organiza para atuar na
arena eleitoral e se relacionar com o poder.
O segundo tópico discute os partidos políticos como organizações, analisando como
essas instituições se estruturam e tomam decisões internamente, as quais refletem diretamente
sobre os desempenhos partidários nas arenas eleitoral, governamental e parlamentar.
O terceiro tópico enfatiza a relação entre os partidos e a democracia, a importância dos
partidos para o sistema, com ênfase no processo de realinhamento pelo qual passam
atualmente a fim de responderem às novas exigências dos sistemas sociais e políticos.
No quarto tópico será discutido o surgimento dos partidos políticos no Brasil,
demonstrando sua longa trajetória de formação e a permanência dos partidos pré-modernos,
ou partidos de elite no Brasil.

15
Confira Diamond e Gunther (2001), (orgs). Introdução de: Political parties and Democracy. Baltimore, Johns
University Press. Eles demonstram que, apesar de nas últimas décadas ter ocorrido um crescimento considerável
dos índices de liberdade civil e política, reduzindo também as ideologias autoritárias, há, em contrapartida, uma
redução considerável da confiança nas instituições políticas democráticas, principalmente com relação aos
partidos políticos, onde ocorre um descontentamento ainda maior, de forma que a confiança sobre os mesmos é
declinante. Está ocorrendo um processo contraditório, pois na medida em que a democracia está se
universalizando, as instituições democráticas têm seu prestígio reduzido perante os cidadãos. Contudo,
reafirmam a importância dos partidos para a dinâmica da política democrática. O declínio da confiança nas
instituições partidárias não pode ser visto como fator que suprime sua importância para a democracia. De fato,
não se pode esquecer que a função eleitoral dos partidos, disputando cargos eletivos, quando os candidatos são
escolhidos pelo povo, proporcionando consequentemente a rotatividade do poder, é uma atividade que não está
sendo negada aos partidos, permanecendo em alta.
24

O quinto e último tópico levanta uma discussão sobre o surgimento dos partidos políticos
modernos no Brasil durante a terceira República16 (1945 – 1964), enfatizando a importância
dos partidos que surgiram nesse período para a formação do Movimento Democrático
Brasileiro – MDB – e posteriormente para a formação do Partido do Movimento Democrático
Brasileiro – PMDB –, o primeiro formando a base para o segundo.

2.1 O SURGIMENTO DOS PARTIDOS E OS MODELOS PARTIDÁRIOS

As abordagens teóricas sobre partidos têm se situado em meio a um dilema entre teoria e
prática, assim como desenvolvem uma análise dinâmica sobre as transformações partidárias
que ocorreram em vários modelos durante o século XX. Tais modelos se organizaram
historicamente com determinadas características no que tange às suas relações com a
sociedade civil e com o Estado, assim como à forma de atuação junto às arenas eleitoral,
governamental e parlamentar (SARTI, 1993; KATZ e MAIR, 1995).
Se o campo teórico coloca os partidos como instrumentos essenciais para a democracia
liberal, com a representação das massas no poder político (PITKIN; SARTORI, apud SARTI,
1993), a práxis demonstra que os surgiram e se desenvolveram a partir das demandas sociais,
pela participação no campo político e decisório, fato que remonta ao século XIX, momento
em que estas instituições iniciam a sua organização para atuarem na arena eleitoral como
partido de quadro17 (SARTI, 1993; BOBBIO, MATTEUCCI e PASQUINO18, 2000, p. 899).
―Contudo, na prática, o partido político está diretamente ligado ao surgimento de uma classe
operária numerosa gerada pela Revolução Industrial, e à necessidade de incorporá-la ao
sistema [...]‖ (SARTI, 1993, p. 1). Em razão de ser o momento de afirmação da burguesia
junto ao poder político, exigiu-se, em contrapartida, um processo de conquista por parte dos
estratos sociais que reclamavam inclusão nos processos políticos.
Segundo Bobbio Matteucci e Pasquino (2000, p. 900), ao ingressar na vida política a
burguesia organiza os partidos em forma de comitê. O sufrágio é limitado e o Parlamento
reduz-se à exclusividade burguesa. Enquanto prevaleceu essa estrutura, não ocorreu mudança
na organização partidária. Havia uma elite que organizava os partidos para seus objetivos.

16
Essa discussão sobre as origens dos partidos modernos no Brasil refere-se a Mainwaring (2001).
17
A denominação de partido de quadro também é conceituada por Sarti (1993), Katz e Mair (1995), Bobbio,
Matteucci e Pasquino (2000) como partido de elite, partido dos notáveis ou comitê, e já estavam voltados para
organizar eleições, porém, possuíam organizações efêmeras, somente funcionando em períodos de eleições.
18
Apesar de Bobbio, Matteucci & Pasquino não serem estudiosos de partidos políticos, seu verbete sobre
partidos identifica o momento histórico de surgimento do embrião das referidas instituições.
25

Katz e Mair (2002:115) argumentam que o partido de elite é basicamente uma


aglomeração de partidos locais que consistem em um pequeno núcleo de indivíduos
com acesso independente e pessoal aos recursos disponíveis para colocar qualquer
um deles ou os de seus substitutos no Parlamento como seu representante
(KROUWEL, 2009, p. 254) (Tradução nossa).

Com efeito, a sociedade liberal que busca consolidar a democracia e o poder político é a
mesma que produz a classe operária ansiosa por inclusão e participação política. Portanto,
convém submeter o surgimento dos partidos políticos a uma reestruturação da sociedade
moderna em geral e não apenas a uma classe social, daí o surgimento de partidos liberais
burgueses e dos partidos socialistas como instrumentos de formalização das conquistas dos
trabalhadores. Não obstante, o fim do século XIX e o início do século XX são marcados pela
redução da perspectiva revolucionária dos trabalhadores, os quais resolveram se organizar sob
as regras da democracia liberal burguesa (PRZEWORSKI, 1989). Nesse momento,

Criado ―de cima para baixo‖, o partido liberal se firmou particularmente no pós-
guerra como instrumento eficaz de contenção de conflitos, ―agência de poder‖
(SARTORI, 1982, apud SARTI, 1993) hábil na incorporação da grande massa de
trabalhadores e capaz de conter os anseios dos transformadores dos novos atores
sociais (SARTI, 1993, p. 1).

Embora seja necessário enfatizar que as classes sociais em reestruturação nesse momento,
independentemente de sua posição na estrutura social, contribuem para a formação de partidos
democráticos e para a expansão do sufrágio (PRZEWORSKI, 1989), é notório que as
instituições partidárias, burguesa ou proletária, passam por transformações, levando as
tendências do momento de formação, em que são mais ou menos constantes, a atingirem outro
estágio e seus objetivos a ganharem novas metas para viabilizar a incorporação de demandas
sociais. Pois se a sociedade muda, o mesmo acontece com as instituições (PANEBIANCO,
2005, p. 36). Assim, ―o ‗pluralismo‘ dos partidos aparece, portanto, como a possibilidade de
uma representação que corresponda a todos os setores da sociedade; e a atuação dos partidos
será avaliada em função do fim para o qual foram criados‖ (SARTI, 1993, p. 2).
Desde então, surgem os partidos de massa, em um momento no qual os grupos sociais
excluídos da participação política questionam a estrutura social e política que restringia a
inclusão das massas. Esses grupos constroem canais para viabilizarem a participação e
romperem as barreiras organizadas pelos ―notáveis‖. Se até então os partidos dos ―notáveis‖
conseguiam manter a participação política restrita a si, isso não persistirá nas décadas
26

seguintes, quando haverá uma contínua inclusão participativa institucionalizada em prol da


participação nos processos eleitorais.
O desenvolvimento econômico possibilita novas condições de vida, e por este motivo,
segundo Przeworski (1989), a decisão de participar da arena eleitoral veio a partir do
momento em que os trabalhadores perceberam que poderiam, em ―troca‖, receber benefícios.
E, de fato, a trajetória de conquista de direitos sociais que culminou com a propensão para o
Estado de bem-estar social certamente não teria avançado sem a introdução dos partidos
social-democratas.
Para Przeworski (1989), a social-democracia formou suas bases junto ao crescimento dos
partidos socialistas, ou de massa, na arena eleitoral. A decisão de participar dos processos
político-eleitorais foi um ponto fundamental na divisão das vertentes do movimento dos
trabalhadores e na aproximação de seus partidos às arenas eleitorais.
Segundo Przeworski (1989), a impossibilidade de um partido operário constituir uma
maioria no eleitorado é o ponto crucial para que os representantes dos partidos socialistas
repensem suas convicções ideológicas e seus objetivos políticos e, a partir disso, pensem em
uma convergência de classes junto à popularização do regime democrático e à diversificação
da sociedade. A dificuldade de localizar cada indivíduo em uma estrutura social complexa
representa um empecilho ao domínio de uma só classe, assim como de um único partido.
A princípio, os ―notáveis‖ demonstraram fortes restrições à formação dos partidos de
massas. A burguesia mantinha o Exército e a burocracia do Estado como instrumento de
controle das massas na política. Ou seja, ocorre um embate político-ideológico por espaços
políticos. Há uma progressiva participação, principalmente de grupos profissionais restritos,
―nos círculos e nos comitês eleitorais‖. Paralelamente a isso, buscava-se uma unificação das
atividades eleitorais em nível de Estado-Nação e a sua implementação através de uma
adequação de pessoas exercendo atividades políticas remuneradas (BOBBIO, MATTEUCCI e
PASQUINO, 2000).
Para Przeworski (1989, p. 29), a desmobilização das massas possibilita aos partidos
tomar o caminho da tese de Michels, o aburguesamento do movimento socialista. A
representatividade leva os militantes à burocracia pequeno-burguesa, adequando-se às regras
do jogo eleitoral, com alianças e coalizões para formarem governos e maximizarem o apoio
político.
Os socialistas reorganizaram os partidos para ingressarem na política, ganharem eleições
e exercerem poder com mandato voltado para as transformações que conduziriam ao
socialismo. Isso era o que acreditavam, porém não foi o alcançado. Mesmo mantendo um
27

vínculo forte com a sociedade civil, foram obrigados a se adequarem à estrutura social
capitalista (PRZEWORSKI, 1989).
O objetivo principal dos partidos de massa, em termos de organização, foi integrar às
suas bases os grupos sociais que estavam sendo incluídos no sistema político (ALMEIDA,
2004, p. 10). Com isso, visavam ao poder, assim como a expandir benefícios sociais que o
Estado poderia distribuir19. A sua marca programática é a representatividade no âmbito da
competição política e do exercício do poder, apresentando como bandeira a reforma social ou
a oposição a ela (KATZ e MAIR, 1995). Ou seja, organizavam-se e apresentavam-se nas
eleições com princípios previamente definidos para o exercício do governo. De fato, tais
partidos
Serviram como meios para que os grupos emergentes pudessem chegar ao poder e
ter implementadas suas demandas. A principal característica do partido de massa é a
sua capacidade de representar esses grupos. Nestes partidos a mobilização do
eleitorado é mais importante que a sua conversão; o financiamento é baseado em
contribuições de seus filiados; os líderes são recrutados entre os membros do partido
e a direção tem um papel chave no desenvolvimento do partido; a burocracia é um
elemento fundamental, existindo fortes laços organizativos de tipo hierárquico, e a
propaganda é feita por comunicação própria do partido. A ideologia é acentuada
nesse modelo: de maneira geral encontramos os partidos de massa à esquerda do
espectro eleitoral (tem uma ligação forte aos ideais socialistas) (ALMEIDA20, 2004,
p. 10 – 11).

Como todos os modelos de partidos enfatizados por Katz e Mair (1995), o modelo de
partido de massa não consegue prevalecer em meio às transformações dos anos 50 e 60. Com
o rompimento das fronteiras grupais, as bases sociais que formavam a sustentabilidade dos
partidos de massa passam por um processo corrosivo. Torna-se cada vez mais difícil para os
partidos se direcionarem para grupos específicos. Os vínculos partidários se fragilizam e os
partidos são obrigados a adotar estratégias com discursos mais gerais, visto que os vínculos
ideológicos não mais representam a formação de uma base eleitoral sólida. Os valores
ideológicos não mais asseguram a mobilização e tampouco o voto. O indivíduo passa a
aparecer mais que a classe (PRZEWORSKI, 1989; KATZ e MAIR, 1995; ALMEIDA, 2004).
Amplia-se a aceitação segundo a qual ―quando os partidos social-democratas tornam-se
partidos ‗de toda a nação‘, reforçam a visão da política como um processo de definição do
bem-estar coletivo ‗de todos os membros da sociedade‘‖ (PRZEWORSKI, 1989, p. 43).
Segundo Adam Przeworski (1989), o distanciamento da concepção de classe e a
aproximação com os indivíduos levaram a uma aproximação dos partidos social-democratas a
outros partidos, mais especificamente aos partidos que até muito recentemente lhes eram

19
Já que, segundo Przeworski (1989), o capitalismo estava em expansão.
20
Nessa passagem, Ludmila Chaves Almeida faz referência a Duverger, Os Partidos políticos, 1970.
28

opostos ideologicamente e, por isso, participavam das eleições em caminhos diferentes, cada
um tentando convencer a sociedade que seu projeto seria o mais viável para o social.
Os partidos de massa representavam uma intersecção de interesses, de mobilização e
vínculo entre a sociedade civil e o Estado. Porém, na década de 60 a conquista já representava
um significativo avanço, razão pela qual a bandeira de luta desses partidos – os direitos
sociais – já não se fazia atrativa para os grupos que até então eram o alvo desses partidos
(PRZEWORSKI, 1989), ou seja, os indivíduos não lutam por aquilo ao que já têm acesso,
algo que já se conquistou21.
Para Przeworski (1989), em caso da eficácia da ação política em uma trajetória de
reformas, o estabelecimento de novas instituições políticas deve ser concebido como um
instrumento em potencial para conquistar novas posições e benefícios, o que passa a ser
viabilizado por um processo de formação de lideranças que não sejam avessas ao jogo
político-eleitoral, já que precisam ser inseridas na arena eleitoral na busca de um cargo eletivo
para serem representantes da classe, pois ―as massas não agem diretamente em defesa de seus
interesses, e sim delegam essa defesa‖ (PRZEWORSKI, 1989, p. 27) aos representantes
legitimados pelo voto. É o surgimento dos partidos modernos (MAINWARING, 2001).
Katz e Mair (1995) analisam os modelos partidários com o objetivo de entenderem o
surgimento do partido de cartel. Definem quatro modelos de partidos que prevalecem em
momentos diferentes. O partido de cartel surge a partir da redução do papel dos partidos de
massa. Este modelo entra em declínio a partir dos anos 50, com a redução dos índices de
participação política nas atividades do partido. Surge o modelo de partido-cartel, que reduz
seu vínculo com a sociedade e passa a ser parte integrante do Estado (GUEDES, 2006, p. 4).
A seguir serão elencados os modelos de partido definidos por Katz e Mair (1995), em um
curso de transformações sociais gerando novas formas de organizações. Para estes autores, o
modelo de partido de cartel representa a quarta fase de transformação dos partidos. O primeiro
é o partido de elite do século XIX; o segundo é o partido de massa dos anos de 1880 até 1960;
o terceiro é o partido ―pega tudo‖ (catch-all) a partir de 1945 e, por fim, o partido de cartel a
partir dos anos 70.
Ao surgirem, os partidos se organizam de forma restrita no que se refere à sua
composição e participação. É o que Katz e Mair (1995) chamam de partidos de elite,
organizados com a restrição da inclusão política e da distribuição dos recursos, pois eram

21
Para a teoria da escolha racional, os indivíduos buscam reduzir custos. Daí não se preocuparem em reivindicar
aquilo a que já têm acesso ou o que pode ser alcançado sem a necessidade de uma participação política
intensificada.
29

movimentados segundo os contatos pessoais, condição que gerava um insignificante processo


de competição, pois a organização e o processo eleitoral eram controlados por um quadro de
―notáveis‖. Com essa estrutura, os partidos se constituíam em organizações nas quais não
havia uma definição clara acerca das fronteiras entre a organização, a sociedade e o Estado
(KATZ e MAIR, 1995; BOBBIO, MATTEUCCI e PASQUINO, 2000).
Os partidos ainda não estavam organizados como espaço de discussão democrática para
formarem uma interação no interior do Legislativo, deste com o Executivo e de ambos com a
sociedade, ou seja, os partidos ainda não estavam articulados com a sociedade.

Um dos pré-requisitos da consolidação da democracia, [...], é a existência de uma


sociedade política composta por instituições nucleares [...] através das quais a
sociedade se constitui politicamente de forma a selecionar e monitorar o governo
democrático. Entre estas instituições nucleares contam-se os partidos políticos, que
detêm uma posição particularmente importante, na medida em que podem
desempenhar um papel fundamental e ativo, ao providenciarem a necessária
medição entre a sociedade civil e o Estado (LINZ e STEPAN, apud BIEZEN 1998,
p. 685).

Do final do século XIX até aproximadamente 1960, prevalecem os partidos de massa


como organizadores dos processos eleitorais. A sociedade já passava a se organizar
politicamente de forma mais competitiva e os partidos de massa tornavam-se indispensáveis
para os processos de democratização (KATZ e MAIR, 1995). ―A ampliação do sufrágio nos
regimes democráticos europeus com a integração da classe média e das classes trabalhadoras
ao sistema eleitoral faz surgir um novo tipo de partido, o partido de massa, [...] em
substituição ao [...] partido de elite‖ (ALMEIDA22, 2004, p. 10). Com o declínio do partido de
massa surgem o partido ―pega tudo‖ (catch-all) e o partido de cartel. Em meio ao processo
transitório para o partido de cartel surge o partido ―pega tudo‖ nos anos 1940. É um modelo
de partido que se encontra junto ao sufrágio maciço do eleitorado (KATZ e MAIR, 1995).
Portanto,

Os partidos pega-tudo (catch-all) originam-se dos partidos de massa que têm


profissionalizado suas organizações partidárias e reduzido seu perfil ideológico a
fim de recorrerem a um eleitorado mais amplo do que sua classe original ou base
social religiosa (KROUWEL, 2009, p. 250) (Tradução nossa).

No modelo de partido ―pega tudo‖ não há uma identificação específica de classe social.
Trata-se de uma organização heterogênea que enfatiza um caráter individualista da sociedade
e prioriza o acesso a canais de comunicação independentes. Com isso, o partido ―pega tudo‖

22
Ludmila Chaves Almeida refere-se à teoria de Maurice Duverger, Os Partidos políticos, 1970.
30

(catch-all) passa a adotar uma posição de relativa independência no que diz respeito à
sociedade civil, priorizando a ocupação de espaço no Estado. O distanciamento da sociedade
civil ensaia uma relação de representatividade que se aproxima da relação de mercado, em
que ao invés de participantes efetivos há uma massa de indivíduos consumidores (KATZ e
MAIR, 1995). Haja vista que:

Uma vez que a sociedade se modifica ao longo do tempo, é de se esperar que as


instituições também se transformem. Algumas entrarão em franca decadência, outras
surgirão, e muitas conseguirão adaptar-se aos novos desafios que lhes são impostos
e às novas oportunidades que surgem. Os partidos políticos encontram-se envoltos
por diferentes processos de mudança. Por um lado, a sociedade se complexificou de
maneira extraordinária durante o século XX, afastando-se de divisões sociais
simplificadas baseadas tão somente em classes. Por outro, a competição
interpartidária por votos dentro de um mercado eleitoral definido favorece a busca
constante por ferramentas de conquistas de votos e a criatividade em soluções para a
ampliação do eleitorado dos partidos (ANDREIS, 2008, p. 1).

O partido no modelo cartelizado organiza seus líderes para atuarem na política de forma
profissional e tendo que desenvolver suas habilidades administrativas com eficiência para
estruturarem uma base sólida de competição política, sem que haja uma dependência direta da
sociedade civil, já que o partido de cartel é um modelo de partido que não se organiza para
trabalhar direcionado a uma classe social, e sim desenvolvendo um foco difuso. Seu discurso
precisa ser difundido de forma a poder abranger uma diversidade de segmentos sociais e, em
consequência, conquistar apoio político-eleitoral (KATZ & MAIR, 1995).

A cartelização pode ser considerada, portanto, como uma das formas possíveis de
enfrentamento do jogo, limitando a competição àqueles pontos essenciais
inescapáveis dentro de um sistema pluri ou bipartidário, em outros termos, a
arregimentação de tantos votos quanto possíveis para a eleição de candidatos
(ANDREIS, 2008, p. 4).

As transformações que levaram ao surgimento do partido de cartel condicionaram os


partidos a buscarem novas fontes de recursos. Enquanto o partido de massa tinha as
contribuições e taxas como sua principal fonte de recursos, o partido de cartel passa a ter nas
subvenções do Estado sua principal fonte. Nessa organização, os partidários possuem maior
autonomia para atuarem no interior da organização, já que são tratados mais como indivíduos
que como corpo organizativo (KATZ & MAIR, 1995). No modelo, ―a verdadeira substância
da competição tenderia a desaparecer, apesar de uma maior competição formal, com maiores
gastos de campanhas e maior profissionalização‖ (GUEDES, 2006, p. 5).
31

Basicamente este tipo de partido é caracterizado por uma fusão do partido em cargos
públicos, com vários grupos de interesse que formam um cartel político, os quais
estão orientados principalmente para manutenção do poder executivo. É uma
organização profissional que é amplamente dependente do Estado para sua
sobrevivência e tem lentamente se retirado da sociedade civil, reduzindo suas
principais funções para o governo (KROUWEL, 2009, p. 250 e 252) (Tradução
nossa).

Seguindo uma perspectiva de sobrevivência pelas subvenções estatais, o partido passa a


ter acesso privilegiado aos meios de comunicação, tais como o tempo livre na grande mídia de
rádio e televisão, assim como ao fundo partidário. De fato, o partido estrutura-se como parte
do Estado, adota um estilo de representatividade como agente estatal (KATZ e MAIR, 1995;
NICOLAU, s/d). ―Os partidos de cartel lentamente monopolizam os recursos do Estado e
criam um ambiente legal que favorece os partidos incumbentes e discrimina novos
competidores‖ (KROUWEL, 2009, p. 252) (Tradução nossa). Dessa forma, ao menos no caso
brasileiro, forjou-se uma dependência dos partidos políticos em relação ao Estado, desde os
princípios que regulamentam a existência dos mesmos até a sua atuação na arena eleitoral,
pois,
Um inegável fenômeno da democracia brasileira desde 1985 é a crescente regulação
da atividade partidária por parte do Estado. O controle do Estado sobre os partidos
tem ocorrido em diferentes níveis de controle legislativo de vários aspectos da vida
partidária, tais como, inscrição e listagem de membros para a intervenção crescente
do judiciário – Superior Tribunal Federal (STF) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
– no sistema representativo, pensar a promulgações de decisões, que tem um forte
impacto sobre partidos e eleições. Além disso, os recursos do Fundo Partidário e o
do tempo livre no rádio e na televisão. Em combinação, estas condições seguintes
indicam que o sistema partidário brasileiro é um dos mais regulados entre todos os
países democráticos. Além do mais, estas regulações têm desempenhado um maior
papel na determinação do número e natureza dos partidos brasileiros (NICOLAU23,
s/d, p. 3 – 4) (Tradução nossa).

A cartelização dos partidos pode ser considerada como um fenômeno recente de tal
forma que sobre a mesma ainda há muito a ser discutido, tendo em vista que existem algumas
problemáticas sem respostas24. É uma teoria que ainda tem pouca discussão, devido ao seu

23
Quando me refiro de forma restrita ao caso do Brasil é em decorrência de estar citando Jairo Nicolau em um
trabalho no qual o mesmo faz uma discussão sobre o caso da cartelização dos partidos no Brasil, e não que seja
algo exclusivo do caso brasileiro.
24
Os teóricos que definiram a forma de organização do modelo de partido de cartel enfatizam a presença do
partido na ocupação de espaço na estrutura do Estado, o que seria uma estratégia de sobrevivência. Não obstante,
não deixam claro qual a posição ou os problemas que incidirão sobre os partidos quando estiverem na oposição,
visto que, pela lógica, só deverá ocupar espaço no Estado o partido que vencer as eleições, os que fizerem parte
de uma coligação vitoriosa, ou ao menos qualquer partido que, mesmo não tendo feito parte do grupo vencedor,
tenha sido convidado e aceito fazer parte de uma coalizão de governo.
32

recente surgimento25. Se por um lado existem questões ainda sem respostas, por outro não se
pode esquecer que a sociedade passa por transformações e se torna mais complexa,
provocando novos desafios para a democracia e suas instituições. Portanto, o modelo de
partido de cartel vem ganhando notoriedade quanto a novas explicações sobre as recentes
formas de organização, suas novas formas de seleção de lideranças, de atuação na arena
eleitoral, de formação de governo e de relação com a sociedade, assim como de aproximação
em relação às estruturas estatais.
Não obstante, a cartelização, que apesar de provocar uma redução das ideologias em
decorrência de adotar princípios mais pragmáticos, não significa uma completa eliminação
das mesmas. Este trabalho não abdica de uma lógica que compreende a relevância das
ideologias.
Portanto, apesar do objetivo dos partidos que atuam na arena eleitoral em regimes
democráticos ser chegar ao poder seguindo as regras do jogo, não se entende que os partidos
busquem o poder de qualquer forma. Entende-se que a busca do poder é conduzida também
por ideologias previamente definidas, o que, para Panebianco (2005), está presente desde as
origens e acompanha a organização em suas transformações, de forma que o pragmatismo não
significa romper com as ideologias. Todo partido precisa de uma base ideológica, visto que a
ideologia de um partido é o indicador essencial de seus objetivos (PANEBIANCO, 2005, p.
7). Eles não devem ficar totalmente deslocados da ideologia.
Como pode ser visto a seguir, os partidos são organizações que, ao buscarem o poder, se
motivam pelas ideologias. Os partidos em regimes democráticos estão submetidos às mesmas
regras, mas não são todos iguais, não buscam apresentar-se utilizando os mesmos discursos,
como por exemplo, o pragmatismo. Por mais que a distância entre os tipos de partidos venha
se reduzindo, isso não significa que eles sejam iguais, muito menos que seja o fim das
ideologias. Se não houvesse ideologias não teria sentido para o eleitor ser simpatizante de um
partido e não de outro, e quando este eleitor vota, mesmo quando resolve mudar seu voto para
outro partido, ele pode fazer respeitando o mesmo bloco ideológico.

25
Apesar de desde a década de 1950 Otto Kirchheimer já ter apontado alguns pontos sobre a formação do
partido de cartel, é apenas a partir de 1995, quando Richard Katz e Peter Mair publicaram seu artigo intitulado
Changing models of party organization and party democracy: the emergence of the cartel party que as
discussões em torno do modelo de partido de cartel vieram à tona na teoria política. Para mais detalhes, confira
Katz e Mair (1995), Guedes (2006).
33

2.2 OS PARTIDOS VISTOS COMO ORGANIZAÇÕES INSTITUCIONAIS

Ao desenvolver uma análise sobre os partidos como organizações institucionais, é


necessário compreender a especificidade tipológica da organização em uma abordagem que
enfatize de forma restrita as funções dos partidos. Devemos iniciar pela exclusividade de que
―Os partidos são a única organização que atua na arena eleitoral e compete por votos‖
(ALMEIDA, 2004, p. 14). A arena eleitoral é um espaço no qual os partidos políticos são
instituições com atuação exclusiva (PANEBIANCO, 2005).
São recorrentes as definições tipológicas de partidos. Contudo, as tipologias partidárias
podem ser incorporadas em apenas dois tipos de definições: uma ampla e outra restrita 26. Em
uma abordagem inicial, ampla, não há uma preocupação com os tipos de regimes políticos, se
democráticos ou autoritários, se competitivos ou não. Por definições amplas compreendem-se
aquelas que analisam os partidos enfatizando toda sua extensão, como por exemplo:

Organizações que atuam na arena eleitoral em países democráticos, partidos únicos


dos regimes fechados, partidos militantes (religiosos, étnicos, regionais, ideológicos)
que operam à margem do sistema político com ação extraparlamentar (NICOLAU,
1996, p. 9).

Portanto, ―um partido pode ser definido como uma organização que tem por objetivo
colocar seus representantes no governo‖ (JANDA 1993, apud NICOLAU, 1996, p. 9). A
princípio, essa definição tem um caráter geral, podendo ser utilizada tanto pelos defensores da
definição ampla quanto pelos defensores da definição restrita de partidos.
Janda (apud NICOLAU, 1996) qualifica sua definição especificando os mecanismos que
os partidos utilizam para galgar o poder. Assim, divide-os em três tipos: ―via competição
eleitoral; por ação direta administrativa (quando o partido no governo não permite competição
eleitoral); ou por intermédio da força (quando um partido procura subverter o sistema e
conquistar o governo)‖ (NICOLAU, 1996, p. 9). Segundo essa perspectiva, para Nicolau
(1996, p. 9) os partidos políticos se organizam, desenvolvem e aplicam estratégias na busca de
seus objetivos: ―competitivas, restritivas, e subversivas.‖
Porém, a teoria que analisa os partidos de forma restrita se preocupa em compreendê-los
unicamente como instituições competidoras na arena eleitoral. Nessa perspectiva, os ―partidos
são organizações que participam das eleições em países democráticos‖ (NICOLAU, 1996, p.
26
Sobre tais definições, confira Jairo Nicolau (1996), capítulo primeiro, no qual o mesmo se refere às definições
de Kenneth Janda (1993).
34

9). De fato, nas democracias modernas, os partidos, vistos de forma restrita, têm como marca
exclusiva o domínio legal da arena eleitoral na busca de votos para legitimarem sua ocupação
de cargos. (NICOLAU, 1996; PANEBIANCO, apud NICOLAU, 1996).
A partir das perspectivas tipológicas e das transformações sobre os partidos e sistemas
partidários, delimitando suas funções como instituições que buscam ocupar o poder, Nicolau
(1996) adota ―a definição restrita de partido, ressaltando a singularidade deste como
organização que compete por votos nas eleições‖ (NICOLAU, 1996, p. 10).
Ambas as definições tipológicas possuem caráter analítico divergente. Para aqueles que
defendem os partidos e precisam de definições amplas, é impossível desenvolver uma teoria
geral abordando-os a partir das definições restritas. Por outro lado, os defensores de uma
análise restrita sobre os partidos compreendem que há diferenças significativas entre os que
competem democraticamente na arena eleitoral, com regras justas e eleições previamente
definidas, e aqueles estruturados em um sistema de partido único e de partidos que são
adversos ao sistema (NICOLAU, 1996, p. 10). Sendo organizações de princípios e atuações
diferentes, ―juntá-las em uma mesma definição significaria perder em termos de precisão
analítica‖ (NICOLAU, 1996, p. 10).
Devemos ter a concepção de partidos como instituições atuantes em uma estrutura
sistemática organizada sob regras escritas ou adquiridas no cotidiano. Suas regras estabelecem
interação para definir as relações internas e no seu entorno, na sua relação com a sociedade e
com o poder, mediante a organização de eleições internas para selecionar seus representantes.
Suas eleições são feitas segundo um sistema eleitoral próprio, que organiza seus membros nas
devidas posições, que possui suas próprias instâncias de tomada de decisão e solução dos
conflitos. Os partidos podem ser vistos como um microssistema onde há uma integração de
atores que competem pelo controle interno no governo e no Parlamento e para influenciarem a
vida partidária em geral (ALCÁNTARA SÁEZ e FREIDENBERG, 2003, p. 15).
Segundo essa perspectiva, percebe-se que os partidos políticos, vistos como instituições,
não podem ser analisados apenas como um corpo unitário, e sim como organizações que
comportam uma variedade de interesses. Por isso há competições internas. E para ser
vitorioso nas eleições é essencial que os interesses individuais se transformem em coletivos
para tornar viável a governabilidade. Qualquer que seja a configuração do partido, ela pode
representar a adição de indivíduos ou grupos divergentes. Contudo, as decisões podem ser
tomadas a partir de desejos superiores às diferenças para que se possa articular os mais
diversos interesses particularizados em beneficio de metas superiores que tenham como alvo a
35

incorporação de uma série de indivíduos e grupos, aglutinando os interesses do coletivo


(ALCÁNTARA SÁEZ e FREIDENBERG, 2003, p. 15).
Entre as motivações que unem grupos na busca de metas maiores, citam-se aqui as mais
destacadas: ideológicas, políticas e territoriais, entre outras. Tais concepções, mesmo que
sejam mínimas entre as partes, representam elementos que, ao se apresentarem como uma
série de pontos comuns, constituem-se como unificadores de grupos que por fim passam a
perseguir objetivos comuns quando decidem por qual objetivo lutar e quais as metas a serem
percorridas. Contudo, os processos de tomada de decisão interna requerem lideranças para
conduzi-los aos objetivos pretendidos. Porém, não se pode fugir à ideia segundo a qual uma
organização partidária representa uma pequena parte de um sistema político. É um
minissistema formado por diversas partes que se integra a um sistema maior no cenário
político de competições eleitorais (ALCÁNTARA SÁEZ e FREIDENBERG, 2003, p. 16).
A chegada do partido ao poder político é resultado da competência de seus membros que
organizam uma estrutura partidária e tomam as decisões que o conduzem ao poder, que o
levam a ocupar espaço de poder na estrutura estatal (ALCÁNTARA SÁEZ e
FREIDENBERG, 2003, p. 17), o que pode ocorrer encabeçando uma chapa vitoriosa ou
compondo uma coalizão eleitoral e/ou de governo.
Não obstante, ao deixar o poder um partido precisará de estratégias de sobrevivência na
oposição. É necessário marcar posição na arena parlamentar, demarcar território como partido
que faz a defesa de causas definidas e com base em certos princípios ideológicos, o que pode
ser uma estratégia para seu fortalecimento. Afinal, ―os partidos são grupos que perseguem
objetivos; a ideologia de cada partido é o melhor indicador dos seus objetivos‖
(PANEBIANCO, 2005, p. 7).
Manter um posicionamento político com causas e princípios ideológicos pode se tornar
um fortalecimento da estrutura partidária que reconduzirá o partido ao poder, ou ao menos o
manterá fortalecido ao se apresentar como uma instituição que se mantém sintonizada e
defendendo certos interesses da sociedade. Pois ―é evidente que articulação relativamente
fraca dos partidos com a sociedade não implica necessariamente que eles sejam irrelevantes
para os novos sistemas democráticos‖ (BIEZEN, 1998, p. 686).
Com isso, salienta-se que, em se tratando de sociedades democráticas, a conquista de
poder é resultado da competência partidária em estruturar uma organização político-
democrática com metas traçadas para atingir esse objetivo. Estruturar um partido na oposição
para alcançar visibilidade política não pode ser visto fora da mesma competência. A
democracia é um sistema aberto à rotatividade de grupos no poder.
36

2.3 OS PARTIDOS POLÍTICOS COMO INTERMEDIÁRIOS DEMOCRÁTICOS:


UMA DISCUSSÃO SOBRE O REORDENAMENTO PARTIDÁRIO

As discussões recentes sobre partidos políticos têm questionado por vários ângulos a
importância dos mesmos. São questões que enfatizam: ‗os partidos políticos são importantes?‘
‗Os movimentos sociais e os meios de comunicação de massa conseguem substituir os
partidos?‘ Questiona-se até se o estudo sobre partidos políticos é importante e se a literatura
em torno da temática seria suficiente para responder a essas questões27.
Respondendo a essas questões, Gunther e Montero (2002) afirmam a importância dos
partidos enfatizando que partido político e democracia são premissas intrínsecas, não
existindo dados empíricos demonstrando a existência de algum país submetido aos princípios
da democracia que alija os partidos políticos. Apesar de existirem regimes antidemocráticos
com partidos, neles não há, no entanto, o instrumento legal que permite sua atuação
independente e autônoma para exercerem uma de suas funções básicas, que é selecionar
lideranças livremente. Nas democracias, dentre várias funções que se atribuem aos partidos, a
função eleitoral, que é colocada como sua atribuição primária, permanece em alta, além de ser
um dos pilares da democracia (DIAMOND e GUNTHER, 2001; GUNTHER e MONTERO,
2002).
De fato, os problemas que desafiam os partidos é que são recentes e a teoria e pesquisas
têm avançado pouco, não sendo suficientes para identificar transformações sociais como
maior participação das mulheres na força de trabalho, intensa migração internacional, práticas
reacionárias xenófobas e o crescimento de novos tipos de partidos de direita, que em muitos
casos tomam caminhos extremistas. Além disso, são crescentes os novos recursos para os
cidadãos: educação, meios de comunicação de massa, tecnologia de ponta etc., que os
aproximam das lideranças sem a condução pelas bandeiras tradicionais do partido. E mais, a
americanização da política tem aumentado os custos eleitorais, com consultoria e compra de
anúncios para propagar candidatos (KATZ e MAIR, 1995; DIAMOND e GUNTHER, 2001;
DALTON, 2002; GUNTHER e MONTERO, 2002).

27
Para Gunther e Montero (2002), essas questões são pessimistas e não possuem fundamentos que as
justifiquem. A fragilidade seria então muito mais da literatura do que das instituições partidárias. Se para estes
pessimistas os partidos entraram em declínio insustentável, são estes os mesmos que não têm conseguido
avançar nas pesquisas para desenvolver uma abordagem satisfatória capaz de contemplar efetivamente os novos
desafios dos partidos.
37

Se a categoria representativa de formar uma base política do partido tem se reduzido


devido às possibilidades de as lideranças fazerem vínculo direto via meios de comunicação –
estes que além da tradicional televisão, ultimamente ganharam um aliado e ao mesmo tempo
um concorrente de peso: a internet –, por outro lado a função eleitoral e as de recrutar
lideranças e formar Parlamento e governo não declinaram (DIAMOND e GUNTHER, 2001;
DALTON, 2002). É uma função em que é exigida a mediação institucional, e não apenas das
lideranças. Mesmo quando a mediação tem o ―peso‖ das lideranças, estas últimas falam
também em nome do partido.
Com as transformações sociopolíticas e econômicas, os partidos passam pela exigência
de suprirem novas demandas sociais. Os indivíduos que até então não haviam experimentado
privação econômica têm uma tendência a adotar valores pós-materialistas, ou seja, passam a
ter um olhar diferente sobre novas questões sociais, como direitos humanos, problemas
ambientais, respeito às diferenças etc. Com essa nova postura, surge um conflito com as
ideologias dos partidos tradicionais, o que tem originado uma melhor expectativa de
participação aos novos movimentos sociais (DIAMOND e GUNTHER, 2001; GUNTHER e
MONTERO, 2002).
Portanto, esse processo de transformação requer novos olhares sobre as instituições
sociais. A teoria pouco tem desenvolvido análises sobre partidos. Daí a fragilidade dessas
teorias que, ao invés de avançarem, enfatizam erroneamente uma fragilidade das instituições
partidárias. Paradoxalmente, há uma revitalização dos partidos a partir de um reordenamento
em que os mesmos procuram responder a novas demandas sociais. Paralelamente a isso,
cresce o interesse acadêmico pelos estudos sobre partidos (GUNTHER e MONTERO, 2002).
Se a hipótese de declínio das instituições partidárias encontrasse elementos empíricos
convincentes, ainda assim teria que alijar os mais de 11.000 trabalhos acadêmicos publicados
sobre partidos e sistemas partidários somente no Ocidente europeu desde o fim da Segunda
Guerra. O aumento do interesse pela temática ocorre em decorrência da relevância dos
partidos para os sistemas democráticos contemporâneos. Algo irrelevante não provocaria
tanto interesse acadêmico (GUNTHER e MONTERO, 2002).
Um equívoco que continua sendo alimentado por vários teóricos é que, por não
perceberem claramente que os partidos estão se readaptando às novas reivindicações, essas
teorias permanecem utilizando o modelo de partido de massa como estrutura partidária
analítica para as democracias, tanto nas democracias tradicionais como naquelas surgidas com
a terceira onda de democratização (KATZ e MAIR, 1995; DIAMOND e GUNTHER, 2001).
38

De fato, o partido de massa se tornou muito mais uma instituição para análise histórica
sobre o desenvolvimento dos partidos em suas várias etapas do que uma referência para
analisar os partidos atualmente em pleno funcionamento. Ao invés de falar em declínio destas
instituições, é necessário que se percebam os caminhos que se abrem para novos tipos de
partido, visto que os mesmos passam por processos de revitalização e ressurgimento, e não de
decadência, declínio e decomposição, como entendem equivocadamente os pessimistas
(DIAMOND e GUNTHER, 2001; GUNTHER e MONTERO, 2002).
As crises econômicas reduzem as possibilidades de os partidos cumprirem suas
promessas. A crise dos anos 1970 levou o Estado de bem-estar social ao declínio, quando
muitos partidos se legitimavam na defesa e na implementação dessas políticas, que foram
alijadas em nome de uma série de reformas em adequação às políticas neoliberais, e é em
parte responsável pelo declínio do modelo de partido vigente e pelo abalo sobre sua
credibilidade, ao ficar impedido de adotar políticas até então defendidas por eles (PUHLE,
2002).
Os fatos empíricos demonstram que em várias democracias está ocorrendo uma redução
no número de partidários. Os partidos têm sua credibilidade reduzida em decorrência de não
terem respondido a várias expectativas. É cada vez menor o número de eleitores que se
identificam ideologicamente com um partido, o que tem aumentado a volatilidade eleitoral28.
Ou seja, as ideologias não têm mais a mesma importância que antes (DALTON, 2002;
PUHLE, 2002).
Frente à suposta crise dos partidos, alguns chegaram a anunciar sua substituição pelos
novos movimentos sociais, alegando a inexistência da necessidade de intermediário, propondo
a participação direta para um controle mais rígido sobre os governos. Porém, a mudança não
se reduz às instituições partidárias, sendo transformações estruturais que provocam inclusive a
fragmentação dos movimentos sociais.

