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Como é que o espírito pesquisa, ou investiga?

A Bíblia nos diz, em 1 Coríntios 2:10, que o espírito “investiga” ou “pesquisa” todas as coisas (NM, Rbi8). Que
significa isso? Prova que o espírito é um ser pessoal? Como, exatamente, o espírito investiga?

PROVA PERSONALIDADE?

Para começar, será que o simples fato de a Bíblia atribuir tal ação ao espírito faz dele uma pessoa?

O verbo grego em questão é ἐραυνᾷ . Vejamos como diversas traduções verteram tal verbo:

“Examina” – A21, NTLH

“Penetra” – ARC, MC, ACF

“Esquadrinha” – VB

“Sonda” – BJ, Past, CNBB, NVI

“Perscruta” – ARA

Será que tais verbos supõem sujeito pessoal? Observe os textos abaixo:

Hebreus 4:12 afirma que a palavra de Deus “penetra” até o íntimo da pessoa (A21, ARC, ARA, Past, MC, KJA, VB,
RVP, BJ CNBB, NVI).

Pergunta: será que, porque “penetra” e “discerne”, a palavra de Deus, a Escritura Sagrada (João 10:35), é uma
pessoa?

Salmo 11:4 diz que “pálpebras examinam” (A21), “pálpebras esquadrinham” (RVP), “pálpebras sondam” (ARA);
“pupilas examinam” (BJ), “pálpebras interrogam” (CNBB).

Pergunta: pálpebras são pessoas?

Salmo 77:6 . Aqui o salmista Asafe (ou um descendente) afirma: “meu espírito investigou” (ARC), “meu espírito
perscrutava” (RVP), “meu espírito perscruta” (VB, ARA), “meu espírito esquadrinhou” (ACF).

Pergunta: o “espírito” de Asafe era outra pessoa dentro dele? Não era o próprio salmista que investigava sob a
influência de uma força que agia nele (sua atitude, disposição, motivação)?

Assim, fica patente que os verbos usados em relação ao espírito de forma alguma provam personalidade. Mas, ainda
que, fechando os olhos a toda evidência apresentada até aqui, considerássemos o espírito uma pessoa, esta seria
necessariamente inferior a Deus; pois uma pessoa que pesquisa ou investiga obviamente não é onisciente. Nesse
ponto certamente alguém, achando ter um excelente argumento, citará Romanos 8:27, texto que se refere ao Deus
Todo-poderoso e onisciente como “Aquele que examina [mesmo verbo grego] os corações”. Ora, o ponto crucial não
é apenas o fato de Ele examinar, ou investigar, mas qual é o objeto de Seu exame. Deus examina os corações dos
homens – pois, devido ao livre-arbítrio, o conteúdo dos corações humanos muitas vezes independe de Deus (compare
com Provérbios 16:1, 9; 19:21). Mas e o espírito? O que ele investiga? O espírito investiga as coisas profundas de
Deus .
Portanto a lógica é muito clara:
Deus investiga os corações dos homens . Logo, Deus não é homem (Oseias 11:9).
O espírito investiga as coisas profundas de Deus . Logo, o espírito não é Deus.

COMO O ESPÍRITO PESQUISA?

Uma vez esclarecido que as ações atribuidas ao espírito não o tornam uma pessoa – muito menos o próprio Deus – o
que realmente significa 1 Coríntios 2:10?

A parte “a” do versículo elucida a parte “b”:


“Porque é a nós que Deus as revelou por meio do seu espírito, pois o espírito investiga todas as coisas, até mesmo as
coisas profundas de Deus.”

Note o foco do versículo: “nós”, isto é, cristãos, humanos, que recebiam revelações de Deus por meio do espírito.
Repetimos: seres humanos recebem o espírito para compreender as revelações divinas.
À base disso fica fácil entender que a parte “b” também focaliza humanos que recebem o espírito.

Atente ainda ao contexto. Os versículos 12 e 13 de 1Coríntios 2 continuam focalizando a pessoa que recebe o
espírito. E o versículo 15 arremata: ” o homem espiritual examina todas as coisas “. Mais claro impossível.

Façamos um paralelo com a “Lei”. A Bíblia diz que a Lei “ouvia”, “julgava” e “matava” (João 7:51; 2 Coríntios 3:6;
Hebreus 10:28). Como a Lei fazia tais coisas?

Deuteronômio 1:16, 17: “Naquela ocasião instruí seus juízes , dizendo: ‘Quando ouvirem uma causa entre os seus
irmãos, vocês devem julgar com justiça entre um homem e seu irmão ou um residente estrangeiro. Não sejam
parciais no julgamento. Vocês devem ouvir da mesma maneira tanto o pequeno como o grande”.

Levítico 20:27: “O povo deve apedrejá-los até a morte.”

Deuteronômio 21:21: “todos os homens da cidade devem apedrejá-lo até a morte.”

Qualquer ser humano racional entenderá sem dificuldade que, na realidade, quem ouvia, julgava e matava eram
homens sob a influência da Lei. Da mesma forma, como o espírito investiga? Na realidade, são homens sob a
influência do espírito que pesquisam e examinam as coisas de Deus.

Também, leia atentamente 1 Coríntios 15:10. Ali Paulo diz que a bondade imerecida (ou ‘graça’) de Deus trabalhou.
O sentido é evidente: quem trabalhou foi Paulo, que tinha recebido tal bondade imerecida.

