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Iconografia de Jesus Cristo
Tradicionalmente os ícones de Cristo são classificados em três
tipos básicos: A aqueropita ou “A Imagem não feita por mãos humanas”,
o Emanuel e o Pantocrator ou o Senhor Todo Poderoso.
A Imagem Não Feita por Mãos Humanas ou Aqueropita
A versão mais popular no ocidente conta que durante a via sacra
Verônica secou o rosto do Cristo, que estava com sangue e suor. A
marca deixada no pano teria dado origem ao santo sudário. Notese que
o nome Verônica significa vera = verdadeira + icona = imagem.
A tradição oriental diz que o primeiro ícone foi o rosto de Jesus
Cristo sobre um pano. Por volta do ano 30 o Rei Abgar V, de Edessa
(atual Urfa, na Turquia), que era leproso, ouvindo falar sobre os poderes
de cura de Jesus, mandou um mensageiro, Ananias, à Palestina. Sua
missão era entregar uma carta a Jesus, pedindolhe que fosse curálo e
fazer seu retrato, o mais fiel possível, para o rei. A carta dizia:
“Abgar, toparca da cidade de Edessa, a Jesus Cristo, o excelente
médico que surgiu em Jerusalém, salve! Ouvi falar de ti e das
curas que realizas sem remédios. Contam efetivamente que fazes
os cegos ver, os coxos andar, que purificas os leprosos, expulsas
os demônios e os espíritos imundos, curas os oprimidos por longas
doenças e ressuscitas os mortos. Tendo ouvido falar de ti tudo
isso, veiome a convicção de duas coisas: ou que és Filho daquele
Deus que realiza estas coisas, ou que és o próprio Deus. Por isso
escrevite pedindo que venhas a mim e me cures da doença que
me aflige e venhas morar junto a mim. Com efeito, ouvi dizer que
os judeus murmuram contra ti e te querem fazer mal. Minha cidade
é muito pequena, é verdade, mas honrada e bastará aos dois para
nela vivermos em paz.” (Gharib, p. 43)
Ananias chegou a Jerusalém na vigília da Paixão e entregou a
carta a Jesus. Enquanto esperava a resposta, tentou em vão fazer seu
retrato. Adivinhando seu embaraço, Jesus pediu água para lavar o rosto
e uma toalha. Pressionou a toalha sobre sua face e miraculosamente
imprimiu sua imagem nela. Entregou a toalha a Ananias, com uma
resposta da carta e prometendo que mais tarde um de seus discípulos
iria até o rei. Essa seria a origem do mandylion (lenço, manto), imagem
aqueropita (não feita pela mão humana) que se considera como o
primeiro ícone. A resposta de Jesus à carta do rei dizia:
“Bemaventurado és, Abgar, porque acreditaste em mim, embora
não me tenhas visto! De mim, com efeito, está escrito que quem
me vir, não crerá em mim, para que os que não me vêem creiam
em mim e tenham a vida. Quanto ao convite que me fizestes para
ir ter contigo, respondo que é preciso que eu cumpra aqui a minha
missão, e que depois do seu cumprimento, que eu volte para
aquele que me mandou. Mas quando eu tiver subido para junto
dele, te mandarei um dos meus discípulos, de nome Tadeu, para
curarte do mal e oferecerte a vida eterna e a paz a ti e aos teus,
e para fazer, pela cidade, quanto for necessário para defendela
dos inimigos.” (Gharib, p. 43)
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Ananias levou este pano para o rei. O rei melhorou, mas só ficou
curado quando Tadeu, um dos setenta discípulos de Jesus enviados por
Tomé, foi a Edessa e o batizou. O rei adotou o Cristianismo e o pano
miraculoso foi colado a uma tábua e colocado nos portões da cidade,
com inscrição: “Cristo Deus, quem em ti espera não se perderá”. O ícone
do Monastério de Santa Catarina do Sinai mostra o Rei Abgar com o
santo mandylion, e Tadeu à esquerda. Abaixo, estão alguns santos e
monges.
Rei Abgar Santo Keramion
Sagrada face de Jaroslav Sagrada Face de Gênova
No ano 57 o neto de Abgar, Mánu VI, começou um retorno ao
paganismo, e queria destruir a relíquia. O bispo da cidade, advertido em
sonho do desejo do rei, mandou emparedála às escondidas num nicho,
ocultandoa com uma cerâmica. Com o tempo, a sagrada imagem foi
esquecida.