Se os partidos não podem ser substituídos, se tampouco podem ser eliminados,


podem, entretanto, ser reduzidos e transformados. Em consequência, a crise dos
partidos de que [...] se queixam obriga-nos a examinar a maneira como os partidos
evoluem e podem ser aperfeiçoados (SARTORI, 2001, p. 178).

A competição tem forçado os partidos a reverem suas prioridades para incorporarem


novas demandas a seus programas e se adaptarem aos novos canais de atuação/participação.

28
Tem aumentado de forma significativa o número de eleitores que em uma eleição votam em um partido e na
eleição seguinte votam em outro. Confira Diamond e Gunther (2001), Gunther e Montero (2002), Puhle (2002),
Dalton (2002).
39

Contudo, os movimentos sociais também estão passando por mudanças e a saída tem sido a
negociação (GUNTHER e MONTERO, 2002; PUHLE, 2002). Portanto, as mudanças na
maioria dos partidos políticos e sistemas partidários demonstram serem manifestações de
realinhamento partidário e não de diluição.
Há uma luta dos partidos para reconquistarem o que foi perdido, como também para
buscarem algo novo para responder a novas reivindicações. Por esse caminho, buscam ao
menos se manter, como enfatiza a perspectiva downsiana, pois ―no sentido mais amplo, um
partido político é uma coalizão de homens que buscam controlar o aparato de governo através
de meios legais‖ (DOWNS, 1999, p. 46). Daí atuarem como intermediários democráticos que
dominam a seleção de lideranças na arena eleitoral, na composição de governos e do
Parlamento.
Como este estudo se encontra no campo de estudos sobre partidos políticos no Brasil,
deve-se enfatizar a trajetória dos partidos políticos brasileiros. Será demonstrado a partir de
agora que embora os partidos tenham surgido na Europa no século XIX (KATZ e MAIR,
1995), fato semelhante ocorria neste mesmo momento no Brasil (MAINWARING, 2001).
Contudo, o desenvolvimento que formará novos modelos de partidos ocorre em momentos
diferentes. Enquanto na Europa os avanços levam ao surgimento dos partidos modernos29
ainda no final do século XIX, no Brasil isso só acontece em meados do século XX, no
momento em que os partidos europeus já ensaiavam a cartelização (KATZ e MAIR, 1995;
MAINWARING, 2001).
Será mostrado, então, como ocorreu o surgimento e as primeiras trajetórias de
estruturação dos partidos políticos e do sistema partidário no Brasil. A discussão abrangerá
desde o surgimento dos embriões partidários durante o Brasil Imperial até a Primeira
República, conforme Scott Mainwaring (2001), pois, segundo ele, os partidos de quadro
prevaleceram no Brasil desde o surgimento até 1945. Os partidos modernos, ou partidos de
massa, só teriam surgido a partir desse momento, na terceira República – 1946 a 1964. Estes
partidos, em parte, tiveram suas fundações influenciadas pelos ideais getulistas, já que o PTB
e o PSD foram fundados por influência direta de Vargas.

29
Também denominados partidos de massa, os quais se estruturam com uma ampla participação política, com o
crescimento constante do sufrágio. Ver Mainwaring (2001).
40

2.4 OS PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL: DAS ORIGENS À REVOLUÇÃO DE


1930

Os partidos, ou ao menos suas formas embrionárias, surgiram no Brasil logo após a


Independência política, em 1822, quando o país se reorganizou politicamente sob o regime de
monarquia constitucional, organização de poder político que perdurou até 1889, quando foi
proclamada a República (MAINWARING, 2001; FLEISCHER, 2007, p. 303).
Ou seja, o embrião dos partidos políticos brasileiros surgiu ao mesmo tempo em que
estavam surgindo os partidos nos países europeus. Tanto na Europa quanto no Brasil, em
meados do século XIX surgem os partidos dos ―notáveis‖, (KATZ E MAIR, 1995; BOBBIO,
MATTEUCCI E PASQUINO, 2000; MAINWARING, 2001). Contudo, a duração desse
modelo de partido no Brasil teve um período bem mais longo que na Europa, onde se
transformam ainda no século XIX (MAINWARING, 2001).
Embora no Brasil Imperial as eleições tenham sido realizadas com regularidade (entre
liberais e conservadores), elas não eram competitivas. Além do controle sobre as eleições,
corrupções e fraudes eram frequentes no Segundo Reinado (1840 – 1889), quando o governo
venceu todas as eleições (MAINWARING, 2001, p. 103). ―Durante o império, não se
aceitavam as eleições como mecanismo principal para chegar ao poder‖ (MAINWARING,
2001, p. 103).
Como os partidos são instrumentos de competição política, em uma sociedade que não
permite a livre competição não haverá incentivos para a organização de partidos modernos.
Pelo contrário. Se o quadro que compõe toda a estrutura de poder político se mantém sem
passar pelo crivo da avaliação popular, não há a necessidade de organizar instituições para
competir, já que estas poderiam viabilizar a ascensão das massas ao poder e reduzir o poder
político dos quadros, viabilizando a alternância de poder (MAINWARING, 2001). ―Se o
sufrágio é restrito, as elites funcionam como partidos de ‗notáveis‘. Uma ampla participação
eleitoral estimula o aparecimento de partidos de massa‖ (MAINWARING, 2001, p. 103).
Mainwaring (2001), em sua visão pessimista sobre os partidos políticos brasileiros, cita
quatro pontos para explicar o subdesenvolvimento dos partidos no Brasil: Primeiro, as massas
não se organizaram devido à industrialização, à urbanização e à sindicalização relativamente
tardia. A fragilidade social limitou a emergência das classes sociais como bases para
clivagens com capacidade de organização partidária (MAINWARING, 2001, p. 105). Na
Europa isso acontece desde as últimas décadas do século XIX, levando ao surgimento dos
partidos de massa (PRZEWORSKI, 1989; KATZ e MAIR, 1995).
41

Segundo, os dois partidos que polarizavam a política imperial eram tratados como
propriedades das elites. Essa prática teve continuidade durante toda a primeira República
(MAINWARING, 2001, p. 106).
Terceiro, embora durante a Era Vargas e durante o autoritarismo militar tenha ocorrido
esforços para centralizar o poder, a política brasileira preservava um federalismo e um
localismo (MAINWARING, 2001, p.106).
Quarto, os partidos políticos passaram um longo período submetidos às elites poderosas
de forma que ―poder rural, clientelismo, e patronagem continuaram sendo os instrumentos
fundamentais de acesso ao poder político, e os políticos eram muito personalistas‖
(MAINWARING, 2001, p. 106).
Não obstante, apesar de ser possível detectar tais problemas na formação do sistema
partidário brasileiro, deve-se igualmente perceber que o sistema partidário atual tem passado
por um processo de consolidação significativo, o que nem sempre é evidenciado, visto que ―o
mais corriqueiro é ignorar as nuanças de um sistema político extremamente heterodoxo como
o brasileiro‖ (DE DEUS, 2006, p.16).
Se as últimas décadas do império foram marcadas pelos avanços dos ideais republicanos,
pelo surgimento dos clubes republicanos e do Partido Republicano, contrapondo-se à
monarquia, durante a Primeira República (República Velha) os clubes republicanos que
haviam sido formados nos estados se transformaram em partidos republicanos locais. Ou seja,
um sistema partidário profundamente fragmentado deu lugar a um regionalismo e/ou
localismo extremado e dominado pelas elites locais, formando uma barreira à formação de um
sistema partidário nacionalizado (MAINWARING, 2001; FLEISCHER, 2007).
Com a instalação do presidencialismo, a partir da República de 1889, os governos
procuravam fragilizar os partidos. Entendiam que se os fortalecessem, eles seriam levados a
uma posição de independência que poderia representar empecilhos aos seus domínios. Uma
das preocupações dos presidentes da República foi suprimir a concorrência. Eis porque se
empenhavam em fragmentar ao máximo o sistema partidário, de forma que os partidos
republicanos, por mais que fossem máquinas eleitorais, eram estruturados por estados,
inviabilizando a existência de partido ou sistema partidário nacionalizado (MAINWARING,
2001, FLEISCHER, 2007).
Se a formação social representa uma barreira ao desenvolvimento do sistema partidário
brasileiro, mesmo com a formação do Estado nação, e mesmo com a República pós-1945 e a
formação da sociedade de massa, a sociedade ainda era frágil a ponto de não ter condições
para se organizar e forçar a formação de partidos modernos (MAINWARING, 2001).
42

Tão logo o poder civil foi instituído em 1889, a política brasileira passou a ser
polarizada por dois partidos: o Partido Republicano Paulista (PRP) e o Partido Republicano
Mineiro (PRM), que se revezavam na ocupação da presidência e igualmente conseguiam
dominar o Congresso Nacional, favorecidos pelas facilidades que tinham para se articular com
as eleições locais, fraudar eleições, utilizar recursos públicos como moeda de troca etc., de
modo a barrarem as eleições dos opositores (MAINWARING, 2001; FLEISCHER, 2007).
Essa política dominada por paulistas e mineiros, que ficou conhecida como a política do
café com leite, se fragilizou na década de 1920, demonstrando sua incapacidade em responder
às transformações sociais, políticas e econômicas. As insatisfações com o sistema político
provocou a Revolução de 1930, finalizando a primeira República (MAINWARING, 2001).
Segundo Mainwaring (2001), no momento que vários países passavam por um rápido
desenvolvimento partidário, o Brasil ainda passava por um momento de extremo
subdesenvolvimento de seus partidos. Apesar das eleições periódicas, permaneceram as
fraudes que já ocorriam no império. ―Sem eleições limpas e com um eleitorado restrito, as
elites nada tinham a ganhar com a organização de partidos‖ (MAINWARING, (2001, p. 103).
O fim da República Velha (1930) não representou um rompimento no sentido de
estruturar um novo contorno para que os partidos políticos viessem a se organizar em caráter
nacional. Logo no primeiro momento, Vargas desestruturou o Partido Republicano em vários
estados. Em seguida, em 1937, com o golpe que deu início ao Estado Novo, Vargas impõe
uma ditadura e extingue os partidos. Contudo, as transformações ocorridas durante a era
Vargas formaram as bases para uma sociedade de massa, o que foi essencial para a formação
dos partidos modernos da terceira República. O próprio Vargas, ao final do seu governo,
influencia diretamente na fundação de dois partidos de massa, o Partido Social Democrático
(PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) (SCHMITT, 2000; MAINWARING, 2001).
De fato, apesar de essenciais para o regime democrático, os partidos não existem apenas
em países democráticos. Os demais regimes frequentemente também os utilizam para atuarem
nas eleições e formarem governos, mesmo que não se conceda a liberdade necessária aos
mesmos, e o Brasil é um exemplo disso, pois desde os seus primeiros anos como nação
independente, formou-se o embrião dos partidos. O Brasil imperial organizou e manteve um
sistema bipartidário. Os embriões dos partidos surgiram por volta de 1830 e se organizaram,
no que se refere à ocupação de espaços no poder, durante o Segundo Reinado (1840 – 1889),
43

ficando o sistema polarizado entre o partido conservador e o partido liberal30, que


apresentavam, na prática, poucas diferenças. Seus membros não tinham origens em segmentos
sociais que divergiam ideologicamente. Em geral vinham dos mesmos quadros de elites,
geralmente originários das tradicionais elites agrárias, com longa trajetória de poder
(MAINWARING, 2001; FLEISCHER, 2007). Os dois partidos do Brasil imperial

se alternaram no poder de modo semelhante ao modelo inglês dessa mesma época.


Esses dois partidos, porém, passaram por várias transformações. Em 1870, o
pequeno Partido Republicano se organizou e começou a sua pregação contra a
monarquia (CARVALHO, apud FLEISCHER, 2007, p. 303).

Apesar do surgimento de partidos no Brasil ainda na primeira metade do século XIX e da


consolidação de um sistema bipartidário na segunda metade do mesmo século, as
transformações que promoveram a decadência dos partidos dos ―notáveis‖ na Europa nas
últimas décadas do século XIX, levando ao surgimento dos partidos modernos (partidos de
massa), que predominam desde por volta de 1880 até os anos 50 do século XX, não
acontecem no Brasil. O processo de desenvolvimento do sistema partidário brasileiro ocorre
em formato e momentos diferentes, permanecendo o país, até meados do século XX, com
partidos pré-modernos (KATZ e MAIR, 1995; MAINWARING, 2001; FLEISCHER, 2007).
As mudanças na forma de organização do sistema partidário nem sempre representaram
um rompimento na forma estruturante da composição e atuação dos partidos nas arenas
eleitorais, governamentais e parlamentares, assim como na relação com a sociedade.

Durante os primeiros 123 anos de sua existência como nação independente (1822 –
1945), o país passou por quatro importantes modificações em seus sistemas
partidários: (1) o sistema de dois partidos do Império (de 1830 a 1889); (2) o regime
radicalmente descentralizado, com um partido único por estado, da República Velha
(1889 – 1930); (3) a grande instabilidade dos primeiros anos do governo Vargas
(1930 – 1937); (4) e, finalmente, o estado sem partido, que peculiarizou o regime
estadonovista (1937 – 1945). Em que pesem essas descontinuidades, modificações
significativas no sistema político e importantes mudanças sociais, houve
considerável continuidade na natureza dos partidos brasileiros. Até a década de 30, a
participação partidária se restringia a um grupo de elite, os partidos tinham raízes
frágeis na sociedade, e não havia nenhuma participação popular. Os partidos
mantinham uma relação simbólica com o estado, mas em uma condição de
subordinação (MAINWARING, 2001, p. 102 – 103).

Para Mainwaring (2001), as transformações que ocorreram desde a independência até


1930 não promoveram a modernização do sistema partidário brasileiro, como ocorreu na

30
Durante os anos de 1830 foi fundado no Brasil o Partido Restaurador, logo após a abdicação do imperador
Dom Pedro I. Tratava-se de um partido que tinha como bandeira o retorno do imperador. Foi um partido com
existência efêmera. Com a morte do imperador, o grupo que o formou se dispersou e o partido deixou de existir.
44

Europa durante esse mesmo período. De modo geral, o Brasil manteve uma estrutura
partidária sem se distanciar do modelo embrionário do partido de quadro, dos ―notáveis‖, que
já havia declinado nos países europeus desde o final do século XIX. Portanto, por essa lógica,
―a orientação regionalista, estadualista e estadual dos políticos limitou o desenvolvimento de
um sistema partidário nacional. O principal instrumento de representação eram os políticos,
como indivíduos, e não os partidos‖ (MAINWARING, 2001, p. 100).
Mainwaring (2001) aponta como marca mais consistente do subdesenvolvimento dos
partidos brasileiros até meados do século XX a plena ausência de partidos modernos, os quais,
para se organizarem de forma consistente em uma perspectiva de fortalecimento e viabilidade
de poder via arena eleitoral, procuram formar vínculos de identificação com os cidadãos para
conquistarem seus votos, visto que é a formação das bases eleitorais que garante a vitória nas
eleições em sociedades de massa e que estrutura seus partidos para competirem em arenas
eleitorais nas quais o voto não é restrito a um pequeno grupo de elite, onde de modo geral os
cidadãos decidem quem os representará.
Além disso, são partidos que necessitam acompanhar as transformações sociais para que
venham a fazer renovações tanto em sua organização quanto nas suas bandeiras ideológicas,
bem como na forma de atuação na arena eleitoral do poder e nos vínculos com a sociedade.
Ao contrário disso, os partidos pré-modernos que surgiram durante o século XIX, tanto
na Europa quanto no Brasil, são partidos que funcionam sem se preocuparem em construir
vínculos com a sociedade. De fato, não há um sentimento de necessidade de motivar as
massas para a participação política, já que atuam em sociedades que restringem a participação
a uma pequena elite, e suas instituições políticas não representam um instrumento que articula
junto às massas as relações de aproximação com as instâncias decisórias e de poder
(MAINWARING, 2001).
Ao se restringir a participação no poder, restringe-se igualmente a participação e
estruturam-se as organizações partidárias como meros instrumentos que autorizam um
pequeno grupo a atingir seus objetivos, não havendo uma preocupação com disciplina
organizativa e muito menos em se fixar laços com a sociedade. Ao contrário, são
organizações com baixo índice de institucionalidade e frouxos laços com a sociedade
(MAINWARING, 2001).
Portanto, em geral, os partidos mantiveram uma estrutura organizacional inicial muito
mais para uma elite se articular junto ao poder do que para se ampliar a participação política.
Não obstante, as transformações e a ampliação dos princípios democráticos levaram à
inclusão de vários segmentos sociais a participar da política. Esse processo levou os partidos e
45

sistemas partidários a tomarem os caminhos da institucionalidade, a buscarem legitimidade


junto à sociedade civil e a alinharem um determinado discurso ideológico direcionado para
certos segmentos sociais específicos.
Todavia, com as transformações sociais surge a dificuldade de se falar para um segmento
específico, motivo pelo qual os partidos passaram a adotar um discurso mais pluralista, o que
não significa que a ideologia deixa de fazer parte das ações partidárias. A ideologia está
presente nas esferas partidárias, nas dimensões eleitorais, enfim, nas disputas encampadas
pelos partidos na arena eleitoral. Ela é fundamental para a divergência sobre as mais diversas
questões políticas nas arenas eleitoral, governamental e parlamentar (KROUWEL, 2009).

2.5 PARTIDOS E SISTEMA PARTIDÁRIO NA TERCEIRA REPÚBLICA (1945 –


1964): O SURGIMENTO DOS PARTIDOS MODERNOS NO BRASIL31

Entende-se que para compreender o processo de estruturação dos partidos políticos no


Brasil a partir do multipartidarismo pós-1979, seja relevante buscar suas origens não apenas
no sistema bipartidário imposto pelo regime autoritário, mas igualmente observar a relevância
da herança do sistema partidário democrático da República de 1945 – 1964. Por mais que a
priori não pareça ser relevante, não se pode esquecer que a saída de um regime democrático e
multipartidário (1945 – 1964), da forma como ocorreu, significou unir pessoas e grupos que
até então divergiam nas arenas eleitoral, governamental e parlamentar. A incorporação desses
grupos políticos ―ao ‗novo‘ sistema bipartidário não significa simplesmente a transposição de
indivíduos de um sistema ao outro, mas igualmente: ‗[...] a transposição de rivalidades e
lealdades oriundas do sistema multipartidário de 1945 – 65 [...]’” (MADEIRA, 2006, p. 16).
Diferentemente do que aconteceu em outros países da América Latina, como Argentina,
Chile, Paraguai e Uruguai, que ao se redemocratizarem refundaram seus antigos partidos do
período pré-ditatorial, no Brasil a redemocratização proporcionou a fundação de novos
partidos, o que representa uma descontinuidade. (ALCÁNTARA SÁEZ e FREIDENBERG,
2002; MADEIRA, 2006). Não obstante, mesmo não havendo continuidade no sentido de
reinstituir os velhos partidos, houve continuidade no sentido de que várias lideranças que
apareceram nos novos partidos estiveram presentes tanto nos partidos democráticos de 1945 a
1964, quanto no sistema bipartidário instituído pelo regime autoritário.

31
Sobre o surgimento dos partidos modernos, ou partidos de massa, no Brasil, ver Mainwaring, (2001).
46

Com exceção do PDT, que herdou a ideologia do trabalhismo, os demais partidos são
instituições novas32, que surgem a partir da reforma partidária de 1979. Contudo, são
instituições que têm base social na terceira República e principalmente no regime autoritário,
já que várias lideranças que integraram ou integram muitos dos partidos atuais iniciaram sua
vida pública nos períodos anteriores à quinta República (o que representa uma continuidade
parcial das estruturas do sistema). Com exceção do PT, os demais partidos efetivos receberam
grandes contingentes dos sistemas partidários da terceira e da quarta República (SCHMITT,
2000; ALCÁNTARA SÁEZ e FREIDENBERG, 2002; MADEIRA, 2006).
De fato, a ARENA e o MDB foram as duas grandes frentes que estruturaram as matrizes
para a formação do multipartidarismo na atual República democrática brasileira e seu
realinhamento político-partidário.
O sistema partidário brasileiro que vigorou durante a terceira República estava composto
por treze partidos33. Contudo, a competição, seja em nível nacional seja no âmbito das
unidades da federação, ficava no entorno de um número bem menor de instituições
partidárias. No geral, a Câmara dos Deputados foi composta por quatro partidos, sendo que os
três maiores (PSD, UDN e PTB) concentraram nada menos que 79.1% das cadeiras, cada qual
ficando com uma proporção entre 20% e 37%, enquanto que o quarto maior partido (PSP)
concentrou 6.7%, restando apenas 14.2% das vagas para os demais nove partidos (LIMA
JÚNIOR, 1983). ―A concepção básica de sistema partidário implica que pelo menos dois
partidos apresentem regularmente candidatos para o preenchimento de cargos públicos através
de eleições‖ (LIMA JÚNIOR, 1983, p. 128).
Durante a Terceira República, os partidos se organizaram visando expandirem-se
geograficamente objetivando a maximização do apoio político-eleitoral para se tornarem mais
competitivos. Uma das estratégias utilizadas pelos partidos para maximizar o apoio político-
eleitoral foi a formação de alianças, que são estratégias para superar seus concorrentes na
arena eleitoral (LIMA JÚNIOR, 1983). ―Um sistema partidário será tanto mais competitivo,
quanto maior for o número de partidos efetivos e quanto maior for a fragmentação das
preferências eleitorais‖ (LIMA JÚNIOR, 1983, p. 126). Durante a República do pós-1945,

32
Para Mainwaring, Meneguello e Power (2000), a refundação do PTB na retomada ao multipartidarismo em
1979 não deve ser entendida como a retomada do antigo PTB sob os princípios do trabalhismo varguista. O PTB
da quinta República (pós-1985) se distanciou do PTB que atuou na terceira República (1945 -1964), pois logo
nos primeiros anos do multipartidarismo o partido já firmava uma aliança com o PDS, um partido conservador e
grande herdeiro da ARENA.
33
Apesar da existência do Partido Comunista Brasileiro (PCB), legalmente ele não existia, pois atuava na
ilegalidade desde 1947. Confira Lima Júnior (1983), Silva (1999), Schmitt (2000), Ferreira (2002).
47

Por um lado, os partidos nacionais se expandiram geograficamente até o ponto em


que as condições locais de competição lhes permitiam penetrar no eleitorado; por
outro, partidos com apoio essencialmente regional cresceram eleitoralmente até o
ponto em que lograram disputar, com maior probabilidade de nacionalização da
política, resultou, assim, tanto das variações das preferências eleitorais como do
esforço organizacional dos partidos (LIMA JÚNIOR, 1983, p. 127).

Embora desde o final dos anos 20 tenha havido esforços para se ampliar o sufrágio,
ampliando os segmentos sociais com direito à participação política, esse processo ocorreu de
forma lenta e gradativa. Apenas na década de 1980, com a quinta República, os analfabetos
conquistaram o direto de voto, e só em 1989, ou seja, após a Constituição de 1988, passou-se
a ter de fato e de direito uma sociedade que elege seus representantes pelo sufrágio universal.
Isso no segundo momento democrático brasileiro, pois o primeiro, a República de 1945 a
1964, manteve algumas restrições sobre o direito de voto e de participação política.
A República do pós-1945 representa o primeiro momento democrático da história
política do Brasil, um sistema assegurado pela Constituição de 1946 que garantia eleições
periódicas para todas as instâncias de poder político com as regras previamente estabelecidas.
―Nesse período houve seis eleições para o Congresso Nacional e quatro eleições presidenciais,
além dos pleitos nas esferas regional (governadores e deputados estaduais) e local (prefeitos e
vereadores)‖ (SCHMITT, 2000, p. 8).
Em nenhum momento que antecedeu a ditadura varguista houve um período em que a
organização de eleições estivesse baseada no sufrágio universal, com partidos competitivos
que possibilitassem a alternância de poder. Pela primeira vez o Brasil tinha partidos
democráticos em competições livres, de forma que se inicia certa estabilidade na competição
eleitoral entre os maiores partidos. Nem todos lograram êxito na arena eleitoral para ocupar
espaço nas arenas governamental e parlamentar. Além disso, vários foram extintos em
decorrência da não obtenção dos requisitos mínimos que a lei determinava para conceder
registro definitivo, pois, de início, o Tribunal Superior Eleitoral somente concedia registro
provisório (SCHMITT, 2000).
O Decreto Lei nº 7.586 de 28/05/1945, conhecido como Lei Agamenon34, fixava que um
partido, para obter registro provisório, necessitava se encaixar no seguinte critério: formar
uma lista com o apoio de pelo menos 10 mil eleitores distribuídos ao menos em cinco estados,
sendo que em nenhum destes estados poderia haver menos de 500 eleitores (SCHMITT, 2000,

34
Em alusão ao então Ministro da Justiça e responsável pela elaboração do decreto lei, Agamenon Magalhães. A
lei introduz na legislação eleitoral a necessidade de os partidos estruturarem uma base nacional para que
pudessem obter o registro provisório no Tribunal Superior Eleitoral. A regulamentação para obter o registro
definitivo viria com o Código Eleitoral de 1950, Lei nº 1.164/50, que vigorou até 1965. Ver Schmitt (2000, p.
12).
48

p. 12). Por essa perspectiva, ―a Constituição promulgada em 18. 9. 1946 logo consagraria a
exigência de caráter nacional dos partidos políticos, uma determinação que também se
repetiria em todos os textos constitucionais posteriores‖ (SCHMITT, 2000, p. 12).
A lei que estabeleceu a base para a nacionalização dos partidos, em caráter provisório,
deixa de vigorar em 1950, com o novo Código Eleitoral, regulamentado pela Lei nº 164 de
24/07/1950, que prevaleceu até 1965. A partir desse momento, para os partidos obterem
registro definitivo era necessária uma ampliação em âmbito nacional. Da regulamentação
provisória para a definitiva, no tocante à quantidade de filiados, passa a ser exigido um
mínimo de 50 mil, permanecendo em cinco a quantidade mínima de estados. Porém, a
quantidade de filiados por estado aumenta do mínimo de 500 para um limite não inferior a
1.000 eleitores (SCHMITT, 2000, p. 12 – 13).
Entre 1947 e 1952, 32 instituições partidárias adquiriram o registro provisório junto ao
TSE. Contudo, a metade (16) não conseguiu passar para o definitivo em decorrência de não
ter atingido os requisitos mínimos para o funcionamento permanente. Além disso, houve
algumas fusões partidárias, de forma que em 1964 havia apenas 13 partidos legalmente em
funcionamento no Brasil (SCHMITT, 2000, p. 13 & 22).
No entanto, apesar do regime democrático brasileiro pós-1945, deve-se salientar que o
mesmo não eliminou algumas restrições, como deve ser a práxis dos sistemas democráticos.
Ao invés disso, proibia-se o voto dos analfabetos e decretou-se a ilegalidade do Partido
Comunista Brasileiro por divergências ideológicas (SCHMITT, 2000).
Foi um sistema democrático que delimitou um marco no espectro ideológico para os
partidos atuarem na arena eleitoral, ainda estando presente uma concepção política segundo a
qual os partidos de posição próxima à extrema esquerda deveriam ser eliminados das
competições. Contrariamente, a democracia brasileira, a partir da constituição de 1988,
garante o sufrágio universal, sendo que os analfabetos, os que têm a partir de 16 e menos 18
anos e os maiores de 70 anos têm o voto facultativo, sendo obrigatório para os demais. Além
disso, a Constituição garante liberdade para a organização de partidos, independente das
correntes ideológicas.
Apesar da grande quantidade de partidos na arena eleitoral durante o período de 1945 a
1964, segundo Schmitt (2000, p. 23 - 24), a maioria teve pouca representatividade no
Congresso, de forma que o Congresso Nacional foi dominado por três grandes partidos: O
Partido Social Democrata (PSD), a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB). De 1945 a 1962, o PSD ocupou 36,9% das cadeiras da Câmara
dos Deputados e 42,3% das cadeiras do Senado da República; a UDN conquistou 24,1% das
49

cadeiras da Câmara dos Deputados e 24,0% das Cadeiras do Senado; enquanto o PTB ocupou
18,7% das cadeiras da Câmara dos Deputados e 19,4% das cadeiras do Senado.
Ao se somar as cadeiras dos três partidos, percebe-se que eles ocuparam 79,7% das
cadeiras da Câmara dos Deputados e 85,7% do Senado da República35, restando apenas
20,3% da Câmara e 14,3% do Senado para dividir por uma quantidade de aproximadamente
uma dezena de partidos menores.
O domínio desses três partidos se tornou ainda mais forte devido às restrições impostas
aos comunistas, pois em 1945 o PCB elegeu a quarta maior bancada na Câmara dos
Deputados, com 4,9% das cadeiras, e a quarta maior bancada no Senado, empatado com o
PSP, ambos com 2,4% das cadeiras. Porém, o PCB teve seu desempenho anulado antes
mesmo das eleições seguintes, em 1947, com a proibição de sua existência legal (SCHMITT,
2000). Ou seja, o PCB inicia o período democrático da terceira República sendo superado na
arena eleitoral e no Congresso Nacional apenas pelos três maiores partidos.
Para Schmitt (2000), o PSD foi o maior partido desse período, elegendo de forma
ininterrupta a maior bancada da Câmara e sendo superado no Senado apenas uma vez, em
1958, pela UDN, retomando porém a dianteira nas eleições seguintes. Além disso, elegeu dois
presidentes da República, Eurico Gaspar Dutra em 1945 e Juscelino Kubitschek em 1955,
tendo sido dividido em 1950, quando a maioria de suas lideranças com maior densidade
eleitoral abandonou o candidato do partido, Cristiano Machado, para apoiar a candidatura
vitoriosa de Getúlio Vargas, do PTB. E mais, ―o PSD foi o único partido que conseguiu se
organizar em todas as unidades da federação para disputar as eleições de 1945, o que já
demonstrava sua nítida vocação governista‖ (SCHMITT, 2000, p. 14).
A União Democrática Nacional (UDN) aparece constantemente em segundo lugar.
Apenas nas eleições de 1950 foi superada pelo PTB nas disputas pelas cadeiras do Senado,
quando cai para a terceira posição em número de cadeiras conquistadas, mantendo, porém, a
segunda posição na Câmara dos Deputados. Em 1962, foi novamente superada pelo PTB,
desta vez tanto nas eleições para o Senado quanto para a Câmara dos Deputados, caindo para
a terceira maior bancada no Congresso Nacional (SCHMITT, 2000).
Para Schmitt (2000), a UDN também teve presença marcante nas eleições presidenciais,
com o brigadeiro Eduardo Gomes disputando as eleições de 1945 e 1950, em ambas ficando

35
Esses dados são referentes aos resultados das eleições para a Câmara dos Deputados e para o Senado da
República. Para isso foi feita a soma das proporções eleitorais desses três partidos a partir das eleições de 1945
até as eleições de 1962, dados copilados de Schmitt (2000, p. 23 – 24). Porém, Schmitt (2000, p. 18) coloca os
mesmos dados com algumas alterações em outro momento, sendo 79,8% das cadeiras na Câmara e 86,2% das
cadeiras do Senado. Provavelmente essas diferenças tenham ocorrido por mudanças de partidos.
50

em segundo lugar. No ano de 1955, o candidato da UDN foi o general Juarez Távora, que
novamente fica em segundo lugar. Nas três eleições em que a UDN ficou na segunda posição,
ela atingiu: em 1945, 34,8% dos votos; em 1950, 29,7%; e em 1955, 30,2%, ou seja, foi
bastante competitiva e com regularidade. E mais, em 1960 participa da eleição apoiando Jânio
Quadros, o vencedor da eleição, que naquele momento estava filiado ao Partido Democrata
Cristão – PDC.
Mesmo havendo na República do pós-1945 a estrutura de um sistema partidário com
uma forte herança do getulismo; porém permitindo a livre competitividade eleitoral, apesar
das restrições impostas aos comunistas; foi possível a competição de partidos que haviam
surgido fora do ciclo getulista, e ―a UDN foi o único dos três maiores partidos brasileiros da
terceira República que não possuía vínculos com as estruturas remanescentes do Estado Novo,
adotando uma plataforma liberal‖ (SCHMITT, 2000, p. 16).
O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) formou a terceira maior força, apresentando
porém o maior crescimento eleitoral e parlamentar até o fim da terceira República em 1964,
quando ocupava a presidência da República. O seu contínuo crescimento levou-o a superar a
UDN em 1962, quando formou a segunda maior bancada do Congresso Nacional, ficando
atrás apenas do PSD, que era seu grande parceiro. O PTB elegeu Getúlio Vargas em 1950
para presidente da República e João Goulart, o ―Jango‖, por duas vezes vice-presidente. A
Constituição de 1946 determinava a realização de eleições simultâneas e independentes para
presidente e vice-presidente da República (SCHMITT, 2000, p. 17). ―O partido era formado
por uma corrente nacionalista e reformista e por um grupo tradicional clientelista‖
(SCHMITT, 2000, p. 17).
Segundo Schmitt (2000), o PTB e o PSD foram organizados através da influência de
Vargas e seus aliados, daí a marca ideológica do trabalhismo, os vínculos sindicais com
características corporativistas, que foram marcas da Era Vargas. De fato, a fundação de ambos
esteve diretamente ligada às estratégias de Vargas para permanecer como um influente
partícipe da política nacional. Os partidos herdaram a estrutura político-ideológica populista
do varguismo dos anos 30 e 40, principalmente a política estadonovista, tanto que lideranças
que foram ligadas a Getúlio Vargas permaneceram influentes na terceira República.
Nesse período, além do próprio Getúlio Vargas, João Goulart, herdeiro do getulismo,
ocupou a presidência da República. O PSD e o PTB elegeram três dos quatro presidentes
eleitos durante a República do pós-1945 (SCHMITT, 2000).
Portanto, foi a partir do surgimento dos partidos modernos, durante o primeiro momento
democrático brasileiro, que vigorou de 1945 a 1964, que se formaram as bases para a
51

retomada dos primeiros partidos do sistema multipartidário que ressurge a partir de 197936,
momento em que o PMDB aparece como um dos maiores partidos brasileiros e com um alto
índice de nacionalização adquirido nos anos 80. Os partidos existentes durante a República do
pós-1945 formaram, a partir de 1965, o sistema bipartidário imposto pelo regime autoritário,
um sistema artificial que incorporou uma grande quantidade de grupos e lideranças rivais sob
um mesmo partido.
Os membros dos treze partidos legalmente constituídos, mais os membros do PCB,
foram incorporados ou à ARENA, o partido governista, ou ao MDB, o partido que aglutinou
as oposições. Assim, as origens do PMDB estão diretamente ligadas ao bipartidarismo,
ocorrendo sua fundação logo após o momento da desintegração do sistema bipartidário.
Grande parte das lideranças que compuseram o PMDB já estava na vida pública nos períodos
anteriores, tanto em nível nacional quanto no Estado do Piauí, como demonstram Kinzo37
(1988), Silva38 (1999), mas com algumas diferenças nas trajetórias, já que o MDB no Estado
do Piauí não cresceu nos anos 70 como estava crescendo em nível nacional. Ao contrário
disso, regrediu consideravelmente.
Como movimento de frente de contestação ao autoritarismo, o MDB aglutinou lideranças
que incorporavam ao menos um objetivo comum, que era o realinhamento político aos
princípios democráticos e competitivos. Por outro lado, encontravam-se sob a mesma
instituição partidária líderes com sérias divergências político-ideológicas que só estavam
unidos por dois motivos: o primeiro foi a imposição artificial do sistema bipartidário que
impedia a existência de outros partidos, e o segundo foi a união de forças democráticas de
contestação ao regime, que deveria ser substituído pela democracia.
A trajetória de transição do MDB para o PMDB está diretamente ligada à longa transição
do autoritarismo para a democracia na segunda metade da década de 70, da extinção do
bipartidarismo à formação de um sistema multipartidário com a reforma partidária de 1979. É
isso que será discutido no capítulo seguinte: as origens do MDB/PMDB no Estado do Piauí
relacionando o mesmo com o MDB/PMDB nacional, enfatizando o desempenho do MDB nas
eleições regionais sob o autoritarismo.

36
Deve-se lembrar que várias lideranças que aderiram ao PMDB atuaram na República de 1945 a 1964.
37
Kinzo discute o MDB em nível nacional em sua perspectiva oposicionista, demonstrando como ocorreu o
desempenho do partido na arena eleitoral nacional entre 1966 e 1978.
38
Silva, ao discutir a metamorfose das oligarquias no Piauí, demonstra o desempenho do MDB.
52

3 PMDB: ORIGENS HISTÓRICAS E TRAJETÓRIA DEMOCRÁTICA: O CASO DO


ESTADO DO PIAUÍ

Este capítulo tem como objetivo discutir as origens do PMDB no Estado do Piauí,
enfatizando sua estruturação a partir não apenas do MDB, mas do sistema bipartidário,
demonstrando a relação de desempenho eleitoral entre ARENA e MDB, na qual havia um
partido governista com domínio absoluto por um lado e, por outro, uma oposição
desarticulada e fragilizada a ponto de quase desaparecer nas últimas eleições bipartidárias. As
origens do PMDB piauiense não devem ser buscadas apenas no MDB devido ao fato de que o
partido recebeu vários líderes ex-arenistas.
Como já afirmado no capítulo anterior, um estudo sobre uma instituição partidária tem
que partir dos princípios e objetivos que marcaram ou marcam suas origens, desde que não se
perca de vista os processos de transformações sociais, políticas e institucionais que ocorrem
em seu trajeto. Sabe-se que as transformações no ambiente no qual a instituição se encontra
são fundamentais para a ocorrência de um reordenamento sobre a mesma, assim como sobre
sua atuação institucional, na medida em que as regras do jogo tomam novos rumos que
exigem adequações ao ambiente (PANEBIANCO, 2005).
A atuação de um partido na arena eleitoral que esteja inserido em um sistema político
autoritário não pode ser conduzida sob os mesmos princípios da atuação de um partido que
atua em um sistema competitivo e democrático em que prevalece a realização de eleições sob
regras justas e com partidos políticos competitivos, ou seja, é necessário diferenciar a atuação
de um partido em uma arena eleitoral onde existem apenas dois competidores39 –
bipartidarismo40 – e a atuação dos partidos em uma arena com alta competitividade –
multipartidarismo.
Com isso, temos que diferenciar a atuação político-eleitoral do Movimento Democrático
Brasileiro – MDB – sob o sistema bipartidário autoritário da atuação do Partido do
39
Em se tratando da competição política durante o regime autoritário, é necessário fazer a ressalva de que não é
somente o fato de haver apenas dois partidos, mas também não havia eleições competitivas com regras justas,
pois o regime autoritário, mesmo não tendo eliminado as eleições, mantinha um mecanismo de restrição da
competição no intuito de não permitir o crescimento da oposição (no caso o MDB) e manter sempre uma larga
vantagem para a ARENA, o partido do governo. A manutenção de eleições foi uma mera fachada para ocultar o
autoritarismo do Regime sob alguns elementos do regime democrático, como partidos e eleições. Para maiores
detalhes, confira Kinzo (1988; 2004), Lamounier (2005).
40
Em uma arena eleitoral com apenas dois partidos também pode haver competitividade (o que não foi o caso do
bipartidarismo brasileiro nos tempos do autoritarismo militar), mas a competição política entre dois partidos
necessariamente se polariza, o que não necessariamente ocorre em um sistema multipartidário. De fato, neste é
totalmente possível a existência de mais de dois competidores, como acontece no Brasil atual.
53

Movimento Democrático Brasileiro – PMDB – em um sistema democrático em meio a vários


competidores efetivos. Além disso, com a efetivação do processo de redemocratização, a
bandeira da democracia deixa de ser a referência do partido para unir forças democráticas.
A saída de uma estrutura política ditatorial para atuar na arena eleitoral sob os princípios
da igualdade jurídica representa indícios de que a instituição partidária precisará adotar outros
mecanismos de atuação nessa nova arena, onde haverá vários competidores. A bandeira de
oposição ao regime militar-autoritário e, consequentemente, a luta pelo restabelecimento do
regime democrático deixam de ser de exclusividade do então PMDB. Surgem vários partidos
na oposição para competirem com o PMDB na arena eleitoral que também se utilizam da
bandeira da democracia. Como consequência, com o retorno da democracia surge a
necessidade de ampliação da bandeira para outras questões sociais.