A Palavra de Deus é inequívoca ao indicar que esse é o entendimento correto. Leiamos 1 Pedro 1:10, 11:

“Sobre essa salvação, os profetas que profetizaram a respeito da bondade imerecida destinada a vocês fizeram
diligente investigação e cuidadosa pesquisa. Eles procuravam saber o tempo específico e as circunstâncias que o
espírito neles indicava a respeito de Cristo, quando o espírito dava testemunho antecipado sobre os sofrimentos que
Cristo teria de suportar e sobre a glória que se seguiria.”

A ideia é manifesta: foram os profetas, seres humanos que estavam sob a influência do espírito (‘o espírito estava
neles’), que “fizeram cuidadosa pesquisa” e “procuraram saber” (ambas as expressões traduzem formas do
mesmíssimo verbo grego usado em 1 Coríntios 2:10, “ἐραυνᾷ”).

Pegou o ponto? É muito simples: a expressão “o espírito pesquisa” significa que pessoas sob a influência do espírito
pesquisam as coisas de Deus.

O QUE DISSE O “ESCRAVO”?

Antes de concluirmos há ainda uma importante questão: essa explicação está em harmonia com o que o escravo fiel e
prudente* diz?

A Sentinela de 15 de julho de 2010 fez algumas perguntas bem sugestivas (todos os grifos são nossos):

“De que modo ‘o espírito pesquisa as coisas profundas de Deus’? Por meio de quem Jeová revelou essas coisas no
primeiro século da EC? Como e por meio de quem o espírito pesquisa essas coisas profundas nos nossos dias?”

A Sentinela de 1.o de novembro de 2007 ainda diz:

“Como o espírito de Deus pesquisa “todas as coisas, até mesmo as coisas profundas de Deus?” Em vez de dar uma
revelação a cada cristão, Jeová usa seu espírito para orientar a sua organização que, por sua vez, ajuda o povo unido
de Deus a entender a Bíblia. (Atos 20:28; Efésios 4:3-6) No mundo inteiro, todas as congregações têm um programa
similar de estudo da Bíblia. No espaço de alguns anos, elas abrangem o inteiro conjunto de ensinamentos bíblicos. O
espírito santo atua por meio da congregação, ajudando as pessoas a ter a atitude correta para entender “as coisas
profundas de Deus”. — Atos 5:32.”
A antiga Bíblia Bereana dos Instrutores, numa nota sobre 1Coríntios 2:10, explicava como o espírito pesquisa: “por
meio dos olhos do nosso entendimento”.

Veja ainda a excelente explicação dada em A Sentinela de 1960, p.424:

“No primeiro século foram necessários os apóstolos e o espírito de Deus para explicar as coisas profundas da Palavra
de Deus. Assim como operou então através da organização cristã, assim faz também hoje. “Pois Deus no-las revelou
a nós pelo espírito, porque o espírito tudo esquadrinha, até as cousas profundas de Deus” (1Coríntios 2:10). Essas
coisas profundas são esclarecidas pelo espírito através da organização teocrática das testemunhas de Jeová. Conforme
os responsáveis pelo suprimento do alimento espiritual ao povo de Deus investigam diligentemente as Escrituras em
busca de conhecimento acurado, o espírito amplia pouco a pouco o seu entendimento. […] É assim que opera o
espírito hoje em dia. Não inspira alguém para dar interpretações infalíveis das Escrituras, mas, antes, exerce uma
influência sobre os servos de Deus, ao passo que estudam a Bíblia , para que certas verdades cheguem à sua
atenção.”

Alguns dirão que o escravo não usa o termo metonímia ao explicar esse assunto. É verdade. Mas também é
irrelevante – a palavra não é usada, mas o conceito está ali; a matéria citada claramente explica que quem realmente
pesquisa são humanos sob influência do espírito. “Espírito” está por “pessoa que tem o espírito”. Isso se chama
metonímia. Se eu disser que fui a uma livraria e comprei “um livro que reúne uma coleção de mapas”, não usei a
palavra “atlas”, mas o conceito é o mesmo.

Outros ainda acham que o fato de certo texto empregar uma personificação (ou prosopopeia) em relação ao espírito
exclui a possibilidade de haver ali uma metonímia. Esse é um erro elementar: as figuras de linguagem não são
mutuamente exclusivas. Basta um simples exemplo para evidenciá-lo: Salmo 97:1 ordena: “alegre-se a terra”. Isso é
um caso de personificação, pois atribui-se sentimentos humanos à terra, ser inanimado. Mas ao mesmo tempo
podemos considerá-lo um exemplo de metonímia: a terra está pelos seus habitantes. “Terra” representa “aqueles que
habitam a terra”.

Resumindo: vimos que os verbos atribuídos ao espírito são igualmente atribuídos a coisas impessoais. Também
pudemos constatar que a expressão “o espírito pesquisa” (semelhante a “Lei julga”) significa que pessoas sob a
influência do espírito investigam as coisas de Deus. É um caso de metonímia (Dito de forma simples: sempre que
uma palavra representa outra, temos metonímia. “Espírito” no texto representa aqueles que recebem o espírito). É
isso. Só não entende quem não quer.

“Os que buscam a Jeová podem entender tudo.” (Provérbios 28:5)

“Mas um homem tolo entenderá Somente quando um jumento selvagem nascer homem” (Jó 11:12, nota)

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