No ano de 544, o rei persa Cosróes, após ter saqueado todas as
cidades da Ásia, cercou Edessa, reduzindoa a um estado de total
pobreza. O então bispo Evlávio, depois de uma revelação, mandou
quebrar a parede e encontrou o mandylion. Diz a tradição que a lâmpada
ainda estava acesa, e que tinha contribuído para imprimir a imagem do
Cristo sobre o Keramion (cerâmica) que a ocultava. A imagem foi retirada
e organizouse uma grande procissão sobre as muralhas da cidade. Todo
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o arsenal militar dos persas pegou fogo e eles tiveram que levantar o
cerco e fugir, sofrendo grave derrota.
O ícone do santo Keramion muitas vezes confundido com o do
Santo Mandylion, apresenta algumas características que o diferem deste
último. Esse ícone é do século XII, de Novgorod, e encontrase
atualmente na Galeria Tretjakov de Moscou. Comparemos com outro
ícone da primeira metade do século XIII, o da Sagrada Face de Jaroslav.
A primeira diferença no Santo Keramion é a ausência da toalha atrás do
rosto, tendo apenas um fundo de cor tijolo ou cerâmica. A segunda é o
direcionamento dos olhos e dos cabelos no alto da fonte, para esquerda
de quem olha, ao contrário do mandylion. Assim, a imagem do Keramion
é o “espelho” da imagem do mandylion, como conta a tradição.
Durante o período iconoclasta, o mandylion era um dos principais
argumentos dos defensores das imagens, pois argumentavam que além
do fato do Cristo ter se encarnado, Ele próprio nos deixara sua imagem
no mandylion de Edessa. Em 944 o imperador de Bizâncio recebeu o
mandylion do Emir de Edessa, e colocouo na Igreja de Santa Sofia. Em
1204, com a tomada de Constantinopla pelos cruzados, o mandylion
desapareceu.
Os genoveses dizem que o mandylion seria a “Sagrada Face”, um
precioso ícone com revestimento de prata, conservado na igreja de São
Bartolomeu dos Armênios, onde é venerado. Entretanto, essa imagem é
um ícone bizantino, pintado sobre madeira, provavelmente no período
paleólogo, entre os séculos XIII e XIV.
Recentemente, alguns estudos tentaram associar
o Santo Sudário de Turim ao mandylion de Edessa. O
Santo Sudário está em Turim desde 1578. É uma fina
peça de linho de 3 pés e 7 polegadas de largura e 14
pés e três polegadas de comprimento que leva a
imagem detalhada da frente e das costas de um
homem que foi crucificado de maneira idêntica a Jesus
de Nazaré conforme descrevem as Escrituras.
Santo Sudário
Segundo esses estudiosos, o Sudário estaria dobrado em Edessa,
de modo que mostrava apenas o rosto de Jesus. Quando desapareceu
de Constantinopla, teria sido todo desenrolado, deixando ver todo o
corpo. Entretanto, o Santo Sudário é um retrato funerário, o que vai
contra toda a tradição do mandylion, seja literária – pela história do rei
Abgar, ou iconográfica – uma vez que sempre foi representado apenas
como o rosto de Jesus.
O Emanuel
O tipo iconográfico conhecido como o Emanuel apresenta o Cristo
ainda jovem, sem barba. O nome, que vem do hebraico “Deus conosco”,
está relacionado à passagem de Isaías 7:14: “Portanto, o Senhor mesmo
vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe
chamará Emanuel.”
A imagem do menino Jesus já está presente nas catacumbas,
onde normalmente é representado como um menino comum, ao natural,
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segundo a arte da época, sem nenhum atributo especial que distinguisse
sua divindade. No século IV e V discutiase se Jesus havia nascido
homem e somente mais tarde, por ocasião do batismo, tinhase tornado
Deus, ou se já havia nascido Deus, consubstancial ao Pai. Na primeira
opção, Maria seria apenas Christotokos, ou seja, mãe de Cristo. No
concílio de Éfeso, em 431, a segunda hipótese venceu e definiu que
Maria era Theotokos, isto é, Mãe de Deus.
Isso se refletiu na iconografia do
menino Jesus fazendo com que ele fosse
representado com os traços não de um bebê,
mas de um adolescente quase adulto, e
usando as mesmas roupas que um adulto. O
manto, geralmente amplo, deixa descoberto o
pescoço, cobre os ombros e envolve o corpo
inteiro em pregas amplas, deixando aparecer
os pés com sandálias.