3.1 O REGIME AUTORITÁRIO E A FORMAÇÃO DO BIPARTIDARISMO

O Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB – tem seu embrião


diretamente ligado à formação de uma oposição legal ao regime militar-autoritário, momento
em que surgiu como MDB, com o propósito de defender o retorno do poder civil e da
democracia. Mas é necessário deixar claro que o MDB, mesmo tendo surgido em oposição ao
regime, foi instituído pelo governo autoritário.
Não se pode negar que esse partido tem sua origem ligada ao golpe de 1964. O partido
surgiu em decorrência do reordenamento que restringiu o sistema partidário a uma falsa
polarização entre dois partidos. Falsa no sentido de que havia sérias restrições a fim de que a
oposição não tivesse êxito na arena eleitoral e sempre ficasse em desvantagem (KINZO,
1988).
Para Kinzo (1988), em outubro de 1965 o regime autoritário adotou medidas rígidas de
combate às forças de oposição, buscando formar uma larga base de apoio ao governo
―revolucionário‖. O governo extinguiu o sistema multipartidário que vigorava desde o fim da
Era Vargas em 1945 e, através do Ato Complementar número 4 (AC – 4), de novembro de
1965, criou novas normas para a formação de novas organizações partidárias a partir das
ações dos membros do Congresso Nacional, o que deveria ocorrer em um prazo de quarenta e
cinco dias.
54

Pela nova ordem, para formar um partido político era necessário unir no mínimo um
terço do Congresso Nacional, com proporção igual na Câmara dos Deputados e no Senado
Federal (KINZO, 1988; MAINWARING, MENEGUELLO e POWER, 2000, p. 24). Na
verdade, nesse momento inicia-se ―uma clivagem que iria caracterizar a política brasileira
durante uma geração: autoritários versus democratas‖ (MAINWARING, MENEGUELLO e
POWER, 2000, p. 24).
Segundo Maria D‘Alva Kinzo (1988), com isso o governo autoritário, ao invés de
possibilitar a formação de um sistema partidário com três partidos, teve como meta formar
uma maioria no Congresso que possibilitasse as vitórias do governo sem depender daqueles
que formavam o grupo de oposição. ―Em lugar de estabelecer-se sobre vários partidos
concorrentes, em conformidade com o jogo democrático, [a estrutura de poder] agora estava
organizada em um partido com o fim de sustentar a ditadura militar‖ (MAINWARING,
MENEGUELLO e POWER, 2000, p. 24).

Na verdade, implicava a possibilidade de se estabelecer uma maioria de dois terços a


favor do governo, formando-se com os parlamentares restantes uma oposição
simbólica. De fato, estas medidas refletiam a intenção do novo regime no sentido de
criar um sistema que houvesse um grande partido de apoio ao governo, e um
pequeno partido de oposição formal, que viesse apenas garantir uma fachada
democrática (KINZO, 1988, p. 15).

A intenção do regime autoritário em manter um revestimento dos princípios


democráticos pode ser demonstrada na manutenção de algumas instituições democráticas que,
a princípio, poderiam proporcionar uma ilusão de que o país continuava convivendo em uma
democracia. Não obstante, a existência das instituições não garantia a prevalência da
democracia, já que elas não atuavam com a liberdade necessária.
O regime autoritário controlava as instituições e realizava eleições sob seu controle a fim
de que os resultados se tornassem favoráveis aos interesses do regime. O governo não tinha
nenhuma pretensão em demonstrar a sua verdadeira identidade, suas práticas repressivas e a
perseguição aos opositores. Ao contrário, quanto menos aparentasse um governo repressivo,
maior seria o ideal de legitimidade do regime. Assim,

A ―Revolução‖ não aboliu o Legislativo e o Judiciário, embora seus poderes tenham


sido posteriormente restringidos. Não eliminou eleições periódicas, embora as tenha
mantido sob controle. Inicialmente, não extinguiu os partidos políticos existentes,
embora tenha expurgado seus elementos ―anti-revolucionários‖. Tampouco suprimiu
a Constituição de 1946, que vigorou até 1967, embora tenha sido alterada
substancialmente pelos atos institucionais da ―revolução‖ (KINZO, 1988, p. 15 –
16).
55

Portanto, o surgimento do Movimento Democrático Brasileiro – MDB – está diretamente


ligado à montagem de uma nova estrutura partidária – o sistema bipartidário – em substituição
ao multipartidarismo que vigorou durante a República de 1946 a 1964. O Ato Institucional
número dois (AI- 2) determinou a formação de um novo modelo de organização partidária e,
em seguida, o Ato Complementar número quatro (AC – 4) estabelecia de forma compulsória
um sistema bipartidário. Com isso, buscava-se formar uma base de sustentação do regime
autoritário e uma oposição que, pelo seu tamanho e limitações, impostas pela repressão, não
conseguiria derrotar o governo (KINZO, 1988, p. 27 – 28; FLEISCHER, 2007, p. 308).
Para garantir o apoio político ao governo, o regime autoritário brasileiro se diferenciou
de outras ditaduras da América Latina, em países como Argentina, Chile e Uruguai, que, ao
implantarem uma ditadura militar, se preocuparam em eliminar os ―partidos conservadores‖.
No Brasil, o regime autoritário comandado pelos generais do Exército de 1964 a 1985 deu
ênfase ao fortalecimento de um partido ―conservador‖ para servir de base de apoio político ao
governo. (KINZO, 1988; 2004; 2005; MAINWARING, MENEGUELLO e POWER, 2000, p.
23 – 24; SCHMITT, 2000; FLEISHER, 2007, p. 303).
Além do mais, mantinha como marca específica do regime a exigência de uma permissão
concedida pelos generais para que fossem realizadas eleições para o Congresso Nacional,
Assembleias Legislativas das unidades da federação e prefeituras de uma grande parte das
cidades, bem como para as Câmaras Municipais41.
Os generais que comandaram o Brasil durante o regime autoritário em geral preferiam
manter o Congresso Nacional funcionando, pois compreendiam que seria melhor controlá-lo
que fechá-lo. Tudo isso foi favorável ao regime, tanto para ocultar certas mazelas do
autoritarismo, como para controlar uma transição moderada conduzida por partidos e
lideranças moderadas. Uma ruptura profunda nunca foi vista com bons olhos pela maioria dos
segmentos da política brasileira (KINZO, 1988; 2004; MAINWARING, MENEGUELLO e
POWER, 2000, p. 23 – 24; SCHMITT, 2000; FLEISHER, 2007, p. 303).

A intenção era, portanto, criar uma estrutura partidária organizada em termos de


apoio – ou ausência deste – ao governo: agrupar em um único partido todos os
membros do Congresso que endossassem as tendências políticas de sustentação do
regime, e em um fraco partido de oposição às forças políticas remanescentes
(KINZO, 1988, p. 29).

41
De fato, durante o regime autoritário só não havia eleições para Presidente da República, Governadores de
Estado e do Distrito Federal e para Prefeitos das Capitais e das cidades em regiões agrominerais. Ao invés de
eliminar os processos eleitorais, como de práxis dos regimes autoritários, os militares preferiam realizá-las de
forma controlada. Ver Kinzo (1988).
56

Nessa nova estrutura política havia obstáculos à formação de um grupo consistente de


combate ao autoritarismo, em defesa do Estado democrático de direito, do retorno do poder
civil e de eleições democráticas. Afinal, em uma sociedade submetida ao autoritarismo,
levantar a bandeira de uma oposição democrática não representa um movimento atrativo, ao
menos para aqueles que têm pretensão de se aproximar do poder, e até para aqueles que não
pretendem correr o risco de perder seu mandato, já que qualquer discurso de combate ao
governo militar representava um risco de retaliação por parte do regime autoritário (KINZO,
1988, p. 29).
Daí a importância, ao menos do ponto vista de sobrevivência política, de aderir à
ARENA. ―A arena foi constituída principalmente sobre as bases dos antigos partidos
conservadores e deixava claro que seria o novo veículo do conservadorismo‖
(MAINWARING, MENEGUELLO e POWER, 2000, p. 24). Por outro lado, quem fizesse
oposição deveria se posicionar de forma moderada, sem fortes confrontos frente ao governo,
já que, como de práxis, o autoritarismo não aceita críticas mais fervorosas.
Portanto, formar um grupo de oposição para combater a opressão representava sérios
riscos no que se refere à sobrevivência política. Contudo, apesar dos obstáculos criados pelo
regime militar autoritário, para a formação de um partido de oposição a formação do
Movimento Democrático Brasileiro – MDB – foi surpreendente. Antes disso, através do Ato
Institucional número I (AI – I) o governo ―revolucionário‖

Cancelara os mandatos e suspendera os direitos políticos de 50 deputados federais e


de nove suplentes, entre os quais havia 25 do PTB e 12 pertencentes aos partidos
menores, de orientação trabalhista e reformista. Isto deixou o Congresso com poucos
membros realmente atuantes na ala oposicionista. No entanto, o MDB surpreendeu a
ARENA e, em meados de dezembro de 1965, preencheu os pré-requisitos para a sua
formação, o que ocorreu quando o Senador Aarão Steinbruek concordou em ser o
vigésimo Senador a assinar o documento de criação do partido (KINZO, 1988, p.
29).

Segundo Maria D‘Alva Kinzo (1988, p. 30), o manifesto que institucionalizou o partido
de oposição foi lido na Câmara dos Deputados em 10 de fevereiro de 1966 pelo então
deputado Vieira de Melo, que foi o primeiro líder do MDB na Câmara. O manifesto dirigido
ao povo brasileiro já havia passado por aprovação na primeira reunião realizada pelo Diretório
Nacional e pelo Comitê Executivo do partido. O manifesto definia os objetivos do partido,
assim como as metas para atingi-los.
57

O retorno do sistema político democrático, o pleno funcionamento de forma


independente do poder legislativo e do poder judiciário, assim como o combate ao
autoritarismo apareceram como pontos centrais de discussão entre a oposição e a sociedade
civil brasileira. Segundo essa perspectiva, o Movimento Democrático Brasileiro se firmou
como partido antes mesmo do partido de apoio ao governo, a ARENA, que contava com a
força da estrutura estatal para sobreviver (KINZO, 1988).
De fato, o partido de oposição se estruturou com a força das lideranças que durante o
período democrático de 1946 a 1964 apareciam como partidos que ocupavam o centro-
esquerda do espectro político-ideológico de caráter trabalhista, como o PTB, mas recebendo
também vários membros de um partido de atuação mais conservadora, o PSD, ambos, porém,
de herança varguista. A maioria dos parlamentares que aderiram à oposição veio do PTB, e
em segundo lugar, os do antigo PSD, ou seja, a maioria veio de um partido político de centro-
esquerda (KINZO, 1988, p. 32; MAINWARING, MENEGUELLO e POWER, 2000).
A partir disso, o MDB não teve maiores problemas para atingir o mínimo de
parlamentares exigido pela nova ordem institucional, de caráter autoritário, para formar um
partido. Mesmo sendo um partido de oposição ao regime militar-autoritário, no qual os
parlamentares que o compunham corriam riscos de a qualquer momento terem seus mandatos
ceifados ou até mesmo seus direitos políticos interrompidos, o MDB superou as barreiras
iniciais para sua fundação e existência. Não obstante, a surpresa nesse sentido ficou para a
ARENA, que de início teve dificuldades para se institucionalizar e unificar-se como partido,

Na verdade, foi justamente a ARENA que teve que enfrentar problemas mais graves,
embora estes fossem contrários aos da oposição: a dificuldade, neste caso, era reunir
as diversas tendências de base regional e local que haviam optado por se filiar ao
partido do governo. O prazo estabelecido teve que ser prorrogado por dois meses
para que se pudesse encontrar um meio de conciliar as forças divergentes. Isso só foi
possível quando se recorreu a um mecanismo que permitia a formação de grupos
adversários dentro de um mesmo partido – a sublegenda – para concorrer a eleições
locais (KINZO, 1988, p. 29 – 30).

Contudo, as dificuldades para o partido de oposição apareceriam mais tarde, quando


buscava se expandir e se firmar em nível nacional como instituição de combate ao regime
autoritário. A começar pela dificuldade inicial de formar uma estrutura partidária em
abrangência nacional atingindo todos os níveis na hierarquia das unidades federadas. Como o
MDB foi formado por parlamentares, a organização do partido se estruturou em uma forma
bastante hierarquizada. O partido se iniciou com a formação de um diretório nacional
58

provisório para incorporar todos os parlamentares que decidiram fazer parte da oposição
(KINZO, 1988, p. 37).
Os parlamentares que assinaram o manifesto de fundação do MDB se articularam com os
deputados estaduais que também assinaram o manifesto e passaram a fazer parte da oposição
em seus respectivos estados. Com isso, formaram-se os diretórios regionais para organizar
uma estrutura partidária mais abrangente que viesse a fortalecer o partido no âmbito nacional,
com parlamentares decididos a compor a oposição se unindo a outros, mesmo que fosse com
aqueles com que tinham profundas divergências políticas, o que dificultava as relações
internas da instituição, assim como influenciará o futuro PMDB no regime democrático
(KINZO, 1988, p. 37; FERREIRA, 2002).
Portanto, a partir da perspectiva de Kinzo (1988), percebe-se que as dificuldades de
organizar o partido estavam na gênese político-ideológica da grande maioria dos
parlamentares que assinaram o manifesto de fundação do partido de oposição. Esses
parlamentares já tinham uma trajetória política em outros partidos que atuaram durante o
período democrático e multipartidário em vigor de 1946 a 1964. Todos estes partidos foram
extintos por determinação do regime autoritário. A nova base do sistema passa a ser o
bipartidarismo, no qual o MDB, mesmo com uma grande quantidade de parlamentares de
origem de centro-esquerda, em um futuro próximo seria conduzido por lideranças do antigo
PSD, líderes de postura política mais conservadora.

A partir do Diretório Nacional, formou-se também uma comissão Executiva


Nacional integrada por 11 membros que assumiram as funções básicas de
organização e decisão de atividades do partido. Como o MDB foi criado pelos
parlamentares dos partidos extintos, especialmente do Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB) e do Partido Social Democrático (PSD), a composição da primeira Comissão
Executiva Nacional refletia em grande parte o peso relativo dos dois partidos. O
primeiro presidente nacional do MDB foi Oscar Passos, senador petebista pelo
Estado do Acre que, não por coincidência, era general da reserva. Os cargos de
primeiro vice-presidente e tesoureiro do partido também foram ocupados por ex-
petebista, respectivamente Deputado Osvaldo Lima Filho e Senador José Ermírio de
Moraes, ambos de Pernambuco. Por outro lado, ex-pessedistas foram indicados para
os cargos de secretário-geral (Deputado José Martins Rodrigues, do Ceará), segundo
vice-presidente (Deputado Ulysses Guimarães, de São Paulo) e líder da Câmara
Federal (Deputado Vieira de Mello, da Bahia). Além desses dois grandes partidos, o
também extinto PDC (Partido Democrata Cristão) ficou com a terceira vice-
presidência, cargo ocupado por Franco Montoro (então deputado por São Paulo),
sendo que o ex-PSB (Partido Socialista Brasileiro) ficou com o cargo de líder do
Senado, com a indicação do Senador Aurélio Vianna, de Alagoas. Os quatro cargos
restantes da Executiva (vogais) foram distribuídos entre ex-pessedistas e ex-
petebistas. (KINZO, 1988, p. 37 – 38).
59

Outro problema enfrentado pelo MDB, que se configurou como uma luta intrapartidária,
ou seja, como uma representação da dinâmica interna do partido, foi a divergência interna que
demonstrava a heterogeneidade do mesmo, na qual apareciam, de forma geral, dois grupos
com concepções diferentes sobre o papel do partido de oposição. Por um lado, um grupo
defendia que o partido adotasse uma postura mais combativa ao regime autoritário. Por outro,
havia um grupo que adotava uma postura mais conservadora, defendendo a atuação de uma
oposição moderada, sendo composta pela maioria dos membros do partido e principalmente
por lideranças de forte influência nas decisões. A maioria destes teve suas origens políticas no
antigo PSD, a exemplo de seu grande líder, o deputado Ulysses Guimarães (KINZO, 1988;
FERREIRA, 2002, p. 135).
Parte significativa das lideranças que adotavam uma postura mais aguerrida de combate
ao autoritarismo foram excluídos da política durante o período em que o regime foi mais
repressivo aos seus opositores. Uns foram derrotados nas eleições de 1966 e 1970,
abandonando com isso seus cargos na organização partidária. Outros foram perseguidos pelo
governo militar-autoritário e, consequentemente, foram vítimas do Ato Institucional número
cinco (AI – 5), que determinava a cassação de seus mandatos e a suspensão de seus direitos
políticos (KINZO, 1988). Não obstante, a oposição, mesmo fragilizada, não deixou de ter seus
adeptos que permaneciam acreditando na volta da democracia, pois:

A filiação na organização oposicionista era o preço que várias lideranças políticas


estavam então dispostas a pagar pela incompatibilidade com grupos políticos rivais
já estabelecidos na futura ARENA. A instituição da sublegenda representa a
possibilidade de se evitar os possíveis riscos de se filiar à organização opositora ao
regime, sem abrir mão da disputa pela primazia eleitoral em suas regiões de origem.
Diante da incompatibilidade entre os propósitos de se formar um partido majoritário
e ao mesmo tempo coeso, o governo opta pela manutenção da primeira
característica. Finalmente, uma vez assegurado o caráter majoritário da ARENA, o
governo e principalmente o presidente (que nesta altura já estava a favor do
bipartidarismo) se vê compelido a patrocinar a entrada no MDB de alguns dos
senadores recém filiados a ARENA para garantir a viabilidade da organização
oposicionista (MADEIRA, 2006, p. 56).

Contudo, os grupos políticos que divergiam no interior do Movimento Democrático


Brasileiro não necessariamente representavam facções divergentes ideologicamente. De forma
geral, as divergências ocorriam sobre questões específicas, pontuais, que não chegavam
necessariamente a formar oposições ideológicas (KINZO, 1988; FERREIRA, 2002). Dessa
forma, certamente as relações entre moderados e autênticos se tornou viável.
60

Certamente, os políticos conservadores e liberais eram, em geral, aqueles que


defendiam uma linha mais moderada, e os parlamentares de esquerda se
identificavam com aqueles que assumiam um papel oposicionista mais combativo.
Contudo, havia vários políticos liberais ou reformistas – como algumas figuras ex-
pessedistas e ex-petebistas – que se identificavam com o grupo mais combativo. Por
outro lado, havia elementos considerados de esquerda, especialmente os vinculados
ao PCB, que sempre tendiam a apoiar as posições do grupo moderado. E a razão
para isso, de acordo com a rationale é o pragmatismo do PCB, era a de que
consideravam o desempenho do grupo radical uma força desagregadora dentro do
MDB, já que, através de suas pressões para que o partido assumisse posições mais
radicais, o grupo produzia conflitos internos que prejudicavam a unidade da frente
(KINZO, 1988, p. 57 – 58).

As derrotas eleitorais e as cassações de mandatos e suspensão de direitos políticos dos


parlamentares destacados como mais combativos levou à consolidação da liderança de
políticos de postura mais moderada, principalmente de lideranças que tiveram suas origens
político-partidárias no PSD. Estes, mesmo atuando em defesa da redemocratização do país,
não adotavam uma postura agressiva sobre o regime militar-autoritário, preferindo conduzir o
processo de redemocratização de forma controlada, provavelmente como pretendia o regime
(KINZO, 1988).
De fato, a posição central no espectro político-ideológico que o PMDB tem adotado nos
processos político-eleitorais, desde a redemocratização, tem suas origens na gênese do
partido, no MDB e suas lideranças moderadas, tendo em vista as dificuldades de se tomar
posições mais extremadas por um partido que se formou a partir de uma frente ampla e
diversificada de lideranças contrárias ao regime militar. Vários deles permaneceram no
partido após a redemocratização, estando presentes até a atualidade exercendo forte influência
em sua condução. A trajetória política do MDB/PMDB foi e continua sendo favorável ao
espectro político-ideológico central, uma vez que as lideranças moderadas quase sempre
apareceram com mais força para conduzir o partido (KINZO, 1988, p. 38; FERREIRA, 2002,
p. 161).

Políticos pessedistas, como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Amaral Peixoto,


Thales Ramalho e Nélson Carneiro foram as principais figuras emedebistas do grupo
moderado, o qual conseguiu sempre conservar para si a liderança nacional do
partido. De 1971 em diante, ocorreram algumas modificações na Executiva Nacional
devido às mudanças por parte de novos parlamentares eleitos em 1970 e 1974. No
entanto, os postos mais importantes na liderança do partido não se modificavam com
frequência, como se pode confirmar pelo fato de o MDB ter tido apenas dois
presidentes nacionais, o senador Oscar Passos e o deputado Ulysses Guimarães, e
apenas três secretários-gerais (os deputados ex-pessedistas, Martins Rodrigues,
Adolfo de Oliveira e Thales Ramalho) (KINZO, 1988, p. 39).
61

A polarização entre ARENA e MDB que marcou o período de 1966 a 1979 teve dois
momentos distintos com relação ao desempenho eleitoral de cada partido. Contudo, os dois
momentos foram marcados por um padrão eleitoral que prevalecerá até os primeiros anos de
redemocratização. Como a ARENA teve uma forte herança do PSD e da UDN, ela deu
continuidade às relações clientelistas que esses dois partidos haviam mantido durante o
período democrático que antecedeu a ―revolução‖ de 1964, priorizando a atuação nas regiões
menos desenvolvidas do país (KINZO, 1988; SCHMITT, 2000; MAINWARING,
MENEGUELLO e POWER, 2000, p. 24 – 25).
O Nordeste foi uma região onde o domínio da ARENA era inquestionável, enquanto o
MDB era um partido com presença mais forte nas regiões mais desenvolvidas. Isso foi
fundamental para que o MDB viesse a ter sua atuação e suas bases mais fortalecidas nas
regiões mais desenvolvidas. As regiões Sul e Sudeste tiveram uma marca mais forte do MDB.
Havia uma relação inversa do desempenho da ARENA nas áreas mais urbanizadas, lá
apresentando um menor rendimento eleitoral, e outra relação inversa no desempenho do MDB
nas regiões menos urbanizadas, onde este conseguia seus piores resultados (MAINWARING,
MENEGUELLO e POWER, 2000, p. 24 – 25).
Nessa conjuntura político-partidária ocorreram os momentos iniciais, nas eleições de
1966 e 1970, de crescimento da ARENA e uma posterior redução do domínio nas eleições de
1974 e 197842. Consequentemente, vem um segundo momento em que o crescimento do
MDB passa a causar preocupações ao governo militar. O segundo momento, quando o MDB
provoca a inversão do processo com o seu crescimento acima do esperado, coloca o regime
autoritário em alerta e força o governo a tomar medidas de segurança para a sustentação da
estrutura autoritária e fazer a abertura sob controle dos governistas.

A Arena foi maciçamente vitoriosa nas eleições legislativas de 1966 e 1970. A


surpreendente virada do MDB nas eleições de novembro de 1974, quando o partido
obteve 16 das 22 cadeiras no Senado, marcou o começo da fase plebiscitária da
política eleitoral. Após 1974, houve o aumento do total de votos do MDB, a redução
do apoio à Arena e diminuição dos votos em branco e nulos [...]. A surpresa do
governo militar ao ver os resultados de 1974 levou-o a organizar uma estratégia de
prevenção contra os avanços do MDB nas disputas subsequentes, o que consistiu,
basicamente na manipulação das leis eleitorais com o propósito manter as maiorias
arenistas nas casas legislativas (MAINWARING, MENEGUELLO e POWER,
2000, p. 25).

42
Esse declínio levou a um relativo equilíbrio, ou ao menos à redução das diferenças no domínio governista, e
não ao domínio da oposição.
62

De fato, os processos político-partidários durante o período de autoritarismo estiveram


extremamente centralizados e controlados pelo regime autoritário. As instituições políticas
não tiveram liberdade para atuarem na arena eleitoral. Apenas duas organizações partidárias
(ARENA e MDB) tiveram liberdade de funcionamento. Essas duas instituições tiveram
atuações em todo país, porém com desempenhos diferentes nas unidades da federação.
Portanto, no próximo tópico serão discutidas as eleições submetidas ao bipartidarismo para
demonstrar como se deu o desempenho dos dois partidos. Buscar-se-á perceber as relações de
ascensão e declínio dos partidos na arena eleitoral do Estado do Piauí.

3.2 MDB E ARENA: AS ELEIÇÕES SOB O BIPARTIDARISMO NO ESTADO DO


PIAUÍ E O DECLÍNIO NO DESEMPENHO ELEITORAL EMEDEBISTA (1966 –
1978)

As origens do Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB – no Piauí, a


exemplo do PMDB nacional, estão intrinsecamente ligadas ao sistema bipartidário da quarta
República (1964 – 1985), e mais especificamente às oposições agrupadas no Movimento
Democrático Brasileiro – MDB – durante o regime autoritário. O PMDB surge no momento
de transição democrática formado por lideranças que, em parte, estavam na vida pública desde
a República democrática de 1945 – 1964 e/ou que tiveram atuação sob o sistema artificial do
bipartidarismo, quer no MDB quer ARENA, já que com a volta do multipartidarismo há um
reordenamento partidário, assim como um ―reencaixe‖ das lideranças na organização dos
novos partidos políticos brasileiros.
Assim, quem estava na ARENA não necessariamente teve que permanecer no PDS43 e
quem estava no MDB não teve que permanecer no PMDB44. Tanto houve a mudança de um
para outro, como ocorreu a saída de líderes dos mesmos para fundar outros partidos ou a saída
para se unir a outros partidos recém-fundados. De fato, nesse momento de realinhamento
partidário, proporcionado pela nova institucionalidade, surge uma grande quantidade de
partidos, seja com registro definitivo seja com registro provisório45.
Segundo Kinzo (1988), Schmitt (2000), a formação do MDB ocorreu com algumas
semelhanças entre a organização partidária nacional e sua organização no subsistema

43
Assim como não tiveram que aderir à dissidência que fundou o PFL, outro grande herdeiro da ARENA.
44
Também não foi necessário seguir os dissidentes que fundaram o PSDB em 1988.
45
Para mais detalhes, confira Nicolau (1996).
63

partidário piauiense. Os deputados federais que aderiram à ARENA para formar a base
governista eram predominantemente oriundos dos partidos conservadores (UDN, PSD, PR,
PL, PRP) da terceira República, enquanto que os deputados que se uniram para formar as
oposições incorporadas ao MDB eram predominantemente dos partidos
trabalhistas/reformistas46 (PTB, PDC, PTN, PST, PRT, MTR, PSB) (KINZO, 1988;
SCHMITT, 2000). ―O MDB conseguiu maioria no recrutamento parlamentar apenas em três
partidos: PTB, PSB e MTR‖ (SCHMITT, 2000, p. 35)
A Câmara dos Deputados à época da imposição do bipartidarismo era composta por 409
deputados, dos quais 257 aderiram ao partido governista, 149 preferiram compor a oposição e
três ficaram sem partido. Enquanto isso, da bancada de deputados federais do Piauí, que era
formada por 8 deputados em 1966, 5 aderiram à ARENA e 3 ao MDB. Isso demonstra certo
alinhamento do MDB piauiense com o MDB nacional47, refletindo ao menos minimamente
um viés ideológico, por mais frágil que tenha sido, já que os cinco deputados que seguiram o
governo eram oriundos do PSD (2) e UDN (3), e os 3 que se uniram ao MDB vieram do PTB
(2) e do PSD (1).
Portanto, imperou uma lógica de compatibilidade. De imediato, os piauienses seguiram a
posição equivalente ao que acontecia no âmbito nacional, o que se verificará nos anos
seguintes (KINZO, 1988; SCHMITT, 2000). Porém, enquanto o MDB nacional passa por um
processo de ascensão, no Piauí foi de declínio.
Pela lógica segundo a qual o Parlamento brasileiro se organizou no sistema bipartidário,
sem uma linha ideológica clara de orientação, podemos afirmar que isso estava diretamente
ligado tanto ao artificialismo da imposição do sistema bipartidário quanto à baixa perspectiva
ideológica com características definidas que marcou os partidos políticos durante a terceira
República48. No entanto, os caminhos seguidos pelos deputados, aqueles com origens nos
partidos conservadores tendo em sua maioria se articulado com o regime autoritário, e aqueles
com origens nos partidos trabalhistas/reformistas tendo em sua maioria preferido trilhar pela
oposição democrática (KINZO, 1988), demonstram que iniciava certa identificação em blocos
partidários com princípios que não estavam orientados para uma mesma forma de fazer
política.
De fato, esses dois blocos divergiram bastante durante o bipartidarismo, quando havia os
embates entre a atuação autoritária governista e as tendências democráticas das oposições

46
A definição de partidos conservadores e de partidos trabalhistas/reformistas é feita por Kinzo (1988). A autora
coloca os dois grupos de partidos com divergências ideológicas, seguindo princípios diferentes.
47
Para maiores detalhes sobre os dados, confira Kinzo (1988, p. 34).
48
Para mais detalhes, confira Kinzo (1988).
64

emedebistas. Contudo, essas divergências aconteciam mais em questões pontuais do que por
consistentes bases ideológicas divergentes, visto que quando houve a retomada do
multipartidarismo as divergências políticas não mantiveram as mesmas linhagens. As
divergências estiveram muito mais ligadas à oposição entre democracia e autoritarismo, de
forma que com a conquista da democracia as mesmas entram em declínio.
Apesar dos pontos comuns entre a formação e a trajetória do MDB/PMDB nacional e no
Estado do Piauí, deve-se enfatizar que houve também diferenças significativas. Durante a
vigência do bipartidarismo nacional pode-se perceber, grosso modo, duas fases que
caracterizarão o sistema segundo o desempenho de cada partido na arena eleitoral e que, em
consequência, configurarão dois momentos na arena parlamentar49.
No primeiro momento, o Congresso Nacional esteve amplamente dominado pelas forças
governistas agrupadas na ARENA. Desde o realinhamento ao bipartidarismo em 1965/66,
continuando nas eleições deste último ano e nas eleições de 1970, a ARENA conseguiu
formar amplas maiorias no Congresso Nacional. Não obstante, nas eleições seguintes, 1974 e
1978, ocorreu um crescimento substancial das oposições incorporadas no MDB50. O
crescimento do MDB já demonstrava que a abertura política seria inevitável, o que segundo
Kinzo (1988), Schmitt (2000), levou o governo a adotar uma série de medidas objetivando
enfraquecer a oposição e fazer uma transição de forma controlada para que as forças
governistas continuassem no poder no período pós-ditadura.
Nesse momento, o governo passa a exercer um controle sobre a propaganda partidário-
eleitoral para que o resultado das eleições de 1974 não viesse a se repetir nas eleições
seguintes. Nas eleições de 1978, em decorrência das restrições impostas sobre o uso da mídia,
a ARENA volta a crescer, enquanto a oposição não consegue crescer além dos índices das
eleições anteriores, pois nessas eleições

Era permitida apenas a veiculação da foto, número de candidatura e de um perfil


resumido de cada candidato. Esta proibição impediu o MDB de explorar (como
havia feito em 1974 de forma bem mais competente que a ARENA) o potencial da
televisão enquanto meio eficaz de comunicação com o eleitorado. Desta forma, a
televisão, que havia sido um mecanismo relevante de mobilização eleitoral, perde a
sua dinamicidade e o seu caráter atrativo, contribuindo para um novo aumento da
apatia eleitoral (que havia diminuído significativamente em 1974) (MADEIRA,
2006, p. 76).

49
Exceto a arena governamental (presidente, governadores e prefeitos de capitais e cidades de regiões
consideradas área de segurança nacional), o presidente era eleito de forma indireta e os demais eram indicados.
50
Confira Kinzo (1988), Silva (1999), Schmitt (2000).
65

Na perspectiva de uma trajetória rumo à democracia, o MDB no Piauí teve um


desempenho e um desenvolvimento diferente. De fato, até mesmo inverso ao que estava
acontecendo com o MDB nacional. Enquanto o MDB nacional, que esteve em ampla
desvantagem em relação à ARENA nos anos 60 e início da década de 70, cresceu
significativamente nos anos seguintes da mesma década, no Piauí sempre demonstrou
fragilidade. Além disso, nos anos 70 sofreu uma drástica redução de sua bancada, tanto
federal quanto estadual, de forma que nas eleições de 1978 teve o seu pior desempenho
eleitoral, enquanto o MDB nacional alcançou a melhor marca de sua história nestas mesmas
eleições (KINZO, 1988; SILVA, 1999; SCHMITT, 2000).
Outra característica que a priori foi comum é que tanto em nível nacional quanto no
Piauí, o partido que ao ser extinto pelo regime autoritário concedeu o maior número de
lideranças para o MDB foi o PTB. Entretanto, houve ao mesmo tempo uma diferença
essencial no ―reencaixe‖ dos parlamentares nos novos partidos políticos. Enquanto 78 dos 116
deputados federais pertencentes ao PTB aderiram ao MDB, no Piauí os números foram mais
modestos. De fato, mais de 50% dos deputados que se filiaram ao MDB nacional pertenciam
ao PTB, já que o MDB recebeu 149 deputados federais (KINZO, 1988; SILVA 1999).
Em se tratando do MDB na esfera nacional, o mesmo não teve dificuldades para
encontrar o número mínimo de parlamentares dispostos a compor as oposições para se
filiarem ao partido, requisito estipulado pelo novo arranjo institucional para a aquisição da
permissão legal para funcionar (KINZO, 1988).
Ao contrário do nacional, no Estado do Piauí, ―nessa reformulação partidária promovida
pela ditadura, poucos foram os membros do PTB que permaneceram fiéis à oposição a partir
da nova configuração bipartidária imposta ao país‖ (SILVA, 1999, p. 229). No Piauí os
parâmetros de formação das oposições não ficaram distantes dos padrões do Nordeste51.
Por conseguinte, aumentam as dificuldades de estruturar uma oposição consistente, com
possibilidades reais de fazer o embate político-partidário com os governistas incorporados na
ARENA. Havia uma grande desvantagem numérica. O MDB ficou em desvantagem numérica
principalmente em decorrência de ter sua liberdade vigiada pelo regime autoritário, o que
levou muitos parlamentares a não arriscarem seu futuro político agrupando-se à oposição.
―Segundo o ex-governador [Chagas Rodrigues] foi grande a luta para conseguir o número
suficiente de pessoas expressivas no Piauí para compor o presumível partido de oposição
imposto pelos golpistas de 64‖ (SILVA, 1999, p. 229).

51
Ver Kinzo (1988).
66

O domínio da ARENA nas quatro eleições sob o bipartidarismo foi tão eficaz, no sentido
de não permitir uma oposição expressiva ao regime, que ―o surgimento de uma oposição
programática no Piauí só vai acontecer no pós-1964, em um primeiro momento difusa, e se
consolida a partir dos anos 1980‖ (SILVA, 1999, p. 334), tendo se estruturado de forma mais
efetiva, no que diz respeito à competitividade eleitoral, apenas nos anos 90, com partidos que
não surgiram diretamente do bipartidarismo. Entretanto, apenas em 2002 o PT52, que não foi
formado por lideranças oriundas do bipartidarismo, derrota os herdeiros arenistas53.
Em geral, quem está no governo tem mais força para agregar lideranças e partidos do
que quem está na oposição. Os militares e seus aliados regionais dominavam o governo e
investiram tanto para tornar a oposição emedebista inexpressiva que no Estado do Piauí, ―para
a Câmara Federal a hegemonia da ARENA foi quase absoluta no período de 1966 a 1978,
situação idêntica ocorreu na Assembleia Legislativa do Estado do Piauí, onde o MDB
praticamente desaparece como legenda partidária competitiva‖ (SILVA, 1999, p. 270). No
Senado Federal, o MDB piauiense sequer existiu.

Durante o Regime Militar, a oposição (MDB) foi drasticamente massacrada pela


situação (ARENA). [...] Nesse período, a ARENA deteve 82,9% das cadeiras na
Assembleia Legislativa; 81,9% na Câmara federal; 100% no Senado e no Governo
do Estado. O MDB deteve somente 17,1% no legislativo estadual e 18,1% no
Federal, zero por cento no Senado e Governo do Estado. Esse resultado é
reproduzido nas prefeituras municipais com mais agudeza [...], (SILVA, 1999, p.
338).

Logo após o golpe de 1964, os militares se preparam, a partir de 1965, para não serem
derrotados nas eleições seguintes, que viriam a ocorrer em 1966. Nessas eleições no Estado
do Piauí a ARENA saiu em larga vantagem, dominando todas as arenas de disputas. Elegeu o
ex-governador Petrônio Portella Nunes54 para a única vaga aberta para o Senado. Das oito

52
Não obstante, salientamos que para chegar ao poder em 2002 o PT precisou do apoio de várias lideranças
tradicionais. Para se reeleger em 2006 e para governar em seus dois mandatos não foi diferente. O PT fez aliança
eleitoral e coalizão de governo com líderes e partidos que durante vinte anos foram seus alvos de combate.
53
Apesar da vitória do PMDB em 1994, liderada por ―Mão Santa‖ com um discurso de combate às oligarquias,
representando o início do declínio do PFL, já que desde então não consegue eleger um governador, não se pode
esquecer que ―Mão Santa‖ foi arenista. A vitória de Alberto Silva em 1986 também não foi um rompimento, já
que Alberto construiu sua carreira política junto às tradicionais oligarquias do PSD durante a República do pós-
1945 e, com o realinhamento ao bipartidarismo, vincula-se à ARENA, pela qual foi governador do Estado.
54
Foi a maior liderança política do Estado do Piauí nas décadas de 60 e 70, tendo sido Deputado Estadual,
Prefeito de Teresina, Governador eleito em 1962, sempre pela UDN, partido do qual também foi presidente. No
momento do golpe, Petrônio Portella governava o Estado e logo no realinhamento bipartidário aderiu à ARENA.
Também foi Senador por duas vezes eleito pela ARENA e Ministro da Justiça, conquistando larga influência em
Brasília. Comandava e influenciava as eleições no Piauí de forma que seu grupo venceu todas as eleições para o
governo do Estado (exceto a indicação de Alberto Silva) e todas as vagas para o Senado, mantendo ampla
maioria sobre as cadeiras que cabiam ao Piauí na Câmara dos Deputados, assim como na Assembleia Legislativa
do Estado. Para mais detalhes, confira Silva (1999).
67

(08) vagas que cabiam ao Piauí na Câmara dos Deputados, sete (07) foram ocupadas pela
ARENA. O MDB conquistou apenas uma (01) cadeira na Câmara dos Deputados. A ARENA
conquistou também trinta e quatro (34) das quarenta e duas cadeiras da Assembleia
Legislativa do Estado, ficando apenas oito (08) com o MDB (SILVA, 1999). Essas diferenças
só vieram a aumentar durante o autoritarismo.
Além de ter sido derrotado na disputa para o Senado e ficar em ampla desvantagem na
disputa de cadeiras para a Câmara dos Deputados e para a Assembleia Legislativa, para o
governo do Estado a eleição foi realizada no Colégio Eleitoral, indiretamente, onde a
ARENA, com ampla maioria de parlamentares, não corria qualquer risco de derrota.
A ARENA, nas eleições de 1966, elegeu Helvídio Nunes de Barros governador do
Estado e João Clímaco D‘Almeida vice-governador. Nessa eleição, os oito deputados
emedebistas55 assinaram uma nota repudiando a forma como o candidato arenista Helvídio
Nunes de Barros foi eleito. Foram eles: Severo Eulálio, Milton Cardoso, padre Solón Aragão,
Raimundo de Castro Paixão, Manoel Nogueira Filho, David Paulo Nunes, Filadelfo Freire de
Castro e Pedro Borges da Silva (SILVA, 1999, p. 233).
Contudo, esses oito deputados estaduais que formavam a oposição nos primeiros anos do
bipartidarismo não conseguiram manter tal base no decorrer do regime autoritário, de forma
que a oposição foi se fragilizando até o fim do sistema bipartidário. Nos anos seguintes, a
oposição entra em declínio de tal modo que as tendências oposicionistas chegaram ao fim do
autoritarismo quase que inexpressivas no Legislativo piauiense, tanto para a Assembleia
Legislativa quanto para a Câmara dos Deputados. Os dados eleitorais apresentados e
discutidos a seguir deixam claro o quanto a oposição foi inexpressiva frente à ARENA no
Estado do Piauí, visto ser este

Um partido governista amplamente majoritário e que, apesar de suas divisões


internas nos âmbitos regional e estadual, garantia ao governo uma maioria estável e
confortável no plano nacional. Competindo com este partido, uma organização que
além de minoritária era também crivada de divergências internas e caracterizada por
uma polarização entre os chamados moderados e o pequeno grupo de oposicionistas
mais sistemáticos ao regime, os autênticos (que tinham sempre a ameaça da cassação
como um agente moderador de seus discursos e práticas) [...]. [nessa perspectiva], as
eleições de 15 de novembro de 1966 representam o primeiro teste desta nova
estrutura institucional criada desde o ano anterior. Neste contexto de reorganização
da vida político-partidária brasileira, para além das mudanças institucionais, as
incertezas eram aumentadas em grande medida pelas recorrentes cassações efetuadas
pelos militares (MADEIRA, 2006, p. 58).

