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FORTY (2007)
Tentou-se difundir, então, a ideia de que a eletricidade diminuiria o trabalho no lar. Para isso foi necessário
ter a consciência das ideologias e mitos relacionados ao trabalho doméstico e fazer o design dos utensílios
passarem essa mensagem.
Para a sociedade ocidental no século XX, ser mulher era ser mãe e dona de casa; o prazer da mulher deveria
sair dos afazeres domésticos; ser bem sucedida era ser uma boa mãe e saber fazer a manutenção do lar.
O serviço doméstico, porém, é cansativo e solitário; foi necessário vender a ideia de que o pagamento por
ele é superior ao dinheiro: é uma recompensa de satisfação sentimental. Consequentemente, essa
atividade deixa de ser vista como um trabalho como qualquer outro, por vezes até sendo considerada uma
“arte”, dificultando quaisquer comparações que pudessem ser feitas com outros trabalhos que ressaltasse
seus aspectos negativos, pondo em risco o status quo. Outro motivo para dissociar o trabalho doméstico de
outros tipos de trabalho era a humilhação que poderia estar relacionada a ele por ser um serviço realizado
por criadas no século anterior.
a economia de trabalho no lar
Para tornar mais convincente a ideia de que o serviço doméstico não era trabalho, busca-se então uma
alternativa à criada: os eletrodomésticos. Tal conceito é incongruente: muitas tarefas simplesmente não
poderiam ser automatizadas e, inicialmente, as famílias que tinham condição de ter eletrodomésticos eram
as mais abastadas, que tinham criados - em diversas propagandas pode-se ver as criadas utilizando os
aparelhos.
“Na realidade, ninguém poderia acreditar totalmente que máquinas de lavar ou aspiradores de pó fossem substitutos
de criadas, mas a ilusão ajudava a mitigar o constrangimento que as pessoas poderiam sentir em relação ao seu
status na sociedade e tornava possível que quase todas as donas de casa, de todas as classes, acreditassem que eram
as sucessoras da senhora servida por criadas do lar do séc XIX.” (FORTY, 2007, p. 289)
Além disso, deve-se destacar o fato de que com o uso de eletrodomésticos, os “padrões de qualidade da
manutenção do lar” se elevaram e as donas de casa passaram a trabalhar mais, ou seja, tais aparelhos não
diminuíram o tempo de trabalho, só foram usados de maneira a aumentar esse tempo.
a economia de trabalho no lar
A ESTÉTICA DO TRABALHO DOMÉSTICO
O design dos primeiros pequenos eletrodomésticos, como chaleiras e torradeiras, levavam em consideração
a estética; os outros aparelhos, os que ficariam nas áreas de serviço para serem usados por criadas, porém,
não tinham em seus projetos preocupação estética. Por muito tempo tiveram aparência industrial pois suas
únicas exigências eram ser de fácil uso e eficientes. Naquele momento a imagem da fábrica era a metáfora da
eficiência, então a aparência industrial foi bem vinda.
Foi a partir de 1950 que essa imagem passou a ser criticada pois, com uma grande parte da população
trabalhando em fábricas, ter um aparelho que remetia ao trabalho no seu lar não era agradável, tornava o
afazer doméstico repulsivamente parecido com o trabalho “real”. A marca pioneira no design de aparelhos
domésticos foi a Max Braun. Eles desenvolveram um padrão de aparência completamente diferente do que
havia na época, elegante e com acabamento minucioso; criou-se uma nova linguagem para aquele aparelho,
deixando-se claro que não pertencia ao escritório ou à fábrica: era da casa, e somente da casa. Essa imagem
reforçou ainda mais a ideia de que o trabalho doméstico não era trabalho.
Diferentes design de batedeiras.
Fonte: FORTY, 2007
a economia de trabalho no lar
DESIGN ORIENTADO AO CONSUMIDOR
Surge então a dúvida de como os designers da época puderam compreender tão bem o que a população
gostaria. A justificativa circunda dois pontos: o esforço dos designers de encontrarem o que as pessoas
queriam e também, por vezes, a maneira como eles poderiam persuadir as pessoas a pensarem que seu
produto era exatamente o que elas queriam.
“O design orientado ao consumidor era altamente seletivo em sua escolha do que expressar como ideias e crenças
dos consumidores, com uma forte tendência a tratar apenas dos problemas cotidianos que o produto tivesse boa
possibilidade de resolver.” (FORTY, 2007, p. 297)
análise de produto: a máquina de lavar roupa
A PRIMEIRA MÁQUINA DE LAVAR ROUPAS ELÉTRICA
Anúncio de 1921.
Maren Christensen washing
with Eatonville's first washing
machine.
2. SEM MÁQUINA
Dolfi