O Emanuel com a Virgem
Em geral a cor do manto é de um tom que lembra a argila,
simbolizando a matéria da qual o homem foi feito. Sobre esse “barro”, o
divino se encarnou, o que é representado pelos raios dourados, ou
“assist” dourados. A camisa geralmente é branca, cor da unidade e da
glória de Deus. Outras vezes ele é representado com a roupa do
Pantocrator. Em geral ele abençoa com a mão direita, e na esquerda
segura um rolo ou um livro.
O Emanuel também aparece em todos
os ícones festivos onde Jesus aparece como
criança: do Natal, na apresentação no Templo
e em alguns ícones da anunciação, como de
Ustyug, do século XII. Nesse, o menino é
representado bem visível no peito de Maria,
entre as dobras de suas vestes. Notese que a
Trindade está representada, pois o Pai está
no alto, entre serafins, e o Espírito Santo
desce em forma de raio do Pai até o menino
Jesus no peito da Virgem.
Anunciação de Ustyug
Na festa da apresentação ao Templo ou do Encontro, assim como
na festa de meio pentecostes, com Jesus entre os doutores do templo,
Jesus é representado segundo a tipologia do Emanuel.
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Festa do Encontro Meio pentecostes
Há também ícones do Emanuel representado a
meio busto sozinho, que em geral são onomásticos,
isto é, pintados para as pessoas de nome Emanuel.
O Emanuel
Pantocrator ou o Senhor Todo Poderoso
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rege” seria uma tradução mais apropriada.
Jesus se apresenta como o criador do mundo, o juiz dos destinos, o
portador da verdade, aquele para quem a fé e a esperança da
humanidade estão direcionadas. Assim, a imagem de Cristo como
Pantocrator tem um importante lugar na igreja, não apenas nos ícones
portáteis, mas também nas paredes e cúpulas, sendo frequentemente
encontrada como afresco ou mosaico no domo central das igrejas
ortodoxas.
A característica desse tipo iconográfico é a
imagem de Cristo com a mão direita abençoando “à
maneira grega”, e a mão esquerda segurando um livro
ou um pergaminho, que tanto podem estar abertos
quanto fechados. No nimbo está inscrita uma cruz. A
bênção “à maneira grega”, na qual os dedos
aparecem em posições bem precisas, é descrita no
manual de Dionísio de Furná:
O Pantocrator
“Quando fizeres uma mão que abençoa, não uma os três dedos
juntos, mas une o polegar com o anular apenas; o dedo chamado
indicador e o médio formam o nome IC: com efeito, o indicador
forma o I; o dedo médio curvado forma o C; o polegar e o anular
que se unem obliquamente e o mínimo que está ao lado, formam o
nome XC; de fato, a obliquidade do mínimo, estando ao lado do
anular forma a letra X; o mesmo mínimo, que tem forma curva,
indica por isso mesmo o C; por meio dos dedos, portanto, se forma
o nome XC e, por esse motivo, pela divina providência do Criador
de todas as coisas, os dedos da mão humana foram modelados
assim e não foram demais ou de menos, mas em quantidade
suficiente para formar este nome.” (Gharib, p. 102)
O rosto, para a tradição oriental, é o do mandylion. Os traços
podem assim ser descritos: rosto alongado, sobrancelhas arqueadas,
olhos grandes e abertos, voltados para o expectador, nariz fino e
alongado; a barba bastante longa, terminando em ponta arredondada;
bigode caído, cabelos ondulados que formam como uma cúpula, sobre o
alto da cabeça, vão para trás na altura das orelhas e descem sobre os
ombros, sendo que de um dos lados descem três cachos, que alguns
autores dizem representar a Trindade.
Três peças de roupa compõem o vestuário, as mesmas usadas na
Palestina no tempo de Jesus: uma túnica (chiton) diretamente no corpo,
um manto (himation), uma faixa que desce do ombro (clavus) e as
sandálias presas ao tornozelo por tiras de couro.