55
Esses oito deputados estaduais do Piauí, que tinham sido eleitos ainda no período democrático e
multipartidário, aderiram ao MDB com a imposição do bipartidarismo.
68

GRÁFICO I: PIAUÍ – A relação de desempenho eleitoral entre ARENA e MDB para a Câmara dos Deputados
durante o sistema bipartidário, eleições de 1966 a 197856.

FONTE: Roberto John G. da Silva (1999); Tribunal Regional Eleitoral do Piaui – TRE –PI.

O gráfico I demonstra como ocorreu o desempenho dos dois partidos que atuaram sob o
bipartidarismo autoritário no Estado do Piauí nas quatro eleições estaduais para a Câmara dos
Deputados entre 1966 e 1978. Os dados eleitorais deixam claro o quanto o MDB foi uma
instituição frágil no Estado do Piauí. Além disso, o partido obteve um desempenho declinante,
contrariando o seu desempenho nacional, que foi ascendente. De fato, a situação da sigla no
Piauí é de um MDB fragilizado não apenas em relação ao nacional, mas também em âmbito
regional, com um desempenho abaixo do MDB em nível de Nordeste, como apontam alguns
indícios à frente, tendo a ARENA dominado todo o período e, suas heranças, exercido forte
influência no período pós-ditadura.
Como pode ser constatado adiante, os herdeiros arenistas chegaram ao período
democrático fortalecidos, inicialmente no PDS e posteriormente com o PFL, este
desmembrado daquele, fundado por uma ala insatisfeita com a candidatura de Paulo Maluf à
Presidência da República nas eleições que estavam previstas para ocorrer em 1985. Nessas
eleições, a ala fundadora do PFL resolveu se aliar ao PMDB para apoiar a candidatura de
Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, uma estratégia que manteria fortalecido o grupo que
desde a reforma partidária, no início do regime autoritário, vinha se mantendo hegemônico na
política brasileira, dominando as arenas eleitoral, parlamentar e governamental.

56
Nas eleições de 1970 houve uma revisão sobre o eleitorado, o que provocou uma redução no número de
cadeiras na Câmara de oito para sete.
69

No pleito de 1966, particularmente na Câmara dos Deputados, o resultado das urnas


foi na verdade bastante semelhante à distribuição de cadeiras congressuais resultante
da então recente reforma que instituíra o bipartidarismo [...]. O desequilíbrio na
origem do bipartidarismo condicionou de modo decisivo o primeiro teste eleitoral
das novas organizações partidárias (SCHMITT, 2000, p. 43).

A composição da Câmara dos Deputados logo em seguida à imposição do bipartidarismo


e o realinhamento, para ARENA e MDB, antes da realização de eleições, ficou da seguinte
forma: 62,8% dos deputados com a ARENA, 36,4% com o MDB e 0,8% de deputados sem
filiação partidária57. Contudo, o resultado das eleições de 1966 para deputado federal no Piauí
não apresentou uma divisão semelhante à do Congresso Nacional entre ARENA e MDB.
Assim, o realinhamento em dois partidos não ficou semelhante a um autêntico bipartidarismo,
em que ambos demonstram competitividade eleitoral. Logo nessa eleição, houve a redução do
MDB, que já era pequeno. Por outro lado, ocorreu o crescimento da ARENA, que já nascera
fortalecida.
Quando da filiação aos dois partidos do sistema bipartidário, a divisão da bancada
piauiense foi semelhante à do Congresso Nacional, pois dos oito deputados, cinco foram para
a ARENA e três para o MDB, ou seja, 62,5% para o primeiro e 37,5% para o segundo. Porém,
nas primeiras eleições sob o bipartidarismo a ARENA ficou com sete das oito cadeiras e o
MDB com uma apenas, portanto, 87,5% para o primeiro e 12,5% para o segundo. Ou seja, na
primeira eleição o MDB perde dois terços de sua bancada federal58.
Tradicionalmente, o Nordeste foi de amplo domínio da ARENA. No Piauí o índice de
desempenho da ARENA ficou acima de seu desempenho no Nordeste. Nas eleições de 1966,
o partido conquistou 67,7% das Cadeiras da Câmara dos Deputados. Apesar de não ter sido
possível encontrar a proporção de cadeiras conquistadas no Nordeste, pela porcentagem de
votos é perceptível que seu desempenho regional foi um pouco menor que no Piauí. A
ARENA teve 67,8% dos votos dos nordestinos. Somando a isso os 11,9% de brancos e nulos,
ficaram apenas 20,3% para o MDB. Enquanto isso, no Piauí o MDB conquistou apenas uma
das oito cadeiras, representado 12,5% apenas, ficando as demais 87,5% com a ARENA59.
Nas eleições de 1970 para a Câmara dos Deputados, as proporções entre ARENA e
MDB foram muito parecidas com aquelas de 1966, apesar de uma pequena queda deste
último, que conquistou 28,5% das cadeiras, ficando a ARENA com 71,9%. No Nordeste, os
dois partidos reduziram suas votações devido ao aumento dos votos brancos e nulos, cujo

57
Dados compilados de Kinzo (1988), Schmitt (2000).
58
Os dados analisados foram compilados de Kinzo (1988), Silva (1999), Schmitt (2000).
59
Compilação de dados de Kinzo (1988), Schmitt, (2000).
70

percentual ficou em 28,1%, bem superior à votação do MDB, que foi de 16,5%, cabendo à
ARENA os restantes 55,4%. Enquanto no Piauí a ARENA conquistou seis das sete cadeiras,
representando 85,7%, o MDB ficou com apenas uma cadeira, o que representou 14,3% das
vagas do Estado do Piauí na Câmara60.
Nas eleições de 1974 o padrão nacional mudou bastante com o crescimento do MDB,
demonstrando mais competitividade, caminhando para um padrão que seria realmente
bipartidário, tanto que a representação na Câmara ficou 44% com o MDB e 56% com a
ARENA. Contudo, no Nordeste o padrão de competitividade não teve grandes alterações. O
que alterou foi o índice de votos brancos e nulos, que ficou em 20,3%, enquanto o MDB ficou
com 20,4% e a ARENA com 59,9% dos votos dos nordestinos. No Piauí o padrão ficou
exatamente igual ao de 1966, ficando a ARENA com 87,5% das vagas e o MDB se reduzindo
a 12,5% das cadeiras que cabiam ao Piauí (KINZO, 1988; SILVA, 1999; SCHMITT, 2000).
Os padrões de competição tiveram mudanças significativas nas duas últimas eleições do
sistema bipartidário. O MDB, em 1978, conquistou 45% das cadeiras de deputados federais e
a ARENA 55% das mesmas. No Nordeste o padrão continua com poucas alterações: os
governistas obtiveram 57,8% dos votos, a oposição recebeu 22,1% e os votos brancos e nulos
somaram 20,1% do eleitorado nordestino. Enquanto isso, no Piauí o MDB andou na
contramão ao ver reduzida a zero a sua representação na Câmara. Nessas eleições, a ARENA
conquistou 100% das cadeiras de deputados federais no Estado61.
Os dados aqui discutidos evidenciam um MDB frágil no âmbito nacional, mas em um
processo de ascensão entre 1966 e 1978, ficando mais ou menos estável, ao menos na
proporção de votos no Nordeste até 1978, a última eleição bipartidária. Contudo, no Piauí o
MDB passa por um processo inverso ao nacional, visto que foi declinante durante o mesmo
período a ponto de ficar inexpressivo com o resultado das eleições de 1978, quando sequer
elegeu representante para a Câmara dos Deputados62, ficando sem representante não apenas
na Câmara dos Deputados, mas no Congresso Nacional63.
Contudo, sua trajetória de fragilidade será superada antes mesmo da retomada do poder
civil com a redemocratização em 1985. Como será visto no capítulo seguinte, quando da
reforma partidária que retoma o multipartidarismo em 1979, viabilizando eleições populares
em 1982 para governadores de estados e para as casas legislativas, as quais ocorreram

60
Compilação de dados de Kinzo (1988), Schmitt, (2000).
61
Todos os dados discutidos abaixo do gráfico acima foram compilados de Kinzo (1988), Silva (1999), Schmitt
(2000) e do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí, TRE - PI.
62
Kinzo (1988), Silva (1988), Tribunal Regional Eleitoral do Piauí, TRE - PI.
63
De fato, a oposição à ARENA, de certa maneira, estava na própria ARENA, em forma de sublegendas.
71

democraticamente, a força do agora PMDB já fica evidente na arena eleitoral do Estado do


Piauí, com reflexos no Parlamento. A partir de então veio um novo ―reencaixe‖ das forças
políticas e o PMDB de imediato sai fortalecido. Fato recorrente até os dias atuais, mesmo com
algumas baixas, o partido permanece em evidência.

GRÁFICO II: PIAUÍ – A relação de desempenho eleitoral entre ARENA e MDB para o Senado Federal*
durante o sistema bipartidário, eleições de 1966 a 1978.

*As cadeiras deste gráfico referem-se apenas àquelas que foram resultantes das eleições de cada ano
identificado. As diferenças numéricas são devidas às renovações no Senado, as quais ocorrem alternando em um
terço em uma eleição e dois terços na eleição seguinte.

FONTE: Roberto John G. da Silva (1999); Tribunal Regional Eleitoral do Piauí – TRE - PI.

O gráfico II traz à tona os resultados das eleições para o Senado Federal no sistema
bipartidário no Estado do Piauí. Nas quatro eleições para o Senado, o fracasso do MDB no
Estado do Piauí foi absoluto. Em nenhuma eleição o MDB piauiense conquistou cadeira no
Senado da República. Em nenhum momento o partido governista foi sequer ameaçado de
derrota.
O domínio da ARENA foi de 100% em todo período autoritário. Portanto, as curvas
demonstrando a variância no desempenho da ARENA, entre um e dois senadores eleitos, não
significam um declínio do partido governista e sim a alternância na proporção de renovação
no Senado, que é de um e terços dois em cada eleição, alternadamente. Portanto, cada número
representa não apenas o total de cadeiras conquistadas pelo partido, mas a totalidade das
vagas em disputa no Estado.
72

De acordo com os dados, houve uma diferença ainda maior entre o MDB nacional e o
MDB no Piauí nas eleições para o Senado. No âmbito nacional havia também o domínio da
ARENA na maior parte do tempo, em três das quatro eleições. Em 1966, o MDB conquistou
18,2% das cadeiras do Senado, 10,9% em 1970 e em 1974 surpreendeu a ARENA com uma
larga vitória ao conquistar 72,7% das cadeiras. Em 1978 tem um declínio, mas consegue um
desempenho regular com a ocupação de 34,8% das cadeiras da casa. A ARENA ficou com
81,8% em 1966, 89,1% em 1970, 27,3% em 1974 e 65,2 nas últimas eleições do sistema em
197864.
Ou seja, apesar da fragilidade do MDB no âmbito nacional, exceto nas eleições de 1974,
seu índice foi regular se comparado ao MDB no Piauí, onde jamais elegeu um senador, visto
que ―o MDB lançava sempre um anticandidato ao Senado, como um protesto e alcançando
pouco mais da metade dos votos dados à ARENA em 1966 e 1970 e atingindo pouco mais de
um terço da votação nos pleitos de 1974 e 1978‖ (SILVA, 1999, p. 270).
De fato, segundo Silva (1999), o desempenho do MDB para o Senado foi tão frágil que
em nenhuma das quatro eleições consegue superar as abstenções. Em 1966, houve 106.655
votos de abstenção e o MDB recebeu apenas 74.065 votos; em 1970, foram 109.839 votos de
abstenção, enquanto o MDB ficou com 101.368 votos; em 1974, as abstenções chegaram a
156.040 votos; enquanto o MDB atingiu apenas 94.662 votos; e nas últimas eleições
bipartidárias, em 1978, ocorreram 157.291 votos de abstenção e o MDB recebeu 120.007
votos, ou seja, durante o bipartidarismo havia uma proporção alta de abstenção no Estado do
Piauí. Além disso, os índices de votos nulos e brancos também foram elevados.
Nas disputas para o Senado Federal, sua força não aparece nem mesmo em 198265, como
acontece nas disputas para a Câmara dos Deputados e para a Assembleia Legislativa. Apenas
após o retorno do poder civil, com a eleição de Tancredo Neves em 1985, ainda de forma
indireta, é que nas eleições de 1986, quando havia duas vagas em disputa, o Partido do
Movimento Democrático Brasileiro – PMDB – conquista uma. Apesar do crescimento do
PMDB nas eleições de 1982, o domínio dos herdeiros da ARENA66, naquele momento em
grande maioria no PDS67, foi mantido.

64
Compilação de dados de Kinzo (1988).
65
Nessas eleições, o agora PMDB mais uma vez teve o seu candidato Chagas Rodrigues derrotado na disputa
para o Senado. Foi derrotado também para governo do Estado com a candidatura de Alberto Silva, que tinha
deixado os governistas com a volta do multipartidarismo.
66
Elegendo o governador, conquistou a única cadeira para o Senado, seis das nove cadeiras para a Câmara dos
Deputados e dezessete das vinte e sete cadeiras para a Assembleia Legislativa.
67
Outros resolveram deixar o governo, filiando-se ao PMDB.
73

GRÁFICO III: PIAUÍ – A relação de desempenho eleitoral entre ARENA e MDB para a Assembleia
Legislativa* durante o sistema bipartidário, eleições de 1966 a 197868.

FONTE: Roberto John G. da Silva (1999); Tribunal Regional Eleitoral do Piauí – TRE - PI.

Pelo que está objetivado no gráfico acima, nas disputas para a Assembleia Legislativa do
Estado do Piauí o padrão de competição entre ARENA e MDB sob o sistema bipartidário não
ficou diferente daquilo que já foi discutido sobre o gráfico com os dados das eleições para a
Câmara dos Deputados entre 1966 e 1978. Foi melhor apenas que o desastroso desempenho
do MDB nas disputas para o Senado da República. Certamente, o desempenho do MDB para
deputado estadual no Piauí ficou bem abaixo do que foi o desempenho do partido na arena
eleitoral no âmbito nacional, ou melhor, para as Assembleias Legislativas dos estados
brasileiros em geral.
Nas eleições proporcionais para as Assembleias Legislativas dos estados brasileiros em
1966, o MDB mesmo, sendo derrotado no geral, conseguiu uma votação não tão baixa,
ficando com 29,2% dos votos contra 52,2% da ARENA. A diferença entre a soma dos dois
partidos, que fica distante dos 100%, é em decorrência do índice de votos brancos e nulos, que
representou 18,6%. Enquanto isso, o desempenho do MDB no Piauí foi mais modesto. Em
1966 a proporção de cadeiras conquistadas pelo partido na Assembleia Legislativa foi de
apenas oito das quarenta e duas cadeiras, um índice de 19,05%, contra trinta e quatro cadeiras,
ou 80,95%, conquistadas pela ARENA69.

68
A revisão eleitoral para as eleições de 1970 provocou uma redução no número de cadeiras na Assembleia
Legislativa, de forma que no Piauí o número de cadeiras foi reduzido de 42 para 21.
69
Compilação de dados. Confira Kinzo (1988), Silva (1999).
74

Os dados eleitorais de 1970 demonstram um declínio do MDB. Segundo Kinzo (1988),


isso pode ser explicado pelo crescimento do número de votos brancos e nulos, que nessas
eleições atingiu a marca de 26,8%. Enquanto a ARENA manteve praticamente a mesma
proporção, atingindo 51%, o MDB reduziu sua votação para 22% dos votos para as
Assembleias Legislativas.
Porém, nessas eleições o MDB no Piauí manteve o padrão de cadeiras, assegurando
quatro das vinte e uma, ou seja, os mesmo 19,05% contra os mesmos 80,95%, ou dezessete
cadeiras, da ARENA. Portanto, a redução de votos no âmbito nacional devido ao crescimento
de nulos e brancos não modificou em nada os resultados nas divisões proporcionais de
cadeiras na Assembleia Legislativa do Piauí entre ARENA e MDB.
As eleições de 1974 representaram um grande momento de ascensão do MDB nacional,
inclusive surpreendendo a ARENA, com um desempenho acima do esperado pelos arenistas.
O crescimento do MDB se deu não apenas para as Assembleias Legislativas, mas também
para o Congresso Nacional, principalmente para o Senado, onde a ARENA foi derrotada pelo
MDB com uma diferença significativa de cadeiras. Nessas eleições para as Assembleias
Legislativas dos estados, a ARENA reduziu sua votação para 42,1%, enquanto o MDB
cresceu ao atingir 38,8% dos votos. Os dois partidos tiveram uma votação próxima,
evidenciando as premissas de um sistema bipartidário de fato. Nesse momento, os votos
brancos e nulos foram reduzidos para 18,9% no país70. Contudo, certamente a maior parte
desses votos se dirigiu ao partido de oposição, visto que

O pleito de 1974 foi o grande divisor de águas do bipartidarismo brasileiro.


Realizado já no contexto do lento e gradual processo de abertura política iniciado
pelo quarto presidente militar, o general Ernesto Geisel, a eleição de 1974 acabou
trazendo resultados surpreendentes até para a própria oposição. O MDB
quadruplicou sua bancada na Câmara dos Deputados, a qual passou a ter pela
primeira vez uma distribuição de poder próximo de um autêntico sistema
bipartidário. Nas eleições para o Senado Federal, o MDB elegeu praticamente o
triplo do número de senadores eleitos pela ARENA. O processo eleitoral adquiriu o
caráter plebiscitário que marcaria os anos restantes do bipartidarismo. Os votos da
oposição ao regime passaram a se dirigir originalmente destinado a uma função
meramente figurativa (SCHMITT, 2000, p. 45).

Não obstante, o crescimento do MDB nacional não refletiu no Estado do Piauí. O padrão
de conquistas de cadeiras no Parlamento local não se alterou e a divisão entre ARENA e
MDB manteve a mesma proporção. O número de cadeiras na Assembleia Legislativa em 1974
era de vinte e quatro, das quais o MDB conquistou quatro, sendo uma proporção de apenas

70
Confira Kinzo (1988), Schmitt (2000).
75

16,7%. Já a ARENA ficou com vinte cadeiras, uma proporção de 83,3%. Ou seja, o MDB no
Piauí não consegue crescer e isso não somente para o legislativo estadual, pois manteve um
baixo desempenho igualmente para o Congresso Nacional, Câmara dos Deputados e Senado
da República. Neste último jamais elegeu um candidato71.

No Piauí, a vitória favoreceu a ARENA, apesar da derrota nacional. No âmbito


piauiense Petrônio [Portella] saiu fortalecido e o MDB foi derrotado fragorosamente
depois da consolidação da disputa entre Alberto Silva e Petrônio Portella no interior
da ARENA, constituindo-se duas sublegendas (SILVA, 1999, p. 244).

Nas últimas eleições sob o bipartidarismo autoritário, em 1978, as votações para as


Assembleias Legislativas dos estados ficaram ainda mais equilibradas. A diferença de votos
entre ARENA e MDB ficou menor. O primeiro conquistou 41,1% dos votos dos brasileiros,
enquanto o segundo ficou bem próximo, com 39,6% dos votos. Nessas eleições, a proporção
de votos brancos e nulos foi de 19,3%, praticamente estável em relação às eleições anteriores.
Apesar de a ARENA voltar a fazer uma diferença ampla no Senado em 1978, o equilíbrio que
houve nos legislativos estaduais acontece igualmente na Câmara dos Deputados e de forma
mais equilibrada, com uma diferença de apenas 1,5% dos votos (KINZO, 1988).
Uma vez mais, os padrões de desempenho entre os dois partidos não tiveram os mesmos
reflexos no que se refere ao âmbito nacional e ao regional, pois o desempenho do MDB fica
estável no país. Assim, ―a ARENA e o MDB novamente dividiram quase que paritariamente
as cadeiras na Câmara dos Deputados. O partido da situação conseguiu, porém, reverter a
tendência favorável à oposição no pleito para o Senado‖ (SCHMITT, 2000, p. 45 – 46).
Enquanto isso, no Estado do Piauí o processo de declínio do MDB ficou ainda mais
evidente. Foi a maior e mais desastrosa derrota sofrida pelo MDB no Estado. Além de
permanecer anulado no Senado e não eleger sequer um deputado federal, fez a menor bancada
de sua história na Assembleia Legislativa. A ARENA fez os dois senadores, os oito deputados
federais e vinte um, dos vinte e quatro deputados estaduais. O MDB se reduziu a três
deputados estaduais. O partido conquistou apenas 12,5% das cadeiras da Assembleia
Legislativa, contra uma proporção de 87,5%72 obtida pela ARENA.
Portanto, a relação do MDB piauiense com o MDB nacional foi de um progressivo
distanciamento. Enquanto este se encontrava em ascensão, aquele estava entrando em
declínio. Em cada eleição, ou ficou estável ou ocorria uma redução no seu desempenho local.

71
Compilação de dados. Confira Silva (1999).
72
Compilação de dados. Ver Silva (1999)
76

GRÁFICO IV: PIAUÍ – Síntese de todos os cargos conquistados por ARENA e MDB para a Assembleia
Legislativa, Câmara dos Deputados e para o Senado Federal durante o sistema bipartidário, eleições de 1966 a
1978.

FONTE: Roberto John G. da Silva (1999); Tribunal Regional Eleitoral do Piauí – TRE - PI.

Conforme os dados sintetizados no gráfico IV, assim como os dados dos gráficos já
discutidos anteriormente, relacionados com os dados eleitorais nacionais, as duas décadas de
autoritarismo com o sistema bipartidário brasileiro tiveram padrões e tendências eleitorais no
Piauí que se diferenciam dos padrões e tendências nacionais. O padrão eleitoral no Piauí
demonstra uma oposição emedebista extremamente fragilizada até o fim do sistema
bipartidário, enquanto a oposição no âmbito nacional teve ascensão nas duas últimas eleições
sob o bipartidarismo, formando um sistema mais competitivo.
Percebe-se que no Piauí houve um padrão político-eleitoral nas relações de desempenho
entre governistas (ARENA) e oposicionistas (MDB) no qual a força dos governistas foi mais
expressiva, enquanto que nos padrões nacionais as oposições tiveram ascensão. Segundo
Kinzo (1988), a redução do desempenho político-eleitoral da ARENA no Nordeste foi,
conforme os dados eleitorais, em decorrência do crescimento da proporção de votos brancos e
nulos, e não pelo crescimento da oposição. Não obstante, no Piauí os dados do Tribunal
Regional Eleitoral – TRE-PI – deixam claro que em nenhum momento a ARENA reduziu-se
devido aos votos brancos e nulos.
77

Deve-se salientar que essa premissa de Kinzo (1988), segundo a qual houve uma redução
da ARENA com o crescimento dos votos brancos e nulos no Nordeste, não acontece no Piauí.
Mesmo tendo ocorrido um alto índice de votos brancos e nulos e uma proporção ainda maior
de abstenção, como demonstra Silva (1999), isso não teve nenhuma implicação nos resultados
para que viesse a favorecer a oposição em detrimento dos governistas.
De fato, o processo foi inverso, pois o MDB manteve uma lógica de declínio contínuo
até se reduzir a apenas três deputados estaduais em 1978, enquanto a ARENA manteve-se em
ascensão, chegando ao final do autoritarismo com um domínio absoluto no Piauí. Portanto, os
padrões e tendências de competitividade eleitoral sob o sistema bipartidário no Piauí foram
diferentes da lógica nacional.
O desempenho de relevante domínio da ARENA no Estado do Piauí esteve diretamente
ligado ao poder exercido pela família Portella Nunes, centralizada na liderança do ex-
governador e então senador Petrônio Portella Nunes, que teve grande projeção no cenário
político nacional, chegando a presidente nacional do partido governista e também Ministro de
Estado da Justiça. ―Petrônio Portella renunciou ao Governo do Estado em 12 de agosto de
1966 para candidatar-se a Senador em 1966, pela ARENA, e seu esquema político foi mais
uma vez vitorioso‖ (SILVA, 1999, p. 230). Pois, apesar de imediatamente após o golpe
Petrônio ter demonstrado resistência, em seguida ele adere aos governistas.

Eleito Senador pelo Piauí em 1966, Petrônio Portella chega ao Congresso já


conciliado com o Golpe Militar, em face do relacionamento que mantivera com o
então Comandante da 10ª Região Militar, general Humberto de Alencar Castello
Branco, quando era Governador, em especial no episódio em que enfrentou a
rebelião da Polícia Militar em 1963. No entanto, quem o segurou foi a influência do
Senador José Cândido Ferraz que era um dos líderes civis do movimento. [a partir
de então], é fácil constatar que o surgimento de novas lideranças políticas no Piauí,
até a morte de Petrônio, em 1980, passava pelo seu crivo, em face do prestígio que
ele adquiriu nas esferas decisórias do Poder Militar. Nenhuma delas tinha
autonomia para conquistar espaços de poder junto aos militares face à sua forte
presença no cenário político estadual e nacional. Todas as questões relativas ao
Piauí tinham que passar pelo seu crivo (SILVA, 1999, p. 230).

Segundo Silva (1999), durante o autoritarismo houve exceção apenas na indicação do


Governador Alberto Silva, em 1970, o que aconteceu por uma escolha que se restringiu ao
crivo dos militares em articulação com a oligarquia do Estado do Ceará, que tinha vínculos
familiares com a esposa de Alberto Silva. Havia um receio, na direção do Golpe, de que a
influência de chefes estaduais na indicação poderia levar a deturpações dos propósitos da
―Revolução‖, uma vez que o caráter familiar perdurava em plena ditadura. Porém, durante o
78

regime autoritário a família Portella Nunes indicou três dos quatro governadores, todos com
vínculos familiares, dois por consanguinidade e um por afinidade. A indicação de Alberto
Silva contrariou Petrônio Portella, que se sentiu derrotado e desprestigiado pelos militares que
não atenderam a seus critérios.
Contudo, o domínio da ARENA e da família Portella Nunes foi além do regime
autoritário, pois, como será visto no próximo e último tópico desse capítulo, a abertura
política e a retomada do sistema multipartidário trouxe à tona o fortalecimento da oposição no
âmbito nacional, tanto que conquistou a Presidência da República, vários governos estaduais e
formou uma bancada forte no Parlamento nacional e nas unidades da federação. Entretanto,
no Estado do Piauí, como já demonstrado há pouco, os ganhos imediatos da oposição foram
mais tímidos e sob a liderança dos herdeiros do legado da família Portella Nunes.

3.3 DA ABERTURA POLÍTICA AO RETORNO DO MULTIPARTIDARISMO: UMA


LONGA E GRADUAL TRANSIÇÃO

Segundo Kinzo (1988; 2001), Schmitt (2000), Mainwaing, Meneguello e Power (2000,
p. 26 – 27), a segunda metade da década de 1970 foi marcada, por um lado, pelo processo de
fortalecimento da oposição, liderado pelo MDB, e pelo crescimento de grupos organizados
pela sociedade civil contrários ao regime autoritário e, por outro, pelas investidas do governo
militar para manter a maioria no Congresso Nacional. O governo Geisel (1974 – 1979)
percebeu que o sistema bipartidário não mais representava uma garantia para o governo
assegurar a maioria nas casas legislativas.
O crescimento do MDB forçou o governo Geisel a adotar medidas para fragilizar a
oposição, o que ocorrera a partir de 1979, quando o governo realizou uma reforma que
permitiu o retorno do sistema multipartidário (MAINWARING, MENEGUELLO e POWER,
2000; KINZO, 1988; 2001). Assim, ―a reforma partidária representou importante avanço no
processo de liberalização, mas foi também uma estratégia do governo de dividir a oposição e
assim manter a transição sob controle‖ (KINZO, 2001, p. 6). Mas a volta do
multipartidarismo leva a novos caminhos, ―a oposição obteve avanços significativos,
particularmente o PMDB, que elegeu os governadores e senadores de nove Estados e
conquistou 200 cadeiras na Câmara dos Deputados‖ (KINZO, 2001, p. 6).
79

A ideia era manter a coesão do grupo de apoio ao governo, enquanto a oposição se


fragilizaria ao passar pelo processo de fragmentação com o surgimento de outros partidos, já
que o MDB era formado por grupos que divergiam internamente e só estavam juntos por
imposições do regime. Com isso o governo poderia controlar o processo de transição
democrática e não permitir que houvesse rupturas profundas sobre os procedimentos políticos
que historicamente nortearam a política brasileira. ―Os primeiros sinais de liberalização que
permitiram a realização das eleições de 1974 em condições mais livres resultaram em um
surpreendente desempenho eleitoral do partido de oposição (MDB) (KINZO, 2001, p. 5).
Ao analisar o processo de transição política, Maria D‘alva Kinzo define-o como uma
longa transição na qual surge ―um instrumento efetivo de oposição democrática a ser utilizado
não apenas na arena eleitoral, mas também no processo político mais amplo‖ (KINZO, 2001,
p. 5). Segundo essa perspectiva, ―ao final de 1978, reformas políticas liberalizantes foram
implementadas de acordo com o caráter gradual e seguro da política de distensão‖ (KINZO,
2001, p. 5), sendo um processo no qual o regime manteve uma preocupação constante em não
perder de vista os procedimentos que estavam sendo adotados para que pudesse alcançar um
sistema democrático sem que as oposições já adentrassem como vitoriosas. Com base nisso, a
autora divide o período em três momentos.

Para propósito analítico, pode-se dividir este processo em três fases. A primeira, de
1974 a 1982, é o período em que a dinâmica política da transição estava sob total
controle dos militares, mais parecendo uma tentativa de reforma do regime do que
os primeiros passos de uma transição democrática de fato. A segunda fase, de 1982 a
1985, é também caracterizada pelo domínio militar, mas outros atores – civis –
passam a ter um papel importante no processo político. Na terceira fase, de 1985 a
1989, os militares deixam de deter o papel principal (apesar de manterem algum
poder de veto), sendo substituídos pelos políticos civis, havendo também a
participação dos setores organizados da sociedade civil. Como estas fases possuem
diferentes componentes e dinâmicas resultantes do jogo dos principais atores
políticos, uma análise com algum detalhe faz-se necessária (KINZO, 2001, p. 4 – 5).

Para Mainwaring, Meneguello e Power (2000, p. 26 – 27) e Fleischer (2007), as


estratégias utilizadas pelo governo militar funcionaram de forma que o então PMDB reduziu
seu tamanho com o surgimento de concorrentes levantando a bandeira da oposição. A reforma
partidária de 1979 levou ao surgimento imediato do PT (Partido dos Trabalhadores), um
partido de esquerda; e do PP (Partido Popular), um partido de centro-direita que em sua
efêmera existência, já que o mesmo se fundiu com o PMDB em 1981, buscou dialogar com o
regime autoritário para conduzir um processo de transição moderado, como de fato se
80

confirmou na redemocratização brasileira. O legado petebista deixado por Getúlio Vargas foi
disputado pelo PDT, fundado por Leonel Brizola, e pelo PTB, que foi refundado por Ivete
Vargas.
Não obstante, para Mainwaring, Meneguello e Power (2000, p. 26 – 27) e Fleischer
(2007), se por um lado o PDT ganhou notoriedade como um partido trabalhista de caráter
social-democrata, o PTB se distanciou dos princípios que o nortearam durante a democracia
de 1946 a 1964. Logo em 1983, o PTB já fazia parte de uma aliança com o PDS, o herdeiro da
ARENA, compondo a base do governo militar na Câmara dos Deputados. Enquanto isso, as
estratégias adotadas pelo governo possibilitaram que a ARENA sofresse poucas perdas
imediatas quando passou a ser chamada de PDS. Contudo, as perdas que abalaram o partido
surgiram tempos depois, perdendo parte significativa de suas bases.
Para os autores citados acima, o PTB concordou em fazer uma coligação com o partido
governista aceitando o convite para compor a base governista no Congresso em troca de
alguns cargos no terceiro escalão do governo, o qual buscou apoio da sigla em decorrência de
seu partido ter perdido a maioria absoluta na Câmara dos Deputados, já que o PDS conseguiu
apenas 49,1% das cadeiras de deputados. Com o apoio do PTB, a bancada governista na
Câmara dos Deputados atingiu 51,8%, conseguindo, assim, a desejada maioria absoluta.
O posicionamento que o PTB tomou já nos primeiros anos da redemocratização o fez ser
considerado um partido conservador, deixando de ser visto como um partido de esquerda. De
fato, a herança do antigo PTB, um partido de centro-esquerda que se identificava com o
trabalhismo e com a social democracia, foi retomada pelo PDT (MAINWARING,
MENEGUELLO e POWER, 2000, p. 27; FLEISCHER, 2007, p. 313).
A reforma partidária de 1979 trouxe à tona um reordenamento para a estrutura política
brasileira. Com a adoção do sistema multipartidário, a competitividade eleitoral volta com
força nas décadas de 1980 e 1990. A oposição, agora fragmentada em vários partidos,
fortalece-se com a ampliação da liberalização democrática, principalmente com o passo
fundamental rumo à democracia a partir da confirmação de eleições diretas para
governadores, marcadas para 1982.
Nessas eleições realizadas em 1982, a força dos partidos de oposição foi demonstrada
nas urnas. 56,8% dos votos para a Câmara dos Deputados, 57,9% dos votos para o Senado
Federal e 58,5% dos votos para governadores de estados foram conquistados pela oposição 73.
(MAINWARING, MENEGUELLO e POWER, 2000, p. 27).

73
Todas essas proporções eleitorais para a Câmara dos Deputados, Senado e governos de estados demonstradas
pelos autores são referentes apenas aos votos válidos.
81

Apesar de o PDS, o partido governista, ter conquistado a maioria dos cargos do


executivo estadual, elegendo doze governadores contra dez da oposição, destes sendo nove do
PMDB e um do PDT, pela primeira vez desde 1966 o partido governista não conseguiu fazer
a maioria absoluta na Câmara dos Deputados, perdendo o controle sobre o Congresso
Nacional. Além do mais, mesmo com a base do governo fazendo a maioria dos governadores,
os dez governadores eleitos pela oposição representavam os estados mais influentes, mais
desenvolvidos, nos quais estavam concentrados 75% do PIB nacional. Certamente, os estados
onde a oposição foi vitoriosa concentravam a grande maioria do eleitorado brasileiro.
(MAINWARING, MENEGUELLO e POWER, 2000, p. 27).
Tudo isso refletia o quanto a maioria da sociedade brasileira estava insatisfeita com o
regime militar e seus governos autoritários, evidenciando igualmente o anseio da sociedade
em construir um ambiente político democrático, priorizando seu apoio às instituições políticas
de caráter mais progressista que assumiram um compromisso com a redemocratização do
país. Daí o crescimento dos partidos de oposição ter acontecido rapidamente, logo nas
primeiras eleições após o retorno do multipartidarismo.
Para Mainwaring, Meneguello e Power (2000, p. 27), esses dados eleitorais confirmaram
um duro golpe sofrido pelo partido governista e pelo governo militar em geral. Nem mesmo o
controle sobre os recursos do Estado, os quais o governo pode distribuir e usar como moeda
de troca para garantir apoio político, levou à manutenção do sistema político que se sustentava
há quase duas décadas. Ao contrário, a direita governista e de caráter conservador teve seu
declínio confirmado por um novo ordenamento eleitoral e partidário que provocou uma
redistribuição do poder político aos partidos de oposição.
De fato, a maioria dos partidos políticos que mais cresceram no Brasil após a
redemocratização foram aqueles que surgiram levantando a bandeira da democracia, uma
marca histórica do MDB/PMDB. Mesmo a redemocratização já estando em processo, a
necessidade de discuti-la no intuito de aprofundá-la se torna um ponto importante para os
partidos que combatiam os governos autoritários. Os partidos buscam se realinhar com novos
valores de uma sociedade democrática que elege seus representantes pelo sufrágio universal.
Nesse reordenamento político-partidário, o PMDB tem conseguido resultados favoráveis no
Piauí. É isso que será visto no próximo e último capítulo a partir da apresentação e discussão
dos resultados eleitorais do período em estudo.
82

4 PMDB: A INSTITUIÇÃO PEEMEDEBISTA NA ARENA ELEITORAL DO


ESTADO DO PIAUÍ

Este capítulo tem como meta fazer uma discussão referenciada em dados empíricos que
demonstram o desempenho do PMDB na arena eleitoral piauiense no período em estudo. Mas
antes da análise sobre os dados eleitorais, discute-se a organização do partido de forma mais
concisa. Porém, questões relacionadas à instituição aparecem não apenas nesse tópico, mas na
discussão de forma mais ampla. Na discussão empírica vai aparecer uma polarização entre o
PMDB e o PFL nas décadas de 80 e 90 e, em seguida, o declínio do PFL e a permanência com
relativa estabilidade do PMDB.
As trajetórias políticas e sociais que levam ao ideário de desenvolvimento e consolidação
da democracia surgem como valores que não suportam as posições ideológicas extremadas.
Um processo político democrático exige que as instituições partidárias, que visam conquistar
o poder político, se distanciem dos extremos e se aproximem do centro do espectro ideológico
como cerne de sua propulsão política e articulação com o poder.
As posições extremadas vêm caindo em desuso desde o início do avanço da terceira onda
de democratização no mundo na medida em que os vínculos partidários se reduzem, pois, de
fato, ―na maioria das democracias e semi-democracias pós-1978, esses vínculos são fracos e
constituem uma parte fundamental do frágil enraizamento partidário na sociedade‖
(MAINWARING e TORCAL, 2005, p. 250).
Durante os mais de vinte anos em que ocorre o processo de consolidação da democracia
brasileira, o subsistema partidário piauiense passou por um considerável aumento da
quantidade de partidos como competidores efetivos na arena eleitoral. Além disso, é
consideravelmente alto o índice de volatilidade eleitoral no Brasil como um todo, e no Piauí
não é diferente. Não apenas cresce a quantidade de partidos que conquistam cargos eletivos
como aumenta ou diminui a votação dos partidos de uma eleição para outra74.
A reforma institucional de 1979 que proporcionou a formação de um sistema
multipartidário e uma arena eleitoral competitiva no Brasil forma também um subsistema
partidário no Estado do Piauí, onde será retomado o multipartidarismo e a competitividade. A
competição leva os partidos para o centro. O PMDB, que já surge como um partido de centro,
cresce desde os primeiros anos de redemocratização em todo território nacional. Entretanto,

74
Os dados eleitorais do Piauí demonstram tal volatilidade.
83

nos anos 90 ―o PMDB emagreceu gradualmente, mas manteve essa característica básica de
centro do espectro político‖ (KINZO, 1993, p. 30).
Contudo, o processo de ampliação do leque partidário no âmbito nacional foi bem mais
rápido que no Piauí. Apesar de os cinco partidos que surgiram no Brasil entre 1979 e 198175
(PDS, PMDB, PTB, PDT, PT) terem todos instituído diretórios no Piauí, aqui nem todos
demonstraram competitividade desde as primeiras eleições (referente à década de 80) no
sentido de seguirem os padrões nacionais. Na década de 1980 o Piauí foi marcado pelo
domínio político das heranças arenistas e emedebistas, ou melhor, das heranças do sistema
bipartidário que se agruparam no PDS, PFL (formado por dissidentes do PDS) e PMDB.
A competitividade nas arenas eleitoral, governamental e parlamentar no Estado do Piauí
durante as primeiras eleições democráticas na década de 80 esteve restrita a três partidos
(PDS, PMDB e PFL) e, de fato, mesmo com o crescimento de outros partidos e com o
aumento do número de partidos competitivos na arena eleitoral na década de 90, não foi
possível suprimir as heranças do sistema bipartidário, pois várias lideranças que atuaram na
época continuaram influenciando as decisões políticas não apenas até os anos 1990 (SILVA,
1999), mas também no início do século XXI76.
Porém, o fato de a influência das antigas estruturas político-partidárias não ter sido
suprimida não significa que houve uma permanência ou que a política piauiense permaneceu
submetida aos domínios oligárquicos, como demonstram alguns estudiosos que analisaram a
composição dos quadros políticos piauienses do período pós-redemocratização77.

