A busca da articulação própria dos fenômenos se faz hierarquizando as
diversas temporalidades em que estes ocorrem, levando em consideração os pressupostos lógicos dos procedimentos para tal. A importância do tempo para a construção da história esta implícita no manejo diacrônico do tempo, pois permite desse anglo de visão, a percepção da ocorrência de um ou mais processos ao mesmo tempo em que outros processos acontecem, conseguindo ter uma visão mais ampla e assim observar melhor o espaço histórico guardado pelo tempo.
As perguntas do historiador são do presente em relação ao passado. Ao
estudar o homem e suas sociedades, observa-se que este pertence a um tempo que possui muitas faces sendo construído dentro de uma complexidade, pois não é o tempo psicológico, físico, nem medido pelos relógios. È o tempo como substância da História, que a orienta e dá sentido.
O tempo já foi medido de várias formas pelos diversos povos que
habitam e habitaram a terra. A percepção na antiguidade era de um tempo cíclico, sem inicio nem fim, sempre se iniciando e terminando passível ao acontecimento de algum evento natural, início de reinados ou impérios, fundação de abadias. Isto nos dá uma sensação de que o tempo era imóvel, estático, pois assim como a mentalidade humana, também se desenvolvia lentamente. Quando surge a era cristã e o tempo, agora unificado, passa a ser contado a partir do nascimento de Cristo, mas ainda continua acompanhando o circulo da liturgia, sem espessura nem consistência próprias, aguardando o final do mundo. Inicialmente a intenção da utilização de datas era a de organizar a vida litúrgica, pois os judeus utilizavam o calendário lunar e os romanos o solar. Somente no século XI essa contagem se torna predominante e será imposta ao resto do mundo através da expansão colonial. Essa generalização terminou com a concepção circular do tempo. Surge a espiral em ascendência, que trás em si uma leitura racional destes e novos círculos. “Historiadores humanistas da segunda metade do século XV, ao reencontrarem na Antiguidade de seus mestres, na literatura, na arte, operaram um recorte na história em três épocas: A Antiguidade Clássica, a Idade Média e Idade Moderna.” (PROST, Antoine; pp102) e nos legaram esses períodos dos quais não podemos nos abster, pois essas divisões já foram aceitas e são utilizadas para se estudar uma época. Quando um historiador constrói o tempo da História, pretende organizar acontecimentos e fatos de forma coerente, e dotá-lo de sentido. A história trabalha com o tempo das sociedades, da coletividade e serve de referencia temporal para os membros de um determinado grupo, e se incorpora de alguma forma, as perguntas, documentos e fatos ocorridos também num determinado momento. Um tempo não apenas passivo, mas dotado de uma dinâmica própria.
Permeada pelo tempo, a História nos permite fazer prognósticos do
presente para o futuro a partir do diagnóstico do passado. Diferentemente da memória, que se serve de um tempo já decorrido e o busca a partir de lembranças, a história investiga e tenta compreender o passado através da razão e da interpretação. O historiador no exercício de seu oficio produz, através de registros de sua observação, a historicidade de uma época, dialogando com as marcas produzidas e deixadas pelo passar do tempo.
Periodizando, identificando rupturas através de uma estrutura diacrônica
do tempo, o historiador caminha em direção a uma dimensão própria da historia. Um período se caracteriza pela homogeneidade de acontecimentos dentro de si e as rupturas delimitam esses períodos.
A observação das esferas de existência da humanidade nos permite
perceber a passagem do tempo. Braudel nos fala de três tempos na história, um que se refere à percepção das mudanças mentais de determinada época, comparando as estruturas mentais a esse tempo como a águas de profundeza, que não são totalmente imóveis, pois conhece flutuações. Feita de retornos insistentes e ciclos incessantemente recomeçados. Ao estudar as historias das sociedades e civilizações e suas economias e o Estado fazem nova analogia do tempo com as águas do meio, que com seu ritmo provoca as ondas, muda as conjunturas e traz mudanças já perceptíveis, porém de média duração. E por fim, nos fala da água de superfície, com suas oscilações breves, rápidas e nervosas, comparando ao individuo vivenciando e provocando acontecimentos, num vaivém interminável. Este é o tempo da história que ainda está sendo escrita e tem a dimensão dos sentimentos humanos (BRAUDEL, Fernand; apud Doze lições sobre a história).
Claude Lévi-Strauss: “Não há História sem datas”. O Tempo é o ator principal
nas tramas da história, seu fio condutor, o mar invisível onde todos nós navegamos.
O presente trabalho é um resumo do capitulo “Os tempos da História”,
(PROST, Antoine, 1933-. Doze lições sobre a história; [tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira — Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008.] e nos mostra as características do tempo na concepção do historiador, e qual a relação que desenvolvem para que seja possível construir a história propriamente dita.
Trabalho elaborado por Mirna Galesco Dias, na disciplina de História Antiga,
ministrada pelo Professor Alex Degan- Puc Campinas, 2010