A figura é em geral representada a meio busto, mas também é
comum encontrar imagens de corpo inteiro. Algumas vezes esse tipo
iconográfico recebe nomes adicionais, além do nome de Cristo, IC XC. O
mais comum é o que nomeia o tipo iconográfico, isto é, O Pantocrator
(Aquele que tudo rege). A riqueza dos nomes que aparecem em ícones
que chegaram até nós é enorme. Citamos alguns, apenas para ilustrar: O
Eleimon (o Misericordioso); O Zoodotes (o Vivificante, ou o que dá a
vida); O Fotodotes (O que ilumina ou o que dá a luz); O Sotir ton Kosmou
(O Salvador do Mundo); O Philanthropos ( o Amigo dos Homens); E
Chora ton Zonton ( A Terra dos Viventes); O Psychosostes ( O Salvador
das almas) etc.
O livro que aparece na mão esquerda do Cristo é o dos
Evangelhos. Muitos são os textos que aparecem no livro aberto, que
pode ser de escolha do iconógrafo ou daquele que encomendou o ícone.
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No manual de Dionísio de Furna, há várias sugestões:
Para o Pantocrator: “Eu sou a luz do mundo...” (Jo 8:12) ou “Eu
sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá”
Jo 11:25); para o “Salvador do Mundo”: “Aprendei de mim porque sou
manso e humilde de coração e encontrarei descanso para vossas almas”
(Mt 11:29); para o “Zoodotes”: “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem
comer deste pão viverá para sempre.” (Jo 6:51); entre os santos: “Vinde a
mim todos que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu vos darei
descanso” (Mt 11:28); quando colocado sobre uma porta: “Eu sou a
porta, se alguém entrar por mim será salvo” (Jo 10:9); para o
“Mensageiro do Grande Decreto”: “sai de Deus e dele venho; não venho
por mim mesmo, mas foi ele que me enviou” (Jo 8:42); para o
“Sacerdote”: “Eu sou o bom pastor...” (Jo 10:11).
O Cristo no Trono ou Cristo
na Glória pode ser considerado
como um subtipo do Pantocrator.
Nesse tipo de ícones Jesus
é representado como o Juiz e Rei
dos Reis. Assim como na imagem
do Pantocrator, aqui também ele é
representado abençoando e com
um livro, mas o Cristo está sempre
sentado num trono. Ele está
rodeado por toda a glória e poder
de criador do mundo visível e
invisível. Em geral nos cantos
aparecem os símbolos dos quatro
evangelistas as faces de uma
águia, um homem, um leão e um
touro – que pregam as boas novas
a todas as partes do mundo. De
um ponto de vista teológico, esse
ícone está associado ao juízo final, Cristo na Glória
sendo por isso mesmo o ícone
central em muitas iconostases.
Elementos Básicos da Iconografia do Salvador
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1 Halo com a cruz: Símbolo da santidade, da radiação da luz de Deus.
O halo tem uma cruz inscrita, e nos braços da cruz as letras gregas оωн,
referindose às palavras “Aquele que é”, (Apocalipse 1:8: “Eu sou o Alfa e
Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o
TodoPoderoso”) e ao Nome divino dado a Moisés pela sarça ardente
(Êxodo 3:14: “Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais:
Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros”)
2 Himation: O Manto externo do Cristo, na forma de um pano retangular
que passa sobre o ombro esquerdo e desce pelo corpo. Para o Salvador,
o himation é representado predominantemente na cor azul escuro,
simbolizando a natureza divina do Cristo.
3 Chiton: Túnica interna longa, usualmente descendo até os calcanhares
e na cor vermelha, simbolizando a natureza humana de Cristo. O
dourado nas vestes simboliza a glória de Deus.
4 Clavus: Uma faixa vertical que desce do ombro direito do Cristo,
usualmente com detalhes em ouro. Em Bizâncio era símbolo da
aristocracia.
5 Livro: Pode ser representado na forma de um pergaminho ou de um
codex (folhas unidas dentro de uma capa) o livro ou pergaminho aberto
sempre contém algum versículo da Bíblia.
6 Inscrição IC XC: É a abreviatura do nome de Jesus em Grego, e
sempre deve ser escrita dessa maneira, ainda que outras inscrições no
ícone sejam em outras línguas.
Referências
Alekseev, S. “Basic Iconographic Types of Orthodox Images”.
www.iconofile.com
Coomler, D. “The Icon Handbook” Templegate Publ. Springfields, Ill.,
1995
Gharib, G. “Os Ícones de Cristo” Ed. Paulus, São Paulo, 1997
Duarte, Adélio Damasceno. Ícones FUMARC, Belo Horizonte, 2003.
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