75
O PP não está sendo contado devido a seu pouco tempo de existência, pois foi fundado em 1981 e incorporado
ao PMDB em 1982.
76
Alberto Silva foi governador duas vezes, uma pela ARENA e outra pelo PMDB, exercendo grande influência
na política piauiense até a década de 90 e até extrapolando isso, pois faleceu em 2009 como deputado federal e
presidente regional do PMDB. Francisco de Assis Moraes Souza, o ―Mão Santa‖, governou o Piauí por duas
vezes pelo PMDB, foi deputado estadual pela ARENA e prefeito da cidade de Parnaíba pelo PDS. Exerceu forte
influência na política local até recentemente, tendo sido eleito senador em 2002. Apenas em 2010 foi derrotado
na tentativa de se reeleger senador. Confira Alberto Silva (2006), TRE – PI. Hugo Napoleão foi deputado federal
duas vezes pela ARENA e governador por dois mandatos. Eleito em 1982 pelo PDS, em seguida liderou os
dissidentes que fundaram o PFL no Piauí, partido pelo qual foi eleito duas vezes senador e exerceu seu segundo
mandato de governador entre 2001 e 2002, empossado depois da cassação do governador ―Mão Santa‖. Foi
derrotado na tentativa de reeleição em 2002 e na tentativa de retornar ao Senado em 2006, mas em 2010 é eleito
deputado federal e retorna à Câmara dos Deputados quase trinta anos depois.
77
Roberto John G. da Silva (1999), Manoel Ricardo Arraes (2000), desenvolveram estudos que produzem certo
reducionismo sobre o domínio das arenas políticas do Estado do Piauí. Demonstram visões pessimistas em
relação à dinâmica na política local. Ambos demonstram que a política piauiense nos anos 1980 e 1990
permanece sob o domínio oligárquico. Com isso, perceberam poucas transformações que ocorreram com o
crescimento de novos grupos políticos surgidos fora dos domínios tradicionais. Dessa forma, ocultam também as
transformações que ocorrem no interior dos próprios grupos tradicionais, que foram obrigados a se adequar a um
ambiente democrático e competitivo. Ou seja, ao contrário do que afirmam esses autores, as transformações
foram significativas de forma que as ―velhas oligarquias‖ não são mais as mesmas.
84

Esses estudos concedem pouca importância à dinâmica própria da política que se


encarrega de romper ou ao menos reduzir o poder de determinados grupos, desde que o
sistema político permita o surgimento de novas instituições políticas e consequentemente de
novas lideranças, ou seja, um regime que permita a participação política nas arenas eleitoral,
governamental e parlamentar sem constrangimento. É fato que no Piauí surgiram novos
grupos e novas lideranças de crescente influência, reduzindo o poder das ―antigas oligarquias‖
e tornando a política mais dinâmica.
Um exemplo disso foi o crescimento do número de partidos efetivos na arena eleitoral e,
junto a isso, o surgimento de lideranças fora do ciclo dos herdeiros do bipartidarismo. Além
disso, os próprios ex-arenistas e ex-emedebistas tiveram que adotar novos comportamentos no
sentido de se adequarem às novas realidades político-institucionais democráticas, visto que ―a
medida que a participação [política] se ampliou, os políticos ou criaram bases eleitorais
razoavelmente estáveis, ou fracassaram em adaptar-se à era da política de massas‖
(MAINWARING, 2001, p. 104). E o PMDB optou por se readequar às novas perspectivas de
viabilidade de poder.
Ao se organizar após a reforma partidária de 1979, torna-se um partido atuante em uma
arena eleitoral multipartidária e democrática no momento em que, segundo Gunther e
Montero (2002), os partidos já estavam passando por um processo de realinhamento, ao
mesmo tempo em que, para Katz e Mair (1995), na Europa os partidos já se sentiam afetados
pelo distanciamento entre a sociedade civil e as organizações partidárias, as quais já passavam
pelo processo de aproximação do Estado, ou seja, o processo de cartelização.
Não obstante, mesmo o PMDB se aproximando do Estado com o propósito de se
fortalecer, o que tem tido efeitos positivos para o partido na arena eleitoral, isso não tem sido
suficiente para unir a agremiação e fazer seus líderes marcharem juntos, visto que além do
combate ao autoritarismo e da busca por uma sociedade democrática, outra marca do PMDB
que é intrínseca à sua gênese e que perpassa do antigo MDB ao PMDB, há a permanência de
um corpo de membros que atuam internamente referenciados em concepções político-
ideológicas heterogêneas, motivando a dificuldade de união do partido.
A formação heterogênea do PMDB continua sendo um ponto fundamental para provocar
disputas intrapartidárias, dificultando ao partido marchar unido na arena eleitoral. Ou seja, a
junção de concepções ideológicas divergentes no mesmo partido provocou uma precarização
na formação de uma identidade partidária, e isso foi crescente junto com o processo de
redemocratização, provocando várias crises internas (KINZO, 1993; FERREIRA, 2002).
85

Com frequência ocorrem embates entre lideranças partidárias que disputam espaços no
partido e defendem pontos de vista diferentes, embora, em geral, sobre questões pontuais, o
que demonstra que, apesar da existência de grupos e lideranças divergentes, não é possível
afirmar a existência de facções que divergem com forte embate ideológico. Até porque não é
um partido marcado por forte conteúdo ideológico, estruturando-se muito mais pela ordem do
pragmatismo na busca de espaços de poder do que pelos fundamentos de um viés ideológico
com uma posição mais fixa nesse espectro (KINZO, 1988; 1993; FERREIRA, 2002).
Apesar de o PMDB ter se estruturado na oposição, na medida em que o país adentra no
processo de redemocratização e o caminho do poder se torna uma possibilidade real ao
partido nos anos 80, crescem as disputas internas sobre os novos caminhos a serem seguidos.
As disputas nesse segundo momento, no qual, com a abertura política, já era possível fazer
oposição sem que necessariamente se estivesse vinculado a esse partido (devido à volta do
multipartidarismo), provocaram crises intrapartidárias que levaram a algumas baixas na
organização peemedebista78 (KINZO, 1988; 1993).
Além do surgimento do PSDB, vários partidos se fortaleceram a partir de cisões do
PMDB, quando grupos que só estavam no partido pela impossibilidade de existência de
outros partidos na oposição deixaram a sigla para comporem outros partidos com um
conteúdo político mais convergente com suas concepções políticas e ideológicas (KINZO,
1988; 1993; FERREIRA, 2002). ―As baixas provocadas com a criação de outros partidos
foram substanciais: 80 deputados federais saíram do PMDB para se filiarem a outras legendas
em consequência da reforma partidária de 1979‖ (KINZO, 1993, p. 25).
Contudo, as cisões sofridas pelo PMDB e o surgimento de novas forças partidárias de
oposição não tiraram o conteúdo do partido como força maior das oposições ao autoritarismo
em seus últimos momentos nos anos de 1980 (KINZO, 1993; FLEISCHER, 2007). De fato,
não apenas na década de 1980 como nas décadas seguintes o PMDB permanece como uma
das grandes forças do sistema político brasileiro, quase sempre aquela que consegue eleger a
maior bancada do Congresso Nacional.
Por conseguinte, o PMDB também é uma das maiores forças da política piauiense e
desde a redemocratização nos anos de 1980 o partido vem conseguindo eleger um número

78
A maior baixa sofrida pelo PMDB foi motivada, segundo Roma (2002), não necessariamente por divergências
ideológicas, mas em decorrência das questões voltadas para os ―objetivos programático-eleitorais‖ de um grupo
de parlamentares que decidiu sair em bloco para fundar o Partido da Social-Democracia Brasileira – PSDB –,
que teria um conteúdo programático mais moderno que o PMDB. Contudo, pela forma como se estruturou, ―o
PSDB foi criado por parlamentares em busca de espaço de poder, portanto, a partir de uma ação estratégica
programática‖ (ROMA, 2002, p. 72).
86

significativo de candidatos: Governadores, Senadores, Deputados Federais, Deputados


Estaduais e Prefeitos. Por duas décadas o PMDB manteve uma polarização com o PFL.
As eleições no Estado do Piauí nas décadas de 1980 e 1990 foram fortemente marcadas
pelo domínio das forças de lideranças que já mantinham influência inquestionável nas
décadas anteriores, nos tempos do autoritarismo, assim como por organizações partidárias
comandadas por essas lideranças, uma pequena parte delas com trajetória política na
oposição, ou seja, no MDB, e a grande maioria desses líderes com um trajeto na ARENA,
formando a base de sustentação do autoritarismo.
Os partidos que dominaram a arena eleitoral do Piauí nesse período não divergem
daqueles que dominaram o cenário nacional, apenas há restrição na quantidade de partidos
que demonstraram competitividade, já que no Piauí há um domínio quase que polarizado, nas
décadas de 80 e 90, dos herdeiros da ARENA – PDS e PFL – e dos herdeiros do MDB –
PMDB, sendo que este último acabou recebendo vários ex-arenistas. Mas essa polarização
declinou nos últimos pleitos eleitorais, na medida em que os partidos e sistemas partidários
caminharam para um realinhamento.

4.1 A ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL DO PARTIDO DO MOVIMENTO


DEMOCRÁTICO BRASILEIRO – PMDB

No que se refere à organização institucional partidária, não há estatutos diferentes entre a


organização nacional do partido e suas organizações nas unidades da federação. Por mais que
o partido esteja estruturado e funcionando de forma diferente nos estados, isso ocorre devido à
permissão concedida pelo arranjo institucional do Estado federativo. O partido funciona em
qualquer unidade da federação com base em um estatuto único. Todos os diretórios regionais
se adequam ao Estatuto Nacional do partido.
O Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB – define sua estrutura interna,
organização e funcionamento com base no artigo 17 da Constituição Federal de 1988, como é
positivado no Estatuto do partido. Porém, qualquer Estatuto partidário fica submetido às
regras definidas no arranjo institucional. Não por acaso o Estatuto do PMDB faz referência à
Constituição Federal. Portanto, com a reforma partidária de 1979, e principalmente com a
Constituição de 1988 e seus princípios eleitorais e democráticos, os estatutos partidários
foram elaborados com ênfase em uma política democrática para a ―Nova República‖. O
PMDB afirma que sua organização funciona com:
87

Democracia interna, de modo a garantir a livre escolha de seus dirigentes em


eleições periódicas nos diversos níveis de sua estrutura e a participação dos filiados
na orientação política do partido, na vida partidária, garantindo o direito de
formação de correntes de opinião. [nessa estrutura] São órgãos do partido: as
Convenções, os diretórios, o Conselho Nacional, as Comissões Executivas, as
Comissões de Ética e Disciplina, os Conselhos Fiscais, a Fundação Ulysses
Guimarães e as Bancadas Parlamentares (ESTATUTO DO PMDB, 2009, Art. 4º. p.
9; Art.; 15º. p. 14).

O Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB –, apesar de já existir desde


1966, embora de 1966 a 1979 não fosse permitido o uso da palavra partido79, daí a sua
denominação como Movimento Democrático Brasileiro – MDB –, ficou submetido ao
autoritarismo militar, que impôs um sistema artificial de bipartidarismo. Foi fundado como
PMDB, passando a utilizar o ―P‖ de partido, no dia 16 de janeiro de 1980, quando já estava
permitida a retomada do multipartidarismo devido à reforma partidária de 197980. Daí então,

A estrutura organizacional do PMDB é formada por uma extensa rede de diretórios.


Embora os dados disponíveis sejam insuficientes para retratar a organização do
partido em todo país, sua implantação é atestada pelo fato de ter eleito, em 1992, um
terço dos prefeitos em um total de 4.964 municípios. O PMDB possui 4.315
diretórios locais e cerca de 4 milhões de filiados no país (KINZO, 1993, p. 34).

Nesse momento de fundação do Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB


– foi instituída uma comissão de membros que compuseram o Diretório Nacional provisório,
o qual foi definido em uma reunião realizada em Brasília, assim como foram instituídas várias
comissões provisórias para comporem os Diretórios Regionais do partido. Estiveram
presentes na reunião em Brasília os senadores Teotônio Villela, Franco Montoro, Orestes
Quércia e Mauro Benevides e os deputados Ulysses Guimarães, Aldo Fagundes, Freitas
Nobre, Francisco Pinto, Paulo Rattes e Fernando Coelho81.
Na reunião de fundação do PMDB nacional foram eleitos, por unanimidade, os seguintes
membros para dirigir a Comissão Diretora Nacional: Ulysses Guimarães, eleito presidente;
Aldo Fagundes, secretário; e Mauro Benevides, tesoureiro. Ficou determinado que as demais
funções fossem preenchidas em outras oportunidades. A partir de então o presidente detém
poderes para solucionar as questões jurídicas junto à Justiça Eleitoral e para articular a
organização de Diretórios Regionais82.

79
A Lei de nº 6.767 de 20 de dezembro de 1979 extinguiu o bipartidarismo, permitindo a volta da competição
político-eleitoral sob o multipartidarismo, retomando também o uso da palavra partido.
80
Informações contidas na Ata de Instalação da Comissão Diretora Nacional Provisória do PMDB.
81
Confira Ata de Instalação da Comissão Diretora Nacional Provisória do PMDB.
82
Confira Ata de Instalação da Comissão Diretora Nacional Provisória do PMDB.
88

Apesar de ter sido determinado que em breve haveria outra reunião para fundar novas
Comissões Diretoras Regionais Provisórias, nessa reunião do dia 16 de janeiro de 1980 já
ficaram designadas treze dessas Comissões nas seguintes unidades da Federação: São Paulo,
Goiás, Rio de Janeiro, Piauí, Santa Catarina, Paraná, Pernambuco, Espírito Santo, Paraíba,
Pará, Ceará, Minas Gerais e Acre. Nos demais Estados seriam fundadas na reunião seguinte.
No Estado do Piauí a Comissão Provisória foi formada por João Calisto Lobo, Filadelfo
Freire de Castro, José Bruno dos Santos, Oscar Neiva Eulálio, Océlio Pereira do Lago Júnior,
João Mendes Nepomuceno Neto, Manoel Nogueira Filho, Pedro Portella, Manoel Lopes
Veloso e Celso Barros Coelho83.
Como já discutido no capítulo anterior, a fragilidade do grupo que fazia oposição ao
autoritarismo no Piauí era tanta que mesmo com a volta do multipartidarismo, na fundação do
PMDB, o maior partido de oposição ao regime militar, ao contrário da fundação do partido no
âmbito nacional, que teve nomes decisivos na condução da política nacional84, no Piauí não
aparece nenhum dos nomes mais influentes. De fato, os nomes citados, apesar de terem
atuado até recentemente na política local, nenhum chegou a ser de grande influência.
Assim, não aparecem nomes que vieram a exercer grande influência na política
piauiense. Os nomes de maior visibilidade do PMDB no Piauí só se filiaram ao partido após a
abertura política. Os mais influentes tiveram passagem, marcante ou não, pela ARENA. Além
de Alberto Silva e ―Mão Santa‖, que exerceram cargos eletivos pela ARENA e que
governaram o Estado pelo PMDB, o atual presidente do partido, o deputado federal Marcelo
Castro, que tem sido com frequência um dos deputados mais votados no Estado do Piauí,
também teve uma pequena passagem pela ARENA, quando foi candidato a deputado, tendo
sido derrotado nas eleições de 197885.
De fato, o partido de oposição ao autoritarismo, PMDB, só ganhou visibilidade no
Estado do Piauí quando recebeu a incorporação do Partido Popular (PP). A partir de então,
transforma-se em um partido forte e levanta-se como principal partido de oposição no Estado,
passando a agregar forças nas diversas frentes, inclusive se firmando em uma posição de
legenda que atrai para seus quadros aqueles descontentes do partido governista (VIANA,
2010, p. 19), recebendo lideranças ex-arenistas. A partir desse momento, o partido procurou
disseminar um discurso reformista, mas sempre com dificuldade em mantê-lo unificado.

83
Ata de Instalação da Comissão Diretora Nacional Provisória do PMDB.
84
Além destes, teve Fernando Henrique que foi Presidente da República pelo PSDB, Itamar Franco que foi
Presidente da República pelo PMDB, Mário Covas que foi governador de São Paulo pelo PSDB, dentre outros.
85
Informações TRE/PI.
89

As divergências são encabeçadas pelas diversas facções que concorrem internamente no


partido, e essas facções tiveram suas origens na formação do antigo Movimento Democrático
Brasileiro – MDB –, que funcionava muito mais como uma frente de organização que
incorporava as oposições do que como um partido com um viés ideológico definido. Daí o
MDB ter recebido os mais diferentes grupos que lutavam por democracia, os quais
permaneceram no partido após a retomada da democracia na década de 80 (FERREIRA,
2002). E isso vai além das determinações de estatutos e programas partidários.
O PMDB se fundamenta em uma carta-programa com ênfase no fortalecimento do
processo democrático de modo que se furtará às restrições da práxis política dos poderes
Executivo e Legislativo em defesa da incorporação das massas. Coloca-se como uma
instituição que historicamente se sustenta a partir dos vínculos aos movimentos sociais. Suas
origens são marcadas pelo combate ao autoritarismo, pela defesa de uma reestruturação
democrática, de eleições competitivas em meio ao multipartidarismo. E é com base nesses
fundamentos democráticos que se encontram positivadas em sua carta-programa as suas
―bandeiras‖.

O PMDB não pretende, em absoluto, manter o Estado tal e qual ele se encontra, [...].
Mas também não concorda com a sua destruição. Reformar o Estado e a esfera
pública é hoje um imperativo, sem o qual não será possível recuperar a legitimidade,
a eficácia e a credibilidade das instituições diante do povo brasileiro. O que se busca
é o Estado legítimo e necessário, desprivatizado e não corporativista. [...]. O PMDB
é um partido genuinamente brasileiro e popular. Ele foi o estuário da resistência
democrática que retirou o Brasil da ditadura e o colocou na democracia. Hoje, o
partido continua sendo o veículo da mudança. A esperança não se chama mais de
anistia, nem Diretas-já ou Constituinte. O novo nome da esperança é
desenvolvimento. Desenvolvimento quer dizer criação de empregos,
desenvolvimento quer dizer salários dignos, desenvolvimento quer dizer
multiplicação de empresas pela livre iniciativa. Desenvolvimento significa assegurar
o direito à educação e à saúde, o direito à habitação decente, o direito à segurança da
vida e do patrimônio. Desenvolvimento, em suma, é a democratização das
oportunidades de uma vida melhor (PMDB, 1996).

De fato, por mais essencial que seja um programa partidário, não se pode entendê-lo
como uma ―cortina de ferro‖ que de forma incisiva impediria os membros do partido de
tomarem qualquer decisão política que não esteja previamente estabelecida na doutrina. Essa
é mais uma orientação de como atuar politicamente, como tomar decisões, o que defender.
Por isso Robert Michels (1982) questionou profundamente a organização partidária e suas
tendências ao distanciamento entre a prática política e a doutrina institucional, defendendo
que toda organização partidária, inclusive os partidos ditos revolucionários, na medida em que
cresce, caminha para um conservadorismo e passa a se organizar de forma oligárquica.
90

A teoria de Michels (1982) é questionável na medida em que faz uma abordagem


uniformizadora sobre os partidos, colocando todas as organizações partidárias no mesmo
caminho, com o mesmo destino, que seria as tendências oligárquicas. Furtou-se a uma análise
histórica, podendo, a partir daí, perceber o quanto as condições de fundação, assim como
outras por vir, levam a diferenças significativas na organização, como alerta Panebianco:

o desenvolvimento organizativo é estreitamente condicionado pelas relações que o


partido instaura na fase genética e, posteriormente, ao longo do caminho com outras
organizações e instituições sociais. [...], o desenvolvimento organizativo de um
partido pode distanciar-se profundamente do modelo traçado se ele depender de
outras organizações – de um sindicato, de uma igreja... [...], o desenvolvimento
organizativo dos partidos é constantemente condicionado por contínuas mudanças
ambientais, que sempre podem alterar a relação entre as diferentes exigências
organizativas diversamente do que prevê o modelo. Não existe uma ―história
natural‖ válida para cada partido [assim como não há uma história única para todos
os partidos]. Descontinuidade, rupturas e mudanças nas mais diversas direções
ocorrem e podem ocorrer a qualquer momento (PANEBIANCO, 2005, p. 39).

Contudo, podemos perceber que o PMDB está marcado pelas influências tanto de seu
ambiente de fundação quanto das transformações mais recentes. Por isso sua dificuldade de
unificação no atual regime democrático, decorrente de sua diversidade de grupos oriundos do
bipartidarismo do regime autoritário incorporados em uma mesma instituição partidária.
Mesmo com os caminhos abertos para deixar a organização peemedebista após a volta do
multipartidarismo, várias lideranças permaneceram (FERREIRA, 2002).
Panebianco (2005) analisa a evolução das organizações partidárias pelo método
compreensivo, já sabendo da real possibilidade de a organização tomar novos caminhos
através dos processos históricos singulares pelos quais os partidos políticos, ao percorrerem
processos históricos e transformações, propiciam um afastamento dos seus princípios que
estiveram presentes nas bases, fato recorrente no pensamento político recente.
Sob a luz da teoria política contemporânea, segundo Lima Júnior (1997a), ocorre um
momento de desvalorização das instituições democráticas de representatividade. Tais teorias
surgiram sob forte influência de Max Weber, o qual desenvolve um pensamento com forte
crítica e pessimismo sobre a política da sociedade de massa, que estaria se distanciando da
forma clássica de Parlamento, o que provocaria a decadência do mesmo em decorrência do
desenvolvimento dos partidos e do sufrágio. Em contrapartida, avançaria o domínio da
burocracia devido à sua superioridade técnica em detrimento das organizações. Contudo,
Lima Júnior (1997a) afirma que a teoria tem voltado a valorizar a política criticada pelo
weberianismo. Segundo ele,
91

[...] o pensamento contemporâneo tende a revalorizar a participação política como


forma de ampliar os graus de democracia existentes. Esta revalorização certamente
pressupõe a capacidade da população não só de se fazer representar adequadamente,
mas, também, de participar direta ou indiretamente do próprio processo decisório.
Tais pressupostos indicam, necessariamente, repensar a institucionalidade política e
as demais instituições sociais e econômicas. Nesse sentido, o Legislativo, a
representação política e os partidos retornam como objetos privilegiados da reflexão
sobre a democracia e passam a fazer parte da agenda política democratizadora
(LIMA JÚNIOR, 1997a, p. 28).

Junto à valorização das instituições políticas democráticas (os partidos políticos) vem à
tona um multipartidarismo fragmentado na arena eleitoral e na composição do Legislativo,
inviabilizando o domínio de um só partido (NICOLAU, 1996). Por essa lógica, ocorre um
reordenamento na estrutura de formação de governos, de forma que é crescente a necessidade
de ampliar a quantidade de agremiações partidárias que fazem a sustentação dos governos.
Mesmo sem o domínio absoluto de um único partido, o PMDB, ao se fragilizar nas
disputas majoritárias, tem optado por se fortalecer no Parlamento, beneficiando-se da
condição que exige reordenamento no poder político.
Novos arranjos de engenharia política, em que o chefe do Executivo, em nome da
governabilidade, sente-se forçado a compor governos com uma coalizão composta por vários
partidos, legitimado em processos eleitorais competitivos (NICOLAU, 1996; MENGUELLO,
1998; MORAES FILHO, 2001; KINZO, 2004). ―Partidos e governos democráticos, portanto,
são indissociáveis pela garantia da responsividade à sociedade e imprescindíveis ao seu
funcionamento‖ (MENGUELLO, 1998, p. 26).
Segundo essa perspectiva, o partido que melhor se estruturar, ampliando sua presença
junto ao Estado e se beneficiando disso para ampliar sua estrutura e se aproximar do
eleitorado, tende a ser mais competitivo na arena eleitoral e, consequentemente, terá maior
presença nas arenas de poder.
E em se tratando de estrutura partidária, como pode ser visto a seguir, o PMDB tem
conseguido estruturar uma organização que pode até não ser bem articulada e de caráter
permanente, mas tem sido relevante para sua visibilidade política e para seu desempenho
eleitoral no Estado do Piauí no período em estudo.
É por esse caminho que Meneguello (1998), mesmo concordando com a ideia de
fragilidade dos partidos políticos, exaustivamente discutida sobre os partidos brasileiros nas
décadas de 1980 e 1990, delimita tal fragilidade ao campo da institucionalização e da base
ideológica. Em contrapartida, refuta a ideia de partidos políticos como instituições frágeis, já
que, ao analisar a composição dos governos no pós-1985, percebe o quanto os partidos são,
92

conforme a sua base parlamentar, capazes de influenciar os rumos do poder, ocupando cargos,
dando sustentabilidade ao Poder Executivo, concorrendo para a implementação das políticas
públicas, em suma, influenciando diretamente nos processos decisórios.
Contudo, a ocupação de cargos tem uma relação direta com a base. Um partido com
maior bancada tem mais poder para barganhar postos estratégicos, a exemplo das áreas de
economia e planejamento. Logo, por esse ângulo, os partidos políticos são instituições fortes e
influentes na administração pública. Os resultados eleitorais são decisivos para barganhar
cargos e fazer parte do poder (MENEGUELLO, 1998). Por isso, a estrutura partidária, por
mais que possa ter um frágil conteúdo ideológico, tem sido um ponto decisivo para o PMDB
assegurar bons desempenhos eleitorais e se articular com o poder.
A estrutura organizacional do PMDB no Estado do Piauí, a exemplo de sua estrutura no
âmbito nacional, segue a lógica de manter uma larga estrutura partidária, com
institucionalização de um Diretório Regional e uma ampla rede de diretórios municipais
distribuídos pelos municípios do interior do Estado, mesmo que esses Diretórios não tenham
atividades permanentes, o que é demonstrado no gráfico a seguinte.

GRÁFICO V: Evolução do Número de Municípios e de Diretórios do PMDB no Estado do Piauí86

FONTE: Tribunal Regional Eleitoral do Piauí – TER - PI

86
Os diretórios foram identificados a partir dos resultados das eleições municipais. Não foi possível identificar
se os diretórios são permanentes ou apenas em períodos eleitorais. São dados das eleições de 1982, 1988, 1992,
1996 e 2000. Não foram identificados os resultados das eleições de 2004.
93

De acordo com o gráfico, ao ser fundado em 1980, o PMDB busca desenvolver um


processo de expansão da estrutura partidária para ampliar suas forças político-eleitorais no
Estado. Conforme indicam as linhas do gráfico, percebe-se que a evolução do número de
diretórios municipais superou a evolução do número de municípios.
Com base nos dados do gráfico acima, em 1982 o Estado do Piauí tinha 115 municípios
e o PMDB havia fundado cinquenta diretórios municipais; em 1988, o Estado passa a ter 118
municípios e o PMDB já contava com 117 diretórios municipais; em 1992 eram 147
municípios e 125 diretórios municipais do partido; em 1996, o Estado do Piauí tinha 220
municípios e o PMDB passa a ter 194 diretórios municipais; e no ano 2000 o Estado já
possuía 222 municípios e o PMDB estava com 213 diretórios municipais. Portanto, fica
evidente que o PMDB estruturou uma larga estrutura partidária no Estado.
Entende-se que a montagem dessa estrutura partidária tem sido um dos fatores que
fortalecem o partido na arena eleitoral e o conduzem à participação no poder. Ao estar no
poder, governando diretamente ou numa coalizão de governo, o partido expande sua estrutura,
visto que foi exatamente nos momentos em que o partido governava o Estado que a
quantidade de seus diretórios mais se aproxima do número de municípios, assim como foram
os momentos em que o partido conquistou mais prefeituras no Estado.

4.2 A POLARIZAÇÃO POLÍTICO-ELEITORAL ENTRE A HERANÇA ARENISTA


E A HERANÇA EMEDEBISTA

As heranças supracitadas se dispersam pelas organizações partidárias em geral, ou seja,


no que se refere às instituições, pois as composições dos partidos não se limitaram às heranças
da ARENA e do MDB87, ou seja, não seguindo a lógica da organização anterior na mesma
trajetória estruturada pelas instituições. A liberdade concedida pelo novo arranjo institucional
para fundar novos partidos tira essa possibilidade.
Com a redemocratização e o retorno do multipartidarismo, várias lideranças deixaram o
MDB/PMDB para ingressarem em outras agremiações partidárias, inclusive em partidos
oriundos da antiga ARENA, como o PDS e depois o PFL, que surge do PDS mas organizado
por lideranças com carreira política na ARENA. O processo inverso também ocorreu, ou seja,

87
Fazer parte do MDB não significou necessariamente continuar no PMDB, assim como ser da ARENA não
significou permanecer no PDS. Com o multipartidarismo, a realocação de lideranças foi muito além disso.
94

muitas lideranças deixaram o legado arenista para ingressarem no PMDB. Muitas lideranças
deixaram tanto o legado arenista como o legado emedebista para se vincularem aos novos
partidos que estavam surgindo.
No caso do PMDB do Piauí isso foi bem claro. O partido não tinha condições de se
fortalecer com o grupo que compunha o MDB, pois era um grupo pouco expressivo, tanto
quantitativamente quanto no que se refere às lideranças. As poucas que resistiram foram aos
poucos sendo derrotadas pelas forças arenistas lideradas por Petrônio Portella. Portanto, o
PMDB no Estado do Piauí se fortaleceu agregando líderes que não vieram do MDB.
As duas maiores lideranças peemedebistas nos anos 1980 e 1990, Alberto Silva e ―Mão
Santa‖, que governaram o Estado por onze anos, foram arenistas, assim como o maior líder
atual do partido, o deputado federal Marcelo Castro, atual presidente da agremiação, que tem
tido votações expressivas por várias disputas para a Câmara dos Deputados, e que também
chegou a ser candidato a deputado pela ARENA em 1978, tendo uma votação inexpressiva.
A partir de tais movimentações das lideranças nos mais diversos sentidos no interior do
sistema partidário, não é possível analisar uma polarização entre os legados das duas
agremiações partidárias – ARENA e MDB – sem levar em consideração a carreira política
dessas lideranças, que constantemente têm se movimentado pelas arestas do sistema
partidário. Há, sem dúvida, uma lacuna neste sentido, mas a análise deste trabalho, no entanto,
se volta para a questão institucional (MADEIRA, 2006).
Portanto, como não se irá fazer análise da carreira das lideranças partidárias, já que não é
esse o objetivo desse trabalho, deve-se pelo menos registrar que a lacuna existe; que o sistema
partidário foi estruturado por lideranças que já estavam sob o sistema bipartidário; e que
somente com o crescimento de novos partidos é que surgem novas lideranças.
Segundo Madeira (2006, p. 47), com a liberdade de fundar partidos e de se filiar a
qualquer agremiação partidária, ocorre um fenômeno que pode ser denominado de ―diáspora
arenista‖. A mesma provocou a presença de ex-arenistas nos mais diversos partidos com
presença marcante na composição de bancadas no Congresso Nacional. Esse fenômeno
produziu um ―impacto profundo no sentido de desestruturar alguns dos principais partidos
representados na Câmara dos Deputados. E o partido mais afetado por este fenômeno
constitui-se claramente no PMDB‖ (MADEIRA, 2006, p. 47).

É certo que, desde sua fundação, o PMDB incorporou um discurso reformista e


popular, mas esse discurso foi sempre genérico, insuficiente para acirrar clivagens
no interior do partido. Não impedia que as alas conservadoras e progressistas se
julgassem representantes reais do partido. Pode-se mesmo afirmar que essa relativa
identificação ideológica era essencial para a manutenção do precário equilíbrio entre
95

as correntes internas do partido. Essa postura genérica tornava-se cada vez menos
sustentável à medida em que o partido se via obrigado a tomar decisões e a se
posicionar sobre questões concretas e definidas, seja como partícipe do governo,
seja em sua atuação no Legislativo, que também passava a assumir um papel
importante (KINZO, 1993, p. 26 – 27).

De fato, a reconquista da democracia, que foi a bandeira de sustentação e fortalecimento


do MDB/PMDB, trouxe, no processo transitório, um elevado custo para este partido
(NORTH, 1990, apud MADEIRA, 2006, p. 47). O reordenamento partidário veio
―diminuindo a coesão deste partido em momentos-chave como a Constituinte e ajudando a
explicar algumas das causas da fundação de PSDB‖ (MADEIRA, 2006, p. 47).
Não se pode esquecer que os objetivos do partido precisaram ser redirecionados na
medida em que a conquista da democracia acontece e sua consolidação caminha para a
fragmentação partidária. ―Seu êxito nesse processo decorreu justamente de sua capacidade de
agregar grupos heterogêneos. [...] [e] esse objetivo é que dava identidade ao partido‖.
(KINZO, 1993, p. 26). No sistema fragmentado não há mais forças externas forçando as
lideranças de oposição a ficarem no partido.
Apesar disso, a redução do tamanho do PMDB não o impossibilita de ser, na maior parte
do período, o maior partido no Congresso Nacional, assim como um partido forte nas disputas
de eleições do Executivo em várias unidades da federação, com frequência polarizando com
outro grande partido, como foi o caso do Estado do Piauí, significativamente marcado por
uma polarização entre PMDB e PFL por várias eleições, a qual só se fragilizou nas últimas
eleições, a partir de 2002. Mesmo assim, o PMDB, ou ao menos a maioria de suas lideranças,
tem participado de alianças vitoriosas.
De 1982 a 1998, as eleições para o cargo de governador do Estado do Piauí foram
polarizadas entre os grupos que representavam as heranças arenistas e emedebistas. Em 1982
o PMDB polarizou com o PDS e em 1986 com o PFL – um partido formado por dissidentes
do PDS, ou seja, oriundo da ex-Arena. Em 1990 a polarização foi entre o PFL e o PSDB – um
partido que teve sua composição formada por dissidentes do PMDB, havendo, contudo, uma
aliança entre PSDB e PMDB na luta para derrotar o PFL. Em 1994 o PMDB volta a polarizar
com o PFL, o que vai ocorrer novamente em 1998, com duas vitórias peemedebistas
consecutivas.
Em todo o período destacado, a Assembleia Legislativa do Piauí esteve composta por
uma ampla maioria de parlamentares do PFL e do PMDB. Desde as eleições de 1986 até
aquelas de 2002, essas duas siglas asseguraram no mínimo 50% das vagas no Parlamento
96

piauiense. Porém, em 2006, não conseguiram manter as mesmas proporções. Outra novidade
é que foram as eleições que levaram o maior número de partidos (dez siglas) para a
Assembleia Legislativa em todo o período democrático. Além do mais, ao se contabilizar as
vagas conquistadas no Congresso Nacional e na Assembleia Legislativa, chega-se a onze
partidos88 que conseguiram representação nas esferas do Legislativo.
Apesar disso, o PMDB manteve sua base parlamentar tanto no âmbito local quanto no
nacional no que se refere às bancadas federais piauienses. Não obstante, como avisa Nicolau
(1996), tem-se caminhado para um multipartidarismo altamente fragmentado e equilibrado na
medida em que atualmente sequer há um partido dominante no Legislativo. Nicolau (1996)
afirma que dentre todas as democracias modernas, o Brasil é a que se encontra com a maior
fragmentação em seus quadros partidários. Uma fragmentação que ao aumentar a quantidade
de partidos efetivos tende a reduzir o tamanho daqueles que já têm uma posição consolidada,
principalmente aqueles com trajetórias mais longas devido às origens no bipartidarismo.
Essa fragmentação partidária causa, segundo Kinzo (2004), pelo menos dois efeitos
diversos. Por um lado, pode formar um Legislativo com alto índice de representatividade,
com representantes dos mais diversos segmentos da sociedade. Em contrapartida, dificulta a
identificação do eleitor com a instituição partidária, o que vem a provocar formas de
identificação mais personalistas. Leva o eleitor a fazer aproximação direta com o candidato
sem dar ênfase à instituição. E nessa perspectiva, as lideranças com posições consolidadas
pelas longas trajetórias na arena eleitoral tendem a se sobressair devido às articulações
políticas já estruturadas.

4.3 O DESEMPENHO DO PMDB NA ARENA ELEITORAL DO ESTADO DO PIAUÍ:


A LÓGICA DE SER GOVERNO

A participação do PMDB na arena eleitoral piauiense tem sido marcante em todo o


período que chamamos de ―Nova República‖. O partido é o que mais elegeu governadores no
Estado, com três mandatos, e o segundo a eleger mais deputados federais e estaduais. Além
disso, mesmo nas eleições em que não fez o Executivo, conseguiu um bom desempenho
eleitoral, sempre elegendo bancadas estadual e federal com potencial para ser assediado pelos
governos e com força para barganhar.

88
Dados disponíveis em http://www.tre-pi.gov.br.
97

Contudo, seus índices de votos, demonstrados nos dados dos gráficos89 seguintes,
conquistados desde as eleições de 1982 até 2006, oscilam conforme o momento. Se o partido
é parte do poder do Estado ou governa o Estado, como defende Katz e Mair (1995) no modelo
de partido de cartel, ser governo fortalece o partido, e é no momento em que faz oposição que
há uma tendência ao declínio.

TABELA I: Evolução do Número Efetivo de Partidos (NE) e de Partidos Parlamentares (NP) no Estado do
Piauí, 1986 – 2006. Assembleia Legislativa.
1986 1990 1994 1998 2002 2006

NE – NP NE - NP NE - NP NE - NP NE - NP NE - NP

2,5 – 3 3,2 - 6 3,4 - 7 4,2 - 7 5,5 - 8 6,7 -10

FONTE: Freitas (2010, p. 89).

A tabela acima demonstra o crescimento da quantidade de partidos que durante esses


vinte anos conquistaram cadeiras no Parlamento estadual (Partidos Parlamentares). O
crescimento de partidos que se fizeram representados no Legislativo piauiense mais que
triplicou, ao sair de três em 1986 para dez em 2006. Além disso, foi um crescimento contínuo
de forma que em nenhum momento houve retrocesso.

GRÁFICO VI: Desempenho dos partidos que disputaram o Governo do Estado do Piauí nas eleições de 1982.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

89
Todos os dados eleitorais apresentados nesse trabalho representam o desempenho do partido no primeiro turno
das eleições, já que não existe segundo turno para o Legislativo, e nesse trabalho procura-se demonstrar que há
uma relação entre Executivo e Legislativo em seus desempenhos.
98

As eleições de 1982 foram as primeiras eleições diretas para governador de Estado desde
1964. No Estado do Piauí, a competição ficou polarizada entre os herdeiros do bipartidarismo
que vigorou no autoritarismo. Apesar de o Partido dos Trabalhadores – PT – ter participado
indicando candidatos para todos os níveis, o mesmo não conseguiu eleger nenhum candidato.
Para o governador a vitória coube ao PDS, com a candidatura do então deputado federal
Hugo Napoleão, derrotando o PMDB, o qual havia lançado o ex-governador e então senador
Alberto Silva, e o PT, que concorreu com José de Ribamar. Como o PT sequer atingiu 1% dos
votos, as eleições ficaram polarizadas entre dois ex-arenistas: Hugo Napoleão, que seguiu a
mesma linha de pensamento ficando no PDS (ex-arena), e Alberto Silva, que já tinha
governado o Piauí pela ARENA II, mas que, com a volta do multipartidarismo, filia-se ao PP
e em seguida ao PMDB, em decorrência da incorporação do primeiro ao segundo.
Além de eleger o governador, o PDS saiu fortalecido nas demais arenas ao conquistar a
única vaga em disputa para o Senado, com João Calisto Lobo, e, como será demonstrado mais
à frente, fez a maioria absoluta na Assembleia Legislativa, assim como nas disputas para a
Câmara dos Deputados. De fato, o domínio do PDS estava diretamente ligado não apenas às
estruturas partidárias e de lideranças herdadas da ARENA, mas também a alguns vestígios do
arranjo institucional autoritário.

Nesta eleição, não fosse o instrumento da sublegenda, o PMDB teria eleito Chagas
Rodrigues seu primeiro Senador, uma vez que recebeu este 217.862 votos contra
194.526 dados a João Calisto Lobo, 174.930 obtidos por Bernardino Soares Viana, e
41.474 dados a João Clímaco D‘Almeida, respectivamente, das sublegendas do
PDS, que totalizaram 410.930 votos90. O candidato do PT, José Lustosa Costa,
recebeu apenas 5.642 votos. Os votos em branco para o Senado foram 76.410, e
nulos 28.356 (SILVA, 1999, p. 280).

Foi uma eleição competitiva, porém, polarizada por duas grandes forças, visto que a
recente multipartidarização ainda não havia proporcionado uma quantidade significativa de
partidos competitivos no país, muito menos no Estado do Piauí, onde a ARENA antes
dominava, tendo passado o legado para o PDS. Do outro lado estava o PMDB, que desde os
tempos de MDB já vinha tentando conquistar espaço no poder com as eleições parlamentares,
tendo sido, porém, sempre massacrado pela ARENA. Contudo, o PMDB começa a
demonstrar sua força política na arena eleitoral a partir de 1982, continuando até hoje como
um partido forte no Piauí, como fica evidente nos gráficos sobre essas eleições.

90
Vale dizer que o PMDB também teve suas sublegendas e seus candidatos receberam, respectivamente, a
seguinte votação: Francílio Ribeiro de Almeida, 25.722, e Luiz Valmor de Carvalho, 13.501, com um total de
257.085. Ver Silva (1999, p. 280).
99

Os dados eleitorais deixam claro que a competição para o cargo de governador, e para o
Legislativo, esteve polarizada entre os mesmos partidos, o PDS e o PMDB, o que foi uma
marca dos primeiros anos de abertura política (os anos 80) e do retorno da democracia.
Os dados da tabela confirmam tudo isso, uma competitividade centrada em dois partidos,
sem um multipartidarismo competitivo. O Executivo estadual foi disputado entre PDS e
PMDB, cada um conquistando mais de 40% dos votos válidos, totalizando ambos 99,1%,
enquanto o PT conquistou apenas 0,9% dos votos válidos. O PT era um pequeno partido em
nível nacional e muito menor ainda em nível local, onde não havia constituído uma base
eleitoral, não tinha formado lideranças com apoio popular.
Nessas eleições, o PMDB, mesmo sendo derrotado, demonstrou a conquista de um
grande apoio popular, apesar do fato de que, muito provavelmente, a figura do líder, o então
Senador e ex-governador Alberto Silva, que encabeçava a disputa e já era um líder influente
na política local, foi fundamental para ampliar a visibilidade da sociedade sobre a candidatura
do partido e para ampliar o apoio popular à candidatura peemedebista.
Não obstante, os 40,4% dos votos conquistados pelo candidato peemedebista não podem
ser atribuídos apenas à figura do líder. Alem disso, foi uma demonstração da força do partido
e da sociedade, se inclinando às posições mais centrais no espectro ideológico. Deve-se
salientar também que o partido teve um bom desempenho para além do Executivo.

GRÁFICO VII: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas Eleições Para a Câmara
dos Deputados, 1982.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)


100

Como pode ser observado no gráfico VII, houve outra polarização entre PDS e o PMDB
nas disputas pelas cadeiras para a Câmara dos Deputados. Percebe-se que há um padrão no
desempenho dos partidos na medida em que o partido que conquistou o Governo do Estado, o
PDS, levou a maioria das cadeiras em disputa na Câmara dos Deputados e na Assembleia
Legislativa (6 cadeiras na Câmara dos Deputados e 17 na Assembleia Legislativa91).
O partido que ficou em segundo lugar nas eleições para o Executivo, o PMDB, também
ficou em segundo lugar na disputa para o Legislativo federal e estadual (3 cadeiras na Câmara
dos Deputados e 10 na Assembleia Legislativa). O terceiro colocado para o Executivo, o PT,
também ficou em terceiro na votação para a Câmara dos Deputados e para a Assembleia
Legislativa, mas sem conquistar ao menos um cargo eletivo.
Além disso, as proporções de votos de ambos os partidos ficaram aproximadas nas três
instâncias em disputa. A votação do PDS foi 58.7% para o Governo, 61.6% para a Câmara
dos Deputados e 62.1% para a Assembleia Legislativa. A proporção do PMDB ficou com
40.4% para o governo, 37.6% para a Câmara dos Deputados e 37.1% para a Assembleia
Legislativa. O PT, por sua vez, fez 0.9% para o Governo, 0.8% para a Câmara dos Deputados
e 0.8% para a Assembleia Legislativa. Portanto, a diferença na proporção de votos entre o
Executivo e o Legislativo de cada partido foi muito pequena.

GRÁFICO VIII: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas Eleições para a
Assembleia Legislativa, 1982.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

91
Estavam em disputa nove cadeiras para a Câmara dos Deputados e vinte e sete para a Assembleia Legislativa
nas eleições de 1982.
101

O gráfico VIII só vem a confirmar o que já foi discutido acima. A força do PDS, com
suas estruturas oriundas da ARENA, por um lado, e por outro o crescimento do PMDB,
principalmente em relação ao que havia sido até as eleições de 1978, quando ainda era MDB.
Além disso, percebem-se as primeiras tentativas do PT de se firmar como uma nova opção
eleitoral, com uma perspectiva de crescimento futuro alimentada por um viés ideológico de
um partido de massa, com uma posição à esquerda do espectro ideológico, atuando na arena
eleitoral em uma perspectiva crítica, direcionada nesse momento principalmente para o PDS,
mas também para o PMDB.
Porém, o PT ainda se encontrava sem potencial eleitoral para viabilizar o poder político,
mas sempre visando a este objetivo sem se aliar aos partidos ditos de direita, como aconteceu
durante toda a década de 80, com um posicionamento crítico e com coligações restritas aos
partidos de esquerda.

GRÁFICO IX: Desempenho dos partidos que disputaram o governo do Estado do Piauí nas eleições de 1986 92

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

As eleições de 1986 representam o momento em que todos os cargos eletivos do país já


passavam pelo crivo da soberania popular, exceto o de Presidente da República, já que apenas
em 1989 a disputa pelo referido cargo voltou a ser submetido à avaliação popular. Não
obstante, em 1986 o país não era mais governado por um militar, como ocorrera entre 1964 e
1985. A partir de 1985 o Brasil passa a ser governado por um presidente civil. Contudo, o
primeiro presidente civil imediato à pós-ditadura foi eleito no Colégio Eleitoral, não sendo

92
As eleições de 1986 ainda seguiram algumas das velhas estruturas políticas no que tange à legislação eleitoral,
tendo sido, portanto, foram realizadas em turno único.
102

ainda dessa vez que o povo reconquistou o direito de votar em um candidato a Presidente da
República, já que a ―emenda Dante de Oliveira‖, que propunha eleições diretas para
presidente, não obteve êxito.
Essa foi uma saída encontrada pelas forças políticas conservadoras e moderadas para
romper com o regime autoritário sem romper com as raízes do conservadorismo, visto que o
processo ocorrera sob o controle das lideranças oriundas da ARENA, que veio a se tornar
PDS e que também deu origem ao PFL, e dos segmentos moderados do MDB, que formou o
PMDB a partir da reforma partidária de 1979 (KINZO, 2005).
Nas primeiras eleições após a volta do poder civil, o PMDB, que já havia conquistado a
Presidência da República em 1985, saiu fortalecido ao conquistar vários cargos eletivos em
todas as instâncias no país. Além da conquista esmagadora de governos estaduais, o partido
conquistou maioria absoluta no Senado Federal e na Câmara dos Deputados, além de uma
significativa maioria relativa na soma das Assembleias Legislativas das unidades federadas,
certamente obtendo a maioria absoluta em grande parte das unidades da federação93.
O gráfico IX, demonstrando o desempenho dos partidos nas eleições de 1986 para o
Executivo estadual piauiense, deixa evidente o índice de competitividade do PMDB na arena
eleitoral. É necessário salientar que isso ocorre junto a um processo de multipartidarização do
sistema político-eleitoral, pois a consolidação da democracia traz à tona novos competidores
na arena eleitoral (NICOLAU, 1996), apesar de isto não refletir ainda a realidade do Piauí.
Como está posto no gráfico, mesmo havendo um alto índice de competitividade eleitoral,
a competição mais uma vez ficou restrita a dois grandes competidores efetivos, ou seja, houve
uma competição polarizada. O PMDB novamente veio com uma chapa encabeçada pela
liderança do ex-governador Alberto Silva. O PFL, por sua vez, com toda uma estrutura
política herdada da ARENA/PDS e uma chapa encabeçada pelo ex-prefeito (nomeado) de
Teresina, Freitas Neto, tendo a máquina estatal a seu lado. Mesmo assim, a ―antiga ameaça às
oligarquias‖ dos anos 70, Alberto Silva, se rearticula com alguns de seus antigos adversários
para derrotar o PFL.

A única ameaça explícita à quebra do poder hegemônico das famílias da elite


agrário-exportadora no Piauí, nos 21 anos após o Golpe Militar e a constituição do
grupo Político ―Esquema Petrônio Portella‖, foi Alberto Silva (PMDB) que se
tornou, na história política recente do Piauí, a personalidade capaz de enfrentar
politicamente as oligarquias Freitas e Portela. No entanto, para a eleição de 1986,
essa configuração de forças políticas foi modificada, pois Alberto fora apoiado por
uma grande coligação, envolvendo seu arquiinimigo político [o] Senador Lucídio
Portela (PDS), que compôs a chapa majoritária na condição de Vice-Governador
(SILVA, 1999, p. 286).

93
Confira Ferreira (2002), Madeira (2006).
103

A união do PMDB, liderado por Alberto Silva, e do PDS, liderado por Lucídio Portella94,
contra o PFL, liderado por Hugo Napoleão e Freitas Neto, foi suficiente para a vitória
peemedebista, que igualmente contou com o empenho de ex-governadores como Chagas
Rodrigues95 e Helvídio Nunes de Barros. As forças oposicionistas se fortaleceram e
conseguiram derrotar o PFL. Além disso, foi o momento em que o grupo político fechado em
torno da liderança de Petrônio Portella96 desde 1962, e que permanecia após sua morte, se
dispersou (SILVA, 1999). Seu irmão e ex-governador Lucídio Portella deixou de se aliar com
antigos colegas de ARENA/PDS para compor chapa com o PMDB.
Com isso, o PMDB conquistou o governo do Estado obtendo 49,5% dos votos válidos
em uma eleição em que uma vez mais havia apenas dois partidos competitivos com
candidaturas próprias, já que o candidato do PT atingiu apenas 2,6% dos votos válidos, um
índice irrelevante para uma disputa de um cargo Executivo em uma arena com apenas três
partidos apresentando candidatos na disputa. A diferença entre o PMDB e o PFL foi de
apenas 1,6%, sendo relevante apenas no sentido de decidir a vitória, mas insignificante em
termos de diferenciação de competitividade eleitoral97.
É necessário enfatizar que em 1986 o PMDB disputa o governo do Estado na oposição.
Porém, em nível nacional o partido tinha o governo federal, e essas eleições representam, até
hoje, o maior desempenho do partido em toda sua história. Referendado no plano Cruzado,
posto em prática durante o governo Sarney, o partido elegeu 95,7% dos governos estaduais,
não vencendo em apenas uma das unidades da federação, o Estado de Sergipe, conquistando
79,2% das cadeiras do Senado Federal, 53,4% das cadeiras da Câmara dos Deputados e 47%
das cadeiras das Assembleias Legislativas das unidades da federação (FERREIRA98, 2002, p.
168 – 169; MADEIRA, 2006).
Em se tratando especificamente do Estado do Piauí, o desempenho do PMDB não teve o
mesmo padrão do âmbito nacional. O partido elegeu o Governador e um Senador da
República, o primeiro de sua história, o que representou 50% das vagas do Piauí. Conseguiu
também 20% das cadeiras direcionadas ao Piauí na Câmara dos Deputados e 27% das
cadeiras da Assembleia Legislativa do Estado99. Ou seja, um desempenho bom, embora
demonstre o quanto os herdeiros da ARENA tiveram força no Piauí, visto que mesmo
derrotados para o governo do Estado, formavam as maiores bancadas no Legislativo.

94
Lucídio Portella foi vice na chapa peemedebista.
95
Chagas Rodrigues foi eleito Senador pelo PMDB em 1986.
96
Petrônio Portella havia falecido em 1980.
97
Fonte: Dados Eleitorais de Jairo Nicolau (IUPERJ).
98
Todos os dados eleitorais deste parágrafo foram extraídos de Denise Paiva Ferreira (2002).
99
Fonte de dados, TRE/PI.
104

Pelos dados apresentados pelo Tribunal Regional Eleitoral do Piauí – TRE/PI,


compreende-se que o desempenho do PMDB pode ser considerado elevado, já que se trata de
um Estado tradicionalmente dominado pela ARENA. No entanto, com a redemocratização, o
PDS e o PFL, como os herdeiros da estrutura político-partidária arenista, saíram fortalecidos
nessas eleições e por um longo período seguinte, enquanto o PMDB, que passara por todo um
processo de estagnação e declínio durante os tempos de MDB, inicia sua ascensão nos
primeiros anos como PMDB em um país redemocratizado. Só recentemente veio a superar o
PFL, que foi seu grande adversário por duas décadas. Tal superação ocorre com o declínio do
PFL, por um lado, e a manutenção de certa estabilidade do PMDB, por outro.

GRÁFICO XX: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas Eleições Para a Câmara
dos Deputados, 1986.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

Apesar de as eleições para Governador em 1986 terem mantido a polarização entre


PMDB e PFL, nas disputas para o Legislativo já começam a surgir mais competidores. A
cisão do PDS, geradora do PFL, estruturou duas agremiações partidárias que naquele
momento demonstravam competição nas eleições legislativas, assim como outros pequenos
partidos, como PT e PDT, apesar da sua pequena votação. Ainda se deve considerar que o PT
elevou sua votação, saindo de 0.9% de votos para a Câmara dos Deputados para 2.2%, ou
seja, mais que dobrou sua votação, continuando, entretanto, sem eleger um candidato.
O PDS aparece bem abaixo do que foi nas eleições de 1982, o que veio em decorrência
de o partido ter perdido parte significativa de seu capital político com a cisão que deu origem
ao PFL. De fato, apesar do domínio do PDS em 1982, em 1986 o partido sequer lança
candidato a Governador. Os reflexos de seu declínio já aparecem nos resultados do
105

Legislativo, pois reduziu sua votação de 61.6% para 19.5% nas disputas para a Câmara dos
Deputados, praticamente um terço da proporção de 1982. Porém, o PDS teve papel
fundamental ao indicar o vice na chapa peemedebista, visto que a vitória do PMDB foi de
apenas 1.6% de diferença em relação ao PFL. Mesmo assim, o PDS deixa de ser o ator
principal para ser coadjuvante.
Os dados demonstram que o PFL já nasceu forte e se tornou o grande concorrente do
PMDB em todas as arenas (eleitoral, governamental e parlamentar). De imediato, competiu
em patamares de igualdade com o PMDB ao governo, tendo sido derrotado por uma
porcentagem ínfima. E saiu em ampla vantagem em Cadeiras para a Câmara dos Deputados
ao obter 49.5% dos votos, quase a mesma porcentagem que teve para o Governo, 47.9%.
Enquanto o PMDB, apesar do crescimento, ficou em desvantagem em relação ao PFL.
O PMDB saiu fortalecido principalmente devido à conquista do Governo do Estado e da
eleição de seu primeiro Senador, o ex-governador Chagas Rodrigues, mas reduziu sua votação
para deputado federal de 37.6%, em 1982 , para 27.6%, em 1986, uma redução de 10%.
Assim, reduziu sua bancada na Câmara de três para dois deputados federais 100. Entretanto,
salienta-se desde já que a partir das eleições de 1986 até 2006, o PMDB se mantém em
relativa estabilidade no Parlamento, tanto na Câmara dos Deputados quanto na Assembleia
Legislativa, oscilando sempre para cima quando é governo e para baixo quando não o é, fato
característico dos partidos no modelo de partido de cartel.

GRÁFICO XI: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas Eleições Para a Assembleia
Legislativa, 1986.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

100
Nas eleições de 1986 a bancada do Piauí na Câmara Federal subiu de nove para dez deputados. Essa
quantidade ainda é a mesma.
106

O gráfico acima demonstra o resultado da votação para o Legislativo estadual e reflete


em parte suas relações com os resultados do Executivo e do Legislativo federal. Há uma
convergência na votação do PFL, que obteve 50.6% dos votos para a Assembleia Legislativa,
uma diferença de 2.7% do Executivo e de apenas 1.1% em relação aos votos para deputado
federal. Há uma diferença não muito grande no PDS, que teve 19.5% dos votos para a Câmara
dos Deputados e 12.9% para a Assembleia Legislativa. Mas há uma grande lacuna na relação
dos votos do PMDB, que elegeu o governador com 49.5% dos votos, mas fez apenas 27.6%
dos votos para deputados federais e 31% dos votos para a Assembleia Legislativa, reduzindo
sua bancada no Parlamento estadual de dez para oito deputados101.

GRÁFICO XII: Desempenho dos partidos que disputaram o governo do Estado do Piauí nas eleições de 1990,
primeiro turno.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

Em 1990, pela primeira vez o arranjo institucional102 determina que, caso nenhum
candidato consiga superar a barreira dos 50% dos votos válidos, a eleição seja decidida em
segundo turno, tendo sido o que de fato aconteceu. Outro fato novo nessas eleições foi que o

101
Em 1986 a quantidade de deputados estaduais do Piauí passou de vinte e sete para trinta, o que vale até hoje.
102
A Constituição de 1988 determinou que se nenhum candidato obtivesse a maioria absoluta dos votos válidos
haveria um segundo turno entre os dois candidatos mais votados. As eleições em dois turnos são apenas para os
cargos executivos, Presidente da República, Governadores e Prefeitos de cidades com mais de 200 mil eleitores.
Aconteceram pela primeira vez nas eleições presidenciais de 1989 e em seguida para Governador, em 1990.
107

PMDB não lançou candidato a governador, resolvendo fazer uma coligação com o PSDB,
apoiando a candidatura do ex-prefeito de Teresina, Wall Ferraz, um ex-integrante do PMDB
que havia liderado o grupo dos dissidentes do partido para fundar o PSDB. Alem disso, as
eleições de 1990 ocorreram logo em seguida às primeiras eleições diretas para presidente, em
1989. Portanto, o país vivia uma nova conjuntura política.
Em 1989 ocorreram as primeiras eleições democráticas para Presidente de República
desde o golpe de 1964. Em 1990, foram realizadas eleições para governadores de Estados e do
Distrito Federal, deputados federais e estaduais e para senadores. A eleição para governador
do Piauí foi decidida em dois turnos, pois nenhum candidato obteve a maioria absoluta (50%
mais 1, dos votos válidos). O embate do segundo turno ficou entre Freitas Neto, do PFL, e
Wall Ferraz, do PSDB, apoiado pelo PMDB, que governava o Estado mas não tinha um nome
competitivo, motivo pelo qual apoiou o ex-peemedebista Wall Ferraz, optando pela busca de
fortalecimento no Parlamento.
Uma vez mais, as eleições ficaram polarizadas entre dois grupos, ambos ainda marcados
pelas heranças do bipartidarismo, e tendo, cada um deles, administrado Teresina pela
ARENA. Wall Ferraz já estava na vida pública desde a democracia do pós-1945, quando foi
eleito vereador de Teresina em 1954 e 1958, tendo sido vice-prefeito de Teresina em 1962,
ambos os cargos obtidos quando pertencia à UDN.
Outra marca dessas eleições foi o aumento do número de partidos participando da arena
eleitoral. Foram quatro candidatos a governador e uma maior quantidade de partidos nas
disputas no Legislativo, o que não foi suficiente para desconcentrar a votação. As heranças do
bipartidarismo continuaram dominando. Mesmo o PSDB sendo recém-fundado, suas
lideranças, a exemplo do candidato Wall Ferraz, tinham longas trajetórias na vida pública.
Novamente, à imagem de 1982, os dois candidatos mais votados para governador do
Estado somaram acima de 90% dos votos. O candidato do PSDB, apoiado pelo PMDB sob a
liderança do governador Alberto Silva, ficou em segundo lugar com 45,2% dos votos,
demonstrando um alto índice de competitividade entre os dois pólos, o que se refletiu no
segundo turno, quando o candidato do PFL conseguiu manter a vantagem e venceu as
eleições, como apresenta o gráfico.
108

GRÁFICO XIII: Desempenho de PFL e PSDB para o governo do Piauí, 1990, segundo turno.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

Na disputa em segundo turno, os padrões eleitorais que foram estruturados em primeiro


turno foram mantidos, com um pequeno crescimento de ambos, mas com o PFL aumentando
sua vantagem, ao sair de 50% no primeiro turno para 54,8% no segundo, garantindo sua
vitória. O candidato da aliança PSDB/PMDB, por sua vez, saiu de 43,8% para 45,2% e selou
sua derrota. Foi a primeira derrota desse grupo, herdeiro do MDB103, desde o período pós-
redemocratização, mas a segunda derrota depois da volta do multipartidarismo. Ou seja, das
três primeiras eleições para governo do Estado esse grupo perdeu duas.
Nas eleições de 1990 foi a primeira e única vez, em todo o período estudado, que o PFL
foi para o segundo turno das eleições e saiu vitorioso, derrotando o candidato do PSDB. Nas
demais eleições em que houve segundo turno, 1994 e 1998, o PMDB foi segundo colocado no
primeiro turno, mas em ambos os pleitos derrotou o candidato do PFL. O PMDB jamais foi
derrotado em um segundo turno no Estado do Piauí. Por duas oportunidades consecutivas o
partido virou o jogo sobre seu rival no segundo turno.

103
O PSDB também recebeu herança do MDB, a cisão do PMDB que originou o PSDB levou, por exemplo, no
Piauí, o ex-emedebista Chagas Rodrigues, que governou o Estado do Piauí entre 1959 e 1962, quando pertencia
ao PTB. Sob o bipartidarismo ele se filia ao MDB, com a volta do multipartidarismo fica no PMDB pelo qual foi
eleito Senador em 1986. Foi um dos fundadores do PSDB no Piauí.
109

GRÁFICO XIV: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas Eleições para a Câmara
dos Deputados, 1990.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

Nessas eleições o PMDB não lançou nenhum candidato a cargo majoritário - governador
ou senador -, mas soube muito bem utilizar sua força de ser governo para se fortalecer no
Parlamento, ou ao menos, para não retrair o tamanho de sua bancada, conseguindo, de fato,
manter suas duas vagas na Câmara dos Deputados, apesar de ter reduzido bastante sua
proporção de votos em relação a 1986, quando atingiu 27.6% dos votos para Deputado
federal, caindo em 1990 para 13.5%. Mas como estava em uma coligação com outros
partidos, como o PSDB, que fez 11.5% dos votos para Deputado federal e só conquistou uma
cadeira, foi possível não reduzir sua bancada federal.
Porém, outro fator que contribuiu para que o PMDB, mesmo com votação menor que
1986, mantivesse as duas cadeiras na Câmara dos Deputados foi o aumento da
competitividade, com o crescimento de novos partidos. Em 1982, por exemplo, as nove
Cadeiras para a Câmara dos Deputados ficaram com PMDB e PDS, e o partido que não
conquistou cadeira fez apenas 0.8% dos votos. No pleito seguinte, em 1986, quando já eram
dez cadeiras para o Piauí, as mesmas ficaram com PMDB, PFL e PDS, e os partidos que não
conquistaram cadeiras fizeram 3.4% dos votos. Já em 1990, PMDB, PFL, PDS e PDSB
conquistaram vagas na Câmara dos Deputados, enquanto os partidos sem conquistas somaram
18.4% dos votos válidos.
De fato, com o crescimento dos novos partidos nem só o PMDB reduziu sua proporção
de votos. O PDS ficou estável em relação a 1986, com um ínfimo crescimento de 19.5% para
20.8% dos votos em 1990. Pela lógica do aumento do número de partidos competindo, nem
110

sempre reduzir a proporção de votos significa reduzir o tamanho da bancada, assim como as
coligações proporcionais podem contribuir para eleger candidatos com uma votação menor do
que outro que fez mais votos e se encontra em outra coligação.
Por isso o PDS, que teve um pequeno crescimento na porcentagem de votos, reduziu sua
bancada de três para dois deputados, enquanto o PMDB, que caiu de 27.6% para 13.5% dos
votos, manteve sua bancada, e o PFL, que caiu de 49.5% para 36% dos votos e tinha elegido
cinco deputados federais em 1986, manteve as cinco cadeiras em 1990. O PSDB, que
disputava pela primeira vez, aparece com 11.5% dos votos e elege um deputado federal.

GRÁFICO XV: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas Eleições para a
Assembleia Legislativa, 1990.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

Pelo que os dados do gráfico revelam, os reflexos do crescimento de novos partidos


ficam mais evidentes ainda no Parlamento estadual. O número de partidos que conquistaram
cadeiras na Assembleia Legislativa foi maior que a quantidade de partidos com vagas na
Câmara dos Deputados. As vagas da Câmara ficaram com quatro partidos, enquanto aquelas
da Assembleia foram divididas entre seis partidos, diferentemente de 1986, quando PMDB,
PFL e PDS conquistaram todas as cadeiras tanto na Assembleia Legislativa quanto na Câmara
dos Deputados.
Em 1990, além de aumentar de três para seis partidos na Assembleia Legislativa, e de
três para quatro na Câmara dos Deputados, não houve total coincidência entre os partidos que
conquistaram vagas na Câmara e na Assembleia Legislativa, pois o PSDB elegeu um
deputado federal, mas não elegeu deputado estadual. Partidos novos como o PL e o PDC
111

elegeram dois deputados estaduais cada um. E o PT, que já vinha participando de todas as
eleições, consegue pela primeira vez eleger um parlamentar no Piauí.
Salienta-se então que nessas eleições houve um distanciamento entre a votação do
Executivo e a do Legislativo. Apenas o PT, que obteve 5.7% dos votos para o Governo do
Estado, teve a mesma porcentagem para a Câmara dos Deputados, porém ficando com 3.3%
para a Assembleia Legislativa. O PFL teve 50% dos votos para o Governo, 36% para a
Câmara dos Deputados e 34.2% para a Assembleia Legislativa.
Deve-se enfatizar que tais transformações estão igualmente ligadas ao arranjo
institucional que, ao permitir coligações em todas as arenas em disputa, deixa aberto aos
partidos que não têm um nome competitivo para lançar candidato ao Executivo a opção de
buscarem alianças com outros partidos para viabilizarem suas candidaturas ao Legislativo.
Um partido pequeno se alia a um grande que, além de ter um candidato competitivo para o
Governo, geralmente tem candidatos fortes para o Legislativo, os chamados ―puxadores de
votos‖.
De fato, apesar de o PMDB com frequência vir apresentando competitividade nas
disputas eleitorais para o governo do Estado, em 1990 ele não tinha um candidato para
competir com a candidatura do PFL. Daí a estratégia de fazer uma aliança com o PSDB, que
tinha um nome competitivo, inclusive recém-saído do PMDB, o ex-prefeito de Teresina
Raimundo Wall Ferraz, o qual dois anos antes havia liderado a cisão que levou um grupo de
peemedebistas a deixar o partido para fundar o PSDB no Piauí.

GRÁFICO XVI: Desempenho dos partidos que disputaram o governo do Estado do Piauí nas eleições de 1994,
primeiro turno.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)


112

As eleições de 1994 foram marcadas pela derrota dos grupos tradicionais que
dominavam o Piauí desde os tempos de autoritarismo104. Uma vez mais, o PMDB se
encontrava na oposição e, segundo Silva (1999), com dificuldade em lançar um nome
competitivo para enfrentar o PFL para o Governo de Estado.
O nome que se apresentava mais forte para ser apoiado pelo PMDB era o do então
prefeito de Teresina Wall Ferraz, do PSDB, que demonstrava índice elevado de popularidade
e já tinha mostrado ser competitivo nas eleições de 1990, quando, mesmo tendo sido
derrotado, conquistou 43.8% dos votos em primeiro turno e 45.2% dos votos válidos em
segundo turno. Porém, Wall Ferraz tinha a saúde comprometida105 para enfrentar uma
candidatura ao governo (SILVA, 1999, p. 297).
Com a inviabilidade da candidatura tucana com Wall Ferraz, surge a figura de Francisco
de Assis Moraes Souza, o ―Mão Santa‖, recém vinculado ao PMDB. Segundo Silva (1999, p.
297 – 298), ―Mão Santa‖ havia demonstrado interesse em se candidatar a Governador do
Estado no início dos anos 1990, quando era filiado ao PDS, mas foi rechaçado pelo Senador
Lucídio Portella, o líder maior do partido na época. Ao perceber a inviabilidade de se
candidatar pelo PDS, ―Mão Santa‖ rompeu com o partido e se aproximou de Alberto Silva,
filiando-se ao PMDB.
As dificuldades do PMDB para lançar um candidato competitivo naquele momento
abriram caminho para as pretensões de ―Mão Santa‖, que consegue ser aceito como candidato
do partido, mesmo com uma realidade quase que totalmente adversa em decorrência do
domínio do PFL no interior do Estado. O quadro político-eleitoral era de tranquilidade, visto
que ―esta era uma campanha dada pelas pesquisas de opinião pública como certa para o PFL.
O candidato do PMDB inicia sua campanha apoiado por apenas um prefeito, seguido por
outros dois logo depois, contra 145 que apoiavam o candidato do PFL‖ (SILVA, 1999, p.
298).
Não obstante, o candidato ―Mão Santa‖ fez uma verdadeira ―peregrinação‖ pelo interior
do Estado buscando fazer o contato direto com o povo, o que contribuiu para o crescimento de
sua popularidade e, logicamente, para o crescimento de sua candidatura, conquistando 37.4%
dos votos válidos no primeiro turno e levando a eleição para ser decidida no segundo turno.

104
Grupo estruturado na política do Piauí pela família Portella Nunes, tendo, durante o regime militar,
demonstrado a expressão de domínio político pela figura do então senador Petrônio Portella Nunes.
105
Tanto que viria a falecer no ano seguinte, quando ainda era prefeito da capital do Piauí.
113

Apesar da polarização entre ―Mão Santa‖, do PMDB, e Átila Lira, candidato do PFL,
que disputaram o segundo turno, o PT mais uma vez cresce, e dessa vez acima do esperado,
atingindo 15.2% dos votos. A votação expressiva do PT, segundo Silva (1999), provocou o
assédio dos peemedebistas sobre os petistas no segundo turno. Silva (1999) afirma que vários
petistas, isoladamente, votaram no candidato peemedebista no segundo turno.

GRÁFICO XVII: Desempenho dos partidos que disputaram o governo do Estado do Piauí nas eleições de 1994,
segundo turno.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

Ao se empenhar na eleição de segundo turno, o candidato peemedebista ―Mão Santa‖,


aprofundando um discurso de características ―populistas‖ e de combate às oligarquias, vira o
jogo e vence as eleições com 55.8% dos votos contra 44.2% dos votos do candidato Átila
Lira, do PFL, como está indicado no gráfico acima. A utilização de um discurso simples para
se comunicar com o eleitorado e um discurso com fundo religioso 106 são fatores que
contribuíram para a vitória do candidato do PMDB.
No entanto, salienta-se que as oligarquias que ―Mão Santa‖ tanto afirmava combater
durante sua candidatura eram seus antigos parceiros de partido dos tempos de ARENA e/ou
PDS. ―Moraes Souza ganhou esse pleito lutando contra Hugo Napoleão, Freitas Neto, Lucídio
Portella e Helvídio. Do seu lado, estavam Alberto Silva, Wall Ferraz, e Chagas Rodrigues‖
(SILVA, 1999, p. 298).

106
Confira Silva (1999).
114

Para Silva (1999), a eleição de ―Mão Santa‖, do PMDB, em 1994 ao governo do Estado
do Piauí contrariou todas as perspectivas prévias que os institutos de pesquisas
demonstravam. Para estes, não havia dúvida sobre a vitória do PFL. O candidato pefelista em
nenhum momento foi visto com sua candidatura ameaçada de derrota. ―O Governador Mão
Santa (PMDB) foi eleito em uma situação adversa e contrariando todas as pesquisas de
opinião pré-eleitorais e às previsões de analistas políticos estaduais‖ (SILVA, 1999, p. 298).
O domínio do PFL era forte, mas o partido já sofria severas críticas e acusações de ser
conservador e elitista. Contra esse tipo de atitude, o candidato ―Mão Santa‖ passa a pregar um
novo comportamento, sob os princípios da moralidade, porém,

Eleito pregando moralidade e o fim do ciclo de poder das oligarquias tradicionais,


Mão Santa começa seu primeiro governo praticando atos explícitos de nepotismo e
familismo, ao nomear quase todos os seus irmãos, cunhados e parentes para cargos
importantes no novo governo, repetindo a velha fórmula oligárquica da formação de
Governo com base na lealdade do sangue. O governador Francisco Mão Santa, em
sua administração, reproduz a mesma receita e não poderia ser diferente, pois ele é
oriundo da mesma cultura política formada no período antes da Ditadura Militar,
tendo servido à ARENA e PDS (hoje se encontra no PMDB). A prática do
familismo é confirmada através da seguinte árvore genealógica e seus respectivos
cargos: Chefe do Governo – Francisco de Assis Moraes Souza Mão Santa; Chefe do
Gabinete – Francisco de Moraes Souza Júnior; Presidente do Serviço Social do
Estado – SERSE, Adagilsa Moraes Souza, esposa do Governador; Secretário de
Fazenda, Paulo de Tarso Moraes Souza, irmão do governador; Secretário de
Indústria e Comércio, Antônio José de Moraes Souza, irmão do governador;
Secretário de Obras Públicas, Alcindo Rodrigues Queiroz, concunhado do
governador; Vice-Reitora da Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Maria
Cristina Moraes Souza, irmã do governador; Diretora Administrativa e Financeira da
Secretaria de Fazenda, Vera Mendonça de Moraes Souza; Vice-presidente do
SERSE, Ieda Moraes Souza, irmã do governador. (SILVA, 1999 p. 299-300).

GRÁFICO XVIII: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas Eleições Para a Câmara
dos Deputados, 1994;

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ).


115

Nas eleições para deputado federal, seguindo as tendências que já estavam presentes
desde 1990, há um deslocamento do padrão de votos entre o Executivo e o Legislativo. O PFL
fez 44.9% dos votos para Governador e 37% dos votos para deputado federal, uma diferença
pequena se comparada à do PMDB, pois este fez 37.4% dos votos para o Governo e apenas
17.5% dos votos para deputado federal.
Ou seja, o PMDB obteve menos da metade dos votos para a Câmara dos Deputados em
relação aos votos conquistados por seu candidato a Governador. Enquanto o PT, que
praticamente triplicou seus votos para governador, 15.2%, conquistou apenas em torno da
metade dessa votação, 7.7%, na disputa para deputado federal.
Contudo, mesmo com a diminuição da proporção de votos dos partidos, a quantidade de
partidos que conquistou cadeira na Câmara não foi alterada. Tanto em 1990 quanto em 1994
foram quatro. Mas alteraram os partidos, já que em 1990 as cadeiras ficaram com PFL,
PMDB, PDS e PSDB, enquanto em 1994 ficaram com PFL, PMDB, PPR (ex-PDS) e PP107.
Também não houve redução de cadeiras por parte do PFL, que tinha cinco e as manteve, bem
como por parte do PMDB, que manteve as duas que já ocupava. O PSDB é que tinha uma
vaga e não conseguiu sustentá-la.
Além disso, o multipartidarismo possibilitou que vários partidos fossem votados sem que
tivessem êxito na conquista de cadeiras no Legislativo, como demonstrou o gráfico. Logo,
uma porcentagem significativa de votos foi para partidos que não elegeram candidatos.
De doze partidos que receberam votos, por menor que tenha sido a quantidade, apenas
quatro conquistaram vaga na Câmara dos Deputados. Em 1994, a exemplo das eleições
anteriores, o Legislativo federal piauiense continua sendo composto pelos herdeiros do
sistema bipartidário, pois apesar da entrada do PP, este não representou um novo componente
político-ideológico, pois foi fundado por líderes tradicionais que já militavam desde os
tempos do bipartidarismo108. Tanto que dois anos depois se fundiu com o PPR.

107
Esse não é o atual Partido Progressista (PP), e sim um partido que surgiu em 1993 com a fusão entre PTR e
PST, extinto em 1995 ao fundir-se com o PPR. Este sim é o atual PP, que é uma linhagem que representa as
heranças da antiga ARENA.
108
Uma das lideranças desse partido foi o ex-governador e atual senador paranaense Álvaro Dias. O deputado
federal eleito pelo PP em 1994 no Estado do Piauí foi o ex-prefeito da cidade de Oeiras Benedito Carvalho Sá
(B. Sá), que já militou, além do PP, em vários outros partidos, tais como PMDB, PDS, PSDB, PPS e atualmente
PSB.
116

GRÁFICO XIX: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas Eleições Para a
Assembleia Legislativa, 1994.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ

Em se tratando do Legislativo estadual, os reflexos do multipartidarismo ficam ainda


mais evidentes. A quantidade de partidos no Legislativo local, que era de seis, passou para
sete agremiações. Aqui que houve um padrão na votação entre o Executivo e o Legislativo
por parte do PFL, que obteve 44.9% dos votos para Governador e 42.6% dos votos para a
Assembleia Legislativa. Porém, com o PMDB houve um distanciamento ao obter 37.4% dos
votos para Governador e apenas 11.8% dos votos para a Assembleia Legislativa.
Com isso, enquanto o PFL aumentou sua bancada estadual de doze para quatorze
deputados, o PMDB sofreu uma redução drástica e teve seu pior resultado na disputa por
cadeiras na Assembleia Legislativa. Em 1994 o PMDB reduziu sua bancada estadual de nove
(o maior número de sua história pós-1985) para cinco deputados (o menor). ―O desempenho
eleitoral dos partidos, na ocupação de vagas na Assembleia depende, diretamente da posição
que estes ocupam durante os quatro anos de governo estadual‖ (FREITAS, 2010, p. 112).
Segundo essa perspectiva, para fortalecer sua base de apoio político-eleitoral e
principalmente o seu partido, ao assumir em 1995 ―o governador, dessa forma, longe de obter
a maioria no Legislativo estadual, nomeou peemedebistas e peessedebistas para mais da
metade das secretarias disponíveis‖ (FREITAS, 2010, p. 113).
Salienta-se que essas mudanças têm ligações com o exercício do poder, como enfatiza o
modelo de partido de cartel de Katz & Mair (1995), pois o PFL cresceu estando no poder e o
PMDB se retraiu estando na oposição. De fato, foi a menor bancada estadual constituída pelo
PMDB, o que aconteceu exatamente na única vez em que o partido estava totalmente na
117

oposição109, ou seja, nas eleições de 1994. Mas a vitória do PMDB o fortalecerá para 1998,
pois ―o governador, buscando melhorar o desempenho de seu partido nas eleições posteriores
para a Assembleia Legislativa, nomeou um gabinete cuja grande parte dos peemedebistas
estava centrada nas secretarias políticas‖ (FREITAS, 2010, p.112).
Pelas estratégias político-partidárias, ―o alto número de peemedebistas indicados, ao
longo do mandato, mostra que o PMDB foi ganhando gradualmente mais espaço frente aos
aliados e à indicação de não-filiados‖ (FREITAS, 2010, p. 112). Com isso, percebe-se que
―No momento eleitoral, os partidos governistas, principalmente o partido do governador,
costumam obter melhores resultados nas eleições‖ (FREITAS, 2010, p. 112). E foi o que
aconteceu nas eleições seguintes, pois

Dentre os secretários nomeados, pode-se destacar a presença de cinco deputados


estaduais – Kleber Eulálio, Francisco das Chagas Damasceno, Antônio Moraes
Sousa, Warton Santos, Raimundo Carbureto e Francisco Donato Filho, todos do
PMDB [...]. Desses, apenas Francisco das Chagas Damasceno e Raimundo
Carbureto não se reelegeram, pois não se candidataram à reeleição. Além disso,
observou-se que o peemedebista Themístocles de Sampaio Filho (ex-Secretário de
Justiça e da Cidadania) foi eleito para a Assembleia. A estratégia do governador, em
compor seu gabinete com deputados estaduais peemedebistas, foi útil para o partido
– já que contribui para a reeleição de seus filiados – e para seus objetivos pessoais
de obter êxito nas eleições. O peso do partido do governador, na composição de
quadros políticos, indicava que, mais uma vez, o Executivo estadual tinha a
capacidade de delinear a dinâmica político-eleitoral no estado (FREITAS, 2010, p.
113).

Ao se comparar os resultados das eleições de 1994 com aqueles das eleições de 1998,
percebe-se que os reflexos do poder são fundamentais para ascensão ou declínio do partido.
Por isso, observando-se os dados eleitorais e a quantidade de eleitos por partido para os
diversos cargos eletivos em todo o período em estudo, são notórias as oscilações entre os dois
maiores partidos, o PMDB e o PFL, a partir dos momentos da ocupação de poder ou dos
momentos em que estão na oposição. Portanto,

O declínio da força eleitoral do PFL no estado, por um lado, e o crescimento do


PMDB, por outro, é um indicativo da importância do chefe do Executivo estadual no
sentido de alavancar as candidaturas dos partidos que compõem o governo. Obter o
controle do governo estadual, dessa forma, é fundamental para conquistar apoios
junto às lideranças políticas estaduais. Eleger o governador do estado é, portanto,
fundamental para o desenvolvimento das agremiações que participam do governo. O
PSDB, por exemplo, partido do então vice-governador, que obteve pastas no
primeiro escalão do governo estadual, ampliou sua bancada de um para quatro
deputados estaduais (FREITAS, 2010, p. 114 – 115).

109
Mesmo estando na oposição em 1986, quando conquistou o Executivo estadual pela primeira vez, o partido
governava o país na época de uma euforia efêmera com o Plano Cruzado lançado pelo governo Sarney.
118

GRÁFICO XX: Desempenho dos partidos que disputaram o governo do Estado do Piauí nas eleições de 1998,
primeiro turno.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

Nas eleições de 1998, uma vez mais o PMDB enfrenta um candidato do PFL. Dessa vez
o Governador ―Mão Santa‖, tentando a reeleição, enfrenta o Senador Hugo Napoleão, a maior
liderança do PFL no Estado e uma das maiores lideranças políticas do Piauí. Novamente,
―Mão Santa‖ enfrenta seus ex-companheiros de partido, já que o PFL estava aliado com o
PPB, que era liderado pelo Senador Lucídio Portella.
Ao contrário de 1994, quando o PMDB era oposição, agora o partido governava o
Estado e tentava permanecer no poder. Dessa vez, ―Mão Santa‖ deixa de ser visto como
candidato inviável, apesar de enfrentar um adversário forte e que jamais havia sofrido uma
derrota nas urnas. O fato de o PMDB ser poder já aponta para o fortalecimento de sua
candidatura. Durante a busca pela reeleição, o Governador continua com o seu discurso
populista, com referências religiosas e enfatizando o combate às oligarquias. Uma vez mais, o
PMDB não consegue vencer o PFL em primeiro turno, mas obtém votação suficiente para
levar a disputa para o segundo turno e buscar novamente a virada.
Novamente o PMDB, no segundo turno, consegue agregar votos do eleitorado que não
tinha votado em seu candidato em primeiro turno, a exemplo de 1994. São votos que, ou
votaram em outros candidatos, ou votaram em branco ou nulo. Com isso, o PMDB vira o jogo
e o Governador ―Mão Santa‖, do PMDB, vence o Senador Hugo Napoleão, do PFL.
O PMDB é considerado um partido político que ocupa o centro no espectro
ideológico110, tendo, consequentemente, uma baixa carga ideológica que o distanciaria dos

110
Confira Mainwaring, Meneguello & Power (2000).
119

demais partidos, o que pode ser considerado um fator importante para o partido agregar votos
das mais diversas concepções ideológicas, assim como fazer alianças e coalizões com
diversos partidos e governos.
A flexibilidade ideológica do PMDB tornou viável a composição de uma chapa com um
candidato a vice-governador do PCdoB, o advogado Osmar Júnior. Segundo Silva (1999),
Osmar Júnior foi o primeiro vice-governador do Partido Comunista do Brasil. Na realidade, o
PMDB, como de práxis, formou uma chapa com partidos de esquerda e de direita.
Além da composição de uma chapa com um partido de esquerda em 1998, o PMDB, ao
levar as eleições para o segundo turno, tanto em 1994 quanto em 1998, consegue receber
apoio e/ou votos dos partidos e alianças derrotados em primeiro turno. Certamente, votos do
PT e do PSDB, que estiveram aliados e não conseguiram levar seu candidato ao segundo
turno, foram fundamentais para a reeleição do Governador ―Mão Santa‖.
Nessas eleições, a competição entre PMDB e PFL foi bastante acirrada. No primeiro
turno, o PFL fez 43.7% dos votos válidos contra 40.6% do PMDB, uma diferença de apenas
3.1%. O candidato tucano, o ex-prefeito de Teresina Francisco Gerardo111, em uma aliança do
PSDB com o PT, ficou em terceiro, com 13% dos votos, muito distante de PFL e PMDB.

GRÁFICO XXI: Desempenho dos partidos que disputaram o governo do Estado do Piauí nas eleições de 1998,
segundo turno.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

111
Francisco Gerardo foi vice-prefeito de Teresina eleito em 1992 e assumiu a prefeitura em 1995 com a morte
do prefeito Wall Ferraz, também do PSDB.
120

O segundo turno das eleições de 1998 foi marcado pelo aumento do acirramento na
disputa entre PFL e PMDB. Ambos tiveram crescimento, porém, enquanto o PFL cresceu de
43.7% para 49%, apenas 5.3%, o PMDB cresceu de 40.6% para 51%, um crescimento de
10.4%, ou seja, quase o dobro do crescimento de seu adversário. O acirramento foi tanto que
a vitória peemedebista foi de apenas 2% de diferença.
A reeleição de ―Mão Santa‖ o marcou como o primeiro governador a ser reeleito no
Piauí, assim como representou a primeira derrota sofrida pelo senador Hugo Napoleão em
toda sua carreira política. Esse fato levará ao início do declínio do PFL no Estado.
Nas duas vezes que o PMDB foi ao segundo turno, ambas com o PFL, em 1994 e 1998,
o PMDB estava em desvantagem no primeiro turno, mas sempre conseguiu virar o jogo e sair
vitorioso no segundo. Isso deixa claro que sua posição central lhe concede um índice menor
de rejeição, de forma que muitos eleitores, mesmo não se identificando com o partido, acabam
se utilizando do voto estratégico, votando contra aquele partido que não quer ver no poder,
aquele que o eleitor rejeita de forma mais incisiva.
Nessas eleições, vários eleitores votaram no candidato do PMDB não por terem como
primeiro critério a identificação com o partido ou com o candidato, mas muito mais por
entenderem que o PFL não deveria vencer, ou seja, pela menor rejeição que tinham ao
PMDB, razão pela qual os grandes partidos de centro, como o PMDB, possuem maior
capacidade de articulação com outros partidos e maior possibilidade de receberem apoios
diversos, às vezes mais por estratégia que por simpatia.

GRÁFICO XXII: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas Eleições Para a Câmara
dos Deputados, 1998.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)


121

Os reflexos das relações de poder entre peemedebistas e pefelistas igualmente aparecem


nos resultados das eleições legislativas. Mesmo sendo oposição e sendo derrotado na disputa
para governador, o PFL uma vez mais mantém suas cinco cadeiras na Câmara dos Deputados,
reduzindo, porém, sua bancada na Assembleia Legislativa de quatorze para dez cadeiras,
enquanto o PMDB, que era governo, mantém o Executivo e aumenta suas bancadas
legislativas, subindo de duas para três cadeiras de deputado federal e de cinco para nove
cadeiras de deputado estadual. E ainda elege o Senador da República, em uma eleição com
renovação de um terço das cadeiras do Senado.
Na realidade, se as eleições de 1986 foram aquelas em que o PMDB atingiu seu maior
sucesso eleitoral de toda sua história no âmbito nacional, como reflexo do bom momento que
vivia o governo federal com o Plano Cruzado lançado pelo presidente Sarney, no Piauí o
maior sucesso eleitoral do partido foi exatamente nas eleições de 1998 pelos reflexos do
exercício do poder Executivo que exercia desde 1995, tendo sido também beneficiado pelo
novo arranjo institucional que pela primeira vez permitia a reeleição para o Executivo.
Apesar dos reflexos do multipartidarismo, como mostra o gráfico acima, mais uma vez
não houve alteração na quantidade de partidos que conquistaram cadeiras na Câmara dos
Deputados, permanecendo quatro partidos. Porém, percebe-se que com o crescimento de
partidos com perspectivas mais modernas, como PT e PSDB, um partido tradicional, a
exemplo do PPB (ex-PDS/PPR), perde espaço e pela primeira vez não elege deputado federal,
enquanto o PSDB, que havia elegido um deputado federal em 1990 e não havia o mantido em
1994, reconquista uma cadeira na Câmara dos Deputados, e o PT elege seu primeiro deputado
federal no Piauí. Portanto, novamente veem-se alterados os partidos, mas não a quantidade de
partidos com cadeira(s) na Câmara dos Deputados.
122

GRÁFICO XXIII: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas Eleições para a
Assembleia Legislativa, 1998.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

Em se tratando do Legislativo estadual, igualmente não houve mudança na quantidade de


partidos representados. Permaneceram sete, mas houve a saída de dois partidos mais à direita,
PTB e PL, que perderam suas cadeiras, e a entrada de dois outros mais à esquerda112, PDT e
PSB, que conquistaram cadeiras na Assembleia Legislativa do Piauí pela primeira vez na
história.
Contudo, houve mudanças nos padrões de votações nas relações entre o Executivo e o
Legislativo. O PSDB teve praticamente a mesma porcentagem para deputado estadual
(13.1%) e para Governador (13%), mas ficou com 9.4% dos votos para deputado federal. O
PT não laçou candidatura, aliando-se ao PSDB, mas teve 10.9% dos votos para deputado
federal e 6.6% para deputado estadual. O PFL demonstrou muita proximidade entre o
Executivo, que fez 43.7%, e o Legislativo federal, que ficou com 38.5% dos votos.
Enquanto isso, o PMDB obteve um padrão entre deputados federais, com 28.4% dos
votos, e deputados estaduais, que fizeram 27.8%, porém havendo um distanciamento do
Executivo, que conquistou 40.6% dos votos válidos. Ou seja, o PMDB manteve os padrões de
distanciamento em proporção de votos entre o Executivo e o Legislativo.

112
A divisão do espectro ideológico aqui é feita por Mainwaring, Meneguello & Power (2000).
123

GRÁFICO XXIV: Desempenho dos partidos que disputaram o governo do Estado do Piauí nas eleições de
2002, primeiro turno.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

A soberania do PMDB no Executivo estadual, vencendo duas eleições consecutivas, fato


até então inédito não somente para o PMDB mas para o Estado do Piauí pós-
redemocratização, apesar de ter fortalecido o partido e proporcionado seu maior desempenho
já conquistado no Piauí, aumentando as conquistas de cadeiras no Legislativo e a conquista de
prefeituras no Estado, não levou o partido a formar novas lideranças no sentido de estruturar o
partido rumo a uma nova vitória para o Governo do Estado.
A não preocupação por parte do PMDB e do próprio Governador em construir
visibilidade sobre uma liderança do partido já demonstrava que seria necessário fazer uma
aliança apoiando a candidatura de outro partido nas eleições de 2002. Naquele momento, o
nome mais comentado nos bastidores do partido e principalmente pelo Governador para ser
apoiado pelo PMDB era o do então prefeito de Teresina Firmino Filho, do PSDB.
Além disso, em novembro de 2001 o governador ―Mão Santa‖, que tinha um processo na
Justiça Eleitoral movido pelo PFL acusando-o de abuso do poder econômico nas eleições de
1998, teve seu mandato cassado pelo TSE, que em seguida deu posse ao segundo colocado
nas eleições de 1998, Hugo Napoleão, o qual, ao assumir o governo, torna-se o candidato
―natural‖ do PFL na tentativa de reeleição no ano seguinte. Enquanto isso, e por outro lado,

Logo após a cassação abriu-se uma crise na liderança do PMDB, posto que o então
senador pelo partido e governador por dois mandatos, Alberto Silva, ofereceu, de
imediato, apoio ao novo governo, abrindo uma disputa pela direção estadual da
agremiação, [...] (BONFIM, 2002, p. 2).
124

Para tornar ainda mais complexa uma candidatura vinculada ao PMDB em 2002, no
momento de tomar a decisão se seria ou não candidato, o prefeito Firmino Filho desistiu de
renunciar ao cargo de prefeito alegando que tinha compromisso com o povo de Teresina113.
Em seguida conduz, o seu partido, o PSDB, e convence as demais lideranças tucanas para
uma coligação com o PFL, apoiando a candidatura à reeleição do governador Hugo Napoleão.
Firmino Filho havia saído em apoio ao governador peemedebista cassado (FREITAS,
2010, p. 120), combatendo o PFL pela ação que cassou o governador. No entanto, em 2002
resolveu abdicar de sua candidatura, abandonar a aliança com o PMDB e apoiar o PFL.
A partir do momento em que o PMDB não tem um nome competitivo e o PSDB desiste
da candidatura que teria o apoio do PMDB e a popularidade do ex-governador ―Mão Santa‖
como forças para uma possível vitória, o PMDB resolve lançar a candidatura do ex-Reitor da
Universidade Estadual do Piauí (UESPI), o professor Jônathas Nunes, ao Governo, porém
uma candidatura que não demonstrava competitividade, como de fato não competiu. De longe
foi a candidatura mais frágil do PMDB em toda sua trajetória político-eleitoral no Piauí.
Apesar da candidatura peemedebista, frente à inviabilidade de uma vitória do professor
Jônathas Nunes, como demonstravam as pesquisas114, a rivalidade entre PMDB e PFL e a
rejeição à candidatura pefelista levaram o PMDB a apoiar informalmente a candidatura
petista, naquele momento a única para a qual as pesquisas apontavam um crescimento com
consistência viável para derrotar Hugo Napoleão. Além disso, o apoio à candidatura petista
passa a agregar apoio dos mais diversos, pois,

Em primeiro lugar, os demais candidatos a governador de oposição, à exceção do


representante do PSB, apoiaram veladamente Wellington Dias quando constataram
suas possibilidades de vitória no primeiro turno. No caso do PMDB, grande parte da
infra-estrutura na reta final, em termos de transporte e arrecadação financeira, foi
fornecida pelo partido. Em segundo lugar, a dissidência do PSDB, representada por
ex-secretários estaduais e municipais, bem como por candidatos a deputado, foi
também decisiva para dar credibilidade e apoio político à candidatura petista logo no
seu nascedouro. Neste sentido, a candidatura petista herdou o apoio angariado pela
Resistência Popular115 em pleitos anteriores, ajudando a agregar ao quadro maior
das forças de oposição no Estado o PT, que até ali, embora criticasse ferozmente o
domínio pefelista no Estado, também se posicionava majoritariamente contra o
governo peemedebista, marcado por sucessivas denúncias de corrupção e

113
Segundo Washington Bonfim (2002), um dos principais motivos da desistência do prefeito foi o fato de seu
vice ser filho do Senador Alberto Silva, que havia declarado apoio ao governo Hugo Napoleão. Assim, a
renúncia de Firmino Filho implicaria entregar a prefeitura nas mãos de um adversário. Porém, a explicação de
Bonfim deixa uma lacuna na medida em que, se o prefeito tinha o PFL como adversário naquele momento, como
explicar o seu empenho que resultou na aliança entre PFL e PSDB nas eleições de 2002?
114
As pesquisas demonstravam que a eleição estava polarizada entre a candidatura do governador Hugo
Napoleão, do PFL, e a candidatura do deputado federal Wellington Dias, do PT.
115
Coalizão de partidos que reelegeu o governador ―Mão Santa‖ em 1998 e que permaneceu como base de
sustentação do governo até a cassação do governador em Novembro de 2001.
125

malversação dos recursos públicos, isolando-se em termos de prática oposicionista.


Assim, à medida que crescia a aceitação de Wellington Dias nas pesquisas de
opinião, crescia também o leque de forças políticas tradicionais a dar apoio à sua
candidatura. Durante o mês de setembro, todo o PMDB não alinhado com o Hugo
Napoleão (PFL) fazia campanha aberta em favor do candidato, participando de seus
comícios pelo interior do Estado e municiando-o com recursos, transporte e, mais
ainda, assumindo no programa eleitoral gratuito um discurso agressivo, que muitas
vezes levou a Justiça Eleitoral a retirá-lo do ar. No rádio e na TV, portanto, o PT
construía uma campanha propositiva, sem ataques ou denúncias, ajudando a dar
solidez à imagem nova e de esperança de seu candidato ao governo (BONFIM,
2002, p. 4 – 5).

Portanto, as eleições de 2002 representaram mudanças mais amplas na arena eleitoral e


principalmente nos resultados na medida em que o Partido dos Trabalhadores (PT), mesmo
lançando candidato ao governo constantemente, exceto em 1998, e apesar do crescimento de
suas candidaturas, jamais tinha instituído uma candidatura competitiva. Em 2002 foi não
somente competitiva mas vitoriosa, elegendo um líder que construiu sua carreira política junto
aos movimentos sociais, um fato pouco possível de acontecer até pouco tempo em um Estado
como o Piauí, dominado pelas heranças do bipartidarismo. O candidato eleito foi o deputado
federal Wellington Dias, uma liderança formada no movimento sindical surgido na década de
70116.
Wellington vinha de uma carreira política consistente, conquistado sucessivas vitórias
ao ser eleito vereador de Teresina, deputado estadual e deputado federal de forma
consecutiva. Foi derrotado apenas nas eleições de 2000 quando disputou a prefeitura de
Teresina e conquistou cerca de 30% dos votos, mas essa derrota não o deixou sem mandato já
que tinha sido eleito deputado federal em 1998, tendo mandato até primeiro de Janeiro de
2003.
Wellington Dias foi eleito por uma coligação que tinha PT, PCdoB, PL e PMN, uma
coligação que não teve formalmente a incorporação de grandes partidos. Porém, recebeu
amplo apoio de outros partidos e lideranças partidárias que levaram as eleições piauienses,
pela primeira vez, a deixar de ser polarizada entre PFL e PMDB117, passando então a ser
polarizada entre PFL e PT, mas com a decisão influenciada pelo PMDB.
Apesar da polarização, a ponto de haver apenas uma pequena diferença proporcional de
votos entre os dois candidatos, pela primeira vez desde o advento do segundo turno as

116
Segundo Cleber de Deus (2006).
117
Apesar de em 1990 a polarização ter ficado com PFL e PSDB, salienta-se que o PMDB não lançou candidato,
mas seu apoio ao PSDB, com um candidato recém-saído do PMDB, foi essencial para que a candidatura tucana
fosse competitiva, visto que o PSDB nunca teve uma estrutura partidária consistente no interior do Estado, ao
contrário do PMDB, que sempre teve uma ampla estrutura partidária no Estado.
126

eleições no Estado do Piauí foram decididas logo no primeiro turno. O deputado petista
Wellington Dias venceu o governador pefelista Hugo Napoleão com 51% contra 44.1% dos
votos válidos. Desde então, temos uma nova configuração político-eleitoral e partidária no
Estado, pois os dois grandes partidos, PMDB e PFL, que herdaram uma larga estrutura do
bipartidarismo e polarizaram a arena eleitoral, deixam de assumir as frentes de governo e de
oposição e passam a buscar alianças para se manterem no Parlamento e ocuparem espaços no
Governo.
Enquanto o PFL tem passado por constante declínio (EPITÁCIO, 2010), inclusive sendo
rejeitado na aliança com seu grande aliado nacional em 2006118, o PMDB, mesmo com as
baixas sofridas, tem se sobressaído ao optar pela arena parlamentar e pela formação de uma
base parlamentar. Em troca disso, mantém seu poder de barganha e consegue ocupar espaços
na estrutura do Estado, indicando partidários para Secretarias de estado e para outros postos
de segundo e terceiro escalões de governo, o que tem viabilizado a distribuição de recursos e,
pela lógica da cartelização partidária, engajado um desempenho regular na arena eleitoral
parlamentar.

GRÁFICO XXV: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas Eleições para a Câmara
dos Deputados, 2002.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

Apesar do reordenamento político-partidário ocorrido com o Executivo, no Legislativo


as mudanças foram tímidas. O PFL e o PMDB ficaram relativamente estáveis em relação às
eleições anteriores na conquista de cadeiras na Câmara dos Deputados. Porém, ambos com

118
Em 2006 o PSDB lançou o ex-prefeito de Teresina Firmino Filho a Governador do Piauí e não aceitou uma
coligação com o PFL, apesar da coligação nacional entre eles.
127

uma porcentagem bem menor de votos como reflexo do crescimento de outros partidos. Além
disso, pela primeira vez houve cinco partidos conquistando cadeiras na Câmara dos
Deputados, com a vaga obtida pelo PCdoB.

Não obstante todas estas constatações, é mister enfatizar que se trata de interpretar
dois pleitos radicalmente distintos. A força que impulsionou o PT à vitória para o
Executivo não se fez presente no que tange ao pleito proporcional. [...], a coligação
PFL – PSDB – PPB conseguiu obter vitória expressiva, elegendo o senador mais
votado e as maiores bancadas federal e estadual. Mas, o que é mais expressivo e
representativo da política piauiense, em termos de permanência e continuidade, está
expresso nos números que revelam o perfil dos eleitos para a Assembleia Legislativa
e a Câmara Federal (BONFIM, 2002, p. 5).

O PFL caiu de 38.5% em 1998 para 31% dos votos em 2002, reduzindo também suas
cadeiras de cinco em 1998 para quatro em 2002. O PMDB reduziu de 28.4% em 1998 para
18.8% dos votos em 2002, mas manteve suas duas cadeiras na Câmara dos Deputados. A
redução na porcentagem de votos não implicou perda de cadeiras pelo PMDB. O PSDB, por
sua vez, cresceu de 9.4% em 1998 para 19.3% dos votos válidos em 2002, mais que dobrando
sua votação, dobrando também suas cadeiras ao aumentar de uma para duas.
O PT, mesmo elegendo o Governador, cresceu bem menos que o PSDB. Saiu de 10.9%
em 1998 para 16.5%, dos votos, apenas mantendo sua cadeira, enquanto o PCdoB, que em
1998 não atingiu 1% dos votos, em 2002 conquistou 5.3%, conseguindo sua primeira cadeira
na Câmara pelo Estado do Piauí, além de ter elegido o vice-governador.

GRÁFICO XXVI: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas Eleições Para a
Assembleia Legislativa, 2002.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)


128

Em 2002 as disputas por cadeiras no Legislativo estadual ficaram mais acirradas entre as
agremiações partidárias. O reordenamento do poder aumentou o potencial de outros partidos,
mas os grandes partidos tradicionais continuaram com larga vantagem, ou seja, o desejo de
mudança que levou à eleição do petista Wellington Dias não teve os mesmos reflexos na
Assembleia Legislativa, embora a quantidade de partidos representados tenha aumentado de
sete para oito.

Neste sentido, conforme o Prof. Ricardo Arraes, a eleição piauiense tem de ser
interpretada a partir deste duplo cenário, em que o poder Executivo se renova em
direção a uma plataforma política de esquerda, enquanto as representações federal e
estadual indicam inequivocamente para a continuidade do quadro político que se
construiu no Estado ao longo de toda a sua história política (BONFIM, 2002, p. 6).

O PFL foi derrotado para governador pela terceira vez consecutiva e sofreu uma pequena
redução de sua bancada estadual, de dez para nove parlamentares. Mesmo com três derrotas
seguidas, até 2002 jamais deixou de fazer a maior bancada no Legislativo estadual e na
Câmara Federal. Nessas eleições o partido reduziu sua proporção de votos de 30.4% em 1998
para 26.9% em 2002, reduzindo sua bancada de dez para nove deputados estaduais,
permanecendo, porém, com a maior bancada.
O PMDB manteve-se na mesma posição na Assembleia desde 1982, com a segunda
maior bancada, reduzindo entretanto sua votação de 27.8% em 1998 para 18.3% dos votos no
pleito em análise. O PSDB subiu de 13.1% em 1998 para 16.9%. Porém, não aumentou sua
bancada, que permaneceu em quatro parlamentares eleitos. O PT subiu de 6.6% para 9.6%
dos votos, mas triplicou sua bancada que subiu de uma para três cadeiras na Assembleia
Legislativa.
Percebe-se que as consequências da cassação do governador peemedebista ―Mão Santa‖
em 2001 provocaram um efeito negativo sobre o desempenho do PMDB na arena eleitoral.
Ao contrário de 1998, quando o partido governava o Estado e conseguiu aumentar sua
bancada de cinco para nove deputados estaduais, e de dois para três deputados federais, em
2002 o partido reduziu suas cadeiras na Câmara dos Deputados de três para duas e reduziu sua
bancada estadual de nove para seis deputados. Mas não deixou de ficar entre as maiores
bancadas, tanto na Câmara dos Deputados quanto na Assembleia Legislativa, e ainda elegeu o
ex-governador ―Mão Santa‖ como Senador, passando a ter dois dos três senadores do Piauí.
129

Mesmo não tendo apoiado formalmente a eleição do petista Wellington Dias, o PMDB,
ou ao menos a maioria de suas lideranças, se aproxima do Governo logo nos primeiros meses
de mandato. A maioria dos parlamentares peemedebistas passa então a compor a base do
governo e, em contrapartida, a ocupar cargos na estrutura governamental. Segundo Freitas
(2010, p. 123), o peso que o PMDB geralmente tem no Legislativo é fundamental para se
aproximar do Governo e ter acesso a cargos, de forma que mesmo não tendo feito nenhuma
indicação imediata no secretariado de Wellington Dias, no decorrer do mandato o partido fez
a indicação de quatro Secretários, o que se refletirá positivamente nas eleições seguintes.

GRÁFICO XXVII: Desempenho dos partidos que disputaram o governo do Estado do Piauí nas eleições de
2006, primeiro turno.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

Nas eleições de 2006 estava desenhado um quadro político-eleitoral favorável à reeleição


do governador Wellington Dias. De fato, além de a viabilidade de quem está no poder se
reeleger já ser, em geral, ampla, outros fatores foram favoráveis. Desde 1998, quando foi
disputada a primeira reeleição, até hoje, os dois Presidentes da República foram reeleitos:
Fernando Henrique em 1998 e Luís Inácio Lula da Silva, o Lula, em 2006. No Estado do
Piauí apenas Hugo Napoleão não conseguiu se reeleger, em 2002, mas isso deve igualmente
ser visto pelas condições ambientais em que o PFL disputou a reeleição, as quais já foram
discutidas acima. Todos os demais candidatos à reeleição foram reeleitos. Além disso,
130

Uma série de fatores poderia explicar o favoritismo do petista, dentre os quais pode
se destacar: 1) a boa avaliação do Governo Federal e do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, do mesmo partido do governador; 2) os benefícios de programas sociais,
como o Bolsa Família, fortemente vinculados à administração federal petista; 3) o
controle de recursos públicos por parte do governador, fundamentais na articulação
de apoios junto às lideranças locais; e, por fim, 4) a fragmentação e desorganização
da oposição, o que fortaleceu, consequentemente, a candidatura do governador
(FREITAS, 2010, p. 125)

Nessas eleições o PT, beneficiando-se de ser governo, institucionalizou uma coligação


bem mais ampla que em 2002. A coligação foi formada por PT, PSB, PTB, PCdoB e PL. O
PCdoB não indicou mais o vice, pois o então vice-governador Osmar Júnior disputou e foi
eleito deputado federal. O candidato a vice foi indicado pelo PSB com o nome do ex-
peessedebista Wilson Nunes Martins119, que tinha sido eleito deputado estadual em 2002 pelo
PSDB, tendo porém deixado este partido e se filiado ao PSB. Wilson Martins também já
havia ocupado o cargo de Secretário de Desenvolvimento Rural no governo petista.
O PSDB e o PFL, os quais durante a administração petista estavam formalmente
compondo a oposição, ensaiaram uma aliança eleitoral. O PSDB lançou o ex-prefeito de
Teresina Firmino filho ao Governo do Estado, mas acabou por não aceitar a coligação com
PFL. Segundo Freitas (2010, p. 125), o distanciamento entre PSDB e PFL aconteceu em
decorrência do alto índice de rejeição do eleitorado ao PFL. Por isso, o PDSB fez uma aliança
composta por PSDB, PV e PTdoB, ao passo que o PFL, pela primeira vez na história, deixa
de lançar candidatura ao governo do Estado do Piauí.
Por outro lado o PMDB, como de práxis, encontrava-se dividido entre uma ala que
defendia candidatura própria, lançando o nome do senador ―Mão Santa‖, e outra defendendo
uma aliança em apoio à reeleição do governador Wellington Dias. A convenção do partido
decidiu pela candidatura própria e o senador foi lançado candidato peemedebista. Porém, a ala
que já estava alinhada ao governo do PT decidiu não apoiar ―Mão Santa‖ e permanecer
informalmente apoiando o candidato petista.
Frente às desarticulações que marcavam as candidaturas de oposição, não foi difícil para
o governador Wellington Dias se reeleger com ampla diferença sobre o peemedebista, que foi
o segundo colocado. De fato, foi a maior diferença já conquistada por um candidato ao
governo do Estado do Piauí desde a redemocratização. O petista foi reeleito com 61.7% dos
votos válidos, contra 25.3% do PMDB e 12.2% do PSDB.

119
Wilson Martins foi eleito vice-governador em 2006 e assumiu o governo em Abril de 2010, com a renúncia
do governador Wellington Dias para se candidatar ao Senado. Wellington foi eleito senador e Wilson Martins foi
reeleito governador do Estado em 2010.
131

Apesar da derrota do PMDB para o Executivo estadual, de forma geral o partido não
sofreu declínio nas disputas por cadeiras no Legislativo. Como será visto a partir da discussão
sobre os dados dos gráficos seguintes, o PMDB novamente se beneficia do fato de ter estado
no Governo para formar uma bancada forte no Legislativo, fato recorrente tanto para a
Assembleia Legislativa quanto para a Câmara dos Deputados.

GRÁFICO XXVIII: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas Eleições Para a
Câmara dos Deputados, 2006.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

Nas disputas por cadeiras na Câmara dos Deputados, a competitividade permaneceu em


crescimento, como já acontecera em 2002. A quantidade de votos destinados aos partidos que
não conquistaram cadeiras ficou estável em relação a 2002, pois nessas eleições esses partidos
tiveram 9.3% dos votos, enquanto em 2006 conquistaram 10.80%.
Em contrapartida, pela segunda vez consecutiva aumentou a quantidade de partidos
representados na Câmara Federal. Em 2006 o Estado do Piauí saiu de cinco e passou a ter seis
partidos com representação na Câmara dos Deputados, ou seja, a fragmentação partidária
passou a refletir-se mais fortemente sobre a competição, aumentando a quantidade de
instituições que compõem a representação política do Estado no Legislativo Federal.
Nessas eleições ocorreu igualmente a maior diferença proporcional entre a votação do
Executivo e a do Legislativo no que se refere ao partido que conquistou o Governo do Estado.
De fato, as duas maiores diferenças entre a votação do Executivo e os votos do Legislativo do
partido que venceu as eleições majoritárias ocorreram nas eleições em que deixou de haver
132

uma polarização entre o PMDB e o PFL, ou seja, nas duas vezes em que o PT conquistou o
Governo do Estado. Como visto nos gráficos, em 2002 o PT elegeu o governador com 51%
dos votos, enquanto seus candidatos a deputado federal somaram apenas 16.5%. Em 2006 o
PT reelege o governador com 61.7% dos votos, e seus candidatos à Câmara Federal somam
apenas 18.1% dos votos válidos.
O PSDB obteve um padrão de votação muito próximo entre o Executivo, que ficou com
12.2%, e o Legislativo, que obteve 14.3% dos votos, inclusive com um padrão inverso do que
normalmente acontece, já que, via de regra, a soma da votação dos candidatos ao Legislativo
é menor que a votação do Executivo, ainda mais em um momento de crescimento da
fragmentação partidária, no qual as diferenças proporcionais de votos entre Executivo e
Legislativo tenderam a aumentar.
Enquanto isso o PMDB manteve um padrão de votos no Legislativo, mas em relação a si
mesmo nas eleições anteriores, pois em 2002 obteve 18.8% dos votos e em 2006 conquistou
17.1%. Além disso, apesar de todas as transformações que aumentaram a quantidade de
partidos com representação na Câmara Federal, o PMDB manteve o padrão de vagas
conquistadas na Câmara dos Deputados ao permanecer com dois deputados federais. Na
realidade, desde as primeiras eleições após a redemocratização até o pleito de 2006 o PMDB
mantém um padrão ao conquistar no mínimo duas Cadeiras na Câmara dos Deputados.
Apenas em 1982 o partido conquistou três vagas de deputado federal, um momento no
qual ainda não havia democracia, voltando a conquistar três cadeiras em 1998, exatamente no
momento em que o partido era governo e buscou com êxito a reeleição para o Executivo. Esse
foi também o momento de melhor desempenho eleitoral do PMDB no Estado do Piauí. Um
desempenho referendado na visibilidade adquirida pelo exercício de poder no Estado.
Comparando o desempenho do PMDB para deputado federal com o desempenho do seu
maior concorrente durante esse período, percebe-se que o PMDB tem mantido maior
estabilidade, pois o declínio do PFL é visível na medida em que havia conseguido 50% das
cadeiras de deputado federal desde 1986 até 1998, de forma ininterrupta, caindo para quatro
cadeiras em 2002 e para duas em 2006. O PMDB, por sua vez, permaneceu estável em uma
eleição em que houve o maior equilíbrio entre os partidos, com PMDB, PFL e PT
conquistando duas cadeiras cada um na Câmara dos Deputados, ficando PSDB, PCdoB, PTB
e PP com uma cadeira cada.
Além disso, nenhum partido superou a barreira dos 20% dos votos válidos para a Câmara
dos Deputados, fato igualmente inédito. Porém, o maior equilíbrio aconteceu com o
crescimento de partidos como PSDB, PT e PCdoB nas eleições de 2002 e 2006, e com o
133

declínio do PFL nessas mesmas eleições, principalmente em 2006, visto que o PMDB
manteve o seu padrão em relação às eleições anteriores ao novamente assegurar suas duas
cadeiras na Câmara dos Deputados.

GRÁFICO XXIX: Desempenho dos Partidos na Arena Eleitoral do Estado do Piauí nas Eleições para a
Assembleia Legislativa, 2006.

FONTE: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

Nas disputas por cadeiras no Poder Legislativo estadual nas eleições de 2006, a força
político-eleitoral que demonstra o poder do PMDB em se manter estável na ocupação de
espaço no Legislativo aparece com mais evidência frente ao declínio apresentado pelo PFL e
ao crescimento de outras agremiações partidárias, como está demonstrado no gráfico acima.
Dessa forma, as eleições de 2006 foram as que levaram o maior número de partidos a
conquistarem cadeiras na Assembleia Legislativa do Estado do Piauí. Foi o momento em que
a Assembleia Legislativa passou a ter o maior número de partidos políticos representados
desde a redemocratização.
O PFL sofreu seu maior declínio ao perder mais da metade de sua bancada estadual,
caindo de nove deputados estaduais em 2002 para quatro deputados em 2006. O PSDB
cresceu significativamente, aumentando sua bancada de um para três deputados. O PT,
beneficiando-se da lógica de ser Governo, teve o melhor desempenho de sua história no
Estado do Piauí. Além de ter reelegido o governador e dobrado sua bancada federal de um
para dois deputados, aumentou sua bancada estadual de três para cinco deputados, ficando
134

pela primeira vez com a segunda maior bancada na Assembleia Legislativa, perdendo
exatamente para o PMDB, que pela primeira vez fez a maior bancada.
O PMDB uniu sua força já tradicionalmente consolidada desde os anos 80 com as forças
que estava agregando em decorrência de ocupar espaço no Governo120 para fortalecer seu
capital político e aumentar sua bancada legislativa. Em 2006, pela primeira vez, o PMDB saiu
da segunda posição na Assembleia Legislativa para formar a maior bancada estadual,
elegendo oito121 deputados estaduais, assim como ficou em primeiro lugar nas disputas para
deputado federal, só que aqui empatado com o PFL e o PT, cada um com duas cadeiras.
Portanto, se desde as eleições parlamentares da nova democracia em 1986 até as eleições
de 2002 o PMDB conquistou de forma ininterrupta a segunda posição no Parlamento
piauiense, formando a maior bancada pela primeira vez somente nas disputas eleitorais de
2006, pode-se afirmar que fica quantitativamente demonstrado que, seja comandando o
Governo do Estado, seja participando de um Governo de coalizão, como fez nas duas
administrações petistas, ou ficando na oposição, como fez nos governos do PFL, o PMDB
piauiense vem mantendo uma base parlamentar relativamente estável. E as oscilações
positivas122 aconteceram exatamente quando tinha o Governo do Estado, sofrendo redução de
seu desempenho eleitoral ao ficar na oposição.
É fato que, com exceção dos governos do PFL123, desde a redemocratização, quando
conquistou o Governo do Estado em 1986, até a atualidade o partido em discussão se perpetua
no poder seja no comando do Executivo seja compondo uma coalizão que forma a base de
sustentação do Governo.
Com isso, entende-se que o partido demonstra poder nos processos decisórios sendo
Governo ou até mesmo na oposição, pois sempre elege uma bancada relevante no Parlamento,
onde ganha força para barganhar, assim como ocupa cargos no Executivo quando participa de
um Governo de coalizão, como de práxis aconteceu nos dois governos do PT entre 2003 e
2010. E é o que continua a acontecer, dando continuidade na formação da base de sustentação
do governador Wilson Martins, do PSB.

120
Apesar de o PMDB ter lançado candidatura própria com o senador ―Mão Santa‖ nas eleições de 2006, não se
pode esquecer que a maioria das lideranças peemedebistas fazia parte da base de apoio ao governo petista e por
isso justificaram que não podiam deixar de apoiar a candidatura à reeleição do governador Wellington Dias.
Portanto, o fato de estar no Governo e apoiar uma candidatura com todas as possibilidades de sair vitoriosa
contribuiu para fortalecer o PMDB no Legislativo.
121
Apesar de essa não ter sido a maior bancada eleita pelo PMDB, pois já havia elegido dez deputados estaduais
em 1982, nove em 1990, e nove em 1998, porém, nessas sempre ficou com a segunda posição, enquanto em
2006, com oito deputados, ficou com a maior bancada.
122
Quando o partido aumenta suas conquistas de uma eleição para outra. O inverso ocorre quando o partido sofre
um declínio eleitoral nas eleições seguintes.
123
Em todo esse período em discussão o PFL governou o Estado apenas por cinco anos.
135

4.4 A LÓGICA DA CARTELIZAÇÃO PARTIDÁRIA: A RELAÇÃO DO PODER


COM O DESEMPENHO DO PMDB NA ARENA ELEITORAL PIAUIENSE

Para Lima Júnior (1983; 1997b), Moraes Filho (1997), por mais que as regras de
funcionamento do sistema eleitoral e partidário sejam uma atribuição de exclusividade da
União, já que as unidades federadas não têm competência para legislar sobre eleições e
partidos, os subsistemas partidários nos estados conseguem estabelecer as diferenças
significativas na forma de estruturar os partidos e no funcionamento dos mesmos em cada
subsistema partidário e eleitoral.
Por essa lógica, a heterogeneidade das regiões brasileiras possibilita que um mesmo
partido político tenha organizações e atuações diferentes nos estados e nesses em relação à
sua organização nacional, de forma que as decisões tomadas internamente pelo partido nos
estados nem sempre serão influenciadas pela decisão que o partido toma no âmbito nacional e
vice-versa. As clivagens nacionais concedem autonomia às instituições para se adequarem às
regiões. Tais clivagens estão para além do marco institucional.

A diversidade de formatos partidários no plano estadual não é consequência dos


atributos do marco institucional legal – que é uma constante, dado o caráter nacional
da legislação eleitoral e partidária -, mas sim das condições contextuais, estaduais,
portanto, que cercam o processo eleitoral, que, resumidamente, podem ser
apreendidas como a correlação de forças prevalecente, tanto em sua expressão
partidária, quanto em sua versão eleitoral, sobre a distribuição das preferências
eleitorais (LIMA JÚNIOR, 1997b, p. 304).

Não obstante, a lógica da cartelização partidária, no que se refere ao PMDB, está


diretamente ligada aos seus vínculos com o poder, que é uma característica do partido não
apenas no Piauí, mas no âmbito nacional. Contudo, as clivagens regionais têm suas
especificidades na estruturação do partido e de governos.
A formação de governos de coalizão, o que é frequente nas democracias atuais como a
brasileira (MORAES FILHO, 2001), e como tem ocorrido no Piauí, é, segundo Meneguello
(1998), um ponto estratégico para que os partidos que obtiveram maior votação nas eleições, e
consequentemente formaram as maiores bancadas no Parlamento, tenham mais força tanto
para comporem a base do Governo no Legislativo quanto para barganharem cargos como
ministérios no Governo Federal ou secretarias, no caso dos Governos Estaduais. Além das
coalizões, o que mais fortalece os partidos é encabeçar governos.
136

Por essa lógica, a relação de distanciamento entre a sociedade e os partidos políticos, fato
que está ocorrendo muito mais devido à sociedade vir gradativamente se distanciando dos
partidos do que pelos partidos se distanciarem da sociedade124, tem levado os partidos a se
aproximarem do Estado (KATZ e MAIR, 1995; MAIR, 2003). Se as agremiações partidárias
passaram a ser vistas como instituições em declínio no que se refere às suas funções
representativas, não se pode esquecer a afirmativa de Mair (2003), segundo a qual as suas
funções foram não apenas preservadas como se tornaram mais relevantes.

Em outras palavras, assim como os partidos mudaram da sociedade para o Estado, as


funções que estes desempenham, e se espera que desempenhem, mudaram de uma
ação principalmente representativa para uma ação principalmente governativa. Esta
mudança enfatiza também um aspecto importante relativo ao suposto «declínio dos
partidos»: de fato, os partidos enquanto tais não declinaram, mas modificaram-se e
encontram-se hoje cada vez mais implantados nas instituições. Por outro lado,
parece cada vez mais evidente a ocorrência de um acentuado declínio das
organizações partidárias — pelo menos quando avaliadas em termos de simples
dimensão, penetração social e relevância (MAIR, 2003, p. 285).

Entende-se que a cartelização partidária tem como lógica básica a presença do partido
em pontos estratégicos do Estado para se apoderar de recursos estatais e viabilizar a
distribuição dos mesmos, podendo não apenas ganhar visibilidade pelos espaços que ocupa,
mas, principalmente, utilizar-se desses recursos como moeda de troca para receber apoio
político-eleitoral, fortalecendo-se na arena eleitoral e, consequentemente, mantendo-se
fortalecido no Parlamento e junto ao governo. Segundo essas perspectivas, ―os partidos
tornam-se mais distantes dos cidadãos. As suas organizações começam a se definhar‖ (MAIR,
2003, p. 280).
Pela concepção de partido de cartel definida por Katz e Mair (1995), entende-se que ao
se aproximar do Estado os partidos garantem recursos que formam um capital político, o qual
passa a ser utilizado pelos mesmos e pelas suas lideranças para garantirem a permanência de
uma elite partidária que se verticaliza de forma coesa e controla a ascensão de novas
lideranças na competição partidário-eleitoral, visto que as novas lideranças, ou candidatos a
novos líderes, ―não são financiados por recursos estatais e, consequentemente, enfrentam
custos mais elevados na disputa política‖ (EPITÁCIO, 2010, p. 21).

124
O distanciamento vem ocorrendo nas últimas décadas em decorrência da redução da participação da
sociedade civil junto aos partidos. Ou seja, nos tempos dos partidos de massa havia uma participação muito mais
intensa da militância. Os partidos funcionavam como grandes canais de informação, enquanto que nas últimas
décadas surgiram outros canais informativos. Os meios de comunicação de massa representam o maior exemplo
disso.
137

GRÁFICO XXX: A Relação de Desempenho Eleitoral Entre o Executivo e o Legislativo: O PMDB nas
Eleições de 1986, 1994, 1998125, Respectivamente126;

Fonte: Dados Eleitorais de Jairo Marconi Nicolau (IUPERJ)

O gráfico acima demonstra as relações de desempenho entre o Executivo, o Legislativo


federal (Legislativo I), e o Legislativo estadual (Legislativo II). Percebe-se que as oscilações
ocorrem todas na mesma direção, ou seja, cada vez que ocorre um aumento no desempenho
do Executivo na arena eleitoral, o mesmo provoca um efeito positivo sobre as duas instâncias
do Legislativo, fazendo-as igualmente aumentarem. A recíproca é igualmente verdadeira. No
momento em que o Executivo desenvolve um movimento declinante, reduzindo seu
desempenho na arena eleitoral, ocorre também uma redução no desempenho das duas
instâncias do Legislativo na arena eleitoral.
Outra questão fundamental que os dados apresentam é que os momentos de crescimento
do desempenho do partido na arena eleitoral, tanto no Executivo quanto nas instâncias do
Legislativo, coincidem com os momentos em que o mesmo esteve diretamente ocupando
espaço no poder estatal, seja em nível nacional ou local. Assim sendo, entende-se que a forma
através da qual o PMDB se organiza coloca-o a certa distância da sociedade civil, ficando, em
contrapartida, cada vez mais próximo e mais dependente da ocupação de espaços estratégicos
no Estado para distribuir recursos e transformá-los em mecanismos propulsores do
desempenho eleitoral (KATZ e MAIR, 1995; GUEDES, 2006; ANDREIS, 2008).

125
A escolha dessas três eleições se deu em decorrência de terem sido exatamente as eleições em que o PMDB
conquistou o Governo do Estado.
126
Além do Executivo (o Governo do Estado), o que aqui se denomina Legislativo I são os deputados federais, e
o Legislativo II os deputados estaduais.
138

Percebe-se que além de haver um índice muito próximo nas eleições de 1986 e 1998,
quando o PMDB tinha o Executivo Federal e o Estadual, respectivamente, ocorre uma
redução significativa no desempenho do partido na disputa por cadeiras na Assembleia
Legislativa notadamente em 1994, quando o partido era oposição, assim como ocorre um
desempenho na arena eleitoral com proporções muito próximas nas eleições entre as disputas
por cadeiras na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa do Estado nas eleições de
1986 e 1998.
Em contrapartida, em ambas as instâncias do poder Legislativo, Câmara dos Deputados e
Assembleia Legislativa do Estado, há uma redução no desempenho do partido nas eleições de
1994. Ou seja, coincidem as oscilações no desempenho nas diversas instâncias de disputa de
que o partido participa conforme a ocupação de espaços de poder ou quando disputa eleições
sem estar ocupando poder, ou seja, na oposição.

Os partidos são organizações fundamentais porque participam dos três momentos


decisivos do sistema representativo. Os partidos são decisivos no momento eleitoral,
uma vez que os políticos devem pertencer a um deles a fim de se fazer apto a
disputar um cargo. Os partidos são fundamentais na organização dos cargos no
Executivo e no Legislativo (ministérios, Secretarias). Por último, eles controlam
parte da burocracia responsável pela implementação de políticas (NICOLAU, s/d p.
3). (Tradução nossa).

Em virtude dessa propensão, é possível afirmar que o Partido do Movimento


Democrático Brasileiro – PMDB – está passando por um processo de realinhamento, ou mais
especificamente, por um processo de cartelização. A sua presença junto ao Estado tem
demonstrado ser um fator decisivo para as oscilações positivas no seu desempenho na arena
eleitoral, muito mais que a sua relação com a sociedade, pois a sociedade tem se distanciado
dos partidos.
Portanto, o distanciamento dos espaços do Estado deve ter provocado um declínio no
desempenho do partido em nível nacional, se comparado a 1986. Em 1994 o PMDB
conquistou 33.3% dos governos estaduais, 25% das cadeiras do Senado Federal, 20.9% das
cadeiras da Câmara dos Deputados e 19.6% das cadeiras das Assembleias Legislativas das
unidades da Federação. Esse pode ser considerado bom desempenho, se for considerada a
multipartidarização responsável pelo crescimento de competidores efetivos, sendo entretanto
um desempenho modesto se comparado a 1986. Porém, as eleições de 1990 já demonstravam
esse declínio, e o ano de 1994 já denotaria uma estabilidade em relação a 1990 (FERREIRA,
2002, p. 168 – 169).
139

GRÁFICO XXXI: Relação Entre o Número de Municípios do Estado e de Prefeituras Conquistadas pelo
PMDB no Estado do Piauí: 1982 – 2004.

FONTE: Tribunal Regional Eleitoral do Piauí; TRE – PI

De modo geral, o desempenho do PMDB nas disputas eleitorais municipais não foge aos
padrões do seu desempenho no âmbito estadual. Percebe-se que o partido, ao iniciar sua
atuação na arena eleitoral democrática em 1982, inicia um processo de evolução na conquista
de prefeituras para em seguida ficar relativamente estável, apesar de haver uma diferença
inicial, pois nas eleições estaduais de 1982 o PMDB foi mais competitivo ao conquistar uma
proporção bem maior de cadeiras nas instâncias legislativas do que sua proporção de
prefeituras conquistadas nas mesmas eleições.
Observando-se os dados, vê-se que nos momentos em que o partido estava na oposição
estadual o desempenho foi mais baixo, a começar por 1982, quando havia um domínio do
PDS no interior do Estado. Em 1982 o PMDB obteve o pior desempenho eleitoral nas
eleições municipais piauienses. Naquele momento o Piauí tinha 115 municípios e o PMDB
conquistou apenas dez prefeituras, o que representou tão somente 8.7% das prefeituras no
Estado, ficando as demais 91.3% com o PDS. Ou seja, na prática ainda existia um sistema
bipartidário, visto que além das prefeituras, o Governo do Estado, a vaga no Senado e todas as
cadeiras de deputados estaduais e de deputados federais ficaram distribuídas desigualmente
entre o PDS e o PMDB. Mas ainda sob o domínio do PDS.
Em 1988, a quantidade de municípios havia aumentado para 118 e o PMDB aumentou
suas prefeituras de 10 para 27, quase triplicando seu desempenho por unidade conquistada,
uma proporção que saiu de 8.7% para 22.9%. Nesse momento, o PMDB tinha Diretórios em
117 dos 118 municípios do Estado, um crescimento da estrutura partidária e do número de
140

prefeituras que está diretamente vinculado ao momento em que o partido encabeçava o


Executivo estadual.
Em 1992 o PFL governava o Estado. O PMDB estava na oposição, mas, como de práxis,
a estrutura partidária se mantinha ampla. Contudo, o potencial de desempenho do partido foi
reduzido quase que pela metade. Nesse momento, a quantidade de municípios já representava
147 e o partido tinha 125 diretórios. A quantidade de prefeituras que ficaram com o PMDB se
reduziu para 18, uma proporção de apenas 12.2%. Tal declínio representou os reflexos do fato
de ser oposição ao Governo.
As eleições de 1996 representam um momento em que o PMDB havia retomado o
Executivo estadual. A estrutura partidária permanece ampla e a conquista de prefeituras volta
a repetir os reflexos da lógica de ser Governo, como acontecera em 1988. O Piauí já possuía
220 municípios e o PMDB estava com 194 diretórios, conquistando 41 prefeituras.
Proporcionalmente, 18.6% dos municípios.
No ano 2000 o PMDB continuava governando o Estado – o partido havia reelegido o
governador ―Mão Santa‖ em 1998, além de ter formado sua maior bancada parlamentar
estadual e federal de todo esse período em estudo (1986 – 2006). A estrutura partidária, que
sempre foi ampla, havia crescido ainda mais. O Estado estava com 222 municípios e o PMDB
estava com 213 diretórios municipais. Uma vez mais, a lógica de ser Governo, que já havia
aparecido nas eleições municipais de 1996 e nas eleições estaduais de 1998, ficou evidenciada
nas disputas municipais de 2000, quando o PMDB conquistou 47 prefeituras, uma proporção
de 21.2% dos municípios.
Em 2004 o PMDB não mais encabeçava o Executivo estadual, mas não deixou de ser
Governo, pois estava na coalizão de apoio ao Governo petista. Apesar de não ter sido possível
identificar a quantidade de diretórios nesse momento, pressupõe-se que permanecia ampliada,
de forma que o partido elegeu 39 prefeitos no Estado, que contava com 222 municípios. Uma
proporção de 17.56% das prefeituras.
De fato, os mais elevados desempenhos do PMDB aconteceram em 1988, 1996, 1998, e
2000, e estiveram vinculados aos momentos em que o partido tinha o Executivo estadual.
Assim como seu pior desempenho eleitoral se deu nas eleições de 1982 e 1992, exatamente
quando o partido era oposição. Portanto, a trajetória do PMDB na arena eleitoral do estado do
Piauí tem sido marcada pela relação de poder ou pela sua ausência, o que gera oscilações
crescentes ou decrescentes em função de ser governo ou oposição.
Tudo isso acontece em uma arena eleitoral em que as eleições para o Governo do Estado
sempre estiveram polarizadas entre dois partidos, mesmo mudando os polos, mas sem mudar
141

a quantidade de organizações partidárias. Não obstante, as eleições legislativas passaram por


transformações profundas, de forma que a quantidade de partidos representados pelo Piauí na
Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa em 1982 era de apenas dois, passando o
Parlamento piauiense, a partir das eleições de 2006, a ter onze partidos representados. Porém,
o PMDB demonstra ser, dentre os grandes partidos, o que melhor manteve seu desempenho
eleitoral, principalmente no Parlamento.
O crescimento da quantidade de partidos efetivos, mesmo reduzindo a votação das
grandes agremiações, não tirou o PMDB das primeiras posições no Parlamento. Esse partido
jamais deixou de ter a segunda ou a primeira representação na Assembleia Legislativa do
Estado do Piauí, assim como na conquista de cadeiras que cabe ao Estado do Piauí no
Congresso Nacional.
142

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo que foi discutido nesta dissertação, conforme as oscilações que os dados eleitorais
demonstraram no desempenho do partido na arena eleitoral durante essas duas décadas em
estudo, pode-se afirmar que o Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB – tem
evidenciado sua relação de dependência no que se refere à ocupação de espaços de poder na
estrutura estatal na medida em que, mesmo o partido tendo se mantido fortalecido em todo
esse período no Estado do Piauí, seus melhores resultados eleitorais aconteceram,
invariavelmente, nas eleições em que se encontrava com vínculos com o poder,
principalmente nos momentos que teve o Executivo estadual.
Os dados eleitorais deixam claro que houve oscilações positivas (crescimento no
desempenho eleitoral) quando o partido é poder, assim como oscilações negativas (redução de
desempenho eleitoral) quando é oposição. E essas oscilações têm ocorrido tanto no Executivo
quanto no Legislativo. Além disso, há uma relação positiva para o Legislativo na medida em
que o Executivo consegue implementar um bom desempenho na arena eleitoral. Ou seja, o
Executivo funciona como impulsionador do Legislativo, havendo uma relação de dependência
positiva.
Portanto, há relações de dependência: por um lado a dependência do partido com relação
à estrutura do Estado; por outro, uma dependência no desempenho eleitoral do Legislativo
com relação ao desempenho eleitoral do Executivo. Logo, entende-se que o modelo de partido
de cartel é adequado para analisar o PMDB, ou seja, o processo de cartelização está se
fazendo presente na forma de atuação do partido, já que o Estado tem se tornado cada vez
mais importante no desempenho do mesmo.
Entende-se que as prerrogativas do exercício de poder na administração estatal
viabilizam a alocação de partidários em posições estratégicas que, por sua vez, possibilitam a
estes a distribuição de recursos que autorizam a agregação de lideranças em torno daqueles
que ocupam cargos e distribuem recursos. Essa relação, estrategicamente, forma um capital
político em torno daqueles que ocupam cargos no Governo de tal modo que viabiliza sua
eleição, ou ao menos lhes concede uma votação expressiva que lhes beneficiará com a
recondução ao cargo ou a outro cargo, levando-os a permanecerem com seu capital político
fortalecido.
Segundo essa perspectiva, ao terem perdido a sociedade civil como sustentáculo, como
base para permanecer fortalecidos ou mantendo seu desempenho eleitoral, os partidos
143

políticos entram em processo de cartelização como estratégia de manter e/ou aumentar seu
capital político e, em troca, exercer poder, participar do poder, mantendo sua influência nos
processos decisórios e se fortalecendo para as eleições seguintes. Deve-se lembrar então que o
PMDB tem se mantido como um dos partidos mais fortes no Piauí, assim como raramente não
participa do governo.
Dessa forma, quanto mais ampla for a ocupação de poder por parte de uma instituição
partidária na estrutura estatal, maior será a formação e o fortalecimento do seu capital
político-eleitoral e mais viáveis serão suas empreitadas por cargos eletivos. Dessa forma, mais
competitivos serão os partidos que detiverem o poder. Além disso, se o capital político
fortalece o partido na arena eleitoral, o êxito nessa arena credencia o partido para ocupar
espaços na administração do Estado.
A prova disso são oscilações nos desempenhos eleitorais dos partidos. Conforme estejam
no poder, tendem a oscilar positivamente. Estando na oposição, tendem a oscilar
negativamente, assim como há diferenças entre ser governo estando à frente do Poder
Executivo e ser governo apenas compondo uma coalizão de apoio a um governo encabeçado
por outro partido.
Portanto, para compreender o PMDB, sua força e dinâmica eleitoral, assim como suas
oscilações no desempenho eleitoral, foi analisado como esse partido tem participado das
arenas de poder, seja no Executivo seja no Legislativo, para se perceber o quanto isso tem
influenciado positivamente no desempenho do partido na arena eleitoral e concedido ao
mesmo um capital político de tal forma que, em geral, quando não encabeça uma chapa
vitoriosa, utiliza-se de sua força política e de sua facilidade de articulação com as mais
diversas agremiações partidárias para fazer coalizões de Governo.
Analisando a participação do PMDB nos governos do Estado do Piauí, percebe-se que é
uma marca a sua presença junto ao poder e que os efeitos positivos de suas constantes
participações nos governos influenciam diretamente seu desempenho eleitoral.
De fato, durante o período em estudo ocorreram sete eleições estaduais e houve nove
governos. O PMDB foi o partido que governou o Estado por mais tempo, com três mandatos,
sendo um com Alberto Silva e dois com ―Mão Santa‖. Além disso, fez parte dos dois
governos petistas, compondo a base de apoio do governador Wellington Dias, assim como
ocupando secretarias. Atualmente faz parte do governo Wilson Martins, do PSB.
Durante todo o período analisado, o PMDB ficou na oposição apenas nos governos
Freitas Neto - PFL (1991 – 1994), Guilherme Melo - PPR (94), e Hugo Napoleão - PFL (2001
– 2002). Apesar de terem sido três governos, isso representa apenas pouco mais de cinco
144

anos, já que o governo Guilherme Melo foi de apenas nove meses, período em que o então
governador Freitas Neto renunciou a seu mandato para se candidatar ao Senado da República.
Guilherme Melo, como vice-governador, assumiu o comando do Estado. O governo Hugo
Napoleão, do PFL, durou apenas de novembro de 2001 a primeiro de Janeiro de 2003, o qual
teve início com a cassação dos mandatos do governador ―Mão Santa‖, do PMDB, e de seu
vice-governador Osmar Ribeiro de Almeida Júnior, do PCdoB, em Novembro de 2001.
O arranjo institucional que foi estabelecido junto com a redemocratização, e que
flexibilizou os procedimentos legais para a fundação de novos partidos políticos, tornou a
competição política extremamente ampla no que se refere à quantidade de instituições
partidárias, deixando os partidos políticos com liberdade para buscarem o poder
democraticamente. Além disso, o novo arranjo instituiu regras que, ao ampliarem
significativamente a quantidade de partidos na arena eleitoral, levaram à necessidade de os
governos incorporarem mais partidos em suas bases. Também no Parlamento houve uma
grande ampliação do número de partidos.
Ao proporcionar tal abertura, o arranjo institucional igualmente proporcionou a liberdade
para a formação das alianças eleitorais, o que tem levado os partidos a estruturarem
coligações com base não somente em afinidades ideológicas, mas igualmente no jogo de
interesses que pode fortalecê-los nas arenas eleitoral, parlamentar e governamental.
Com isso, os partidos de menor capital político-eleitoral dão prioridades às alianças
eleitorais com os partidos de maior capital político-eleitoral para fortalecer seus candidatos na
arena eleitoral e viabilizar cadeiras no Parlamento, podendo também chegar a ocupar cargos
de indicação na estrutura do Executivo.
Por outro lado, os grandes partidos buscam o apoio das pequenas agremiações partidárias
com o objetivo de ampliar a visibilidade sobre sua candidatura majoritária, o que também os
fortalecerá na arena eleitoral, pois o fortalecimento da candidatura ao Executivo impulsiona
de forma positiva sobre as candidaturas ao Legislativo.
Contudo, a formação de alianças eleitorais não se restringe aos objetivos eleitorais
imediatos. A participação de um partido no governo tem uma relação com sua contribuição no
processo eleitoral. O mais comum é que o partido que elege o governador seja majoritário na
formação do governo e que, em seguida, pela lógica, venham os partidos que compõem a base
com maior representação. Nesse caso, não necessariamente os partidos que estiveram na
aliança eleitoral. Ou seja, a base de sustentação de um governo não necessariamente se forma
unicamente com os partidos que estiveram coligados durante o processo eleitoral.
145

Passado o processo eleitoral não existe mais coligação, mas é necessário formar uma
base para a governabilidade, e é neste momento que se busca aliança política com partidos
que não estiveram juntos nas eleições. Nesse caso, é mais viável se aproximar de partidos que
não estejam muito distantes ideologicamente. É daí que os grandes partidos de centro, como é
o caso do PMDB, têm maior facilidade para se articular com os governos, tanto de partidos
mais à direita quanto de partidos mais à esquerda, para dar sustentação ao governo e formar
capital político para as eleições seguintes.
Ao se questionar quais os motivos que levaram o PMDB a quase sempre se articular com
o poder, o mais comum é ouvir que trata-se de um partido conservador, formado por
―caciques‖ que só visam ao poder para se beneficiar do mesmo. Porém, sem desconsiderar a
importância dessa afirmativa, não se deve ser reducionista ao extremo a ponto de não perceber
que existem outras prerrogativas que viabilizam tal comportamento partidário. A começar
pelo fato de que a busca pelo poder não é privilégio do PMDB, mas um objetivo que está
presente em qualquer partido que aceita competir na arena eleitoral conforme as regras
estabelecidas pelo arranjo institucional.
Outra questão que contribui para isso é que com a terceira onda de democratização, que
acontece a partir do final dos anos 70, o caminho do poder tem sido o centro, uma posição no
espectro ideológico em que vários partidos, ao se aproximarem da mesma, aproximam-se, por
exemplo, do PMDB, que é um partido tradicionalmente visto como de centro. Entende-se que
em um sistema político de alta fragmentação partidária há dificuldade na identificação do
eleitor com o partido, mas os partidos de centro têm se articulado com mais facilidade que os
partidos que ficam mais aos extremos do espectro ideológico.
Segundo essa perspectiva, os partidos de centro estão mais próximos da maioria e,
consequentemente, com maior poder de articulação e agregação. Mas além da posição central,
é fato que a figura da liderança também é fundamental, pois enquanto o PMDB, como partido
de centro, tem demonstrado essa capacidade de articulação, o PSDB, que também é visto
como um partido de centro, não teve força suficiente para se articular e expandir-se além da
capital do Estado durante o período estudado. Por mais que seja um partido forte na capital, a
recíproca não é verdadeira quando se trata do interior do Estado.
De fato, as lideranças deste partido estão concentradas na capital, onde venceu todas as
eleições municipais desde 1992 até as últimas em 2008. Mesmo assim, esses líderes não
conseguem formar bases eleitorais no interior do Estado. Assim, somente em 2010 o partido
lançou um candidato que teve um desempenho regular no interior, mesmo assim muito aquém
146

do seu adversário vitorioso. Uma vez mais, a grande votação do PSDB foi aconteceu em
Teresina.
Tampouco se pode negar que o tamanho do partido e sua força político-parlamentar
geram uma condição que, por um lado incentiva o governo a buscar esse capital político para
garantir a governabilidade, e por outro gera um poder de barganha ao partido que usa sua
força para viabilizar a ocupação de espaço no poder.
Os dois partidos que polarizaram as disputas eleitorais no Piauí, o PMDB e o PFL, foram
exatamente os que elegeram não somente mais governadores, mas também senadores,
deputados federais e deputados estaduais. Contudo, apesar de seus declínios nas disputas
eleitorais majoritárias, o PMDB é o único que mantém certa estabilidade nas eleições
proporcionais. Aliás, com o declínio do PFL, o PMDB em 2006 foi o partido que formou as
maiores bancadas no Legislativo piauiense. É mais um motivo para que o partido consolide as
articulações peemedebistas com os governos.
Mas não se pode deixar de enfatizar que o momento em que o PMDB estabelece seu
melhor desempenho eleitoral é quando governa o Estado, o que aconteceu em 1990, quando
Alberto Silva era governador, elegendo nove deputados estaduais e dois federais, e em 1998,
quando ―Mão Santa‖ governava o Estado e o partido voltou a eleger nove deputados estaduais
e três federais. Isso aconteceu também quando fez parte da coalizão de apoio do governo
Wellington Dias, do PT. Nesse momento, a agremiação elegeu oito deputados estaduais e
passou a ter a maior bancada da Assembleia, elegendo também dois deputados federais.
Observa-se, então, que a recíproca também é verdadeira. Como de práxis dos partidos
cartelizados, o desempenho eleitoral varia conforme a ocupação de poder. Portanto, a menor
bancada do PMDB no Legislativo estadual ocorre exatamente em 1994, quando o partido
estava na oposição ao governo do PFL.
Além disso, de 1986 até 1998, quando uma longa polarização entre PMDB e PFL, ambos
demonstraram desempenhos inversamente proporcionais, ou seja, conforme os dados
eleitorais discutidos nesse trabalho, naquelas eleições em que um crescia o outro declinava, e
vice-versa127. Jamais houve uma eleição em os dois cresceram ou que ambos declinaram nas
disputas por cadeiras no poder Legislativo.
Em 1986 apenas três partidos compuseram o Legislativo estadual, e foi a única vez em
que um partido fez a maioria absoluta na Assembleia Legislativa do Piauí durante o período

127
É evidente que essa prerrogativa vale para o Legislativo, visto que no Executivo apenas um pode sair
vitorioso na mesma eleição.
147

analisado. O PFL conquistou dezesseis cadeiras das trinta em disputa, ficando as demais com
o PMDB, que elegeu oito deputados, e com o PDS, que conquistou seis cadeiras.
Nas eleições de 1990 o PMDB aumentou sua bancada de oito para nove deputados
estaduais, e o PFL reduziu de dezesseis para doze. Em 1994 o PFL cresceu e elegeu quatorze
deputados estaduais, enquanto o PMDB se reduziu quase que pela metade, elegendo apenas
cinco. Em 1998, o PMDB inverte o processo, quase dobrando sua bancada na Assembleia
Legislativa e voltando a eleger nove deputados, enquanto o PFL caiu para dez cadeiras no
Legislativo local.
Em 2002 o PMDB não teve um candidato competitivo ao governo do Estado. Além
disso, devido à cassação do governador ―Mão Santa‖ no ano anterior, o partido estava na
oposição. Como consequência, reduziu sua bancada de nove para seis deputados. O PFL
também cai de dez para nove parlamentares. Foi a primeira vez, durante esse período, que
ocorreu uma redução nas bancadas de ambos.
Não obstante, as eleições de 2002 representaram um momento de rupturas que já vinham
se desenhando desde as eleições anteriores. Pela primeira vez não houve a polarização entre o
PMDB e o PFL. Igualmente, pela primeira vez a vitória não coube a nenhum destes partidos,
assim como foi a primeira oportunidade em que o Partido dos Trabalhadores (PT) venceu uma
eleição majoritária no Piauí.
A trajetória de multipartidarização do subsistema local trouxe à tona novos competidores
que tornaram a arena eleitoral mais dinâmica. Partidos como PT e PSDB, ambos com grande
projeção nacional, inclusive governando o país desde 1995 até a atualidade128, tornaram-se
competitivos no Estado do Piauí e reduziram a força de partidos tradicionais como PMDB e
PFL. Entretanto, a redução do PMDB tem sido bem menor que a do PFL.
Porém, apesar de o crescimento de novas forças políticas explicar, em parte, o declínio
das forças tradicionais, não se pode olhar para todos da mesma forma, visto que os declínios
foram ocorrendo gradativamente, afetando primeiramente o PDS/PPR/PPB/PP, depois o
PFL/DEM, sendo o PMDB aquele que menos declinou. Apesar de sua dificuldade em lançar
um candidato competitivo para o Governo do Estado nas últimas eleições, a sua opção por se
fortalecer no Parlamento tem sido uma estratégia que se vincula à outra de fazer parte dos
governos, que é o fundamento da cartelização.
As disputas para o governo do Estado do Piauí têm sido marcadas por campanhas
estruturadas por competições acirradas, porém, sempre com competições polarizadas entre

128
De 1995 a 2002, o Brasil foi governado por Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. De 2003 a 2010, foi
governado por Luís Inácio Lula da Silva, do PT. Atualmente, é governado por Dilma Rousseff, também do PT.
148

dois partidos. Das eleições de 1986 às de 1998, a polarização ficou entre o PMDB e o PFL
(exceto em 1990, quando o PMDB não lançou candidato e decidiu apoiar o PSDB). Em 2002
a polarização se deu entre o PT e o PFL, e em 2006 o PMDB fez uma tentativa de retomada
da competição, mas as divergências partidárias internas fragilizaram a candidatura majoritária
peemedebista encabeçada pelo então senador ―Mão Santa‖ que, apesar de ter ficado em
segundo lugar, teve uma votação inferior à metade dos votos do candidato petista, o
governador reeleito Wellington Dias.
As eleições de 2006 foram as primeiras, desde a volta das eleições populares para
Governador em 1982, em que um candidato foi eleito com uma grande diferença de votos em
relação ao segundo colocado. De 1982 a 2002, jamais um candidato que foi segundo colocado
fez menos que 40% dos votos válidos. As maiores diferenças ocorreram em 1982, quando
Hugo Napoleão do PDS venceu Alberto Silva do PMDB, com uma diferença de 18.3% dos
votos, e em 1994, quando ―Mão Santa‖ do PMDB venceu Átila Lira do PFL, em segundo
turno, com uma diferença de 11.6% dos votos válidos.
Por outro lado, as menores diferenças aconteceram em 1986, quando Alberto Silva do
PMDB venceu Freitas Neto do PFL com apenas 1.6% de diferença de votos, e em 1998
quando o governador ―Mão Santa‖ foi reeleito derrotando Hugo Napoleão, do PFL, com 2%
de diferença de votos válidos. Contudo, a diferença entre Wellington Dias, do PT, e ―Mão
Santa‖, do PMDB, em 2006, foi de 36.4% dos votos, ou seja, praticamente o dobro da maior
diferença, ocorrida em 1982.
Além disso, desde o advento das eleições em dois turnos, nas eleições de 1990, 1994 e
1998, quando os partidos mais competitivos eram PMDB e PFL, todas as eleições foram
decididas em segundo turno. Apenas em 2002 e em 2006, com o crescimento do PT no
Estado, foi que as eleições foram decididas em primeiro turno. Em 2002, com uma disputa
acirrada entre o PT e o PFL, e em 2006 uma vitória com ampla diferença do PT sobre o
PMDB.
Não obstante, a vitória do PT em 2006 ocorreu sobre um PMDB dividido, de forma que
a maioria das lideranças peemedebistas estava apoiando o PT. Ou seja, o PMDB foi derrotado
com a contribuição de seus próprios partidários.
De fato, o PMDB sempre havia feito o contrário. Com a facilidade que sempre teve para
se articular, sempre que foi para uma disputa de segundo turno superou o adversário, jamais
tendo sido derrotado em segundo turno.
Pelo que foi discutido sobre a trajetória do partido, percebe-se que além de sua posição
com um perfil ideológico moderado, a figura do líder tem sido outro ponto fundamental para
149

sua visibilidade, destino e desempenho. Se a lógica de ser governo é essencial para o partido,
quando se discute essa realidade no caso do Piauí, isso fica notório, pois durante o
bipartidarismo a fragilidade do MDB se apresentava inversamente à ARENA, conduzida pela
força expressiva da liderança governista do senador Petrônio Portella. Contudo, na reforma
partidária de 1979, e com a transformação do MDB em PMDB, esse partido se fortalece e isso
esteve principalmente vinculado, dentre outros fatores, às lideranças de Alberto Silva e
também de ―Mão Santa‖. Os dois estiveram por onze anos à frente do Governo do Estado e
foram os melhores momentos eleitorais do partido. Foi exatamente durante os governos de
Alberto e ―Mão Santa‖ que o partido formou suas maiores bancadas parlamentares e elegeu a
maior quantidade de prefeitos municipais.
Por fim, como demonstra a tabela I, percebe-se que, se por um lado o número de partidos
efetivos (NE) aumentou de 2,5 em 1986 para 6,7 em 2006, assim como o número de partidos
parlamentares (NP) cresceu de 3 em 1986 para 10 em 2006, por outro, o PMDB manteve a
estabilidade no Legislativo, ou seja, o aumento do número de partidos efetivos (NE) e de
partidos parlamentares (NP) levou ao declínio de partidos como PDS/PPR/PTB/PP e
PFL/DEM, mas o PMDB permaneceu estável. Isso significa dizer que o PMDB é o partido
que melhor se articula junto ao poder no Estado do Piauí, uma prerrogativa do modelo de
partido de cartel.
150

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155

7 ANEXOS

ANEXO A: Deputados Estaduais Eleitos Pelo PMDB/Piauí; 1986 - 2006129.

Eleições – 1986

MARCELO COSTA E CASTRO;

WARTON FRANCISCO NEIVA DE MOURA SANTOS;

LUCIANO NUNES SANTOS;

JOÃO SILVA NETO;

KLEBER DANTAS EULÁLIO;

JOSÉ REIS PEREIRA;

THEMÍSTOCLES DE SAMPAIO PEREIRA FILHO;

FRANCISCO FIGUEIREDO MESQUITA.

Eleições – 1990

MARCELO COSTA E CASTRO;

FRANCISCO TOMAZ TEIXEIRA;

KLEBER DANTAS EULÁLIO;

THEMÍSTOCLES DE SAMPAIO PEREIRA FILHO;

JOÃO SILVA NETO;

FRANCÍLIO RIBEIRO DE ALMEIDA;

JOÃO BATISTA DE CASTRO DIAS;

WARTON FRANCISCO NEIVA DE MOURA SANTOS;

AUGUSTO CÉSAR ABREU DA FONSECA.

129
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral do Piauí – TRE/PI.
156

Eleições – 1994

KLEBER DANTAS EULÁLIO;

FRANCISCO DONATO LINHARES DE ARAUJO FILHO;

RAIMUNDO NONATO BONA CARBORETO;

WARTON FRANCISCO NEIVA DE MOURA SANTOS;

FRANCISCO DAS CHAGAS REGO DAMASCENO.

Eleições – 1998

JOAO HENRIQUE FERREIRA ALENCAR PIRES REBELO;

SILAS FREIRE PEREIRA E SILVA;

ANTONIO JOSE DE MORAES SOUZA;

WARTON FRANCISCO NEIVA DE MOURA SANTOS;

KLEBER DANTAS EULÁLIO;

THEMÍSTOCLES DE SAMPAIO PEREIRA FILHO;

FRANCISCO DONATO LINHARES DE ARAUJO FILHO;

MAURO EXPEDITO REIS DE FREITAS TAPETY;

JOSE RIBAMAR PEREIRA.

Eleições – 2002

KLEBER DANTAS EULÁLIO;

THEMÍSTOCLES DE SAMPAIO PEREIRA FILHO;

FRANCISCO DONATO LINHARES DE ARAUJO FILHO;

MAURO EXPEDITO REIS DE FREITAS TAPETY;

JOÃO HENRIQUE FERREIRA DE ALENCAR PIRES REBELO;

WARTON FRANCISCO NEIVA DE MOURA SANTOS.


157

Eleições – 2006

KLEBER DANTAS EULÁLIO;

WARTON FRANCISCO NEIVA DE MOURA SANTOS;

ANTONIO JOSÉ DE MORAES SOUZA FILHO;

MAURO EXPEDITO REIS DE FREITAS TAPETY;

JOÃO HENRIQUE FERREIRA DE ALENCAR PIRES REBELO;

THEMÍSTOCLES DE SAMPAIO PEREIRA FILHO;

ANA PAULA MENDES ARAUJO DE CARVALHO;

JOÃO MÁDISON NOGUEIRA.


158

ANEXO B: Deputados Federais Eleitos Pelo PMDB/Piauí; 1986 - 2006130.

Eleições – 1986

HERÁCLITO DE SOUSA FORTES;

PAULO DE TARSO TAVARES SILVA.

Eleições – 1990

MURILO FERREIRA DE REZENDE;


JOÃO HENRIQUE DE ALMEIDA SOUSA.

Eleições – 1994

ALBERTO TAVARES SILVA;


JOÃO HENRIQUE DE ALMEIDA SOUSA.

Eleições – 1998

MARCELO COSTA E CASTRO;


JOÃO HENRIQUE DE ALMEIDA SOUSA;
THEMÍSTOCLES DE SAMPAIO PEREIRA.

Eleições – 2002

MARCELO COSTA E CASTRO;


ANTONIO JOSE MORAES SOUZA.

Eleições – 2006

MARCELO COSTA E CASTRO;

ALBERTO TAVARES SILVA.

130
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral do Piauí – TRE/PI.
159

ANEXO C131: Senadores Eleitos Pelo PMDB/Piauí; 1986 – 2006132.

Eleições – 1986

FRANCISCO DAS CHAGAS CALDAS RODRIGUES

Eleições – 1998

ALBERTO TAVARES SILVA

Eleições – 2002

FRANCISCO DE ASSIS DE MORAES SOUSA, ―MÃO SANTA‖

ANEXO D: Governadores Eleitos Pelo PMDB/Piauí; 1986 – 2006133.

Eleições – 1986

ALBERTO TAVARES SILVA

Eleições – 1994

FRANCISCO DE ASSIS DE MORAES SOUSA, ―MÃO SANTA‖

Eleições – 1998

FRANCISCO DE ASSIS DE MORAES SOUSA, ―MÃO SANTA‖

131
Nas eleições não citadas nos anexos ―C‖ e ―D‖, o PMDB não elegeu Senador nem Governador,
respectivamente.
132
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral do Piauí – TRE/PI.
133
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral do Piauí – TRE/PI.
160

ANEXO D: Prefeituras Conquistadas Pelo PMDB/Piauí; 1988 – 2004134.

Eleições – 1988

Angical do Piauí;
Avelino Lopes;
Barras;
Batalha;
Bertolínia;
Capitão de Campos;
Cocal;
Curimatá;
Demerval Lobão;
Itaueira;
Jaicós;
Luis Correia;
Marcos parente;
Miguel Alves;
Miguel Leão;
Nazaré do Piauí;
Novo Oriente do Piauí;
Oeiras;
Pedro II;
Piracuruca;
Piripiri;
Porto;
Redenção do Gurgueia;
São Francisco do Piauí;
São José do Piauí;
São Miguel do Tapuio;
Teresina.

134
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral do Piauí – TRE/PI.
161

Eleições – 1992

Avelino Lopes;
Barras;
Bertolínia;
Bom Princípio;
Demerval Lobão;
Jaicós;
Lagoa do Barro do Piauí;
Luis Correia;
Miguel Leão;
Palmeira do Piauí;
Patos do Piauí;
Porto;
Santa Filomena;
São José do Divino;
São José do Piauí;
São Julião;
São Miguel do Tapuio;
Simplício Mendes.

Eleições – 1996

Acauã;
Água Branca;
Assunção do Piauí;
Avelino Lopes;
Barras;
Brejo do Piauí;
Boqueirão do Piauí;
Caracol;
Cajazeiras do Piauí;
162

Caridade do Piauí;
Curral Novo do Piauí;
Curimatá;
Demerval Lobão;
Domingos Mourão;
Flores do Piauí;
Francisco Santos;
Gilbués;
Isaias Coelho;
Itaueira;
Joaquim Pires;
José de Freitas;
Juazeiro do Piauí;
Júlio Borges;
Lagoa Alegre;
Madeiro;
Manoel Emídio;
Miguel Leão;
Nazaré do Piauí;
Novo Oriente do Piauí;
Oeiras;
Palmeirais;
Paquetá;
Paulistana;
Petrônio Portella;
Porto;
Queimada Nova;
São Francisco de Assis do Piauí;
São José do Piauí;
São Luis do Piauí;
Sebastião Leal;
Uruçuí.
163

Eleições – 2000

Acauã;
Água Branca;
Alto Longá;
Assunção do Piauí;
Baixa Grande do Ribeiro;
Batalha;
Bela Vista do Piauí;
Bom Princípio do Piauí;
Buriti dos Lopes;
Campo Maior;
Campo Largo do Piauí;
Cajazeiras do Piauí;
Cajueiro da Praia;
Caracol;
Caridade do Piauí;
Caxingó;
Conceição do Canindé;
Curral Novo do Piauí;
Dirceu Arcoverde;
Domingos Mourão;
Eliseu Martins;
Francinópolis;
Fronteiras;
Isaias Coelho;
Joaquim Pires;
Júlio Borges;
Madeiro;
Manoel Emídio;
Marcos Parente;
Miguel Leão;
Morro do Chapéu do Piauí;
Nossa Senhora dos Remédios;
164

Nova Santa Rita;


Novo Santo Antônio;
Oeiras;
Paquetá;
Patos do Piauí;
Pimenteiras;
Porto;
Queimada Nova;
Ribeiro Gonçalves;
São Braz do Piauí;
São Francisco de Assis do Piauí;
São João do Arraial;
São José do Divino;
Sebastião Leal;
Uruçuí.

Eleições – 2004

Alto Longá;

Aroazes;

Barras;

Batalha;

Bela Vista do Piauí;

Bom Princípio do Piauí;

Bonfim do Piauí;

Cajazeiras do Piauí;

Colônia do Piauí;

Cristino Castro;

Dirceu Arcoverde;

Eliseu Martins;
165

Fronteiras;

Guaribas;

Hugo Napoleão;

Ipiranga;

Jacobina do Piauí;

Júlio Borges;

Jurema;

Luis Correia;

Matias Olímpio;

Manoel Emídio;

Miguel Leão;

Morro do Chapéu do Piauí;

Oeiras;

Paquetá;

Patos do Piauí;

Picos;

Pimenteiras;

Porto;

Porto Alegre do Piauí;

Ribeiro Gonçalves;

Rio Grande do Piauí;

São Gonçalo do Piauí;

São João da Fronteira;

São José do Piauí;

Simplício Mendes;

Sussuapara;

Uruçuí.

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